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A PARTICULARIDADE DA PRATICA PROFISSIONAL NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL DE PALMAS DO TOCANTINSMaria Helena Cariaga 1 Resumo O presente artigo visa contribuir para reflexão sobre a particularidade da prática profissional dos assistentes sociais com famílias nos Centros de Referência da Assistência Social de Palmas do Tocantins. Para tanto, realizou uma apreensão crítica da relação dialética dessa particularidade com a universalidade da proposta definida para essa área, expressa na legislação e, principalmente, nas políticas públicas de nível nacional. A perspectiva teórico- metodológica dessa apreensão tem por referência os estudos realizados por Georg Lukàcs sobre a dialética universal/particular, constitutiva do saber sobre uma dada realidade social. O resultado evidenciou os aspectos importantes da realidade local e os avanços constitucionais, expressos na PNAS e a sua operacionalização. Palavras-chave: Política de Nacional de Assistência Social;CRAS; Práticas sociais com famílias. Abstract This article aims to contribute reflections on the particularity of the practice assistants social ties with families in Reference Centers Social Palmas Tocantins. For this, conducted a critical apprehension of the dialectical relationship that particularity with universality of the proposal set for this area, as expressed in legislation, and especially in public policy at the national level. The prospect theoretical and methodological concern is that the reference Studies by Georg Lukács on the dialectics universal / particular, constitutive of knowledge about a given social reality. The result revealed aspects important local realities and advances constitutional, and expressed in their PNAS operationalization. Keywords: National Policy for Social Assistance; CRAS; Social Practices with families. 1 Doutora. Universidade Federal de Tocantins – UFT. [email protected]

A PARTICULARIDADE DA PRATICA PROFISSIONAL NOS … · Social de Palmas do Tocantins. Para tanto, realizou uma ... materialidade da ação profissional na cidade de Palmas do Tocantins

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“A PARTICULARIDADE DA PRATICA PROFISSIONAL NOS CENTROS DE

REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL DE PALMAS DO TOCANTINS”

Maria Helena Cariaga1

Resumo O presente artigo visa contribuir para reflexão sobre a particularidade da prática profissional dos assistentes sociais com famílias nos Centros de Referência da Assistência Social de Palmas do Tocantins. Para tanto, realizou uma apreensão crítica da relação dialética dessa particularidade com a universalidade da proposta definida para essa área, expressa na legislação e, principalmente, nas políticas públicas de nível nacional. A perspectiva teórico-metodológica dessa apreensão tem por referência os estudos realizados por Georg Lukàcs sobre a dialética universal/particular, constitutiva do saber sobre uma dada realidade social. O resultado evidenciou os aspectos importantes da realidade local e os avanços constitucionais, expressos na PNAS e a sua operacionalização. Palavras-chave: Política de Nacional de Assistência Social;CRAS; Práticas sociais com famílias.

Abstract This article aims to contribute reflections on the particularity of the practice assistants social ties with families in Reference Centers Social Palmas Tocantins. For this, conducted a critical apprehension of the dialectical relationship that particularity with universality of the proposal set for this area, as expressed in legislation, and especially in public policy at the national level. The prospect theoretical and methodological concern is that the reference Studies by Georg Lukács on the dialectics universal / particular, constitutive of knowledge about a given social reality. The result revealed aspects important local realities and advances constitutional, and expressed in their PNAS operationalization. Keywords: National Policy for Social Assistance; CRAS; Social Practices with families.

1 Doutora. Universidade Federal de Tocantins – UFT. [email protected]

Introdução

Esse artigo tem por objetivo expor a pesquisa realizada junto aos assistentes

sociais que atuam nos Centros de Referência da Assistência Social.. A presente pesquisa

foi construída possibilitando a apreensão e a análise das particularidades da

implementação e operação da política de assistência social - na especificidade e

materialidade da ação profissional na cidade de Palmas do Tocantins - e estabelecer sua

relação com a totalidade maior, expressa na PNAS.

Para compreender o contexto dessa totalidade maior, que estabelece as

coordenadas de operação da totalidade parcial estudada, foi necessário entender o marco

regulatório da política de assistência social, seu movimento e seu trânsito efetuado no

âmbito da política pública, assumida como direito social. A apreensão dessa

universalidade teve cunho bibliográfico, documental e, sempre que necessário, estendeu

sua busca às informações veiculadas por jornais, internet e outros meios de divulgação.

