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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1303 Novembro/2013 A invenção de um Agricultor Experimentador Jucati Quando a sabedoria popular e a experiência do dia a dia são utilizadas na criação de estratégias para a agricultura familiar No sítio Batinga, em Jucati, vivem o senhor Josenildo Nunes da Silva, 47, e dona Cleonice Lúcia da Silva, 54. Em 2013, o casal de agricultores foi contemplado com uma cisterna-calçadão, que é uma tecnologia de captação e armazenamento de água com capacidade para 52 mil litros. A implementação faz parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) com o patrocínio da Petrobras. No município, a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 é a organização responsável por executar o Programa. Seu Josenildo, que viu a produção de verduras e a criação de animais da família serem comprometidas com a estiagem prolongada de 2012, hoje faz planos com a chegada da cisterna-calçadão. “Eu nunca passei por uma estiagem como aquela. Tivemos que comprar água para dar aos bichos, mas um caminhão de 10 mil litros só era suficiente para 12 dias. Vendemos os animais para não vê-los morrerem de fome e de sede. De uma criação com 12, só ficamos com 3. Mas se Deus quiser, com a minha cisterna, eu vou plantar aqui, porque quando temos água é possível plantar de tudo e tudo dá”, disse. Ele conta que já morou na zona urbana, mas não pensa em voltar, pois é no trabalho com o campo que se sente realizado. “Percebi que enquanto eu estava na cidade cuidando do que era dos outros, estava abandonando o que era meu. A roça é um trabalho que eu tenho prazer em zelar por ele. Eu gosto de ser agricultor”, ressaltou. E se depender de seu Josenildo, resultados não faltarão mesmo, pois além de amor e vontade de trabalhar, ele é atento aos pontos que abrangem a convivência com o Semiárido. “Eu fui em Afogados da Ingazeira, no Sertão, mas não vi a seca que muitas pessoas falam. Eu trouxe manga e milho maduro, porque lá é irrigado. Tudo o que tem lá pode ter aqui, só depende da gente, mas tem que trabalhar. É por isso que eu já planejei o que eu vou fazer quando a minha cisterna estiver pronta: vou plantar milho, pimentão, cenoura e capim para o gado, porque não podemos esperar somente por uma coisa. Temos que pensar em tudo. Daqui a pouco, quando vocês voltarem aqui verão os resultados”, destacou. O cuidado com a terra somado à vontade de aprender mostra o agricultor experimentador que ele é e junto com o conhecimento que vem da experiência e muita criatividade, ele utiliza estratégias simples, mas que fazem a diferença no trabalho do campo. Uma delas foi inventada por ele mesmo com o objetivo de plantar cenouras. Dona Cleonice e Seu Josenildo

A invenção de um Agricultor Experimentador

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Page 1: A invenção de um Agricultor Experimentador

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1303

Novembro/2013

A invenção de um Agricultor Experimentador

Jucati

Quando a sabedoria popular e a experiência do dia a dia são utilizadas na criação de estratégias para a agricultura familiar

No sítio Batinga, em Jucati, vivem o senhor Josenildo Nunes da Silva, 47, e dona Cleonice Lúcia da Silva, 54. Em 2013, o casal de agricultores foi contemplado com uma cisterna-calçadão, que é uma tecnologia de captação e armazenamento de água com capacidade para 52 mil litros. A implementação faz parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) com o patrocínio da Petrobras. No município, a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 é a organização responsável por executar o Programa.

Seu Josenildo, que viu a produção de verduras e a criação de animais da família serem comprometidas com a estiagem prolongada de 2012, hoje faz planos com a chegada da cisterna-calçadão. “Eu nunca passei por uma estiagem como aquela. Tivemos que comprar água para dar aos bichos, mas um caminhão de 10 mil litros só era suficiente para 12 dias. Vendemos os animais para não vê-los morrerem de fome e de sede. De uma criação com 12, só ficamos com 3. Mas se Deus quiser, com a minha cisterna, eu vou plantar aqui, porque quando temos água é possível plantar de tudo e tudo dá”, disse.

