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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – Unb NÚCLEO DE ESTUDOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS – NP3 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS PESQUISADOR: Sebastião Lopes Araújo “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL” Brasília/DF Maio/2002

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – Unb NÚCLEO DE ESTUDOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS – NP3 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS PESQUISADOR: Sebastião Lopes Araújo

“A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL”

Brasília/DF Maio/2002

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - Unb NÚCLEO DE ESTUDOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS – NP3 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS PESQUISADOR: Sebastião Lopes Araújo

“A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL”

Monografia apresentada no Curso de Especialização em Políticas Públicas, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista, sob orientação da Professora Marilde Loiola de Menezes.

Brasília Maio/2002

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BANCA EXAMINADORA: ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ Brasília, de maio de 2002

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DEDICATÓRIA

Este trabalho é resultado da minha experiência na Metodologia da Capacitação Massiva, contando para isso com o privilégio da convivência com o seu criador, Prof. Clodomir Santos de Morais, desde 1998, extensivo à equipe do PRONAGER e aos demais profissionais que a desenvolvem em campo. Assim, dedico-o à todas as pessoas que acreditam na possibilidade de transformação positiva do quadro de pobreza e desigualdade social. E, ainda, às comunidades participantes de Laboratórios Organizacionais e aos sócios das Cooperativas – ART-ILHA e MULTI-TEX pelo compromisso com a autogestão e o desenvolvimento social.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA.....................................................................................................4

RESUMO ..............................................................................................................7

1 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................8

2 CONTEXTUALIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DA METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA...........................................................................9

2.1 A Origem e Evolução da Metodologia da Capacitação Massiva dos laboratórios organizacionais .................................................................................... 12

a) Origem ........................................................................................................................ 12

b) A utilização da metodologia em âmbito nacional e internacional ............. 13

2.2 Os Instrumentos Metodológico-Operacionais .............................................. 15 2.2.1 O conceito de laboratório organizacional .................................................................. 15

2.3 Os Tipos de Laboratórios Organizacionais ................................................... 16

2.4 OS PRÉ-REQUISITOS À REALIZAÇÃO DE LABORATÓRIOS ORGANIZACIONAIS..........................................................................................18

2.5 Princípios e Pressupostos Pedagógicos........................................................ 20

2.6 As Etapas do Processo de Capacitação ......................................................... 22 A síncrese ....................................................................................................................... 22 A análise......................................................................................................................... 23 A síntese ......................................................................................................................... 24

2.7 Sobre o Diretor de Laboratório Organizacional ............................................ 25

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2.8 Sobre a Estrutura Primária ................................................................................. 26

2.9 A Memória do Laboratório Organização de Terreno ................................... 28

2.10 O Desmame .......................................................................................................... 29

3 ESTUDO DE CASOS................................................................................29

3.1 A Ilha do Ferro e a Cooperativa dos Artesãos .............................................. 29 3.1.1 Antecedentes........................................................................................................... 29

3.1.2 O município de Pão-de-Açúcar ............................................................................ 30 3.1.2.1 A comunidade de Ilha do Ferro.............................................................................. 34

3.2 A Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX ............................................. 45

(Uma experiência de sucesso) ................................................................................. 45 3.2.1 Antecedentes........................................................................................................... 45 3.2.2 A cooperativa dos trabalhadores MULTI- TEX (situação encontrada)......................... 48 3.2.3 O desenvolvimento do laboratório organizacional de empresa – LOE ........................ 51 3.2.4 - Resultados alcançados ........................................................................................... 52 3.2.5 A cooperativa dos trabalhadores MULTI-TEX (situação atual)................................... 54

CONCLUSÃO.................................................................................................55

ANEXOS ..........................................................................................................57

BIBLIOGRAFIA..............................................................................................61

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7

RESUMO

Este trabalho apresenta a “Metodologia da Capacitação Massiva dos

Laboratórios Organizacionais” criada pelo doutor em sociologia - Clodomir

Santos de Morais, fundador do instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro

Mundo – IATTERMUND - instituição responsável pela aplicação,

desenvolvimento e aperfeiçoamento da referida metodologia no Brasil e exterior,

e que mantém um Acordo de Cooperação com o Programa Nacional de Geração

de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza– PRONAGER1, que a utiliza como

eixo central da sua metodologia de atuação, considerada como instrumento de

inclusão social. Assim, aborda a problemática da exclusão social, atualmente o

principal desafio dos governantes e da sociedade civil.

Em seguida discorre sobre a referida metodologia; a quem se destina; sua

origem e evolução em âmbito nacional e internacional, bem como seus

princípios e pressupostos teóricos e pedagógicos; tipos de eventos de

capacitação massiva; o processo de capacitação desenvolvido no Laboratório

Organizacional, e outros aspectos relevantes. 1 O PRONAGER é u Programa do Governo Federal vinculado ao Ministério da Integração Nacional/SDR e resulta de um Acordo de Cooperação Técnica com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação –FAO e o IATTERMUND.

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Por último, apresenta dois Estudos de Caso, sobre experiências concretas

desenvolvidas no âmbito do PRONAGER em parceria com o IATTERMUND e a

conclusão indicando que, a partir das experiências realizadas no Brasil e no

exterior, a metodologia é uma das alternativas que contribui efetivamente para a

inserção social e diminuição dos índices de pobreza e desigualdade social.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade apresentar a Metodologia da

Capacitação Massiva dos Laboratórios Organizacionais como um dos

instrumentos de inclusão social, contribuindo assim com o debate sobre

alternativas para o enfrentamento da problemática da exclusão social que

penaliza a cada dia milhares de pessoas que não tem acesso às condições

mínimas de dignidade e cidadania.

Referida Metodologia, aplicada em mais de 30 países inclusive

no Brasil, tem sido reconhecida por organismos governamentais, Agências

especializadas das Nações Unidas, como a FAO e a OIT e organizações não

governamentais, por considerar a organização o elemento substantivo para a

construção das bases e o desencadeamento do processo de desenvolvimento

sustentável. Contribuindo efetivamente para formação de capital social e a

implantação e o fortalecimento de empreendimentos econômicos e sociais, com

base na autogestão, e a conseqüente geração de postos de trabalho.

1 JUSTIFICATIVA

O tema reveste-se da maior importância considerando os índices

de pobreza e desigualdade social no Brasil e no mundo, cuja reversão constitui-

se o maior desafio dos governantes e da sociedade civil.

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Principalmente no Brasil, campeão mundial de desigualdade social, resultante

não de uma fatalidade histórica, mas produto de uma herança social. São 53.1

milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Destas, 30 milhões vivem com

extrema dificuldade, com renda mensal per capita inferior a 80 reais. Existindo,

ainda, 23 milhões que vivem em situação mais precária, uma vez que não

dispõem de renda para suprir as necessidades alimentares básicas à própria

sobrevivência

A situação torna-se mais agravante, considerando a naturalidade

com que a sociedade encara essa problemática. O que é compreendido, porém

não aceito, uma vez que tal comportamento é produto da cultura que resulta de

um acordo social excludente que não reconhece a cidadania para todos, sendo

distintos os direitos, as oportunidades, as possibilidades e horizontes para os

“incluídos” e para os “excluídos”.

Diante do contexto, a aplicação da Metodologia da Capacitação

Massiva em conformidade com a sua concepção, fundamentada na psicologia

social, possibilita o resgate e a afirmação de valores éticos e morais,

contribuindo significativamente para a construção de uma sociedade mais

equânime.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DA METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA

Os métodos tradicionais de qualificação não atendem as

características e/ou necessidades da população vulnerabilizada econômica e

socialmente, uma vez que pela seletividade, acabam por reforçar o estigma da

exclusão social sobretudo aquelas baseadas no empreendedorismo.

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A capacitação massiva, é uma metodologia desenhada

especialmente para alcançar o excluído social, capacita centenas de pessoas

em um só evento – o Laboratório Organizacional de Terreno. Assim, permite,

também, a participação de pessoas com baixo nível de escolaridade e de

qualificação profissional.

Referida metodologia parte do pressuposto de que as pessoas

têm potencialidades que podem ser desenvolvidas e que as comunidades

pobres dispõem de recursos humanos e materiais não utilizados que podem ser

mobilizados para o desenvolvimento de atividades produtivas, aumentando a

renda e reduzindo a pobreza. Assim o processo seletivo é natural, todos podem

participar dos eventos de capacitação, escolhendo um curso/atividade produtiva

que, segundo a sua avaliação venha a contribuir para a melhoria da sua

qualidade de vida. Na maioria das vezes é a primeira vez que essas pessoas

decidem algo em suas vidas, aspecto fundamental no processo de construção

da autonomia. E já que estamos falando de autonomia individual e coletiva

mediante a participação dessas pessoas em empresas autogestionárias o seu

dna é transferido no primeiro momento, ou seja na abertura do Laboratório

Organizacional.

Assim, começa a funcionar a engrenagem da participação social,

onde o coletivo começa a ter força, em função da imposição da necessidade da

divisão social e técnica do trabalho ditada pelos próprios insumos indivisíveis (os

meios de produção, que pertencem ao coletivo e não ao indivíduo). Isso

possibilita a superação das dificuldades pelo próprio grupo social, que passa a

creditar em si e no grupo, resgatando a auto-estima. Vale ressaltar que essas

pessoas quase sempre não tiveram acesso aos meios de produção e as

próprias condições inerentes ao desenvolvimento de atividades produtivas em

que tiveram inseridas, contribuiu para que tenha um perfil, cujas características

apresentamos a seguir:

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- São pessoas, desempregadas ou subempregadas, de baixo nível de

escolaridade e de qualificação profissional;

- normalmente tëm uma relação de dependência com o poder público,

autoridades e lideranças, achando sempre que esses “sabem o que é

melhor para eles”;

- por terem uma consciência ingênua, acreditam que a sua condição

social é determinada por Deus, ou alguma outra divindade. Apenas

identifica o seu problema – pobreza, doenças, falta de alimentação, de

moradia. E ficam a espera de que um dia as coisas melhorem. As

soluções sempre vindo de fora.

- normalmente moram em periferias das cidades, morros e favelas,

expulsos do campo ou de áreas urbanas, neste último caso pela

própria espoliação imobiliária;

- em geral têm alta dependência da assistência social e são alvos fáceis

de práticas assistencialistas e paternalistas;

- não tem acesso aos mecanismos oficiais de crédito;

- a maioria não consegue romper o ciclo vicioso da pobreza, baixando

cada vez mais a auto estima, muitos enveredando pelo alcoolismo e

outras drogas, contribuindo para o aumento dos índices de violência;

- não tem consciência do seu potencial e da sua capacidade de

contribuir para a reversão do quadro de pobreza.

