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1 A Música na Igreja Parcival Módolo Robson José dos Santos Junior maio 27, 2015 http://www.hinologia.org/?p=731 Artigos e Estudos “… Às margens dos rios de Babilônia nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha? ” Maestro Parcival Módolo Temos grande prazer em falar sobre este tão importante assunto e queremos deixar claro, de início, que as nossas considerações não são, de modo algum, dogmáticas. Pelo contrário, poderemos conversar sobre elas com toda a liberdade dentro do prumo da Palavra de Deus. Assim, trataremos juntos deste tema que vem ocupando, cada vez mais, espaço na Igreja. Sem dúvida, esse é um assunto delicado e difícil, mas cujo debate não pode ser adiado. Tem sido dito que a música vem se tornando um problema nas Igrejas evangélicas da atualidade. Não concordamos inteiramente com isso. Estamos convencidos de que seria mais correto dizer que a música reflete um problema já existente na Igreja. Ela simplesmente é, quem sabe, a parte mais notada e audível do problema. Estudando a história do Salmo 137, esse bonito e triste hino cantado pelo povo de Israel no cativeiro da Babilônia, lembramo-nos de uma frase proferida pela cantora Elis Regina, alguns meses antes da sua morte. Ela disse em uma entrevista: “sou como o Assum-preto que tem que cantar mais e mais quando lhe furam os olhos”. A frase nos deixou intrigados e procuramos saber o seu significado. Descobrimos que o Assum- preto é um pássaro criado em gaiola, por aqueles que gostam de pássaros cativos, cujo canto é muito bonito e constante. Apesar disso, descobriu-se um modo de fazer com que

A Música Na Igreja

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    A Msica na Igreja Parcival Mdolo

    Robson Jos dos Santos Junior maio 27, 2015 http://www.hinologia.org/?p=731

    Artigos e Estudos

    s margens dos rios de Babilnia ns nos assentvamos e chorvamos, lembrando-nos de Sio. Nos salgueiros que l havia pendurvamos as nossas

    harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canes, e os nossos

    opressores, que fssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cnticos de Sio.

    Como, porm, haveramos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?

    Maestro Parcival Mdolo

    Temos grande prazer em falar sobre este to importante assunto e queremos deixar

    claro, de incio, que as nossas consideraes no so, de modo algum, dogmticas. Pelo

    contrrio, poderemos conversar sobre elas com toda a liberdade dentro do prumo da

    Palavra de Deus. Assim, trataremos juntos deste tema que vem ocupando, cada vez

    mais, espao na Igreja. Sem dvida, esse um assunto delicado e difcil, mas cujo

    debate no pode ser adiado. Tem sido dito que a msica vem se tornando um problema

    nas Igrejas evanglicas da atualidade. No concordamos inteiramente com isso. Estamos

    convencidos de que seria mais correto dizer que a msica reflete um problema j

    existente na Igreja. Ela simplesmente , quem sabe, a parte mais notada e audvel do

    problema.

    Estudando a histria do Salmo 137, esse bonito e triste hino cantado pelo povo de Israel

    no cativeiro da Babilnia, lembramo-nos de uma frase proferida pela cantora Elis

    Regina, alguns meses antes da sua morte. Ela disse em uma entrevista: sou como o Assum-preto que tem que cantar mais e mais quando lhe furam os olhos. A frase nos deixou intrigados e procuramos saber o seu significado. Descobrimos que o Assum-

    preto um pssaro criado em gaiola, por aqueles que gostam de pssaros cativos, cujo

    canto muito bonito e constante. Apesar disso, descobriu-se um modo de fazer com que

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    esse pssaro cante ainda mais. Eles furam os olhos dele e, assim, na triste escurido de

    sua vida, ao invs de se calar, ele canta ainda mais. Isso serve de enlevo para os que o

    mantm na gaiola. Essa triste histria trouxe-nos lembrana a narrativa do que

    antecedeu o cntico do Salmo 137.

    No ano 587 a.C., Zedequias reinava em Jud. Seu reino foi atacado por Nabucodonosor;

    e Jerusalm, a capital de Jud, foi cercada pelo exrcito inimigo, tornando-se impossvel

    entrar ou sair da cidade. Em virtude disso, mais cedo ou mais tarde a rendio teria que

    acontecer, como de fato aconteceu. Quando Jerusalm caiu, os babilnios, liderados por

    Nabucodonosor, entraram na cidade e prenderam o rei Zedequias. Os cruis

    dominadores degolaram os filhos de Zedequias em sua presena e depois lhe furaram os

    olhos. Ento o rei foi levado para Babilnia para passar o final da sua vida tendo como

    ltima coisa vista exatamente a morte dos seus filhos. Na Babilnia, o povo que tivera

    os olhos furados foi instado a cantar. aqueles que nos levaram cativos nos pediam canes (v. 3). Os opressores queriam ouvir o cntico de Sio. Estranhamente, o povo opressor pedia manifestaes artsticas, culturais e at mesmo religiosas aos cativos.

    Normalmente, o conquistador impunha os seus hbitos, sua lngua, e suas expresses

    culturais aos conquistados. Mas ainda assim, os babilnios queriam ouvir os cnticos de

    Sio. Que cntico de Sio este? Como era o cntico conhecido como Cntico de Sio? Os cnticos de Sio falam do Deus que intervm em favor do Seu povo. Os babilnios queriam ouvir exatamente esses cnticos, com os instrumentos apropriados.

    Israel, contudo, pendurou as harpas nos salgueiros por no conseguir cantar em terra

    estranha.

    O fato que durante toda a histria do povo no Velho Testamento e depois da vinda de

    Cristo, durante toda a nossa histria crist, a msica fez parte dos momentos mais

    importantes da vida do povo de Deus. Isso continua sendo verdade em nossos dias.

    Contudo, a Igreja passa por um momento cuja nfase quanto ao canto, ao som de

    instrumentos e das vozes no culto, no obedece a um padro. Qual o verdadeiro papel

    da msica no culto? Para que realmente serve a msica?

    Criando uma atmosfera

    Costumamos dizer, a grosso modo, que a msica tem, pelo menos, dois papis muito

    importantes no culto: o de impresso e o de expresso.

    1. A) O Papel de Impresso

    A Impresso tem a ver com a criao de um ambiente prprio, de uma atmosfera que

    mexe com as pessoas, quer elas queiram, quer no.

    Sempre se soube que a msica tem algum efeito sobre o ser humano. Nas ltimas

    dcadas, pesquisas comprovaram que ela mexe no s com os seres humanos mas,

    tambm, com os animais e vegetais. possvel que muitos de vocs j tenham lido, em

    alguma revista, reportagem sobre plantaes que passam a produzir mais pela influncia

    da msica; ou sobre gado confinado, particularmente na Sua, que em virtude da

    msica passa a produzir mais leite. Tudo isso verdadeiro. O que no se sabia, com

    clareza, como ela age nos seres humanos. Mas o fato que, quando ouvimos

    determinadas msicas, ficamos tristes ou alegres. A esse poder, a essa caracterstica que

    a msica tem, chamamos de funo subjetiva. Ou seja, em alguns ocorre uma reao,

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    em outros parece nada ocorrer. A cincia tem procurado definir exatamente, e de forma

    objetiva, o que a msica faz. Onde a msica mexe com a gente? Por onde a gente

    pego? Ser que tem a ver com razes culturais? Ser que porque a gente gosta mais de

    uma e menos de outra? Como funciona tudo isso? Ser tudo isso subjetivo ou h uma

    razo objetiva? Isso uma reao orgnica? Essas perguntas, j h algum tempo,

    incomodam os cientistas. Clnicas especializadas tm dedicado anos nessa pesquisa.

    Portanto, no culto, o papel de impresso de grande importncia para criar um ambiente

    adequado. A msica, at mesmo sem palavras, cria um clima.

    Estivemos, nos dois ltimos dias, em um encontro de adolescentes. A participao foi

    de 2200 adolescentes. No plenrio, quando estavam todos juntos, o dirigente do

    louvor apresentou uma srie de cnticos; uns barulhentos e outros piores. Como o volume estava alto demais, ficamos na porta. Depois de alguns minutos, percebemos

    que alguns adolescentes comearam a sair. Todos eles com fisionomia abatida.

