49
AN02FREV001/REV 3.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE MOBILIZAÇÃO NEURAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

Mobilização Neural 01

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Fisioterapia

Citation preview

AN02FREV001/REV 3.0

1

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

MOBILIZAÇÃO NEURAL

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 3.0

2

CURSO DE

MOBILIZAÇÃO NEURAL

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/REV 3.0

3

SUMÁRIO

MÓDULO I

1 NEUROANATOMIA E NEUROBIOMECÂNICA GERAL - TECIDO NERVOSO

1.1 TIPOS CELULARES

1.1.1 Neurônios

1.1.2 Células da glia

1.2 FIBRAS NERVOSAS

1.3 NERVOS

1.4 TERMINAÇÕES NERVOSAS

1.4.1 Classificação das terminações nervosas

2 SISTEMA NERVOSO

2.1 SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC)

2.1.1 Encéfalo

2.1.2 Medula espinhal

2.2 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP)

2.2.1 Nervos cranianos

2.2.2 Nervos espinhais

2.2.2.1 Dermátomos

2.2.2.2 Plexos nervosos

2.3 OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO

3 IMPULSO NERVOSO

4 NEUROBIOMECÂNICA

4.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

4.1.1 Continuidade do sistema nervoso

4.1.2 Mobilidade do sistema nervoso

4.1.3 Adaptação do sistema nervoso

4.2 ORIGEM DA SINTOMATOLOGIA

4.2.1 Suprimento sanguíneo

4.2.2 Transporte axonal

AN02FREV001/REV 3.0

4

4.2.3 Inervação dos tecidos conjuntivos do sistema nervoso

4.3 INTERFACE MECÂNICA

4.4 ADAPTAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO AO MOVIMENTO

4.5 RELAÇÕES ENTRE MOVIMENTO E TENSÃO

4.6 MECANISMOS DE LESÃO

4.6.1 Tipos de lesões

5 DOR NEUROGÊNICA

MÓDULO II

6 TERAPIA MANUAL

7 MOBILIZAÇÃO NEURAL

7.1 HISTÓRICO

7.2 CONCEITOS E PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS

7.3. INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES

7.4 METAS PARA APLICAÇÃO DA MOBILIZAÇÃO NEURAL

7.5 DIAGNÓSTICO COM TESTES NEURAIS

7.6 TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO NEURAL

7.6.1 Desordem irritável

7.6.2 Desordem não irritável

8 AVALIAÇÃO FÍSICA PARA REALIZAÇÃO DE MOBILIZAÇÃO NEURAL

8.1 IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE

8.2 ANAMNESE

8.3 INSPEÇÃO ESTÁTICA E INSPEÇÃO DINÂMICA

8.4 PALPAÇÃO

8.5 AVALIAÇÃO DA AMPLITUDE DE MOVIMENTO ATIVA

8.6 APLICAÇÃO DE TESTES NEUROLÓGICOS

8.6.1 Testes de força muscular

8.6.2 Exames de reflexos

8.6.3 Exame de sensibilidade

8.6.4 Testes para troncos nervosos individuais

8.6.5 Testes especiais

8.6.5.1 Teste de Phalen

AN02FREV001/REV 3.0

5

8.6.5.2 Teste de Filkenstein

8.6.5.3 Teste do Cotovelo de Tenista

8.7 APLICAÇÃO DE TESTES DE TENSÃO NEURAL

8.8 PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE MOBILIZAÇÃO

NEURAL

MÓDULO III

9 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DO QUADRANTE SUPERIOR - TESTES

NEURAIS PARA OS MEMBROS SUPERIORES E REGIÃO DORSAL

9.1 TESTE DAS RAÍZES CERVICAIS (ULTT)

9.2 ULTT 1 – AVALIAÇÃO DO NERVO MEDIANO

9.2.1 Indicações

9.2.2 Precauções

9.2.3 Procedimentos

9.2.4 Respostas normais

9.3 ULTT 2 - AVALIAÇÃO DO NERVO MEDIANO (ULTT 2a) OU RADIAL (ULTT 2b)

9.3.1 Indicações

9.3.2 Procedimentos

9.3.3 Respostas normais

9.4 ULTT3 – AVALIAÇÃO DO NERVO ULNAR

9.4.1 Indicações

9.4.2 Procedimentos

9.4.3 Respostas normais

9.5 TESTE DE FLEXÃO CERVICAL PASSIVA (PNF)

9.5.1 Indicações

9.5.2 Procedimentos

9.5.3 Respostas normais

10 TRATAMENTO COM MOBILIZAÇÃO NEURAL

10.1 PONTOS GERAIS PARA O TRATAMENTO

10.2 MANOBRAS DE MOBILIZAÇÃO NEURAL PARA O QUADRANTE SUPERIOR

10.2.1 Mobilização de raízes com desvio lateral

10.2.2 Tração cervical oscilatória

AN02FREV001/REV 3.0

6

10.2.3 Tração sustentada

10.2.4 Testes neurais

MÓDULO IV

11 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DO QUADRANTE INFERIOR - TESTES

NEURAIS PARA OS MEMBROS INFERIORES

11.1 TESTE DE ELEVAÇÃO DA PERNA ESTENDIDA (SLR)

11.1.1 Indicações

11.1.2 Procedimentos

11.1.3 Respostas normais

11.2 TESTE DA FLEXÃO DO JOELHO NA POSIÇÃO PRONADA (PKB)

11.2.1 Indicações

11.2.2 Procedimentos

11.2.3 Respostas normais

11.3 TESTE DA INCLINAÇÃO ANTERIOR (SLUMP TEST)

11.3.1 Indicações

11.3.2 Procedimentos

12 MANOBRAS DE MOBILIZAÇÃO NEURAL PARA O QUADRANTE INFERIOR

12.1 MOBILIZAÇÃO DE RAÍZES EM DECÚBITO LATERAL

12.2 TESTES NEURAIS

13 AUTOTRATAMENTO

13.1 EXEMPLOS DE APLICAÇÕES DE AUTOMOBILIZAÇÃO

GLOSSÁRIO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AN02FREV001/REV 3.0

7

MÓDULO I

1 NEUROANATOMIA E NEUROBIOMECÂNICA GERAL - TECIDO NERVOSO

O tecido nervoso é um tipo de tecido altamente especializado, de origem

ectodérmica, que está distribuído de forma interligada em todo o organismo e exerce

funções primordiais para a vida humana. É responsável por detectar, analisar e

transmitir informações geradas por estímulos sensoriais, além de organizar e

coordenar o funcionamento do organismo estabilizando as condições intrínsecas e

participando dos padrões de comportamento (MACHADO, 1993).

