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1
A LIBERTAÇÃO DO VENTRE ESCRAVO NO BRASIL: LEGISLATURA,
GÊNERO E MATERNIDADE NO DECLÍNIO DA ESCRAVIDÃO 1
Caroline Passarini Sousa2
A presente comunicação tem como objetivo refletir sobre algumas questões levantadas ao
longo do primeiro ano do mestrado: “A Lei do Ventre Livre e as representações da mulher negra no
século XIX’. A pesquisa consiste em analisar os projetos de emancipação que se debruçaram sobre o
ventre escravo e sua libertação como uma possível saída para a questão da escravidão e que foram,
em sua maioria, apresentados e discutidos na Câmara dos Deputados e no Senado ao longo do
século XIX. Por meio dos debates e longas discussões nas instâncias de poder, o Estado passou a
discutir a mulher escravizada, seu corpo e suas funções dentro do regime escravista, processo que se
intensificou no contexto de aprovação da Lei Rio Branco. Dessa forma, tomando como base os
debates sobre a política emancipacionista, ambiciona-se investigar as representações sobre a mulher
negra, sobretudo escravizada, no que diz respeito ao seu corpo, sexualidade e maternidade.
***
A Lei do Ventre Livre, aprovada em 28 de setembro de 1871, foi a primeira lei
emancipacionista no Brasil e marcou o início do processo que levaria ao fim da escravidão em
1888. Um de seus principais atos foi emancipar o ventre da mulher escravizada, que a partir de
então passou a gestar crianças de condição livre, os ingênuos, categoria que acabou conectando os
mundos da escravidão e da liberdade, uma vez que as crianças não herdavam a escravidão stricto
sensu, mas não eram juridicamente livres até completarem vinte e um anos. A lei quebra o princípio
romano do partus sequitur ventrem, vigente em grande parte das sociedades escravistas da américa,
no qual o status legal do indivíduo seguia o ventre e estabelecia a hereditariedade da condição
escrava, uma vez que a condição da mãe era passada aos filhos. Emancipar os ventres não era uma
1 Texto apresentado no 9º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Florianópolis (UFSC), de 14 a 18 de maio de 2019.
Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/ 2 Mestranda no Programa de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo (FFLCH /USP). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), sob
orientação da professora Maria Helena P.T Machado
2
medida inovadora, ‘leis de ventre livre’ já haviam sido implementadas em diversos lugares como a
Gran Colômbia em 1821, Chile em 1812, Portugal em 1773, e propostas por Abraham Lincoln nos
Estados Unidos.3
Diferentemente de lugares como os Estados Unidos e Caribe Inglês, onde a população
escravizada possuía uma taxa de crescimento vegetativo positiva, ou políticas de incentivo à
gravidez das cativas aconteciam, no Brasil a reposição da força de trabalho provinha
majoritariamente de africanos capturados e escravizados que chegavam em grande quantidade aos
portos brasileiros. Essa realidade foi absoluta até 1850, quando o comércio transatlântico se tornou
definitivamente ilegal, por isso até este momento é difícil afirmar que os proprietários se
preocupavam com a reprodução e fertilidade de suas cativas, principalmente em grandes
propriedades agrícolas. Levando em consideração a facilidade com que obtinham mão de obra
escravizada e a alta mortalidade infantil, maior entre a população escrava, é possível que os custos
para que uma criança escravizada nascesse e sobrevivesse fossem maiores, e do ponto de vista
econômico, adquirir um escravo em idade adulta fosse mais rentável para os proprietários.4
Na segunda metade do século XIX os proprietários precisaram encarar uma nova realidade
na qual lhes restaram duas opções, o tráfico interprovincial, em crescimento após 1850, ou o
incentivo à reprodução natural da população escravizada. Adentrando a década de 1860, junto ao
aumento do preço e a crescente concentração de escravos nas mão de poucos e abastados
proprietários, a escravidão sofre pressões e vai se tornando cada vez mais uma instituição
desacreditada internacionalmente, nesse contexto, a chamada ‘questão do elemento servil’ vai ser
colocada ao poucos na ordem do dia. Se antes uma mulher escravizada era supostamente tida como
menos produtiva na realização do trabalho durante a gravidez e após o parto, o fechamento do
tráfico e a reconfiguração da escravidão em seus últimos anos permite que lancemos um novo olhar
sobre a reprodução natural da população escravizada, numa perspectiva em que os proprietários
podem ter se voltado para essa questão, valorizando o nascimento de novos cativos.
