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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 109 - Mai/19 A Maçonaria e a

A Maçonaria e a - Re vista Arte Real · a relação da maçonaria com a comunidade negra. A instituição dos pedreiros-livres teve (e tem) grandes quadros negros. Ela organizou

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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 109 - Mai/19

A Maçonaria e a

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A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

www.revistaartereal.com.br - [email protected] - Facebook RevistaArteReal - (35) 99198-7175 Whats App.

EditorialMaio é um mês marcado por diversas

comemorações significantes, em especial, o Dia das Mães, em que, tradicionalmente, no segundo domingo deste mês, as famílias reúnem-se em seus lares para homenagear aquela que nos deu o direito à vida! O Dia das Mães, em verdade é comemorado no dia 13, em diversas partes do mundo, sendo adotado comercialmente no Brasil, no segundo domingo.

Esse mês já começa com uma justa homenagem a todos os trabalhadores, no primeiro dia, embora os “Garis” e os “Trabalhadores Rurais”, dentre outras profissões, tenham dias específicos, em maio.

Especificamente, no dia 13 de maio, além do “Dia das Mães”, também é comemorado o “Dia da Fraternidade Brasileira”, data em que é reservada à celebração de um dos valores mais importantes para manter a união e paz numa sociedade. Criado no período da Quaresma, no ano de 1961, na “Campanha da Fraternidade”, pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil -CNBB, por três padres, responsáveis pela “Cáritas Brasileira” - uma organização humanitária da Igreja Católica.

Sendo um dos conceitos que compõe a “Trilogia Maçônica”, a ideia da fraternidade está baseada no conceito de que todos os seres humanos são iguais e, neste sentido, devem ser tratados igualmente com dignidade e respeito. Assim, a fraternidade faz com que todos os seres humanos sejam igualados ao status de irmãos, devendo possuir direitos iguais, independente da orientação sexual, etnia, religião ou classe econômica.

Dentro deste escopo, o dia 13 de maio se destaca, por ter sido, também, neste dia, em 1888, ainda que tardiamente, proclamada a “Abolição da Escravatura no Brasil”, através da Lei Áurea, pondo “fim” a um dos episódios dos mais cruéis da história da humanidade.

Tal dia se apresenta em meio a outras tantas curiosidades e coincidências, se pudermos assim tratar. Para tanto, através da matéria, de nossa autoria, já publicada nesta Revista e em outros periódicos, intitulada “Uma Visão Oculta do Dia 13 de Maio”, convidamos a todos a uma profunda reflexão.

O temário desta edição, também, busca tratar e exaltar o hercúleo trabalho dos abolicionistas, contra a desigualdade de raças. Queremos exaltar o hercúleo trabalho de certos maçons, muitos negros livres, que se impuseram ao sistema e organizaram revoltas, rebeliões, criaram sociedades secretas, a exemplo dos “Caifazes”, e conseguiram minar a resistência escravocrata. Vale, ainda, aqui citar “A Guerra do Paraguai, quando os negros, convocados a lutar pelo Brasil, destacaram-se por sua bravura no campo de batalha, ao ponto dos oficiais do Exército Brasileiro, a partir de então, negar-se a perseguir os escravos fugitivos.

Ainda, hoje, 131 anos depois da abolição da escravidão no Brasil, os negros são sub-representados em diversas instituições importantes da sociedade, sendo, também, as maiores vítimas do desemprego ou do subemprego, da violência criminal e urbana.

Que se faça valer, “in totum”, a trilogia maçônica – Liberdade – Igualdade – Fraternidade.

Temos um novo encontro na próxima edição!

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Maçons Negros

Uma Agenda Perdida!Carlos Nobre & Mauro Justino

Um dos capítulos memoráveis da história brasileira é a relação da maçonaria com a comunidade negra. A instituição dos pedreiros-livres teve (e tem) grandes

quadros negros. Ela organizou a luta pela libertação do país em diversos momentos históricos – desde fins do século XVII, quando chegou ao Brasil - e se fortaleceu institucionalmente ao lutar por mais de 50 anos pela libertação dos escravos. Este ano, a lei que libertou os escravos completa 131 anos de existência, após ser assinada pela princesa Isabel, sob influência dos ministros maçons, de um Império já enfraquecido pelo ideário republicano.

