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a m u l h e r por M A R I A As poucas existentes entre nós não sabem, diurna maneira geral, realizar a sua missão verdadeira e conscientemente. E como nos disse nwm a r - tigo do «Sol Nascente» Ar- mardo Martins, elas enchem os Jornais, revistas, folhetos e livros duma literatura Inútil, se assim lhe podemos chamar. uma cu outra que sal eifcsse conjunto e se conista- tarmos bem a sua maneira de set, temos ocasião de ver a íuta que sustenta contra o melo. Nessas, podemos ver a sua alma femlni/na e de ser humano. Mas são tão poucas! As outras, a maioria, se- g>u:m o caminho que Arman- do Martins descreve. O seu artigo «A mulher in- telectual portuguesa—mos li- vros, no amor e na vida», é a expressão exacta do que se papisa. E' veemente, poderá ser «indelicado», mas é tre- cíeo. Por Isso mesmo, todas nós, mulheres incaníormlstas. lhe devemos agradecer a sua atitude. 'Estou co.mpletaanerr.te 1 de acordo cem êle, quando afir- ma:—«A mulher portuguesa é amorosa como uma gata, m?s- mo quando é poetisa. Não compreende a dedicação e o Interesse per qualquer convic- ção social: a sua ambição co- meça e acaba no homem e a et» grande felicidade, é um beijo icr.gamente desejado». Mas observando bem os fac- tos, de quem é a eu''pa? E' só dela? Oh! não. o homem tem- na em maior escala. Se ,e!a não compreende a razão do seu ser, a êle o deve. Quem foi que a escravizou durante séculos e séculos? Qus» lhe faziam e diziam quando ela tlentava reagir? Que instrução lhe permitiam? Que obras lhe davam para ler? Em suma, que vida era irermfttda à mulher? Viver em casa, tratar do marido e des filhos ou. então, Ir para um convento—as ricas cu servir o seu senhor—as po- bres. Era nisto que se resumia a vida dum ser, que não sendo nem superior nem Inferior ao homem, mas diferente, nas- cia, desenvolvia-se e morria, sem deixar mais que as filhos, eemo vestígio da sua passa- gem pela terra. Recordemos o que se discu- tiu no concilio de Nlcea, ano 325, se a mulher teria ou não alma, o.s principias de Platão A U R O R A quie a desproviam de toda a educação, Ao., etc. Há tanta e tanta cisa que citar a êste respeito!.. I I 0 ULTIMO FILME DE PABST por MANUEL DE AZEVEDO Ela tem culpa, mas a do hemem é maior, sendo a èle que se deve o sen estado actual, de pobre ente que se encontra submisso perante o seu senhor. Ainda hoje, que livros se dão para as mãos das nossas jovens? Os de Mme Delly, Max riu Veuzi, etc. E quando elas têm a curiosldad" de ler um die Ferreira de Castro. Cervantes, Wells, Barbuss*», Maria Lacerda de Moura, etc. e acompanhar as evoluções do munido, todos nós sabemos o que lhes dizem e a grande oposição que lhes fazem. Ela habituada à escravidão de- tantas centenas de anos, tenta pó-'la de lado, mas isso quanto lhe não tem custado e custará!... Se há homens que a compreendem, ouitircs que não, e infelizmente são esses que represienitam a maioria. Uma coisa que custa a acre- ditar, mas que é a realidade, é o facto dos homens que se dizem superiores, conscientes e dum certo grau de cultura, na prática, desejarem a mulher como «anjo do lar» e nada mais que isso. Quem os seus escritos, faz um juízo, mas quem os conhece, faz um outro e oposto. E' assim qi-s- acontece com um grande nú- mero dos no.ssos homem» Inte- lectuais. Vê-se isso com tanta facilidade! Ao saírem das universida- des, as nossas mtfheres, que fazem depois? Umas casam-se—poucas é Certo—e duma maneira geral, ficam sem exercer função al- guma que se relacione com cs seus trabalhos e conheci- mentos anteriores. Mas é pre- ciso acentuar quem é ainda o 'Culpado. Sim. é o homem. E quem sabe se não será êle mesmo, que admitindo que ela o possa superar pela ,sua actividade intelectual, lhe Im- põem o constrangimento des- ta acção e a quere como «anjo do lar»? E isto verifi- ca-se desde o comerciante da aldleia até ao intelectual da Academia de Ciências... As oUtras, as que estabele- cem o seu consultório ou se servem do que estudaram para o bem da sociedade, ne- nhum homem as procura. 