21
1 0 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 386 A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO FRONTEIRIÇO REGIONAL DO NORDESTE DA AMÉRICA DO SUL -DLPH GH $JRVWLQKR *HyJUDIR 3URIHVVRU 'RXWRU $VVRFLDGR GR 'HSDUWDPHQWR GH *HRJUD¿D GD 8)55 ,QWURGXomR A Amazônia sempre foi motivo de atração para os europeus seduzidos pelos relatos de imensas riquezas ali existentes, alardeadas inicialmente por correspon- dências enviadas à Europa em 1555 pelo espanhol Francisco Orellana que primeiro desceu o Rio Amazonas desde os Andes até a sua foz. Outra descrição fantasiosa e altamente atraente foi realizada por Antonio Berrio que realizou três expedições à grande região do interior das guianas de 1591 a 1595 e que relata ao rei da Espanha a existência do El Dorado, as margens de um grande lago com muitos habitantes e muitas riquezas em ouro e pedras preciosas (BERRIO, 1966). A seguir temos os relatos de Sir Walter Ralegh (também chamado de Raleigh) favorito da corte da rainha Elizabeth da Inglaterra que após sua expedição ao Rio Orinoco e costa guianense entre 1594 e 1595, publicou o livro “The Discoverie of Guiana” onde lança o mito do reino do Eldorado, com uma cidade rica em ouro de- nominada de Manoa, que estaria localizada no centro da região por ele denominada “do grande, rico e belo império da Guiana” (RALEIGH, 1986). Todos estes relatos aguçam a cobiça e atraíram inúmeros aventureiros enga- jados em expedições organizadas por ricos comerciantes ou por potencias européias visando à conquista, ocupação e exploração da grande ilha da guiana. Desde então os interesses ainda perduram, tanto que os governos europeus procuram ter um controle direto (Guiana Francesa) ou indireto (Suriname e Guya- na) sobre esta região, onde além da importância estratégica / militar temos um ele- YDGtVVLPR SRWHQFLDO GH UHFXUVRV QDWXUDLV PLQHUDLV ÁRUHVWDLV H GH ELRGLYHUVLGDGH UD-

A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 386

A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO FRONTEIRIÇO REGIONAL DO

NORDESTE DA AMÉRICA DO SUL

A Amazônia sempre foi motivo de atração para os europeus seduzidos pelos relatos de imensas riquezas ali existentes, alardeadas inicialmente por correspon-dências enviadas à Europa em 1555 pelo espanhol Francisco Orellana que primeiro desceu o Rio Amazonas desde os Andes até a sua foz.

Outra descrição fantasiosa e altamente atraente foi realizada por Antonio Berrio que realizou três expedições à grande região do interior das guianas de 1591 a 1595 e que relata ao rei da Espanha a existência do El Dorado, as margens de um grande lago com muitos habitantes e muitas riquezas em ouro e pedras preciosas (BERRIO, 1966).

A seguir temos os relatos de Sir Walter Ralegh (também chamado de Raleigh) favorito da corte da rainha Elizabeth da Inglaterra que após sua expedição ao Rio Orinoco e costa guianense entre 1594 e 1595, publicou o livro “The Discoverie of Guiana” onde lança o mito do reino do Eldorado, com uma cidade rica em ouro de-nominada de Manoa, que estaria localizada no centro da região por ele denominada “do grande, rico e belo império da Guiana” (RALEIGH, 1986).

Todos estes relatos aguçam a cobiça e atraíram inúmeros aventureiros enga-jados em expedições organizadas por ricos comerciantes ou por potencias européias visando à conquista, ocupação e exploração da grande ilha da guiana.

Desde então os interesses ainda perduram, tanto que os governos europeus procuram ter um controle direto (Guiana Francesa) ou indireto (Suriname e Guya-na) sobre esta região, onde além da importância estratégica / militar temos um ele-

-

Page 2: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

ainda persistem entre países em algumas áreas da denominada “ilha das guianas”.

Em épocas pré-colombianas, há aproximadamente 1200 anos atrás tivemos todo aquele imenso território do Nordeste da América do Sul ocupado por uma série de grupos humanos com um desenvolvimento técnico e cultural bem maior que o dos ocupantes que os sucederam após a chegada dos europeus às Américas.

Estes grupos eram normalmente agregados socialmente em grandes cacica-dos tais como dos conduris, uabois, aruaques, tarumãs entre outros, e desenvolve-ram trabalhos mais aprimorados em cerâmica policromática, com formas humanas e de animais, inscrições e desenhos em baixo relevo em rocha, que ainda hoje podem ser encontrados em inúmeros sítios arqueológicos em toda a região da grande ilha da guiana. Estes povos, ainda com a sua origem discutida, possivelmente provenientes da América Central ou da região andina, tiveram um breve contato com os europeus, sendo extintos ou dispersos pelos mesmos, como também por inúmeros grupos indígenas mais primitivos que vieram a ocupar posteriormente os seus territórios.

Estes fatos são estudados timidamente pela arqueologia regional que conse-guiu separar em dois momentos cronológicos as fases da ocupação territorial: uma mais antiga abrangendo aproximadamente datas entre 1000 a 1500 anos atrás e outra mais contemporânea, praticamente coincidindo com a conquista européia. Esta fase mais recente é denominada Fase Rupununi (EVANS; MEGGERS, 1960; PLEW, 2007), que através de inúmeras pesquisas e datações chegaram a idades que são dos séculos 18 e 19, caracterizados por artefatos cerâmicos pouco desenvolvidos, enter-ramentos em urnas funerárias e produzindo em toda a região inúmeras inscrições rupestres bastante primitivas, normalmente representadas por pinturas coloridas em lajedos protegidos, coincidindo temporalmente sua ocorrência com a migração rela-tivamente recente dos aruaques (uapixanas) e caribes (macuxis).

