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VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração” Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016 UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande) ISBN: 978-85-99540-21-3 A PAISAGEM DO CERRADO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL Ercília Mendes Ferreira Mestrado em Geografia/Campus de Aquidauana, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Email: [email protected] Cássia Julita Dresch Mestrado em Geografia/Campus de Aquidauana Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Email: [email protected] RESUMO O presente trabalho busca fazer uma análise espaço-temporal da evolução da paisagem a partir das contribuições obtidas na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal: Potencialidades e Fragilidades”, ofertada no Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e tem como objetivo geral avaliar a modificação da paisagem no contexto histórico em decorrência da ocupação econômica e social do Estado de Mato Grosso do Sul, Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica, de modo a caracterizar o Bioma Cerrado e a transformação que o mesmo atingiu dentro do território sul mato-grossense. Como resultado, a pesquisa atinge o objetivo de entender a relação socioeconômica que vive o estado ocasionando nesta modificação. Palavras-chave: Cerrado. Território. Paisagem ABSTRACT This study aims to make a spatiotemporal analysis of the evolution of the landscape from the contributions obtained in the course "Landscape Ecology in the Cerrado and Pantanal: Potentials and fragilities," offered in the Master's Program in Geography of the Federal University of Mato Grosso do Sul and has the general objective to evaluate the landscape change in historical context as a result of economic and social occupation of the State of Mato Grosso do Sul, for both a literature search was conducted in order to characterize the Cerrado and the transformation that it reached in the mato Grosso do Sul territory. As a result, the research achieves the objective of understanding the socio-economic relationship that lives the state causing this change. Key-words: Cerrado. Territory. Landscape

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Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016

UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)

ISBN: 978-85-99540-21-3

A PAISAGEM DO CERRADO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Ercília Mendes Ferreira

Mestrado em Geografia/Campus de Aquidauana,

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Email: [email protected]

Cássia Julita Dresch

Mestrado em Geografia/Campus de Aquidauana

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Email: [email protected]

RESUMO

O presente trabalho busca fazer uma análise espaço-temporal da evolução da paisagem a partir das

contribuições obtidas na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal: Potencialidades e

Fragilidades”, ofertada no Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do

Sul e tem como objetivo geral avaliar a modificação da paisagem no contexto histórico em decorrência da

ocupação econômica e social do Estado de Mato Grosso do Sul, Para tanto foi realizada uma pesquisa

bibliográfica, de modo a caracterizar o Bioma Cerrado e a transformação que o mesmo atingiu dentro do

território sul mato-grossense. Como resultado, a pesquisa atinge o objetivo de entender a relação

socioeconômica que vive o estado ocasionando nesta modificação.

Palavras-chave: Cerrado. Território. Paisagem

ABSTRACT

This study aims to make a spatiotemporal analysis of the evolution of the landscape from the contributions

obtained in the course "Landscape Ecology in the Cerrado and Pantanal: Potentials and fragilities," offered in

the Master's Program in Geography of the Federal University of Mato Grosso do Sul and has the general

objective to evaluate the landscape change in historical context as a result of economic and social occupation

of the State of Mato Grosso do Sul, for both a literature search was conducted in order to characterize the

Cerrado and the transformation that it reached in the mato Grosso do Sul territory. As a result, the research

achieves the objective of understanding the socio-economic relationship that lives the state causing this

change.

Key-words: Cerrado. Territory. Landscape

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Introdução

O homem ao se apropriar da natureza e modificá-la, cria ou produz o espaço geográfico,

onde está implícito tanto a dinâmica natural quanto a dinâmica social, pois o território é o resultado

das formações sociais que ali vivem e atuam, para tanto, considera-se o momento histórico, político

e econômico, “o espaço geográfico somente surge depois de o território ser usado, modificado ou

transformado pelas sociedades humanas, ou quando estas imprimem na paisagem as marcas de sua

atuação e organização social” (SANTOS, 2002, p. 29)

O Estado de Mato Grosso do Sul possui uma rica biodiversidade de fauna e flora, no

qual 61% da sua formação compreende o bioma Cerrado e, outras regiões como a área do Pantanal.

No avanço histórico e econômico do estado, vem sendo criado um novo mosaico que somado a

beleza natural destes ecossistemas uma nova paisagem se estrutura.