É o principal tipo de tecido do sistema nervoso, sendo encontrado no

cérebro, na medula espinhal, e nervos que percorrem o corpo. Está em conexão

direta com os músculos, regulando o seu movimento, e com os tecidos glandulares

regulando a sua atividade secretora (MACHADO, 1993).

1.1 TIPOS CELULARES

O tecido nervoso é constituído por dois tipos celulares principais: os

neurônios e as células da glia (neuroglia) (MACHADO, 1993).

1.1.1 Neurônios

Os neurônios (figura 01) são os principais tipos celulares do tecido nervoso.

São células excitáveis especializadas em transmitir estímulos nervosos graças a

uma série complexa de atividades físico-químicas da sua membrana. Podem ter

diversas formas, características, comprimentos e funções diversas, segundo o papel

AN02FREV001/REV 3.0

8

desempenhado por cada neurônio. Geralmente não se dividem; os que morrem, seja

naturalmente ou por efeitos de toxinas ou traumatismos, não serão substituídos.

Tipicamente, apresentam três componentes (WEB CIÊNCIA, 2010):

Dendritos: extensões citoplasmáticas numerosas, especializadas na

função de receber os estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou

de outros neurônios. Possuem múltiplas ramificações, podendo receber estímulos de

vários neurônios simultaneamente.

Corpo celular (pericário): centro trófico da célula, que aloja todas as

funções celulares. Também é capaz de receber estímulos. Nessa estrutura ocorre a

síntese proteica e a convergência das correntes elétricas geradas nos dendritos.

Cada corpo celular neuronal contém apenas um núcleo que se encontra no centro

da célula.

Axônio: prolongamento único de calibre regular, especializado na

condução de impulsos que transmitem informações do neurônio a outras células

(musculares ou glandulares). Sua porção final é muito ramificada e termina na célula

seguinte do circuito, por meio de botões terminais, que fazem parte da sinapse.

FIGURA 01 – NEURÔNIO

FONTE: Disponível em: <www.commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

9

De acordo com o tamanho e forma de seus prolongamentos, os neurônios

podem ser classificados em: unipolares, bipolares, multipolares ou

pseudounipolares (DINIZ, 2010) (figura 02):

Unipolares: tipo raro de neurônio que possui apenas um corpo celular e

um prolongamento axonal (ex.: processos embrionários).

Bipolares: possuem um dendrito e um axônio (ex.: retina e mucosa

olfatória).

Multipolares: possuem mais de dois prolongamentos celulares. A maior

parte dos neurônios faz parte deste grupo (ex.: neurônios motores).

Pseudounipolares: apresentam próximo ao corpo celular um

prolongamento único, mas esse logo se divide em dois, dirigindo-se um ramo para a

periferia e outro para o Sistema Nervoso Central (SNC) (ex.: gânglios espinhais).

FIGURA 02 – CLASSIFICAÇÃO DOS NEURÔNIOS QUANTO À SUA FORMA

FONTE: adaptado de Freudenrich, 2010.

Os neurônios podem ser classificados ainda de acordo com a sua função

em: motores, sensoriais ou interneurônios (DINIZ, 2010) (figura 03):

AN02FREV001/REV 3.0

10

FIGURA 03 – CLASSIFICAÇÃO DOS NEURÔNIOS QUANTO À SUA FUNÇÃO

FONTE: Disponível em: <www.sogab.com.br>. Acesso em: 10 mar. 2010.

Neurônios motores ou efetuadores (eferentes): controlam órgãos

efetores, tais como glândulas exócrinas e endócrinas e fibras musculares,

transmitindo o sinal do sistema nervoso central ao órgão efetor para que este realize

a ação que foi ordenada pelo encéfalo ou pela medula espinhal.

Neurônios receptores ou sensitivos (aferentes): recebem estímulos

sensoriais do meio ambiente e do próprio organismo. Sua constituição difere dos

outros dois tipos de neurônios. De um lado do axônio existem os sensores que

captam os estímulos. Do outro lado as telodendrites. O corpo celular localiza-se no

meio do axônio.

Interneurônios (associativos ou conectores): grupo de neurônios mais

numeroso. Estabelecem conexões entre outros neurônios, formando circuitos

complexos e transmitindo sinais dos neurônios sensitivos ao sistema nervoso

central. Liga também neurônios motores entre si. Nesse tipo de neurônio o axônio é

AN02FREV001/REV 3.0

11

bastante reduzido, estando o corpo celular e os dendritos ligados diretamente à

arborização terminal, onde se localizam as telodendrites.

1.1.2 Células da glia

As células da glia (neuroglia), também presentes no tecido nervoso,

exercem a função de sustentar e nutrir os neurônios, além de auxiliar seu

funcionamento. Constituem cerca de metade do volume do encéfalo humano. Há

diversos tipos de células da glia (figura 04) (DAMIANI, 2010):

FIGURA 04 – TIPOS DE CÉLULAS DA GLIA

FONTE: Disponível em: <www.afh.bio.br/>. Acesso em: 10 mar. 2010.

Astrócitos: maiores células da glia, com grande número de

prolongamentos, cujas extremidades podem espessar-se e envolver a parede de

capilares sanguíneos. Participam do processo de cicatrização do tecido nervoso,

preenchendo áreas lesadas. Possuem receptores para neurotransmissores,

podendo realizar sinapses com neurônios ou grupos neuronais específicos. São

classificados como protoplasmáticos (presentes na substância cinzenta) ou fibrosos

(presentes na substância branca).

Oligodendrócitos: células responsáveis pela formação e manutenção

das bainhas de mielina dos axônios, no sistema nervoso central, função em que no

AN02FREV001/REV 3.0

12

sistema nervoso periférico é executada pelas células de Schwann. Apresentam

menor número de prolongamentos, podendo ocorrer associados ao corpo celular ou

ao axônio. Nesse, os prolongamentos enrolam-se, formando uma bainha de mielina

do SNC. Ocorrem tanto na substância branca como na cinzenta.

Ependimárias: células que envolvem o canal medular e os ventrículos

encefálicos, preenchidos por liquor. Atapetam os ventrículos cerebrais.

Micróglia: células macrofágicas que apresentam região central alongada

e pequena, de onde partem muitas ramificações curtas, com numerosas saliências,

o que lhe dá aspecto espinhoso. São células responsáveis pela fagocitose no tecido

nervoso, ocorrendo tanto na substância branca como na cinzenta.

Os neurônios e as células da glia estão em estreito relacionamento no

sistema nervoso (figura 05).

