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UNIVERSIDADE DO ALGARVE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
MESTRADO EM OBSERVAÇÃO E ANALISE DA RELAÇAO EDUCATIVA
VOLUME I
Maria de Fátima Jacinto Palma
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FARO TfiSES;
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UNIVERSIDADE DO ALGARVE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
MESTRADO EM OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA RELAÇÃO EDUCATIVA
VOLUME I
Maria de Fátima Jacinto Palma
FARO
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UNIVERSIDADE DO ALGARVE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
A Participação dos Pais - Olhares de Professores
(dissertação para obtenção do grau de mestre em ciências da educação)
Maria de Fátima Jacinto Palma
FARO
GAMBELAS 2004
NOME: Maria de Fátima Jacinto Palma
DEPARTAMENTO: Faculdade de Ciências Fíumanas e Sociais
ORIENTADORA: Professora Doutora Maria das Mercês Cabrita de
Mendonça Covas
DATA: 28 de Abril de 2005
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: A Participação dos Pais - Olhares de
Professores.
JURI:
PRESIDENTE: Doutor Fernando Ribeiro Gonçalves, Professor Catedrático
da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
do Algarve.
VOGAIS: Doutora Maria Alice Tomé, Professora Auxiliar da Unidade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior;
Doutora Maria das Mercês Cabrita de Mendonça Covas,
Professora Auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas e
Sociais da Universidade do Algarve.
n
Agradecimentos
À Professora Doutora Maria das Mercês Cabrita Mendonça Covas pela disponibilidade e incentivos que me orientaram no rumo desta caminhada.
À Isabel que com amizade e rigor, ajudou a dar forma a este texto. Aos colegas que se dispuseram a colaborar. À Manuela companheira de viagens. A minha Família que me apoiou e proporcionou as condições para que este trabalho
pudesse ser desenvolvido; especialmente ao Bruno apesar das constantes chamadas de atenção e dos ciúmes do computador.
A todos os que me apoiaram e ajudaram a aprender.
111
Resumo
Sob o título genérico "A Participação dos Pais na Escola - Olhares de professores", apresenla-se um estudo efectuado num Agrupamento Vertical de Escolas, num tempo específico - ano lectivo de 2003/2004 - e num espaço particular - concelho
de Castro Verde, no Baixo Alentejo. Situados no campo das práticas sociais educativas procuramos, com este estudo,
captar o "olhar" dos educadores de infância e professores do ensino básico sobre formas, modalidades e tipos que a participação praticada pelos pais reveste neste
agrupamento e, igualmente, compreender as inter-relações que estabelecem entre a participação dos país e a formação pessoal e social dos alunos, por um lado, e a formação de pais, por outro. Construído metodologicamente através de uma abordagem plural, combinando
métodos e técnicas quantitativos e qualitativos, o presente estudo recria - apoiado em modelos teórico-conceptuais explicitados para o estudo da participação - uma
tipologia da participação na organização escolar; enquadra-se, teoricamente, no campo das abordagens sistémicas para proceder à análise da família e da formação e
evidencia uma complexa e multifacetada rede de relações entre Escola, Pais e Formação.
Palavras-chave: Participação, Família, Escola, Formação
iv
Title: PARENTS PARTICIPATION - THE TEACHERS POINT OF VIEW
ABSTRACT
Under the generic title 'ParenEs participation at school - The Teachers' Point of View', we present a study which was accomplished within a grouping of schools
during a specific time - school year 2003/2004 - and in a particular space - the
council of Castro Verde, Baixo Alentejo. Situated in the field of educational social practice we tried by means of this study to
capture the point of view of educators at nursery schools and of teachers about the ways, manncrs and kinds that parenEs practised participation is endowed with in this
grouping, and we also tried to understand the relationships they establish between
parenEs participation and pupíEs personal and social educatíon on the one hand, and parents' education on the other hand.
This study, which was methodologically carried out through a plural approach, combining quantitative and qualitative methods and techniques, recreates -
supported by theoretical and conceptual models explicated for the study of participation - a typology of the participation in school organization; it is
theoretically framed in the field of the systematic approaches in order to proceed
with the analysis of the family and of education, and evidences a complex and multífaceted net of relationships between School, Parents and Education.
Key-words: Participation, Family, School, Education.
v
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE DE QUADROS viíi
ÍNDICE DE FIGURAS ix
1 INTRODUÇÃO 1
2 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA ESCOLA 6
2.1 A Participação: uma Conceptualização Plural 6 2.1.1 Clarificação do Conceito 6 2.1.2 Participação Praticada: uma Topografia Complexa 14 2.1.3 A Participação: uma Síntese Possível 19
2.2. Os Pais, A Escola, A Participação: uma Leitura Diacrónica 22
3 FAMÍLIA, ESCOLA, FORMAÇÃO: UMA TRIANGULAÇÃO INELUTÁVEL 29
3.1 A Família; do Conceito ao Modelo de Análise 29 3.2 Família, Escola, Formação; uma Relação Triangular 41
4 DA PROBLEMÁTICA AO MODELO DE ANÁLISE 51
4.1. A Problemática da Investigação 51 4.2 A Construção do Modelo de Análise 59
4.2.1 Delineamento Geral e Procedimentos 60
4.2.2 População Alvo 62 4.2.3 Modelo de Análise e Identificação de Variáveis 64 4.2.4 A Formulação das Hipóteses e Caracterização das Variáveis 71 4.2.5 Operacional ização das Variáveis - Inquérito por Questionário 74
4.2.6 Recolha e Procedimentos para a Análise e Tratamento de Dados 78
5 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO AGRUPAMENTO VERTICAL DE
ESCOLAS DE CASTRO VERDE - OLHARES DE PROFESSORES 82 5.1 Geografia do Estudo — Concelho de Castro Verde 82
5.1.1 Caracterização Económica e Cultura! de Castro Verde 82 5.1.2 A Rede Pública do Ensino Básico: Estabelecimentos e População Escolar..86
vi
5.1.3 Caracterização das Famílias dos Alunos 90 5.1.4 Caracterização da População Inquirida 96
5.1.5 Análise do Questionário 101
5.1.6 Um "Olhar" sobre a Participação dos Pais 128
6 CONCLUSÕES 132
7 RliFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 141
ANEXOS (Volume II)
vii
ÍNDICE DE QUADROS
1. Grelha de Análise (3.a versão) 65
2. Modelo de Análise (3.a versão analítica) 70
3. População Residente, segundo as Migrações (relativamente a 1999/12/31), por Concelho de Residência Habitual em 2001/03/12 84
4. População Residente Economicamente Activa (sentido lato) c Empregada, segundo o Sexo e o Ramo de Actividade no Concelho de Castro Verde 84
5. População Residente segundo o Nível de Ensino Atingido e Sexo e Taxa de Analfabetismo 85
6. Estruturas de Educação Formal e População Docente 87 7. População Discente 87 8. Variável: Sexo 97 9. Variável; Nível de Ensino 97 10. Variável: Anos de Serviço na Escola Actual 99 11. Variável: Distância entre a Localidade da Escola e a Sede de Concelho 100
12. Relação entre o Nível de Ensino onde o Docente Lecciona e a Participação dos Pais na Escola 105
13. Relação entre a Localidade da Escola e a Participação dos Pais 107 14. Relação entre o Meio Sócio-Cultural dos Alunos e a Participação dos Pais na
Escola 108
15. Relação entre a Residência dos Alunos e as Áreas de Participação dos Pais na Escola 110
16. Relação entre o Grau de Democraticidade c as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos 110
17. Relação entre o Grau de Regulamentação e as Competências Pessoais c Sociais dos Alunos 111
18. Relação entre o Grau de Envolvimento e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos 112
19. Relação entre o Grau de Poder e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos 114
20. Relação entre a Orientação dos Participantes e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos 115
21. Relação entre as Áreas de Participação e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos 116
viii
22. Relação entre o Objecto Social da Participação e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos 117
23. Relação entre a Localidade da Escola e as Competências Pessoais e Sociais dos
Alunos 118 24. Relação entre a c as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos e a sua Estrutura
Familiar 120
25. Relação entre as Práticas Educativas e as Competências Pessoais e Sociais 121 26. Relação entre a Formação de Pais e o Objecto Social da Participação 122
27. Relação entre o Meio Sócio-Cultural dos Alunos c a Formação de Pais 123 28. Relação entre os Anos de Docência do Professor com os Anos de Serviço na
Escola Actual e a Importância de Formação de Pais 125
ÍNDICE DE FIGURAS
1. Tipologia da participação dos pais praticada num estabelecimento de educação pré- escolar 15
2. Tipologia da participação na organização escolar 18
3. Tipologia da não-parlicipação na organização escolar 18 4. A família como sistema, macrosistema e microsistema familiar 38
5. Leitura macrosistémica e leitura microsistémica da família 38 6. Modelo da ecologia de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner 43
7. Modelo de análise (3.a versão sintética) 69 8. O concelho de Castro Verde 83 9. Nível de ensino da população discente 89 10. Diferenças de género na população discente 89 11. Distribuição etária dos pais dos alunos 90
12. Distribuição das habilitações literárias dos progenitores 91 13. Distribuição das mães por actividade profissional 92 14. Distribuição dos pais por actividade profissional 93 15. Estrutura familiar dos discentes 94
16. Situação familiar dos progenitores 95 17. Encarregado de educação da criança 96
18. Variável: Situação profissional 98 19. Variável: Localidade de residência 98 20. Variável: Localidade da escola onde exerce funções 100
ix
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -Ol.llARI-S DE PROFHSSORHS
1 INTRODUÇÃO
"Para educar uma criança é preciso toda uma aldeia" (Provérbio africano)
O provérbio citado resume, em nosso entender, a convicção de que uma das
chaves para o sucesso educativo e para a igualdade de oportunidades reside numa maior
aproximação da Escola às famílias dos alunos e a toda a comunidade envolvente.
Efectivamente, a participação dos pais/encarregados de educação na escola,
constitui, hoje, um tema aliciante, uma vez que a nova configuração jurídico-normativa
veio possibilitar um conjunto diversificado de práticas que urgem ser estudadas.
Se de uma forma empírica podemos afirmar que existe, actualmente, um relativo
consenso quanto aos benefícios das relações entre a escola e a família para uma
escolarização mais eficiente dos alunos, importa conduzir uma investigação
cientificamente balizada para se poder concluir da justeza dessa percepção.
Por outro lado, numa revisão da literatura portuguesa sobre este tema,
verificámos que são escassas as investigações efectuadas, pelo que, o presente estudo
poderá, eventualmente, vir a ser um contributo válido para todos os que, futuramente, se
venham a debruçar sobre esta problemática e, ao mesmo tempo, ser potenciador de
reflexão e de tomada de decisão relativamente a estratégias de envolvimento e
participação dos pais na vida escolar dos filhos.
1
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OUIARHS DE PROFRSSORHS
O interesse intelectual por esta temática decorreu de razões de natureza
fenomenológica: a minha formação académica de Educadora de Infância, bem como a
actividade profissional (exercida durante dezanove anos e estando inserida num
agrupamento de escolas com vários níveis de ensino) tem-se constituído como
oportunidades de convívio quotidiano, quer com problemas reais da participação dos
pais na escola, quer com as representações dessa participação por parte dos docentes.
Neste contexto, emergiu como desafio intelectual, perscrutar, por um lado, no campo
das intersubjectividades, as razões primordiais que potenciam ou entravam a
participação dos pais nas escolas e, portanto, desocultar a efectiva realidade dessa
percepção.
Neste contexto, o objecto de estudo desta investigação situa-se cm torno do olhar
dos professores sobre a participação dos pais na escola e é focalizado num público
concreto e localmente detenninado: os docentes dos vários níveis de ensino (Pré-
escolar, 1.° Ciclo e 2.° e 3.° Ciclos do Ensino Básico) que exercem funções no
Agrupamento Vertical de Escolas "Dr. António Francisco Colaço", em Castro Verde,
no ano lectivo de 2003/2004. Elegemos como questão de reflexão e de pesquisa a
seguinte:
• Na perspectiva dos professores, como se processa a participação dos pais na
educação escolar dos filhos, num agrupamento vertical de escolas e qual a sua
influência ao nível da formação pessoal e social dos alunos c da formação de pais?
O carácter ao mesmo tempo conciso e compreensivo desta questão conduziu-nos
para o tema deste estudo o qual condensámos no título genérico: "A participação dos
pais - olhares de professores".
Decorrente da questão inicial da nossa investigação consideramos serem
pertinentes os objectivos seguintes:
• Objectivo geral:
Conhecer se, na perspectiva dos professores, a relação que os pais
estabelecem com a escola está relacionada com a formação pessoal e social dos
alunos e com a formação dos país.
• Objectivos específicos:
Verificar se o nível de ensino onde o docente lecciona influencia a participação
dos pais na escola.
2
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OLIIARHS Dl- PROFRSSORI-S
Observar e clarificar se a situação profissional do professor interfere com a
participação dos pais.
Constatar se a localização da residência dos alunos interfere com as áreas de
participação dos pais na escola.
Verificar se a localização da escola influencia a participação dos pais e as
competências pessoais e sociais dos alunos.
Relacionar o meio sócio-cultural dos alunos com a participação dos pais e a
necessidade de formação de pais.
Relacionar as formas e os tipos de participação praticada pelos pais com as
competências pessoais e sociais dos alunos.
Identificar a opinião dos professores sobre as práticas educativas familiares e a
sua influência na formação pessoal e social dos alunos.
Ver se há relação entre a estrutura familiar dos alunos e as suas competências
pessoais e sociais.
Verificar de que fonna os anos de serviço na carreira docente interferem com a
importância atribuída à formação de pais.
Relacionar a opinião dos professores sobre o objecto social de focalização dos
pais na escola e a importância da formação de pais.
Para concretizar estes objectivos específicos levámos a cabo um estudo que
efectuámos de acordo com os procedimentos metodológicos conducentes à
compreensão da realidade educativa que elegemos como objecto de estudo. Tivemos em
conta que as exigências de cientifícidadc do nosso estudo se não coadunavam com uma
única opção metodológica, pelo que a nossa abordagem foi plural, combinando métodos
e técnicas quantitativos e qualitativos (conscientes das derivas de presumível
anarquismo ou ecletismo cm termos metodológicos, esta opção foi condicionada pelo
facto de que a realidade educativa é, por definição, irredutível, logo incapaz de ser
holisticamcnte apreendida através de um único método de análise).
Neste sentido, no percurso na nossa investigação utilizámos uma estratégia mais
formal que, obedecendo aos requisitos quantitativos da investigação científica, definiu
uma problemática de investigação, construiu o modelo de análise e, a partir deles,
procedeu à recolha de informação que se materializou no inquérito por questionário, o
qual pilotado por um quadro teórico inicial e validado através de procedimentos
estatísticos, permitiu uma aproximação extensiva ao objecto de estudo e
3
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DF. PROFI-SSORRS
complementámo-la com uma estratégia mais qualitativa que consistiu em reduzir,
categorizar, clarificar, sintetizar e comparar informação com a finalidade de obter uma
visão tão completa quanto possível da realidade.
Partindo da informação recolhida e acompanhando-a com um permanente
processo reflexivo consubstanciado na revisão bibliográfica efectuada, desdobrámos o
corpo da nossa investigação cm sete partes, a que denominámos capítulos, seguindo-se,
no final a lista de referências bibliográficas e os anexos.
Formalmente, abrimos este relatório1, com a apresentação dos 'índices: "índice
Geral", o "índice de Quadros" e o "índice de Figuras". Seguem-se-lhe o plano da
redacção, propriamente dito, que é constituído pelas seguintes componentes:
Esta Introdução - que se pretende constituir como a apresentação do estudo, em
termos genéricos - seguida do enquadramento teórico-conceptual da dissertação que
engloba uma revisão da literatura (com recurso preferencial às teorizações e
conceptualizações que enformam as Ciências da Educação e as Ciências Sociais)
incidindo nas temáticas que, dc um ou de outro modo, gravitam em torno das questões
da participação, da família, da escola e da formação - conceitos nucleares neste estudo -
de molde a construir o quadro conceptual de referência, o qual é explanado nos
Capítulos II e III.
O capítulo II, que intitulamos "A participação dos pais na escola" é, de acordo
com a mensagem explícita no próprio título uma incursão pela conceptualização plural
da participação; percorre uma topografia possível dc participação dos pais; firma-se
numa síntese que se pretende constituir como o quadro conceptual susceptível de ser
aplicado no nosso estudo empírico e tennina com uma descrição diacrónica da produção
jurídico-normativa da participação dos pais na Escola.
No terceiro capítulo "Família, Escola, Formação: uma triangulação inelutável"
reflectimos, num primeiro momento, sobre o conceito de família e sobre um dos
possíveis modelos dc análise deste grupo social, primordial na organização da
sociedade, e, num segundo momento, sobre uma possível relação triangular entre as três
componentes - família, escola, formação - procurando encontrar elos entre família e
escola, realçando que ambas se interinfluenciam em permanência no processo formativo
das crianças/jovens e dos pais.
1 Na estruturação formal do presente relatório seguimos as sugestões insertas na obra de Mário Azevedo, "Teses, Relatórios e Trabalhos Escolares", citado na bibliografia.
4
A PARTICIPAÇÃO IX)S 1'AIS -OLHARHS DE PROI'ESS()RI-S
Por sua vez, no capítulo IV, "Da Problemática ao Modelo de Análise",
condcnsam-se os aspectos metodológicos e técnicos do presente estudo; refere-se à
problemática da investigação e à construção do modelo de análise. Explicitamos os
procedimentos metodológicos efectuados passando pela descrição dos processos de
construção da problemática (da questão de partida ao modelo de análise) e, igualmente,
pela descrição dos procedimentos inerentes à recolha, tratamento e análise de dados.
No capítulo V, damos visibilidade ao nosso estudo, através da análise da
informação recolhida. Iniciamos este capítulo com a contextualização do estudo. Nesse
sentido, captámos algumas imagens caracterizadoras do concelho de Castro Verde - da
geografia à cultura passando pela população - e centrámo-nos sobre a singularidade das
escolas do Agrupamento salientando as características dos corpos docente e discente e
analisando as especificidades das famílias dos alunos. Prosseguimos com uma breve
caracterização da população inquirida, e, de acordo com a própria organização interna
do inquérito por questionário, centrámo-nos na análise da participação dos pais sob a
perspectiva de um grupo específico de actores escolares - os professores. Assim,
procurámos dar inteligibilidade às relações entre as características dos docentes, ao
meio sócio-cultural e familiar dos alunos, às práticas educativas familiares, à formação
pessoal e social dos alunos, à formação de pais e à participação praticada pelos pais na
escola.
Por fim, no capítulo sexto, assumido no contexto deste estudo como o capítulo
conclusivo, procedemos a um reexame do processo investigativo efectuado, reflectindo
sobre as potencialidades heurísticas do nosso modelo de análise e, consequentemente,
do instrumento de observação. Reflectimos, ainda, sobre as dificuldades e limitações
deste estudo e projectivãmente apontamos algumas pistas de investigação que o tema
suscita.
Por fim, importa salientar que o estudo "A Participação dos Pais - Olhares de
Professores" é um projecto de investigação que se enquadra no âmbito das actividades
do Laboratório de Sociologia e Educação (LSE), que está integrado no Centro
Universitário de Investigação Educativa e Sociológica (CUIES) da Universidade do
Algarve, ao qual pertence a orientadora da tese. Professora Doutora Maria das Mercês
Cabrita de Mendonça Covas.
5
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSQRHS
2 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA ESCOLA
Sendo a participação o conceito nuclear do estudo que pretendemos levar a cabo,
urge procedermos, em primeiro lugar, à sua clarificação em termos conceptuais, para,
num segundo momento, efectuarmos um reexame dos momentos teóricos de análise da
participação (e da não participação), e a partir destes efectuarmos uma apropriação das
referências teóricas com vista à construção de um quadro conceptual susceptível de ser
aplicado ao nosso estudo empírico. São estas as etapas do presente capítulo, o qual
tennina com uma descrição diacrónica dos nonnativos jurídicos da participação dos pais
nas escolas portuguesas.
2.1 A Participação; uma Conceptualização Plural
2.1.1 Clarificação do Conceito
Participação é, hoje, uma palavra que está na ordem do dia.
Palavra-chavc, "omnipresente nos discursos político, normativo e pedagógico" é
"utilizada em muitos e diferentes contextos, com objectivos diversos a que
correspondem práticas diversas" (Lima, 1988, pp. 20-69).
Enquanto elemento conceptual na teoria das organizações, participação, assume
- e sujeita-se - a significações e interpretações variadas sendo, muitas vezes, convocada
6
A PARTICIPACÀO DOS PAIS - OI.HARHS DE PROIl-SSORHS
como "a panaceia para resolver os problemas das organizações" (Alves Pinto, 1995,
P-I59).
São, exactamente, a polissemia c a mullidimensionalidade do conceito de
participação que tornam inelutável a sua clarificação no contexto deste estudo, uma vez
que o seu objecto é a participação dos pais numa organização-escola.
Neste sentido, num primeiro momento e numa abordagem necessariamente
breve - marcada pela subjectividade e incompletude - vamos fazer uma primeira
aproximação ao conceito de participação baseada em diversos autores (Afonso, 1993;
Alves Pinto, 1995; Barroso, 1995; Ciscar & Uria, 1986; Crozier, 1964; Davies, 1987;
Epstein, 1987; Galego, 1993; Lima, 1988, 1992a, 2001b, 2002c; Marques, 1991;
Palácios, 1994) e para, num segundo momento, nos centrarmos sobre duas tipologias de
participação nas organizações escolares - a de Lícinio Lima (1992, 2001) e a de Maria
Luísa Homem (2002) - as quais elegemos como elementos constituintes do modelo de
análise que construímos para compreender (analisando e interpretando) a participação
dos pais num agrupamento de escolas concreto e singular: o agrupamento de escolas Dr.
António Francisco Colaço em Castro Verde.
Iniciamos esta problematização do conceito de participação parafraseando
Galego que entende que participar c garantir o direito de todos acederem à capacidade
de intervir no projecto da sua existência, sendo uma condição de cidadania e
apresenlando-se na nossa sociedade contemporânea, como um direito fundamental
ligado à natureza da educação (1993, p. 58).
A amplitude e especificidade diferenciadora desta definição2 agregamos o seu
carácter mais instrumental3 dizendo, como o faz Lima que a participação deve
"constituir uma prática, um exercício que se repete" c desse modo enfatiza-se o poder
que os indivíduos têm numa qualquer decisão projectando, através dessa prática, a
dimensão social e política da sua intervenção a qual expressa, necessariamente, o
sistema de valores e de interesses que enformam os seus projectos educativos (1992, p.
132).
Baseada na mobilização dos actores para a acção a participação inscreve-se nas
redes de relações e interacções sociais - quer formais quer informais - que se criam e
2 Partilhamos o princípio de que à educação é atribuído um importante objectivo para a realização, consolidação e aperfeiçoamento da democracia política: a preparação das crianças e jovens para a democracia. " Utilizámos o termo instrumental, num sentido amplo, pelo facto de entendermos que a participação é um instrumento relevante na realização da democracia.
7
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLIIARHS PH PROFESSORl-S
desenvolvem no contexto das organizações. Esta realidade implica que ao falar de
participação se concentre, igualmente, o olhar sobre a racionalidade dos
comportamentos dos actores sociais nas organizações.
Assim, e na linha do pensamento crozieriano (Crozicr, 1964, citado em Lima,
1998b, p.131) ''participar é perder a liberdade, é perder a situação confortável de crítico,
é também enfrentar o risco de se empenhar emocionalmente, é finalmente prestar-se à
limitação de outrem, à limitação do grupo ou de unidade às decisões das quais
participar', de onde se, por um lado, a participação releva da concepção de democracia
(possibilitando a cada indivíduo a sua intervenção directa no processo de tomada de
decisões na base de critérios estabelecidos) e, consequentemente, constitui-se como
elemento privilegiado de realização da democracia; por outro, a admissão de que a
participação envolve riscos leva, necessariamente, à adopção - de um ponto de vista
estratégico - de uma concepção que, embora valorizando e reconhecendo a importância
da participação, integre outras concepções que questionem a pertinência, a oportunidade
e as vantagens da participação do ponto de vista dos diferentes actores. Trata-se,
portanto, de considerar a não-participação como uma orientação possível no
pressuposto de Lima (2001 b) que refere:
Se a participação c necessária para o estabelecimento da democracia nas
organizações eia não é uma condição suficiente nem é, necessariamente, uma coisa boa
em si mesma . . . tudo depende de quem participa, onde, como e em que termos
participa e, neste sentido, uma estratégia de não-participação pode constituir uma boa
defesa e uma opção racional (p.92).
Participação e não-participação são elementos de um quadro conceptual
polifacetado a ter em conta na análise das organizações e entendidos como extremos de
um continuum que, embora em posições opostas podem coexistir num dado contexto
sendo a distância que os separa, de um ponto de vista teórico, preenchida por diferentes
formas e modalidades de participação.
Assim, sob o conceito amplo de participação podem-se distinguir graus, níveis,
formas e modalidades diversas, numa complexidade teórica inelutável, se bem que, a
sua raiz semântica apresente um "significado relativamente preciso no quadro da
democracia como participação, onde é associado à decisão, ao governo, à partilha de
poder" (Lima, 1992, p.I27), o mesmo é dizer, que o conceito de participação - nos
autores que vamos tomar como referência - se inscreve num projecto político
8
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU lARHS DE PROFHSSORI-S
democrático enquanto elemento de intervenção nas esferas de decisão política e
organizacional.
Iniciamos este processo de clarificação enunciando - na senda do pensamento de
Paterman (1970), os três níveis de participação estabelecidos por este autor tendo em
conta a capacidade de decisão garantida aos participantes nas organizações:
Num primeiro nível, designado como pseudo-participação, os participantes não
têm qualquer capacidade de influenciar as decisões a tomar; a encenação participatória
reduz-se a um conjunto de técnicas usadas para os convencer a aceitarem decisões que
já foram tomadas pelos que têm o real poder de decidir. Num segundo nível
caracterizado como correspondendo a situações de participação parcial, o poder de
decidir mantém-se nas mãos dos dirigentes ou gestores, mas os participantes adquirem a
capacidade de influenciar as decisões desses directores ou gestores. Finalmente, o nível
mais elevado corresponde à participação total, situação ideal em que a cada participante
é reconhecida a mesma capacidade para influenciar as decisões a tomar (citado por
Afonso, 1993, p. 138).
Numa outra escala de participação, construída com base na relação entre
participação e responsabilidade. Palácios (1994)4 refere-nos sete níveis hierárquicos:
• Información - Se transmite, simplemenle, una decisión tomada por la
autoridad correspondieníe para que los afectados la ejecuten.
• Consulta - Se pide opinam a los afectados, si bien la decisión la toma en
cualquier caso la autoridad pertinente.
• Elaboración de propueslas - Los afectados pueden aqui ofrecer opciones y
argumentar a favor o en contra, pero la autoridad decide en todo o caso aprobando o
modificando propueslas, o asumiendo otras diferentes.
• Delegación - Se otorga una delegación de aíribuciones de un âmbito
determinado, en el cual el que recibe tal atribucián delegada actua con autonomia para
su ejecución, si bien la responsabilidad última corresponde al delegante, que mantiene
la autoridad definitiva.
• Codecisión ~ Se produce la decisión en común, iras la participación de los
afectados.
• Cogesíión - La participación de los implicados se produce en la toma de
decisiones y en la práctica de las mis mas.
• Auíogesíión - La decisión. en este caso, corresponde a quienes han de poner
en práctica dicha decisión, a cuyo efecto actúan con total autonomia, (pp. 12-13)
4 Segundo Garcia e Harding (1988) "la participación debe guardar proporción con el grado de responsabilidad\ sendo o grau de participação do indivíduo, proporcional à sua disposição para assumir responsabilidades (citado por Palácios, 1994, p. 14).
9
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OLllARr.S DE PROFHSSORHS
Sob um ponto dc vista empírico estas duas abordagens teóricas, enfatizando
diferentes níveis de participação balizados em critérios claramente enunciados,
afiguram-se como pertinentes enquanto instrumentos analíticos da escola portuguesa.
Aliás, Afonso, utilizando a tipologia de Patcrman na abordagem da participação dos
pais nos assuntos da escola, refere que esta "é geralmente entendida ao nível da pseudo-
participação, c limitada a comunicação com os interlocutores escolares, nomeadamente
os professores" (1993, p. 139).
Por sua vez, outros autores, entendem a participação enquanto expressão de
modalidades dc intervenção, de onde as formas de estar ou de intervir nas organizações
- em especial nas escolas - dependem da conjugação, por um lado, das leituras que os
actores fazem da organização e, por outro, dos seus projectos pessoais, dos
constrangimentos do sistema dc acção e, consequentemente, das margens de liberdade
utilizadas, ou seja, das estratégias dos diferentes autores.
Assim, e atendendo às formas de relacionamento dos pais com a escola, Davies
(1987), utiliza dois conceitos, diferenciando-os: o de participação e o de envolvimento.
A primeira expressão é usada 'kpara designar as formas de relacionamento superiores
entre os pais e a escola, que implicam a participação na tomada de decisões, a co-
produção ou as pressões para influenciar a tomada de decisões"; a segunda, "inclui as
formas mais leves dc relacionamento escola/pais, nomeadamente, os níveis troca de
informações, educação de pais c apoio à escola" (citado por Marques, 1991, pp. 70-71).
Dando-nos conta da complexidade teorética desenvolvida em tomo das formas e
modalidades de participação. Marques descreve e analisa o modelo de envolvimento
dos pais proposto por Epstein (1987)5, "considerando que é de grande utilidade para os
professores e permite integrar os diferentes tipos de íamília no nível de envolvimento
que mais corresponde às suas necessidades e disponibilidades". Este modelo6 engloba
5 "Envolvimento" para Epstein nao tem - conforme evidenciamos - o mesmo valor semântico do atribuído por Davies. 6 Este modelo 6 explicitado por um outro investigador português - Silva (1997, pp. 80-81) - do seguinte modo: Tipo 1 - As obrigações básicas dos pais - referem-se às responsabilidades dos pais pela saúde e segurança da criança c à criação de condições positivas em casa para a aprendizagem escolar; Tipo 2 - As obrigações básicas da Escola - referem-se à comunicação cscola-casa, ou seja, à forma e frequência com que a escola vai informando a família das actividades e do progresso da criança; Tipo 3 - Envolvimento dos pais na Escola - refere-se ao voluntarismo dos pais que se oferecem para ajudar os professores ou administradores da Escola, seja em actividades de sala de aula. desportivas ou de outro tipo; Tipo 4 - Envolvimento dos pais em actividades dc aprendizagem em casa - refere-se à ajuda em casa em actividades de aprendizagem da criança relacionadas com a escola e que podem ser da iniciativa dos pais, do professor ou da própria criança; Tipo 5 - Envolvimento dos pais no governo da Escola - refere-se à tomada de decisões por parte dos pais através de organizações próprias (associações de pais) ou em órgãos importantes em que tenha assento (conselho de escola ou dc área escolar).
10
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DE- PROFESSORf-S
cinco tipos diferentes de envolvimento dos pais, que devem ser encarados como um
programa integrado: "ajudar os filhos em casa", "comunicar com os pais",
"envolvimento dos pais na escola", "envolvimento dos pais em actividades de
aprendizagem, em casa" e "envolvimento dos pais no governo das escolas" (Marques,
1991, pp. 19-21).
A participação (e/ou envolvimento) - entendida em sentido amplo - enquanto
forma de interacção pode ser vista como resposta à satisfação ou descontentamento dos
indivíduos, e neste sentido, já de certa forma clássico, é o esquema interpretativo de
Bajoil (1988) que enuncia c explicita quatro modalidades de comportamento: fidelidade,
protesto, abandono e apatia. Este quadro conceptual é retomado por Alves Pinto (1995),
a qual enuncia, igualmente, quatro modalidades de participação denominando-as de
participação convergente, participação divergente, participação apática e abandono. Ao
debruçar-se sobre estas modalidades de participação a mesma autora conclui que:
... Cada vez que o actor antevê que a gratificação que pode retirar dos custos e
riscos de envolvimento nas interacções organizacionais compensa, é normal que se
desloque para o lado da participação convergente. Quando sente que não retira grande
gratificação da participação convergente e prevê que a participação divergente lhe pode
ser mais útil, é natural que vejamos surgir a modalidade de estar na escola
correspondente. E a frequência com que o desinvestimento na cooperação pode revestir
a estratégia de apatia ou de abandono depende do contexto e do tipo de vínculo da
pessoa à instituição em causa (pp. 166-167).
E, em suma, a racionalidade estratégica dos actores que determina a sua forma
de participação. Por sua vez, este enfoque remete-nos para uma outra abordagem
agregada à problemática da participação que se prende com o que alguns autores
conceptualizam como as vantagens e as desvantagens da participação.
A intervenção de todos contribui para o enriquecimento mútuo dos participantes;
a aceitação e estima dos membros do grupo reduz os conflitos; o aceitar diversos papéis
na participação aumenta o estímulo, a solidariedade e a responsabilidade; a qualidade de
trabalho desenvolvido é melhorada; a maior rapidez na formulação de planos e o
impulso à dedicação de objectivos comuns são os elementos da listagem apresentada
por Palácios respeitante às vantagens da participação, enquanto que enumera,
igualmente, quatro desvantagens, a saber: os processos de tomada de decisão são mais
lentos; o tempo concedido aos trabalhadores para tarefas de planificação e discussão
11
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - Ol.HARI-S DI- PROFl-SSORES
tem um custo adicional e o risco de desvios pode causar situações impostas e falta de
disciplina participativa (Palácios, 1994, p.14).
Outras desvantagens e outras vantagens são coligidas por Ciscar & Uria (1986).
Estes autores referem que num processo participativo deparamo-nos com riscos e
dificuldades que se devem aos seguintes factores: ao facto de não estarmos habituados a
participar; ao desconhecimento do alcance da participação, que muitas vezes se
confunde participação com a escassez de um conjunto de procedimentos participativos;
à falta de atitudes participativas; e, também, por dominarmos poucas técnicas de
participação. Quanto às vantagens aludem as seguintes:
Si la paríicipaciún es eficaz permitirá una delegación mayor de funciones que
dará como resultado una serie de ventajas:
• en las escalas superiores, dedicarse más de lleno a los asuntos más
delicados, que no son objeto de delegación:
• en los participantes en geral ir imponiéndose más plenamente en aquellas
cuestiones en las que se participa, a la vez que se adquiere prácíica en la participación
como tal (pp. 162-/63).
Num outro registo discursivo, porque enquadrado num outro campo das Ciências
da Educação, concretamente no da organização c gestão das escolas, o tema da
participação é, igualmente, um dos temas mais abordados na agenda das mudanças da
administração escolar. Todavia, e de acordo com Barroso (1995):
O aparente consenso sobre a necessidade de "aumentar a participação" esconde
divergências profundas quanto às razões políticas e administrativas de tal facto, bem
como quanto à distribuição de poderes entre diferentes "actores" e "parceiros"
educativos: professores c outros trabalhadores não docentes, alunos, pais, elementos da
sociedade local, autarcas, etc. (p. 3).
Este autor clarifica o conceito de "gestão participativa"7 e define qual o tipo de
intervenção esperado por parte dos diferentes membros da organização-escola.
7 Citando o autor: "No domínio das teorias da administração em geral, a "gestão participativa" corresponde a um conjunto de princípios c processos que defendem e permitem o envolvimento regular e significativo dos trabalhadores na tomada de decisão. Este envolvimento manifesta-se, em geral, na participação dos trabalhadores na definição de metas e objectivos, na resolução de problemas, no processo de tomada de decisão, no acesso à informação e no controlo da execução" (Barroso, 1995, p.7).
12
A PARTICIPAÇÃO IX)S PAIS -OIJIARl-S PH PROFESSORl-S
Assim, e atendendo ao âmbito do nosso estudo, Barroso, afirma, em primeiro
lugar, a existência de um relativo consenso quanto às vantagens da participação das
famílias na escola para uma correcta escolarização dos alunos; em segundo lugar,
defende que o nível c modalidades de participação na gestão que os pais deverão ter
passa pelos dois tipos de papéis que eles normalmente desempenham nas relações com a
escola, ou seja, de "responsáveis pela educação dos alunos" e de "co-educadores" ,
decorrendo destes dois tipos duas modalidades de participação de natureza diferente:
• a primeira, que poderíamos chamar de participação individual e "corporativa"
está essencialmente ligada à ideia de informação, prestação de contas e de controlo;
• a segunda, que poderíamos chamar de participação social e cívica, prende-se
mais com o sentido de solidariedade, co-responsabilização e partenariado (p. 13).
Destas duas modalidades, Barroso (1995) dá primazia, no quadro da "gestão
participativa", à segunda dado que:
É na medida em que os pais se integram na escola como co-educadores que
devem participar nas estruturas formais e informais de gestão quotidiana da escola,
independentemente do direito que lhes assiste, sempre, de acompanhar a escolarização
dos seus filhos e exercer o controlo democrático sobre o funcionamento da escola (p.
14).
A valoração da palavra etimologicamente latina - participatiõne - é hoje um
imperativo ético no quadro do sistema democrático: a participação é - pelos menos
discursivamente - entendida como direito e como condição de cidadania. Todavia, e
como pensamos ter deixado claro, a utilização do conceito exige uma clarificação por
parte de quem o usa, não só pela sua polissemia como, também, pelas diversas
ressemantizações que tem vindo a conhecer. Daí que, nesta procura de clarificação do
conceito, pretendemos tão só iniciar o processo de reflexão que nos abra pontes para a
compreensão da realidade que pretendemos estudar.