3 COWLING, Camillia. Concebendo a Liberdade. Mulheres de cor, gênero e a abolição da escravidão nas cidades de
Havana Rio de Janeiro. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2018, p.113; CONRAD, Robert. Os últimos anos da
escravatura no Brasil, 1850-1888. São Paulo: Civilização Brasileira, 1975, p.91 4 ROTH, Cassia. “From free womb to criminalizaed woman: fertility control in Brazilian slavery and freedom”,
Londres, Slavery and Abolition, 2017.
3
Além de se isolar no cenário internacional como nação independente e escravista nas
Américas5, a pressão interna, fruto das experiências de luta judicial criada pelos próprios cativos,
também contribuiu para que a política em torno da escravidão avançasse, ainda que lentamente, em
direção à emancipação.6 A Lei do Ventre Livre é compreendida, portanto, como o ponto de chegada
de um longo processo no qual as possibilidades para realizar a emancipação dos escravizados
vinham sendo discutidas. Ainda que os debates tenham se intensificado e a questão tenha adquirido
força na agenda pública a partir de 1867, propostas diretamente relacionadas ao ventre escravo já
vinham sendo apresentadas desde os anos 18507.
Na primeira metade do século XIX, em 1823, José Bonifácio elaborou uma Representação à
Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura em que
defendia o fim da escravidão e propunha medidas que levavam em conta as mulheres escravizadas,
e seus filhos. Ciente das relações de proprietários com suas escravas, recomendou que os possíveis
filhos e suas mães fossem libertados, e que o pai/proprietário cuidasse da educação dessa criança até
os 15 anos de idade. Estando grávidas, ele propunha a extinção de serviços pesados para essas
mulheres no terceiro mês, seu recolhimento à casa no oitavo, e um mês de descanso após o parto8.
As mães não deveriam trabalhar longe dos filhos durante um ano, e tendo a mulher mais filhos,
passaria a ter tempos de descanso gradativamente maiores. Quando chegasse ao quinto filho, a
mulher cativa deveria ser libertada. A representação de Bonifácio pode ser entendida como o
primeiro projeto estruturado que levou em conta a condição das escravas em relação a sua
habilidade reprodutiva e seus filhos, com vistas à uma superação gradual da escravidão, ainda que
não seja uma proposta direta de libertação do ventre escravo.
Mesmo não sendo em absoluto uma novidade aos ouvidos dos representantes da nação, a
aprovação do ventre livre foi difícil, com debates acalorados e muita resistência. Como uma
instituição já desacreditada, a escravidão era de fato condenada por todos, e a emancipação tida
5 Cuba, ainda colônia, também permanecia sob o regime da escravidão. 6 PENA, Eduardo Spiller. Pajens da Casa Imperial-Jurisconsultos, escravidão e a lei de 1871. São Paulo: Editora da
UNICAMP, 2001. p.85 7 Como o Projeto do Deputado Silva Guimarães, apresentado em 1850 e em 1852; Projeto da Sociedade Contra o
Tráfico de Africanos também de 1852 8 SILVA, José Bonifácio de Andrada e. “Representação à Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do
Brasil”, Biblioteca do Senado Federal, 1978, p. 30-32
4
como uma questão de forma e oportunidade, usada para adiar sempre que possível sua discussão. O
Brasil nesse período poderia ser caracterizado como um país onde “(...) todos condenavam a
escravidão, mas quase ninguém queria dar um passo para viver sem ela (...)”9, ou seja, ninguém
defendia abertamente a escravidão, mas a todo momento obstáculos eram colocados para que ela
fosse verdadeiramente superada.
Em consonância com estudos que têm procurado particularizar e diferenciar as experiências
de mulheres dentro do regime escravista, o estudo da lei de 1871 numa perspectiva de gênero
importa por ser esse um momento catalisador em que o debate em torno de medidas
emancipacionistas por parte do Estado coloca a mulher negra cativa e sua habilidade reprodutiva
como elemento central, discutindo seu corpo como lugar privilegiado para iniciar um processo que
levasse ao fim da escravidão. A Lei Rio Branco, deste modo, marca a ‘descoberta’ e emergência da
mulher escravizada enquanto mãe10. Até então sua maternidade havia sido explorada de outras
formas, sobretudo na figura da ama de leite, que servindo aos filhos dos proprietários ou alugada
para terceiros, servia a uma criança que não seu filho. Sem deixar de lado os interesses políticos e
econômicos, é em meio a essa discussão, então, que a mulher escravizada começa a ser reconhecida
como mãe de sua própria prole.