FIGURA 05 - INTERAÇÃO ENTRE OS NEURÔNIOS E AS CÉLULAS DA GLIA

FONTE: Disponível em: <www.afh.bio.br/>. Acesso em: 10 mar. 2010.

A substância cinzenta é assim chamada porque mostra essa coloração

quando observada macroscopicamente. É formada principalmente por corpos

celulares dos neurônios e células da glia, contendo também prolongamentos de

neurônios. A substância branca não contém corpos celulares de neurônios, sendo

AN02FREV001/REV 3.0

13

constituída por prolongamentos de neurônios e por células da glia. Seu nome

origina-se da presença de grande quantidade de um material esbranquiçado

denominado mielina, que envolve certos prolongamentos dos neurônios (axônios)

(DAMIANI, 2010).

1.2 FIBRAS NERVOSAS

Os axônios dos neurônios possuem dobras únicas ou múltiplas de certas

células e o conjunto dos axônios e das dobras envoltórias é denominada fibra

nervosa (figura 06). No Sistema Nervoso Periférico, as células envoltórias são

denominadas células de Schwann. No sistema nervoso central, as células

envoltórias são ramificações dos oligodendrócitos (WEB CIÊNCIA, 2010).

FIGURA 06 – FIBRA NERVOSA

FONTE: Disponível em: <www.doencasneurodegenerativas.blogspot.com>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

14

Quando os axônios estão envoltos por uma única dobra da célula envoltória

são denominados fibras nervosas amielínicas. Quando a célula envoltória

apresenta várias dobras em espiral ao redor do axônio, eles são denominados

fibras nervosas mielínicas, pois a bainha formada pelo conjunto das dobras

concêntricas é denominada bainha de mielina. A transmissão dos impulsos

nervosos é mais rápida nas fibras mielínicas. A bainha de mielina não é contínua,

apresentando constrições denominadas nódulos de Ranvier (espaço entre uma

célula envoltória e outras). O conjunto de fibras nervosas envoltas por tecido

conjuntivo forma os nervos (WEB CIÊNCIA, 2010).

1.3 NERVOS

Um nervo (figura 07) é uma estrutura semelhante a um cabo, constituido de

axônios e dendritos, que faz parte do sistema nervoso periférico. Contêm feixes de

fibras nervosas, envolvidas por uma membrana conjuntiva resistente. Cada feixe é,

por sua vez, envolvido por uma bainha de tecido conjuntivo com três camadas, que

conferem grande resistência aos nervos, sendo mais espessas nos nervos

superficiais, pois estes são mais expostos aos traumatismos (UMPHRED, 2004):

Epineuro: tecido conjuntivo de revestimento mais externo que envolve e

protege os fascículos, aumentando o deslizamento entre eles. É formado por várias

camadas de células fibroblásticas, sendo atravessado por arteríolas e vênulas que

em seguida formam uma rede de capilares ao redor das fibras nervosas ocupando o

espaço interfascicular. Além de proteger o fascículo dos traumas externos, o

epineuro mantém o sistema de provisão de oxigênio via vasos sanguíneos

epineurais.

Perineuro: envolve os feixes de fibras nervosas exercendo três funções

principais: proteção do conteúdo dos tubos endoneurais, barreira mecânica contra

forças externas e barreira de difusão, mantendo certas substâncias fora do meio

intrafascicular. É uma camada muito resistente.

Endoneuro: bainha intrafascicular que envolve todo o nervo e emite

septos para seu interior. É constituída por fibras colágenas que circunda a

AN02FREV001/REV 3.0

15

membrana basal do neurônio e exerce um importante papel na manutenção da

pressão dos fluidos no espaço endoneural. A pressão fluida endoneural

normalmente é ligeiramente maior se comparada com a pressão em tecidos

circunvizinhos, podendo aumentar como resultado de traumas do nervo, com edema

subsequente, afetando a função do nervo.

Mesoneuro: tecido areolar frouxo ao redor dos troncos nervosos

periféricos.

FIGURA 07 – ESTRUTURA DE UM NERVO

FONTE: Disponível em: <www.auladeanatomia.com/neurologia/neuro.htm>. Acesso em: 10 mar.

2010.

Os nervos podem ser aferentes (conduzem sinais sensoriais da pele ou dos

órgãos dos sentidos, por exemplo, para o sistema nervoso central) ou eferentes

(conduzem sínais estimulatórios do sistema nervoso central para os órgãos efetores,

como músculos e glândulas). Como veremos mais adiante, esses sinais (impulsos

nervosos), começam geralmente no corpo celular do neurônio e se propagam

rapidamente pelo axônio até a sua ponta ou "terminal". Os sinais se propagam do

terminal ao neurônio adjacente por meio da sinapse.

AN02FREV001/REV 3.0

16

1.4 TERMINAÇÕES NERVOSAS

Porção localizada na parte distal dos nervos, com função de contatar os

órgãos periféricos. Podem ser sensitivas (sensíveis a um determinado tipo de

estímulo, a partir do qual eles desencadearão o aparecimento de impulsos nervosos

nas fibras aferentes do SNC e depois atingem áreas específicas do cérebro onde

são interpretados resultando diferentes formas de sensibilidade) ou motoras

(somáticas e viscerais. Estabelecem contato com as fibras nervosas e os órgãos

efetuadores (músculos e glândulas). Podem ser chamadas de junção

neuromuscular) (figura 08).

FIGURA 08 – TERMINAÇÕES NERVOSAS

FONTE: Disponível em: <www.afh.bio.br/>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

17

1.4.1 Classificação das terminações nervosas:

Quanto à distribuição, as terminações nervosas são classificadas em:

Especiais: os receptores estão restritos a uma determinada área. São

mais complexos. Ex.: visão (retina), audição e equilíbrio (orelha interna), gustação

(língua e epiglote) e olfação (cavidade nasal).

Gerais: ocorrem em várias partes do corpo, principalmente na pele. São

classificadas em:

Terminações nervosas livres (mais frequentes);

Encapsuladas (mais complexas): corpúsculo de Meissener, corpúsculo

de Water-Paccini, corpúsculo de Krause, corpúsculo de Ruffini, discos ou meniscos

de Merckel;

Fusos neuromusculares (contração);

Órgãos neurotendíneos (tensão);

Órgãos da base dos folículos pilosos.

Quanto à localização, as terminações nervosas são classificadas em:

Exteroceptores: receptores na periferia (na derme);

Proprioceptores: receptores na parte própria do corpo (ossos, músculos,

articulações);

Interoceptores: receptores na parte interna (vísceras e vasos).

