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A PARTIR PEDRA http://a-partir-pedra.blogspot.pt/ Colectânea de textos Maçónicos Blogue sobre Maçonaria escrito por Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues ANO 2010 ANO 2010 (índices por semestres)

A PARTIR PEDRA - cld.pt · A Loja recebeu o seu décimo oitavo Venerável Mestre com indisfarçada expectativa e esperança de mais um ano bonançoso. O JPSetúbal era, e é, um obreiro

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A PARTIR PEDRA

http://a-partir-pedra.blogspot.pt/

Colectânea de textos Maçónicos

Blogue sobre Maçonaria escrito por Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues

ANO 2010ANO 2010

(índices por semestres)

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Contents

Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal 1

Máquina infernal... 4

O décimo oitavo Venerável Mestre 6

Entrar bem o ano 11

Amigos como os de infância 13

O ágape 17

A escola 21

exemplo (?) EXEMPLO (!!!) 24

Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198 26

Dançar, dançar, dançar... 29

Ansiedade 30

“M” ? 34

Visita à Loja Hippokrates 37

Portugal e Áustria - ligações históricas entre os doispaíses, especialmente do ponto de vista maçónico

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Intolerância 49

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O maçom e a Política 54

O maçom e a Religião 58

O maçom e o conflito 63

A propósito de três perguntas que já não existem... 67

A Maçonaria não é uma religião 72

A viagem 77

Repto aceite 95

Réplica e tréplica 111

No Title 119

Loja Mestre Affonso Domingues: o sítio e o blogue 121

A Grande Máquina 126

Loja Mestre Affonso Domingues - 20 Anos de História 129

7º Encontro Nacional da APNF 132

As pranchas do livro 134

Eu serei, apenas, mais um! A partir pedra ao Vossolado… a bem da Ordem.

138

António Cunha Coutinho, maçom absoluto 142

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Esclarecimento 147

30 de junho, 19 horas 152

Eleição do Grão Mestre 155

19 horas: Grémio Literário; até lá: Eça 156

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Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal

January 06, 2010

Basta consultar os textos do marcador "Blogues outros" para se verificar que aqui se está atento à "concorrência" e que, quando se encontra um blogue que entendemos que o justifica, o divulgamos através de um texto aqui no A Partir Pedra. Hoje, é com indisfarçada satisfação que referencio aqui o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal (endereço: http://joaogoncalveszarco.blogspot.com/), que, de alguma forma, se inspira no A Partir Pedra mas que, certamente, fará o seu próprio caminho, diferente - porventura melhor... - que o nosso. A R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues deu uma ajuda para o alçamento de colunas da R.·. L.·. João Gonçalves Zarco, ao Oriente do Funchal, acolhendo e preparando obreiros que iriam integrar esta Loja, aliás presentemente liderada por um antigo obreiro da R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues.

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Não admira, assim, que alguns dos projetos iniciais desta nóvel - e visivelmente dinâmica - Loja se inspirem no que a R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues vem desenvolvendo - e, a partir dessa inspiração, desenvolvendo os seus próprios caminhos, buscando aperfeiçoar o modelo, expurgá-lo do que de menos bom tem, melhorá-lo. Nesse sentido, enquanto o A Partir Pedra se anuncia a si próprio como o Blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal declara que Este blogue é feito pelos obreiros da R:. L:. João Gonçalves Zarco, n.º 71 da Grande Loja Legal de Portugal - GLRP, a Oriente do Funchal. Um dos colaboradores do Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal é T.:. P.:., que, sob o pseudónimo por extenso de Templuum Petrus, já publicou alguns textos aqui. Apontadas as semelhanças, anotem-se as diferenças. Desde logo, de imagem, tendo o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal optado pelo tradicional fundo negro de muitos dos blogues de temática maçónica. Mas, para além da "cosmética", é já possível notar-se, apesar da juventude do blogue (teve os primeiros textos publicados em 12 de novembro último) e do ainda reduzido (mas significativo, para menos de dois meses de publicação) número de textos (19, até ao final do ano de 2009), uma assinalável diferença - para melhor, frise-se - em relação ao nosso blogue: a participação de elementos daquela Respeitável Loja. Em 19 textos, descortinamos, pelo menos, seis autores (Zarco, Nadir, T.:. P.:.,

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tes.:o.dias, RF e H:. T:.), o que é quase o mesmo número deautores de textos dos mais de mil já publicados aqui e,comparativamente à dimensão das respetivas Lojas, denota umamuito maior proporção de participação no Funchal do que emLisboa... No Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal publicam-se,segundo julgo perceber, pranchas ou sinopses de pranchas dosobreiros daquela Loja, ao contrário do que, com as inevitáveisexceções, tem sucedido aqui. Estes dois aspetos - maior proporção de obreiros da Loja aparticiparem no blogue e publicação nele das pranchas ou sinopsesde pranchas apresentadas em Loja - afiguram-se-me exemplos dedois caminhos diversos do que este blogue vem seguindo, comvantagem para os nossos Irmãos madeirenses. Seguir o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal é umamaneira fácil de seguir e apreciar o trabalho dos maçons da, porenquanto única, Loja Regular na Madeira. Eu, por mim, já meinscrevi como seguidor... E, claro!, este blogue passa a integrar a nossa lista de atalhos! Assim a Maçonaria Regular portuguesa vai crescendo nablogosfera. Já vamos em três blogues, oriundos de localizações tãodíspares como Lisboa, Madeira e Macau... Rui Bandeira

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Máquina infernal...

January 08, 2010

Só pode mesmo ser uma máquina infernal, destinada aenlouquecer qualquer pobre afinador que tenha o arrojo de semeter a afinar esta... coisa.

Mais uma vez um amigão quis partilhar comigo, e eu convosco,uma curiosidade.

Desta vez trata-se de um objeto inqualificável para mim, mistura deinstrumento musical, robot, realejo, número de circo, ... que alguém(não me disseram nada sobre a autoria da invenção) imaginou erealizou e que alguém (outro ou o mesmo) resolveu transmitir paraa net.

Agora, mistério, mistério, então não é que toca música... mesmo ?

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Para começar o ano com animação e imaginação.

A propósito desse tema ("começar o ano") tão espremido duranteestes dias passados, apetece-me reafirmar que o estado do mundoem que vivemos e de que tanto todos se queixam, estádependente, exclusivamente, daquilo que os homens quiseremdele.

E até podemos pegar no exemplo do "instrumento" acima.

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Porque razão havemos de ser tão complicados ?

Como diria o do anúncio, "se fosse mais simples também tocava,mas não seria a mesma coisa..."

Os homens e o seu mundo (quem se lembra do "D.Camilo e o seupequeno mundo" ?) se fossem mais simples também existiriam...mas não seria a mesma coisa !

Pois claro. Seria bem melhor.

JPSetúbal

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O décimo oitavo Venerável Mestre

January 13, 2010

O décimo oitavo Venerável Mestre exerceu funções entre o segundo sábado de setembro de 2007 e idêntico dia de 2008. Dispensa aqui apresentações, pois é bem conhecido dos leitores deste blogue, de que é fundador. O décimo oitavo Venerável Mestre foi o nosso bem conhecido, e atual "animador" de fim de semana do blogue, JPSetúbal. JPSetúbal é - e já era, na altura em que exerceu o ofício de Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues - o reformado mais ocupado que conheço. Ele são os netos, ele são as

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instituições de solidariedade que apoia, ele são as reparações de material informático, ele é o sítio de informação regional, ele é a televisão de informação regional (agora já são duas), ele é o tempo que dedica aos amigos, conhecidos, companheiros, colegas e ex-colegas, ele é o tempo que dedica à família (sempre pouco, no dizer da sua permanentemente insatisfeita cara-metade.... como a minha diz de mim... são feitios...), enfim, ele fica com pouco tempo até para se coçar... Mas, como todas as pessoas atarefadas, o JPSetúbal lá arranjou ainda tempo para encaixar na sua vida mais uma responsabilidade: dirigir, durante um ano, a Loja Mestre Affonso Domingues. Recebeu a Loja organizada, como referi notexto sobre o seu antecessor, e iniciou o seu mandato com evidente entusiasmo, logo apresentando o seu Quadro de Oficiais e o seu plano das atividades previstas (hábitos de gestor, que não se perdem com a reforma...). A Loja recebeu o seu décimo oitavo Venerável Mestre com indisfarçada expectativa e esperança de mais um ano bonançoso. O JPSetúbal era, e é, um obreiro muito querido e considerado da Loja Mestre Affonso Domingues. A sua bem disposta bonomia, a sua serena competência, o seu estilo calmo, ponderado e conciliador, enfim, o seu ar de "confortável avô", cativam todos os demais e predispõem para que todos correspondam aos seus pedidos e se enquadrem no cumprimento das tarefas por si organizadas. E o ano foi, efetivamente, bonançoso... até certo ponto - que os imponderáveis espreitam sempre atrás da porta...

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O JPSetúbal não propôs, nem preparou, nem organizou, nem executou, nenhuma grandiosa iniciativa. nem era isso que se propunha fazer - ou que tinha cabimento que fizesse. O JPSetúbal fez precisamente aquilo que dele se esperava que fizesse: a gestão calma, serena e normal de uma Loja maçónica em velocidade de cruzeiro, sem especiais problemas nem visíveis desequilíbrios relevantes, tomando o leme que o seu antecessor deixou entregue ao seu cuidado e conduzindo a Loja no seu normal caminho até chegar a altura de passar a direção da barca ao seu sucessor. Assim, programou e executou o que, para a Loja Mestre Affonso Domingues, já é, felizmente, o trivial e sem história particular: as iniciações dos candidatos - que, na Loja Mestre Affonso Domingues, nunca faltam e, até, têm de ficar em "lista de espera", pois procuramos não exceder a nossa capacidade de acompanhamento e enquadramento de Aprendizes -, as passagens de grau dos que cumpriram com êxito a primeira parte do seu trabalho e da sua integração, as elevações dos que concluíram a sua fase de formação e estão prontos para a futura assunção de responsabilidades na Loja, as pranchas, a atividade administrativa e de representação da Loja, enfim, repito, o trivial... Para além desse trivial, lembro-me que foi o JPSetúbal quem diligenciou a fabricação e obtenção do segundo exemplar do estandarte da Loja (já que o exemplar original foi objeto de uma apropriação privada por parte de um anónimo, externo e obviamente desconhecido colecionador - não sei se me faço entender...), quem organizou e dirigiu a participação na Loja Mestre

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Affonso Domingues na homenagem a Aristides de Sousa Mendes, organizada pela Loja que ostenta o seu nome, quem organizou e dirigiu mais uma sessão de dação de sangue (esta, afinal, está mal colocada: façam o favor de a considerar enfileirada no "trivial" - para nós, já o é), levou a cabo a formalização da geminação com a Respeitável Loja Rigor, ao Oriente de Bragança, teve o encargo e responsabilidade de realizar a intervenção de saudação ao Grão-Mestre e a todas as Lojas na sessão de Grande Loja do equinócio da primavera de 2008 - algo que, uma vez que só há quatro sessões de Grande Lojas por ano e porque tal compete por rotatividade entre as Lojas, não voltará a ocorrer senão daqui a muitos anos, se é que volte a suceder! - e programou, organizou e participou na visita da Loja gémea Fraternidade Atlântica à outra Loja gémea, a Rigor. Deixou preparada e pronta para execução a receção dos Irmãos da Fraternidade Atlântica em Lisboa. Foi neste ponto do seu mandato que o imponderável exterior fez a sua aparição e condicionou fortemente a atividade do JPSetúbal. Precisamente quando se encontrava em Bragança, no encontro com a Fraternidade Atlântica e a Rigor, a sua cônjuge adoeceu, súbita e inesperadamente, com alguma gravidade. Teve de ser submetida a duas intervenções cirúrgicas em Bragança e de ali permanecer durante algum tempo. Obviamente que o JPSetúbal teve de fazer o que era simultaneamente seu dever e sua vontade: ficou em Bragança todo o tempo necessário, em ajuda e companhia da sua cônjuge. Praticamente toda a parte útil restante do seu mandato teve de ser assegurada à distância. O que, obviamente, comprometeu os seus

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projetos para a parte final do seu mandato. Mas o que tem de sertem muita força. E, pelo menos, resta a consolação de que otrabalho feito até que surgiu o impedimento foi profícuo e relevante.E que a Loja reagiu com naturalidade e sem problemas a maisesta, para si inédita, experiência, de ficar, durante um tempo nãonegligenciável, a ser dirigida à distância, em óbvios "serviçosmínimos", sendo a ausência física do seu líder suprida peloselementos que, nestes casos, têm de suprir essa ausência. O previsível ano bonançoso teve, na sua parte final, esta pequenatormenta. Que serviu para a Loja testar e executar a suacapacidade de prosseguir o seu caminho normal, apesar dainesperada dificuldade, suprida pela forma como está estabelecidoque seja suprida, sem problemas de maior. Enfim, mais umaexperiência bem sucedida! Fora da Loja Mestre Affonso Domingues não se deu pelaocorrência desta anormalidade. O que demonstra a preparação daLoja para lidar com estes imponderáveis que - aprendemo-lo ànossa custa! - podem surgir a qualquer tempo e sem pré-aviso. Contas feitas, o mandato do JPSetúbal foi, afinal, um bom ano paraa Loja. Apesar do imponderável surgido, JPSetúbal entregou aoseu sucessor uma Loja um pouco melhor, seguramente um poucomais adulta, do que a que recebeu do seu antecessor. Essamaturidade acrescida veio a ser útil mais tarde... Rui Bandeira

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Entrar bem o ano

January 16, 2010

Porque Vocês merecem... Magnífico este slogan. Ainda por cima verdadeiro, neste caso ! Pois porque Vocês merecem aqui Vos deixo mais um "boneco" da Cristina Sampaio que ela quiz ter a simpatia de me mandar... com os votos de um bom Ano Novo. A Cristina, como todos os que seguem a sua arte bem sabem (no Expresso e no Público é raro falhar um exemplar), tem uma visão muito crítica da sociedade e não esconde, bem pelo contrário, nos desenhos que faz. Este é só mais um acerca do qual não vou tecer qualquer comentário, mais ainda porque correria o risco de adulterar o espírito que queremos que se mantenha neste espaço de formação e informação. Assim fiquem simplesmente com este "polvinho" assaz atrapalhado para cumprir o ritual.

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E tenham um bom fim de semana, sem copos excessivos e com ospés (todos os possiveis) bem assentes no chão.

JPSetúbal

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Amigos como os de infância

January 20, 2010

O grupo de maçons conversava descontraidamente. A reunião formal terminara, a refeição que se lhe seguira também já fora apreciada por todos. A conversa fluía com naturalidade. Embora partindo do tema que iniciara o debate, cada um ia-se afastando dele, ao sabor do curso dos seus pensamentos. Era um grupo de amigos que conversava. Como qualquer outro grupo de amigos. Talvez a mais notável diferença fosse que não havia ruído de fundo de conversas cruzadas. Mesmo em descontração, aquele grupo de maçons praticava a regra de que falava um de cada vez, para todo o grupo, e cada um aguardava a sua vez de dar a sua opinião. Rapidamente a conversa derivou para o significado que aquele grupo, a Loja, tinha para cada um. O que cada um esperava. Do que cada um pretendia que fosse, que fizesse. Cada intervenção era diferente da anterior. Mesmo quando concordando com o que já fora dito, acrescentava-se sempre algo de novo, alguma subtileza, uma nuance, um elemento, que tornava diferente o que se declarava similar. Nada de extraordinário naquele grupo. Há muito que era assim e assim se forjara a sua identidade. Os novos que se juntavam aos que já estavam depressa aprendiam como o grupo funcionava. Era através da apresentação sucessiva de opiniões, posições, sugestões, nunca completamente coincidentes, às vezes diversas e aparentemente inconciliáveis, que, lentamente, naturalmente, sem esforço, emergia a síntese que todos acabavam por adotar como a posição comum,

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por todos aceite e respeitada. Às vezes não era fácil. Às vezes durava mais tempo. Às vezes implicava duas, três, quatro, as conversas que fossem necessárias. Mas, mais tarde ou mais cedo, sempre a tal posição comummente adotada acabava por emergir. A conversa espraiou-se por um tema que não era novo. Os mais antigos no grupo sabiam que era ciclicamente abordado e renovado. Era natural. O grupo alterava-se, renovava-se, havia sempre novos elementos que nunca tinham abordado a questão. O tema era o que fazer com o grupo. E, como sempre, derivava-se sempre para as expectativas de cada um... Um preferia o convívio. Outro apreciava mais o ritual. Um terceiro dava muita importância à beneficência. Outro ainda gostava mesmo era da apresentação de trabalhos. Houve mesmo outro que declarou, enfaticamente, que o que buscava era que fossem contraditadas as suas ideias feitas, de forma a poder continuamente testar o seu pensamento e, assim, verificar quando devia mudar de opinião. Um outro ainda, não menos enfaticamente, esclarecia que considerava uma maçada as reuniões em que não aprendia nada novo. Mas, no entanto, logo acrescentava que, mesmo quando sabia que havia reuniões em que não aprendia nada de novo, e que ele ia achar uma maçada, ainda assim gostava de ir e... não sabia como, também essas acabavam por lhe ser úteis. E assim iam conversando, como alguns deles e outros assim mesmo tinham conversado antes, e outros antes deles... Nada de especialmente novo, pensava o velho maçom, sabendo, esperando

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que, como sempre, algo de diferente acabasse por surgir, como frequentemente acabava por suceder. Foi então que um deles, pessoa de palavras não muito complicadas, mais de fazer do que de falar, chegada a sua vez, disse que o que ia dizer tinha-o ouvido a outro membro do grupo, naquele dia não presente, mas que era isso mesmo o que sentia. E disse então: a Loja é aquele sítio onde podemos ter amigos como os de infância. O velho maçom recostou-se na cadeira em que se sentava e sorriu interiormente: a síntese daquela noite fora encontrada! Tinha e tem toda a razão aquele maçom não especialmente dotado para a palavra, mas que expressou a ideia melhor que os melhores oradores. É precisamente isso que é uma Loja maçónica que se preza de o ser: um local onde podemos encontrar amigos como os da infância, um bem precioso de que a vida e as preocupações da idade adulta geralmente nos privam de ir renovando. Amigos como os da infância normalmente só na infância se fazem - e essa é uma das razões por que esse período da vida é recordado frequentemente com nostalgia... Passada a infância, podem fazer-se amigos, fazem-se amigos, mas, em bom rigor, essas novas amizades dificilmente têm a mesma pureza, o mesmo desinteresse, a mesma naturalidade, das amizades de infância. Mas, lembrou-o com acerto aquele maçom, e já o tinha notado o outro maçom que ele citara, ali, na Loja, descobria-se um local

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onde, afinal, se podia ter amigos como os de infância. E esta é parte importante e imprescindível da essência daMaçonaria. A próxima vez que um profano me perguntar o que faz afinal umgrupo de homens adultos reunir-se frequentemente, tirando tempoà sua família, aos seus afazeres, ao seu descanso, já seifinalmente como lhe posso responder, para que entenda:reunimo-nos em Loja, gostamos de o fazer, porque aquele é umlocal onde podemos ter amigos como os de infância - e isso é raro,muito raro, e precioso! Rui Bandeira

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O ágape

January 27, 2010

Este tema já foi objeto de um texto aquino blogue, nos idos de setembro de 2006. A estrutura de um blogue tem a desvantagem de sepultar nas profundezas dos índices os textos que vão ficando antigos - e, na voracidade do tempo que é apanágio da Sociedade de Informação, o mês passado já é tempo antigo, o ano transato já cheira a antiguidade remota... Pouco terei a acrescentar ao texto atrás referido, mas parece-me valer a pena retomar o tema e relembrar para que serve e o que significa, para os maçons, o ágape. O ágape é a refeição que os maçons partilham logo após (de preferência) ou imediatamente antes (se assim tiver de ser) de uma reunião de Loja. É considerado a extensão dos trabalhos da Loja.

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Destina-se a aprofundar os laços de amizade e fraternidade entre os elementos que compõem a Loja e a debater assuntos de interesse comum, num ambiente mais descontraído e informal do que os trabalhos rituais. Em termos de formalismo, o ágape pode ser ritual, formal com libações ou informal. O ágape ritual processa-se com a execução de um ritual próprio, similar ao ritual dos trabalhos em Loja, com abertura, encerramento e outros momentos próprios do trabalho em Loja. Este tipo de ágape só ocasionalmente ocorre. As condições logísticas, temporais e anímicas necessárias para um ágape deste tipo são estritas e de difícil verificação. Para garantir a sua simultânea existência, é necessário que a Loja antecipadamente deseje, programe e organize um ágape desse género. É necessário garantir um espaço adequado, exclusivamente destinado aos intervenientes no ágape. Estes terão, obrigatoriamente, de ser maçons, não sendo admitida a presença, ainda que ocasional ou por curto período, de profanos. Isto implica que o ágape decorra, ou nas instalações da Loja, ou em local cedido para acesso reservado exclusivamente para os maçons participantes. Implica também que os mantimentos a consumir sejam preparados pelos próprios maçons, na hora ou pouco antes, ou que sejam encomendados e recebidos já preparados antes de se iniciar o ágape. Implica a disponibilidade de todo o equipamento necessário para uma refeição de um considerável número de comensais: mesa de tamanho adequado, cadeiras, toalhas, pratos, copos, talheres,

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guardanapos, etc.. Implica prévia organização de como decorre o repasto: quem faz o quê, quando e como. Enfim, é um tipo de ágape que não é prático nem fácil organizar rotineiramente - e que, portanto, só ocorre extraordinariamente, seja para celebrar algo, seja para permitir aos seus participantes a experiência de um ágape inteiramente ritual. Acresce ainda que, saídos de uma reunião com ritual, não apetece propriamente passar a uma refeição... igualmente ritual, com óbvia proscrição da informalidade e diminuição da descontração... O Antigo Grão-Mestre e Grão-Mestre ad vitam da G.·. L.·. L.·. P.·./G.·. L.·. R.·. P.·. Luís Nandin de Carvalho elaborou, em 2002, adaptado de vários rituais de tradição oral, portugueses e franceses, um ritual de ágape que, segundo creio, nunca chegou a ser formalmente adotado pela Obediência, mas que é detido por várias Lojas, que o poderão, quando desejarem, executar. O ágape formal com libações não é ritualizado, exceto quanto a estas, mas seguem-se tradicionalmente algumas regras, designadamente quanto à posição na mesa do Venerável Mestre (e, quando possível, também dos Vigilantes), quanto à invocação inicial e mais um ou outro aspeto, variável de Loja para Loja. As libações, isto é, os brindes, são obrigatoriamente no mínimo de sete e ocorrem segundo uma ordem determinada. Este tipo de ágape pode ocorrer apenas com a presença de maçons ou também como ágape branco, isto é, com a presença de profanos. Finalmente, o ágape absolutamente informal destina-se

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essencialmente ao convívio. Não ocorrem libações. É o ágapepossível quando apenas se tem disponível um local público, nãoexclusivamente utilizado pelos maçons presentes. Havendo condições para tal (local e tempo), pode e deveprovidenciar-se para que, integrado no ágape, ocorra um debatesobre qualquer tema, maçónico ou profano, ou a apresentação deuma prancha, igualmente de cariz maçónico ou profano.Obviamente que o debate ou apresentação de tema de carizmaçónico só ocorre em ágapes em que estão exclusivamentepresentes maçons. Já os debates ou apresentações de temasprofanos podem ocorrer em ágapes de maçons ou ágapes brancos. Podem ser convidados profanos a proferir uma comunicação ou aintervir num debate, em ágape branco, em regra sobre temasprofanos da especialidade do convidado. Pode também ocorrer queesse convidado, profano, conferencie sobre um tema de interessemaçónico - do ponto de vista do profano. As intervenções nos ágapes são abertas a todos - isto é, não vigorano ágape a regra do silêncio de Aprendizes e Companheiros. Oágape funciona, assim, como meio importante da integração dosAprendizes na Loja e reforço dessa integração, quanto aosCompanheiros. Rui Bandeira

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A escola

February 03, 2010

Uma Loja maçónica deve ser também uma escola. Uma escola diferente. Não propriamente um local onde se ensina matéria única para alunos múltiplos. Antes um meio de proporcionar a cada elemento, que é ÚNICO, porque diferente de todos os outros, os meios, o ambiente, a vontade, a orientação, para que ele apreenda (mais do que simplesmente aprenda...) os múltiplos ensinamentos éticos e morais que a vida nos ilustra e exige que um homem verdadeiramente de bem pratique.

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A Loja maçónica é uma escola que não ensina. Pelo menos, nada ensina de novo. Ou nada que não possa ser aprendido noutros locais, noutras escolas, em livros, publicações, etc.. No entanto, é um lugar onde se aprende. Aprende-se porque não se limita a ouvir uma palestra ou lição. Aprende-se porque se vivem as situações que demonstram ou sugerem os princípios ou ensinamentos éticos ou morais que se tornam patentes até perante os olhos mais distraídos. Aprende-se porque não é exibido ou induzido um pensamento único, uma formatação, antes se facultam painéis de onde cada um retira elementos para que seja a sua própria inteligência, a sua própria vivência, a sua própria personalidade a formular o conceito, a integrar o pensamento. Aprende-se - sempre! Mesmo quando se "ensina". Sobretudo então. Porque, ao apontar ao Aprendiz um símbolo, ao fornecer-lhe pistas para que ele o interprete, ao executar o ritual para evidenciar um dado ensinamento ético ou moral, o Mestre está, por sua vez, ele próprio a aprender. Aprende-se com o auxílio dos Mestres. Mas estes também aprendem com o auxílio dos Aprendizes e Companheiros. Não há alunos e professores. Há iguais descobrindo em conjunto como cada um pode ser melhor. Aprende-se, aprende-se mesmo, coisas novas, porque a maçonaria procura pôr em prática o ideal iluminista em relação ao

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conhecimento. E, portanto, todos sabem que, por muito quesaibam, muito mais desconhecem e podem aprender. Cada umcontribui com a sua área de conhecimento para ilustração dosdemais. E assim todos podem aprender um pouco de (quase) tudo.E quanto mais diversificada for a Loja, mais se pode aprender. Por isso, em Loja tanto valor tem o Professor Doutor como ooperário ou o indiferenciado. Aquele proporciona ensinamentos aestes - mas também destes recolhe ensinamentos, quecomplementam a sua profunda formação. Em Loja, cada um põe em comum o que sabe e retira do bolocomum o que precisa de saber, da forma como lhe dá jeito retirar,ao ritmo a que lhe é possível retirar. Por isso em Loja não háideologias incensadas ou proscritas ou recomendadas, não háconceitos únicos ou favorecidos ou aconselhados. Há um meio, umespaço e um tempo para cada um se melhorar a si próprio,aprendendo com os demais o que tiver de aprender, seguindo osexemplos que entender dever seguir. Em Loja, homens livres e de bons costumes cultivam a Liberdadee, em espírito de Igualdade, Fraternalmente cooperam, no sentidode todos e cada um, permanecerem livres, em si mesmos e depreconceitos e de vícios, e sejam cada vez de melhores costumes. Na escola que é a Loja maçónica, aprende-se e ajuda-se os outrosa aprender. Mas - sobretudo! - vive-se! Rui Bandeira

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exemplo (?) EXEMPLO (!!!)

February 06, 2010

Ora meus queridos Irmãos, Amigos e outros (os outros são poucos) volto à cena depois de umas semanas de retiro trabalhoso, que continua, mas este bocadinho hoje ninguém me tira. Desde há algum tempo (alguns meses) tenho contactado na minha outra vida, a profana, com um "artista" cá da minha praça, que tem muito o hábito de utilizar a expressão: - é preciso fazer um desenho ? Compreende-se que é uma expressão bem desagradável, a entrar no grosseiro com a força toda e representando uma arrogância que não se atura. Vem esta conversa a propósito de alguns dos escritos que por aqui vão aparecendo de quando em vez, que me parece que nem com desenho lá chegam. Dei com um "desenho" que vos passo, e se por esta via ajudar os que não entendem de outra forma, fico contente. A minha opinião é a de que, muitas vezes, um exemplo prático pode substituir uma biblioteca inteira de ciência teórica.