Com a chegada dos espanhóis na região do Caribe a partir de 1522, os índios Tainos, segundo MANN, (2012) que eram os principais habitantes do litoral cari-benho, do tronco lingüístico aruaque foram sendo exterminados ou forçados a se retirarem para o interior, fugindo através das vias de circulação já tradicionalmente por eles utilizadas. Diversas etnias do mesmo tronco lingüístico dos caribes também foram empurradas pela violenta ocupação dos espanhóis para o Sul da bacia do Rio Orinoco, chegando através de grupos cada vez mais numerosos à área até então de

Page 3: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 388

domínio dos aruaques, provocando inúmeras guerras tribais em toda a região da interlândia guianense.

na atual região das Guianas mudou o tipo de relacionamento destes novos europeu com o indígena. Na maior parte das vezes os holandeses e ingleses tinham como aliados diversas etnias da área, destacando-se os monaikós, do tronco caribe (BAL-DWIN, 1946), os quais eram destacados para expedições de captura de escravos in-dígenas de todo o vale do Rio Branco, vitimando principalmente os aruaques (para-vianas, pauxianas, uapixanas e outros). Como troca por estas capturas de cativos, os holandeses forneciam aos indígenas aliados armas de fogo e facões além de gêneros alimentícios, roupas, miçangas e bebidas alcoólicas destacando-se o gim holandês.

Ao contrário, os espanhóis provocaram verdadeiro extermínio dos indígenas da bacia do Orinoco através de ações violentas que visavam apoiar as denominadas “encomiendas” tinham como principal objetivo a captura de indígenas para trabalho escravo. O interessante é que eram utilizados os próprios caribes armados pelos espanhóis para a execução desta tarefa.

Os portugueses não fugiam muito da linha dos espanhóis com relação aos in-

-ra e comércio de índios escravos através dos denominados “descimentos” além da coleta de drogas do sertão e prospecção mineral, sendo que estas incursões vieram a reduzir drasticamente as populações das pequenas tribos ali existentes e deixando vazias grandes áreas territoriais.

sua porção Sul e na costa venezuelana e Caribe ao Norte deixaram para um segundo momento a ocupação da costa guianense o que lhe custou caro principalmente aos espanhóis, já que os holandeses seguidos posteriormente de ingleses e franceses já

da Guiana que ia desde o delta do Rio Orinoco até a foz do Rio Amazonas. Os espanhóis, que por volta de 1531, chegaram ao Orinoco e entre 1588 e

1590 tornaram-se aliados dos caribes contra os ipurugotos, que dominavam a região entre os rios Caroni e Paragua, estabelecendo algumas pequenas povoações ao longo destes rios, o que os ajudou a manter seu território até o delta do Orinoco, onde im-

-

Page 4: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

tica e material devido às necessidades de proteção imediata dos pontos de embarque

Central estando localizados no Golfo do México e costa caribenha. Em seguida, ainda em 1700, e durante os anos seguintes, o capitão Francisco

Fer reira, residente em Caburiz, localidade próxima da foz do Rio Branco, ocupa-se em fazer nu merosas viagens por esse rio. Percorre-o por inteiro, explorando também

passando pelo lago Amucu. Em 8 de julho de 1719, uma ordem real, por proposta

bifurcação do rio – , a vinte dias de viagem do rio dos holandeses”, que as memórias

-

com grande facilidade através dos vales dos rios Negro, Jauaperí, Branco e Tacutú, atingindo o alto Rio Essequibo, realizando trocas de escravos capturados em suas guerras com outras tribos da região por mercadorias nos postos holandeses, princi-palmente no de Arinda, na foz do Rio Rupununi. Neste momento as preocupações da Coroa Portuguesa com relação à penetração do Rio Branco pelos Holandeses aumentaram principalmente com a informações recebidas em 1720 de que o frade carmelita, Jeronymo Coelho, mantinha a algum tempo , através do Tacutu, um co-mércio intenso e permanente com os holandeses.

Para tanto era urgente que aquele grande vazio territorial fosse conheci-do, explorado e consolidado como território do reino português. Durante este período iniciam-se as denominadas tropas de resgate, montadas normalmente por particulares que visavam a captura de indígenas para trabalhos forçados além de extração de drogas do sertão. Uma das primeiras tropas de resgate foi a de Manoel Braga que é atacado em 1723 por uma confederação dos manaos (denominados monaikós pelos holandeses e ingleses (BALDWIN, 1946) comandados pelo líder Ajuricaba no Rio Negro, gerando uma outra grande expedição militar comandada por Belchior Mendes de Moraes que durante os anos de 1723 a 1729 consegue ven-cer os indígenas.

Com a prisão e morte de Ajuricaba, líder dos monaikós, aliados dos holan-deses, denominados de manaos pelos portugueses, inicia-se no vale do Rio Branco através de religiosos carmelitas, processo de “libertação” dos gentios do Rio Branco, fazendo as operações de captura de escravos, denominadas “descidas”, onde mi-

Page 5: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 390

lhares de indígenas foram exterminados ou capturados, sendo levados para outras regiões, principalmente Pará e Maranhão. Os remanescentes, que não fugiam para áreas de difícil acesso, foram aldeados e condicionados à agricultura e à pesca nos denominados pesqueiros reais, que forneciam gêneros às tropas portuguesas dos Fortes São Joaquim, no Rio Tacutú e o da Barra, no Rio Negro.