Quanto à ação as terminações nervosas são classificadas em:

Mecanoceptores;

Termoceptores;

Fotoceptores;

Quimioceptores;

Nociceptores.

AN02FREV001/REV 3.0

18

2 SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso é um sistema sensorial que monitora e coordena a

atividade dos músculos e a movimentação dos órgãos, constrói e finaliza estímulos

dos sentidos e inicia as ações do ser humano. Anatomicamente, o sistema nervoso

é dividido em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico

(SNP) (quadro I) (WIKIPÉDIA, 2010):

QUADRO I – SUBDIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO

DENOMINAÇÃO

COMPONENTES

FUNÇÕES

Sistema nervoso

central

(SNC)

Encéfalo (cérebro, cerebelo e

tronco cerebral);

Medula espinhal.

Processamento e integração

de informações.

Sistema nervoso

periférico (SNP)

Nervos (31 pares raquidianos com

neurônios sensoriais e motores);

Gânglios nervosos.

Conexão entre órgãos

receptores, o SNC e órgãos

efetuadores.

FONTE: adaptado de Web Ciência, 2010.

2.1 SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC)

O SNC recebe, processa e integra informações. É o local onde ocorre a

tomada de decisões e o envio de ordens. Subdivide-se em encéfalo e medula. Os

órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas (caixa craniana,

protegendo o encéfalo; e coluna vertebral, protegendo a medula) e por membranas

denominadas meninges, situadas sob a proteção esquelética: dura-máter (externa),

aracnoide (mediana) e pia-máter (interna). Entre as meninges aracnoide e pia-máter

AN02FREV001/REV 3.0

19

há um espaço preenchido por um líquido denominado líquido cefalorraquidiano

(liquor) (DIAS E SCHNEIDER, 2010).

2.1.1 Encéfalo

Órgão em que se radicam a sensibilidade consciente, a mobilidade

voluntária e a inteligência, contém os centros nervosos relacionados com os

sentidos, a memória, o pensamento e a inteligência. Coordena também as ações

voluntárias desenvolvidas pelo indivíduo, além de comandar atos inconscientes

(figura 09) (DAMIANI, 2010).

FIGURA 09 – ENCÉFALO HUMANO

FONTE: Disponível em: <http://biologiacesaresezar.editorasaraiva.com.br/>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

20

O encéfalo subdivide-se em (DAMIANI, 2010):

Telencéfalo: hemisférios cerebrais. Responsável pelo pensamento,

movimento voluntário, linguagem, julgamento e percepção.

Diencéfalo: estrutura que contém áreas relacionadas à sobrevivência e

padrões de comportamento complexos, núcleos reguladores que respondem

espontaneamente e involuntariamente aos estímulos do ambiente, formado pelo

tálamo e pelo hipotálamo.

Cerebelo: estrutura responsável por noções espaciais de equilíbrio,

movimentos rítmicos, aprendizagem motora, postura e tônus muscular.

Tronco encefálico: composto pelo mesencéfalo, ponte e bulbo, contém

os núcleos que originam 10 dos 12 pares de nervos cranianos, com exceção apenas

do nervo olfatório e óptico. É responsável pelo controle da respiração, ritmo dos

batimentos cardíacos e da pressão arterial.

2.1.2 Medula espinhal

Porção mais caudal do SNC, sendo assim denominada por estar dentro do

canal espinhal ou vertebral. Trata-se de uma massa ligeiramente achatada de tecido

nervoso e de calibre não uniforme por possuir duas dilatações (intumescências

cervical e lombar), de onde partem o maior número de nervos pelos plexos, braquial

e lombossacral, para inervar os membros superiores e inferiores, respectivamente

(DAMIANI, 2010).

Compõe-se por 31 pares de nervos raquidianos. Possui vias ascendentes

(trazem a informação da periferia para o SNC) e vias descendentes (levam a

informação do SNC para a periferia). Seu comprimento médio é de

aproximadamente 40 cm e sua massa total corresponde a apenas cerca de 2% do

SNC humano; contudo, inerva áreas motoras e sensoriais de todo o corpo, exceto as

áreas inervadas pelos nervos cranianos. Na sua extremidade superior conecta-se

com o bulbo cerebral e termina ao nível do disco intervertebral entre a primeira e a

segunda vértebra lombares. A medula termina afilando-se e forma o cone medular

(figura 10) (DAMIANI, 2010).

AN02FREV001/REV 3.0

21

FIGURA 10 – MEDULA ESPINHAL

FONTE: Disponível em: <www.auladeanatomia.com/neurologia/neuro.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010.

CORTE DA MEDULA ESPINHAL

FONTE: Disponível em: <www.unisinos.br/_diversos/laboratorios/neurociencias/>. Acesso em: 10

mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

22

O sistema nervoso central possui ligamentos que proporcionam estabilidade

às raízes nervosas contra estiramentos. Impedindo deslizamentos transversais,

existe o ligamento denticulado, localizado entre o nervo e a medula. Estabilizando

a medula contra movimentos anteroposteriores em que há o septo dorsomediano

(liga dura-máter posterior ao canal vertebral), as trabéculas subaracnóideas (liga a

dura-máter à medula espinhal) e os ligamentos durais (liga a dura-máter anterior à

porção anterior e anterolateral do canal vertebral) (figura 11).

FIGURA 11 – LIGAMENTOS DO SNC

FONTE: Kian: Mobilização neural: neurodinâmica, 2009.

AN02FREV001/REV 3.0

23

2.2 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP)

O SNP carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso

central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e glândulas).

Constituem-se principalmente pelos nervos, que, como já foi dito, fazem a ligação

dos diversos tecidos do organismo com o sistema nervoso central e vice-versa. Para

a percepção da sensibilidade, na extremidade de cada fibra sensitiva há um

dispositivo captador (receptor), e uma expansão que coloca a fibra em relação com

o elemento que reage ao impulso motor (efetor). Os nervos do SNP se dividem em

dois grandes grupos (WERNECK, 2010): nervos cranianos e nervos espinhais.

2.2.1 Nervos cranianos

Originam-se no encéfalo (figura 12). Três deles são exclusivamente

sensoriais, cinco são motores e quatro mistos. Agrupam-se em doze pares (quadro

II).

QUADRO II – NERVOS CRANIANOS

PAR NERVO TIPO FUNÇÃO

I Olfatório Sensitivo Percepção do olfato.

II Óptico Sensitivo Percepção da visão.

III Oculomotor Motor Controle da movimentação do globo

ocular, da pupila e do cristalino.

IV Troclear Motor Controle da movimentação do globo

ocular.

