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A PADARIA ESPIRITUAL E O PÃO I -PADARIA ESPIRITUAL PRIME I R A F A S E: (30 de maio de 1 892 a 28 de setembro de 1 894 ) Antônio Sales foi o inspirador e principal animador dessa original agre- miação l iterár ia. Idealizada nas cadeiras do Café Java e instalada solenemente às dezenove horas de 30 de maio de 1 892, no 1 05 da rua Formosa, ele a bati- zou, deu-lhe prestígio, traçou-lhe o programa de ação. Mas recusou-lhe a pre- sidência, entregando-a a Jovino Guedes, o primeiro padeiro-mar, cargo por este ocupado até 5 de outubro de 1 894. Contentou-se Antônio Sales com ser o seu primeiro-forneiro até 28 de outubro de 1 896, dela se despedindo doi s meses antes de embarcar com sua Alice rumo ao R io de Janeiro. Adolfo Caminha, o Félix Guanabarino, no seu O Diário 1 de 1 de junho de 1 892 registrava: usem a s formalidades do est ilo, rea lizou-se anteon- tem, às 7 horas da noite, no respectivo forno, a instalação desta fenomena l sociedade de rapazes de letras. Fenomeal, dizemos, porque efetivamente a Padaria Espiritual, a julgar pelos estatu tos e pela boa vontade dos forneiros constitui um fenômeno e dos mais curiosos deste fim de século. Há muito naõ assistlamos uma festa tão original. Basta dizer que não houve casaca, nem luvas, nem discuos e nem chá de garfo. A leitura dos estatutos, primeira parte do programa , provocou gera i s e estrepitosas gargalhadas, sendo para notar o vivo interesse do auditório pe l a nova espécie da Padaria, que se achava repleta de convidados. Seguiu-se a leitura de cartas dirigidas pelos forneiros Moacyr Jurema e Félix Guanabarino a Ramalho Ortigão e Guerra Junquei ro , as quais foram ou- vidas ao som de palmas sucessivas. Leram trabalhos literários os padeiros Polycarpo Estouro - uma primo- ro poesia dedicada a Alfredo Peixoto, v erdad eira jóia de subido valor art í sti- co; L ucas Bizarro, um espirituoso soneto , e Alcino Bandol i m, uma bela poe- 1 15 ----------- - - - - - -�. . '

A PADARIA ESPIRITUAL E OPÃO - ceara.pro.brceara.pro.br/acl/revistas/Colecao_Antonio_Sales/Antonio_Sales_e... · Agradecendo o convite que nos foi enviado, fa zemos votos para que

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A PADARIA ESPIRITUAL E O PÃO •

I - P A D A R I A E S P I R I T U AL

P R I M E I R A F A S E: (30 de maio de 1 892 a 28 de setembro de 1 894 )

Antônio Sales foi o inspirador e principal animador dessa original agre­miação literária. Idealizada nas cadeiras do Café Java e instalada solenemente às dezenove horas de 30 de maio de 1 892, no 1 05 da rua Formosa, ele a bati­zou, deu-lhe prestígio, traçou-lhe o programa de ação. Mas recusou-lhe a pre­sidência, entregando-a a Jovino Guedes, o primeiro padeiro-mar, cargo por este ocupado até 5 de outubro de 1 894. Contentou-se Antônio Sales com ser o seu primeiro-forneiro até 28 de outubro de 1 896, dela se despedindo dois meses antes de embarcar com sua Alice rumo ao Rio de Janeiro.

Adolfo Caminha, o Félix Guanabarino, no seu O Diário 1 de 1<? de junho de 1 892 registrava: usem as formalidades do estilo, realizou-se anteon­tem, às 7 horas da noite, no respectivo forno, a instalação desta fenomenal sociedade de rapazes de letras.

Fenomen_al, dizemos, porque efetivamente a Padaria Espiritual, a julgar pelos estatu tos e pela boa vontade dos forneiros constitui um fenômeno e dos mais curiosos deste fim de século.

Há muito naõ assistlamos uma festa tão original. Basta dizer que não houve casaca, nem luvas, nem discursos e nem chá

de garfo. A leitura dos estatutos, primeira parte do programa, provocou gerais e

estrepitosas gargalhadas, sendo para notar o vivo interesse do auditório pela nova espécie da Padaria, que se achava repleta de convidados.

Seguiu-se a leitura de cartas dirigidas pelos forneiros Moacyr Jurema e Félix Guanabarino a Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, as quais foram ou­vidas ao som de palmas sucessivas .

Leram trabalhos literários os padeiros Polycarpo Estouro - uma primo­rosa poesia dedicada a Alfredo Peixoto, verdadeira jóia de subido valor artísti­co; Lucas Bizarro, um espirituoso soneto, e Alcino Bandolim, uma bela poe-

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sia, seguindo-se a parte musical -execução ao piano da va�sa Pão Duro, com­posição do Maestro Nascimen to, pelo Pro�es�or Sr. �orge V1ctor.

Em suma, uma bela festa a que ass1st1ram diversas senhoras e cavalhei-ros da nossa melhor sociedade.

Foram distribuldos gratuitamente os Estatu tos impressos da nova asso-. -

c1açao. Agradecendo o convite que nos foi enviado, fazemos votos para que os

esperançosos padeiros consigam, à força de vontade e perseverança, aperfei­çoar o gosto literário entre nós'�

Jornais do Rio transcreveram o programa da Padaria Espiritual, em es­pecial 0 Jornal do Comércio que lhe publicou quase todos os artigos. Os Esta­tutos foram enviados, também, aos literatos que acusaram seu recebimento por meio de cartões, como o nosso Clóvis Beviláqua que assim se dirigiu ao cidadão Moacyr Jure ma: #Agradeço-lhe cordialmen te a remessa dos Estatutos da Padaria Espiritual e afirmo-lhe que estou pronto a concorrer para o desen­volvimento dessa inteligente associação, cujo nascimento anuncia as fosfores· cências de um esplrito fino e causticante. Brevemente farei a remessa das obras e folhetos que tenho publicado. Do patrlcio e amigo ".

Abel Botelho, escritor português, atendendo aos apelos da Padaria, en­viava à Biblioteca da sociedade em pauta seus três livros, Lira Insubmissa (ver· sos ), Germano (drama em verso ) e Barão de Lavas (romance ).

O Café Java, inaugurado na quinta-feira de 23 de junho de 1887 e seu proprietário, Mané Coco, estão portanto, intimamente I i gados à própria vida da Padaria. João Batista Perdigão de Oliveira 2 traçou-lhe o perfil: "Estatura baixa, gordo, cheio de quartos, den tadura apodrecida, boca cheia de língua, rosto bexigoso ou com pregas de sol, imberbe, cabeleira espessa e oleosa, voz rouquenha, asmático, a deitar globulozinhos de cuspo, ao falar . . . ''

A sede da Padaria, o Forno,3 de in(cio aproveitando as dependências de antigo armazém de exportação de propriedade do comerciante José Bruno Menescal, lo calizado na rua Formosa 105,4 era mobiliada apenas com uma comprida mesa de pinho, um armário e meia dúzia de cadeiras, adquiridas gra· ças a uma subscrição popular e passava, ainda nessa fase, para o número 106, primeiro andar da mesma rua, de cuja sacada os padeiros, imponentes, com suas longas barbas pretas e postiças, sob os olhares estupefatos do povo, faziam discursos, declamavam poemas, escandalizavam a cidade acanhada e assustada. 5

A Padaria Espiritual, sem pouso fixo, agora na rua Formosa n. 1 1 , tinha um estandarte com duas insígnias entrelaçadas: uma caneta plumada -repre· sentando a cultura - e uma espiga de trigo - representando o Pão. De um

o N

lado um P e do outro um E. Por baixo, a divisa Amor e Trabalho. As reun1oes ou sessões, quase sempre marcadas a partir das dezenove horas, eram as For· nadas; os sócios, os amassadores ou padeiros; o Presidente, o Padeiro-mor;os Secretários, Primeiro e Segundo Forneiros; o Tesoureiro, Gaveta; o Bibliote· cárie, Guarda-livros e o Investigador das coisas e das gentes, o Olho da Pro· vidência.

