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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA MARIA CLÁUDIA DE FATIMA MOREIRA A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM SUA OMISSÃO AOS DIREITOS DOS ANIMAIS CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

MARIA CLÁUDIA DE FATIMA MOREIRA

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM SUA OMISSÃO AOS DIREITOS

DOS ANIMAIS

CURITIBA

2016

MARIA CLÁUDIA DE FÁTIMA MOREIRA

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM SUA OMISSÃO AOS DIREITOS

DOS ANIMAIS.

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, com intuito da obtenção parcial do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Profª. Drª. Thais Pascoaloto Venturi

CURITIBA

2016

TERMO DE APROVAÇÃO

MARIA CLAUDIA DE FATIMA MOREIRA

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM SUA OMISSÃO AOS DIREITOS

DOS ANIMAIS

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito

da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___de __________ de 2016.

____________________________________

Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Profª. Doutora Thais Pascoaloto Venturi UTP

Prof. UTP

Prof. UTP

AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus, por ter me dado a oportunidade de

uma nova vida, onde nunca desistiu de mim, que me proporcionou a convivência com

as criaturas mais maravilhosas criadas por Ele, os animais.

Agradeço a minha orientadora Professora Thais, pela atenção nesses últimos

meses.

Meu agradecimento a minha filha Melody, por ser essa criança linda e gentil,

que deixou a mamãe estudar, sempre entendendo aqueles momentos em que a

faculdade ocupava todo meu tempo, nas companhias para o McDonalds para

desestressar, enfim, por ser uma filha maravilhosa, a metade mais perfeita do meu

coração.

Agradeço também ao meu cachorro Max Moreira, o amor da minha vida, meu

filho peludo, que me mostrou que não preciso que tenha nascido de mim, ou que seja

da mesma espécie, para que se torne parte da minha família, que me ensinou a amar

todos os animais e aceitou todos aqueles que eu levei pra casa, sem nunca ter

mordido nenhum, por ter sido o cachorro mais lindo, bravinho, e companheiro que

ficou comigo nesses últimos anos, deitado na sua cama, me olhando estudar, me

fazendo companhia nos momentos de solidão, somente ali com sua presença sem

exigir nada em troca. Gordo lindo da mãe

Agradeço a todos os animais que passaram na minha vida, Pipoca, Radar,

Lady, Steve, Anita entre tantos outros, que ainda fazem parte do meu coração de uma

forma pura e mesmo que alguns tenham partido, eu ainda os amo muito e sinto muitas

saudades.

Também venho agradecer ao meu melhor amigo, Heylon que nunca me

deixou desistir do Direito, que me escutou nas crises de raiva, que deu risada das

aventuras desses cinco anos, que foi meu irmão quando eu mais precisei. As minhas

amigas da Juru, nesses últimos dias de monografia, que entraram na minha vida de

uma forma espetacular, me acalmaram, e me disseram que eu ia conseguir.

Por fim, agradeço a minha mãe Sueli por me proporcionar esse sonho, e a

minha irmã Simone, por ter me ajudado nesses meses, e por todo o cinema da

distração.

A todos os animais que sofrem nas mãos egoístas do homem – Nunca vou desistir de um mundo melhor para vocês.

Se os animais criassem uma religião, o homem seria o diabo. Gary Yourofsky

"Enquanto estivermos matando e torturando animais, vamos continuar a torturar e a matar seres humanos - vamos ter guerra. Matar precisa ser ensaiado e aprendido em pequena escala; enquanto prendermos animais em gaiolas, teremos prisões, porque prender precisa ser aprendido em pequena escala; enquanto escravizarmos os animais, teremos escravos humanos, porque escravizar precisa ser aprendido em pequena escala." - Edgar Kupfer-Koberwitz

O homem implora a misericórdia de Deus mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um deus. Os animais que sacrificais já vos deram o doce tributo de seu leite, a maciez de sua lã e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam. Ninguém purifica seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal não é possível colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um terá de responder." Gautama Buda

RESUMO

O presente trabalho trata da omissão dos direitos dos animais dentro da legislação brasileira. Esse estudo surgiu através do crescente aumento dos crimes de maus tratos, como uma tentativa de explanar os motivos que o poder judiciário tem sido pouco viável na hora de punir quem pratica esses crimes. Pretende mostrar com essas mudanças acerca da personalidade como dita o Código Civil Brasileiro, influencia todas as tentativas de mudança no que concerne os diretos dos animais, e mostrando através e teorias ora arcaicas como a antropocentrista e grande inovação através do biocentrismo, como o princípio da igualdade entre seres humanos e animais. Para tanto houve revisão bibliográfica, revistas especializadas, artigos, legislações que abordam o assunto. A analise desse trabalho, permite mostrar que levando em conta a capacidade de sentir dos animais, com a capacidade de enxergar outras espécies como parte de um meio ambiente estável e seguro, a criação de leis que tenham força para a proteção animal.

Palavras-chave: animais. personalidade. maus tratos.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................10

2 NOÇÕES ESSENCIAIS DA PERSONALIDADE ........................................12

2.1COMO O HOMEM PASSOU DE COISA À PESSOA ................................14

2.2 A NATUREZA COMO SUJEITO DE DIREITO .........................................16

2.2.1 Pessoa física ..........................................................................................17

2.2.2 A Capacidade da pessoa física ..............................................................18

2.2.3 Capacidade de direito ............................................................................18

2.2.4 Capacidade de fato ................................................................................19

2.2.5 Pessoa jurídica .......................................................................................21

2.3 O OBJETO DE UMA RELAÇÃO JURÍDICA ............................................24

2.3.1 Bens e Coisas ........................................................................................24

2.3.2 Bens considerados em si mesmos .........................................................26

2.3.3 Bens Imóveis ..........................................................................................26

2.3.4 Bens Móveis ...........................................................................................27

3 ANIMAIS “COMO SUJEITO DE DIREITO” E OS CRIMES CONTRA OS

MAUS TRATOS ..............................................................................................29

3.1 PERSONALIDADE JURÍDICA DOS ANIMAIS ..........................................29

3.2 ALGUNS CRIMES CONTRA OS ANIMAIS ...............................................31

3.2.1 Animais domésticos ................................................................................31

3.2.2 Vivissecção .............................................................................................32

3.2.3 Farra do boi ............................................................................................34

3.2.4 Rinhas de galo ........................................................................................37

3.2.5 Rodeios e vaquejadas ............................................................................39

3.3 PENALIDADES AOS CRIMES DE MAUS TRATOS .................................42

4 AS MUDANÇAS ACERCA DA TUTELA JURÍDICA DOS ANIMAIS ..........45

4.1 OS ANIMAIS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO ..............................45

4.2 ANIMAIS COM “STATUS” INTERMEDIARIO ENTRE PESSOA E COISA

..........................................................................................................................46

4.2.1 Teoria Antropocêntrica ...........................................................................48

4.2.2 Teoria Biocêntrica ...................................................................................50

4.3 AS MUDANÇAS E SUAS PROPOSTAS ...................................................51

4.4 NOÇÃO DE SENCIÊNCIA E O DIREITO DOS ANIMAIS ........................54

4.4.1 Um novo paradigma ..............................................................................55

5 CONCLUSÃO .............................................................................................59

REFERÊNCIAS ..............................................................................................60

ANEXO A – DECLARAÇÃO DOS DIREITO DOS ANIMAIS – UNESCO ONU

.........................................................................................................................65

10

1. INTRODUÇÃO

O conceito de personalidade é o marco para que a definição dos

direitos dos homens e de outras espécies, mostrando que as pessoas são as

titulares deste direito.

A Constituição Federal é o marco para que se entenda de onde vem a

ideologia de mudança das leis, é dela que entendemos que ao passo que

temos dever de manter um meio ambiente viável para as pessoas, devemos

então manter esse meio ambiente para os animais. Usando então a

Constituição Federal e a Lei do Meio Ambiente, que procurou definir a tutela

jurídica dos animais, propostas e emendas aos projetos de lei foram lançados

onde esperam que sejam aprovados.

Essa nova proposta vem acerca da omissão dos diretos dos animais,

que vem sendo negligenciados por vários anos, onde sua vida não passa mais

de um pedaço de papel para as pessoas, onde o homem tendo sido ensinado a

ser o único ser dominante do planeta escravizou animais, matou por prazer,

porque não temos lei que os protejam de maneira justa.

O presente trabalho vem através do conceito de personalidade, expor a

mudança que deveria acontecer acerca da tutela dos animais, onde

diferenciado o conceito de coisa e bens para os animais, que os transforma em

objetos de uma relação onde deveriam se enquadrar como sujeitos.

No primeiro capítulo, demostra os conceitos de personalidade e como

ocorreu a mudança para com as pessoas, já que nem sempre o homem era

tratado como sujeito de direitos e existia uma relação jurídica, passando do

racismo a negros com a escravidão e até mesmo o preconceito com mulheres.

No segundo capítulo, mostra os animais como sujeito de direito, e a

personalidade jurídica destes, onde seguindo o pensamento de Peter Singer,

apoia que a capacidade de igualar um homem de um animal é a sua

capacidade de sofrer, tipificando os crimes contra os animais dentro do

território brasileiro, que precisou da intervenção do Poder Judiciário para sua

proibição.

No terceiro capítulo e último capítulo, é dedicado a demostrar como

seria possível a mudança nos seus direitos, visando novos projetos de lei, e

mudanças da legislação Civil acerca de em vez de conceituarmos os animais

11

como coisas, terem uma legislação especial que vise o seu tratamento como

pessoa não humana.

12

2. NOÇÕES ESSENCIAIS DA PERSONALIDADE

A personalidade nasce com o homem, morre com ele, é dela que

nasce a gama de direitos que protegem a pessoa dentro do cotidiano e

mantêm suas relações jurídicas de forme concisa e segura.

Sem ela, o ser humano não seria considerado uma pessoa, sem ela o

ser humano seria somente “coisa ”.

O grande marco que propaga as diferenças existentes entre animais e

pessoas se inicia no conceito de personalidade de ambos, um é possuidor dela

e outro é tratado como coisa, ou seja, não possui personalidade, os animais

não possuem direitos, quando se fala em direitos, resume-se que somente

aquele que tem consciência na hora de praticar seus atos é possuidor deste.

Os animais então não se enquadram.

O primeiro passo para a conceituação da personalidade vem através

do Código de Civil, quem em seu artigo 2º:

Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com

vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

A personalidade é um atributo conferido ao ser humano, que ao nascer

adquire personalidade, os estudos relacionados ao Direto, se dão de início

pelo conhecimento das pessoas, os chamados sujeitos de Direito, são estes

que se relacionam dentro e uma sociedade formando uma relação jurídica, é

preciso que duas pessoas em subordinação a uma ordem jurídica, é onde

passam a existir direitos e obrigações que os transformam em sujeito e sua

convivência em uma relação jurídica. (VENOSA, 2004, p. 137).

Portanto, a personalidade é conforme (BEVILÁQUIA, 2003, p. 62):

“personalidade é a aptidão pela ordem jurídica a alguém para exercer direitos

e contrair obrigações”. É neste momento que somos possuidores de garantias

que nos transformam em marcos processuais, onde encontramos nossa

delimitação do que podemos fazer ou não. É onde somos transformados em

pessoas.

Existem duas correntes acerca de como se inicia a personalidade, e

teoria natalista e a teoria concepcionista. O Código civil aceitou a teoria

13

natalista que considera nascimento o início desce atributo jurídico, onde tendo

esta pessoa nascido com vida, adquirindo assim o status de pessoa natural é

alguém que possui expectativas de direitos por ser considerada uma

expectativa de pessoa; segundo Pontes de Miranda:

“No útero, a criança não é pessoa, se não nasce viva, nunca adquiriu direitos, nunca foi sujeito de direitos, nem pode ter sido sujeito de direito (nunca foi pessoa). Todavia, entre a concepção e o nascituro, o ser vivo pode achar-se em situação tal que se tem de esperar o nascimento para se saber se algum direito, pretensão, ação, ou exceção lhe deveria ter ido. Quando o nascimento se consuma, a personalidade começa” (MIRANDA: 1954).

Surge então em contrapartida a Teoria Concepcionista, a afirmação

que mesmo o nascituro, aqueles que foram concebidos e ainda estão por

nascer, embora não sejam considerados pessoas, possuem proteção legal

tanto no Código Civil como no Direito Penal. (VENOSA, 2004, p. 162). Essa

teoria, aceita que já aquele que foi concebido recebe proteção jurídica de

ambas as legislações, então ele é dotado de personalidade, tornando-o assim

um sujeito com direitos. (SINISCALCHI, 2005).

Embora a proteção jurídica aconteça nos casos do nascituro, não

podemos deixar de esquecer que eles ainda não adquirem personalidade,

somente algo do que se aproxima a esta, personalidade só é adquirida com

vida. Mesmo naqueles casos em que a criança, ao nascer vir a falecer

(VENOSA, 2004, p. 162), ele é possuidora de direitos civis, como qualquer

pessoa viva. Mesmo que apos um breve espaço de tempo, ela terá

personalidade. (SINISCALCHI, 2005).

Sendo o nascimento, o marco para o início da personalidade, sua

extinção acontece com a morte, com ela termina a personalidade jurídica da

pessoa, esta morte deve ser estabelecida, e provada para então possam

ocorrer os efeitos inerentes ao desaparecimento jurídico da pessoa, em regra a

prova de morte de uma pessoa se dá pelo seu atestado de óbito, onde na falta

desse deve-se então recorrer aos meios indiretos para que se seja provado a

morte. (VENOSA, 2004, p. 191).

É essencial que seja provada a morte do individuo porque dela cessam

a aptidão para figurar como titular de direito e deveres, o que se ocasiona a

extinção relações jurídicas existentes desse indivíduo era titular, onde se

14

iniciam as transmissões aos demais pela sucessão, conforme art. 1.784 do

Código Civil. (RODRIGUES, 2003, p. 8).