V Trigêmeo Misto Controle dos movimentos da

mastigação e percepção sensorial da

face, seios da face e dentes.

VI Abducente Motor Controle da movimentação do globo

ocular.

VII Facial Misto Controle dos músculos da mímica

AN02FREV001/REV 3.0

24

facial e percepção gustativa no terço

anterior da língua.

VIII Vestibulococlear Sensitivo Percepção postural originária do

labirinto e percepção auditiva.

IX Glossofaríngeo Misto Percepção gustativa no terço posterior

da língua, percepções sensoriais da

faringe, laringe e palato.

X Vago Misto Percepções sensoriais da orelha,

faringe, laringe, tórax e vísceras.

Inervação das vísceras torácicas e

abdominais.

XI Acessório Motor Controle motor da faringe, laringe,

palato, dos músculos

esternocleidomastóideo e trapézio.

XII Hipoglosso Motor Controle dos músculos da faringe, da

laringe e da língua.

FONTE: adaptado de Vilela, 2010.

FIGURA 12 – NERVOS CRANIANOS

FONTE: Disponível em: <www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto11.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

25

2.2.2 Nervos espinhais

Originam-se na medula espinhal (figura 13). São responsáveis pela

inervação do tronco, dos membros e parte da cabeça. São ao todo 31 pares, (8

pares cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo). Cada nervo

espinhal é formado pela união das raízes dorsal e ventral, as quais se ligam,

respectivamente, aos sulcos, lateral posterior e lateral anterior da medula por meio

de filamentos radiculares (figura 14).

AN02FREV001/REV 3.0

26

FIGURA 13 – NERVOS ESPINHAIS

FONTE: Disponível em: <www.auladeanatomia.com/neurologia/neuro.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

27

FIGURA 14 – DETALHE DE UM NERVO ESPINHAL

FONTE: Disponível em: <www.auladeanatomia.com/neurologia/neuro.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010.

2.2.2.1 Dermátomos

Os dermátomos (figura 15) são territórios cutâneos de inervação radicular

inervados por fibras de uma única raiz dorsal.

A localização dos dermátomos é importante, já que os mesmos estão

relacionados com estruturas externas visíveis e áreas de irradiação dolorosa. As

fibras nervosas podem chegar aos dermátomos, por meio de nervos

unisegmentares (cada nervo corresponde a um dermátomo que se localiza em seu

território de distribuição cutânea) ou nervos plurisegmentares (o nervo recebe

fibras sensitivas de várias raízes). O campo radicular motor é o território inervado por

uma raiz ventral.

AN02FREV001/REV 3.0

28

FIGURA 15 – DERMÁTOMOS DO CORPO HUMANO

FONTE: Disponível em: <www.sistemanervoso.com>. Acesso em: 10 mar. 2010.

2.2.2.2 Plexos nervosos

Os plexos nervosos são redes de nervos entrelaçados. Os nervos

originados destes plexos são plurisegmentares (têm origem em mais de um

segmento medular). Há quatro plexos nervosos no tronco (figura 16) (MSD, 2010):

AN02FREV001/REV 3.0

29

Plexo cervical: fornece conexões nervosas para a cabeça, o pescoço e o

ombro;

Plexo braquial: fornece conexões para o tronco, o ombro, o braço, o

antebraço e a mão;

Plexo lombar: fornece conexões para as costas, o abdômen, a virilha, a

coxa, o joelho e a perna;

Plexo sacral: fornece conexões para a pelve, as nádegas, a genitália, a

coxa, a perna e o pé.

FIGURA 16 – PLEXOS NERVOSOS

FONTE: Disponível em: <www.msdbrazil.com>. Acesso em: 15 fev. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

30

2.3 OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO

Funcionalmente, o sistema nervoso pode ser classificado em:

Somático (vida de relação): sistema nervoso que atua em todas as

relações que são percebidas por nossa consciência. Há componentes aferentes

(sensitivos: tato, dor, etc.) e eferentes (motores: contrações musculares).

Visceral: interage de forma inconsciente, no controle e na percepção do

meio interno e vísceras. Possui componentes aferentes (percebe informações de

paredes de vísceras, como dilatações, aumento da pressão ou relaxamento) e

eferentes (sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático – figura 17).

FIGURA 17 – SISTEMAS SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO

FONTE: Disponível em: <www.afh.bio.br/>. Acesso em: 10 mar. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

31

O sistema simpático e o sistema parassimpático realizam funções contrárias,

um corrigindo os excessos do outro. Quando o sistema simpático acelera

demasiadamente as batidas do coração, o sistema parassimpático entra em ação,

diminuindo o ritmo cardíaco (VILELA, 2010).

De forma geral, o simpático estimula ações que mobilizam energia,

permitindo ao organismo responder a situações de estresse com ação

essencialmente vasoconstritora e o parassimpático estimula atividades relaxantes,

como as reduções do ritmo cardíaco e da pressão arterial, com ação vasodilatadora

(VILELA, 2010).

3 IMPULSO NERVOSO

As informações sensitivas e motoras são transmitidas de um neurônio a

outro por impulsos nervosos, que se dão por sinapses. A sinapse é uma região de

contato muito próximo entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície

de outras células. Essas células podem ser tanto outros neurônios como células

sensoriais, musculares ou glandulares. Quando a célula efetora é um músculo, o

local da sinapse é chamado de placa motora. Na maioria das sinapses nervosas, as

membranas das células que fazem sinapses estão muito próximas, mas não se

tocam. Há um pequeno espaço entre as membranas celulares (fenda sináptica)

(figura 18) (WEB CIÊNCIA, 2010).

A velocidade de propagação do impulso nervoso na membrana de um

neurônio varia entre 10 cm/s e 1 m/s. A propagação rápida dos impulsos nervosos é

garantida pela presença da bainha de mielina que recobre as fibras nervosas. Nas

fibras nervosas mielinizadas, o impulso nervoso, em vez de se propagar

continuamente pela membrana do neurônio, pula diretamente de um nódulo de

Ranvier para o outro, podendo atingir velocidades da ordem de 200 m/s (WEB

CIÊNCIA, 2010)

AN02FREV001/REV 3.0

32

FIGURA 18 – SINAPSE

FONTE: Disponível em: <www.saude.hsw.uol.com.br/nervo5.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010.

Na maioria das sinapses, quando os impulsos nervosos atingem as

extremidades do axônio da célula pré-sináptica, ocorre a liberação, nos espaços

sinápticos, de substâncias químicas denominadas neurotransmissores

(mediadores químicos), que têm a capacidade de se combinar com receptores

presentes na membrana das células pós-sinápticas, desencadeando o impulso

nervoso. Há mais de dez substâncias que atuam como neurotransmissores (WEB

CIÊNCIA, 2010).

