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Teoria da Constituição

A leitura moral e a premissa majoritária

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Teoria da Constituição

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Teoria da ConstituiçãoSeminário apresentado em 12/04/2013

Mestranda:

Maria do Carmo Lopes Bassetto

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O direito da liberdade: A leitura moral da Constituição norte-americana

Texto Base:Introdução: A leitura moral e a

premissa majoritária

Autor: Ronald Dworkin

11/12/1931 – 14/02/ 2013

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O livro discute grandes problemas constitucionais:

1. O aborto – Roe vs. Wade;

2. A ação afirmativa – Regents of the University of California v. Bakke;

3. A pornografia – Lei antipornográfica do município de Indianápolis, estado de Indiana;

4. A homossexualidade –Bowers v. Hardwick;

5. A eutanásia – caso Cruzan;

6. A liberdade de expressão – New York Times vs. Sullivan.

Uma confusão constitucional

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Objetivo do livro:

Ilustrar um método particular de ler e executar uma constituição

política: “leitura moral”.

Uma confusão constitucional

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A maioria das constituições expõe os direitos do indivíduo perante o governo numa linguagem extremamente ampla e abstrata.Ex.: 1ª Emenda a Constituição norte-americana que não permite que o Congresso faça leis que diminuam a “liberdade de expressão”.

Uma confusão constitucional

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A leitura moral propõe que todos interpretemos e apliquemos esses

dispositivos abstratos considerando que eles fazem referência a princípios

morais de decência e justiça.

Uma confusão constitucional

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Insere a moralidade política no próprio âmago do direito constitucional.

A moralidade política é intrinsecamente incerta e controversa;

O governo que a incorpora deve decidir quem terá a autoridade suprema para compreender e interpretar os princípios

EUA – juízes e Suprema Corte.

Uma confusão constitucional

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A leitura moral não é revolucionária: ao seguir uma

estratégia coerente qualquer para interpretar a Constituição, os

juristas e juízes já fazem uso da leitura moral.

Uma confusão constitucional

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Juízes “liberais” ou “conservadores”

Diferente compreensão que eles têm dos valores morais inseridos no texto constitucional.

Convicções políticas conservadoras:

Primeiros anos do século XX

Convicções políticas mais liberais:

Corte Warren (1953-1969).

Uma confusão constitucional

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Papel X Reputação da Leitura Moral

Inspirou todas as grandes decisões constitucionais da Suprema Corte, e algumas de suas piores decisões.

Quase nunca chega a ser reconhecida como uma influência - costuma ser descartada como uma corrente “radical”.

Os juízes negam sua utilização e influência - decisões com base em “intenções” históricas ou expressando uma “estrutura” constitucional geral, porém inexplicada.

Uma confusão constitucional

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Origem do descompasso:

Está arraigada na prática constitucional;

Parece eliminar a distinção entre direito e moral;

Parece colocar em risco a soberania popular

Uma confusão constitucional

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Escolha de juízes conservadores:

Eisenhower, condenou o “ativismo judicial” e declarou ter cometido apenas dois grandes erros e que ambos estavam na Suprema Corte – os juízes Warren e Brennam.

Uma confusão constitucional

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Reagan e Bush – determinaram-se a só indicar para a Suprema Corte juízes conservadores.

Em 1992, três dos juízes por eles indicados confirmaram a decisão do caso Roe vs. Wadee forneceram novos fundamentos jurídicos baseados na leitura moral da Constituição no processo Planned Parenthood ofSoutheastern Pennsylvania v. Casey.

Uma confusão constitucional

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Prática constitucional:Seu papel fica escondido quando as

convicções pessoais do juiz concordam com a legislação cuja constitucionalidade está em causa.

Mas fica em evidência quando as convicções de princípios do juiz inclinam-se em sentido oposto.

Uma confusão constitucional

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O povo dos EUA não compreende a verdadeira dimensão e de seu sistema constitucional.

O ideal norte-americano de um governo sujeito à lei e a princípios.

Modelo adotado e imitado de forma consciente em outras partes do mundo

Uma confusão constitucional

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Críticas à leitura moral:

Atribui aos juízes a suprema autoridade em matéria de interpretação;

É elitista, antipopulista, antirrepublicana e antidemocrática.

Ideia baseada na concepção de que democracia é a vontade da maioria.

Uma confusão constitucional

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Democracia é a vontade da maioria, mas com respeito à minoria, de forma que a minoria possa um dia tornar-se maioria.