Em 1865, Dom Pedro solicitou a Pimenta Bueno estudos preliminares e a elaboração de
propostas de ação legislativa para a emancipação dos escravos. Bueno elaborou cinco projetos,
dentre os quais constava a liberdade do ventre escravizado, em 1867 foram discutidos em sessões
do Conselho de Estado em 1867, onde os conselheiros sublinharam a questão da ‘oportunidade’
para que a medidas fossem tomadas. Nesse contexto a Guerra do Paraguai foi o alvo da discussão
sob a justificativa de que era preciso esperar o fim do conflito para que uma questão tão importante
como essa fosse discutida e definida. Apenas em 1870, com o fim do conflito, forma-se uma
comissão para formular um projeto sobre emancipação com base em estudos sobre projetos em
tramitação referentes à questão, trabalhos e memórias sobre o tema e experiências de outras nações
9 CHALHOUB, Sidney, Machado de Assis Historiador, São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.141 10GIACOMINI, Sonia Maria, “Mulher e Escrava. Uma introdução histórica ao estudo da mulher negra no Brasil”,
Petrópolis, RJ: Vozes, 1988 ABREU, Martha. “Slave Mothers and Freed Children: Emancipation and Female Space in
Debates on the ‘Free Womb’ Law. Rio de Janeiro, 1871”, In: Journal of Latin American Studies, Cambridge, v.28, n.9,
out.1996, p.567-580; COWLING, Camillia, op.cit., 2018.
5
em questão semelhante11. Em 1871, sob o comando do Visconde do Rio Branco o governo, através
do Conselho de Estado, apresenta ao legislativo uma proposta de emancipação gradual assentada na
libertação do ventre. Entre maio e setembro essa proposta é debatida pelos parlamentares na
Câmara e no Senado, resultando na Lei do Ventre Livre.
Parecer na Câmara dos Deputados
A comissão da Câmara dos Deputados, que havia sido encarregada de examinar o projeto
encaminhado pelo governo, depois de alguns meses de trabalho apresentou um parecer abertamente
favorável à sua adoção, em sessão do dia 30 de junho de 1871.12 O extenso parecer levou em
consideração e comentou propostas encaminhadas anteriormente no parlamento, na imprensa, livros
e projetos avulsos, e comentou algumas propostas específicas, como a libertação do ventre. Os
parlamentares debateram e votaram cada artigo do projeto nos dois meses seguintes.
O parecer fornece algumas pistas daquilo que fora incansavelmente discutido entre os
parlamentares por meses, talvez anos, e traz o retrato das populações escravizadas segundo as
representações dos homens da elite imperial, preocupados com a formação de uma nação, a
transição do trabalho, e a estabilidade da família. Com argumentos já conhecidos que condenavam a
escravidão, o texto expõe a questão do ‘direito natural’, reconhecendo a igualdade entre os homens
e o nascimento da instituição escravista como um abuso de força. Acaba assim atacando o problema
dos limites da propriedade e a ilusão do direito de um homem ter posse sobre outro, sem
desrespeitar totalmente aquilo que o abuso criou“(...)Convém acabar com a instituição da
escravidão. Importa respeitar os interesses dos senhores dos atuais cativos, e não menos velar pela
sorte destes (...)”13. Segundo o parecer, o maior culpado pela escravidão era o próprio Estado, que
permitiu seu estabelecimento, e por isso os senhores não deveriam ser responsabilizados e punidos.