Para se ter uma ideia, o famoso trio abolicionista do século XIX - os mulatos André Rebouças, José do Patrocínio e Luiz Gama - era composto de maçons em lojas cariocas e paulistas. Foram eles que fundamentaram a cultura da libertação dos negros através de artigos, manifestos, atos públicos, conquista de adeptos para a causa e com discursos inflamados país afora. Com apoio maçônico, o trio afrodescendente ligou seus nomes, definitivamente, à causa da libertação negra. Essa luta contou com a participação, na época, de quase todas as lojas maçônicas espalhadas pelo país.

Considerado um dos pioneiros da engenharia brasileira, Rebouças foi um dos maiores panfletários da causa negra, na antiga Escola de Engenharia do Largo do São Francisco, e criador de vários jornais abolicionistas. No mesmo ritmo de Rebouças, o jornalista José do Patrocínio percorria o país conclamando os irmãos maçons a aderirem à causa da libertação. Já o advogado Luiz Gama, filho de Luiza Mahin, uma das líderes femininas da Revolta dos Negros Islamizados de Salvador, escrevia poesias e discursos de forte impacto para fortalecer a causa da libertação.

Tido como mulato, o advogado Rui Barbosa foi acusado de ter ordenado a queima de documentos

referentes às origens dos escravos no Brasil, dificultando, com isso, a recuperação da identidade afro-brasileira. Barbosa, no entanto, como maçom da Loja América de São Paulo, talvez tenha produzido um dos documentos mais percucientes do movimento abolicionista. Em 7 de julho de 1868, segundo Tenório de Albuquerque, na Loja América, onde, também, pontificou Luiz Gama, Barbosa leu o seu Projeto de Abolição, cuja cópia foi reproduzida em suas obras completas.

Esse projeto, entre outras medidas, previa que: 1) a maçonaria, dali por diante, deveria lutar pela emancipação do escravo e criar meios para educá-lo para novas tarefas em nova sociedade, de fundo capitalista, onde o trabalho era assalariado e não escravo; 2) todas as lojas maçônicas atuais e futuras não receberiam tal título se não adotassem a luta pela emancipação dos escravos; 3) todas as lojas deveriam criar um fundo especial para comprar alforrias de crianças escravas, e mesmo de adultos; 4) todas as lojas deveriam criar escolas diurnas e noturnas para a educação

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dos ex-escravos, como forma de reparação pelo crime do escravismo; 5) a partir daquele momento, ninguém seria iniciado na ordem se tivesse escravos ou ligação com os traficantes.

Divulgado em outras lojas, o Projeto de Abolição de Rui Barbosa acabou influenciando as demais unidades maçônicas espalhadas pelo Brasil. No Amazonas, a maçonaria comprou um jornal, assumiu sua direção e passou a veicular a luta abolicionista através de artigos e estudos. No Ceará, o, então, governador maçom Sátiro Dias assinou decreto extinguindo a escravidão naquele estado, em 1884. Era o primeiro estado brasileiro a libertar os negros quatro anos antes da Lei Áurea, que acabou sendo decretada a 13 de maio de 1888, após intenso trabalho dos abolicionistas.

Uma das indagações mais intrigantes, hoje, é saber por que não vingou a agenda reformista dos maçons negros e de outros abolicionistas na sociedade brasileira - isto é,

por que não houve a reforma social prevista por Barbosa, Rebouças, Gama, Patrocínio, Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno, Eusébio de Queiroz e outros nomes de destaque das lutas sociais do século XIX.

Todos esperavam que após 1888, o Estado brasileiro iria implementar as políticas previstas pelo movimento abolicionista, mas o que foi implantado diferiu completamente do estabelecido na agenda dos maçons negros. Passados 131 anos da libertação, a situação da comunidade negra permanece inalterada. A agenda dos maçons negros foi perdida, e urge reencontrá-la. Essa agenda pedia que fossem implementadas para o ex-escravo a reforma agrária, educação integral, criação de centros de saúde, políticas especiais para crianças, qualificação da mão-de-obra, desenvolvimento comunitário - reivindicações tão comuns, hoje, que parece fora de foco retomar a discussão dessas antigas pautas reformistas que vivem nos assustando.