Esse é o público prioritário da metodologia da capacitação

massiva no Brasil e no exterior. E a cada dia constatamos o quanto essa

população tem potencialidade e capacidade para superar essas dificuldades a

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partir da organização, estruturando unidades de produção autogestionárias, e

melhorando a sua realidade social e econômica. Desde que sejam implantadas

seguindo os princípios da autogestão, cujo conceito é o seguinte2:

“A autogestão é um modelo administrativo onde as decisões e o controle da

empresa são exercidos pelos trabalhadores Eles decidem sobre tudo: metas de

produção, remuneração, políticas de investimento, mercado etc.

É a busca de soluções coletivas para os problemas sociais , notadamente do

desemprego, por meio do controle das empresas. É a participação direta e

inteligente do coletivo nas tomadas de decisões, no poder da empresa”

2.1 A Origem e Evolução da Metodologia da Capacitação Massiva dos

Laboratórios Organizacionais a) Origem

A concepção da Metodologia da Capacitação Massiva,

conhecida internacionalmente como a metodologia dos Laboratórios

Organizacionais, teve início em 1954, a partir da realização de um curso sobre

legislação agrária objetivando a capacitação de quadros dirigentes das Ligas

Camponesas, na cidade de Recife - PE - Nordeste do Brasil.

Os organizadores desse evento de capacitação, ao avaliarem 6

(seis) meses depois o nível de aprendizagem dos conteúdos ministrados,

constataram que estes não haviam sido apreendidos pelo conjunto dos

participantes. Entretanto eram bons dirigentes nas suas organizações de base.

Com base nos resultados dessa avaliação, Clodomir Santos de

Morais concluiu que a metodologia de funcionamento do curso (organização em

comissões: limpeza, alimentação, saúde, infraestrutura, apoio pedagógico,

disciplina, cultura e lazer, etc.), determinada pela necessidade do próprio grupo, 2 AUTOGESTÃO – Como sair da crise: ANTEAG – Assoc. Nacional ddos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária – S.Paulo.

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foi decisiva para os resultados obtidos, ou seja, os participantes ao vivenciarem

a divisão social e técnica do trabalho internalizaram alguns princípios básicos de

organização.

Com a realização das primeiras experiências, ainda no Nordeste

do Brasil (1964) inicia-se a formulação do “Método da Capacitação Massiva -

Laboratório Experimental de Terreno”, o qual foi sistematizado posteriormente

pelo autor.

b) A utilização da metodologia em âmbito nacional e internacional

Apesar da Metodologia da Capacitação Massiva ter sido criado

por uma brasileiro, de Santa Maria da Vitória, Estado da Bahia – Prof. Clodomir

Santos de Morais, e ter sido desenvolvida em mais de 30 países, somente em

1988 a mesma foi aplicada no Brasil, após o retorno do autor ao Brasil.

Como pode ser visto a seguir, o seu desenvolvimento se deu

mais na América Central e na América do Sul, inclusive com a contribuição de

vários profissionais que atuaram ou ainda atuam com a referida metodologia,

inclusive do meio acadêmico.

• 1971 - Programa de Reforma Agrária - implantação em

285 Assentamentos rurais – Panamá; • 1973/76 - Programa de Capacitação Camponesa para a

Reforma Agrária de Honduras (PROCCARA) - mais de 400 LOTs – 24.000 camponeses e técnicos da região capacitados – (ONU/FAO); Aplicada em Costa Rica, Venezuela, México, Haiti, São Domingos, Colômbia, Nicarágua, Dominica e Belice;

• 1977 Programa de Desenvolvimento Rural Integrado do

Trópico Úmido – PRODERITH – México (ONU/FAO);

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• 1978/79 - Instituto de Cooperativas Antônio Sérgio - INSCOOP – Portugal. Mais de 3.000 pessoas capacitadas – (ONU- OIT- PNUD);

• 1980/83 - Programa de Capacitação para a Organização e o

Emprego na Reforma Agrária – COPERA (Nicarágua – Sandinista);

• 1984/87 - Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, São Tomé e

Príncipe – (Cáritas Moçambicana e Fundação HIVOS) Zimbabwe – África (Fundação HIVOS);

Realização do Laboratório Organizacional de Centro – LOCEN em Palmeiras das Missões/RS- Brasil (1987) com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST;

• 1988/89 Programa POLONOROESTE – Mato Grosso e

Rondônia- Brasil (ONU/FAO);

Criação no Brasil do Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo – IATTERMUND, em Brasília / DF (1988) - instituição responsável pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento da Metodologia da Capacitação Massiva no Brasil e no Exterior;

• 1992/96 PROGER - Programa de Geração de Emprego e

Renda em Áreas de Pobreza- Estados da Paraíba e São Paulo – Brasil (ONU/FAO);

Realização de Laboratório Organizacional de Curso - LOC para formação de TDCs – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST – Brasil (ONU/OIT); Realização de Laboratório Organizacional de Curso – LOC para formação de TDEs e APIs - Convênio IATTERMUND com a Secretaria de Planejamento do Estado de Rondônia – Rondônioa – Brasil. Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza – PRONAGER – SEPRE-ONU/FAO (antes PROGER) – Brasil;

• 1988 Realização do 1º Laboratório Organizacional de

Empresa no Brasil em São José dos Campos - SP

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para reestruturação da Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX (PRONAGER Nacional em parceria com IATTERMUND, PRONAGER-SP/BNDES/Pref. Municipal de São José dos Campos/Sindicatos dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de SJCAMPOS e dos Mestres e Contra-Mestres);

Definição da Metodologia da Capacitação Massiva como eixo-central da Metodologia de Atuação do PRONAGER;

• 2000/03 Continuação da parceria do Programa Nacional de

Geração de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza - PRONAGER (MI/SPRI-ONU/FAO), com o IATTERMUND mediante Termo de Cooperação Técnica;

Implantação do Sistema de Geração de Emprego e Renda no México (PRONAGEI) - Convênio da Universidade de Chapingo com o IATTERMUND;

Sistema de Geração de Emprego e Renda na República da Guatemala (PRONAGEI). Convênio: Ministério da Agricultura, Universidade de Chapingo e IATTERMUND; Realização do 1o Laboratório Organizacional de Terreno na periferia de Londres – Inglaterra, sob a coordenação de ONG vinculada ao IATTERMUND, e que o representa também na África.

2.2 Os Instrumentos Metodológico-Operacionais 2.2.1 O conceito de laboratório organizacional

Segundo o próprio criador do Método – Prof. Clodomir Santos de

Morais –“É um ensaio prático e ao mesmo tempo real em que se busca

introduzir, em um grupo social, a consciência organizativa que necessita para

atuar em forma de empresa ou ação organizada”.

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É um método de capacitação que possibilita a elevação dos

níveis de consciência (ingênua e crítica) da coletividade ao nível da consciência

organizativa, indispensável à transformação da realidade em que vivem.

Para tanto necessita que seja criada, no interior do LOT, uma

empresa artificial porém com funcionamento real, a qual constitui-se o objeto de

capacitação dos participantes em organização e administração autogestionária.

A partir da experimentação do sujeito (os alunos) com o objeto (a estrutura

organizacional formada) este indica ao sujeito as necessidades e habilidades

necessárias para manejá-lo, e nesse processo o sujeito vai se transformando

também pela prática. Através do embate entre eles o conhecimento vai sendo

construído e internalizado pelo grupo social. Daí a importância dos pré-requisitos

à realização do Laboratório Organizacional, tratados ainda neste trabalho, para

que seja desencadeada pelo grupo social a dinâmica própria do método de

capacitação, “determinadora da consciência organizativa que se pretende gerar

no grupo social”.3

2.3 Os Tipos de Laboratórios Organizacionais

- LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE CENTRO – LOCEN, para

formação de quadros organizadores de empresas associativas. Este

tipo de Laboratório também pode ser utilizado como 1ª etapa de

formação de Diretores de Laboratórios Organizacionais de Terreno -

LOT;

- LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE TERRENO – LOT, para

acelerar a consciência organizativa de grupos sociais e criar as bases

de empresas associativas de produção de bens e serviços;

3 Clodomir Santos de Morais – Plano de Laboratório Organizacional de Capacitação Massiva para a expansão do Emprego.

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- LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE CURSO – LOC, para

acelerar a consciência organizativa de um grupo de pessoas

integradas em uma empresa de serviços destinada à auto-

capacitação. Através deste são formados os Técnicos em

Desenvolvimento Econômico (TDEs); ou Técnicos em

Desenvolvimento Cooperativo (TDCs), que por sua vez formam os

Auxiliares de Projetos de Investimentos (APIs) - base para a

formatação e funcionamento do SIPGER. Com esse tipo de

Laboratório forma-se, também, os Diretores de Laboratórios

Organizacionais de Terrenos (1ª etapa: teórico-prática);

- LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE EMPRESA – LOE, para

acelerar o nível organizativo de empresas associativas, inclusive

aquelas originadas de LOTs, bem como para a implantação de

empresas de autogestão, a exemplo da Cooperativa dos

Trabalhadores MULTI-TEX cuja experiência está relatada no último

capítulo deste documento, e a conseqüente elevação da capacidade

para a prática de autogestão e fortalecimento econômico de

empreendimentos econômicos e sociais.

Para tanto, torna-se imprescindível que o Diretor do Laboratório

Organizacional, profissional responsável pelo planejamento e desenvolvimento

desse tipo de evento de capacitação, formado pelo IATTERMUND, compreenda

e internalize a diferença entre as didáticas do ensino e da capacitação. Na

primeira o professor (sujeito) transfere o conhecimento ao aluno (objeto) na

intenção de transformá-lo, havendo uma “artificialização na geração da

necessidade do conhecimento”4, uma vez que esta não parte de uma realidade

concreta. Na da capacitação é o inverso, o professor atua como meio,

elaborando e repassando as entregas teóricas em atendimento à demanda do

4 CORREIA, Jacinta Castelo Branco. Comunicação e Capacitação. Edição IATTERMUND - Brasília-DF: 1994.

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aluno, que por sua vez as requer em função da necessidade ditada pelo objeto,

ou seja, a empresa com o domínio dos meios de produção e da divisão social e

técnica do trabalho.