    Perguntvamos a cada um: Voc est com o estmago enjoado e a cabea

    latejando? Eles nos olhavam curiosos pelo fato da pergunta identificar o que sentiam. A

    verdade que eles estavam doentes de msica e de som. Depois disso, o povo foi

    entrando numa euforia to grande que quando terminou essa sesso de 40 minutos de

    barulho, o pregador no conseguiu desenvolver o seu sermo. Houve, ento, um

    dramtico apelo para que se fizesse silncio. O dirigente dizia: Agora precisamos ouvir, Deus est nesse lugar etc. Como o auditrio no atendia ao pedido de silncio, o dirigente baixou o nvel e falou com bastante dureza, mas nada de silncio. Foi ento

    que o menino que estava no teclado, que havia coordenado a parte do barulho, comeou

    a tocar uma msica bem suave e cantou algo bastante leve. Em pouco tempo, o silncio

    predominava e todos conseguiam ouvir o que se falava.

    Msica de impresso trabalha com isso. H a msica certa para cada momento do culto:

    Momento de alegria, exultao, tristeza, confisso etc. Alm disso, a msica pode

    mexer conosco o suficiente para que assimilemos uma ideia e entendamos o que est

    acontecendo de forma mais clara.

    Restabelecendo o culto

    O segundo livro das Crnicas registra dois perodos importantes da histria do povo de

    Israel. Nos primeiros nove captulos o reino de Salomo abrangia toda a nao de Israel.

    Esse foi o perodo em que o rei atingiu o apogeu tanto social quanto economicamente.

    Foi o momento ureo de Israel. A segunda parte do livro, a partir do captulo 10,

    registra o ocorrido depois da morte de Salomo. A histria de outros vinte reis contada

    nesses captulos. Alguns eram bons e outros maus. O reino j estava dividido: Israel e

    Jud, e a histria agora vista sempre da perspectiva do templo. O bom rei era o que

    governava com Deus, o mau rei era o que se afastava de Deus. Ezequias foi um desses

    vinte reis, mais exatamente, foi um dos doze bons reis. Sua histria inicia-se no captulo

    29. Ele abriu as portas da casa do Senhor e as reparou. O pai dele chamava-se Acaz, e

    havia sido um pssimo rei. Ele havia, entre outras coisas, profanado os utenslios

    sagrados do templo e jogado muitos deles fora. Outros utenslios foram levados para o

    palcio e o templo ficou abandonado durante toda uma gerao. Mas quanto a Ezequias,

    a sua primeira providncia foi restaurar o Templo e celebrar o primeiro culto. Assim,

    aquelas pessoas que nasceram no reinado de Acaz entraram no templo pela primeira

    vez. A grande maioria, certamente, no sabia o que encontraria l. Talvez perguntassem:

    Como que , agora que o rei mandou a gente celebrar o culto, como que vai ser?.

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    A celebrao do sacrifcio no era esteticamente nem um pouco bonita. Vocs todos

    conhecem relatos importantes daquela poca quando animais, dezenas e centenas, eram

    sacrificados em um nico dia. Aqueles que imolavam os animais ficavam com sangue

    at acima do joelho e sentiam-se mal. Isso no era uma cerimnia bonita ou

    esteticamente agradvel. O cheiro no era de churrasco. As entranhas sendo limpas,

    lavadas e queimadas. Isso no era agradvel. Contudo, era assim que Deus havia

    ordenado que se celebrasse o sacrifcio, e era, portanto, assim que deveria ser feito. Era

    uma celebrao assim que estava para ser feita, depois da restaurao do templo.

    Depois que Ezequias restaurou o templo, ele reuniu os levitas e devolveu-lhes a funo

    que lhes cabia. Essa tribo tinha sido separada desde os tempos de Moiss para um

    ministrio ligado casa do Senhor: enquanto o templo no estava construdo, eles eram

    responsveis por carregar todos os utenslios relacionados ao tabernculo: seu transporte

    e sua montagem. Quando o templo foi construdo, eles ficam a servio do templo. Uma

    tribo inteira, 1/12 de toda a populao, destinada para esse servio. deles que saam os

    sacerdotes, mas era tambm a tribo de Levi a responsvel pela infra-estrutura do templo:

    Os porteiros, os serventes, os cantores sacros, os instrumentistas, etc. eram dessa tribo.

    Evidentemente, durante todo o perodo de Acaz os levitas no tiveram ocupao no

    templo. Ezequias, contudo, rene-os e manda fazer uma limpeza no templo (II Crnicas

    29:16). A partir da, ele estabeleceu os levitas na casa do Senhor, com cmbalos, alades

    e harpas (II Crnicas 29:25). Quando o sacrifcio teve o seu incio, uma cerimnia

    estranha para muitos, um cntico foi entoado ao Senhor ao som das trombetas e dos

    instrumentos de Davi (II Crnicas 29:27-28). a nica vez em que se toca msica

    durante o sacrifcio. Em todo o relato do Velho Testamento no vamos encontrar,

    nenhuma vez, msica sendo tocada durante o sacrifcio. Assim, o escritor sagrado

    registra que toda a congregao se prostrou enquanto se entoava o cntico e as

    trombetas soavam. E foi assim, at o final do holocausto (II Crnicas 29:28). De

    repente, sem ningum mandar. Depois disso, o verso 36 do captulo 29 nos informa que

    Ezequias e todo povo se alegrava por causa daquilo que Deus fizera para o povo, porque subitamente se fez esta obra. Essa frase est conectada com o momento em que o povo adorou o Senhor. O subitamente se fez esta obra foi o momento em que de repente, sem ordem de ningum, o povo caiu e adorou o Senhor. Isso, curiosamente,

    aconteceu no momento em que a msica soou no espao. Esse o papel de impresso

    que a msica tem, de criar uma atmosfera, de apropriar aquela verdade que acontece

    num ambiente para que voc absorva aquela verdade.

    Pesquisas recentes

    Os cientistas tm se preocupado muito com essa caracterstica da msica. Pessoas tm

    at usado essas experincias sobre a influncia da msica para ganhar dinheiro. Por

    exemplo, qualquer supermercado grande, especialmente nos Estados Unidos, onde as

    pesquisas esto mais adiantadas, tem sempre msica soando no espao. A msica certa

    para o ambiente. Pode acreditar que ela est cumprindo o seu papel e fazendo o cliente

    comprar mais. Se voc tem um bom dentista, ele ter sempre uma msica adequada em

    seu gabinete para que voc sinta menos dor. Um restaurante fast-food tem cores e msica escolhidas de acordo com seus propsitos: impressionar os clientes mas satur-

    los e faze-los ir embora logo. Por que isso acontece? Como que isso acontece? Os

    cientistas tm descoberto que isso no acontece subjetivamente, no s uma questo

    de gostar ou no, de mexer com voc e no mexer comigo. A primeira coisa que

    precisamos considerar que a msica formada de trs elementos bsicos e esses trs

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    elementos mexem conosco o tempo inteiro. Cada um desses elementos atinge uma parte

    do nosso organismo. Se voc estudou um pouco de msica, voc se lembra ainda de

    uma afirmao que estava em todos os livros: a msica tem trs elementos: ritmo,

    melodia e harmonia. Essa definio, hoje, j est ultrapassada, porque msica muito

    mais do que s esses trs elementos. H outras coisas envolvidas. Contudo, esses trs

    elementos esto presentes sempre que msica soa no espao e gostaramos de qualificar

    cada um deles:

    O que Ritmo?