2.1 COMO O HOMEM PASSOU DE COISA A PESSOA

A personalidade nem sempre foi instituto de todos, nem sempre

bastava ser humano, para ter personalidade, como também a capacidade de

exercer seus direitos. Toda pessoa é humana, mas nem todo ser humano era

considerado pessoa. Antigamente, mesmo as pessoas tendo sido consideradas

iguais, no sentido corpóreo, eles não eram iguais perante a lei.

No Direito Romano, a princípio, para que se fosse instituída a

personalidade jurídica como conhecemos atualmente, eram necessários duas

condições, que a pessoa fosse livre e cidadão romano. Os romanos faziam a

sua distinção acerca de três status dentro de sua sociedade, conhecido este

como um conjunto de atributos que direcionava uma posição do indivíduo que

ocupava em sua condição de ser livre ou escravo, conhecido como status

libertatis. Homem livre era aquele não pertencente a alguém que não fosse ele

mesmo. (VENOSA, 2004, p. 140).

Após o nascimento, essa liberdade poderia ser adquirida pela alforria,

ou por vários métodos permitidos pela lei, ou pela prescrição sendo também

levado em conta a boa fé do escravo estando na posse de sua liberdade

durante 10 ou 20 anos. (VENOSA, 2004, p. 140).

A escravidão era aceita como instituição e sustentava a economia do

Império, onde desempenhavam as mais variadas funções, desde as

domésticas até as agrícolas, muitos desses escravos eram bem tratados pelos

seus senhores, tanto que gozavam de benefícios que os aproximavam

bastante do conceito de homem livre. Era comum, por estes motivos, em

classes inferiores o casamento de pessoas livres com escravos. (VENOSA,

2004, p. 140)

Porém mesmo, em se tratando de um bom relacionamento entre

escravo e seu senhor, ele era considerado como coisa perante o ius civile,

sendo, portanto objeto para qualquer transação comercial, caso se matasse

escravo, não era considerado homicídio, este instituo denominado para as

15

pessoas, mas sim a destruição de coisa alheia, dano patrimonial para aquele

que era possuidor do escravo. (VENOSA, 2004, p. 140)

A escravidão teve origem no Direito Romano dentro de três aspectos,

sendo escravo aquele que nasce de mulher escrava na hora do parto, o inimigo

feito prisioneiro, e pelas várias formas do Ius Civile, onde dentro deste tipo de

direito eram muitas as formas de se reduzir alguém a escravo, mesmo este tipo

sendo de número menor comparado as outras formas de escravidão. Dentro do

Ius Civile, se tornaria escravo aquele que se recusasse a servir o exército

(indelectus), aquele que subtraísse as obrigações do censo (incensus), assim

como o devedor insolvente, que poderia além de se tornar escravo, também

poderia ser vendido como tal além do Rio Tibre. (VENOSA, 2004, p. 142)

A escravidão poderia ter seu fim através da manumissão, que era o

ato de alforria do escravo. Existiam várias formas de manumissão, onde como

exemplo a vindicta que era ato verificado perante o magistrado, onde deveriam

estar presentes o senhor e o escravo bem como terceira pessoa, o adsertor

libertatis, esta função se adequava quando o escravo não possuía

personalidade jurídica eram representados por este. A manumissão era dada

ao escravo que se pronunciava querer a liberdade com concordância do seu

senhor, onde então este magistrado declarava a manumissão por meio da

addictio libertatis. (VENOSA, 2004, p. 142).

No Brasil, a escravidão durou 388 anos, onde teve início desde seu

descobrimento em 1500 até a Lei Áurea em 1888 mesmo após a declaração

que transformou o país em República, a permanência da escravidão, mesmo

com os pensamentos iluministas que aconteceram antes e depois da

República, prevalecia o conceito econômico, sendo o escravo mais importante

que o domínio ou posse sobre a terra. (LOBO, 2015, p. 21)

O escravo no Brasil era objeto, enquanto perdurou essa fase, era

usual marcar o escravo com ferro quente, como se ferra o gado. Os escravos

que vinham da África já eram marcados ao embarcarem nos navios, sendo que

ao chegarem aqui recebiam outra marca, onde em casos que fugissem, as

marcas eram comunicadas e publicadas para reconhecimento do escravo.

(LOBO 2015 p. 22). Os filhos das escravas, sendo frutos da propriedade, ou

crias (assim como os animais), expressão esta utilizada, no Brasil, pela Lei 26

de abril de 1864.

16

O Brasil foi um dos últimos países a acabar com a escravidão dentro

do seu território, a Lei Áurea foi disseminada pelo país inteiro, porém em

algumas propriedades levaram semanas ou até meses para conhecimento da

Lei. Mesmo após a liberdade dos escravos, muitos deles acabaram sofrendo

pois mesmo com a liberdade em si, acabaram desprovidos de propriedade e

sustento, sendo forçados a concorrer com imigrantes acerca das necessidades

de se adquirir um emprego.

Nos tempos modernos, não existe escravidão por parte de pessoa,

todo e qualquer homem que pratique o ato de escravizar uma pessoa, está

cometendo um crime, em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos

editada pela Assembleia Geral da ONU estabelece em seu art. IV que:

Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Este foi o marco de um fim, em uma era onde as pessoas já foram

consideradas como coisas, onde a personalidade era um privilégio, está

concedido a quem possuía liberdade. O que hoje consideramos normal,

participar de uma relação jurídica como sujeito, seja este ativo ou passivo, no

passado não era possível. (LOBO, 2015, p. 21). Temos em mente que nosso

status de pessoa foi adquirido de forma árdua e lenta, porém deixamos de ser

tratados como meros objetos, para figurarmos como sujeitos.

2.2 A NATUREZA COMO SUJEITO DE DIREITO

Embora toda pessoa seja sujeito de direito em uma relação jurídica,

nem todo sujeito de direito é pessoa (COELHO, 1989, p.74/89), devido às

maneiras que ela atua dentro do nosso mundo jurídico, existem diferenças no

que se refere sua conceituação, pois embora pessoa seja sempre sujeito de

direito, é preciso primeiramente saber que tipo de pessoa esta se declara.

Sujeitos de direito é o titular dos interesses em sua forma jurídica. (COELHO, 2003 p. 138).

O sujeito de direito é pessoa, porém sua classificação é o que dela se

formam as relações jurídicas. Existem duas classificações de sujeito de direito

onde se dividem em personificados e despersonificados e a segunda os

17

sujeitos humanos e os não humanos. Conforme Coelho, o fato de nem todo

sujeito ser pessoa, é que estes não são personificados.

Quando o sujeito de direito tem personificação, ele adquire uma

autorização que lhe permite praticar os atos que não sejam proibidos em lei,

Esse é o marco que separa a diferença dos sujeitos despersonificados, pois

mesmo tendo direitos e deveres, eles não possuem essa autorização, sendo

que só podem praticar certos atos conforme eles forem expressamente

autorizados em lei.

O sujeito que possui personificação são aqueles que possuem

personalidade jurídica, dentro desse quadro em que possuem essa aptidão

dentro de uma relação jurídica, esses sujeitos personificados são as pessoas

que podem ser físicas ou jurídicas, que por este instituto aplicado a elas estão

autorizados às praticas de qualquer ato desde que este não seja proibido.

(COELHO, p. 139, 2003), mesmo as pessoas físicas e jurídicas são sujeitos de

direito, porém a diferença entre eles esta na naturalidade e na sua

artificialidade fazendo com que os estudos de cada uma precise ser

diferenciados, não é aplicado de maneira igual às regras quanto ao fim da

personalidade, nem quanto a capacidade. (GOMES, 2009, p. 128).

Adquirida a personalidade, que faz com que as pessoas físicas e

jurídicas se tornem então sujeitos de direito, essa atribuição concede o direito

de estar em uma relação jurídica, exercendo poderes ou cumprindo deveres.

2.2.1 PESSOA FÍSICA

Para Fábio Ulhôa Coelho (COELHO, 2003, p. 139), homens e mulheres

são pessoas físicas, pois o direito positivo lhes concede aptidão para

titularizarem direitos e deveres bem como autorização para prática dos atos e

negócios jurídicos em geral, salvo os proibidos em lei.

Então conforme acordado em lei pelo art. 2º do Código Civil, as

pessoas físicas, ao nascimento com vida se tornem sujeito de um direito, que

pelo fato de serem pessoas que realizam atos dentro da vida civil, desde que

estes não estejam proibidos em lei.

Porém, mesmo toda pessoa sendo titular dos direitos, nem toda pessoa

tem capacidade de exercer os atos dentro da vida civil, instituto esse

18

denominado capacidade, em que algumas pessoas por limitações em sua

saúde mental, idade, precisam de um terceiro que lhe represente perante aos

atos por ele praticado.

2.2.2 A CAPACIDADE DA PESSOA FÍSICA

Toda pessoa é provida de personalidade, porém nem toda pessoa

pode ser considerada capaz de exercer seus direitos, pois muitas delas não

apresentam condições específicas para realizar atos dentro da vida civil,

algumas pessoas não podem exercer seus direitos e deveres diretamente, as

pessoas físicas dividem-se em capazes e incapazes, onde aquelas que são

consideradas capazes podem realizar os atos ou negócios jurídicos sem a

intervenção de outra pessoa, elas têm discernimento, já as pessoas incapazes

não podem realizar atos ou negócios jurídicos sem que haja intervenção de

outra pessoa.

Existem dois tipos de capacidade, sendo a capacidade de direito ou de

gozo e a capacidade de fato:

2.2.3 A CAPACIDADE DE DIREITO

Esse tipo de capacidade é atribuído a todas as pessoas naturais ou

físicas, conforme art. 1º do Código Civil de 2002:

Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

Toda pessoa então tem capacidade exercer seus direitos, e não

somente as físicas como também as pessoas jurídicas dentro dos moldes que

lhe forem estabelecidas.

Conforme cita Francisco do Amaral (AMARAL, 2006, p. 227):

Capacidade de direito é a aptidão para alguém, ser titular de direitos e deveres,

ser sujeito de uma relação jurídica.

Esse artigo de lei que rege a capacidade de direito, dá a todas as

pessoas o efeito do princípio da igualdade, esse direito é de exclusivo da

19

pessoa, tendo por termo inicial seu nascimento e perdurando até a morte.

(RODRIGUES, 2003, p.12).

2.2.4 CAPACIDADE DE FATO

Já a capacidade de fato, é aquela que dá o poder de colocar em

movimento os direitos, esse tipo de capacidade nem todos possuem, onde

dentro da sua conceituação dentro das pessoas físicas ela tem diversidade de

graus, onde podem ser capazes, absolutamente incapazes e relativamente

incapazes, conforme passam praticar ou não os atos dentro da vida civil.

(AMARAL, 2006, p. 228)

A capacidade de fato, entre sua forma pode ser utilizada também como

a capacidade de realizar atos jurídicos que se desdobra em capacidade

processual que da função da pessoa de praticar em juízo aos atos processuais

que defendam seus interesses e capacidade penal, onde é avaliada a

possibilidade da pessoa de ser responsável pela prática do ilícito penal.

Há uma diferença entre capacidade de fato e a legitimidade para

praticar os atos, a legitimidade ela vem das situações jurídicas, portanto

legitimidade é segundo Francisco do Amaral (AMARAL, 2006, p. 228):

“Legitimidade é, assim, o, poder de exercitar um direito, e legitimidade quem o

tem”.

Ou seja, pode aquela pessoa ter sim capacidade do fato, porém não ter

legitimidade nos atos, perante ouras pessoas, a capacidade lhe dá o direito de

mutação das situações, onde diferente da capacidade de direito, é o poder que

a pessoa tem de realizar em seu nome os atos que lhe são permitidos pela lei.

No caso das pessoas absolutamente incapazes, que ocorrem em

casos de saúde e da idade da pessoa, são considerados incapazes de forma

absoluta os menores de idade, os insanos mentais e aquele que não podem

exprimir sua vontade por causa de um defeito físico como, por exemplo, aquela

pessoa que é surda muda. Em se tratando de incapacidade, é usual que as

pessoas tenham um pensamento que os idosos são incapazes de praticar atos

dentro de uma vida civil, porém a velhice não é causa para incapacidade,

sendo que deve ser avaliado nestes casos, não só a idade, mais também como

o discernimento, o fisiológico e social da pessoa. (AMARAL, 2006, p. 228)

20

Não existe padrão que torne o sujeito incapaz em caso de idade,

porém e certo que os menores de idade precisam de auxílio no que se refere

às decisões importantes dentro da sua vida civil, e são considerados

absolutamente incapazes.

Os doentes mentais são considerados incapazes absolutamente, não

importando a doença que ensejou essa incapacidade, pois o que importa para

a vida civil é alteração que se tornando grave ao seu estado mental, ela

determina sua incapacidade, nesses casos o sujeito é interditado onde passa

ser representado por outra pessoa no que tange seus direitos, deveres e

obrigações.

Não é a deficiência que torna o sujeito absolutamente incapaz, mas a

sua gravidade e si, o surdo ou o mudo não são absolutamente incapazes, mas

sim o estado que suas deficiências o impossibilitam de tomar decisões acerca

da sua vida.

Existe também, a incapacidade relativa, que conforme o estado

individual acerca do estado de saúde, idade, ou sexo, estabelecido conforme

art. 4º do Código Civil:

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. .

Conforme pessoa adquire maioridade, este é o momento em que é

considerado, que adquire a capacidade pelo desenvolvimento das suas

faculdades intelectuais, é onde a pessoa tem aptidão para agir por si só.

As pessoas que fazem uso de substâncias ilícitas e bebidas alcoólicas

são consideradas incapazes, tem virtude que sua presunção na hora de decidir

atos civis tem alteração devido ao uso dessas substâncias, onde

conjuntamente precisa que os atos sejam praticados com assistência e outra

pessoa.