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O CAFÉ JAVA, inaugurado a 23 de junho de 1887 e seu primeiro proprietlrio, Manl Coco, estio intimamente ligados � própria vida da Padaria Espiritual. OcupiVI o lngulo nordeste da Praça do Ferreira.

Esta Primeira Fase, alegre, extrovertida, pândega, trocista, apresentava num cunho acentuadamente /Joêmio e, nas suas sessões, a pilhéria fazia os

gostos da maior parte das noitadas no Forno ". O Programa de Instalação, em quarenta e oito artigos, está recheiado de

muito espt'rito, de muito "humour", acentuando assim o caráter festivo e in­formal dessa associação. Vale a pena transcrevermos o Ofício, datado oito

dias após a inauguração da Padaria Espiritual, endereçado ao Governador de então, Tenente Coronel José Freire Bezerril Fontenele, assinado por dezessete padeiros e encabeçado pelo Primeiro padeiro-mar da instituição, Jovino Gue­des, o Wenceslao Tupiniquim. Tal petição tinha apoio no artigo 32 que senten­ciava: liA Padaria representará ao Governo do Estado contra o atual horário da Biblioteca Pública e indicará um outro mais consoante às necessidades dos famintos de idéias". Nota-se, no entanto, um engano dos amassadores ao invo­carem o artigo 3 1. E is o teor do referido documento:

Forno da Padaria Espiritual, no dia de Zeuxis, 8 de junho de 1 892 ·

Cidadão Governador A mocidade estudiosa do Ceará, representada pela Padaria Espiritual,

vem, de conformidade com o artigo XXX I de seu programa, reclamar contra o atual horário da Biblioteca Pública, que está aberta justamente à hora em que toda a gente que trabalha está empregada em suas ocupações.

A Padaria Espiritual entende que a Biblioteca Pública deveria abrir-se às 7 horas da manhã, fechar-se às 1 O; abrir-se novamente às 6 horas da noite e fe­char-se às 9.6

·

supra. A Padaria Espiritual espera que tomareis em consideração a reclamação

Amor e Trabalho Wenceslao Tupiniquim Moacyr Jurema, 1? Forneiro Lúcio Jaguar, 2<? Forneiro F rival i no Cata vento Alcino Bandolim Tullio Guanabara Polycarpo Estouro Corregia dei Sarto Anato I i o Gerval Paulo Kandalaskaia José Marbri Lucas Bizarro Marco Agrata Satyro Alegrete Miguel Lynce Sarasat Mirim Fé I ix Guanabarino

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A petição supra não rendeu os resultado � esperados pois que Juvenal Galeno, então diretor da Biblioteca, era contráno à determinação desse novo horário por julgá-lo inoperante.

No aniversário de Francisco Dias da Rocha, mais tarde cientista e orga. nizador do Museu Rocha, ao

. completar seus vinte

_e trêj anos de idade, isso a

23 de agosto de 1 892, era asstm saudado pelos pade1ros:

usendo hoje, ó Dias, o dia em que viste a luz do dia, prá ficar contigo em dia te saúda a Padaria'�

A 1 O de julho é lançado o O Pão, a #eucaristia daquelas almas cheias de fé e de amor pela A rte'', no dizer de Sariano de Albuquerque. O padeiro Silvino Batalha (José de Moura Cavalcante ) festejava seu aniversário natalício na terça-feira de 1 3 de setembro e seu colega, o paraibano Satyro Alegrete, assim o cumprimentava:

uHip! Hip! A vança, avança que hoje a champanha estoura . . . Venha de lá um abraco

,

amigo José de Moura ".

Quando a Padaria Espiritual completava seu primeiro aniversário de criação, realizaram os padeiros uma festa no Café Central, todo enfeitado e

iluminado. Bebidas, música, piadas, poesias, dentre elas os versos de Satyro Alegrete, em dezessete quadras, comentando o acontecimento social e cultu· ral e que assim terminavam:

uDevemos mais uma vez fazer um protesto forte: -votar a todo burguês o nosso ódio de morte!''

O Primeiro Forneiro, o nosso Antônio Safes, desta maneira espirituosa, pelas colunas dos jornais da época, lembrava essa data magna 30 de maio,

mui to significativa para todos os padeiros: nA manhã, 30 do corren te mês de maio, mês célebre pelas flores e pelas

novenas, festeja o seu primeiro ano de vida a Padaria Espiritual. Os Padeiros preparam uma festa torreifelesca para comemorarB este ex·

traordinário acontecimento. Segundo se diz, desde a Jacarecanga às salinas do Cocó a festa do primeiro aniversário da Padaria será a mais arrojada de que esta terra de Iracema e de João Barbado já teve notícia.

Duran te o dia de amanhã estará aberto e exposto à bisbilhotice da bur·

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Capa do Programa de Instalação da Padaria Espiritual. Este exemplar forsenvildo pelai padeiro• ao "distinto poeta O/avo Bilac". A tua/mente pertence I bibliottJCI de J01l Bonif�clo Clmara.

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guesia curiosa, o Forno que se conservará risonhamente embandeirado e ga­lhardamen te ornamentado de flores naturais.

A noite, todos os padeiros de flor na lapela, e colarinhos nitidamen te engomados, iraõ ao Café Central cumpriméntar o Manoel Coco e tomar uma polegada de aluá no garrido e poético pavilhão da Padaria Espiritual.

Lá en taõ, sairá cinza . . . Todos os padeiros que certamente estarão de um bom humor incompa­

rável, de uma verve única desenvolverão e oferecerão aos curiosos todo o ca­nhenho de pilhérias e anedotas que cada um conseguiu organizar durante o ano.

Depois haverá uma sessão literária na qual os padeiros Moacyr Jurema, Satyro Alegrete e Polycarpo Estouro farão leitura de algumas de suas últimas produções inéditas.

Em seguida o Paulo Kandalaskaia9 numa alocução muda dará as expli­cações porque o Professor Sobreira quer deixar de ser educador para ser tele­grafista. O Frivolino Catavento demonstrará brilhantemente, falando pelos olhos, que o eclipse de 16 de abril não teve nenhuma relação com o movimen­to revolucionário do Rio Grande do Sul.

Durante a sessão literária o Corregia de/ Sarto pintará no punho da ca­misa o retrato de todos os ignaros que lá não se fizerem representar para co­mer com a testa e beber com os olhos, e o Sarasat Mirim com o Alcino Bando­lim darão uondias " de harmonias nos seus amestrados violinos.

Nota: Haverá música, foguetes, embandeiramento, iluminação à giorno, fogos de artifício e traques.

t convidada toda a sociedade cearense para assistir a esta festa que há de ser a maior que já houve no Ceará".

Por essa época, as reuniões comuns já se faziam em outro local, na rua Formosa n. 1 1. Nesse ano, 1 3 de junho, reuniram-se todos os amassadores no Café Central sob a batuta de Satyro Alegrete, a fim de comemorarem os vin­te e cinco anos de idade do primeiro-torneira:

"E a Padaria Espiritual pede às filhas de Iracema para virem ao Central saudar o Moacyr Jurema'�

De certa feita, Lopes Filho convidara os colegas para uma feijoada em Mondubim, casa de seus familiares. Os padeiros chegaram à estação de ferro de Fortaleza empunhando um gigantesco pão de três metros de comprimento por um palmo de largur�, todos vestidos com ternos de flanela riscada, por­tando cartola e monóculo, ao som do violino de Carlos Vt'ctor. ulmagine-se o escândalo que causou na estação esse cortejo e mais ainda em Mondubim, onde toda a população veio para a rua a ver-nos passar", relembra Antônio Sales.

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Essa primeira fase Moacyr Jurema sumariou em seu opúsculo Ret, • •

peCtO, em uboa prosa transparente e VIVaZ que Se Ingere como se fosse UI.

copo de refresco dos mais capitosos'', no dizer de Clóvis Beviláqua.