    Por exemplo, ouvimos as pessoas dizendo que o corao est batendo em um ritmo

    muito acelerado. Esse um uso correto da palavra. Ritmo a marcao do tempo, ou a

    frequncia em que a ao se repete. Quando transportamos essa ideia para a msica,

    temos alguma dificuldade, porque a palavra ritmo usada para muitas coisas em msica. Pode se dizer: ritmo de valsa. Algumas pessoas dizem: no gosto de determinada msica porque ela no tem ritmo. Isso um equvoco. O ritmo o esqueleto da msica, a passagem do tempo na msica. verdade que existem alguns

    instrumentos que s conseguem marcar ritmos, no conseguem tocar melodias. So os

    tambores, o tringulo, a bateria, etc

    Acontece que o ritmo mexe com uma parte especfica do nosso organismo: os nossos msculos. Somente com os msculos. Isso pode ser visto na alterao do pulso cardaco

    conforme a msica do ambiente. Alguns segundos depois de comear uma msica que

    tem uma estrutura diferente, nosso pulso imediatamente se altera. E isto pode acontecer

    mesmo que voc no esteja consciente da msica soando no espao. O princpio rtmico

    tem sido muito utilizado at na medicina. Por exemplo, as estruturas da msica barroca

    tm sido utilizadas como uma espcie de relaxamento; o que tem sido chamado de

    massagem cardaca para gestantes, porque o curso de uma estrutura musical barroca funciona como uma massagem cardaca que equilibra o pulso da me e o do feto: o

    corao do feto pulsa duas vezes a cada pulso do corao da me. Ento os dois

    coraes acabam sincronizados e fazem uma massagem cardaca relaxante para me e

    filho. Portanto, ritmo mexe com os nossos msculos e h instrumentos que o enfatizam,

    que s conseguem marcar ritmos.

    O que Melodia?

    A melodia mexe com as nossas emoes, e somente com elas. Algum diz: quando ouo aquela msica sinto uma tristeza! . Ou seja: a melodia nos deixa tristes ou alegres. A melodia mexe com as emoes. No o ritmo que nos deixa tristes, tambm

    no a harmonia, mas, sim, a melodia. Melodia uma sucesso de sons. H melodia de

    uma s nota. Isso quer dizer que cantar uma nota, depois outra, depois outra, forma uma

    melodia. Qualquer um de ns pode inventar uma melodia. (Uma boa melodia j outra

    conversa!). Portanto, podemos imaginar que melodia uma coisa horizontal. Se voc puder imaginar uma nota, depois outra, depois outra, voc ver uma dimenso do

    movimento das notas. Existem instrumentos que s tocam melodias, s conseguem

    tocar uma nota, como a flauta, o pistom, o trombone e o saxofone. So instrumentos que

    no conseguem tocar mais que uma nota ao mesmo tempo. So conhecidos como

    instrumentos meldicos.

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    A melodia mexe to duramente com as emoes que a melodia certa, num auditrio que

    se deixa levar por ela, destri emocionalmente qualquer um. No h necessidade do

    Esprito Santo para fazer um auditrio chorar; basta usar a melodia certa. Para mudar de

    vida, para ser uma nova pessoa, precisa-se do Esprito, mas fazer chorar a gente faz com

    a melodia certa, facilmente. E no s fazer chorar.

    Nos acampamentos, temos feito a seguinte experincia: pedimos s pessoas para se

    deitarem, fechar os olhos, levantar os braos, relaxar, e ouvir atentamente uma melodia.

    Alguns minutos depois, muitos esto chorando. Repetimos o processo e mudamos a

    melodia, ento muitos dormem. Como se v, um auditrio pode ser facilmente

    manipulado, desde que se use a melodia certa. E isto ns temos visto com muita

    frequncia, nas igrejas novas, principalmente. fcil fazer um auditrio chorar.

    O que Harmonia?

    A harmonia pode ser definida como sons simultneos. Se tnhamos melodia como sons

    sucessivos, uma nota, depois outra, depois outra; agora podemos dizer que harmonia so

    melodias juntas. Quando um grupo est cantando ou tocando, seja msica jovem, seja

    um coro, seja um grupo instrumental, uma flauta, um sax, uma clarineta, cada um deles

    toca uma melodia, e a combinao de todos forma uma harmonia (ou desarmonia). Nas quatro vozes do coro, cada uma canta uma melodia, e a combinao delas forma

    uma harmonia.

    A harmonia vertical, portanto. Se a melodia horizontal: uma nota aps a outra; a

    harmonia verticalidade, a estrutura que soa simultaneamente. A Harmonia mexe com

    o intelecto. Ela tem a ver com o crtex cerebral, o hemisfrio direito e esquerdo, com

    cognio e criatividade: os dois hemisfrios do nosso crebro. Com a coisa aprendida e

    com a criatividade que caracterstica da raa humana. S os humanos tm os dois

    hemisfrios funcionando dessa forma. Os mamferos, da criao toda o grupo mais

    evoludo depois da raa humana, tm muitas caractersticas interessantes no seu crebro:

    eles so sensveis s melodias e at mesmo conseguem detect-las. So sensveis

    inclusive a ponto de ter o seu comportamento alterado a partir de melodias. Aos

    mamferos possvel fazer com que se comportem mais agressiva ou mais

    moderadamente, por influncia pura de sons meldicos. Mas eles no conseguem

    entender harmonia. Somente os seres humanos entendem harmonia. Quanto mais

    elaborada e complicada a harmonia, mais difcil de ser apreciada e entendida, porque, de

    fato, ela tem que ser entendida. Ns costumamos dizer que harmonias muito simples so

    aquelas que, no caso do violo, nunca saem da primeira, segunda e terceira posio.

    Quanto mais complicada a harmonia, mais complicada para ser ouvida. Exige um

    pouco mais de massa cinzenta. Por isso, nem todo mundo aprecia uma tremenda fuga em rgo de Bach, porque harmonia elevada ao extremo. Alis, Bach s podia ter

    nascido na Alemanha. Os alemes pensam harmonicamente. Assim, o elemento mais

    importante na msica deles exatamente a harmonia. muito curioso, pois no

    conheo nenhuma cano folclrica alem cantada em unssono. Os instrumentos que

    tocam harmonia so: o piano toca vrias vozes ao mesmo tempo; o violo toca pedaos de harmonia, acordes; etc.

    Diferentes nfases

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    Na histria da humanidade, diferentes povos enfatizam esses diferentes elementos na

    sua msica, conforme as caractersticas que cada povo tem. Os povos africanos do uma

    tremenda nfase aos msculos e ao corpo. Eles dependem disso para sobreviver.

    Obviamente, a msica deles construda, basicamente, em cima do ritmo. No que se

    refere melodia, os italianos, no sculo XIX, a enfatizaram tremendamente em sua

    msica. A pera s podia ter nascido na Itlia, pois a melodia o seu centro. A Melodia

    sempre muito chorosa e os italianos choram mesmo durante a pera. Tambm brigam,

    depois se abraam; tpico do temperamento italiano essa exploso de sentimentos, essa

    emoo. Esse povo, portanto, s podia enfatizar, na sua msica, a melodia.

    Cada vez que um desses elementos por demais enfatizado, h um certo detrimento nos

    outros dois. Qualquer deles, enfatizado em demasia, anula os outros dois. Por isso, uma

    genial Fuga de Bach, executada no rgo a cinco vozes, pode no agradar primeira vista. Parece que no tem uma melodia acontecendo, mas muitos sons acontecendo ao

    mesmo tempo. Houve uma nfase to grande na harmonia que desconsiderou-se a

    melodia. Melhor dizendo, a melodia no a nfase central nesse tipo de msica. O

    mesmo acontece com o ritmo; quando ele recebe uma nfase muito grande, perde-se em

    melodia e muito em harmonia. Mas h uma agravante: A nfase exagerada no ritmo

    leva as pessoas a desligarem parte das informaes do crebro. Por isso, o ritmo um

    dos elementos mais valiosos para o desligamento das pessoas nos centros de umbanda,

    yoga, zen budismo, etc.. Mantra nada mais do que uma pequena melodia repetida tantas vezes que se torna um ritmo. Excesso de ritmo leva as pessoas a parar de pensar.

    Assim, por essas duas caractersticas do ritmo, porque ele mexe com o nosso corpo, s

    com os msculos, e porque leva a um desligamento do intelecto, que temos,

    inconscientemente, grande dificuldade, nas nossas igrejas, para aceitar uma grande

    nfase no ritmo. Intuitivamente, as pessoas sentem isso, primeiro um apelo muscular

    fortssimo e, segundo, o desligamento intelectual. Ouvi h pouco um comercial de uma

    escola de dana que tinha uma frase incrvel: quem dana no pensa! Venha esvaziar sua cabea, venha danar conosco. Essa uma frase verdadeira. O excesso de ritmo faz as pessoas deixarem de pensar. Tambm por isso, h uma grande dificuldade para a

    aceitao dos instrumentos rtmicos na Igreja. Intuitivamente, a Igreja sente que alguma

    coisa no est certa.