8 Enquanto responsáveis pela educação dos filhos, "a participação dos pais faz-se a nível individual junto dos professores e director de turma, quer, eventualmente, a nível colectivo, através de uma Associação de Pais e Encarregados de Educação que os representam junto da direcção da escola"; enquanto co- educadores, a participação dos pais "deve ter como principais finalidades; articular as práticas escolares com as práticas educativas familiares; beneficiar do contributo dos seus membros, como educadores em actividades de natureza sócio-cducativa; associar os pais à tomada de decisão sobre questões que afectam directamente as modalidades da sua colaboração com a escola, ou que se prendem com o modo como a escola define e realiza os seus objectivos" (Barroso, 1995, p. 13).
13
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS-OMIARI-S Df- PROFHSSORHS
2.1.2 Participação Praticada: uma Topografia Complexa
A convocação dos autores que temos vindo a efectuar, se, por um lado, elucida
da problemática em questão - problemática enquanto corpo articulado de conceitos e
teorias - por outro evidencia a característica primordial do conceito de participação: a
sua pluralidade.
A participação é, efectivamente, um conceito plural e neste sentido Homem
refere que "não existe" a "participação"; não existe "a melhor" participação; existem
"participações" (2002, p. 56). E é o modelo de análise de participação praticada num
estabelecimento de educação pré-escolar construído por Homem (2002) que vamos
enunciar uma vez que consideramos que este tem potencialidades heurísticas
fundamentais para compreendermos a realidade social que é objecto do nosso estudo: a
participação dos pais num determinado - e concreto - agrupamento de escolas.
Assim, e embora no início deste capítulo tivéssemos utilizado o termo
"tipologia" para organizar as perspectivas de análise equacionadas por esta autora no
seu modelo, importa, antes de as enunciarmos de forma esquemática, referenciar que
esta utiliza o termo de classificação na enunciação dos critérios de participação e no seu
desdobramento em diversas formas. Assim, com base cm oito critérios - grau de
democraticidade, natureza e grau de regulamentação, grau de empenhamento dos
participantes, congruência com os objectivos da organização, grau de poder dos
participantes, orientação dos participantes, áreas de participação e objecto social da
participação - Homem arquitecta o seguinte modelo de análise9:
9 A autora bascou-sc nos conceitos c teorias desenvolvidas por Afonso, 1993; Ball, 1989; Bottery, 1992; Éthier, 1989; Ferreira, 1994; Flising, 1995; Galego, 1993; Keith & Girling, 1992; Lima, 1992; Macbeth, 1984; Pinhal, 1995 e Wolfendalc, 1989.
14
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OMIARHS DE PROFHSSORF.S
Grau de democraticidade
Grau de regulamentação
Grau de empenhamento
Grau de congruência
Grau de poder
Directa
Indirecta Depositária Delegada Eleitoral
Orientação
Áreas de participação
Objecto social
Espontânea/Informal Consagrada/Formalizada Regulamentada/Formal
Activa Reservada Passiva
Convergente Divergente
Informação Consulta Recomendação Aprovação Decisão
Apoio/Suporte Controlo/A vai iação Oposição
Política/Institucional Organizativa/Administrativa Técnica/Operativa
Criança individual Classe/Turma Escola
Figura 1. Tipologia da participação dos pais praticada num estabelecimento de educação pré-escolar. Fonte: Homem (2002).
Este modelo de análise de participação dos pais praticada na escola-organização,
marcado, como evidenciámos, pela pluralidade conceptual, é complementado
analiticamente, pela autora, através do questionamento de um conjunto de questões /
factores que são condicionantes da participação dos pais na escola, nomeadamente
questões de poder, de valores políticos, culturais e profissionais e, ainda, questões
ligadas à experiência dos actores, à burocratização das estruturas e à ausência de
estruturas formais ou formalizadas de participação. Estes factores apresentam-se
interligados entre si e são, de acordo com a investigadora que vimos referenciando,
fortemente dependentes das orientações e estratégias dos actores organizacionais.
Esta conceptualização teórica, entendida enquanto dispositivo de pesquisa (na
acepção dada por Berger, 1992), apresenta, como referimos inicialmente, efectivas
15
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - Ol.HARHS DE PROFHSSORHS
possibilidades heurísticas e metodológicas para descrever, interpretar e compreender a
"realidade" social singular que elegemos como objecto do nosso estudo.
Igualmente com um inegável valor heurístico no contexto da investigação sobre
participação são as tipologias da participação e da não participação na organização
escolar apresentadas por Licínio Lima (1992, 2001), as quais, enquanto modelos
conceptuais - e neste sentido assumidas, pelo investigador, como construções teóricas a
priori - são constituídos numa base multidimensional que, ultrapassando díades
antinómicas, remetem "para um quadro de análise que atenda à diversidade de situações
e de interesses, que questione os significados formais e normativos de participação, que
examine cuidadosamente as áreas de influência previstas para os actores, o tipo de
decisões que está previsto que legitimamente podem influenciar ou tomar etc." (2001, p.
81).
Decorrentes do quadro teórico-conceptual para o estudo da escola e dos
fenómenos de democracia, de participação e de autonomia em contexto escolar as
tipologias propostas por Lima inserem-se no estudo sociológico da acção organizacional
escolar que, em termos sucintos, se plasmam no modo de funcionamento díptico da
escola como organização (a escola como organização é analisada num continuum cujos
extremos são a face burocrática e a face anárquica, admitindo-se, teoricamente, dois
modos de funcionamento organizacional aparentemente antagónicos: da anarquia
organizada à burocracia racional), na consideração de dois planos organizacionais
analíticos (o plano das orientações para a acção organizacional e o plano da acção
organizacional) e na coexistência do normativismo e das infidelidades normativas
(entendendo-se a escola como locus de reprodução de regras formais - uma instância
hetero-organizada - e locus de produção de regras não-formais e informais - uma
instância auto-organizada).
Procurando conciliar diversas propostas teóricas, imagens analíticas e metáforas
interpretativas, Lima (2001) elege um conjunto de problemas de focalização no estudo
da escola enfatizando, como referenciámos, os fenómenos de participação para os quais
defende a seguinte perspectiva:
No estudo dos fenómenos de participação, para alem da perspectiva adoptada
pelo investigador, encontraremos seguramente a perspectiva oficial e as perspectivas
dos diferentes estratos sociais e organizacionais. Dificilmente convergentes, lais
perspectivas são contudo indispensáveis para dar conta da multiplicidade de
significações com base na qual se obterá uma focalização diversificada e não
16
A PART1C1PACÀQ DOS PAIS - GUIARHS Dl- PROFKSSORl-S
unilateralmente subjugada a uma única orientação ou à imposição de um único
significado. Uma das formas de o conseguir será pela adopção de um ponto de vista
estratégico, isto é, por uma concepção que embora valorize e reconheça a importância
da participação esteja aberta a integrar não dogmaticamente outras concepções,
questionando a importância, a oportunidade e as vantagens de participação do ponto de
vista dos diferentes actores (p. 83).
Trata-se de questionar os mitos construídos em tomo da participação e de
enfatizar o facto de que a participação nas organizações (na decisão e no governo)
representa um fenómeno complexo e polifavelado e, consequentemente, o pensamento
unívoco sobre as suas vantagens, benefícios e eficácia deve ser ultrapassado. De igual
modo, de um ponto de vista sociológico, e, nos regimes democráticos, a participação
não pode estar sujeita, exclusivamente, à consideração dos princípios normativos
consagrados uma vez que ela só existe, verdadeiramente, como prática, de onde uma
focalização unilateral conduz a visões unitárias e monolíticas das organizações
incidindo sobre os objectivos oficialmente perseguidos pela instituição escolar e
esquecendo quer as estratégias individuais dos actores quer a consideração de outros
espaços de intervenção e orientações que não as de ordem institucional. E são estes
espaços de intervenção (nomeadamente os espaços de autonomia) a par das dimensões
estratégicas dos actores, que levam Lima (2001) a não dispensar a análise das
dimensões da participação c da não participação, de acordo com as tipologias que a
seguir transcrevemos. Nestas, como se verifica, o autor explicita o duplo plano de
análise teórica que considera - o plano das orientações para a acção organizacional onde
a participação é sujeita a regulamentação formal-legal e o plano da acção organizacional
onde a participação é praticada ou efectivamente actualizada - bem como os critérios,
os tipos e os graus da participação e da não participação que elege.
17
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU 1 ARI-S DE PROFESSORES
Participação _
Plano das orientações para a acção organizacional
Plano da acção organizacional
Participação consagrada
Participação decretada
Participação praticada
| Directa Democraticidade "| Indirecta
— Regulamentação —
— Envolvimento —
Formal Não-formal Informal
Activa Reservada Passiva
Orientação H Convergente
Divergente
Figura 2. Tipologia da participação na organização escolar Fonte: Lima (2001, p. 80).
Não-participação
Plano das orientações para a acção organizacional
Plano da acção organizacional
Não-participação consagrada
Não-participação decretadã
Não-participação praticada
Imposta ou forçada
Induzida
Voluntária
Figura 3. Tipologia da não-participação na organização escolar. Fonte: Lima (2001, p. 89).
A explicitação das tipologias de Maria Luísa Homem e de Lícinio Lima abre-nos
- assim pensamos - a hipótese de tentarmos fazer uma topografia da participação
(enquanto representação teórica da configuração de todos os componentes que intervêm
na participação dos pais na escola), possível de ser utilizada como modelo de análise de
uma realidade singular.
18
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU lARI-S DE PROFHSSORKS
2.1.3 A Participação: uma Síntese Possível
Sendo, como temos vindo a evidenciar, a participação praticada nas
organizações educativas um fenómeno complexo e poli facetado c sendo o objecto
central do nosso estudo empírico a participação praticada pelos pais numa organização
escolar concreta, torna-se indispensável construir um modelo de análise, modelo este
decorrente de um corpus teórico-conceptual10 sobre a problemática da participação.
O quadro conceptual que vamos desenhar remete para o estudo da participação
entendida por referência a um projecto político democrático e orienta o estudo na
perspectiva de um fenómeno social e político. Sabendo que toda a "investigação é uma
questão colocada ao objecto real" (Bruyne, et ai. 1991) a interrogação sistemática que
efectuámos à realidade a apreender (da qual emerge, necessariamente, o nosso
posicionamento teórico sobre a participação) incide sobre as estratégias de participação
praticada pelos pais (formais, formalizadas e informais), sobre o jogo relacional que se
estabelece entre os diversos actores no seio da organização (margens de poder, conflitos
e negociação), sobre as modalidades, áreas, formas c objectos da participação
efectivamente praticada e ainda sobre as consequências das estratégias de participação.
Produto de uma leitura comparada entre as tipologias de Licínio Lima e de
Maria Luísa Homem e de subsequente reflexão, o nosso modelo de análise sistematiza
informação, interrelaciona critérios, correlaciona modalidades e formas e procura ser
um modelo aberto e plural ao invés de uma abordagem sincrética".
Assim, e de uma forma artificialmente analítica, consideramos a participação
praticada enquanto fenómeno político distinguindo cinco graus, subdivididos em vários
tipos e enquanto fenómeno social perspectivando focalizações triplas no que concerne
10 Tal como referem Bruyne et a/. (1991) entendemos que a teoria não é um luxo paru o investigador, é muito mais uma necessidade, o mesmo é dizer que consideramos a teoria como o próprio fundamento de pesquisa empírica, uma vez que esta determina as opções quanto às formas de abordagem do real, orienta a recolha dos dados e questiona a realidade permitindo a sua desocuitação através das suas descrição, interpretação e compreensão.
Abordagem resultante de uma mistura acrítica de diferentes posicionamentos teóricos e, consequentemente, não constituindo um sistema coerente.
19
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - QI.HARRS DE PROFESSORES
ao objecto social da participação, às áreas de intervenção e à orientação dos
participantes c, ainda, com o objectivo de compreender os contextos específicos da
participação (c neste sentido, as estruturas e os actores) coligimos um conjunto de
factores que interferem na participação olhando-os numa dupla dimensão: na dimensão
estática da organização (estruturas formais e/ou formalizadas da participação) e na sua
dimensão dinâmica (as lógicas de acção capazes de elucidar a acção organizacional, os
sentidos e as interpretações que os próprios sujeitos atribuem às suas acções).
Explicitamos, então, em pormenor, a nossa organização conceptual para o estudo
da participação:
• a democraticidade (ou o grau de democraticidade) da participação nas
organizações educativas consubstancia-se na expressão de diferentes interesses e
projectos e na capacidade de influenciar o processo de tomada de decisões,
apresentando dois níveis diferenciados: a directa (os pais intervêm directamente) e a
indirecta (a participação dos pais é mediatizada, realizada por representantes nomeados
ou eleitos);
• a regulamentação (ou o grau e natureza de regulamentação) da participação
advém da necessidade de existência de regras assumindo estas um carácter formal
(participação praticada por referência a normas formais-legais), não-formal
(participação realizada por referência a uma interpretação organizacionalmcnte
localizada das regras formais, ou seja, instituída pelos pais) c informal (participação
derivada da iniciativa e mobilização dos pais, emergente da acção organizacional e,
consequentemente, não estruturada nem formalizada);
• o envolvimento (ou o grau de empenhamento dos participantes) traduzido em
formas de participação activa, reservada ou passiva entendidas como elementos de um
coníinuum que se baliza entre uma elevada capacidade de mobilização para a acção
(activismo) e uma certa apatia ou passividade (um envolvimento mínimo, sem
expressão na acção);
• a congruência (ou o grau de congruência com os objectivos na organização)
praticada em participação convergente ou divergente sendo a primeira orientada no
sentido da realização dos objectivos formais em presença na organização (relevando,
sobretudo do conformismo sem impedir, todavia, a contestação) e a segunda dirigindo-
se em sentidos diversos ou contrários dos apontados pelos objectivos formais e, desta
forma, operando uma certa ruptura marcada por uma possível ambivalência: uma forma
20
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OUIARI-S DE PROFESSORES
de contestação ou de boicote ou uma forma de participação conducente à renovação, ao
desenvolvimento, à inovação e à mudança;
• o poder (ou o grau de poder dos participantes) que se pratica em quatro formas:
informação (forma mais elementar, enraizada no direito à infonuação e em que os pais
são informados a posteriori das decisões tomadas); consulta (forma de poder consultivo
podendo os contributos dos pais serem considerados - ou não12 - na tomada de
decisões); recomendação (radica na possibilidade de os pais emitirem sugestões ou
propostas podendo estas ser consideradas nos actos decisórios); aprovação (detenuina o
direito dos pais alterarem, rejeitarem ou validarem decisões antes da sua
implementação) e decisão (poder de decidir enquanto grau mais elevado da participação
na organização-escola).
Se ao nível daquilo a que podemos chamar a micropolítica da organização-
escola atomizámos vários graus de participação, as exigências analíticas e de
sistematização do objecto de estudo impõem-nos uma abordagem da participação
enquanto objecto social focalizada em três realidades distintas, embora inter-
relacionadas (na criança - aluno - individual; no grupo/turma; e na escola);
operacionalizada em três áreas distintas no seio da organização-escola (área politico-
institucional, organizativo-administrativa e técnico-operativa) e concretizada numa
tripla orientação congruente com as estratégias individuais ou grupais perseguidas (de
apoio / suporte, de controlo / avaliação e de oposição).
Por sua vez estas duas focalizações - indispensáveis de um ponto de vista
sociológico por permitirem uma visão que podemos chamar de caleidoscópica uma vez
que integra, quer a consideração de formas de racionalidade técnico-burocrática, quer da
racionalidade estratégica dos actores - necessitam de ser complementadas com a
ponderação de factores que interferem na concretização da participação e que são
dependentes, quer das estruturas formais e/ou formalizadas da organização escolar
(elegendo-se aqui questões como o formalismo das estruturas e dos processos de
participação decorrentes do enquadramento normativo e regulamentar, aquilo a que em
sentido lato designamos por factores administrativos condicionantes das estruturas de
informação, de comunicação e de poder), quer das acções e interacções concretas
desenvolvidas no seio da organização-escola decorrentes das orientações, sentidos e
estratégias dos actores.
12 Aqui a participação é envolvida numa encenação pseudo democrática sendo essencialmente falaciosa ou manipuladora.
21
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OU lARHS PH PROFKSSORHS
Enquanto síntese possível da nossa radical indagação sobre a participação
contextualizada no seio de uma organização específica - a escola - esta apropriação
teórica pennite-nos lançar um olhar investigativo sobre a participação dos pais na
escola. EvStc é o propósito do item seguinte.
2.2. Os Pais, A Escola, A Participação: uma Leitura Diacrónica
A participação dos pais na escola é um direito institucionalmente consagrado ao
nível da Constituição da República Portuguesa, e está, hoje, regulamentada e legitimada
através de um conjunto de diplomas legais decorrentes da Lei de Bases do Sistema
Educativo: Lei n.0 46/86 de 14 de Outubro. Este texto legal determina um modelo de
administração escolar sensivelmente diferente daquele que se encontrava em vigor, até
essa data, no que se refere à participação democrática de todos os implicados no
processo educativo, nomeadamente os pais. Marca um ponto charneira no que concerne
às questões da participação inscrita na lei ou com outros normativos jurídico-
administrativos.
Embora o nosso olhar investigativo incida em especial no espaço temporal
posterior à aprovação da LBSE, importa referir alguns momentos essenciais do pós
Revolução de Abril13 em que, ao nível da legislação, ficou consubstanciada a
participação dos pais. Assim, e mau grado a "política de ziguezagues" - na feliz
expressão de Silva (1994) - quatro são os momentos a referir:
1. Despacho 40/75 de 11 de Agosto - Este normativo considera que às escolas,
"cumpre incentivar a participação dos pais sempre que possível através das suas
associações, autarquias, comissões de moradores e de aldeias". Embora, não com
carácter obrigatório, abria-se caminho à iniciativa das escolas no sentido de incentivar
programas de envolvimento de vários interlocutores, entre eles os pais.
13 Durante o período anterior ao 25 de Abril de 74, isto é, na vigência do Estado Novo, segundo Afonso (1993, p. 140) "a política educativa do regime centrava-se na inculcação de valores tradicionalistas e na doutrinação ideológica". O centralismo e o autoritarismo enformam o modelo de escola e a participação dos pais não era sequer equacionada.
22
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -01,1 lARHS PH PROM-SSORKS
2. Lei n0.7/77 de 1 de Fevereiro - constitui a primeira lei das Associações de
Pais, embora sujeita a futura regulamentação por parte do Ministério da Educação (a
qual surgirá em 1979). Este documento ''considera que a colaboração entre o Ministério
da Educação e Investigação Científica e as associações de pais se integra nas obrigações
do Estado de cooperar com os pais na educação dos seus filhos" (art0.l, n0.l). E
reconhecida às Associações de Pais "o direito de dar parecer sobre as linhas gerais de
educação nacional e da juventude e sobre a gestão dos estabelecimentos de ensino"
(art.0 n0.2). Limita a intervenção dos pais, enquanto movimento organizado, a dar
pareceres sobre as políticas gerais de ensino.
Esta lei, quando regulamentada pelo Despacho Nonnativo n.0 122/79 de 1 de
Junho, considera necessário dar às Associações de Pais a possibilidade de
desempenharem as funções que de direito lhe pertencem nas relações Escola-Família.
Assim, estas devem "emitir pareceres sobre o regulamento interno" dos
estabelecimentos de ensino e poderão "participar", através de um representante "sem
direito a voto", nas três reuniões ordinárias anuais do conselho pedagógico, com
excepção das reuniões onde se discutam assuntos referentes à avaliação
(estabelecimentos do ensino preparatório e secundário).
3. Lei Constitucional n.0l/82 de 30 de Setembro - Determina "o direito de
professores e alunos participarem na gestão democrática das escolas" (n.0 1 do art.0 77)
e regula as formas de participação das associações de professores, de alunos, de pais,
das comunidades e das instituições de carácter científico na definição das políticas de
ensino (n.0 2 do art.0 77). Note-se que ao indicar os professores e alunos como os grupos
com direito a participar na gestão das escolas, exclui claramente o grupo dos pais, o que
na opinião de Pedro Silva (1994; 313) "parece revelar hesitação clara por parte do poder
político no que parecia ser uma caminhada gradual, mas segura no sentido da afirmação
do movimento associativo dos pais".
4. Decreto-Lei n.0 315/84, de 28 de Setembro - torna extensivo às associações de
pais e encarregados de educação dos alunos de qualquer grau ou modalidade de ensino
o disposto na lei 7/77 de 1 de Fevereiro, ou seja, estende a aplicação da Lei das
Associações de Pais às escolas do ensino primário e jardins-de-infância14.
14 Apesar de ler havido um sinal, por parte do poder político, de envolver os pais no processo educativo dos filhos ao nível do ensino primário logo em 1974, a aprovação da I.a Lei das Associações de Pais - Lei n0 7/77 - exclui este sector, e foram precisos mais sete anos até esta lei se tornar extensiva ao ensino primário, assim como aos jardins-de-infância.
23
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFI-SSORHS
Em 1986, a assembleia da República, aprova, exprimindo o consenso de partidos
políticos e sectores educativos, a Lei 46/86 - LBSE. Esta lei, determina, no art.0 3
(alínea 1) que o sistema educativo se organize de modo a:
Contribuir para desenvolver o espírito e a prática democrática através de
adopção de estruturas c processos participativos na definição da política educativa, na
administração e gestão do sistema escolar e na experiência pedagógica quotidiana, em
que se integram todos os intervenientes no processo educativo, em especial, os alunos,
os docentes e as famílias.
Para dar cumprimento ao princípio geral de participação estabelecido na LBSE,
é, em 1990, publicada uma nova lei das Associações de Pais - Decreto-Lei n0 372/90 de
27 de Setembro. Este decreto estabelece "o regime de constituição, os direitos15 e os
deveres a que ficam subordinadas as associações de pais" (art.0 1).
A actualização desses direitos vem a ser efectuada, normativamente, pelo
Decreto-Lei n.0 172/91 de 10 de Maio, o qual institui um novo regime de direcção,
administração e gestão dos estabelecimentos de educação pré-escolar, ensino básico e
secundário, regime este já subjacente à Lei de Bases do Sistema Educativo. Este
diploma, permite, segundo alguns autores, a participação dos pais na verdadeira acepção
da palavra, ou seja, a participação na tomada de decisões. Neste sentido, afirma
Marques que "Portugal tem, neste momento uma legislação digna de um país
democrático da Comunidade Europeia. Professores e famílias partilham entre si o poder
deliberativo e assumem em conjunto responsabilidades nos órgãos de direcção da
escola" (1993, p. 46).
No entanto, se este modelo consagra a participação alargada da comunidade na
vida da escola está igualmente eivado de alguma ambiguidade: os pais podem ser
encarados como verdadeiros parceiros no processo educativo ou, simplesmente, como
auxiliares (reduzindo-se, deste modo, a participação das famílias ao que se poderá
chamar, utilizando a expressão de Parterman, de pseudo-parlicipação16.
15 Silva faz uma análise dos direitos das associações de pais consignados neste diploma, referindo que os dois primeiros direitos - participar na definição da política educativa e na elaboração de legislação - realizam-se através das respectivas confederações e os cinco seguintes - participar nos órgãos pedagógicos, participar nos órgão de acção social, intervir nas actividades extra-curriculares, reunir com o concelho directivo e beneficiar de apoio documental - situam-se ao nível da escola; o último respeita a isenção de emolumentos e taxas (1994, p. 316). 16 Citado por Afonso (1993, p. 138),
24
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OLIIAR1-S DE PROFESSORl-S
Em termos jurídico-normativos, o último documento vem, por fim, consagrar a
inserção dos pais na escola, pressupondo o apoio e a participação alargada de toda a
comunidade, proporcionando-se, desta forma, que as escolas possam encarar os pais
como verdadeiros "parceiros" no processo educativo e dando-se relevo a uma das
lógicas 17 que enformam a criação de uma produção legislativa (c o quadro normativo
decorrente) - a lógica comunitária, a qual enquadra, segundo Barroso;
Os que defendem a "autonomia" das escolas como um processo social pelo
qual os professores, os pais, os alunos e outros cidadãos, se mobilizam, numa
determinada escola para, num quadro de orientações gerais de um sistema público
nacional de ensino, obterem um compromisso e empreenderem uma acção colectiva - a
construção de um projecto educativo e a prestação de um serviço público local de
educação. (1999, p. 19)
Em síntese, esta nossa leitura diacrónica da produção legislativa, permite-nos
concluir que - e parafraseando Barroso - a influência das famílias (mais concretamente
dos pais dos alunos) na educação escolar dos filhos, foi, em Portugal, sempre reduzida e
só a partir da década de 70, com o surgimento e desenvolvimento do movimento
associativo dos pais, se começa a dar os primeiros passos os quais são consolidados, em
meados da década de 80, com a consagração do direito de participação dos pais na
gestão escolar, o que, enfatiza o autor, ficou muito longe de ser concretizado (1999, pp.
23-24).
De facto, pese embora as alterações introduzidas ao nível jurídico-normativo da
participação das famílias nas escolas (fruto de decisões administrativas e legislativas, o
mesmo é dizer decretar a participação) - elas não se actualizaram em efectivas
mudanças, dado que, envolvendo pessoas e instituições, iriam implicar,
necessariamente, maiores ou menores mudanças de atitudes, alteração de relações,
reaprendizagens, e inclusivé, a reorganização na própria instituição a vários níveis.
O quadro normativo tem, ainda, segundo Barroso, ao nível da prática
perspectivado uma relação dos pais com a escola, a dois níveis:
- "Responsáveis pela educação dos alunos": o pai e a mãe como responsáveis
legais da educação dos seus educandos no âmbito do quadro das normas definidas ao
17 Diz-nos J. Barroso: "No caso da decisão sobre o processo de reforço da autonomia das escolas, em Portugal, é possível agrupar os diferentes interesses e opiniões em presença (no interior e exterior do próprio Ministério da Educação) em tomo de quatro lógicas: estatal, de mercado, corporativa e comunitária" (1999, p. 18).
25
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS-OLHARES PH PROFESSORES
nível educacional, no respeito pelas competências profissionais dos professores, na
disponibilidade de meios para acompanhar a escolarização do seu filho e interferir na
defesa dos seus interesses. Neste sentido, a participação dos pais faz-se, quer a nível
colectivo através da associação de pais e encarregados de educação que os representam
junto da direcção da escola, quer, nomeadamente, ao nível individual, junto dos
professores e director de turma.
- "Co-educadores": considerando-se as famílias como estruturas sociais que têm
um impacto determinante na socialização das crianças, é de extrema importância que a
gestão e organização da escola permitam o envolvimento dos pais como co-cducadores.
As principais finalidades desse envolvimento siluam-se ao nível da articulação das
práticas escolares com as práticas familiares, beneficiação do contributo dos seus
membros, como educadores, em actividades sócio-educativas, associação dos pais à
tomada de decisão sobre questões relacionadas com as modalidades da sua colaboração
com a escola ou relacionadas com o modo como a escola realiza e define os seus
objectivos (1995, p. 13).
Num outro registo discursivo, Formosinho refere, ainda, que a participação dos
pais na escola pode abranger três vertentes: "o de produtor natural, o de utilizador
imediato dos serviços e o de utilizador cliente". Na vertente de produtores naturais, os
pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos e nesta perspectiva têm o
direito a serem informados e ouvidos sobre essa mesma educação. Na qualidade de
utilizadores imediatos dos serviços ou beneficiários, os pais têm o direito não só a serem
informados, mas também, têm a possibilidade de exercerem uma acção fiscalizadora
sobre os serviços prestados pela escola. Na vertente de utilizadores-clientes, os pais têm
o direito de não apenas escolher a escola que o filho irá frequentar, mas também,
influenciar a orientação educativa da mesma. (1989, pp. 75-76)
Em termos conclusivos, e de novo socorremo-nos de uma asserção assaz
pertinente de João Barroso, o qual diz que na evolução da administração da educação
(em particular nos modos de regulação ao nível da escola), "os pais dos alunos têm visto
a sua acção variar entre a dependência do "súbdito", o individualismo do "cliente", a
confiança do "consumidor" c o interesse colectivo do "cidadão".
E é enquanto "cidadãos" (ou "co-educadores", ou "parceiros" - expressões
similares, da mesma carga denotativa) que os pais, nas dinâmicas políticas que têm
26
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OUIARHS DE PROl-HSSORHS
vindo a regular, ao nível de escola, a evolução de administração da educação — têm
vindo a posicionar-se como aliados dos professores e a enformar medidas de abertura da
escola à comunidade, preconizando, cm última análise, um modelo de escola
"comunidade educativa".
Este modelo foi apresentado pela primeira vez em Portugal pela Comissão da
Reforma do Sistema Educativo na década de 80 e apareceu contraposta ao modelo de
escola serviço local de Estado, sendo realçado que, por detrás das duas concepções de
escola, há duas concepções políticas diferentes de democracia
(participativa/representativa) e dois modelos diferentes de administração pública
• j 18 (descentralizado/centralizado).
Era, então (num período em que a Reforma do Sistema Educativo se impunha
política e socialmente) defendido que na concepção de escola enquanto comunidade
educativa estava um dos referenciais de mudança dado que "entronca[val decididamente
nas principais propostas configuradoras de um movimento em curso nos principais
países do mundo pela renovação e a reforma da escola, enquanto organização social
destinada à educação" (Isabel Estaço, 2001, pp. 48-49).
Se a concepção jurídico-administrativa de escola comunidade-cducativa é datada
dos finais dos anos oitenta e se a sua tradução jurídica foi, ao longo dos últimos anos,
eivada de fragilidades e, mesmo, infidelidades, também é bem patente que a
investigação educacional tem vindo a actualizar este conceito, dando-lhe uma dimensão
organizacional e referindo-o como um dos paradigmas de uma escola alternativa. Neste
sentido, a escola é pensada como:
. . . comunidade educativa, sistema local de aprendizagem e formação: grupo
constituído por alunos, professores, pais e encarregados de educação, representantes do
poder autárquico, económico e social que, compartilhando um mesmo território e
participando de uma herança cultural comum, constituem um todo, com características
especificas e com uma dinâmica própria (Berta de Macedo, 1995, p. 68).
Enquanto espaço de ilustração cultural, a escola comunidade-educativa é mais
favorável à participação das famílias e encarregados de educação na gestão escolar onde
está patente o princípio da participação no sentido cm que é permitido aos
intervenientes - alunos, professores, funcionários, pais, autarcas, representantes dos
18 Seguimos de perlo a análise de Lima, Lícinio (1992) A Escola como Organização e a Participação na Organização Escolar (p. 97-99).
27
A PARTICIPAÇÃO DOS 1'AIS - OLHARHS PH PROFL-SSORHS
assuntos económicos, culturais e sociais - a possibilidade de tomada de decisões numa
interacção escola/meio. Esta questão da participação dos pais na condução da política da
escola, isto é, o seu poder de decisão nas orientações estratégicas e, consequentemente
na definição, do seu Projecto Educativo vem na sequência das alterações que desde a
década de oitenta se têm verificado no papel do Estado nos processos de decisão
política e de administração da educação. Estas alterações têm tido como sentido a
assunção da escola como comunidade administrativa e social autónoma onde se
desenvolvem processos efectivos de participação e de liderança c substancia-se,
segundo Isabel Estaço (2001), "na transferência de poderes e funções do nível central
para o nível local, reconfigurando-se a escola como elemento central da gestão do
sistema e a comunidade local (essencialmente os pais dos alunos) como parceria
primordial na tomada de decisões" (p. 52).
Sendo esta uma realidade em termos de política educativa dos últimos anos
(lembramos o referenciado aquando da análise do Decrcto-Lci n.0 1I5-A/98), parece-
nos pertinente, no entanto, deixar patente o pensamento de Manuela Teixeira (1993) que
refere "o futuro dirá se a participação aconteceu e se a partir da participação se chegou a
uma organização mais eficaz o que, no caso vertente, significará uma organização
promotora de sucesso escolar e social dos actores do processo educativo" (p. 93). Tudo
dependerá da forma como as escolas se organizarem, da motivação que move os
representantes dos pais e da capacidade dos diferentes actores em desenvolver
programas que chamem à escola todos os pais, mesmo os difíceis de alcançar^. Só
assim se conseguirá a participação entendida como direito e como condição de
cidadania.
19 Cf. Davies (1989) Esta expressão foi usada por este autor no livro "As Escolas e as Famílias em Portugal - realidade e perspectivas " para referir "os pais que têm pouco ou nenhum contacto com a escola" (p. 24).
28
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES PB PROFESSORES
3 FAMÍLIA, ESCOLA, FORMAÇÃO:
UMA TRIANGULAÇÃO INELUTÁVEL
O estudo da rede complexa de ligações e interdependências entre famílias c
escola não é, apenas, necessário, é indispensável quando se aborda o problema da
formação, da educação.
Neste sentido, procuramos, neste capítulo, reflectir, num primeiro momento,
sobre o conceito de família e sobre um dos possíveis modelos de análise deste grupo
social primordial na organização da sociedade e, num segundo momento, sobre uma
possível relação triangular entre as três componentes - família, escola, formação -
procurando encontrar elos entre família e escola, não esquecendo que ambas se
interinfluenciam em permanência no processo formativo das crianças/jovens e dos pais.
3.1 A Família: do Conceito ao Modelo de Análise
O conceito de família, no sentido sociológico do termo, tem sido conotado com
uma variedade de imagens, pelo que "encerra alguma ambiguidade devido a múltiplas
formas da sua utilização, quer na linguagem corrente, quer na linguagem científica"
(Covas, 1993, p. 106).
Segundo a autora, o termo família aplica-sc, na nossa sociedade, vulgarmente
"ao conjunto de indivíduos ligados por laços de consanguinidade e eventualmente por
aliança e, também, ao grupo de pessoas que vive na mesma casa ou fogo, geralmente os
29
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARIAS DE PROFI-SSORHS
pais c filhos", definindo-o como "um grupo social que tenha como principais
características a coabitação e a presença de laços de parentesco" (Covas, 1993, p.107).
Esta investigadora, recorrendo a Levy-Strauss, salienta que, a família como
grupo social, apresenta pelo menos três características:
Tem a sua origem no casamento; compreende o marido, a mulher e os filhos
nascidos dessa união e eventualmente outros parentes aglutinados a este núcleo; os
membros da família estão unidos por laços legais, por direitos e obrigações de natureza
económica, religiosa ou outra e por uma rede precisa de direitos e interdições sexuais e
por um conjunto variado e diversificado de sentimentos psicológicos como o amor, o
afecto, o respeito, o medo, etc.... (p. 108).
No entanto, a autora considera que esta definição não é satisfatória, no que
respeita à composição e estrutura do agregado familiar. Preferencialmente, considera ser
de utilizar o conceito de grupo doméstico tal como foi estabelecido por Peter Laslett
(1978), a saber:
O grupo doméstico é constituído por indivíduos que devem possuir as
seguintes características: viverem em coabitação (critério de localização), partilharem
um conjunto de actividades (critério funcional) e estarem ligados por laços de
consanguinidade ou de aliança (critério de parentesco). Os dois primeiros critérios são
considerados como universais, enquanto o terceiro é geralmente considerado caso a
caso por poder haver indivíduos no grupo doméstico que não partilham os laços de
parentesco (Covas, 1993, p. 108).
Por sua vez, Saraceno e Naldini, numa obra recente, utilizam na definição do
conceito de família, características já identificadas pelos autores anteriores, e
sintetizam-nas nos três pontos seguintes:
a) A relação de parentesco, de afinidade ou de afectividade que une várias
pessoas entre si;
b) a coabitação, isto é, a convivência de todos os membros no mesmo
alojamento e a consequente condição da sua residência habitual na mesma comunidade;
c) a unicidade do orçamento, pelo menos por parte das entradas e das despesas
destinadas à satisfação das necessidades primárias da família, tais como a alimentação e
os serviços da habitação (2003, p. 53).
30
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS ^ OLHARES DE PROFESSORHS
Enfatizam, estes autores, a questão da afectividade, salientando que ao longo do
ciclo de vida da rede familiar (com quase inevitáveis separações e posteriores regressos)
não se pode, naturalmente, ignorar ou subestimar as relações afectivas:
A afectividade é um forte elemento subjacente às trocas parentais, e constitui,
talvez, mais do que a causa, a sua legitimação ideal . . . É neste afecto permutado, mais
do que no dever da obediência e do respeito, ou no controlo da transmissão patrimonial,
que se baseia agora a continuidade das gerações e da pertença a uma parentela comum
(p. 112-113).
Interessante é, na economia deste estudo, referir igualmente o conceito
institucional de família. Assim, e após o recenseamento de 1981, a definição anagráfica
de família foi alterada, privilegiando o facto de se habitar no mesmo domicílio, a
existência de relações afectivas, institucionalizadas ou não e eliminando o requisito
referente ao orçamento comum como elemento identificador de uma família.20
Verificamos então que, a heterogeneidade das definições relativas ao conceito de
família leva-nos necessariamente à opção, em termos de estudo, de uma definição de
tipo "operativo", como sustenta Walters (1982), isto é, "ligadas aos problemas
concretos de investigação, ou de política social, que de vez em quando se colocam"
(citado por Saraceno e Naldini, 2003, p. 57).