SEGUNDA FASE: (28 de setembrf0de 1894 a 20 de dezembro de 1898)

a) Padeiro-mar: BRUNO JACY (28 set 1894 - 19 jul 1896)

Pelas colunas dos jornais o Primeiro-forneiro Moacyr Jurema, o nossc Antônio Sales, convocava os padeiros para uma reunião às sete horas da noite

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de 28 de setembro com o fito de admitir novos sócios. Eis o edital: "Sexta· -feira próxima, na casa número 10, à Praça dos Voluntários, devem compare­cer, às sete horas da noite, todos os Padeiros residentes nesta capital e bem assim os cidadãos que forem distinguidos com um convite para preencher os claros abertos na falange da Padaria pela força das circunstâncias.

Por essa ocasião Moacyr Jurema, que até hoje tem exercido as funções de Padeiro-mor, ninguém sabe por que, lerá um relatório sobre o movimento intelectual da Padaria a contar da sua fundação. (Previne-se que este relatório será redigido em estilo ameno, intercalado de versos e anedotas. Não se assus· tem, pois). 1 1

Também será apresentado um plano de reforma da Padaria segundo os novos moldes, contendo idéias em primeira mão.

Terminará a reunião por uma confabulação sobre ocultismo e café, se o dono da casa estiver pelos autos. 25 de setembro de 1894'�

Assim, na noite de 28 de setembro a Padaria Espiritual se reorganizava e

novos padeiros eram admitidos. No aniversário de Moacyr Jurema, aos 13 de junho de 1895, Marcos

Serrano ou Rodolfo Teófilo desta maneira o saudava nestas sextilhas:

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"Desculpa não trazer flores pra saudar teus dissabores fazendo mais um janeiro; é praxe, mas de mau gosto, penso assim, de tal desgosto fazer-se um dia festeiro.

Cá por casa, neste dia, bebo mui boa água fria,

de cinza cubro a cabeça, mas não digo que isso faças, tamb�m não tomes por graças, estranho embora pareça .

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Oficio assinado por dezessete padeiros e encaminhado após a fundação da Padaria Espiritual.

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ao Cel. Bezerril nove dias

Fazer anos! Só de vário, um pedaço de sudário saudar -só muita loucura! Embora me chamem tolo, só cabeça sem miolo festeja essa desventura.

Mas enfim pra andar na moda, pra não fazer uma poda completa de tais usanças, pelo Sabino te mando um abraço e mais um bando de afetuosas lembranças'�

Nesta fase assumiram as funções de padeiro-mar primeiramente José Carlos Júnior e depois Rodolfo Teófilo 1 2 em cujas residências se realizavam quase sempre as Fornadas.

Quando Juvenal Galeno completou cinqüenta e nove anos de idade, em 27 de setembro de 1 895, lhe foi entre ue o diploma de Padeiro-mar honorá-

sa festa a que compareceram amigos, admiradores, autoridades. Por uma fe­liz coincidência, comemorava-se também o primeiro ano de vida do Centro Li­terário. 1 4 Antônio Sales queria fazer uma surpresa ao homenageado e às de­zenove horas chegava à residência do autor de Lendas e Canções Populares, com um grupo de padeiros, e com os representantes da Academia Cearense, Justianiano de Serpa, do Instituto Histórico, João Perdigão e da Mina Literá­ria do Pará, Lufs Barreiros. A Banda de Música colocara-se à frente da casa e Valdemiro Cavalcante, em nome da Padaria, fez entrega ao aniversariante do diploma. A rua, as calçadas, as janelas, apinhadas de gente. Moacyr Jurema iniciou os brindes e Justiniano de Serpa falou do significado daquela festa. Foram I idos dois capftulos da Lira Cearense de Juvenal Galeno. Ao final, este agradecia entre lágrimas o diploma e as manifestações de carinho.

Quase dois meses decorridos, nova festa dessa vez na Vila Adelaide, a 24 de novembro de 1 895, data comemorativa do décimo quinto aniversário de casamento do padeiro Bruno Jacy com Maria Pamplona Fei jó. Os padei­ros, reunidos às oito horas da manhã na Praça do Ferreira, tomaram o bon­de para o Benfica. Cada um era responsável por determinado setor: ou alimen­tar ou musical ou I iterá rio ou coreográfico. A principal figura da Vi la, o anfi­trião José Carlos Júnior, simbolizava o dono das árvores; a comissão executi­va compunha-se de Melo Resende 1 5 e de Antônio Sales e os convivas, as fa­m(lias e os convidados dos padeiros. Ao chegarem ao local, cantaram o Hino da Padaria criado há um mês apenas. Após o Torneio Literário, o almoço. Ao meio-dia, queima de I indos fogos de artifício. Danças às quatorze horas, dis­tribuição de confeitas às quinze. E, ao anoitecer, partida de cotillon, orienta-

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da por Melo Resende. Após o soarê musical, o canto do Hino dava por encer. rado tão belo congraçamento cultural.

Finalmente, num dos aniversários de Ulisses Bezerra, o Frivolino Cata-ente 0 de 6 de dezembro de 1895, seus amigos padeiros oferecera m-�he um

reproduzido: , . . Hors d'oeuvre - Maionese de lagosta a Ul1sses, o angél1co

Poisson - Pescado nuevo a Justiniano de Serpa

Entrée- Galinha à italiana à Diário do Ceará

Rosbife à Artur Teófilo

Dessert - Creme à redação de O Pão

Pudim a Antônio Sales

Vinhos- Colares, Vermute, Porto, Chartreuse.

Café e Chá.

b) Padeiro-mor:MARCOS SERRANO (19 jul 1896-20 dez 1898)

A partir de 19 de julho de 1896 o padeiro Marcos Serrano passou a co­mandar os destinos da Padaria. As reuniões, com início às dezenove horas, se faziam ordinariamente em sua casa do Benfica, todas as sextas-feiras. Ele era a alma da sociedade e Raimundinha, sua esposa, a incentivadora e primeira dama da Padaria. Período de grande produtividade, com o aparecimento de Os Brilhantes, Maria Rita, Vagas, Dolentes, Marinhas e Perfis Sertanejos. lni· c ia da a Fornada, cada amassador I ia o que durante a semana produzira, sub­metendo-se à crítica dos companheiros. A correspondência - cartas, jornais, livros - era colocada em dia, a Ata da sessão anterior aprovada. Finalmente, servido o chá, começava a seção de humorismos, destacando-se naquele mo· menta o padeiro André Carnaúba, com suas chistosas anedotas. Lá para as vinte e três horas, todos se despediam do casal anfitrião, não podendo a for­nada se esticar um pouco mais porque Antônio Bezerra ntinha de ir para o Barro Vermelho e dizia estar a sua burrinha comendo areia no Alagadi· ço'� 16

Rodolfo Teófilo confessava dei i ciosas aquelas noitadas de cultura e de bom humor, ''cuja lembrança conservo na velhice como talvez os melhores momentos que passei na vida'� 17

Os números das sessões se iam reduzindo e em 1897 apenas cinco vezes

os padeiros se concentraram. Antônio Sales, o Moacyr Jurema, já se transferi·

· ra para o Rio. Perdera com isso a Padaria seu principal incentivador. Uma d�s Fornadas, a de 29 de setembro, comemorativa do segundo aniversário de fale­

cimento de Lívio Barreto, ainda conseguira atrair um regular número de pa· deiros, de senhoras, de deputados, de funcionários estaduais. Tratava-se � lançamento de Dolentes, pela Tipografia Universal, livro póstumo de Lucas.

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zarro. Leram seus trabalhos José Carvalho Rodolfo Teófilo, Sabino Batista ,

e sua mulher, a poetisa Ana Nogueira.

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Sete membros da Padaria Espiritual ( 1892). Sentados, da esquerda para direita, Manoel Sabino Batista (SATYRO ALEGRE·

TE), AnttJnio Ssles (MOACYR· JUREMA) e Carlos Vftor Ferreira Lopes (ALCINO BANDOLIM). Em pi, no mesmo sentido Alvaro Dias Martins (POL YCARPO ESTOIJ­R_D), Raimundo Teófilo de Moura Fem:ira (JOSÉ MARBR/), José Maria � 'Jssio Br�· gido (MOGAR JANDIRA) e Adolfo Ferreira Caminha (FEL/X GUANAfJARINO. (Do srquivo do scsdlmico Slnzio de Azevedo).