    Crebro mamal

    Esses trs elementos so responsveis pela ao direta da msica nos ouvintes. Por isso,

    a msica um excelente veculo para guardar informaes em nosso crebro. Todo

    professor de cursinho sabe disso. Geralmente eles usam melodias para ensinar frmulas complexas. Uma mensagem, uma vez interiorizada por meio de uma melodia,

    nunca jamais ser apagada da memria. As melodias so fixadas numa regio do nosso

    crebro chamada crebro mamal. Os mamferos possuem essa regio, por isso que chamada de mamal. Essa regio arquiva definitivamente as informaes no crebro. como se fosse um computador que grava algo que no pode mais ser deletado. Aquilo ficar arquivado para sempre, independentemente das pessoas desejarem ou no. Uma

    vez que a mensagem foi aprendida, as pessoas nunca mais estaro livres dela. Ela pode

    ser esquecida temporariamente, mas nunca apagada. Isso pode ser visto no dia-a-dia:

    Voc teve uma determinada experincia em sua vida ouvindo uma melodia. Depois

    disso, nunca mais tornou a ouvir aquela melodia e nem passou por aquela experincia.

    Ento, 30 anos mais tarde, voc volta a ouvir a melodia. O que acontece?

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    Imediatamente vem sua memria a experincia pela qual voc passou quando ouviu

    aquela melodia pela primeira vez. A mesma coisa acontece com os perfumes. Alis, os

    perfumes tambm so decodificados em nosso crebro na regio mamal. O olfato o

    nico dos cinco sentidos que decodificado pelo crebro mamal. A msica, como o

    olfato, fixa as coisas em nosso crebro para sempre. Isso eu estou afirmando

    cientificamente: Voc nunca mais estar livre dos Mamonas Assassinas. No uma desgraa?

    O que as crianas esto cantando em nossas igrejas? J pensaram que daqui a trinta

    anos, se elas estiverem fora da Igreja, queira Deus que no, elas podero se lembrar das

    melodias que cantaram sem que isso faa qualquer diferena para a vidas delas? No

    seria bom pensar mais seriamente na msica que as crianas da nossa Igreja esto

    cantando?

    As crianas, ao contrrio dos jovens, so permeveis. Temos dado muita nfase em

    nossas igrejas ao trabalho com os jovens. Em nossa opinio, tarde demais! Os jovens

    no so permeveis e no so abertos a novas informaes. Costuma-se dizer isso: Os jovens so abertos. No verdade! O jovem sempre aceita o novo. No verdade! O jovem no aceita o novo at que esse novo seja aprovado pelo seu grupo. O grupo em

    que o jovem est, pode ser de cinco, quatro, trs, ou duas pessoas, determinante. O

    grupo de identidade dele precisa primeiro admitir determinada coisa para, ento, ele

    passar a faz-la. Se, no grupo dele, todo mundo usar cala azul, no pense que ele vai

    usar amarela. Se, no grupo dele, todo mundo ouve rapp, no pense que ele vai achar que outro tipo de msica presta. Os jovens so tremendamente impermeveis. J as

    crianas, so permeveis.

    Abobrinhas teolgicas

    A msica fixa em nossa cabea, para sempre, verdades teolgicas, mas o problema

    que ela fixa tambm, para sempre, mentiras ideolgicas. Indelevelmente. Fixa de tal

    forma que nunca mais voc as esquecer. Lutero destacou um importante fato quando

    ele disse sua congregao: eu sei que amanh, segunda-feira, vocs vo esquecer o que eu estou falando agora no meu sermo. Mas os hinos que os fao cantar, jamais vo

    ser esquecidos. Por isso, preciso parar e pensar seriamente no que estamos cantando nas nossas igrejas. A Igreja tem passado, e eu a tenho visitado no Brasil inteiro, por uma

    fase de esvaziamento doutrinrio, tambm porque tem cantado abobrinha.

    Uma forma litrgica estranha, muito comum nas igrejas hoje em dia, o chamado

    Momento de Louvor. Um grupo de pessoas vai frente, jovens que sabem tocar alguns instrumentos e cantar, e, por 40 minutos, apresentam uma srie de msicas. E

    para piorar, o lder do grupo, sem nenhuma formao teolgica, comea a doutrinar a

    Igreja, falando sempre entre 4 a 5 minutos antes ou depois de cada msica. Ele explica

    como que age o Esprito Santo, como o plano de Deus, como a gente deve se

    comportar, e como a Igreja deve fazer. Esse doutrinamento com msica est sendo

    absorvido indelevelmente, independente do que o pastor disser mais tarde. Se temos

    uma sugesto j, nesse momento da nossa conversa? Sim: No os deixem falar mais.

    Eles esto catequizando a sua Igreja, de verdade. Por que? Porque usam a msica,

    registrando e arquivando para sempre. E, como tm cantado qualquer msica, e

    qualquer texto, esto ensinando abobrinha teolgica brava, heresia, muitas vezes, e levando a Igreja a perder a sua caracterstica, a sua identidade.

  • 9

    Estamos falando do que j est acontecendo. A Igreja est perdendo a sua identidade.

    Tanto faz, para o jovem, ir sua Igreja ou ir comunidade no sei o qu. Porque em ambas ele canta a mesma msica repleta de mentiras teolgicas, sem aprofundamento

    bblico. Seus cnticos so sempre vazios e falam de alegria e euforia. H pelo menos um

    deles que fale: Se temos de perder, famlia, bens, mulher, se a morte enfim chegar, com ele reinaremos como Lutero fazia? A Igreja dele no tinha problemas com a teologia da prosperidade, tinha? Porque ele cantava isso. A nossa Igreja deixou de cantar essas

    coisas. No nos admira o esvaziamento doutrinrio da atualidade. Por isso, comeamos

    dizendo que no achamos que o problema a msica; achamos que a msica o

    sintoma do problema. O problema muito maior que a msica. teolgico e

    doutrinrio. Tem se refletido na msica, mas muito mais srio.

    Meus irmos, a msica tem o papel de impresso no culto, de criar uma atmosfera

    prpria para diferentes momentos do culto. Faa uma experincia sobre esse papel de

    impresso que tem a msica: Quando estiver assistindo a um filme pela televiso, na

    cena mais importante, tire o som. Se o filme for de terror aqueles monstros deixaro de

    ser to horrorosos; se for filme romntico, o par vai ficar desajeitado; se for filme de

    aventura, o mocinho vai cair do cavalo. Na verdade, vai estar faltando o elemento mais

    importante aliado imagem para tornar a cena convincente: a msica, o som. Msica ou

    qualquer manifestao sonora. No sem razo que Hollywood premia no s os

    melhores efeitos acsticos, sonoros, dos filmes, como tambm as melhores msicas. As

    msicas e os sons complementam e fazem o filme acontecer. O cinema mudo no dispensava a msica. Dispensava a palavra, mas no a msica. A msica variava de

    acordo com a atmosfera do filme. Se estava acontecendo uma cena de movimento, a

    msica, evidentemente levava a gente ao movimento; se a cena era de tristeza, a msica

    acompanhava esse momento. Fazia com que a gente se convencesse da cena. A msica

    usada at preparar-nos para o que vem em seguida, antes da cena acontecer.