A leitura moral de uma constituição política é democrática e praticamente indispensável para a democracia.

A democracia não faz questão de que os juízes tenham a última palavra, mas também não faz questão de que não a tenham.

Uma confusão constitucional

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Os dispositivos da Constituição dos EUA que protegem os indivíduos e as minorias da ação do Estado estão na Declaração de Direitos e nas emendas acrescentadas depois da Guerra Civil.

Muitos estão escritos em linguagem excessivamente abstrata.

Existem artigos e dispositivos que não são nem abstratos nem escritos na linguagem dos princípios morais.

A leitura moral

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“Segundo a leitura moral, esses dispositivos constitucionais devem ser

compreendidos da maneira mais naturalmente sugerida por sua

linguagem: referem-se a princípios abstratos e, por referência, incorporam-

se aos poderes do Estado.”

A leitura moral

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Ideais políticos e jurídicos:

O Estado deve tratar todas as pessoas sujeitas a seu domínio como dotadas do mesmo status moral e político;

Deve tentar, de boa-fé, tratar a todas com a mesma consideração;

Respeito a todas e quaisquer liberdades individuais que foram indispensáveis para esse fim.

A leitura moral

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Questionamento:

De que provas ou argumentos dispomos para afirmar que determinado dispositivo constitucional tem como conteúdo um princípio moral e outro não tem?

Exemplos: Décima Quarta e Terceira Emendas

Questão de interpretação, ou de tradução.

A leitura moral

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É preciso encontrar uma linguagem que capte da melhor maneira possível, e em termos que nos pareçam claros, o conteúdo do que os “autores” quiseram dizer.

Elaborar diversas interpretações;

Analisar qual a mais sensata;

Considerar também a prática jurídica e política do passado.

A leitura moral

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O princípio da “igual proteção” é algo muito mais robusto.

O princípio de que o Estado deve tratar todos, sem exceção, como dotados do mesmo status, e deve tratá-los com a mesma consideração.

A leitura moral

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Limitações da leitura moral para os juízes enquanto indivíduos:

A interpretação constitucional tem de partir do que os autores disseram, e, no contexto histórico em que foram ditas.

A exigência de integridade constitucional.

A leitura moral

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A leitura moral pede aos juízes queencontrem a melhor concepção dosprincípios morais constitucionais que seencaixe no conjunto da história.

Não lhes pede que sigam os ditames de suaprópria consciência ou as tradições de suaprópria classe ou partido, caso não seencaixem nesse conjunto histórico.

A leitura moral

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A leitura moral é uma estratégia aplicável por advogados e juízes que ajam de boa-fé, e nenhuma estratégia de interpretação pode ser mais do que isso.

A constituição é uma lei e, como toda lei, está ancorada na história, na prática e na integridade.

A leitura moral

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Estratégias de interpretação constitucional que deem menos poder aos juízes.

Primeira – admite que a leitura moral é correta, mas nega aos juízes a autoridade suprema de fazer a leitura moral.

Segunda – estratégia originalista ou da “intenção original” – não aceita a leitura moral.

Terceira - Estratégia intermediária - ainda não foi descoberta.

Qual é a alternativa?

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Pressuposto de que as restrições que a

Constituição impõe aos processos políticos majoritários são antidemocráticas.

O debate sempre girou em torno de como a Constituição deve ser interpretada.

A própria questão da interpretação depende de uma controvérsia política – a única objeção à leitura moral é a de que ela ofende a democracia.

Qual é a alternativa?

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O debate constitucional deve voltar-se sobre o que é a

democracia.

Qual é a alternativa?

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Democracia significa governo do povo.

Objeto de profundas controvérsias.

Existência de uma disputa filosófica acerca do valor ou do objetivo fundamental da democracia.

Essa premissa majoritária deve ser aceita ou rejeitada?

A premissa majoritária

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A premissa majoritária é uma tese arespeito dos resultados justos de umprocesso político: insiste em que osprocedimentos políticos sejam projetados detal modo que, pelo menos nos assuntosimportantes, a decisão a que se chega sejaa decisão favorecida pela maioria doscidadãos ou por muitos deles.

A premissa majoritária

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A maior parte dos que defendem a premissa majoritária:

Aceitam que em certas ocasiões a vontade da maioria não deve dominar.

Concordam em que seu poder deve ser limitado para a proteção dos direitos individuais;

Aceitam como corretas algumas decisões da Suprema Corte que repudiaram leis populares.

A premissa majoritária

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Concepção constitucional da democracia – rejeita a premissa majoritária.