2.4 Os Pré-requisitos à realização de Laboratórios Organizacionais5

1º) No mínimo 40 pessoas:

Justifica-se pela própria concepção do método que ao ser massivo,

possibilita a incorporação de centenas de trabalhadores

desempregados ou subempregados nos eventos de capacitação,

favorecendo portanto a ampliação das oportunidades de inserção da

grande massa de excluídos sociais. A capacitação em gestão

empresarial autogestionária exige o exercício da divisão social e

técnica do trabalho (processo produtivo socialmente dividido),

possibilitando a construção da cooperação e da solidariedade e a

conseqüente transformação de comportamentos ideológicos que

dificultem o avanço das forças produtivas.

2o) Os meios de produção em mãos dos integrantes da empresa, ou seja,

os insumos indivisíveis em poder do grupo social

Todos os recursos (humanos, financeiros e materiais) que constituem

os insumos indivisíveis, devem está à disposição dos participantes do

Laboratório Organizacional6. Assim, não pertencem ao indivíduo e sim

ao coletivo. Estes por si só impõem a necessidade de organização, e

o exercício da divisão do trabalho, sendo a “mola mestra” do processo

de capacitação em organização empresarial autogestionária, pois “é a

partir da relação com o objeto que o homem se capacita”3, e quanto

5 MORAIS, Clodomir Santos de – Elementos Sobre a Teoria da Organização – Edição IATTERMUND- 1988. 6 Os insumos indivisíveis básicos referentes aos cursos/atividades produtivas devem estar a disposição dos

participantes desde a abertura do LOT. 3 MORAIS, Clodomir Santos de - O Reencontrado Elo Perdido das Reformas Agrárias - Edição

IATTERMUND - 1997

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mais indivisíveis forem os insumos maior a capacitação. Ressalte-se

que quando as quantidades são inferiores às necessidades da

empresa, este problema estimula a criatividade e capacidade de

resolução do grupo social. É importante incorporar ao inventário dos

insumos indivisíveis aqueles pertencentes a própria comunidade e ou

cedidos por instituições parceiras. Aliás essa prática, além de

estimular a participação, diminui os custos operacionais do LOT. Outro

aspecto fundamental é – “não criar escala de valores na população

pobre uma vez que esta quase sempre não pode ter acesso aos

mesmos logo após a finalização do LOT”7, dificultando a

continuidade dos embriões de empreendimentos econômicos. Dessa

forma na estruturação do próprio método, “os insumos indivisíveis são

utilizados com a intenção expressa e preconcebida de introduzir

mudanças na atividade e conseqüentemente na psicologia social dos

que participam do Laboratório Organizacional”4.

3º) O Pleno direito de Organizar-se

Esse requisito garante ao conjunto dos participantes a plena liberdade

de organização, respeitando o marco legal vigente. Pois organização,

não se ensina, se vivencia e se constrói a partir das necessidades

sentidas pelo grupo, e o seu nível de desenvolvimento é diretamente

proporcional ao nível de consciência social e produtiva dos mesmos. É

na prática da autogestão (a partir deste ponto zero) que a participação

social começa a ser efetivada, e que a organização empresarial vai se

consolidando e se otimizando. Daí a denominação dos eventos de

capacitação Massiva: Laboratórios Organizacionais.

7 Idem 4 LABRA, Ivan. Por uma Psicologia Social Científica - Edição IATTERMUND - 1994

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20

É de fundamental importância a observância aos requisitos acima

mencionados, sob pena de comprometer todo o processo de capacitação, e

fragilizar o próprio método.

2.5 Princípios e Pressupostos Pedagógicos

A Capacitação Massiva, “fundamenta-se, principalmente, na

psicologia social, tendo a atividade objetivada8 (fig. 1) como desencadeadora do

processo de aprendizagem e de construção do conhecimento”. Como Método de

Capacitação a ação pedagógica se desenvolve com base na relação dialética –

PRÁTICA-TEORIA-PRÁTICA, possibilitando aos participantes a apreensão do

conhecimento e a transformação positiva da realidade em que vivem, a partir da

inserção dessas pessoas em experiências concretas de geração de trabalho e

renda, mediante a realização de Laboratórios Organizacionais.

8 Ver Leontiev

AA AATTIIVVIIDDAADDEE OOBBJJEETTIIVVAADDAA

SUJEITO

(Prática-Teoria- Prática)

OBJETO

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21

fig. 1 – O Processo de construção do conhecimento no LOT

Nesse sentido, a Metodologia da Capacitação Massiva tem como

princípios pedagógicos (ver a seguir) essenciais ao seu desenvolvimento, e que

portanto, devem ser internalizados e observados rigorosamente pelo Diretor do

Laboratório Organizacional e sua Estrutura Primária (equipe técnica de apoio)

para que sejam alcançados os seus objetivos:

a) O objeto capacita – Primeiro tem que se criar o Objeto de

forma real, no caso a empresa dos alunos. No embate Sujeito x

Objeto, o primeiro vai percebendo o Objeto através da análise, e

este o guia para que vá se aperfeiçoando nas suas intervenções

sobre o objeto, uma vez que o mesmo dita a necessidade das

entregas teóricas. Assim, a prática é enriquecida pela teoria e

vice-versa, contribuindo de forma efetiva para a construção do

conhecimento.

b) As diferenças e contradições equilibram e impulsionam a capacitação – a heterogeneidade dos comportamentos

ideológicos - visão de mundo e expectativas diferenciadas,

interesses pessoais diversos, capacidades de fazer a leitura da

realidade também diferenciadas e espírito emulador de alguns,

criam as contradições e os conflitos, fenômenos esses que o

Diretor e a Estrutura Primária deve explorar como instrumentos

de capacitação. O que justifica a importância do Diretor e da

Estrutura Primária serem rigorosos na leitura da composição

social do grupo para que as ações de capacitação sejam

potencializadas. Algumas vezes o Diretor do Laboratório

Page 22: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

22

Organizacional frustra a capacitação por ter medo de conflitos e,

assim, utiliza mecanismos para que os mesmos não venham à

tona, utilizando técnicas do pequeno grupo que em nada

contribuem para a transformação psico-social dos participantes

do evento de capacitação.

2.6 As Etapas do Processo de Capacitação

No processo de capacitação desenvolvido no Laboratório

Organizacional, as etapas abaixo mencionadas vão se superando tais como a

SÍNCRESE – caracterizada, inicialmente, por uma anomia, pela desorganização

total e incerteza na própria capacidade de organizar-se, ante a surpresa de

encarar uma responsabilidade e sentir-se desafiados a levar a empresa adiante,

onde as decisões serão tomadas por eles mesmos, chegando a propor soluções

ou ações sem análises críticas; a ANÁLISE - onde manejam elementos de

administração e exercitam a análise sobre o objeto, no caso a Empresa

Associativa Autogestionária; e a SÍNTESE- na qual conseguem o melhor nível

organizativo, pois aliam a teoria à prática (fig.2). Ou seja, o processo pedagógico

vai se qualificando através de ciclos recorrentes, tendo como características de

cada etapa as apresentadas a seguir:

A síncrese

• Expectativas diferenciadas quanto a realidade que se apresenta;

• tendência de formação de grupos e subgrupos em torno de

lideranças – políticas, religiosas e comunitárias, que as vezes

tentam reproduzir a cultura do clientelismo, paternalismo e

assistencialismo;

• exacerbada manifestação de vícios ideológicos oriundos das

formas artesanais de trabalho;]

• visão individualista e imediatista dos participantes quanto aos seus

interesses pessoais;

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23

• identificação de alguns problemas decorrentes dos

comportamentos ideológicos dos participantes;

• utilização incipiente da crítica;

• mecanismos de controle verticais;

• tendência a decidirem por modelo de gestão vertical reproduzindo

experiências anteriores;

• estrutura organizacional inadequada;

• inexistência de instrumentos de planejamento, gestão e controle;

• persistência da ação de grupos e subgrupos que se consideram

mais capazes, reproduzindo uma relação de dominação perante o

conjunto dos participantes;

• começa a perceber algumas categoria teóricas não relacionando-

as com a prática de gestão e funcionamento da empresa;

• a auto-estima começa a despontar em um número significativo de

participantes do Laboratório Organizacional.

A duração desta etapa depende da composição social do grupo,

sua experiência acumulada e do seu contexto social, econômico, político e

cultural, podendo durar um, dois ou três dias. Podem-se repetir certas

características de anomia durante todo o processo de desenvolvimento do

Laboratório Organizacional, as quais serão superadas de acordo com o grau de

organização que o grupo social tenha atingido.

A análise

• Inicia-se a análise sobre a ação desenvolvida pela empresa

(decodificação dos elementos teóricos a partir da prática);

• conseguem manejar algumas categorias teóricas presentes na

Teoria da Organização (divisão do trabalho, valor do tempo, da

disciplina, plano de trabalho e IBC);

Page 24: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

24

• começa a despontar o conhecimento lógico e a racionalidade

quanto a alguns processos, porém ainda de forma fragmentada,

faltando Memória do a internalização da visão sistêmica da

empresa;

• a estrutura organizativa e os planos de trabalho são mais

adequados à necessidade da empresa;

• o uso da crítica é mais constante;

• maior eficiência e racionalidade na utilização de recursos;

• os subgrupos com interesses particulares começam a se fragilizar

pela compreensão maior, pelo conjunto dos participantes, do

conteúdo da Teoria da Organização;

• a auto-estima já é visível através da postura e comportamento dos

participantes frente aos desafios que se apresentam.

A síntese

• Maior segurança na gestão da “empresa”, fundamentada na auto-

estima resgatada/conquistada e na apreensão de categorias

teóricas, a partir da própria vivência;

• visão de conjunto/sistema – interdependência dos diversos setores

da empresa, fortalecida pela prática permanente da divisão social e

divisão técnica do trabalho;

• participação mais organizada nas reuniões e assembléias;

• utilização dos princípios organizativos (análise, planejamento,

distribuição e controle);

• maior tranqüilidade no uso e aceitação da crítica, como algo

inerente ao crescimento individual e grupal;

• a estrutura organizativa e os planos de trabalho estão mais

adequados às necessidades da empresa, o que demonstra uma

maior eficiência na gestão da empresa;

Page 25: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

25

• desmistificação da figura do Diretor e da Estrutura Primária pela

segurança conquistada e capacidade de resolutividade do próprio

grupo.