Estes aldeamentos produziram uma diminuição brutal destas populações devido às constantes e intensas epidemias de varíola e sarampo que atacavam quase que exclusivamente os indígenas caracterizados por sua baixa resistência orgânica e ao íntimo contato com os portugueses, além de estarem concentrados muitos indi-víduos em poucos locais, o que facilitava o mecanismo de transmissão das doenças.

sobe o Rio Negro e através do Rio Casequiare atinge as cabeceiras do Orinoco.

outra tropa de resgate, seguido posteriormente por Lourenço Beufort, rico fazendei-

Andrade atingem as cachoeiras do Rio Uraricoera junto à Ilha de Maracá realizam o descimento de centenas de indígenas por eles capturados e que são levados para o Maranhão.

intensa depopulação do Rio Branco. Este tipo de ação foi proibida por algum tem-po pelo denominado Diretório Pombalino de 1757 que abolia o cativeiro indígena e determinava o pagamento pelos seus trabalhos.

Nos anos seguintes tivemos uma série de expedições tanto de caráter ad-

chegando até as cabeceiras dos rios Essequibo e Rupununi, sendo todas bem docu-mentadas através de extensos relatos.

– 1744 a 1745 (SAMPAIO, 1985) que levantou dados importantíssimos do vale do

aspectos de relevante importância para o domínio português poder melhor adminis-

Em 1766, foi realizada pelo alferes José Agostinho Diniz uma expedição militar que realizou levantamentos e explorações de toda a bacia do Rio Branco che-

Page 6: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

gando até o Rio Maú , dali através das nascentes do Rio Rupununi entrou em con-tato com postos de comércio holandeses, na bacia deste mesmo rio, ocorrido que foi registrado em documentos da Companhia das Índias Ocidentais, onde o diretor holandês do Essequibo a escreve que os portugueses tinham pleno e permanente domínio na região

Em 1780 foi realizada uma expedição visando levantar informações da re-gião, elaborar mapas, obter informações astronômicas e realizar inspeções sobre a

engenheiro Ricardo Franco Senna e o matemático Antonio Pires da Silva Pontes (SENNA, 1844).

Como as informações coletadas por Senna não foram consideradas consis-tentes as autoridades portuguesas decidiram em 1787 por uma outra inspeção, desta vez comandada pelo coronel geógrafo Manoel da Gama Lobo d’Almada, que subiu os rios Branco e Uraricoera até a foz do Araricapará, gerando um extenso e com-pleto relato de toda a situação social, econômica e militar do Rio Branco (ALMADA, 1787).

Em 1790 o porta bandeira real Francisco José Ribeiro Barata (BARATA, 1944), é incumbido em Belém do Pará de realizar uma expedição ao Suriname usan-do a rota pelos rios Amazonas, Negro, Branco, Tacutu, Pirara, Rupununi e Essequi-bo, atingindo a costa atlântica em Demerara, passando por Essequebe, localidades sob domínio inglês e Berbice sob domínio holandês, e daí se dirigindo a Paramaribo onde simbolicamente entrega uma carta de saudações dos judeus de Belém aos ju-deus portugueses de Paramaribo. A seguir retorna pelo mesmo roteiro a Belém, de-monstrando com isto que Portugal tinha domínio sobre todo o interland da grande ilha da guiana.

Don Manuel Centurión ao assumir a “Comandância de Nuevas Poblaciones” na Província de Guayana em 1767 elabora uma estratégia ambiciosa de ocupação do território teoricamente pertencente à coroa espanhola que compreendia toda a região das guianas, abrangendo as bacias dos rios Orenoco, Negro, Parimé (Urarico-era), Tacutu e Essequibo.

Antecipando às expedições planejadas por Centurión, os padres capuchinos realizaram em 1772 uma desastrada incursão que acaba com a morte de todos os

ou Parimé como era chamado na época.

Page 7: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 392

Centurion inicia a organização de uma série de expedições à parte sul da cadeia montanhosa de Pacaraima, sendo a primeira em 1772 que fracassa na metade do trajeto.

A segunda expedição foi realizada em 1773 consegue alcançar o Rio Tacutu e até na boca do Rio Maú, onde acreditam ter chegado ao mítico lago Parimé, já que a região encontrava-se totalmente alagada por ser época de chuva (AMODIO, 1995).

No retorno da região do Rio Maú os espanhóis conseguem arrebanhar al-

núcleos que fundam nas margens do Uraricoera, quais sejam: San Juan Bautista de -

ta Barbara próxima á foz do Rio Parimé no Uraricoera; e Santa Rosa de Curaricaca localizada junto à foz do Rio Amajarí no Uraricoera (AMODIO, 1995). Estes núcle-os podem ser considerados o início da ocupação pelos europeus (espanhóis) do Vale do Rio Branco, anterior mesmo aos portugueses.

