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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1411 Novembro/2013 “MEU NOME completo é João Barbosa dos Santos Sobri- nho, minha esposa é Maria Senhorinha de Oliveira Santos (...) Na comunidade mesmo eu moro há 40 anos já! (...) Nasci e criei sendo agricultor, sempre vivi da agricultura”. Assim começa a história contada de Seu João e sua família, que vivem na comuni- dade de Lajedão, zona rural do município de Boa Nova/BA. O quintal de seu João traduz toda riqueza e saber do povo do Semiárido à base de princípios agroflorestais. De uma horta a um pomar de grande diversidade com criatório de abelhas, este agricultor familiar consegue recriar e reflorestar uma caatinga cheia de vida e beleza. “Plantando milho, fava, feijão e alguns pé de fruta como você viu aí, planto feijão de arranque um pouco (...), cultivei muita mandioca”, apesar da forte estiagem em 2012, Seu João não perdeu a vontade de ampliar sua Agrofloresta. Para superar as dificuldades com a água , Seu João inven- tou um sistema simples de irrigação, reaproveitando este bem precioso com criatividade. “Eu tive a invenção de por [as manguei- ras] nessa caixa aí em cima e irriguei lá pra baixo já na intenção de molhar as hortas, meu plano deu certo! Eu já aproveitei ao vez de ficar com o dedin na mangueira fazendo pressão pra fazer chuve- rada, eu tive a ideia de usar aqueles chuveirinho na ponta da man- gueira, quando abre o registo já vem chuverada! (...) Até a água que cai da pia botei lá pro canteiro de feijão, é como eu digo, água de cozinhar na minha horta”, conta com sabedoria. Além do saber técnico, o agricultor também compreende o princípio perfeito da natureza preservando a água através da diversidade agroflorestal, “Aí eu tou aproveitando espaço e aprovei- tando água, uma água só tou molhando feijão e o pimentão junto, que um não interrompe o outro porque o pimentão sempre é mais alto, num empata o feijão, nem o feijão empata o pimentão (...) como aqui a seca é grande, se fazer duas horta (...) eu gasto duas águas (...) Então por isso eu apro- veito aquele espaço do pimentão e planto feijão”. O vínculo de Seu João com a terra onde vive se demonstra na sua sabedoria preocupada em fornecer à mãe natureza o mesmo cuidado recebido, pensando também na Agroecologia viável que gera bons frutos. “(...) Meu interesse aí nessas abelhas não foi só o cultivo do mel, foi [também]o acasalamento das flores. (...). Invés da abeia vir de fora pra poder fazer o acasalamento das flores no meu quintal, vou fazer o criatório das abelhas que vai incentivar as abelha a ficar ai. Elas vai me ajudar nesse quintal, se elas continuar a ficar, vender o mel aí e ter mais um dinheirinho!”. Viva a Seu João! O experimentador agroflorestal do Lajedão Boa Nova Dona Maria Senhorinha em seu quintal Seu João explica sobre sua criação de abelhas

Viva a Seu João! O experimentador agroflorestal do Lajedão

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Page 1: Viva a Seu João! O experimentador agroflorestal do Lajedão

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1411

Novembro/2013

“MEU NOME completo é João Barbosa dos Santos Sobri-

nho, minha esposa é Maria Senhorinha de Oliveira Santos (...) Na

comunidade mesmo eu moro há 40 anos já! (...) Nasci e criei

sendo agricultor, sempre vivi da agricultura”. Assim começa a

história contada de Seu João e sua família, que vivem na comuni-

dade de Lajedão, zona rural do município de Boa Nova/BA.

O quintal de seu João traduz toda riqueza e saber do povo

do Semiárido à base de princípios agroflorestais. De uma horta a

um pomar de grande diversidade com criatório de abelhas, este

agricultor familiar consegue recriar e reflorestar uma caatinga

cheia de vida e beleza. “Plantando milho, fava, feijão e alguns pé

de fruta como você viu aí, planto feijão de arranque um pouco (...), cultivei muita mandioca”, apesar

da forte estiagem em 2012, Seu João não perdeu a vontade de ampliar sua Agrofloresta.

Para superar as dificuldades com a água , Seu João inven-

tou um sistema simples de irrigação, reaproveitando este bem

precioso com criatividade. “Eu tive a invenção de por [as manguei-

ras] nessa caixa aí em cima e irriguei lá pra baixo já na intenção de

molhar as hortas, meu plano deu certo! Eu já aproveitei ao vez de

ficar com o dedin na mangueira fazendo pressão pra fazer chuve-

rada, eu tive a ideia de usar aqueles chuveirinho na ponta da man-

gueira, quando abre o registo já vem chuverada! (...) Até a água

que cai da pia botei lá pro canteiro de feijão, é como eu digo, água

de cozinhar na minha horta”, conta com sabedoria.