'Continua no pagino deu<sei«l uma experiência, mero en- saio para futuros trabalhos e esperemos a continuação die uma obra que parecia ter ter- minado. ainda multo a esperar de Pabst. a gt.11.4yao dos 20 BOQ6, que nao coinitguvu fazer ourar os icus pximciios vdgiaos to troar ous CantQOets ua uxanue Uuurra aonunuva e ensuirae- cia tudo) mas que oia qa^re I lazer ouvir a sua voz, ja mai»- I cuia, itjirte mas conseicwie, ; oeve muito a Paasi. Cem efei- to, nos, jovens que no d=ScJo de conhecimento e oonsurur çao noa debruçamos sobra a existência em atj.ude que 7 pretende ser de ainause sere- I na, temos na obra de Pabst —obra forte de temas, suges- I tlva e coeren'e, plena die hu- manismo—campo fértil de ensinameniUoá, sugestões de cooperação e amor. Quando, festos de iado rn últiiimus calções, nos deliciá- vamos perante o beijo finai c caiadoiro do cinema de en- tão, Pabst deu-njs Quatro de Infantaria—a destruição, a morte e o ódio: o drama da vida—e A Tragédia da Mina— a Irmanaçao na tragédia, o findar dos ódios: a vontade do homem vencendo o dra- ma. E, porque essa obra sur- g:u no despertar das nossas consciências, a sua Influência 5 foi enorme. Eis porque devemos olhar com Interesse para as actuais tendências desse invulgar ci- neasta e homem de pensa- mento que, após dois ou três ano» d> sliiêniclo, recomeça agora a sua actividade. se exibiram, entre nós, nesta épcca, duas obras a uas. O Herói Moderno, um filme correcto sem nada de novo, feito na América (vêr a crí- tica de Alves Costa no n.° 19), e agora A Mulher que Destruiu Salóníca, feito em França. A Mulher que Destruiu Sa- lónica é uma história de es- pionagem, banal complicação de situações, atravessada por uim caso psicológico lniteres- % sante, Infelizmente um pouco 1 apagado pelas exigências da história. E ' o caso de um es- pião, apanhado pela con.bra espionagem, que ante a ideia de ser fusilado, vende a dignidade, traindo os anti- gos companheiros. A seguir, fingindo continuar a desem- penhar a sua missão mas sen- - do na realidade um delator e um canalha, Jogador e de- vasso, apaixona-se por uma outra espia que o despreza. Mas èle, continuando embora a ser denunciante e vicioso, acaba por sacriflcar-se, pre- ferindo morrer a denunclur a mulher que ama, vencendo desejos de vingança, recalcan- do ódios e despeitos, num gesto de dedicação Ignorada, que afinai resultou inútil. A Mulher que Destruiu Sa- lónica é uma película desi- guaa. Servido por um assun- to muito explorado e sem fi- nal Idade, Pabst conseguiu, contudo, produzir um filme de ctTto mérito. Ensaiando nele proces;os novos obteve resul- tados magníficos. Assim, as cenas Iniciais são excelentes na sua sobriedade e clareza, sugerindo factos que não che- gam a vér-se mas que ficam bem expressos pela cena se- guinte, consequência lógica do que se esboçou apenas. E' magnifica também a cena do ouço no quartel general dos espiões (uma loja de frutas). O.s olhares estranhos do idio- ta. t> o gesto mais Inocente aterrorizavam os espiões, pre- dispostos a vêr em toda a gente perseguidores e polícias. O caso psicológico es>tá quá- sl à parte da estafada aven- tura da espionagem que pre- cede a destruição de Salóníca, intercalando-se entre as peri- pécias meio policiais da his- tória. Era pois fatal um de- slquilibrio. que tira ao filme o sentido de unidade que se faz mister. A personagem de denun- ciante, figura curiosa, joguete