O presente trabalho busca fazer uma análise espaço-temporal da evolução da paisagem a

partir das contribuições obtidas na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal:

Potencialidades e Fragilidades”, ofertada no Programa de Mestrado em Geografia da Universidade

Federal de Mato Grosso do Sul e tem como objetivo geral o intuito de realizar um comparativo

sobre a modificação da paisagem no contexto histórico em decorrência do uso e ocupação do

território do Estado de Mato Grosso do Sul, assim compreendermos como se encontra o domínio

cerrado em nosso estado.

Metodologia

Esta pesquisa é caracterizada como descritiva e bibliográfica, pois realiza a busca de

fatos históricos no contexto político e econômico na formação do Estado de Mato Grosso do Sul

que influenciaram na modificação da paisagem. O instrumento de coleta de dados utilizado foi

através de pesquisa bibliográfica que serviu de base para descrever a evolução e desenvolvimento

ao longo do tempo de várias regiões do estado, assim contribuindo para construção teórica deste

trabalho.

A estrutura da pesquisa se inicia com a abordagem teórica que contempla a

caracterização geral do domínio Cerrado e sua localização em todo o território brasileiro,

utilizando-se de conceitos apresentados na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal:

Potencialidades e Fragilidades”, do Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal

de Mato Grosso do Sul.

Na sequência é realizada uma descrição sucinta da formação histórico-territorial do

Estado de Mato Grosso antes da divisão em dois Estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,

destacando os aspectos históricos, geográficos e econômicos, contextualizando a pesquisa em seu

universo de estudo.

Em seguida, são consideradas as modificações ocorridas na paisagem do Estado de

Mato Grosso do Sul, principalmente no Cerrado em decorrência das plantações de erva-mate, do

complexo sojeiro, sua mecanização, as plantações de cana-de-açúcar e o eucalipto. Finalizando com

a realidade da paisagem do Estado e os impactos ambientais decorrentes destas atividades.

Caracterização do Cerrado

O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de

2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de

Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí,

Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e

Amazonas (BRASIL, s.d.).

Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas

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da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado

potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade. Considerado o berço das águas no Brasil, devido

a geografia de planalto, o relevo, a geologia, a vegetação e 6 das 8 maiores bacias hidrográficas

brasileiras dependem do cerrado. 30% da biodiversidade brasileira, 1 em cada 4 vive no cerrado, o

que corresponde a 5% das espécies do planeta (BRASIL, s.d.).

Considerado como um dos hotspots mundiais de biodiversidade, o Cerrado apresenta

extrema abundância de espécies endêmicas e sofre uma excepcional perda de habitat. Do ponto de

vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do

mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande diversidade

de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias

(RIBEIRO; WATER, 2008).

Dentre os potenciais do cerrado destacamos: a vegetação, os recursos hídricos, a

biodiversidade, a agroecologia, a qualidade de vida, corredores ecológicos, as UCs, o SNUC. A

fragilidade consiste nas queimadas, os desmatamentos, as voçorocas, os assoreamentos, os

agrotóxicos, a desertificação e a extinção de inúmeras espécies de plantas e animais.

São encontrados aproximadamente, 12.000 espécies de plantas das quais 35% são das

áreas savanicas, 30% das florestas, 25% de áreas campestres, e 10% ainda precisa ser melhor

estudada quanto a sua distribuição original pois pode ocorrer em mais de um ambiente (EMBRAPA

Cerrados, 2013).

O clima dominante na região é o tropical quente subsumido, caracterizado por forte

estacionalidade das chuvas. Há duas estações bem definidas: uma seca de maio a setembro e outra

chuvosa de outubro a abril. A precipitação anual é de 1500 +_500mm. Períodos de seca de uma a

três semanas, os veranicos pode ocorrer durante a estação chuvosa, especialmente nos meses de

janeiro e fevereiro. A temperatura média anual apresenta amplitude de 21,3 a 27,2 graus Celsius

(EMBRAPA Cerrados, 2013).

Os solos são antigos, profundos, bem drenados, com baixa fertilidade material e acidez

elevada. Classificam-se em latossolos, concrecionais, podzólicos, litolicos, cambissolos, terras

rochas, areia quatzosas, lateritícos, hidronorficos e gleis.