A terceira e última expedição enviada por Centurion em 1775, comandada pelo cadete Antonio Lopez visando consolidar a ocupação dos povoados implanta-dos pela expedição anterior. Na incursão aos rios Maú e Pirara, ainda à procura do lago do eldorado e da montanha dourada, parte da expedição é morta por selvagens que aparentemente eram aliados dos holandeses. No retorno são interceptados e

-coera, devido os portugueses terem sido alertados desta expedição e também da im-plantação de povoados espanhóis no Rio Uraricoera por Gervásio Leclerc, holandês ou francês, que se dizia desertor do posto comercial e forte holandês de Arinda, no alto Rupununi, de onde partiu e daí tendo visitando e realizando levantamentos dos povoados espanhóis do Rio Uraricoera, informações estas repassadas às autoridades portuguesas quando chegou a Barcelos (AMODIO, 1995).

Isto fez com que o governador Joaquim Tinoco Valente, ainda em 1775 en-viasse tropas sob o comando do capitão Felippe Sturm, engenheiro alemão a serviço do exercito português, com duas missões: uma de destruir e expulsar os espanhóis

pudesse evitar tanto a invasão do vale do Rio Branco pelos espanhóis como pelos holandeses e ingleses.

Sturm inicia com sucesso e sem muita resistência a operação de desintru-são dos espanhóis daquela região, destruindo os núcleos implantados, tomando os armamentos, capturando e prendendo os militares e civis espanhóis alem de alguns indígenas aldeados nestas povoações.

Page 8: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

Os prisioneiros, com exceção do cadete Antonio Lopes foram acorrentados e obrigados a trabalho forçado na construção do forte de São Joaquim, carregando terra com conchas de tartaruga, alem de pedras (AMODIO, 1995). O forte foi

-plomático em função destes incidentes entre Portugal e Espanha durou ainda mais alguns anos.

D. José Linhares que vem a substituir a Centurion em 1777 elabora um gi-gantesco plano de defesa para a Província da Guayana com o objetivo da retomada

de todo o território brasileiro. Com a assinatura em outubro de 1777 do Tratado de Santo Idelfonso entre

Portugal e Espanha a proposição portuguesa de ter como limites a cordilheira de Pacaraima, acordada anteriormente em 1750 passa a valer, não tendo sido aceita a proposta espanhola de manter as localidades implantadas no Rio Uraricoera, encer-rando assim esta longa disputa fronteiriça. (AMODIO, 1995).

A partir de 1 843 iniciou-se a discussão relativa à fronteira do Brasil com a então Guiana Inglesa, onde a Inglaterra pretendia a anexação de extensa área com-preendida pelas bacias dos rios Pirara, Maú e Cotingo. O império brasileiro concor-dou em neutralizar a região contestada e em 1901, Joaquim Nabuco negociou com os ingleses uma solução através do arbítrio internacional. Em 1904 o rei italiano Vitor Emmanuel III arbitrou para o Brasil 13 550 Km² e para a Inglaterra 19 630

feitas para a sua demarcação. A primeira foi entre 1879 a 1884, quando o Tenente Coronel Francisco Lopes de Araújo, “Barão de Parima” iniciou o processo, mas as

Em 1 912 foi retomada a questão com a montagem de comissão mista Brasil – Ve-nezuela, que também não consegui complementar o trabalho com sucesso.

-missão mista Brasil – Venezuela delimita a fronteira, ainda que de uma forma muito

Serra do Caburaí (AGUIAR, 1943). A partir de trabalhos após a década de 70, atra-vés da Comissão de Fronteiras é que começam a ser adensado os marcos fronteiriços

Page 9: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 394

das serras Parima e Pacaraima, palco de muitos desentendimentos entre autoridades dos dois países principalmente devido ao garimpo clandestino da área e possíveis massacres de indígenas. Na década de 90 a CPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais executou um exaustivo trabalho de campo, aerofotogrametria e posicionamento por satélites que gerou como produto um mapa realista da atual

volta de 4 000 quilômetros a favor da Venezuela. Temos ainda dois fatos curiosos relativos a conquistas territoriais na região

guianense que caíram no esquecimento da maior parte das pessoas. Um é relativo a uma expedição realizada pelo regime nazista de Adolf Hitler entre 1935 e 1937 à Amazônia Brasileira, mais precisamente ao Rio Jarí no Amapá, descritas no livro es-crito pelo geólogo e piloto Otto Schultz-Kampfhenker em 1938 com o título “Misté-rios do inferno da mata virgem”. A expedição compunha-se um numero expressivo de militares e cientistas, acompanhados por 11 toneladas de suprimentos e munição

35 mm., de mais de 1000 animais de diferentes espécies coletados, alem de 1500 artefatos indígenas O objetivo principal era o de fornecer ao 3º Reich informações militares e estratégicas para uma futura invasão, via Brasil, até então simpatizante do Eixo, das guianas inglesa, holandesa e francesa, pertencentes a países que estavam combatendo a Alemanha nazista. Desta ocupação teria dois objetivos principais: um geopolítico estratégico visando a instalação de bases aéreas e navais tornando mais fácil a realização dos planos expansionistas da Alemanha; e outro econômico já que as guianas tinham e ainda tem um potencial mineral que ajudaria bastante no esfor-ço de guerra alemão. Após uma série de acidentes e mortes por doenças tropicais a expedição retornou à Alemanha, ocasião em que o apoio brasileiro não mais existia devido termos declarado guerra ao eixo.(ZALIS, 2012)

Outro fato curioso de tentativa de expansão territorial na região guianense

plano secreto para a invasão e consequente anexação brasileira da Guiana Francesa. A operação chegou a entrar em fase de treinamento militar, mas foi abortada pela inesperada renúncia do Presidente. Quadros chegou a convocar, para uma audiência secreta em Brasília, o governador do Amapá, Moura Cavalcanti, quando se acertou que a anexação da Guiana Francesa começaria com uma visita de Jânio Quadros à Amazônia.