Vencer o estado de anomia é o ponto de partida para o início da

construção de uma nova forma de convivência social e produtiva embasada na

participação plena, através da autogestão. Caso o Laboratorista ou a Estrutura

Primária indique ou tome alguma decisão pelo grupo nesse momento, a

autonomia que se busca com o método já está “abortada”.

2.7 Sobre o Diretor de Laboratório Organizacional

O Diretor do Laboratório precisa ter uma visão precisa sobre a

realidade em que vai atuar, no que se refere aos seus aspectos sociais,

econômicos, políticos, culturais e ambientais, bem como sobre a composição

social do grupo participante, para que possa agir como FACILITADOR do

processo de capacitação.

SUJEITO OBJETO

Á

SSÍÍNNCCRREESSEE

AANNÁÁLLIISSEE

SSÍÍNNTTEESSEE

A -

A R

EUN

IÃO

A

VIG

ILÂ

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IA -

A C

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A VIGILÂNCIA - A CRÍTICA - A REUNIÃO

A VIG

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A - A

REU

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O

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(PRÁTICA-TEORIA- PRÁTICA)

A VIGILÂNCIA - A CRÍTICA - A REUNIÃO

OO PPRROOCCEESSSSOO DDEE CCAAPPAACCIITTAAÇÇÃÃOO DDEESSEENNVVOOLLVVIIDDOO NNOO LLOOTT ((AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO AAUUTTOOGGEESSTTIIOONNÁÁRRIIAA))

Page 26: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

26

É fundamental que este conheça e se guie pelos princípios que

norteiam o método e sobretudo tenha internalizado o sentido pedagógico dos

procedimentos para garantir os resultados esperados. Tenha domínio dos

conteúdos teóricos da Teoria da Organização e segurança no seu repasse, e

consciência da sua importância como instrumento de aceleração do processo de

organização, uma vez que constitui-se para os participantes uma referência -

visão histórica e dinâmica dos fatos sociais - uma relação de causas e efeitos -

que possibilita uma reflexão pelo grupo sobre a realidade atual, e de como

pretendem se organizar para transformar essa mesma realidade. A Teoria da

Organização deve ser sempre ministrada pelo Diretor do Laboratório. Essa ação

é um dos procedimentos metodológicos importantes e contribuirá para que o

Diretor tenha a autoridade necessária e legítima, construída durante o período

em que estiver no Laboratório, a partir da relação e postura frente ao grupo

social. Exercendo o seu papel - como sujeito heterônomo - essencial no

processo de construção da autonomia desejada. (Fig.3)

2.8 Sobre a Estrutura Primária

É constituída por um grupo de técnicos, de preferência

polifacéticos, que possam atender as demandas imediatas da população-

objetivo, pois todos os seus integrantes deverão ser instrutores durante o LOT.

Participam desse grupo técnicos da instituição promotora e/ou parceiras

responsáveis pelo acompanhamento às empresas surgidas do LOT e pessoas

Page 27: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

27

indicadas por entidades da sociedade civil que atendam aos critérios de seleção

abaixo especificados.

A Estrutura Primária não pode esquecer que é referência e

exemplo (espelho) para os participantes do LOT. Portanto a postura profissional

– ética, moral, organizacional e disciplinar são qualidades indispensáveis.

Assim como a empresa dos alunos, a Estrutura Primária terá que

assumir durante todo o processo de desenvolvimento do Laboratório uma

“atitude de análise frente a tudo o que está sucedendo-se, por meio de um

elemento que deve ser descoberto e utilizado sistematicamente pelo grupo, ou

seja, a crítica”. (Teoria da Organização – Clodomir Santos de Morais).9

9 MORAIS, Clodomir Santos de – Elementos Sobre a Teoria da Organização – Edição IATTERMUND – 1998.

Fig. 3 – O fluxo das ações de capacitação desenvolvido no Laboratório Organizacional.

O A

MB

IEN

TE E

XTER

NO

O A

MB

IENTE EXTER

NO

DIRETOR

EMPRESA

DOS

ALUNOS

INSTRUTORES

ESTRUTURA PRIMÁRIA

Page 28: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

28

2.9 A Memória do Laboratório Organização de Terreno

Ao final do Laboratório Organizacional, o documento

denominadde Memória do Laboratório Organizacional de Terreno deverá está

elaborada, e toda a experiência realizada sistematizada. Segundo o Prof.

Clodomir Santos de Morais, constitui-se um documento de fundamental

importância para a análise e compreensão das conseqüências (a posteriori) da

aplicação da metodologia, porque o registro do dia a dia e de tudo que ocorre

dentro de Laboratório é a fonte mais fidedigna de fé, que expressa os êxitos e as

falhas do evento de capacitação. Principalmente para a constatação das falhas

que possam ter havido no desenvolvime3nto do Laboratório Organizacional e

suas consequências, como por exemplo - o não surgimento de empresas, a

desintegração pré-matura do(s) núcleo(s) organizado(s) e o irreversível processo

de entropia dos mesmos são mais facilmente explicados à luz desta “caixa-

preta”.

É elaborada sob a coordenação da Comissão de Memória da

Estrutura Primária, da qual todos os membros tem oportunidade de participar,

uma vez que há rodízio semanal. A referida Comissão é apoiada pelos

participantes dos cursos de datilografia, informática, e jornalismo que compõem

a Comissão de Memória e Divulgação da Empresa dos Alunos. Assim sendo

constitui-se um dos principais produtos da EP e a sua elaboração possibilita o

exercício da divisão técnica do trabalho constituindo-se um desafio

organizacional complexo. A sua distribuição na solenidade de encerramento

para todos os participantes do LOT é um dos indicadores positivos de avaliação

da equipe técnica responsável pelo evento de capacitação (Diretor e membros

da Estrutura Primária).

Page 29: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

29

Como obra coletiva e impressa possibilita a inserção da massa

organizada na história, como os principais atores sociais – deselitiza a criação

da história - todos são sujeitos da história;

2.10 O Desmame

O Diretor do Laboratório deverá deixar o Laboratório, no máximo,

após a realização da 3ª Assembléia Geral da Empresa dos Alunos, retornando

para a solenidade de encerramento do evento de capacitação.

Esse é um procedimento metodológico que deve ser observado

por todos os Diretores de Laboratórios Organizacionais. Faz-se necessário para

que a Estrutura Primária possa avançar no processo de construção da sua

autonomia. A permanência do Diretor frustra o processo de capacitação de

todos os participantes (EP e Empresa dos Alunos) e pode ser um indicador da

insegurança do mesmo quanto à sua capacidade de capacitador ou quanto à

capacidade de autogestão do grupo social.

3 ESTUDO DE CASOS 3.1 A Ilha do Ferro e a Cooperativa dos Artesãos (Um caso de Arte e Desenvolvimento Local) 3.1.1 Antecedentes

O Projeto desenvolvido no Município de Pão-de-Açúcar, Estado

de Alagoas, em 1998, originou-se da articulação da Presidência do Conselho do

Comunidade Solidária com a SUDENE e com o Programa Nacional de Geração

de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza - PRONAGER, em maio de 1998,

buscando potencializar recursos e esforços do poder público e da sociedade civil

na área da seca, aliando ações emergenciais do Programa de Combate aos

Page 30: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

30

Efeitos da Estiagem no Nordeste do Brasil, com ações efetivas de geração de

trabalho e renda na perspectiva de transformação positiva da realidade sócio-

econômica, política, cultural e ambiental de comunidades empobrecidas, com

resultados sustentáveis.

Na elaboração da matriz de integração institucional, foi definido o

papel de cada instituição envolvida conforme especificação a seguir:

Programa Comunidade Solidária - utilizando seu poder de

articulação e mobilização da sociedade e dos poderes públicos; da então

SUDENE – disponibilizando recursos financeiros das ações emergenciais de

combate aos efeitos da seca, notadamente no que se refere à infraestrutura das

atividades produtivas estruturantes; e do PRONAGER – com a coordenação

técnica e metodológica, incluindo as ações de capacitação dos trabalhadores em

empresas associativas autogestionárias de produção de bens e serviços e de

outros tipos e da Prefeitura Municipal – com o apoio logístico ao

desenvolvimento das atividades.

Assim, o trabalho desenvolvido na Ilha do Ferro, povoado do

município de Pão-de-Açúcar - AL, ora apresentado, constitui-se em uma das 10

experiências realizadas no Nordeste, podendo vir a ser uma das referências

para a atuação do Governo e da sociedade civil no processo de convivência com

a seca e melhoria das condições de vida da população nordestina.

3.1.2 O município de Pão-de-Açúcar10

Pão-de-Açúcar, município do sertão alagoano e semi-árido

nordestino, situa-se a 240km de Maceió – capital do Estado, faz parte da bacia

10 Diagnóstico elaborado durante a etapa de planejamento da operação e prospecção dos

Laboratórios Organizacionais.

Page 31: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

31

do Rio São Francisco à oeste do Estado, tem como limites ao norte – os

municípios de São José da Tapera, Palestina e Jacaré dos Homens; a oeste o

de Piranhas; a leste o de Belo Monte e ao sul o rio São Francisco, o qual

margeia cerca de 45% do município.

Tem uma população de 23.386 habitantes, distribuídos em 67

comunidades, sendo 10.110 residentes na zona urbana e 13.276 na zona rural,

com 11.532 homens e 11.854 mulheres.

As belezas naturais e as potencialidades turísticas são grandes e

inexploradas economicamente. Além do rio São Francisco, com suas praias e

ilhas, possui um monumento de cimento armado – O Cristo Redentor, com

12.8m de altura, e 40 toneladas, construído por João Lisboa (artista local) –

erguido no morro que deu origem ao nome do município. Conta ainda com uma

escola de música e uma banda musical com tradição de mais de 50 anos. A

musicalidade do povo de Pão-de-Açúcar é uma das suas características

culturais.

Destacam-se, ainda, os sítios arqueológicos e fósseis de

paquidermes antidiluvianos.

A culinária típica da região baseia-se no pescado, camarão pitu,

carne de sol, galinha de capoeira, feijoada, buchada de caprinos. Entre os doces

destacam-se o de cabeça de frade, de leite, de mamão, de banana, de goiaba,

e a cocada. E ainda, iguarias como broa de goma, mungunzá, arroz doce, bolo

de milho, cuscuz, pamonha, macaxeira e umbuzada.