A apreensão da particularidade da ação realizada em Palmas do Tocantins teve

como ponto de partida a compreensão do processo de formação social e histórica do

Estado do Tocantins e de sua capital, Palmas, por meio de pesquisa documental e de

depoimentos de personagens significativos nessa história. Para apreender as ações

realizadas nesse universo, teve como técnicas de abordagem a observação participante e

entrevistas individuais semi-estruturadas com os(as) assistentes sociais que atuam nas

unidades onde funcionam os Centros de Referência da Assistência Social – CRAS.

A dimensão da particularidade foi apreendida a partir da análise do

“desenvolvimento vital da realidade em movimento” (Lukács, 1978,p.87), tendo em conta

as suas condições estruturais e as suas transformações históricas; e a dimensão da

universalidade foi extraída a partir de um estudo das determinações expressas na Política

Nacional da Assistência Social e em suas regulações, tendo em conta o momento sócio-

histórico em que foram formuladas e a processualidade histórica de sua implementação.

As entrevistas foram realizadas de forma semi-estruturada, de acordo com roteiro

apresentado, e tiveram como referência a questão objeto da investigação. Em sua

preparação foi importante ter presente que aquelas pessoas detém o protagonismo face a

questões de interesse na pesquisa. É importante destacar que, na particularidade desta

pesquisa, foram ouvidos profissionais que constroem suas práticas nos CRAS, na

cotidianidade de seus enfrentamentos. A intencionalidade foi ouvir aqueles a quem nem

sempre é dada a escuta.

Por ocasião dessas visitas aos CRAS, houve a oportunidade de realizar observações,

necessária para apreender a realidade vivenciada pelos sujeitos, notadamente aqueles que

estão à frente dos trabalhos no cotidiano da instituição. Para tanto, a técnica utilizada foi a

observação participante. Essa técnica tem como referência o fato do pesquisador já possuir

uma bagagem científica, de valores e também de instrumentais, que lhe permitem perceber,

com a acuidade necessária, a realidade. Para essa observação é preciso ter um

conhecimento antecipado dos aspectos políticos e legais norteadores da situação observada

e estar atento aos aspectos relacionais, às tradições, aos costumes, às idéias, às motivações

e aos sentimentos dos sujeitos, para compreensão de aspectos importantes da

particularidade das práticas por eles vivenciadas ( MINAYO,1999:138).

Esses encontros realizados para a pesquisa foram determinantes para a

apreensão da realidade dos CRAS no universo definido.

A análise das informações resultantes das entrevistas, da observação participante,

da leitura dos documentos e da bibliografia, foi realizada, tendo como ponto de referência

a relação dialética entre as categorias da universalidade e da particularidade, as quais,

segundo Lukács (1978, p.103) são significativas para o processo do conhecimento:

O processo de conhecimento transforma ininterruptamente leis que até aquele momento valiam com as mais altas universalidades em particulares, (...) cuja concretização conduz muito freqüentemente, ao mesmo tempo, à descoberta de novas formas da particularidade como as mais próximas determinações, limitações e especificações de nova universalidade tornada mais concreta.

Os Centros de Referência da Assistência a Social de Palmas

O CRAS é um equipamento social, definido como unidade estatal de base

territorial, localizada em áreas de vulnerabilidade social, com a finalidade de organizar,

coordenar e executar os serviços de proteção social básica da política assistencial.

Segundo a Política Nacional da Assistência Social tem como objetivo: “atuar com famílias

e indivíduos em seu contexto comunitário, visando à orientação e o convívio sócio-familiar

e comunitário. Neste sentido é responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral

às Famílias” (2004, p.29).

O CRAS é a unidade social destinada a atender a família, significa que os

indivíduos não serão atendidos isoladamente e que os atendimentos devem se realizar na

perspectiva da família, sem deixar esvair as características de sua inserção familiar,

enfatizando os aspectos relativos à sua vivencia nesse contexto. A família é a unidade

que está no centro da ordenação das ações da assistência social e das práticas dos

profissionais que atuam na área da proteção social básica. Também não podem ser

desconsiderados os vínculos relacionais comunitários.