de sentimentos vários—medo, cubica, amor, ódio, abnega- ção, oonservando-se ago enigmática neste entrechocar de paixões, foi desempenhado por Pierre Blanchar, actor de vastos recursos, assinalados em anteriores trabalhos, co- mo por exemplo em Crime e Castigo e em O Culpado, um belo filme de Raymod Ber- nard, pouco exibido no Ri- voli. Com A Mulher que Destruiu Salónica Pabst não chegou, evidentemente, a produzir obra que vaíha um dos seus antigos trabalhos. Mas assi- nala uma considerável me- lhoria de forma a par de uma reconquista de personalida- de quie parecia ter perdido em O Herói Moderno. Considere- mos o presente filme como ectioeze sot nascente n>i)i>»inBii"i>i.iiii*ii'« L n m a AS PÉROLAS DA COROA LOBOS DO MAR acande nacada de Çiaucas UistócUas comandadas noc SacUa (fuiteu um teto Hme de Victoc Hemina Por muito bem que saiba deitar meias-solas, não queira o sapateiro tocar rabecão... Sacha Gultry pode gozar uma grande consideração e possuir muitos méritos como comediante e homem de tea- tro, mas de cinema percebe tntiilto pouco. Mesmo como co- mediante c homem de teatro ponho em dúvida a posse de grandes méritos verdadeiros, mas isso não é caso para aqui ser tratado. De resto, serve- me apenas de ponto de refe- rência, por um lado o seu fil- me «As Pérolas da Coroa», e ipor outro a leitura duma das suas comédias, pobre de espí- rito e vazia de conteúdo. E' claro que se ninguém vai à mão ao sapateiro por querer tocar rabecão, também o se- nhor Sacha Gultry pode tran- quilamente fazer as fitas que quiser... e não faltará quem o admire e o cubra de aplau- sos. Simplesmente, fazer cine- ma, não é apenas registaT num filme uma longa série dfe quadros (e uso êste termo no .sentido que se lhe dá em tea- tro) mais ou menos em rela- ção directa, ligá-los por um cordelinho em ares de narra- tiva e fazer surgir e desapa- recer mil e uma figurais com maior ou menor atarato. cem mais ou menos palavrlado. Pretensioso e superficial, Sacha Gultry. pretendendo cor.tar-no.s a história da.s pé- rolas da coroa britânica, ar- quitectou, com factos autênti- cos e historietas acessórias de pobre Imaginação, uma espé- cie de... revista, revista evo- cativa com grande destile de históricos personagens, apenas , Interrompido (para amenizar cem um rouco de exotismo) pelo desagradável quadro da Abissínia, com uma ridícula imperatriz enfarruscada a carvão e duas gracinhas im- becis de alusão ã recente in- vasão italiana em terras de Africa. Aos solavancos, daqui para ali, dali para aqui. lá vai se- guindo a historieta que serve de fio condutor, de ligarão de quadro para quadro. Faz-se uma espécie de revisão da História. A' cena. onde apa- recem e desaparecem repenti- namente, um a um são cha- mados pelo «corrupcie» Sacha Gultry: Francisco I, Papa Cle- mente VII, Henrique VIII, Ca- tarina de Médicis, Ana Bole- na. Maria Stuart, Isabe>l de Inglaterra, Henrique IV de França, Bonaparte, a Dutoary, Napoleão Hl. etc, e, caso cu- rioso, quási sempre surgem especados por traz duma mesa, incluindo o próprio Sa- cha Gultry. que rarame-nte aparece noutra postura... No final do desfile das figu- ras históricas vem um quadra de comédia, situado nos nos- sos dias, ainda por sua vez enfeitado até ao enjoo com múltínJas peripécias suceden- do-se pirecipitadamer.^te .