Ele conta que já morou na zona urbana, mas não pensa em voltar, pois é no trabalho com o campo que se sente realizado. “Percebi que enquanto eu estava na cidade cuidando do que era dos outros, estava abandonando o que era meu. A roça é um trabalho que eu tenho prazer em zelar por ele. Eu gosto de ser agricultor”, ressaltou. E se depender de seu Josenildo, resultados não faltarão mesmo, pois além de amor e vontade de trabalhar, ele é atento aos pontos que abrangem a convivência com o Semiárido. “Eu fui em Afogados da Ingazeira, no Sertão, mas não vi a seca que muitas pessoas falam. Eu trouxe manga e milho maduro, porque lá é irrigado. Tudo o que tem lá pode ter aqui, só depende da gente, mas tem que trabalhar. É por isso que eu já planejei o que eu vou fazer quando a minha cisterna estiver pronta: vou plantar milho, pimentão, cenoura e capim para o gado, porque não podemos esperar somente por uma coisa. Temos que pensar em tudo. Daqui a pouco, quando vocês voltarem aqui verão os resultados”, destacou.

O cuidado com a terra somado à vontade de aprender mostra o agricultor experimentador que ele é e junto com o conhecimento que vem da experiência e muita criatividade, ele utiliza estratégias simples, mas que fazem a diferença no trabalho do campo. Uma delas foi inventada por ele mesmo com o objetivo de plantar cenouras.

Dona Cleonice e Seu Josenildo

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

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Realização Patrocínio

A Experimentação

Há 8 anos, seu Josenildo inventou uma ferramenta para ajudá-lo com o trabalho na plantação de cenouras. A experimentação ainda não tem nome e lembra um brinquedo à primeira vista, entretanto é na roça onde se pode observar a funcionalidade do objeto. Assim como toda boa invenção, a ideia é simples: trata-se de uma ferramenta para semear, que é totalmente desmontável e possui um baixo custo para ser confeccionada. Para fazê-la, é necessário 1 metro e 20 centímetros de cano PVC de 25, 1 tê, 2 joelhos, 20 centímetros de arame, tira de borracha, pregos e um pote de plástico com tampa roscável, que pode ser daqueles recipientes de hidratação para cabelos.

A tampa e a base do pote deve conter um pequeno furo, já em volta do recipiente novas perfurações devem ser feitas a cada 5 centímetros. Para que as sementes caiam com mais facilidade e precisão no solo, é importante que o plástico seja envolvido com duas tiras de borracha, que devem ser fixadas com parafusos. A borracha também vai permitir que o recipiente não tenha contato direto com a terra. Em seguida, é hora de colocar os suportes laterais (pedaços menores de cano) e uni-los com o arame que passará por dentro do pote. Depois serão fixados os joelhos no lado direito e esquerdo dos suportes laterais e as extermidades conectadas pelo cano em formato de T. Por último, deve ser encaixada a haste maior do cano, onde o agricultor segurará.

Ferramenta pronta, é hora de usá-la. Para isso, o método de trabalho é simples: guiada pelo agricultor, a ferramenta semeia os grãos conforme a velocidade que é passada no solo. As sementes cairão de forma mais concentrada e em maior quantidade na terra se o utensílio for conduzido de maneira mais devagar. Por sua vez, se for manuseado de forma mais rápida, a distribuição dos grãos acontecerá de maneira mais econômica e espalhada. Este último modo, segundo Seu Josenildo, é o jeito mais indicado para usar a ferramenta durante a época de plantação.

Seu Josenildo conta que teve a ideia de criar um objeto que o auxiliasse no trabalho, depois de perceber que a plantação manual funciona para quem planta pouco, mas dificulta para os que produzem numa escala maior. Assim, a fim de ganhar tempo e otimizar a mão de obra, ele inventou algo simples, mas que considera eficiente.

Um instrumento para otimizar o tempo e o trabalho

A ferramenta é desmontável e de baixo custo

Os grãos são soltos conforme velocidade no solo