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1 A mobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de lombalgia em praticantes de jiu-jitsu. Gerdeam Serafim de Araújo¹ [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia² Pós-graduação em Reabilitação em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila Resumo A dor lombar, responsável por 50% das disfunções musculoesqueléticas, é uma das principais, senão a mais frequente, causa de dor, incapacitante funcional e laborativa. A lombalgia é a definição dada a todas as categorias de dor com ou sem rigidez, que se localizem na região inferior do dorso entre o último arco costal e a prega glútea, ocorrendo normalmente uma linha media na região correspondente à quarta vértebra lombar e a primeira sacral (L4-S1). Na tentativa de encontrar alternativas terapêuticas eficazes no tratamento das dores lombares, através de estudos estabelecidos por Alf Berig, testes clínicos de Maitland, Elvey e uma plublicação do australiano David Butler, ajudaram a desenvolverem as técnicas de mobilização neural. A mobilização Neural pode ser conceituada como um conjunto de técnicas que visa a restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nervoso. Tem sido utilizada como método de avaliação e tratamento das mais diversas patologias que acometem o sistema nervoso e as estruturas por ele inervadas. Esta técnica é pouco conhecida, por isso pouco utilizada no tratamento de pacientes, devendo ser mais estudada para que seja aperfeiçoada e utilizada como técnica terapêutica. Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, tendo por objetivo levantar as eficiências da mobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de lombalgias em praticantes de Jiu-jitsu e seus benefícios aos atletas da arte suave (Jiu-jitsu). Palavras chaves: Jiu-jitsu; Lombalgias; Mobilização neural 1. Introdução O jiu-jitsu, consiste em uma técnica de defesa pessoal que possibilita ao mais fraco defender- se e derrotar um adversário fisicamente mais forte com o mínimo de esforço. A técnica é fundamentada em princípios biomecânicos (alavancas), composta por quedas, torções

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A mobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de

lombalgia em praticantes de jiu-jitsu.

Gerdeam Serafim de Araújo¹

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia²

Pós-graduação em Reabilitação em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapia Manual –

Faculdade Ávila

Resumo

A dor lombar, responsável por 50% das disfunções musculoesqueléticas, é uma dasprincipais, senão a mais frequente, causa de dor, incapacitante funcional e laborativa. Alombalgia é a definição dada a todas as categorias de dor com ou sem rigidez, que selocalizem na região inferior do dorso entre o último arco costal e a prega glútea,ocorrendo normalmente uma linha media na região correspondente à quarta vértebralombar e a primeira sacral (L4-S1). Na tentativa de encontrar alternativas terapêuticaseficazes no tratamento das dores lombares, através de estudos estabelecidos por Alf Berig,testes clínicos de Maitland, Elvey e uma plublicação do australiano David Butler,ajudaram a desenvolverem as técnicas de mobilização neural. A mobilização Neural podeser conceituada como um conjunto de técnicas que visa a restaurar o movimento e aelasticidade do sistema nervoso. Tem sido utilizada como método de avaliação etratamento das mais diversas patologias que acometem o sistema nervoso e as estruturaspor ele inervadas. Esta técnica é pouco conhecida, por isso pouco utilizada no tratamentode pacientes, devendo ser mais estudada para que seja aperfeiçoada e utilizada comotécnica terapêutica. Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, tendo porobjetivo levantar as eficiências da mobilização neural como recurso fisioterapêutico notratamento de lombalgias em praticantes de Jiu-jitsu e seus benefícios aos atletas da artesuave (Jiu-jitsu).