E são os problemas concretos da investigação que nos fazem adoptar por um
lado, de forma abrangente, o conceito de família como um sistema complexo de
múltiplos processos interactivos e, por outro lado, utilizar o termo "pais", entendido tal
como o faz Homem - recorrendo a Bhering & Siraj-Blatchford - "não só os
progenitores biológicos femininos e masculinos, como também os encarregados de
educação, os familiares largamente responsáveis, em termos temporais, pelas crianças e,
ainda, aqueles que tendo com estas algum tipo de ligação se constituíam como
interlocutores privilegiados" junto da escola; do ponto de vista da escola, este termo
tomou-se "consagrado", assumindo relevo pelo seu carácter funcional (2002, p. 14).
Por outro lado, impôs-se-nos, no contexto deste estudo, acentuar que a família
tem experimentado nas últimas décadas inúmeras mudanças de entre as quais
20 Em Portugal, o conceito de família utilizado no XIX Recenseamento Geral da População de 2001 aproxima-se desta definição: "O conjunto de indivíduos que residem no mesmo alojamento e que têm relações de parentesco (de direito ou de facto), entre si, podendo ocupar a totalidade ou parte do alojamento ... As empregadas domésticas residentes no alojamento onde prestavam serviço são integradas na respectiva família" (Instituto Nacional de Estatística, 2003, p. 56).
31
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DL- PROM-SSORI-S
sobressaem as relativas à estrutura do sistema familiar e às práticas relacionais. Segundo
Covas estas alterações, consequência das transformações do sistema produtivo e das
políticas de emprego, traduziram-se cm "diminuição da nupcialidade, aumento do
número de famílias em situação de união de facto, aumento do divórcio, aumento das
famílias monoparentais e lares de um único indivíduo, sendo grande parte deles
constituídos por idosos" (2001, p. 232).
Outra investigadora - Pérez — corroborando a opinião de Covas refere-se aos
contínuos reajustes e reorganizações da família, os quais, na sua perspectiva, derivaram
de:
La modificación dei status sociolaboral de la mujer a partir de su
incorporación al írabajo fuera dei hogar y el propio desarrollo social que se apoya en
nuevas formas de organización económica, laboral y política, nuevos valores y estilos
de vida (2003, p. 160).
Acrescenta que, junto da estrutura clássica familiar, baseada no matrimónio e na
procriação (família nuclear) surgiram novas organizações familiares, situação que
cresceu rapidamente na sociedade portuguesa, nomeadamente a partir dos anos noventa,
dando lugar ao que alguns estudiosos interpretam como indicadores da "crise da família
como instituição" (Pérez, 2003, p. 161).
Efectivamente, ao longo das últimas décadas, a família como instituição tem
sido alvo de transformações significativas de onde, parafraseando Covas, aspectos como
o divórcio, o declínio da natalidade, a delinquência juvenil, o aumento do número de
mulheres no mercado de trabalho e a progressiva individualização da sociedade vieram
a se constituir em novos temas de reflexão, ampliando-se o âmbito da análise
sociológica e originando-se inúmeras investigações enquadradas num contexto temático
designado por desorganização familiar ou por crise da família. Todavia, mais que falar
em crise da família, pode-se evidenciar que as transformações no contexto sócio-
cultural têm contribuído para reorganizar e fazer emergir novas estruturas familiares21
que coexistem com as formas tradicionais da organização familiar, incorporando uma
variedade de formas adoptadas no nosso contexto social (1993, p. 96).
21 Saraceno e Naldini, ao referirem-se à diversificação das estruturas familiares nas sociedades avançadas contemporâneas e, mais especificamente, da diversidade dos ciclos da família, salientam: "por um lado, as famílias nucleares conjugais dividem-se para formar famílias monoparentais (ou extensa em regime de recoabitação); por outro lado, famílias unipessoais (ou extensas em regime de recoabitação). Algumas destas famílias podem formar outras posteriormente, dando lugar às chamadas famílias reconstituídas ou recompostas, que poderão, por seu lado, voltar a dividir-se". (2003, p.62)
32
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARL-S DE PROFESSORES
Na mesma linha de pensamento, Saraceno c Naldini, lançando um olhar de
conjunto sobre as transformações das estruturas e dimensões das convivências
familiares enquanto fenómeno contemporâneo, salientam que estas são consequência de
comportamentos individuais e familiares e também de processos demográficos
diversificados. Especificam que se assistiu a um aumento do número de famílias
superior ao aumento da população, a uma redução da dimensão das próprias famílias e a
uma diferente distribuição percentual dos vários tipos de estrutura familiar. O aumento
do número de famílias confirma, segundo os autores, a tendência para a "nuclearização
da família" que relacionam com o "alongamento da duração de vida" e a "redução dos
nascimentos", os quais modificando a dimensão da família, "toma mais evidente o
desequilíbrio entre aumento da população e aumento das mesmas" (2003, p. 60).
Em relação à redução da dimensão das próprias famílias e na perspectiva dos
investigadores, esta assinala uma alteração no ciclo de vida familiar, quer na fase de
formação de um novo núcleo, quer na fase de conclusão do núcleo mais velho. Neste
sentido, mais casais iniciam a sua vida familiar sozinhos, do ponto de vista da
convivência, e os mais idosos terminam a sua história familiar e pessoal também
sozinhos em sua própria casa. Daí que a nuclearização da família comporta uma redução
das famílias extensas em que o modelo de família neolocal se difunde quer entre os
casais jovens quer entre os próprios idosos.
Por outro lado, assiste-se hoje, a um regresso das famílias extensas, originadas
por um aumento da instabilidade conjugal e pelo envelhecimento da população,
contrariamente à forma clássica de formação da família extensa tradicional.
Actualmente a família extensa deriva de duas famílias autónomas que se juntam,
exemplificando os autores com duas situações: uma, de um casal com filhos que acolhe
em casa um progenitor viúvo ou fragilizado; outra, o casal idoso ou progenitor viúvo
que acolhe em sua casa um filho ou filha que terminou o casamento. Neste contexto,
Saraceno e Naldini, baseando-se noutros investigadores, denominam estas situações de
recoabitação, as quais despoletam "processos de renegociação dos diferentes limites
internos e externos da família, dos espaços, do ritmo do tempo c da autoridade cm
relação à forma clássica de formação da família extensa" marcando uma transformação
22 Saraceno e Naldini referem que o tenno de família conjugal-nuclear neolocal é muitas vezes utilizado "de modo intercambiável, para indicar a família que é composta de um único núcleo conjugal (marido, mulher mais os seus eventuais filhos), que vive por conta própria e não juntamente com outros núcleos conjugais. Por isso é chamada também neolocal, para assinalar que a constituição de um núcleo coincide com o estabelecimento de uma nova sede de habitação" (2003, p. 33).
33
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
do ciclo de vida ao nível individual e ao nível familiar (2003, pp. 61-62). Na
arquitectura do pensamento dos autores, a diversificação dos ciclos de vida da família,
dividem-se:
Por um lado, as famílias nucleares conjugais dividem-se para formar famílias
monoparentais (ou extensas em regime de recoabitação); por outro, famílias unipessoais
(ou extensas cm regime de recoabitação). Algumas destas famílias podem formar outras
posteriormente, dando lugar às famílias reconstituídas ou recompostas, que poderão, por
outro lado, voltar a dividir-se (p. 62).
Também hoje, uma família pode alterar a sua estrutura ao longo do ciclo de vida,
quer seja por motivos ligados a opções individuais quer a questões de sobrevivência, de
acordo com as entradas e saídas dos indivíduos de um agregado para outro. De onde, a "yx
variedade das estruturas familiares actuais — famílias monoparentais , famílias
reconstituídas24, o aumento de famílias em união de facto e as famílias unipessoais25 -
constituir um fenómeno de importância inelutável quer ao nível da transformação na
estrutura familiar quer das práticas relacionais e, ao mesmo tempo, um problema social.
Numa breve caracterização das famílias portuguesas no limiar do século XXI,
Daniel Sampaio (1995) prevê as seguintes transformações:
1) Uma diminuição da fecundidade que originará a diminuição do número de
elementos da família;
2) O aumento do número de divórcios, com o consequente aumento de famílias
monoparentais, famílias reconstruídas e um maior número de homens e mulheres a
viver sós;
3) O aumento da esperança média de vida e consequente envelhecimento da
população, o que pode trazer uma revalorização do papel dos avós no seio da família;
4) O aumento da coabitação juvenil que pode originar uma reformulação de
valores junto dos jovens, dada a diminuição de figuras adultas cm presença;
5) A autonomia e valorização profissional da mulher, o que alterará
significativamente os papéis tradicionais das mães (citado por Diogo, 1998, p. 49).
23 Refere-se especialmente aquelas "com um progenitor (geralmente a mãe) não viúvo e filhos menores, após a ruptura do casamento ou, mais raramente, da procriação fora do casamento" (Saraceno e Naldini, 2003, p. 71). 24 Fala-se de família reconstituída ou recomposta, quando "pelo menos um dos dois cônjuges provém de um casamento anterior ... e incluí filhos nascidos desse casamento" (Saraceno e Naldini, 2003, p. 75).
São chamadas famílias unipessoais "em consequência de um mais acentuado envelhecimento da população, mas também da maior presença de pessoas que vivem sozinhas cm idades jovens ou médias (neste segundo caso igualmente em consequência da ruptura do casamento) " (Saraceno e Naldini 2003 P- 71).
34
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DE PROFESSORES
No entanto, a família como instituição continua a ser valorizada pela sociedade c
persiste sobre ela a legitimação social para desempenhar as suas funções básicas mesmo
com as transformações ao nível da sua estrutura e funcionamento.
De entre as transformações que temos vindo a enunciar, as maiores modificações
incidem ao nível dos papeis, das relações e sistemas de regras que fazem parte do
funcionamento da estrutura familiar. Citando Covas (2001), a autora evidencia que:
As famílias apresentam particularidades únicas na forma como estruturam os
géneros26 masculino e feminino e se relacionam com as várias gerações, no tipo de
comunicação interna que estabelecem entre os seus membros, nos valores que
defendem, nos objectivos que formulam, na forma como utilizam e desenvolvem os
seus recursos humanos e materiais, na forma como estabelecem metas e
constrangimentos nos percursos e trajectórias da vida pessoal dos seus membros e da
vida familiar (p. 233).
Esta investigadora apresenta três tipos de sistemas familiares que divergem entre
si ao nível da interacção com as estruturas sociais, ao nível do plano de vida, ao nível na
capacidade de resposta aos problemas e também da tomada de decisão, a saber: tipo
?7 28 29 morfogénico , tipo morfostático ou tipo espontâneo .
De acordo com a autora, estes tipos de família são vulgares em qualquer
sociedade ocidental, daí a importância de formas mais diversificadas e solidárias de
socialização dos indivíduos, permitindo-lhe a aquisição de novas competências. Perante
o que foi referido anteriormente, não será abusivo iníérir que muitos dos actuais
contextos familiares constituem-se como ambientes intrinsecamente complexos nem
26 Saraceno e Naldini (2003) referem que o termo género "foi introduzido pelos estudiosos norte- americanos para indicar o modo como, a partir da existência de dois sexos, cada sociedade constrói regras e percursos mais ou menos obrigatórios, que regulam os destinos individuais dos pertencentes aos dois sexos e às relações entre si. Ao mesmo tempo elaboram modelos de interpretação da realidade que atribuem valores e significados diversos, e geralmente desiguais, das experiências e actividades atribuídas aos dois sexos. A família é um dos principais espaços em que este processo ocorre e se reproduz, embora não seja o único. Fala-se por isso de estruturas de género, em vez de papéis sexuais - forma simplista -, ou de relações entre os sexos, para indicar este complexo processo de construção social e simbólica da pertença e das relações de sexo, que constitui uma verdadeira estrutura social" (p. 92). 27 Covas (2001), define o tipo morfogénico com características "mais abertas aos desafios c às mudanças . . . manifestando maior capacidade de diferenciação, e, consequentemente, tomam-se mais flexíveis no julgamento e na adesão às inovações sociais acompanhando mais criteriosamente a dialéctica da mudança e da modernidade" (p. 234). 28 Ao nível do tipo morfostático. Covas refere que as famílias inseridas neste grupo caracterizam-se por "serem menos autónomas, terem menos capacidade de diferenciação, por oferecerem mais resistências aos desafios e às mudanças sociais" (p. 235). 29 ■ "■ • • • • Ao tipo espontâneo, a autora associa "as famílias inexperientes, precariamente constituídas, vivendo algo anarquicamente, utilizando uma prática de gestão do dia a dia" (pp. 236-237).
35
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DC PROFESSORAS
sempre geradores de atmosferas propícias ao desenvolvimento equilibrado das crianças
e dos jovens.
E, neste contexto, ganha inegável importância (ao nível analítico-interpretativo
deste estudo) considerar o conceito de papel™ dos pais. Assim, parafraseando Covas
(1993), a família têm-se caracterizado por possuir uma estrutura de papéis altamente
normativa, existindo obrigações e privilégios distintos atribuídos aos maridos, às
esposas, às mães, aos pais (homens) consoante o meio ou a classe social a que
pertencem, embora mais recentemente se assista a uma maior flexibilização da estrutura
dos papéis familiares.
Esta mesma flexibilização é salientada por Pércz, a qual considera que as novas
estruturas familiares tendem a atribuir os papéis de modo mais igualitário e simétrico,
sendo que a imagem tradicional - do pai que ostenta a autoridade e a mãe que cumpre a
função de educadora e doméstica - se vai tomando obsoleta.
E, se são patentes, as transformações na evolução do sistema familiar ao nível
dos papéis, também o são ao nível das relações e sistemas de regras que orientam a sua
organização e o seu funcionamento. Assim, as regras que regem as relações entre
pai/mãe-filhos tem, na opinião de Pérez, sofrido transformações, na medida em que
experimentam ajustes e reorganizações ao longo do ciclo vital da família, levando a que
o próprio sistema familiar as modifique tendendo a haver maior negociação de regras
entre os pais e os filhos resultando num clima familiar positivo e favorecendo a
autonomia e individualidade dos seus membros. Sintetiza, a autora que vimos seguindo,
esta problemática do seguinte modo:
Las regias hacen, por así decirlo, más predecihle el sistema, lo que favorece su
esíabilidad. Indican las fronteras o limites dei comportamiento de cada miembro en
relación con los roles y funciones que confieren legitimidad al sistema. En aquellas
famílias donde las regias implícitas no sean aceptadas intersubj clivam ente o resulten
ambíguas, íienden a surgir problemas en el interior de la família (conjlictos entre
padres e hijos, entre la pareja, o entre ahuelos y el subsistema cónyugeJpareja, etc.)
(2003, p. 163).
30 Papel é um conceito sociológico que insere versatilidade, dada a diversidade da sua utilização quer ao nível científico, quer não científico. Covas (1993), citando Nye e Gecas, refere que "estes autores identificam pelo menos duas tradições sociológicas distintas em relação ao conceito de papel: a tradição estrutural ou estruturalista que define o papel como um elemento da cultura imprimindo-lhe um carácter normativo inerente a uma determinada posição ou status social e a tradição interaccionista que dá mais ênfase às qualidades emergentes dos papéis" (p. 114). Assumimos, neste estudo, o conceito de papel enquanto um conjunto de expectativas culturais de comportamento, atitudes e valores que nos permitem analisar a participação dos pais na escola considerando as eventuais diferenças de género.
36
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROl-ESSORl-S
Verificamos, pela citação acima transcrita, que o modelo de análise da família,
que vimos seguindo, se insere numa perspectiva sistémico-dinâmica. Esta perspectiva'1
afigura-se-nos com grandes potencialidades heurísticas para compreensão c
interpretação das inter-relações escola-família-formação.
Assim, do ponto de vista sistémico, a família define-se como um tipo especial de
sistema social. A título exemplificativo. Covas (1993) refere que "as famílias
constituem de facto, um subsistema muito particular do sistema social total".
Adoptando, no seio desta abordagem, uma perspectiva estrutural-funcional a autora
acima referenciada considera que a família é composta de indivíduos que "agem entre si
em função de uma rede de estatutos e de papéis que têm como finalidade manter todo o
sistema social" em que implica considerar a família como sistema aberto "às influências
exteriores e às transacções (trocas) com os restantes agentes sociais, como por exemplo,
a escola, o emprego, o mercado ... o indivíduo é visto como um elemento ligado a um
sistema de papéis e estatutos que por sua vez lhe limita as iniciativas"(p. 60).
De igual modo, c numa produção teórica mais recente, Pérez (2003) retoma a
concepção de família como sistema aberto, acrescentando-lhe o carácter de inecessante
mutabilidade, referindo que o sistema família está em constante evolução, sendo regido
por processos complementares de continuidade e estabilidade c de transformação da sua
estrutura ou organização cm função dos seus intercâmbios com o meio social, que as
leis sistémicas de "constância e câmbio" se podem aplicar à família.
Enquadrando-se na chamada nova Teoria Geral de Sistemas (com fortes
influências da epistemologia construtivista) Pérez distingue dois níveis de análise deste
sistema especial que é a família: o nível macrossistémico e o nível microssistémico,
sendo, no primeiro caso, a família descrita como um subsistema social "significativo
interpersonar, tomando em consideração os membros que o compõem e, no segundo,
definida como uma instituição ou subsistema social básico da organização social e
31 Esta perspectiva deriva da Teoria Geral dos Sistemas apresentada por Von BertalanfFy (1968), o qual considera que todos os sistemas vivos são compostos por um conjunto de elementos que são interdependentes, ou seja, a mudança num dos elementos pode afectar os outros elementos. A interacção entre os elementos cria condições únicas, que não existem ao considerarmos cada um dos elementos em particular. Esta perspectiva sistémica é central no âmbito das Ciências Sociais e Humanas e também frutífera ao nível das Ciências da Educação, já que permite superar justificações reducionistas e deterministas ao abordar o estudo de qualquer fenómeno humano, como é neste caso, o fenómeno educativo. 32 Segundo Pérez, a lei sistémica de "constância e câmbio" aplica-se "aos sistemas abierlos y denota la propiedad de estos sistemas a intercambiar información con el médio, haciéndolos más permeables y sensibles a las exigências de su entorno, favoreciendo la adapíación dei sistema a su entorno (principio de auíorregulación)" (2003, p.59)
37
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OIJ1ARBS DE PROFESSORES
tomando como referencia todos os outros sistemas que interactuam na família (2003, p.
158). Estes dois níveis de análise e as implicações que os mesmos enformam estão
explícitos graficamente nas figuras seguintes;
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I.A FAMÍLIA COMO MlíROSISIl-MA/
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Im familia conto siateina inncroshlaiin i/ tnicrothlcnin fninilior
Figuras 4. A família como sistema, macrosistema e microsistema familiar. Fonte: Adaptado de Perez (2003, p. 157).
LECTURA MACROSISTÉMICA DE LA FAMÍLIA
LA FAMÍLIA COMO SUBSISTEMA SOCIAL
LA FAMÍLIA DESCRITA "DESDE FUERA" • La família como "parte" de otros sistemas con
los que interactua (sistema sociocultural. educativo, ele.)
• Estos sistemas configuran el "entorno" de la família
LA FAMÍLIA COMO SISTEMA DE ROLES
LA FAMÍLIA DESCRITA "DESDE DENTRO" • Va familia como "lodo", es dccir, como red de
relaciones y roles entre los miembros que componcn cl sistema familiar (relaciones padre-madre-hijo, entre los cónyuges o pareja, abuclos-nietos, otros parientes, asignación de roles entre los miembros de Ia familia, etc.)
LECTURA MICROSISTÉMICA DE LA FAMÍLIA
Figuras 5. Leitura macrosistémica e leitura microsistémica da família. Fonte: Adaptado de Pérez (2003, p. 157).
38
A PARTICIPAÇÃO DOS 1'AIS - 0L11ARI£S DE PROFESSORES
No âmbito da(s) teoria(s) sistémica(s) a família tem sido muitas vezes analisada
como um ecossistema. Esta noção de ecossistema familiar pressupõe a existência de
uma hierarquia de sistemas33 e pode exprimir-se, segundo Deacon e Firebaught (1981),
por dois critérios:
Pelo critério de micro-meio-ambiente, em que a primeira fronteira inclui os
meios físico e social, e, a segunda fronteira que inclui os sistemas sociais (económico,
politico, sócio-cultural e tecnológico) e pelo critério de macro-meio-ambiente (físico,
biológico e elaborado pelo homem), também designado por terceira fronteira (citado por
Covas, 1993, p. 111).
Nestas hierarquias é sempre possível identificar uma sobreposição relativamente
a elementos, subsistemas e sistemas, pois estas não são realidades estanques. Esta noção
está subjacente também na abordagem de Pérez que refere os subsistemas que englobam
a família (por exemplo; cônjuges, pais, filhos, irmãos, avós, etc.) e os suprassistemas
que com ele actuam (escola, bairro, outras famílias, sociedade, etc.), conforme se pode
observar na figura 4 da página anterior.
Este último autor salienta as potencialidades heurísticas da análise sistémica
referindo que a mesma permite compreender a estrutura e organização da família
(fechada ou aberta, estável ou em mudança, etc.) bem como o seu funcionamento, o
mesmo é dizer que permite descrever tanto as suas "características esíruclurales"
(modos de agrupamento, vínculos e alianças entre os seus membros, variedade de
formas que a sua estrutura pode adoptar, etc.) como as suas "regias de funcionamiento"
(distribuição de papéis, interacção entre os seus membros, sistemas de regras implícitas,
etc.).
Utilizando o conceito de homeodinamismo (definido como sistema aberto e
mutável), Pérez (2003) em relação ao comportamento homeodinâmico da família,
clarifica como é que a instituição se tem mantido estável ao longo do tempo e,
simultaneamente, sofrido grandes transformações:
La família sigue siendo la agencia socializadora primária por excelência pêro,
al mismo íiempo, há transformado extraordinariamente su estructura para seguir
satisfaciendo estos fines socializadores (ley de constância e cambio). Resulta obvio que
no podemos aplicar el término família a una única modalidad de estructura familiar -
33 Para Covas (1993) esta noção de hierarquia é extremamente ambígua dado que as relações entre cada parte e o todo não são unívocas mas recíprocas, podendo contemplar formas múltiplas (p. III).
39
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARKS Dl- PROF1-SSORHS
por ejemplo, família nuclear sino que tamhién hahría que incluir hajo el rótulo de
família las nuevas estructuras familiares que caracterizan hoy a la família actual
(p. 159).
E é esta diversidade e complexidade das situações familiares e a necessidade da
sua compreensão em termos sociológicos, que segundo Covas, remete forçosamente
para uma abordagem sistémica.
Uma compreensão holística da família passa, na perspectiva desta investigadora,
por três momentos essenciais: um primeiro momento, exige uma tripla compreensão: do
próprio processo familiar, do seu desenvolvimento (enquanto sub-sistemas da sociedade
mais vasta) e dos tipos de interacções que o sub-sistema família estabelece com os
restantes sub-sistemas sociais; um segundo, implica uma dupla análise: da autonomia
funcional dos sub-sistemas familiares em relação à sociedade mais vasta e da
capacidade de diferenciação desses mesmos subsistemas; por fim, um terceiro momento
que, não perdendo de vista o todo (entendido como sistema social total), impõe a
compreensão das tendências de desenvolvimento interno dos sub-sistemas familiares, o
que neles se manifesta de estático e de dinâmico em relação a uma multiplicidade de
aspectos, a saber (Covas, 2001):
. . . à herança cultural, à construção da identidade, à sua estrutura normativa e
comportamental no que respeita às funções e papéis familiares, aos papéis dos sexos, às
formas de comunicação interna e externa à família e aos tipos de relações entre os
géneros masculino e feminino intra e intergeracionais, às formas de comunicação e de
interacção do casal ou do grupo doméstico, às diferenças geracionais no
desenvolvimento das diversas fases do ciclo da vida familiar e aos condicionalismos das
trajectórias individuais, entre outros aspectos (p. 238-239).
Perante estes exemplos, a autora conífonla-nos com a complexidade da análise,
da compreensão e da explicação das características dos sistemas familiares e também da
sua interdependência do meio ambiente e do nível global da sociedade.
Concluímos, através desta abordagem sucinta, que o enfoque sistémico
proporciona aos profissionais da educação um marco teórico apropriado para abordar o
estudo de um problema ou situação educativa ou para actuar especificamente adoptando
estratégias eficazes que optimizem o desenvolvimento de um sistema particular
(indivíduo, família, comunidade, etc.).
40
A PARTICIPAÇÃO 1X)S PAIS - OL.llARL-S DE PROFBSSORI-S
3.2 Família, Escola, Formação: uma Relação Triangular
Na complexa e intrincada rede de ligações e interdependências entre famílias e
escola, mediada pelo permanente processo de formação, equacionar uma possível
relação triangular constitui o desafio que procuramos responder neste item.
Começamos por lembrar que os indivíduos, numa perspectiva ecológica e
sistémica, são vistos segundo um processo de desenvolvimento constante e dinâmico,
que progressivamente os faz passar por diferentes contextos. Este processo de
desenvolvimento34 é condicionado não só pelo próprio indivíduo, mas também por
todos os sistemas contextuais em que este se insere.
Dentro desta perspectiva, Bronfenbrenner (citado por Serrano, 2000), realça que
o desenvolvimento humano é uma consequência das interacções que os sujeitos
estabelecem com os diferentes contextos que o rodeiam - o microssistema, o
mesossistema, o exossistema e o macrossistcma - e explicita estes quatro contextos;
- O contexto microssistémico, sendo o contexto mais imediato dos sujeitos • • 35 • •
exerce um papel importante na construção das actividades molares que constitui a
essência de todo o processo de desenvolvimento. Este sistema refcre-sc a um conjunto
de actividades, papéis e relações interpessoais experimentadas pelo indivíduo no
contexto ou espaço em que este funciona. Considerando o nível domiciliário, o
microsistema inclui as relações entre os pais e a criança, a criança e cada um dos seus
irmãos e entre os diversos membros da família. Considerando um contexto educacional
formal, como por exemplo a escola, o microssistema inclui as relações entre colegas e a
capacidade que a criança tem para enfrentar vicissitudes.
34 Enquadramo-nos no modelo ecológico de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (1979) o qual conceptualiza a sua ecologia do desenvolvimento humano como uma teoria desenvolvimental baseada cm relações diáticas. 35 As actividades molares são actividades comportamentais que não assumem um carácter pontual histórico e contextualmente localizado mas que, pelo contrário, aparentam a sistemalicidade própria dos processos contínuos e duradoiros. Consequentemente, as actividades molares diferenciam-se claramente das acções percebidas como instantâneas que apresentam um carácter molecular.
41
A PARTICIPAÇÃO 1X)S PAIS - OLHARHS PH PROFESSORI-S
- O contexto mesossistcmico diz respeito ao conjunto de interacções entre dois
ou mais contextos em que o sujeito em desenvolvimento participa, por exemplo entre o
microssistema e o exossistema. O mesossistema integra uma participação
multicontextual que encontra a sua fase mais crítica quando o sujeito entra num novo
contexto. A perspectiva de Bronfenbrenner consagra que em função do estado de
desenvolvimento do sujeito, quanto maior for o número de contextos em que o
individuo participa em actividades conjuntas, maiores serão as possibilidades de
desenvolvimento. As relações entre pais/educadores e família/comunidade possuem
efeitos interactivos na criança c na família. As interacções, nos subsistemas, exercem
influências imediatas nos resultados das crianças.
- O contexto exossistcmico engloba as estruturas sociais em que o sujeito em
desenvolvimento não participa directamente mas que influenciam os contextos
imediatos em que o individuo se encontra. Assim, os acontecimentos que ocorrem no
exossistema afectam ou são afectados por aquilo que acontece nos outros sistemas ou
subsistemas. Neste sistema insere-se a vizinhança, os mass média, o mundo do trabalho,
os sistemas de comunicação, entre outros.
- Por fim, o contexto macrossistémico corresponde ao quadro social global em
que os indivíduos se inserem e que apresenta um carácter dinâmico de perpetuo
movimento, envolvendo o sistema de valores e crenças culturais de uma sociedade e
que influenciam cada um dos outros níveis.
A interdependência entre estes diferentes contextos onde um indivíduo se
desenvolve é graficamente explicitada através da figura seguinte:
42
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU lARCS PH PROFESSORES
Macrossistema Atiludes c ideologias da cultura
Exossistema Família alargada
Mesossistema
Microssistema Vizinhos
/ Escola \ I Família S >
Médico / , \ Colegas ♦ I Criança I *" de farnlliaV / e aml9<»
Amigos da família
Serviços jurídicos Igreja
Espaços recreativos Mass
med/a
Sérvios socais
fonte Adaptado de The ChlkJ Devehpment h a Social Conlext. edrted by C. B. Kopp & J. B. Krakow. 1982. Addion-Weslwv Publishing Co., Reading, Massachuselti, p. 648
Figura 6. Modelo da ecologia de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner Fonte; Citado por Serrano (2000, p. 22).
Esta perspectiva ecológica assume particular relevância no contexto da
investigação actual e é neste quadro conceptual que Martins (2000, pp. 167-168) afirma
que a interacção sujeito/mundo caracteriza-se pela reciprocidade, especificando que
sujeito, dinâmico c em desenvolvimento, move-se, reestrutura-se e recria
progressivamente o meio em que se encontra. Neste sentido, a família é, para este
investigador, a componente essencial que influencia mas que, paralelamente é
influenciada pela criança e, por sua vez, a família é encarada como um sistema inserido
numa vasta rede ecológica de sistemas.
A importância da família no processo de desenvolvimento da criança tem sido
tradicionalmente referenciada c continua a ser um posto de observação permanente
nesta abordagem. Neste sentido. Carreira (2000), produz a seguinte asserção:
O processo dc socialização começa desde o nascer, na família. Esta dá ao
indivíduo o seu nome, a boa ou má imagem, o melhor ou pior estatuto dentro de um
meio local. (...) A família sendo a peça fundamental da relação entre o indivíduo e o
grupo social, é o primeiro factor identificador e o primeiro meio educador (p. 137).
43
A PAR TICIPACÀQ DOS PAIS - OLHARES DE PROFLSSORES
Efectivamente, a família constitui a primeira instância educativa do indivíduo. É
no ambiente familiar que a criança desperta para a vida como pessoa, onde se
desenvolve interiorizando valores, atitudes c papeis de forma natural, processo este
essencial na transmissão de conhecimentos, de costumes e tradições que fazem parte do
seu património cultural.
Por sua vez, a escola surge como uma extensão da família e que "teve (e tem
ainda) como uma das suas funções alargar e complementar o papel educativo da
família" Lima (1998, p. 42).
Actualmente, as alterações realizadas tanto ao nível do sistema educativo e da
escola, como ao nível da família "da sua estrutura, modo de vida e estratégias
educativas — e ao nível cultural — nomeadamente quanto aos conceitos c vivências de
cidadania e democracia" adicionaram uma maior importância à problemática da relação
escola-família (Homem, 2002, p. 36).
Na radical inquirição sobre a quem cabe o dever de educar, olhámos, numa
perspectiva jurídico-normativa, em primeiro lugar, a Constituição da República
Portuguesa, na qual a responsabilidade primeira pela educação da criança pertence à
família "os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos" (Revisão
de 1997, artigo 36°, ponto 5) e, cm segundo lugar, a Lei de Bases do Sistema Educativo,
que especifica ser objectivo do ensino básico "participar no processo de informação e
orientação educacionais em colaboração com as famílias" (art.0 7, alínea m), o que
significa que à escola compete um papel complementar da acção da família.
Se não restam dúvidas de que os pais são os primeiros educadores da criança e
que, ao longo da sua escolaridade, continuam a ser os principais responsáveis pela sua
educação e bem-cstar, aos professores enquanto "parceiros insubstituíveis na assunção
dessa responsabilidade ... devem unir esforços, partilhar objectivos e reconhecer a
existência de um mesmo bem comum para os alunos" (Marques, 2001, p. 12).
Neste sentido, muitos cientistas sociais e observadores, como por exemplo
Lightfoot e Bronfenbrenner "têm apontado os efeitos negativos no desenvolvimento das
crianças da descontinuidade, da ausência de harmonia e da falta de comunicação entre
as duas partes essenciais do mundo da criança" (citado por Davies, 1989, p. 39). Num
registo discursivo similar. Marques (2001) considera que:
Há formas de colaboração que têm efeitos expressivos na melhoria do
aproveitamento escolar dos alunos [especificando que] a comunicação e o apoio ao
44
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
estudo, em casa, têm um impacto significativo na melhoria das aprendizagens ...
aumenta a motivação dos alunos pelo estudo, ajuda a que os pais compreendam melhor
o esforço dos professores, melhora a imagem social da escola, reforça o prestigio
profissional dos professores, incentiva os pais a serem melhores pais e estimula os
professores a serem melhores professores (p. 20).
Argumenta, em seguida, que há a considerar quatro tipos de obstáculos à
colaboração dos pais na escola, a saber: a tradição de separação entre as escolas e as
famílias, a tradição de culpar os pais pelas dificuldades dos filhos, as mudanças nas
estruturas das famílias e os constrangimentos culturais. Acrescenta que as escolas, como
estruturas burocráticas que são, continuam a reger-se por rituais demasiado formalistas
e a utilizar uma linguagem demasiado técnica, muitas vezes incompreensível para os
pais com baixos níveis de escolaridade ou com uma escolaridade mal sucedida36. Mau
grado as mudanças sociais e demográficas ocorridas nos últimos anos, o relacionamento
da escola com o exterior mantém-se agarrado a padrões tradicionais, limitando-se a
reuniões no início do ano lectivo, realização de algumas festas com a presença de alguns
pais, atendimento individual numa hora por semana, regra geral, entre as 9 horas e as 18
horas, envio de postais e cartas para casa quando os filhos têm problemas e para ouvir
más notícias acerca dos filhos.
Consciente destes obstáculos, o autor que vimos seguindo, refere que os mesmos
não são intransponíveis e traça soluções possíveis. Neste sentido, salienta a importância
da aproximação da escola aos pais, exigindo o recurso a metodologias alternativas e o
apoio activo de outros técnicos de educação, do psicólogo escolar, do assistente social e
do mediador cultural37, passando por visitas domiciliárias, dar-lhes a conhecer aquilo
30 Marques faz a distinção entre baixos níveis de escolaridade e escolaridade mal sucedida, a saber; "os pais dos alunos que frequentam o ensino básico, nesta primeira década do século XXI, frequentaram o ensino básico e secundário nas décadas de 80 e 90 do século passado. Como é sabido, essa época coincidiu com a generalização do fenómeno do sucesso escolar administrativo e consequente quebra da qualidade e exigência nas aprendizagens. Então, além dos pais que abandonaram precocemente a escola, há a considerar um número muito maior de pais que, embora tenha terminado o ensino básico e o ensino secundário, teve uma escolaridade mal sucedida, no sentido de que aprendeu muito pouco, ficando com uma imagem distorcida do verdadeiro papel da escola. Enquanto os pais com baixos níveis de escolaridade tendem a olhar para a escola com receio mas com respeito, os pais com uma escolaridade prolongada mas mal sucedida olham para ela com desdém e com desprezo" (2001, pp. 26-27). 37 Segundo Marques "o mediador cultural é uma pessoa que conhece de perto e partilha os valores, a linguagem e os problemas dos pais e que, por isso, está em condições de os poder compreender e ser aceite por eles ... a figura do mediador cultural não pode dispensar as funções do psicólogo e do assistente social" (2001, p. 33).
45
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS ^ OLHARES DE PROFI-SSORES
que podem fazer pela educação dos seus filhos e reforçarem as rotinas favoráveis à
aprendizagem.
Se hoje é inquestionável a complementaridade família escola no acto de educar e
se, ao longo dos tempos, a função educativa se foi adaptando de acordo com os padrões
sociais dominantes de cada época, as exigências colocadas no processo educativo na
nossa contemporaneidade são singulares.
Adler (1982) colocou a questão nos seguintes termos:
A educação é um processo de uma vida no qual a escolaridade é somente uma
parte pequena, mas necessária. ... o fim último do processo educativo é ajudar os seres
humanos a tomarem-se pessoas educadas. A escolaridade é o estado preparatório; forma
o hábito de aprender e providencia os meios para continuar a aprender depois de estar
completada toda a escolaridade ... a escolaridade básica - a escolaridade obrigatória
para lodos - deve fazer outra coisa do que preparar os jovens para mais escolaridade em
níveis mais avançados. Deve preparar todos eles para continuarem a aprender na vida
adulta, durante os seus anos de trabalho e depois (citado por Andrade, 1992, pp. 32-33).
Neste contexto, pode-se afirmar que a educação escolar deve dar o estímulo
através da descoberta da importância que as aprendizagens têm quer para a vida
quotidiana actual das crianças e jovens como para a sua vida futura, no sentido de uma
preocupação da escola com a dimensão constitutiva do ser, onde se promova não só a
integração social, como também um crescimento pessoal dos jovens.
É nesta perspectiva que muitas das reformas dos sistemas educativos e,
nomeadamente, nas últimas décadas, vão no sentido dessa formação, simultaneamente
pessoal e social, que contemple o desenvolvimento da pessoa nas várias vertentes da
personalidade. Esta opção é justificada pelos novos desafios, as novas responsabilidades
e oportunidades com que os cidadãos do futuro se depararão, numa sociedade em
constante evolução. A educação formal deve, assim, promover um saber em acção,
envolvendo o conhecimento, as capacidades e as atitudes, o que é referido no
documento do departamento do Ensino Básico sobre "Competências Gerais e
transversais":
A cultura geral que todos devem desenvolver como consequência da sua
passagem pela educação básica, inclui a apropriação de um conjunto de conceitos e
processos fundamentais, mas não se identifica com o conhecimento memorizado de
tennos, factos e procedimentos básicos desprovidos de elementos de compreensão,
46
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - GUIARES DE PROFESSORES
interpretação c resolução de problemas. A aquisição progressiva é relevante se for
integrada num conjunto mais amplo de competências c se for enquadrada por uma
perspectiva que valoriza o desenvolvimento de capacidades de pensamento e de atitudes
favoráveis à aprendizagem (p. 3).