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Ágape... não ? Bom, t'á certo. Ritual... não ? Ok, fora. Escola... também não ? Pronto, não há azar. Como sabem fiz há poucos meses 69 anos (o Rui é muito seletivonos seus segredos...). Não é mau ! Mas... mas já o meu avô dizia que "a tropa é qu'induca e a bola équ'instrói..." Deixemos a tropa sossegada, mas vejamos a bola. Façamos então esta tentativa. Embedded File () Meus Amigões, uma abração a todos. Bom fim de semana.

JPSetúbal

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Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198

February 10, 2010

A Augusta e Respeitável Loja Simbólica Duque de Caxias IX, n.º 2198, ao Oriente de Belém do Pará, filiada no Grande Oriente do Estado do Pará, integrado no Grande Oriente do Brasil, e que trabalha o Rito de York, iniciou, em 23 de julho de 2009, o seu blogue. Proclamava o seu primeiro texto, à guisa de declaração de princípios: O nosso blog inicia em fase experimental, de aprendizagem total, na qual esperamos contar com a participação e colaboração efetiva dos valorosos Irmãos do quadro de Obreiros da Loja, bem como, de todos os ilustres Irmãos iniciados na Sublime Ordem, através do e-mail: [email protected]. Assumimos a iniciativa e o desafio de criá-lo com o objetivo de disponibilizar um espaço destinado a divulgação das atividades realizadas em nossa Oficina e para proporcionar a socialização de

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assuntos voltados ao estudo e a pesquisa da infinita Sabedoria Maçônica, por meio da apresentação de postagens, além da discussão fraterna e do bom debate sobre assuntos relevantes da Maçonaria Universal, sempre com o compromisso de fortalecermos as Colunas e lutarmos pelo engrandecimento da Nação Brasileira, respeitando a legislação Maçônica vigente. Desde então, mais de ano e meio decorrido, podem os Irmãos daquela ARLS estar tranquilos: o seu blogue atinge em pleno os objetivos pretendidos - e com distinção! Mais de trezentos textos, informativos, divulgadores, de discussão, de análise, de aprofundamento, ilustram o sucesso do projeto. Particularmente interessante e informativo é o conjunto de sete textos "Perguntas e respostas da Maçonaria. Esclarecedor - para maçons e para profanos! Mas não só! Se se consultar, nos marcadores, a entrada "Artigos", somos direcionados para - na data em que escrevo - 28 textos muito interessantes e merecedores de reflexão. Agrupados sob o título de "Minuto Maçônico", encontramos - para já - 67 textos curtos esclarecendo ou definindo vários conceitos ou termos maçónicos. Só para referir os últimos, ali se fica a saber um pouco mais sobre a régua, o compasso, o cinzel, o que é "a coberto" ou "estar a coberto". No Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198, parte-se pedra

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com qualidade e apresenta-se uma bela pedra polida. Nós, aqui no nosso A Partir Pedra, aprendemos com os nossosIrmãos desta Loja e deste blogue e - procuramos não seregoístas... - aqui divulgamos, assinalamos e recomendamos maisum blogue maçónico, que merece estar incluído na lista dosfavoritos de quem se interessa por esta temática. Rui Bandeira

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Dançar, dançar, dançar...

February 13, 2010

A vontade de exercer uma atividade, qualquer que seja, se forrealmente forte é meio caminho andado para obtenção de exito noexercício dessa mesma atividade.Nunca tive a mais ténue habilidade para a dança, arte queconsidero destinada a raros privilegiados da condição humana, masnão perco a visão de uma boa dança sempre que possível.Sempre me intrigou a capacidade de, através de movimentos docorpo, se ser capaz de contar uma história, ainda que simples.E algumas não são simples.É uma maneira superior de transmitir os sentimentos, só acessívelrealmente, a eleitos.Este é um pequeníssimo e modestíssimo introito ao videozinho dehoje.A força interior, o querer, o gostar muito (mas mesmo muito) sãocapazes de fazer milagres e aqui vai um belo exemplo dissomesmo.

Embedded File ()

Pronto, tenho que ir fechar a mala para a visita que faremos estefim de semana prolongado aos nossos Irmãos Vienenses(Respeitável Loja Hipokrates)

Bom fim de semana para todos.

JPSetúbal

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Ansiedade

February 17, 2010

Um nosso leitor "brasileiro, nascido no Estado de São Paulo" contactou-me pedindo que escrevesse algo sobre o tema da ansiedade. Não é propriamente um tema diretamente relacionado com a Maçonaria e só marginalmente poderá ser associado a ela - abaixo procurarei mostrar como.. Mas o pedido foi formulado de forma tão simpática e tão eloquentemente fundamentado, que não posso deixar de a ele corresponder. Vejamos então o que a um maçom se oferece escrever sobre a ansiedade... A ansiedade não é um defeito - é um estado de espírito que a todos

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pode acometer - e seguramente que a todos já acometeu. Em bom rigor, tal como o medo é uma arma que a natureza nos confere em prol da nossa preservação e segurança, a ansiedade é uma munição posta à nossa disposição para aguçar o nosso espírito, prepararmo-nos para o que aguardamos que venha aí. Em si mesma, a ansiedade não é boa, nem má - é um facto da vida. Porém, a ansiedade excessiva ou injustificada, essa sim, é um problema que devemos aprender a ultrapassar e a dominar. Muitas vezes confunde-se ansiedade com impaciência. São semelhantes - mas diferentes. A impaciência desespera da espera. A ansiedade não decorre propriamente da espera, mas do desejo - ou temor - do que se aguarda que aí venha. Passa por cima da espera para se fixar diretamente no que se aguarda esteja para além dela. Salvo quando patológica ou injustificada, a ansiedade é natural e boa: prepara-nos para o que aí vem. Sabendo-se que algo de novo (agradável, desagradável, ou simplesmente desconhecido) vai surgir, a ansiedade ajuda-nos a prepararmo-nos. Antevemos o momento feliz ou temido. Imaginamos e antecipamos como podemos reagir. Muitas vezes também a ansiedade se enlaça e se confunde com o temor do desconhecido. Não se sabe se o que aí vem é bom ou mau, se nos fará felizes ou infelizes, se melhorará as nossas condições ou nos dificultará a vida. Mas uma e outro, ainda que possam coexistir, são diferentes: a ansiedade prepara-nos,

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alerta-nos; o temor do desconhecido apenas nos paralisa... Na vida, temos muitas vezes que fazer opções sem que tenhamostodos os dados disponíveis. Temos que assumir riscos. Que, pormuito calculados que sejam, continuam a ser riscos... Ainda que asprobabilidades de uma opção ter um resultado favorável sejam de99 %, isso não é propriamente um grande conforto para aquele queacaba por se deparar com a ocorrência do 1 % restante... Aquele que experiencia alguma ansiedade pelo resultado da suaopção, se for só isso e se for na medida certa, utiliza esse seuestado para se preparar para aproveitar o que de bom ocorra oupara minimizar o que de indesejado suceda. Aquele que se quedapelo temor, pela indecisão, pela paralisia, enquanto não vê oresultado da sua opção, nada está a influenciar no seu destino:limita-se a suportar o que a sorte ou as circunstâncias lhe vierem acolocar no seu caminho. Também por vezes erradamente se designa por ansiedade oestado em que a pessoa se encontra quando tem de escolher entreduas opções, dois caminhos, duas ações. Isso não é ansiedade - éindecisão. E a indecisão ultrapassa-se... decidindo! Decidindo omelhor possível, em face dos elementos disponíveis. E, uma vezlançados os dados (alea jacta est, frase célebre atribuída a JúlioCésar), então, sim, pode-se ficar ansioso e porventura será bomque se fique ansioso: a opção foi feita, cumpre-nos prepararmo-noso melhor possível para a consequência - boa ou má - que resultarda nossa escolha.

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Em Maçonaria, aprendemos a gerir e a não confundir a positiva,desde que equilibrada, ansiedade, com a impaciência nem com aindecisão, nem com o temor do desconhecido. E o maçom aprendea fazê-lo... mesmo antes de o ser: o candidato à iniciação tem deaguardar algum tempo, por vezes bastante, outras vezes muito,algumas outras muitíssimo, até saber a decisão sobre a suacandidatura.

Tomada a decisão de pedir a iniciação, já não é a indecisão que oassalta. Não deve ser a impaciência a aguilhoar o seu espírito: nãoganha nada com isso, não depende dele... Também não se justificaqualquer temor, embora desconheça o que aí vem - é-lhe garantidoque nada do que aí vier porá em causa a sua segurança oudignidade ou convicções. No entanto, durante todo o tempo deespera, a ansiedade está lá - e é bom que esteja: alerta-o paramelhor viver o que virá a viver, desperta-o para melhor aprender oque virá a aprender, prepara-o para melhor fruir o que virá a fruir.

Na Maçonaria, como na vida, a ansiedade não é para ser evitada,nem lamentada: é para ser dominada e aproveitada!

Rui Bandeira

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“M” ?

February 20, 2010

Como anunciei no final do meu último post, naquela altura fui mesmo fazer a mala para uma visita aos nossos Irmãos vienenses. Fomos e viemos (o Rui também, mas não só), com boas viagens embora cansativas (mais chatas que cansativas) por não serem voos diretos. A temperatura máxima de 0 (ZERO, MÁXIMA...) graus que encontramos e o pouco tempo disponível não foram de molde a incentivar grandes devaneios turísticos pelo que nos tivemos de concentrar em meia dúzia de pontos centrais da Viena, e sendo assim uma visita compreensivelmente inevitável seria sempre a casa de Mozart. Deixarei a história da visita à nossa Loja Irmã Hipokrates para o Rui, se ele entender que deve trazer para aqui detalhes dessa

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visita. Eu limitar-me-ei a trazer duas imagens, históricas para a Maçonariauniversal (os objetos representados, não as imagens !) quemostram paramentos que pertenceram a Mozart. Chamou-nos particularmente a atenção o facto de haver um “M” nolocal onde sempre temos visto um “G”. Se virem com atenção, no colar da 1ª foto consegue ver-seclaramento o "M" no espaço entre o Compasso e o Esquadro e,que saibamos, Geometria não se escreve com "M".Nem em "vianês"...

A razão, que tentàmos descobrir, acabou não ficando claradeixando a ideia que seria possivelmente uma demonstração dealgum narcisismo mozartiano.

Este “M” é tipicamente um caso a tentar perceber a seguir.

Bom, não é um vídeo esta semana, mas são imagens quepossivelmente nem todos conhecem e o que me interessa é adivulgação do que é interessante.

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Bom fim de semana.

JPSetúbal

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Visita à Loja Hippokrates

February 24, 2010

Uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues, na qual se incluíram o JPSetúbal e eu próprio, efetuou, na passada semana, uma visita à Loja Hippokrates, da Grande Loja da Áustria, que reúne ao Oriente de Viena. A Loja Hippokrates foi fundada em 1993. Como o seu nome indica, o seu grupo fundador tinha uma grande prevalência de médicos. Hoje, está diluída essa prevalência. Uma parte dos seus membros são médicos, mas a Loja tem, presentemente, maçons exercendo as mais variadas profissões, ostentando a diversidade que, em Maçonaria, é uma riqueza. A Loja Mestre Affonso Domingues e a Loja Hippokrates

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geminaram-se em maio do ano passado e um dos pontos do convénio de geminação respeita precisamente à promoção de visitas mútuas entre os obreiros das duas Lojas. A Loja Hippokrates trabalha o Rito de Schröder, um rito praticado essencialmente nos países de língua alemã, de que reconheci elementos dos ritos de York e Escocês Antigo e Aceite, mas que, essencialmente, é um rito muito prático, simplificado e de rápida execução. A eficiência germânica... A Loja Hippokrates reúne semanalmente, às segundas-feiras. As suas reuniões são rápidas - cerca de uma hora de duração - e são seguidas de um ágape, servido numa sala reservada para o efeito no edifício-sede da Grande Loja da Áustria. Por regra, em todas as reuniões é apresentada uma prancha, que é seguidamente discutida no ágape. Em face da nossa visita, os nossos anfitriões tiveram a cortesia de efetuar algumas alterações no seu procedimento habitual. Apenas a abertura e o encerramento dos trabalhos rituais decorreram em alemão. Todo o resto da reunião decorreu em inglês, de forma a facilitar a comunicação entre anfitriões e visitantes. Também no ágape a língua preferencial de comunicação foi o inglês. O debate, no ágape, acabou por não incidir sobre a prancha apresentada pelo Irmão E. C., austríaco casado com uma portuguesa, dedicada ao tema das relações históricas entre a Áustria e Portugal. A curiosidade dos nossos Irmãos austríacos sobre a Maçonaria Regular em Portugal e a forma como trabalha

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sobrepôs-se e o debate no ágape acabou por revestir a forma de respostas dos visitantes a perguntas dos Irmãos austríacos, satisfazendo o legítimo interesse destes em conhecer melhor a forma como se trabalha por cá. Foi uma agradável visita, em que fomos recebidos de forma inexcedível pelos nossos Irmãos da Loja Hippokrates. Na próxima semana, publicarei aqui a prancha lida na ocasião pelo Irmão E. C.. Uma última nota, a propósito da interrogação deixada pelo JPSetúbal no seu último texto aqui no blogue: o "M" que, em terras de língua germânica, em tempos se colocava entre o esquadro e o compasso era a inicial de "Maurerei", ou seja, Maçonaria. Nestas coisas, os alemães, cultores da filosofia e com uma língua especialmente adequada para a especulação filosófica, não facilitam, nem suscitam dúvidas ou confusões... Assim, onde os anglo-saxónicos punham o "G" de Geometria (que, nos tempos da maçonaria operativa, era um termo sinónimo de Maçonaria, como tive oportunidade de referir nos comentários à Lenda do Ofício), os germanos foram diretamente ao assunto e colocaram o "M" e não se fala mais nisso... Nos dias de hoje, nos países de língua germânica, deixou de, por regra, se incluir qualquer letra no símbolo maçónico por excelência: ou simplesmente se representa o esquadro e o compasso, como se pode verificar no sítio na Internet da Grande Loja Unida da Alemanha, ou se coloca entre ambas as peças um fio de prumo, como se pode ver no símbolo do sítio da Grande Loja da Áustria.

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Rui Bandeira

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Portugal e Áustria - ligações históricas entre os doispaíses, especialmente do ponto de vista maçónico

March 03, 2010

Como referi no texto publicado na semana passada, hoje procedo à publicação da prancha apresentada pelo Irmão E. C., da Loja Hippokrates, na reunião daquela Loja em que uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues efetuou uma visita àquela Loja. Sabemos que alguns dos leitores deste blogue não dominam o inglês e preferem sempre que publiquemos aqui apenas textos em português. Mas, por vezes, justificam-se exceções - e este é um desses casos. Trata-se de um trabalho feito por um Irmão estrangeiro propositadamente para ser apresentado para o dia em que estava programada a visita à sua Loja de Irmãos portugueses da Loja Mestre Affonso Domingues. Ficámos, é óbvio, muito sensibilizados. E uma forma de manifestar o nosso agrado é publicar aqui o trabalho apresentado. Portugal and Austria – historical links between the two countries especially in regard of Freemasonry Portugal and Austria can be regarded as two countries in Europe which obviously differ in many aspects and in this way of course contribute to the rich diversity within the European Union. Drawing our attention to what we do have in common we can say that – nowadays – both countries are of rather similar dimensions concerning size and population: whereas within more than 92000km² of the parliamentary republic on the Iberian Peninsula

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more than ten million people are living, the federal republic in Central Europe is somewhat smaller, being inhabited by more than eight million inhabitants at nearly 84000km² of surface size. Nevertheless our subject is of historical interest – which means we have to look backwards in history to examine commonness. Alliances between Portugal and Austria In spite of the fact that – as to the geographic distance – our two countries are far apart from each other, several situations occurred in the past at which Portugal and Austria had to deal with each other in some ways; at first it seems worthwhile to consider matrimonial alliances between the ruling houses of the Kingdom Portugal and the Austrian Empire. Such marriages were very common in Europe with its multitude of monarchies because they offered political advantages, even though the territories of the participating countries were at remote distance of each other. The Habsburg Family whose empire was in the centre of the continent was eager to build alliances with many European monarchies through marriages; in this way a dense network of familiar and political relationships developed in the whole of Europe – which means the confusion was perfect … The probably first union of such characteristics between Portugal and Austria was concluded in the 15th century: it was the wedding of the Austrian Emperor Friedrich V (III) (1415 – 1493) with Infanta Leonor of Portugal (1436 – 1467); she then became the mother of one of the most important Austrian Emperors, Maximilian I, called “The last Knight”. During the 16th century at least five alliances were concluded

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between the House of Habsburg and Portuguese Nobility; therefore it is not so easy to see through the complexities which were created in this way: these marriages mainly concern the so called “Spanish Line” of the Habsburg Family whose establisher Emperor Karl V (I) (1500 – 1558) married his first cousin, Infanta Isabella of Portugal (1503 – 1539) and who were a very happy married couple; their son Phillip II (1527 – 1598) became husband of Princess Infanta Maria Manuela of Portugal (1527 – 1545) and named as Phillip I was later the King of Portugal. Karl’s sister Infanta Eleonore of Castile (1498 – 1558) became the third wife of the Portuguese King Dom Manuel I (1469 – 1521); he was the father of Eleonore’s sister in law, the mentioned Isabella, while Eleonore at the same time was the niece of Dom Manuel’s first and second wives. Another child of Karl, Archduchess Johanna of Austria (1535 – 1573), was married to a Portuguese member of high nobility as well: Prince João Manuel of Portugal (1537 – 1554), her first cousin. A second sister of Karl, Archduchess Katharina of Austria (1507 – 1578), became the wife of King Dom João III of Portugal (1502 – 1557). At this point the confusion for the listener is too big to imagine all the relations; only an illustration could help. The next important matrimony between Portugal and Austria was during the 18th century, when Archduchess Maria Anna of Austria (1683 – 1754) married her cousin King Dom João V of Portugal (1689 – 1750). In the early 19th century, Archduchess Maria Leopoldine (1797 – 1826) became the wife of Dom Pedro I (1798 – 1834) who was the Emperor of Brazil and also King of Portugal for a bit more than two months. The Portuguese royal family had been living in Brazil in exile for ten years, as a result of the Napoleonic Wars. And a few

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generations later, the third wife of Archduke Karl Ludwig of Austria(1833 – 1896) was Portuguese as well, the Infanta Maria Theresa ofPortugal (1855 – 1944) who died here in Vienna during the SecondWorld War. Sebastião José de Carvalho e Melo

Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras and Marquês de Pombal – the name under which he is known – was born on the 13th of May 1699 in Lisbon as son of Manuel de Carvalho e Ataíde and Teresa Luísa de Mendonça e Melo. After his studies at the famous University of Coimbra which – having been founded 1290 – is one of the oldest universities in the world, he was sent to London in 1738 as Portuguese Ambassador and after seven years went to Vienna having been entrusted by King Dom João V with the same function. It was here that Sebastião José de Carvalho e Melo got married to Leonore Ernestina Gräfin von Daun, the daughter of the Austrian Field Marshall Leopold Josef Graf von Daun in December 1745; the wedding had been made possible after the intervention of the Portuguese Queen, Maria Ana de Áustria. King Dom João V called him back to Lisbon; his son and successor Dom José I

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appreciated him so much that he was appointed Minister of Foreign Affaires and later even Prime Minister. The 1st of November 1755 for sure was the most tremendous day ever for Lisbon and probably one of the most significant days in the life of Sebastião José de Carvalho e Melo: having survived luckily he immediately organized help for the people who had survived as well as the burying of the victims. Thanks to his efforts there were no epidemics in the city which in the course of the earthquake had suffered fires and a tsunami. To rebuild of a main part of the city new technologies for construction of earthquake-proof buildings were invented and tried for the first time. Dom José I – not being interested in political matters – gave him plenty of freedom for his official functions so that under this aspect Sebastião José de Carvalho e Melo can be regarded as the actual ruler of Portugal in the middle of the 18th century; the so-called Pombaline Reforms represent the enlightenment in Portugal and affected not only Lisbon’s renewal and modernization, but also the position of the Church in Portugal, especially the problems which had been caused by the Jesuits who continued to preach that the earthquake had been God’s punishment for the previous reforms. Furthermore he abolished slavery in Portugal and India, though not in Brazil, where the position of the native population was defined; he reorganized the Portuguese Army and Navy, and even regulated production and trade of Port Wine by law. For his merits Sebastião José de Carvalho e Melo received the title of Conde de Oeiras in 1759 and was made Marquês de Pombal in 1770 though the high Portuguese Nobility refused to accept the noble titles of Marquês de Pombal; shortly after the King’s death in 1777 the succeeding sovereign withdrew all power from the Marquis

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who died on the 8th of May 1782 peacefully in Pombal.

Gomes Freire de Andrade

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Gomes Freire de Andrade was born in Vienna on the 27th of January 1757 as son of António Ambrósio Freire de Andrade e Castro, Ambassador of Portugal to the Austrian Court and Elisabeth Countess von Schaffgotsch who was descendant from an old and distinguished family of Bohemia. His father – who had been a great supplier of Marquês de Pombal in the arduous campaign against the Jesuits in Portugal – sent Gomes Freire de Andrade at the age of with 24 years to his actual home country, to Portugal; it is said that Gomes Freire de Andrade already by then had achieved the rank of commander in the Order of Knights of Christ – which means that he had joined the Order in Vienna. His military career began in 1782 and developed very well, taking him around quite a lot. As he received permission to serve in the army of Tsarina Catherine II in the war against Turkey he left for Russia where he gained greatest sympathy at court, especially with the Empress herself. Having been very successful in battles he was awarded in 1790 by Catherine and was promoted to the rank of a colonel which was confirmed in the Portuguese army – even though he was absent in Portugal. By the time rumours of sympathy and enthusiasm of the Tsarina towards Gomes Freire de Andrade came up, apparently confirmed by the dissensions between him and Prince Potemkin who had been her favourite. Back to Portugal his life in battle continued when in 1793 he fought with his regiment in Catalonia with the Spanish armed forces against the French Army which constantly received reinforcements and finally won in the following year. The so-called “Légion Portugaise” was integrated to the French Army under its General Junot in 1808, had garrison in Grenoble and even participated in the Russian campaign. But the task Gomes Freire de Andrade was given by Napoleon in 1813 was

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just to be the Governor of Dresden in this period. After the defeat of Napoleon, Freire de Andrade again returned toPortugal in 1815, where he was made a Lieutenant-General and –became the Grand Master of Freemasonry in Portugal a year later. As there were suspicions that Gomes Freire de Andrade had been aleader in a conspiracy against the King Dom João VI he wasbetrayed – according to the facts by three Portuguese masons –and arrested. It was Gomes Freire’s position as grand master of thePortuguese Freemasonry and his correspondence with masons inother countries which gave him the appearance of being anarch-conspirator. Many of the conspirators had been masons andtheir secret meetings seem to have been partly disguised bycarrying out Masonic rituals. A day before his execution a Britishofficer who was a freemason offered to him the opportunity toescape which he refused and so his execution took place on the18th of October 1817 in the fortress Julião da Barra in Oeiras for thecrime of treason along with eleven other people. His body wasburned and the ashes were thrown into the Tejo River. This brutalact, for which the commander of the British Army in Portugal, LordBeresford, was responsible, led to loud protests and intensifiedanti-British tendencies in Portugal, having the Porto Revolution andthe fall of Beresford in 1820 as a consequence. Under this aspectGomes Freire de Andrade could be regarded as the first greatmartyr of Portugal. Prancha do Irmão E.·. C.·. da Loja Hippokrates, aqui publicada por

Rui Bandeira

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Intolerância

March 10, 2010

Airton da Fonseca, maçom e editor do Novo Blog do Ferra Mula,escreveu, em comentário ao texto "Ansiedade":

Muito se escreve sobre a Tolerância. Gostaria muito que o Ir.'. fizesse uma peça de arquitetura sobre a Intolerância. É sabido que a Tolerância é uma virtude que deve ser praticada pelos IIr.'., mas me parece que do ponto de vista global, a intolerância é o mal do século que se findou e continua mais evidente em nossos dias. Correspondendo ao pedido, o tema de hoje é, então, a Intolerância. À primeira vista, intolerância é o oposto de tolerância, virtude que, como muito bem acentua Airton da Fonseca, deve ser praticada pelos maçons. Bastaria então definir esta para, por oposição, nos depararmos com aquela. Este caminho é tentador. Recordo-me de uma frase que bastas vezes ouvi a Fernando Teixeira, Grão-Mestre Fundador: "O limite

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da Tolerância é a estupidez". Portanto, se a estupidez está fora da tolerância, aí temos: a Intolerância não será, então, mais do que uma estupidez! O que apetece declarar ser uma grande verdade! Mas, por muito tentador que seja proclamar isto, uma mais atenta meditação permite-nos apreender que, em bom rigor, o oposto da Tolerância não é a Intolerância, é o Preconceito. O tolerante renega, rejeita o preconceito. O preconceituoso, esse, não está disponível para tolerar a diferença, o que considera erro ou o que vê como inferior. Há mais de três anos, aqui no blogue, o José Ruah e eu mantivemos uma não totalmente desinteressante polémica sobre o conceito de Tolerância. Quem não a leu, ou dela não se recorda, poderá através do marcador "Tolerância", localizar os doze textos em que essa troca de opiniões se desenvolveu, publicados entre 16 de novembro de 2006 e 16 de janeiro de 2007. O ponto de partida da controvérsia foi o entendimento do José Ruah de que a tolerância pressupõe uma posição de superioridade (moral, social, pessoal, conceptual, o que se quiser) do tolerante em relação ao tolerado, ao que eu contrapus o meu entendimento da igualdade essencial de planos entre ambos, no verdadeiro conceito de Tolerância. Recordo aqui esta troca de opiniões, porque precisamente entendo

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que é o Preconceituoso que se pretende colocar numa posição de superioridade, não o Tolerante que nela se coloca. Curiosamente, não me parece que essa seja, necessariamente (pode sê-la, mas não o é necessariamente) a posição do Intolerante. Este, em relação ao objeto da sua Intolerância, não se arroga necessariamente da condição de superioridade. Pode muito bem atribuir ao objeto da sua postura uma posição no mesmo plano da sua - ou pode mesmo reconhecer-lhe a prevalência - e precisamente por isso contra o objeto da sua Intolerância lutar. Porque a Intolerância não é, nunca, conceptualmente, passiva. É sempre proativa, tendencialmente agressora, ou, pelo menos, agressivamente opositora. A Intolerância não é, pois, a mera antinomia, oposição, à Tolerância. É bem mais do que isso, é um estado de espírito tendencialmente militante, diverso, suscetível de assumir múltiplas formas ou manifestações. A Tolerância é sempre uma postura de ordem moral. A Intolerância não é necessariamente uma postura de que a Moral está arredada. Não se admire o leitor: não me enganei e quis mesmo escrever o que acabei de escrever! Esclarecerei porquê. É que, ao contrário do que me parece que entende o Airton, não considero a Intolerância necessariamente um mal. Volte a leitor a não se admirar. Novamente quis escrever o que acabei de escrever. E repito: a Tolerância é sempre uma virtude, um bem; a

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Intolerância - ao contrário do Preconceito - nem sempre é um mal. Explico então, antes que o leitor conclua definitivamente que ensandeci de vez. Considero-me uma pessoa tolerante. Esforço-me por sê-lo e por praticar esta virtude. Procuro banir o Preconceito da minha postura. Mas entendo - e julgo que todos também assim o entenderão - que há na Vida e no Mundo coisas e posturas e situações que não podem, não devem, ser toleradas. Em relação às quais não só podemos como devemos ser absoluta, completa e inamovivelmente INTOLERANTES. Sou completamente INTOLERANTE em relação à pedofilia, à violação, à violência gratuita, ao abuso de poder, à opressão, aos maus-tratos dos mais fracos. Só para dar alguns exemplos e exemplos por todos pacificamente aceites. Em termos morais, a Intolerância é, em si mesma, neutra. Não é necessariamente um mal ou um bem. Depende do seu objeto. Admito que muitas das intolerâncias com que nos deparamos são um mal. Mas são-no em função do seu objeto. A Intolerância religiosa, ou de cariz racial, ou derivada de preconceito social são obviamente más. Era certamente nisso que o Airton pensava quando escreveu o que acima se transcreveu. Mas são más EM FUNÇÃO DO SEU OBJETO, não porque intrinsecamente a intolerância seja necessariamente sempre má. Creio já ter acima elucidado convenientemente que há intolerâncias que, atento o caráter particularmente desprezível dos seus objetos, não são más - pelo contrário, são socialmente úteis e devem ser cultivadas por

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quem procura ser uma pessoa de bons costumes. Portanto, e em conclusão: o oposto da Tolerância não é aIntolerância - é o Preconceito. Em termos morais, a Tolerância éboa, o Preconceito é mau, a Intolerância é neutra, sendo boa ou máconsoante o objeto sobre que se manifeste. Surpreendido? Rui Bandeira

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O maçom e a Política

March 17, 2010

O sexto Landmark (princípio fundamental) da Maçonaria Regularprescreve:

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito dasopiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seiotoda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela éainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam atolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem elaseriam estranhos uns aos outros.