Palavras chaves: Jiu-jitsu; Lombalgias; Mobilização neural

1. Introdução

O jiu-jitsu, consiste em uma técnica de defesa pessoal que possibilita ao mais fraco defender-se e derrotar um adversário fisicamente mais forte com o mínimo de esforço. A técnica éfundamentada em princípios biomecânicos (alavancas), composta por quedas, torções

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2 (chaves), estrangulamentos, pressões e imobilizações. É um esporte competitivo, que exigetreinamentos intensos para a eficiência no desempenho esportivo, sendo uma exigênciabásica e muito trabalhada pelos lutadores desse esporte. O jiu-jítsu foi criado na Índia em500 A.C por monges budistas, que devido suas convicções religiosas não podiam carregararmas e para se defenderem de ladrões e saqueadores em suas viagens, eles desenvolveramtécnicas de combate corpo a corpo, após se disseminar por toda a Ásia, o jiu-jitsu foi ganharforma apenas por volta do século XV no Japão, sendo batizado de “ arte suave.” (GRACIER:, GRACIE R. BRAZILIAN JIU-JITSU 2001).

Por volta de 1914, a luta chegou ao Brasil por meio do professor e campeão mundial KonseiMaeda, conhecido como Conde Koma, que em Belém do Pará passou a ensinar a CarlosGracie, que ao chegar no Rio de Janeiro em 1920 acompanhado por seu irmão mais novoHélio Gracie, fundou a primeira academia de jiu-jítsu do Brasil. Nos últimos anos pode-seobservar um crescente número de praticantes de jiu-jitsu. De fato, essa modalidade de artemarcial que começou com o objetivo de defesa pessoal, hoje é considerada um esporte(BAFFA AP. BARROS EA, 2002; OLIVEIRA M, GOSOY JR, MOREIRA D. 2004).

Durante a luta de jiu-jitsu, o atleta se encontra em contato com o adversário na maior parte dotempo, e para manter essa posição necessita realizar movimentos sucessivos de pressão, oque demonstra a importância de uma função muscular adequada para esse movimentoespecifico. Apesar de existirem vários estudos sobre artes marciais, ainda são escassos osestudos com praticantes de jiu-jitsu, a existência de dores elevadas e com frequência nessaarte marcial, dá-se a importância deste estudo em um esporte em expansão com um númerocrescente de praticantes em todo o mundo, supôs-se que a presença de alterações estruturais,articulares associadas ao complexo de subluxação vertebral estejam relacionadas às queixasálgicas expressas pelos atletas, no caso específico dos praticantes de jiu-jitsu a maioria dasqueixas são dores na região lombar denominado lombalgia, geralmente relacionada aoesporte. Essas modificações podem relacionar-se a doenças ou a esforços excessivos sobre acoluna, como carregar peso, ou decorrente de um movimento brusco de rotação da colunavertebral, movimento bem comum entre os praticantes de jiu-jitsu (CARPEGGIANI, 2004;OLIVEIRA ET AL.,2006).

2. Lombalgia

A lombalgia é a definição dada a todas as categorias com ou sem rigidez, que se localizem naregião inferior do dorso entre o último arco costal e a prega glútea, ocorrendo normalmente nalinha média, na região correspondente à quarta e à quinta vértebra lombar (L4 – S1). Alombalgia é uma disfunção que acomete ambos os gêneros, podendo variar com dor súbita atédor intensa e prolongada, geralmente de curta duração, porém com padrão de recorrência,sendo decorrente de forças excessivas, externas ou internas. São consideradas forçasexcessivas as atividades repetidas como extensão e flexão e ou ainda por rotação excessiva deum segmento corporal, já as forças internas são as que enfraquecem a função

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3 neuromusculoesquelética, portanto consideradas excessivas ou inadequadas; (MARRAS,2000).

De acordo com Lemos, Souza e Luz (2003), a lombalgia é uma das alteraçõesmusculoesqueléticas mais comuns na sociedade, sendo uma das causas mais frequentes deincapacidade funcional, 80% a 90% da população adulta sente dor lombar em algum momentoda vida, que estar comumente associada a um distúrbio mecânico crônico da coluna vertebral,principalmente a alterações na função articular ou nos discos intervertebrais, a lombalgiatambém pode ser ocasionada por processos inflamatórios degenerativos provocados poralterações mecânicas da coluna vertebral (postura defeituosas, escoliose), malformações esobrecarga da musculatura lombar gerada pelo sobrepeso. Ainda que possam fazerassociações com atividades de vida diária, sociais e de trabalho, a causa mais exata para alombalgia mecânica ainda não foi desvendada. Pesquisas apontam possíveis condições para oaparecimento da lombalgia entre elas: tensões musculares, alterações ligamentares, fraturas,rompimentos do disco intervertebral e lesões miofasciais (NOURBAKESH, 2002; SANTOS,2004).