Nesta assunção de escola, ela é perspectivada numa dimensão que vai para além
da promoção de conhecimentos, devendo, também, capacitar o aluno para a resolução
de problemas de diferente ordem, promovendo o seu desenvolvimento nas dimensões
psicológica, moral, social e afectiva, preparando-o para a autonomia, responsabilidade,
respeito pelos outros, solidariedade e cooperação, e promovendo o desenvolvimento
integral do ser humano.
Na perspectiva de que a escola é espaço de Formação Pessoal e Social38, a Lei
de Bases ao definir esta área optou, segundo Andrade, por "um artifício fácil: deu
exemplos das suas partes, a que chamou componentes" (1992, p. 17). As componentes
que vigoram na referida Lei são as seguintes: educação ecológica, educação do
consumidor, educação familiar, educação sexual, prevenção de acidentes, educação para
a saúde, educação para a participação nas instituições, serviços cívicos .... Embora
datada da década de oitenta esta orientação de filosofia educacional mantém a sua
pertinência.
Efectivamente, vivemos numa época em que há uma rápida desactualização quer
ao nível dos conhecimentos quer das próprias profissões c neste sentido, é necessário
que a escola responda à exigência de preparar os indivíduos para continuarem a
aprender. Daí que uma das finalidades da educação - e, mais especificamente, da
Formação Pessoal c Social - seja proporcionar aos alunos instrumentos ou
competências que lhes permitam continuar a aprender porque o indivíduo, não deve ser
um simples receptor de informação, mas, pelo contrário, um processador activo dessa
38 Acreditamos na importância da formação pessoal e social, e quando utilizamos a expressão, fazemo-lo
no sentido alargado da formação integral do indivíduo, que só se pode fazer através da sua integração activa e responsável na comunidade, acrescentando que concordamos com a expressão Formação Pessoal e Social na visão crítica que dela tem o professor Patrício (1993), referindo que pessoal e social comporta uma redundância, na medida em que o pessoal já é social, ou seja, o conceito de pessoa é a síntese dialéctica do ser individual e do ser social. Na mesma linha de pensamento, Andrade (2002) refere que a formação pessoal implica já a formação para o outro e pelo outro, isto é, a formação social. A propagação e popularidade do uso da expressão Formação Pessoal e Social levou-nos a pensar que nos faríamos compreender melhor utilizando-a. Assim, optámos por utilizá-la em detrimento da expressão mais correcta que seria formação pessoal.
47
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU 1AR1-S DE PROFESSORES
informação, isto é, deve adquirir nova informação, reformular os conhecimentos, ser
capaz de tomar decisões informadas, entre outras competências.
Por seu lado, a sociedade da informação e do conhecimento trouxe novas
exigências para os professores, sendo estas traduzidas numa multiplicidade de tarefas,
uma "hiper-responsabilização" que consubstanciam a chamada "crise de identidade",
como refere Jesus (2000):
Os professores têm dificuldade em definir quais as funções da sua actividade
profissional, parecendo que inclusivamente algumas entram cm contradição (por
exemplo, é pedido aos professores para avaliarem os alunos, cumprirem os programas e,
simultaneamente para serem amigos dos alunos, contribuírem para o seu
desenvolvimento pessoal e social, realizarem actividades da área-escola, etc.) (pp. 12-
13).
Exigência política. Exigência e pressão por parte da sociedade. Exigência das
famílias. Tudo recai sobre o professor, diz o investigador citado. E especifica: por um
lado, as alterações que se têm verificado quer ao nível da estrutura social, quer ao nível
da estrutura familiar têm levado a uma transferência de responsabilidades para os
professores devido à falta de tempo dos pais para acompanhar o processo de
desenvolvimento e de educação dos seus filhos; por outro, os docentes são chamados a
"desempenhar funções que traduzem esta necessidade de compensação afectiva" c é
neste sentido que afirma a "suplência da família", o "desenvolvimento pessoal e social"
e, "ser amigo dos alunos" como atribuições que "traduzem esta desresponsabilização
dos pais e a hiper-responsabilização colocada aos professores"(2000, pp. 12-13).
O contraposto a este problema tem sido ciclicamente colocado pondo a
acentuação na formação de pais.
Diaz & Jiménez abordam a formação de pais através da Escola de Pais39 que, no
seu entender, são instituições destinadas à formação das famílias com vista a uma
completa e melhor formação para que possam realizar satisfatoriamente as suas funções
de educadores.
39 Diaz & Jiménez referem que a primeira Escola de Pais foi fundada em 1928 por madame Vérine (formada em problemas educativos e discípula da Escola Activa. Em Espanha surgem nos anos 70 e o seu objectivo principal era melhorar as práticas educativas das famílias e, por consequência, optimizar o desenvolvimento infantil (2003, p. 144).
48
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARI-S DE PROFESSORES
Segundo estes investigadores na "Escuda dc Padres"" são organizados
programas dc formação que são realizados em função dos destinatários e, sobretudo,
dirigidos às suas necessidades. O interesse na formação dc pais tem inerente o papel
protagonista dos mesmos no processo formativo, numa perspectiva realista, coerente,
aberta e flexível na sua realização, para evitar que este esteja desligado da realidade.
Os programas perseguem vários objectivos gerais que podem estar orientados na
mesma direcção: a educação adequada aos filhos.
Cataldo (1991) enumera alguns desses objectivos no sentido de um programa de
formação de pais:
• Informar, asesorar y orientar sobre el desarrollo, aprendiza]e y socialización
dei nino, y asesorar a los padres que tienen hijos con necesidades educativas
especial es.
• Estimular la participación de los padres en el proceso de aprendiza]e, así
como en las experiências escolares de los hijos.
• Ensehar técnicas para fomentar el aprendizaje y el control dei
comportam iento.
• Prevenir problemas en las relaciones familiares y/o en el desarrollo de los
hijos.
• Ofrecer asesoramiento y rehabilitación a las famílias que presenten
problemas en las relaciones familiares y/o en el desarrollo de los hijos.
• Proporcionar apoyos sociales en la comunidad
• Estimular y apoyar las iniciativas de interés especial promovidas por los
padres (Citado por Diaz & Jimenez, 2003, p. 149).
Corroborando a ideia dos investigadores, os pais, por direito natural, são os
primeiros educadores dos filhos e se a educação é para os filhos um direito, para os pais
é um dever. Daí a importância de uma reflexão conjunta, uma vez que "nadie nace
educado, se educa en el devenir dei íiempo"" (Diaz & Jiménez, 2003, p. 146).
Mas a adaptação às novas exigências requer, na nossa perspectiva, uma mais
completa e melhor preparação dos pais "aprender a ser pais", no sentido de formação
das famílias permitindo-lhes uma mais completa e melhor preparação para que possam
realizar mais satisfatoriamente as suas funções educadoras, com o objectivo dc melhorar
as práticas das famílias c, consequentemente, o desenvolvimento dos filhos.
49
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES PB PROFESSOR1-S
Família. Escola. Formação. A revisão bibliográfica que efectuamos e a reflexão
que produzimos tornaram evidente, que sob uma perspectiva teórico-conceptual, o
enfoque sistémico e ecológico permite estabelecer uma rede de dependências, relações,
e interinfluencias entre família, escola e formação. A relação triangular entre estes três
focos considerados e o espaço interior dessa triangulação enquanto espaço de
interacções, de sinergias, de complementaridades, confere pertinência à ideia com que
avançámos no início do capítulo: o desafio da formação contínua (e formativa) como
exigência da sociedade actual.
50
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFt-SSORES
4 DA PROBLEMÁTICA AO MODELO DE ANÁLISE
No presente capítulo condensam-se os aspectos metodológicos e técnicos do
nosso estudo; um estudo empírico que correspondeu à escolha da estratégia
metodológica mais adequada para construir o nosso objecto de estudo e interrogar e
obter respostas pertinentes para as questões por nós colocadas.
Efectuamos a explicitação dos procedimentos metodológicos efectuados
passando pela descrição dos processos de construção da problemática (da questão de
partida ao modelo de análise) e, igualmente, pela descrição dos procedimentos inerentes
à recolha, tratamento e análise de dados.
4.1. A Problemática da Investigação
Numa investigação a problemática constitui os alicerces e define-se como a
perspectiva teórica que precede e justifica o modelo de análise c as hipóteses que serão
testadas pelos factos40. Enquanto corpo articulado de teorias e de conceitos, a
problemática permite-nos proceder a uma interrogação sistemática da realidade, e a
efectuar uma abordagem relacional do real*1. Esta abordagem relacional do real
assenta na explicitação da problemática a qual consiste em
40 Adoptamos aqui a perspectiva enunciada por Quivy e Campenhoudt (1992) que referem: "A problemática é a abordagem ou a perspectiva teórica que decidimos adoptar para tratar o problema posto pela pergunta de partida ... ela é a parte teórica que, na investigação, precede e justifica o modelo de análise e as hipóteses que serão testadas pelos factos" (pp. 91-105). 41 Segundo Canário (1996, pp. 126-127) "o acesso ao real implica ... um processo de construção dos objectos de estudo ... nesta perspectiva ... não existe uma análise cientifica objectiva, independente do(s)
51
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OLHAR1-S DE PRQ1-1-SSORES
... descrever o quadro teórico em que se inscreve o percurso pessoal do investigador;
é precisar os conceitos fundamentais, as ligações que existem entre eles e, assim, desenhar a
estrutura conceptual em que se vão fundar as proposições que se elaborarão em resposta à
pergunta de partida (Quivy e Campenhoudt, 1992. p. 103).
e consubstancia-se na construção do nosso objecto de estudo42: a participação dos pais
num agrupamento vertical de escolas concreto e singular.
O que nos levou a optar pelo estudo da participação dos pais?
No contexto da democratização da sociedade portuguesa afirmou-se a "escola de
massas"43 que ao reclamar o direito ao acesso para todos, também colocou novos
problemas e determinou novos tipos de relação e de interacção entre a escola e a
família. Da relação escola-família decorreu a problemática da participação e sobre ela
produziram-se alguns trabalhos de investigação que vieram demonstrar que
As escolas com melhores resultados são, normalmente, aquelas que conseguem criar
as condições propícias a uma colaboração das famílias na vida escolar ... os pais, enquanto
grupo interveniente no processo educativo, podem dar um apoio activo às escolas e devem
participar num conjunto de decisões que lhes dizem directamente respeito. Numa perspectiva
individual, os pais podem ajudar a motivar e a estimular os seus filhos, associando-se aos
esforços dos profissionais de ensino (Nóvoa, 1995, p. 27).
e, neste sentido, uma vez unanimemente aceite que da interacção escola-família resulta
um maior sucesso escolar, a agenda investigativa começou por colocar novas questões
sobre as modalidades, o nível, e as formas de participação dos pais na vida das escolas.
Este questionar emergiu, antes mais, do facto da escola e da família serem duas
"instituições condenadas a cooperar" (Perrenoud, 1995), uma vez que
consciencializaram a impossibilidade de exercerem sozinhas a tarefa educativa e
socializadora das crianças c dos jovens. Este facto criou entre a escola e a família um
sistema complexo de interdependências de comunicação do qual decorreu um conjunto
ponto(s) de vista do investigador que a partir de um "olhar" específico sobre a realidade a transforma em objecto de investigação". 42 Lembramos que a construção do objecto de estudo c intrínseca a cada processo de investigação. 43 Como refere Alves Pinto (1995) "esta designação - que tem alguma infelicidade, pois evoca o ensino massificado, uniformizado - recobre, afinal, o sentido de certos níveis de ensino terem deixado de ser para uma minoria, uma elite, e passarem a ser frequentados por um grupo consideravelmente maior" (p. 149). Carreira (2000) acrescenta citando Cortesão "recorde-se que com o advento da escola de massas o sistema educativo se propunha, pelo menos a nível da retórica, oferecer situações de igualdade de oportunidades a todas as crianças dos diferentes grupos sócio-culturais" (p. 124).
52
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OUIARI-S DL! PROFL-SSORl-S
de dificuldades ao nível da participação dos pais nos órgãos de decisão da escola.
Factores como o conflito de competências entre pais e professores, a limitada
representatividade dos pais eleitos, a falta de condições dadas para a participação dos
pais, o desinteresse que a maioria dos pais acaba por manifestar em relação às
modalidades de participação e o formalismo das estruturas e processos de participação
utilizados, começaram por ser equacionados. E, assim, no âmbito da investigação
educacional foram sendo delineados quadros teórico-conceptuais, feitas propostas
teóricas e análises de realidades organizacionais tendo subjacentes à sua produção um
conjunto de trabalhos empíricos e de pesquisas.
A recolha e a articulação dos vários estudos sobre as temáticas de democracia,
de participação da família, de ensino e de formação foram, por nós, objecto de
aprofundado estudo e reflexão no sentido de obtermos um articulado de teorias e de
conceitos susceptível de se constituir como o enquadramento teórico da nossa
investigação.
Tratou-se, segundo a proposta de Quivy e Campenhouth, e numa primeira fase,
de concretizar o primeiro momento de elaboração da problemática — "Fazer o balanço"
- a qual foi condicionada pela nossa questão de partida e, numa segunda fase, escolher
um quadro teórico, o qual nos permitiu precisar a pergunta de partida e fundamentar as
hipóteses sobre as quais iremos construir uma resposta à pergunta de partida (o segundo
momento descrito pelos autores citados e que denominam de "definir a problemática").
Fratou-se de, em termos concretos, inventariar abordagens teóricas existentes
sobre a participação dos pais na escola, de problematizar o conceito de participação, de
clarificá-lo, pondo a descoberto a sua intrínseca polissemia e as diversas
ressemantizações que tem vindo a sofrer, defini-lo na sua pluralidade e de, por fim,
elaborarmos uma topografia da participação dos pais na escola, enquanto representação
teórica da configuração de todos os componentes que intervêm nessa participação. Este
processo ficou modelado no capítulo primeiro desta dissertação, enquanto no capítulo
segundo partimos da abordagem sistémica da família para que, numa elucidação da
complexa rede de ligações e interdependências entre a família e a escola, darmos
visibilidade ao processo de formação (inicial e ao longo da vida) que medeia a
triangulação, hoje inelutável, entre família e escola.
Por fim, e no terceiro momento descrito por Quivy e Campcnhoudt - "Explicitar
a problemática" - procedemos ao reexame dos instrumentos teóricos necessários à
construção do nosso modelo de análise (etapa última de elaboração da problemática) e
53
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORAS
descrevemos o quadro teórico onde inscrevemos o nosso objecto de estudo (tarefa esta
supra-apresentada). Verificamos então, conforme dizem os autores que temos vindo a
seguir, que
.... A problemática é o quadro teórico pessoal a partir do qual se precisa a pergunta de
partida e se compõe a sua resposta. Mas esta problemática é, ela própria, condicionada pelas
leituras e pela exploração, que, por sua vez, dependem da pergunta de partida. É assim
maniíesta a interacção entre pergunta de partida, exploração e problemática" (Quivy c
Campenhoudt, 1992, p. 103)
E é, exactamente, porque é manifesta a interacção entre a pergunta de partida,
a exploração e a problemática, vamos de imediato descrever o nosso processo
investigativo.
Afigura-se-nos, no entanto, na economia deste estudo, precisar, em primeiro
lugar, o contexto organizacional em que incide a nossa pesquisa empírica (lembramos
que existe uma distinção entre o objecto de estudo e o nível empírico da investigação
em que se opera a construção desse objecto44). Neste sentido, e porque o nosso contexto
de análise é o Agrupamento Vertical de Escolas de Castro Verde, importa explicitar
qual o contexto organizativo que recobre o termo "agrupamento". Este consagra-se
normativamente no chamado "Modelo de Gestão" das Escolas, criado pelo Dccreto-Lei
n.0 115-A/98. Este documento jurídico decreta o regime de autonomia, administração e
gestão dos estabelecimentos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário
e prevê o desenvolvimento de estratégias de agrupamento de escolas resultantes das
dinâmicas locais e do levantamento das necessidades educativas. Preconiza, ainda, a
realização de uma política coerente e eficaz de rede educativa, numa lógica dc
ordenamento do território, de descentralização e de desenvolvimento económico, social
e cultural sustentado e equilibrado.
Por seu lado, o Despacho Normativo n.0 27/97 veio reforçar c potenciar as
articulações entre a Educação Pré-escolar e os ciclos do ensino Básico como estratégia
orientada para a melhoria da educação e respeito pela especificidade dc cada escola e do
seu projecto surgindo como um meio de a escola realizar cm melhores condições as
suas finalidades em benefício das aprendizagens dos alunos, o qual, conjugado com o
I15-A, permite que os estabelecimentos da educação pré-escolar já pudessem
tecnicamente integrar os agrupamentos. Esta possibilidade foi consagrada legalmente
44 Chamamos a atenção para a clarificação desta questão no texto de Rui Canário (1996).
54
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORHS
pelo Decreto regulamentar n.0 12/2000, de 29 de Agosto, no artigo 2.°, ao definir o
agrupamento de escolas como "uma unidade organizacional, dotada de órgãos próprios
de administração c gestão, podendo integrar estabelecimentos de educação pré-escolar e
de um ou mais ciclos do ensino básico, a partir de um projecto pedagógico comum, com
vista à realização das finalidades seguintes: a) favorecer um percurso escolar sequencial
e articulado dos alunos abrangidos pela escolaridade obrigatória numa dada área
geográfica; b) superar situações de isolamento de estabelecimentos, prevenindo o
abandono escolar e a exclusão social; c) reforçar a capacidade pedagógica dos
estabelecimentos que o integram e o aproveitamento racional dos recursos, d) garantir a
aplicação de um regime de autonomia, administração e gestão comum aos
estabelecimentos de educação e de ensino que o integram; c) valorizar e enquadrar
experiências em curso".
Deste modo, o Agrupamento Vertical de Escolas do Concelho de Castro Verde
engloba desde a educação Pré-Escolar (crianças com idades compreendidas entre os 3 e
os 6 anos de idade), o 1.° Ciclo do Ensino Básico (desde o 1.° ao 4.° ano de
escolaridade), o 2.° Ciclo do Ensino Básico (do 5.° e 6.° ano) e o 3.° Ciclo do Ensino
Básico (do 7.° ao 9.° ano de escolaridade). Este agrupamento foi formado há seis anos e
para além de integrar vários estabelecimentos de educação e ensino tem, também, uma
população diversificada em termos sócio-económicos e culturais dependente da
diversidade geográfica que o caracteriza. Assim, e conforme especificaremos no item
dedicado à caracterização da rede pública do ensino básico do concelho de Castro
Verde, na sede de concelho o agrupamento congrega instituições educativas do pré-
escolar, 1°, 2o e 3o ciclos enquanto nas restantes freguesias se encontram Jardins-de-
infância e Escolas do 1° Ciclo. Esta diversidade na unidade (enquanto agrupamento)
afígurou-se-nos como um campo aliciante para nela focalizarmos o nosso "olhar"
teórico (particular, entre os vários possíveis). E, esse "olhar" foi conduzido inicialmente
por uma diversidade de interrogações - recordamos que de um ponto de vista
epistemológico as perguntas têm prioridade sobre as respostas, as quais assumimos
como pontos de partida para a análise e interpretação do fenómeno a estudar: a
participação dos pais.
Neste contexto, considerámos primordialmente as seguintes questões a
investigar:
Quais as opiniões dos docentes dos vários níveis de ensino face à participação
dos pais na escola?
55
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DE PROFESSORKS
Que formas assume essa participação?
Em que áreas os pais participam na escola?
Estão as percepções dos professores acerca da participação dos pais na escola
relacionadas com factores de natureza sócio-cultural e familiar dos alunos?
Há diferenciação nos papéis familiares ao nível da participação dos pais na vida
escolar dos filhos?
Existe alguma relação entre a participação dos pais na escola e factores de
natureza pessoal e profissional do professor?
Que factores facilitam ou inibem a participação dos pais?
Qual a opinião dos professores acerca da formação de pais?
Na perspectiva dos professores há relação entre a participação dos pais na escola
e as competências ao nível pessoal e social dos alunos?
Este conjunto de questões remeteu-nos para a pergunta de partida43:
Na perspectiva dos professores, como se processa a participação dos pais na
educação escolar dos filhos, num agrupamento vertical de escolas, c qual a sua
influencia ao nível da formação pessoal e social dos alunos e da formação de pais?
O ancorar a esta questão foi o chegar a um porto seguro depois de um processo
pleno de hesitações, de desvios, de incertezas e, simultaneamente, de muitas conversas
45 A pergunta de partida, segundo Quivy e Campenhoudt (1992) poderá ser "um primeiro fio condutor" para o investigador que se propõe iniciar o seu trabalho. Como os próprios referem "pouco importa que este ponto de partida aparente ser banal e que a reflexão do investigador não lhe pareça totalmente madura; pouco importa que, como é provável, ele mude de perspectiva ao longo do caminho. Este ponto de partida é apenas provisório, como um acampamento-base que os alpinistas constroem para preparar uma escalada de um cume e que abandonarão por outros acampamentos mais avançados até iniciarem o assalto final". Esta "fórmula que a experiência revelou ser muito eficaz", como referem, ainda, os mesmos autores, "consiste em procurar enunciar o projecto de investigação de uma forma de uma pergunta de partida, através da qual o investigador tenta exprimir o mais exactamente possível o que procura saber, elucidar, compreender melhor" (pp. 29-30). Seguindo as recomendações de Quivy e Campenhoudt (1992) verificámos empiricamente a clareza, a pertinência e a exequibilidade da questão de partida. A esta pergunta de partida, juntámos, por um lado, o aprofundamento das leituras exploratórias, no sentido de conseguirmos a qualidade da informação para conceber uma problemática de investigação; fizemos entrevistas exploratórias que tiveram como função "revelar luz sobre certos aspectos do fenómeno estudado, nos quais o investigador não teria espontaneamente pensado por si mesmo, e, assim, completar as pistas de trabalho sugeridas pelas suas leituras" (p. 67).
56
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU IARHS Dli PROFESSORES
informais com docentes, muitas leituras, de muita reflexão, de muito formular e
reformular o registo descritivo da mesma.
Enunciada, na sua versão final a questão de partida e tendo consolidada a
problemática da pesquisa, também foi possível registar, na sua fase definitiva, os
objectivos desta nossa investigação: o objectivo geral e dele decorrentes os objectivos
específicos.
Objectivo geral:
• Conhecer se, na perspectiva dos professores, a relação que os pais estabelecem
com a escola está relacionada com a formação pessoal e social dos alunos e com a
formação dos pais.
E são objectivos específicos os seguintes;
• Verificar se o nível de ensino onde o docente lecciona influencia a participação
dos pais na escola.
• Observar e clarificar se a situação profissional do professor interfere com a
participação dos pais.
• Constatar se a localização da residência dos alunos interfere com as áreas de
participação dos pais na escola.
• Verificar se a localização da escola influencia a participação dos pais e as
competências pessoais e sociais dos alunos.
• Relacionar o meio sócio-cultural dos alunos com a participação dos pais e a
necessidade de formação de pais.
• Relacionar as formas e os tipos de participação praticada pelos pais com as
competências pessoais e sociais dos alunos.
• Identificar a opinião dos professores sobre as práticas educativas familiares e a
sua influência na formação pessoal e social dos alunos.
• Ver se há relação entre a estrutura familiar dos alunos e as suas competências
pessoais e sociais.
• Verificar de que forma, os anos de serviço na carreira docente interferem com a
importância atribuída à formação de pais.
• Relacionar a opinião dos professores sobre o objecto social de focalização dos
pais na escola e a importância da formação de pais.
57
A 1'AR TICIPACÃO DOS PAIS - OLHARI-S DI-: PROFBSSORHS
Na sequencia da formulação do problema e da definição dos objectivos
específicos, e de acordo com os requisitos da investigação, formulámos as seguintes
hipóteses de pesquisa46 (sendo estas consideradas sugestões de resposta para o problema
posto):
Hipótese de trabalho (Hl): A participação dos pais na vida escolar dos filhos,
num agrupamento de escolas, influencia a formação pessoal e social destes.
• Hipótese de trabalho (H2): A participação dos pais na vida escolar dos filhos,
num agrupamento de escolas, influencia a necessidade de formação de pais.
• Hipótese nula (HO); Não há relação entre a participação dos pais na vida
escolar dos filhos, num agrupamento de escolas, e a formação pessoal e social destes.
• Hipótese nula (HO): Não há relação entre a participação dos pais na vida
escolar dos filhos, num agrupamento de escolas, e a necessidade de formação de pais.
É legítimo afirmar que face às hipóteses de pesquisa, aos objectivos enunciados,
aos suportes teóricos referenciados que este nosso estudo se constitui, como um
contributo para a análise da problemática Escola-Família.
46 As hipóteses deverão apresentar, de acordo com Tuckman (2000) as seguintes características: (1) Estabelecer uma conjuntura sobre a relação entre as duas ou mais variáveis. (2) Ser formulado claramente e sem ambiguidade, em forma de frase declarativa. (3) Ser prestávcl, ou seja, deve ser passível de reformulação, em forma operacional, de modo a poder ser então avaliada a partir dos dados (p. 95).
58
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - Ol.HARHS DE PROFESSORKS
4.2 A Construção do Modelo de Análise
A construção de um qualquer modelo de análise tem exigências teóricas e
práticas incontornáveis. Este é o caso presente. Após um difícil percurso47 chegámos a
uma tomada de consciência do rumo investigativo a prosseguir e efectuámos
reformulações na pesquisa a desenhar.
Neste sentido, e consequência da situação experienciada e reflectida, o modelo
de análise construído pretende ser um instrumento que nos possibilite num primeiro
momento, caracterizar e descobrir ligações possíveis - no ponto de vista dos professores
- entre a participação dos pais na escola e a necessidade de formação de pais, por um
lado e a implicação ao nível da formação pessoal e social dos alunos; num segundo
momento contribuir para a reflexão individual e organizacional sobre esta temática, bem
como para a tomada de decisão relativamente a estratégias de envolvimento e
participação dos pais na vida escolar dos filhos.
47 Hm anexo apresentamos os momentos de construção/reconstrução do nosso modelo. Anexo 1. Modelo de análise (l.a versão sintética). Grelha de análise (l.a versão analítica), mapa conceptual (l.a versão) e questionário elaborados na parte curricular do mestrado. O Modelo de Análise Teórico foi sujeito a operações de validação através de procedimentos estatísticos no sentido de se tomar no Modelo Explicativo Emergente. Ao nível da metodologia pretendeu-se obter resultados tendentes ao cálculo de análise estatística descritiva e ao cálculo do teste T de Síudení, em relação à comparação de médias. Os resultados obtidos permitiram validar o Modelo de Análise teórico. No sentido de prosseguir esta investigação na fase de tese, propusemo-nos, num momento inicial, prosseguir com a revisão bibliográfica de modo a aprofundar os aspectos já abordados, nomeadamente: a temática da família, que foi focada de uma forma parcial inicialmente; e as questões da análise da participação, consequência das alterações normativas, especificamente o Decreto-Lei n.0 115-A/98. Em paralelo, os contactos informais e formais estabelecidos com alguns docentes dos vários níveis de ensino pertencentes ao agrupamento e o acesso ao projecto educativo potenciaram a obtenção de conhecimentos e, citando Quivy e Campenhoudt, permitiram fazer "luz sobre certos aspectos do fenómeno estudado" (1992, p. 67). Para além destes aspectos, também a orientadora da tese e, no sentido de um enriquecimento do estudo, aconselhou-nos a inclusão de algumas dimensões consideradas pertinentes na presente investigação, com as quais enriquecemos este estudo. Foram ainda de importância crucial os conhecimentos adquiridos na parte curricular do mestrado (tendo em conta os objectivos, o campo de estudo e a problemática a abordar, foram consultados alguns autores de referência, aconselhados nesta primeira parte). Anexo 2. Modelo de análise (2.a versão sintética), modelo de análise (2.3 versão analítica), mapa conceptual (2.a versão).
59
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS Dl- PROFHSSORKS
4.2.1 Delineamento Geral c Procedimentos
Tendo em conta a problemática que equacionámos e os objectivos delineados
nesta investigação colocou-se-nos a questão da escolha da estratégia metodológica.
Dado que a pertinência ou adequação de uma ou outra abordagem metodológica
é aferida pela relação a cada objecto de estudo no quadro de cada processo de
investigação, como refere Pierre Bourdieu (1989),
... as opções técnicas mais "empíricas" são inseparáveis das opções mais "teóricas" de
construção do objecto. Em função de uma certa construção do objecto que tal método de
abordagem, tal técnica de recolha ou de análise dos dados, etc, se impõe (citado por Canário,
1996, p. 135)
a nossa opção de estratégica metodológica recaiu sobre um estudo empírico que
opera uma articulação entre uma abordagem quantitativa e uma abordagem qualitativa.
Aliás, esta opção por uma diversidade e pluralidade de abordagens e estratégias
metodológicas decorreu da nossa constatação, durante o processo de construção do
nosso objecto de estudo - A participação dos pais num agrupamento vertical de Escolas
- de que, como diz Rui Canário (1996) "a tendência para raciocinar a partir do
estabelecimento de dicotomias entre o quantitativo e o qualitativo, entre o experimental
e o naturalista, não corresponde, seguramente, ao modo mais adequado e produtivo de
equacionar o debate metodológico" (p. 134). De acordo com a concepção
epistemológica e científica que serviu de suporte à nossa investigação, utilizámos
procedimentos quantitativos de medição e tratamento estatístico, categorizando em
variáveis os fenómenos sociais que pretendíamos conhecer e estabelecermos relações
estatísticas entre eles, todavia recusámos o reducionismo metodológico. Neste sentido, e
porque a complexidade dos fenómenos sociais não pode ser captada cm toda a sua
riqueza e profundidade através de um enfoque positivista, quantitativo, utilizámos,
igualmente, métodos qualitativos que nos proporcionaram uma compreensão, e
posterior descrição, dos significados, símbolos e interpretações dos próprios docentes.
60
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS-OL1IARL-S PH PROFESSORES
Esta opção inscrevc-se nas orientações metodológicas do campo das ciências
sociais, emergentes da nossa contemporaneidade, tal como refere Serrano (1994):
En las ciências sociales existe una gran preocupación teórica y práctica, de modo que
es difícil separar el conocimienío y la acción como camino válido para acercarse al estúdio de
la realidad. La preocupación por el saber va unida a la preocupación por el actuar, por
mejorar la acción, pues lo que inleresa es la transformación y la mejora de la realidad social.
En este sentido podemos afirmar que la íarea es ingente y necesitamos contar con las
aportaciones de los distintos paradigmas. En liempos de crisis como los que nos ha tocado
vivir es preciso seleccionar con rigor y precisión el que nos parezca más adecuado, pero no
podemos permitir-nos el lujo de prescindir de las valiosas aportaciones que cualquier
paradigma o modelo pueda brindamos (p. 41).
Assim, face à necessidade de respondermos ao carácter complexo e
multidimensinal da participação dos pais na escola impôs-sc-nos a assunção de uma
diversidade metodológica, isto é, a utilização de técnicas de recolha e tratamento de
informação adequadas às questões formuladas no processo de construção do objecto de
estudo.
Neste sentido, na fase exploratória de natureza mais qualitativa do presente
estudo - e tendo como suporte o conhecimento acumulado pela experiência profissional
de vários anos, o aconselhamento da orientadora - pretendemos recolher informação
diversificada e obter um mais completo e aprofundado saber sobre as várias
perspectivas teóricas que se desenvolveram no âmbito da temática da participação dos
pais.
Numa fase posterior, procedemos à abordagem quantitativa, com base no
inquérito por questionário e na análise estatística multivariada, aspectos que, embora
não descurando uma análise qualitativa, conferem a este estudo um cariz marcadamente
quantitativo.
A elaboração do instrumento, ou seja, do inquérito por questionário, foi
precedida por uma aprofundada e exaustiva revisão bibliográfica e pela recolha de
dados documentais. Este procedimento visou um direccionamcnto mais adequado das
linhas norteadoras do estudo e permitiu, em simultâneo, uma maior organização e
rentabilização da informação recolhida e o equacionamento, de forma fundamentada,
das questões mais directamente relacionadas com os objectivos gerais e específicos
desta pesquisa.
61
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES PH PRCM-SSORHS
A nossa opção pelo inquérito por questionário, no presente estudo, justifica-se
pelo facto de ser uma técnica que permite obter informações consideradas pertinentes,
junto de um conjunto amplo de pessoas. Esta técnica possibilita, ainda, a transformação
de informação em dados quantitativos, utilizando técnicas de escalas ou contando o
número de sujeitos que deram determinada resposta, originando, assim, a obtenção de
dados de frequência.
O inquérito por questionário é utilizado para inquirir um conjunto de indivíduos,
geralmente representativo de uma população, sobre questões relativas a um ou a vários
aspectos da realidade de acordo com o interesse do investigador. No caso do nosso
questionário, optámos por uma questão aberta e por questões fechadas, embora
saibamos que estas condicionam, de certo modo, as respostas que se podem obter dos
inquiridos, pelo facto de lhes ser solicitado que se situem numa escala pré-definida. No
entanto, este procedimento facilita ao investigador o processo de apuramento e
tratamento de dados, permitindo desta forma classificar rapidamente a resposta numa
das categorias de análise previstas, facilitando a quantificação e o tratamento estatístico.
Elaborámos, também, uma recolha de dados sobre as famílias das crianças que
frequentam o agrupamento de escolas, uma vez que a família constitui, sem dúvida, um
estratégico posto de observação sobre a criança.
4.2.2 População Alvo
Após ter sido circunscrito o campo de análise, houve que tomar decisões, dado
que se deparam três possibilidades ao investigador conforme referem Quivy e
Campenhoudt (1992):
O investigador ou recolhe dados e faz incidir as suas análises sobre a totalidade
da população coberta por esse campo; ou a limita a uma amostra representativa desta
população; ou estuda apenas algumas componentes muito típicas, ainda que não
estritamente representativas dessa população (p. 162).
62
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARF.S DE PROFESSORES
A escolha é na realidade feita em função da temática em análise, dos objectivos
e das hipóteses da investigação. Neste sentido, a tomada de decisão incidiu sobre a
populaçâo-alvo que deve ser entendida como um conjunto de elementos constituintes de
um todo, neste caso, pelos professores dos vários níveis de ensino (Pré-escolar, 1° Ciclo
e 2o e 3o Ciclos do Ensino Básico) do Agrupamento Vertical de Escolas do Concelho de
Castro Verde a leccionar com turma no ano lectivo de 2003 - 2004.
A fim de delimitar c caracterizar a população-alvo, recorreu-se aos dados
constantes na Base de Dados da Escola Preparatória Dr. António Francisco Colaço
(escola sede), cujo contributo se tomou imprescindível.
De acordo com os dados a que tivemos acesso pode-se constatar que esta
população alvo48 é constituída por 69 docentes, sendo;
• 9 docentes da Educação Pré-escolar;
• 21 docentes do Io Ciclo do Ensino Básico;
• 39 docentes do 2o e 3o Ciclo do Ensino Básico.
Os questionários foram distribuídos à totalidade dos docentes com turma (69),
por três razões fundamentais: se encontrarem reunidas condições de fácil acesso; por a
população ser de tamanho reduzido c consequentemente, poder ser integralmente
estudada (não houve necessidade de recorrer a uma amostra representativa da
população).
18 Na população alvo, considerámos os docentes que leccionam directamente com turma (quer ao nível da monodoccncia, quer da pluridocência); não contemplando os docentes que se encontram nos apoios educativos ou em cargos de gestão.
63
A PARTICIPACÁO DOS PAIS - OLHARES PH PROl-HSSORHS
4.2.3 Modelo de Análise e Identificação de Variáveis
O modelo de análise é considerado "o prolongamento natural da problemática,
articulando de forma operacional os marcos e as pistas que serão finalmente retidos para
orientar o trabalho de observação e de análise" (Quivy e Campenhoudt, 1992, p. 151).
De acordo com a problemática em análise49, bem como os objectivos e as
hipóteses delineadas nesta investigação, procedeu-se ao delimitar do Modelo de
Análise, que é constituído por conceitos, dimensões, componentes, subcomponcntes e
indicadores.
Na elaboração da grelha de análise (quadro 1), tornou-sc necessário, primeiro,
proceder à identificação e definição dos conceitos; segundo, desdobrar esses conceitos
em dimensões, e, terceiro, delinear as componentes relativas a cada uma das dimensões;
por último, o desdobrar de componentes em subcomponcntes e depois em indicadores,
com vista a que, cada indivíduo se pudesse posicionar perante as afirmações que lhe são
colocadas, consoante o seu grau concordância ou discordância.
Apresentamos, de seguida, a grelha de análise.
4'' Vide 4.1 "A Problemática da investigação" (p. 50).
64
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - GUIARES Dlí PROM-SSORES
Pergunta de partida:
- Na perspectiva dos professores como se processa a participação dos pais na educação
escolar dos filhos, num agrupamento vertical de escolas e qual a sua influência ao nível
da formação pessoal e social dos alunos e da formação de pais?