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Movimento Abolicionista dos Caifazes

Tales dos Santos Pinto

Durante a década de 1880, a luta pelo fim da abolição conheceu certa radicalização de alguns de seus setores, conformando o que viria a ser

conhecido como movimento abolicionista popular. Apoiando as fugas em massa e as rebeliões de escravos nas fazendas, essa vertente do movimento abolicionista aproximava-se das ações autônomas desenvolvidas pelos cativos, fortalecendo a luta contra a escravidão no Brasil.

Após a morte em 24 de agosto de 1882 do nosso Irmão, advogado negro, Luiz Pinto da Gama, em São Paulo – cujo sepultamento fora acompanhado por cerca de 3 mil pessoas numa cidade que, na época, tinha 46 mil habitantes – o promotor de justiça e depois juiz, o maçom Antônio Bento, formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco de São Paulo, jurou diante do túmulo de Gama em continuar sua obra abolicionista.

Para tal empreitada, ele organizou uma sociedade secreta chamada “Os Caifazes”, cujos membros eram recrutados em todas as camadas sociais e nas três principais lojas maçônicas de São Paulo: “América”, “Piratininga” e “Amizade”. Essa sociedade retirava, a força, das fazendas paulistas, os escravos e os encaminhava para o Quilombo de Jabaquara, em Santos, ou, então, para quilombos do Rio de Janeiro (Castellani: 1998).

O nome Caifazes foi inspirado em uma passagem do evangelho de São João (Jo. 11,50) em que sentencia Caifás: “Vós nada sabeis, nem compreendeis que convém que um homem morra pelo povo, para que o povo todo não pereça? E entregou Jesus a Pilatos”. A

eficácia do movimento foi tão grande que a maioria das cidades paulistas já haviam decretado a libertação dos escravos negros antes da Lei Áurea de 1888.

Os Caifazes constituíram uma das vertentes mais radicalizadas do movimento abolicionista, aproximando-se e apoiando as fugas dos escravos. O Movimento dos Caifazes foi organizado por Antônio Bento de Souza e Castro, advogado, juiz e maçom no bojo do movimento abolicionista paulista. Eles organizavam fugas coletivas no final do século XIX, ou “roubavam os escravos de seus senhores” para enviá-los ao quilombo do Jabaquara, na cidade de Santos e de lá para a província do Ceará, que já decretara a igualdade racial. O movimento de libertação dos escravos paulista surgiu com o maçom e poeta Luís Gama e, após sua morte, Antônio Bento assumiu a liderança do movimento.

Um desses grupos que ganharam destaque foi o dos Caifazes. Formado inicialmente por Antônio Bento de Souza e Castro (1843-1898), o grupo expandiu-se

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entre os setores populares da sociedade paulista na década final do Império, criando uma extensa rede de solidariedade à luta dos escravos.

Antônio Bento era membro de uma família abastada da sociedade paulista e formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo. Foi ainda delegado, promotor e juiz, mas acabou, com sua atuação, criando vários desentendimentos com os proprietários de escravos, já que favorecia os escravos. Um exemplo eram as ações judiciais em que Bento indicava abolicionistas para determinar o valor de alforrias, o que tornava o preço baixo e acessível aos escravos, ou mesmo com os despachos em que apontava a ilegalidade de manter no cativeiro escravos ingressados no país em 1831 e 1850. Posteriormente, Antônio Bento tornou-se jornalista, com o jornal A Redenção, divulgando os posicionamentos abolicionistas.

Um dos locais em que o grupo se organizava era a irmandade católica de Nossa Senhora dos Remédios. Os caifazes eram formados principalmente por tipógrafos, artesãos, pequenos comerciantes e ex-escravos. A atuação do grupo consistia em organizar e planejar, em conjunto, aos escravos das fazendas e das cidades, fugas em massa, garantindo, ainda, condições para os deslocamentos dos fugidos. Uma das figuras que se destacaram nesse tipo de ação foi Antônio Paciência, que, como seu nome mesmo revela, era utilizado, principalmente, na observação das condições propícias às fugas.

Outra das figuras que contatavam os escravos nas fazendas eram os chamados “cometas”, caixeiros-viajantes que tinham acesso aos latifúndios. Após a realização da fuga, muitos desses escravos se dirigiam

às ferrovias onde eram transportados clandestinamente com o apoio dos trabalhadores ferroviários. O destino era, geralmente, as cidades de São Paulo e Santos, no litoral da província.