^m interesse, sem jeltc e sem sen- tido. A coisa tão descompassada, empolada e ôca não sei como classificar... que cinema não é... nem coisa alguma. Sobre a Interpretação das diversas figuras deste filme, duas palavras apenas. Vindos quásl todos do teatro não ti- veram aso a dar grande conta de si os artistas escolhidos por Sacha Gultry... se bem que muitos não passassem d? fi- guras deco p atlvas. Desagra- dou-me particularmente Zac- conl, artlficialísslmo no Papa Clemente VII, e Lynm Hardíng no papel de Henrique VIII. flagrantemente copiado da criação notável de Chartes Laughton do mesmo papel. Duas coisas apenas, nas «Pérolas da Coroa», são dadas cem perfeição e justeza e, portanto, dignas de atenção: a l.n alimentaria dos persona- gens e o seu «entourage», no- tando-se mesmo, por vezes, ter havido o cuidado de co- piar o.s personagens dos qua- dres célebres que os represen- tam. Seria, por isso. que na Bie- nal lhe conferiram o prémio atribuído «ao argumento mais originai'.»? Se-la. por razões de outra ordem?... Sei apenas, e dlgo-o com tristeza e desarontamento. que «As Pérolas da Coroa» é um filme mal feito, com pre- •temsões, superficial e fasti- dioso. Entre a novela de Rudyard Kllpling e o filme «Lobos do Mar», nela inspirado, há uma grande diferença. Tão grande que nem poderá dizer-se que houve adaptação livre. Foram tão sensíveis as modificações, ião sensíveis e tão profundas, que o filme e a novela diver- gem consideravelmente. Todavia, eis um desses ca- sos em que a fidelidade na a d a pt ã o cinematográfica não me parece ponto essen- cial. Aqui. não se pretendeu transpor para o cinema a no- vela mas, tão somente, rece- ber dela a Inspiração para fa- zer obra diferente que melhor se prestasse as exigências de espEdtáieiulio cinematográfico, que se dirigisse mais directa- mente ao coração, à sensibili- dade e á compreensão do pú- blico. E foi mau o resultado? Não foi. Victor Fleming, pelo con- trário, fez uma obra sólida, ampla, sã, duma grande be- leza e dum alto e incontestá- vel alcance moral. Tecnica- mente perfeito, este filme en- cerra uma grande e emocio- nante lição através uma his- tória tão simples que é um quisl-nada. Mas é justamente essa simplicidade, na forma e no conteúdo, o seu melhor mé- rito. O filme interessa, prende, encanta, comove sem um es- forço, sem um artificio, sem mesmo recorrer ao efeito fá- cil e gasto das cenas especta- eulosas que muitas vezes ser- vem de único esteio a tantas obras Infelizmente, tão ocas como frequentes. Aqui está o valor da reali- zação: servir-se dos elemen- tos mais simples, conjugá-los numa justa medida, compor uma harmonia perfeita, sem uma pausa que monotonize, sem um exagero que deixo nódoa. Victor Fleming teve ainda, a contribuir niitàivetoiente para o grande apreço de que o seu filme é merecedor, cola- boradores preciosos: Spsnoer Tracy. desempenhando com notável relevo a figura do pescador Manuel; o pequeno Fredle Bartholomew, tão bom actor mas tão bonito que cus- ta a admitir como é na fita tão orgulhoso e tão mau; Mickuy Rooney, tão natural que parece, de facto, nunca ter saído dum bacalhoeiro; e, enfim, Lionel Barrymore, no velho capitão do veleiro, com a sua costumada maneira de mastigar as palavras, mas com simplicidade e acerto «Lobos do Mar» sugeriu-me êste comentário imidúinecta: Está tão bem feito (e 'sto não quere dizer de forma alguma que se trata duma excepção; muitíssimos fllme.s ameri- canos duma simplicidade ain- da maior e não menos bem feitos) está tão bem feito, di- zia, que parece facillimo fazer um filme assim. Claro que isto é um erro. Se bem que, também não é difícil, afinal. E' uma questão de talento, de saber, de poder criador e até de intuição. Ora, os realizadores portu- gueses deviam olhar para fil- mes como êste com mais atenção, deviam vê-los uma. duas, três vezes e talvez aprendessem mais depressa a fazer cinema... cinema sem retorcidos, sem rodrigulnhos. sem piadas de revista, sem precipitações, com ordem, com singeleza e com todas as coi- sas nos seus respectivos luga- res. Só o Leitão de Barros an- dou por perto na «Maria do Mar», mas perdeu-se no ca- minho... sot nascentz