Porém, um desequilíbrio entre forças musculares da região lombar, principalmente damusculatura abdominal e dos extensores da coluna, parece ter mais ligação ao aparecimentoda lombalgia do que a fatores estruturais, com o comprimento da função dos músculos dacoluna vertebral, decorrentes de fadiga e sobrecargas que podem ser impostas sobre oselementos passivos da coluna lombar (discos intervertebrais, cápsulas e ligamentos),promovendo a deformação plástica dessa estrutura sensíveis à distensão, ocasionando assim,dor lombar. No jiu-jitsu, acredita-se que as causas então ligadas principalmente a postura nomomento das rotações, flexões e extensões explosivas realizadas no decorrer da luta que, aoserem analisados os movimentos e as posturas durante a pratica do jiu-jitsu destacou-se acoluna vertebral, principalmente a região lombar, como a mais acometida (LASSALA,SAFADY, 2003; BARBOSA, 2007).

Este artigo tem por objetivo geral, realizar uma revisão de literatura sobre a eficiência damobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de lombalgia em praticantesde jiu-jitsu, e específico, analisar os benefícios da mobilização neural como forma detratamento em lombalgia e destacar as evidências científicas sobre o tratamento da lombalgiaem praticantes de jiu-jitsu através da mobilização neural, a fim de promover uma reabilitaçãoda melhor forma possível ao paciente com dor lombar a partir das vantagens do uso da talterapia.

3. Metodologia

Para realização deste estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica de livros e artigoscientíficos, publicados em bases de dados como; Scielo, Bireme, PubMed e Lilacs, utilizandoas palavras-chaves: Jiu-jitsu, Lombalgia, Mobilização neural, Terapia manual e Sistema

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4 nervoso, foram explorados literaturas publicadas nos períodos de 2000 – 2012. Após aseleção, de todo o material literário publicado entre os anos 2000 à 2012, foram realizadasleituras explorativas e analíticas. Dentre as publicações, foram selecionadas somente as delíngua portuguesa e artigos que incluíssem revisões bibliográficas, tratamentos ou pesquisaexperimentais relacionados a lombalgias e mobilização neural, foram excluídas literaturas quenão atendiam a necessidades em relação ao assunto do trabalho.

4. Mobilização neural

Após a publicação em 1960 do histórico trabalho de Alf Berig, o conceito de mecânica dosistema nervoso ficou bem estabelecido. Berig observou a transmissão de tensão e movimentoatravés do sistema nervoso durante a realização de movimentos corporais, autores comoMaitland e Elvey desenvolveram testes clínicos que colocavam tensão no trato neural, essestestes ficaram conhecido como teste de tensão neural. Em 1991, o australiano David Butler,reunindo essas contribuições e adicionando sua experiência clínica, publicou;“Mobilization of the Nervous System” com ênfase à terapêutica, muitos outros pesquisadorese terapeutas tem adicionado novos conhecimentos, em neurobiomecânica e mecanismo de dor,a mobilização neural não tem um “criador” específico, mas ela é fruto da aquisição de novosconhecimentos como neurobiologia, biomecânica e fisiologia do tecido neural e da aplicaçãodos princípios das terapia manuais a esse tecido. Ao longo da história, o homem conseguiudesenvolver técnicas que pudessem ser capazes de aliviar tensões na musculatura por meio dediversas formas, agindo direta ou indiretamente no músculo. Dentre essas técnicas uma emespecial chama atenção por ser uma técnica essencialmente neural e influi no tecido muscular,a mobilização do sistema nervoso (BUTLER DS, 2003).