Em Palmas a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social Trabalho e

Emprego de Palmas conta com 10 CRAS e 01 CREAS, todos localizado em zona urbana,

sendo seis cofinanciados e quatro próprios. Estes equipamentos estão localizados da

seguinte maneira: Santa Fé, Morada do Sol 2, Setor Sul, Taquaruçu, Aureny III, Aureny

IV, Quadra 1206 Sul, Quadra 407 Norte, Quadra 605 Norte e Jardim Taquari.

O trabalho nos CRAS conta com dez profissionais com contrato de prestação de

serviço (convênio com o governo Federal), ou seja, sem garantias legais de férias e

de13º. salário. Essa forma de contratação tem sido uma constante na área da assistência

social – é uma precarização da mão de obra: sem concursos públicos e sem garantias de

estabilidade no emprego. Esta é uma dificuldade que os profissionais da assistência

social, em especial aqueles que atuam nos CRAS, vêm enfrentando: a inserção

profissional precarizada, a qual gera insegurança. Segundo os depoimentos dos

trabalhadores: todas as vezes que muda a gestão, os profissionais passam por situações

de tensão, pois temem não ter seus contratos renovados.

Embora todos os CRAS visitados possuam uma equipe de profissionais, formada

por psicólogos e assistentes sociais, nas entrevistas foram mencionadas sérias

defasagens na constituição de quadro básico de pessoal em face às demandas territoriais

apontadas. Além deste aspecto, foi apontado também o crescimento de atribuições

burocráticas e a necessidade de acompanhamento das condicionalidades do PBF, como

obstáculos para a ampliação do trabalho direto com a população. 2

Observou-se que os profissionais conhecem e possuem o material para consulta

teórica, metodológica e sobre a legislação e os conhecimentos adquiridos sobre a política

de assistência, para subsidiar as práticas desenvolvidas. Há também um conhecimento

desenvolvido sobre o debate acerca das novas diretrizes e dos objetivos da assistência

social, em decorrência da PNAS e da NOB/SUAS. Todavia, em alguns casos, percebeu-

se a existência de discursos contraditórios ou de práticas assistencialistas.

Essa observação evidenciou a necessidade de investir na realização de

capacitações para os profissionais que atuam nos CRAS para possibilitar-lhes uma

aproximação maior de suas reflexões com as normatizações. Segundo os depoimentos

dos profissionais, essas reflexões acontecem mais no contexto da prática profissional

cotidiana e de suas participações em conferências, do que em capacitações propriamente

ditas.

Durante as entrevistas foi possível também identificar que os profissionais são

comprometidos com suas práticas e buscam realizá-las de forma que consideram

adequada. No entanto, apresentam dificuldades para construir mediações entre o

exercício profissional e as proposições teórico-metodológicas e das políticas sociais.

Nesse sentido é preciso estar atento para que essas informações e as mediações

necessárias ao profissional de Serviço Social lhes sejam possibilitadas. Isso,

principalmente porque, no cenário nacional, a questão social em suas múltiplas

expressões - objeto do trabalho cotidiano do assistente social - está apoiada nas novas

bases das relações de produção (IAMAMOTO, 2001, p.29).

A inserção dos profissionais nos CRAS tem sido monitorada em nível nacional,

que detecta essa precariedade nos vínculos funcionais dos trabalhadores: 39,9% destes

trabalham com contrato temporário com a Prefeitura; 28,3% são profissionais estatuários;

as demais formas de contratação não são expressivas, no entanto, seu conjunto soma

31% (Censo/CRAS, 2010, p, 129).

2 Texto consolidado para oficina do PROCAD, na PUC em São Paulo, março de 2010 p. 15.

Em depoimento sobre essa inserção dos assistentes sociais que atuam nos

CRAS, Zobeide faz a seguinte reflexão: a grande maioria dos assistentes sociais adoece

durante o trabalho. Eu precisei fazer uma terapia... Talvez porque ficamos frustradas...

Ainda sobre os assistentes sociais, Zobeide diz: O profissional fica no dilema em

relação aos benefícios. [A Prefeitura] não tem cesta básica para grávidas desde abril - são

mães grávidas que recebem esse benefício.. Fica-se no dilema porque [esse serviço]

ainda é seletivo...

Os espaços físicos dos CRAS possuem algumas características universais, mas o

que os difere são as particularidades de cada unidade e o território onde se localizam.