a mulher n m a - Repositório Digital de Publicações ... quie a desproviam de toda a educação, Ao., etc. Há tanta e tant a cis qu citar a êste respeito!.. I I 0 ULTIMO FILME

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a m u l h e r

p o r M A R I A

As poucas existentes entre nós não sabem, diurna maneira geral, realizar a sua missão verdadeira e conscientemente.

E como nos disse nwm a r ­tigo do «Sol Nascente» Ar-m a r d o Martins, elas enchem os Jornais, revistas, folhetos e livros duma literatura Inútil, se assim lhe podemos chamar .

Há uma cu outra que sal eifcsse conjunto e se conista-tarmos bem a sua maneira de set, temos ocasião de ver a íuta que sustenta contra o melo. Nessas, podemos ver a sua alma femlni/na e de ser humano. Mas são tão poucas!

As outras, a maioria, se-g>u:m o caminho que Arman­do Martins descreve.

O seu artigo «A mulher in­telectual portuguesa—mos li­vros, no amor e na vida», é a expressão exacta do que se papisa. E' veemente, poderá ser «indelicado», mas é t r e -cíeo. Por Isso mesmo, todas nós, mulheres incaníormlstas. lhe devemos agradecer a sua atitude.

'Estou co.mpletaanerr.te1 de acordo cem êle, quando afir­ma:—«A mulher portuguesa é amorosa como uma gata, m ? s -mo quando é poetisa. Não compreende a dedicação e o Interesse per qualquer convic­ção social: a sua ambição co­meça e acaba no homem e a e t » grande felicidade, é um beijo icr.gamente desejado».

Mas observando bem os fac­tos, de quem é a eu''pa? E' só dela? Oh! não. o homem tem-n a em maior escala. Se ,e!a não compreende a razão do seu ser, a êle o deve.

Quem foi que a escravizou durante séculos e séculos? Qus» lhe faziam e diziam quando ela tlentava reagir? Que instrução lhe permitiam? Que obras lhe davam para ler? Em suma, que vida era irermfttda à mulher?

Viver em casa, t r a t a r do marido e des filhos ou. então, Ir para um convento—as ricas c u servir o seu senhor—as po­bres.

Era nisto que se resumia a vida dum ser, que não sendo nem superior nem Inferior a o homem, mas diferente, nas ­cia, desenvolvia-se e morria, sem deixar mais que as filhos, eemo vestígio da sua passa­gem pela terra.

Recordemos o que se discu­tiu no concilio de Nlcea, ano 325, se a mulher teria ou não alma, o.s principias de Platão

A U R O R A

quie a desproviam de toda a educação, Ao., etc. Há tanta e tanta c i s a que c i tar a êste respeito!..

I I

0 ULTIMO FILME DE PABST por M A N U E L DE A Z E V E D O

Ela tem culpa, mas a do hemem é maior, sendo a èle que se deve o sen estado actual, de pobre ente que se encontra submisso perante o seu senhor.

Ainda hoje, que livros se dão para as mãos das nossas jovens? Os de M m e Delly, Max riu Veuzi, etc. E quando elas têm a curiosldad" de ler um die Ferreira de Castro. Cervantes, Wells, Barbuss*», Maria Lacerda de Moura, etc. e acompanhar as evoluções do munido, todos nós sabemos o que lhes dizem e a grande oposição que lhes fazem.

Ela habituada à escravidão de- tantas centenas de anos, tenta pó-'la de lado, mas isso quanto lhe não tem custado e custará! . . . Se há homens que a compreendem, ouitircs h á que não, e infelizmente são esses que represienitam a maioria.

Uma coisa que custa a acre ­ditar, mas que é a realidade, é o facto dos homens que se dizem superiores, conscientes e dum certo grau de cultura, na prática, só desejarem a mulher como «anjo do lar» e nada mais que isso. Quem lê os seus escritos, faz um juízo, mas quem os conhece, faz um outro e oposto. E ' assim qi-s-acontece com um grande nú­mero dos no.ssos homem» Inte­lectuais. Vê-se isso com tanta facilidade!

Ao saírem das universida­des, as nossas mtfheres, que fazem depois?

Umas casam-se—poucas é Certo—e duma maneira geral, ficam sem exercer função al­guma que se relacione com c s seus trabalhos e conheci­mentos anteriores. Mas é pre­ciso acentuar quem é ainda o 'Culpado. Sim. é o homem. E quem sabe se não será êle mesmo, que admitindo que ela o possa superar pela ,sua actividade intelectual, lhe Im­põem o constrangimento des­t a acção e a quere só como «anjo do lar»? E isto verifi­ca-se desde o comerciante da aldleia até ao intelectual da Academia de Ciências...