Para que haja movimento os músculos têm que ser capazes de encurtar e alongar comresistência mínima em todas as amplitudes de movimento, essa contração depende, além dosimpulsos motores pelo sistema nervoso, de três fatores, elasticidade e completaextensibilidade dos músculos, amplitude completa das articulações e um sistema nervosolivremente móvel e extensível. O sistema nervoso tanto central como periférico, compreendeem um só sistema, considerado contínuo como tecido eletricamente e quimicamente, portantoqualquer alteração ocorrida em uma parte dele ocasionará repercussões em todo o sistema.Não cabe ao sistema nervoso somente conduzir impulsos através de grandes amplitudes ecomplexidades de movimento, mas também adaptar-se mecanicamente a esses movimentosretraindo e alongando-se, podendo até mesmo limitar essas amplitudes em certas combinaçõesde movimentos (DAVIES, P.M, BUTLER, S.B; 2003).

De acordo com Schacklock (2005), a tensão neural adversa é definida por Butler, como umasérie de respostas mecânicas e fisiológicas anormais das estruturas do sistema nervoso quandosuas amplitudes normais de movimento e capacidade de alongamento são testadas. Quandocomparado aos outros tratamentos para desordens neuromusculares, os testes de tensão neuralsão relativamente novos, pois começaram a ser reconhecidos como terapia somente a partir de

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5 1970. Nos últimos anos fisioterapeutas têm buscado novas formas de avaliação e tratamentovoltando a sua atenção para a mobilização do sistema nervoso, que é um tecido contínuo, ouseja, apresenta conexão com os músculos e articulações que compõe o corpo humano, temsido relacionado às lesões da coluna vertebral. A justificativa para tal relação é baseada nofato de que há demonstração de que a tensão neural é maior onde os nervos se ramificam ouentram no músculo e, assim qualquer alteração ao seu nível poderá ser transmitida a todos osoutros sistemas corporais (BUTLER, LADEIRA; 2003, CHAITOW, 2001).

Segundo Cecin (2001), a mobilização neural pode ser conceituada como um conjunto detécnicas que tem como objetivo impor ao sistema nervoso maior tensão, mediantedeterminadas posturas para que, em seguida, sejam aplicados movimentos lentos e rítmicosdirecionados aos nervos periféricos e à medula espinhal, proporcionando melhoras nacondutibilidade do impulso nervoso. As técnicas de mobilização neural, são movimentospassivos ou ativos que focam na restauração da habilidade que o sistema nervoso possui paratolerar compressões normais, fricções e forças de tensão associadas com o dia a dia eatividades esportivas, que em tese esses movimentos terapêuticos podem ter um impactopositivo nos sintomas promovendo uma circulação intraneural, o fluxo axoplasmatico, aviscoelasticidade conectiva do tecido neural dentre outros, entretanto essas alegaçõesbiologicamente plausíveis não tem sido validadas.

As técnicas de mobilização neural têm sido utilizadas na recuperação de pacientes comdistúrbios musculoesqueléticos. Desde sua publicação por Maitland (1985), o slump test temsido utilizado como um instrumento de avaliação para a identificação de possíveis alteraçõesneurodinâmicas, as tensões adversas nas estruturas neurais contribuem muito para osurgimento do quadro álgico, o músculo atua na proteção do tecido neural quando este estáinflamado, fisiologicamente o sistema nervoso responde a estresses mecânicos com variaçõesdo fluxo sanguíneos, transporte axonal e tráfico de impulsos (YAXLEY, 2004; MARINZECKS, 2007; HALL T, 2008).

Nos últimos anos, muitos fisioterapeutas especialistas em ortopedia, voltaram-se para osistema nervoso, a procura de respostas para os mecanismos subjacentes a sinais e sintomas emelhores tratamentos. Um tratamento baseado na mobilização do sistema nervoso foidesenvolvido e continua evoluindo, baseado em observações clínicas e pesquisaexperimentais, sendo aplicada a todas as condições que apresentam um comprometimentomecânico ou fisiológico do sistema nervoso (MARINZECK S, 2007).