No texto que, neste blogue, dediquei ao sexto Landmark, escrevi:

Por isso, em Loja não se discute Política nem Religião. Esta, porque sendo do foro íntimo da cada um, não faz sentido discuti-la. Aquela, porque sendo susceptível de grandes paixões poderia cavar insanáveis conflitos entre Irmãos. Ademais, reconhecendo

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cada maçon no seu Irmão um homem livre e de bons costumes,grave atentado a essa liberdade seria não lhe reconhecer o direitoà sua crença religiosa e ao seu entendimento político. Não quer istodizer que um maçon não possa ou não deva afirmar a suaconvicção religiosa ou a sua posição política. Pode este, podeaquele, pode aqueloutro, podem todos. Mas, isto feito, mais alémnão se vai. Cada um crê no que crê, pensa como pensa, pontofinal! Não há lugar para discussões sobre se esta crença é melhordo que aquela ou se aquele entendimento político é mais ou menosadequado do que aqueloutro.

A controvérsia ou discussão política está, assim, completamentebanida em Loja, na Maçonaria Regular.

Este princípio implica um corolário, a que se chega por duas vias: aMaçonaria Regular não toma posições políticas.

Não o faz, porque (1), uma vez que não existe discussão política em Loja e, dado que as deliberações dos maçons são tomadas em Loja, não há como tomar posição política que resulte de deliberação validamente tomada; e porque (2), uma vez que a tomada de uma posição política implica escolha - em favor de algo, em detrimento de algo -, a instituição maçónica não toma posição, pois, com toda a probabilidade, iria fazê-lo em concordância com alguns dos seus membros, mas, por outro lado, afirmando discordância em relação a outros. E a Maçonaria Regular não privilegia nenhum dos seus elementos, nenhuma das ideias livres de homens livres. Não se trata sequer de determinar maiorias e de agir segundo as maiorias verificadas. Em matéria de ideias, tão legítimas e respeitáveis são as ideias maioritárias como as minoritárias. Afirmar uma posição institucional em detrimento do livre entendimento de um elemento que seja seria desrespeitar

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esse entendimento. A instituição é de todos, o espaço onde todoscooperam para que cada um se aperfeiçoe e evolua. Não pode poisprivilegiar uns - ainda que porventura a maioria - em detrimento deoutros ou de apenas um que seja.

A Maçonaria Regular, enquanto instituição, não toma, pois,posições políticas. A Maçonaria Regular não é monárquica nemrepublicana. A Maçonaria Regular não é politicamenteconservadora, nem liberal, nem social-democrata, nemprogressista, não prossegue nem defende nenhum "ismo". AMaçonaria Regular integra homens bons, que procuram sermelhores, sejam monárquicos ou republicanos, conservadores ouprogressistas, liberais ou sociais-democratas, seja qual for o "ismo"que prefiram.

Por seu turno, cada maçom tem as convicções políticas queentende ter, toma e divulga (ou não...) as posições políticas que lheaprouver, declara (ou não...) as escolhas políticas que julgaadequado declarar, quando se lhe afigura oportuno, nos locais emque pretenda e possa fazê-lo.

Cada maçom é, em suma, um homem livre, que assume e aceita ecom naturalidade pratica que há um espaço - a Loja - em queconvive e coopera com outros homens livres, que podem ter ideiasdiversas das suas, sem que tal cause quaisquer dificuldades derelacionamento. E assim a diversidade é, não causa de conflito,mas catalisador de riqueza e abertura de espírito, de constante eleal interação das ideias de todos com todos, cada um testando eavaliando a validade das suas, a força das suas convicções, cadaum evoluindo em função da sadia análise das ideias e convicçõesdos outros.

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Fora do espaço da Loja, cada um é livre de assumir as posiçõespolíticas que entenda, como entenda, quando entenda.

Por isso, e em suma, não há posições políticas da MaçonariaRegular, mas cada maçom regular é livre de tomar e assumir edivulgar as posições e convicções e escolhas políticas que muitobem entenda. Que serão sempre suas e só suas e só a elevinculam.

Rui Bandeira

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O maçom e a Religião

March 24, 2010

A Maçonaria não é uma religião. Mas a Maçonaria Regular lida com a espiritualidade e, nesse sentido, atende inevitavelmente à conceção religiosa dos seus obreiros. Tal como em relação à Política, é vedada, no seio da Maçonaria Regular, toda a discussão ou controvérsia religiosa. Mas, sendo uma agremiação em que apenas são admitidos crentes, obviamente que a espiritualidade, em geral, e as convicções religiosas, em particular, são objeto da atenção dos maçons.

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Como procedem então os maçons para satisfazer o seu interesse na espiritualidade e nas convicções religiosas sem violar a proibição de discussão ou controvérsia religiosa? De uma forma espantosamente simples e de uma eficácia comprovada ao longo de centenas de anos: estabeleceram o denominador comum e, para além dele, deixam ao íntimo de cada um as respetivas opções. O maçom Regular é crente num Criador do Universo. Esse o denominador comum. Quais as características, poderes, atuações, propósitos, intervenções, etc., do Criador do Universo - isso é matéria do foro íntimo de cada um. Cada um crê no Criador tal como o concebe, tal como a religião que pratica o levou a entender, aceitando ou discordando que tenha a característica A ou B, o poder X ou Y, que atue no Universo criado, e como, ou não atue, com plano específico ou sem ele, com ou sem intervenções concretas. Isso é com cada um e ninguém tem nada com isso - portanto, não se discute. As religiões monoteístas têm diferentes designações para o Criador: Jeovah (ou Javeh), Allah, Deus... Ao longo da história, homens mataram homens em insanas guerras, uns lutando por Deus e outros por Allah, outros ainda invocando Jeovah - todos estupidamente esquecendo, ou escondendo, ou não atendendo, que essas são todas designações que os humanos dão à mesma Entidade... Como resolvem os maçons esta questão? Sempre com a mesma

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eficaz simplicidade: coletivamente, designam o Criador por uma denominação que - mais uma vez - é um denominador comum - Grande Arquiteto do Universo. E cada um, no seu íntimo, perante a sua religião, designa-o como entende. No entanto, seria estulto não reconhecer que a religião condiciona a cultura de homens e de sociedades. A cultura judaica resulta de manifesta influência da religião judaica. O mesmo se pode referir em relação à cultura e religião islâmicas e, ressalvadas as assinaláveis diferenças internas, à cultura e religião cristãs. Como conciliar estas diferenças? Ainda e sempre, com a eficaz simplicidade que resulta da Tolerância e da Harmonia: o meu Irmão é, enquanto individualidade, importante para mim, como eu sou para ele - não importam as diferenças culturais ou de pensamento religioso. Tal como não faria sentido distinguir entre louros e moremos, entre os que têm olhos azuis e os que os têm castanhos , entre os que são altos e os que são baixos, não faz sentido distinguir entre os que professam a religião A ou a crença B. Pelo contrário, é muito mais frutuosa a cooperação, a interajuda dos diferentes. O louro reage melhor ao frio, o moreno suporta melhor o sol - distribuamos tarefas aproveitando essas diferentes potencialidades. O de olho azul vê melhor com pouca luz e o de olho castanho tem olho de águia com a mais intensa luminosidade - atribuamos esforços tendo isso em conta. Os altos arrumam melhor as prateleiras e os baixos encontram melhor o que está no fundo dos armários baixos - aqueles que tratem das prateleiras, enquanto estes se ocupam dos armários...

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Ainda e sempre, o que os maçons há muito aprenderam e diariamente aplicam é que a diversidade é uma riqueza, uma vantagem, não um ónus, não algo que se deva corrigir. Portanto, não me interessa a religião específica de meu Irmão. Basta-me a nossa crença comum no Grande Arquiteto do Universo. Este plano comum é apto e suficiente à nossa vivência em comum da espiritualidade. Não perdemos tempo em discutir as diferenças, não entramos no que seria um infantil jogo de "o meu Deus é mais poderoso que o teu" (afinal, é o mesmo...), "a minha maneira de ver o meu Deus lava mais branco do que a tua" (afinal, o que realmente importa é como cada um se aperfeiçoa, melhora, se dignifica na sua passagem por esta vida e se prepara para o Mistério que está para além do Oriente). Achamos que é muito mais útil, mais eficaz, mais inteligente, retirarmos da vivência espiritual do outro as lições e as técnicas e os princípios que nos sejam úteis para melhor aperfeiçoarmos a nossa própria vivência. E, ao mesmo tempo, abrirmos ao outro a nossa própria vivência espiritual, para que o outro dela retire e aprenda e utilize o que para ele seja mais útil. No fim de contas, se fôssemos todos iguais, se pensássemos todos da mesma maneira, se professássemos todos idênticas convicções religiosas - o que é que cada um podia aprender com os demais? Mais do mesmo? Para o maçom, a religião, as diferentes religiões não são pomos de discórdia, de discussão, de controvérsia. São oportunidades de

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diálogo, de aprendizagem, de cooperação no crescimento de cadaum. E isto, meu caro leitor, os maçons praticam-no em Loja e procuramtambém assim o fazer fora de Loja, entre si e com todas as demaispessoas. Com a certeza que, se algum dia se conseguir que todosidenticamente se comportem, o Mundo será muito melhor.! Rui Bandeira

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O maçom e o conflito

March 31, 2010

O conflito faz parte das nossas vidas. Quer queiramos, quer não.Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis.Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: aforça, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, acooperação, a hierarquização, etc..

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos. Tanto comoqualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito. Desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a Tolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem

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leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. Pelocontrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bemgerir um conflito não é procurar ganhar a todo o custo. Mais bemgerir um conflito consiste em detetar e obter a melhor soluçãopossível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o conflito pode parecera melhor solução no curto prazo, mas revelar-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se afazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir!Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não éapenas deixá-lo falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz ecomo o diz. Para procurar determinar porque o diz e para que o diz.E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmenteconflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas umaaparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, deuma ou das duas partes, de propósitos, intenções, objetivos.

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da verdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de, condescentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha. A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto filosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - por maioria de razão. Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura confituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescente superioridade. É a consequência da nossa consciência da Igualdade fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitável corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós. A Tolerância

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não é um ponto de chegada - é uma base de partida. Não é demaisrepeti-lo.

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para agestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro,para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entreambos; (2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medidaé essa divergência, superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendosuperação parcial da divergência, se o conflito se mantém e,mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; (5) finalmente, emque medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cadaum abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambosos interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidarmelhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar,determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugarpredispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmenteadquire a consciência de que existem várias, e por vezesinsuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver,conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dosinteresses inicialmente em confronto.

E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o queimplica entender) a posição do outro.

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática dosilêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do querealmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolveros problemas que ouça expostos.

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao Outro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através da

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busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. Atravésda gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente,mais bem sucedido.

Rui Bandeira

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A propósito de três perguntas que já não existem...

April 07, 2010

Um leitor deste blogue deixou, num comentário que posteriormenteele próprio eliminou, três perguntas, a propósito do texto O maçome a Religião. Ausente do país na última semana, li o comentário,mas não lhe respondi por duas razões: em primeiro lugar, a minhaausência e menor disponibilidade; em segundo, o facto de ter logodecidido que as pertinentes questões mereciam ser respondidasnum texto autónomo e não em simples comentário.

Regressado, verifiquei que o autor do comentário o eliminara, não sei por que razão. Terá receado serem as três perguntas demasiado incómodas? Se foi esse o motivo, o receio foi infundado: neste espaço já várias vezes ficou patente que as perguntas pertinentes, cómodas ou incómodas, têm sempre a melhor resposta que somos capazes de lhes dar. Terá duvidado da pertinência das perguntas? Asseguro que as considero pertinentes

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- tanto que reservei um texto para lhes responder... Terá, relido o comentário, dele discordado ao ponto de ter achado melhor eliminá-lo? Ou simplesmente decidiu não gastar cera com este ruim defunto? Não sei qual a motivação da retirada do comentário. Mas só me cabe acatar a decisão do seu autor. Tenho arquivado o texto do comentário eliminado (maravilhas da tecnologia... e perigos dela, também... ) e poderia responder às perguntas, já que as conheço, as acho pertinentes e suficientemente interessantes para terem resposta no espaço principal do blogue. Mas não seria correto fazê-lo. Por muito que discorde da decisão de eliminação do comentário, por muito pertinente que o tenha achado, por muito interessante que eu ache a elaboração de um texto de resposta às tais ditas questões, se o autor do comentário entendeu por bem eliminá-lo, não tenho o direito de agir como se não o tivesse feito. As razões da sua decisão são dele e, convenha-me ou não a dita decisão, concorde ou não com ela, tenho de, sobretudo, a respeitar. Não o fazer seria defraudar tudo o que postulo neste espaço. A Maçonaria é - tem de ser, só faz sentido sendo-o - também ética. E a ética manda que se faça o que se deve fazer, convenha-nos ou não. Fiquei, porém, com a necessidade de resolver outro dilema: por um lado, entendo não dever responder a um comentário que o seu autor entendeu por bem eliminar - apesar de o ter achado

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pertinente e que seria interessante para os leitores deste blogue apreciarem as perguntas feitas e as respostas que julgo asado dar-lhes; por outro, não é justo privar os leitores do blogue de uma matéria que eu julguei que seria interessante ser objeto de um texto... Nem de propósito, após ter publicado um texto sobre O maçom e o conflito, necessito de, "ao vivo e a cores", em frente de todos vós e de quem mais isto leia, gerir e, se possível, resolver ou atenuar este conflito entre o respeito pela decisão do comentador arrependido e o que eu considero ser do interesse dos leitores do blogue de serem aqui tratados os assuntos objeto das perguntas publicamente eliminadas. Vejamos então se e como aplico eu na prática a "receita" que tive o arrojo de proclamar... Respeito a decisão do comentador arrependido. Esse é o ponto de partida reafirmado. Mas será que existe realmente conflito entre a decisão dele de apagar o comentário e a minha pretensão de às perguntas nele formuladas responder? Para o apurar, necessito de saber qual a razão, qual o motivo, da decisão de apagar o comentário e, designadamente, se a mesma resultou de (injustificado, já o afirmei) temor de ofender ou de ter formulado perguntas impertinentes. Se assim foi - ou situação similar - fica o comentador arrependido sabedor de que considero esse temor injustificado e que, não só nada me desagradou nas questões, como gostaria de a elas responder. Importa, portanto, antes do mais, ouvir o interessado - se ele entender por bem esclarecer-me, é óbvio. Convido assim o

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comentador arrependido (sei quem é, mas obviamente que não julgo pertinente aqui designá-lo...) a, em comentário a este texto ou através de mensagem privada, esclarecer se, no seu juízo - que sem reserva será absolutamente respeitado - entende dever ficar definitivamente esquecido que alguma vez elaborou o comentário que apagou, ou se concorda em que eu divulgue as três perguntas que fez e a elas procure responder. Consoante a existência ou ausência de resposta e, existindo, o teor da dita, assim definirei o texto da próxima semana. Portanto, e para quem se deu ao trabalho de reler o texto sobre o maçom e o conflito, minimizo ou anulo o conflito acima exposto, procurando reduzi-lo à sua real dimensão (não está em causa todo o comentário, mas apenas as três perguntas a que desejo responder) e inquiro se, com esta menor dimensão, o conflito persiste. Se souber que não persiste, o texto da próxima semana conterá as ditas perguntas e as respostas que for capaz de lhe dar. Se persistir, procurarei harmonizar os interesses em tempos e planos diversos: por um lado, não mais me referirei ao comentário apagado; por outro, oportunamente arranjarei maneira de escrever um ou mais textos em que o tema será o correspondente às tais perguntas, mas obviamente sem que quem o(s) ler (exceto o comentador arrependido e eu) se aperceba da origem desse(s) tema(s). Os problemas, pequenos ou grandes, existem para serem

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resolvidos... Rui Bandeira

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A Maçonaria não é uma religião

April 14, 2010

M. A., em comentário a O maçom e a Religião, formulou as seguintes questões: Sendo a Respeitável Loja um espaço sagrado, para os maçons, um espaço onde se executam determinados rituais (agora não em causa) e um templo, não será a Maçonaria, ela mesmo, uma religião? Não será a fusão das várias religiões, profanas, na cultura de um

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único grande Arquitecto, também um movimento orgânico de criação de uma religião própria, em alternativa às várias confissões, religiões existentes? Não será esta uma forma de criar uma religião alternativa, agarrada a um lema, “profano”, da necessidade de o homem se tornar livre, honrado e mais culto, uma forma de “angariar novos membros para essa tal e hipotética nova religião? As perguntas colocadas e as respostas que tenho para elas fazem-me lembrar uma peça processual que há muitos anos vi, escrita por um antigo, patusco e bem-humorado Advogado, uma contestação a uma ação em que eram alegados três factos. Escreveu então o meu bem-humorado Colega: Art. 1.º: Não. Art. 2.º: Não. Art. 3.º: Não. Art. 4.º: Resumindo: não, não e não! Já sabe M. A. quais as minhas respostas às três perguntas! Mas, obviamente que não vou ser tão sintético como o meu bem~humorado Colega. Não, a Maçonaria não é, nem pretende ser, uma religião. Não prega, não detém, não apregoa, não oferece, qualquer Salvação. A

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Religião é a ligação entre os homens e o Divino. A Maçonaria Regular limita-se - e muito é! - a buscar a melhoria dos homens que crêem no Divino. A Religião é o conjunto de preceitos seguido por um crente para se ligar, ascender, ao Divino. A Maçonaria não intemedeia entre o Homem e o Divino, destina-se unicamente ao Homem, enquanto tal. É um meio, um método, um ambiente destinado a favorecer o aperfeiçoamento, a melhoria, o crescimento, dos homens crentes. Mas cada um seguindo a sua crença, a sua religião, e nos termos em que entende praticá-la. A Maçonaria nasce na Europa cristã. É completa e absolutamente teísta e cristã, na sua origem. Perante as lutas, dissensões, querelas, entre católicos e protestantes, fez ressaltar esta simples verdade: uns e outros criam no mesmo Deus, sendo insano matarem-se uns aos aos outros em nome das suas diferentes formas de se relacionarem com o mesmo Deus. Esta base cristã demorou poucos anos a alargar-se ao judaísmo: também o Deus da religião judaica é o mesmo... E seguidamente a lógica impunha o alargamento ao islamismo: o Deus permanece o mesmo, o nome é que muda, as culturas é que divergem. E, partindo-se de uma base monoteísta, em que existe um único Deus, qualquer que seja a sua designação, racionalmente é indiferente que outras religiões (hinduísmo, por exemplo) sejam politeístas: para o monoteísta, o politeísmo mais não é do que diferentes manifestações do mesmo e único Deus... Sobre a base teísta, acrescenta-se posteriormente e admite-se

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também o crente deísta, isto é, aquele que prescinde da intermediação da Revelação, da igreja, do sacerdote, na sua relação com o Divino, aquele que crê poder estabelecer essa relação sem necessidade dessa intermediação. A partir do momento em que a maçonaria se alarga até este ponto, admite no seu seio qualquer crente, qualquer que seja a sua crença individual. Deixa portanto de ser essencial qualquer conceção de Criador, do Divino. Porque reconhecida a liberdade individual de crença, é a crença individual que conta. Uma ponte a todos une: a crença de que somos mais do que mera carne e ossos e sangue e miolos, a crença que somos também, ou quiçá principalmente, espírito, que sobreviverá à extinção da chama da vida na carne, nos ossos, no sangue e nos miolos. O que essencialmente conta é portanto a crença na permanência da dimensão espiritual do Ser, chame-se ela vida para além da vida, reencarnação, ressurreição, nirvana - o que for. Assim a tónica se estende à espiritualidade, inclusiva, por exemplo, dos budistas. Não, a Maçonaria não é uma religião. É um espaço comum de crentes em todas as religiões, organizadas ou individualmente sentidas. É um espaço comum de convívio, de fraternidade e, sobretudo, de instrumento para o aperfeiçoamento de cada um, segundo a sua crença, a sua vontade, o seu caminho. Rituais não são exclusivos de religião. Rituais existem em muitas Tradições não religiosas (rituais de passagem, de acesso à idade adulta, por exemplo). Templo é apenas designação, nada mais. Nada se pretende ou cria em alternativa a nada. Acentua-se o que

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de bom em todas as religiões existe. Mostra-se o que deessencialmente semelhante em todas elas há. Deixa-se asparticularidades das diferenças para as práticas particulares decada um. A Maçonaria não é a religião das religiões. É, se sequiser, o primeiro espaço ecuménico, em que os crentes dasdiversas religiões desde sempre puderam confraternizar eaperfeiçoar-se, nos aspetos comuns, sem se deixarem perturbar ouafetar pelas diferenças. É portanto um espaço em que a diferença éassumida, apreciada e valorizada. Nada se funde. Tudo se aceitano que contribui para os demais. Não se pretende criar alternativas a nada. Dentro do quadro do queexiste e do que cada um livremente crê e aceita, procura-seaproveitar de cada um o que de útil possa dar aos demais,recebendo cada um dos demais o que para si tenha de útil. Tãosimples... Tão simples afinal como o ovo de Colombo. Só que, conta ahistorieta, antes de Colombo ninguém se tinha lembrado de tãosimples forma de pôr o ovo em pé... Rui Bandeira

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A viagem

April 21, 2010

Hoje, resolvi elevar a qualidade deste blogue até ao nível que osseus leitores merecem e, obviamente com a devida e indispensávelautorização do seu autor, publico aqui um texto que descobriatravés do Grupo Maçônico Orvalho do Hermon e que foi jápublicado, pelo seu autor, no seu blogue Segredo Maçônico. Otexto é um pouco longo, mas vale a pena lê-lo e, sobretudo, a partirdele meditar. Eis, portanto, da autoria de Charles Evaldo Boller,Mestre Maçom da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Apóstoloda Caridade, n.º 21 da Grande Loja do Paraná,

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A VIAGEM

Acompanhe-me numa singular viagem.

Para isto é necessário que você aceite alguns postulados e a poucaconsistência do que mostrarei, considerando que, em essência,tudo não passa de simples fantasia, mas os conceitos são os maismodernos de que a ciência dispõe. Façamos à semelhança denossas lendas na Maçonaria, que mesmo em sendo ficções,pretendem transmitir profundos conhecimentos filosóficos,dependendo apenas do grau de interesse e desenvolvimento decada indivíduo e da perseverança em alcançar o conhecimento queleva a educação natural.

Tenha certeza que a pretensão é flutuar por caminhos fascinantesque poderão revelar entendimento de verdades complexas edifíceis de explicar de outra forma.

Preparando o Ambiente da Viagem

Façamos de conta que estamos parados no centro de uma lojaaberta ritualisticamente. Aparelhada com todos os instrumentos detrabalho do maçom, bem como sua matéria prima: a pedra bruta.

Esotericamente falando, o teto não existe, então, vamos tirar de vezesta cobertura do lugar de onde está e empurrá-la para bem longe,tão longe que desapareça. Descortina-se sobre nós o espaçoinfindo e ao longe brilha o sol.

Empurremos também as paredes de nosso templo para bem longe.Estamos no centro do espaço infindo que só não é totalmentenegro porque a luz do luzeiro o ilumina.

Eliminemos igualmente o piso de nosso templo, afastando-o mais devagar para que nossa mente se acostume lentamente com o flutuar no espaço. Como não temos mais referenciais, não

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sabemos ao certo se é o piso da loja e a Terra que estão seafastando, ou se somos nós que estamos levitando, viajandoespaço afora.

Se pensar que paramos aí, enganou-se, agora possuímos poderessobrenaturais que nos permitem parar o tempo, o que fazemos.

Este é nosso novo Universo: nada ao nosso redor, o tempo paradoe apenas o Sol a nos iluminar. Neste ambiente especial construídopor nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Estamos semponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. Não existeruído ou necessidade de ar. Somos poderosos.

Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é diminuta anossa estatura em relação a este Universo ilimitado e semhorizonte.

Com nossa nova capacidade de imaginação deixamos nosso corpomaterial e flutuamos para fora de nossa prisão. Olhamos para aspedras brutas que somos pelo seu lado externo de formas comonunca nos foram dadas observar. Observamos como é nossotúmulo material. Como já aprendemos, o que este corpo tem porfora é mero invólucro de nossa manifestação material no Universotridimensional, o importante desta massa é seu conteúdo interno,algo que aos olhos materiais é impossível identificar.

Foi devido a esta limitação que saímos de nossos túmulosmateriais e estamos aqui fora olhando para eles.

Aqui somos finitos e infinitos. Nesta existência artificial não regetempo ou matéria, não existe início ou fim. Todas as coisasmateriais que possuímos em nossa efêmera vida material são nadase comparados com a imensidão que ora contemplamos ao lado defora de nossos cárceres que nos servem apenas comoinstrumentos de nossas experiências sensoriais.

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Locke defendeu que as idéias são formadas a partir deexperiências sensoriais exteriores e que a reflexão interior colocavaem seu devido lugar. Combateu o Inatismo, filosofia que parte dopressuposto do homem possuir idéia inata do Grande Arquiteto doUniverso; que esta idéia já nasce com a pessoa. Vamos comprovaresta assertiva ao sairmos do nosso corpo apenas por força denosso pensamento e levarmos junto conosco apenas nossascapacidades de ver e pensar.

Na Maçonaria nos é ensinado que nascemos livres porquenascemos racionais e os seres humanos são, por isto,considerados iguais, independente de governos e outros homens.Usamos desta experimentação sensorial não apenas através denossos dispositivos de percepção da realidade, criamos uma novapercepção, pela fantasia, e por um exercício do pensamentoestamos passeando fora de nossos corpos físicos pelo espaçoinfindo.

Parece insanidade, mas é divertido. E como diz Domenico de Masi:não sei se estou trabalhando, aprendendo ou me divertindo.

Os trabalhos do Rito Escocês Antigo e Aceito querem demonstrarser o homem infinito e que suas posses são finitas. Locke concebeo infinito como resultante da unidade homogênea de espaço,número e duração, e o que diferencia uma da outra é que o infinitoapenas não tem limite. Deduzimos que o homem material é finitoenquanto presa da materialidade e torna-se infinito quandodesperta para a liberdade da razão apoiada pelo conhecimento.

É isto a que este passeio conduz.

Início do Passeio

Percebe quão devagar estão nossos passos neste passeio? Não há necessidade de correr. Nossas experiências mais eficientes não

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ocorrem sempre aos saltos, mas em pequenos avanços de umadimensão para a outra de um conhecimento alicerçando o próximo,ciclos eternos de tese, antítese e síntese. Assim se faz naMaçonaria. O salto é dado pela mente e não pelo corpo material. Édisto que devemos nos libertar para penetrar nos segredos de nósmesmos. Apenas em condições especiais obtemos a verdadeira luzpara investigar a verdade oculta em nós mesmos. Nossa fantasiacria o ambiente, nossa racionalidade preenche os vazios.

Se olharmos todo o trajeto que nos trouxe até aqui é realmente umsalto imenso para a nossa pequenez de criatura vivente do espaçotridimensional. Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemosjunto conosco as carcaças que nos contêm. Qualquer forma queadotarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamosagora, não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o quetodos somos; astronautas deslocando-se permanentemente peloespaço sideral numa velocidade estonteante a um destinodesconhecido.