Finalmente, o ano de 1898 foi o canto de cisne da Padaria. Apenas três sessões, todas no Alto da Bonança: uma, na ter·ça de 26 de abril, outra no sá­bado de 27 de agosto 18 e a última, na terça de 20 de dezembro.

A Padaria Espiritual estava cerrando as suas portas. Paulo Kandalaskaia, assassinado em 1894, Lucas Bizarro falecido a 29 de setembro de 1895, Bru­no Jacy desaparecido a 29 de maio de 1896, Benjamin Cajuhy enterrado no Rio a 6 de dezembro de 1897, Bento Pesqueiro partindo a 30 de abril de 1895. Polycarpo Estouro, Túlio Guanabara, desinteressado pela Padaria e outros se tinham bandeado para o Centro Literário. E o Rio arregimentava Moa-cyr Jure ma em 3 1 de dezembro de 1896, Fé I ix Guanabarino em fins de 1892, Abdhul Assur19 em 1895 e já em 190 1 colaborador da revista simbolista Rosa Cruz, Lúcio Jaguar também pouco se importando pelos destinos da Pa­daria, dela exclul'do e depois reinclut'do e em 189 1 participante da roda dos sim boi istas encabeçada por Cruz e Sousa, Braz Tubiba em 1894, Mogar Jandira e Gil Navarra em 1896. Mais alguns como Cariry Braúna, Alcino San­doi im, André Carnaúba, Lopo de Mendoza e Paulo Giordano andavam curtin­do outras terras.

Assim, a data de 20 de dezembro de 1898 assinalaria o fim da Padaria. O padeiro-mar Marcos Serrano, o primeiro-forneiro Ivan d'Azhoff e mais Lopo de Mendoza, Aurélio Sanhaçu e Satyro Alegrete lançavam a última pá de cal naquela corporação que marcou um momento I frico dentro do cená­rio literário cearense e nacional. Era uma terca-feira e a casa de Rodolfo Teó-

filo recebia apenas aqueles quatro padeiros. Presentes ainda à derradeira ses-são Justiniano de Serpa, Castro Pinto, Farias Brito, Alcides Bahia, Aderson Ferro, Monsenhor Xisto Albano e algumas senhoras. Tais informes, colhidos das colunas de A República divergem dos publicados por Leonardo Mota em seu artigo A Última Fornada da Padaria Espiritual em A Rua de 20 de dezem­bro de 1934, onde assegura a presença de sete e não cinco padeiros, excluindo o aracatiense Aurélio Sanhaçu mas incluindo na mesma relação Flávio Boy­-cininga, Anatólia Gerval e Frivolino Catavento.

Antônio Sales, em Retratos e Lembranças, confirma o mesmo número de padeiros assinalado em A República, num total de cinco, mas com peque­nas modificações. O certo é que Marcos Serrano, padeiro-mar, Ivan d'Azhoff, primeiro-forneiro e Satyro Alegrete estavam presentes à última sessão da Padaria.

O nosso poeta de Paracuru ao receber, no Rio, a triste notícia do encer­ramento de sua grande aventura, deve ter rememorado com saudade aquelas reuniões primeiras de um grupo de rapazes, do qual era ele o expoente maior, sentados ao redor de uma mesa, sob a mongubeira do Café Java.20 Ao anoi­tecer, entre um gole de aluá e uma partida de dominó, teciam comentários so­bre livros e ·revistas, mostravam versos, discutiam literatura, contavam anedo­tas picantes. Vêm-lhe à lembrança Anatólia Gerval,21 Frivolino Catavento,22

Satyro Alegrete, Polycarpo Estouro e Lúcio Jaguar, todos com seus vinte e poucos anos de idade, fora um rapazelho de seus dezoito anos, o Túlio Guana-

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bara. Desejavam fundar um grêmio ou coisa parecida . E a Padaria surgiu, ori· ginal puJ·ante, gozado r a, buliçosa.

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Antônio Sales se recordava as orna as, a pnnc1 p1o em sedes pró-prias e depois, por falta de pagamento, nas resi�ênci

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mesmo ideal. Noitadas encantadoras, festas de 1ntel1genc1a, onde se discutia ·de tudo, literatura, música, pintura, num ambiente descontraído e que termi· navam sempre com chá, biscoitos e doces . . .

Dos seis companheiros que o incentivaram a criar algo novo e diferente . ,

capaz de sacudir a modorra intelectual que pa1rava sobre a Fortaleza daquela época de 1 892, somente um participaria da última Fornada, o Satyro Alegrete.

NÓTULAS

1 o Diário, jornal. Redator-principal: Adolfo Caminha; Redator-proprietário: Raimun·. do de Oliveira e Silva. Redação: rua Formosa n. 88. Folha da Tarde, durou de 16de maio de 1892 até 4 de agosto do mesmo ano. s·omente cinqüenta e nove números.

2 Fortalezense de 1854. Faleceu aos setenta e cinco anos de idade. Humilde burocrata estadual. Fundador do I nsti cu to do Ceará. Historiador, pesqu izador, colecionador.

3 O Forno mereceria de Lívio Barreto a seguinte quadra: "Pois creia que até Jesus, de tédio cansado e morno, às vezes desce da cruz e vai flanar pelo Forno"

4 Pelos idos de 1948 o prédio onde funcionava o Forno ainda existia e ficava localizado na rua Barão do Rio Branco, 1001, aos fundos do Cinema São Luís, o segundo depois da Casa Parente. Pertencia o referido imóvel à firma Bruno e Irmãos.

5 "Queixavam-se os vizinhos do berreiro infernal que faz íamos, parava gente à porta da casa (um tremendo rez-de-chaussée, que fora armazém de exportação), chamavam-nos doidos, idiotas, vagabundos f" - A Padaria Espiritual - Cartas Literárias, fevereiro de 1895 - Adolfo Caminha.

6 A Biblioteca Pública abria às dez horas e encerrava seu expediente às quinze horas. 7 Data da fundação do Museu Rocha: 1887 8 Torreifelesca, neologismo criado por Antônio Sales, um adjetivo com a significação

de suntuoso, grande, imenso, Torre-Eiffel era uma grande loja com vendas de camisas, chapéus, calçados, bordados, fitas, ligas, perfumarias, cintos, plumas, grinaldas, etc.

9 Exibia-se em maio de 1887, em Fortaleza, o Grande Circo Chileno da Fam(lia Palá· •

cios. E no domingo de 15 de maio desse ano, pelo Libertador, saía a seguinte nota: "Joaquim Vitoriano. � o nome do desordeiro que ontem no Circo quis perturbar o sossego das fam (I ias cearenses. E: preciso que o Sr. Delegaâo tome providências muito ·

certas em sentido de fazer retirar dos espetáculos gente da ordem de Joaquim Vitori· ano, este empregado ralé que não respeitando a Sociedade diz no Circo palavras imo­rais que em tempo levarei ao conhecimento do Sr. Dr. Chefe de Polícia. (ass.) Um

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Chefe de Fam (lia". Joaquim Vitoriano seria, mais tarde, o Paulo Kandalaskaia da Padaria Espiritual.

10 O pseudônimo Bruno Jacy não foi criado exclusivamente para a Padaria Espiritual. Pois, bem antes, já em maio de 1887 era assim que josé Carlos Júnior assinava suas co· laborações no Libertador.

11 Esse Relatório é, nada mais, que o Retrospecto de quinze páginas, contando as peri­pécias da Padaria do seu nascimento até sua primeira e única reorganização.

12 E m seu livro Cenas e Tipos, crônicas pub.licadas em 1919, no cap(tulo Moedeiras Fal­

sos, Rodolfo Teófilo registra os dias gloriosos da Padaria, dissecando cada um de seus padeiros.

13 Vejamos o seguinte anúncio da Gazeta da Tarde de 1887: "Luís Sá. Desenhista, avisa a seus d isc fpu los e àqueles que pretenderem sê-lo, que mudou seu atei ier para a rua 24 de maio, sobrado, onde continua a lecionar, a hora do costume". Nascido em For­taleza a 9 de janeiro de 1845 casou-se com Francisca Curvelo Sá. Uma lesão cardíaca levou-o deste mundo a 23 de dezembro de 1898, deixando na orfandade seis filhos.