Em muitos casos, os caifazes conseguiram resgatar das mãos das forças policiais escravos que haviam fugido e tinham sido capturados, contando, ainda, com apoio popular. Esses resgates ocorriam mesmo à luz do dia, após a criação de alguma falsa confusão que facilitava a ação.

Na cidade portuária, os Caifazes constituíram, ainda, o Quilombo de Jabaquara, que chegou a receber cerca de 10 mil escravos fugidos. Nesse local e, também, em outras cidades, as relações estabelecidas com comerciantes e alguns industriais garantiam empregos aos escravos que escapavam do cativeiro.

Os fazendeiros viam que as garantias legais que tinham sobre a propriedade escrava eram retiradas na prática pelos próprios cativos e seus apoiadores. Eles passaram a protestar pelo fato de perderam o controle sobre a propriedade que tinham sobre as pessoas. Segundo Antônio Rodrigues de Azevedo Pereira, Barão de Santa Eulália, “negar-se que nesta Província [de São Paulo] não há garantia para a propriedade escrava é não ver o sol. Aí está na Capital o Antonio Bento acolhendo negros de fazendeiros e os alugando por conta própria, sem que os donos posam reavê-los”.

As ações dos caifazes representavam a entrada do abolicionismo dentro das senzalas e eitos, aproximando, dessa forma, a insatisfação dos trabalhadores escravizados com a agitação proporcionada, também, pelo movimento abolicionista nas cidades. Com essas ações populares, atacava-se o principal pilar de sustentação do Império. Segundo Maria Helena Toledo Machado, “o cimentar de solidariedade entre escravos, libertos, plebe e abolicionistas radicalizados, mesmo como virtualidade, foi percebido e combatido pelas autoridades, como um dos maiores desafios à superação controlada e conservadora da ordem escravista”.

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Uma Visão Oculta do

Com estas palavras Oswaldo de Camargo, apresentava a dor de ser negro no Brasil há mais de um século.

Humanos seres trazidos para o Brasil como mão de obra escrava, o que era uma “mercadoria” altamente lucrativa para os grupos mercantis e para o Estado metropolitano, esses seres humanos eram tidos pela infame ideia de serem inferiores, por serem negros. Infelizmente, essa ideia, ainda, persiste, veladamente, em setores mais resistentes da nossa sociedade, por uma minoria.

Sabe-se que sua liberdade não foi um ato de bondade da elite política imperial. Muitos pagaram com a própria vida pela abolição da escravatura. E desde a época colonial, essa luta já era visível, com a formação dos Quilombos. Os movimentos revolucionários como a Conjuração Baiana (ou dos Alfaiates) em 1789; a revolução dos negros maleses na Bahia em 1835; a Balaiada no Maranhão e outras. Porém considerando esses acontecimentos anteriores por parte dos negros, a campanha abolicionista só começou mesmo depois da Guerra do Paraguai, em 1870, com a participação de algumas personalidades políticas, contando com apoio de alguns segmentos sociais. Um dos fatores fundamentais para essa mudança comportamental foi, sem dúvida, a brilhante participação do negro na Guerra do Paraguai. Participação, às vezes heroica, que contribuiu para modificar a mentalidade do oficialato do Exército, que, consciente da bravura do soldado negro, comparável à do

“Eu conheço um grito de angústia, e eu posso escrever este grito de angústia, e eu posso berrar este grito de angústia, quer ouvir? Sou um negro, senhor, sou um.....negro!”

branco, “assumiu” o abolicionismo, levando o Exército, nos anos 80, a se negar a perseguir o escravo fugitivo.

Com isso, as classes médias inseriram em suas aspirações políticas, o Abolicionismo. Os comerciantes e grupos ligados à indústria viam na abolição a possibilidade de ampliação dos mercados consumidores. A aristocracia cafeeira do Oeste Paulista, também, tornou-se simpática ao movimento, devido ao trabalho escravo ser de baixa produtividade e faltar dinâmica, além de dificultar a imigração.

Tomava-se consciência de que o trabalho escravo era extremamente prejudicial para a economia de um país, que buscava se modernizar e se dinamizar, o que era a visão de homens, como: Joaquim Nabuco, Silva Jardim, Luiz Gama, José do Patrocínio e outros.