Vamos diminuir de tamanho, aliás, nós não temos dimensão,podemos ser imensamente grandes ou infinitamente pequenos,basta querer. Nossa mente vai fazer com que diminuamos detamanho lentamente, porque ainda faz pouco tempo queabandonamos nossa clausura física e adentramos nesta novacondição de existência.

Vamos encolher até que possamos entrar pelo ouvido do meucorpo material aí em frente e que conheço bem, haja vista que já fizalguns passeios dentro dele ultimamente. Vamos diminuir detamanho até que possamos divisar as moléculas desta carcaça.

Percebeis como meu corpo está desaparecendo?

O corpo está se dissolvendo lentamente.

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Porque será?

Um Universo Interior

Boyle foi o primeiro que não aceitou mais as teorias de Aristótelesdos quatro elementos: água, terra, ar e fogo e formulou as bases econceitos dos elementos químicos.

A diversidade de moléculas com que um corpo físico é composto éenorme, então escolhamos a primeira molécula que encontrarmose vamos continuar a diminuir de tamanho para podermos abordarum dos átomos.

Sabia que não foi Boyle quem criou a idéia de átomo? Isto já foicogitado na antiga Grécia, por Demócrito; é dele a idéia que osmateriais são formados por partículas minúsculas. Hoje dispomosdeste conhecimento porque estamos apoiados nos ombros degigantes do passado.

Pode-se dizer que o átomo é formado por duas regiões queocupam o espaço: o núcleo, que é seu centro compacto e pesado,e uma coroa ou eletrosfera. No núcleo estão os nêutrons e prótonse na eletrosfera movem-se os elétrons em diversas órbitas.

Rutherford sugeriu que o tamanho do átomo seria algo em torno0,000.000.01 centímetro. Para imaginarmos melhor o significadodesta dimensão consideremos o homem do tamanho de um átomoe toda a população da Terra caberia na cabeça de um alfinete eainda sobraria muito espaço.

E nós estamos do tamanho de um átomo agora.

Só que não vemos nada.

Por quê? Se moléculas das mais diversas compõem um corpofísico, elas deveriam estar em todo lugar, trilhões delas deveriamestar presentes aqui, e deveriam obliterar a luz do sol.

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Onde estarão?

A eletrosfera de um átomo é cerca de 10.000 a 100.000 vezesmaior que o núcleo. Então, porque não estamos vendo nada?

Vamos diminuir mais umas 100.000 vezes o nosso tamanho. Aindanão vemos nada. O corpo pelo qual estamos viajandosimplesmente sumiu. O que existe ao nosso redor é apenas espaçovazio. Só a luz do sol chega até nós.

Continuemos a procurar até encontrar um núcleo de átomo,formado de prótons, nêutrons e outras partículas insignificantes, eassim como nós, desloca-se solitário nesta imensidão do espaço. Édo tamanho de uma laranja, e cabe em nossa mão.

Onde estará o elétron que faz par com este núcleo?

Sabemos que a massa do elétron tem em torno de 1.840 vezesmenos massa que o núcleo. Muito pequenos para serem vistos,mesmo com estes olhos que temos agora. Temos que diminuirainda mais de tamanho para divisar corpúsculo tão diminuto, serápor isto que não vemos o elétron?

Não! Ele não é visto porque nós paramos o tempo, lembra?

Somos criaturas muito poderosas em nosso mundo de fantasia.

O elétron deste átomo está parado em algum lugar que pode estarem termos proporcionais a nossa atual estatura a algunsquilômetros daqui, ou até bem perto como alguns centímetros. Nãoo vemos apenas devido suas dimensões relativas diminutas.

Estou cansado. Vamos diminuir mais nossa estatura, até ficarmostão pequenos que possamos sentar confortavelmente sobre onúcleo deste átomo.

Ainda não vemos o elétron, e teríamos que encolher ainda cerca de quase umas 2.000 vezes a nossa atual estatura, e ainda assim

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seria muito difícil encontrá-lo.

Vamos restaurar o fluxo do tempo.

Não se assuste com a escuridão!

Consegue imaginar o que aconteceu?

Porque esta escuridão súbita?

São os elétrons! Eles nos deixaram cegos! Esconderam o Sol.

O Mundo Material

Os elétrons em movimento impedem a luz de chegar até nós. Istoporque a velocidade com que o elétron gira em torno do núcleo étão alta que mesmo com sua minúscula massa impede a passagemda luz.

Sua velocidade é tal que pode ser comparada à própria velocidadeda luz.

A velocidade dos elétrons é de tal magnitude que num determinadoinstante cada um deles pode estar ocupando qualquer espaço aoredor do núcleo. Ele tem apenas uma probabilidade de estarfisicamente num determinado lugar, num determinado instante. Asfórmulas matemáticas da mecânica da física quântica não oferecemvalores determinados, apenas probabilidades.

Compare com as hélices de um avião; as pás parecem estar emtodo o entorno de seu eixo ao mesmo tempo, podemos olharatravés delas porque sua velocidade é inferior a da luz. Mesmoassim, as pás parecem estar em todo lugar ao mesmo tempo. Como elétron é parecido, mas em escala de velocidades imensamentesuperior.

É assim que se forma a matéria sólida de que são formados nossos corpos, o mausoléu de nossos pensamentos. A velocidade com que os elétrons giram ao redor de seus núcleos cria a matéria, lhe

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proporciona solidez. É como tudo no Universo físico é construído.

Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nósmesmos.

Isto até contradiz Locke, mas não esqueçamos que nossaexistência aqui é apenas resultado de ficção, do exercício de nossamente criativa.

Mesmo assim, esta constatação nos leva a inferir ser este, de fato,o nosso local mais sagrado. Como é imenso o corpo físico dequalquer ser vivente! O homem em sua inteireza, considerando acarcaça, a mente, as emoções, sua espiritualidade e outrosdetalhes é um universo tremendamente complexo, semelhante aogrande Universo.

A este universo que existe dentro de cada ser vivente, devidoexatamente a esta diversidade e complexidade, denominamosMacrocosmo apenas para simplificar nossas limitações deentendimento.

É assim, de forma espantosa, com quase nada de matéria, comquase absoluto espaço vazio que o Grande Arquiteto do Universoproduziu toda a matéria sólida do Universo.

Milagre ou realidade?

Será que legitima a expressão do penso, logo existo, deDescartes?

Se tomarmos a realidade do ponto de vista em que nos encontramos agora, certamente deduziríamos que nada somos. Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos feitos do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como que por milagre. Um maravilhoso feito do Incriado.

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Heidegger argumentava que o ser se faz no tempo; e é o que constatamos em nossa experiência; o ser é o nada que o constitui. Platão afirmava que o Universo em que vive o homem é ilusório, feito de sombras e aparências; em nossa experiência, quanto desta assertiva é verdadeiro? O que acabamos de afirmar e virtualmente constatar, foi baseado na informação de que o elétron e o próton contêm massas, isto é, que sejam efetivamente feitos de matéria sólida, mas que o garante? Existem considerações científicas atuais que dizem terem os átomos ora o comportamento de partícula e ora de fenômeno ondulatório, isto é, não possuírem massa e serem constituídas exclusivamente de campos de força, de campos eletromagnéticos, de energia. Aí então a nossa pasma intelectualidade entra em pane! Se os átomos não são nada mais que campos de força, então somos efetivamente feitos de puro espaço vazio, nada somos! Simples fótons? Campos magnéticos em interação e deslocando-se à velocidade da luz? Ainda sem considerar a teoria das Supercordas que remetem até o

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instante do inicio da expansão do Universo, o inicio de toda ahistória que nossos cientistas sonhadores dão para o Universo e aoqual denominam big bang, já nos satisfazemos com o fato deconstatar que existe um projeto racional e um objetivo válido paratomar parte nesta grande orquestra da vida, esta milagrosa massade seres viventes. Porque olhando em nossa própria essência,sequer deveríamos existir! É um milagre! Os fatos apontam parauma realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade dese manifestar.

A Improbabilidade da Vida

Partindo da constatação que as fórmulas da mecânica quântica nos fornecem apenas probabilidades e nunca certezas qual seja a verdadeira constituição do átomo. Acrescente-se que as moléculas de que nossas carcaças são formadas constituem apenas um por cento de toda a massa do Universo, isto porque, 75% de toda matéria do Universo é formada por Hidrogênio, 24% é Hélio, e o restante 1% (um por cento) é constituído por todos os demais elementos da tabela periódica. Desde o lítio, passando pelo carbono até chegar ao urânio. A química que dá origem à vida é uma insignificância quantitativa em relação ao gigantismo do Universo! Daí nossa intelectualidade vir a se preocupar com a existência e a realidade nos faz singelos na imensidão deste Universo - especula-se que existam outros Universos. É deveras um milagre possuirmos consciência!

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Percebe a maravilha desta descoberta dentro de nós mesmos? Consegue observar o quanto somos infinitos na forma em que nosencontramos e o resto do Universo é finito? Em termos absolutospoderíamos até dizer que nem infinitos somos, mas inexistentes. Conscientizou-se agora do quanto somos livres e iguais nesteUniverso criado pelo Grande Arquiteto do Universo? É razão mais que suficiente para buscar o conhecimento para nosentendermos melhor uns com os outros. Fazer estes tipos de viagens é o único caminho que dispomos paratrilhar pelos caminhos que conduzem para a liberdade e perfeição;simplesmente porque nos conscientizamos que existe um criador,não é possível que tudo seja resultado de obras do acaso sem apresença de uma mente pensante por traz de tudo o que semanifesta na natureza. Esta nossa realidade, esta nossa insignificância perante o milagreda existência material já é suficiente para nos levar a entender doporque o amor fraterno é o único caminho para a verdadeiraigualdade. Na essência somos todos relacionados e iguais. Somos imperfeitosem nossa materialidade, mas alcançamos a perfeição em nossaracionalidade, da mesma forma como disse Platão: o único círculoperfeito é a idéia de círculo que existe em nossa imaginação.

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Abrangência do Mundo Interior

Estenda esta visão às outras dimensões que temos: espiritualidade, emotividade, pensamentos, e outros. Este conhecimento de nós mesmos não fica limitado ao que estamos percebendo neste instante, este crescimento exige a perfeição tanto do espírito como do coração. Há necessidade de treinar nossas percepções tanto do visível como do invisível, e tudo é dedutível por nossa capacidade de abstração, de fantasia, até vir a comprovar-se pela experimentação científica. Assim como aconteceu com Pitágoras, que na tradição intelectual do mundo ocidental teve transformada a sua capacidade de mística matemática numa espécie de ponte entre a razão humana e a inteligência divina. De nossa parte, enquanto sonhamos, não temos provas materiais da imaginação ser realizável, ao menos enquanto estivermos restritos ao nosso cárcere material, ao nosso corpo físico. Tampouco criamos proposições que não possam ser questionadas, até contrariadas, pois algo assim, nas palavras de Isaiah Berlin, não contém informação. Devemos procurar a justiça e a fraternidade, o amor fraterno, para obter a possibilidade de, mesmo imperfeitos em alguns aspectos, sermos levados à perfeição do intelecto e da espiritualidade pela força do pensamento. E assim como efetuamos nossa caminhada até ficarmos sentados aqui nesta escuridão sem ter medo de nada, quando o tempo está em marcha, aonde chegamos devagar, um passo de cada vez. A

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Maçonaria nos ensina que o caminho da perfeição também não se dá aos saltos, senão com muita prudência e lentidão. Velocidade é coisa de elétron em sua órbita, nós devemos lentamente ir formando uma base educacional em busca da verdadeira liberdade que nos liberta do fanatismo, do ódio e outros vícios. Pois se viéssemos até aqui na superfície deste núcleo de átomo num salto, certamente desfaleceríamos. A escuridão nos enlouqueceria! Não entenderíamos que na escuridão de nosso mais recôndito ser, na falta da liberdade a que o elétron nos levou, nos sentiríamos presos, imobilizados, com medo de nos mexer, inclusive de pensar. E o medo desta prisão certamente nos induziria a adotar alguma postura fanática e alienante, quem sabe até, num ato desesperado, o suicídio. Percebe o quanto a nossa capacidade de sonhar é infinita e como isto nos diferencia do homem-fera primitivo? A filosofia do Rito Escocês Antigo e Aceito está conectada ao conhecimento humano, desde sua pequenez diante do Universo, até o gigantismo de sua capacidade de sonhar e pensar. É pela capacidade racional inteligente que todo maçom deriva conhecimentos detalhados e genéricos para a sua própria sobrevivência física e intelectual. Uma coisa puxa a outra. O sonhar leva a predispor o iniciado na busca contínua de instruções e conhecimentos. Isto o leva a efetuar saltos mentais e lhe impõem denodo quando se interna na caminhada dos mundos desconhecidos, reservados apenas aos que têm coragem de enfrentar as veredas do desconhecido. Mesmo que lá reine escuridão, a mente continuará a irradiar a luz do entendimento de

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verdades cada vez mais complexas e intrincadas. O peregrino cego carrega junto de si a luz do entendimento aobuscar intensamente dentro de si mesmo o conhece-te a ti mesmo,de Sócrates. O homem pensador passa a aperfeiçoar-se. Depois que se aperfeiçoou e descansou parte em nova jornada, emciclos eternos de sonhos, racionalizações e sedimentações denovos conceitos. Fica evidente que ao adentrarmos no mausoléu que somos,despertam idéias ocultas que até então não percebíamos.Encontramos alguns porquês da existência: De onde venho? Paraonde vou? Algo que é possível descobrir com viagens ao interior denós mesmos. Faz da passagem para o oriente eterno apenas maisuma etapa da vida; algo que alivia o constrangimento e medo damorte. Este é o conhecimento, a luz que o profano busca emnossos templos; é a travessia que o iniciado faz quando se deslocado ocidente para a luz do oriente. Ao nos libertarmos do medo damorte, rompem-se os grilhões da escravidão do mundo material epassa a brilhar a luz da sabedoria do Grande Arquiteto do Universo.

Templos Vivos

Todo maçom é considerado de fato um templo vivo. Só a partir desta constatação o maçom passa a considerar-se criatura pura e sagrada. Certamente tudo faz para não conspurcar o ambiente sagrado de que é constituído seu templo interior, derivando que isto induza o desenvolvimento de conceitos morais e

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éticos cujo objetivo preservará a pureza do lugar sagrado de seu interior. Isto faz do mundo interior um lugar perenemente limpo e puro. Desperta adicionalmente que apenas limpar o templo interior não é suficiente. A pureza moral e ética é insuficiente. Exige-se que o interior do templo, local da razão e dos sentimentos equilibrados, nutram o cérebro com estímulos que levem a buscar a perfeição. Daí ressalta-se a importância em velar na maioria das vezes do centro das emoções, o coração, de modo a mantê-lo subjugado à mente, pois é considerado esotericamente um mausoléu e tudo aponta para o coração como túmulo do maçom; ao menos enquanto não morrer o maçom que o contém. O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é dominar suas paixões com o objetivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos. Quando o tempo se desloca, em nosso interior reina escuridão enquanto não efetuarmos um salto para dentro de nós mesmos iluminados pela sabedoria do entendimento desta viagem. Este deslocamento é realizado em pequenas estações, para que o choque da descoberta desta escuridão não nos deixe cegos e com medo, assim como fazemos em nossa evolução pelos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito.

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O medo pode nos imobilizar e escravizar aos extremismos. É necessária coragem para desbravar o caminho. Agora que mostrei a minha senda, faça as tuas viagens a sós paradentro de você mesmo e descubra teus próprios caminhos. Só nãose assuste com a escuridão do lugar, leve sempre junto a luz de tuacapacidade intelectual para de lá sair em segurança. Ao homemmaçom é dado caminhar só na busca de sua espiritualidade eliberdade, exatamente porque ninguém a pode fazer por outrem. Étarefa individual e intransferível. E saiamos daqui, pois os trabalhos encerraram a meia-noite.

Bibliografia: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, Filosofando, Introdução à Filosofia, Editora Moderna, 1993. ASLAN, Nicola, Instruções Para loja de Perfeição para o Grande 4 ao 14, Quarta Edição, Editora Maçônica A Trolha Ltda., 2003. BOSQUILHA, Gláucia Eliane, Minimanual compacto de Química, Editora Rideel, 1999. CAMINO, Rizzzardo da, os Graus Inefáveis, Loja de Perfeição, Volume 1, Primeira Edição da Editora Maçônica A Trolha Ltda., 1995. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, 2001. GLEISER, Marcelo, Criação Imperfeita, ISBN 978-85-01-08977-7, 1ª edição, Editora Record, 366 páginas, São Paulo, 2010. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, a Filosofia do

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Conhecimento, Primeira Edição, Madras Editora Ltda., 2003. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, EditoraNova Cultural Ltda., 2005 OLIVEIRA FILHO, Denizar Silveira de, Comentários aos grandesInefáveis do Rito Escocês Antigo e Aceito, primeira Edição,Coleção Biblioteca do maçom, Editora Maçônica A Trolha Ltda.,primeira Edição, 1997. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario, História da Filosofia, Volume1, Editora Paulus, 9ª edição, 2005.

Com a devida vénia ao autor,

Rui Bandeira

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Repto aceite

April 28, 2010

A publicação do interessante texto de Charles Evaldo Boller AViagem motivou, até o momento em que escrevo este texto, quatrocomentários. O primeiro a ser produzido, claramente crítico: "Li otexto cuidadosamente e sou da opinião que o Mestre Maçon,Charles Evaldo Boller, mistura alhos e bugalhos, faz váriasafirmações contraditórias e outras das quais não tem ideianenhuma. Nada das suas premissas lhe permite tirar qualquerconclusão. Estou disposto a discutir consigo o artigo, ponto porponto." (Diogo). Depois, dois comentários sintéticos e adjetivantes:"Inspirador e belo" (LuxAeterna) e "Maravilhoso" (Júnior).Finalmente, um novo comentário de Diogo, no qual, em novepontos, procura concretizar as razões das suas consideraçõesinclusas no seu anterior texto.

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Estas reações mostram-me que acertei ao ter pedido ao IrmãoCharles Evaldo Boller autorização para aqui publicar o seu texto: sótextos de qualidade são suscetíveis de gerar tão contraditoriamenteextremas reações...

Se aos comentários adjetivantes pouco mais há a acrescentar, oscomentários críticos - absolutamente legítimos - do Diogo abremperspetivas interessantes e que talvez propiciem um diálogofrutuoso, de onde resulte um melhor entendimento do texto deCharles Evaldo Boller.

Aceito a proposta do Diogo. Discutamos o texto, então. Troquemos opiniões, analisemos o que nele se escreve. Vamos lá então, ponto por ponto, conforme sugerido. 1 - «Este é nosso novo Universo: nada ao nosso redor, o tempo parado e apenas o Sol a nos iluminar. Neste ambiente especial construído por nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Estamos sem ponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. Não existe ruído ou necessidade de ar. Somos poderosos.» 1 – Se estamos só nós e o Sol e sem ponto de referência a não ser o Sol, não podemos afirmar que nos estamos a mover ou que o Sol se está a mover. De facto, sem um terceiro ponto de referência, nem sequer podemos afirmar que há movimento. Esquece o Diogo que, assumidamente, o texto é uma alegoria - não um tratado científico. Não atentou que, no próprio trecho que transcreve, consta "Neste ambiente especial construído por nossa imaginação".

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A premissa apenas nós nos movemos é estabelecida pelo autor. Faz parte da alegoria... E, desculpar-me-á o Diogo, mas a sua afirmação de que, na ausência de um terceiro ponto de referência nem sequer se pode afirmar que há movimento, não está certa: se variar a posição relativa entre o ponto A e o ponto B, é indesmentível que há movimento. O que pode desconhecer-se, na ausência de um terceiro ponto de referência, é se o movimento foi de A, foi de B ou foi de ambos... Mas, mesmo assim, na economia da alegoria, uma vez que um dos pontos é o observador e este é um ser senciente, é possível ao observador afirmar que ele se move (porque sente o movimento). É certo que, mesmo com esta premissa, não se pode afirmar, com certeza absoluta, que só o observador se move e o Sol está imóvel, pois o observador sente o seu movimento, verifica a diferença de posição relativa em relação ao Sol, mas não pode afirmar, com absoluta certeza que essa variação de posição relativa se deve apenas ao seu movimento ou também ao movimento do Sol. Mas, mesmo considerando este aspeto, a objeção do Diogo carece, a meu ver, de sentido, em face do enquadramento semântico da frase: o Sol - o segundo ponto de referência, na economia do texto está fora do ambiente referido pelo autor. É assim logicamente correta a afirmação de que Neste ambiente especial construído por nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Parece-me, consequentemente, infundamentada esta primeira objeção do Diogo.

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2 - «Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é diminuta a nossa estatura em relação a este Universo ilimitado e sem horizonte. » 2 – Que imensidão, se existo apenas eu e o Sol? Novamente preciso de outro ponto de referência para medir um espaço (a tal imensidão). Esquece o Diogo, ao formular esta sua objeção, que o ponto de partida da alegoria não é um observador absoluta e completamente desconhecedor do mundo e da vida e das leis da Natureza. A alegoria coloca um ser vivente, que viveu, que sentiu, que viu, que algo sabe, enfim, um ser humano normal - metaforicamente o leitor que acompanha o autor na viagem - na situação descrita. Ora, o observador assim hipotizado tem uma experiência de vida, um conhecimento ao menos empírico, que lhe permitem interpretar as suas sensações. Esse conhecimento empírico permite-lhe recordar a dimensão normal como o Sol é visto, no dia a dia, o conhecimento do seu tamanho e a noção de perspetiva. Logo, em função do tamanho aparente da estrela e da noção empírica de perspetiva, qualquer observador mediano pode ter uma noção, ainda que porventura não precisamente precisa da distância a que estará o objeto observado, de forma a poder considerá-la uma imensidão. Mais uma vez, não é absolutamente necessário o terceiro ponto de referência pretendido pelo Diogo, pelo que também me parece infundamentada esta segunda objeção.

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3 - «não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino desconhecido. » 3 – Mais uma vez, sem outros pontos de referência, tanto de espaço como de tempo, não posso ter nenhuma ideia de velocidade. Não atenta o Diogo no contexto da frase, que demonstra que a situação descrita é a hipotizada. A afirmação de que a velocidade de deslocação é estonteada não é uma conclusão - é uma premissa. Ora leia lá o parágrafo todo: Se olharmos todo o trajeto que nos trouxe até aqui é realmente um salto imenso para a nossa pequenez de criatura vivente do espaço tridimensional. Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm. Qualquer forma que adotarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamos agora, não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino desconhecido. Atente lá: Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm. A premissa dada é que

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existe noção de espaço, logo de dimensão, logo - e mais uma vez sensorialmente se usando a perspetiva e a sensação de movimento - é possível a noção de velocidade, independentemente de "outros pontos de referência" (que, aliás, nesta passagem do texto se não diz que não existam; apenas não são expressamente referidos, obviamente por desnecessários para a exposição...). Também rejeito, consequentemente, a pertinência desta terceira objeção do Diogo. E atrevo-me a inferir que, subjacente a estas infundadas objeções do Diogo está sempre a desatenção a que se está perante e numa alegoria, em que assumidamente o autor - logo no início! - declara ser necessário utilizar a imaginação, a fantasia. E, por favor, não me objete, Diogo, que a imaginação não tem lugar no pensamento científico. Se me fizesse essa objeção, de novo teria de afirmar estar errado: a própria ciência experimental baseia-se na confirmação, repetida, através de experiências práticas, de hipóteses colocadas como objeto de investigação. De onde surgem essas hipóteses iniciais senão da imaginação, da capacidade de considerar algo que pode ser verdadeiro ou falso (as experiências o confirmarão ou infirmarão...)? 4 - «Vamos restaurar o fluxo do tempo. » 4 – O que é o Tempo? Há algum relógio universal a medir o Tempo? Esta pergunta, Diogo, tenho-a por retórica... Então o nosso cético,

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hiper-racionalista Diogo esqueceu-se da teoria do Big Bang e deque ela postula que com o dito cujo se criou o Universo, o espaço eo tempo (conferirhttp://pt.shvoong.com/exact-sciences/496537-teoria-da-grande-explos%C3%A3oMeu caro Diogo, essa sua pergunta deveria ter sido formulada aoEinstein, não ao Irmão Charles Evaldo Boller... Não lhe faço a injúria de considerar que estava a colocar estaobjeção a sério... Assentemos em que estava só a testar se euestava distraído... 5 - «É assim, de forma espantosa, com quase nada de matéria,com quase absoluto espaço vazio que o Grande Arquiteto doUniverso produziu toda a matéria sólida do Universo. » 5 – Mas haverá matéria sólida? Se continuar a diminuir de tamanhoe entrar dentro dos núcleos dos átomos e dos electrões não iráperceber que afinal todo o Universo é apenas energia? Meu caríssimo Diogo, está a objetar a quê? Esta sua afirmação éprecisamente a afirmação do texto do Irmão Charles EvaldoBoller... Ora atente lá nesta passagem do texto do Irmão Boller:

É assim que se forma a matéria sólida de que são formados nossoscorpos, o mausoléu de nossos pensamentos. A velocidade comque os elétrons giram ao redor de seus núcleos cria a matéria, lheproporciona solidez. É como tudo no Universo físico é construído.

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Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nósmesmos.

E releia mais esta passagem: O que acabamos de afirmar e virtualmente constatar, foi baseado na informação de que o elétron e o próton contêm massas, isto é, que sejam efetivamente feitos de matéria sólida, mas que o garante? Existem considerações científicas atuais que dizem terem os átomos ora o comportamento de partícula e ora de fenômeno ondulatório, isto é, não possuírem massa e serem constituídas exclusivamente de campos de força, de campos eletromagnéticos, de energia. Aí então a nossa pasma intelectualidade entra em pane! Se os átomos não são nada mais que campos de força, então somos efetivamente feitos de puro espaço vazio, nada somos! Diogo, cuidado! Onde pensava haver divergência, há, afinal, correspondência de pontos de vista! 6 - «Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de Descartes? » 6 – Legitima. O facto de pensar implica a existência de algo que pensa.

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Corretíssimo, Diogo. Se reparar bem, a pergunta do texto do Irmão Boller é meramente retórica. Ele também pensa assim - igualzinho ao Diogo! Mau! Duas vezes seguidas o Diogo a pensar o mesmo que um maçom? Onde é que este mundo vai parar? (Não se zangue com a brincadeira, Diogo! Isto só demonstra que les bons esprits se rencontrent...) 7 - «Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos feitos do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como que por milagre. Um maravilhoso feito do Incriado. Heidegger argumentava que o ser se faz no tempo; e é o que constatamos em nossa experiência; o ser é o nada que o constitui. » 7 – O nada de Heidegger é energia. Bem, Diogo, aqui confesso a minha ignorância! O que não quer dizer falta de diligência... Da breve busca que fiz, apurei que a primeira obra importante de Heidegger se intitulou O Ser e o Tempo - daí talvez a referência do Irmão Boller. Mas nada encontrei que confirmasse a sua afirmação de que "o nada de Heidegger é energia" (confira-se, designadamente, na Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Heidegger - e em http://aquitemfilosofiasim.blogspot.com/2008/07/sobre-ser-e-tempo-de-heidegger 8 - «Porque olhando em nossa própria essência, sequer

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deveríamos existir! É um milagre! Os fatos apontam para umarealidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de semanifestar… Conscientizou-se agora do quanto somos livres eiguais neste Universo criado pelo Grande Arquiteto do Universo? » 8 – Como é damos o salto da existência da vida para a existênciade um Grande Arquitecto? Não é muito mais simples aceitar oaparecimento da vida no Universo do que a existência de um«Grande Arquitecto»? Porquê a existência de um «GrandeArquitecto» que criou um Universo e depois criou a vida? Diogo, para o peditório do debate entre crentes e ateus (ouagnósticos) já dei... Se quiser fazer o favor de conferir o que escrevino texto Serei crente?, já há mais de dois anos, entenderáperfeitamente a minha posição sobre a inutilidade desse debate: Deparei há dias com um notável texto intitulado , que me inspira otexto de hoje. Não é uma resposta, nem uma manifestação dedesacordo - pelo contrário! O meu propósito é tão somentecomplementar as ideias expressas naquele texto com o meu, dealgum modo simétrico, entendimento. Daí, aliás, a escolha do titulodeste meu escrito...