    Endossando o texto

    Mas h outro papel importante da msica em nosso culto:

    1. B) O Papel da Expresso

    Isso acontece quando ela diz alguma coisa junto com o texto, quando endossa e subsidia

    o texto. Quase sempre em que h um bom casamento entre letra e msica, a mensagem

    que est sendo dita passa completamente para as pessoas e as pessoas a absorvem H um exemplo muito interessante na Bblia: Fez tambm Davi casas para si mesmo, na cidade de Davi; e preparou um lugar para a arca de Deus, e lhe armou tenda. (I Crnicas 15:1). preciso lembrar que esse momento histrico aconteceu quando a arca

    foi transportada para o seu lugar definitivo. Ela foi, por um bom tempo, transportada de

    um lugar para outro. Depois, ela ficou em Quiriate-Jearim, de onde foi levada para a

    casa de Obede Edon. Da casa de Obede Edom, ela foi transportada finalmente para um

    lugar definitivo, construdo por Davi. Ele reuniu toda a nao em Jerusalm, para fazer

    subir a arca. Esse o momento histrico que estamos vendo aqui. O momento do

    transporte da arca para seu lugar definitivo. Davi, ento, tomou algumas providncias:

    reuniu os levitas e determinou quem faria o qu. Depois disso, escreveu um salmo, um

    hino feito especialmente para aquela ocasio. Ele chamou os msicos e disse: Ensaiem esse hino porque ele ser cantado no dia do transporte da arca. Todos devem aprend-lo

    na ponta da lngua. Vamos fazer algo bem feito. No verso 15, o cronista registra: os

  • 10

    filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas que nela estavam,

    como Moiss tinha ordenado, segundo a palavra do Senhor.

    Quando falamos aos jovens sobre esse tema, sempre abrimos um parntese aqui e destacamos que um moo chamado Uz percebeu que a arca ia cair e correu para

    segur-la. Uz morreu imediatamente. Ele se esqueceu do mandamento de Deus para

    no tocar na arca. O problema estava na atitude errada de Davi ao determinar que a arca

    seria levada em um carro, como os filisteus a tinham conduzido at Quiriate-Jearim.

    Deus tinha dito que a arca devia ser conduzida com varas que eram passadas pelas suas

    argolas, e que os levitas deviam carreg-la.

    No Brasil, ouve-se muito: o que vale a inteno. Mas, realmente, o que vale para Deus nem sempre a inteno. O que vale a prescrio. De maneira que se h uma

    prescrio, no interessa a inteno. Mesmo que seja a melhor das intenes, a

    prescrio ainda est acima dela.

    Quenanias, o melhor

    No verso 16, Davi disse aos chefes dos levitas que constitussem a seus irmos, cantores, para que, com instrumentos msicos, com alades, harpas, e cmbalos se

    fizessem ouvir, e levantassem a voz com alegria.. No verso 19, lemos que: os cantores, Hen, Asafe e Et se faziam ouvir com cmbalos de bronze (instrumentos sonoros, altissonantes, barulhentssimos); no verso 20: Zacarias, Aziel, Semiramote, Jeiel, Uni, Eliabe, Maasias e Benaia, com alades, em voz de soprano; no verso 21: Matitias, Elifeleu, Micnis, Obede-Edom, Jeiel e Azazias, com harpas, em tom de

    oitava, executavam as melodias dos salmos para conduzir o canto. No verso 22:

    Quenanias, chefe dos levitas msicos, tinha o encargo de dirigir o canto, porque era entendido nisso. No uma boa razo para algum cuidar da msica no templo? Fulano cuida da msica na Igreja, por qu? Porque ele o melhor. No isso que temos

    visto, andando por ai, infelizmente. Um pastor nos liga dizendo: Irmo, estamos precisando de algum para trabalhar com msica. Perguntamos: E o fulano, o que ele est fazendo? Ele responde: Ah! Ele est fazendo porque no tem ningum que faa. Por que razo alguns grupos tocam na Igreja? Eles tocam porque eles compraram os

    instrumentos! como jogo de bola em time de vrzea. O dono da bola joga sempre.

    No importa se ele joga bem ou mal.

    Em Braslia, h uns dois meses, estvamos falando a um grande grupo de jovens quando

    um deles nos procurou, mostrou-nos uma msica e disse: O Senhor me deu um cntico. Estava horrvel! Portugus errado, msica ruim, uma lstima! Ento, dissemos-lhe Se voc tem jeito e tem talento, vai estudar e torne-se um instrumento hbil para transmitir bem o que Deus lhe d. Quenanias era o chefe dos msicos porque ele era o melhor. Ser o melhor na poca no era brincadeira.

    Os levitas, logo depois dessa narrativa, so vistos em um treinamento sistemtico de

    aproximadamente dez anos. Comeavam a servir aos vinte e serviam como aprendizes,

    no templo, at os trinta anos. Aos trinta entravam para o servio efetivo e trabalhavam

    at os cinquenta. No verso 24: Sebanias, Josaf, Natanael, Amasai, Zacarias, Benaia e Eliezer, os sacerdotes, tocavam as trombetas perante a arca de Deus; Obede-Edom e

    Jeas eram porteiros da arca. E ai comeou a cerimnia. Davi saiu com os capites de milhares para fazer subir com alegria a Arca da Aliana do Senhor, da casa de Obede-

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    Edom. No verso 26: Tendo Deus ajudado os levitas que levavam a arca da aliana do Senhor, ofereceram em sacrifcio sete novilhos e sete carneiros. No verso 27: Davi ia vestido de um manto de linho fino, como tambm todos os levitas que levavam a Arca,

    e os cantores, e Quenanias, chefe dos que levavam a arca e dos cantores; Davi vestia

    tambm uma estola sacerdotal de linho. Eles estavam de toga, paramentados. Os cantores, o coro e a orquestra. Davi vestia uma estola sacerdotal de linho. No verso 28:

    Assim todo o Israel fez subir com jbilo a arca da aliana do Senhor ao som de clarins, de trombetas e de cmbalos, fazendo ressoar alades e harpas. No captulo 16, versos 4 a 7: Designou dentre os levitas os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e de celebrar, louvar e exaltar o Senhor Deus de Israel, a saber: Asafe, o chefe, Zacarias o

    segundo, e depois Jeiel, Semiramote, Jeiel, Matitias, Eliabe, Benaia, Obede-Edom e

    Jeiel, com alades e harpas; e Asafe fazia ressoar os cmbalos. Os sacerdotes Benaia e

    Jaaziel estavam continuamente com trombetas, perante a arca da aliana de Deus.

    Naquele dia foi que Davi encarregou pela primeira vez a Asafe e a seus irmos de

    celebrarem com hinos o Senhor.

    Um bom casamento

    E ento segue-se o hino, um salmo que Davi comps especialmente para aquela ocasio.

    No final do hino, lemos: Bendito seja o Senhor Deus de Israel, desde a eternidade at a eternidade. E todo o povo disse: Amm! e louvou ao Senhor. Acontece isso hoje. Papel de expresso da msica. Quando um grupo canta, canta pelo povo e o povo diz amm e

    louva ao Senhor. Esse um papel importante que a msica tem. E a msica s faz isso

    efetivamente quando ela faz um bom casamento com a letra, quando a letra diz alguma

    coisa e ela diz a mesma. Quando a letra fala da majestade, do poder e da glria de Deus,

    e acompanhada de msica majestosa e poderosa; quando a letra fala do nosso

    problema como homem pecador e acompanhada de msica que tambm diz a mesma

    coisa. H alguns exemplos clssicos de maus casamentos. Vamos na msica nova, nos nossos hinrios. Exemplo: Oh! vinde fiis, triunfantes alegres, lembram essa msica? majestosa, vibrante, grande etc. Um lindo hino latino de Natal! Adeste

    Fidelis. Por algum tempo ela foi associada em nossas igrejas letra: Oh! vs que passais pela cruz do calvrio.! No tem nada a ver! A msica diz uma coisa, a letra outra. A comunicao vazia. Mau casamento entre letra e msica. O que as igrejas

    normalmente fazem cantar bem devagar e mole a melodia para, inconscientemente adapt-la ao texto. Msica s expressa o texto quando a msica vem com ele, quando a

    msica diz a mesma coisa. Alis, essa a funo mais importante da msica no culto:

    ser subsdio para a Palavra. Se ela no tem essa funo, show e no tem lugar no culto.

    A nica funo da msica ser subsdio para o texto, para a Palavra. Se ela no tiver

    essa funo, espetculo e no tem lugar no culto.