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Desenhista da Estrada de Ferro de Baturité. Professor de Cal i grafia e de Desenho da Escola Normal. Cenógrafo. Autodidata, nunca freqüentou escola ou curso de arte. Modesto, pobre, pouco aparecia. Seus desenhos alegóricos pintados pelas paredes do Forno mereceram o elogio de Pardal Mallet.

14 O Centro Literário, criado um dia antes da data da reestruturação da Padaria Espiri­tual, a 27 de setembro de 1894, na redação de O Comércio, por força de dois padei­ros dissidentes, Álvaro Martins (o Polycarpo Estouro) e Temístocles Machado (o Tú­lio Guanabara) não era, necessariamente, inimiga da Padaria. O Pão chegou a divulgar em suas colunas não representar a Padaria um partido literário nem propriedade de um só e determinado indivíduo, percebendo-se aí nas entrelinhas uma referência sutil a Antônio Sales. Negava, igualmente, divergência moral com sua congênere o Centro Literário. Padeiros e Centristas andavam lado a lado em todos os movimentos cultu­rais e dois meses antes de Moacyr Jurema embarcar com destino ao Rio, a 16 de outu­bro de 1896, ele juntamente com seus colegas padeiros Marcos Serrano e Frivolino Catavento e mais os centristas Barão de Studart e Pedro Moniz promoviam, irmana­dos, uma bela sessão solene em memória do Maestro Carlos Gomes. Jamais Antônio Sales freqüentou o Centro Literário, garante-nos Soares Bulcão; mas na certa não lhe guardava rancor. Tanto que ao ser entrevistado em junho de 1923 num Inquérito Li­terário promovido pelo O Nordeste, recordava sem mágoas: "Foi entre novos, repito, que ocorreu o dissídio: dois filhos prófugos da Padaria se juntaram com outros ele­mentos estranhos ao nosso grupo e formaram outra associação que tomou o nome de Centro Literário, e trabalhou bastante pelas nossas letras, embora sem ter alcançado a notoriedade da Padaria Espiritual, cujo nome se tornou conhecido e querido em todo o país e até no estrangeiro''. O Centro Literário tinha seu órgão de comunicação a revista quinzenal Iracema, surgi­da no dia 2 de abril de 1895, coincidentemente no mesmo dia, mês e ano do lança­mento de Trovas do Norte. Essa revista, em seu segundo número de 1<? de julho regis­trava o aparecimento e agradecia a oferta de um exemplar de Trovas do Norte envia­do pelo próprio autor. Da redação de O Comércio passou a sede do Centro Literário a funcionar, por longa data, no sobrado esquina das ruas São Paulo com Senador Pompeu, onde se localizava a Mercearia Camocim (baixos) e se inaugurou a Faculdade de Farmácia e Odontologia

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(altos), pr,dio de propriedade da Senhora T(lia Amorim da Silva, sogra do Dr. Leon-

ti no Chaves. . . .

Centro Literário e Padaria Espiritual se nlo v1v1am trocando Juras de amor como dois enamorados, pelo menos se respeitavam ou se toleravam • . .

15 SimpUcio Coelho de Melo Resende, �dvogado, jor

.nalista, e homem de letras piauien-

Residiu em Paris por dez anos, pnvando da am1zade de Charles Maurras e de Léon se. . p r . . Daudet. fntimo da famrlia imperial, traduziu do r nc1pe D. Lu(s o ltvro Sous la croix du Sud. Sempre que podia, saltava aqui em Fortaleza para rever os amigos da Padaria, em especial Antônio Sales e Rodolfo Teófilo. Um ataque de angina do peito matou-o subitamente em sua residência à Praça dos Remédios, n. 21, aos cinqüenta e nove anos de idade, deixando esposa, a Judite, e quatro filhos. O Pão estampa colaborações suas.

16 Antônio Bezerra morava numa modesta casinha, à beira da estrada, entre árvores. Era ali 0 seu recanto, o seu retiro de São José de Muritipicu. Antônio Sales recordaria:

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"Lá 0 vi várias vezes, na sala que lhe servia de gabinete, forrada de toscos armários pe­sados de alfarrábios e rolos de documentos, dos quais ele extraía, com uma paciência de monge beneditino, os dados necessários aos seus trabalhos sobre a história do Ceará. Numa mesinha em frente à dele, uma de suas filhas, adestrada na arte de deci­frar as garatujas dos escribas, traçadas a tinta já evanescente em papel amarelado pelo tempo e cheio de vincos e rasgões, copiava as passagens indicadas por seu pai".

"Estive na sessão da Padaria em casa de Rodolfo, e ao relembrá-la, o coração engo1fo em ondas da mais I ímpida alegria.

Que bela prosa I Que bonito feixe de versos burilados com carinho I Mas-sobretudo -que divino peixe I Que camarões! Que docesl E que vinho!"

18 Sessão comemorativa do aparecimento da novela Violação de Rodolfo Teófilo. Leram trabalhos os padeiros Antônio de Castro, Artur TeAfi lo e o homenageado e anfitrião. Farias Brito e Ana Nogueira Batista assinaram o livru de presença.

19 Abdhul Assur, o José Cabral de Alencar, o Cabralzinho. Baturiteense, em 1895 segue para o Rio de Janeiro e lá se forma em Medicina. No nosso Museu Histórico e Antro· pológico encontra-se uma fotografia com os três irmãos Cabral : Jaime, redator da re· vista Fortaleza, Francisco, também jornalista e falecido na Amazônia e o nosso José. Chegou a ganhar uma quadrinha ao se formar, em 1901, pela Faculdade de Medicina do Rio:

''� pequenino e magrinho e literato profundo: o reino de Cabralzinho não é bem o deste mundo"

20 23 de junho de 1887, data da inauguração do Café Java. Seu primeiro proprietário, Manoel Pereira dos Santos, vulgo Mané Coco. No século atual, o Café Java andaria sob a direç§o de novo proprietário, Ov(dio Leopoldir.'"' ja Silva cuja morte, ocorrida às quatorze horas de 3 de fevereiro de 1921, taxada como suspeita- suicídio por en· venenamento - seria esclarecida definitivamente, face ao di agnóstico firmado pelo

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Este documento fotográfico, publicado na História Literária do Ceará, à página 58-A, obra de Mário Linhares e datada de 1948, retrata treze membros da PADARIA ESPIRITUAL do ano de 1892.

ldentifiqu§-mo-los, sempre da esquerda para direita. Sentados: o cratense José Carvalho (CARIRY BRAUNA)- o maranhense Almeida Braga (PAULO GIORDA NO)­o granjense Valdemiro Cavalcanti (IVAN D'AZHOFF) - o paracuruense Antônio Safes (MOACYR JUREMA) - o paraibano José Carlos da Costa Ribeiro Júnior (BRUNO JACY)- o fortalezense Roberto de Alencar (BENJAMIN CAJUHY}.

De pé: o granjense Artur Teófilo (LOPO DE M ENDOZA} - o paraibano Sabino Batista (SATYRO ALEGRETE} - o fortalezense José Nava (GIL NAVARRA) - o baiano Rodolfo Teófilo (MARCOS SERRANO}- o fortalezense João Lopes de Abreu, o Lopes Filho (ANATOLIO GERVAL)- o arneirozense Ulisses Bezerra (FRIVOLINO CATA VENTO) e o aracatiense Antônio de Castro Vida/ Barbosa (AURÉLIO SA· NHASSU) •

Apenas quatro destes Padeiros (Antônio Sales , Sabino Batista, Lopes Filho e ·

Ulisses Bezerra) eram de 1892. Os nove demais foram inclufdos quando da reestrutu· raçlo da Padaria Espiritual em 28 de setembro de 1894. Pergunta-se: como poderiam padeiros de 1894 aparecerem numa fotografia de 1892?