São diferentes, em relação aos imóveis onde estão instalados: a maioria, não apenas

ainda tem pouca privacidade para o atendimento à população, como também não tem

espaço apropriado para o desenvolvimento das atividades grupais. Nenhum desses locais

possui o acesso à Internet, embora possuam computadores. Nesse sentido vamos

enfatizar o que encontramos no Censo dos CRAS, 2008 (p.117) a esse respeito é

importante ressaltar que a busca ativa e a oferta de serviços para famílias em situação de

vulnerabilidade social dependem de uma boa gestão da informação nos CRAS. Nos

CRAS visitados constatou-se que as condições físicas, funcionais não são as melhores...

Em relação às orientações técnicas da proteção social básica, todos os CRAS

devem, obrigatoriamente, possuir meios de acessibilidade para pessoas idosas e com

deficiência. Nesta pesquisa, todos os CRAS visitados em Palmas do Tocantins não

possuíam a acessibilidade determinadas pelas normas da ABNT.

Quanto à disponibilidade de transporte, os profissionais não podem realizar as

visitas domiciliares como deveriam, pois não dispõem de carros determinados para essa

finalidade: ficam à mercê das escalas dos carros oficiais nos dias autorizados..

Este fato, de alguma forma dificulta o acompanhamento dos casos, tal como está

definido pelo glossário da assistência social: procedimento técnico realizado pelos

profissionais da assistência social, de caráter continuado. No processo de

acompanhamento podem ser realizadas várias atividades, procedimentos e técnicas

Este é um entrave para a realização das ações dos profissionais, principalmente

porque o meio de transporte é um ponto de tensão na prestação de determinados

serviços que o assistente social tem como atribuição. Não há recursos nos CRAS para

atender às demandas determinadas pelo acompanhamento das situações familiares,

atrasando os processos. Nesse sentido, muitos profissionais declaram que fazem uso

dos seus recursos próprios ou, simplesmente, fazem o trajeto a pé, indo do CRAS até a

residência da família. Segundo fala de Zobeide: “Nem sempre isso é possível,

dependendo da demanda. No caso, se demanda estiver grande... Esse ano, na maioria

das vezes, o carro vem, mas nem sempre tem gasolina. Quando o programa Bolsa

Família precisa do carro, eles ligam e dizem: “oh essa semana o carro não vai”... Porque

falta mais transporte: uma vez só por semana, apenas é suficiente para a demanda que

aparece, não dá para fazer busca ativa“.

Essas dificuldades impedem que o assistente social realize de forma rápida e

profissional os contatos e as articulações necessárias para a condução de suas atividades

cotidianas.

As práticas nos CRAS de Palmas

Para a análise de fundo da relação dialética entre a particularidade e a

universalidade – constitutivas da realidade social concreta – busquei apoio na reflexão

lukacsiana, lançando mão das mediações necessárias para materializar o modo como a

proposta da Política Nacional da Assistência Social e do seu modelo de gestão foi

apreendido e efetivado em uma realidade social particular, com sua dinâmica - não

homogênea, nem uniforme.

Nesse contexto social estudado, a universalidade da proposta foi expressa pela

Política Nacional de Assistência Social, que procurou estabelecer as diretrizes e as

coordenadas da ação do Estado, formulando regulações que norteassem os fatos

singulares de sua implementação. Essa política teve por referência – ainda que através

de mediações – os conhecimentos e as práticas construídos nas particularidades das

intervenções profissionais.

O exercício, tendo partido do marco regulatório da política de assistência social -

em seu movimento dialético de trânsito para o âmbito das políticas públicas, assumidas

como direitos sociais – evidenciou um contexto com uma amplitude nova, exigindo novos

saberes, novas formas de enfrentamento das expressões contemporâneas da questão

social, colocando, portanto, novos desafios para o conjunto dos profissionais do serviço

social. .

Embora na pesquisa, não tenham sido identificados estudos sistemáticos para

reconhecer e produzir conhecimentos sobre vulnerabilidades e riscos sociais nos

territórios onde se localizam os CRAS, os dados gerais sobre a realidade local,

mostraram-se evidentes na memória e nas falas dos assistentes sociais: há um

conhecimento construído acerca das necessidades e das demandas sociais, obtido na e

pela prática dos profissionais.

Por outro lado, no que se refere aos processos de trabalho, evidenciou-se a

necessidade de uma sistemática mais apurada de construção, de formação de técnicos,

de planejamento de serviços, e de acompanhamento e avaliação das ações realizadas.