Quadro 1
Grelha de análise (3.a versão)
CONCEITOS DIMENSÕES COMPONENTES INDICADORES
CARACTERIZAÇÃO Pessoal e profissional do
professor
Familiar dos
alunos
> Identificação do
docente - Idade - Sexo - Nível de ensino onde
lecciona - Situação profissional - Localidade de
residência - Anos de serviço
docente - Anos de serviço na escola actual
- Localidade de trabalho
1 Categorização
sócio-cultural e familiar dos alunos - Meio sócio-cultural
dos alunos - Estrutura familiar dos
alunos - Situação familiar dos
pais - Residência dos
alunos - Profissão dos pais - Idades dos pais - Habilitações
literárias dos pais
Fem/Mas Pré-escolar, L0,2.0e3.0
ciclos do E.B. QE, QZP e Contratado
- Profissão; Escola
Sede de concelho, fora da sede de concelho
■ Elevado, médio-alto, médio, médio-baixo, baixo
• Conjugal, extensa, monoparental, reconstituída
■ Vivem em união, separados outra situação Localidade da escola, fora da localidade da escola CNP, emigrante, reformado, desempregado, doméstica Sem nível de ensino, 1.° ciclo, 2.° ciclo, 3.° ciclo, E. Secundário, C. Médio, C. Superior)
65
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OL1 lARl-S DE PROFESSORAS
CONCEITOS DIMENSÕES COMPONENTES INDICADORES
• Práticas educativas - Regras de comportamento - Responsabilidades (individuais e colectivas)
- Autonomia - Valorização do trabalho - Prazer (saber e aprender) - Ambiente literário
PARTICIPAÇÃO Participação
• Género - Papéis familiares
na relação cscola-
família
- Papel de
encarregado de educação
- Só o pai, o pai mais do que a mãe, o pai e a mãe igual, a mãe mais do que o pai, só a mãe, outros familiares
- Mãe, pai, avós, outros
praticada
• Grau de democraticidade
• Grau de regulamentação
• Grau de
envolvimento
• Congruência da
participação com os objectivos da
organização
- Directa (dar opiniões ou defender os interesses pessoais)
- Indirecta (representantes nomeados ou eleitos)
- Informal - Não formal - Formal
- Activa (conhecimento dos direitos e deveres; conhecimento da sua influência na tomada de decisão)
- Reservada (actividade expectante ou actividade calculista)
- Passiva (atitudes e comportamentos de desinteresse ou falta de informação)
- Convergente (numa vertente consensual)
- Divergente (operando uma certa rotura)
66
A PARTICIPACÀO DOS PAIS - OLHARt-S DE PROFL-SSORES
CONCEITOS DIMENSÕES COMPONENTES INDICADORES
• Grau de poder dos
participantes
- Informação - Consulta - Recomendação - Aprovação - Decisão (individual ou
colegial)
• Orientação dos participantes
- Apoio/suporte - Controlo/avaliação - Oposição (vontade de mudar
ou de desafiar o poder formal)
• Areas de
participação
- Política/institucional (definição do projecto educativo)
-Organizativa (aspectos organizativos da escola)
- Técnica/operativa (referencia-se à acção pedagógica, à prestação de cuidados às crianças e ao apoio às actividades)
• Objecto social da participação
- Criança individual - Grupo/turma - Escola
• Factores que
interferem na
concretização da participação
- Conflitos - Representatividade - Condições - Desinteresse - Formalismo - Processos - Imagem pessoal (dos
professores, do estabelecimento de ensino e das actividades escolares)
FORMAÇÃO DE
PAIS Formativa • Importância da
formação
• Objectivos
- Questão aberta: concordo,
não concordo; três formas
de a operacional izar
- Desenvolvimento
- Aprendizagem
- Socialização
67
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OLHARF-S DE PROFESSORES
CONCEITOS DIMENSÕES COMPONENTES INDICADORES
- Auto-conhecimcnto FORMAÇÃO Pessoal e social • Competências - Responsabilidade nas
DOS ALUNOS pessoais tarefas - Responsabilidade nos
comportamentos - Comunicação
• Competências
sociais - Cooperação - Interacção - Respeito e tolerância - Autonomia - Entreajuda - Atenção
Os conceitos — que integram, logicamente, o modelo conceptual - foram
verbalizados do seguinte modo; "Participação dos pais", "Formação de Pais",
"Formação Pessoal e Social dos alunos" e "Caracterização" e foram desdobrados, nos
seus vários aspectos, conforme se explicita na grelha anterior e se descreve na nota de
rodapé50.
Estes quatro conceitos, foram peças fundamentais na arquitectura do estudo e
norteadoras de todo o processo investigativo, dado que se pretende conhecer, na
50 Descrevemos, mais em pormenor, o processo subjacente à elaboração da grelha de análise, sabendo-se que, inicialmente, foi necessário proceder à identificação e definição de conceitos. Num segundo momento, houve que desdobrar esses conceitos, nos seus vários aspectos, assim, a "Participação dos pais" foi desdobrado segundo a dimensão de "Participação praticada", enquanto que a "Formação de pais" foi analisada segundo a dimensão "Formativa", o conceito de "Formação pessoal e social dos alunos" foi desdobrado na dimensão "Pessoal e Social" e o conceito "Caracterização" foi analisado segundo as dimensões "Pessoal e profissional do professor" e "Familiar dos alunos". Em relação ao conceito "Participação" e à respectiva dimensão "Participação praticada" foram definidas as componentes designadas por "Grau de democraticidade", "Grau de regulamentação", "Grau de envolvimento", "Congruência da participação com os objectivos da organização", "Grau de poder dos participantes", "Orientação dos participantes", "Áreas de participação", "Objecto social da participação" e "Factores que interferem na concretização da participação". Quanto ao conceito "Formação de pais" e à respectiva dimensão "Formativa" foi definida a componente designada por "Objectivos" e "Necessidade de formação". No conceito "Formação dos alunos" e na sua dimensão "Pessoal e Social" foram definidas as componentes "Competências Pessoais" c "Competências Sociais". Em relação ao conceito "Caracterização" na sua dimensão "Pessoal e Profissional do professor" foi dividido na "Identificação do docente", considerada como característica do professor e, na dimensão "Familiar dos alunos" foi desdobrada nas componentes "Categorização sócio-cultural e familiar dos alunos", "Práticas educativas" e "Género".
68
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
perspectiva dos professores, se a relação que os pais estabelecem com a escola está
relacionada com a formação pessoal e social dos alunos e com a formação de pais.
Foram, nesta conformidade, os elementos conceptuais estruturantes na
construção do Modelo de Análise que apresentamos graficamente na figura seguinte: na
sua versão sintética (figura 7) e na página seguinte na sua versão analítica (quadro 2).
FORMAÇÃO DE PAIS
Importância Objectivos
❖
PARTICIPAÇÃO DOS PAIS
• Participação praticada
CARACTERIZAÇAC Pessoal c profissional do professor Familiar dos alunos
FORMAÇÃO DOS ALUNOS
• Pessoal • Social
Figura 7. Modelo de análise (3.a versão sintética)
69
I o •o
§
I <u
i WJ (U Cu
c£
Identificação do docente
Categorização sócio-culturaJ e
familiar do aluno
Idade
Sexo
Nível de ensino
Anos de docência
Localidade de trabalho
Residência
Meio sócio-cultural do aluno
Estrutura familiar do aluno
Residência do aluno
Nível de educação formal dos pais
Profissão dos pais
Idade dos pais
Situação familiar
£ ■>
1 3
Práticas Regras de comportamento educativas familiares
Responsabilidade
Autonomia s £ ,0
•<3 £
Valorização
Prazer
Ambiente
Papéis Só o pai
2 familiares na
relação escola-família
O pai mais do que a mãe <u 1 O
A mãe e o pai igual
A mãe mais do que o pai
Só a mãe
MODELO DE ANÁLISE (3a. versão analítica - final) 4— ——
CARACTERIZAÇÃO PARTICIPAÇÃO DOS PAIS ■
FORMAÇÃO 1
►
Grau de democraticidade
Directa
Indirecta
| Grau de
regulamentação Informal
o Não formal
o Formal
.eL "G
Grau de envolvimento
Activa
Reservada 0, Passiva
Grau de congruência
Convergente
Divergente
Grau de poder Informação dos
participantes Consulta
Recomendação
Aprovação
Decisão
Orientação dos Apoio / suporte
& %
participantes Controlo / avaliação
Oposição
0
1
Áreas de Politica - institucional participação Organizativa -
administrativa
Técnica - operativa
Objecto social Criança individual da participação Grupo / turma
Escola
Competências Auto-conhecimento pessoais Responsabilidade nas tarefas
"êÕ | Vi <o
Responsabilidade comportamental
Competências Atenção BS s
sociais Cooperação
£ Respeito e tolerância
Autonomia
Entre-ajuda
Form
ação
do
s pa
is
Formativa Importância
Objectivos
Factores que Conflitos interferem na concretização
Representatividade
da participação Condições
Desinteresse
Formalismo
Processos
Imagem
Quadro 2. Modelo de Análise (3.a versão analítica)
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARIAS DE PROFHSSORHS
4.2.4 A Formulação das Hipóteses e Caraeterização das Variáveis
Segundo Quivy e Campcnhoudt (1992) entendc-se por "variável [a] todo o
atributo, dimensão ou conceito susceptível de assumir várias modalidades" (p. 217).
Neste estudo, identificámos variáveis independentes e variáveis dependentes, as
quais são definidas do seguinte modo:
A variável dependente é uma variável de resposta ou outpuf, é o factor que é
observado e medido, para determinar o efeito da variável independente ou seja, o factor
que se manifesta, desaparece ou varia, à medida que o investigador introduz, remove, ou
faz variar a variável independente
A variável independente é uma variável estímulo ou input. . . é o factor que é
medido, manipulado e seleccionado pelo investigador, para determinar a sua relação
com um fenómeno observado (Tuckman, 2000, pp. 121-122).
A variável dependente é assim considerada porque representa a consequência de
uma mudança na variável independente. A variável independente é a variável que o
investigador irá manipular ou modificar, para provocar uma alteração numa outra
variável.
As hipóteses foram deduzidas do Modelo de Análise e formuladas a partir das
conexões entre os conceitos. Enunciando-se de novo51 para dar intelcgibilidadc à
caracterização das variáveis.
51 Foram enunciadas em 4.1 - A problemática da investigação. Por vezes, as hipóteses confundem-se com as observações. No entanto, elas referem-se a coisas completamente diferentes. Uma observação refere-se ao que é, ou seja, ao que se pode verificar e uma hipótese é uma expectativa sobre acontecimentos, baseada nas generalizações de uma relação que se assume como tal, entre determinadas variáveis. As hipóteses são abstractas e estão relacionadas com as teorias e os conceitos, enquanto as observações que se utilizam para testar essas hipóteses, são específicas e baseadas em factos. As hipóteses surgem como aspectos que emergem quer dos aspectos conceptuais, quer da definição dos objectivos e acompanham todo o processo metodológico. Nesta perspectiva, uma hipótese apresenta-se como uma resposta provisória a uma pergunta fornecendo à investigação um fio condutor eficaz que, a partir do momento cm que ela é formulada vai permitir as relações que, do ponto de vista da teoria, se julga mais correctas e que a observação e a análise subsequentes permitirão infirmar ou confirmar. A hipótese é considerada um aspecto de relevo e neste sentido Quivy e Campenhoudt (1992) referem "a organização de uma investigação em tomo de hipóteses de trabalho constitui a melhor forma de a conduzir com ordem e rigor" (p. 119).
71
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARl-S DL PROFESSORES
• Hipótese de trabalho (Hl): A participação dos pais na vida escolar dos filhos,
num agrupamento de escolas, influencia a necessidade de formação de pais.
• Hipótese de trabalho (H2); A participação dos pais na vida escolar dos filhos,
num agrupamento de escolas, influencia a formação pessoal e social destes.
• Hipótese nula (HO): Não há relação entre a participação dos pais na vida
escolar dos filhos, num agrupamento de escolas e a necessidade de formação de pais.
• Hipótese nula (HO): Não há relação entre a participação dos pais na vida
escolar dos filhos, num agrupamento de escolas e a formação pessoal e social destes.
Tomando em consideração as hipóteses Hj e Ho, destacaremos:
Io A variável independente - A participação dos pais - factor manipulável e
manipulado que irá provocar efeitos na variável dependente, quando, ela própria sofre
alterações;
2o A variável dependente - A importância de formação de pais - é o factor que
"hipoteticamente", pensamos, irá ser afectado pelas mudanças / alterações produzidas
na variável independente.
3o A variável dependente - A formação pessoal e social dos filhos - é o factor
que "hipoteticamente", pensamos, irá ser afectado pelas mudanças / alterações
produzidas na variável independente.
Neste Modelo de Análise, a variável independente é retratada pela "Participação
dos pais" e trata-se de uma variável que se identifica com a dimensão ou característica
que o investigador manipula, de modo deliberado e que irá provocar efeitos na variável
dependente, nos casos em que ela própria sofre alterações.
As variáveis dependentes, neste estudo, identificadas como a "Formação de
Pais" e a "Formação Pessoal e Social dos filhos" surgem como características que
aparecem ou mudam quando o investigador aplica, suprime ou modifica a variável
independente.
Nesta investigação serão tidas em conta as variáveis moderadoras (de controlo),
de modo a que possamos avaliar correctamente a importância específica da variável
explicativa principal e neste sentido Quivy e Campenhoudt (1992) referem:
72
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OUIARHS DE PROFESSORES
Não basta estudar só a relação entre duas variáveis definidas pela hipótese . . . .
É necessário tomar em consideração variáveis de controlo dado que as correlações
observadas, longe de traduzirem ligações causa - efeito, podem resultar de outros
factores implicados no mesmo sistema de interacções (p. 158).
As variáveis moderadoras a ter em conta na investigação são: ao nível pessoal e
profissional do professor: o nível de ensino no qual o docente lecciona, a situação
profissional do professor, os anos de serviço e a localidade da escola; o nível familiar
dos alunos: o meio sócio-cultural dos alunos, a sua estrutura familiar, a sua residência,
as práticas educativas familiares e os papéis familiares.
Secundando a caracterização das variáveis uma outra etapa do processo de
construção e validação do modelo de análise é o de delimitação do campo da
observação/recolha. Considerando que a observação engloba
O conjunto das operações através das quais o Modelo de Análise (constituído
por hipóteses c conceitos) é submetido ao teste dos factos e confrontado com dados
observáveis. A observação é, portanto uma etapa intermédia entre a construção dos
conceitos e das hipóteses, por um lado, e o exame dos dados utilizados para as testar por
outro. (Quivy e Campenhoudt, 1992, p. 157)
conceber esta etapa da observação equivale a responder às três perguntas seguintes:
"Observar o quê?", "Em quem?" e "Como?". A primeira, assenta sobretudo na
elaboração de um Modelo de Análise tão correcto, preciso explícito quanto possível,
que por sua vez ajudará a definir o mais correctamente possível os dados pertinentes c
úteis ao trabalho empírico; a segunda - enfatiza o facto de saber que tipo de dados
deverão ser recolhidos, é, também, necessário limitar o campo de análises empíricas no
espaço geográfico e social c no tempo; a terceira, consiste na construção do
instrumento.
A observação levada a cabo no presente estudo foi orientada para a emergência
de hipóteses pertinentes que foram posteriormente submetidas a actividades de
verificação, isto é, à avaliação de hipóteses pertinentes (função heurística) e para
confirmar ou infirmar da correcção da explicação dos fenómenos (função de
verificação).
73
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
4.2.5 Opcracionalização das Variáveis - Inquérito por Questionário
Após feita a identificação das variáveis, adoptámos procedimentos com vista à
sua opcracionalização. Este processo é um imperativo para que se proceda à necessária
mensuração das variáveis. Neste sentido, o questionário construído, para este estudo,
resultou de uma multiplicidade de factores - o trabalho de pesquisa c reflexão em tomo
de um corpo teórico; os contactos informais e formais junto de profissionais de
educação; o conhecimento empírico-especulativo que detemos acerca desta temática da
participação dos pais; da análise do projecto educativo do agrupamento; da recolha de
dados sobre as famílias — e teve subjacente os objectos gerais c específicos que
percorreram todo o estudo de uma forma transversal.
Foi nossa opção utilizar o questionário como instrumento de recolha de dados,
especificamente, o questionário indirecto. Neste não existe um relacionamento directo
entre o inquirido e o investigador. E, no entanto, auto-administrado, dado que o
inquirido contacta directamente com as questões e anota as suas próprias respostas sem
a presença do investigador, o qual não se toma influenciador ou inibidor do
respondente.
Para a construção do questionário baseamo-nos no nosso mapa conceptual e
apresentámos uma questão aberta e questões fechadas (nestas releva-se o condicionante
do inquirido, face às sugestões apresentadas). A questão aberta do questionário dá aos
respondentes a impressão de que estão, de facto, a ser ouvidos, possibilitando um
alargamento na interpretação dos resultados. Nas questões fechadas optou-se por utilizar
a escala de Likerí (de 1 a 5) que tem mais opções de resposta, permitindo aos inquiridos
posicionar-se nos diferentes graus de concordância ou discordância, sentindo-se menos
forçados a tomar posições extremas do que no caso de perguntas que remetem para
respostas do tipo Sim/Não.
Analisamos seguidamente, e mais em pormenor, o referido questionário,
relembrando que a sua construção tem como objectivo geral "Conhecer se, na
74
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES PH PROFESSORES
perspectiva dos professores, a relação que os pais estabelecem com a escola está
relacionada com a formação pessoal e social dos alunos e com a formação de país^.
O questionário utilizado compreende sete blocos. De acordo com as regras da
investigação académica, o questionário, compõe-se de uma folha de rosto, em se
divulga de forma genérica, o objectivo do estudo e a instituição de ensino onde decorre
o Mestrado e se refere o carácter de confidencialidade e de anonimato das respostas,
bem como o apelo ao preenchimento da totalidade do mesmo.
Para preenchimento do questionário utilizou-se a escala do tipo Likerí (como
referimos anteriormente) que, de acordo com Tuckman "usa-se para registar o grau de
concordância ou discordância com determinada afirmação sobre uma atitude, uma
crença ou juízo de valor" no entanto, foi colocada também a possibilidade de, de forma
aberta, serem acrescentados outros factores a cada bloco de questões (2000, p. 280).
O questionário engloba sete (7) blocos:
Io- "Identificação do docente";
2o - "Categorização sócio-cultural e familiar dos alunos";
3o - "As práticas educativas familiares";
4o - "As diferenças de género na colaboração dos pais com a escola";
5o - "Formas e áreas de participação dos pais com a escola";
6o - "Formação de pais";
7o - "Competências pessoais e sociais dos alunos"
No primeiro bloco intitulado "Identificação do Docente" destina-se a recolher
dados sobre as características pessoais e profissionais do professor, nomeadamente, a
"Idade", o "Sexo", o "Nível de Ensino onde Lecciona", a "Situação Profissional", a
"Localidade de Residência", os "Anos de Serviço Docente", os "Anos de Serviço na
Escola Actual", a "Localidade da Escola" (na sede de concelho ou fora da sede de
concelho e a distância).
O segundo bloco do questionário, sob a designação "Categorização sócio-
cultural e familiar dos alunos", pretende recolher dados relativamente ao "Meio sócio-
cultural dos alunos" que compreende 5 variáveis (P211 a P215); à "Estrutura familiar
dos alunos" constituída por 4 variáveis (P221 a P224) e à "Residência dos alunos" com
2 variáveis (P231 c P232). As respostas podem ser graduadas numa escala de medição
75
A ['ARTICIPACÁO DOS PAIS - OLHARES DE PROFHSSORES
que compreende "nenhuns" (nível 1), "poucos" (nível 2), "alguns" (nível 3), "muitos"
(nível 4), "muitíssimos" (nível 5) e, por fim, "N" (não sabe/não responde).
No terceiro bloco do questionário, sob o título "As práticas educativas
familiares", pretende-se apurar dados sobre "A educação familiar dos alunos",
enunciando um conjunto de aspectos que tipificam os papéis dos pais nas práticas
familiares de socialização das crianças e é constituída por 9 variáveis (P31 a P39). A
escala adoptada neste conjunto de variáveis compreende o "N" (não sabe), o "discordo
completamente" (nível 1), "discordo" (nível 2), o "não concordo nem discordo" (nível
3), o "concordo" (nível 4) e, por fim, o "concordo inteiramente" (nível 5).
No quarto bloco, sob o título "Diferenças de género na colaboração dos pais
com a escola", tem como principal objectivo recolher a opinião dos inquiridos sobre as
situações observadas na escola no desempenho do papel no que concerne aos "Papéis
familiares na relação escola-família" que inclui 6 variáveis (P411 a P416). As respostas
dos inquiridos podem ser graduadas na seguinte escala: o "nunca" (nível 1), o
"raramente" (nível 2), o "às vezes" (nível 3), o "muitas vezes" (nível 4), o "sempre"
(nível 5) e, "N" (não sabe).
O quinto bloco do questionário, sob a designação "Formas e áreas dc
participação dos pais na escola", pretende recolher as opiniões dos docentes
relativamente à participação praticada pelos pais num agrupamento dc escolas ao nível
do "Grau de democraticidade" (P511 a P514), do "Grau de regulamentação" (P521 a
P523), do "Grau de envolvimento" (P531 a P537), da "Congruência da participação
com os objectivos da organização" (P541 a P542), do "Grau de poder dos participantes"
(P551 a P556), da "Orientação dos participantes" (P561 a P564), das "Áreas de
participação" (P571 a P575), do "Objecto social da participação" (P581 a P583) e, por
fim, dos "Factores que interferem na efectiva participação dos pais na escola"
constituído por 9 variáveis (P591 a P599).
O sexto bloco intitulado "Formação de pais" pretende apurar dados sobre a
importância da formação dc pais ao nível dos "Objectivos na formação dc pais" que
compreende 8 variáveis (P611 a P618) e a "Concordância ou discordância da formação
de pais" (P62), questão com possibilidade de resposta aberta - no caso dc concordância,
enunciar três formas dc opcracionalizar essa formação - no caso de discordância, a sua
justificação.
Por fim, no bloco sétimo, sob o título "Competências pessoais c sociais dos
alunos", tem como principal objectivo recolher a opinião dos inquiridos sobre a
76
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - GUIARES DE PROFESSORES
formação dos alunos em relação às suas "Competências Pessoais" constituída por 6
variáveis (P711 a P716) e às "Competências sociais" que inclui 8 variáveis (P721 a
P728). As respostas dos inquiridos podem ser graduadas numa escala de medição que
compreende o "nunca" (nível 1), o "raramente" (nível 2), o "às vezes" (nível 3), o
"muitas vezes" (nível 4), o "sempre" (nível 5) c, "N" (não sabe).
Após a construção do questionário, houve que desencadear uma situação de pré-
teste, de modo a testar o instrumento de observação, com vista a percepcionar se as
questões estão a ser bem compreendidas e se as respostas correspondem às informações
que se pretendem transmitir.
Deste modo, o questionário (anexo 3) foi objecto de um pré-teste junto de uma
amostra da população em estudo (10 docentes dos vários níveis de ensino dos concelhos
limítroies), mas constituída por sujeitos diferentes dos que foram incluídos na
população a inquirir, que se pronunciou quanto à "Estrutura", "Extensão", "Clareza" e
"Linguagem". Este teste prévio "permite muitas vezes detectar as questões mal
construídas, os esquecimentos, as ambiguidades e todos os problemas que as respostas
levantam" (Quivy e Campenhoudt, 1992, p. 173), pelo que, após o preenchimento deste
pré-questionário - e tendo em conta as sugestões feitas pelos inquiridos - foram feitas
algumas correcções, tendo sido redigido o questionário definitivo para posterior
aplicação (ver anexos 4 e 5).
Além disso, a validade do instrumento, isto é, a verificação da existência de um
paralelismo entre o que o questionário pretende medir e os itens que o compõem foi
assegurada por especialistas, sobre "Concepção e estrutura", "Clareza das perguntas",
"Extensão" e "Linguagem". Os mesmos especialistas expressaram a sua opinião sobre o
modelo teórico, em termos de "Inteligibilidade" e "Pertinência".
Considerámos as várias sugestões feitas pelos especialistas (anexo n.0 4), das
quais fizemos as alterações consideradas necessárias.
77
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OLHARES DE PROl t-SSORES
4.2.6 Recolha e Procedimento para a Análise e Tratamento de Dados
Após o conhecimento da população alvo, houve que desencadear o processo de
recolha de dados dado que a construção do instrumento pressupõe que o mesmo seja
posto em prática, junto de uma determinada população, de forma a obter uma proporção
de respostas que sejam suficientes para permitir que a sua análise seja válida e
fidedigna.
A recolha de dados fez-se em tomo dos questionários distribuídos pela totalidade
dos docentes - pré-escolar, 1.° ciclo, 2.° ciclo c 3.° ciclo do ensino básico - a leccionar
com turma no Agrupamento Vertical de Escolas do Concelho de Castro Verde.
Previamente, houve necessidade de obter autorização junto do Conselho
Executivo, cujo parecer favorável permitiu desencadear o processo de recolha de dados.
A população alvo deste estudo é constituída por 69 docentes, sendo 9
Educadores de Infância, 21 Professores do 1.° Ciclo do Ensino Básico c 39 Professores
do 2.° c 3.° Ciclos do Ensino Básico a exercer funções no agrupamento de escolas no
ano lectivo de 2003/2004. A entrega dos questionários processou-se durante o início do
mês de Junho e o processo de recolha foi desencadeado até ao final da primeira
quinzena de Julho.
Nas Escolas do 1.0 ciclo e nos Jardins-de-infância situados na sede de concelho e
fora desta, a entrega e recolha dos questionários foi feita de forma directa, o que
implicou várias deslocações a esses estabelecimentos de ensino. Na escola do 2.° e 3.°
ciclos do ensino básico houve um contacto directo com os coordenadores de
departamento para explicitar o objectivo do estudo e solicitar a sua colaboração no
processo de entrega e recolha dos questionários aos docentes dos respectivos
departamentos.
A recolha de questionários permitiu a devolução de 59 dos 69 que haviam sido
distribuídos, representando uma taxa de retomo de 85,5%, considcrando-sc deste modo
uma taxa de resposta muito satisfatória, facto este derivado, provavelmente, da forma
como foi feita a entrega e recolha dos mesmos.
78
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OLHARl-S DE PROFESSORt-S
Após a recolha dos dados, elaborámos um protocolo de análise estatística,
procedimento necessário, para nele se inserirem os dados recolhidos e para o qual foi
utilizado o programa estatístico SPSS /ôr Windows. Definimos o número de variáveis
(109), as quais representam as respostas ao nosso questionário. Todas as questões foram
codificadas, isto é, transformadas em números, números esses, que constituíram a base
de dados sobre a qual trabalhámos.
Procedeu-se, numa primeira abordagem, e em termos exploratórios, à análise
estatística descritiva, o que permitiu obter a frequência das respostas dadas pelos
inquiridos, através do cálculo de distribuição de frequências, proccdendo-se, também,
ao cálculo das medidas de tendência central, de modo a conhecer e a compreender a
população em estudo (anexo 6).
O cálculo das medidas de tendência central juslifíca-se porque a forma de
sintetizar a distribuição de valores de uma variável faz-se estabelecendo a sua tendência
central. Existem três medidas de tendência central; média52, mediana53 e moda54.
Para o tratamento dos dados, a fim de verificar as diferenças estatisticamente
significativas, utilizámos vários tipos de testes (anexo 7) de acordo com o tipo de
variáveis (as variáveis moderadoras foram consideradas independentes no tratamento
estatístico). Deste modo, quando a variável dependente é ordinal e a variável
independente é dicotómica (tem duas categorias), utilizámos o teste Mann-Whilney Test.
No caso de a variável dependente ser ordinal e a variável independente ter três ou mais
categorias utilizámos o Kruskal-Wallis Test. Se a variável dependente é scale e nominal
e a variável independente é dicotómica, o teste utilizado é o / de Studienl. Nas variáveis
dependentes de scale e variáveis independentes com três ou mais categorias, aplica-se o
ANOVA, se as variâncias forem homogéneas (Leven 's Test) para sig.> 0,05 ou então o
Kruskall- Wallis Test, caso a variância não seja homogénea (sig < 0,05).
52 A Média é uma medida do valor mais típico e vulgarmente usada. Representa o valor médio de uma série de valores, obtidos através da soma de todos os valores individuais e dividindo-os pelo número de valores. 53 A Mediana de uma série estatística é o valor dessa série que tem tantos valores inferiores a ele como superiores. Para se encontrar a mediana, os valores devem ser ordenados crescentemente. Se o número total de valores for ímpar, a mediana é o valor que ocupa a posição central. Se o número total de valores for par, a mediana será a média aritmética do valor mais alto da primeira metade e do valor mais baixo da segunda metade. Se a mediana calhar num grupo de valores da mesma ordem de grandeza, atribui-se-Ihes esse valor. Utiliza-se a mediana quando a distribuição é irregular e quando a média daria uma imagem falsa da situação real. 54 A Moda é uma medida de tendência central não muito utilizada na investigação. Ao contrário da média que só é utilizada com variáveis de intervalo. A moda pode ser usada a qualquer nível de mensuração enquanto que a mediana pode ser utilizada para variáveis ordinais e de intervalo mas não para variáveis nominais.
79
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLIIARKS DE PROFESSORES
O Chi-Square foi utilizado para variáveis independentes e dependentes nominais.
Para analisar a questão aberta do questionário, procedemos primeiro a uma
análise interpretativa. Nesse sentido, e tendo por base a análise de dados referidos por
investigadores em metodologia qualitativa (nomeadamente Bogdan & Biklen, 1994;
Miles & Huberman, 1985; Vala, 1987), o processo foi operacionalizado segundo três
grandes momentos: a análise exploratória, a descrição e a interpretação desses mesmos
dados.
Para além dos procedimentos descritos anteriormente para o tratamento da
informação recolhida através do questionário foram consultados documentos que
abrangeram duas categorias diferentes, de acordo com a sua própria natureza: (1)
documentos oficiais produzidos pelas instâncias centrais e relacionados com o objecto
de estudo; e (2) documentos produzidos na escola. Destes, foram consultados os
seguintes;
• Base de dados do Agrupamento de escolas que nos permitiu informações
acerca das estruturas de educação formal, da população docente e da população
discente;
• O projecto educativo do estabelecimento para conhecer o retrato da escola;
• Documentos internos não informatizados, nomeadamente: fichas de inscrição
das crianças do Jardim-de-infância; processos de matrícula das crianças do 1.° ciclo;
inquéritos feitos aos alunos pelos directores de turma do 2.° e 3.° ciclos. Bascando-nos
nestes documentos elaborámos uma ficha a fim de caracterizar as famílias de todas as
crianças que frequentam o agrupamento de escolas, pretendendo recolher dados sobre
"as diferenças de género na população discente", "idades dos progenitores",
"habilitações literárias dos progenitores", "actividade profissional dos pais e das mães",
"estrutura familiar das crianças", "estrutura familiar dos progenitores" e o "desempenho
do papel de encarregado de educação" (anexo 8).
Esta ficha de caracterização, eíèctuada aluno a aluno, revelou-sc num trabalho
muito moroso dada a inexistência de dados pertinentes sobretudo para os alunos do 1.°
ciclo. A escola sede exige uma caracterização dos agregados familiares para o 2.° e 3.°
ciclos mas não o faz para o 1.0 ciclo. Por sua vez, as fichas de inscrição das crianças do
Jardim-de-infância são mais completas e precisas.
80
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
Após o levantamento, criou-se uma base de dados no SPSS, versão 12, e para a
sua análise tivemos em consideração os quadros extraídos através do output (anexo 9)
que permitiram a organização dos dados, tomando possível uma primeira leitura do
fenómeno em questão. No intuito de tomar essa leitura mais clara, elaborámos no SPSS
e no Excel (a partir dos quadros do SPSS), os gráficos que se encontram na
caracterização das famílias das crianças.
Após justificarmos as nossas opções metodológicas e explicitarmos o percurso e
a arquitectura da nossa investigação, procederemos, de seguida, à apresentação e análise
dos dados recolhidos.
81
A PARTICIPACÀO DOS PAIS -QLUARHS DE PROFI-SSORLS
5 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO AGRUPAMENTO VERTICAL
DE ESCOLAS DE CASTRO VERDE - OLHARES DE
PROFESSORES
5.1 Geografia do Estudo - Concelho de Castro Verde
Contextualizar um qualquer estudo sociológico exige um olhar atento sobre as
características geográficas c culturais da região onde o mesmo se produz. Nesse sentido,
captámos algumas imagens identificadoras do concelho de Castro Verde — da geografia
à cultura passando pela população - e centrámo-nos sobre a singularidade das escolas
do Agrupamento salientando as características dos corpos docente e discente c
analisando as especificidades das famílias dos alunos.
5.1.1 Caracterização Económica e Cultural de Castro Verde
O concelho de Castro Verde, com uma área de 567 Km2, localiza-se na parte sul
do Baixo Alentejo, sendo limitado a Norte pelos concelhos de Beja e de Aljustrel, a Este
pelo concelho de Mértola, a Sul pelo concelho de Almodôvar e a Oeste pelo de Ourique.
A vila de Castro Verde, sede de freguesia e de concelho, situa-se em posição central e a
uma distância média de 9,2 km relativamente às outras sedes de freguesia - Casével,
Entradas, São Marcos da Atabueira e Santa Bárbara de Padrões, o que facilita as
82
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROrESSORES
uma distância média de 9,2 km relativamente às outras sedes de freguesia - Casével,
Entradas, São Marcos da Alabueira e Santa Bárbara de Padrões, o que facilita as
acessibilidades no interior do concelho. Diariamente convergem para Castro Verde,
através de carreiras de transportes públicos, os alunos dos 2o e 3o ciclos do Ensino
Básico, verificando-se que cerca de metade dos alunos que frequentam os níveis de
ensino referidos utilizam a rede de transportes escolares.
BFJA nr
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CASTRO vcRoe *»ri
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Figura 8. O Concelho de Castro Verde. Fonte: Cartaz "Castro Verde — Uma janela sobre a planície" da Região de Turismo Planície Dourada.
Em termos populacionais, o Concelho de Castro Verde acompanhou durante a
segunda metade do século XX a situação verificada nos restantes concelhos do
Alentejo, onde os estigmas da desertificação e do desemprego imperaram.
No entanto, a partir da década de 80, verificou-se um ligeiro impulso positivo a
nível demográfico, decorrente da atracção de novos residentes, bem como um aumento
da população activa jovem. Essas duas particularidades estiveram intimamente
associadas ao incremento da exploração mineira no concelho, através do projecto
Neves/Corvo.
No Censo de 2001 a população residente era de 7603 habitantes, verificando-se
um saldo positivo ao nível das migrações internas (38 indivíduos). Este saldo -
conforme mostramos no quadro seguinte - assume especial importância uma vez que a
maioria dos concelhos do Baixo Alentejo apresentaram migrações negativas.
83
A PART1C1PACÀO DOS PAIS - OU IARES DE PROFESSORES
Quadro 3
População Residente, segundo as Migrações (relativamente a 1999/12/31), por Concelho de Residência Habitual em 2001/03/12
Concelho dc residência
habitual em 2001/03/12
População residente em
2001
População que não
mudou dc concelho
Imigrantes no Concelho Emigrantes do Concelho para outro concelho
Saldo das Migrações
Internas A-B Provenientes
de outro concelho
Provenientes do
estrangeiro
hm 11 MM 11 HM H HM H HM H HM H
Castro Verde 7 603 3813 7173 3551 208 120 144 100 170 82 38 38
Fonte: INE, Recenseamento Geral da População e Habitação (Censos 2001 - Resultados Definitivos)
Os impactos do projecto mineiro não se verificaram, apenas, a nível demográfico
mas, acima de tudo, a nível socioeconómico c cultural. A revitalização económica foi
visível num concelho que vivera até aí quase exclusivamente dependente do sector
primário e que passou, a partir da década referida, a apresentar uma maior
diversificação da sua base produtiva. Neves/Corvo foi, assim, um motor de dinamização
económica uma vez que, associadas ao projecto mineiro, começaram a proliferar no
concelho pequenas e médias empresas ligadas aos sectores secundário e terciário. Esta
preponderância da população activa nestes sectores de actividade continuou a verificar-
se cm 2001, conforme observamos no quadro seguinte:
Quadro 4 População Residente Economicamente Activa (sentido lato) e Empregada, segundo o
Sexo e o Ramo de Actividade no Concelho de Castro Verde Indicador valor unidade
População Economicamente Activa HM 3 375 indivíduos
População Economicamente Activa H 2 026 indivíduos
População Economicamente Activa e Empregada HM 2 985 indivíduos
População Economicamente Activa e Empregada H 1 926 indivíduos
População Economicamente Activa e Empregada, CAE55 0 332 indivíduos
População Economicamente Activa e Empregada; CAE 1 a 4 996 indivíduos
População Economicamente Activa e Empregada, CAE 5 a 9 I 677 indivíduos
Fonte: INE, Recenseamento Geral da População e Habitação, 2001 (Resultados Definitivos)
55 De acordo com o INE, a classificação das actividades económicas contempla as seguintes divisões; 0 - Actividades mal definidas; 1 - Agricultura, silvicultura, caça e pescas; 2 - Indústrias extractivas; 3 - Indústrias transformadoras; 4 - Electricidade, gás e água; 5 - Construção e obras públicas; 6 - Comércio por grosso e a retalho, restaurantes e hotéis; 7 - Transportes, armazenagem e comunicações; 8 - Bancos e outras instituições financeiras, seguros, operações sobre imóveis e serviços prestados às empresas; 9 - Serviços prestados à colectividade, serviços sociais e serviços pessoais. Fonte; Instituto Nacional de Estatística - Portugal
84
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DL- PROFESSORES
Verifica-se através deste quadro que a população economicamente activa e
empregada é maioritariamente masculina e que se assiste a um tercearização dos
sectores de actividade, tendência esta comum nas sociedades actuais.