11 Cuba em 1870 aprova a Lei Moret, muito semelhante a Lei Rio Branco 12 O parecer completo está disponível nos Anais da Câmara dos Deputados em:
http://imagem.camara.gov.br/diarios.asp?selCodColecaoCsv=A, e SENADO FEDERAL. A abolição no parlamento: 65
anos de luta. 2° ed. Vol. 01. Brasília: Secretaria de Editoração e Publicações (SEEP), 2012. Uma compilação de
trabalhos debatidos no parlamento que propunham restringir e abolir a escravidão publicada pelo Senado Federal. 13 Anais da Câmara dos Deputados, tomo II, p.223
6
Mulher escravizada: família e maternidade
As questões relacionadas às mulheres escravizadas aparecem quando a comissão passa a
comentar projetos específicos de emancipação, avaliando se estes são dignos ou não de
implementação, até chegar na libertação do ventre escravo. O projeto de Libertação das escravas,
jazendo os homens no cativeiro, foi avaliado como absurdo, levando em consideração que a mulher
escravizada podia ser compreendida tanto como instrumento de trabalho, quanto um meio de
reprodução, a proposta de libertar o ventre já resolveria o problema, acabando com o “hediondo”
princípio do partus sequitur ventrem. Buscando extinguir o estigma de cor, segundo o parecer, se
estabeleceria com este projeto o privilégio do sexo, criando uma nova distinção de classe de
senhoras pretas e escravos pretos.14 Ao invés de incentivar a família, essa medida a destruiria:
“(...) voltaríamos a pirâmide de ponta para baixo, inverteríamos todas as ideias recebidas; colocaríamos o
sexo masculino, só porque é masculino, em condição de inferioridade! Quando almejamos por animar a
constituição da família, iriamos tremendamente estorvá-la, pois que a mulher libertada repugnaria dar a
mão ao seu antigo parceiro (...) Ao passo que a legislação estabelece que o varão é o administrador, e cabeça
do casal, e não a mulher; fundariámosuma legislação especial, decretando que passasse aquela administração
para o ente fraco e impróprio, para a mulher, a cujo o aceno o varão se curvasse.” 15[Grifo nosso]
Segundo a comissão responsável, libertar apenas mulheres escravizadas acarretaria uma
importante fissura na possibilidade de constituição dessa família, uma indesejada inversão nas
funções desempenhadas por cada sexo dentro do ambiente familiar, porque a esposa se sentiria
superior ao seu parceiro, ela ascenderia socialmente enquanto o marido permaneceria escravo, e
isso inverteria as ideias estabelecidas, alterando a ordem da casa e a hierarquia entre os sexos. A
mulher, “(...) ente fraco e impróprio (...)” não poderia, ou deveria segundo as concepções aqui
determinadas, ser uma “administradora”, provavelmente do lar e da família. Além disso,
“Violar-se-iam as leis divinas e humanas, que vedam a separação dos cônjuges; rasgar-se-iam afeições,
que adoçam o mesquinho viver do escravo, assim levado ao desespero; centuplicar-se-iam os elementos de
insubordinação”16 [Grifo nosso]
14 ACD, tomo II, p.224 15 Ibid. p.224 16 Ibid. p.224
7
A existência da família escrava seria, portanto, o elemento de abrandamento da escravidão,
algo que ainda permitia que a instituição não ruísse, contendo os elementos de insubordinação.
Dessa forma, libertar apenas mulheres incitaria insatisfação no seio da família separada. A defesa da
família e dos papeis de mulheres e homens dentro de um modelo tradicional e heteronormativo de
família são elementos, por assim dizer, de uma ideia de controle social, tanto do escravizados, que
temem a separação, quanto dos livres e libertos, fundamentado nas funções distintas e hierarquia
entre os sexos.
Passando então para a proposta de Liberdade do Ventre, a comissão considerou a liberdade
do ventre fundamental, eficaz e decisiva, prestando sua inteira adesão. Para referendar a proposta,
exibe um histórico de momentos e projetos que já haviam tratado do assunto, para então afirmar que
a adoção dessa medida era a opinião da maioria dos estadistas. Em seguida o parecer comenta
alguns argumentos contrários à proposta para refutá-los. Um dos argumentos mais usados foi o de
que os ‘frutos’ dessas mulheres, tal qual de uma árvore, pertenceriam ao proprietário da árvore e da
escravizada, e, dessa forma, o Estado não poderia dispor de algo que não lhe pertence. Ao que a
comissão responde lançando mão do direito natural e da artificialidade da instituição:
“Não sendo esta instituição fundada em direito natural, mas só criada artificialmente pela lei, pode a todo
tempo ser modificada pela mesma lei. A emancipação, como diz o autor, não é a privação do direito de
propriedade; ao contrário, é a negação dele. Todos os andaimes da construção fantástica eram ficções (...)17.
[Grifo nosso]
Em seguida, são rebatidas reflexões antecipadas do que poderia acontecer após a libertação
do ventre, especificamente suposições sobre o comportamento e reação das escravizadas ao ver seus
filhos livres, permanecendo elas sob o jugo do cativeiro.