A fisionomia da vegetação mais comum é a formação aberta de árvores e arbustos

baixos coexistindo com uma camada rasteira baixa, podendo ser descrita em termos gerais como,

savana extremamente de matas ciliares, no conjunto da paisagem são consideradas as mais comuns:

o campo Limpo, campo sujo, o cerrado, o cerradão e as matas de galeria. No geral, podem ser

descritos onze tipos fitofisionômicos gerias, nos quais apresentam subtipos: a) formações florestais

(Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão); b) Formações savânicas (Cerrado s.s.,

Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e c) Formações campestres (campo Sujo, Campo Rupestre

e Campo Limpo) (BRASIL, 2007)

De acordo a EMBRAPA (2012) a ocupação do Cerrado pelos agricultores inicialmente

deu-se em áreas de solos ácidos e com baixa fertilidade. Foram necessárias políticas públicas que

permitiram o desenvolvimento regional, assim como a geração de tecnologias modernas que

facilitaram um bom desempenho agropecuário e na produção agrícola. Assim, o Cerrado passou a

ser considerado o “Celeiro de grãos” e, chamado por algumas empresas como o “Celeiro do

mundo”, devido a sua importância dentro da economia nacional. As características físicas e

históricas do cerrado favoreceram a mecanização, a monocultura e a concentração de terras.

A ocupação assim como a construção de estradas transformou uma grande área de biota

natural em uma paisagem cada vez mais fragmentada “composta por ilhas inseridas numa matriz de

agroecossitemas” (BRASIL, 2007, p. 14).

Estado de Mato Grosso do Sul

Para compreendermos a transformação da paisagem do Estado de Mato Grosso do Sul,

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se faz necessário reportarmos ao antigo Estado de Mato Grosso, destacando sua ocupação já no

período republicano onde nota-se que entre as principais atividades econômicas que se

desenvolveram no então Estado do Mato Grosso, no início do século XX, estavam a produção de

borracha e a poaia na região norte do Estado, além da presença de usinas de açúcar em sua parte

central, enquanto na parte sul do Estado predominava a criação de gado e do cultivo da erva-mate

(Figura 1) (LOBATO, et. al, 2010, p. 11).

Com um recorte geográfico do período de 1870 a 1937, Silva (2011, p. 6), apresentou

um mapa onde demonstrou o início da exploração de ervais nativos na região do sul do Estado de

Mato Grosso (1870) até a aprovação da Constituição que proibiu o arrendamento de grandes áreas

em região de fronteira (Figura 2). Em sua pesquisa cita a origem das primeiras fazendas no sul do

Estado com criação de gado de corte, período este compreendido aos anos 30 do século XIX.

Figura 1: Mapa das principais atividades

econômicas no espaço Mato-grossense: Início

do Século XX.

Figura 2 – Sul do Estado de Mato Grosso –

Região de domínio da erva-mate (1870-1937)

Após a criação do Estado de Mato Grosso do Sul pela Lei Complementar nº. 31, de 11

de outubro de 1977, instalado a 1º de janeiro de 1979, no qual abrange uma extensão territorial de

350.549 Km2, o Cerrado já contava com a evolução das plantações de sojas em todo seu Bioma no

território brasileiro (Figura 3), assim o novo estado também encontra-se inserido nesta evolução.

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Figura 3 – Expansão da Soja – período de 1996 a 2006

Em decorrência de vários fatores, que vão desde as condições naturais à melhoria de

infraestrutura e logística a soja foi uma das culturas que mais progrediram no contexto nacional.

Porém, tem provocado grandes transformações na paisagem do território, principalmente no

domínio Cerrado.

Os impactos que surgiram com as plantações foram aumento de desmatamentos,

degradação do solo, erosões, assoreamentos de rios, eutrofização de rios, nível de cobertura e perda

gradual da fertilidade dos solos e, principalmente em decorrência da irrigação o agravamento da

disponibilidade de recursos hídricos.

Vale destacar que essas regiões “oferecem condições físicas para expansão deste tipo de

lavoura, tanto em áreas de cerrado ou transição cerrado-floresta, quanto em zonas de campo ou

ainda em terras desmatadas e áreas degradadas pela pecuária” (PASQUIS; VARGAS, 2009, p. 4).

Outra plantação que tem destaque no estado, pois recebe incentivos do Governo

Federal, é a cana-de-açúcar. Destacamos que esta produção traz benefícios para a balança comercial

do estado e do país (Figura 4), mas em contrapartida, gera também consequências como a

exploração de mão de obra, exploração ambiental, entre outros (DOMINGUES; TÓMAZ JUNIOR,

2012).

Figura 4 – Produção de Cana-de-açúcar no Estado de Mato Grosso do Sul período 2004/2011.