Paralelamente às tendências verificadas a nível nacional, o concelho de Castro
Verde conheceu, sob o ponto de vista cultural, uma diminuição da taxa de analfabetismo
na década compreendida entre 1991 e 2001, conforme patenteia o quadro 5, embora esta
taxa seja, ainda, percentualmente elevada, consequência dos factores de interiorização e
ruralidade do concelho. Salientamos que, neste quadro, apresentamos na primeira
coluna o total de indivíduos correspondentes aos indicadores considerados; na segunda
a percentagem destes face ao total da população; por sua vez, nas colunas seguintes,
diferenciadas por género, c no que concerne às percentagens, indicamos o número
correspondente à população para cada um dos indicadores considerados.
Quadro 5 População Residente segundo o Nível de Ensino Atingido e Sexo e Taxa de Analfabetismo
Indicador Total % Homens % Mulheres %
Nenhum nível de ensino 1433 18.8 682 47.6 751 52.4
1.0 Ciclo do ensino Básico 2 894 38.0 1 494 51.6 1 400 48.4 2.° Ciclo do ensino Básico 970 12.8 519
53.5 451
46.5 3.° Ciclo do ensino Básico 802 10.6 450 r- f i 352
43.9 Ensino Secundário 942 12.4 446
56.1 496
Ensino Médio 23 0.3 9 47.3 14 52.7
Ensino Superior 539 7.1 213 39.1 326 60.1
Taxa de analfabetismo HM, em 1991 20.5% 39.5 60.5 Taxa de analfabetismo HM, em 2002 15.7%
Fonte: 1NE, Recenseamento Geral da População e Habitação, 2001 (Resultados Definitivos)
Da leitura do quadro toma-sc evidente que a maioria da população residente
possui um grau de escolarização mínimo (refíra-se que o somatório dos sem qualquer
nível de ensino e os com o primeiro ciclo do ensino básico prefazem 56,8%) enquanto
que os indivíduos mais letrados - com habilitações de grau médio ou superior -
constituem uma minoria. Outra das evidências do quadro diz respeito às diferenças de
género no que concerne à educação formal da população: é maior a percentagem de
85
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - QLHARHS DE PROFESSORES
mulheres com habilitações literárias mais elevadas o que, provavelmente, pode ser
explicado pelo facto do homem entrar mais precocemente no mundo do trabalho e,
ainda, pelo facto, (estatisticamente comprovado a nível nacional) de as mulheres
obterem níveis de sucesso escolar mais elevado do que os homens.
Estes indicadores sócio-culturais expressos no último censo resultou quer das
tendências actuais da sociedade portuguesa - prolongamento da escolarização dos mais
jovens — quer da vinda de novos residentes, ocorrida, como dissemos anteriormente, a
partir da década de oitenta. A interacção social provocada pelo afluxo destes novos
residentes, vindos de zonas urbanas e com um grau de habilitações superior, foi,
também, determinante para a criação de novas dinâmicas culturais em Castro Verde.
O concelho apresenta, actualmente, uma vida cultural mais rica c diversificada
onde o equilíbrio entre a inovação e a tradição tem sido conseguido, através de uma
acção conjugada entre as autarquias locais, as associações e colectividades e os
estabelecimentos de ensino.
O Estudo intitulado "índice de Desenvolvimento Relativo para os concelhos do
Alentejo", produzido pelo Departamento Regional de Prospectiva e Planeamento da
Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, em 2001, no que respeita ao índice
relativo de Educação e Cultura, considera o concelho de Castro Verde numa posição
privilegiada relativamente aos concelhos de todo o Alentejo, apenas antecedido por
Évora, Beja, Portalegre e Vila Viçosa, quer em 1994, quer em 1998.
Tendo em conta todos os factores referidos, podemos considerar que o contexto
sócio-cullural em que o Agrupamento de Escolas, objecto do nosso estudo, se insere não
é, em princípio, impeditivo nem desfavorável ao sucesso educativo das nossas crianças
e jovens, podendo, até, ser entendido como facilitador e potenciador de aprendizagens.
5.1.2 A Rede Pública do Ensino Básico: Estabelecimentos e População Escolar
Das estruturas de educação formal do concelho de Castro Verde fazem parte
vários estabelecimentos de ensino56, cfectuando-se o presente estudo no Agrupamento
56 Para além do Agrupamento de Escolas em que incide o nosso estudo, existe, ao nível do ensino de rede pública, uma Escola Secundária onde funcionam alguns cursos do ensino secundário e ainda recebe alunos do terceiro ciclo do ensino básico.
86
A PARTIC1PACÁC) DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
Vertical de Escolas de Castro Verde. Este é constituído por um total dc 19
estabelecimentos de ensino distribuídos conforme se referencia no quadro 6,
comportando um total de 77 docentes distribuídos pelos três níveis de ensino e 705
discentes conforme documentam os dois quadros seguintes:
Quadro 6 Estruturas de Educação Formal e População Docente
N.0 de Estabelecimentos de Ensino N." de Docentes
Localização
Educação Pré-escolar
1.° Ciclo do E. B
2.0/3.0 Ciclos do
E. B.
Educação Pré-escolar
1.° Ciclo do E. B.
2.0/3 0 Ciclos do
E. B.
Sede de concelho 1 1 1 4 14 39
Fora da sede de concelho 5 11 0 6 14 0
Totais Parciais 6 12 1 10 28 39
Totais 19 77
Fonte; Base de dados do Agrupamento Vertical de Escolas, 2004
Quadro 7 População Discente
Localidades Pré-escolar 1.° Ciclo EB 2.° Ciclo EB 3.° Ciclo EB Total Aivados ~ 6 — — 6
Almeirim ~ 4 — — 4
Casével 15 7 ~ — 22
Castro Verde 97 169 166 125 557
Corvo — 11 — — 11
Entradas 6 22 — ~ 28
Geraldes — 5 — — 5
Lombador ~ 4 — — 4
Sla. Bárbara de padrões 12 14 ~ ~ 26
S. Marcos da Ataboeira 5 7 - — 12
Sete 13 8 — — 21
Viseus — 9 — — 9
Total 148 266 166 125 705
Fonte: Base de dados do Agrupamento Vertical de Escolas, 2004.
87
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES PB PROFESSOR1-S
Da leitura interpretativa dos dois quadros anteriores conclui-se que, do total de
dezanove estabelecimentos de ensino existentes no concelho, o maior número se situa
ao nível do 1.0 Ciclo do Ensino Básico (12) e fora da sede do concelho (11). Em relação
ao 2.° e 3.° Ciclos do Ensino Básico o quadro permite-nos verificar que existe apenas
um estabelecimento de ensino que fica situado na sede do concelho.
Ao nível do número de docentes pertencentes a este agrupamento a maioria (39)
pertence à Escola do 2.° e 3.° Ciclos do Ensino Básico (resultado da existência das
diferentes áreas disciplinares e consequente pluridocência) seguindo-se o nível de
ensino do 1.° Ciclo do Ensino Básico com 28 docentes. Ao nível da Educação Pré-
escolar, apenas, existem 10 Educadoras de Infância. E de referir, ainda, que, embora se
registe apenas um estabelecimento de ensino do 1.0 Ciclo do E. B. na sede de concelho,
o número de docentes nele existente é de 14 para uma população de 169 discentes,
verificando-se que metade do corpo docente deste nível de ensino exerce funções na
sede do concelho. Fora da sede de concelho leccionam 14 docentes para um total de 97
alunos e estes estabelecimentos registam um número bastante baixo de frequência de
alunos. Neste contexto é importante realçar que no 1.° ciclo se registam oito
estabelecimentos de ensino com menos de dez alunos e na educação pré-cscolar dois
estabelecimentos igualmente com menos de dez crianças. Estes dados ilustram de forma
evidente a desertificação patente nas aldeias rurais e a tendência para o encerramento, a
curto prazo, destas escolas.
Em relação à população discente, a sede de concelho regista nos vários ciclos,
incluindo a Educação Pré-escolar, 79% do total. Verifica-se que o maior número de
alunos se encontra no 1.° ciclo do Ensino Básico (266), logo seguido 2.° ciclo (166),
enquanto que na Educação Prc-escolar existe um total de 148 discentes. 0 3.° ciclo do
EB regista um menor número de crianças relativamente aos outros níveis de ensino pelo
facto de parle desta população ser encaminhada para a frequência da Escola Secundária.
Um dos factores que importa referenciar no contexto desta análise é o de que de,
entre os alunos que frequentam a escola E, B. 2/3 em Castro Verde, metade residem
fora da sede do concelho, o que implica uma deslocação diária da sua residência para a
escola. Embora a sede de concelho tenha uma posição geográfica de centralidade face às
restantes freguesias, os alunos têm de utilizar diariamente os transportes públicos, os
quais - numa lógica de complementaridade associada à rentabilidade económica -
88
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
apresenlam horários que não respondem positivamente às necessidades dos alunos, o
mesmo é dizer que existem discrepâncias entre os horários lectivos e os horários dos
transportes.
Nível de ensino da população discente
17,7% 21,0%
23,5%
□ Pré-escolar □ Io cicio □ 2o ciclo □ 3o ciclo
37.7%
Figura 9. Nível de ensino da população discente. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
No agrupamento de Escolas objecto do nosso estudo verifica-se, conforme
documenta a figura 9, que a população discente no ano lectivo de 2003/2004 é
maioritária nos Io e 2o ciclos. No que concerne à educação pré-escolar o número de
crianças que frequentam o ensino público não corresponde à totalidade das crianças
desta faixa etária dado que existe uma oferta de uma instituição particular.
Um último dado interessante na caracterização da população discente refere-se
às diferenças de género. Conforme explicita a figura abaixo existe uma diferença de
mais de três pontos percentuais em favor do género masculino.
Diferenças de género na população discente
Masculino —
Feminino -
0% 10% T-
20% ~1— 30%
—T" 40%
51.63
48,37
50% T"
60%
Figura 10. Diferenças de género na população discente. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
89
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
Relacionando estes valores relativos ao género com os valores da população
residente em 2001 no concelho de Castro Verde (quadro 3) verifica-se que o número de
indivíduos do género masculino é superior ao do feminino em ambas as situações, o que
permite afirmar que a nossa população alvo segue a tendência do universo.
5.1.3 Caracterização das Famílias dos Alunos
Caracterizar as famílias dos alunos do Agrupamento de Escolas de Castro Verde
constitui um imperativo no contexto do nosso estudo, uma vez que são as suas
especificidades e singularidades que vão tornar perceptível a participação dos pais no
seio das escolas.
Neste sentido, e em primeiro lugar, apresentamos um gráfico que nos evidencia
a distribuição por níveis etários dos pais dos alunos. Parece-nos ser lícito afirmar que o
grupo das mães apresenta um nível etário inferior ao dos pais uma vez que elas são
maioritárias nos dois primeiros intervalos considerados (de 20 - 29 anos e de 30 - 39
anos) enquanto é maior a percentagem dos pais na faixa etária dos 40 - 49 anos.
Distribuição etária dos pais dos alunos
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
12,5%
3.6%
20-29
57,7%
3,7% 4473%—
30-39
27,3°/
7,1% 0,0% 1'3%
40-49 50-59 60 ou +
Figura 11. Distribuição etária dos pais dos alunos. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
□ Mãe
□ Pai
90
A 1'ARTICIPACÀO DOS PAIS - OLMAR1-S DE PROFESSORBS
Se no seio das famílias deste concelho do Alentejo as mulheres apresentam uma
idade média inferior à dos homens elas detêm, ao invés, uma superioridade quanto à
escolarização
Distribuição das habilitações literárias dos pais
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
36,3%
20.9'! i
2,3% 2.6%
r-m _
29.2%
; 4.4%
16,3°/ 17.7% 16.8%
13.8%
10,3%
0,6% 0,9%
□ Mãe
□ Pai
7.7%
Sem nivcl dc 1.° Ciclo EB 2.° Ciclo EB 3.° Ciclo EB E. Secundário Curso Médio Curso Superior ensino
Figura 12. Distribuição das habilitações literárias dos progenitores. Fonte; Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
Efectivamente, como pudemos observar no gráfico 12, as mães detentoras de
habilitações ao nível secundário e superior são em maior número que os pais, embora
considerada a totalidade dos progenitores elas representem menos de um terço da
população feminina considerada. Por sua vez, mais de metade dos pais tem uma
escolarização elementar (seis anos de escolarização que cm termos retrospectivos
constituía a escolarização obrigatória quando estes pais estavam na idade escolar).
Refíra-se, ainda, em termos comparativos, que esta população não se diferencia, no que
concerne à escolarização, da população total do concelho. Efectivamente, se
confrontarmos a análise referente às habilitações literárias dos progenitores das crianças
(figura 12) com os resultados definitivos do recenseamento geral da população de 2001
do INE (quadro 5) verifica-se que há diferenças significativas entre as habilitações
literárias das mulheres e dos homens: as mulheres apresentam habilitações mais
elevadas a partir do ensino secundário, contrariamente às habilitações dos homens que
91
A PARTICIPACÀO DOS PAIS - OLHARAS DE PROFESSORES
apresentam valores mais elevados até ao 3.° Ciclo, o que permite reafirmar que os dados
referentes aos pais das crianças corroboram os dados do recenseamento geral da
população e que de uma forma geral são bastante baixas.
Importante, ainda, é lançarmos um olhar analítico sobre a caracterização sócio-
profissional dos pais dos alunos que frequentam o Agrupamento de Escolas do
Concelho de Castro Verde.
Apresentamos, sequencialmente, os dois gráficos - "distribuição das mães por
actividade profissional" e "distribuição dos pais por actividade profissional"57 - a fim
de efectuarmos uma interpretação integrada.
Reformada Emigrante Doméstica
Desempregado Não qualificados
Operadores Operários
Agricultura e Pescas Serviços c Vend. Administrativo
Intermédio Especialistas
Dirigentes
Figura 13. Distribuição das mães por actividade profissional. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
Distribuição das mães por actividade profissional
0,2 0,5
38,1 3.2
5,9 0,6
4U 0,6
119,9 9,3
11,6 4.7
1,4
20% 30% 0% 40%
>7 Na "Actividade Profissional dos Progenitores" utilizámos a nomenclatura da Classificação Nacional de Profissões 1994 (CNP - 94 do INE) a l dígito: 0 - Membros das Forças Armadas; l - Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa; 2 - Especialistas das Profissões Intelectuais e Cientificas; 3 - Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio; 4 - Pessoal Administrativo e Similares; 5 - Pessoal dos Serviços e Vendedores; 6 - Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e pescas; 7 - Operários, Artífices e Trabalhadores Similares; 8 - Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da Montagem; 9 - Trabalhadores Não qualificados. A Figura 13 inclui também o grupo dos Desempregados, Domésticas, Emigrantes e Reformados.
92
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OL11ARES PH PRQ1-ESSORES
Distribuição dos pais por actividade profissional
Reformado Emigrante
Desempregado Não qualificados
Operadores Operários
Agricultura c Pescas Serviços e Vcnd. Administrativos
Intermédio Especialistas
Dirigentes Forças armadas
Figura 14. Distribuição dos pais por actividade profissional. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
Numa região marcada pela interioridade a preponderância de domésticas e de
operários vem evidenciar as limitadas oportunidades de emprego enquanto que a maior
percentagem das mães nos serviços e administrativo contraposto à maior percentagem
dos pais em operadores permite concluir que as exíguas possibilidades de emprego
qualificado a nível do sector secundário são sobretudo criadas para os homens restando
às mulheres um emprego pouco qualificado no sector dos serviços o que é determinado
pela crescente terciarização da economia e da sociedade. Por outro lado, não parece
existir uma relação directa entre a posse de habilitações de grau superior e o
desempenho de quadros especializados e dirigentes uma vez que são as mães as mais
habilitadas e são os pais os que ocupam profissões de topo na hierarquia profissional.
Um outro dado importante na análise das ocupações dos progenitores é o
referente ao indicador emigrantes. Embora as percentagens apresentem valores
residuais elas correspondem sociologicamente a uma situação pertinente pois os filhos
de pais emigrantes vivem habitualmente ou em exclusivo com as mães ou mesmo sem a
presença de qualquer um dos progenitores, durante todo o ano lectivo.
Considerando que a nossa contemporaneidade é marcada por profundas
transformações ao nível das estruturas e dimensões das famílias constituiu nossa
preocupação captar as características definidoras das famílias dos alunos que
2,6 3,2
11,6 13,6
33,6 5.6
Mo. 4,2
5,3
3.3 0,2
40% 30% 20% 10%
93
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
frequentam o agrupamento de escolas objecto do nosso estudo. O resultado dessa
pesquisa está documentado no sectograma seguinte:
Estrutura familiar
Figura 15. Estrutura familiar dos discentes. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
• r 58 Verifica-se uma forte preponderância da família conjugal' que, conjuntamente
com a família extensa59, perfaz três quartos da totalidade das estruturas familiares dos
alunos o que nos dá legitimidade para afirmar que, em termos societais, na comunidade
dos pais mantêm-se os traços estruturais fundadores deste grupo social.
Concomitantemente, as situações de famílias reconstituídas''0, outra situação'^ e família
monoparenla/62 têm uma expressão reduzida na composição e estruturação dos
agregados familiares dos alunos do Agrupamento de Escolas de Castro Verde. Todavia,
58 No contexto da "Estrutura familiar das Crianças", enquadramos no nosso estudo um núcleo familiar que designámos de "Família Conjugal", para indicar a família que é composta de um único núcleo conjugal (marido, mulher e filhos), que vive por conta própria e não juntamente com outros núcleos conjugais. Saraceno e Naldini, citando Goode, utilizam o conceito de família conjugal-nuclear no mesmo sentido, precisando que também é chamada de neolocal, "para assinalar que a constituição de um núcleo coincide com o estabelecimento de uma nova sede de habitação" (2003, p. 33). 59 Utilizámos o conceito de "Família Extensa ou Alargada" para referir o casal que acolhe em casa um progenitor viúvo e fragilizado, o casal idoso que acolhe na sua casa um filho ou filha que terminou seu casamento (por motivo de separação ou divórcio ou por falecimento de um dos cônjuges) e famílias de etnia cigana. 60 De acordo com Saraceno e Naldini, adoptámos o conceito de "Famílias Reconstituídas ou Recomposta", quando "pelo menos um dos dois cônjuges provém de um casamento anterior . . . e incluí filhos nascidos desse casamento". (2003, p. 75) 61 Quando nos referimos a "Outra Situação", englobamos outros familiares ou outras pessoas com quem a criança vive, sem ser os progenitores. 62 Refira-se que, a tipologia adoptada nos Censos 2001, para efeitos de apuramento da informação, considerou os Núcleos Monoparentais, os núcleos constituídos por pai com filhos, mãe com filhos, avô com netos ou avó com netos. No entanto, no âmbito do nosso estudo, restringiu-se o conceito de Famílias Monoparentais apenas às famílias constituídas por pai com tilho(s) e mãe com filho(s), isto é, refere-se ao pai ou mãe com fllho(s) dependentes.
□ família conjugal
□ família extensa
□ família monoparental
□ família reconstituída
□ outra situação
94
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLIIARHS DE IMUjI-ESSORl-S
e no que concerne às famílias reconstituídas a percentagem de 5,6 registada no nosso
estudo é superior à registada na região do Alentejo no Censo de 2001 (3,5%)63, a qual
por sua vez é superior à média nacional, apresentando esta o valor de 2,7%64. Por outro
lado, a percentagem de famílas monoparentais (3,9%) no nosso estudo é ligeiramente
inferior aos valores percentuais na região do Alentejo (4,5%)65. Independentemente dos
valores percentuais apresentados, o peso deste grupo não é inócuo no contexto do nosso
estudo.
Esta realidade é igualmente documentada no gráfico que denominámos
"Situação familiar dos progenitores" onde as famílias ditas desagregadas representam
menos de um quinto dos agregados considerados.
Situação familiar dos progenitores
81,9%
1,0% ,4%
15,6%
□ vivem em união
□ sem elementos
□ outra situação
□ separados ou divorciados
Figura 16. Situação familiar dos progenitores Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
6'' Leite, S. (2004). Breve sociografia sobre as famílias reconstituídas portuguesas. Em Revista de Estudos Demográficos, p. 57, n.035. INE. 64 Segundo os censos de 2001, as famílias reconstituídas apresentam 2,7% referente a núcleos de casais com filhos e de citando Leite "embora em termos relativos este valor não tenha muita expressão, no entanto, em valores absolutos, pode considerar-se que tinham, àquela data, um valor considerável de 46 800 núcleos" (2004, p. 78). 65 Magalhães, M. (2004) - Núcleos familiares monoparentais. Em Revista de Estudos Demográficos, p. 40, n.0 35. INE.
95
A PARTICIPACÀO DOS PAIS - OLHARHS DE PROFESSORES
Por fim, neste retrato das famílias dos nossos alunos, de inquestionável
importância é focalizar a nossa objectiva sobre quem, no seio das famílias dos nossos
alunos, recai o papel institucional de encarregado de educação.
Encarregado de educação da criança
185,8|
l ^ 1 . . flãl
mãe pai avós outro
Figura 17. Encarregado de educação da criança. Fonte: Levantamento de documentos internos do agrupamento (2004).
Verifica-se que o cargo é desempenhado maioritariamente pelas mães. Pensamos
que nos é licito produzir a seguinte asserção face a este dado: fruto da tradição o papel
na relação escola-familia é desempenhado pelo sexo feminino. São as mães que
dispõem de mais tempo para uma participação na vida da escola...
5.1.4 Caracterização da População Inquirida
A população inquirida pode ser caracterizada pela distribuição de frequências
que apresenta, em relação às variáveis consideradas.
Apresentamos, de seguida, essa distribuição.
Variável; Idade
A amplitude das idades na população estudada é de 34 anos, com um mínimo de
25 e um máximo de 59 anos. A média aritmética das idades é de 39,8 (39,85) anos e o
desvio padrão é de 8,053. A moda da distribuição é de 38 anos.
96
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARAS DE PROFESSORES
Variável: Sexo
Como se pode visualizar no quadro seguinte, estamos perante uma população
predominantemente feminina.
Quadro 8 Variável: Sexo
Modalidade Efectivos Percentagem
Masculino 9 15,3%
Feminino 50 84,7%
Totais 59 100,0%
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004.
Variável: Nível de ensino
Em relação ao nível de ensino onde o docente lecciona, a população apresenta
uma percentagem mais elevada no grupo do 1.0 ciclo do ensino básico, seguindo-se o
nível de ensino do 2.° ciclo.
Quadro 9 Variável: Nível de Ensino
Modalidade Efectivos Percentagem
Prc-cscolar 9 15,3%
1.0 Ciclo do EB 21 35,6%
2.° Ciclo do EB 17 28,8%
3.° Ciclo do EB 12 20,3%
Totais 59 100,0%
Fonte; Inquérito por Questionário, 2004.
Variável: Situação profissional
Relativamente à situação profissional dos inquiridos, estamos perante uma
população que apresenta uma situação profissional "estável", donde ressalta a maior
frequência nos docentes pertencentes ao quadro de Escola, seguindo-se os do quadro de
Zona Pedagógica. Os docentes Contratados (ou seja, que não possuem qualquer
segurança profissional) constituem uma minoria dentro da população estudada.
97
A PAR I ICiPACÀO DOS PAIS - OU 1ARES PH PKOFt-SSORES
Situação profissional
15.3%
Figura 18. Variável: Situação profissional. Fonte: Inquérito por Questionário. 2004.
□ Quadro de escola
□ Quadro de zona pedagógica
□ Contratado
Variável: Localidade de residência do docente
Apresentamos, na figura 19, uma breve identificação da localidade de residência
dos docentes inquiridos que exercem funções no agrupamento vertical de escolas de
Castro Verde. Verifica-se que a maior percentagem do corpo docente reside no
concelho de Castro Verde, seguindo-se o distrito de Beja, no qual este concelho se
insere. Os docentes que residem em localidades mais distantes (fora do distrito de Beja)
constituem uma minoria dentro da população estudada.
Localidade de residência
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
59,3%
25.4%
15.3%
1 1
No concelho de Castro Verde
No distrito de Beja Fora do distrito de Beja
Figura 19. Variável: Localidade de residência. Fonte: Inquérito por Questionário, 2004.
98
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS — OLMARlvS DE PROFESSORHS
Variável; Anos de serviço docente
A amplitude dos anos de serviço docente da população estudada é de 32 anos,
com um mínimo de 1 ano e um máximo de 33 anos. A média aritmética do tempo de
serviço no exercício de funções docentes é de 15,9 (15,95) anos, com um desvio padrão
de 9,031. A moda da distribuição é de 5 anos.
Variável: Anos de serviço na escola actual
A população estudada apresenta uma média de anos de serviço na escola onde
exerce actualmente funções de 5,3 (5,30) anos, com um desvio padrão de 7,059. Há 24
indivíduos que leccionam há um ano na escola; um no primeiro ano de docência e um
que perfaz no ano lectivo da nossa análise 28 anos de serviço na escola actual. A moda
da distribuição é de 1 ano.
Quadro 10 Variável: Anos de Serviço na Escola Actual
Número de anos Efectivos Percentagem
0 i 1.9%
i 24 45,3%
2 3 5,7%
3 5 9,4%
4 2 3,8%
5 2 3,8%
7 6 11,3%
8 1 1,9%
11 1 1,9%
12 2 3.8%
13 I 1,9%
16 1 1,9%
22 1 1,9%
27 2 3,8%
28 1 1,9%
Totais 53 100,0% Fonte: Inquérito por Questionário, 2004.
99
A 1'AR riCIPACÂO DOS PAIS - OLHARL-S DI- PROFESSORES
Variável: Localidade da escola onde exerce funções
A figura 20, referente à localidade da escola onde o docente exerce funções
evidencia que a maioria do corpo docente do agrupamento de escolas (71,2%) se situa
na sede de concelho.
Localidade da escola
28,8% □ Na sede do concelho
□ Fora da sede de concelho
71,2%
Figura 20. Variável: Localidade da escola onde exerce funções. Fonte: Inquérito por Questionário, 2004.
Variável: Distância escola/Sede de concelho
De entre os docentes que exercem funções fora da sede de concelho, o quadro 11
mostra-nos que a distância entre a sede de concelho e a localização da escola apresenta
uma maior percentagem (66,7%) na classe compreendida entre os 10 e 20 km de
distância (comprova como dissemos anteriormente, a centralidade geográfica do
concelho).
Quadro 11 Variável: Distância entre a Localidade da Escola e a Sede de Concelho (classes)
Distância Efectivos Percentagem
Ale 10 km 3 20.0%
De 10 a 20 km 10 66,7%
Mais de 20 km 2 13,3%
Totais 15 100,0% Fonte: Inquérito por Questionário, 2004.
A leitura interpretativa dos gráficos e dos quadros anteriores permitem-nos
afirmar, em termos conclusivos, que a população inquirida é predominantemente
100
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROl'1-SSORBS
feminina, exerce funções, na sua maioria, no 1.° e 2.° ciclos, tem uma situação
profissional de relativa estabilidade e residem na sede do concelho.
5.1.5 Análise do Questionário
Após uma breve caracterização da população inquirida e de acordo com a
própria organização interna do inquérito por questionário, centramo-nos na análise da
participação praticada pelos pais no Agrupamento de Escolas de Castro Verde,
procurando dar inteligibilidade às relações entre a participação e a formação pessoal e
social do aluno e a formação de pais sob a perspectiva de um grupo específico de
actores escolares - os professores.
A participação dos pais
• Relação entre o nível de ensino onde o docente lecciona e a participação dos
pais na escola.
Na relação entre o "Nível de ensino onde o docente lecciona" e a "Participação
dos pais na escola" ao nível do "Grau de democraticidade", verificamos que as
significâncias associadas ao valor do teste permitem-nos concluir a existência de relação
entre todas as variáveis que compõem o grau de democraticidade e o nível de ensino,
excepto na variável "Os pais participam directamente na escola defendendo os seus
interesses pessoais".
Como se pode visualizar no quadro 12 o grau de frequência da participação
directa dos pais na escola dando as suas opiniões difere consoante o nível de ensino
onde o docente lecciona; situando-se o maior grau de concordância na educação pré-
escolar (3,44) seguida do 1.0 ciclo (2,67); e o menor grau no 3.° ciclo (2,25).
Em relação à participação dos pais na escola através de representantes
nomeados, os docentes do 3.° ciclo apresentam médias mais elevadas (2,92), precedidos
do 2.° ciclo (2,72) e a média mais baixa situa-se no 1.0 ciclo (1,24).
101
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DL-: PROl-l-SSQRKS
Na participação dos pais na escola através de representantes eleitos verifica-se
que o maior rank se situa no 3.° ciclo (3,33), seguido do 2.° ciclo (3,12) e o valor menor
(1,33) refere-se aos docentes do 1.° ciclo e do pré-cscolar (1,89).
Face às variáveis que compõem o grau de democraticidade verificamos que a
participação directa dos pais na escola é inversamente proporcional ao grau de ensino,
isto é, quanto mais elevado é o nível de ensino menor é a participação dos pais; ao
invés, a maior participação indirecta, quer ao nível da nomeação ou da eleição, situa-se
nos níveis de ensino dos 3.° e 2.° Ciclos, evidenciando que na educação pré-escolar as
médias são muito baixas, ou seja, a participação indirecta não tem muita expressão.
Releva-se ainda o facto de que, de uma forma geral, considerados os diferentes
graus de democraticidade, a maior média situa-se na participação directa dos pais na
escola dando as suas opiniões.
Na relação entre o "Nível de ensino" c o "Grau de regulamentação" verificamos
que existe relação estatisticamente significativa na variável relativa à participação dos
pais na escola — participação não formal —, pertencendo o maior valor médio aos
docentes do 2.° ciclo (2,76), seguido do 3.° ciclo e o menor valor médio ao 1.° ciclo
(1,70). As médias destas frequências apresentam valores baixos o que torna legítima a
asserção de que esta participação não formal é diminuta, aparecendo expressa em às
vezes e raramente. Por outro lado, não há relação entre o nível de ensino e o grau de
regulamentação, nomeadamente ao nível da participação informal e formal/legal.
Ao relacionarmos a variável "Nível de ensino" com as variáveis que englobam
as "Areas de participação", as signifícâncias associadas ao teste permitem-nos afirmar
que existem diferenças estatisticamente significativas nas variáveis referentes ao facto
de a participação dos pais centrar-se na definição do Projecto Educativo, na acção
pedagógica e no apoio às actividades. Na primeira - área, política institucional - o
maior rank médio pertence aos docentes que leccionam o 3.° ciclo (2,67) e o menor aos
docentes que leccionam o 1.° ciclo (1,62). Relativamente à segunda, o maior rank médio
situa-se nos docentes do 3.° ciclo (3,08) e do 2.° ciclo; na terceira, o rank médio
pertence aos docentes do 1.° ciclo (3,33), seguindo-se a educação pré-escolar (sendo
menor nas outras áreas).
102
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DL£ PROFI-SSORES
A análise estatística evidencia que o maior grau de frequência médio (3,10) se
situa na área técnica-operativa, concretamente no apoio às actividades e que não há
relação entre o nível de ensino e a área de participação ao nível organizativo.
O estudo das relações entre o "Nível de ensino" e o "Objecto social da
participação", elucida uma relação estatisticamente significativa entre o nível de ensino
e a focalização da participação na criança individual, sendo o valor médio mais elevado
(3,76) referente ao 2.° ciclo, seguido do 3.° ciclo (3,58) e os menores valores referentes
à educação pré-escolar (2,67) e ao 1.0ciclo do ensino básico (3,05). No que se refere à
focalização da participação no grupo/turma e na escola enquanto totalidade não se
verifica relação significativa em termos estatísticos. Depreendc-se desta análise que, na
opinião expressa pelos inquiridos, a participação dos pais na escola centra-se,
exclusivamente, na criança individualmente considerada e incide nos níveis de ensino
cuja marca identificadora é a pluridocência.
Ao relacionarmos o "Nível de ensino" com os "Factores que interferem na
participação dos pais", a significância associada ao teste permitc-nos afirmar que o nível
de ensino leccionado pelos docentes influencia as opiniões acerca dos factores que
interferem na efectiva participação dos pais na escola, conforme se apresenta no quadro
com que introduzimos esta análise. Assim, realçamos para cada uma das variáveis
consideradas uma sucinta descrição a fim de coligirmos elementos que nos permitam
uma síntese sobre esta relação.
Para a primeira variável considerada - a não diferenciação de competências
entre pais e professores - consoante o nível de ensino onde o professor lecciona existe
uma variação do grau de frequência, apresentando um maior valor médio o nível do 2.°
ciclo (3,12), seguido do 3.° ciclo (3,00) e, um menor, o 1.0 ciclo (2,19) e a educação pré-
escolar.
Considerada a segunda variável - a limitada representatividade dos pais eleitos —
apresenta maior valor médio nos docentes que leccionam no 3.° ciclo (2,92), precedido
pelo 2.° ciclo e regista menor valor médio no 1.0 ciclo (2,48).
Em relação à incompatibilidade entre os horários dos professores e os horários
dos pais - terceira variável - os docentes do 2.° ciclo apresentam maior valor médio
(3,47), seguindo-se os docentes do pré-escolar (3,44) e o menor valor médio situa-sc no
3.° ciclo (2,67).
103
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - Ol.HARHS PR PROI-ESSORl-S
No grau de frequência relativo ao desinteresse dos pais em relação à vida da
escola — variável que aparece em quarto lugar no nosso inquérito — o nível do pré-
escolar apresenta o valor médio mais elevado (3,67), seguido dos 2.° e 3.° ciclos do
ensino básico.
Olhados os resultados da quinta variável considerada - o formalismo das
estruturas como factor que interfere na efectiva participação dos pais na escola -
verifíca-se, igualmente, uma diferenciação consoante o nível de ensino leccionado pelo
professor, correspondendo o valor médio mais elevado ao 3.0ciclo (2,92), precedido
pelo 2.° ciclo e o menor valor regista-se no 1.0 ciclo (2,52), seguindo-se a educação pré-
escolar.
O maior rank médio (3,00) situa-se no pré-escolar, seguido do 3.° ciclo do
ensino básico e apresenta o valor menor nos docentes do 1.° ciclo (2,67) no que
concerne aos processos de participação utilizados (sexta variável).
Consideradas as três últimas variáveis patentes no inquérito - a imagem pessoal
que os pais têm dos professores, do estabelecimento de ensino e das actividades
escolares — também o grau de frequência difere consoante o nível de ensino, a saber:
- em relação à primeira área, o maior grau de concordância pertence aos
docentes do 2.° ciclo (3,50), seguido do 3.° ciclo e o menor aos docentes da educação
pré-escolar (2,44);
- em relação à segunda área, o maior valor médio pertence aos docentes do 3.°
ciclo (3,50), seguido pelo 2.° ciclo e o menor aos do 1.° ciclo (2,30);
- em relação à ultima área, o maior rank médio pertence aos docentes do 3.°
ciclo (3,33), seguido do 2.° ciclo e o menor aos docentes do pré-escolar (2,44) seguido
do 1.0 ciclo do ensino básico (2,45).
A apresentação de um número elevado de variáveis para tentar compreender os
factores que interferem na relação dos pais com a escola, saldou-se, como se verificou,
num conjunto de dados diferenciados por níveis de ensino, o que a priori parece estar
eivado de uma grande complexidade. No entanto, uma leitura mais atenta permite
chegar a três conclusões:
- primeira, é a de que os docentes dos dois níveis de ensino mais elevados
consideram que todos os factores apresentados interferem na participação dos pais na
escola (atribuindo-lhes um grau elevado de concordância) com excepção dos referentes
ao desinteresse dos pais em relação à vida da escola e aos processos de participação
utilizados;
104
A PARTICIPAÇÃO DOS 1'AIS - OLHARES DE PROFI-SSORES
- segunda, é a de que os docentes do pré-escolar e do primeiro ciclo valorizam
mais os factores que foram desvalorizados pelos docentes dos outros dois ciclos; isto é,
o desinteresse dos pais cm relação à vida da escola e os processos de participação
utilizados.
- terceira, é a de que tendo em conta, simultaneamente, as diferentes variáveis e
os quatros ramos de ensino, o grau de frequência médio é muito maior no que concerne
à variável discursivamente apresentada como "desinteresse dos pais em relação à vida
da escola".
Quadro 12
Relação entre o Nível de Ensino onde o Docente Lecciona e a Participação dos Pais na Escola
Grau de democraticidade Sig. Comparação médias
> < Os pais participam directamente na escola dando as suas opiniões Os pais participam directamente na escola defendendo os seus interesses pessoais A participação dos pais realiza-se através de representantes nomeados A participação dos pais realiza-se através de representantes eleitos
0,008 +
0,101 o 0,000 + 0,000 +
Pré.
3.0c 3.0c
3.0c
L0c L0c
Grau de regulamentação
1
i
A participação dos pais na escola deriva da iniciativa dos próprios pais A participação dos pais na escola insere-se na formalmente decretada A participação dos pais na escola é instituída pelos próprios pais
0,437 o 0,868 o 0,003 + 2.0c L0c
Areas de participação
z A participação dos pais centra-se na definição do projecto Educativo A participação dos pais centra-se em aspectos organizativos da escola A participação dos pais referencia-se à acção pedagógica A participação dos pais referencia-se à prestação de cuidados à criança A participação dos pais referencia-se ao apoio às actividades
0,002 + 0,162 o 0,023 + 0,249 o 0,016 +
3.0c
3.0c
L0c
L0c
L0c
3.0c
Objecto social da participação A participação dos pais focaliza-sc na criança individual A participação dos pais focaliza-se no grupo/turma A participação dos pais focal iza-se na escola enquanto totalidade
0,018 + 0,314 o 0,646 o
2.0c Pré.