Dai julgarmos incorreta a data impressa ao pé da fotografia em referência.

médico da fam(lia, Dr. Otdvio Lobo: hemorragia cerebral. Fechado o estabeleci­

mento àquela data, só reabriria, reformado, no domingo de 6 de março, agora com

novo dono, Edilberto Silva, um dos filhos de Ovfdio.

21 "Alto, magrinho, retrafdo e amigo do silêncio, era um sensitivo que precisava ser tra­

tado com delicadeza para que se pudesse apreciar seu fino esp(rito e a sua imensa

bondade". Antônio Sales

22 "Ele esteve comigo na ruidosa aventura literária da Padaria Espiritual, e foi um dos

companheiros mais entusiastas e mais leais, deixando sempre aos outros o trabalho e a

glória de produzir". Antônio Sales.

23 " ... o Forno era um pretexto para a gente não ficar em casa embrutecendo. À noite,

ao acender o gás, lâ ramos trincando o cigarro, com uma página inédita no bolso, pa­

lestrar ao forno, discutir livremente Antônio Nobre, Os Simples, Verlaine e Zola" (A

Padaria Espiritual, Cartas Literárias, fevereiro de 1895 - Adolfo Caminha).

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li- O PÃO

Podemos dividir a vida deste órgão de divulgação em três fases:

PRIMEIRA FASE Ano I (de 10 de julho de 1892 a 24 de dezembro de 1892)

Publicação de seis exemplares. Rodado, inicialmente, na Ti pografia de O Operário e logo a seguir na Ti pografia de O Combate, rua Formosa n. 13 1, saía aos domingos pelo preço unitário de sessenta réis, mas logo no terceiro número subia de cotação para cem réis. Sem regularidade na distribuição, saíam a pé os próprios padeiros, de sua sede, sobraçando O Pão para vendê-lo pela Praça do Ferreira. De pois de algumas circuladas, faziam seu posto de co­mando no Café Java. O terceiro número, datado de 30 de outubro, foi um su­cesso pois já às dez horas da manhã se tinha esgotada sua edição de dois mil e quatrocentos e noventa e seis exemplares. Somente dois burgueses se recusa­ram a adquirir esse terceiro número: um, por analfabeto, outro mais preocu­pado com. suas irritantes hemorróidas . . .

Antônio Sales colaborou nesta fase com trovas, pensamentos, cronique­tas, com uma seção permanente intitulada Malacachetas, em número de seis, sob o pseudônimo de Moacyr Jurema e com nove Celebridades Contemporâ­neas, estas assinadas com um simples M.

As Malacachetas eram pequeninos cromos, sonetinhos heptassílabos, humorísticos, leves-, retratando episódios domésticos. O de número I, publi­cado no exemplar de estréia de O Pão, receberia acentuadas modificações nos dois quartetos quando estampado nas Trovas do Norte, embora respeitadas as rimas em o r e em ia. Vejamos o cror:no Interior:

''Há pela casa um torpor que adormenta e que enfastia; vem da cozinha um rumor de caçarola que chia.

Na sala uma moça esguia recorta papéis de cor, fazendo uma ninharia; dorme um caõ no corredor.

Na sua estreita gaiola canta alegremente um gola, na quenga tomando banho . . .

E em baixo um nédio gatinho olha para o passarinho como quem diz:- Se eu te apanho! . . . "

14 1

E, agora, as alterações assinaladas

das em Trovas do Norte:

��Na Sé bateu meio-dia,

que silêncio e que calor!

Invade tudo um torpor

que adormenta e que enfastia.

Faz seu croché a Maria, dorme um cão no corredor, vem da cozinha um rumor de caçarola que chia. "

nos dois quartetos e ass1·m d' IVUiga.

A conhecida e surrada figura da sogra seria retratada por Moacyr Jure­ma em Malacachetas V, de 1 3 de novembro de 1 892:

��saio pra ver a pequena, contente, flor na lapela; a tarde, serena e bela, inunda a amplidão serena.

Se eu naõ a encontrar, que penal Eis ali a casa dela; vejo um vulto na janela, parece que alguém me acena.

Mas a sorte malfadada minha esperança malogra e sinto· um frio na espinha

porque vejo, na sacada, a minha futura sogra, magra, terrível, sozinha!"

,

Nessa primeira fase O Pão não encimava nomes de padeiros responsa-

veis por sua direção ou gerência. Amor e Trabalho, o dístico que permane· •

ceria da primeira página de O Pão até seu último exemplar editado. Note-se entre o número 2 e 3 de O Pão uma defasagem de três meses

e treze dias. Andava Antônio Sales adoentado e se mandara para Pirapora,

hospedando-se em casa do Dr. José Moreira da Rocha, o Rochinha, na época

juiz de direito de Maranguape. Daí a referida folha ter deixado de circular

nos meses de agosto e setembro de 1 892. E esta ausência bastou para que a

seção Revistinha de O Diário comentasse com certa ironia: ''O Pão . Boto� O · d f · , · N houve mais nar1z e ora, esp1rrou com ru1do e .. . passe mu1to bem, nao

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Antigs sede do Centro Literário (dias atuais). (Do arquivo de NirezJ.

quem a visse. Poder-se-ia chamar o pão das moças, tão querido era das gentis iracemas. Ainda agora muita boquinha rósea suspira pelas Malacachetas, pe­las Bolach inhas e pelas anedotas. Ingratos, os redatores de O Pão ! "

SEGUNDA FASE Ano I/ (de 1CJ de janeiro de 1895 a 15de dezembro de 1895) •

Com publi_cação de vinte e quatro exemplares. Em nova e melhor apre­sentação, passou a trazer os nomes de Antônio Sales na direção e de Sabino Batista na gerência. O número avulso, cobrado a 500 réis, a correspondência encaminhada para a rua Major Facundo n. 4 e a sua distribuição, agora regu­lar, quinzenal, no primeiro e décimo quinto dia de cada mês.

Essa Segunda Fase de O Pão seria uma resposta à reorganização da Pa-•

daria Espiritual, marcada para 28 de setembro de 1894, agora com José Carlos Júnior, o Bruno Jacy, como presidente ou padeiro-mar continuando Antônio Sales seu primeiro-forneiro.

A chegada inesperada de Raimundo Correia a Fortaleza - e por aqui permaneceria durante vinte dias - incentivando os padeiros e comparecendo às suas Fornadas, a instalação da Academia Cearense e a fundação do Centro Literário, três acontecimentos praticamente surgidos todos ao mesmo tempo, como que forçaram o reaparecimento de O Pão, desaparecido n.os anos de 1893 e 1894.

Antônio Sales lançava com um simples Moacyras suas Medalhas, doze sonetos que focalizavam as principais figuras literárias do momento ; com um Moacyr Jurema, quase todas as crônicas Os Quinze Dias ; com um A. S. seu Álbum de Estudos ; com um M. J. a Bibliografia e com o próprio nome algumas produções poéticas mais tarde enfeixadas em seu I ivro Poesias. Nenhuma cola­boração do nosso poeta vamos encontrar nos números 16 e 1 7, ambos de maio, pois nesse período ele se encontrava em lngá com Valdemiro Cavalcan­te e Sabino Batista, curando-se de sua companheira inseparável : a dispepsia.