O artesanato é rica herança dos índios urumarys, acrescida da

cultura européia trazida pelos colonizadores e mais tarde por imigrantes

espanhóis. O maior centro de produção artesanal é o da Ilha do Ferro, situada

às margens do São Francisco, cujas tipologias são a renda, o bordado e os

Page 32: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

32

trabalhos em madeira. Tendo destaque também em outras comunidades os

artigos de couro, de fibras vegetais e instrumentos de pesca.

A economia do município está baseada principalmente na

agropecuária, no comércio e em algumas poucas atividades semi-industriais. A

agricultura de subsistência produz o feijão, o milho e a mandioca, predominando

os pequenos produtores familiares, parceiros e assalariados. Na pecuária

destacam-se os rebanhos bovinos, caprinos, ovinos, suínos e aves, sendo mais

numerosos os dois primeiros. Destaca-se o extrativismo mineral ( pedra utilizada

na fabricação de paralelepípedos) e o animal – pesca de peixe e camarão. O

setor informal da economia é composto por vendedores, inclusive os

ambulantes, costureiras, artesãos e prestadores de serviços domésticos.

A renda gerada no município é do montante de R$ 5.066.800,00,

sendo 91.14% oriundos de Transferências Correntes, e somente 8.86%

advindas de tributos. Não dispõe de nenhuma agência bancária. Em função

disso, a população ao se deslocar para outros centros urbanos para receber

seus vencimentos, aposentadorias e pensões, gasta a maioria dos recursos fora

do município.

Com relação ao setor saúde, é referência regional pela qualidade

da oferta dos serviços, estando o SUS em fase de implantação. O índice de

mortalidade infantil é inferior ao da região Nordeste, com 30/1000 nascidos

vivos.

Com uma população em idade escolar de 5.206 pessoas, entre

07 a 14 anos, tem matriculados no ensino fundamental 5.500 alunos,

absorvendo crianças de outros municípios, e 400 alunos no 2o Grau. Cerca de

250 pessoas têm curso superior nas áreas de enfermagem, contabilidade,

pedagogia e informática. O índice de analfabetismo é significativo – 11.076

Page 33: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

33

pessoas com mais de 5 anos de idade, o que corresponde a 51.05%11 da

população total. Está em desenvolvimento o Programa Alfabetização Solidária,

com um total de 556 pessoas matriculadas, sendo 181 da sede do município e

375 da zona rural.

Para a oferta de ações na área da educação, conta com 55

escolas - 07 estaduais, 46 municipais e 02 particulares, sendo 46 na zona rural e

09 na sede do município.

Quanto às organizações sociais, o município conta com 30

Associações Comunitárias, inclusive com 01 Federação de Associações,

Sindicato de Trabalhadores Rurais, Sindicato dos Trabalhadores da Educação,

Sindicato dos Proprietários Rurais, 01 Colônia de Pescadores, 01 Núcleo de

Desenvolvimento Comunitário, Maçonaria, Igreja Católica e Protestante,

Associação Amigos do Velho Chico (ONG que luta pela preservação do rio São

Francisco) e com ações da Visão Mundial.

Quanto à infraestrutura: a) meios de comunicação – dispõe de

telefonia fixa e celular, 02 emissoras de rádio e serviço de postagem de cartas e

encomendas; b) Meios de transporte – rodoviário (alternativo e ônibus) e fluvial

(lanchas, barcos, canoas e balsas); c) Abastecimento d’água: dispõe de adutora

que abastece a sede municipal e 08 comunidades rurais, além de outros 10

municípios vizinhos; d) Energia elétrica – mais de 80% das comunidades

dispõem de energia elétrica e 10% das comunidades rurais utilizam a energia

solar. O número de consumidores de energia é de 3.468 domicílios.

Apesar de estar situado às margens do rio São Francisco,

constata-se que os efeitos da estiagem são muito sentidos na região. Somente

neste município estavam inscritas nas frentes de serviços 1.300 pessoas, o que

indicava a necessidade imediata de ações para o desenvolvimento de

11 Dados da Prefeitura Municipal de Pão-de-Açúcar – 1998

Page 34: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

34

atividades de geração de trabalho e renda, articuladas com as ações

emergenciais em execução.

3.1.2.1 A comunidade de Ilha do Ferro 4.1.3.1 Realidade encontrada (anterior à realização do Laboratório organizacional)

A Ilha do Ferro, comunidade onde foi realizado um Laboratório

Organizacional de Terreno, situa-se a 18 Km da sede do município, e nela

reside 143 famílias, que sobrevivem da agricultura de subsistência, pecuária,

pesca, artesanato, fabricação de telhas e tijolos e do comércio.

A comunidade ficou conhecida como Ilha do Ferro, em função de

em 1917, um navio moxotó ter afundado perto de uma Ilha do rio São Francisco,

que fica localizada em frente a este povoado, e sua carcaça de ferro está até

hoje soterrada no mesmo lugar. O acesso por terra é precário e quase toda a

população utiliza o transporte fluvial.

Dispõe de 01 grupo escolar, 04 escolas municipais – cada uma

com uma sala de aula - Capela, e de uma Associação Comunitária. Na época

não dispunha de coleta sistemática de lixo, existindo muito papel e plásticos

espalhados por toda a área urbana. Rebanhos bovinos ao serem recolhidos aos

currais, trafegavam pela rua principal do povoado, com calçamento, deixando

um lastro de dejetos. Nas margens do rio São Francisco existia um cercado

com porcos, contribuindo para a poluição ambiental, e para as precárias

condições de higiene local, uma vez que muitas mulheres lavavam os utensílios

domésticos e roupas próximas do local onde estava o “chiqueiro de porcos”,

além de ser um dos pontos utilizados pela população para o banho diário. Na

chegada à Ilha, em um dos caminhos utilizados pela população, nos deparamos

com dejetos humanos, indicador das precárias condições de saneamento

básico.

Page 35: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

35

As casas, na sua maioria, eram de alvenaria e muitas sem

acabamento. Os banheiros eram construídos nos quintais. A comunidade dispõe

de energia elétrica , porém não de serviço de telefonia.

As mulheres produziam o bordado, denominado “boa noite” e

alguns homens confeccionavam pequenas peças de madeira – esculturas de

pássaros da fauna local e miniaturas de embarcações.

Quando realizamos a 1ª reunião com as artesãs na comunidade,

apenas 12 compareceram, bastante desestimuladas com a atividade artesanal,

em função de:

a) Outras ações já terem sido desenvolvidas pelos governos

federal e municipal no sentido de revitalização da atividade, e

segundo as mulheres não ter se revertido na melhoria da

qualidade de suas vidas . “Traziam os panos, as linhas, e depois

levavam as peças já feitas. Quando vendiam é que a gente

recebia o nosso ganho. E às vezes demorava muito para o

dinheiro chegar”.

b) Como a produção não era valorizada, não se esforçavam

para confeccionar o bordado, fazendo-o da forma mais simples

possível, caracterizando-o como de baixa qualidade. Aliando-se

a isso, ainda, a utilização de um tecido conhecido como “voal”

bastante fino e de poliéster, tudo isso concorrendo para a não

agregação de valor ao produto. Um lençinho era vendido por R$

1,00 (um real). Chegavam a explicitar “ com isso não vamos

conseguir melhorar a nossa vida. Não queremos que nossas

filhas tenham esse tipo de trabalho. O que ganhamos com isso

até agora foi gastar a nossa vista (olhos), já tem gente aqui

quase cega. E continuamos todas pobres”. A auto-estima dessas

mulheres era muito baixa.

Page 36: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

36

c) A existência de atravessadores da própria comunidade e de

outras localidades que se apropriavam da maior parte dos lucros.

Os homens, quase na sua totalidade, desenvolviam a agricultura

de subsistência e a pesca. A agricultura em pequenos lotes de terra ( em torno

de ½ ha ), normalmente nas margens do rio e de forma individual. Reclamavam

das condições de trabalho, bastante precárias em termos de resultados. Diziam

que “ antes da construção da barragem de Xingó, que represou as águas do rio

São Francisco, nas épocas de cheias, as águas enchiam as nossas terras,

formando verdadeiras lagoas, e a gente plantava o arroz. Era tempos bons. Isso

tudo acabou. Até a pesca foi muito prejudicada”. Queriam que fossem

desenvolvidos projetos agrícolas, com recursos do governo, sem terem uma

visão clara quanto aos resultados a alcançar, em termos de viabilidade

econômica e financeira, e portanto auto-sustentáveis, reproduzindo as práticas

existentes.

Um aspecto, muito positivo é que, segundo os moradores, não

existia consumo de drogas e nem gravidez precoce. Os jovens ajudavam as

famílias nas atividades anteriormente citadas.

Diante das condições objetivas, em época de seca, uma das

alternativas era a participação nas frentes de serviços do governo federal. Na

época estavam cadastradas nesse programa 65 homens.

O cadastro sócio-econômico das 109 pessoas (moradores da

Ilha do Ferro) participantes do Laboratório Organizacional de Terreno realizado

pelo PRONAGER revelou que 54% eram homens. No que se refere a faixa

etária, a maior concentração era de 22 a 40 anos. Quanto a renda familiar, 88%

das famílias ganhavam até um salário mínimo, e somente 2% ganham mais de 2

salários mínimos. Quanto ao tamanho das famílias, 70% era composta por 05

membros.

Page 37: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

37

3.1.3.2 O desenvolvimento do projeto

A operação no município de Pão-de-Açúcar foi a 1ª realizada do

Brasil considerando o método da capacitação massiva como eixo central de

metodologia de atuação do PRONAGER. Por se tratar de uma experiência

piloto, todas as etapas previstas foram executadas, conforme detalhamento a

seguir:

a) Articulação com o poder público local, para efetivação da parceria e

planejamento de uma reunião ampliada, realizada no município com a

participação de representantes do poder público e da sociedade civil

organizada;

b) realização da reunião acima mencionada, com representantes do

PRONAGER Nacional, PRONAGER-Alagoas (Módulo Estadual vinculado

à SUDENE), Prefeito e Secretários Municipais, Sindicatos, Comissão

Municipal de Combate aos Efeitos da Seca, Câmara de Vereadores,

Universidade Federal de Alagoas, Associações e lideranças comunitárias

e técnicos do município, objetivando: Apresentar o Programa, seus

objetivos, população-objetivo, metodologia, parcerias firmadas,

contrapartida municipal, e a importância do desenvolvimento local

integrado, como estratégia de combate à pobreza e para a geração de

trabalho e renda e melhoria da qualidade de vida de populações em

situação de vulnerabilidade social; Identificar, a partir da leitura dos

moradores, as potencialidades sócio-econômicas e vocações produtivas

do município, áreas prioritárias de atuação do Programa12, população-

objetivo, e que atividades econômicas deveriam ser apoiadas pelo

Programa;

12 Inicialmente, a comunidade de Ilha do Ferro não chegou a ser citada pelos participantes da reunião ampliada realizada na sede do município. Porém como tínhamos conhecimento da sua tradição artesanal, inclusive com possibilidades de extinção, na reunião anteriormente realizada com a Universidade Federal de Alagoas – UFAL, instituição convidada para ser parceira do projeto, indagamos sobre a mesma e como resultado da discussão, os participantes decidiram incluí-la entre as 07 localidades a ser visitadas.