O governo, no início, tentou impedir esse movimento e não conseguindo, tentou uma manobra política para diminuir a campanha abolicionista em 1871, promulgando a Lei do Ventre Livre, de autoria do Maçom primeiro-ministro Visconde do Rio Branco, que muito pouco ou quase nada favorecia aos negros, servindo de uma espécie de “engodo” para parar o movimento emancipador, o que mais tarde gerou movimentos incontroláveis, levando o governo a mais uma cartada vergonhosa, em 1885, promulgando a Lei dos Sexagenários, conhecida, também, como a Lei Saraiva-Cotegipe, que concedia liberdade aos escravos com mais de 65 anos de idade. (interessante que, hoje, em dia o governo

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novamente tenta, “libertar a sociedade” após os 65 anos de idade, desta vez, com o nome de “aposentadoria”. Carece aí uma reflexão!) Outra vergonha, pois o índice médio de vida do negro girava em torno dos 30 anos de idade. Tudo isso só fez tornar, em todo o país, um movimento essencialmente popular, tornando-se insustentável sua oposição. Até que em 13 de maio de 1888, foi assinada, pela Princesa Isabel, a Lei Áurea, que abolia em definitivo a escravidão no Brasil. Sabemos que essa mesma lei que o libertava, também, o lançava a própria sorte, pois sem instrução, profissão, ou qualquer preparo eram lançados ao limitado mercado de trabalho. Aos poucos os negros vieram com muito esforço, até os dias de hoje, galgando seu espaço na sociedade. Há pouco tempo, um negro ocupava o cargo de presidente do STF – o Ministro Joaquim Barbosa – um exemplo perfeito de honradez e honestidade, numa sociedade tão carente de valores morais, composta, em sua maioria por brancos.

Bem, este preâmbulo histórico, é apenas a parte exotérica dessa marcante conquista, cabendo a partir de agora mencionar a parte esotérica desse fato ocorrido a mais de um século.

A princípio, gostaria de mostrar porque teria que ser no dia treze. Embora esse número, para alguns supersticiosos, represente má sorte, ele significa no estudo dos Arcanos do Taro*, a Morte. Não como o final da vida e sim como final de um ciclo e início de outro. É a transformação. Justamente, o que aconteceu com nossos irmãos negros, saindo do estado de escravidão e passando para a liberdade, alcançando um novo estado de consciência.

Na Caballah, o alfabeto hebraico tem vinte e duas letras, que são divididas em três categorias: três letras mães, sete letras duplas e doze letras simples. A 13ª letra do alfabeto hebraico, é o “MEM” – uma das três letras mães. O seu valor numérico é 40 e iremos encontrar o significado de passagens bíblicas de quarenta anos ou quarenta dias, que representam a libertação de uma para outra fase iniciática, a exemplo de Moisés liderando as doze tribos de Israel no deserto por quarenta anos; os quarenta dias de jejum no deserto do Mestre Jeoshua Ben Pandira, o Jesus bíblico, sofrendo as tentações do “Diabo”; a Arca de Noé e os quarenta dias do dilúvio universal, assim narrados nas

Escrituras Sagradas; para nascermos temos que passar por nove meses ou quarenta semanas da gestação, etc.

A 13ª letra, o “MEM”, o seu valor semântico significa “maternidade” e sua correspondência ao atributo divino é “bendito”, “abençoado”. O dia 13 de maio, para o mundo ocultista, é o verdadeiro Dia das Mães, da Mãe Santíssima, a Mãe Divina, a Nossa Senhora para os católicos, daí o mundo profano criar o dia das mães no 2º domingo do mês de maio, embora seja uma saudação merecida, sabemos do propósito, totalmente, comercial que tomou essa comemoração.

A primeira aparição de Nossa Senhora, em Fátima – Portugal, as três crianças – Francisco, Jacinta e Lúcia, aconteceu no dia 13 de maio, de 1917!