As oUtras, as que estabele­cem o seu consultório ou se servem do que estudaram para o bem da sociedade, ne­nhum homem as procura. J á

'Continua no pagino d e u < s e i « l

uma experiência, mero en­saio para futuros trabalhos e esperemos a continuação die uma obra que parecia ter ter ­minado.

Há ainda multo a esperar de Pabst.

a gt.11.4yao dos 20 BOQ6, que nao coinitguvu fazer ourar os icus pximciios vdgiaos to troar ous CantQOets ua uxanue Uuurra aonunuva e ensuirae-cia tudo) mas que oia qa^re

I lazer ouvir a sua voz, j a mai»-I cuia, itjirte mas conseicwie, ; oeve muito a Paasi . Cem efei­

to, nos, jovens que no d=ScJo de conhecimento e oonsurur çao noa debruçamos sobra a existência em atj .ude que

7 pretende ser de ainause sere-I na, temos na obra de Pabst

—obra forte de temas, suges-I tlva e coeren'e, plena die hu­

manismo—campo fértil de ensinameniUoá, sugestões de cooperação e amor .

Quando, festos de iado rn últiiimus calções, nos deliciá­vamos perante o beijo finai c caiadoiro do cinema de en­tão, Pabst deu-njs Quatro de Infantaria—a destruição, a morte e o ódio: o drama da vida—e A Tragédia da Mina— a Irmanaçao na tragédia, o findar dos ódios: a vontade do homem vencendo o dra­ma. E, porque essa obra sur-g:u no despertar das nossas consciências, a sua Influência

5 foi enorme.

Eis porque devemos olhar com Interesse para as actuais tendências desse invulgar c i ­neasta e homem de pensa­mento que, após dois ou três ano» d> sliiêniclo, recomeça agora a sua actividade.

J á se exibiram, entre nós, nesta épcca, duas obras a uas. O Herói Moderno, um filme correcto sem nada de novo, feito na América (vêr a cr í ­tica de Alves Costa no n.° 19), e agora A Mulher que Destruiu Salóníca, feito em França .

A Mulher que Destruiu Sa-lónica é uma história de es­pionagem, banal complicação de situações, atravessada por uim caso psicológico lniteres-

% sante, Infelizmente um pouco 1 apagado pelas exigências da

história. E ' o caso de um es­pião, apanhado pela con.bra espionagem, que ante a ideia de ser fusilado, vende a dignidade, traindo os ant i ­gos companheiros. A seguir, fingindo continuar a desem­penhar a sua missão mas sen-

- do na realidade um delator

e um canalha, Jogador e de­vasso, apaixona-se por uma outra espia que o despreza. Mas èle, continuando embora a ser denunciante e vicioso, acaba por sacriflcar-se, pre­ferindo morrer a denunclur a mulher que ama, vencendo desejos de vingança, recalcan­do ódios e despeitos, num gesto de dedicação Ignorada, que afinai resultou inútil.

A Mulher que Destruiu Sa-lónica é uma película desi-guaa. Servido por um assun­to muito explorado e sem fi­nal Idade, Pabst conseguiu, contudo, produzir um filme de ctTto mérito. Ensaiando nele proces;os novos obteve resul­tados magníficos. Assim, as cenas Iniciais são excelentes na sua sobriedade e clareza, sugerindo factos que não che­gam a vér-se mas que ficam bem expressos pela cena se­guinte, consequência lógica do que se esboçou apenas. E' magnifica também a cena do o u ç o no quartel general dos espiões (uma loja de frutas) . O.s olhares estranhos do idio­ta. t> o gesto mais Inocente aterrorizavam os espiões, pre­dispostos a vêr em toda a gente perseguidores e polícias.

O caso psicológico es>tá quá­sl à parte da estafada aven­tura da espionagem que pre­cede a destruição de Salóníca, intercalando-se entre as peri­pécias meio policiais da his­tória. E r a pois fatal um de-slquilibrio. que tira ao filme o sentido de unidade que se faz mister.