AN02FREV001/REV 3.0

33

Entre elas estão (WEB CIÊNCIA, 2010):

Endorfinas e encefalinas: bloqueiam a dor, agindo naturalmente no

corpo como analgésicos.

Dopamina: neurotransmissor inibitório que produz sensações de

satisfação e prazer.

Serotonina: neurotransmissor que regula o humor, o sono, a atividade

sexual, o apetite, as funções neuroendócrinas, temperatura corporal, sensibilidade à

dor, atividade motora e funções cognitivas.

GABA (ácido gama-aminobutírico): principal neurotransmissor inibitório do

SNC. Está envolvido com os processos de ansiedade. Seu efeito ansiolítico seria

fruto de alterações provocadas em diversas estruturas do sistema límbico, inclusive

a amígdala e o hipocampo.

Ácido glutâmico: principal neurotransmissor estimulador do SNC. Sua

ativação aumenta a sensibilidade aos estímulos dos outros neurotransmissores.

A transmissão do impulso nervoso ocorre em doze etapas básicas (figura

19) (MSD, 2010):

1. Os receptores sensitivos da pele detectam as sensações e transmitem

um sinal ao cérebro.

2. O sinal é transmitido ao longo de um nervo sensitivo até a medula

espinhal.

3. Uma sinapse na medula espinhal conecta o nervo sensitivo a um nervo

da medula espinhal.

4. O nervo cruza para o lado oposto da medula espinhal.

5. O sinal é transmitido e ascende pela medula espinhal.

6. Uma sinapse no tálamo conecta a medula espinhal às fibras nervosas

que transmitem o sinal até o córtex sensitivo.

7. O córtex sensitivo detecta o sinal e faz com que o córtex motor gere um

sinal de movimento.

8. O nervo que transmite o sinal cruza para o outro lado, na base do

cérebro.

AN02FREV001/REV 3.0

34

9. O sinal é transmitido para baixo pela medula espinhal.

10. Uma sinapse conecta a medula espinhal a um nervo motor.

11. O sinal prossegue ao longo do nervo motor.

12. O sinal atinge a placa motora, onde ele estimula o movimento muscular.

FIGURA 19 – TRANSMISSÃO DO IMPULSO NERVOSO

FONTE: Disponível em: <www.msdbrazil.com>. Acesso em: 15 fev. 2010.

AN02FREV001/REV 3.0

35

4 NEUROBIOMECÂNICA

A neurobiomecânica estuda a mecânica normal do tecido neural e dos

tecidos associados. Como vimos, o sistema nervoso exerce a importante função de

carregar impulsos centrais para proporcionar movimentos e sensibilidade. Os seres

humanos têm a capacidade de realizar movimentos amplamente especializados com

o sistema nervoso alongado ou relaxado, estático ou em movimento. O sistema

nervoso não somente tem que conduzir impulsos por meio de notáveis amplitudes e

variedades de movimentos, mas também tem que se adaptar mecanicamente

durante esses movimentos (BUTLER, 2003).

4.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Há conceitos que precisam ser compreendidos para que se entenda a

mecânica normal do tecido nervoso. Entre eles estão: a continuidade do sistema

nervoso, a mobilidade do sistema nervoso, o tensionamento do sistema

nervoso e a interligação entre a função e a mecânica do sistema nervoso

(MARINZECK, 2010).

4.1.1 Continuidade do sistema nervoso

O sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico formam entre si um

trato tecidual contínuo, portanto, movimentos dos membros e do tronco podem ter

um efeito mecânico local e global no SNP e no SNC. Essa continuidade é

proporcionada e mantida de três modos (BUTLER, 2003):

AN02FREV001/REV 3.0

36

Continuidade do tecido conjuntivo: embora possuam diferentes

formatos (epineuro, no SNP, e dura-máter, no SNC), estão conectados entre si.

Conexão neuronal: os neurônios são interconectados eletricamente de

forma que um impulso gerado no pé pode ser recebido pelo cérebro.

Conexão química: os mesmos neurotransmissores existem no SNC e no

SNP e há um fluxo de citoplasma no interior dos axônios.

4.1.2 Mobilidade do sistema nervoso

O sistema nervoso se adapta aos movimentos do corpo por meio de

movimentos relativos às estruturas que o envolve. Como é um tecido contínuo,

movimentos em uma parte são transmitidos para outros locais por tensões

(MARINZECK, 2010).

4.1.3 Adaptação do sistema nervoso

O sistema nervoso possui propriedades elásticas e pode se encurtar ou se

alongar em resposta a movimentos corporais. Uma vez que, sendo um tecido

contínuo, a tensão pode ser transmitida por meio do sistema. O sistema nervoso

precisa continuar transmitindo impulsos nervosos ao mesmo tempo em que se

adapta por meio de suas propriedades mecânicas aos movimentos impostos pelo

organismo. Sua função depende de seu estado mecânico e seu estado mecânico

reflete e depende de sua função (figura 20) (MARINZECK, 2010).

AN02FREV001/REV 3.0

37

FIGURA 20 – CONTINUIDADE DO SISTEMA NERVOSO

TENSÕES APLICADAS EM UMA EXTREMIDADE SÃO TRANSMITIDOS POR

TODA A CADEIA NEURAL

FONTE: Disponível em: <www.terapiamanual.com.br>. Acesso em: 10 mar. 2010.

4.2 ORIGEM DA SINTOMATOLOGIA

Os sintomas de disfunções do sistema nervoso são associados a processos

que podem ser prejudicados na deformação mecânica, como (MARINZECK, 2010):

Suprimento sanguíneo ao sistema nervoso;

Sistemas de transporte axonal;

Inervação dos tecidos conjuntivos do sistema nervoso.

4.2.1 Suprimento sanguíneo

Os neurônios são células extremamente sensíveis a alterações do fluxo

sanguíneo. Um suprimento vascular ininterrupto é fundamental para a função

neuronal normal. O sangue proporciona a energia necessária para a condução de

AN02FREV001/REV 3.0

38

impulsos e também para o movimento intracelular do citoplasma do neurônio

(BUTLER, 2003).

As raízes nervosas são irrigadas por dois vasos aferentes distintos (um

distal e um proximal), que correm dentro das camadas exteriores da bainha da raiz.

Os dois vasos unem-se por anastomose a partir de aproximadamente dois terços do

comprimento das raízes nervosas da medula espinhal, local em que a rede vascular

é menos desenvolvida e mais vulnerável a lesões (BUTLER, 2003).