O presidente alem de suas idéias de expansão geopolítica brasileira também queria evitar a

Page 10: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

saída de minérios do território brasileiro que na época eram carreados para a Guiana Francesa.

Esta disputa territorial secular existe desde os tempos em que a atual Guyana era uma colônia britânica, e ainda não foi resolvida na atualidade. A Venezuela recla-ma da Guiana a região de Essequibo, a qual corresponde a praticamente dois terços do atual território guianense que equivale a aproximadamente 160 mil km².

Em 18 de junho de1970, foi assinado o protocolo Port of Spain entre Guyana e Venezuela, congelando a reclamação venezuelana por 12 anos. Dentro das linhas do Protocolo, a Venezuela não reacendeu mais suas pretensões sobre a região do Essequibo, embora movimentos nacionalistas, tanto militares como civis, sempre estiveram ativos. Após assinatura desse protocolo, as relações entre os dois países vêm melhorando.

Esse ambiente de paz foi somente quebrado em 2007, quando militares venezuelanos bombardearam duas dragas utilizadas para garimpagem de ouro, no lado guianense do rio Cuyuni. O caso teve ampla repercussão na opinião pública

nenhuma relação com a questão do Essequibo.

A Guyana disputa com o Suriname território nas cercanias do rio Corentyne e áreas próximas a “Neiuw Nickerie”. A área é denominada de Triângulo do New

quase a 10% do território do Suriname, localizada no sul da Guiana, entre os rios New e Courantyne.

região rica em diamantes e ouro, na qual vivem os Marrons, mestiços de negros e indígenas. A Guyana invoca sobre esta região o princípio do uti possidetis, já que alega o domínio efetivo daquele território há mais de 150 anos. Por ser uma área de difícil acesso, onde nenhum dos dois países tem domínio físico territorial, estando o litígio em compasso de espera.

. Existiu até recentemente entre a Guyana e Suriname um grande litígio por áreas marítimas na plataforma continental, potenciais campos de petróleo, onde a

Page 11: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 396

marinha surinamense chegou a expulsar canadenses que estavam trabalhando para o governo guianense realizando prospecção de petróleo nessas águas. Houve julga-mento em Washington em setembro de 2007 pelo Tribunal Internacional do Direito do Mar que decidiu través de sentença arbitral favorável à Guyana, que obteve direi-tos sobre a maior parte da zona em litígio (PROCÓPIO, 2007).

A disputa territorial em torno dos rios Litani e Marouini ou Maroni que ocorre entre Suriname e a Região Administrativa da Guiana Francesa tem eviden-temente um caráter mais econômico do que histórico. A região em litígio é rica em bauxita, ouro, diamante e recursos hidroelétricos.

rio Maroni Marouini ou pelo Tratado de Utrecht de 1713 quando ainda o Suriname era então uma co-lônia holandesa. Uma arbitragem de Alexandre III da Rússia em 1891 precisou o limite, que deve ser entendido como seguindo o rio Lawacom o rio Tapanahoni.

Esta arbitragem não reconciliou as duas posições, com a França a estimar que o rio Litani constitui o curso superior do Lawa, e a Holanda, depois o Suriname

rio Marouini. Subsiste então uma zona de apro-ximadamente 6000 km² na prática controlada pela França mais reivindicada pelo Suriname, entre os rios Litani e Marouini.

O Projeto Calha Norte é um programa de desenvolvimento e defesa da Re-gião Norte do Brasil idealizado em 1985 durante o governo Sarney, já previa a ocupação militar de uma faixa do território nacional situada ao Norte da Calha do Rio Soli-mões e do Rio Amazonas. Atualmente, é subordinado ao Ministério da Defesa do Brasil, sendo implementado pelas Forças Armadas.

Considerando-se somente a calha Norte do Rio Amazonas o projeto abran-ge 160 quilômetros de largura ao longo de 6,5 mil quilômetros de fronteiras com a Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela e Colômbia, essa faixa abriga quase 2 milhões de pessoas e ocupa 1,2 milhão de km², uma área correspondente a um quar-to da Amazônia Legal e a quase 15% da área total do país. O Programa, atualmente,

Page 12: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

área de fronteira. O Programa Calha Norte (PCN) tem como objetivo principal a manutenção

da soberania na Amazônia e contribuir para a promoção do seu desenvolvimento ordenado, aumentando a presença do poder público na sua área de atuação e contri-buindo para a Defesa Nacional.

São duas dimensões de atuação do PCN: a “vertente militar”, que correspon-de à “Manutenção da Soberania e Integridade Territorial”, e a “vertente civil”, que corresponde ao “Apoio às Ações de Governo na Promoção do Desenvolvimento Regional”.

O Sistema de Vigilância da Amazônia ou SIVAM é um projeto elaborado

da Amazônia. Conta com uma parte civil, o Sistema de Proteção da Amazônia, ou SI-PAMárea de defesa feito pelo Brasil nos anos 1990. Este projeto atende um antigo anseio das forças armadas que desejavam garantir a presença das forças armadas brasileira

-nais contra os direitos do povo brasileiro sobre esta região. Os sucessivos projetos de internacionalização da Amazônia fortaleceram esta percepção de ameaça sobre a so-berania territorial da Amazônia Brasileira.