Page 38: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

38

c) apresentar as condições objetivas para a implementação do Programa no

município - Formação de Grupo de Trabalho composto por

representantes do poder público e da sociedade civil, para: visita às áreas

priorizadas, elaboração de diagnósticos participativos de cada uma delas,

de ficha técnica por atividade produtiva, buscando-se identificar as

potencialidades nas diversas áreas, suas limitações e como a população

pretendia superar essas dificuldades.

d) com base nos estudos e pesquisas acima citados, realizados no prazo de

12 dias, foram definidas as comunidades nas quais seriam realizados os

Laboratórios Organizacionais de Terreno e aprofundado o conhecimento

da realidade específica de cada uma delas, com vistas à integração das

mesmas numa perspectiva de desenvolvimento do município e da região.

e) Realização de 02 Laboratórios Organizacionais de Terreno, 01 na

Comunidade de Ilha do Ferro (cuja experiência será apresentada neste

documento) e outro na Comunidade de Machado, com atividades

produtivas previamente definidas conjuntamente com a população, cuja

essência enquanto método de capacitação massiva, foi descrita no

capítulo anterior.

Para a conclusão do Plano Técnico do Laboratório

Organizacional de Terreno (LOT) de Ilha do Ferro, realizamos uma reunião na

comunidade, com ampla mobilização dos moradores, para apresentação e

discussão das atividades produtivas que poderiam vir a ser desenvolvidas no

interior do LOT, o qual duraria 45 dias, as quais seriam:

a) Produção artesanal, nas tipologias de bordado e madeira, considerando a

potencialidade local e possibilidade de agregação de valor à essa

produção em função da tradição cultural e de serem únicos no Brasil.

Page 39: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

39

Para isso deixou-se claro que não haveria interferência na

tradição local quanto aos desenhos criados pelas próprias artesãs. O que seria

realizado, caso concordassem, seria uma ação de resgate da produção, com

assessoria de consultores especializados, enfocando efetivamente a produção

de mercadoria mediante coleções que serão lançadas no mercado13,

trabalhando-se desde a concepção dos produtos, organização do trabalho até a

forma de apresentação aos consumidores, inclusive a embalagem que seria

confeccionada na própria comunidade;

b) Construção civil e Melhorias Urbanas na Ilha do Ferro cujos participantes

seriam os inscritos nas frentes de serviço do Programa de Combate aos

Efeitos da Seca, conforme acordo com o Programa Comunidade Solidária

e a então SUDENE, contribuindo para a melhoria da condições locais, e

recebimento de turistas e compradores diversos.

Isso possibilitou aos moradores desencadearem um processo de

construção de uma visão de futuro, percebendo a Ilha na sua totalidade,

inclusive definindo as obras que seriam realizadas, em função das prioridades

estabelecidas pelo conjunto dos participantes, através do voto em plenária

c) Elaboração de 01 plano de capacitação continuada – etapa Pós-LOT –

com vistas ao fortalecimento dos empreendimentos econômicos surgidos

do LOT.

Vale ressaltar, que todas as ações desenvolvidas na Ilha do

Ferro, foi fruto de discussão com a comunidade, com o cuidado de auscultá-la

para a identificação de seus anseios e aspirações, numa relação de

transparência e construção de conhecimento, aliando a vontade e determinação

da equipe técnica em contribuir para a reversão positiva da realidade

encontrada.

13 A partir de sondagem de mercado, realizada pelos consultores.

Page 40: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

40

Essa postura franca e participativa, não colonialista sabendo

reconhecer que todos somos detentores de um saber e que os moradores da

Ilha do Ferro seriam os verdadeiros sujeitos da ação, fez com que, direta ou

indiretamente, todas as famílias do povoado se envolvessem com o Laboratório

Organizacional, “tomando-o nas mãos” e assumindo de forma autogestionária

todo o processo de desenvolvimento local construído com eles.

3.1.3.3 Os resultados alcançados

As ações desenvolvidas pelo Programa Nacional de Geração de

Trabalho e Renda em áreas de Pobreza – PRONAGER, em parceria com o

Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo - IATTERMUND - cuja

metodologia constitui o eixo central da Metodologia da Atuação do PRONAGER,

e demais instituições parceiras, aliadas a efetiva participação da comunidade,

possibilitaram a consecução dos objetivos previstos, cujos resultados

apresentamos a seguir, ressaltando que as informações aqui contidas são fruto

das observações sistematizadas durante todo o processo e atualizadas

conforme dados fornecidos pela Cooperativa ART-ILHA:

a) Ao final do Laboratório Organizacional de Terreno de Ilha do Ferro, o qual

durou 45 dias, de trabalho intensivo e ininterrupto:

- Capacitação de 50 artesãos ( 44 bordadeiras e 06 escultores em

madeira) no aprimoramento e desenvolvimento das atividades

produtivas, organização dos processo de trabalho, custos,

comercialização e administração associativa autogestionária.

Somente durante o LOT, foram confeccionadas 129 peças de

bordado, além das peças em madeira;

- criação da Cooperativa de Artesãos da Ilha do Ferro – ART-ILHA

(nome escolhido pelas suas 31 sócias, e o desenvolvimento de

coleções de cama, mesa e banho com bordados – conjuntos de

Page 41: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

41

tolhas de jantar, toalhas de chá, jogos de lençóis para adultos e

recém-nascidos, tolhas de bandejas, guardanapos e toalhas de

lavabo, sendo todas as peças produzidas de acordo com as

medidas- padrão internacionais. E ainda, a confecção de etiquetas

(em português e inglês) e de embalagens rústicas e artesanais de

papel, utilizando como fecho o palito de coqueiro abundante na

região, bem como a elaboração de Fichas Técnicas por Produto,

contendo a fotografia do mesmo, e informações específicas, tais

como: dimensão, matérias-primas utilizadas, cores, peso, e

capacidade de produção mensal e preço de venda.

- integração de ações de políticas públicas locais, na área da saúde,

com assistência médica/social, mediante a realização de consultas

médico-oftalmológicas para 30 artesãs e aquisição de óculos,

tendo sido priorizadas pelo grupo as sócias com maiores

problemas de visão;

- educação ambiental, no que se refere à preservação e

conservação do meio-ambiente e realização das atividades:

Limpeza pública e coleta seletiva de lixo, limpeza do ancoradouro,

limpeza das margens do rio com a retirada de chiqueiro de porcos

existente;

- melhorias urbanas, com a construção do parque de lazer integrado

às margens do rio São Francisco (área de esporte e lazer, praça

com arborização e sede da Cooperativa ART-ILHA, considerado

ponto de encontro e mirante da Ilha do Ferro), pintura em fachadas

de algumas casas, além da limpeza de outros pontos de acesso à

comunidade;

Page 42: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

42

- limpeza e terraplanagem do terreno no qual será construída uma

Fábrica de Cerâmica (Olaria Comunitária), cujos recursos já estão

assegurados junto à Fundação Banco do Brasil.

- planejamento e realização da solenidade de encerramento do

Laboratório Organizacional, pela própria empresa, com a

exposição fotográfica da Ilha do Ferro (antes e ao final do evento

de capacitação) e exposição para venda de todos os produtos

confeccionados, tendo sido vendido, somente nessa ocasião, 40%

dos produtos.

- memória do laboratório organizacional elaborada, na qual consta

de forma sistematizada, todo o processo de planejamento e

desenvolvimento da ação - equipe técnica responsável,

diagnóstico participativo do Município de Pão-de-Açúcar e da Ilha

do Ferro, relação de participantes, matriz de integração

institucional, planos de cursos realizados, crônicas diárias

(relatórios diários sobre o desenvolvimento e avaliação da ação de

forma crítica para os ajustes imediatos, tendo como foco principal a

avaliação do processo de construção e apropriação do

conhecimento referente à autonomia local e auto-gestão dos

empreendimentos econômicos, tendo como indicador o

desenvolvimento da própria empresa), planos de trabalhos e

informe e balanços críticos elaborados pela “Empresa dos Alunos”

discutidos e aprovados em Assembléias Gerais semanais,

inventário físico-financeiro da empresa, e Plano de Trabalho da

empresa, para a etapa denominada Pós-LOT.

b) Na etapa Pós-Laboratório Organizacional (Pós-LOT)

- Realização de 01 oficina de gestão, após 12 meses de realização

do Laboratório Organizacional, na qual participaram as 31 sócias

Page 43: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

43

da empresa, onde foi discutida a situação atual da ART-ILHA, seus

avanços e limitações, e construída a proposta de reestruturação da

empresa;

- elaboração do ”Projeto Fortalecimento da Cooperativa ART-ILHA,“

conjuntamente com todas as sócias, o qual foi financiado com

recursos do Programa Comunidade Solidária, constando de

melhoria das instalações físicas, aquisição de móveis, matérias-

primas e material de divulgação;

- participação da ART-ILHA em feiras do Setor na Argentina e no

Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas (Maceió e

Arapiraca);

- Assistência técnica, quanto aos aspectos de custos e formação de

preços, inclusive com a realização de um curso pelo SEBRAE –

AL.

- Implantação de 01 Projeto de Agricultura Orgânica, financiado pela

Visão Mundial, que vislumbrou na organização da comunidade o

principal pré-requisito para o desenvolvimento da atividade

produtiva.