As técnicas de mobilização neural consistem em colocar tensão nos nervos periféricosaplicando movimentos oscilatórios e / ou brevemente mantidos. É importante salientar que,durante a aplicação dos testes de tensão neural, é necessário cautela por parte dofisioterapeuta. Isso justifica pelo fato do sistema neural ser único, envolvendo variasestruturas corporais, deste modo, a presença de encurtamentos musculares dos gruposenvolvidos na execução dos testes, pode interferir na aplicação e nos resultados obidos. Paraisso, este deve ser aplicado de forma precisa, a mobilização deve ser gentil, e o alongamentodo nervo fragilizado deve ser evitado. Porém, a amplitude de movimento deve ser suficiente

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6 para “ordenhar” o nervo livrando-o da congestão (CALLIET R, 2004; CARVALHO RM,2005; SHACKLOCK MO,2008).

5. Tratamento das lombalgias através da mobilização neural

Visto que a mobilização neural, é uma técnica bastante utilizada em pacientes com lombalgia,despertou-nos o interesse em verificar a sua evidência cientifica como forma de tratamento. Otratamento da tensão adversa, através da mobilização neural, é feito partindo da posiçãotolerada pelo paciente estabelecida durante o teste de slump. O slump test tornou-se o testemais comum para o membro inferior, o teste deve ser realizado com o paciente sentado, comas mãos no dorso. Pede-se que o paciente flexione a coluna torácica e lombar, e logo apósrealize também flexão cervical. O fisioterapeuta exerce pressão na cervical do paciente, paraque esta seja acentuada. Então o paciente realiza flexão de quadril com o joelho estendido,realizando flexão dorsal do tornozelo, a flexão da cervical é lentamente liberada e a respostadolorosa deve ser cuidadosamente avaliada. Os sintomas devem ser colhidos a cada etapa edeve ser também realizado para o outro membro, a ADM e as respostas dolorosas devem seravaliadas. Durante o teste, o examinador busca reproduzir sintomas patológicos, entretanto oteste impõe estresse sobre determinados tecidos e, por esta razão certo desconforto ou dor nãorepresenta necessariamente sintomas do problema. Realizam-se, ao final da amplitude,oscilações lentas e consecutivas da extremidade envolvida por aproximadamente um minuto,permitindo ao paciente um descanso de três minutos, podendo-se repetir a aplicação por maisduas vezes. Os testes neurodinâmicos são divididos em testes para membros inferiores, troncoe membros superiores, sendo que em cada teste pode-se isolar um nervo, como nos três testepara membros superiores, ou mesmo colocar sob tensão toda a cadeia nervosa como, porexemplo, no slump test ou teste de inclinação anterior, são usados testes isolados, sendo quese pode tensionar ainda toda a cadeia nervosa escolhendo o Slump Test ou teste da elevaçãoda perna estendida, SLR.

O SLR é realizado com o paciente em decúbito dorsal, posiciona-se a coluna cervical emflexão mantida, e então eleva o membro inferior de enfoque em flexão de quadril até o limitede tolerância do paciente. Pode-se aplicar a mobilização nesta posição abrangendo nervociático, tendo tencionado toda a cadeia nervosa a nível medula ou ainda isolar nervos tibial oufibular incluindo posições de inversão ou eversão do pé (BUTLER, S.B, 2003; MAKOFSKY,H.W, 2006). A aplicação dos testes neurodinâmicos é contra indicada relativamente em casosde afecção irritativas, inflamação, sinais medulares, malignidade, compressão de raízesnervosas, neuropatia periférica e síndrome da dor regional periférica. A mobilização neuralpode se dividir em quatro categorias, (a) direta, na qual os nervos periféricos e ou a medulaespinha são colocados em tensão por movimentos oscilatórios ou brevemente mantidos,através das articulações que compõem o trajeto nervoso; (b) indireta, em que os movimentososcilatórios são aplicados às estruturas adjacentes ao tecido nervoso comprometido; (c)tensionante, mobiliza-se simplesmente aumentando e diminuindo a tensão no trato neural e

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7 (d) deslizante, em que se mobiliza o trato neural sem provocar o aumento da tensão(MARINZECK S,2005; BUTLER, 2003; MAKOFSKY, 2006).