O suprimento sanguíneo das raízes nervosas realiza adaptações ao

movimento como "bobinas, barras em T e rabos de porco". As bobinas e os rabos de

porco permitem o alongamento enquanto as barras em T permitem um rápido

desviar do sangue se o ramo estiver bloqueado (figura 21) (BUTLER, 2003).

FIGURA 21 – SUPRIMENTO SANGUÍNEO DE UMA RAIZ NERVOSA

FONTE: Butler: Mobilização do sistema nervoso, 2003.

4.2.2 Transporte axonal

Uma vez que a propagação de impulso e o transporte axonal dependem de

uma provisão de oxigênio local, o sistema microvascular possui grande capacidade

de reserva. Essa rede vascular desenvolveu-se com a evolução da espécie frente às

AN02FREV001/REV 3.0

39

grandes amplitudes de movimento exigidas ao SNP. O suprimento vascular para os

nervos periféricos é destinado a fornecer fluxo de sangue ininterruptos independente

da posição do tronco e dos membros. O volume de material em um axônio e

terminais podem ser milhares de vezes maiores que no corpo celular. Dentro do

citoplasma de um neurônio ocorrem movimentos de materiais e substâncias. Esse

transporte acontece em várias velocidades (BUTLER, 2003):

Lenta: transportam material citoesqueletal (microtúbulos e

neurofilamentos). Existe para manutenção da estrutura do axônio.

Rápida: transportam substâncias para uso na transmissão de impulsos na

sinapse (neurotransmissores e vesículas transmissoras). Dependem do suprimento

ininterrupto de energia do sangue (substâncias tóxicas e deficit de sangue irão

atrasar ou impedir).

4.2.3 Inervação dos tecidos conjuntivos do sistema nervoso

Os tecidos conjuntivos dos nervos periféricos, raízes nervosas e o sistema

autônomo possuem uma inervação intrínseca (nervos nervosos) originados da

ramificação axonal local (figura 22).

AN02FREV001/REV 3.0

40

FIGURA 22 – INERVAÇÃO DO TECIDO CONJUNTIVO DE UM NERVO

PERIFÉRICO

FONTE: Butler: Mobilização do sistema nervoso, 2003.

A dura-máter possui inervação intrínseca e extrínseca. É inervada por

pequenos nervos segmentares bilaterais que inervam ainda o ligamento longitudinal

posterior, periósteo, vasos sanguíneos e o anel fibroso do disco intervertebral. Um

plexo dural é formado quando o nervo entra na dura formando uma malha de nervo.

A densidade da inervação depende do segmento vertebral. As raízes nos níveis

cervical e lombar são mais ricas em nervos do que as raízes torácicas (figura 23)

(BUTLER, 2003).

Terminações nervosas livres têm sido observadas no perineuro, epineuro e

endoneuro. Terminações encapsuladas como os corpúsculos de Paccini

(sensibilidade vibratória) têm sido observadas no epineuro e perineuro (BUTLER,

2003).

AN02FREV001/REV 3.0

41

FIGURA 23 – INERVAÇÃO DA DURA-MÁTER

FONTE: Butler: Mobilização do sistema nervoso, 2003.

4.3 INTERFACE MECÂNICA

A interface mecânica é caracterizada como o tecido ou material adjacente ao

sistema nervoso que pode se mover independentemente do sistema, como

músculos ou articulações, propiciando o desencadeamento de lesões ou

sintomatologia dolorosa (figura 24) (CHAYTOW, 2001).

Podem ser puras (fáscia, vaso sanguíneo, músculos, ligamentos) ou

patológicas (osteófitos, edemas, fibrose fascial). O músculo supinador é um exemplo

de interface pura mecânica do nervo radial, uma vez que passa pelo túnel radial. As

articulações zigoapofisárias também são interfaces mecânicas puras do sistema

nervoso porque se localizam próximas das raízes nervosas (BUTLER, 2003).

Há ainda locais onde as estruturas neurais são mais vulneráveis como a

passagem por articulações altamente móveis, canais ósseos, forames

AN02FREV001/REV 3.0

42

intervertebrais, camadas fasciais, e músculos contraídos tonicamente (BUTLER,

2003).

FIGURA 24 – INTERFACE MECÂNICA

FONTE: Butler: Mobilização do sistema nervoso, 2003.

4.4 ADAPTAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO AO MOVIMENTO

Alguns dos movimentos do sistema nervoso podem ser observados nos

nervos periféricos e na medula espinhal, uma vez que o sistema nervoso possui um

mecanismo de adaptação de movimento. Essa possibilidade de adaptação é

decorrente de alguns fatores (BUTLER, 2003):

Presença de comprimento em excesso no sistema nervoso;

Movimentação do nervo em relação ao tecido circundante;

O epineuro e cada fascículo movimentam-se contra seu vizinho.

AN02FREV001/REV 3.0

43

4.5 RELAÇÕES ENTRE MOVIMENTO E TENSÃO

De modo geral, se uma parte do corpo for movida e as outras partes do

corpo forem mantidas em posição neutra, haverá menos tensão e mais movimento

do sistema nervoso em relação às interfaces. Ao contrário, se o mesmo movimento

fosse realizado com partes do corpo em tensão, haverá aumentos grandes na

tensão intraneural, mas pequeno movimento do sistema nervoso (BUTLER, 2003).

Nos movimentos realizados pelo corpo humano, as consequências para o

sistema nervoso se espalham por uma distância maior do que para as estruturas

não neurais. Como em uma dorsiflexão do tornozelo irá influenciar o sistema

nervoso na coluna lombar e talvez mais adiante. Os músculos e as articulações

afetadas pela dorsiflexão estarão abaixo do joelho, embora o tecido fascial possa ser

tensionado a níveis mais superiores (BUTLER, 2003).

4.6 MECANISMOS DE LESÃO

O SNC e o SNP são geralmente lesionados por compressão das estruturas

adjacentes ou por estiramento. Na compressão mecânica ocorre deformação das

fibras nervosas e isquemia local, causando a perda das propriedades mecânicas e

funcionais das fibras nervosas por obstrução local do movimento, inflamação,

fibrose, proteção reflexa muscular local e excesso de tensão na totalidade da fibra

(MARINZECK, 2010).

As lesões mais comuns são consequências mecânicas e fisiológicas

decorrentes de compressões causadas por atritos, torsões, angulações,

estiramentos e, ocasionalmente, doença, que promovam alterações no mecanismo

de transporte de substâncias (MARINZECK, 2010).