Os considerados pródigos são aqueles que não têm discernimento e

desperdiçam o que é seu, onde sua administração do seu patrimônio é inviável,

21

este somente poderá ser feito mediante assistência de um curador. (GOMES,

2009 p. 155, e RODRIGUES, 2003 p.13)

Para então que seja possível o exercício dos direitos para os

incapazes, a lei deu-lhes essa proteção onde criou institutos como a

representação, assistência e a autorização, que mediante esses formam títulos

como a tutela, curatela e poder familiar, que organiza que essas incapacidades,

mesmo estando presentes não impossibilita que essas pessoas tenham seus

direitos privados, esses direitos acontecem, sem causar prejuízo ao comércio

jurídico. (GOMES, 2009, p.157).

2.2.5 PESSOA JURÍDICA

As pessoas jurídicas são dotadas de personalidade, conforme

Francisco Amaral:

Pessoa jurídica é, então, um conjunto de pessoas ou de bens,

dotados de personalidade jurídica.

Esses grupos são conhecidos como sujeitos de direito, pois devido à

necessidade que as pessoas de formarem grupos, ou combinarem recursos de

ordem pessoal, para realização de objetivos de cunho pessoal, onde sua

formação ultrapassou os limites que se tornaram fora da norma, onde as

pessoas então se organizando de modo unitário seja como pessoa ou bens,

formou um conjunto que passou a participar da vida jurídica. (AMARAL, 2009,

p. 275).

Dessa definição decorre a atribuição de capacidade jurídica aos entes

abstratos, ela nasce de uma necessidade do homem, de construir um

patrimônio que possua aptidão para contrair direitos e obrigações. (VENOSA,

2004, p. 255).

A pessoa jurídica tem autonomia como sujeito de direito, pode atuar

dentro de uma relação jurídica, pode vender, emprestar, comprar, etc.

Conforme estabelecido em ordem civil, porém esta excluída de atos no que se

referem aos praticados por pessoas físicas no que concerne sua humanidade,

como casar, adotar, etc. (AMARAL, p. 275, 2009).

22

Para a formação de uma pessoa jurídica, esta deve seguir os requisitos

necessários para sua constituição, esses divididos em três requisitos: vontade

humana criadora, observância das condições legais para sua formação e sua

finalidade. (VENOSA, 2004, p.256).

No que constitui a vontade humana, ela se inicia com um a pluralidade

de pessoas que por sua vontade se transforma em uma unidade, é seguida de

requisitos que não basta somente a vontade para que a pessoa jurídica exista,

deve-se procurar reconhecer as previsões legais acerca dessa criação; é a lei

que determina as pessoas jurídicas e estas só podem existir mediante previa

autorização do Estado. (VENOSA, 2004, p. 256).

Sua existência deve então ser de caráter lícito, não existe possibilidade

de a ordem jurídica criar um ente que não tenha finalidade licita, o

ordenamento jurídico não permite que uma unidade jurídica com essa

finalidade prospere. (VENOSA, 2004 p. 256).

È notório entendimento que as pessoas jurídicas são um conjunto de

pessoas que em decorrência de uma vontade formam um grupo, que adquire

personalidade, não se confundido com as pessoas que a integram, ou seja, os

membros da pessoa jurídica e cada um dos seus membros são distintos, não

devem ser confundidos.

Os atos praticados pelas pessoas jurídicas são assinados por pessoas

físicas, porém quem representa e tem autonomia nessa relação é a pessoa

jurídica, sendo ela como parte do negócio jurídico. É o que se por princípio da

autonomia, onde a pessoa jurídica é a que representa na vida civil. (COELHO,

2003, p. 235).

Citando Fábio Ulhôa Coelho (COELHO, 2003, p. 235):

Em decorrência do princípio da autonomia da pessoa jurídica, é ela (e não seus integrantes) que participa dos negócios jurídicos de seu interesse e titulariza os direitos e obrigações decorrentes […]

As pessoas jurídicas podem ser classificadas em pessoas jurídicas de

direito público e direito privado, esta as de direito público subdividas em

externas e internas.

23

O Estado é pessoa jurídica de direito interno por excelência, assim

como a União, os Municípios e Distrito Federal, e as demais entidades de

caráter público criados por lei. (VENOSA, 2004, p. 266).

No Direito privado, as pessoas jurídicas são dívidas em três espécies,

as fundações, associações e sociedades vem sua formação onde propõem a

realização de interesses comuns em prol de seus instituidores, ou mesma de

parte de uma coletividade (VENOSA, 2004, p. 266), conforme art. 44 do Código

Civil:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

V - os partidos políticos. ( VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.

As sociedades e as associações podem ou não ter finalidade de lucro.

No caso das fundações, essas existem por um patrimônio que teve, por fim, um

sentimento altruísta, não existe finalidade de lucro dentro das fundações, seu

patrimônio é controlado por uma pessoa física ou jurídica; no que concernem

as sociedades, essas sempre buscam o lucro e são regidas pelas leis

comerciais conforme rege o Código Civil em seu art. 981 e ss, podendo elas

ser solidaria ou não, limitada ou ilimitada cuja sua formação concorrem aos

seus sócios. (VENOSA, 2004, p. 267/268).

Assim como as pessoas físicas têm obrigações, as pessoas jurídicas

seguem o mesmo rito, já que respondem civilmente pelos atos que cometerem,

tanto a pessoa jurídica de direito público quanto a direito privado, são

responsáveis contratual e extracontratual. (VENOSA, 2004, p. 275).

No campo do direito contratual, o descumprimento da obrigação ou

inadimplemento, a pessoa jurídica é responsável por perdas e danos, de

acordo com o Código Civil de 2002, fica o devedor responsável também pelos

juros e atualizações monetárias, bem como os honorários dos advogados.

(VENOSA, 2004, p. 275).

Na parte extracontratual, as pessoas jurídicas vêm a ser aquele

resultado do comportamento homem, omissivo ou comissivo, que cause

mudanças nas relações jurídicas. (VENOSA, 2004, p. 275).

24

A responsabilidade civil resulta de um dano, sendo esse direto ou

indireto que tenha originado um dano a patrimônio de terceiro, cometido com

dolo ou culpa que deve então ser ressarcido. (VENOSA, 2004, p. 276). Esta

responsabilidade que também é aplicado nos casos das pessoas jurídicas, já

que estas ao terem adquirido personalidade respondem pelos danos que

tenham causado, assim como as pessoas físicas respondem pelo ilícito que

causaram a outrem. (VENOSA, 2004, p. 276).

No que concerne às pessoas jurídicas então, podemos ver que mesmo

tendo limitações acerca do que lhe são direitos, é fato que mesmo não sendo

pessoa, elas possuem personalidade, o que lhe da proteção jurídica acerca de

assuntos que consideramos como direitos que seriam somente humanos,

porém as pessoas jurídicas têm proteção assim como as pessoas naturais,

quanto a sua a honra, imagem, e bem como os direitos a receber indenizações

no que causem prejuízos materiais e morais. (COELHO, 2003, p. 259).

2.3 OBJETO DE UMA RELAÇÃO JURÍDICA

Para Francisco Amaral, o objeto de uma relação jurídica é aquilo que

se pode submeter ao poder dos sujeitos de direito, onde ele se transforma em

um instrumento para fins de finalidade jurídica.

Compreendida toda e ideal utilização do bem, ele tem não só caráter

econômico, mas a sua utilidade para que posso infligir na forma de agir de um

sujeito, esse conceito de bens pode abranger não só as de caráter econômico,

com também aquelas que são materiais ou não. Conforme Orlando Gomes

citando De Martino (GOMES, 2009, p.179) “todo bem econômico é jurídico,

mas a recíproca não é verdadeira, pois nem todo bem jurídico é econômico.”

Nessa ideia que bem é objeto do direito, confunde-se com coisa,

entretanto bens e coisas são distintos, pois o primeiro é gênero, o segundo é

espécie. (GOMES, 2009, p. 179).

2.3.1 BENS E COISAS

A que se diferenciar o que são coisas e bens, contudo os bens são

todas as situações valiosas que merecem a proteção pelo direito, dentro dos

25

bens existem aqueles que não são de caráter econômico, como nos casos dos

direitos de personalidade, que são bens jurídicos, e não são coisas, são

tratados como bens não coisificáveis. (COELHO, 2015, p.14).

Conforme Francisco Amaral (AMARAL, 2006, p.309), “coisa é tudo

aquilo que tem existência material e que suscetível de medida e valor”.

É coisa, portanto, o que existe no universo que ao se tornar valioso

para as pessoas, sendo útil para satisfação deste, se transforma em objeto de

apreciação, coisas podem ser uteis, porém não apropriáveis, como no caso de

coisas comuns, como a luz, o mar, são coisas que pertencem a todos, porém

não pertencem a ninguém. (AMARAL,2006, p.309).

O conceito de coisa é definido como a substância daquele objeto, ele

tendo interesse para o direito.

Retornando a Fábio Ulhôa Coelho:

Coisa é tudo que existe além dos sujeitos de direito; se tem valor econômico, isto é, quantificável em dinheiro, e chamado de “bem”. Nessa categoria jurídica, portanto, enquadram-se os objetos, animais e direitos, desde que possam ter seu valor para os homens e mulheres mensurando a pecuniariamente.

As coisas podem ser classificadas em res nullius, res derelictae e res

commune omnium.

Aquelas que integram o patrimônio das pessoas, porém não são de

ninguém são as chamadas res nullius e res derelictae. A res nullius é

classificada como as que de ninguém pertence, porém elas podem vir a

pertencer, como por exemplos os animais de caça e pesca.

A res derelictae são aquelas abandonadas, elas possuem dono, porém

sua posse deve ter sido perdida não se confundido com coisas perdidas.

Haverá também aquelas coisas que integram o patrimônio de todos, as

chamadas res communes ominium, porém estas não pertencem a ninguém,

não é possível se apropriar desta, pois lhe falta o caráter de ocupabilidade, é o

caso do sol, o ar, etc. (GOMES,2009, p.187).

Os bens podem ser classificados em incorpóreos e corpóreos.

Os bens denominados incorpóreos são aqueles não perceptíveis, que

são estabelecidos por serem produtos de ordem intelectual e criativa de

26

homens, são aqueles que possuem cunho abstrato, formados a partir de atos

pelos sujeitos.

Em contrapartida, existem os bens corpóreos, que são aqueles

considerados coisas em sua substância, aqueles que podem ser tocados pela

pessoa, tem sua forma física, se bem que podemos incorporar nesse quesito

de bens corpóreos todas as forças naturais com existência física, mesmo não

sendo tangíveis. (GOMES, 2009, p.181).

2.3.2 BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

Os bens podem ser classificados conforme sua mobilidade,

fungibilidade e utilidade, sendo cada uma destas a ser tratada de formas

distintas, por isso a norma aplicada para cada um deles é diferente, pois cada

um tem função diferente.

Estes podem ser classificados em moveis e imóveis.

2.3.3 BENS IMÓVEIS

Os bens imóveis são aqueles que não podem ser transportados, onde

sua remoção pode alterar sua substância,

O direito considera os bens imóveis como o solo e tudo que possa dele

aderir sejam de maneira artificial ou natural (GOMES, 2009, p.191). Conforme

art. 79 do Código Civil:

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

Para Fábio Ulhôa Coelho (COELHO, 2003, p 267), os bens imóveis se

definem “Bem imóveis é o solo e tudo que lhe incorpore, natural ou

artificialmente. Árvores, e casas pertencem a essa categoria de bens [...]”.

Os bens imóveis podem ser classificados em imóveis por acessão

física, imóveis por natureza e imóveis por disposição legal.

Os bens imóveis por acessão física são aqueles que são incorporadas

ao solo, por parte do homem, como prédios e construções, que se tornam parte

dele. Em contrapartida os por natureza, é o solo, a terra, em seu estado

27

natural, reunindo o solo propriamente dito e o subsolo, (AMARAL, 2006 p. 319)

as árvores são consideradas bem imóveis, porém caso forem retiradas do solo

se tornem bem móvel, para seu replantio.

Finalmente, aqueles bem definidos por lei, são os direitos reais sobre

imóveis como, por exemplo, a propriedade, a servidão predial, etc. Esta

formação de tipo de bem imóveis por disposição legal, vem por parte do

legislador, dar segurança na hora das relações jurídicas envolverem este bem.

(AMARAL, 2006, p. 321).

2.3.4 BENS MÓVEIS

Os bens móveis são aqueles que podem se deslocar, sem que seja

alterada substância deste ou do seu valor econômico. Sua remoção pode

acontecer por vontade própria, ou por força estranha. Aqueles que podem se

locomover são os seres semoventes, considerados todos os animais e as

coisas inanimadas, as diferenças não importam, pois a legislação a ser

aplicada a elas é a mesma. (AMARAL, 2006, p.321).

Os bens imóveis podem ser classificados por sua própria natureza, por

antecipação ou por disposição legal.

Os animais são seres móveis por sua própria natureza, conforme

Francisco do Amaral (AMARAL, 2006, p. 215). “Os animais não são sujeitos de

direito. São coisas e, como tal, possíveis objeto de direito”.

Conforme cita Edna Cardozo Dias:

Ora, a legislação brasileira classifica os animais silvestres como bem de uso comum do povo, ou seja, um bem difuso indivisível e indisponível; já os domésticos são considerados pelo Código Civil como semoventes passíveis de direitos reais. A natureza jurídica dos mesmos em nossa legislação constitui um grande obstáculo para um raciocínio diferente daquele que está arraigado na consciência popular, ou seja, o animal é um bem, seja da coletividade, seja propriedade particular.

Mesmo, com várias tentativas de mudanças acerca da maneira que os

animais são tratados dentro do ordenamento jurídico, atualmente eles se

encontram na categoria dos seres semoventes, junto com as coisas

inanimadas, tratadas como objetos móveis.

28

No caso, os bens móveis por antecipação, são aqueles que são ligadas

a terra, onde, são imobilizados, seguindo o exemplo das frutas que ainda não

foram colhidas. (AMARAL, 2006,p.321), em contrapartida aqueles bens por

disposição legal, que são as energias que tenham valor econômico.