A mobilização neural tem como objetivo restaurar o movimento e a elasticidade do sistemanervoso, o que acaba por promover, portanto o retorno as suas funções normais, apesar datécnica não atuar diretamente em músculos e fáscias, é observado ganho de amplitude demovimento após sua utilização, a mobilização neural tem sido utilizada no tratamento dasmais diversas patologias do sistema nervoso, bem como das disfunções dos tecidos por eleinervados, esse restabelecimento se dá através de movimentos oscilatórios e brevementemantidos direcionados aos nervos periféricos e da medula (OLIVEIRA HFO JUNIOR,TEIXEIRA AH; 2007).

Portanto, a mobilização neural, sendo uma técnica de terapia manual, pode ser uma alternativapara o tratamento das lombalgias nos praticantes de jiu-jitsu, já que o uso da mão humana é omais antigo remédio conhecido pelo homem para reduzir o sofrimento humano, o tratamentode desordens irritáveis do sistema nervoso apresenta um desafio para os fisioterapeutas.Nesses casos, o tratamento deve ser iniciado com a mobilização do sistema nervoso do ladocontralateral à lesão sem causar sintomas ou agravá-los a maior amplitude de movimentopossível, aumentar progressivamente o numero de repetições, iniciar com vinte oscilações porminuto, por três minutos inicialmente e progredindo e, aos poucos, a progressão iniciar otratamento ipsilateralmente. Desta forma, após os ajustes manuais os praticantes do jiu-jitsu,apresentariam uma diminuição do quadro álgico, bem como redução de queixasmusculoesqueléticas (COPPIETERS, BUTLER; 2008).

6. Resultados e Discussão

De acordo com Hall e Boeing (2004), a mobilização neural tem sido utilizada como métodode avaliação e tratamento das mais diversas patologias que acometem o sistema nervoso e asestruturas por ele inervadas, os autores afirmam ainda que pacientes com lombalgia tratadoscom mobilização neural obtiveram uma redução importante da sintomatologia dolorosa.

Jesus (2004), aplicou a técnica de mobilização neural com oscilações lentas em pacientes comtensão neural e verificou aumento da flexibilidade dos isquiotibiais, concluindo que amobilização do nervo interfere no fluxo axoplasmático, podendo ser esperada a melhora dafunção neural. Assim, a melhora das atividades funcionais tem relação direta com a reduçãoda dor e com o aumento da flexibilidade.

Segundo Wright, Jull (2001) e Fonteque (2008), estudos prévios demonstram que a terapiamanual na coluna vertebral tem efeito hipoanalgésico para mecânica nociceptiva e um efeitoexcitatório no sistema nervoso simpático. Quando se compara a utilização de mobilizaçãoneural em relação a outros tipos de tratamento em lombalgia, pode-se dizer que, comparado oalongamento passivo e a mobilização neural, há uma maior eficácia da mobilização neural noganho de amplitude de movimento do quadril em relação ao alongamento passivo. Os autores

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8 relatam que esses resultados dos estudos, comprova que não existe alteração ortopédica semque haja várias estruturas envolvidas, como, neste caso, o sistema nervoso.

Confirmado esses resultados, Lopes (2010) destaca que a mobilização neural possibilitou umaprimoramento da força antes das sessões de treinamento em comparação com o alongamentomuscular. Já no estudo de D`Agostin (2007), que verificou a flexibilidade e a graduação dador através da escala visual analógica (EVA) no tratamento fisioterapêutico de pacientes comhérnia de discal (L5 – S1), com princípios do método RPG e mobilização neural, evidenciou-se uma melhora na flexibilidade e na dor, permitindo uma amplitude maior na flexão detronco e quadril.

No estudo realizado por Gressik (2006), a mobilização neural promoveu melhorassignificativas na tensão adversa expressada pela melhora do quadro álgico, restabelecimentoda amplitude de movimento e do alongamento neural, portanto evidenciando que a técnica demobilização do sistema nervoso é eficaz em portadores de lombalgias. Os estudos deMachado e Bigolin (2010), revelaram melhoras na execução das atividades funcionais, naflexibilidade da cadeia muscular posterior e na redução do quadro álgico de indivíduos comdor crônica lombar o que corrobora com as pesquisas de Silva e Ananias (2008), queobtiveram dados significantes de redução dos valores da escala de dor dos pacientes tratados.Segundo Abbott (2001), o objetivo da mobilização neural é restaurar ângulos em articulaçõescom amplitude de movimento limitada pela dor.