A personagem de denun­ciante, figura curiosa, joguete de sentimentos vários—medo, cubica, amor, ódio, abnega­ção, — oonservando-se a g o enigmática neste entrechocar de paixões, foi desempenhado por Pierre Blanchar, actor de vastos recursos, assinalados já em anteriores trabalhos, co­mo por exemplo em Crime e Castigo e em O Culpado, um belo filme de Raymod Ber ­nard, há pouco exibido no Ri­voli.

Com A Mulher que Destruiu Salónica Pabst não chegou, evidentemente, a produzir obra que vaíha um dos seus antigos trabalhos. Mas assi­nala uma considerável me­lhoria de forma a par de uma reconquista de personalida­de quie parecia ter perdido em O Herói Moderno. Considere­mos o presente filme como

ectioeze sot nascente n>i)i>»inBii"i>i.iiii*ii'«

L n m a AS PÉROLAS DA COROA LOBOS DO MAR

— acande nacada de Çiaucas UistócUas

comandadas noc SacUa (fuiteu

um teto Hme de Victoc Hemina

Por muito bem que saiba deitar meias-solas, não queira o sapateiro tocar rabecão...

Sacha Gultry pode gozar u m a grande consideração e possuir muitos méritos como comediante e homem de tea­tro, mas de cinema percebe tntiilto pouco. Mesmo como co­mediante c homem de teatro ponho em dúvida a posse de grandes méritos verdadeiros, mas isso não é caso para aqui ser tratado. De resto, serve-m e apenas de ponto de refe­rência, por um lado o seu fil­me «As Pérolas da Coroa», e ipor outro a leitura duma das suas comédias, pobre de espí­rito e vazia de conteúdo.

E' claro que se ninguém vai à mão ao sapateiro por querer tocar rabecão, também o se­nhor Sacha Gultry pode t r a n ­quilamente fazer as fitas que quiser... e não faltará quem o admire e o cubra de aplau­sos.

Simplesmente, fazer c ine­m a , não é apenas registaT num filme uma longa série dfe quadros (e uso êste termo no .sentido que se lhe dá em tea­t r o ) mais ou menos em re la­ção directa, ligá-los por um cordelinho em ares de n a r r a ­tiva e fazer surgir e desapa­recer mil e uma figurais com maior ou menor a t a r a t o . cem mais ou menos palavrlado.

Pretensioso e superficial, Sacha Gultry. pretendendo cor.tar-no.s a história da.s pé­rolas da coroa britânica, a r ­quitectou, com factos autênti­cos e historietas acessórias de pobre Imaginação, uma espé­cie de... revista, revista evo­cativa com grande destile de históricos personagens, apenas

, Interrompido (para amenizar cem um rouco de exotismo) pelo desagradável quadro da Abissínia, com uma ridícula imperatriz enfarruscada a carvão e duas gracinhas im­becis de alusão ã recente in­vasão italiana em terras de Africa.

Aos solavancos, daqui para ali, dali para aqui. lá vai se­guindo a historieta que serve de fio condutor, de ligarão de quadro para quadro. Faz-se uma espécie de revisão da História. A' cena. onde apa­

recem e desaparecem repenti­namente, um a um são cha­mados pelo «corrupcie» Sacha Gultry: Francisco I, Papa Cle­mente VII, Henrique VIII, C a ­tarina de Médicis, Ana Bole-na . Maria Stuart , Isabe>l de Inglaterra, Henrique IV de F r a n ç a , Bonaparte, a Dutoary, Napoleão Hl . e t c , e, caso cu­rioso, quási sempre surgem especados por traz duma mesa, incluindo o próprio S a ­cha Gultry. que rarame-nte aparece noutra postura.. .

No final do desfile das figu­ras históricas vem um quadra de comédia, situado nos nos­sos dias, ainda por sua vez enfeitado até ao enjoo com múltínJas peripécias suceden-do-se pirecipitadamer.^te .^m interesse, sem jeltc e sem sen­tido.

A coisa tão descompassada, empolada e ôca não sei como classificar... que cinema não é... nem coisa alguma.

Sobre a Interpretação das diversas figuras deste filme, duas palavras apenas. Vindos quásl todos do teatro não t i­veram aso a dar grande conta de si os art istas escolhidos por Sacha Gultry... se bem que muitos não passassem d? fi­guras deco p atlvas. Desagra-dou-me particularmente Z a c -conl, artlficialísslmo no Papa Clemente VII, e Lynm Hardíng no papel de Henrique VIII. f lagrantemente copiado da criação notável de Chartes Laughton do mesmo papel.