Os bens móveis podem ainda ser classificados em diferentes formas,

como os bens fungíveis e não fungíveis, os genéricos e individuais,

consumíveis e não consumíveis singulares e coletivos e divisíveis e não

divisíveis. (AMARAL, 2006, p.322).

29

3. ANIMAIS COMO SUJEITO DE DIREITO E OS CRIMES DE MAUS TRATOS

3.1 PERSONALIDADE JURÍDICA DOS ANIMAIS

Os animais sempre foram tratados como coisas, ou melhor

semoventes, ou “bens suscetíveis de movimento próprio” (CC, art. 82), nunca

houve algum momento que eles tenham tido sua personalidade admitida para

nosso ordenamento jurídico. Immanuel Kant dizia que os animais eram coisas

porque suas existências dependiam, não da nossa vontade, mas sim da

natureza[..]. (LOBO,2015 p.15)

As mudanças acerca da personalidade jurídica os animais, começou a

mudar devido ao desenvolvimento do direito ambiental, e a consciência

mundial acerca do meio ambiente, porém essa prática levou as mudanças não

no ordenamento jurídico do Brasil, mas em países como a Alemanha que

considerou em seu Código Civil que os animais “não são coisas” e devem ser

protegidos por leis especiais, essa mudança também aconteceu na legislação

da República Tcheca, que a partir de 2012 considerou os animais como seres

vivos com sensações, mas não mais coisas. (LOBO, 2015, p.15)

Peter Singer fala do princípio fundamental da igualdade, que se baseia

na igualdade entre os seres humanos, aplicando o princípio da igual

consideração de interesses. (SINGER, 2002, p.65). Já que usar esse princípio

nos faz ter uma relação com os outros seres humanos, porque não usar nas

relações com seres de outras espécies: os animais não humanos (SINGER,

2002, p.65).

Este princípio esta baseado na preocupação com os outros não deve

depender de como são ou as aptidões que possuem. Essa é a base que nos

diz que apenas por algumas pessoas não serem da nossa raça, não nos da

direito de explorá-las, ou seja no caso de espécies diferentes só porque temos

em nossa concepção que são menos inteligentes que nós, não nos da direito

de explorá-los ou deixar de levar em conta seus interesses.

A capacidade de sofrer é previa para se ter quaisquer interesses, se

um ser sofre não ha nenhuma justificativa, de ordem moral que nos de direito

de não levar em consideração esse sofrimento (SINGER,2002, p. 66)

30

Conforme Peter Singer (SINGER, 2002, p.67):

[….] o princípio de igualdade exige que o sofrimento seja levado em

conta em termos de igualdade com o sofrimento semelhante ate onde

possamos fazer comparações aproximadas, - de qualquer ser.

(SINGER, 2002, p.67):

Contudo, como definir o que é sofrimento para os animas? No caso dos

animais essas sensações não são diferentes, eles alcançam níveis de

sofrimento em altíssima escala assim como as pessoas. (SINGER,2002, p.11).

O que difere nos seres humanos e os animais, é a consciência de que

somos preparados para sentir aquela dor, temos noção de que se

realizássemos experiências com pessoas adultas, o terror seria a primeira

emoção, pois as pessoas sabem o que vão passar, nos animais não há essa

antecipação, pois eles não sabem o que vai acontecer, porém mesmo com

essa diferença, não é correto que seja usada como justificativas no sentido de

que não possamos respeitar sua vida. (SINGER,2002 p.11).

O princípio da igualdade, por mais que animais não sejam pessoas

físicas ou jurídicas, requerem que lhe seja dado devido valor aos seus direitos

natos, como direito a vida, saúde, bem-estar. Sob o ponto de vista científico e

ético, seria essa justificativa acerca da personalidade dos animais. (DIAS,

2005, p. 27/46)

Não é certo afirmar, pois então que o sofrimento humano é maior que o

sofrimento de um animal, não há sentido comparar, essa consciência que o

homem tem sobre a dor não justifica que esta dor seja maior ou pior do que a

sentida pelos animais, é o exemplo um bebê e um animal ao passarem por

uma experiência que lhe seja infligida dor, estes sentiriam a mesma dor, pois

independe a linguagem expressada por cada um, mas sim o sistema nervoso

parecido, as dores seriam iguais. (RODRIGUES, 2008, p.46)

Nota-se que prevalece o pensamento dominante que a vida humana

tem esse valor diferente e superior a outras espécies.

31

Conforme Danielle Tettu confirma (RODRIGUES, 2008, p.49):

[….]reitera-se o posicionamento de que a valorização da vida deve ser estendida a todos os seres capazes de possuir sentimento de dor e prazer. OU seja, a valorização da vida consiste na capacidade de dor e prazer que o ser pode sentir. Não há que se permitir que seres sencientes e conscientes, porém ano racionais e autoconscientes, não sejam considerados pessoas, pois se essa concepção fosse correta, não só os Animais mas também os bebes humanos, bem como os seres humanos portadores de deficiência mental, estariam sujeitos a morte de acordo com a vontade do homem. (RODRIGUES, 2008, p.49)

É importante frisar que mesmo com as mudanças sociais e a criação

de movimentos de proteção, os animais ainda são considerados dentro da

nossa ordem jurídica seguindo a seguinte forma: sendo os animais

considerados como coisas ou semoventes, ou coisas sem dono, são protegidos

conforme o Direito de Propriedade, ou seja, são bens do homem, considerados

coisas, sem sensações ou percepções. (RODRIGUES, 2008, p. 49)

3.2 ALGUNS CRIMES CONTRA OS ANIMAIS

3.2.1 ANIMAIS DOMÉSTICOS

Como sendo uma das mais comuns acontecimentos nos tempos atuais,

o crime de abandono aos animais domésticos é o grande percussor nas mídias

socais, como por exemplo, o Facebook, que possui milhares de páginas acerca

da proteção animal, onde tem o abandono como líder nas suas postagens. Na

maioria são cães e gatos que ocupam o cargo de “animais de estimação” onde

são propriedades do ser humano.

Estes animais são na sua maioria comprados ainda filhotes, onde

passam por um estresse emocional ao serem separados de suas mães, para

se adequar a uma vida dentro de um ambiente desconhecido. Ao verificarem

que aqueles animais, cresceram demais ou são extremamente bagunceiros,

estes são abandonados a própria sorte por parte de seus donos.

Na acepção de Danielle Tettu (RODRIGUES, 2008, p. 100):

O homem ser racional e pensante, a quem supostamente caberia a responsabilidade de cuidar do Animal de estimação, acaba por abandoná-los a própria sorte durante as férias ou em situações de

32

dificuldade; não planeja o método de controle das crias; esquece que cães e gatos podem viver ate 20 anos, em media, e que é preciso ter espaço suficiente para o crescimento, custear alimentação e cuidados veterinários, oferecer segurança e principalmente carinho e atenção para o Animal. (RODRIGUES, 2008, p. 100):

É comum, os casos de abandono acontecerem nas festas de final de

ano, onde os donos por não terem feito planejamento adequado acerca de

onde poderiam guardar seus animais de estimação, os tem abandonado em

locais perigosos, pelo simples fato de que não tem condições de levar seus

animais de estimação junto, sendo muitos dos casos, na volta de suas viagens

a ocorrer que estes mesmos donos, acabem por adotar um novo animal.

Há casos que os animais por terem envelhecido ou serem portadores

de alguma deficiência, são descartados por não serem mais uteis para seus

donos. Os maus tratos a animais domésticos podem não ocorrer, que sejam

abandonados, mas que fiquem trancafiados em lugares minúsculos, ou que até

sejam privados de água e comida.

3.2.2 VIVISSECÇÃO

A vivissecção consiste no ato de cortar um animal, com base nas

experiências científicas, prática cruel que utiliza animais vivos ou recém-

mortos, como o propósito didático ou de saúde. Esse tipo de prática teve seu

padrão estabelecido, pelo fisiologista Claude Bernard em 1865, como forma de

medicina experimental que visava usar animais para experiências. (GREIF,

2008).

A lei 11.794/08 que regula os procedimentos científicos acerca dos

procedimentos a serem aplicados dentro do uso científico de animais onde

revogou a lei nº 6.638/79 que permite que seja utilizada os animais nos

estabelecimentos de educação profissional, de nível técnico, médio e área de

biomedicina, essa lei também criou o conselho de ética, o CONCEA, que tem

como principal função a valorização do experimento animal e não em sua

fiscalização. (GREIF, 2008)

Fazem parte do Conselho Nacional de Experimentação Animal, a

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Federação das

Sociedades de Biologia Experimental, o Colégio Brasileiro de Experimentação

33

Animal e a Federação Nacional da Indústria Farmacêutica, onde fica clara a

maneira tendenciosa que esse conselho foi criado, pois essas empresas têm

posição totalmente a favor da experimentação animal. (GREIF, 2008)

Era então esperado que ao menos alguma Sociedade de Proteção

Animal se fizesse presente dentro desse conselho, porém a sua maioria de

membros que não possuem números quantitativos, e o pouco conhecimento

sobre essas áreas, torna ineficaz essa breve tentativa de sobrepujar essa força

que é estabelecido nesse órgão.

A lei de crimes ambientais em seu art. 32º que estabelece:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

Esta lei pode ser encarada como aspecto proibitivo as

experimentações envolvendo os animais, já que essas praticas são atos que

ferem incessantemente os animais, ela cita os “recursos alternativos”, mas

peca em especificar que determinada circunstância determinado metido seria

considerado alterativo. (GREIF, 2008)

Em países desenvolvidos como Estados Unidos Itália, Inglaterra e

Alemanha, participar de aulas que envolvam experimentações em animais

vivos, está se infringindo a lei.

É o caso da Universidade John Hopkins, em seu curso de medicina,

que anunciou que pararia de utilizar animais vivos na formação de seus novos

médicos se juntando a tendência de formular novas maneiras de

experimentação como o uso de simulações em computadores. Essa mudança

ocorreu após meses de investigação acerca se os animais eram essenciais

para o desenvolvimento profissional do estudante de medicina, sendo este

resultado negativo, as proposta sobre essa mudança passaram a ocorrer de

maneira geral por parte da Universidade. (ANDA, 2016).

O Brasil então em suas leis se mostra um país retrógrado no que

consiste a experimentação animal, pois não tenta buscar meios alternativos,

34

pois grande parte das universidades ainda realizam experimentos com animais

vivos.

Um dos principais empecilhos na adoção de métodos alternativos a

experimentação animal, é a presença deles nas atividades econômicas, cita

Vânia Tuglio. (ANDA 2015):

“A experimentação animal é antes de tudo uma atividade econômica

altamente lucrativa. Não temos espaço político e econômico para eliminar a matança de animais ou o seu uso para fins científicos. Temos quase o dobro de animais para consumo do que de humanos no Brasil”.

Essa pratica em nada traz benefícios às pessoas, quebrar as pernas

de um macaco para acompanhar acerca dos seus sistemas nervosos. Assim,

como a ingestão em altíssima composição de medicamentos em ratos, de nada

vem ajudar as pesquisar acerca de como seriam os efeitos seres humanos,

pois somos comparados apenas nas dores, mas nosso sistema nervoso, nosso

corpo é diferentes desses animais. (SINGER, 2002, p.65)

Muitos dos nomes da ciência insistem em manter a experimentação

animal e se negam a aceitar novas técnicas, onde tudo giram em torno de

vacinas, porém sabemos que a experimentação animal não gira em torno

disso. (GREIF, 2008)

3.2.3 FARRA DO BOI

A farra é uma das praticas mais sanguinárias, que trazem pelo prazer

mental das pessoas ao sofrimento de animais. Acontece em cidades de Santa

Catarina, onde possui conotação religiosa, normalmente acontece no feriado

de páscoa. (PEA, 2016)

A prática consiste em torturar o boi para depois matá-lo, onde ela

começa com o boi sendo solto a perseguição pelos chamados “farristas”, que

são homens, mulheres e até crianças, portando pedaços de pau, facas, lanças,

cordas, chicotes, pedras, perseguem o boi, que no desespero de fugir, corre

em direção ao mar, onde muitas vezes acaba se afogando, em outros casos o

boi pode invadir vilas, casas e hotéis, ou qualquer lugar que o animal possa

tentar se esconder para fugir dessa tortura. (PEA, 2016)

35

Antes do evento os animais ficam confinados, sendo privado de

alimentos por diversos dias, ou até mesmo o alimento é posicionado a vista do

animal, mas que não o alcance com a intenção de aumentar seu desespero.

(PEA, 2016)

Edna Cardozo Dias relata como é a farra do boi:

Todas as semanas santas, no Estado de Santa Catarina, descendentes de açorianos, associando o boi a entidades pagãs, supliciam este animal até a morte, representando o linchamento a vitória do cristianismo sobre os mouros. Munidos de paus, pedras, açoites e facas, participam da farra homens, mulheres, velhos e crianças. Assim que o boi é solto, a multidão o persegue e o agride incessantemente. Em seguida, os olhos são perfurados. A tortura só termina quando o animal, horas depois, já com vários ossos quebrados, não tem mais força para correr às cegas, sendo definitivamente abatido e carneado para um churrasco. (DIAS,2000. p. 206)

Os métodos que os farristas encontram para torturar esses animais

podem acontecer de diversas maneiras, com pessoas jogando pimenta nos

olhos dos animais, que geralmente são arrancados, muitas das vezes

participantes quebram as patas dos bois, cortam seus rabos; a crueldade não

pode matar o animal, ele precisa ficar vivo até o final do evento.