De acordo com Hall e Elvey (2000), a mobilização neural centra-se na hipótese demovimentos anatômicos suaves das estruturas próximas aos elementos neurais que estãosendo comprometidos. Isso pode ajudar os pacientes com lombalgias, liberando as aderênciasperineurais e a tensão de tração, especialmente durante os treinos de jiu-jitsu e caminhadas.

Butler (2003), destacou alguns fatores que podem influenciar negativamente o resultado idealda mobilização neural. São eles: gravidade da lesão, local da lesão, fatores intrínsecosrelacionados ao paciente, uma interface constante, ampliação dos sintomas, expansão dossinais, cronicidade, ocupação, pós-cirurgia, anormalidades congênitas, doença e resposta aotratamento. Quanto à cronicidade, o mesmo afirmou que, quanto maior o tempo de instalaçãoda desordem, maior o risco de envolvimento anatômico, fisiológico e psicológico.

Segundo Dias, Aires e Weidebach (2001), não há pesquisas comparativas entre as variastécnicas fisioterapêuticas existentes, o que dificulta aos profissionais da área saber qualtécnica utilizar, e o provável resultado sobre o quadro clínico do paciente. Nesse caso deacordo com Bracht (2003) e Beleski (2004), é importante referir que os testes de tensão neuraltêm importância fundamental na avaliação fisioterapêutica das síndromes dolorosas da colunalombar, e que estes testes são aplicados com o objetivo de quantificar e qualificar os desviosfísico-funcionais. Desta forma, a aplicação da tensão neural contribui para a formação de umdiagnóstico mais preciso e, consequentemente, influência no sucesso do tratamento dalombalgia em praticantes de jiu-jitsu.

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9 7. Considerações finais

A dor lombar repercute diretamente na qualidade de vida das pessoas, gerando diversos grausde incapacidade física, apesar das poucas evidencias clínicas, a mobilização neural mostra-secomo uma técnica inovadora, que num futura próximo poderá servir como complementaçãode portadores de lombalgia. A mobilização Neural tem se mostrado capaz de diminuir a dor emelhorar a função do paciente, possibilitando a prevenção e o tratamento de pacientes comlombalgias relacionadas ao envolvimento neural, através de avaliações utilizando os testes detensão neural seguidos da aplicação da técnica. Porém, com a gama diversa de terapiasdisponíveis ao fisioterapeuta, é importante que pratique uma terapia efetiva, baseada emevidências, de acordo com a avaliação clínica do paciente.

Para tratar as disfunções do sistema nervoso é necessário realizar um correto diagnóstico.Como o sistema neural é único, a utilização da mobilização neural requer precisão dofisioterapeuta na execução da técnica. De acordo com estudos pesquisados a mobilizaçãoneural promove resultados positivos no tratamento das alterações do sistema nervoso,devolvendo sua funcionalidade do ponto de vista neurodinâmico em praticantes de Jiu-jitsu. Amobilização Neural é uma técnica manual que exige bom conhecimento de biomecânica,gerando benefícios ao paciente, apesar de poder trazer desconforto devido à dor provocadapela tensão nervosa. O fisioterapeuta vem desenvolvendo a técnica e está em constante buscade melhores resultados, tanto na avaliação quanto no tratamento dos pacientes. Entretanto, onúmero de artigos e publicações a respeito do tema ainda é consideravelmente escasso nasbases de dados pesquisadas.

Por observar a evidência que demonstra a eficácia da técnica tanto na avaliação quanto notratamento das mais diversas patologias que acometem as raízes nervosas, há a necessidade deserem realizadas mais pesquisas sobre o tema para que haja melhor aperfeiçoamento evalidação desta técnica, para quer o atleta tenha mais rendimento no esporte sem queixas dedores.

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