4.1.3.4 Situação atual

A Comunidade de Ilha do Ferro, hoje, é motivo de orgulho para

os moradores do município de Pão-de-Açúcar, pois a ART-ILHA tornou-se o

principal ícone do Município. Já foi motivo de diversas matérias veiculadas em

jornais, revistas de circulação nacional, bem como em material de divulgação do

Programa Comunidade Solidária, como experiência exitosa. Em função disso,

constantemente recebe visitas de pessoas do próprio município, de outros

Estados e do exterior. Algumas pessoas da sede do município chegam a falar:

“Pão-de-Açúcar hoje é conhecida no Brasil e exterior graças à Ilha do Ferro “.

Page 44: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

44

A Cooperativa ART-ILHA conta atualmente com 42 sócias, o que

representa uma ampliação no seu quadro de sócias da ordem de 35.4%. Dispõe

de 01 sede com salão de reuniões e produção, cantina, 02 banheiros,

almoxarifado e de móveis e equipamentos básicos. Somente no final de 2001 é

que adquiriu 01 telefone/fax, pois na Ilha do Ferro não existia nem telefonia

celular rural. O que tem contribuído para uma melhor e mais ágil a comunicação

com o mercado.

A empresa está com a sua capacidade de produção, quase que

esgotada. Produz no momento 209 peças/mês, principalmente sob encomenda,

as quais são vendidas para Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,

Goiás, Pernambuco, Fortaleza, Alagoas, Itália (Milão) e Estados Unidos (Nova

York), tendo recebido a poucos dias uma proposta dos Estados Unidos

referente a uma compra mensal no valor de 4.000 a 5.000 dólares. Existe a

perspectiva de que outras sócias sejam recrutadas para que possam dar

atendimento às encomendas.

Além dos produtos de cama, mesa e banho, a Cooperativa

introduziu um novo produto – cortes de tecidos bordados para confecção de

vestuário feminino: vestidos, calças, ou saias, cuja procura vem aumentando

progressivamente.

A retirada referente à mão-de-obra é feita logo após a venda do

produto e a Cooperativa está sempre em dia com a sua folha de pagamento da

retirada, segundo as artesãs: “A Cooperativa é importante para nós, porque

antigamente a gente vendia 01 pano por R$1,00 (se refere a um lençinho) e hoje

com a Cooperativa somente a mão-de-obra de 01 pano custa R$ 12,00.

Melhorou muito para nós”.

Quanto ao Projeto de agricultura Orgânica, atualmente são 13ha,

trabalhados da seguinte forma: No coletivo (semeadura e comercialização) e por

Page 45: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

45

unidade familiar (tratos culturais e colheita). A comunidade entende que o

Laboratório Organizacional foi o ponto de partida para a mudança qualitativa e

comportamental dos agricultores.

Segundo o Programa Comunidade Solidária, instituição parceira

do projeto - “...além da recuperação e valorização do artesanato, percebe-se

que as ações na Ilha do Ferro transformaram a relação dos moradores com o

meio ambiente, desenvolveram a auto-estima da comunidade e construíram as

bases para a auto-sustentabilidade econômica da população”. (Revista

Artesanato e Geração de Renda – Comunidade Solidária, SEBRAE e SUDENE

– Brasília, Ano 2000).

E, ainda, o Conselho do Comunidade Solidária ” a geração de

renda associada ao revigoramento das tradições populares brasileiras tem

grande potencial para mobilizar a sociedade , o comércio, a indústria e a mídia

para, em seus distintos “fazeres”, incorporarem o tema Brasil e colaborarem com

essa proposta de valorização da expressão cultural para o desenvolvimento

econômico e social do país”. (Ruth Cardoso – Presidente do Conselho do

Comunidade Solidária).

3.2 A Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX (Uma experiência de sucesso)

3.2.1 Antecedentes

A idéia do “Projeto de Revitalização da Cooperativa dos

Trabalhadores MULTI-TEX” surgiu a partir de uma apresentação no “Programa

Comunidade Solidária” sobre a Metodologia da Capacitação Massiva, realizada

pelo PROGER (SEPRE/MPO), hoje Programa Nacional de Geração de

Trabalho e Renda em Áreas de Pobreza – PRONAGER14, quando o Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES conheceu as ações

desenvolvidas pelo PRONAGER para a organização de comunidades, 14 Programa executado pelo governo brasileiro em Acordo de Cooperação Técnica com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação - FAO, em parceria com o IATTERMUND.

Page 46: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

46

objetivando dotá-las de condições para a implantação de empresas associativas

autogestionárias.

Assim, o BNDES através da Coordenação da Área de

Autogestão, iniciou as negociações com o PRONAGER com vistas à realização

de 01 Laboratório Organizacional de Empresa – LOE na MULTI-TEX, evento de

capacitação integrante da Metodologia da Capacitação Massiva dos

Laboratórios Organizacionais, do IATTERMUND, em atendimento à demanda

da Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE da Prefeitura Municipal de

São José dos Campos junto ao BNDES, quanto ao apoio creditício à

Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX.

A parceria então delineada, se adequava perfeitamente às

preocupações do BNDES, que entendia ser necessária uma capacitação prévia

em gestão empresarial associativa, em face da experiência profissional dos

sócios da Cooperativa ser na área operacional, estabelecendo-se então as

condições necessárias para a realização do referido Laboratório Organizacional,

condição imprescindível à viabilização do financiamento pelo BNDES.

Para realização do LOE, diversas instituições foram articuladas,

resultando em um plano de ação e a efetivação de parcerias, tais como:

- PRONAGER-Nacional: levantamento de informações sobre a

empresa, possibilidades e limitações e realização do Estudo de

Viabilidade Econômica e Financeira da Empresa, tendo como base a

pesquisa de mercado, bem como disponibilização de 02 consultores,

do IATTERMUND, assegurando o pagamento de honorários e diárias;

- Governo do Estado de São Paulo, através da Módulo Estadual do PRONAGER -São Paulo, vinculado à Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – SERT: cessão de insumos básicos

Page 47: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

47

(matérias-primas) e disponibilização de 01 técnico para integrar a

equipe de consultores, com ônus para o próprio Estado;

- BNDES: assegurar o financiamento do Projeto da MULTI-TEX, ao final

da capacitação, mediante a realização do Laboratório Organizacional.

- Prefeitura Municipal de São José dos Campos: apoio logístico para

o desenvolvimento das atividades.

Esperava-se que com o desenvolvimento do LOE, fossem

alcançados os seguintes resultados:

• Resgate da auto-estima dos trabalhadores;

• aceleração no nível de consciência organizativa dos participantes,

pressuposto para a qualidade das tomadas de decisões e gestão da

empresa, durante o processo de capacitação;

• capacitação em autogestão empresarial, abordando a organização dos

processos de trabalho desde o planejamento estratégico, produção,

comercialização, custos e formação de preços, dentre outros conteúdos;

• máquinas e equipamentos testados e em fase de pré-operação;

• reestruturação organizacional da Cooperativa (Análise e ajustes do

Estatuto, Regimento interno, elaboração de organograma, tributação,

definição de equipes de trabalho por setor, fluxos de matérias-primas e

mercadorias, planos de trabalho e de retirada mensal);

• planejamento das ações de monitoramento e acompanhamento à

Cooperativa numa perspectiva de capacitação continuada.

Page 48: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

48

3.2.2 A cooperativa dos trabalhadores MULTI- TEX (situação encontrada)

A Cooperativa dos trabalhadores MULTI – TEX tem como

atividade produtiva a prestação de serviços industriais (tinturaria industrial) ao

setor têxtil. Foi criada, em Julho de 1996 com 32 sócios, mediante o apoio da

Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e

Participação Acionária – ANTEAG.

Eram trabalhadores desempregados em função da falência da

empresa em que trabalhavam – PRÓCION – cuja atividade era prestação de

serviços industriais também ao setor têxtil. Essas 32 pessoas, buscando

solucionar as questões trabalhistas, articularam com os Sindicatos dos

Trabalhadores da Indústria Têxtil e o dos Mestres e Contra-Mestres do

Município de São José dos Campos, que encamparam a luta pela posse de

equipamentos e cessão, através de comodato, de instalações físicas (01 galpão)

como pagamento das dívidas trabalhistas. Assim, poderiam dispor de um quite

industrial de uma das suas unidades operacionais que possibilitasse a geração

de seus postos de trabalho.

Paralisada até fevereiro de 1998, um ano e meio depois da sua

constituição, principalmente por falta de capital de giro, e com os seus sócios em

péssimas condições de vida, demandaram junto a Prefeitura Municipal de São

José dos Campos – SP o acesso ao crédito através do BNDES, o qual exigiu,

como condição para a aprovação e liberação dos recursos financeiros constante

do seu Plano de Negócio, uma capacitação específica em Autogestão

Empresarial a ser realizada pelo PRONAGER Nacional.

Quanto ao perfil sócio-econômico dos trabalhadores, os dados

coletados revelaram o seguinte:

Page 49: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

49

Variáveis Valor absoluto Percentual Gênero:

- Masculino

- Feminino

30

02

93.7

6.3

Idade:

- Até 25 anos

- de 26 a 35 anos

- de 36 a 45 anos

- acima de 45 anos

03

10

11

08

9.4

31.3

34.4

25

Estado Civil:

- Casado

- Solteiro

- outros

24

5

3

73.9

16.1

10

Escolaridade:

- Sem escolaridade

- 1o Grau incompleto

- 1o Grau completo

- 2o Grau incompleto

- 2o Grau completo

3

26

1

-

2

8.6

82

4

-

4.5

Quantidade de Filhos:

- Não tem

- de 01 a 02

- 03 ou mais

5

14

13

17.4

43.5

39.1

Trabalho atual:

- Tem15

- não tem

10

22

30.5

69.5

15 Esses sócios buscaram trabalho fora da Cooperativa, uma vez que a mesma não havia entrado em operação.

Page 50: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

50

Renda Familiar:

- Não tem

- até R$ 200,00

- de R$ 201,00 a R$

350,00

- > que R$ 351,00

10

3

1

18

30.5

8.7

4.3

56

Como pode ser visto, a faixa etária predominante situava-se

acima de 36 anos, o equivalente a (59.5%), e destes 8 estão com mais de 45

anos. 22 estão desempregados, o correspondente a 69.5% e 10 sócios não

dispõe de nenhuma renda familiar (30.5%) e o que torna a situação bastante

precária. 30 tem até o 1o grau, o equivalente a 94.6%.

Considerando a realidade brasileira no que se refere às

exigências do mercado de trabalho, quanto ao perfil requerido ao trabalhador,

sobretudo em tempos de globalização, os dados acima demonstram a

fragilidade desses trabalhadores, frente a oferta de trabalho existente no Brasil.