Este tipo de atividade dominado pelo capital agroindustrial canavieiro vem causando

diversas transformações no estado: econômicas, sociais, políticas, ambientais e espaciais,

contribuindo cada vez mais com a modificação da paisagem do domínio cerrado. Assim,

destacamos a região Centro-Sul do estado onde ocorre maior investimento do capital canavieiro,

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confirmado pelo crescimento do número de empresas agroindustriais. Vale ressaltar que a região

COREDES Grande Dourados, vários municípios líderes na plantação de soja já possuem de 03 a 02

unidades agroindustriais (Figura 5).

Com exceção da região pantaneira, que é protegida por lei (Zoneamento Agroecológico

da Cana-deAçúcar – ZAE Cana), percebe-se um predomínio e uma concentração maior das

unidades agroprocessadoras na Região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul, no entanto há também,

outras unidades espalhadas pelo restante do estado.

Desta forma, diante desta mudança vem sendo construída a territorialização da cana-de-

açúcar de forma acelerada, em decorrência de incentivos fiscais, por parte do governo federal bem

como por parte do governo estadual e municipal. Nesse sentido, a produção da pecuária e de

alimentos em alguns municípios tradicionais passam a conceder o seu espaço à cultura canavieira,

gerando assim um reordenamento espacial e territorial da atividade agroindustrial canavieira no

contexto sul-mato-grossense.

Figura 5 – Territorialização das Unidades Agroindustriais canavieiras nos municipios Sul-mato-grossenses –

2010.

A Bacia do Ivinhema (Figura 6), foi caracterizada por Chiaravalloti et. al. (2014), no

ano de 2013, e apresentou uma análise do cenário das mudanças ambientais, sociais e econômicas

ocorridas no sudeste do Mato Grosso do Sul em decorrência das plantações canavieiras e

instalações de usinas. A Bacia do Ivinhema é constituído de 26 municípios, utilizou a bacia como

limite amostral pelo fato de 23 usinas em operação no estado estarem localizadas em 16 municípios,

destes, destacou sete onde foi realizada a entrevistas a campo: Nova Alvorada do Sul, Rio Brilhante,

Dourados, Caarapó, Naviraí, Angélica e Ivinhema (Figura 10).

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Figura 6 – Mapa da Bacia do Ivinhema com destaque para a região de Cana-de-açúcar em vermelho

Fonte: Dados de 2011 elaborados com base nas informações do portal CanaSat

<http:www.dsr.inpe.br/laf/canasat/index.html>

Ressalta a importância do aquífero guarani na região, porém em entrevistas realizadas

com gestores públicos e a sociedade civil, obteve as seguintes afirmações:

O próprio órgão ambiental do estado salienta que muitas usinas na região do Mato Grosso

do Sul não são transparentes no EIA/RIMA sobre a utilização de águas do aquífero. Assim,

mesmo que algumas descrevam que optarão pela água dos rios, acabam utilizando as águas

subterrâneas, em razão da maior facilidade e constância do volume disponível. Dessa

maneira, o órgão competente autoriza um processo de captação de água; e a usina utiliza

outro, o qual não passou pelo processo de autorização e fiscalização. Pesquisadores do

Instituto do Meio Ambiente e Desenvolvimento (IMAD) afirmam que essa utilização é

rotineira em toda a região de Dourados (MS). Muitos agentes municipais mostraram-se

preocupados com essa utilização, embora a falta de transparência por parte da usina leve a

uma impossibilidade de qualquer ação, pois eles não sabem o que realmente acontece

(Chiaravalloti et. al., 2014, p. 8)

Além dos problemas levantados em relação aos recursos hídricos que vem sofrendo

degradações durante esses anos de avanço tecnológico na agricultura do estado, destacamos o

trabalho realizado por Gutierrez et. Al. (2012), no qual apresenta uma análise espaço temporal

utilizando um Sistema de Informações Geográficas, no qual foi possível investigarem o processo de

expansão das áreas cultivadas de cana-de-açúcar, nas safras compreendidas nos períodos de 2005,

2006 e 2007, que estavam adentrando as Unidades de Conservação. Identifica no Município de

Nova Alvorada do Sul, localizada no Sudoeste de Mato Grosso do Sul (Microrregião de Dourados),

dos 19402 hectares destinados ao cultivo da cana (safra 2007), 5.329,66 hectares se encontram

dentro da Área de Proteção Ambiental Municipal Rio Vacaria, criada em 2007, pelo Decreto

Municipal n. 1.614 (Figura 7).

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Figura 7 – Áreas de Cultivo de cana e Áreas de Proteção Ambiental no Município de Nova Alvorada do Sul (MS) – Safra 2007.