Duas coisas apenas, nas «Pérolas da Coroa», são dadas cem perfeição e justeza e, portanto, dignas de atenção: a l.n alimentaria dos persona­gens e o seu «entourage», no-tando-se mesmo, por vezes, ter havido o cuidado de c o ­piar o.s personagens dos qua­dres célebres que os represen­tam.

Seria, por isso. que na Bie­nal lhe conferiram o prémio atribuído «ao argumento mais originai'.»? Se-la. por razões de outra ordem?. . .

Sei apenas, e dlgo-o com tristeza e desarontamento. que «As Pérolas da Coroa» é um filme mal feito, com pre -•temsões, superficial e fasti­dioso.

Entre a novela de Rudyard Kllpling e o filme «Lobos do Mar», nela inspirado, há uma grande diferença. Tão grande que nem poderá dizer-se que houve adaptação livre. Foram t ã o sensíveis as modificações, ião sensíveis e tão profundas, que o filme e a novela diver­gem consideravelmente.

Todavia, eis um desses c a ­sos em que a fidelidade na a d a pt aç ã o cinematográfica não me parece ponto essen­cial.

Aqui. não se pretendeu transpor para o cinema a no­vela mas, tão somente, rece­ber dela a Inspiração para fa­zer obra diferente que melhor se prestasse as exigências de espEdtáieiulio cinematográfico, que se dirigisse mais directa­mente ao coração, à sensibili­dade e á compreensão do pú­blico.

E foi mau o resultado? Não foi.

Victor Fleming, pelo con­trário, fez uma obra sólida, ampla, sã, duma grande be­leza e dum alto e incontestá­vel alcance moral. Tecnica­mente perfeito, este filme en­cerra uma grande e emocio­nante lição através uma his­tória tão simples que é um quisl-nada. Mas é justamente essa simplicidade, na forma e no conteúdo, o seu melhor mé­rito.

O filme interessa, prende, encanta, comove sem um es­forço, sem um artificio, sem mesmo recorrer ao efeito fá­cil e gasto das cenas especta-eulosas que muitas vezes ser­vem de único esteio a tantas obras Infelizmente, tão ocas como frequentes.

Aqui está o valor da reali­zação: servir-se dos elemen­tos mais simples, conjugá-los numa justa medida, compor uma harmonia perfeita, sem uma pausa que monotonize,

sem um exagero que deixo nódoa.

Victor Fleming teve ainda, a contribuir niitàivetoiente para o grande apreço de que o seu filme é merecedor, cola­boradores preciosos: Spsnoer Tracy. desempenhando com notável relevo a figura do pescador Manuel; o pequeno Fredle Bartholomew, tão bom actor mas tão bonito que cus ­t a a admitir como é na fita t ã o orgulhoso e tão mau; Mickuy Rooney, tão natural que parece, de facto, nunca ter saído dum bacalhoeiro; e, enfim, Lionel Barrymore, no velho capitão do veleiro, com a sua costumada maneira de mast igar as palavras, mas com simplicidade e acer to

«Lobos do Mar» sugeriu-me ê s t e comentário imidúinecta: Está tão bem feito (e 'sto não quere dizer de forma alguma que se t r a t a duma excepção; há muitíssimos fllme.s ameri­canos duma simplicidade ain­da maior e não menos bem

feitos) está tão bem feito, di­zia, que parece facillimo fazer um filme assim. Claro que isto é um erro. Se bem que, também não é difícil, afinal. E' uma questão de talento, de saber, de poder criador e até de intuição.

Ora, os realizadores portu­gueses deviam olhar para fil­mes como êste com mais atenção, deviam vê-los uma. duas, três vezes e talvez aprendessem mais depressa a fazer cinema.. . cinema sem retorcidos, sem rodrigulnhos. sem piadas de revista, sem precipitações, com ordem, com singeleza e com todas as coi­sas nos seus respectivos luga­res. Só o Leitão de Barros an ­dou por perto na «Maria do Mar», mas perdeu-se no c a ­minho...

sot nascentz