A determinação dos mesmos em juntar forças no sentido de criarem a sua

própria empresa, é por demais importante, e com certeza poderá servir de efeito

demonstração para outros trabalhadores brasileiros que se encontrem em

situação similar.

O contexto no qual foi criada a Cooperativa MULTI-TEX não

possibilitou que houvesse uma discussão mais aprofundada sobre o que é uma

Cooperativa e seu funcionamento, pois apenas 02 sócios diziam saber o que é

uma Cooperativa e outros 02 o que é o seu Estatuto Social. Em autogestão

ninguém ainda tinha ouvido falar.

Tinha sido criada uma cooperativa nos moldes tradicionais,

contrariando os princípios de uma empresa que se propõe a ser autogestionária.

Page 51: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

51

Essa é a realidade do Cooperativismo brasileiro. Normalmente

existe um pequeno número de associados que consideram-se “iluminados”,

trazendo para si a responsabilidade pela gestão da empresa, fortalecendo uma

estrutura de poder verticalizada, onde “uns mandam outros obedecem”, ou seja,

uns pensam, outros executam. Inibindo a participação e impossibilitando o

conhecimento do empreendimento enquanto sistema, e a apropriação da

mesma pelo conjunto dos participantes, para que pudesse existir o sentimento

de pertinência à empresa.

Isso reflete o modelo de qualificação profissional até então

implantado no país, que tinha na sua essência o adestramento de trabalhadores,

dissociando o pensar do fazer, não atentando para a importância da construção

da autonomia individual e coletiva.

Assim, os seus sócios, pela experiência profissional, estavam

preparados como operários e para atuarem na área operacional, mas não para a

gestão da empresa associativa, respeitando os princípios da autogestão.

3.2.3 O desenvolvimento do laboratório organizacional de empresa – LOE

Diante do contexto anteriormente mencionado, o LOE seria a

oportunidade ímpar para a transformação do comportamento ideológico dos

participantes, desde que respeitados os pré-requisitos16 à realização do

Laboratório Organizacional, necessários ao desencadeamento da autogestão.

Desde o início deixou-se claro que o papel dos consultores seria

o de ”facilitador” desse processo e que a responsabilidade do sucesso ou não

da Cooperativa MULTI-TEX seria exclusivamente do seu conjunto de

associados. Pois, após o término do Laboratório Organizacional, a empresa

deveria estar reestruturada e preparada, de acordo com as expectativas e

capacidade de todos, quanto aos processos de gestão e operacional, para o 16 Ver sobre a Metodologia da Capacitação Massiva.

Page 52: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

52

enfrentamento do mercado com competência e competitividade, e para garantir

postos de trabalho para todos os seus sócios.

Assim, de acordo com a Metodologia da Capacitação Massiva,

todos os insumos indivisíveis foram colocados à disposição dos participantes,

para vivenciarem uma experiência concreta de autogestão, administrando todos

os meios de produção, repensando e construindo a empresa que todos queriam.

Pois organização não se ensina, se constrói a partir de uma vivência concreta,

enfrentando os conflitos inerentes ao processo, numa relação dialética entre

sujeito e objeto fundamentada na prática-teoria-prática, possibilitando a

construção e apropriação do conhecimento pelos participantes quanto à

organização e funcionamento da empresa. Nesse sentido, as entregas teóricas

foram realizadas sempre após a prática e em atendimento a uma necessidade

gerada pelo objeto, ou seja a empresa, de acordo com a didática da capacitação

utilizada no Laboratório Organizacional.

Nesse sentido, o processo de capacitação constituiu-se num

esforço conjunto – cooperados e consultores, na construção do novo modelo de

gestão embasado na participação coletiva, onde as decisões foram tomadas a

partir das discussões em grupo e aprovação em plenária.

3.2.4 - Resultados alcançados

a) Ao final do LOE:

- Capacitação em auto-gestão empresarial, ênfase nas áreas

mencionadas, nos resultados a serem alcançados;

- empresa reestruturada e com a capacidade de funcionamento.

Somente na fase pré-operacional foram processados e vendidos

800 Kg de produto, estimando-se para o mês seguinte (março-

1998), a marca de 5 toneladas;

Page 53: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

53

- implantados os controles financeiros básicos, os controles

operacionais e ordens de produção;

- realizada uma Assembléia Geral Extraordinária para aprovação

dos ajustes no Estatuto Social da Empresa;

- articulação com o mercado pela própria empresa, durante o

desenvolvimento do Laboratório Organizacional;

- auto-estima dos trabalhadores resgatada e determinação em lutar

pelo fortalecimento da empresa e melhoria permanente dos seus

processos operacionais e de gestão;

- planejamento das ações de monitoramento e acompanhamento da

empresa, durante os 09 meses seguintes, com avaliações e

entregas teóricas específicas.

Vale ressaltar que somente após 06 meses da realização do

LOE, o BNDES liberou a 1a parcela do financiamento no valor de R$ 68.000,00.

Durante esse período, os trabalhadores unidos decidiram investir na formação

do capital de giro da empresa, a partir dos resultados financeiros oriundos das

operações iniciadas no Laboratório Organizacional. Assim, no 1o mês

subseqüente ao evento de capacitação, decidiram por uma retirada no valor de

R$ 50,00. Isso demonstrou o espírito associativo, e o compromisso e a

determinação em lutar pela empresa e por melhores condições de vida.

E ao final deste período a MULTI-TEX já estava inserida no

mercado. Foram tingidos nesse período 109 ton. de tecidos, com um

faturamento bruto de R$ 138.313,00. E cada sócio já contava com uma retirada

mensal no valor de R$ 250,00.

Page 54: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

54

3.2.5 A cooperativa dos trabalhadores MULTI-TEX (situação atual)

Decorridos 4 anos, a MULTI-TEX atualmente conta com 29

trabalhadores, sendo 26 sócios e 03 prestadores de serviços.

Do Plano de Negócio, aprovado pelo BNDES, no valor de R$

228.700,00 (março/1998), somente foram repassados à empresa, por decisão

dos cooperados, o montante de R$ 93.000,00, em duas parcelas, a 1a no valor

de R$ 68.000,00 e a 2a no valor de 25.000,00.

A MULTI-TEX conta com um patrimônio imobilizado no valor de

R$ 350.000,00. Já adquiriu com recursos próprios, 01 caminhão, 01 camioneta

Fiorino, 02 máquinas “Calandras” e 01 Jet HT para o tingimento de poliéster e

tecidos finos.

A produção média mensal é de 70 toneladas, o equivalente a

87.5 da sua capacidade total de produção.

O faturamento médio mensal é da ordem de R$ 95.000,00, e

estão se preparando para adquirir a sua própria sede. A menor retirada mensal é

no valor de R$ 450,00.

No momento, pretendem diversificar a produção, passando

também a tecer a malha que é tingida para os clientes, mesmo continuando

como principal ramo de atividade econômica a tinturaria.

Conscientes da importância da preservação e conservação do

meio ambiente, considerando os poluentes que utilizam na produção, ampliaram

o tanque receptor da água usada no processamento, para que a mesma receba

o tratamento adequado. Para realização desse serviço a MULTI-TEX conta em

seus quadros com 01 engenheiro químico contratado.

Page 55: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

55

No que se refere à prevenção de acidentes, conta com uma

Comissão (CIPA), em atendimento à exigência da própria legislação industrial e

todos os trabalhadores executam suas atividades utilizando os instrumentos

necessários à prevenção de acidentes.

CONCLUSÃO

Os resultados constatados ao final dos Laboratórios

Organizacionais de Ilha do Ferro, e da Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-

TEX, e que estão sendo otimizados a cada dia, mostram que a organização

fundamentada na autogestão é o principal “insumo” para o desenvolvimento

econômico e social de qualquer grupo social e/ ou comunidade, desde que

gestada de forma participativa e com base nos princípios da autogestão. Tendo

como principais protagonistas e sujeitos da ação os participantes,

compreendendo desde a concepção até a sua implementação. Quando a

população participante é tratada como objeto da ação, tende a não identificar-se

com a proposta, reduzindo sua sustentação política e aumentando o risco de

que não sejam sustentáveis, contribuindo para a perpetuação do estigma de

exclusão social.

Assim, a Metodologia da Capacitação Massiva, de acordo com

seus princípios e pressupostos metodológicos e suas características, integra na

prática a economia local com a sociologia e a psicologia social formando

Page 56: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

56

capacidades. Gera capacidade de auto-organização solidária, componente

básico do capital social, considerado pelo Banco Mundial como elemento

estratégico para o desenvolvimento - ponto de partida para o desenvolvimento e

fortalecimento da coesão em nível local, que resultem em proveito da

coletividade. Entendendo-se que capital social se forma na prática social

cotidiana.

Isso é o diferencial e explica o porquê das grandes disparidades

entre países e regiões quanto ao desempenho institucional e quanto ao nível de

desenvolvimento de suas forças produtivas. Como também o porquê de projetos

sociais terem resultados positivos em determinadas comunidades e em outras

não. Pois o maior investimento tem que ser feito no homem, para que tenha a

capacidade de pensar, planejar (visão de futuro) e definir de forma autônoma,

solidária e com responsabilidade social, o que e como fazer. Isso foi o que foi

possibilitado aos moradores da Ilha do Ferro e aos trabalhadores da MULTI-

TEX.

Infelizmente, ainda não foi realizada uma pesquisa qualitativa

com cada grupo social participante desses Laboratórios Organizacionais. Seu

resultado certamente confirmariam a situação atual de cada uma das empresas

aqui apresentadas e possibilitaria que outros aspectos que julgo importante

fossem abordados, neste trabalho.

Mesmo assim, espero ter dado uma contribuição ao debate sobre

alternativas de enfrentamento do processo de exclusão social, bem como

fomentar que outros pesquisadores possam também contribuir com relação ao

tema e às experiências apresentadas.

Page 57: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

57

ANEXOS

Page 58: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

58

FOTOS da ILHA DO FERRO/Município de Pão-de-Açúcar-Alagoas

Antes, durante e depois da realização do Laboratório Organizacional de Terreno

Page 59: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

59

Page 60: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

60

FOTOS DO LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE EMPRESA Empresa dos Trabalhadores MULTI-TEX

São José do Campos – São Paulo

Page 61: “A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO …

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