“Diz-se: “Esses nascituros serão vítimas do ódio das mães, pelas desigualdades das condições; da malevolência
dos senhores, pela lesão dos seus interesses”. (...) As mães – que ideia formam da mais santa das afeições! A
mulher, feliz e orgulhosa de ter dado à luz um ser igual ao seu ser, enamorada da sua obra, que prefere a todas
as obras da criação, heroína de afeto, capaz de dedicação sem termo, de coragem, de sacrifícios, a que o
homem com todo o seu orgulho se não abalançaria, mulher-mãe, invejosa, inimiga de seu filho! Por mais que
exagereis o embrutecimento da escrava, podereis disputar-lhe a instrução, mas não denegar-lhe os
instintos que a natureza amante derramou no seio de todas as mulheres”18[Grifo nosso]
17 Ibid. p.227-228 18 Ibid. p.228
8
Segundo a comissão, os argumentos da oposição foram de que as crianças nascidas livres
das escravas - ingênuos - seriam vítimas do ódio de suas mães, fruto da desigualdade entre um e
outro, a criança livre e a mãe cativa. Para refutar tais ideias, o parecer lança mão de representações
do amor materno “(...) a mais santa das afeições (...)”, defendendo que ao contrário, as mulheres
escravizadas ficariam orgulhosas de seus filhos livres, porque as mães são capazes de sentimentos e
sacrifícios que os homens dotados de orgulho não são capazes. Lançam mão da representação do
ideal de mãe, santa e angelical, algo que costumeiramente não seria estendido às mulheres negras
escravizadas. Ao fim, para negar as acusações de ódio que poderia acometer as escravizadas temos
um alerta para que não se ‘embruteça’ demais essa mulher porque não é possível tirar dela instintos
que a natureza derramou no “seio de todas as mulheres”. A novidade, apesar das representações
típicas do gênero feminino do século XIX, é estender esse ‘padrão’ e os sentimentos angelicais de
uma mãe, à mãe escravizada, ainda que ela seja embrutecida pela escravidão.
Para os opositores, o infanticídio também era uma das possibilidades de ‘ação’ por parte das
cativas, com inveja da condição de seus filhos.
“ (...) pretendeis acaso converter aqueles prodígios de materno amor em transportes de odioso ciúme, quando
se trata da mulher liberta ou escrava? Porque tanto deprimis até a sua própria natureza? Que dados tendes
para supô-la uma infanticida, não por ver seu filho nascer na escravidão, mas por inveja de sua mesma
prole? O que a observação entre nós vos diz é exatamente o contrário: nessa classe, e por causa mesmo da
triste instituição, é o desvairado excesso de amor materno que tem produzido inúmeros infanticídios: a escrava
mata o filho, antes de nascer, ao nascer, ou no berço, para o poupar à sorte miseranda que o aguarda;
mata o escravo querido, para lhe dar a única alforria a que pode aspirar.” 19[Grifo nosso]
Nesse trecho, novamente argumentos em prol do amor materno, naturalizado, são colocados
para questionar e sustentar a ideia de que o infanticídio era, na verdade, uma decisão tomada por
mães desesperadas que esperavam livrar seus filhos dos males do cativeiro, preferindo vê-los
mortos ao invés de condenados a uma vida de escravidão. Essa medida desesperada poderia ser
entendida como um ato desmedido de amor. Segundo o parecer, a situação após a libertação do
ventre seria outra, porque as mães, ao contrário, amariam mais a vida agora que seus filhos seriam
livres, elas trabalhariam mais, melhor e mais satisfeitas.
Negar a existência do amor materno a essas mulheres seria, segundo a comissão, negar a
própria sociedade, uma vez que a sociedade se assenta na família, e a família no amor materno.
19 Ibid. p.228
9
Supostamente esses homens estão apostando no núcleo familiar como embrião dos novos cidadãos,
da nação. Subjetivamente é possível observar concepções da mulher escravizada como aquela que
vai gerar homens livres, para formar um corpo social após a escravidão. Para justificar a
permanência da criança com os proprietários das mães, o parecer alega que um recém-nascido não
deve ficar longe da mãe durante a infância, e em consequência disso, sendo a mãe ainda
propriedade de alguém, essa criança deve ficar sob os cuidados dessa mesma pessoa. A separação
entre mães e filhos é vista de maneira negativa.
“A sociedade inteira se assenta na família; a família no amor materno; se deste arrenegais, cautela, que
arrenegais a sociedade! (...) a mãe natural tem de ser, por certo lapso de tempo, mãe civil. Se na infância
se não deve arrancar o recém-nascido a quem o gerou, se a mãe pertence ao senhor, não pode este novo
ente deixar de ficar em poder e sob autoridade desse mesmo senhor”.20 [Grifo nosso]
Para finalizar a análise da proposta de emancipação do ventre escravo, o texto fala das
responsabilidades do proprietário em função da posse desse ingênuo até que ele complete oito anos.