Mas, para bem entender ao que aqui venho, faça o leitor, antes de mais, a fineza de aproveitar o atalho que acima coloquei e ler o dito texto Serei ateu? , da autoria de Carl Sagan. Vale a pena! Já está? Prossigamos, então! Ao ler o referenciado texto de Carl Sagan, a minha primeira

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reacção foi de admiração por ser possível uma tão grande comunhão de pensamento entre duas pessoas que, de alguma forma, estruturaram a sua forma de ver o mundo a partir de pressupostos opostos: noventa e muitos por cento daquilo que Carl Sagan naquele texto escreveu poderia ter sido escrito por mim - se, para tanto, tivesse tido engenho e arte... No entanto, enquanto Carl Sagan se define como ateu (embora colocando na devida perspectiva a sua posição), eu defino-me como crente. E, parafraseando o que Carl Sagan escreveu, também eu julgo adequado colocar um ponto de interrogação à frente da minha afirmação, porquanto também eu, na mesma linha, me considero crente até que alguém me prove racional e definitivamente que não existe um Criador. Concordo plenamente com o entendimento de Carl Sagan sobre a racionalidade, o método científico, o cepticismo, a invenção de seres sobrenaturais pelo Homem, a inocuidade moral do ateísmo, as religiões, os fundamentalismos e os princípios que nos unem na Augusta Ordem Maçónica, independentemente das suas variantes! No entanto, com essa tão grande, tão extensa, concordância, definimo-nos simetricamente: ele ateu, eu crente; ambos cum granum salis, o que vale por dizer, salvo melhor opinião e com reserva de mudança de opinião, se sobrevierem elementos que levem ao convencimento da necessidade dessa mudança. Como é isso possível? Como é possível que tão similar forma de pensar conduza a conclusões diversas e, não diria opostas, mas simétricas? Será que a um se sobrepõe a Fé à Razão, ao contrário

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do outro? A tentação primária é afirmá-lo. Mas creio que seguir tal tentação seria um erro! Pelo contrário, julgo ser asado concluir que ambos baseamos a nossa postura não só em postulados racionais, como até no mesmo postulado essencial: pese embora todo o Conhecimento Científico, toda a Especulação Racional, todos os Postulados de todas as Crenças, há duas afirmações opostas que, até agora, são racional e cientificamente indemonstráveis e racional e cientificamente irrefutáveis em absoluto: Deus existe; Deus não existe! Para cada argumento que se possa aduzir em abono de que Deus existe, existe um argumento com igual força que o refuta; para cada argumento que se apresente demonstrando que Deus não existe, existe um outro, de igual fortaleza que defende essa existência. Para não alongar muito este texto, apresento uma sumaríssima demonstração desta realidade, a um nível propositadamente primário: à pergunta quem criou o Mundo?, respondem os crentes que foi Deus; mas de imediato surge então a irrespondível pergunta de quem criou Deus?; similarmente, a tese da Ciência contemporânea de que o Universo teve origem num Big Bang é reduzida à sua dimensão de nada realmente explicar se se pergunta o que (ou quem...) criou, originou esse Big Bang, como e de onde surgiu essa tão fenomenal e extraordinária Força que do Nada fez surgir o Tudo. E, sendo postulado da Ciência que tudo o que existe pode ser reproduzido (e nisso se baseia a Ciência Experimental), como se explica que, desde há biliões e biliões de

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anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria deesperar uma repetição do fenómeno? E por aí fora se poderia, horas e dias e meses e anos, argumentar,especular, refutar, insistir. Bem o pontua Carl Sagan: não épossível, à luz dos nossos conhecimentos e da nossa razão, nemprovar, nem refutar a existência de Deus.

Carl Sagan, legitimamente, acolhe-se ao seu cepticismo científico para concluir (se bem ajuízo): porque não está provado que exista Deus, não creio que exista e portanto classifico-me como ateu; não posso, no entanto, excluir que se possa vir a provar que existe e, se assim vier a suceder, mudarei de posição. Com igual legitimidade, a minha posição é a de que se não pode provar e se não provou que Deus não exista e a única explicação que encontro para o Universo e para o sentido da Vida é essa existência e portanto classifico-me como crente; não posso, no entanto, excluir que outras prova e explicação possam vir a surgir e, logo, mantenho a minha mente aberta e atenta... Quando olho, numa noite sem nuvens, o Firmamento e vejo milhares e milhares de pontos de luz, maravilho-me com a grandeza, o rigor, a precisão, do Universo e concluo que só uma Vontade Superior e uma Capacidade inentendível ao nível humano pode ter criado toda aquela incomensurável maravilha e mais a Vida que alberga e mais o Homem e a sua capacidade de abstracção, de ética, de razão... Penso que, se tudo isto fosse tentado explicar como um mero fenómeno natural, então ficava por explicar como e porque foi único, e assim, e de onde veio a força, e

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a matéria, e... É exactamente pelo mesmo uso da Razão que sou crente. É por ter o mesmo cepticismo que Carl Sagan que, como ele, acrescento um ponto de interrogação ao meu postulado. Temos a mesma ética, os mesmos princípios. Olhamos ambos para a mesma cerca - só que cada um do seu lado. O que não é nenhuma tragédia... O que nos diferencia não é a Razão, que ambos partilhamos, nem a Fé, que, penso, ambos admitimos apenas como possível consequência, nunca fundamento. O que nos diferencia, creio, é algo intermédio: a Convicção. A Convicção que se funda na Razão e que, quando a Razão não sabe, não pode, dar resposta, parte dela para ir além dela. A Convicção que parte da Razão para, de braço dado com a Intuição, procurar descortinar para além do ponto de partida e do horizonte que nele é visível. É por isso que dois homens habituados a ser racionais e cépticos podem, sem desdouro nem problema, ter diferentes convicções. Até ao horizonte, vêem o mesmo e de igual forma; para além do horizonte, cada um interpreta os elementos que tem e intui o que pensa que para lá estará. Respondendo diretamente às suas perguntas, Diogo, o significado da Vida e da criação (ou da primitiva aparição) da Vida é o Grande Enigma. Uns, como eu, crêem só poder ter sucedido e existir pela intervenção de um Poder Criador (que eu designo por Grande Arquiteto do Universo); outros acreditam que a Vida surgiu de uma

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enorme e incalculável sucessão de acasos cumulativos, que superam em milhões de milhões de milhões (e ponha ainda mais milhões aí...) de vezes as probabilidade de ganhar o Euromilhões. Por mim, tudo bem: cada um acredita no que acredita. Mas, se eu sou crente, quem acredita nessa incalculável megassucessão de mega-acasos, o que é? Talvez... crédulo??? Nesta grande interrogação, o que impera é a convicção. Fique cada um com a sua e não apode quem tem diferente convicção de errado. Neste ponto, Diogo, assentemos num empate! Nenhum de nós pode provar ou infirmar aquilo em que acredita! 9 - «O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é dominar suas paixões com o objetivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos. » 9 – Quase nada separa a maçonaria das outras grandes religiões. Quase que fui tentado a pensar que todo o seu comentário foi uma introdução a esta frase final, Diogo... Pois bem, Diogo, não vá por aí: releia o texto precisamente anterior ao que motivou o seu comentário (A Maçonaria não é uma religião) e não insista em afirmações inconsequentes como a da sua última

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frase: além do mais, esta tecla de afirmar que a Maçonaria é umareligião é normalmente tocada pelos fundamentalistas evangélicosamericanos - e o Diogo vale muito mais que isso e do que eles! Rui Bandeira

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Réplica e tréplica

May 05, 2010

Na sequência dos textos A viagem e Repto aceite, Diogo apresentou a seguinte réplica: Confesso que no meu comentário anterior me desviei da alegoria de Charles Evaldo Boller para mergulhar de cabeça nos aspectos físicos da questão. Com isso ter-me-ei agarrado ao acessório científico e perdido o essencial do pensamento filosófico do autor. Peço desculpa ao Rui por isso. Li e reli de novo o artigo. Não consigo deixar de fazer um paralelismo entre a maçonaria e um

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misto de teísmo [O Grande Arquitecto, o Sol que tudo ilumina] e de Budismo – a constante procura da perfeição pessoal: Retirado de “O que é o budismo?” - «no entanto, o praticante Vajrayana iniciado nas instruções secretas, muitas delas dadas somente de mestre para discípulo oralmente, também denominadas, verdades sussurradas ao ouvido, iria pelo rio em busca das bagas venenosas, para as retirar directamente do rio, e assim todos poderem livremente beber a água o mais rápido possível.» Mas eu sou ateu. A minha filosofia de vida é aprender o mais possível (não num sentido moral) e fazer conscientemente o máximo de bem e o mínimo de mal. Bom, posto isto, vamos então ao debate: Rui: «E, desculpar-me-á o Diogo, mas a sua afirmação de que, na ausência de um terceiro ponto de referência nem sequer se pode afirmar que há movimento, não está certa: se variar a posição relativa entre o ponto A e o ponto B, é indesmentível que há movimento. O que pode desconhecer-se, na ausência de um terceiro ponto de referência, é se o movimento foi de A, foi de B ou foi de ambos...» Sem um terceiro ponto de referência não pode afirmar que há movimento. O movimento é sempre relativo. A move-se em relação a B em função de C. Mais, o movimento é uma função do espaço e do tempo. Pior, o tempo é uma função de um movimento em relação a outro movimento. Enfim, uma grande salgalhada. Evidentemente, estou a falar num sentido estritamente físico, o que não era a intenção do autor. Quanto ao ponto 4 – O que é o Tempo? Há algum relógio universal a medir o Tempo? Rui: «Esta pergunta, Diogo, tenho-a por retórica... Então o nosso céptico, hiper-racionalista Diogo esqueceu-se da teoria do Big Bang e de que ela postula que com o dito cujo se criou o Universo, o espaço e o tempo (conferir

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http://pt.shvoong.com/exact-sciences/496537-teoria-da-grande-explos%C3%A3oMeu caro Diogo, essa sua pergunta deveria ter sido formulada ao Einstein, não ao Irmão Charles Evaldo Boller... Não lhe faço a injúria de considerar que estava a colocar esta objeção a sério... Assentemos em que estava só a testar se eu estava distraído...» Estou a falar muito a sério Rui. Tanto a teoria da relatividade como a do Big Bang estão muito longe de estarem confirmadas. Eu estou convencido que ambas estão erradas. Acredito num Universo infinito e estacionário, sem princípio e sem fim. Quanto ao ponto 5 – Mas haverá matéria sólida? Se continuar a diminuir de tamanho e entrar dentro dos núcleos dos átomos e dos electrões não irá perceber que afinal todo o Universo é apenas energia? «Meu caríssimo Diogo, está a objetar a quê? Esta sua afirmação é precisamente a afirmação do texto do Irmão Charles Evaldo Boller...» - estou de acordo consigo. Quanto 6 - «Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de Descartes? » - também estamos de acordo. Rui: «Para cada argumento que se possa aduzir em abono de que Deus existe, existe um argumento com igual força que o refuta; para cada argumento que se apresente demonstrando que Deus não existe, existe um outro, de igual fortaleza que defende essa existência.» Onde é que o Rui foi buscar este postulado? Rui: «à pergunta quem criou o Mundo?, respondem os crentes que foi Deus; mas de imediato surge então a irrespondível pergunta de quem criou Deus?; similarmente, a tese da Ciência contemporânea de que o Universo teve origem num Big Bang é reduzida à sua dimensão de nada realmente explicar se se pergunta o que (ou quem...) criou, originou esse Big Bang, como e de onde surgiu essa tão fenomenal e extraordinária Força que do Nada fez surgir o Tudo. E, sendo postulado da Ciência que tudo o

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que existe pode ser reproduzido (e nisso se baseia a Ciência Experimental), como se explica que, desde há biliões e biliões de anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria de esperar uma repetição do fenómeno?» Como lhe disse acima, a teoria do Big Bang está muito longe de estar provada. Eu não acredito nela. De qualquer forma, um Deus, qualquer Deus, teria de ser considerado um ser vivo por mais imaterial que o consideremos. Ele não pensa? Não age? Rui: «Respondendo directamente às suas perguntas, Diogo, o significado da Vida e da criação (ou da primitiva aparição) da Vida é o Grande Enigma. Uns, como eu, crêem só poder ter sucedido e existir pela intervenção de um Poder Criador (que eu designo por Grande Arquiteto do Universo); outros acreditam que a Vida surgiu de uma enorme e incalculável sucessão de acasos cumulativos, que superam em milhões de milhões de milhões (e ponha ainda mais milhões aí...) de vezes as probabilidade de ganhar o Euromilhões. Por mim, tudo bem: cada um acredita no que acredita. Mas, se eu sou crente, quem acredita nessa incalculável megassucessão de mega-acasos, o que é? Talvez... crédulo???» Curiosamente, eu também não sou darwinista e portanto também não acredito que a vida e a evolução sejam fruto do acaso. Mas o que é a vida? Entre as muitas dezenas de descrições que podemos encontrar aqui – http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://pt.wikipedia.org/wiki/Vida - uma diz que: «Vida é um sistema que reduz localmente a entropia mediante um fluxo de energia» Donde, será aquilo a que chamamos vida apenas um aglomerado relativamente vulgar no Universo de matéria e energia? Moléculas com um determinado comportamento? Algo, afinal, sem nada de mágico? Quanto ao ponto 9 - «O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é

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dominar suas paixões com o objectivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos. » Rui, aqui não vou discutir consigo. Você já sabe a minha opinião. E eu formulo a tréplica que se segue: Uma vez que Diogo reconhece que as suas primitivas críticas ao texto A viagem não tiveram em consideração o caráter alegórico do mesmo, tenho-as por retiradas. De factual ou científico, a única diferença de opinião que, se bem ajuízo, resta entre Diogo e eu próprio é a questão da necessidade de um terceiro ponto de referência para a verificação se, entre um observador A e um ponto B, algum deles, ou ambos, se movimentam(m). Questão menor, convenhamos. E que, para a economia do debate das nossas ideias e do aprofundamento delas me parece perfeitamente lateral. Desde já declaro não ser um especialista da matéria (aliás, já o declarei neste blogue, considero que não sou especialista de nada, a não ser, hipoteticamente, um "especialista em ideias gerais"), pelo que a minha posição é meramente empírica. E como melhor ilusto as minhas ideias com imagens, procure o Diogo ver a razão da minha afirmação - de que discorda: imagine-se num comboio que, a certa altura, parou numa estação, e está a olhar pela janela. Do lado de lá dela, está um outro comboio, igualmente parado e, olhando pela janela, em sua direção, está uma bela mulher que chama a sua atenção, ao ponto

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de só a fixar a ela e nada mais. (Temos outra situação de observador A e ponto B e nada mais - que capte a atenção, pelo menos). A certa altura, a sua perceção é que a mulher que fixa se está movimentar para a sua direita. Dois pontos, um observador e o observado. O observador, sem necessidade de mais qualquer ponto de referência, regista a existência de movimento. Precisa efetivamente de um terceiro ponto de referência é para determinar se é o comboio "dela" que suavemente se movimenta, ou o "seu" (ou ambos, eventualmente). Dito isto, não procuro convencer o Diogo de nada, tal como certamente o Diogo não espera convencer-me do contrário do que afirmei. Fique cada um com a sua convicção - e felizmente que esta matéria é de irrisório interesse para nosso debate. Diogo introduz a sua réplica com uma afirmação interessante e que eu não vejo motivos para rejeitar liminarmente: afigura-se-lhe que a Maçonaria será um misto de teísmo e budismo. É uma forma curiosa de pôr a questão. E é, no meu ponto de vista, irrespondível: a Maçonaria defende precisamente o máximo de liberdade da interpretação individual dos fenómenos. Certamente algumas pessoas partilharão facilmente da curiosa interpretação do Diogo, algumas outras dela discordarão, outras ainda tenderão a concordar, mais ou menos difusa ou parcialmente com a mesma. Em termos de ética maçónica a única reação a ter é registar a tese, respeitá-la e integrá-la como mais um elemento para a nossa própria análise. Ou seja: o Diogo tende a considerar a Maçonaria um misto de teísmo e budismo. Tudo bem, é a sua análise, que não é, de todo, inverosímil. E mais não há que comentar...

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O outro aspeto da réplica de Diogo que considero merecer especial realce é o conjunto de proposições que começa com a sua afirmação de princípio (que é esclarecedora e que também só pode merecer uma atitude de respeito pela mesma) de que se considera ateu. Fica esclarecido. Nada a comentar ou objetar. Já na sua réplica especificada, Diogo formula ainda uma reveladora e (para mim) inesperada consideração: está pessoalmente convencido que, quer a teoria da relatividade, quer a teoria do Big Bang estão erradas. E prossegue declarando que acredita num Universo infinito e estacionário, sem princípio nem fim. Estas afirmações de princípio de Diogo abrem, creio, um campo de análise porventura interessante e que talvez o próprio Diogo não tenha ainda detetado. Não vou tecer qualquer crítica ao entendimento expresso pelo Diogo - isso seria a violação daquilo que, como maçom, acredito dever-lhe: respeito e tolerância pela sua opinião. Nem vou procurar aproveitar-me para extrair conclusões porventura indevidas das suas proposições. Pretendo apenas contribuir para uma reflexão - de quem me ler e do próprio Diogo, em particular. Vou, portanto, formular apenas algumas perguntas. As respostas cada um as dará. O Diogo em particular, em especial no íntimo de si mesmo - onde não tem de temer reações, nem necessita de ninguém impressionar. Já reparou o Diogo que as caraterísticas que atribui ao Universo que concebe (infinito, estacionário, sem princípio nem fim - portanto, eterno) são aquelas que os crentes atribuem à Divindade? Já reparou que eu poderia descrever o Grande Arquiteto do Universo nos mesmos termos? Será que o ateu que o Diogo se

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declara afinal se limita a transferir a resposta ao Grande Enigma daDivindade para o Universo? O que é então esse Universo infinito,estacionário, eterno? Não será afinal o ateu Diogo afinal um crenteno panteísmo? Não andaremos afinal todos a falar da mesma coisa- só que chamando-lhes nomes diferentes? Se assim o entender, pense o Diogo, calma e maduramente, nestasquestões e nas que estas sugerem. Mas faça-o apenas perante simesmo. Não com o intuito de refutar outrem ou de concordar comquem quer que seja. Apenas para aprofundar efetivamente as suasideias, as suas dúvidas, as suas certezas,os seusdesconhecimento. E tirar as suas conclusões. Que - se o Diogo forcomo eu - serão sempre provisórias. E serão suas. Que ninguémtem o direito de criticar ou pôr em causa. Que guardará para si oupartilhará com quem entender, quando entender, se entender. É esta a felicidade e glória de ser Humano! Seja-se maçom ouprofano, ateu ou crente, teísta, ateísta, budista, deísta, panteísta ououtro "ista" qualquer! Rui Bandeira

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May 08, 2010

Ora meus Queridos Manos, Amigos, Curiosos e demais gente boaque vai lendo o que se passa neste "hemisfério discursivo" e"blogueiro".

Sei que têm dado muito pela minha falta, de tal maneira que tenhoa caixo do correio cheia de mensagens de agradecimento pelo meudesaparecimento do circuito.

Mas desiludam-se... isto está a correr mal para o Vosso lado.

ESTOU DE VOLTA ! PIM !

E regresso porque a partir de hoje, 8 de Maio, arranca a Campanhado Pirilampo Mágico 2010.

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E esta eu não perdôo.

É mais uma tradição do Maio português a que todos, novos evelhos, homens e mulheres, nacionais ou estrangeiros, costumamcorresponder com entusiasmo comprando o boneco, este ano decôr “salmão”, lindo, amável e patusco como sempre, pelos 2 eurosde sempre.O resultado da venda vai direitinho para as Cerci’s, que bemnecessitam de ajuda, com a certeza do agradecimento das“crianças” ali recolhidas e tratadas.Comprem o Pirilampo, e/ou o PIN que sempre o acompanha, econtribuam para a alegria das “Crianças” das CERCI’s.

E não se demorem.

Não arrisquem a estragar a coleção dos Pirilampos anuais por faltade um exemplar.

Em caso de dificuldade deixem aqui um comentário com a V.indicação, porque tratarei de vos fazer chegar um Pirilampo,destes, lindos por todos os lados.

E tão fofiiiinhos......

JPSetúbal

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Loja Mestre Affonso Domingues: o sítio e o blogue

May 12, 2010

A presença na Internet da Loja Mestre Affonso Dominguesprocessa-se em dois planos: o sítio da Loja (http://www.rlmad.net/)e este blogue. São dois espaços de comunicação diferentes,embora ambos expressamente pensados e organizados paraserem lidos por maçons e por profanos.

O sítio da Loja assume um cariz mais institucional - embora nãodemasiado. Publica textos maçónicos e material de divulgação, queconsideramos interessante. Em suma, procura espelhar aidentidade coletiva da Loja.

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Este blogue procura ser mais coloquial, diversificado, subjetivo. Oseu objetivo é mostrar como pensam, o que são, os maçons daLoja Mestre Affonso Domingues. Por isso, o subtítulo deste blogueafirma que este é feito por maçons da Loja Mestre AffonsoDomingues - não pela Loja! Este blogue é a concretização de umdos princípios essenciais da Maçonaria: o respeito da identidadeindividual de cada um, a riqueza que constitui a integração dadiversidade - de pensamento ou da simples opinião, da religião, desentimentos, de estilos, de personalidades.

Com estes dois diferentes instrumentos (sítio e blogue), a Lojamostra a quem quiser ver duas diferentes facetas da Maçonaria:enquanto grupo, com um acervo de valores comuns (o sítio, cujoresponsável sabe que tudo o que ali é publicado é visto, lido eentendido como manifestação da Loja) e (blogue) enquantoindivíduos, pessoas, maçons individualmente considerados, queespelham as suas opiniões, sentimentos, estilos, com a diversidadeque cada um que aqui escreve mostra. O todo composto porindivíduos com um núcleo de valores comuns (sítio), os indivíduosque, na sua diversidade, contribuem para as caraterísticasespecíficas do grupo (blogue). Quem consulta o sítio, consulta ainformação, as ideias do grupo, do todo, da Loja; quem lê o blogue,contacta com as ideias de quem escreve, assumindo-se comomaçom e como integrante da Loja, mas sempre e principalmenteposições individuais, independentes, pessoais. No sítio, tem-se opensamento coletivo da Loja; no blogue os pensamentosindividuais dos maçons que integram a Loja e que se dispõem aaqui os expressar, e quando a tal se dispõem.

Por isso, ainda que este blogue tenha tido, até agora, a maior parte dos textos nele publicados escrita por mim, sempre deixei bem

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claro e bem frisado que este blogue não é o blogue do RuiBandeira e amigos, é o blogue dos Mestres Maçons da Loja MestreAffonso Domingues. A maioria dos textos, até agora ter sido minha,haver períodos em que só se publicam textos meus, são apenaselementos circunstanciais, alteráveis a todo o tempo e,seguramente se, como espero, este blogue tiver longa existência eprosseguir enquanto a Loja existir, a médio ou longo prazoinevitavelmente alterados. Tempo virá - talvez mais próximo do quelongínquo - em que os textos que eu aqui publico serão minoria;tempo se seguirá em que outrem assegurará o essencial desteblogue; tempo chegará em que este blogue prosseguirá sem novostextos meus, em que, na coluna da direita o meu nome não estarámais no rol dos que escrevem aqui - quando muito será porventurareferenciado no número dos que aqui escreveram...

As caraterísticas que este blogue foi assumindo, individualidade detextos, interatividade com os leitores que decidem comentar,diálogo entre os maçons que escrevem e aqueles, profanos oumaçons, que comentam, os caminhos, quiçá anárquicos mas deuma riqueza e abertura gratificantes, que segue, à boleia dainteração dos pensamentos de quem escreve e de quem comenta,podem, por vezes, fazer esquecer que este é um projeto executadopor maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, um meio, um tipo,uma forma específicos, de comunicação da Loja com o seuexterior. Mas é! Que isso por vezes não se note é a confirmação doêxito do projeto! O blogue A Partir Pedra espera merecer serconsiderado um Hino à Liberdade de Pensamento dos Maçons daLoja, enquanto o sítio da Loja, desejavelmente, é a Sinfonia doPensamento da Loja.

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Aqui no blogue, vamos falando, debatendo, expondo ideias sobrede tudo um pouco, sejam matérias maçónicas, seja temas quenada têm a ver com a Maçonaria. O tema aqui é, afinal, a formacomo os maçons pensam e vêem o Mundo, as coisas e osinteresses que têm e que cultivam. O tema do sítio é o pensamentomaçónico, que se divulga e mostra, para que quem quiser encontre,veja e leia. O responsável do sítio entende que alguns dos textosque se publicam aqui no blogue merecem estar incluídos tambémno sítio - e assim o sítio é também uma espécie de arquivo detextos selecionados do blogue. Isso mostra que o que os maçonsda Loja Mestre Affonso Domingues aqui escrevem, sendo o produtodo seu labor, do seu pensamento e da sua liberdade individuais,também integra o acervo do conjunto multifacetado de fontes queintegram o pensamento institucional da Loja - e deixa-nos, aos queaqui escrevem, felizes.

A diferente natureza dos meios sítio e blogue é conscientemente utilizada em planos diversos. Que seja do meu conhecimento, a Loja Mestre Affonso Domingues é pioneira nesta utilização integrada e diferenciada das ferramentas proporcionadas pelas atuais Tecnologias de Informação. Procura utilizar rentavelmente os diferentes meios do século XXI para divulgar uma mensagem cujas raízes ideológicas provêm do Iluminismo e de mais além. E, com isso, procura desmontar dois mitos em relação Maçonaria: o seu secretismo e o seu poder oculto. Ninguém de boa fé pode acusar de secretismo uma Loja que põe à disposição de quem a ela quiser aceder dois meios de comunicação diferentes, com diferentes níveis e estilos de comunicação e com mais de dois milhares de textos sobre si própria, o seu pensamento, a forma como se organiza, o que faz, porque o faz, como o faz, etc., etc.. E quem ler

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e souber ler, atentar e souber entender, facilmente concluirá que oúnico poder que a Maçonaria busca é o de esclarecer, divulgar e,sobretudo, praticar os seus princípios.

A Loja Mestre Affonso Domingues está à beira e comemorar ovigésimo aniversário da sua criação. Esta comemoração envolveiniciativas internas e iniciativas pensadas e trabalhadas e colocadasà disposição de todas as pessoas, sejam ou não maçons. Nostempos mais próximos, as duas diferentes dimensões do sítio e doblogue vão, temporariamente, aproximar-se. O blogue e o sítio,ambos, vão dedicar parte dos seus espaços à divulgação dovigésimo aniversário da Loja e às iniciativas por esta efeméridesuscitadas.

Para já, fiquem atentos: a primeira iniciativa a ser divulgada édedicada a todos, profanos e maçons. Mas só vou revelar o que édaqui por uma semana...!

Rui Bandeira

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A Grande Máquina

May 14, 2010

Eis a GRANDE MÁQUINA ! Aí está ela tão bem explicadinha que até eu percebo. E não é fácil conseguir esse resultado... (sou eu que digo !) Quando estudei, com o saudoso Prof. Sedas Nunes, a revolução industrial e seus efeitos (há que anos...) nunca me passou pela cabeça que ao fim de tantos anos fosse levado a estabelecer estas analogias, chegando a conclusões bem conservadoras. De facto continua mais ou menso claro como se mantem a máquina em funcionamento. Um pingo de óleo aqui, um pouco de massa lubrificante acolá... Talvez uma vez ou outra a substituição de alguma peçazita, uma reparaçãozita mais além... Mas... quem deu à manivela a primeira vez ? E o primeiro exemplar, mesmo pensando-o simplicado, quem o montou ? Estamos com o anúncio de um campeonato, ou algo semelhante, de robôts e esses eu conheço, ou posso conhecer facilmente, quem os monta agora e quem os montou no passado. É mesmo muito fácil saber quem construiu/montou e pôs a

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funcionar (o tal primeiro movimento da manivela) o primeiro dosprimeiros robôts. São elas, também, máquinas complexas, com muitos sub-sistemasque se organizam num conjunto harmónico com um único e comumobjetivo à vista. Mas aquele do boneco ? Quem foi o primeiro ? Qual foi o primeiro ? Quando foi o primeiro ?