As Forças Armadas, juntamente com pesquisadores civis da região Amazônica planejaram a construção de uma ampla infra-estrutura de apoio à vigilância aérea e comunicação na região amazônica, fazendo parte desta infra-estrutura a integração

-tamento na Amazônia.

Atualmente alguns países fronteiriços da Amazônia demonstraram interesse em participar de projetos conjuntos com o SIPAM visando a cobertura de seus ter-ritórios, destacando-se o Suriname e a Colômbia.

O Tratado de Cooperação Amazônica celebrado em Brasília, Brasil, 1978, pe-los oito países da Amazônia Internacional: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru,

Page 13: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 398

Suriname e Venezuela, é um instrumento jurídico de natureza técnica que tem por objetivo promover o desenvolvimento harmonioso e integrado da bacia amazônica, de maneira a permitir a elevação do nível de vida dos povos daqueles países, a ple-na integração da região amazônica às suas respectivas economias nacionais, a troca de experiências quanto ao desenvolvimento regional e o crescimento econômico com preservação do meio-ambiente.

Para tanto, o tratado prevê a cooperação entre os membros para a promoção da pesquisa recursos naturais, a cria-ção de uma infra-estrutura de transportes e comunicações, o fomento do comércio entre populações limítrofes e a preservação de bens culturais.

Em 1995, os Ministros do Exterior dos países-membros, reunidos em Lima, Peru, acordaram criar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), de modo a fortalecer institucionalmente o TCA e dar-lhe personalidade internacional. A emenda ao tratado foi aprovada em Caracas, Venezuela, em 1998, permitindo o estabelecimen-to da Secretaria Permanente da OTCA em Brasília que coordena diversas câmaras de discussão de problemas amazônicos das quais podem ser destacadas: Assuntos indígenas, Ciência, Tecnologia e Educação, Meio Ambiente, Saúde, Transporte, Tu-rismo e Comunicação.

O Projeto Radambrasil, executado entre 1970 e 1985, foi dedicado à co-bertura de diversas regiões do território brasileiro (em especial a Amazônia) por imagens aéreas de radar, captadas por avião.

O uso do radar permitiu colher imagens da superfície, sob a densa cobertura

amplo estudo integrado do meio físico e biótico das regiões abrangidas pelo projeto, que inclui textos analíticos e mapas temáticos sobre geologia, geomorfologia, pedo-logia, vegetação, uso potencial da terra e capacidade de uso dos recursos naturais renováveis, que até hoje é utilizado como referência nas propostas de zoneamento ecológico da Amazônia brasileira e serve de modelo para os paises fronteiriços.

O Arco Norte corresponde à faixa de Fronteira dos estados de Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia, Amapá, Pará com países vizinhos, ou seja, o arco que envolve a Bacia Amazônica brasileira, tendo como limites a Guiana Francesa, Su-

Page 14: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

riname, República da Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, O interesse do governo federal, é o de estimular maior articulação com os vizinhos sul-americanos, tornando

-te do Arco Norte, que se inicia em Manaus, Amazonas continuando pela rodovia BR-174 que liga Manaus à região do Caribe, bifurcando em Boa Vista, Roraima para

Georgetown na Guyana dará continuidade à conexão internacional que passará por Paramaribo, no Suriname, Caiena na Guiana Francesa e fechando o arco em Maca-pá, Estado do Amapá.

O Macro ZEE da Amazônia é um instrumento fundamental de planeja-mento e gestão ambiental e territorial estabelecido na Política Nacional do Meio Ambiente e consolidado pelo Decreto Federal nº.7378 de 01 de dezembro de 2010. A principal proposta é promover a transição do padrão econômico atual para um modelo de desenvolvimento sustentável na região, capaz de contemplar as diferentes realidades e prioridades de territórios da Amazônia.

O Ministério do Maio Ambiente coordenou grupo de estudos composto pelos representantes de todos os ministérios e dos estados amazônicos que gerou

-cro estratégias de desenvolvimento e proteção ambiental. O Estado de Roraima foi dividido em duas macrozonas: uma pequena porção no Sul e Sudoeste do Estado,

atividades produtivas. A outra macrozona, que abrande a maior parte do Estado foi denominada de Fortalecimento do corredor de integração Amazônia Caribe, valo-rizando a importância do estado como corredor estratégico para a ligação de toda a Amazônia Ocidental ao Caribe. Foram estabelecidas as seguintes estratégias gerais para esta macrozona: organização do pólo agropecuário, madeireiro e de ecoturismo da fronteira Norte Caribenha, com a consolidação do corredor Manaus – Boa Vista – Caribe (Venezuela e Guyana) através dos eixos das BRs 174 e 401, mostrando niti-damente a importância de Roraima na integração transfronteiriça por meio de ações de incentivo ao turismo no norte de Roraima, onde está a Terra Indígena Raposa--Serra do Sol e o Parque Nacional do Monte Roraima; Sítio arqueológico da Pedra Pintada. O item também inclui as áreas de livre comércio, ZPE Boa Vista e Porto

Page 15: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 400

Seco em Boa Vista com incentivos à produção com a promoção da infra-estrutura de processamento, armazenamento e escoamento.