    Teologia e msica

    por isso que, na nossa opinio, existe sempre uma nica msica certa para aquele

    especfico lugar no culto. No serve qualquer msica em qualquer lugar. Tem que ser

    aquela. Pode ser at uma nica estrofe, naquele lugar, porque ela tem a finalidade nica

    de reforar o que foi dito, tornar claro o que foi dito, subsidiar a Palavra. Outra vez

    Lutero: em nome da teologia, concedo msica o lugar maior no culto. Ele no est dizendo que a msica mais importante que a Palavra, ou que a teologia. A msica tem

    que ser subsdio para a Palavra; se no for, ela estar fora do contexto. Hoje o conjunto gua Viva vem aqui abrilhantar o nosso culto. Por que? O culto no precisa ser

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    abrilhantado. O culto no uma festinha de aniversrio. fcil de perceber nos nossos

    dias uma confuso entre culto e festa. No V.T. era mais fcil de se ver a distino,

    porque existiam festas litrgicas e momentos de adorao e sacrifcio. Eram coisas

    diferentes. A festa era horizontal, era a hora de se alegrar no Senhor. Todo mundo se

    alegrava. Esta era a hora dos instrumentos, das danas, dos cnticos. s vezes at no

    espao do templo, inclusive, mas eram festas. Mas o culto sacrificial, o sacrifcio, nem

    alegre era. Hoje temos misturado as coisas: Temos culto do pastor, culto do beb, culto

    de formatura, culto das mes. Isso nos parece, cria alguma dificuldade para ns mesmos

    estabelecermos os limites. At onde da me e at onde de Deus? Como vamos preparar o programa do culto e o sermo? Para a me de Deus?

    Os babilnios de hoje

    Tenho ouvido muitas vezes pastores dizerem: a gente precisa manter os jovens na Igreja, os cultos precisam ser atraentes. Eu odeio essa msica, mas tenho que deixar e quando cantam, muitos falam: ainda bem que eles esto aqui, no esto no mundo. porque eles esto aqui que precisam fazer melhor que l fora. J houve uma poca na nossa histria reformada em que a msica que acontecia nas igrejas era a melhor que

    se produzia naquele lugar. No sc. XVII, no sc. XVIII e no incio do sc. XIX, se

    algum visitasse uma cidade europeia e quisesse ver e ouvir o que de melhor aquela

    populao produzia, iria para a Igreja. L havia a melhor msica e a melhor arquitetura.

    Os msicos da corte do Palcio iam l aprender com os msicos da Igreja. A romaria at

    Leipzig para aprender com Bach era enorme. Bach passou 45 anos de sua vida

    trabalhando como msico de uma nica Igreja (a Igreja de St. Thomaz, em Leipzig).

    Sua obra inteira foi S.D.G. (Soli Deo Gloria). Ele assinava assim. Essa era a sua

    finalidade; por isso ele fazia o melhor que podia, exatamente porque era para a glria de

    Deus. O msico do palcio podia fazer de qualquer jeito porque fazia para ganhar

    dinheiro, era s para honrar o rei. Mas na Igreja era o melhor que se podia produzir

    porque era para Deus. Percebe-se que mudamos radicalmente: da dianteira absoluta,

    passamos para a rabeira absoluta. Hoje ns estamos desesperadamente correndo atrs da

    msica secular, para imit-la, para ver se a gente consegue manter o jovem dentro da

    Igreja. por isso que o povo no se importa mais com o nosso cntico de Sio. Os

    babilnios queriam ouvir o cntico de Sio. Em outros instrumentos, outro cntico que

    no era o deles. Os babilnios de hoje no esto nem a com a nossa msica. Hoje h 25 rdios gospel tocando msica o dia inteiro. E da, que diferena faz? No tem diferena nenhuma das outras. E h ainda quem chame isso de msica sacra!

    Msicas boas e ruins

    Mas a msica continua tendo dois papis no culto. O de impresso, de atmosfera, que

    ela j faz s com o instrumental Mas o seu papel central no culto o de expresso subsidiar o texto. E isso s acontece quando h um bom casamento entre os dois. Cada

    elemento diferente da msica mexe com uma parte diferente do nosso organismo e isso

    faz com que sejamos integralmente atingidos, quer queiramos quer no, quer estejamos

    ouvindo ou no, quer sejamos perfeitamente hbeis, auditivamente, ou surdos

    completamente. A msica consegue ser ouvida epidermicamente. A msica influencia

    pessoas completamente surdas e altera o seu comportamento. Se se delinear na mente de

    algum a ideia de que estamos defendendo a msica do hinrio em detrimento dos

    novos cnticos, ou defendendo coral em detrimento de conjunto, isso absolutamente no

    verdade. Entendemos que existem muitas msicas novas muito boas hoje, e muitas

  • 13

    muito ruins. A maior parte ruim por uma razo simples, porque elas ainda no foram

    filtradas pelo tempo; o tempo um timo filtro. No sc. XVII tambm foi produzida

    muita coisa ruim, mas foi embora. S ficaram as melhores. Existem muitas msicas

    novas boas sendo produzidas e, por outro lado, nos nossos hinrios, existem muitas

    msicas que no so to boas assim. No pelo fato de estarem no hinrio que so boas.

    Como lderes, temos obrigao de analisar cuidadosamente os textos das msicas que

    esto nos hinrios, dos hinos que vo ser cantados. Estamos, muitas vezes, cantando

    coisas impressas nos hinrios em que nem sempre acreditamos.

    A nossa proposta que faamos uma leitura cuidadosa do texto, tanto dos novos

    cnticos quanto dos hinos impressos, mais dos novos porque no foram ainda filtrados

    pelo tempo, e usemos somente aqueles que realmente so bons, nessa linha de

    raciocnio. Tambm no entendemos que o grupo de jovens no possa ter lugar no culto,

    somente o coral. Da mesma forma tambm no entendemos que o coral ruinzinho que cantava h 20 anos atrs deva ser substitudo pelo grupo de jovens tambm ruinzinho de hoje. O coral ruinzinho tem que ser substitudo por um bom coral e o grupo de jovens ruinzinho tem que ser transformado num bom grupo de jovens. E assim encontrar o lugar de cada um no culto: do grupo de jovens, do grupo das senhoras, do

    conjunto masculino, etc., assim como o lugar do coral. Seja como for, a msica tem que

    estar assessorando a Palavra. Ela s tem utilidade ali. E essa no a realidade nas

    nossas igrejas h bastante tempo. No temos usado, geralmente, os hinos porque eles

    subsidiam os textos ou porque eles do expresso quele momento de culto. Os hinos

    so normalmente uma espcie de descanso entre o que est acontecendo no culto. Por

    exemplo: Na liturgia h uma orao e uma leitura e, ento, preciso haver um hino.

    Qual? Qualquer um, basta que seja um hino. muito comum usar-se a hora do cntico

    para que os retardatrios entrem no templo, j que tiveram que esperar durante a orao

    ou a leitura da Bblia. tambm a hora que os diconos usam para abrir a janela ou para

    pegar cadeiras para os visitantes. Ou, ento, a vtima maior da espera, sempre um

    cntico: O pastor est atrasado, vamos cantando uns hinos enquanto ele no chega.

    Hino certo no lugar certo

    A nossa viso do que seja a msica incorporada no momento de culto que haja,

    primeiro, um trabalho muito consciente do lder na escolha do que vai se cantar; depois,

    onde vai se cantar. Eu gostaria de esclarecer um ponto em que a gente faz certa

    confuso. Existem hinos que so herana dos sculos XVII e XVIII, alguns so de estilo

    coral; alguns desses corais eram compostos e tinham cerca de 42, 43 e at 50 estrofes.