Encontraremos no Salmo 118, o maior dos 150 salmos escritos por Davi, uma referência a cada letra do alfabeto hebraico que, em sua abertura diz: “A excelência da Lei do Senhor e a felicidade daquele que a observa”

E esta letra – o “Mem” - está classificada como uma das três letras mãe desse alfabeto. Três, também, foram as Leis para abolir a escravidão, a qual, somente, culminou com a Lei Áurea, de Ouro, o metal mais precioso e, também, representante da Alta Espiritualidade, haja visto sua utilização como parte da construção da Arca da Aliança, no Candelabro Místico, no Templo de Salomão, como um dos presentes doado a Mãe de Jesus, por um dos três Reis Magos, etc... Falamos que o “MEM”, 13ª letra hebraica, é uma das letras mãe e não foi uma mulher que assinou a Lei Áurea, justamente no dia 13?

O sufixo BEL (de origem assírio-babilônico), ao final de um nome, vem designar o Nome das Divindades. Assim como, temos, também, no cristianismo o EL dos Arcanjos, como terminação de seus Sagrados Nomes (Rafael,

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Gabriel, Miguel, Anael...). Essa mulher com o nome de IsaBel, Isa ou Isis, então Isis – Bel ou a Divindade feminina na tradição egípcia, onde a trindade é formada por: Osíris – Ísis – Horus, em 13 de maio de 1888, intuída pela Deusa Ísis, assinou a Lei Áurea, e assim, como nas passagens de Moisés, do Mestre Jesus, de Noé, com relação ao nº 40, que é o valor numérico cabalístico da 13ª letra hebraica – o MEM, os negros saíram do cativeiro, cruzando um período turbulento, e após, alcançando a liberdade (respeitemos as proporções e as particularidades de cada personagem).

A redução numero-cabalística da data (13/05/1888) não poderia deixar de ser 7, número sagrado. Esses sacrossantos números, 1, 3 e 7, mais uma vez, através da Chave Mística Numérica, vêm, esotericamente, mostrar-nos a excelsitude da necessidade deste e de muitos outros movimentos de liberdade em todo orbe terráqueo. Ao girarmos em 180º o número 137 (LEI) escreveremos a palavra LEI, o que aconteceu no dia 13 de maio daquele ano, a promulgação de uma Lei (Áurea), em harmonia com a LEI Divina, que a tudo e a todos rege.

Misteriosamente, se contarmos os dias do calendário desde o dia 1º de janeiro até o dia 13 de maio, teremos exatamente 133 dias. E aí voltaremos nossas atenções ao que diz o Salmo de Davi, de número 133: “Quão bom, e quão suave é habitarem os Irmãos em união! É como o perfume derramado na cabeça, que desceu sobre toda a barba de Aarão, que desceu sobre a orla de seu vestido; Como o orvalho que cai sobre o Hermon que desce sobre o Monte Sião; porque ali enviou o Senhor benção, e vida para sempre.”

Sendo o Brasil a pátria da manifestação do Avatara no presente ciclo – a Era de Aquarius - esse e muitos outros movimentos vieram acontecendo, apresentando-se como movimentos sociais, políticos, etc., mas ocultando, e não poderia ser diferente, seu lado esotérico, pois estão sob a influência dos Excelsos Seres da Grande Fraternidade Branca - os Seres que dirigem a evolução do planeta e da humanidade. Diga-se de passagem, a própria descoberta do Brasil, a República, a Independência, dentre outros acontecimentos, tiveram o suporte desses Seres, através de escolas iniciáticas, como a Maçonaria, Rosacrucionismo e outras Ordens de Mistérios.

Saúdo a todos nossos Irmãos, não importando a cor da pele, até porque, nós brasileiros somos o caldeamento de todas as raças - verdadeiro Caldeirão Cultural do Mundo, pois isso, também, estava nos ditames da LEI Justa e Perfeita, o surgimento da Raça Dourada, a Raça Cósmica.

Cabe a nós, privilegiados que somos, por estarmos sob a trilogia da Liberdade – Igualdade – Fraternidade, saudarmos o dia 13 de maio, pelo movimento que foi, tanto exotérico, como esotérico. Pois, justamente nesse dia é comemorado o dia da Mãe Divina, Nossa Senhora para os Cristãos.

Muito teríamos para falar sobre os sublimes Mistérios que envolvem o dia 13 de maio, mas a prudência nos convida a deixá-los em reflexão sobre o que já foi dito.

Que o Pai Celestial, o Senhor dos Mundos, permita-nos, sempre, sermos um instrumento de Vossa Paz.