BUUUUMMMMMMMMMM.... e lá salta um daqueles... Pois,talvez...

Recorro à expressão de um outro professor, e desse dizia-se queera maluco (e devia ser já que foi o único 20 da minha carreira deestudante).

Diria ele neste momento da "conversa", "talvez sim, talvez não outalvez talvez ?"

Nunca soube a resposta a esta pergunta que ele faziacontinuamente já que a nossa insegurança nos faz muito poucoassertivos. Refiro a época dos 15 aos 18 anos na qual se misturamas certezas absolutas com as dúvidas sistemáticas.

É tudo... muito talvez !!!

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Vocês já não se lembravam destas charadas para distração de fimde semana.

Deixo-vos esta. Entretenham-se.

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Bom fim de semana.

J.P.Setubal

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Loja Mestre Affonso Domingues - 20 Anos de História

May 19, 2010

A imagem acima é a da (simples, como convém) capa do livro quea Loja Mestre Affonso Domingues tem já no prelo e vai publicarbrevemente. A sessão de lançamento terá lugar precisamente nodia em que, dia por dia, se completam exatamente vinte anos sobrea emissão, pelo Grão-Mestre da Grande Loge Nationale Française,da carta-patente que marca a criação da Loja, o próximo dia 30 dejunho, pelas 19 horas, no Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, emLisboa (gente fina é outra coisa...).No livro, com bem preenchidas 152 páginas, consta a memória dos vinte anos vividos pela Loja. Os bons e os maus momentos, os êxitos e os fracassos, a participação, ao longo deste tempo, de

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quase duzentos obreiros. Regista-se e dá-se a conhecer os temposde implantação, o primeiro crescimento, a grande crise de1996/1997, a recuperação, os tempos mais recentes. São tambémevocados aqueles que, em qualquer momento, foram obreiros daLoja e já passaram ao Oriente Eterno. Publicam-se dezoitotrabalhos (nós, maçons, chamamos-lhes "pranchas") de dezoitoobreiros atuais da Loja - e apenas dezoito porque só isso o espaçodisponível permitiu...

O livro é edição de autor - da Loja. É a Loja que paga os respetivoscustos de produção, armazenagem e comercialização. Mesmoassumindo o risco destes custos, a Loja,confiante no bomacolhimento desta sua iniciativa de comemoração do seu vigésimoaniversário, abalançou-se a uma edição considerável, queultrapassa a média das edições de autor, de poucas centenas deexemplares.

A comercialização desta primeira edição do livro vai serexclusivamente feita fora do circuito comercial. Vai ser totalmenteefetuada diretamente pela Loja. A sua divulgação vai assentaressencialmente na Internet.

O preço fixado para o livro é de 14 Euros. Porém, uma vez que aLoja assume o risco da publicação, decidiu privilegiar as compras eencomendas efetuadas até ao dia do lançamento. Assim, os livrosvendidos no dia do lançamento e os livros encomendados epagos até esse dia custarão apenas 12 Euros.

As encomendas podem ser feitas mediante o envio de mensagem de correio eletrónico para [email protected], indicando nome, o número de exemplares pretendido e endereço postal para envio. Será acusada a receção da mensagem e fornecido o NIB da conta para onde deverá ser efetuada

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transferência do custo de aquisição e um código que deve sermencionado na ordem de transferência (esta menção de código éessencial para determinar quem procedeu ao pagamento, emordem a ser-lhe enviada a encomenda). A expedição daencomenda para a morada indicada será confirmada por envio demensagem de correio eletrónico para a caixa de correio de ondepartiu a encomenda.

Em alternativa, pode também a encomenda ser feita medianteenvio de cheque do valor correspondente ao número de livrosencomendados e indicação de nome e endereço postal para enviopara Apartado 22777, EC Socorro, 1147-501 LISBOA.

Em qualquer dos casos, o envio será feito, a partir de 15 de junho,no prazo máximo de cinco dias após a receção do pagamento e,para as encomendas anteriores a esta data, entre 15 e 18 de junho.De onde resulta que quem fizer rapidamente a encomendareceberá o livro ainda antes do seu lançamento público!

Bom, e agora o aviso: a edição é grande, mas não é ilimitada. Esteblogue é lido nos cinco continentes, a Loja Mestre AffonsoDomingues é conhecida por muita gente, entre os maçons e osprofanos. COMO É QUE É? ESTÁ À ESPERA QUE ESGOTE ENÃO CONSIGA O LIVRO? Toca mas é a despachar e proceder àencomenda do livro!!!!

Rui Bandeira

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7º Encontro Nacional da APNF

May 20, 2010

Ora desta vez apareço fora do período tradicional dos fins desemana.

Por razão óbvia.

Aqui faço divulgação de um encontro importante, para os quesuportam a doença e para todos os que com ela contactamdiariamente.

Limitar-me-ei a transcrever o texto que recebi, para Vossoconhecimento e participação.

É com grato prazer que convidamos para o 7º Encontro Nacionalda APNF que se realizará no próximo dia 22 de Maio de 2010, apartir das 13,30 h., no INR - Inst. Nac. Reabilitação, sito na AvªConde Valbom, 63, Lisboa .O programa/convite e cartaz seguem junto.

Compareçam e façam a melhor divulgação.

Divulgar é ajudar!... Este é um momento importante para os nossossócios, familiares e amigos que renovamos em cada ano.

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No encontro, aberto a todos os interessados, para além da partecientífica com a participação de médicos e outros técnicos, haveráainda a possibilidade de serem divulgados testemunhos de sóciose/ou familiares que queiram, na primeira pessoa, partilhar a suavivência com a NF. Para o efeito, poderão enviar até ao dia 20 docorrente mês de Maio, para a sede da APNF ou para o E-mail: , umdepoimento sobre o modo como têm vivido ou convivido com a NF,que será posteriormente preparado para ser exposto no local doencontro.

Para mais informações : 960 173 375 ou consulte a página

Ajudem, colaborem... Há quem precise de Solidariedade, deFraternidade e de Igualdade.

JPSetúbal

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As pranchas do livro

May 26, 2010

O texto da semana passada foi ilustrado com a imagem da capa do livro 20 anos de História, que está no prelo para publicação pela Loja Mestre Affonso Domingues. Hoje mostro a capa completa: frente, lombada e contracapa. No texto da semana passada, referi que no livro se incluíam dezoito pranchas (trabalhos) de dezoito obreiros atuais da Loja Mestre Affonso Domingues. Hoje, decidi deixar aqui a informação dos títulos desses dezoito trabalhos. Não apenas para que os leitores deste blogue fiquem - espero - com vontade de o encomendar. Também como ilustração do trabalho que se faz numa Loja maçónica. Como se poderá verificar só pela lista de títulos, a variedade é significativa. Pertencer e trabalhar numa Loja maçónica

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também é aprender e partilhar com os demais o que se aprendeu. Todos os trabalhos que agora a Loja Mestre Affonso Domingues agora partilha com quem ler o livro foram apresentados e debatidos em Loja. Alguns destes trabalhos foram elaborados por então inexperientes Aprendizes, que ainda estavam em processo de descoberta e interiorização do trabalho de um maçom. Alguns desses, hoje já Mestres Maçons que efetuaram outros trabalhos, de maior fôlego, entenderam que o trabalho que gostariam de divulgar fosse o seu primeiro, talvez o menos elaborado, mas seguramente o mais puro. Uns são mais extensos, outros mais curtos. Uns mais elaborados, outros mais simples. Todos ilustram igualmente uma parte significativa do trabalho que se faz na Loja Mestre Affonso Domingues. O que a Loja hoje é também decorre dos trabalhos que cada um ali elaborou e apresentou e que todos, ao longo do tempo, fomos ouvindo e discutindo. No fundo, a expressão da receita simples da Maçonaria: a melhoria do indivíduo pelo coletivo; a melhoria do coletivo pelos contributos dos indivíduos. Eis, pois, os títulos das dezoito pranchas, pela ordem em que as mesmas aparecem no livro: Mestre Affonso Domingues Contra a indiferença O silêncio dos Aprendizes Êtes-vous maçon? A união dos maçons L'égalité est la base de toute liberté A arquitetura no grau de Companheiro

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Pensamentos, sensações e emoções de um Aprendiz - parte II Irmandade e música Intocáveis Quantos compõem uma Loja justa e perfeita Breves reflexões acerca do Tudo A dúvida Primeiro passo. A Luz Maçonaria e intervenção na sociedade A identidade social Maçonaria e Ambiente Se está interessado em tomar conhecimento do trabalho de uma Loja maçónica, não precisa de grandes esforços: basta encomendar e ler o livro 20 anos de História da Loja Mestre Affonso Domingues. As encomendas podem ser feitas mediante o envio de mensagem de correio eletrónico para [email protected], indicando nome, o número de exemplares pretendido e endereço postal para envio. Será acusada a receção da mensagem e fornecido o NIB da conta para onde deverá ser efetuada transferência do custo de aquisição e um código que deve ser mencionado na ordem de transferência (esta menção de código é importante para ajudar a determinar quem procedeu ao pagamento, em ordem a ser-lhe enviada a encomenda). A expedição da encomenda para a morada indicada será confirmada por envio de mensagem de correio eletrónico para a caixa de correio de onde partiu a encomenda. Em alternativa, pode também a encomenda ser feita mediante envio de cheque do valor correspondente ao número de livros encomendados e

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indicação de nome e endereço postal para envio para Apartado22777, EC Socorro, 1147-501 LISBOA. Rui Bandeira

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Eu serei, apenas, mais um! A partir pedra ao Vosso lado…a bem da Ordem.

June 02, 2010

Um obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues, o atual Vice-Grão-Mestre, Muito Respeitável Irmão José Moreno, apresentou a sua candidatura ao ofício de Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP. Se for eleito, não será o primeiro maçom constante dos quadros da Loja Mestre Affonso Domingues que exercerá esse ofício: os três primeiros Grão-Mestres da GLLP/GLRP foram obreiros fundadores desta Loja! José Moreno tem a experiência necessária e adequada para bem vir exercer o ofício a que se candidata, como facilmente se pode

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verificar pelo seu currículo: Natural de Bragança, 23 de Setembro de 1953 Advogado e Gestor Integrou diversos Gabinetes Governamentais Membro de Órgãos Sociais de Empresas, Instituições e Associações de caráter social e cultural Iniciado na Maçonaria em 1992, na R.·. L .·. Mestre Affonso Domingues, onde ainda hoje é membro efetivo Desempenhou o cargo de Venerável Mestre nas R .·. L .·. Luz do Norte, Anderson, Bispo Alves Martins, Mestre Affonso Domingues e Mercúrio Peticionário de 15 R .·. L .·. Membro honorário de diversas Lojas Nacionais e Estrangeiras Cargos Desempenhados na Grande Loja: • Assistente do Grande Superintendente do Templo • Grande Superintendente do Templo • Grande Inspetor • Grande Porta Gládio (o primeiro eleito) • Vice-Grão Mestre Altos Graus Nacionais e Estrangeiros • Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite; • Past Excelentíssimo Grande Sumo-Sacerdote do Arco Real; • Past Grão-Mestre Críptico do Grande Conselho Mestres Reais e Escolhidos de Portugal • Past Eminentíssimo Grande Comendador da Grande Comenda de

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Cavaleiros Templários de Portugal; • Membro da Ordem dos Sumo-Sacerdotes Ungidos e Consagrados; • Membro da Ordem da Trolha; • Membro da Cruz Vermelha de Constantino; • Membro da Societas Rosicruciana In Lusitania; • Membro do Shrine; e • Grande Oficial Efectivo e Honorário em diversas Estruturas de Altos Graus Estrangeiros. • Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade O seu programa de candidatura, com o título 7 COMPROMISSOS PARA CONSOLIDAR O NOSSO TRABALHO MAÇÓNICO , apresenta as ideias e projetos do candidato em sete linhas de força: 1 - Regularidade e Harmonia Maçónica 2 - Consolidação, Crescimento e Recrutamento 3 - Melhorar a Articulação, Apoiar as Lojas 4 – Instalações 5 - Manter a Estratégia nas Relações Internacionais e Institucionais 6 - Criação de uma Academia de Formação 7- Comunicar mais, Conhecermo-nos melhor O manifesto termina da seguinte forma: Eu serei, apenas, mais um! A partir pedra ao Vosso lado… a bem da Ordem.

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A Partir Pedra ao nosso lado! Gosto!!!

Rui Bandeira

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António Cunha Coutinho, maçom absoluto

June 09, 2010

Há poucos dias, o José Ruah telefonou-me e perguntou de chofre: "Ouve lá.,ainda podes meter mais um texto no livro? É que acabei de saber que o António Cunha Coutinho já faleceu...". Já não podia. Tinha acabado de rever as provas e de ter dado à gráfica a ordem de impressão. Para além de que as 152 páginas estão já bem preenchidas e com letra pequenina. Mas isso era o menos, retirava um qualquer texto meu e utilizava o espaço para um texto evocativo do António Cunha Coutinho. Mas o que tem de ser tem muita força. É premonitória a passagem da introdução aos textos "In memoriam" em que adverti que a evocação dos Irmãos que já partiram para o Oriente Eterno podia não estar completa, pois podíamos de algum não ter sabido do seu falecimento. Foi

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mais cedo que mais tarde que se comprovou isso... Pois bem, se não pode já entrar no livro,opta-se pela segunda melhor solução possível: aqui fica a evocação do António Cunha Coutinho. Na época em que o conheci, andava eu por volta da idade de Cristo, foi talvez o maçom que mais me exasperou! Era um homem tronituantemente conservador, que não perdia uma ocasião, asada ou nem tanto, para alardear o seu conservadorismo. Conservadorismo é uma maneira de dizer... Na época, eu via o António Cunha Coutinho como um ultraconservador, ultramontano e tudo o mais que eu me pudesse lembrar com a palavra ultra... Para mim, que atingira o que veio a ser a maioridade quando ocorrera a Revolução dos Cravos e vivera aqueles tempos de mudança e de esperança, as ideias do António Cunha Coutinho, em relação às questões políticas, sociais, de costumes, etc., não podiam ser mais contrárias às minhas. O que nunca impediu - acentue-se bem! - prolongadas, amenas e agradáveis cavaqueiras de Irmãos, que conviviam sem problema com as mútuas diferenças. Certo dia, na sequência de uma das costumadas diatribes que o António se comprazia em debitar, atirei-lhe, provocador: "Ó António, estou a ver que para ti até o Salazar foi um perigoso esquerdista...". O António suspendeu o discurso, esboçou um sorriso malandro, piscou o olho e, baixando a voz, sussurrou-me, cúmplice: "Ora estás a ver como percebeste?". E eu fiquei desarmado!

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Com o passar do tempo e a convivência, percebi mais e melhor. Classificar o António Cunha Coutinho de conservador, ultramontano, ou qualquer outro epíteto do género era incorreto e redutor. O António Cunha Coutinho era, tinha orgulho de ser, e mostrava-o a quem quisesse e soubesse ver, bem mais do que isso: era a representação do pensamento do português do antigamente, do Antigo Regime, da velha tradição lusitana! E, quando falo do Antigo Regime, não falo do tempo da Outra Senhora, nem da monarquia. O pensamento do António recuava bem mais atrás, ao tempo do senhor D. Miguel, rei absoluto de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África e resto do Mundo! O António era conservador, mas não era só conservador. Era também monárquico, mas não era só monárquico. Era, com todas as letras, miguelista! Esclareça-se: estamos a falar no plano dos arquétipos, que duvido bem que quem vivia no século XX ainda conseguisse ser um vero miguelista, absolutamente servidor de absoluto rei. Mas o António mostrava orgulhosamente a sua costela miguelista, obviamente monárquica, mas sobretudo tradicional, da tradição rural da linhagem portuguesa, do Portugal de antanho que, para o bem ou para o mal, faz parte das nossas raízes. Com o tempo, aprendi que as diatribes políticas e sociais do António eram sobretudo um meio de provocar, de expressar de forma propositadamente chocante, que havia e há na nossa lusitana alma caraterísticas que podem não estar na moda, mas que bem andamos em não desprezar: a honra, a fidelidade à palavra dada, a tenacidade, a capacidade de lutar, contra tudo e

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contra todos, por aquilo em que se acredita, se necessário quebrando, mas nunca torcendo. Este era o verdadeiro António Cunha Coutinho, o que se escondia por detrás das suas provocações e diatribes. O conservador e ultramontano era o personagem que ciosamente escondia os Valores que só aos mais atentos deixava entrever! Longas horas de mútuas e bem-dispostas provocações com bonomia passámos e vivemos! E por entre as nossas discordâncias, mais tarde ou mais cedo, lá passava a mensagem do apreço à honra, da verticalidade, dos Valores que o homem que se quer de bem deve, sempre, incansavelmente, cultivar e proclamar - nem que seja de forma provocatória! Do António Cunha Coutinho todos, os mais novos, nos exasperámos com o acessório e todos, dos mais novos aos mais velhos, nos ilustrámos com o essencial - os Valores que não são de direita, nem de esquerda, nem do passado, nem do futuro, que são de sempre e dos homens de bem. Naquela época, há cerca de vinte anos, eu já via o António Cunha Coutinho como um velho rijo. Curiosamente, cerca de vinte anos passados, nunca me passou pela cabeça que já não estivesse entre nós. Talvez porque afinal os valores profundos que provocatoriamente transmitia são intemporais. António Cunha Coutinho era absoluto em tudo: nas ideias políticas, nas diatribes, nos valores. Foi, em absoluto, um maçom digno e um

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homem de bem. Assim o declaro, proclamo e recordo.Absolutamente! Rui Bandeira

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Esclarecimento

June 16, 2010

Publicado o texto de homenagem e evocação António Cunha Coutinho, maçom absoluto, recebi um telefonema de um familiar, que me manifestou o seu apreço pelo mesmo. Posteriormente, recebi um segundo contacto, agora de uma familiar, se bem percebi a sua viúva, que me solicitou que retirasse o texto de publicação. Meditei sobre o pedido e resolvi que não o faria, pelas razões que abaixo exponho. Mas o respeito pela memória do António Cunha Coutinho e pelos seus familiares determinam que acrescente e publique aqui algumas informações que a senhora entende relevantes. Tão relevantes que, no seu entender, justificariam a retirada do texto de homenagem.

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Não retiro o texto, desde logo pela inutilidade do ato, para os objetivos pretendidos pela mencionada familiar. As pessoas poderão não ter a noção da mudança de paradigma, mas, uma vez publicado um texto na Internet, é impossível apagá-lo de todo. No mesmo dia em que o texto foi publicado, foi automaticamente enviado por e-mail para os atuais 238 subscritores desse serviço, foi disponibilizado via Blogger, para os atuais 130 seguidores desse serviço, foi enviado para os atuais 17 seguidores no Facebook. Só no próprio dia 9 de junho, o texto foi acedido por 250 outros leitores deste blogue. E, só nos três dias subsequentes, por mais 564. Algumas destas pessoas têm ligados programas que publicam automaticamente os textos deste blogue nas suas páginas de Facebook. Qualquer destas 1199 pessoas pode ter guardado o texto no seu computador. Seguramente, algumas fizeram-no. Qualquer das pessoas que guardaram o texto pode publicá-lo, difundi-lo. enviá-lo por correio eletrónico, hoje, amanhã, para a semana, daqui por um ou dez anos. Apagar um texto que se publicou na Internet é uma ilusão: o texto "apagado" está. automática ou manualmente guardado num desconhecido número de computadores e bases de dados, apto a ressurgir, ser publicado, disponibilizado, a qualquer momento - independentemente da vontade de quem originalmente o publicou e porventura posteriormente o tivesse "apagado". Mas também não retiro o texto, porque entendo não ter o dever de o fazer e não ter a vontade de assim proceder. Reli-o cuidadosamente. Em nada afeta a honra e a memória do António Cunha Coutinho. Pelo contrário, é uma homenagem. Mais: uma

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homenagem feita por quem assumidamente em muito divergia do pensamento, das ideias, das opções do António. O que não impediu de o admirar e de manifestar essa admiração pelo seu caráter. Retirar o texto era retirar a homenagem, trair a admiração e a amizade. A familiar, se bem percebi viúva, do António baseou o seu pedido em duas informações que me transmitiu: que o António Cunha Coutinho veio a retirar-se da Maçonaria e que, no final da sua vida, expressou claramente a sua profissão de fé católica, tendo-se confessado pouco tempos antes de morrer. Aqui ficam as informações adicionais e o esclarecimento. Mas isso não invalida o que publiquei. Todo o maçom pode afastar-se (nós chamamos a isso "adormecer") quando o entender, pelas razões que entender. No caso do António, e estando ciente das convulsões que, no final do século passado, assolaram a Maçonaria Regular, percebo perfeitamente essa sua decisão. Por vezes, o único compromisso possível entre a lealdade pessoal e a manutenção de uma coluna vertebral direita e digna - como sempre o António, concordasse-se ou discordasse-se dele, teve - é o afastamento. E a Maçonaria Regular não só não é incompatível com a fé religiosa, como incentiva os seus membros a praticarem e aprofundarem a sua crença religiosa. Creio que no espírito da minha interlocutora estará, porventura, o entendimento diverso, isto é, que é incompatível para um católico a integração na Maçonaria. Que considerará tal integração, mesmo,

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desonrosa. Que revelá-la atenta contra a memória do António. Obviamente que respeito - só posso respeitar! - o entendimento da senhora. Mas o mesmo respeito obriga-me a consignar que, se for esse o seu entendimento, dele discordo. Muito mais do que alguma vez discordei do António... Ser maçom não só não é desonroso, como muitos dos maiores vultos da História Universal - e da nossa História - foram maçons. O António bastas vezes me enumerou alguns. O António esteve na Maçonaria como homem digno e honrado que era. Com o propósito de se aperfeiçoar e de ajudar outros a serem também melhores. O António deixou de estar na Maçonaria quando o entendeu, pelas razões que entendeu, com a mesma dignidade e honradez que sempre o caraterizaram. Esconder que o António foi maçom é que seria trair a sua memória. Honrá-la é recusar esconder essa sua opção. O António nunca o teria feito: tinha a coluna vertebral bem direita para alguma vez o fazer! Para quem entender que integrar a Maçonaria é um pecado, fica esclarecido que, se o António pecou, abandonou o pecado! E ser justo não é não pecar, é não persistir no pecado. Por mim, que persisto e insisto em afirmar a minha admiração pela firmeza de caráter do António, aqui fica então o esclarecimento: o António desvinculou-se da Maçonaria antes de morrer e morreu

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como, na minha opinião, sempre viveu: como um bom católico! À senhora que me contactou, não dando cumprimento à suasolicitação, aqui fica a minha explicação e o esclarecimento quejulgo devido. Em nome daquilo que, cada um a seu modo, ambosprezamos: a memória do homem bom que foi o António. Rui Bandeira

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30 de junho, 19 horas

June 23, 2010

Estão enviados todos os livros que, via correio eletrónico, nosforam encomendados e pagos. Atingimos o objetivo de, antes dolançamento do livro, ter vendidos pelo menos dez por cento dosexemplares da edição.

De hoje a uma semana - 30 de junho, 19 horas - tem então lugar, no Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, em Lisboa, a sessão oficial de lançamento do livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história". Em colaboração com a instituição anfitriã, serão servidos um pequeno beberete e alguns aperitivos. A apresentação do livro será feita por três dos seus coautores. Seguir-se-á uma sessão de autógrafos, através da qual os interessados poderão ter os seus exemplares autografados pelo Venerável Mestre em exercício - o vigésimo Venerável Mestre - da Loja Mestre Affonso

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Domingues.

30 de junho, 19 horas é a derradeira oportunidade de adquirir olivro em preço de lançamento - 12 Euros. A partir daí, o livro évendido pelo seu preço de capa de 14 Euros.

O livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história" nãointeressa somente a maçons. Foi pensado, estruturado, organizadoe escrito tendo em vista não apenas os maçons mas também -quiçá principalmente - os que não o são.

A Loja Mestre Affonso Domingues acredita que a melhor forma dedestruir o mito de a Maçonaria Regular ser uma "sociedadesecreta" é... agir de forma aberta. A melhor forma de quem não émaçom não se enredar nas malhas deste mito é dispor deinformação fidedigna e clara sobre o que é a Maçonaria, uma Lojamaçónica, o que são e o que fazem os maçons.

É isso que procuramos possibilitar com este livro. Quem o ler ficarácom uma ideia razoavelmente clara do que foi e é a Loja MestreAffonso Domingues, dos seus sucessos e insucessos ao longo devinte anos, das alegrias e tristezas, dos bons e dos mausmomentos. Lerá as homenagens e evocaões que fazemosdaqueles que um dia foram dos nossos e já partiram na derradeiraviagem. Lerá trabalhos que foram expressamente feitos para seremapresentados em Loja e que o foram. Enfim, ficará a saber - por si,pelo que lerá, pelo juízo que pessoalmente fará - o que fazem osmaçons. E verá que, afinal, são homens comuns, que fazem coisascomuns e têm a comum ambição de se tornarem cada diamelhores. Tão só - e, sendo pouco, tanto é!

30 de junho, 19 horas, sabemos que muitos maçons estarão no lançamento do livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história". Teremos muito prazer, todo o agrado, muita felicidade, se

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também tivermos connosco muitos não-maçons. E em com elestrocarmos dois dedos de conversa. Abertamente!

Rui Bandeira

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Eleição do Grão Mestre

June 27, 2010

Decorreu hoje (26 de Junho) a contagem de votos para a eleiçãodo próximo Grão Mestre da GLLP, que será o 6º desde 1990 econsequentemente desde o inicio da maçonaria regular actual.

Foi eleito para o cargo o Muito Respeitavel Irmão José Moreno, querecolheu a maioria dos votos expressos.

O Irmão José Moreno é obreiro efectivo da Loja Mestre AffonsoDomingues. Isso deixa-nos muito orgulhosos pois, apesar de naoser o primeiro GM que militou pela nossa Loja é o primeiro que éeleito sendo membro da Nossa Loja e nela tendo sido iniciado epermanecido desde 1992.

Queremos desejar-lhe um mandato Justo e Perfeito.

Irmão José Moreno, ou melhor MRI Irmao, contas sempre com onosso apoio.