    Essas estrofes eram cantadas de acordo com o perodo por que se passava naquele

    momento. Por exemplo, se era uma poca de Natal, cantava-se o trecho do hino que

    falava sobre o Natal. Muitas vezes, muitos desses hinos so hinos que contam todo o

    plano da salvao. Esses hinos no foram compostos para ser cantados inteiros. Se voc

    pegar o saltrio de Genebra, por exemplo, que era o hinrio de Calvino, ou o

    cancioneiro de Witemberg, de Lutero, vai encontrar muitos desses hinos. No saltrio de

    Genebra vai encontrar o Salmo 119, inteirinho. Ningum o cantava inteiro,

    evidentemente. Cantavam-se trechos dos hinos, os trechos que tinham mais a ver com

    aquele momento de culto. Perdemos um pouco disso a partir do momento em que a

    gente passou a ter uma nova viso do hino: o hino apenas como subsdio musical do

    culto; Canta-se o hino sem se preocupar com a letra. Se o culto est muito longo e o

    hino tem quatro estrofes e o coro, cantamos a primeira, a segunda e a ltima. Nunca a

    terceira. Mas s vezes a ltima comea com um ento. Ento, por que? Porque a

  • 14

    continuao da terceira. A nossa proposta que cantemos as estrofes que servirem para

    aquele momento de culto. Pode at ser somente a terceira, se for a estrofe que sirva para

    aquele momento. Evidentemente, h hinos que no tm como ser partidos. Eles tm

    comeo, meio e fim. Mas h muitos que so absolutamente compartimentados, eles

    foram pensados assim, para serem usados compartimentados. Vocs devem estar

    percebendo que isso exige trabalho, uma leitura cuidadosa. Vai custar tempo.

    Parntese no culto

    Quando comearmos a fazer isso, as coisas ganharo uma nova dimenso. Por exemplo,

    quando o grupo de jovens deixar de ser parntese de culto. Por que parntese? Comea

    o culto, faz-se a leitura, e ento passa-se ao momento de louvor. Abre-se o parntese: o

    grupo vai para a frente, afina os instrumentos e dirige o louvor. Canta-se uma vez uma

    msica com todos, depois s as mulheres, ento s os homens, explica-se o que o

    Esprito Santo faz na vida do crente; depois mais um cntico, mais um, outro mais.

    Quarenta minutos depois, todo mundo em p, fecha-se o parntese e o dirigente diz:

    agora vamos continuar o nosso culto. Esse um grande erro, e recente em nossa histria cltica. Quando ns todos ramos crianas, no havia isso. Isso comeou a

    acontecer h cerca de vinte anos, com a nfase nos acampamentos dos jovens. No final

    do sc. XIX os metodistas enfatizaram tremendamente o acampamento de jovens.

    Nasceu da um cancioneiro especial para esses tipos de reunio, mas a fora maior

    surgiu, na verdade, nos ltimos vinte, ou at, talvez, nos ltimos dez anos. Os

    acampamentos reuniam uma quantia muito grande de jovens e para esses acampamentos

    compunha-se, cantava-se determinado tipo de msica que no tinha nada a ver com a

    msica que se cantava regularmente nas igrejas. Esses jovens passavam l um final de

    semana e quando chegavam na Igreja queriam, com a maior das boas intenes, trazer

    aquela atmosfera, aquilo que sentiram l no acampamento e a msica que aprenderam e

    cantaram l. Nessa mesma poca, a nossa Igreja no estava aparelhada para oferecer um

    tipo de msica alternativa de boa qualidade para os jovens.

    Msica sacra ou profana?

    A gerao dos anos 10 e 20, ou parte dela, foi convertida ainda pelos primeiros

    missionrios ou, quando no, pelos herdeiros dessa converso. Essa gerao, e a gerao

    que veio imediatamente depois, foi uma gerao conversionista, ou seja, convertida. Foi

    um momento de conversionismo. Isto , os nossos avs que frequentaram a Igreja

    evanglica j tinham sido catlicos antes de serem convertidos. Quando eles se

    converteram, cantaram um tipo de cano completamente diferente de tudo que eles

    tinham ouvido at ento. Quando os nossos avs cantaram os hinos dos Salmos e Hinos

    (o primeiro volume traduzido integralmente) eles cantaram msica sacra, absolutamente

    sacra, porque aqueles sons nunca haviam sido ouvidos antes. No interessa se era

    msica de bar americano. Aqui um terreno complicado porque toca mesmo no que

    msica sacra e o que no msica sacra. Modernamente, definimos msica sacra para

    um grupo; impossvel definio de msica sacra genrica, por uma razo muito

    simples: o sacro, na verdade, aquilo que verdadeiramente aceito por Deus, no tem

    nada a ver com a qualidade dos sons; tem a ver com o corao e lbios limpos, tem a ver

    com o cantante e com Deus. O estilo que est soando no espao mais ou menos

    convencional para um grupo de pessoas, e isso que sacro ou no para aquelas

    pessoas que esto ali. Cuca um instrumento sacro ou profano, na sua cabea?

    Profano. Por que? Porque a gente faz associao com um tipo de coisas, etc.. Agora,

  • 15

    leva essa cuca para o Tibet, converte os tibetanos e diz a eles que esse instrumento vai

    abrir todos os cultos ao Senhor. Esse som vai ser o introdutrio do culto. Pronto, a partir de ento, aquilo l vai ser o som santo por excelncia, sacro por excelncia. A

    cuca no menos santa do que o violino. O violino feito de madeira, tripa e metal. A

    cuca feita de madeira, pele e metal. Igualzinho. Materialmente, no h diferena. Portanto, temos que pensar o que vale para as msicas. Temos ouvido muito isto: a gente canta passarinhos, belas flores, (cantava, hoje j no canta tanto mais) isso era msica de bar, etc.. Era mesmo, s que ningum sabia que era. Aquele som nunca havia sido ouvido aqui; aquele tipo de melodia foi identificado pelos nossos avs,

    bisavs, como msica sacra. Por que? Porque ela era diferente da que eles cantavam nos

    bailinhos de final de semana, ou na Igreja catlica que eles frequentavam. exatamente

    isso que hoje usado como critrio para definir, para um grupo sociocultural, o que

    msica sacra: diferente da msica que aquele grupo conhece, fora do templo. Esta a

    primeira caracterstica de msica sacra, naquele momento histrico. A segunda que ela

    , basicamente, acompanhamento para o texto, ponto em que ns j tocamos. Ela tem

    que ser texto, nascer do texto. H um terceiro que se refere ao instrumentrio, mas que

    no o mais importante. Esses dois pontos fecham a questo para ns. Quando eles

    cantavam aquele tipo de msica aquilo era, para eles, msica sacra. Pode ser que para os

    nossos dias no seja mais. Quando o coro ou a congregao canta: Altamente os cus proclamam, muitos sentem-se elevados com essa msica sacra. Uma vez em que eu estive passando frias no Brasil, morando na Alemanha, veio comigo uma famlia

    amiga, de l, e ns fomos a uma Igreja, e o coro levantou e comeou a cantar esse hino.

    Eles ficaram assombrados, porque esse o hino nacional alemo, que Hitler obrigava

    todo mundo a aprender, inclusive. Para quem fica sabendo disso, um choque. Mas isso

    no quer dizer que a melodia que est l ruim. Haydn, uma maravilha. Mas quando

    a gente sabe, ento complica. Outro exemplo o hino Grande Jeov. Quer msica mais sacra que esta? Mas isso Tannhuser, uma pera de Wagner, e nessa hora, o

    cavaleiro rapta a princesa da torre, com nem um pouco de boas intenes, bota-a

    debaixo do brao e vai embora. O mesmo acontece com o Largo de Handel que todo solista gosta de cantar. Quer coisa mais santa? S que aqui o rei Xerxes, embaixo da

    macieira, olhando a pessoa que iria conquistar e agradecendo sombra da macieira. Isto

    no sacro. Percebe-se, portanto, que essa uma questo muito complicada e ela s

    resolvida exatamente assim: msica sacra aquela, para aquele grupo sociocultural,

    diferente da sua secular. A sacra a diferente da que, naquele momento, secular.