A indenização pela tutela material por parte do Estado, segundo o documento, seria uma retribuição
ao senhor pelo tratamento nos primeiros anos, dessa forma se conciliaram os interesses dos homens
livres, das mães escravas, e de seus donos, tutores das crianças. Possivelmente para esses homens o
interesse da mãe seria apenas não se separar de seus filhos ou não os ver nascerem cativos. No
entanto, essa obrigação de cuidados e permanência da criança próxima da mãe só é garantida até os
oito anos de idade, quando então cabe ao senhor a decisão sobre seus destinos, conforme o texto
oficial da lei.
“A este incumbe a sociedade do cuidado de o criar e tratar nos anos tenros; mas (se para paga lhe não basta a
recompensa com que a caridade permeia ao próprio que a pratica) consente o Estado em remunerá-lo da tutela
material, e largamente, deixando-lhe a opção entre receber 600$, preço superior ao valor usual do escravo de
oito anos, ou utilizar-se dos seus serviços até perfazer os 21. Eis aí como se respeita o direito do senhor, não à
pessoa que está fora de causa, à retribuição pelo tratamento nos primeiros anos; eis aí como se conciliam,
quanto possível, os interesses do homem livre, da mãe escrava, e do dono desta, tutor daquele.”. 21[Grifo
nosso]
A Lei do Ventre Livre
Se o parecer apresenta indícios do que foram os debates em torno da questão da
emancipação, o texto da lei transmite mensagens diretas. A Lei nº 2.040 de 28 de setembro de 1871,
20 Ibid. p.228 21 Ibid. p.228
10
Lei do Ventre Livre, em seu primeiro artigo, declara de condição livre os filhos de escravas
nascidos a partir da sua data22, condição que por si só expressa uma ambiguidade e que foi alvo de
intensa discussão nas instâncias de poder porque denominá-los ‘livres’ os tornaria sujeitos de
direitos políticos, enquanto declará-los libertos não soava como um avanço. Apesar de almejar a
transição do sistema escravista para o trabalho livre e a formação da nação, as elites ainda
enxergavam essas populações recém libertas como elementos perigosos que precisavam ser
tutelados, como acontecerá de fato com esses ingênuos. O mesmo artigo estabelece que:
“§1. Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais
terão obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a esta
idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se
dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No primeiro caso, o Governo receberá o menor, e
lhe dará destino, em conformidade da presente lei. A indenização pecuniária acima fixada será paga em títulos
de renda com o juro anual de 6%, os quais se considerarão extintos no fim de 30 anos. A declaração do senhor
deverá ser feita dentro de 30 dias, a contar daqueles em que o menor chegar á idade de oito ano e, se a não fizer
então, ficará entendido que opta pelo arbítrio de utilizar-se dos serviços do mesmo menor”23[Grifo nosso]
Logo em seu primeiro parágrafo, a despeito da defesa da família e da maternidade dessa
mulher, a lei estabelece que o único responsável pela criança é o senhor, que é obrigado a cuidar e
tratar delas até os oito anos. Apesar de discutir os papéis da mulher e reconhecer de alguma forma o
direito a essa maternidade que por muito tempo foi silenciada, o Estado não dá, de fato, qualquer
suporte para que ela se concretize, as decisões sobre o destino de mães e filhos está completamente
concentrado nas mãos do proprietário, reforçando laços patriarcais já existentes. A decisão de
permanecer com as crianças, para além do seus serviços e lucro, pode se ligar a uma série de
pressões e ameaças para essas mães. A permanência da criança com o proprietário de suas mães não
garante necessariamente a proximidade e criação dos filhos, por outro lado, caso abra mão dos
serviços dos ingênuos, senhor e Estado alicerçam as bases da separação da chamada família
escrava. Tomada essa decisão, as crianças deveriam ser entregues a associações, que deveriam ser
criadas pelo Estado, que deveria cuidar delas, ou particulares, ambos com direito de usufruir de seus
serviços ou alugá-los.