José Ruah

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19 horas: Grémio Literário; até lá: Eça

June 30, 2010

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Já na semana passada deixei o anúncio: hoje, pelas 19 horas, no Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, Lisboa, vai ter lugar o lançamento do livro Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de História. Será feita a apresentação e leitura de alguns excertos do livro, o mesmo será vendido a 12 euros o volume (a partir de amanhã, 14 euros) e haverá sessão de autógrafos. Todos, maçons ou profanos, estão convidados. Mas reparo que ultimamente tenho enchido o espaço deste blogue com o livro. Temo que os habituais frequentadores deste espaço estejam a ficar fartos. Decidi, pois, compensá-los. A minha associação de ideias é simples: livro, Grémio Literário, literatura, Eça. Para compensar os nossos amigos de tanta referência ao nosso escrevinhamento, nada melhor do que um pouco da arte de um sublime escritor, o meu preferido, o grande José Maria Eça de

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Queiroz. Apreciem então este excerto do conto Civilização (que, mais tarde Eça desenvolveria em A Cidade e as Serras): Assim jantámos deliciosamente sob os auspícios do Zé Brás. E depois voltámos para as alegrias únicas da casa, para as janelas desvidraçadas, a contemplar silenciosamente um sumptuoso céu de verão, tão cheio de estrelas que todo ele parecia uma densa poeirada de ouro vivo, suspensa, imóvel, por cima dos montes negros. Como eu observei ao meu Jacinto, na cidade nunca se olham os astros por causa dos candeeiros - que os ofuscam: e nunca se entra por isso numa completa comunhão com o universo. O homem nas capitais pertence à sua casa, ou, se o impelem fortes tendências de sociabilidade, ao seu bairro. Tudo o isola e o separa da restante Natureza - os prédios obstrutores de seis andares, a fumaça das chaminés, o rolar moroso e grosso dos ónibus, a trama encarceradora da vida urbana... Mas que diferença, num cimo de monte, como Torges! Aí todas essas belas estrelas olham para nós de perto, rebrilhando, à maneira de olhos conscientes, umas fixamente, com sublime indiferença, outras ansiosamente, com uma luz que palpita, uma luz que chama, como se tentassem revelar os seus segredos ou compreender os nossos... E é impossível não sentir uma solidariedade perfeita entre esses imensos mundos e os nossos pobres corpos. Todos são obra da mesma vontade. Todos vivem da ação dessa vontade imanente. Todos, portanto, desde os Úranos até aos Jacintos, constituem modos diversos de um ser único, e através das suas transformações somam na mesma unidade. Não há ideia mais consoladora do que esta - que eu, e tu,

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e aquele monte, e o Sol que, agora, se esconde são moléculas domesmo Todo, governadas pela mesma Lei, rolando para o mesmoFim. Desde logo se somem as responsabilidades torturantes doindividualismo. Que somos nós? Formas sem força, que uma Forçaimpele. E há um descanso delicioso nesta certeza, mesmo fugitiva,de que se é o grão de pó irresponsável e passivo que vai levado nogrande vento, ou a gota perdida na torrente! Jacinto concordava,sumido na sombra. Nem ele nem eu sabíamos os nomes dessesastros admiráveis. Eu, por causa da maciça e indesbastávelignorância de bacharel, com que saí do ventre de Coimbra, minhamãe espiritual. Jacinto, porque na sua ponderosa biblioteca tinhatrezentos e dezoito tratados sobre astronomia! Mas que nosimportava, de resto, que aquele astro além se chamasse Sírio eaquele outro Aldebarã? Que lhes importava a eles que um de nósfosse José e o outro Jacinto? Éramos formas transitórias do mesmoser eterno e em nós havia o mesmo Deus. E se eles também assimo compreendiam, estávamos ali, nós à janela num casarão serrano,eles no seu maravilhoso infinito, perfazendo um ato sacrossanto,um perfeito ato de Graça - que era sentir conscientemente a nossaunidade, e realizar, durante um instante, na consciência, a nossadivinização. Que maravilha! Há tempos, num diálogo com um nosso leitor ecomentador assíduo, perguntava-me ele como concebia eu Deus eeu manifestei-lhe a minha impotência para o fazer. Pois bem, ogrande Eça fê-lo com esta beleza toda! Rui Bandeira

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Contents

Retomando o curso... 1

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (I)

4

Os Segredos da Maçonaria, o silêncio e o sabercalar-se

7

A liberdade absoluta 11

Uma história de sucesso ? 15

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (II)

18

A Guerra Civil Inglesa (ou porque não se discutepolítica ou religião em Loja)

23

Tudo se aprende, nada se ensina 27

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (III)

30

Por que são secretos os rituais maçónicos 36

A Maçonaria: tecnologia avançada (I) 40

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (IV - conclusão)

43

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A Maçonaria: tecnologia avançada (II) 48

A Maçonaria: tecnologia avançada (III) 52

O teórico da conspiração 55

A Maçonaria: tecnologia avançada (IV) 62

A Maçonaria: tecnologia avançada (V) 67

Religião e espiritualidade 71

A Maçonaria: tecnologia avançada (VI - Epílogo) 76

O Grifo 80

Os sinais de reconhecimento 82

O terceiro Grão-Mestre 85

Brincadeira de "gente crescida" 93

Os símbolos e os rituais maçónicos: ferramentas detrabalho

97

A Cadeia de União 101

Uma loja maçónica não é uma tertúlia (I) 104

Uma loja maçónica não é uma tertúlia (II) 107

33.º = 3.º 111

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Simplicidade, lógica, razão e o comportamentohumano

116

Prioridades 119

Altos Graus 121

A Maçonaria incorpórea 126

Dos demónios e falsos deuses 130

O Visitante, o Viajante e o Turista 134

Correlação e causalidade (I) 142

O dia foi bom para a Mestre Affonso Domingues 146

O Sexto Grão Mestre 147

Correlação e causalidade (II) 149

Terminando um periodo 153

André Franco de Sousa, maçom nacionalista angolano 155

Correlação e causalidade (III) 157

Poema à Amizade 160

5 de Outubro, revolução e maçonaria 162

José Luís Ribeiro Moita de Macedo, maçomimprovável

165

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Ainda os Altos Graus 169

Vida em sociedade: confiança vs. ordem? 171

Maçonaria e Modernidade 174

"Sim, mas o que é que fazem na cama?" 177

Como se pode - ou não - falar de religião em loja 181

A Maçonaria nos dias de hoje 185

A interpretação e significado dos símbolos maçónicos 191

Regra particular 194

O 1º dia como Venerável Mestre 199

O Vigésimo Primeiro Veneravel Mestre 202

A liberdade na interpretação da simbologia maçónica 204

Vencedor e... vencedor! 208

Os símbolos em Maçonaria: o ensinar e o aprender 212

O quarto Grão-Mestre 215

A clivagem racial e cultural e o insucesso escolar 220

Diversidade 224

As elites e a curva de Gauss 229

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O Orador 233

A pedra bruta 239

O décimo nono Venerável Mestre 244

Quite 249

Meus irmãos em todos os vossos graus e qualidades...... ... disse!

253

O tempo de Companheiro 257

A (im)perfeição e as Old Charges (I) 260

Elegia a um homem bom 263

Boas festas! 267

A distância não se mede em segundos 268

A (im)perfeição e as Old Charges (II) 271

Paulo Guilherme D'Eça Leal, maçom irreverente 275

A (im)perfeição e as Old Charges (III) 279

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Retomando o curso...

July 07, 2010

O capítulo "comemoração dos 20 anos da Loja Mestre Affonso Domingues" está quase encerrado. O livro Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de História foi lançado (muito obrigado aos muitos amigos que estiveram presentes) e está agora em curso de comercialização normal, ao preço de capa de 14 Euros. Quem ainda não adquiriu o livro, pode fazê-lo através do sítio http://esquadroecompasso.com (acedendo ao sítio, clicar em livros; ou, em "procurar produto", colocar "Mestre Affonso Domingues" ou "20 anos de história", ou ainda simplesmente "RLMAD01"), encomendando-o, ou diretamente no "showroom" da "Esquadro e Compasso", situado na Rua do Patrocínio, n.º 19 B, Lisboa (horário de abertura: 14,30-18,30 horas, de 3.ª a sábado). Pode ainda encomendar através do endereço de correio eletrónico [email protected].

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A sessão e o jantar comemorativo do 20.º aniversário da Loja ocorrerão no próximo sábado, dia 10 de julho. E pronto! Basta de recordar o passado! Retome-se o regular curso de viver o presente e preparar o futuro! Este blogue vai assim retomar o seu curso normal. Nas próximas semanas, tenciono responder a algumas questões colocadas pelo Diogo, na sequência de uma sua pergunta e uma resposta minha. Para que quem nos segue possa localizar-se, transcrevo aqui as pergunta e resposta iniciais: Pergunta: Pode-me explicar uma coisa? Porque é que o olho que tudo vê – símbolo maçónico – aparece nas notas de dólar? Resposta: Como deverá saber, grande parte dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América foram maçons, designadamente George Washington, que foi Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado e cuja efígie figura na nota de 1 dólar, aquela em que, no verso, está o "olho que tudo vê". Por outro lado, o "olho que tudo vê" é também uma conhecida representação do Criador. E, se reparar, no mesmo lado da nota de dólar onde está essa imagem, está a divisa "In God we trust", divisa adotada pelos USA. Quer pelo significado simbólico religioso, quer pelo significado simbólico maçónico, os criadores da nota de dólar decidiram colocar lá o símbolo. O que demonstra ainda uma outra coisa: nos EUA, a Maçonaria Americana é CRENTE e uma interventora social conhecida e reconhecida, daí que por lá uma coisa como esta seja

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encarada como natural - e é-o. Essa é uma das razões porqueentendo que a Maçonaria Europeia do século XXI, particularmentea Maçonaria Regular Portuguesa deve rejeitar a fama e o (mau)proveito de secretismo, divulgando o que faz, porque faz, como faze dizendo abertamente o pouco que reserva para si, e porquê -como nós procuramos fazer aqui no A Partir Pedra. A propósito desta resposta, uma pequena correção: não conseguiconfirmar que George Washington tenha sido efetivamente eleitoGrão-Mestre da Grande Loja da Virgínia (a colónia e, depois, oEstado americano onde residia). Conforme verifiquei na página daHistória dessa Grande Loja, aquando das diligências para a suacriação, foi sugerido para seu primeiro Grão-Mestre GeorgeWashington, mas declinou o convite, em virtude das suasobrigações como Comandante na Guerra da Independência dosEstados Unidos (cfr. aqui) e o primeiro Grão-Mestre da Grande Lojada Virgínia veio a ser, em 1778, John Blair Jr.. George Washington veio, no entanto, a exercer funções de "actingGrand Master" (Grão-Mestre em exercício), isto é, a exercerritualmente a função de Grão.Mestre em determinada cerimónia,em substituição do Grão-Mestre de ofício, designadamente nacerimónia da Colocação da Primeira Pedra do Capitólio, em 18 desetembro de 1793, cerimónia de que existe o conhecido quadro quese reproduz acima. Rui Bandeira

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A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (I)

July 14, 2010

A propósito do simbolismo presente na nota de um dólaramericano, e particularmente do "olho que tudo vê", o nosso amigoDiogo comentou:

O facto de George Washington ter sido Grão-Mestre da GrandeLoja do seu Estado não lhe dá o direito de colocar um símbolo daLoja na nota. O símbolo era uma imagem de uma sociedade a queele pertencia (ainda por cima secreta). Parece-me umaimpertinência

E, mais adiante:

A Maçonaria Americana pode ter sido ou ser CRENTE. Mas issonão lhe dá o direito de impor os seus símbolos a uma esmagadoramaioria que não é maçónica.

Quanto à afirmação de George Washington ter sido Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado (Virgínia), já tive oportunidade de a corrigir no texto Retomando o curso... Quanto à afirmação do Diogo

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que George Washington não tinha o direito de colocar um símbolomaçónico na nota... a resposta é: não colocou! Pela simples razãode que a nota de um dólar americano foi concebida e fabricadamuitíssimo depois do tempo de vida de George Washington - quefaleceu em 14 de dezembro de 1799!

A primeira nota de um dólar americano foi criada e fabricada no anode 1862 (mais de sessenta anos depois da morte de Washington) enem sequer tinha a configuração atual: apresentava a imagem deSalmon P. Chase, que foi Secretário de Estado do Tesouro naAdministração de Abraham Lincoln.

A primeira efígie de George Washington só aparece na segundanota de dólar, criada em 1869. Também esta versão era diferenteda atualmente existente: a imagem de George Washington, aocentro, estava acompanhada, à esquerda, de uma imagem deCristóvão Colombo avistando terra...

Em 1886, é criada a nota de um dólar "Silver Certificate", com aimagem de... Martha Washington, a mulher do primeiro Presidentenorteamericano!

Em 1896, imprimiu-se a nota de dólar denominada de "sérieeducacional", em cuja frente figuravam os retratos de George eMartha Washington, constando no verso uma imagem alegórica daHistória instruindo a Juventude.

Em 1899, a nota de dólar passou a apresentar as imagens deAbraham Lincoln e Ulysses S. Grant, sob uma imagem contendo oCapitólio, a águia careca (animal símbolo dos Estados Unidos) euma bandeira americana.

Todas estas notas (e outras versões que foram emitidas, mas queaqui não refiro, por menos interessantes ou curiosas)apresentavam uma dimensão superior à nota de dólar atual.

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A primeira nota de dólar com a dimensão da atual foi introduzidaem 1929, com a efígie de George Washington.

Só em 1957 foi introduzida na nota de dólar a divisa IN GOD WETRUST.

A introdução, no verso da nota de dólar da frente e verso doGrande Selo dos Estados Unidos (que tem a tal imagem com apirâmide inacabada e o "olho que tudo vê" que alimenta asdisparatadas teorias da conspiração que por aí circulam) só ocorreuem 1935, durante a Presidência de Franklin D. Roosevelt.

Portanto, nem George Washington, nem nenhum dos "PaisFundadores" dos Estados Unidos tiveram nada a ver com aintrodução dos símbolos que as teorias da conspiração acusam osmaçons de subrepticiamente terem feito introduzir na nota dedólar...

As informações contidas neste texto, para além das obtidas noslocais para onde apontam os atalhos supra colocados, foramobtidas na entrada da Wikipedia em inglês United States - onedollar bill. Tão simples como isso! Desmontar as disparatadasteorias da conspiração requer apenas um pouco de informação,que nem sequer dá um grande trabalho a obter...

No próximo texto, tratarei dos símbolos incluídos no Grande Selodos Estados Unidos (a tal pirâmide inacabada e o "olho que tudovê"), sempre apontados como "provas" pelos inefáveis teóricos daconspiração.

Rui Bandeira

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Os Segredos da Maçonaria, o silêncio e o saber calar-se

July 17, 2010

Por poucos que sejam, há, de facto, segredos na Maçonaria. Num tempo e numa sociedade em que a vida de cada um se encontra cada vez mais exposta, não é senão natural que a simples existência de segredos cause curiosidade e mesmo perplexidade. Contudo, a existência dos segredos tem mais do que uma justificação. Em primeiro lugar, há as razões culturais, morais e éticas. Diz-se da Maçonaria ser "um sistema peculiar de moralidade, velado por alegorias e ilustrado por símbolos". Ora, se os sistemas de moralidade variam de sociedade para sociedade, as raízes anglo-saxónicas da Maçonaria são bem visíveis através daquilo

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que esta valoriza, como a delicadeza de trato associada aos gentlemen, ou essa mistura de contenção e refreamento que constitui a tão conhecida fleuma britânica. Pode, nesta perspetiva, dizer-se que o segredo, o silêncio e o "saber calar "são manifestação de três virtudes que a Maçonaria muito preza: a circunspeção, a discrição e o auto-controlo. Terá sido esta atitude, a par de um contexto histórico de guerras religiosas e de luta política de que a Maçonaria queria (e quer) manter-se afastada, que ditou o 6º Landmark, "A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros." Quantas vezes uma frágil harmonia se consegue, sabe-se lá com que custo, pela exaltação dos pontos de concórdia, e pela minimização da exposição dos pontos de dissenção... É por isso que, em Maçonaria, se respeita em absoluto a liberdade de expressão de cada um - ao mesmo tempo que se espera que cada um tenha aprendido a, no seu exercício, não ameaçar a harmonia, o equilíbrio e a fraternidade. Em segundo lugar há razões simbólicas e metodológicas. Diz-se que, nos tempos da Maçonaria Operativa, seria através de sinais secretos, próprios de cada uma das classes de operários, que os seus membros se identificariam perante os tesoureiros para assim receberem os seus salários diferenciados. Do mesmo modo, cada grau - Aprendiz, Companheiro e Mestre - tem os seus próprios sinais de reconhecimento, os seus próprios segredos que não

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podem ser revelados aos de grau inferior. A natureza do que se cala é menos importante do que a aprendizagem do guardar silêncio, do calar-se e do refrear-se. Sem calar não se pode ouvir; é por isso que nas sessões é imposto absoluto silêncio aos Aprendizes e aos Companheiros. Como exercício, fora destas, são-lhes confiados os "segredos de grau", que não passam, neste sentido, de um mero exercício de contenção. Por outro lado, a separação entre os graus evidencia e promove o progresso de cada maçon, e permite que, expostos aos mesmos conceitos na mesma ordem cronológica, todos percorram caminhos relativamente semelhantes. Os símbolos marcam o caminho, e a sua interpretação ou o aprofundamento do seu estudo constituem segredos na medida em que antecipação do conhecimento dos mesmos poria em risco a sua frutuosa interiorização. O silêncio não termina, porém, com a elevação a Mestre, antes se transfigura de silêncio imposto em silêncio voluntário. De facto, um Mestre deverá ter já interiorizado o que a sabedoria do povo nos repete: que, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Por fim, e em terceiro lugar, encontra-se a reserva da identidade dos irmãos, o que não deixará de fazer sentido face à incompreensão, rejeição e mesmo perseguição de que os maçons foram - e, infelizmente, são ainda em muitos lugares - alvo, pelas mais diversas razões, das políticas às religiosas. Não obstante ser cada um livre de assumir publicamente a sua condição de maçon, está-lhe absolutamente vedado revelar a de quem o não fez. Por poder causar danos reais na vida daqueles cuja identidade fosse indevidamente revelada considero ser este, de entre os vários que os maçons juram guardar, o único segredo verdadeiramente digno

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desse nome.

Paulo M.

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A liberdade absoluta

July 19, 2010

O Diogo, leitor assíduo deste blogue - a julgar pela profusão e extensão dos comentários que cá tem deixado - gosta de "cutucar a onça". Quanto a mim, confesso-me uma "onça altamente cutucável", e gosto de (pelo menos tentar) responder a quem me questiona com sinceridade. Pois seja assim. Irei tentar responder - uma ou duas de cada vez - às questões colocadas nos comentários do último texto. Paulo - «A Maçonaria proíbe no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa… É por isso que, em Maçonaria, se respeita em absoluto a liberdade de expressão de cada um.» Diogo – Esta frase contém ideias incompatíveis. Não pode existir

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liberdade de expressão se todo o debate é proibido. Um dos problemas das palavras é terem tantos significados - e tão diferentes. No site da Infopedia, por exemplo, podemos encontrar vários significados de "discussão", que vão de "análise e troca de ideias sobre um assunto entre duas ou mais pessoas com o objectivo de chegar a um consenso" a "troca de palavras ásperas e por vezes injuriosas, geralmente em voz alta e de modo agressivo; altercação; briga". Parece-me evidente - e de bom senso - que a proibição seja atinente ao segundo significado, e não ao primeiro. Vejamos agora "controvérsia": "discussão sobre um tema ou uma opinião, em que são debatidos argumentos opostos e geralmente acalorados; debate; polémica"; "contestação". Uma vez mais, a questão aqui é o "calor" e os seus efeitos, e não a natureza do que se diz. É claro que nem todo o debate é proibido; desde que dentro das regras de urbanidade, com respeito pela posição do outro, e com toda a delicadeza, pode discutir-se quase tudo. A proibição - mais do que tricentenária - de debate de assuntos políticos e/ou religiosos decorre da experiência de onde tais debates costumam levar quando os envolvidos residam em campos antagónicos: a palavras acaloradas, menosprezo e desrespeito pela posição do outro (o que pode ser feito de forma muito fria e educada mas não menos ofensiva) e defesas e ataques de parte a parte. No final, o confronto de pontos de vista, longe de permitir o enriquecimento de cada um ou de possibilitar uma posição de consenso, apenas redunda em desconforto, mágoa ou - no pior cenário - mesmo de ideias ainda mais extremadas e repisadas pelo confronto.

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Espero que esta rápida análise semântica tenha contribuído para esclarecer o que se pretende, de facto, evitar com esta proibição. Contudo, sei bem que o Diogo não se fica com uma resposta tão superficial. De facto, relegarmos a questão para um mero disagreement linguístico sería risível. O que está em causa é o meu emprego da palavra "absoluto". Poderia eu, para simplificar a coisa, limitar-me a escusar-me, e a retirá-la, dizendo então apenas que "em Maçonaria, se respeita a liberdade de expressão de cada um" em vez de se dizer que se respeita "em absoluto". Todavia, a questão - filosófica - é importante demais para ser deixada cair tão displicentemente - especialmente quando creio que, esta sim, traduz as ideias tão argutamente apontadas como incompatíveis . A "liberdade absoluta" é um conceito curioso. Para ser absoluta tem que ser universal; não podemos defini-la de acordo com as nossas circunstâncias particulares, mas antes devemos considerá-la enquanto o que desejaríamos que outros (quaisquer outros) fizessem nas nossas circunstâncias. Por outro lado, as nossas decisões devem ser a síntese unificadora das diversas influências e constrangimentos; as nossas ações, se bem que livres, devem refletir os condicionamentos que decorrem da nossa vivência em comunidade. Deste modo, a ética da liberdade absoluta não é absolutamente livre. Para ser livres temos que assumir a responsabilidade de escolher no lugar de Todos, de trabalhar para a liberdade de Todos, e agir no contexto que temos com Todos os demais. Ou seja: mesmo a liberdade absoluta tem muito pouco do

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"absoluto" que anteciparíamos. Mais do que um "absoluto", a vida éum permanente compromisso - e aí, na busca de posiçõesrelativamente concordantes mais do que absolutamente finais, aMaçonaria tem muito para ensinar. Paulo M.

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Uma história de sucesso ?

July 21, 2010

Ora bem, cá regresso eu, e cada vez que regresso trago menordose de pachorra para as “cutuquices” ! É da idade, não liguem.Por isso, mas muito mais por razões que alguns de vós bemconheceis (pelo menos o Rui e o Paulo M sabem o que se passa)tornei-me em faltista militante aqui neste “cantinho da escrita” quetambém está “prantado” à beira mar.E se hoje regresso ao convívio destes letrados é para contar uma“história” de sucesso !!!E esta história de sucesso é a do Bernardo.

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Trata-se de um jovem porreiro, castiço na sua limitação, risonhoquase sempre.Tem uma "casa" na “net” que lhe é dedicada e que dá pelo título de“Anda Bernardo !”(http://andabernardo.blogspot.com/) onde está todo o texto destahistória de sucesso, desde o argumento aos interpretes e acabandonos SGS (Special Guest Star).

Como podem ver a lista de SGS’s está aberta, completamenteaberta e o Bernardo, que é o dono da casa, honrar-se-á muito coma Vossa presença na história.Ele gosta de Vocês, é Vosso admirador, Vocês é que não sabem…e provavelmente Ele também não ! Mas esta história que já tem oelenco dos intérpretes fechado, está muito necessitada deConvidados, são precisos muitos SGS’s, e é por isso que venhoaqui contá-la.E desta vez fico todo contente. Quem não gosta de poder contarhistórias de sucesso ? Todos gostam, portanto só posso estarcontente.Agora, o que realmente é importante, é que não me façam ficartriste e que se inscrevam também na lista dos Convidados.

Vá, tem de ser já a seguir ! Vão ao “Anda Bernardo !” einscrevam-se, não tenham vergonha de aparecer nos ecrans davida.No da morte irão aparecer algum dia, quer queiram quer não… Issoeu garanto.Só espero que demorem muito ainda. Não tenham pressa dissoque eu também não.Mas no ecran da vida é a Vossa vontade que manda, e neste casoaté estão convidados. Especialmente convidados !

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E ficam a saber... esta é uma história de sucesso, digo eu que aténem sou aldrabão (?), porque se não fôr… é porque Vocês nãoquiseram que fosse !

Abrações.

JPSetúbal

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A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (II)

July 22, 2010

No verso da nota de um dólar dos Estados Unidos figuram duas imagens, uma com uma pirâmide inacabada e o "olho que tudo vê" e a outra com a "águia americana". Particularmente a primeira das duas imagens é apontada pelos teóricos da conspiração como a demonstração da cabala maçónica, que logrou introduzir dois dos seus símbolos na nota de dólar - sem que se perceba bem o que é que se ganharia com isso (mas isso nunca fez hesitar um teórico da conspiração que se preze...). Pois bem: estas duas imagens foram introduzidas, em 1935, na presidência de Franklin D. Roosevelt, pela simples, evidente e clara razão de que... são o verso e o reverso do Grande Selo dos Estados Unidos! Ah! - gritam triunfantemente os teóricos da conspiração -, então a conspiração maçónica vem de trás e é muito mais grave. Conseguiram colocar símbolos maçónicos no símbolo por excelência da República americana!

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Não é minha preocupação vir agora com os factos perturbar as teorias com que se entretêm aqueles senhores mas... os factos são os que seguidamente apresento. O Grande Selo dos Estados Unidos é usado para autenticar documentos emitidos pelo Governo Federal dos EUA. Esta designação aplica-se não só ao artefacto físico utilizado para essa autenticação, como para designar as imagens que constam do seu verso e reverso. Foi publicamente usado pela primeira vez em 1782. No verso, está o brasão de armas americano (a águia segurando 13 flechas - figurando os 13 Estados originais da União - e um ramo de oliveira com 13 folhas e 13 azeitonas - de novo em representação dos 13 Estados originais -, a divisa E pluribus unum (com 13 letras), que significa "De Muitos, Um" - também utilizada por um popular clube desportivo português, ó teóricos da conspiração! Aproveitai para elaborar mais uma teoriazinha... -, no peito da águia um escudo com 13 - de novo - faixas verticais e sobre a sua cabeça uma glória com 13 - sempre! - estrelas). O reverso tem a pirâmide (de 13 degraus, de novo simbolizando os 13 Estados originais) inacabada, encimada pelo "olho que tudo vê". tendo inscrita na sua base, em carateres romanos, a data 1776 (data da Independência dos EUA) e as inscrições Annuit Coeptis (13 letras...), que significa "Ele Aprova O Nosso Empreendimento" e Novus ordo seclorum, "Nova Ordem Dos Séculos".

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O simbolismo do Grande Selo dos Estados Unidos é, assim, dominado, pelo número 13 (que nenhum significado particular tem em Maçonaria), em referência, repetida, às 13 colónias que declararam a Independência. A própria pirâmide inacabada tem 13 degraus e é inacabada porque os 13 Estados originais estavam abertos a que outros se lhes juntassem. O "olho que tudo vê", também designado por "Olho da Providência" é uma evidente representação de Deus, como sem dúvida alguma resulta da legenda que o rodeia (Ele - Deus, obviamente - aprova o nosso empreendimento - de declarar a independência). Note-se que o "olho que tudo vê" está inserido no interior de um triângulo, representação cristã do símbolo, em alusão à Santíssima Trindade. Esta representação cristã simbolizando o Criador está presente, por exemplo, na catedral de Aachen, na Alemanha, a mais antiga catedral do norte da Europa, cuja construção se iniciou por volta de 790, no reinado de Carlos Magno, que nela está sepultado - muito antes de haver Maçonaria... O simbolismo do verso do selo foi oficialmente apresentado por Charles Thomson perante o Congresso dos Estados Unidos, aquando da apresentação do projeto final do Grande Selo para aprovação por aquele órgão do Poder Legislativo americano (no século XVIII, note-se...), da seguinte forma (tradução livre minha): A pirâmide significa Força e Perenidade. O Olho sobre ela e a divisa aludem aos muitos sinais da Providência em favor da causa americana. A data na parte de baixo é a da Declaração da

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Independência e as palavras por baixo significam o princípio da Nova Era Americana, que se iniciou naquela data. Factos são factos. Calculo que, por muito perturbadores que sejam para as teorias dos teóricos da conspiração, não será por isso que as vão abandonar e vão deixar de insistir que os símbolos da nota de um dólar e do Grande Selo dos Estados Unidos são maçónicos, porque os maçons (melhor dizendo: os maçons de um determinado rito, nem sequer presente nos Estados Unidos), dizem eles - e, se o dizem, passa, segundo eles, a ser verdade... - também usam uma pirâmide como símbolo (e a questão de a pirâmide do selo ter 13 degraus, como os Estados originais e ser inacabada, em alusão à aceitação de mais Estados que se juntassem à União - e agora são cinquenta... - é um mero detalhe que não impede a insistência na tese da cabala maçónica...) e o "olho que tudo vê " é, só pode ser, e "toda a gente" o reconhece como símbolo maçónico, apesar de ser uma secular representação do Criador (desde o tempo dos egípcios, então sob a forma do "olho de Hórus"), especificamente cristã quando inserido num triângulo (simbolizando a Santíssima Trindade) e mostrar-se presente, por exemplo, numa antiquíssima Catedral, construída quando não havia Maçonaria. Mas factos são factos. E, para que não restem dúvidas (senão as "certezas" dos teóricos da conspiração), ainda dedicarei um terceiro texto ao processo de criação do Grande Selo dos Estados Unidos. Assim se verá se este processo foi público e transparente ou encoberto e conspirativo, como juram os ditos teóricos... As informações do texto de hoje foram recolhidas nos seguintes

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artigos da Wikipedia: Great Seal of the United States Annuit coeptis Olho da Providência Catedral de Aachen Tudo locais de muito difícil acesso e de evidente controlo maçónico,como se vê... Rui Bandeira

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A Guerra Civil Inglesa (ou porque não se discute políticaou religião em Loja)

July 23, 2010

Entre 1500 e 1800 diferentes reis e rainhas de Inglaterra perseguiram, prenderam, mataram ou simplesmente incomodaram católicos, anglicanos, metodistas, puritanos, luteranos, presbiterianos, calvinistas, quakers, e virtualmente qualquer outra variação da Cristandade. A convicção pessoal e a fé de cada monarca tinha graves consequências, muitas vezes fatais, nos seus desafortunados súbditos que não oravam perante o mesmo altar. A Guerra Civil Inglesa, iniciada em 1642 entre Monárquicos, partidários do rei Carlos I de Inglaterra e Parlamentaristas, liderados por Oliver Cromwell foi, na sua essência, uma luta entre a

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Igreja estabelecida, apoiada pela nobreza (que pretendia ver o seu poder perpetuado) e protestantes puritanos radicais, oriundos de uma classe média emergente, desejosos de se governar a si mesmos. A guerra só terminaria sete anos depois, com a condenação de Carlos I à morte e a tomada do poder por Cromwell e pelos puritanos. Não obstante Carlos I ter sido mal amado pelo seu povo e não ter propriamente deixado saudades, bastou menos de uma década de um estilo tirânico e sangrento de governação com Cromwell à cabeça para que os ingleses quisessem a sua monarquia de volta. Carlos II foi coroado em 1661 e, ao contrário do seu pai, era um homem bem mais interessado na ciência e na razão do que na perseguição religiosa. Abriu, assim, as portas para uma nova era, uma era que iria acolher favoravelmente os novos princípios da Maçonaria Especulativa. Um dos piores aspetos desta guerra foi ser um conflito de irmão contra irmão, vizinho contra vizinho, amigo contra amigo. Esta terrível circunstância afetaria o futuro e a filosofia da Maçonaria até aos nossos dias. Foi assim que, em 1717, quando a primeira Grande Loja foi formada em Londres, foram estabelecidas regras pouco usuais. Em primeiro lugar, proibiu-se a discussão de religião: as reuniões não seriam interrompidas por argumentos entre católicos, anglicanos, puritanos e protestantes. Enquanto os membros acreditassem em Deus, a sua fé não seria questionada. Em segundo lugar, as batalhas políticas entre monárquicos e parlamentaristas - que tinham dado origem à guerra civil - não seriam toleradas: os maçons estavam determinados a sobreviver às questões que haviam devassado o seu país, e a impedir que quem quer que fosse os pudesse acusar de heresia ou de traição.