O Pão, nessa Segunda Fase, registrava : - o falecimento de Pardal Mallet, em novembro de 1894, padeiro-cor­

respondente no Rio de Janeiro e que andara por aqui visitando os a migos pa­deiros quando de volta do ex ílio, isso em inícios de setembro de 1892. No Livro de Ouro da sociedade ele deixaria consignado : #Crescido na solidarie-dade de um grupo que conta em seu seio Paula Nei, Artur e Alulsio Azevedo, O/avo Bilac, Lu(s Murat, Coelho Neto e outros, crescido num grupo que fez da amizade a sua melhor força, eu sinto uma verdadeira alegria em ver na Pa­daria Espiritual a mesma idéia de união arregimentando a moderna falange cearense. � nesta solidariedade que está o segredo das futuras e garantidas vitórias que a todos hão de definitivamente consagrar no mundo art(stico brasileiro. Nunca o esqueçam, pois";

- a oferta do romance Um Invejado, de Afonso Celso, com dedicatória à Padaria Espiritual : uNaõ tenho a fortuna de conhecer pessoalmente um só dos moços, que compõem este grêmio literário. Dedico-lhes, en tretanto, o presen te estudo, em sinal assim de reconhecimen to pelas muitas provas de

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imerecida consideração com que me têm disting�ido, como do sincero apreço que tributo aos inteligentes es�o�ços por eles fe1tos em prol das letras pátrias, inspirados na bela e fecunda d1v1sa que ado taram: Amor e Trabalho. Alto d Serra, Petrópolis, 14 de seteínbro de 1894";

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_ 0 recebimento dos I ivros Cartas da Europa, de Campos Sales, De cre­pitude Metroman t'aca, do Padre Correia de Almeida, Frases e Fantasias, de Clóvis Beviláqua - Recife, Gr egório de Matos e José Alencar, dois estudos de Araripe Júnior. Vale a pena transcrever aqui uma das cartas deste último es­critor e ndereçada a Antônio Sales, quer pelo conteúdo de informações nela refertas, quer pela maneira despreocupada e buliçosa da pena de seu autor : uMoacyr Jurema. De posse do seu Retrospecto e da carta em que se dignou comunicar-me que a Padaria Espiritual escolhera-me para sócio correspon­dente nesta capital, agradeyo a remessa do opúsculo e as referências honrosas ao meu humilde nome no mesmo inclu ídas, e aceito a indicação daquela sociedade literária e aqui estou para servi-la. Vejo com grande prazer que os padeiros não dormem: o sinal é precursor de uma renovaçaõ mental na terra de Iracema. Peço, pois, que me contemplem entre os seus apreciadores e que naõ desanimem. O futuro é dos que trabalham . . . Fm que pé vai a biografia do Verdeixa? E o Cancioneiro Cearense? � preciso que não abandonem a idéia. Por este vapor a casa Fauchon e Cia. remete à Padaria os dois livros que pu­bliquei ultimamente: Gregório de Matos e Perfil de José de Alencar. O primei­ro pode ser lido com vantagem por algum padeiro dado à viola, ao domingo, debaixo dos coqueirais de Mucuripe ou à sombra de algum cajueiro frondoso de Mecejana. Escrevi esse livro pensando num leitor sertanejo, um leitor ideal, de ceroula e camisa, que tivesse a pachorra de ir folheá-lo, deitado numa rede, a balouçar-se soprado pelos ventos da praia. Do patrlcio e amigo afetuoso Araripe Júnior";

- o ingresso, como sócio correspondente da Padaria Espiritual, dos lite· ratos Padre Correia de Almeida, Augusto de Lima, Coelho Neto, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Araripe Júnior, Garcia Redondo e Melo Resende ;

- um soneto de Moacyr Jurema inspirando-se no Adeus de Sidne y, exe· cutado ao piano na casa de um padeiro ;

- as quatro sextilhas do padeiro Marcos Serrano, louvando o anive rsário natalício de Antônio Sales que completava vinte e sete anos de idade ;

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- a cr ítica de Antônio Sales, ou melhor de M. J. , onde confessava nao ter apreciado muito os Pescadores da Ta íba, de Álvaro Martins, numa das Edições do Centro Literário, poema impresso por Cunha e Ferro Cia. ;

- o falecimento de Augusto Xavier de Castro, em 30 de abril, às de zes· seis horas, numa modesta casa da rua da Praia n. 53 vitim.ado pela ruptura de um aneurisma da aorta, deixando viúva e três filhinhos na orfandade e que seria homenageado com uma Pol iantéia no próprio O Pão de n . 17 ;

- a informação de Raimundo Correia anunciando pelas Edições da Pa· daria Espiritual o que seria publicado ainda em 1895 pelos padeiros, falhando em algumas previsões tais Dilúculos e Contos de José Maria Br fgido, M inho· nes (fantasias) de Roberto de Alencar , Dona Guidinha do Poço de Oliveira

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Membros do CENTRO L ITERA RIO. - Na terceira fila, em p�, da esquerda para direita: Francisc o Xavier de Cast�o

Guimarães - Francisco de Alencar Matos - José Rodrigues de Carvalho - Antônio Fiúza de Pontes- Temfstocles Machado - PAdua Mamede.

- Na segunda fila, em �, no mesmo sentido : Joaquim Carneiro - João. Lope�

Ribeiro (militar) - Marcolino Fagundes (militar) - Soares Bulcão- Anlbal TeófilO (mi· litar) - Matos Guerra - Fernando Weyne- Antônio Ivo (militar) - Justiniano de Ser·

pa- Francisco Carneiro. - Sentados, ainda na mesma direç6o : Alvaro Martins - Joaquim Fabrfc!o ...:. A�

fredo Severo (militar) - AnttJnio Pipi Júnior - Guilherme Studart (ainda nso era 0

Barlo) - Pedro Moniz - Alcides Mendes - José L i no da Justa- Martinho Rodrigues ­

Nabor Drumond (militar).

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Paiva, o poemeto Ere mita de Lopes Filho e os estudos Mas . . . de Cabral de Alencar ;

- a festa co memorativa da entrega do diploma de Padeiro- mar honorá­rio a Juvenal Gale no, realizada em 27 de setembro ;

- o falecimento, e m Camocim, aos vinte e cinco anos de idade, de Lfvio · Barreto, ao sofrer congestão cerebral, no dia 29 de setembro ;

'

- a festa dos padeiros na Vila Adelaide, em 24 de novembro, proprieda­de do padeiro José Carlos Júnior.

Publicações fortalezenses como O Ceará Ilustrado, A República, Diário do Ceará, A Verdade ; o De mocrata e a Gazeta do Co mércio, ambos para íba­nos ; o Correio Mercantil, de Maceió ; o Diário de Pernambuco ; a República do Pará ; o País e a Gazeta de Nott'cias do Rio ; a Renascença da Bahia ; a Pacoti­lha e o Diário do Maranhão ; O Estado, do Rio Grande do Norte ; o Minas Ge­rais, todos acolheram com palavras de carinho o reaparecimento de O Pão. E Valenti m Magalhães, sempre na ânsia de ajudar os novos, transcrevia em A Semana as Medalhas e a tradução de O Luar no Oceano, de Leconte de Lisle, ainda do nosso Antônio Sales.

TERCEIRA FASE Ano III (de 15 agosto 1896 a 31 outubro 1896)

Co m publicação de seis números. O trigésimo pri meiro exemplar enci­mava os no mes de Antônio Sales - Diretor, Sabino Batista - Secretário e Artur Teófilo - Gerente. Mas no número seguinte, o 32, já o granjense Artur seria substitu (do na gerência pelo cratense José Carvalho.

Pelas colunas de O Pão nos deparamos com: - uma carta aberta de Antônio Sales endereçada a Garcia Redondo ; - o soneto de Antônio Sa les comemorativo do segundo aniversário de

seu casamento co m A I ice ; - o falecimento, aos trinta e seis anos de idade, do padeiro José Carlos

da Costa Ribeiro Júnior ; - a escolha, aos 19 de julho, de Rodolfo Teófilo para padeiro-mar em

substituição a José Carlos ; - os Esbocetos, pequenas crônicas retratando sete figuras I iterá rias. Antônio Sales co laborou, na última fase de O Pão, co m trabalhos poé­

ticos e co m duas crônicas focalizando, uma, o falecimento do padeiro Bruno Jacy, outra, o desaparecimento de Ed mond de Goncourt, assinando-se co m seu verdadeiro nome . A seção Os Quinze Dias e três Cartas de um Carioca, como Moacyr Jurema e sete Esbocetos co m um modesto M .