22 Lei nº 2.040 de 28 de setembro de 1871 – Lei do Ventre Livre, em Coleção de Leis do Império do Brasil 1871, Vol.1 23 Artigo n.1, Lei nº 2.040 de 28 de setembro de 1871 – Lei do Ventre Livre, Coleção das leis do império do Brasil,
1871. Vol.1
11
A única possibilidade que a lei abre para que a mulher escravizada permaneça em absoluto
com seus filhos é se ela obtiver a liberdade antes da criança completar oito anos, se a criança
ultrapassar essa idade, tem que servir ao ex-proprietário de sua mãe, instituições ou particulares que
tenham direito a usufruir de seus serviços até os vinte e um anos. Os menores têm a chance de se
verem livres dos serviços, como estipulado pelo artigo n.2:
§ 2º Qualquer desses menores poderá remir-se do onus de servir, mediante prévia indemnização pecuniaria,
que por si ou por outrem offereça ao senhor de sua mãi, procedendo-se á avaliação dos serviços pelo tempo
que lhe restar a preencher, se não houver accôrdo sobre o quantum da mesma indemnização. [grifo nosso]
A condição para ‘remir-se do ônus de servir’ é bem clara, e semelhante à compra da alforria
por parte dos escravizados durante toda a escravidão. Se a mãe não se libertar antes do filho
completar oito anos, é obrigada a pagar a sua liberdade e a ‘indenização’ da criança, sem grandes
diferenças ao que acontecia anteriormente, a mudança supostamente instaurada é de que mãe e
filhos teriam a partir de então o respaldo da lei para isso. Além de não priorizar de fato a liberdade
dessas crianças, a lei não ampara minimamente essas mães, que novamente como em todo o período
escravista, estão sozinhas na empreitada de libertar a si e aos seus. Existe, assim, um reforço dos
laços e abusos advindos das relações entre senhores e escravos, e a regulamentação de uma nova
força de trabalho a ser arregimentada: os ingênuos.
Em outros aspectos, a lei acaba abalando o poder absoluto dos senhores. Ela reconheceu ao
escravizado o direito de formar pecúlio para compra de sua liberdade, consagrando uma questão - a
alforria - que o costume já há muito havia instituído e agora era respaldada pela lei. A partir de
então os escravos que tivessem quantia necessária para a compra de sua liberdade não dependiam
mais da ‘boa vontade’ dos proprietários, e caso houvesse discordância sobre o valor entre as duas
partes, o Estado julgaria a questão.
O artigo n. 3 tem como objetivo instituir um Fundo de Emancipação através do qual
deveriam ser libertados “(...) tantos escravos quantos corresponderem à quota anualmente
disponível do fundo destinado para a emancipação (...)”24, e estabelecer regras de classificação
24 Artigo n.3 Lei nº 2.040 de 28 de setembro de 1871 – Lei do Ventre Livre, Coleção das leis do império do Brasil,
1871. Vol.1
12
para que os cativos obtivessem a liberdade.25 Priorizava-se em primeiro lugar famílias que fossem
de proprietários diferentes, com filhos livres, ou filhos escravizados menores, e mães com filhos
menores cativos. Considerando que apesar de existirem núcleos familiares de escravos, a
dificuldade para sua formação durante a escravidão foi grande, podemos constatar uma tendência a
libertar mais mulheres, e acima de tudo, mulheres com filhos26. Em relação aos indivíduos, a
prioridade eram mães ou pais com filhos livres, e depois entre a faixa de 12 e 50 anos, pessoas mais
jovens do sexo feminino27. A prioridade em libertar mulheres foi relativamente comum entre as
sociedades antiescravistas já na primeira metade do século XIX e senhores que alforriavam mais
mulheres do que homens.
Muitos estudos têm evidenciado que, após a libertação do ventre em 1871, cresceu em
diversas localidades o número de processos de tutela encabeçados por ex-senhores que tiveram suas
cativas libertas, com seu consentimento ou à sua revelia, e desejavam então ser tutores -
responsáveis legais - dos filhos dessas mulheres. A tutela teve como fim a arregimentação da mão
de obra infantil de forma gratuita e ilegal, e muitas vezes objetivava também a coerção do trabalho
das mães dessas crianças, que para evitar o afastamento dos filhos acabavam se submetendo a novas
relações de dependência com os antigos proprietários, ou pessoas que desejassem seus serviços,
perpetuando condições muito semelhantes à da escravidão sobretudo no ambiente doméstico.