Frente a um estiramento ou compressão nervosa, ocorre uma diminuição da

microcirculação local, geralmente temporária, até que se restabeleça uma posição

AN02FREV001/REV 3.0

44

corporal que suavize este tensionamento. Essas compressões, por períodos

prolongados, tornam-se crônicas e provocam estase venosa, aumento da

permeabilidade vascular, edema e fibrose, prejudicando a função dos nervos

(MARINZECK, 2010).

Com a lesão nervosa, a função do nervo fica prejudicada, alterando a

condução elétrica, provocando distúrbios sensoriais (dor, parestesia), motores

(fraqueza) e autonômicas (vasomotoras). A alteração do fluxo axoplasmático implica

em disfunções tróficas e inflamação dos tecidos inervados por este (MARINZECK,

2010).

As fibras nervosas dependem de um suprimento sanguíneo ininterrupto para

uma função normal. Para uma circulação intrafascicular adequada, a pressão nas

estruturas contidas dentro do túnel neural deve ser maior na arteríola epidural e

menor nos capilares, fascículo, vênula epidural e túnel (figura 25) (BUTLER, 2003).

FIGURA 25 – CONDIÇÃO NORMAL EM UM TÚNEL NERVOSO

FONTE: Butler: Mobilização do sistema nervoso, 2003.

Em situações em que a pressão no túnel aumenta, a drenagem venosa se

torna prejudicada. Estágios distintos podem ocorrer quando a pressão no túnel

torna-se permanentemente alta: hipóxia, edema e fibrose (figura 26). Com a estase

AN02FREV001/REV 3.0

45

venosa e consequente hipóxia, a nutrição da fibra nervosa é reduzida. A isquemia

neural é uma provável fonte de dor e alterações de sensibilidade (BUTLER, 2003).

FIGURA 26 – CONDIÇÕES PATOLÓGICAS EM UM TÚNEL NERVOSO

AN02FREV001/REV 3.0

46

FONTE: Butler: Mobilização do sistema nervoso, 2003.

4.6.1 Tipos de lesões

Os principais tipos de lesões são (BUTLER, 2010):

Compressão nervosa: normalmente com sintomas presentes. É

ocasionada por compressão de uma estrutura de interface por um espasmo

muscular, disfunção artrocinemática, osteófitos, entre outras causas.

Sensibilização: normalmente com sintomas presentes. É caracterizada

por um aumento da sensibilidade do tronco nervoso. Pode ocorrer devido a uma

irritação inflamatória ou por um estiramento nervoso. Pode haver alteração postural

devido a uma compensação involuntária. Há dor à palpação.

Perda da elasticidade: normalmente sem sintomas. Acontece em razão

de um encurtamento do tecido conjuntivo. A amplitude encontra-se diminuída. Os

sintomas aparecem quando os nervos são colocados em tensão.

AN02FREV001/REV 3.0

47

5 DOR NEUROGÊNICA

Dor neurogênica é o termo genérico utilizado para descrever um conjunto

de sintomas associados que podem ser desencadeados por lesões nervosas. Além

das radiculopatias e compressões nervosas periféricas, esses sintomas também

podem estar presentes em síndromes musculoesqueléticas como a epicondilite

lateral, tendinose de Aquileu, dor no calcâneo e entorse de tornozelo (NEE E

BUTLER, 2010).

A distribuição da dor neuropática também pode ser variável de indivíduo

para indivíduo, devido a peculiaridades anatômicas. Há fibras sensitivas e motoras

que fazem conexões intradurais entre segmentos de medula (um dano neural perto

do forame intervertebral pode afetar fibras nervosas associadas com mais de um

nível de medula). Os neurônios do SNC se tornam sensibilizados depois de danos

dos nervos periféricos e ampliam seus campos receptivos. Em decorrência disto,

sintomas neuropáticos periféricos podem ir além dos limites dermatomais típicos

(NEE E BUTLER, 2010).

Alguns movimentos ou posições que expõem os tecidos neurais sensíveis a

estímulos de compressão, fricção, tensão ou vibração podem desencadear sintomas

dolorosos em pacientes que possuem dor neurogênica (BARON, 2000).

As principais queixas sintomáticas incluem (BARON, 2000):

Sintomas positivos: refletem um nível anormal de excitabilidade no

sistema nervoso e incluem dor, parestesia, disestesia e espasmo;

Sintomas negativos: indicam condução de impulso reduzida nos tecidos

neurais e incluem hipoestesia ou anestesia e fraqueza;

Dor de tronco neural: sensação profunda que é atribuída ao aumento da

atividade na sensibilidade química ou mecânica dos nociceptores nos envoltórios de

tecido conjuntivo do sistema nervoso;

Dor disestética: sensação pouco conhecida ou anormal como

queimação, formigamento, choques, puxões ou sensação de algo rastejando;

AN02FREV001/REV 3.0

48

Hiperalgesia: resposta de dor exagerada produzida por um estímulo

normalmente doloroso;

Alodinia: resposta de dor criada por um estímulo que normalmente não

seria doloroso.

As dores neurogênicas podem ser decorrentes de compressões ou de

lesões que sensibilizam as estruturas (sensibilização). Cada qual possui um

mecanismo de lesão diferente (figura 27) e também características clínicas diversas

(quadro III)

FIGURA 27 – MECANISMOS DE DESENCADEAMENTO DE DOR NEUROGÊNICA

FONTE: Masselli: Mobilização neural, 2008.

AN02FREV001/REV 3.0

49

QUADRO III – CARACTERÍSTICAS DA DOR NEUROGÊNICA

Características Compressão Sensibilização

Descrição Queimação, formigamento ou

choque.

Em facada, dor contínua.

Reconhecimento Não familiar

(nunca experimentada antes).

Familiar

(como dor de dente).

Distribuição Cutânea ou subcutânea em

área inervada pelo nervo.

Profunda ao longo do tronco

nervoso.

Frequência Variável, intermitente. Usualmente contínua com

períodos de piora e melhora.

Movimento de alívio Flexão, lateroflexão e rotação

contrária.

Extensão, lateroflexão e

rotação homolateral.

Movimento de piora Extensão, lateroflexão e

rotação homolateral.

Flexão, lateroflexão e rotação

contrária.

Postura Postura antálgica cruzada. Postura antálgica direta.

Reflexos Diminuídos. Inalterados.

Exemplos Causalgia, neuropatia de fibras

nervosas, neuralgia pós-

herpes.

Compressão de raiz nervosa,

neurite braquial, neurite da

hanseníase.

FONTE: adaptado de Kian, 2009.

FIM DO MÓDULO I