. E assi m a 3 1 de outubro de 1896, co m trinta e seis exe mplares publi ­cados, deixaria o O Pão de circular para sempre, conforme seu diretor upor não poder se man ter com as assinaturas e entendermos nós que não vale a

,, pena pagar para escrever . . . •

1 5 1

,

O PAO

ANO I

PRIMEIRA FASE ( 1 0 Ju lho 1 89 2 - 24 Dezembro 1892) Seis números

N? 1 ( 1 0 Jul 1 892) Pel o prado ( M ) Trovas ( M ) O Fr io ( q u int i l ha) ( M ) Malacachetas I (Moacyr Jurema) Confeitas I ( Moacyr)

N? 2 ( 1 7 Jul 1 892) Quadras ( M ) Confeitas l i (Moacyr) Malacachetas l i ( Moacyr Jurema)

N� 2 (30 Out 1 892) Mal acachetas I I I (Moacyr Jurema) Ce lebridades conte m po râneas ( M )

N� 3 (6 Nov 1 892) Quadras ( A ) Saco de ostras (ne le um pensamento de Moacyr Jure·

ma) Malacachetas I V ( Moacyr Jurema) Cúmulos ( M ) -

Ce lebridades contemporâneas I V V V I (M ) Carte ira (croniqueta) (S)

N? 4 ( 1 3 Nov 1 892) Trovas (S) Epigrama ( M ) Ce lebridades contemporâneas V I l V I I I I X (M) Malacachetas V ( Moacyr Jure ma)

N'? 5 (24 Dez 1 892) Quadras ( A ) Malacachetas V I ( Moacyr Jurema)

ANO 1 1

SEG UNDA FASE ( 1 Janei ro 1 895 - 1 5 Dezembro 1895) V inte e quatro nú meros

N'? 7 ( 1 Jan 1 895) Medalhas I Machado de Assis

1 52 •

l i Padre Correia de Almeida (Moacyr)

I I I A lu (si o Azevedo

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..

N� 8 ( 1 5 Jan 1895) Medal has I V Rai mundo Correia V Afonso Celsó (Moacyr)

V I Coel ho Neto

N� 9 ( 1 Fev 1895) Os Quinze dias (crônica ) (Moacyr Jure ma) Medalhas V 1 1 O lavo Bi lac

V I I I Artur Azevedo ( Moacyr) IX Va lenti m Maga lhães

Bibl iografia ( M .J . )

N� 10 ( 15 Fev 1895) Os Qu inze dias (crônica) ( Ivan e Moacyr) O luar no oceano (de Leconte de Lisle) tradução de

Antônio Sales ( 1 ) Medalhas X Ferreira de Araújo

XI Augusto de Lima ( Moacyr) X I I Garcia Redondo

Recados ( M )

N� 1 1 ( 1 Mar 1895) Os Qu inze dias (crônica ) ( Moacyr Jurema) Bibl iografia (M .J . ) Recados (crôn ica) ( M ) Recado de Antônio Sal es a Henrique Jorge

N� 12 ( 15 Mar 1895) Os Quinze dias (crônica ) (Moacyr Jurema) Ouvindo ao piano (soneto) ( Moacyr Jurema) "Um I nvejado" (cr ítica ao l ivro de Afonso Celso) ( M .J .)

N� 13 ( 1 Abr 1895) Os Quinze dias (crôn ica) ( Moacyr Jurema) Bibl iografia ( M .J . ) "Ca r ícias " (cr ítica ao I ivro de Garcia

Redondo) Recados ( M )

N� 14 ( 1 5 Abr 1895) Os Quinze dias (crônica) ( Moacyr Jurema) Recados ( M )

N� 15 ( 1 Mai 1 895) Recados (crônica) (A ) Arqu ivo (crôn ica ) (S.A.)

N� 16 ( 1 5 Mai 1895) nenhuma colaboração de Antônio Sales

N� 17 (30 Mai 1895) nenhuma colaboração de Antônio Sales

N� 18 ( 15 Jun 1 895) Os Quinze dias (crônica ) ( B e M ) Uma agressão ( crônica) (Antônio Sa les) Carta de Antônio Sales a Paulo Gi ordano ( Moacyr Ju­

rema) escrita na Fazenda Fonseca (Ouixadá )

- -

' . . -·

Recados ( M )

1 53

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N? 19 ( 1 Jul 1 895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jure ma) Silhueta (crônica) (Antônio Sales) � �os Pescadores da Taíba" (crítica ao poema de ÁI

Martins) ( M .J.) varo

N? 20 ( 1 5 Jul 1895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) História de uma larva (poema) (Antônio Sales) (2) Bibliografia ( M.J.) Recados ( M ) Transpondo a serra (crônica) (A.S.)

N? 2 1 ( 1 Ago 1895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Uma desconhecida ( versos) (Antônio Sales) (3) Bibliografia ( M.J.) "Mármores '' (crítica ao l ivro de

Francisca Júlia da Si I v a) Recados ( M )

N? 22 ( 1 5 Ago 1895) Os Quinze dias (crônica) ( I van e Moacyr) Álbum de estudos l i (No trem) (A.S.)

N? 23 ( 1 Set 1 895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Álbum de estudos I I I (No Mar) (A.S.)

N� 24 ( 1 5 Set 1 e95) Os Quinze dias (crônica) ( Moacyr Jurema) A galope ! (crônica) (Antônio Sales)

N� 25 ( 1 Out 1 895) •

Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jure ma) Bibliografia ( M .J.) Imprensa literária (A.S.)

N� 26 ( 1 5 Out 1895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Bibliografia ( M.J.)

N? 27 ( 1 Nov 1895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Recados ( M )

N? 28 ( 1 5 Nov 1 895) Os Quinze dias (crônica) ( Moacyr Jurema) Na Mata ( versos) (Antônio Sales) (4 ) Álbum de estudos I V (O Pai André) (A .S.)

N'? 29 ( 1 Dez 1 895) Os Quinze dias (crônica) ( Moacyr Jure�a! (SI

1 54

Álbum de estudos V (Do esboço de um romance (A.S.)

I

N� 30 ( 1 5 Dez 1895) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Carta aberta a Garcia Redondo (Antônio Sales) Tristezas das árvores (Rollinat ) (Antônio Sales) (6) Bibliografia (M.J.)

ANO I I I

TERCEIRA FASE ( 15 Agosto 1 896 - 3 1 Outubro 1 896) Seis números

N� 31 ( 1 5 Ago 1896) 1 6 de Julho (soneto) (Antônio Sales ) (7) José Carlos Júnior (crônica) (Antônio Sales) Bibliografia (M.J.) Recados ( M ) Ao redor da fogueira (A)

N� 32 (31 Ago 1896) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Edmond de Goncourt (crônica) (Antônio Sales) Em vilegiatura (poema) (Antônio Sales ) (8) Bibliografia ( M )

N� 33 ( 1 5 Set 1896) Carta de um carioca I (crônica) (Moacyr Jurema) Bibliografia (M.J.) O Palácio da lua (poemeto de Hélene Acaresco) tradu­ção de Antônio Sales (9)

N� 34 (30 Set 1896) Os Quinze dias (crônica) (A.S.) Carta de um carioca l i ( crôni ca) (Moacyr Jurema) Meio dia (soneto) (Antônio Sales) ( 1 O) Bibliografia (M.J.)

N� 35 ( 15 Out 1896) Os Quinze dias (crônica) (Moacyr Jurema) Carta de um carioca I I I ( crônica) ( Moacyr Jurema) Um dia em M . . . (crônica) (A.S.) A alma e a pena (Antônio Sales) ( 1 1 )

N� 36 (31 Out 1896) Esbocetos 1 Machado de Assis 2 Joaquim Nabuco 3 José Veríssimo

4 Rodolfo Bernardell i 5 Afonso Celso 6 Artur Azevedo 7 Alberto de Oliveira

A lua (poema) (Antônio Sales) ( 1 2 ) Bibliografia (M.J. )

(M)

155

NÓTULAS

( 1 ). em POESI AS.

( 2 ) e m POES I AS .

( 3 ) em POESI AS.

( 4 ) em POESI AS.

( 5 ) em POESI AS, com o t ítu lo modificado para Ode à nature�a. recitado pelo ...., ma festa d e campo na V i l a Adelaide em 23 de Novembro de 1 895.

( 6 ) em POESI AS, A tristeza das á rvores.

( 7 ) em POESI AS, 1 6 de Junho, data correta comemorativa do segundo 1n� casamento do autor.

( 8) em POESI AS.

( 9 ) em POESI AS.

( 1 0 ) em POESI AS.

( 1 1 ) em POES I AS, Alma e Pena.

( 1 2 ) em POESI AS.

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