(*) Arcanos do Taro – a palavra “Arcano” deriva do latim Arcanus que quer dizer segredo oculto e da palavra grega Arcon, que significa santuário. Os Arcanos são a linguagem simbólica dos Deuses, onde está condensado todo o conhecimento relativo à formação dos Universos e a origem do homem. É a síntese de todo o conhecimento oculto acumulado através dos séculos, pois neles estão descritos, os laços misteriosos que unem Deus, o Universo e o homem. Esse conjunto de símbolos foi elaborado por sábios atlantes, como forma concreta para a linguagem abstrata, que pudesse passar por civilizações sem conta, sem serem deturpados. Coube a Hermés, o Trimegistro, ou três vezes nascido, a codificação desses conhecimentos, contidos no livro do mural, como era chamado, em lâminas, dividindo-o em 22 lâminas maiores e 56 menores, contendo os mistérios do céu (cosmogênese) e da terra (antropogênese).

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Um estudo da historiadora paulista Célia Maria Marinho de Azevedo revela o papel central que maçons negros tiveram nas lutas por cidadania

e igualdade de direitos para as ‘pessoas de cor’, que aconteceram quando o Brasil ainda estava em formação. E como importantes protagonistas do processo abolicionista, o que fazem, atualmente, os negros vinculados a essa ordem para ajudar a população negra a superar os problemas decorrentes da existência do racismo em nosso país?

Fortemente influenciada pelo iluminismo, a maçonaria moderna adota o lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade, imortalizado pela Revolução Francesa. Em suas lojas, que são seus organismos de base, os ‘irmãos’ se reúnem regularmente para discutir os mais variados temas e, de alguma forma, tornar-se melhores cidadãos e contribuir para uma sociedade melhor.

Presente no país desde o período colonial, a maçonaria por longo tempo exerceu forte influência sobre os rumos políticos do país. O que havia de comum entre André Rebouças, José do Patrocínio; João Maurício Wanderley – Barão de Cotegipe, Luiz Gama; Antonio Carlos Gomes, Rui Barbosa de Oliveira, Francisco Glicério, Nilo Peçanha e Castro Alves? Todos eram afrodescendentes e maçons: a presença de muitos homens negros de elite entre os maçons brasileiros do século XIX chamou a atenção da historiadora Célia Maria Marinha de Azevedo, que percebeu a importância de estudar de uma forma articulada as histórias da maçonaria e das ‘pessoas de cor’ na época da escravidão.

Desse estudo nasceu o livro Maçonaria, Anti-Racismo e Cidadania, lançado pela editora Annablume.

A obra coloca seu foco em três personagens: Francisco Gê Acaiaba Montezuma, o Visconde de Jequitinhonha; Francisco de Paula Brito – tipógrafo, jornalista e editor, fundador da afamada sociedade literária Petalógica; e Joaquim Saldanha Marinho – líder republicano e Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil. “Foi pesquisando as vidas e os escritos de maçons ilustres que percebi haver uma dimensão antirracista importante em suas lutas pelos direitos de cidadania”, diz Célia, acrescentando que para Paula Brito, assim como para muitos outros brasileiros afro-descendentes que viveram entre 1830 e 1870, era fundamental fazer valer os direitos gravados na Constituição de 1824, que não distinguia as ‘cores’ de seus cidadãos, mas tão somente os ‘seus talentos e virtudes’. “É claro que aqui não se incluíam os escravos, ou seja, uma imensa parte da população que não tinha existência naquela constituição monárquica”, ressalva a historiadora.

A luta antirracista daqueles maçons negros de meados do século XIX procurava impedir a reafirmação de uma hierarquia racial pública, herdada dos portugueses. Eles se posicionavam contra a classificação das cores dos cidadãos justamente por temerem que esses fossem impedidos de ocupar cargos, de fazer carreiras administrativas e profissionais. “Na época dos portugueses, além dos regimentos militares segregados (pretos, pardos e brancos), era preciso pedir dispensa de ‘defeito de cor’ para ocupar determinadas posições públicas e isto, é claro, ainda estava bem fresco na memória daqueles que atuaram nessas primeiras décadas do Brasil independente”, informa Célia.

Publicado no site da Revista Raça. https://revistaraca.com.br/?s=os+ma%C3%A7ons+negros

Os Maçons Negros

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