A conotação religiosa dessa festa vem tratar o boi como Judas, onde a

perseguição se dá como punição acerca do que o apóstolo fez contra Jesus,

outros acreditam que o animal representa o diabo, e sua tortura livra as

pessoas dos seus pecados. (PEA, 2016)

Porém acredita-se que essa festa perdeu o caráter religioso, onde só

se tornou fonte de renda, pois atrai muitas pessoas que com a conotação de

diversão, tendem a usufruir do comércio em razão da quantidade de pessoas

que fazem turismo nessas cidades, em razão da farra do boi. (PEA, 2016)

Com base a lei federal 9.605/98 que prevê proibição o ato de abusar,

maus tratos ou mutilar animais silvestres, domésticos e domesticados, através

do Recurso Extraordinário nº 153.531/8; RT 753/101 em território catarinense,

por força de um acórdão do STF na Ação Civil Pública de nº 023.89.030082-0,

onde o Supremo Tribunal Federal, entendeu que a farra do boi é prática cruel,

onde constatada é crime punível de até um ano de prisão, para quem a pratica

ou colabora, no caso das autoridades se omiti-las.

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Segue a jurisprudência acerca da Farra do Boi.

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. “FARRA DO BOI”. IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER AO ESTADO DE SANTA CATARINA POR DECISÃO DO PRETÓRIO EXCELSO, CONSISTENTE NA PROIBIÇÃO DA PRÁTICA. ASTREINTE. EXECUÇÃO, DEVIDAMENTE EMBARGADA. REJEIÇÃO NA INSTÂNCIA A QUO, COM A REDUÇÃO EX OFICIO DA MULTA. RECURSO ESTATAL. PROVIMENTO PARCIAL. Hipótese em que o Pretório Excelso, no histórico julgamento do RE n. 153.531-8, relator o Ministro Francisco Rezek, consagrou o entendimento de que "a obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância da norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma constitucional denominado '„farra do boi‟'". Conclusão do julgamento no sentido de que ao Estado cumpria, como cumpre, “proibir”, por atos e medidas formais e práticas, o festejo, tal qual requerido na exordial da ação civil pública. Acervo probatório trazido aos autos que enseja a conclusão de que, ainda que não haja falar em uma total inércia do Poder Público, pelo menos nos anos de 2003 a 2006, a sua atuação não se revestiu do necessário rigor, porquanto inúmeras as ocorrências registradas acerca de abusos, violência e danos até mesmo a indivíduos, causados pelos animais que, acossados, partem em desesperada fuga. Cumprimento deficiente não autoriza a exclusão da multa, mas permite a sua redução (NEGRÃO. Theotônio. Código de processo civil e legislação processual em vigor. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2009. p. 574), do que não se cogita na espécie. Caso em que, mercê das noticiadas providências para coibir as “festividades”, dois Chefes do Poder Executivo Estadual admitiram a sua conivência com tal prática, ao que se soma a obtenção de resultados estatísticos, até o momento, muito tímidos pelo Poder Público no seu dever de pôr-lhe um fim definitivo, certamente pela falta de uma ação mais enérgica dos órgãos responsáveis. A hipótese não contempla a surrada teoria segundo a qual, fosse dado ao Estado antecipar os acontecimentos, inexistiria criminalidade. Disso se cogita naquelas hipóteses que versam sobre assaltos, homicídios, etc., fatos esses realmente imprevisíveis. No caso concreto, está em baila a “farra do boi”, acontecimento de todo previsível, porquanto ocorrente sempre na mesma época e nos mesmos locais, os quais são de conhecimento prévio das respectivas comunidades, os principais fomentadores da prática, inclusive. Daí que inaceitável o argumento de que o Poder Público, com todo o seu aparato e serviço de inteligência, ignorasse-o. Decisão do Supremo Tribunal Federal assaz categórica: a ação civil pública foi julgada procedente para “proibir” a infeliz, lamentável e vergonhosa “tradição” que tantos insistem em cultuar, muito embora nada mais seja do que um ato de verdadeira selvageria. Total inércia do Estado, contudo, não caracterizada, o que autoriza a redução da multa, mas não o seu afastamento.

Em decisão que do STF que julgou procedente a Ação Civil Pública

que proibiu a prática da Farra do Boi, demonstrou que houve Afronta a

Constituição Federal, demonstrando ainda que o Poder Público deve intervir

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nas ações, exercendo assim um poder de representatividade acerca dos

diretos dos animais. Essa festa, praticada com o embasamento de uma

tradição, nada mais era que um acontecimento que cultuava a agonia de um

animal, os maus tratos e a incapacidade do homem de diferenciar as leis de

Deus com a carnificina.

3.2.4 RINHAS DE GALO

A expressão rinha no Brasil significa briga entre animais, sendo comum

os tem sido as brigas entre galos, canários e cães, sendo estes na maioria os

pitt bulls justamente pela sua raça. (MARTINS, 2016)

A briga entre esses animais é preparada desde o seu nascimento, os

animais são preparados para matar e morrer, seus corpos sofrem modificações

com ajuda de altas doses de hormônios, além de ficarem confinados em

minúsculos espaços, onde passam por situações absurdas de estresse, tanto

físico como mental. (MARTINS, 2016)

Neste caso, é apresentado a rinha entre galos, sua preparação começa

aos dois meses de vida, com sua vida privada em uma gaiola, com um ano de

idade já se da inicio o seu treinamento, os animais recebem banhos com sabão

de cocô para que sua pele se torne mais resistente. Este só faz uma refeição

uma vez ao dia e quase não tem vida sexual. (MARTINS, 2016)

Os exercícios para sua preparação consistem em segurar com uma

das mãos no papo e a outra no rabo, jogá-los para o alto e o deixar cair no

chão, com a intenção de fortalecimento de suas pernas, o galo também é

suspenso pelo rabo para fortalecer suas unhas. Para que o galo possa ficar

mais leve e assim ter uma movimentação mais flexível durante as rinhas, suas

barbelas e pálpebras são aparadas, as penas do pescoço, das coxas e sob as

asas são cortadas. (MARTINS, 2016)

Chega então o momento onde o animal é treinado, chamado de cotejo,

onde é posto para brigar com outro, é usado buchas nas esporas e biqueiras

de borracha no bico. A biqueira tem a função de treinar o tiro de pé e a biqueira

que prende o bico superior para que o galo possa prender o adversário. (DIAS,

2000 p. 78)

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As lutas têm duração de 75 minutos, divididos em 4 rounds de 15

minutos e 3 intervalos de 5 minutos, caso o animal seja nocauteado, o dono

pode tentar levantá-lo, se por acaso o animal conseguir ficar em pé durante 1

minuto, a rinha continua. (DIAS, 2000, p. 78)

A morte de um dos galos pode acontecer sempre, o juiz pode terminar

a luta caso ache que um dos animais esteja muito ferido. (DIAS, 2000 p. 78)

A vida desses animais consiste em sofrimento, é fazer o outro animal

ter mais lesões possíveis, tudo isto comprova que as rinhas de galo são cruéis,

onde sua apreciação somente comprova como algumas pessoas podem ser

sádica. (DIAS, 2000, p. 78).

É fato que o objetivo dessas rinhas somente para lucro do homem, os

as apostas encima das lutas e a comercialização das aves, rende um negócio

lucrativo. (DIAS, 2000, p. 79)

A lei 2.895/1998, foi editada na tentativa de legitimar a realização de

exposições competições utilizando aves que não pertenciam a fauna silvestre,

foi então declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, quando

manifestou inconstitucionalidade, pedido este que foi encaminhado por

representação da Liga de Prevenção de Crueldade contra o Animal e a

Associação fala Bicho do Estado do Rio de Janeiro. (DIAS, 2000, p. 77)

Inconstitucional essa lei, o ADIn, resultou na seguinte ementa, que pôs

fim a legalidade jurídica acerca das rinhas: (DIAS,2000, p.77)

EMENTA: Ação Direta de Inconstitucionalidade – Briga de Galos (Lei Fluminense n.º 2.895/98) – Legislação Estadual que, pertinentes a exposições e a competições entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa – diploma legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos de briga – crime ambiental (Lei n.º 9.605/98, art. 32) – meio ambiente – direito à preservação de sua integridade (CFR, art. 225) – prerrogativa qualificada por seu caráter de meta individualidade – direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade – proteção constitucional da fauna (CF, art. 225, § 1º, VII) – descaracterização da briga de galo como manifestação cultural – reconhecimento da inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada – Ação Direta Procedente. (STF – ADIN n.º 1.846 RJ, Relator: Min. Celso De Mello, Data de Julgamento: 26/05/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 14-10- 2011).

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Na ação é argumento sólido que a lei estadual afrontava o art. 225 da

§1º, inciso VII, da Constituição Federal, que onde determina que o poder

público tem função de proteger e preservar o meio ambiente, sendo coibida as

praticas que submetam os animais a crueldade. (DIAS,2000, p.77)

3.2.5 RODEIOS E NAS VAQUEJADAS

Os rodeios foram importados dos Estados Unidos, é realizado em

grande parte do Brasil, em estados como Paraná, São Paulo, sendo este o

local onde acontece o famoso rodeio de Barretos. (DIAS,2000, p. 79)

As provas em rodeios são usadas animais como cavalos, bois, sendo

em alguns casos utilizados filhotes, como novilhos e bezerros. Seu treinamento

consiste em manter o animal enfurecido, devido o uso de ferramentas de

tortura. (DIAS,2000, p. 79)

A lei º 10.359/1999 do Estado de São Paulo e a Lei Federal nº

10.519/02, regulamentam os rodeios, seus modelos permissivos e proibitivos

acerca da sua prática.

Não é raro as muitas organizações como a Arca Brasil, receberem

denúncias a respeito dos maus tratos que acontecem nos rodeios, e não

somente aos grandes rodeios que acontecem uma vez por ano que são muito

visados pela mídia, mas também por pequenos rodeios que acontecem em

datas separadas.

Antes dos rodeios acontecerem, os animais sofrem agressões físicas e

mentais, seus comportamentos na arena não são normais, eles são instigados

a agir de forma violenta, ferramentas de tortura são usadas para enfurecer o

bicho. Essa prática podem levar a danos irreparáveis aos animais, podendo

muitas vezes levar a sua morte. (ESTRELLA, 2016)

Algumas das ferramentas usadas em rodeios são: Agulhas elétricas,

pedaços de madeira afiada, unguentos cáusticos, o famoso sedem ou

sedenho, objetos pontiagudos como pedras ou pregos, como também o uso de

esporas, etc. (ESTRELLA, 2016)

Umas das provas consideradas mais perigosas dentro dos rodeios são

as montarias em touro, chamadas de bullriding, onde o peão deve montar um

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touro acerca de 8 segundos onde é avaliado pelos juízes que lhe darão notas

de 0 a 100, quanto mais o touro corcoveia, maior é a nota aplicada ao peão.

Para que o animal então corcoveie, seus órgãos genitais são apertados

com o chamado sedem, que provoca os pulos. Uma corda de náilon é

amarrada ao pescoço do animal para que o peão possa então se segurar, na

alusão da Lei, as esporas não podem ter pontas. (DIAS, 2000, p.79)

É comum que acontecerem fraturas tanto no touro, quanto no peão que

o monta, ao final da prova, o touro é distraído por palhaços que salvaguardam

para que este peão possa sair são e salvo da arena. (DIAS, 2000, p.79.)

Edna Cardozo Dias (DIAS, 2000, p.80), conta o relato de umas das

provas mais cruéis acerca dos rodeios:

Existe, ainda, a prova do laço do bezerro, que é capturado pelo pescoço, ou calf roping. O laçador, montado num cavalo, atravessa a porteira perseguindo um bezerro de apenas três ou quatro meses de idade. O peão laça a cabeça do animal e o puxa para trás, e para de correr. Depois, desce do cavalo e levanta o filhote até a altura da cintura, e com a corda que carrega na boca amarra três de suas patas. Três juízes cronometram o tempo da prova, e vale a marcação intermediária. Não podem ser ultrapassados 2 minutos. O laçador não pode sair do box antes do bezerro, sob pena de ser penalizado com 5 segundos a mais na contagem do tempo final (DIAS, 2000, p.80).

Nos estados do Nordeste, é adotada festa similar ao rodeio, chamada

de vaquejada, que consistem em dois vaqueiros chamados de montador e o

outro esteiro, ambos montados em cavalos, onde seguem acompanhando o boi

desde a saída de um box ate a faixa do julgamento, ali devem derrubar o boi,

até que se mostre as quatro patas.

Relato de ativistas da PEA Gabriela Toledo e Carlos Rosolen (Projeto

Esperança Animal): (PETA, 2016)

[…] Chegamos perto do brete. Diversos animais misturados e com

aparência assustada. Um vaqueiro começou a “tocá-los com um pedaço de pau” para a fila que daria acesso para a arena. O espaço apertado permitia apenas um boi por vez. Ali os animais eram avaliados. Quando tinham chifres, seus chifres eram serrados com serrote. Muitos chifres sangravam. O que chamou a atenção foi a agressividade com que os vaqueiros amarravam esses animais para poder serrar a ponta de seus chifres. Alguns se debatiam, caiam no chão. Outros tentavam pular a porteira que dava acesso à arena e quando isso ocorria os vaqueiros batiam com pedaços de pau em suas cabeças. Mais de 15 animais passaram por esse procedimento. Houve situações em que os animais tiveram suas patas presas entre

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as madeiras do corredor da arena e por pouco não tiveram suas patas quebradas.

É marcante que os animais que participam dessa pratica, sofrem

agressões tanto físicas quanto psicológicas, em nenhum momento o bem estar

destes seres é levado em conta.