O ZEE em Roraima teve o seu processo iniciado em 1992, com o treina-mento de equipe técnica e implantação do primeiro laboratório de geotecnologia e sensoriamento remoto a ser instalado no Estado. Como primeiro resultado desta iniciativa foi elaborado em 1 994 o ZEE para o vale do Rio Cotingo, no Norte--Nordeste do Estado na escala 1:250 000, sendo o primeiro estudo nesta escala na região amazônica e com o critério inédito de ordenamento territorial por bacia

Em 2000 foi realizado para o Estado pelo Consórcio Ecologus /AGRAR/Chemonics International, o Plano de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentá-

Em 1997, a CPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais jun-tamente com a CVG, elaborou o Projeto conjunto Brasil Venezuela para o ZEE e Ordenamento Territorial da Região Fronteiriça entre Pacaraima e Santa Elena de Uairén.

O ZEE de Roraima, após um período de paralisação por mudanças de go-verno foi reiniciado em 1999 através de um convênio com a CPRM, com o objetivo de realizar o ZEE da área central do Estado contemplando aproximadamente 32 % de seu território. O referido estudo foi concluído em 2002, mas não implementado.

Em 20 de dezembro de 2005, foi instituído o Comitê Gestor do Programa

Grupo de Trabalho Permanente para a elaboração e implementação do Zoneamen-to Ecológico-Ecônomico, composto pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvi-mento, responsável pela coordenação, Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento, Secretaria de Infra-Estrutura, Instituto de Terras e Colonização do Estado de Roraima e Fundação Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Este Comitê tem como responsabilidade a conclusão do ZEE para o Estado, tendo como

Roraima possui, ao contrário da maior parte dos Estados brasileiros, e até dentro da Região Amazônica, uma matriz geopolítica mais voltada para fora do País

Page 16: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

do que para o seu interior, devido à proximidade com a Venezuela e Guyana, e

o resto do Brasil.

km do porto livre marítimo de Georgetown e menos de 700 km do futuro porto de águas profundas de Barbice, todos localizados na República Cooperativista da Guiana, necessitando para ter-se acesso permanente a estes portos a conclusão da malha rodoviária guianense, já que temos mais de 150 km asfaltados no lado brasi-

Brasil com Lethen na Guiana. Esta ligação é de importância vital para a ligação de toda a Amazônia Oci-

dental com o Atlântico e daí para a Europa, Estados Unidos e Ásia. Além disto, a Guyana faz parte e é sede do CARICON, bloco econômico que envolve pratica-mente todos os países do Caribe e tem proteções comerciais e tarifárias dos Estados Unidos. A Guyana está se interligando com um novo cabo submarino internacional para transmissão da Internet e poderá trazer uma derivação para Manaus, passando por Roraima e melhorando nossas comunicações da web banda larga.

Da mesma forma a capital do Estado está a 200 km de Santa Elena do Uairén, no Sul da Venezuela, ligação através de rodovia asfaltada. O porto marítimo

-

o recente ingresso da Venezuela no Mercosul, Roraima será o elo entre os mercados do resto do Brasil e dos países platinos. A interconexão da Venezuela com os países do Pacto Andino ajudará a fechar o imenso ciclo comercial da América do Sul. Ou-tro projeto em gestação é o do poliduto (petróleo e gás) que a Venezuela pretende construir ligando seus campos de hidrocarbonetos com o cone Sul da América do Sul.

O Estado de Roraima limita-se por aproximadamente 958 km com a Vene-zuela ao Norte e Oeste; 964 km com a República Cooperativista da Guiana a Leste e Nordeste; com o Estado do Amazonas ao Sul e Sudeste e com o Estado do Pará a Sudeste. Possui atualmente uma área total de 225.017 km2 (IBGE) tendendo haver uma redução para 219.000 km2 devido ajustes na linha de fronteira com a Venezuela na área da Serra do Parima. Boa Vista liga-se a Manaus através da BR-174, rodovia já asfaltada, a uma distância de menos de 750 km, a partir da capital de Roraima.

Também é de grande importância estratégica da rodovia BR 210 (Perimetral Norte) que possui boa trafegabilidade em mais de 200 km de Novo Paraíso (BR-174)

Page 17: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 402

até Entre Rios, no Sul do Estado. A rodovia passa relativamente próximo do Sul da área de disputa entre Venezuela e Guiana e também de outra área litigiosa entre o Suriname e Guiana (Coureyne New) muito rica em ouro, diamante e bauxita. Esta Rodovia, sendo estendida em aproximadamente 400 km poderá ligar-se ao Porto Trombetas no rio de mesmo nome (Porto da Companhia Vale do Rio Doce), dando uma melhor alternativa para esta área que considerada pelo Projeto RADAMBRA-SIL na década de 60 como uma grande província mineral (AGOSTINHO, 2001; 2010).

Outro grande potencial de Roraima, que é poderia se compartilhado com a Venezuela e Guyana, é a atividade turística, atualmente pouco explorado no Estado, ao contrário da Venezuela que tem nesta atividade uma importante fonte de renda e a Guyana que começa a despontar neste setor. A extensão e ampliação dos rotei-ros já existentes e a troca de experiências acumuladas poderão alavancar o turismo transfronteiriço.

A matriz energética regional poderá potencializar-se com as relações inter-fronteiriças, interligando-se com futuras hidrelétricas de grande porte tais como as previstas para a Guyana: Amália com 165 MW e Alto Mazaruni: com 800 MW, esta

no Rio Cotingo com 800 MW, nos Rios Maú e Uraricoera com potencial a ser ainda avaliado; e somando-se a tudo isto temos o linhão de Guri proveniente da hidre-létrica Macagua IV com contrato de 200 MW para o Brasil e fechando todo este circuito teremos o linhão de Tucurui que já chegou a Manaus e está em caminho para Roraima, bem como as futuras interligações com as hidrelétricas que estão em

Além disto, podemos pensar no aproveitamento comercial na própria região

Guyana a poucos quilômetros da fronteira com o Brasil, nos fortes indícios estuda-dos pela Petrobrás na região do Tucano / Serra da Lua em Roraima e nas recentes descobertas de petróleo na plataforma continental da Guyana na fronteira com o Suriname, origem inclusive de pendência de limites já resolvida entre estes dois pa-íses.