Factores que interferem na participação 0,026 +
Não diferenciação de competências entre pais e professores Limitada representatividade dos pais eleitos. Incompatibilidade entre os horários dos pais e dos professores. Desinteresse dos pais em relação à vida da escola. Formalismo das estruturas. Processos de participação utilizados. Imagem pessoal que os pais têm dos professores. Imagem pessoal que os pais têm dos estabelecimentos de ensino. Imagem pessoal que os pais têm das actividades escolares.
2.0c 3.0c 2.0c Pré 3.0c Pré 2.0c 3.0c 3.0c
L0c L0c 3.0c L0c L0c L0c Pré L0c Pré
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância; Pré - Pré-escolar; l.0c - 1.° Ciclo do EB.; 2.0c - 2.° Ciclo do EB.; 3.0c - 3.° Ciclo do EB.
105
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARIAS DE PROFESSORES
• Relação entre a localidade da escola c a participação dos pais
O estudo das relações entre a "Localidade da escola" onde o docente lecciona e a
"Participação dos pais na escola", no que concerne ao grau de democraticidade, permite
concluir que existe diferenciação entre as escolas da sede do concelho e as outras
escolas. Sc bem que o quadro mostre maiores significâncias para a participação
indirecta na sede de concelho, o exame atento das médias mostra que essa participação
se posiciona, neste caso, no às vezes, enquanto, fora da sede de concelho, a mesma se
posiciona no nunca.
Por sua vez, ao relacionarmos a variável independente "Localidade" com as
"Areas de participação", o teste estatístico utilizado mostra-nos que existe uma relação
entre a localidade da escola onde o docente lecciona e as áreas de participação dos pais
ligadas à definição do Projecto Educativo e ao apoio às actividades. Quanto à
participação dos pais na definição da chamada carta política da escola (inserta na área
político institucional da participação), o posicionamento dos docentes que exercem nas
escolas situadas na sede de concelho regista maior valor médio (2,38), valor este
estatisticamente significativo mas que em termos de efectiva participação corresponde,
na escala utilizada ao item raramente-, por outro lado, o maior grau de frequência ao
nível do apoio às actividades regista-se, em muitas vezes (3,59) fora da sede de
concelho.
Independentemente da localização geográfica a área de participação que regista
o maior grau de frequência médio é a participação dos pais ao nível do apoio às
actividades.
Tendo ainda em conta a variável independente "Localidade da escola" o teste
estatístico aplicado para a relacionar com a variável dependente "Factores que
interferem na participação dos pais na escola" valida essa relação. Um olhar sobre o
quadro faz, de imediato, ressaltar que, considerada a totalidade das variáveis, os maiores
níveis médios correspondem à opinião dos docentes pertencentes às escolas situadas na
sede do concelho com excepção da variável desinteresse dos pais em relação à vida da
escola que apresenta maior grau de concordância nas escolas situadas fora da sede de
concelho (3,59) e que, no caso presente é apontado, na escala dada, no item muitas
106
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OI.HARF-S DF- PROFESSORHS
vezes. Muito embora na sede do concelho os docentes refiram a influência das variáveis
consideradas na participação dos pais o seu peso é atenuado ao fazerem incidir a sua
resposta maioritária no às vezes.
Quadro 13
Relação entre a Localidade da Escola e a Participação dos Pais
Grau de democraticidade Sig. Comparação médias
> < Os pais participam directamente na escola dando as suas opiniões Os pais participam directamente na escola defendendo os seus interesses pessoais A participação dos pais realiza-se através de representantes nomeados A participação dos pais realiza-se através de representantes eleitos
0,060 o
0,823 o 0,006 +
0,000 +
Sede
Sede
Fora
Fora
cd Areas de participação O
cO -o D
"O
A participação dos pais centra-se na definição do Projecto Educativo A participação dos pais centra-se em aspectos organizativos da escola A participação dos pais referencia-se à acção pedagógica A participação dos pais referencia-se à prestação de cuidados à criança A participação dos pais referencia-se ao apoio às actividades
0,016 +
0,979 o 0,197 o
0,153 o 0,007 +
Sede
Fora
Fora
Sede
Factores que interferem na participação 0,000 +
Não diferenciação de competências entre pais e professores Limitada representatividade dos pais eleitos. Incompatibilidade entre os horários dos pais e dos professores. Desinteresse dos pais em relação à vida da escola. Formalismo das estruturas. Processos de participação utilizados. Imagem pessoal que os pais têm dos professores. Imagem pessoal que os pais têm dos estabelecimentos de ensino. Imagem pessoal que os pais têm das actividades escolares.
Sede Sede Sede Fora Sede Sede Sede Sede Sede
Fora Fora Fora Sede Fora Fora Fora Fora Fora
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância; Sede - Sede de concelho; Fora - Fora da sede de concelho.
• Relação entre o meio sócio-cultural do aluno e a participação dos pais na
escola.
Na relação entre o "Meio sócio-cultural dos alunos" e o "Grau de
democraticidade" verifíca-se que as variáveis "A participação dos pais rcaliza-se através
107
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
de representantes nomeados" e "A participação dos pais realiza-se através de
representantes eleitos", isoladamente, são explicadas pelo meio sócio-cultural e o maior
valor médio situa-se no meio sócio-cultural médio baixo, ou seja, há muitíssimos alunos
de nível sócio-económico médio baixo cujos pais às vezes participam indirectamente na
escola (através de nomeação ou de eleição).
Na variável "Meio sócio-cultural dos alunos" relacionada com o "Grau de
envolvimento" verifica-se que apenas a variável "Os pais têm uma actividade calculista,
evitando intervir ou tomar posição" é explicada, isoladamente, pelo meio sócio-cultural,
apresentando o maior rank médio o nível sócio-cultural médio, isto é, há alguns alunos
de meio sócio cultural médio cujos pais às vezes têm uma actividade calculista evitando
intervir ou tomar posição.
A análise estatística evidência, como vimos, a inexistência de relação entre o
meio sócio cultural dos alunos e o envolvimento activo c passivo da participação dos
pais na escola, situando-se a relação estatisticamente significativa apenas ao nível da
participação reservada.
No estudo da relação entre o "Meio sócio-cultural do aluno" c o "Objecto social
da participação" dos pais na escola, apenas a variável "A participação dos pais íbcaliza-
se na criança individual" é explicada pelo meio sócio-cultural dos alunos c o maior grau
de concordância situa-se no nível sócio-cultural médio, correspondendo o menor valor
médio ao meio sócio cultural baixo.
Quadro 14 Relação entre o Meio Sócio-Culíural dos Alunos e a Participação dos Pais na Escola.
Grau de democraticidade Sig.
Comparação médias
o > <
0 -o
1 V
Os pais participam directamente na escola dando as suas opiniões Os pais participam directamente na escola defendendo os seus interesses pessoais A participação dos pais realiza-se através de representantes nomeados A participação dos pais realiza-se através de representantes eleitos
0,092 o
0,719 o
0,017 + 0,020 +
MB MB
MA MA
.2 % CO Grau dc envolvimento O • a>
Os pais têm um conhecimento aprofundado dos seus direitos, deveres c possibilidades de participação. Os pais tem um conhecimento aprofundado da sua influência no processo de tomada de decisões. Os pais têm uma actividade menos voluntária e mais expectante.
0,543 o
0,546 o 0,080 o
108
A PARTICIPAÇÃO DOS 1'AIS - OLHAR1-S Dl- PROl-BSSORl-S
Os pais tem uma actividade calculista, evitando intervir ou tomar posição. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo voluntariamente atitudes e comportamentos de desinteresse. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo voluntariamente atitudes e comportamentos de alheamento. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo falta de informação.
0,017 +
0,113 o
0,143 o
0,491 o
M B
Objecto social da participação A participação dos pais focaliza-se na criança individual A participação dos pais focaliza-se no grupo/turma A participação dos pais focaliza-se na escola enquanto totalidade
0.021 + 0,068 o 0,720 o
M B
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância; B - Meio sócio-cultural baixo; MB - Meio sócio-cullural médio baixo; M - Meio sócio-cultural médio; MA - Meio sócio-cultural médio-alto.
• Relação entre a residência dos alunos e as áreas de participação dos pais na
escola.
Como se pode visualizar no quadro 15, a "Residência dos alunos" explica que a
"participação dos pais se centra no Projecto Educativo" e que "se referencia à prestação
de cuidados às crianças". No posicionamento dos docentes no que concerne a muitos
alunos residirem na localidade em que frequentam a escola, alguns pais participam
nestas duas áreas referenciadas. Por outro lado, se há poucos alunos a residirem na
localidade da escola, consequentemente há poucos pais a participarem nas áreas
referenciadas.
Em relação à "residência dos alunos fora da localidade da escola", verificamos
que no caso de haver muitos alunos nessa situação, alguns pais participam nessas áreas;
quando muitíssimos alunos residem fora localidade da escola poucos pais participam no
"Projecto educativo" e na "prestação de cuidados à criança".
Numa análise global, as duas variáveis que apresentam significância,
nomeadamente ao nível da política educativa e ao nível da técnica operativa, ambas
apresentam baixos valores médios. Deprccnde-se, também, desta análise que, na opinião
dos inquiridos, a participação dos pais varia consoante a residência, se a mesma se situa
fora da localidade da escola, a participação é menor.
109
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES PB PROFESSORES
Quadro 15 Relação eníre a Residência dos Alunos e as Áreas de Participação dos Pais na Escola
CO -§
CO CO
Áreas de participação Sig.
c §
1 * CO
A participação dos pais centra-se na definição do Projecto Educativo A participação dos pais centra-se em aspectos organizativos da escola A participação dos pais referencia-se à acção pedagógica A participação dos pais referencia-se à prestação de cuidados à criança A participação dos pais referencia-se ao apoio às actividades
0,027 + 0,458 o 0,177 o 0,037 + 0,372 o
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
Participação dos pais versus competências pessoais c sociais dos alunos
• Relação entre o grau de democraticidade e as competências pessoais e sociais
dos alunos.
No estudo da relação entre a participação dos pais ao nível do "Grau de
democraticidade" e as "Competências pessoais e sociais dos alunos" verificamos pelas
significâncias indicadas no quadro (sig. > 0,05) que a participação directa e indirecta
dos pais na escola não influencia as competências pessoais e sociais dos alunos.
Quadro 16
Relação entre o Grau de Democraticidade e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos
Com
pet
ênci
as
pes
soai
s
Grau de democraticidade Sig.
Comparação médias
> <
Os pais participam directamente na escola dando as suas opiniões Os pais participam directamente na escola defendendo os seus interesses pessoais A participação dos pais realiza-se através de representantes nomeados A participação dos pais rcaliza-sc através de representantes eleitos
0,485 o
0,363 o
0,099 o 0,712 o
Com
pet
ênci
as
soci
ais
Grau de democraticidade Sig.
Comparação médias
> <
Os pais participam directamente na escola dando as suas opiniões Os pais participam directamente na escola defendendo os seus interesses pessoais A participação dos pais realiza-se através de representantes nomeados A participação dos pais realiza-se através de representantes eleitos
0,270 o
0,607 o
0,728 o 0,886 o
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda; "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
110
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
• Relação entre o grau de regulamentação e as competências pessoais e sociais
dos alunos.
Pelo facto de se pretender relacionar as variáveis dependentes "Competências
pessoais" e "Competências sociais dos alunos" com a variável independente "Grau de
regulamentação", verificamos a existência de uma relação estatisticamente significativa
entre as variáveis dependentes e a independente; ou seja, essa significância regista-se,
especificamente, na "participação dos pais na escola derivar da iniciativa dos próprios
pais". Pela análise das médias, parece-nos ser possível inferir que quando a participação
dos pais nunca deriva da iniciativa dos próprios pais, às vezes os alunos têm
competências pessoais; pelo contrário, se a participação àcrwn. sempre da iniciativa dos
pais, raramente os alunos têm essas competências.
No que se refere à variável "competências sociais", se a participação dos pais às
vezes ou muitas vezes na escola deriva da sua própria iniciativa — participação informal
-, os alunos, às vezes apresentam competências sociais.
Em relação ao posicionamento dos docentes no que se refere à participação
informal dos pais na escola, esta não é proporcional com as competências pessoais c
sociais dos alunos.
Quadro 17 Relação entre o Grau de Regulamentação e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos
3 c •- fc
o U
Grau de regulamentação Sig. Comparação médias
> < A participação dos pais na escola deriva da iniciativa dos próprios pais A participação dos pais na escola insere-se na formalmente decretada A participação dos pais na escola é instituída pelos próprios pais
0,035 + 0,089 o 0,246 o
3,33 2,38
J c .s: 'V cc & ^
Grau de regulamentação Sig. Comparação médias
> < Ê ' o U
A participação dos pais na escola deriva da iniciativa dos próprios pais A participação dos pais na escola insere-se na formalmente decretada A participação dos pais na escola é instituída pelos próprios pais
0,024 + 0,238 o 0,764 o
3,39 2,62
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
111
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS OLIIARI-S DI- PROFl-SSORl-S
• Relação entre o grau de envolvimento e as competências pessoais e sociais dos
alunos.
No estudo da relação entre o "Grau de envolvimento dos pais na escola" e as
"Competências pessoais e sociais dos alunos", verificamos que, no conjunto de todas as
variáveis que compõem as competências pessoais e sociais, apenas a variável "os pais
têm uma actividade menos voluntária e mais expectante" explica individualmente as
competências pessoais dos alunos. Uma análise mais específica sugere-nos a seguinte
leitura; se os pais dos alunos têm sempre uma actividade menos voluntária e mais
expectante, os alunos manifestam muitas vezes competências pessoais; se os pais muitas
vezes manifestam atitude menos voluntária e mais expectante, às vezes os alunos
dominam as suas competências pessoais. Podemos inferir que a uma atitude mais
reservada dos pais, os alunos demonstram ter mais competências pessoais.
Quadro 18 Relação entre o Grau de Envolvimento e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos
Grau de envolvimento Sig. Comparação médias
> <
Com
pet
ênci
as
pess
oai
s
Os pais têm um conhecimento aprofundado dos seus direitos, deveres e possibilidades de participação. Os pais têm um conhecimento aprofundado da sua influência no processo de tomada de decisões. Os pais têm uma actividade menos voluntária e mais expectante. Os pais têm uma actividade calculista, evitando intervir ou tomar posição. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo voluntariamente atitudes e comportamentos de desinteresse. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo voluntariamente atitudes e comportamentos de alheamento. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo falta de informação.
0,246 o
0,416 o 0,015 +
0,077 o
0,071 o
0,431 o
0,428 o
3,75 2,78
CO Grau de envolvimento Sig.
Comparação médias
:s > <
8 CO
1
1 o U
Os pais têm um conhecimento aprofundado dos seus direitos, deveres e possibilidades de participação. Os pais têm um conhecimento aprofundado da sua influência no processo de tomada de decisões. Os pais têm uma actividade menos voluntária e mais expectante. Os pais têm uma actividade calculista, evitando intervir ou tomar posição. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo voluntariamente atitudes e comportamentos de desinteresse. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo voluntariamente
0,267 o
0,249 o 0,508 o
0,198 o
0,075 o
112
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OU1ARHS PH PROFliSSORHS
atitudes c comportamentos de alheamento. Os pais não estão envolvidos nem empenhados tendo falta de informação.
0,115 o
0,511 o
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
• Relação entre o grau de poder e as competências pessoais e sociais dos alunos
Ao relacionarmos as variáveis "Grau de poder dos participantes" e
"Competências pessoais dos alunos", verificamos a existência de relações
estatisticamente significativas em algumas das variáveis que a compõem:
nomeadamente ao nível da i) informação; ii) consulta; iii) recomendação e iv) decisão
individual.
Ao nível da informação, se os pais são sempre informados das decisões tomadas
na escola, os alunos apresentam às vezes competências pessoais. Uma análise mais
focalizada, permite-nos inferir que à medida que os professores se posicionam em
relação à escala (grau de frequência) de forma ascendente, as competências pessoais dos
alunos decrescem.
No que se refere à consulta, sempre que os pais dos alunos são consultados
podendo emitir opiniões, conselhos e criticas, às vezes os alunos dominam as suas
competências pessoais. Ao invés, se os pais raramente são consultados regista-se um
decréscimo pouco acentuado em relação à variável anterior.
Na variável referente à recomendação, quando os docentes se posicionam na
escala referente aos pais dos alunos nunca fazerem por sua própria iniciativa propostas
ou sugestões, muitas vezes os alunos apresentam competências pessoais; em oposição,
os pais que fazem sempre ou muitas vezes propostas ou sugestões na escola, os alunos
ás vezes têm competências pessoais.
Ao nível da decisão individual, sempre que os pais participam individualmente
na tomada de decisões, os alunos apresentam muitas vezes competências pessoais. Se às
vezes a participação individual dos pais se insere na tomada de decisões, os alunos às
vezes apresentam competências pessoais.
Na relação das variáveis "Grau de poder dos participantes" e "Competências
sociais dos alunos", a relação estatisticamente significativa situa-se na variável referente
113
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DI- PROFHSSQRl-S
à informação. Na mesma linha de análise, o posicionamento do professor de forma
ascendente corresponde a um ligeiro decréscimo nas competências sociais dos alunos.
Uma análise global permite-nos inferir que o posicionamento dos inquiridos ao
nível do objecto social da participação, concretamente na informação, consulta e
recomendação é inversamente proporcional às competências pessoais dos alunos,
excepto na variável decisão individual em que se regista um equilíbrio.
Quadro 19 Relação entre o Grau de Poder e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos
Grau de poder Sig. Valores médios
60 *c3 o
> <
CO 60 £
Os pais dos seus alunos são informados das decisões tomadas na escola. 0,001 + 3,17 2,72
J Os pais dos seus alunos são consultados podendo emitir opiniões. C conselhos e criticas. 0,048 + 3,22 2,79
a B o
Os pais dos seus alunos fazem por sua própria iniciativa propostas ou sugestões. 0,004 + 3,83 2,69 Os pais dos seus alunos são consultados antes da tomada ou da
U implementação das decisões na escola. 0,738 o Os pais participam individualmente na tomada de decisões. 0,021 + 3,45 2,71 Os pais participam colegialmente na tomada de decisões. 0,116 o
Os pais dos seus alunos são informados das decisões tomadas na 60 3
escola. Os pais dos seus alunos são consultados podendo emitir opiniões,
0,002 + 3,39 2,75
o conselhos e criticas. 0,876 o 60 3 o
Os pais dos seus alunos fazem por sua própria iniciativa propostas ou sugestões. 0,810 o
C
K B o U
Os pais dos seus alunos são consultados antes da tomada ou da implementação das decisões na escola. 0,710 o Os pais participam individualmente na tomada de decisões. 0,067 o Os pais participam colegialmente na tomada de decisões. 0,841 o
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda; "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
• Relação entre a orientação dos participantes e as competências pessoais c
sociais dos alunos
Relacionando a variável dependente "Competências pessoais c sociais dos
alunos" e a "Orientação dos participantes", o teste estatístico aplicado permite-nos
afirmar que a primeira é influenciada pela participação dos pais "num sentido de
inspecção". Nesta influencia, c de acordo com o posicionamento dos docentes
114
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU 1ARES DE PROFESSORES
inquiridos, sempre que a participação dos pais assume um sentido de inspecção,
raramente os alunos apresentam competências pessoais e sociais. Se a participação dos
pais nunca assume um sentido de inspecção, os alunos às vezes têm competências
pessoais e apresentam tendencialmente muitas vezes competências sociais.
Em geral, se a participação dos pais assume um carácter de controlo/avaliação,
as competências pessoais e sociais são menores e vice-versa.
Quadro 20
Relação entre a Orientação dos Participantes e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos
CO '3 o CO
Orientação dos participantes Sig. Valores médios
a j u c
1 o U
> < A participação dos pais concretiza-se na forma de apoio, assumindo uma perspectiva de ajuda. A participação dos pais assume um sentido de inspecção. A participação dos pais exprime uma vontade de mudar. A participação dos pais exprime uma vontade de desafiar o poder formal.
0,175 o 0,002 + 0,171 o
0,052 o
3,22 2,08
.22 '5 Orientação dos participantes Sig. Comparação médias
1 Õ c 'B SL B Q u
> < A participação dos pais concretiza-se na forma de apoio, assumindo uma perspectiva de ajuda. A participação dos pais assume um sentido de inspecção. A participação dos pais exprime uma vontade de mudar. A participação dos pais exprime uma vontade de desafiar o poder formal.
0,063 o 0,007 + 0,595 o
0,355 o
3,38 2,18
Fonte; Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
• Relação entre as "Areas de participação" e as competências pessoais e sociais
dos alunos.
No estudo da relação entre as "Áreas de participação" c as "Competências
pessoais e sociais dos alunos", a significância associada ao teste estatístico permite-nos
afirmar que a variável "participação dos pais referencia-se ao apoio às actividades" está
relacionada com as "competências pessoais dos alunos".
Numa análise mais específica, podemos afirmar que: sempre que a participação
dos pais se referencia ao apoio às actividades, os alunos às vezes ou tendencialmente
muitas vezes demonstram capacidades pessoais; se os pais raramente participam no
115
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU 1ARHS DE PROFESSORl-S
apoio às actividades, os alunos apresentam valores médios menores nas suas
competências pessoais, ou seja, a participação dos pais na área técnica operativa (apoio
às actividades) apresenta a mesma tendência das competências pessoais dos alunos.
Quadro 21 Relação entre as Areas de Participação e as Competências Pessoais e Sociais dos
Alunos
Com
petê
ncia
s pe
ssoa
is
Áreas de participação Sig. Comparação médias
> < A participação dos pais centra-se na definição do projecto Educativo A participação dos pais centra-se em aspectos organizativos da escola A participação dos pais referencia-se à acção pedagógica A participação dos pais referencia-se à prestação de cuidados à criança A participação dos pais referencia-se ao apoio às actividades
0,607 o 0,769 o 0,194 o 0,241 o 0,006 + 3,33 2,64
to 'êe '§
Áreas de participação Sig. Comparação médias
> <
1
1 o U
A participação dos pais centra-se na definição do projecto Educativo A participação dos pais centra-se em aspectos organizativos da escola A participação dos pais referencia-se à acção pedagógica A participação dos pais referencia-se à prestação de cuidados à criança A participação dos pais referencia-se ao apoio às actividades
0,589 o 0,814 o 0,136 o 0,293 o 0,181 o
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
• Relação entre o "Objecto social da participação" e as "Competências pessoais e
sociais dos alunos"
A significância associada ao teste estatístico utilizado na relação entre a variável
"Competências pessoais dos alunos" e "Objecto social da participação dos pais na
escola", permite-nos afirmar a relação entre ambas. Como se pode visualizar no quadro
22, a relação estatisticamente significativa situa-se na "criança individual" e no
"grupo/turma". Concretamente, c num registo meramente descritivo, relevam-se os
seguintes dados;
- no referente à criança individual, quando os docentes se posicionam nos itens
mais baixos da escala, os níveis médios das competências pessoais dos alunos registam
um valor médio um pouco mais elevado do que quando os docentes se posicionam nos
itens mais elevados.
116
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARAS DE PROFESSORI-S
- relativamente ao grupo/turma, regista-se um aumento crescente proporcional
entre os itens da escala de frequência e as competências pessoais dos alunos; ou seja,
quando a participação dos pais nunca se focaliza no grupo turma, raramente os alunos
apresentam competências pessoais; sempre que a participação dos pais se focaliza no
grupo/turma, os alunos às vezes apresentam competências pessoais.
A análise dos resultados do teste, permile-nos inferir que a participação dos pais
focalizada na criança individual é inversamente proporcional às competências pessoais
dos alunos, ao invés se a participação se focaliza no grupo/turma, a mesma regista um
equilíbrio com as competências pessoais dos alunos.
Ao relacionarmos a variável "Competências sociais dos alunos" e "Objecto
social da participação", podemos afirmar que existe significância na variável individual
"escola enquanto totalidade". Assim, e de acordo com o posicionamento dos inquiridos,
realçamos uma sucinta descrição da mesma;
- se a participação dos pais se focaliza muitas vezes na escola, os alunos
apresentam às vezes e tendencialmente muitas vezes competências sociais;
- no caso de a participação dos pais nunca se focalizar na escola enquanto
totalidade, as competências sociais dos alunos apresentam menores valores médios.
Uma análise global, permite-nos afirmar que a participação dos pais na escola
enquanto totalidade é proporcional às competências sociais dos alunos.
Quadro 22 Relação entre o Objecto Social da Participação e as Competências Pessoais e Sociais
dos Alunos
Com
pet
ênci
as
pes
soai
s Objecto social da participação Sig. Valores médios
> <
A participação dos pais focaliza-se na criança individual A participação dos pais focaliza-se no grupo/turma A participação dos pais focaliza-se na escola enquanto totalidade
0,026 + 0,020 + 0,065 o
3,30 3,25
2,77 2,33
Com
pet
ênci
as
soci
ais
Objecto social da participação Sig. Valores médios
> < A participação dos pais focaliza-se na criança individual A participação dos pais focal iza-sc no grupo/turma A participação dos pais focaliza-se na escola enquanto totalidade
0,086 o 0,149 o 0,012 + 3,47 2,70
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
117
A PAR 1ICIPACÀO DOS PAIS OL11ARES DE PRQI-BSSORES
• Relação entre a localidade da escola e as competências pessoais e sociais dos
alunos.
No leque das variáveis assinaladas referentes às competências pessoais dos
alunos a localização da escola influencia estatisticamente a "comunicação dos
problemas familiares dos alunos aos professores", registando-se essa comunicação às
vezes fora da sede de concelho (3,06) e raramente na sede.
O grau de frequência das competências sociais dos alunos "no respeito em
relação ao professor", "em relação aos funcionários", na "autonomia na resolução de
conflitos com os colegas" e no "escutar atentamente o professor na aula" diferem
consoante a localização da escola;
- em relação à primeira competência, independentemente da localidade o valor
médio é elevado e a frequência mais assinalada é muitas vezes. Os valores médios no
interior c no exterior da sede são, respectivamente, (4,12) e (3,60).
- em relação à segunda competência, o maior rank médio (3,94) pertence às
escolas situadas fora da sede de concelho, cujos alunos demonstram muitas vezes
respeito pelos funcionários, enquanto que os alunos da sede de concelho demonstram às
vezes, esse respeito;
- na área referente à "autonomia na resolução de conflitos com os colegas" os
parâmetros de maior frequência são às vezes nas escolas da sede do concelho e
raramente fora, apresentando as primeiras um maior valor médio (2,57);
- cm relação à ultima área, "escutar atentamente o professor na aula", as escolas
situadas fora da sede de concelho apresentam o maior valor médio (3,35) e na sede de
concelho o valor de frequência médio é menor (2,93).
Em geral, o grau de concordância é maior na variável referente ao respeito que
os alunos têm pelo professor (3,75), referenciada, maioritariamente, no muitas vezes.
Quadro 23 Relação entre a Localidade da Escola e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos
Lo
cali
dad
e da
esco
la Competências pessoais Sig.
Comparação médias
> <
Os seus alunos têm consciência das suas potencialidades. Os seus alunos têm consciência das suas dificuldades. Os seus alunos desempenham as tarefas que lhes são solicitadas com
0,505 o 0,632 o
118
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DE PROI-KSSORHS
responsabilidade. Os seus alunos demonstram responsabilidades pelos seus próprios comportamentos. Os seus alunos comunicam ao professor os seus problemas pessoais. Os seus alunos comunicam ao professor os seus problemas familiares.
0,616 o
0,377 o 0,106 o 0,008 + Fora Sede
Competências sociais Os seus alunos demonstram capacidade de cooperação com os colegas. Os seus alunos comunicam e interagem com confiança dentro da turma sem necessitarem da intervenção do professor. Os seus alunos demonstram respeito em relação ao professor. Os seus alunos demonstram respeito em relação aos colegas. Os seus alunos demonstram respeito em relação aos funcionários. Os seus alunos demonstram autonomia na resolução de conflitos com os colegas, sem a intervenção do professor. Os seus alunos demonstram atitudes de entreajuda com os colegas Os seus alunos, na aula, escutam atentamente o professor
0,246 o
0,955 o 0,007 + 0,133 o 0,003 +
0,039 + 0,897 o 0,041 +
Fora
Fora
Sede
Fora
Sede
Sede
Fora
Sede
Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância; Sede - Sede de concelho; Fora - Fora da sede de concelho.
• Relação entre as competências pessoais e sociais dos alunos e a sua estrutura
familiar
A leitura imediata da parte superior do quadro revela-nos que existe uma relação
entre as duas variáveis consideradas, verificando-se que a maior significância se obteve
para "os alunos vivem com outros familiares". Todavia, uma leitura mais
pormenorizada dos dados estatísticos torna patente que: i) quando muitíssimos alunos
vivem com outros familiares raramente têm competências pessoais; ii) quando nenhuns
alunos vivem com outros familiares têm às vezes competências pessoais; iii) quando a
opinião dos docentes se posiciona em não sabe/não responde, se os alunos vivem com
outros familiares, esses alunos apresentam muitas competências pessoais.
Considerados na sua globalidade os quadros referentes às médias estatísticas
mostram que quando os professores se posicionam na escala em relação à quantidade de
alunos (de forma crescente) que vivem com outros familiares, as competências pessoais
dos alunos vão decrescendo.
Relativamente à relação, estatisticamente comprovada, entre "Competências
sociais dos alunos" e "Estrutura familiar" e no que concerne à variável "os alunos
vivem em famílias reconstituídas" a leitura interpretativa é similar à da relação descrita
anteriormente. Por sua vez, quando relacionamos as competências sociais dos alunos
119
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
com a variável "vivem com outros familiares" verificamos que a maior frequência se
situa em nenhuns. Este facto permite inferir que as outras variáveis caracterizadoras da
estrutura familiar condicionam positivamente o desenvolvimento das competências
sociais.
Quadro 24 Relação enlre a e as Competências Pessoais e Sociais dos Alunos e a sua Estrutura Familiar
J s Estrutura familiar Sig.
Comparação médias
> <
1/11 E 8 « o & u a
Os alunos vivem com ambos os progenitores. Os alunos vivem só com um dos progenitores. Os alunos vivem em famílias reconstituídas. Os alunos vivem com outros familiares.
0,506 o 0,360 o 0,330 o 0,002 + 3,50 2,33
Com
petê
ncia
s so
ciai
s do
s
alunos Estrutura familiar Sig.
Os alunos vivem com ambos os progenitores. Os alunos vivem só com um dos progenitores. Alunos vivem em famílias reconstituídas. Alunos que vivem com outros familiares.
0,193 o 0,350 o 0,001 + 0,011 +
3,54 3,59
2,62 2,62
Fonte; Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
• Relação entre as práticas educativas familiares e as competências pessoais e
sociais dos alunos
Na relação entre as "Práticas educativas familiares" e as "Competências pessoais
dos alunos" verifica-se que ambas se encontram relacionadas nas variáveis seguintes: i)
"Interiorização de regras de comportamento em sociedade", ii) "Assunção de
responsabilidades individuais", iii) "Valorização do trabalho".
Na opinião dos inquiridos, e na primeira variável referenciada, os docentes
posicionam-se no grau de concordo inteiramente, que apresenta o maior valor médio
(3,54) e o menor valor (2,33) situa-se no discordo completamente. Aprofundando esta
análise, verificamos que quando os docentes concordam inteiramente que a educação
familiar dos alunos lhes proporciona a "interiorização de regras de comportamento em
sociedade", muitas vezes os alunos têm competências pessoais; ao invés se os docentes
se posicionam no discordo completamente, raramente os alunos têm essas
competências.
120
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
Em relação à segunda variável, o maior rank médio (3,33) situa-se no concordo
inteiramente e o menor rank médio no discordo. Na leitura interpretativa desta variável,
verificamos que os docentes que concordam inteiramente com "a assunção de
responsabilidades individuais" por parte da família, às vezes com tendência para muitas
vezes, os alunos apresentam competências pessoais; o quadro de comparação de médias
permite-nos ainda afirmar que à medida que a concordância do docente decresce, as
competências dos alunos acompanham essa tendência.
Relativamente à terceira variável "valorização do trabalho", o maior valor médio
(3,17) corresponde ao concordo e o menor ao discordo-, quando o docente se posiciona
na escala no grau de concordo, às vezes os alunos têm competências pessoais.
Uma análise global permite-nos inferir que quanto maior é a concordância dos
inquiridos nas variáveis acima mencionadas, mais elevadas são as competências
pessoais dos alunos.
Ao nível da relação entre as "Práticas educativas familiares" e as "Competências
sociais dos alunos", o teste estatístico registou significância na variável "o prazer pelo
saber", com um grau de concordância médio de (3,53). Numa análise mais
pormenorizada de comparação de médias, verificamos que quando os docentes
apresentam concordância no que se refere ao facto de as práticas familiares dos alunos
lhes proporcionarem o prazer pelo saber, esses alunos apresentam muitas vezes
competências sociais. Quando os professores se posicionam em relação ao prazer pelo
saber numa situação de discordância ou não concordo nem discordo, os alunos às vezes
têm competências sociais.
A análise referente a esta variável permite-nos afirmar que uma maior
concordância na variável implica mais competências sociais nos alunos.
121
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DL- PROI l-SSORl-S
Quadro 25 Relação entre as Práticas Educativas e as Competências Pessoais e Sociais
Práticas educativas Sig. Comparação médias
> <
Com
pet
ênci
as
pes
soai
s
Interiorização de regras de comportamento cm sociedade A assunção de responsabilidades individuais A assunção de responsabilidades colectivas Autonomia ao nível da resolução de problemas Valorização do trabalho O prazer pelo saber O prazer pelo aprender O acesso a um ambiente literário rico Responsabilização pela sua própria aprendizagem
0,011 + 0,032 + 0,250 o 0,158 o 0,013 + 0,108 o 0,239 o 0,190 o
Cl Cl
c
DC D
NC. ND.
Com
pet
ênci
as
soci
ais
Interiorização de regras de comportamento em sociedade A assunção de responsabilidades individuais A assunção de responsabilidades colectivas Autonomia ao nível da resolução de problemas Valorização do trabalho O prazer pelo saber O prazer pelo aprender O acesso a um ambiente literário rico Responsabilização pela sua própria aprendizagem
0,198 o 0,117 o 0,413 o 0,134 o 0,113 o 0,011 + 0,792 o 0,324 o
c D
Fonte; Inquérito por Questionário, 2004. Legenda; "o" - Não há significância; "+" - Há significância; Cl - Concordo inteiramente; C - Concordo; NC. ND. - Não concordo nem discordo; D - Discordo; DC - Discordo completamente.
A participação dos pais versus formação de pais
• Relação entre a Formação de pais e o Objecto social da participação
Ao relacionarmos o "Objecto social da participação" com a importância da
"Formação dc pais", a significância associada ao teste permite-nos afirmar que existe
essa relação; mais concretamente na variável "criança individual" (sig. =0,022 < 0,05).
O estudo das relações entre o "Objecto social da participação" e os "Objectivos
na formação de pais", elucida uma diferença estatisticamente significativa entre ambas
na variável "criança individual" (sig. =0,028 < 0,05), sendo o maior rank 4,29 e o
menor 3,52. A média desta frequência apresenta valores elevados o que torna legítima a
asserção da grande concordância dos inquiridos com os objectivos na formação dc pais,
aparecendo expressa pelos docentes em muito importante nos diferentes itens da escala.
122
A PAR TICIPACÁO DOS PAIS - OLHARIAS DI- PRQFESSORKS
Quadro 26
Relação entre a Formação de Pais e o Objecto Social da Participação
Obj
ectiv
os
na
form
ação
de
pais
Objecto social da participação Sig.
Valores médios
> < A participação dos pais focaliza-se na criança individual A participação dos pais focaliza-se no grupo/turma A participação dos pais focaliza-se na escola enquanto totalidade
0,028 + 0,489 o
0,133 o
4,29 3,52
Nec
essi
dade
de
form
ação
Objecto social da participação Sig.
Valores médios
> < A participação dos pais focaliza-se na criança individual A participação dos pais focaliza-se no grupo/turma A participação dos pais focaliza-se na escola enquanto totalidade
0,022 + 0,756 o
0,662 o Fonte: Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "o" - Não há significância; "+" - Há significância.
• Relação entre o meio sócio-cultural do aluno e a formação de pais
Ao relacionarmos o "Meio sócio-cultural dos alunos" com a importância da
"Formação de pais", a significância associada ao teste (sig. =0,020 < 0,05), permite
afirmar que as duas variáveis estão relacionadas.
Quadro 27 Relação entre o Meio Sócio-Culíural dos Alunos e a Formação de Pais.
Mei
o só
cio-
cu
ltura
l Formação de pais Sig.
A participação dos pais na escola poderá ser potenciada pela existência de formação de pais. 0,020 +
Fonte; Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "+" - Há significância.
• Relação entre os anos de serviço docente do professor com os anos de serviço
na escola actual e a importância de formação de pais.
A significância associada ao teste estatístico utilizado para relacionar a variável
"Anos de serviço docente" e "Anos de serviço na escola actual", permite-nos afirmar
que os anos de serviço docente influenciam fortemente os anos de serviço na escola
actual, ou seja, docentes com mais anos de serviço estão ligados à escola actual há mais
tempo, o que vem reafirmar o facto da estabilidade do corpo docente do agrupamento.