A iniciativa dessa festa é lucro, mais uma vez esse é o mais importante

para o homem, que estabelece essa forma cruel de tratamento aos animais

visando somente o ganho financeiro. Segundo o que cita Edna Cardozo Dias,

são na maioria as próprias prefeituras que promovem as vaquejadas com o

patrocínio de grandes empresas. (DIAS, 2000, p.81)

A Constituição Federal veda praticas que submetam animais a

crueldade, ou seja, então rodeios e vaquejadas são práticas ilegais. (DIAS,

2000 p. 81) Em defesa a Comissão de Proteção dos Direitos dos Animais da

OAB/TO, pede reflexão da população sobre os rodeios e vaquejadas (ANDA,

2016)

No tocante, nota na íntegra (ANDA, 2016):

A Comissão de Proteção dos Direitos Animais da OAB/TO vem a público conclamar toda a população para refletir sobre os maus-tratos que, a pretexto de diversão e cultura popular, inclusive em alguns casos com a participação de recursos públicos, são empreendidas práticas cruéis e hediondas na utilização de animais em rodeios, cavalgadas, vaquejadas e demais eventos da mesma natureza. Nos rodeios e cavalgadas, as quais são as duas formas mais comuns de abuso e maus tratos aos animais, é recorrente o uso de esporas com rosetas pontiagudas, sedém, sinos, peiteiras e, no caso dos rodeios, não raras vezes, muito embora haja proibição legal, uso de instrumentos que causam choque elétrico para deixar os animais mais irritadiços e assustados. Segundo se sabe, e já atestado por veterinários, nas vaquejadas o gesto brusco de tracionar violentamente o animal pelo rabo pode causar luxação das vértebras, ruptura de ligamentos e de vasos sanguíneos, estabelecendo-se, portanto, lesões traumáticas com o comprometimento, inclusive, da medula espinhal. Não raro, sua cauda é arrancada, já que o vaqueiro se utiliza de luvas aderentes. Ademais, antes da captura, os animais muitas vezes são submetidos à tortura: os bois são encurralados e fustigados com pedaços de madeira e choques elétricos, como todos sabemos. As leis que “regulamentam” a vaquejada, os rodeios, as cavalgadas e etc. afrontam a própria Constituição Federal, que confere ao Poder Público o dever de proteger a fauna, vedando as práticas que representem risco. Como exemplo de bom senso a ser seguido no caso dos citados” esportes”, o Supremo Tribunal Federal já consolidou o entendimento de que o caráter” cultural” ou “folclórico “de certos eventos não justifica a exposição de animais a práticas cruéis, como o caso da crudelíssima” Farra do Boi”, típica do estado de Santa Catarina, que

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outrora foi proibida. O STF também decretou a inconstitucionalidade da lei que autorizava e disciplinava as competições entre “galos combatentes” no estado do Rio de Janeiro, entre outras proibições vigentes. Neste momento em que estão judicialmente proibidas no sul do Estado do Tocantins, por razões sanitárias, as atividades “esportivas e culturais” com animais em rodeios, cavalgadas, vaquejadas e outras de tão atroz natureza, convidamos a população e as autoridades para refletir sobre os maus-tratos que tão descuidadamente deixamos sujeitar inocentes e indefesos animais. Basta disso! Respeito à Constituição já. Palmas,4, de maio de 2016. Comissão de Proteção dos Direitos dos Animais da OAB/TO.

Os rodeios e vaquejadas, confugiram-se como crimes, essas

crueldades e maus tratos nesses eventos ficam consagrados por pareceres

técnicos de veterinários da USP, emitido pelas entidades ambientalistas. (DIAS

2000, p. 81).

Em decisão pelo Superior Tribunal Federal no dia 06 de outubro de

2016, por um numero de seis votos vencedores, a vaquejada foi declarada

inconstitucional a pedido do Procurador Geral da Republica que defendia que a

pratica da vaquejada era cruel e confrontava lei cearense que liberava essa

pratica, a Constituição visa proteger o meio ambiente, e essa pratica, não é

mais de cunho patrimonial, somente uma manifestação de crueldade em

relação aos animais.

Essa decisão mesmo sendo para o estado do Ceará, abre portas para

futuras decisões, coibindo a pratica da vaquejada em outros Estados.

3.3 PENALIDADES AOS CRIMES DE MAUS TRATOS

Em princípio a lei nº 9.05/98, não teve início como uma proteção aos

crimes ambientais, mas sim uma tutela administrativa que foram deixadas de

lado pela Lei 6.938/81, essa lei tem seu caráter não só de aspecto penal, como

também matérias de aplicação no âmbito cível e normas de direito

internacional. (ABELHA RODRIGUES, 2002 p. 170)

O meio ambiente é fundamental a existência de todos, então como tal

deve ser protegido para todos. O art. 225 da Constituição Federal, reconhece

que toda pessoa tem direito a um meio ambiente sadio como uma extensão do

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direito a vida. Essa garantia dá ao poder publico a responsabilidade, de

proteger o meio ambiente. (O ECO, 2014)

O dano ambiental é entendido como qualquer prejuízo causado aos

elementos que compõem a flora, fauna e ao patrimônio cultural, essa então é

protegido pela citada Lei e Crimes Ambientais. (O ECO, 2014)

As penas previstas dentro da lei de crimes ambientais, aplicadas

conforme a gravidade da infração, onde a gravidade da conduta torna mais

severa a punição, sendo as penas aplicáveis a privativa de liberdade, restritiva

de direitos, prestação de serviço a comunidade, interdição temporária de

direitos, suspensão de atividades, prestação pecuniária, recolhimento domiciliar

ou multa. (O ECO, 2014)

De acordo com a lei nº 9.605/98, os crimes cometidos são de ação

penal pública incondicionada, que o Ministério Público é parte ativa na ação

penal.

Dentro desta lei o art. 32, dispõe:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Desta forma, é notório que as penas aplicadas a quem praticar esses

delitos são ínfimas, mostra que não haverá intimidação por parte do autor, visto

que muitas vezes as atrocidades cometidas aos animais ficarão sem punição e

por consequência, os maus tratos continuarão a ocorrer, já que a reprovação

por parte da legislação acerca desses crimes é omissa em se tratando de

crimes ambientais.

A autora Danielle Tettu (RODRIGUES,2008 p. 75), reforça sua opinião

acerca do assunto:

Com efeito, as sanções previstas na legislação em comento são notoriamente ínfimas, constituindo-se como inábeis a função de prevenir e/ou impedir condutas ilicitamente tipificadas, pois a punibilidade sequer gera receio aos infratores. De outra banda, maior parte das ilicitudes restaria sob a égide dos Juizados Especiais Criminais, donde há, indene de dúvidas, uma maior viabilidade de

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transação, o que, por si só, não serve de desestimulo a prática de atividades predatórias aos Animais.

Mesmo nas punições de caráter pecuniário, estas deveriam significar

um ônus a quem praticou o delito, onde desencoraje o agente e outros

prováveis infratores a praticas dessas condutas proibidas, pois é visto que os

crimes contra a fauna e flora são continuamente cometido independente do

local e do grau de instrução dos infratores. (RODRIGUES, 2008 p. 75)

Destarte, mesmo com as punições em vigor, mesmo com as irrisórias

prestações pecuniárias, ou a chance de responder ao uma ação penal, os

crimes cometidos contra dos animais tem se tornado cada vez maiores, na

ausência de um controle maior que seja realmente ineficaz, o gosto pela

matança e as crueldades feitas aos Animais vai perpetuar. (RODRIGUES,

2008, p. 75)

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4. AS MUDANÇAS ACERCA DA TUTELA JURÍDICA DOS ANIMAIS

O ser humano infringe voluntária e involuntariamente as normas, e

valores éticos e morais no que diz respeito os direitos dos animais. No que toca

os operadores do Direito, estes não podem continuar alienados a realidade e

ao fato que o Direito é aquele que possui capacidade para proteger os animais,

dando a eles o direito a vida, dignidade e liberdade. (RODRIGUES, 2008 p.

46).

Usar de conceitos abstratos ou suposições para evitar que o Direito

dos Animais aconteça, só adia o inevitável, nosso ordenamento jurídico é hábil

na hora de proteger os animais e os considerar como sujeitos de direito. Com o

passar dos anos as pessoas começaram a se tornar mais conscientes, de que

os animais são seres dotados de sensações, percepções, inteligência e,

portanto, vida. (RODRIGUES,2008, p.46).

O tocante da humanidade é comprovar que temos escolha, que somos

criaturas, de uma genialidade capaz de construir edifícios, erguer cidades

inteiras, máquinas, aceitar que os animais nos tocam de forma a trazer valores

de gratidão e compaixão acerca dessas criaturas que precisam da nossa

proteção. (RODRIGUES,2008, p.46).

Se não pudermos moralmente trazer essa proteção para esses seres,

que então Direito traga de forma clara, fazendo uma intervenção como meio

coercitivo a impor as normas, ações e condutas que não mais agridam os

animais e os considere como seres quem tem direito a uma proteção.

(RODRIGUES,2008 p. 46).

O direito é a forma de regular o comportamento do homem, se não

conseguimos pensar de forma diferente que este seja o caminho então.

(RODRIGUES,2008 p.46).

4.1 OS ANIMAIS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

Os direitos dos animais eram protegidos pelo Decreto nº 24.645/34,

onde os crimes eram considerados contravenções penais, muitos foram os

movimentos pedindo a mudança acerca da criminalização em respeitos aos

animais. (DIAS,2000, p.72)

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Em 1894, O senador José Colagrossi encaminhou um pedido de

emenda a parte especial do Código Penal, onde pretendia incluir os atentados

aos animais ao projeto. Nessa ocasião houve a revisão da parte especial do

Código Penal. (DIAS, 2000, p.72)

No ano de 1988, foi criado o projeto Nossa Natureza, que falava sobre

os crimes que afetavam os animais silvestres, que então passaram a se tornar

crimes inafiançáveis, este programa criminalizou a caça, e o comércio ilegal.

Essa proposta acabou não abrangendo os animais exóticos e os domésticos

com isto, sua ineficácia aumentou os casos de tráfico de animais. (DIAS, 2000,

p.72).

O estado de São Paulo foi o primeiro a se preocupar com os direitos

dos animais, onde regulou a Lei do Abate Humanitário para os animais de

consumo, e proibiu a caça, como também proibiu o pratica do rodeio em vários

municípios do Estad.(DIAS, 2000, p.72).

O decreto de 24.645/34 era o único diploma que regulava a crueldade

contra os animais, seu texto gerava polêmica, era alegada revogação pelo art.

64 da LCP já que ambos tratavam do mesmo assunto, essa revogação então

aconteceu através do Presidente Collor pelo então decreto 11 de 18 de janeiro

de 1991. (DIAS, 2000, p.72).

Por fim, foi aprovado pelo Congresso Nacional a Lei de Crimes

Ambientais em vigor ate os tempos atuais, a Lei 9.605 de 1998, que protege de

forma indistinta os animais em seu art.32, onde manteve a proteção aos

animais silvestres, bem como aos animais domésticos. (DIAS, 2000, p. 73).

4.2 ANIMAIS COM “STATUS” INTERMEDIÁRIO ENTRE PESSOA E COISA

A teoria que os animais não podem ser considerados como sujeito de

direitos vem da ideia de que os humanos são dotados de intelectualidade e

espiritualidade, a definição que as pessoas têm consciência de seus destinos,

são livres, são as características que impedem biológica e juridicamente que se

de a igualdade pretendida acerca da equiparação entre animais e pessoas.

(LOURENÇO, 2016, p. 486)

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Aqueles como Immanuel Kant defendem que os animais, não devem

possuir personificação, defende que a maioria dos direitos inerentes a ele não

poderiam ser aplicados, dado que os animais não podem ser donos de si.

Diferente dos seres humanos, quem poderia tomar parte dentro de um a

relação jurídica, que envolvesse os animais como parte dela, se eles não são

seres conscientes. (LOURENÇO, 2016, p. 486)

Em contrapartida, aqueles que prezam pela sensibilidade dos animais,

são claros em garantir que não precisam estender uma lista de sujeitos de

direito, mas precisamos sim alterar, para assegurar a determinadas entidades

um estatuto especial dento da ordem jurídica.

Eduardo Rabenhorst, defende o que poderia ser sujeito de direito cita:

Sujeito de direito não é o homem entendido como ser biológico, mas qualquer ente susceptível de contrair direitos e obrigações [...] Da mesma forma, quando perguntamos se um animal pode ou não ser sujeito de direito, não estamos propondo sua inclusão na espécie Homo sapiens. O que pretendemos saber é simplesmente se essas entidades podem figurar na lista de detentores de direitos. Em suma, a questão quem pode ser sujeito de direito? Faz referência simplesmente às razões ou justificações que podem ser apresentadas para a inclusão ou exclusão de alguma entidade nesta lista. (RABENHORST,2016,p.82)

A proposta assumida por Daniel Lourenço é a equiparar os animais aos

incapazes, ou a categoria jurídica de sujeitos de Direito dentro os entes

despersonalizados. (LOURENÇO, 2016, p. 486)

O status de sujeito de direito aos animais, mesmo em caráter de

sujeitos despersonalizados, dá a eles uma nova dinâmica que possam usufruir

de uma categoria jurídica que possibilite um respeito mínimo existencial, onde

eles tenham o direito as coisas ínfimas fundamentais, que hoje somente é

direito das pessoas. (RODRIGUES,2003, p. 123)

Mas com a mudança dessa natureza jurídica, e com os inúmeros

embates por parte daqueles que falam que os animais não teriam consciência

desses direitos, o que se deveria fazer. Possibilidade então de apresentar o

instituto da representação, no caso dos animais seria então o Ministério Público

que é órgão autônomo que tem atribuição administrar dentro os órgãos

judiciários. (RODRIGUES, 2003, p.123)

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Quando essa relação for indisponível ou de ordem pública, fica então a

cargo do Ministério Público atuar como agente que substitui essa parte, tendo

então toda legitimidade para representa-los.