Além do saber técnico, o agricultor também compreende o princípio perfeito da natureza

preservando a água através da diversidade agroflorestal, “Aí eu tou aproveitando espaço e aprovei-

tando água, uma água só tou molhando feijão e o pimentão junto, que um não interrompe o outro

porque o pimentão sempre é mais alto, num empata o feijão, nem o feijão empata o pimentão (...)

como aqui a seca é grande, se fazer duas horta (...) eu gasto duas águas (...) Então por isso eu apro-

veito aquele espaço do pimentão e planto feijão”.

O vínculo de Seu João com a terra onde vive se demonstra na sua sabedoria preocupada em

fornecer à mãe natureza o mesmo cuidado recebido, pensando também na Agroecologia viável que

gera bons frutos. “(...) Meu interesse aí nessas abelhas não foi só o cultivo do mel, foi [também]o

acasalamento das flores. (...). Invés da abeia vir de fora pra poder fazer o acasalamento das flores

no meu quintal, vou fazer o criatório das abelhas que vai incentivar as abelha a ficar ai. Elas vai me

ajudar nesse quintal, se elas continuar a ficar, vender o mel aí e ter mais um dinheirinho!”.

Viva a Seu João! O experimentador agroflorestal do Lajedão

Boa Nova

Dona Maria Senhorinha em seu quintal

Seu João explica sobre sua criação de abelhas

Page 2: Viva a Seu João! O experimentador agroflorestal do Lajedão

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

“Tenho uma história até meia bunita pra mim, não sei pra todo mundo…”

“Ano passado, a gente perdeu foi 3 planta de feijão. O arranca eu

fiz nessa baixa aí e perdi, cabou-se tudo! Eu cheguei lá na roça tinha

sobrado um pézinho, uma baga! Eu dibuei aquela baguinha e tinha 5

caroço, e eu guardei. Desse feijão, plantei, em 60 dias quando ele deu

um fruto, eu peguei e dei um punhado, fui lá, aonde eu cultivei aquela

horta, cavei (...), fofei a terra e plantei o feijão... Continuei molhando

com a mangueirinha todo dia…. deu a lavoura! Eu colhi um litro e mei, tá

ali guardado naquela garrafa pra plantar! Eu falei pra mulher, 'vou plan-

tar de novo'. Plantei e deu mais mei litro. Peguei mais um litro de feijão.

A prova da terceira planta tá lá todo na flor já, então eu fiz a semente! De

qualquer forma, eu fiz a semente!” conta Seu João sua história com as

sementes crioulas que cultiva.

Num pequeno reservatório, o agricultor guarda muitas variedades há 4 anos, como sua que-

rida semente de fava, que planta e colhe todos os anos. O método é simples e como de feitio de seu

João, o cuidado com a natureza é lei: “Fiquei juntando as garrafa pet, botando sementinha pra pran-

tá. Foi um bom resultado, do que o ano vem ai, a gente ter bastante lavoura e cade as garrafa pra

armazenar? Aí eu saí juntando garrafa, nas estrada eu já não andava sem a sacolinha na bicicleta,

aonde eu via, eu catava amarrava na sacolinha (...). Além de tá ajudando o meio ambiente e tou

fazendo a coleta pra minha lavoura (...) Foi a melhor ideia que eu encontrei pra armazenar semen-

te, tem garrafa de mantimento ali que tem três ano, se não nascer, mas pra comer serve”.

“Sempre gosto de guardar a mais, que é pra duas planta, às

vezes você planta esse ano, perde e no outro ano não ganha a

mesma semente (...)”, além do cuidado frequente, o sonho de seu

João é que a comunidade de Lajedão possa cultivar suas sementes e

ter um quintal rico, para isso, o agricultor mantém uma intensa

troca de sementes: “Alguém que tiver necessitando de alguma

semente, que as vezes a gente tem e ele não tem ou ele tem uma que

a gente não tem, doa um pra outro ou troca as sementes”.

Além da generosidade em doar sementes, seu João ainda

demonstra uma paixão pelas mudas que consegue criar com sua

sabedoria, paciência e curiosidade sertaneja: “Eu tenho aqui essa fruta do conde, a pinha graviola

(...) tem aí 4 ou 5 variedade de pinha no quintal, então eu sei que ela são difícil de nascer e eu já

cansei de plantar (...) e elas não nasce! Então eu puxei a areia lavada e encontrei a semente da

pinha germinada dentro da areia lavada, aí me veio no pensamento que podia ser bom pra isso!

(...) Eu fiz essa ideia [também] com a semente de laranja, que a semente de laranja você planta,

com 30 dias em diante pra ela nascer, né, eu botei na areia lavada e com 15 dias ela tava nascida

tudo germinadazinha já no jeito de fazer as mudas (...)”.

Todo carinho e dedicação de seu João seguem em busca de um Semiárido rico em florestas

nativas e experimentadas e hortas diversificadas. Seu João e Dona Maria representam a agricultura

familiar de afinco, de garra e sustentabilidade. Suas experiências exitosas e criativas fortalecem a

viabilidade deste Sertão cheio de cor, vida, riqueza e de sabedoria popular.

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