    Compromisso com o divino

    preciso dizer que, embora os msicos nos sculos XVII e XVIII procurassem

    aprender com os da Igreja, no verdade que a msica que estava fora se identificava

    com a da Igreja, porque a msica que est fora sempre tem compromisso com o profano

    e a da Igreja sempre tem compromisso com o divino. Isto estava muito claro na cabea

    do compositor da poca; significa que o msico secular aprendia tecnicamente a fazer

    msica; s que, no palcio, ele tinha que fazer msica como o rei queria. Usava

    princpios tcnicos, mas a caracterstica da msica quem comandava, na verdade, era o

    rei, no o compositor. Alm disso, a msica sacra, com esse compromisso extremo com

    o divino, jamais era imitada com esse cuidado l fora, porque se verdade que se

    aprendia a tcnica, o msico fora da Igreja no era, de forma alguma, cuidadoso ou

    caprichoso como o msico do templo. Ele no tinha esse temor do compromisso de

    estar fazendo msica para ouvidos divinos, temor presente o tempo inteiro na vida de

    Bach. Bach escrevia sua msica com temor. Tinha que ser perfeita porque era para um

  • 16

    Deus perfeito, e essa preocupao nunca houve fora da Igreja. Portanto, se verdade

    que o pessoal vinha aprender tecnicamente com Bach, ou com os msicos da Igreja, o

    que reproduziam l fora no era aquela msica, nunca era.

    Msica sacra a que feita com a inteno de ser sacra? No sei. Pode ser sacra para

    quem fez, pode no ser para o vizinho. muito difcil determinar hoje isso, porque no

    temos critrios to comprometidos com a msica quantos j houve em outros tempos.

    Nos sculos 16, 17 e 18, entendia-se que havia uma msica objetivamente boa e uma

    msica objetivamente m. A msica objetivamente boa era baseada em princpios

    numricos, da ordem, do nmero, e agradava a Deus. No interessa se ela tinha texto ou

    no, no interessa se era sacra ou no; e havia uma msica objetivamente m e que,

    dualisticamente, agradava a Satans; e o parmetro disso era muito bem estabelecido.

    Nesse caso, mesmo o compositor fora da Igreja quando escrevia dentro dos parmetros

    da msica boa, dentro dos princpios da ordem, essa msica agradava a Deus, mesmo

    que no fosse msica com finalidade litrgica. E a outra msica, feita sem os

    parmetros da ordem, do nmero, mesmo que fosse feita para a Igreja, era m e no

    agradava a Deus. Era muito fcil naquela poca, mas hoje ns no temos mais um

    critrio muito claro do que seja msica objetivamente boa e objetivamente m.

    Msica de imitao

    Ser que a nossa msica tem que ser uma imitao da msica secular? No. Ser que,

    ento, estamos defendendo aqui que a gente s tem que cantar os velhos hinos do

    hinrio? Tambm no. Ser que estamos dizendo que os jovens no tm participao no

    culto? Tambm no. Gostaramos muito de ver outra vez a msica da Igreja liderando o

    movimento cultural, que ela fosse melhor e nitidamente melhor. Isso no impossvel.

    Eu tenho visto isso acontecer em outros lugares, no no Brasil. Ns, infelizmente, no

    Brasil, tivemos uma censura, uma lacuna muito grande. Quando os jovens procuravam

    por uma coisa nova no tinham isso sendo fornecido. A gerao dos anos 30 cantou os

    hinos do hinrio sem problemas; a dos anos 40, tambm, mas j cantou um ou outro

    corinho; a dos anos 50 cantou mais corinhos; a dos anos 60, s cantava corinhos; a dos

    70 no quer cantar nada que no sejam as msicas novas. Por que? Porque quando a

    gerao dos anos 50 e 60 procurou alguma coisa, no encontrou; os msicos sacros, se

    havia, estavam calados; no havia ningum compondo hino, boa coisa mesmo, que

    pudesse ao lado do hinrio aparecer como alternativa boa. Porque muito fcil a gente

    falar para o jovem: isso uma droga. Difcil falar: isso melhor que isso e faz-lo sentir que melhor mesmo. Temos visto muito nas nossas igrejas gente falando assim:

    O rock no pode. Por que? Porque no. Mas por que no?, Porque do diabo. Mas por que do diabo? Porque . Isso resposta? Esse tipo de msica no pode por causa disso, disso, e disso; porque tem uma outra muito melhor, oua. Onde est essa parte? No s criticar: esse conjunto de jovens uma droga. mesmo, muitas vezes, mas onde est um melhor? Falta mostrar como fazer melhor,

    como fazer diferente. Pegar essa criatividade que est a e multiplicar isso. Eu tenho

    uma certa tranquilidade em dizer isso at por estar coordenando uma faculdade de

    msica sacra que tenta exatamente fornecer para a Igreja do futuro essas pessoas, que

    vo poder dizer isso. Se verdade que nos ltimos 40 anos a produo de msica

    nacional sacra no esteve muito boa, para oferecer uma alternativa satisfatria, quem

    sabe os prximos 40 anos vo ser melhores. A gerao passada quando quis cantar

    coisas novas no encontrou nada. Ou cantava as coisas velhas ou importava. E

    importou, num primeiro momento, dos Estados Unidos nem sempre as melhores coisas;

  • 17

    num segundo momento imitou aquela msica. Nas primeiras gravaes de grupos

    alternativos jovens no Brasil, voc tem msica americana, autenticamente americana,

    traduzida para o portugus. Msica jovem americana. Num segundo momento, msica

    escrita no Brasil por eles mesmos, mas imitando o estilo que havia sido importado. Num

    terceiro momento, nacionalismo exacerbado; que condena tudo o que importado e

    surgem os grupos super- alternativos: P no cho, Barriga verde, sei l como chamam, proclamando que tudo que vinha de fora, em princpio, no prestava; a gente

    tinha que fazer uma coisa que fosse s nossa. a que se esbarrava num problema srio

    de convencer o pessoal do Sul a cantar baio; uma loucura, porque aquilo no era deles,

    na verdade. Ns estamos to fragmentados nessa questo cultural que para o pessoal do

    Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o coral alemo era muito mais msica deles do

    que baio. E com a gente tambm era assim.

    Boa pergunta:

    E agora, o que a gente faz domingo ou sbado que vem? A primeira coisa: j vai melhorar muito quando lermos os textos, ler cuidadosamente e isso no fcil de fazer:

    ler o texto criticamente, quer seja um dos novos ou do hinrio. muito difcil porque,

    primeiro, sempre lemos um hino impresso com respeito, palavra meio inspirada; temos dificuldade em criticar, ainda que esteja pssimo em linguagem e teologia; a

    segunda dificuldade que temos em relao aos hinos que muitos deles nos

    acompanham h muito tempo, ento, estamos muito ligados emocionalmente a eles.

    Temos uma ligao emocional que no nos permite ser racionais, muitas vezes, para

    fazer uma anlise honesta daquele texto. Se conseguirmos fazer isto seriamente, sempre,

    tanto com os hinos do hinrio como com os novos, num primeiro momento; e, num

    segundo momento, feita esta seleo, encontrarmos o lugar certinho deles acontecerem; e ao invs de um pacote de 40 minutos de msica, usarmos dentre aquelas

    6, 7, ou 8 msicas selecionadas, aquela certa para o momento certo, ento o nosso culto

    passa a ter coerncia e as pessoas comeam a ter a sensao de comeo, meio e fim. E

    isso j melhora no domingo que vem. E depois, entendemos que a funo dos lderes

    nas igrejas tem que ser despertar nas pessoas vocacionadas para a msica o senso de

    responsabilidade de que esto fazendo uma coisa muito sria. Descobrir essa gente e

    lev-las para frente. Para frente no quer dizer para a frente da Igreja, para tocar. Quer

    dizer: lev-las a aprender. Ningum tem mais desculpas de que no tem onde aprender. H cursos timos, professores timos, em muitos lugares. preciso resgatar a

    importncia de se aprender msica, que perdeu-se na nossa cultura. H 30 anos atrs

    qualquer Igreja de bairro ou do interior tinha uma, duas, trs, quatro pessoas que sabiam

    tocar piano, porque eram os nossos avs, de cuja formao cultural a msica fazia parte;

    as mulheres, especialmente, tinham que saber: cozinhar, bordar e tocar piano, para

    casar. Hoje no tem mais ningum que possa tocar.

    Irmos, passamos por um momento complicado sim, mas se verdade que o comeo da

    soluo do problema exatamente a conscincia dele, entendemos que vamos encontrar

    sadas, porque mais e mais pessoas esto sendo despertadas.

    Maestro Parcival Mdolo

    (Publicado em O Presbiteriano conservador, Julho/Agosto 1996).

    Parcival Mdolo Usado com permisso