Caso o status dos animais não seja mudado, fica impossibilitado o

Ministério Público de agir em conformidade com os seus direitos, dado que

coisa, não é parte de uma relação jurídica, já que esta relação é composta de

sujeito ativo e passivo, onde um coisa não responde por seus atos, ele tende a

obedecer ao que lhe foi imposto, como no caso dos animais. (RODRIGUES,

2003, p. 124)

Os animais merecem a mudança de sua personalidade, já que

justamente pelo fato de serem objetos do direito, fazem deles sujeitos de um

direito que precisam ser tutelados pelo homem, os direitos deles são os

deveres de todos os homens. (DIAS, 2000, p.150)

4.2.1 TEORIA ANTROPOCÊNTRICA

O antropocentrismo é uma Ideologia, ou doutrina, de acordo com a

qual o ser humano é o centro do universo, de tudo, sendo ele rodeado por

todas as outras coisas. (LEVAI, 2011)

Essa corrente tem durado mais de duzentos mil anos, onde coloca o

homem como centro do universo, provem do grego (anthropos, o homem) e do

latim (centrum, o centro), onde o ser humano tem poder de subjugar a natureza

para seu beneficio próprio. (LEVAI, 2011)

A relação entre os homens a natureza começou desde os primórdios,

onde o homem ainda eram Homo Sapiens, aplicava então a lei do mais forte,

com o descobrimento do fogo, o uso de pedras, o homem passou a se impor

acima das outras criaturas. (LEVAI, 2011)

Na Grécia Antiga, apesar de haver tentativas de alguns pensadores

como Porfirio(233-304) que acreditavam em um direito natural, baseado no

respeito entre as espécies, contudo prevalecia então o pensamento de

Aristóteles (384-322 a.C) cuja obra sedimentava que os animais não tinha

nenhuma outra finalidade do que a de servir ao homem. (LEVAI, 2011)

O pensamento filosófico surgiu com a Grécia, o Direito em sua ciência

baseado na moral crista é invenção dos romanos, os animais bem como o

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ambiente selvagem era inimigo do homem, e deu aos animais domésticos o

status de coisa. (LEVAI, 2011)

O filósofo René Descartes (1596-1650), que tratava os animais como

meros objetos destituídos de sentimento, em sua teoria tinha o nome de

animal-máquina, usava como justificativa para aplicar as mais diversas

crueldades aos animais em caráter experimental sendo a vivissecção a mais

violenta de todas. (LEVAI, 2011)

Durante o período do Cristianismo, a influência grega se mostrou

através de figuras importantes como Santo Tomás de Aquino, cuja obra foi toda

baseada no pensamento de Aristóteles, este só admite que o pecado, se for

cometido contra Deus, contra nós mesmos ou nossos semelhantes, aquele que

comete algo contra um animal ou mundo natural não estaria pecando.

Esse pensamento perdurou por mais de dezoito séculos, essa tradição

manteve que o mundo natural existe para o beneficio dos seres humanos, com

base no domínio que Deus deu a eles sobre todas as outras criaturas. Essa

tradição não exclui o cuidado com a natureza desde que esse cuidado seja em

beneficio do ser humano. (SINGER, 2002, p. 283)

Um breve exemplo de como essa teoria pode influência de maneira

prejudicial a maneira que os tribunais julgam os crimes cometidos contra os

animais, cita-se a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná:

APELAÇÃO CRIMINAL. ATROPELAMENTO DE ANIMAL. EVASÃO DO LOCAL SEM PRESTAR SOCORRO. POSSIBILIDADE DE EVITAR O ATROPELAMENTO COM REDUÇÃO DA VELOCIDADE. LESÕES AO ANIMAL ATROPELADO. CONCEITO SUBJETIVO NÃO AFERIDO NAS CONDIÇÕES EM QUE SE ENCONTRAVA O ACUSADO. RECONHECIMENTO DE MODALIDADE CULPOSA, NÃO PREVISTA NO TIPO PENAL. OMISSÃO DE SOCORRO. INEXISTENCIA QUANDO HOUVE ATENDIMENTO POR TERCEIRO. ATIPICIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. ABSOLVIÇÃO DECRETADA. O apelante foi denunciado pelo delito tipificado no art. 32 da Lei Federal n.º 9.605/1998, qual seja, ?praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos?. Foi realizada audiência preliminar, na qual o apelante recusou a proposta de transação penal, sendo oferecida denúncia pelo Ministério Público do Paraná, que foi recebida pelo Juízo ?a quo?. Sobreveio sentença que julgou procedente o pedido contido na denúncia ao entendimento que restam demonstradas autoria e materialidade do delito tipificado no art. 32 da Lei Federal n.º 9.605/1998, condenando o apelante ao cumprimento de pena privativa de liberdade de 03 (três) meses e 11 (onze) dias de detenção, tendo sido substituída por pena restritiva de direito, consistente na prestação pecuniária. Apelante, em sede recursal, pretende a reforma da sentença recorrida para que seja

50

absolvido da condenação ou, subsidiariamente, a redução da pena imposta. Pugna, preliminarmente, a inépcia da denúncia e a ausência de laudo pericial. O Ministério Público manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso. É, em síntese, o relatório. Passo a decidir. Do recebimento do recurso de apelação criminal pelo Juízo de Origem. legal exigir a realização de laudo pericial, verifica- se que sua aplicação deve ser relativizada, vez que os documentos probatórios careados nos autos são suficientes para suprimi-l (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0001060-52.2014.8.16.0048/0 - Assis Chateaubriand - Rel.: Fernando Swain Ganem - - J. 03.12.2015) (TJ-PR - APL: 000106052201481600480 PR 0001060-52.2014.8.16.0048/0 (Acórdão), Relator: Fernando Swain Ganem, Data de Julgamento: 03/12/2015, 1ª Turma Recursal, Data de Publicação: 15/12/2015).

Na seguinte decisão, é possível ver que a vida de um animal, mesmo

em um crime que havia testemunha que comprovaram a culpa, e era explicito a

culpa do infrator, não era importante. O pensamento que os animais não são

merecedores de um tratamento especial, ocasiona milhares de decisões como

estas, que só visam confirmar o que a teoria antropocentrista levou por

milhares de gerações, a forma dominante do ser humano sobre todas as

coisas.

Essa teoria antropocentrista, de forma arrogante, que subjugou e

degradou o meio ambiente, inclusive dos animais, gerou o que nos tempos

atuais o que podemos chamar de crise ambiental. (LEVAI, 2011)

4.2.2 TEORIA BIOCÊNTRICA

Com base nas mudanças, e o novo pensamento ecológico, surge o

biocentrismo. É teoria ligada a ética animal. Com base no que pensava

Pitágoras, o homem não é medida de todas as coisas, nas basta então

proteger o meio ambienta somente para seu beneficio, mas naqueles que são

vulneráveis nessa relação. (LEVAI, 2011)

Para que possa acontecer a mudança, não basta que o direito positivo

mude, mas as pessoas e seus pensamentos também devem mudar.

Compaixão o marco inicial do biocentrismo, ela nos faz sentir a dor alheia, que

por si reflete a ética, a solidariedade, o respeito, em relação aos outros seres.

(LEVAI, 2011)

O biocentrismo prega pelo respeito a vida, não importando para esta

corrente o objeto de sua proteção, ela existe para homens, animais ou plantas,

51

e, com base nesse pensamento capaz de adquirir sensibilidade por parte dos

homens em relação a todas as criaturas do universo. (LEVAI, 2011)

Essa corrente vem como uma crítica ao antropocentrismo que

considera o homem como base de tudo, vem com uma ideia de ética global,

superando outras teorias. Não só é importante o paradigma biocêntrico para

uma melhor vida aos animais, mais também como uma forma de solucionar

sérios problemas ambientais que o mundo está enfrentando ate os dias hoje.

(LEVAI, 2011)

A importância de uma mudança na opinião da teoria antropocêntrica

para a teoria biocêntrica, mostra uma preocupação maior com o meio

ambiente, com todas as formas que o habitam, diminuindo assim os efeitos

nocivos que as ações individualistas do homem causou ao planeta. (LEVAI,

2011)

4.3 A MUDANÇA E SUAS PROPOSTAS

Em 1978, foi apresentada a Declaração Universal dos Direitos dos

Animais pela UNESCO, de onde vários países são signatários, inclusive o

Brasil. Ainda que existam várias leis protecionistas em diversos países, essa

declaração é a obra mais louvável e completa em prol da vida e da integridade

dos animais, embora não tenha sido ratificada até a presente data, é modelo a

ser encarado pelos países no que concerne a mudança em relação aos

animais. (RODRIGUES, 2003, p. 63).

Essa Declaração trouxe um novo pensamento sofre os direitos dos

animais, reconhecendo o valor da vida de todos os seres vivos, onde propõem

um estudo de vida humano que preze pela dignidade dos animais.

Edna Cardozo Dias confirma:

“Esse documento é um convite para o homem renunciar a sua atual conduta de exploração dos animais e, progressivamente, ao seu modo de vida e ao antropocentrismo, para ir de encontro do biocentrismo. Por essa razão, representa uma etapa importante na

história da evolução do homem”

Ademais, existe um novo projeto do novo Código Penal que prevê a

mudança em seus artigos 132 e 393, onde tem o aumento da pena para o

sujeito que abandonar os animais. (NEITSCH, 2013).

52

Ainda, existem alguns projetos de Lei que envolvem a proteção animal,

e visam dar um novo ênfase na tutela jurídica destes seres. Os atuais projetos

são: (NEITSCH, 2013).

A PL 6.602/2013 de autoria do Deputado Federal Ricardo Izar (PSD-

SP). Proíbe o uso de qualquer espécie animal em pesquisas e testes

laboratoriais para desenvolvimento de produtos cosméticos.

Relacionado a este projeto de lei, que visa mudança no contexto dos

art. 14, 17 e 18 da Lei nº 11.794/08, que em seu texto atual, ele libera o uso de

animais para qualquer tipo de experimentação, desde que exija o mínimo de

sofrimento deste, essa mudança, visa proibir o uso de animais para

experimentação de produtos cosméticos, mostrando a desnecessidade da

experimentação de animais nestes casos, já que muitos testes são de

resultados infrutíferos para o ser humano. (NEITSCH, 2013).

Esta proposta vem também aumentar o valor das multas para quem

descumprir a lei, vimos que o homem é baseado em lucro, então essa medida

é altamente viável, já que ao aumentar os valores das multas em caso de

descumprimento, tende a uma diminuição valorosa da prática nesse sentido.

A PL 6.434/2013 de autoria do Deputado Federal Rodrigo Maia (DEM-

RJ). Institui o Sistema Único de Saúde Animal (SUS Animal).

A construção de um Sistema Único de Saúde para os animais, tem

como contribuição positiva não só para os animais como para as pessoas, já

que um atendimento veterinário de graça e com qualidade, tende que as

pessoas se conscientizem acerca da saúde dos seus animais, havendo um

local de fácil acesso ao, publico, com tratamentos que possuam valores

acessíveis a população de baixa renda, uma vantagem para toda sociedade, e

ainda mais para os animais. (NEITSCH, 2013).

Pode ser citado, por exemplo, como nos casos da superpopulação dos

animais de rua, no caso cães e gatos, como um SUS animal o procedimento de

castração teria um aumento, diminuindo assim a superpopulação de animais

que atualmente habitam todas as cidades do país. (NEITSCH, 2013).

A PL 215/2007 do Deputado Federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Cria o

Código Federal de Bem-Estar Animal. A este projeto foi apensado o PL

6267/2013, que proíbe o uso de animais em filmes pornográficos. (NEITSCH,

2013).

53

Este projeto onde visa criar um Código Federal de Proteção Animal,

que vem proibir o uso de animais em pesquisas, sendo garantido as isenções

fiscais para aqueles que deixarem de usar, visa proibir o uso de animais em

circos, e também a conscientização de que os animais que são usados na

indústria da carne, tenham seu sofrimento aliviado, onde métodos que causem

dor aos animais sejam proibidos, como nos exemplos de morte de bois, que

são atingidos com uma pistola de pressão ou ate mesmo com marretadas no

seu osso frontal que deixam o animal tonto, para então seja feita um corte no

sua jugular em um tempo de três minutos, porem na maioria dos casos o

animal esta consciente na hora do abate, o que faz com que sua morte seja por

asfixia pelo sangue, trazendo assim uma maneira dolorosa de morte, que

poderia ser evitado em casos que os animais sejam sedados.

Um importante avanço no que concerne esse texto trata de proibir o

abate de animais menores de um ano, como nos exemplos da carne de vitela,

que são bezerros que foram retirados de suas mães, confinados a um espaço

pequeno durante meses para engorda, sua carne branca e macia é altamente

consumida dentre a população. (NEITSCH, 2013).

Este projeto de lei alcança medidas importantes no que consistem os

direitos dos animais atualmente, pois é escasso o material que visa defender

os animais, e propiciar aqueles que não têm voz, uma maneira de viver menos

dolorosa. (NEITSCH, 2013).

Porém este é um texto que carece de mudança, como nos exemplos

dos artigos que citam a eutanásia, já que esta solução não visa um bem-estar,

mas sim uma comodidade humana.

Temos também temos a importante inovação, que foi o Projeto de Lei

nº 351/2015 de autoria do Senador Antônio Anastásia, que visa mudar o status

dos animais dentro do Código Civil nos seus arts. 82 e 83. O projeto quer

mudar o tratamento que são feitos aos animais de coisas, para serem tratados

como bens em sua singularidade, pois o status de bem esta ligado a ideia de

direito, expressão essa que condiz mais com o atual realidade dos animais.

(RANNA, 2015)

Mesmo que esta mudança possa parecer pequena, ela pode abrir

portas para futuros mudanças nos direitos dos animais, sabemos que as coisas

para o direito civil somente tem valor econômico, e os bens imateriais possuem

54

liberdade e vida, o que demonstra que uma mudança assim mudaria também

as decisões dos tribunais, que ao tratarem dos animais como um bem imaterial,

lhe dariam oportunidade de bem-estar, e punição cabível para os crimes

cometidos contra eles.

O ordenamento jurídico brasileiro entraria então no rol de países como

França, Suíça, que mudaram os aspectos civis dos animais, onde passaram a

não serem mais tratados como objeto, a fim de que sejam protegidos por

legislação especial. É importante que ocorra essas mudanças jurídicas para os

animais, já que esses direitos têm evoluído junto com a sociedade, que passa a

exigir mais da Poder Judiciário em matéria de proteção animal. (RANNA, 2015)

Essa proposta é a mudança de pensamento que os animais não são

seres dotados de sentimentos, o projeto de Lei foi recebido pela Comissão de

Constituição, Justiça e Cidadania sendo seu relator o Senador Álvaro Dias,

onde segue para ser aprovada pela Câmara dos Deputados. Seguindo seu

texto sem alterações este será encaminhado para o Presente da República

para sua aprovação ou veto, caso seja aprovada ela se tornará lei. (RANNA,

2015).