Santos (2011), pesquisa os motivos que levaram os pequenos agricultores da região sul

do Estado de Mato Grosso do Sul a plantarem eucalipto nas suas pequenas propriedades rurais.

Porém, analisando outras literaturas, esse hábito vem se estendendo por todas as regiões do estado,

não só nas pequenas áreas rurais como as grandes plantações que surgem no estado, tornando Mato

Grosso do Sul um dos grandes produtores de eucalipto no Brasil (Figura 8).

Figura 8- Distribuição da área de plantios de Eucalyptus por Estado, 2010.

Fonte: anuário da ABRAF, 2011.

Avaliação da Paisagem do Cerrado Sul Matogrossense

O Estado de Mato Grosso do Sul, desde a sua criação passa por grndes transformações,

as quais foram impostas pela dinâmica da ocupação social e econômica de seu território, que

acarretou consequências como o antropismo sócio-ambiental que o bioma cerrado vive atualmente.

As informações obtidas através da interpretação de imagens, que vão desde o período de

1870 a 2011, mostram a nova configuração da paisagem, destacando momentos distintos como a

vegetação nativa característica do cerrado, o avanço da pecuária (Figura 9) e das plantações de soja

(Figura 10), a infraestrutura resultante da ocupação humana e da economia e um novo cenário, o

avanço das plantações de cana-de-açúcar (Figura 11) e eucalipto e, para o melhor escoamento

destas produções, a construção de novas estradas que cortam o estado em todas as direções (Figuras

12 e 13), como a implantação e pavimentação da MS-040, considerada a rota de insumos como

eucalipto e carvão vegetal para as indústrias de celulose de Três Lagoas, é uma obra estratégica no

processo de diversificação da matriz econômica adotada pelo governo estadual, considerando que

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com a logística, o estado poderá triplicar o plantio de florestas e criar novos polos de produção,

como o moveleiro. O crescimento das áreas de eucalipto é visível ao longo de todo o trecho em

construção, onde também predomina a pecuária no município de Santa Rita do Pardo.

Figura 9 - Serra da Bodoquena (com áreas de

pastagem

Figura 10 - Área sendo preparada para plantio sem

a presença de mata nativa.

Figura 11 – Córrego Lavanda na área de

plantio da cana-de-açúcar, no município de

Nova Alvorada do Sul.

Figura 12 - Construção da MS-040

Figura 13 – MS 040, já conhecida como a rodovia da morte dos bichos

Considerações Finais

Ao longo dos anos o homem vem alterando e degradando a vegetação e, em algumas

regiões de forma irreversível, a ponto de, em algumas áreas de atividade agrícola mais intensa, não

observarmos mais locais com cerrado nativo.

Assim como na vegetação, os recursos hídricos também passam por grandes alterações.

Considerando que o uso inadequado do solo acarreta à diminuição do fluxo natural das águas

oriundas das chuvas e acarreando o assoreamento dos canais de águas superficiais, alterando

significativamente a paisagem original.

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Nas figuras utilizadas para evidenciar as alterações da paisagem do bioma cerrado no

Estado de Mato Grosso do Sul, ficaram nítidos que o mesmo se apresenta de modo fragmentado.

Foi possível interpretar claramente a presença de desmatamento em áreas de alimentação de

nascentes, assim como perceber que a má gestão de recursos hídricos é enorme, onde uso para

irrigação podem causar danos irreversíveis a disponibilidade de água.

Desta forma, concluímos que a alteração do meio ambiente, que gera como

consequência a mudança da paisagem ocorre apenas em detrimento das necessidades e interesses do

homem. Neste contexto, quando analisamos de forma temporal a alteração da paisagem, estamos

estudando as relações estabelecidas na dinâmica desta paisagem, tendo como principal responsável

por esta alteração o homem, que através de suas ações interfere na dinâmica natural de todo o

sistema. Soma-se a este processo de modelação da paisagem, a economia como um dos maiores

causadores das projeções futuras desta modificação.

Referência Bibliográfica

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Biodiversidade do Cerrado e Pantanal: áreas e ações

prioritárias para conservação. Brasília : MMA, 2007.540 p.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. O Bioma cerrado. Disponível em

<http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado> Acesso em: 28 set 2015.

CHIARAVALLOTI, R. M. ; SANTANA, S. ; MORAIS, M. S. ; Rocha, L. M. V. ; FREITAS, D.

M. . Efeitos da Expansão da Cana de Açúcar no Sudeste do Mato Grosso do Sul e Possíveis

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VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”

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