A Guiana comprovadamente tem petróleo, não só no mar, mas também no interior, onde a empresa de exploração de petróleo Groundstar aposta nas regiões dos rios Karanambo, Rewa e Pirara. Nesta região junto à fronteira brasileira já hou-ve produção de petróleo em 1982 em Karanambo de 409 barris de óleo/dia.

Page 18: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

Sob o ponto de vista estratégico - militar, a posição do Estado de Roraima

ilustrativo é o da área litigiosa entre a Venezuela e Guiana, na Região do Essequibo, onde no início da década de 60 a Venezuela solicitou para o General Euclides Figuei-redo, comandante do Comando Militar da Amazônia por duas vezes a utilização do território brasileiro (BV8 - Surumú - Contão - Normandia) para passagem de tropas blindadas. Este pedido visava a invasão da referida área da Guiana, tendo na época a negativa do Governo Brasileiro. (Revista Veja 12/4/1963). Este caminho seria obrigatório para tal tipo de operação em função à grande barreira de montanhas e selva densa existente na fronteira Sul da Venezuela com a Guiana, e também devido à inacessibilidade de desembarque de equipamentos pesados na costa guianense, composta quase que basicamente por largos estuários (rios Kaituma, Waini e Esse-quibo) com uma extensa área de manguezais e alagadiços, além de importante base aeronaval com um futuro projeto de instalações para lançamento de foguetes com colaboração norte americana na foz do Rio Essequibo.

Em 1969 tivemos a Revolta do Rupununi, no Sul da Guiana, um movimento armado preparado por fazendeiros com objetivo de criar um novo país na região, e que a Venezuela pretendia com isto a recuperação territorial da denominada “Zona en Reclamación”, os revoltosos foram apoiados clandestinamente pela Venezuela, que forneceu armamentos possivelmente descartados da fracassada invasão da Baia dos Porcos em 1961 e adquiridos no mercado negro de armamentos.

A Revolta contou com a participação criadores de gado do Rupununi, sendo que depois de dois dias de iniciado o movimento, devido à violenta reação do governo guianense, alguns fazendeiros, acompanhados por um grupo de índios, retiraram-se para a Venezuela na condição de exilados, outros foram capturados pela Guyana Defense Force, chamada por Forbes Burnhan, presidente da Guiana à época, para sufocar o movimento armado, e alguns poucos fugiram para o Brasil onde o Exer-cito capturou em território nacional junto à fronteira com a Guyana diversas armas, munições e veículos utilizados pelos revoltosos alem de um pequeno avião repleto de armamentos.

A preparação, a organização, o desfecho e o fracasso do movimento explicam relações políticas e sociais tensas entre a Venezuela e a Guiana, fazendeiros e índios, bem como revelam disputas étnicas conseqüentes da colonização britânica no país (SILVA, 2006).

Em setembro de 1993, notícias de movimentos de tropas americanas na fron-teira Brasil – Guyana próximo às corredeiras do Ourinduque detectados por aviões

Page 19: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 404

brasileiros que atendiam a garimpos na região (SIMÕES, 1993), complementadas por informes da área de inteligência, do Centro de Informações do Exército - CIE e pela embaixada brasileira em Georgetown, descobriu-se que o Comando Sul dos EUA estava prestes a realizar - sem prévio aviso ao Brasil, uma manobra com 600 homens na Guiana, perto da fronteira, entre as corredeiras de Ourinduque no Rio

-nominada Operação Surumú, tendo como Chefe do Comando Militar da Amazônia (CMA), o general de Exército José Sampaio Maia – ex-comandante do CIGS em Manaus, e o general de Brigada Luíz Alberto Fragoso Peret Antunes.

Os rios Maú, Tacutu e Uraricoera enxamearam de “voadeiras” cheias de

O Exército também participou com a sua aviação de helicópteros, que contou com 350 homens do 1º, 2º e 3º esquadrões, trazendo 15 Pantera (HM-1) e 4 Esquilos, que

militares e gente treinada em guerra na selva. A Marinha e a Força Aérea contribuíram com um número não declarado de

homens, navios e aeronaves. O Exército desencadeou a Operação Surumu em par-ceria com a FAB, despejando e entrincheirando 5.300 pára-quedistas e homens das forças especiais em Roraima, ao mesmo tempo em que o espaço aéreo fronteiriço era percorrido por dezenas de vôos de patrulha. Para demonstrar ao adversário a capacidade nacional de levar todo esse dispositivo militar a Roraima em tempo re-corde, três aviões da Varig e da Vasp foram requisitados no transporte de um terço da tropa. Desta forma, a Operação Surumu pôde coincidir com a presença das forças americanas a 300 km dali, sem nenhum atraso (CRUZ; MATHIAS, 2009).

-) acesso em 12 nov.2012.

Page 20: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS387

, Comissão Bra-a

-

-

-

-

-

--

Page 21: A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA DE RORAIMA NO CONTEXTO

10 SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOCIEDADE E FRONTEIRAS 406

2012.

-

--

-