4.4 A NOÇÃO DE SENCIÊNCIA E O DIREITO DOS ANIMAIS

O conceito de senciência é uma tentativa da proteção animal que

permite tentar alcançar as pessoas permitindo que enxerguem que os animais

possuem capacidade de sentir emoções, que o mesmo é merecedor de uma

tutela jurídica. A questão da senciência serve para uma evolução jurídica, como

no caso da França que inédita decisão alterou o seu Código Civil, onde colocou

os animais como seres vivos dotados de sensibilidade. (LIMA, 2016)

A mudança sobre o aspecto que vemos os animais começa com as

crises, em recente acontecimento envolvendo as olimpíadas do Rio de Janeiro

em 2016, foi mundialmente mostrado a morte da onça Juma, que foi

assassinada em um evento do rito de passagem da tocha olímpica. A

banalidade dos motivos que fundamentaram a morte da onça foi um choque

para muitos que acompanharam o caso. (LIMA, 2016)

55

Não é banal, a defesa legada pelo soldado do exército que contou que

cometeu tal ato em defesa depois que a onça atacou o militar, mas seu uso

como atrativo visual em prol de um espetáculo olímpico. (LIMA, 2016)

Os motivos que levaram a morte desse animal nos permitiria

questionar, porque este ser vivo que é conhecido pelo seu modo de vida

selvagem, e levado a um evento estressante, onde se vê cercado de uma

população barulhenta, e que deve permanecer quieto, acorrentado. (LIMA,

2016).

Existem muitos seres que são sencientes, capazes de sentir prazer e

dor, mas que não são seres racionais e não são pessoas. (SINGER, 2002 p.

111)

4.4.1 UM NOVO PARADIGMA

O homem não aceita ser colocado em um mesmo patamar dos

Animais, fica condicionado a ilusão de superioridade humana, conceito que o

leva acreditar que é o único desenvolvido de suas capacidades e assim sendo

o mais evoluído, que se considera então a espécie dominante do planeta.

Sobre o pensamento a respeito da evolução, Danielle Tettu citando Fernando

Fernandez: (RODRIGUES,2003, p. 42):

Uma implicação do imediatismo da seleção natural é que a evolução não tem nenhuma tendência intrínseca ao progresso, por mais que satisfaça nosso ego pensar assim. Conforme notou Gould, nunca houve uma idade dos repteis, ou uma idade dos mamíferos. Os organismos dominantes o planeta sempre foram e ainda são as bactérias, por qualquer critério que não seja (mais ou menos disfarçadamente) ser parecido conosco. Em relação a qualquer outro grupo de organismos, as bactérias têm um número de indivíduos maior, uma biomassa maior, e um número de espécies maior. Possuem uma diversidade taxonômica muito maior: em um arranjo sistemático recente, nada menos que treze dos vinte e três reinos da vida são constituídos exclusivamente de bactérias! Ocupam uma variedade de ambientes muito mais que qualquer outro grupo, inclusive muitos inacessíveis ao homem, como o subsolo a vários quilômetros e profundidade e fontes termais a várias centenas de graus. Sobreviveriam melhor a qualquer catástrofe ambiental, inclusive a qualquer uma que possamos gerar e que extinguiria a nós mesmos. Além do mais, a dominação das bactérias sobre o planeta já dura mais de três bilhões de anos, e chegaremos nós a tanto? :(RODRIGUES,2003, p. 42):

Umas das teorias que coloca os humanos como espécie dominante é a

capacidade de se comunicar, usando linguagem própria, ou seja somente os

56

homens com essa capacidade os torna superior. Assim como é errôneo se

levar por essa teoria, já que os chimpanzés têm a capacidade de se comunicar

com os seres humanos através da linguagem de sinais. (RODRIGUES, p. 43,

2008)

A defesa desta tese rebate a superioridade humana em cima da

linguagem, pois não possuímos comprovação de que os animais não falam,

apesar de condição parecida, os animais são espécies diferentes que possuem

sua linguagem própria, como também possuem uma forma de comunicação ate

superior à das pessoas, como nos casos dos golfinhos, que podem se

comunicar de formas únicas, já que podem usar da telepatia ate a visão eco

localizadas. (RODRIGUES,2008, p. 43)

Danielle Tettu citando Ronecker desenvolve uma visão especial sobre

a inteligência do homem. (RODRIGUES,2008, p. 43):

[…] a inteligência é, com efeito, faca de dois gumes: eleva o homem e também o rebaixa abaixo da terra. É verdade que a baixeza da alma é essencialmente humana. Enquanto os animais comunicam, o homem somente fala, e, o mais das vezes, para si próprio. Sua inteligência levou-o a considerar-se senhor do planeta. De senhor passou a tirano, pilhando as riquezas naturais, violando a terra e a natureza e saqueando o patrimônio do qual julga-se depositário único. (RODRIGUES, 2008 p. 43)

Em recente notícia, acerca da baleia mais solitária do mundo

conhecida como 52, que o cetáceo nomeado em função da distinta frequência

do seu apelo, que é de 52 HERTZ, pertence a uma desconhecida espécie de

cetáceo ainda não identificado, o som produzido por essa baleia é um pouco

mais baixo que uma tuba, sendo claramente de uma baleia, mas difere de

qualquer outro registro conhecido pelo homem. Acredita-se que por causa

dessa diferença de frequência em seu canto, ela nunca teve oportunidade de

achar um companheiro. (ANDA, 2016).

A bióloga Marinha Mary Ann Daher, que estuda a baleia 52 conta:

Eu acho muito triste que tantas pessoas se identificam com esta baleia…recebo cartas, e-mails e poemas. Principalmente de mulheres e é doloroso ler algumas pessoas das coisas que dizem. Estas pessoas se identificam com este animal que não parecem se encaixar em qualquer lugar, não faz amigos facilmente, se sente sozinho e se sente diferente de todo mundo.

57

Porém mesmo que aceitemos que esse animal está a procura de um

companheiro, esse pensamento é totalmente humano, pois não há nenhuma

forma de que os cientistas saibam realmente o que está acontecendo na mente

da baleia. Isso mostra que o ser humano ao impor a linguagem como uma

forma de impor sua superioridade, está se perdendo de como somos ínfimos

em comparações a essas grandiosas criaturas. (ANDA, 2016)

O ser humano é baseado em influências, e não tem a prática de

questioná-las, as associa a verdades únicas, elevou o status de ser humano,

como um membro de uma espécie que não se importa e não se permite

reconhecer os direitos das criaturas sencientes, esse debate pode ate fazer

com que o ser humano submeta a suas vontades os seres humanos que

possuem alguma deficiência mental. (RODRIGUES,2008, p.45)

A comparação que faz a autora Danielle Tettu com os deficientes

mentais leva o pensamento de como não temos um conceito de que tipo de

vida nos interessa, pois será que a vida de um chimpanzé que é dotado de

consciência é menos importante que a vida de uma pessoa com deficiência

mental grave, que, portanto não deve ser considerado uma pessoa titular de

direitos, pois este não tem consciência, não tem autonomia.

(RODRIGUES,2008, p.49)

A autora cita um exemplo de Peter Singer: (RODRIGUES,2008, p.49).

[..] deveríamos admitir que, do ponto de vista dos próprios seres diferentes, cada via tem igual valor. Os que adotam esse ponto de vista admitem, por certo, que a vida de uma pessoa pode incluir o estudo da filosofia, mas que tal estudo não pode fazer parte da vida de um rato; mas dizem também que os prazeres de um rato são tudo que um rato tem e que, portanto, pode-se presumir que signifiquem, para ele, tanto quanto os prazeres da vida de uma pessoa significam para ela. Não podemos dizer que uma é mais ou menos valiosa que a outra.

Os animais são meros produtos para as pessoas. (RODRIGUES, 2009

p. 56). Os ataques a fauna, fez com que várias espécies fossem dizimadas, há

privação de liberdade com objetivo de lucro financeiro, no qual os homens

consideram os animais como meras mercadorias. Os animais tem uma morte

dolorosa e lenta, pois não há interesse no que eles possam estar sentindo. Há

o constrangimento por parte física e psicologicamente, são torturados, são

retirados de seu habitat e contrabandeados como meros objetos, usados em

58

laboratórios para experimentação, são alvos da ira e do mau humor do homem,

castigados em circos e lares domésticos. A tortura feita aos animais tem

alcançado padrões altíssimos, sendo sua vida moeda de troca ao

desenvolvimento das ciências e a insensatez humana.

A cultura que tem o princípio de trazer estudo para os homens e usada

para castigar os animais, como massacres de bebês foca, vaquejadas, a farra

do boi, touradas e tantos outros episódios que são repudiáveis, fazem que seja

necessário aplicar um dever legal que coloque um fim nessa insensatez

humana, que nada tem a ver com ética ou progresso. (RODRIGUES, 2008, p.

57)

A Ética tem a ver com justiça, porem a injustiça está ligada a destruição

da natureza e a violência contra os animais. É preciso a restauração da justiça

para que a proteção animal venha a ocorrer. A crueldade com os animais é

passo inicial para a formação de um psicopata, já que muitos desses

criminosos em sua infância tinham acesso direito ou indireto por parte de seus

pais com a violência contra os animais.

Pelas palavras de Edna Cardozo Dias (DIAS, 2000, p.136):

Enquanto prendermos os animais em gaiolas, nossas prisões estarão sempre lotadas; enquanto matarmos os animais, os homicídios proliferarão; enquanto houver massacres de animais, haverá guerras. Tudo que ocorre aos animais acaba por acontecer aos homens. Existe uma relação em tudo. O bem e o mal estão no coração dos homens. É na mente dos homens que começam as guerras. (DIAS, 2000, p. 136)

É preciso ainda um vasto caminho para os homens reconhecerem os

direitos dos animais, precisam mudar seus hábitos, mudar sua relação com o

meio ambiente. É preciso ação por parte das pessoas, por parte de uma nação.

Os animais estão ligados a vida, Edna Cardozo Dias “aquele que não sente

compaixão pelos animais não tem direito de falar de torturas humana. Para

mãos do justo, tudo que vive é sagrado”.

59

CONCLUSÃO

Apresentando os aspectos principais da personalidade, como ela teve

início desde o nascimento do nascituro, conforme o Código Civil vigente, assim

como a teoria concepcionalista, que a pessoa adquire personalidade no

momento da concepção, devendo então a pessoa ser protegida através desse

momento, ou daquele regido pelo Código Civil.

A personalidade em si como um privilegio adquirido pelo homem, que

Antigamente, esta preposição era somente direcionada a algumas pessoas, e

não eram todos os homens que possuíam direitos de personalidade, os

escravos eram tratados como coisas, e possuíam as mesmas atribuições de

coisas que os animais, e como a mudança que levou anos para acontecer,

levou o homem a se tornar o centro do direito.

Dentro desse aspecto de personalidade, adentrando acerca da

personalidade dos animais, e como sujeitos de direito, acreditando-se que

somente por não possuírem consciência não tem direitos ou interesses as suas

vidas.

A construção de um novo paradigma acerca dos seus direitos,

adentrando nas duas principais correntes, a antropocêntrica que acredita que o

ser humano é o centro do universo e que todos os seres vivos devem viver

para lhe servir, e que o mundo é para sua exploração e merecimento. E a

teoria biocêntrica que busca melhorar a qualidade de vida dos homens, onde

com uma ética moral, respeita todos os seres como igualdade, tirando do

homem esse pensamento de centro do universo, e melhorando o bem estar

animal e da humanidade

A valoração dos direitos dos animais, iniciada através do poder

judiciário, que busca tentativas de melhorar a vida destes seres, introduzindo

novas leis, numa tentativa de conscientização das pessoas, mostrando que

temos o dever de zelar por aqueles que não podem se proteger sozinhos.

60

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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral, 4. Ed., São Paulo: Atlas

2004.

65

ANEXO A - Declaração Universal dos Direitos dos Animais – Unesco –

ONU(Bruxelas – Bélgica, 27 de janeiro de 1978)

1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida.

2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.

3 - Nenhum animal deve ser maltratado.

4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.

5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser

abandonado.

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor.

7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida.

8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimescontra

os animais.

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei.

10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e

compreender os animais.

Preâmbulo:

Considerando que todo o animal possui direitos;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado

e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a

natureza;

Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à

existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência

das outras espécies no mundo;

Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de

continuar a perpetrar outros;

Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito

dos homens pelo seu semelhante;

Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a

compreender, a respeitar e a amar os animais,

Proclama-se o seguinte

66

Artigo 1º

Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à

existência.

Artigo 2º

1.Todo o animal tem o direito a ser respeitado.

2.O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou

explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao

serviço dos animais

3.Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do

homem.

Artigo 3º

1.Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2.Se

for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem

dor e de modo a não provocar-lhe angústia.

Artigo 4º

1.Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver

livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o

direito de se reproduzir.

2.toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a

este direito.

Artigo 5º

1.Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio

ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas

condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.

2.Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo

homem com fins mercantis é contrária a este direito.

Artigo 6º

67

1.Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a

uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.

2.O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.

Artigo 7º

Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de

intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.

Artigo 8º

1.A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é

incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência

médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.

2.As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas.

Artigo 9º

Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado,

alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade

nem dor.

Artigo 10º

1.Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.

2.As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são

incompatíveis com a dignidade do animal.

Artigo 11º

Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio,

isto é um crime contra a vida.

Artigo 12º

1.Todo o ato que implique a morte de grande um número de animais selvagens

é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.

2.A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.

Artigo 13º

1.O animal morto deve de ser tratado com respeito.

2.As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas

no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um

atentado aos direitos do animal.

Artigo 14º

68

1.Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar

representados a nível governamental.

2.Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do

homem.