Nessa avaliação é importante que sejam previstas não apenas a participação dos

profissionais envolvidos na ação e na gestão do sistema, mas também da população

demandatária desses serviços. Há necessidade de ir além do ‘já sabido’ e do ‘já

praticado’.

Há necessidade de construção de estratégias que possibilitem a superação das

problemáticas centrais de cada território, as quais não se limitam na realização de grupos

com famílias, nas reuniões com idosos, nem nos acompanhamentos dos casos

singulares. É também importante estar alerta para preparar politicamente o profissional

para o enfrentamento de situações que na maioria das vezes estão relacionadas a

práticas políticas locais e partidárias, de forma a viabilizar que essas circunstâncias não

inviabilizem ações que têm por proposta garantir às famílias seus direitos sociais e a

emancipação e superação de sua condição de vulnerabilidade, tendo em vista que as

responsabilidades familiares não são pequenas. É preciso ter claro que essas

responsabilidades, recaem e dizem “respeito à ordem moral que a organiza, que se

reatualiza nos diversos arranjos feitos pelas famílias com seus parcos recursos” (SARTI,

2003, p.31).

Para que a família possa assumir essa parceria no enfrentamento das situações

evidenciadas por sua vulnerabilidade social, vêm sendo construídos caminhos

metodológicos: em um país no qual esse tipo de política ainda é muito recente, é

necessário tempo e disposição para efetivar o acúmulo necessário para respaldar novas

formas de intervenção – para produzir em nível de universalidade algo passível de ser

operado na particularidade heterogênea dos espaços territoriais brasileiros.

Dentre as determinações e contradições em presença, merece destaque a falta de

capacitação dos profissionais para o desenvolvimento de trabalho com famílias. Quando

indagados sobre a realização dessa intervenção, as respostas não se sustentam,

evidenciando a ausência de uma metodologia, como um serviço pró-ativo com ações

continuadas. ”Mas nem sempre isso é possível, é complicado, nem sempre a gente

consegue” argumenta uma das profissionais entrevistadas.

Conclusão

Em Palmas do Tocantins, a coordenação dos CRAS freqüentemente está em

poder de lideranças políticas, ou seja, de pessoas que não conhecem a Política Nacional

de Assistência Social e não dão a ela a prioridade necessária. Nesse sentido é visível que

a atuação dos assistentes sociais se torna solitária, correndo o risco, muitas vezes, de se

tornar insuficiente ou fatalista: o profissional se vê diante de uma realidade social na qual

sua prática profissional corre o risco de direcionar-se para uma prática vulgar, reduzida a

atividades ou tarefas burocráticas, vazias de estratégias e de táticas.

Nessa pesquisa pôde ser constatado, dentre um dos desafios para os operadores

da política de assistência social tem sido a necessidade de enfatizar as fortalezas, os

legados e as possibilidades de protagonismo que as famílias detêm embora não tenham

tido ainda espaço suficiente, tanto na política local quanto na prática institucional. Essa

ausência é devida, provavelmente, à não preocupação por evidenciar, na prática direta, o

princípio da territorialidade, que permitiria às famílias ganhar espaços específicos no

planejamento de ações voltadas para a ampliação e a valorização dos espaços urbanos

que ocupam, os quais, freqüentemente, são esquecidos pelo poder público. Essa

necessidade é mais evidente quando leva-se em consideração que nos contextos de

grandes desigualdades sociais, a luta pela conquista dos diretos à saúde, à educação, à

habitação e ao saneamento, fazem uma grande diferença.

Por outro lado, evidenciou o avanço da PNAS, e a importância das discussões,

das capacitações relacionadas à suas normativas e regulações, que vêm sendo

desenvolvidas e aprimoradas no curto no espaço de tempo decorrido desde a sua

formulação.

Referências

LUKÁCS, G. Introdução a uma estética marxista: sobre a categoria da particularidade. 2ª

edição. Editora Civilização Brasileira, 1978.

MINAYO, M.C.de S. (org.) MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento. Editora

Hucitec/Abrasco. 1999.

SARTI, C. A. Famílias enredadas. In Família: Redes, Laços e Políticas Públicas.

(Organizadoras) Ana Rojas Acosta, Maria Amália Faller. São Paulo: IEE/PUC-SP, 2003