As decisões coletivas devem ser tomadas por instituições políticas cuja estrutura, composição e modo de operação dediquem a todos os membros da comunidade, enquanto indivíduos, a mesma consideração e o mesmo respeito.

A premissa majoritária

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Nesta concepção, a democracia é um governo sujeito às

condições (democráticas) de igualdade de status para todos

os cidadãos.

A premissa majoritária

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Numa democracia o governo é “feito pelo povo”.

O povo, em ação coletiva, faz certas coisas que nenhum indivíduo faz

ou pode fazer.

Nós, o povo

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Tipos de ação coletiva:

Estatística – os membros individuais do grupo agem sozinhos – sem pensar que estão agindo em grupo. Ex.: Transações em moeda.

Comunitária – os indivíduos agem juntos, como um conjunto – é um ato deles, enquanto grupo. Ex.: culpa coletiva.

Nós, o povo

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Interpretações da democracia:

Interpretação estatística – maioria ou pluralidade – de cidadãos individuais.

Interpretação comunitária – decisões políticas são tomadas por uma entidade distinta – o povo enquanto tal (ares de um perigoso totalitarismo).

Nós, o povo

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Perda ou comprometimento de uma virtude moral.

Qual é esse preço moral?

O que se perde ou se compromete?

Acaso o constitucionalismo põe em risco a liberdade?

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Tipos de liberdade:

Liberdade positiva – é a que vigora quando o “povo” controla aqueles que o governam. Autodeterminação.

Liberdade negativa - não-interferência do poder do Estado sobre as ações individuais, como a liberdade de expressão e de religião.

Acaso o constitucionalismo põe em risco a liberdade?

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O constitucionalismo protege as liberdades negativas à custa

da liberdade positiva da autodeterminação.

Acaso o constitucionalismo põe em risco a liberdade?

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Condições (democráticas) de participação moral

Condições estruturais –determinam o caráter que a comunidade como um todo. Processo histórico com fronteira territorial.

Condições de relação –como um indivíduo deve ser tratado por uma comunidade política verdadeira.

Acaso o constitucionalismo põe em risco a liberdade?

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O argumento da liberdade é o mais forte e o da igualdade o mais conhecido.

A dimensão de igualdade refere-se à igualdade política.

Igualdade?

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Majoritarismo;

Proteção da própria riqueza;

Desigualdade de riqueza;

Influência política;

Igualdade política.

Igualdade?

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Novo apelo dos adversários da leitura moral:

Enfraquece a noção de comunidade;

Participação como agentes morais;

Democracia deliberativa;

Discussão pública da justiça pelo legislativo.

Comunidade?

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Pressuposto impreciso:

Debate público prejudicado pela guerra política;

Adoção de soluções de meio-termo;

Discussão pública generalizada dos processos legais;

Revisão judicial das normas possibilita a deliberação republicana.

Comunidade?

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O ideal de comunidade não corrobora

a premissa majoritária nem refuta a leitura moral – não mais do que

a liberdade e a igualdade.

A premissa majoritária deve ser afastada e, com ela, a concepção majoritária de

democracia .

Comunidade?

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Cabe ao Poder Legislativo elaborar e aprovar as leis.

Contestação de leis que contrariam princípios constitucionais;

Cabe ao Judiciário a análise criteriosa do dispositivo.

A possibilidade de erro é simétrica.

E agora?

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A atitude de um tribunal ao derrubar uma lei vigente, por esta

ser inconstitucional, não é antidemocrática, pelo contrário, faz

prevalecer a democracia.

E agora?

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A leitura moral é compatível com as

condições democráticas.

Não se trata de fundar uma nova prática constitucional, mas de

interpretar uma já estabelecida.

E agora?

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A autoridade já foi distribuída pela história e os detalhes da

responsabilidade institucional dependem de uma interpretação e não

de uma criação a partir do nada.

E agora?

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As opiniões constitucionais são sensíveis às convicções políticas e é preciso saber se essa influência é indevida.

Os motivos reais das decisões ficam ocultos do debate público.

A leitura moral encoraja juristas e juízes a interpretar uma constituição abstrata à luz de sua concepção de justiça.

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“A Constituição é a vela moral do barco norte-americano e temos de nos ater à

coragem da convicção que enche essa vela:a convicção de que todos nós podemos ser cidadãos de uma república moral.

Trata-se de uma fé nobre, e só o otimismo pode fazê-la valer.”

Ronald Dworkin

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