123
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -Ol.HARHS PH PROFESSORES
Como ainda se pode visualizar no quadro anterior, a relação entre os "Anos de
serviço docente" e os "Objectivos na formação de pais", permile-nos concluir que o
número de anos de serviço docente influencia o grau de importância dada aos objectivos
na formação de pais. Concretamente, e num registo meramente descritivo, relevam-se
os seguintes dados:
- o grau de frequência do objectivo de formação de pais relativo ao informar
sobre o desenvolvimento, aprendizagem e socialização da criança/jovem apresenta
maior valor médio (4,53) na categoria 16-25 anos de serviço e menor (3,50) nos
docentes que têm entre 1 e 4 anos de serviço docente;
- no que se refere ao aconselhar sobre o desenvolvimento, aprendizagem e
socialização da criança/jovem o maior valor médio (4,24) pertence à categoria 16-25
anos de serviço e o menor (3,50) à de 5-7 anos de serviço;
- na orientação sobre o desenvolvimento, aprendizagem e socialização da
criança/jovem, o maior grau de importância (4,29) pertence aos docentes da categoria
dos 16-25 anos de serviço, e o menor na de 26-40 anos (3,38);
- em relação ao estimular a participação dos pais no processo de aprendizagem
dos filhos, os docentes que têm entre 16 e 25 anos de serviço docente apresentam
valores médios mais elevados (4,29) e com valores mais baixos situam-se os docentes
que têm entre 5 e 7 anos de serviço;
- o grau de frequência sobre a informação de técnicas para fomentar a
aprendizagem apresenta maior valor médio (3,81) na categoria dos 8-15 anos de serviço
e menor (3,00) nos 5-7 anos de serviço docente;
- na informação sobre técnicas para controlar o comportamento, o maior grau de
importância (4,19) pertence aos docentes que têm entre 8 e 15 anos de serviço e o
menor (3,15) aos docentes que têm 26-40 anos de docência;
- na prevenção de problemas nas relações familiares decorrentes do
desenvolvimento dos filhos os docentes na categoria dos 8-15 anos de docência
apresentam valores médios mais elevados (4,25) e os da 5-7 anos de serviço têm valores
médios mais baixos (2,67);
- por fim, em relação à importância de estimular e apoiar iniciativas de interesse
promovidas pelos pais, a categoria dos 16-25 anos apresenta maior valor médio (4,50) e
a de 5-7 anos de docência tem menor valor médio (3,17).
Numa análise global verifica-se que os valores médios mais elevados de
concordância com as variáveis apresentadas dizem respeito aos docentes cujos anos de
124
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - QLUARHS DE PROFESSORt-S
experiência se situam no intervalo dos 8 aos 25 e, concomitantemente, os menores
valores médios estão adstritos aos docentes com menos de 8 anos de experiência e mais
de 25. No conjunto de todas as variáveis que constituem os objectivos da participação
dos pais a que apresenta um grau de frequência médio maior é a que se refere à
importância de "estimular a participação dos pais no processo de aprendizagem dos
filhos".
Quadro 28 Relação entre os Anos de Docência do Professor com os Anos de Serviço na Escola
Actual e a Importância de Formação de Pais
Característica do professor Slg.
Comparação de médias*
> <
Anos de serviço na escola actual 0,000 + 26-40 1-4
Objectivos na Formação de pais 0,027 +
Anos
de
docê
nci
:
Informar sobre o desenvolvimento, aprendizagem e socialização da criança/jovem. Aconselhar sobre o desenvolvimento, aprendizagem e socialização da criança/jovem. Orientar sobre o desenvolvimento, aprendizagem e socialização da criança/jovem. Estimular a participação dos pais no processo de aprendizagem dos filhos. Informar sobre técnicas para fomentar a aprendizagem. Informar sobre técnicas para controlar o comportamento. Prevenir problemas nas relações familiares, decorrentes do desenvolvimento dos filhos. Estimular e apoiar iniciativas de interesse promovidas pelos pais.
16-25
16-25
16-25
16-25 8-15 8-15
8-15 16-25
1-4
5-7
26-40
5-7 5-7
26-40
5-7 5-7
Fonte; Inquérito por Questionário, 2004. Legenda: "+" - Há significância; "*" - Idades.
O nosso inquérito por questionário contém, também, uma questão aberta, cujas
respostas requerem, necessariamente, uma análise interpretativa. Nesse sentido, e tendo
por base os três momentos interdependentes que sistematizam o processo de análise de
dados qualitativos (referidos por investigadores como Bogdan & Biklen, 1994; Miles &
Huberman, 1985; Vala, 1987) procedemos à análise exploratória, à descrição e à
interpretação desses mesmos dados.
Sendo a seguinte a formulação da questão: "A participação dos pais na
escola/jardim-de-infância poderá ser potenciada pela existência de formação de pais?",
a nossa primeira etapa consistiu em verificar o número de respondentes que
125
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS-OMlARr-S DF PROFI-SSORKS
manifestaram concordância com a afirmação: cinquenta concordaram o que sc traduz
numa frequência absoluta elevada, enquanto oito afirmam não concordar e apenas um
não respondeu.
Relativamente às respostas afirmativas c à enunciação das formas de
operacionalizar a formação de pais - e considerada a diversidade e pluralidade de
medidas preconizadas — efectuámos um primeiro nível de codificação e redução de
dados tendo chegado a três unidades temáticas que denominámos de "Promoção da
formação", "Criação de espaços/momentos de cooperação" c "Fornecer informação".
Quanto às respostas negativas, e face às justificações apresentadas, procurámos,
igualmente, normalizar analiticamente a heterogeneidade dos discursos produzidos.
Todavia, sobrepuseram-se-nos as dificuldades de padronização em unidades temáticas,
não só pelo número diminuto de respondentes como também pelo facto de que a divisão
artificial produzida iria, necessariamente, anular a unidade de sentido dos registos
discursivos produzidos pelos respondentes. Neste sentido optámos por transcrever as
mais significativas:
"A formação poderá ajudar, mas por si só, não resolve o problema. Se os pais
não participam porque não têm vontade ou porque não entendem ser necessário,
dificilmente irão aderir a essa formação que lhes possa ser oferecida. Penso que a
generalidade dos pais terá dificuldade em aceitar esse tipo de formação";
"Eles já participam só que mal, isto é ingerindo-se na parte pedagógica que para
mim é o professor responsável. Assim, o que se pretenderia com a formação de pais
seria uma correcta participação dos pais na escola";
"Os pais que se interessam pelos progressos dos seus filhos na escola participam
por iniciativa própria";
" Todos ou quase todos os pais estão naturalmente formados para acompanhar os
filhos no seu processo de crescimento. Não acho que haja formação de pais", "Na
minha opinião, os pais/educadores têm de saber o seu papel. Não é da responsabilidade
dos docentes, educar os pais, ou seja, formá-los. Os professores só deviam transmitir
competências/conhecimentos";
"Os pais participam no Jardim-de-infância/1.0 Ciclo. Nos 2.73.° ciclos a escola
deve ir ao encontro dos pais, fazendo sentir nos pais a necessidade de estar presentes
nesta fase da vida dos jovens".
Verificamos aqui uma forte componente ideológica dos discursos sendo a sua
carga denotativa superior à conotativa. Parece-nos, neste contexto, ser legítimo afirmar
126
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - QLHAR1-S DE PROFESSORL-S
que estes professores receiam alguma falta de delimitação entre zonas onde a
participação dos pais é útil e desejável e as áreas que relevam da sua competência
profissional. Daqui decorre, pensamos, o facto destes docentes situarem a sua posição
num espaço restrito que tem como limites extremos a exclusão dos pais da vida escolar,
por um lado, e a sua inserção limitada a uma dimensão social de auxiliares ou
colaboradores da acção educativa da escola em casos pontuais, por outro.
Uma vez efectuada esta análise exploratória passámos ao segundo momento, a
descrição, tendo procedido a um exame exaustivo de cada unidade temática.
Assim, e no que concerne ao segmento que categorizámos como "Promoção da
formação" foram evidenciadas três perspectivas diferentes:
- uma, em que os docentes consideram a escola como um contexto globalmente
formativo para o conjunto dos seus actores - pais, alunos, professores - de onde a não
dissociação entre educação de crianças e educação de adultos, perspectiva esta
claramente enunciada pelo registo discursivo seguinte: "A formação de pais pode ser a
partilha de dificuldades sentidas pelos próprios pais, e a partir daí, chegar aos problemas
da Escola e em conjunto discutir e encontrar soluções";
- a segunda, onde os docentes consideram que a formação de pais deve ser
efectuada por entidades exteriores à escola colocando, logicamente, a formação dos pais
num campo de clara exterioridade face à escola, perspectiva expressa pela citação
seguinte: "promover sessões de esclarecimento, sobre vários assuntos, a efectuar por
especialistas na área, não, com os professores";
- uma terceira, em que a formação passa essencialmente pela troca de
experiências de vida (saberes e conhecimentos) entre professores e pais e tendo um
sentido mobilizador de vontades, como é ilustrada no registo seguinte: "Dinamizar
acções com experiências de professores e educadores (que o fizeram com base em
projectos educativos ou de escola) e com relatos das experiências dos pais, para
sensibilizar professores e pais menos crentes na importância da sua participação na
escola".
Ao nível do tema "Criação de espaços/momentos de cooperação" os docentes
evidenciam uma heterogeneidade de soluções; colocando os pais exclusivamente como
colaboradores em actividades fora do núcleo curricular ("Criar A TL orientados por pais
disponíveis"), integrando-os, circunstancialmente, nas actividades formativas dos
127
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS -OUIARHS Dl- PROFESSOR1-S
alunos ("Integrar os pais na escola durante as aulas") ou de forma organizada e coerente
("Voluntariado participativo dos pais, em áreas definidas no projecto educativo da
escola") e, ainda, formalizando a criação de órgãos em que, em parceria, pais e
professores intervêm na política da escola ("Assembleias de professores da
turma/encarregados de educação").
No que respeita ao tema "Fornecer informação" - e como é patente na expressão
utilizada para esta categorização - os professores denotam claramente uma postura
relacional em que eles próprios são o único veículo da comunicação, isto é, fornecem
informação aos pais não tendo em conta que no espaço organizacional da escola podem
ocorrer aprendizagens por interacção recíproca. De certa forma, parece legítimo
concluir aqui a existência de alguma ambiguidade dado que os professores se limitam a
ser transmissores de informação, esquecendo o facto de que a troca de informações é
uma das características essenciais ao fenómeno formativo.
5.1.6 Um "Olhar" sobre a Participação dos Pais
O título deste capítulo procura, metaforicamente, dar a conhecer a síntese
possível de todas as análises interpretativas que fomos efectuando ao dar visibilidade ao
estudo que efectuámos. Chamámos-lhe "um olhar" por termos presente a natureza do
estudo, a impossibilidade de as suas conclusões serem generalizadas, mas enquanto
olhar captado numa realidade específica e singular poderá ser um contributo para uma
outra focagem sobre este mesmo tema: a Participação dos Pais na Escola.
Assim, da análise dos dados - quantitativos e qualitativos - são as seguintes as
nossas notas conclusivas para a participação dos pais no Agrupamento Vertical de
Escolas de Castro Verde:
Relativamente ao contexto geográfico, social e cultural em que efectuámos o
estudo, toma-se importante relevar que a interioridade e a ruralidade do concelho de
Castro Verde se constituem como as determinantes de uma população rarefeita (com
uma baixa densidade populacional) e envelhecida.
128
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS OLHARES PH PROFESSORES
Deste facto decorre que a rede escolar intra concelhia (especialmente o conjunto
de escolas que são parte constituinte do Agrupamento) tende a ser cada vez mais restrita
dado o encerramento, efectuado nos últimos anos, de algumas escolas isoladas e a
tendência, a curto prazo, do fecho de outras (a concretizar-se a medida político-
administrativa enunciada pela administração central do encerramento de todas as
escolas com menos de dez alunos, irão encerrar as portas dez estabelecimentos escolares
no concelho de Castro Verde).
Em termos sociográficos é igualmente a ruralidade que explica a predominância
de uma estrutura clássica familiar - a família conjugal e a família extensa - e ainda as
ocupações sócio-profissionais: as mulheres são predominantemente domésticas e no
campo da profissionalidade (aqui entendido o conceito como exercício de uma profissão
fora do lar) são sobretudo empregadas de serviços (comerciais e administrativos,
públicos e privados) enquanto que os homens exercem profissões no sector secundário e
no sector terciário, e ocupam os quadros especializados e dirigentes. Aparentemente
paradoxal, face à situação descrita, não são os homens que detém maiores habilitações
académicas, mas sim as mulheres (dizemos aparentemente paradoxal, pois se fosse
possível estabelecer uma relação causa-efeito, sem ter em conta as estruturas
ideológicas e mentais, sobre diferenciação de géneros que, em sociedades
rurais/tradicionais ainda detêm um peso considerável).
Centrando a análise sobre o Agrupamento, importa reafirmar que a população
discente é maioritariamente masculina, enquanto que a população docente é
maioritariamente feminina (facto este estatisticamente comprovativo da realidade
nacional em que a maioria dos docentes do pré-escolar e dos 1.0 e 2-° ciclos do ensino
básico são mulheres); metade dos alunos que frequenta a escola sede de Agrupamento
(escola EB 2/3 Dr. António Francisco Colaço) reside fora da sede do concelho com os
consequentes custos sociais e educativos (de tempos mortos, etc.); e, ainda, que os
encarregados de educação dos alunos são predominantemente as mães, factor este
igualmente condicionado pelas condições sócio-laborais e pela tradição.
No que concerne ao núcleo central do nosso estudo, isto é, a participação/não
participação dos pais na escola, as análises parcelares que fomos efectuando dão-nos,
pensamos, claramente a ideia de que nos estabelecimentos de ensino pré-escolar e 1.0
ciclo os pais têm uma participação mais directa, pela maior proximidade física e
relacional com os docentes, enquanto que no 2.° e 3.° ciclos, existente só na escola-sede,
a maior rigidez das estruturas - muitos professores, regras mais formalizadas, órgãos
129
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFESSORES
com menor flexibilidade funcional - a participação dos pais é indirecta (são os
representantes dos pais, eleitos ou nomeados, que fazem parte dos conselhos de turma,
do concelho pedagógico e da Assembleia de Escola). A única relação directa
pais/docentes faz-se entre o director de turma e os pais e tem um carácter ocasional, não
sistemático nem, na maioria das vezes, conforme com os normativos.
Dos diferentes tipos de intervenção dos pais, referenciados atrás, decorre a
existência de graus de formalização da participação também diversos: no 1.° ciclo
predomina a participação informal, enquanto no 2.° e 3.° ciclos a participação não
formal. Por outro lado, ao se considerar as atitudes e empenhamento dos pais face à vida
das escolas, o mesmo é dizer, o seu envolvimento, verificamos que essa intervenção se
apresenta, para os pais posicionados no meio sócio-cultural médio, com algum
calculismo (intervêm se são esperados benefícios, retraem-se se não vislumbram
benefícios) enquanto que os pais de um meio sócio-cultural médio baixo se limitam a
uma intervenção organizacionalmente formalizada. Dentro desta mesma lógica,
concluímos que existe alguma passividade na participação, uma vez que, aos olhos dos
docentes inquiridos, os pais demonstram atitudes de desinteresse e de não assunção de
certas responsabilidades na vida das escolas, focalizando sobretudo o seu interesse no -
e, em quase exclusividade — seu educando.
Face ao objectivo da nossa investigação empírica, de ainda perscrutar, na
opinião dos docentes do agrupamento a influencia que a participação dos pais teria na
formação pessoal e social dos alunos, concluímos, tendo em conta critérios de
regulamentação, de envolvimento e de poder, que há uma relação entre participação de
pais e formação de alunos a nível pessoal e social, relação esta que comummente - sem
preocupações de teorização, o que faremos na conclusão — podemos sintetizar do
seguinte modo: os pais participam mais na escola quando os seus educandos têm poucas
competências pessoais e/ou sociais, facto este que nos permite concluir que os pais têm
consciência de que o diálogo escola-família pode contribuir para a
socialização/formação dos jovens.
Por fím, também verificamos que existe uma relação de influência entre a
participação dos pais e a necessidade de formação de pais. Neste ponto ficou patente
uma pluralidade de opiniões por parte dos docentes inquiridos, pluralidade esta que se
inscreve num coníinuum, desde a recusa da hipótese de necessidade de formação de pais
- que tem inerente a ideia (inconfessada directamente, mas deduzível de afirmações
produzidas) de exclusão dos pais da vida da escola e consequente afirmação de uma
130
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARES DE PROFKSSORHS
concepção de escola, corporação de docentes - ao entendimento de escola como um
contexto ecológico de formação, que pressupõe a concretização de uma
escola/comunidade educativa.
131
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS-OLHARES PH PROFKSSQRHS
6 CONCLUSÕES
O futuro está em aberto
Popper
Se o senso comum nos diz que o terminar um qualquer estudo exige um reexame
retrospectivo sobre todo o seu processo de construção, e se a prática científica apresenta
como traço distintivo a sua capacidade de explicar o que faz e por que faz, questionando
sistematicamente os seus modos de fazer, é incontornável, neste momento, reflectirmos
sobre todo o nosso processo investigativo que nos conduziu a estes Olhares de
Professores sobre a Participação dos Pais no Agrupamento Vertical de Escolas de
Castro Verde.
Aprender como se processa a participação praticada dos pais no Agrupamento
Vertical de Escolas de Castro Verde foi a questão - primeira e central - que percorreu
transversalmente todo o nosso projecto investigativo e que ancorou em duas outras
interrogações - erigidas como hipóteses de trabalho - que marcam a singularidade e a
pertinência deste estudo: qual a influência da participação dos pais ao nível da formação
pessoal e social dos alunos e qual a influência da participação dos pais ao nível da
formação de pais. Essas singularidade e pertinência advêm não tanto da inexistência de
estudos empíricos disponíveis sobre essa problemática, mas, essencialmente, do facto de
se procurar efectuar uma aproximação ao sentido das eventuais relações entre
participação praticada dos pais na escola e a formação pessoal e social tanto dos alunos
como de pais; aproximação esta, não obtida através de uma indagação directa aos
132
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU IARL-S PH PROR-SSORHS
docentes do Agrupamento, mas resultado da utilização das virtualidades dos
procedimentos de análise de dados quantitativos, cujas interpretação e contextualização
foram conjugadas com os conhecimentos teórico-práticos de que dispomos (produtos de
uma profissionalidade reflexiva e das exigências académicas para obtenção do grau de
mestre).
Estas questões constituíram-se como condutoras de todo o processo investigativo
que efectuámos, determinando, por um lado, a construção de um quadro teórico-
conceptual onde se inscreve uma conceptualização plural sobre participação e se adopta
uma perspectiva sistémica para a compreensão da rede complexa de ligações e
interdependências entre família, escola e formação e, por outro, condicionando todo o
processo heurístico e metodológico.
Este quadro teórico veio revelar-se de grande utilidade quando aplicado ao
estudo que seleccionámos. Esta opção metodológica revelou-se, todavia um elemento
central na realização deste trabalho, desde logo porque a construção teórica e a análise
do caso concreto do Agrupamento Vertical de Escolas de Castro Verde (embora
apresentados em fases distintas neste trabalho) coexistiram, interactuaram e inter-
relacionaram-se ao longo de todo o processo. Deste modo, se os dados empíricos foram
lidos à luz do quadro teórico-conceptual o inverso também se registou, isto é, o quadro
teórico foi construído e reconstruído dialecticamenle à luz dos dados empíricos
recolhidos.
A opção, por um processo mediatizado, para encontrar inteligibilidade de uma
prática social - a participação dos pais na escola - foi feita tendo-se consciência da sua
ambivalência intrínseca: por um lado, um acesso mais fácil às fontes de informação e,
por outro, as dificuldades de descodificar nas respostas opinativas dos professores o
pensamento real, o pensamento politicamente correcto e o pensamento feito moda.
E, este é o pano de fundo a partir do qual discursivamente vamos elucidar a
prática complexa da participação/não participação dos pais no Agrupamento de Escolas,
objecto do nosso olhar investigativo, assim como evidenciar as eventuais influências
que a participação dos pais tem ao nível da formação pessoal e social dos alunos e da
formação de pais. Fazemo-lo em três momentos sucessivos e pela ordem enunciada.
1. Associado ao carácter democrático da participação o tipo de intervenção
dominante dos pais assume predominantemente a forma de participação directa, com
maior incidência na educação pré-escolar e no 1.° ciclo enquanto que a intervenção
133
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS DE PROFESSORHS
indirecta só é significativa nos 2.° e 3.° ciclos. Se factores de natureza estrutural e
organizativa podem ser apontados para explicar o tipo de intervenção, nomeadamente a
monodocência versus pluridocência e o maior ou menor formalismo das estruturas na
sua componente social (entendidas neste contexto, enquanto sistema de relações intra e
inter pessoais de professores e pais), consideramos, no entanto, ser legítimo
fundamentar esta participação nas características do contexto geográfico e social em que
a mesma ocorre. A ruralidade e desertificação humana do concelho e consequente
existência de escolas isoladas com uma população escolar e local reduzidas, leva a que
o interconhecimento seja o elo estruturante das relações sociais nas escolas fora da sede
de freguesia, enquanto que a dimensão média das escolas (pré-escolar e 1.° ciclo) da
sede é, também, propiciadora do desenvolvimento de condições interaccionais
favoráveis ao diálogo e à colaboração directas; ao invés, na sede de freguesia, a maior
dimensão da escola do 2.° e 3.° ciclos e o seu funcionamento institucional (com uma
estrutura administrativa normativa e formalizada) condicionam formas de participação
mediatizadas.
Os factores acima assinalados afiguram-se-nos, igualmente, como a razão pela
qual, ao nível da regulamentação, seja percepcionada pelos docentes exclusivamente a
participação não-formal ao nível dos 2.° e 3.° ciclos. Face a esta constatação parece-nos
ser possível inferir que os docentes do pré-escolar e do 1.° ciclo não relacionam, de
forma imediata, a participação directa dos pais com a existência de uma regulamentação
não estruturada nem formalizada (informal) emergente da acção organizacional, tendo
"naturalizado" as inter-relações estabelecidas com os pais. Por sua vez, a percepção de
participação não formal ao nível dos 2.° e 3.° ciclos deriva da interpretação
organizacional localizada nas regras formais e consubstancia-se no facto de os pais
terem institucionalizado o diálogo e a colaboração com o director de turma.
Nesta focalização dos aspectos que podem ser associados ao carácter
democrático ficou igualmente patente, na nossa investigação, uma relação de tipo
classista (embora ténue): a participação indirecta dos pais (realizada através de
representantes nomeados ou eleitos) é mais significativa nos pais pertencentes a um
meio sócio-cultural médio baixo, enquanto que, ao se considerarem as atitudes e o
empenhamento dos pais face às suas possibilidades de participação nas escolas, isto é, o
grau de envolvimento, se verifica que os pais dos alunos pertencentes a um meio sócio-
cultural médio têm intervenção expectante, mesmo calculista, evitando intervir ou tomar
posição por receio de correr riscos e de comprometer o futuro.
134
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS - OU lARI-S 1)H PROF1-SSORES
Releva-se, no entanto, que sob o ponto de vista dos docentes do Agrupamento a
participação reservada é a dominante, embora, quando sujeita ao exame da extensão e
de frequência se configure mais com a participação passiva, caracterizada por atitudes e
comportamentos de desinteresse, de alheamento, de alienação de certas
responsabilidades e de não recurso às possibilidades - formais, não formais e informais
- de participação. Aliás, esta orientação táctica de participação reservada dos pais — que
pode, teoricamente, evoluir, por arrastamento, para uma participação activa ou passiva —
tende a ser percepcionada como uma forma relativamente marginal de participação e a
assumir uma ambivalência de sentido: ser indiciadora de uma crise de participação e/ou
aproximar-se de uma situação teórica de não participação.
A legitimidade e validade destas conclusões ganham ainda maior consistência
quando se focaliza o objecto social da participação e as áreas em que esta se
operacionaliza. Assim, e de acordo com uma orientação estratégica que visa o apoio à
criança individual, a participação dos pais centra-se, em exclusivo, no aluno, sendo o
grupo-turma e a escola só convocados quando os pais estabelecem alguma relação de
causa-efeito entre essa participação e eventuais benefícios para a criança-aluno-
individual. Deste modo se justifica a sua participação directa na área técnico-operativa
(apoio às actividades) no 1.0 ciclo e educação pré-escolar e a participação indirecta no
3.° ciclo, nomeadamente na definição do Projecto Educativo e na acção pedagógica. No
1.° caso é uma participação voluntária, individual, não estruturada nem formalizada que
tem um carácter ocasional, e que deriva, essencialmente, da assunção do papel dos pais
como responsáveis pela educação dos filhos, embora, também, determinada por um
sentido de solidariedade que, em conformidade, se afigura como uma participação
social e cívica muito mitigada. No 2.° caso, a participação na área político-institucional
não deriva da assunção do papel de co-educadores (com o sentido de co-
responsabilização e de partenariado), mas, somente, do exercício do controlo
democrático sobre o funcionamento de escola, exercício esse não decorrente da sua
intervenção na tomada de decisões que se prendem com o modo como a escola define e
realiza os seus objectivos, mas, tão somente, como expressão dos seus interesses no
quadro do direito parental de tutela sobre a educação dos filhos.
A inversão desta lógica dominante por parte dos pais e a construção de uma
escola comunidade-educativa - efectuada na base de uma regulação local de escola
através de uma aliança entre professores e pais dos alunos - é dificultada pela existência
de um conjunto de factores que interferem negativamente na participação dos pais.
135
A PAR TICIPAÇÃO DOS PAIS -QLHARUS PB PROFESSORES
Neste sentido, no agrupamento vertical de escolas de Castro Verde, existem
representações diferentes por parte dos docentes dos diferentes níveis de educação e
ensino: enquanto que os docentes do pré-escolar imputam exclusivamente aos pais o
ónus da não participação ("desinteresse dos pais em relação à vida da escola") os
docentes dos níveis seguintes colocam essa responsabilidade na escola, nas suas
estruturas e no seu funcionamento e, ainda, na não delimitação clara das esferas de
competências e de poder entre pais e professores.
Importa, ainda, neste "retrato" sobre a participação dos pais, evidenciar os
pontos onde a focalização do olhar dos docentes inquiridos incide preferencialmente
(por mais evidentes). Assim, o foco central recai sobre a participação praticada numa
perspectiva individual (os pais ajudam a motivar c estimular a aprendizagem e
socialização dos filhos associando-se aos esforços dos profissionais de ensino) e com
maior incidência quando as crianças/jovens residem na localidade em que frequentam a
escola; e, secundariamente, num foco mais esbatido, vê-se a participação numa
perspectiva organizacional traduzida num envolvimento muito pouco significativo em
tomo de um projecto comum, confinada a áreas onde se exerce o direito de serem
informados sobre a escolarização dos filhos e resultante, em última análise, do
desinteresse que a maioria dos pais manifesta em relação às modalidades de
participação que lhe são propostas pela Escola.
2. A inteligibilidade da relação triangular família-cscola-formação, que
destacámos na construção da nossa problemática, conduziu-nos - c foi conduzida - pela
nossa radical interrogação da realidade e saldou-se pela constatação teórica de que
família e escola se interiníluenciam em permanência no processo formativo das
crianças/jovens e dos pais. Nesse sentido, e com carácter prioritário face à descrição
analítica das influências da participação dos pais na formação pessoal e social dos
jovens, importa, em termos conclusivos, sistematizar o olhar dos docentes sobre as
efectivas competências pessoais e sociais dos jovens do Agrupamento, tendo em conta a
sua inter-relação com os factores localidade da escola, estrutura familiar e práticas
educativas familiares.
Assim, nas escolas das aldeias a reciprocidade comunicacional é factor
potenciador do crescimento pessoal dos alunos enquanto que a autonomia dos alunos,
enquanto competência social, é favorecida na escola-sede; por outro lado, uma estrutura
familiar estável - família conjugal ou família extensa - também é factor potenciador do
136
A PARTICIPAÇÃO DOS 1'AIS - OLHARES DE PROFESSORES
processo socializador dos alunos dado que as suas práticas educativas, enquadradas num
claro contexto normativo e axiológico, permitem o crescimento da criança/jovem
enquanto pessoa e enquanto cidadão.
Neste contexto, compreender qual o papel atribuído às acções e interacções
concretas desenvolvidas no seio da organização-escola decorrentes das orientações,
sentidos e estratégias de um dos seus actores — os pais - foi a resposta procurada. E a
nossa investigação empírica revelou que a participação dos pais na escola, de acordo
com as intersubjectividadcs dos docentes, tem influências sobre a formação pessoal c
social dos alunos.
Se por um lado ficou evidente que, numa focalização da participação enquanto
fenómeno político, o grau de democraticidade, isto é, a participação directa ou indirecta
dos pais na escola organização tem uma influência nula, por outro, são múltiplas as
influências quando considerados os graus e/ou componentes) de regulamentação, de
envolvimento e de poder. Ainda, olhada sob a perspectiva de fenómeno social, a
participação dos pais também tem repercussões na formação pessoal e social dos alunos.
Corroborando a análise efectuada anteriormente de que interesses pessoais
(legítimos) dos pais são determinantes da sua participação informal não se afigura
paradoxal o facto, evidenciado estatisticamente, de que o maior envolvimento dos pais
na escola é inversamente proporcional às competências pessoais e sociais dos alunos.
Esta relação legitima a interpretação de que, para os docentes do Agrupamento, os pais
consciencializaram as vantagens da articulação entre as práticas educativas familiares c
as actividades escolares.
Esta asserção é, ainda, complementada quando, sob o ângulo de análise do grau
de envolvimento, se verifica que uma participação reservada dos pais está relacionada
com a evidência, por parte dos alunos, de competências pessoais, sendo a intervenção
dos pais orientada por um certo calculismo, mobilizando recursos ou caindo numa certa
apatia, de acordo com a avaliação que fazem da situação face ao sucesso que visam
obter.
Inter-relacionadas as formas de participação, decorrentes do grau de poder dos
participantes, e as competências dos alunos, a objectividade dos dados quantitativos
evidencia a relação entre o grau mais elementar de participação - a informação dada à
posteriori das decisões tomadas na organização - e as competências quer pessoais quer
sociais dos alunos o que permite inferir que a relação mais básica entre a escola-família
potencia o processo socializador das crianças e dos jovens. Quando se tomou como
137
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU lARi-S DE PROFESSORES
referência o grau mais elevado da participação - a capacidade de os pais assumirem
decisões - ficou patente que a formação e o desenvolvimento pessoal das
crianças/jovens é favorecido, quando os pais são associados à tomada de decisões que
afectam directamente as modalidades da sua participação e, neste sentido, são, em
simultâneo, investidos de um poder efectivo de regulação do modo como a escola
define e realiza os seus objectivos e membros constituintes de uma mesma comunidade
educativa.
O reforço dos direitos parentais na escola passa, a nível formal-legal, pela
dimensão do controlo, sobre o seu funcionamento, assumindo ou não o sentido de
inspecção. Aos olhos dos docentes do Agrupamento de Escolas de Castro Verde,
quando os pais ao nível da orientação para a acção privilegiam a estratégia de controlo
avaliativo, os seus filhos não têm competências pessoais e sociais. Inferir a partir dos
dados revelados pelo inquérito e da correlação estabelecida pelos procedimentos de
análise, as razões desta evidência afigura-se-nos uma tarefa de extrema complexidade
pelo facto de a mesma enformar de valores. Embora se pudesse optar por um registo
discursivo — tomado como juízo crítico da participação por referência a um padrão
normativo de apreciação - o separar analiticamente as orientações discriminando os
valores (tomados como referência) afiguram-se-nos como muito difícil e não
determinante no conjunto dos resultados desta investigação. Sendo assim, termos
recentrámos a observação nas áreas e no objecto social da participação registando que
quando os pais assumem na escola o papel de co-cducadores, participando em
actividades de natureza sócio-cducativa, os seus educandos revelam ter maiores
competências pessoais e sociais; ao invés, quando os pais centram a sua participação em
exclusivo na criança as competências destes são menores. Assim, e de uma forma
indirecta, os docentes vêm reafirmar que a assunção dos pais como parceiros educativos
é hoje incontornável numa perspectiva de formação social das crianças/jovens e do seu
crescimento pessoal.
Modelando os resultados obtidos numa síntese possível, dizemos que os
docentes do Agrupamento Vertical de Escolas de Castro Verde percepcionam que a
criação de sinergias entre escola e famílias promove o desenvolvimento das qualidades
pessoais e sociais essenciais relacionadas com comunicação, criatividade, trabalho em
equipa, iniciativa, autonomia e solidariedade.
138
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OU 1ARDS DL PROFESSORi-S
3. As exigências políticas e sociais que as sociedades actuais fazem às Escolas, e
concretamente aos professores, têm sido analisadas num contexto de
desresponsabilização dos pais e de hiper-responsabilização dos professores e colocaram
na ordem do dia, em contraponto a este problema, a formação de pais. Neste sentido, a
actualidade desta problemática, fez emergir como hipótese do nosso estudo a
verificação se a participação dos pais na escola, onde fizemos incidir a presente
investigação, influência a necessidade de formação de pais.
Uma vez que a abordagem a este campo do nosso estudo foi metodologicamente
plural, descrevemos de forma articulada, em seguida e sucintamente, as relações que a
análise estatística evidenciou e os resultados da análise de conteúdo à questão aberta.
Deste modo se se afigurou inquestionável, na perspectiva dos docentes, que
sempre que os pais fazem incidir a sua participação na criança individual existe uma
efectiva necessidade de formação de pais c consequente consecução dos seus
objectivos, todavia a opinião favorável à formação de pais não foi consensual, sendo
exclusivamente adstrita aos docentes com maior estabilidade na carreira, os quais
referenciam que o objectivo mais importante nesta formação é o de os estimular no
processo de aprendizagem dos filhos. Esta falta de consensualidade é, aliás, a nota
dominante quanto à formação de pais, sendo clara uma bipolarização de perspectivas:
um número diminuto de docentes, expressa a inutilidade de formação de pais enquanto
que o núcleo maioritário realça a sua necessidade, evidenciando-se, todavia, um sentido
plural sobre a forma e as modalidades que a mesma pode ou deve assumir.
Desde o assumir a escola como um contexto ecológico de formação, onde os
processos de formação de adultos (pais) e de crianças (alunos) se realizam num mesmo
espaço, num mesmo tempo e com os mesmos princípios (a andragogia integra a
pedagogia)66 passando por colocar a formação de pais num clara exterioridade face à
escola, os docentes deixaram transparecer claras ambiguidades, sobretudo ao
evidenciarem denonativamente que não assumiram a consciência de que a formação (de
crianças e/ou de adultos) se faz não no "consumo" mas sim na "produção" de saberes.
66 Apropriámo-nos da asserção de Rui Canário (1996, p. 143).
139
A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS - OLHARHS PH PROI-I-SSORHS
Evocamos, para terminar esta conclusão, uma reflexão de Paulo Freire (1991):
"Na verdade, não há prática que não tenha nela embutida uma certa teoria ....
Sem teoria, na verdade, nós nos perdemos no meio do caminho. Mas, por outro lado, sem
prática, nós nos perdemos no ar. Só na relação dialéctica, contraditória, prática-teórica, nós nos
encontramos e, se nos perdemos, às vezes, nos reencontramos por fim."
Efectivamente todo o nosso processo investigativo foi o resultado da tentativa de
aliar o conhecimento teórico à nossa prática profissional; foi feito de encontros e
desencontros; e resultou num contributo para a problemática da participação dos pais na
escola. A essencialidade aberta do seu estatuto de contributo inscrcve-se num duplo
registo: o constituir mais elemento reflexivo para quem pretenda estudar
sociologicamente as implicações da participação dos pais na escola e, nessa
conformidade, constitui-se num ponto de partida e, concomitantemente, assumir-se
como um ponto de paragem de um percurso que deixou patente debilidades e limitações
várias que assumimos como potencialidades de uma sua continuação.
Comprovámos alguns resultados de outras investigações ligadas à participação
de pais na escola e comprovamos, sobretudo, que quando a investigação em Portugal
refere que a participação dos pais ainda é muito limitada tal constitui a realidade
primeira no Agrupamento de Escolas em que incidimos o nosso estudo. Daqui decora a
necessidade, por nós sentida, de que um dos caminhos a trilhar seja o da aprendizagem
da participação, como processo colectivo de formação social e cívica, por todos os
actores educativos nas nossas escolas.
Como o fazer?...
Talvez esta seja a indagação radical que conduza à investigação, dos Olhares
dos Professores aos Olhares dos Pais e aos Olhares dos Alunos....
140
A PARTICIPAÇÃO DOS 1'AIS - OIJIARKS DE PROFHSSORt-S
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Despacho Normativo n.0 40/75, de 11 de Agosto.
Despacho Regulamentar n.0 12/2000 de 29 de Agosto.
Lei n.0 46/86, de 14 de Outubro (Lei de Bases do Sistema Educativo).
Lei n.0 7/77, de 1 de Fevereiro.
Lei Constitucional n.0 1/82, de 30 de Setembro.
Endereços electrónicos
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http://www.inc.pt/prodserv/ccnsos dcfmit/censos dcfinit.asp?quadro=l&Rl=V2&x ...
http://www.ine.pt/prQdserv/censos dcfinit/censos derinit.asp?quadro=:3&Rl=V2&x ...
http://www.ine.pt/prodserv/ccnsos definit/censos defínit.asp?quadro=4&Rl=V2&x ...
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