Os argumentos dos que solicitaram as tutelas recaíram principalmente na suposta
incapacidade financeira daquelas mulheres de serem mães, já que a maioria era egressa da
escravidão e não teria condição de prover a si e aos filhos; ou pela sua moral materna, ideia
construída a partir de representações depreciativas sobre mulheres pobres e negras. Ocasionalmente
representadas como bêbadas e de moral duvidosa, essas mulheres tiveram seus filhos mandados
para casas de “boas famílias” - que por vezes eram as dos antigos proprietários de suas mães -, que
25 Decreto nº 5135 – de 13 de novembro de 1872, artigo 27, em Coleção das leis do império do Brasil, Vol.2 pt. II 26COWLING, Camillia, CASTILHO, Celso. “Bancando a Liberdade, Popularizando a Política: Abolicionismo e
Fundos Locais de Emancipação na Década de 1880 no Brasil”. In: Afro-Ásia, 47 (2013), 2013. 27Decreto no 5.135, de 28 de novembro de 1872, artigos 24 a 26.
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supostamente por caridade e bons sentimentos se dispuseram a ‘cuidar’ das crianças,
arregimentando sua mão de obra.28
O texto da lei, que omite qualquer poder das mães em relação aos filhos, e a prática posterior
ao ventre livre e à abolição de deslegitimar moralmente essas mulheres entregando seus filhos para
terceiros, colide frontalmente com os argumentos anteriormente usados pelos mesmos homens
ilustrados e abastados financeiramente durante os debates de 1871 sobre os direitos maternos das
escravizadas29, deixando transparecer seus interesses muito maiores sobre a mão de obra e tutela
dos ingênuos, do que verdadeiramente uma defesa à maternidade e constituição das famílias. Por
certo, a compreensão desses homens de elite sobre a família restrita, nuclear e chefiada por
necessariamente por um homem, impeça o reconhecimento do protagonismo dessas mulheres
negras, pobres, livres e libertas que trabalhavam duro, provendo seus filhos e chefiando seus lares,
fugindo de concepções e padrões idealizados de mulheres30, sobretudo mulheres brancas das classes
mais abastadas.
Podemos afirmar que a imagem construída e o entendimento que se tem da mulher cativa é
um tema que sempre esteve presente na sociedade brasileira. Por todo o tempo em que vigeu a
escravidão no Brasil é possível constatar uma tendência generalizada em alforriar as mulheres, a
perspectiva do gênero dentro dos projetos e debates permite incorporar uma série de discussões
sobre essas mulheres, como sua autonomia, a compra de alforria, a formação de famílias por elas
28Trabalhos sobre a condição dos ingênuos e tutelas: ARIZA, Marília Bueno de Araújo. Mães infames, rebentos
venturosos: Mulheres e crianças, trabalho e emancipação em São Paulo (século XIX). Tese de doutoramento. FFLCH-
USP. São Paulo, 2017; PAPALI, Maria Aparecida C.R. Escravos, libertos e órfãos: a construção da liberdade em
Taubaté (1871-1895). São Paulo: Annablume/Fapesp, 2003; PORTELA, Daniela Fagundes. Iniciativas de atendimento
para crianças negras na província de São Paulo (1871-1888). Dissertação de mestrado, FE-USP, 2012; URRUZOLA,
Patrícia. Faces da Liberdade Tutelada: libertas e ingênuos na última década da escravidão (Rio de Janeiro, 1880-
1890). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014; ZERO, Aretha Helena. O Preço da
Liberdade: caminhos da infância tutelada - Rio Claro (1871-1888). Dissertação de Mestrado - Instituto de Economia.
Universidade Estadual de Campinas, 2004. 29 Os proprietários evocam os direitos maternos das escravas para atacar a proposta de libertação do ventre que seria
responsável pela separação entre mãe e filhos, ver: ABREU, Martha. “Slave Mothers and Freed Children:
Emancipation and Female Space in Debates on the ‘Free Womb’ Law. Rio de Janeiro, 1871”, in: Journal of Latin
American Studies, Cambridge, v.28, n.9, out.1996, p.567-580. 30 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e Poder em São Paulo do Século XIX. São Paulo: Editora Brasiliense,
1995.
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chefiadas, a união com homens brancos, a geração de cidadãos livres, etc, e compreender a
importância de sua figura para a abolição da escravidão do Brasil.
Fontes
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do Poder Executivo que tratava da questão servil. (ACD, T. II, pp. 220-234) disponível em
http://imagem.camara.gov.br/diarios.asp?selCodColecaoCsv=A
SILVA, José Bonifácio de Andrada e. “Representação à Assembléia Geral Constituinte e
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Bibliografia
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online), Rio de Janeiro, v.22, n.41, set/dez.2016, p.467-487.
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trabalho e emancipação em São Paulo (século XIX). Tese de doutoramento. FFLCH-USP. São
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