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Em seu lugar, as Lojas insistiam no estabelecimento de laços fraternais entre os seus membros. Ficava, de igual modo, estabelecido um valor muito querido à Maçonaria: a tolerância. Eis as razões históricas da proibição da discussão de política ou religião em Loja. A Maçonaria Regular tem - muito tradicional e britanicamente, poderíamos dizer - tendência para ser avessa a grandes "inovações", e para se ater àquilo que o tempo confirmou como sendo adequado. Não houve, até agora, razão bastante para se reverter essas proibições - pelo que estas ainda vigoram. Em muitas Lojas - como na Loja Mestre Affonso Domingues - essa regra não é interpretada no sentido de ser vedada a referência a qualquer tema político ou religioso, mas antes no sentido de proibir qualquer controvérsia ou discussão sectária ou confessional, ideológica ou partidária, que divida a Loja em "lados", em "partidos" e em "partes" que tenham por denominador comum a convicção, a crença ou a ideologia de cada um. Pode, assim, discutir-se se determinada medida política concreta será melhor ou pior, mas sem que nunca se questione - ou se mencione, sequer - partidos ou correntes ideológicas; assim como se pode apresentar um trabalho sobre uma determinada religião, mas sem que seja admissível que a mesma seja criticada. Outras Lojas entendem diversamente, e aplicam uma interpretação mais estrita, abstendo-se de qualquer referência a um e outro tema. Não posso fechar este assunto sem referir a Maçonaria Liberal - de inspiração francesa - em que estas restrições não existem de todo. Saliento, por fim, que estas proibições se referem apenas aos trabalhos em Loja e que, fora destes, qualquer maçon pode pronunciar-se como entenda sobre o

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que tenha por conveniente. Paulo M.

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Tudo se aprende, nada se ensina

July 26, 2010

O mundo só se nos mostra pelos nossos sentido, e a complexidade e a variabilidade da realidade ultrapassam a nossa capacidade de absorver a individualidade de cada ocorrência. Para lidar com essa complexidade generalizamos, sintetizamos e normalizamos, considerando, de acordo com a nossa vivência, serem idênticas coisas que, na verdade, são ligeiramente diferentes. Este mecanismo faculta-nos mais informação, que por sua vez nos permite entender, antecipar e reagir melhor àquilo que sucede em nosso redor. No entanto, não há duas vidas iguais; não há duas experiências do mundo iguais; não há duas realidades iguais. Por isso é que o mundo, tal como o apercebemos, é, mesmo que impercetivelmente, distinto do mundo tal como é apercebido por qualquer outra pessoa. Assim, porque cada um é fruto da visão que tem do mundo, é natural que seja única e irrepetível a matriz que estabelece a própria conceção identitária de cada um de nós.

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Assim, podemos dizer que a nossa identidade passa pelas convicções que decorrem da nossa experiência ao longo da nossa passagem pelo mundo. Ora, essas nossas convicções - especialmente a política e a religiosa - são um pouco como a nudez física. Assim, há quem, (à semelhança dos nudistas - e, até, dos exibicionistas) esteja disposto a desnudar a sua intimidade do ser, do crer e do pensar, expô-la e questioná-la; e, no outro extremo, quem (à semelhança de quem nem ao médico revela a nudez) sinta como agressão o mero questionamento das suas convicções, sentindo que tal abalaria a delicada construção interna da sua relação consigo mesmo, com o mundo e com os outros. Uma Loja Maçónica pode ser vista como um ecossistema de poucas dezenas de pessoas que se reencontram vezes e vezes a fio e que sabem que podem "baixar as defesas" e, sem receio, expor o seu ser, o seu saber e a sua experiência para benefício dos demais. Cada um apresenta, na medida que entende fazê-lo, e mediante o seu grau de conforto em revelar-se, a sua visão do mundo e a súmula que dela fez - a sua pessoal e única experiência - com o intuito de que cada um dos demais possa ver o mundo por outros olhos e retire daí os ensinamentos que entenda. Atacar essa matriz assim exposta seria atacar a pessoa no que tem de mais íntimo, de mais pessoal, de mais sagrado. Por isto, uma das primeiras coisas que se aprende na Maçonaria é a respeitar a diferença e a diversidade, sejam estas de pontos de vista, de crenças ou de convicções. Cada um dá um pouco de si; quem quer, colhe daí o que lhe aprouver. Ninguém é obrigado a aderir a

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conclusões conjuntas, a versões definitivas, a consensosalargados; estes procuram-se apenas até onde é possível fazê-losem atropelar a convicção e a vontade de cada um. É esta uma das formas através das quais a Maçonaria tomahomens bons e os torna melhores. É assim que, em Maçonaria,tudo se aprende e nada se ensina. E é assim, e por isso, que, emMaçonaria, se aprende a calar tudo quanto possa perturbar esteequilíbrio. Paulo M.

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A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (III)

July 28, 2010

Nos textos anteriores, mostrei que as imagens do verso da nota de um dólar americano são, afinal, o verso e reverso do Grande Selo dos Estados Unidos e que os símbolos ali insertos nada têm a ver com a Maçonaria e tudo têm a ver com a independência daquele país. Nada que abale as "certezas" dos teóricos da conspiração, sei-o bem. Mas o meu propósito é esclarecer as dúvidas de quem as tem, não abalar "certezas" de iluminados por "verdades ocultas"... Os teóricos da conspiração, em síntese, clamam que, na nota de dólar, e no Grande Selo dos EUA, os maléficos maçons introduziram símbolos seus (não esclarecem para quê, mas isso são detalhes...). Não se comovem com as explicações demonstrativas de que os símbolos em causa não são maçónicos, sobretudo quando formuladas por um maçom - que, obviamente, faz parte da Grande Conspiração Maçónica e está a querer ocultar,

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disfarçar, esta ponta levantada do véu da Grande Conspiração Maçónica... Não basta, portanto, a demonstração que já fiz. É preciso ir mais além. E ir mais além é divulgar o processo de criação do Grande Selo dos EUA - e deixar que cada um ajuíze, em função dessa informação e dos demais elementos fornecidos, a validade da teoria da conspiração! Logo em 4 de julho de 1776, dia da Declaração de Independência, o então designado Congresso Continental nomeou a primeira comissão para desenhar o Grande Selo ou emblema da nova nação. Acabaram por ser necessários seis anos, três comissões e os contributos de catorze homens para que o Congresso finalmente viesse a aprovar tal símbolo dos Estados Unidos. O desenho aprovado incluía elementos das propostas de cada uma das três comissões sucessivamente designadas. Compunham a primeira comissão Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e John Adams. Dos três, só o primeiro foi maçom. E a sua proposta não foi aceite! Franklin escolheu uma cena alegórica do Êxodo, que descreveu como "Moisés de pé à beira-mar, estendendo a sua mão sobre este e causando o afogamento do exército do Faraó". A divisa que propôs foi: "A Rebelião Contra Os Tiranos É Obediência A Deus". Jefferson sugeriu uma representação dos Filhos de Israel perdidos, guiados de dia por uma nuvem e de noite por uma coluna de fogo, para o verso do Selo; para o reverso, propôs a efígie de Hengest e

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Horsa, os dois irmãos que foram os lendários líderes dos primeiros colonos anglossaxões na Bretanha. Adams escolheu uma pintura chamada " Julgamento de Hércules", na qual este tem de escolher entre o florido caminho da Facilidade ou o rude carreiro do Dever e da Honra. Não sendo versados em heráldica, pediram a ajuda de um artista plástico de Filadélfia, Pierre Eugene du Simitiere (não foi maçom), que veio a elaborar uma proposta com um brasão com seis secções, simbolizando os seis países de onde eram originários os habitantes das colónias independentistas (Inglaterra, Escócia, Irlanda, França, Alemanha e Holanda), rodeado pelas iniciais dos treze estados. Suportavam o brasão uma figura feminina, a Liberdade, e um soldado americano. Sobre o brasão, o "Olho da Providência" inscrito num Triângulo Radiante e a divisa E plurubus unum. A Comissão apresentou o seu relatório com as quatro propostas ao Congresso. Este escolheu a proposta de Pierre du Simitiere, mas pretendendo alterações. Insatisfeito, não deu a sua aprovação final, vindo a ser nomeada uma segunda comissão. Do conjunto de propostas desta primeira comissão, foram incluídos no desenho final do Grande Selo a divisa, o "Olho da Providência" e a inclusão da data 1776. A segunda comissão nomeada foi constituída por James Lovell, John Morin Scott e William Churchill Houston. Tal como os anteriores nomeados, procuraram a ajuda de alguém mais versado em heráldica, Francis Hopkinson, que foi quem fez a maior parte do trabalho. Nenhum dos quatro foi maçom. Embora tal tenha sido alegado quanto a Hopkinson, não existe qualquer prova ou registo

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disso. Hopkinson, um dos signatários da Declaração de Independência, ajudara a desenhar a bandeira americana e foi autor dos Selos de vários Estados. Apresentou duas propostas, com temas de guerra e paz. A primeira continha um escudo com treze barras diagonais, alternadamente vermelhas e brancas, suportado num dos lados pela Paz, uma figura feminina com um ramo de oliveira, e no outro por um guerreiro índio, com arco e flechas. Por cima, uma constelação radiante de treze estrelas. A divisa era "Preparado Para A Guerra E Para A Paz". No verso, a Liberdade, sentada numa cadeira, segurando um ramo de oliveira, com a divisa "Perene pela virtude" e a data 1776. Na segunda proposta, o guerreiro índio foi substituído por um soldado segurando uma espada e a divisa foi encurtada para "Para A Guerra Ou Para A Paz". A Comissão escolheu a segunda proposta e apresentou-a ao Congresso. Mais uma vez, o Congresso não deu a sua aprovação, vindo a nomear uma terceira comissão. Da proposta desta segunda comissão, transitaram para o desenho final as treze listas no escudo e respetivas cores, a constelação de estrelas rodeada por nuvens, o ramo de oliveira e as flechas (da primeira proposta de Hopkinson). A terceira Comissão nomeada foi constituída por John Rutledge, Arthur Middleton e Elias Boudinot. Rutledge veio a ser substituído por Arthur Lee, mas a nomeação deste nunca foi oficialmente formalizada. Tal como sucedera com as duas comissões anteriores, o grosso do trabalho foi delegado num especialista em heráldica, Willam Barton. Nenhum destes homens foi maçom. A proposta de Barton, que a Comissão veio a submeter ao Congresso, continha um escudo ladeado por uma jovem, representando o Génio Da

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República Americana Confederada" e por um soldado americano. Ao alto, uma águia. No escudo, um pilar com uma Fénix Em Chamas. As divisas eram "Em Defesa Da Liberdade" e "Só Virtude Invicta". No reverso, uma pirâmide de treze degraus encimada por um "Olho da Providência" radiante (da primeira comissão) e as divisas "Com O Favor De Deus" e "Perene". Ainda uma terceira vez, a proposta não mereceu a aprovação do Congresso. Da proposta da terceira comissão, transitou para o desenho final a pirâmide de treze degraus. Em 13 de junho de 1782, o Congresso entregou ao seu Secretário, Charles Thomson (não foi maçom) os projetos das três comissões e encarregou-o de elaborar um novo desenho. Thomson, utilizando elementos das propostas das três comissões, elaborou o que veio a ser o projeto finalmente aprovado. De seu, as divisas Annuit Coeptis (Ele aprova o nosso empreendimento) e Novus ordo seclorum (Nova Ordem Dos Séculos). Antes da submissão final ao Congresso, solicitou a Barton que efetuasse uma revisão final, tendo este alterado o sentido das listas para vertical e a posição das asas da águia. O projeto final assim resultante foi submetido ao Congresso em 20 de junho de 1782 e nesse dia finalmente aprovado! Como se vê, uma conceção detalhadamente analisada, feita, refeita e feita de novo, com a participação de catorze homens, dos quais apenas um maçom - e cuja proposta em nada contribuiu para o resultado final! E é perante estes factos - comprovados, registados! - que os

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teóricos das conspirações brandem as suas "certezas"! Maispalavras para quê? Fontes das informações contidas neste texto: http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Seal_of_the_United_States#History http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Seal_of_the_United_States#Speculation_and_conspiracy_theory Rui Bandeira

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Por que são secretos os rituais maçónicos

July 30, 2010

Como se disse já, a Maçonaria tem apenas três tipos de segredos:os rituais, os meios de reconhecimento e a identidade dos seusmembros. Debrucemo-nos hoje sobre os rituais.

Recordo claramente o "ritual" de início de cada dia de escola: entrávamos todos em fila, ordeiramente e em silêncio, colocávamo-nos em locais pré-determinados, respondíamos à chamada, preparávamos os instrumentos de trabalho (a caneta e o caderno diário) e escrevíamos o local e a data do dia, seguidos do sumário; depois disso, cada um tinha procedimentos a seguir - se, por exemplo, pretendia falar, tinha que levantar o braço - bem como tinha variadas limitações à sua ação - não podíamos levantar-nos sem autorização, por exemplo.

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Identicamente, os rituais maçónicos determinam e regulam uma série de acontecimentos que sucedem durante uma reunião (a que os maçons chamam "sessão"), no sentido de conferir alguma ordem aos trabalhos - precisamente do mesmo modo que numa sala de aula. Assim, fazem parte dos rituais procedimentos meramente administrativos como o são a chamada ou a leitura da ata da sessão anterior. Estes procedimentos nada têm de secreto, e poderia dizer-se que só não se referem por não o merecerem, de tão enfadonhos que são... Por outro lado, os rituais também são uma espécie de "peças de teatro", no sentido em que há vários "atores" com "falas" e ações bem definidas e pré-determinadas. Estas ações são um pouco mais elaboradas do que é costume noutras circunstâncias do nosso dia-a-dia, e muito do que se diz e faz é simbólico. O simbolismo, em si, não é oculto; já o significado que lhe é atribuído em determinado contexto pode sê-lo. Há coisas que estão à vista desde o primeiro dia em que se entra num templo maçónico e que nunca são explicadas, antes sendo deixadas - como tantas outras - à interpretação e interiorização de cada um. De outras é dada uma explicação em determinado contexto, como na cerimónia de Iniciação - em que se passa de Profano a Aprendiz - na passagem de Aprendiz a Companheiro, ou na de Companheiro a Mestre. Esses "rituais secretos" nada têm de interessante para quem esteja fora do contexto. Imaginem um músico a assistir a uma secretíssima reunião de alta finança num banco; ou uma pessoa como eu, avessa a futebol, a assistir às secretíssimas reuniões do Mourinho com a sua equipa em vésperas de um grande jogo... Para essas pessoas, pouca ou nenhuma valia teria esse conhecimento.

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Então porquê o secretismo? Por uma razão: porque, para aqueles a quem interessa, há um momento certo para se saber. E porque é que há esse "momento certo", e não se pode saber logo? Procurei um bom paralelismo que o explicasse, e creio que o encontrei: imaginem-se a ler um bom livro policial, daqueles bem elaborados; ou a ver um bom filme de suspense. Agora imaginem que alguém chega, e vos diz: "Ah, conheço, já vi, foi o mordomo na biblioteca com o candelabro." Pior: imaginem que vo-lo dizem mesmo antes de iniciarem o livro ou o filme. Acham que irão retirar o mesmo prazer, ler com o mesmo empenho, analisar com o mesmo estímulo? Claro que não. A experiência ficou arruinada pelo conhecimento prévio. O mesmo se passa com os rituais maçónicos. Por isso se recomenda a quem pretenda ingressar a Maçonaria que não leia, não procure, não se informe. Mas, se o fizer, apenas a si mesmo se prejudica - na mesma medida de alguém que, sorrateiramente, ludibriando-se a si mesmo, ardendo de curiosidade, fosse ler as últimas páginas do tal romance policial. Por isso, e se não pretendem alguma vez ser admitidos na Maçonaria - ou se pretendem mas querem garantir que a experiência fique irremediavelmente arruinada - então basta procurarem que, com o auxílio do nosso "amigo" Google, terão, com alguma diligência e arte, acesso a dezenas de versões de rituais maçónicos de diversas épocas, locais e obediências. Encontrarão também, se as procurarem, partituras de obras musicais famosas, e mesmo vídeos das mesmas. Mas - ah! - só quem já cantou num coro ou tocou numa orquestra sabe o quão

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diferente é estar de fora a ver, ou participar de dentro. Tentem quevos expliquem a diferença, e serão unânimes: "não dá paraexplicar, tens que viver a experiência para a compreenderes". Comum ritual maçónico - já o adivinharam - passa-se o mesmo. Não seexplica, não se revela, não se estuda - vive-se, ou não se entende. Paulo M.

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A Maçonaria: tecnologia avançada (I)

August 02, 2010

Arthur C. Clarke, escritor, inventor e futurista, autor de "2001, odisseia no espaço", afirmou um dia que "qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia ("any sufficiently advanced technology is indistinguishable from magic"). De facto, se considerarmos que a "magia" consiste no uso de métodos sobrenaturais para manipular forças naturais, pode dizer-se que a tecnologia, por ultrapassar de longe o que podemos encontrar na natureza, pode, num certo sentido, ser considerada "sobrenatural". A tecnologia não deixa, contudo, de se basear solidamente - e unicamente, diria eu - no estudo das leis naturais. Explicar o funcionamento de muitos dos artefactos que nos rodeiam está bem para além do conhecimento do cidadão comum. Já não falo de saber explicar como funciona, por exemplo, um telemóvel ou um televisor; mas quantos saberiam explicar como funciona um simples relógio mecânico - como um despertador de corda - ou uns binóculos? Para os explicar são necessários alguns rudimentos de

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ótica num caso, e de mecânica no outro. No entanto, uma vez transmitidos e apreendidos os conceitos, poder-se-ia avançar para o entendimento de engenhos mais avançados - como um motor a vapor, por exemplo. Por outro lado, se tentarmos explicar como funciona um despertador sem nos assegurarmos de que o nosso interlocutor sabe o que é uma alavanca e quais os seus princípios subjacentes, o que é por sua vez essencial ao entendimento de como funciona uma roda dentada, então estamos condenados ao fracasso. O conhecimento desta natureza deve ser tansmitido de forma sequencial, começando-se pelo simples e criando-se progressivamente alguma complexidade com base no conhecimento adquirido, de modo a garantir-se a sua interiorização. Há casos conhecidos de exposição de alguns povos a tecnologias para as quais estes não dispunham de bases de entendimento, e do subsequente aparecimento de cultos de caráter religioso em torno das mesmas. Um dos exemplos famosos é o culto à carga, um tipo de prática religiosa que apareceu em muitas sociedades tribais tradicionais aquando do contacto e interação com culturas tecnologicamente mais avançadas. Esses cultos focam-se na obtenção de riqueza material (a "carga") da cultura avançada através de práticas e rituais mágicos e religiosos, crendo que a riqueza lhes fora facultada e destinada pelas suas divindades e antepassados. É assim que, enquanto que é para nós evidente que o lançamento de mantimentos por avião durante uma fome é um ato de solidariedade, para alguns dos que recebem essa ajuda é de magia que se trata. O modo racional e científico de olhar o mundo está de tal modo

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imbuído da nossa forma de pensar eurocêntrica e ocidental que noscusta a ponderar as alternativas. Muitos dos povos do mundo aindaestão arredados dos fundamentos da forma de pensar que levou aosurgimento do pensamento e do método científicos: aexperimentação e repetição, o isolamento das causas dosfenómenos, o raciocínio e a matemática enquanto ferramentas detrabalho. Em seu lugar encontramos uma profusão deconhecimentos passados de geração em geração em que semistura informação útil sobre plantas, animais e metodologiasvalidáveis com superstições, demonologias e pura feitiçaria. Defacto, a própria matriz cultural subjacente à interiorização enquanto"fenómenos mágicos" de meros acontecimentos naturais dificultatremendamente a tentativa de explicação da sua verdadeiranatureza. Não é, assim, senão natural que manifestações detecnologias estranhas sejam interpretadas como poderosas magiasaos olhos de quem apenas encontra magia no mundo que o rodeia.

Paulo M.

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A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias daconspiração (IV - conclusão)

August 04, 2010

Nos três textos anteriores, expliquei detalhadamente como a pirâmide de 13 degraus e o Olho da Providência foram incluídos no Grande Selo dos EUA e, ulteriormente, na nota de um dólar americano, demonstrando que essa inclusão nada tem a ver com Maçonaria e que a simbologia ali utilizada nada teve a ver com a mesma. Mas afinal os ditos símbolos são maçónicos ou não? O Olho da Providência é uma ancestral representação da

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Divindade. Na mitologia egípcia, encontramos o "Olho de Ra",

também chamado de "Olho de Hórus". No Budismo, Buda é frequentemente referido como o "olho do Mundo". Na iconografia cristã medieval e da Renascença, o símbolo é representado através de um olho inscrito no interior de um triângulo e é utilizado como representação da Santíssima Trindade. Na iconografia maçónica original, este símbolo não existia. A mesma resumia-se ao compasso, ao esquadro, a outras ferramentas da Arte da Construção e a pouco mais. Mas não olvidemos que a Maçonaria nasce cristã. Só mais tarde, em resultado de todo um percurso de prática da Tolerância evolui para a presente configuração aberta que admite todos os crentes, qualquer que seja a sua religião ou crença particular, num sincretismo que balança entre o teísmo e o deísmo (no meu entender, sendo originariamente teísta e assim se mantendo, mas evoluindo para incluir também as conceções deístas). Originariamente os maçons eram todos cristãos. Católicos, da Igreja de Inglaterra, luteranos, ou calvinistas, mas todos cristãos.

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Não admira, assim, que, seja por influência cultural, seja pela crença religiosa, todos os maçons conhecessem e interiorizassem os símbolos cristãos, incluindo o Olho da Providência, símbolo da Santíssima Trindade. A primeira aparição do Olho da Providência na iconografia maçónica surge apenas em 1797 (já depois da criação do Grande Selo dos Estados Unidos), com a publicação do Freemasons Monitor por Thomas Smith Webb. Ali foi incluída a representação do Olho Que Tudo Vê ou Olho da Providência, como forma de recordar a todos os maçons que os seus pensamentos e atos são observados por Deus, o Grande Arquiteto do Universo. E, a partir daí, foi-se expandindo, também nos meios maçónicos, a utilização do Olho da Providência, como representação e símbolo da Divindade. Resumindo: o Olho da Providência é ancestralmente um símbolo da Divindade. Desde a Idade Média e Renascença que foi utilizado como símbolo cristão da Santíssima Trindade e nessa aceção foi incluído no Grande Selo dos Estados Unidos e, por essa via, mais tarde, na nota de um dólar americano. Só posteriormente a essa inclusão no Grande Selo é que, pela primeira vez, foi utilizado em ambiente maçónico. Hoje, é correntemente utilizado como símbolo maçónico. Mas essa utilização atual corresponde a uma apropriação pela Maçonaria do símbolo cristão pré-existente. Quanto à pirâmide de 13 degraus, não tem qualquer significado ou simbologia maçónicos. A iconografia maçónica baseia-se nas ferramentas do ofício da construção e no Antigo Testamento.

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Particularmente importante nessa iconografia é o Templo de Salomão e a Lenda associada à sua construção. Nada na Maçonaria remete para a Tradição egípcia ou suméria, nem para as pirâmides egípcias (bem vistas as coisas, meros jazigos de gente rica e poderosa...) ou sumérias (tidos como artefatos destinados a favorecer a observação astronómica). Referências a pirâmides maçónicas? Só no romance de Dan Brown, O Símbolo Perdido! Mas essa não é, de modo algum, uma referência relevante! Por três razões: 1. Trata-se, assumidamente, de uma obra de ficção; 2. Trata-se de uma obra, assumidamente, escrita por alguém que não é maçom; 3. Trata-se de um romance escrito já no século XXI, insuscetível de criar qualquer tradição, e, obviamente, impossível de ter servido de fonte a um qualquer eventual símbolo maçónico existente no século XVIII nos Estados Unidos da América! Resumindo e concluindo: os badalados símbolos maçónicos do Grande Selo dos Estados Unidos da América e da nota de um dólar americano nem sequer são... símbolos maçónicos! O mais perto que lá se chega é da verificação que, depois da inclusão do Olho da Providência no Grande Selo dos Estados Unidos da América, a Maçonaria apropriou-se e passou a usar também o símbolo, até aí essencialmente cristão do Olho da Providência. Factos são factos! Não que eu acredite que os teóricos da conspiração deixem os factos abalar os seus (pobres) argumentos...

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Fontes das informações contidas neste texto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Olho_da_Provid%C3%AAncia http://en.wikipedia.org/wiki/Eye_of_Providence http://www.masonicinfo.com/eye.htm Rui Bandeira

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A Maçonaria: tecnologia avançada (II)

August 06, 2010

Durante a Idade Média eram os artesãos quem, empregando a destreza manual, a criatividade e o saber acumulado ao longo de gerações, produzia a maior parte dos bens. Por esta altura, os métodos, técnicas e saberes próprios de cada ofício - resultado de séculos de experimentação, erro e repetição (e, bastas vezes, de alguma sorte) – estavam já muito mais próximos do saber científico do que da magia, obtendo resultados consistentes quando sob condições controladas. Por isso mesmo o seu valor era imenso, pelo que constituíam segredos ciosamente guardados. A classe dos artesãos dividia-se em dois grupos: os que tinham o seu próprio negócio - os mestres - e os que o não tinham; estes últimos subdividiam-se em assistentes pagos - ou companheiros - e aprendizes. O grupo mais influente dentre os artesãos era o dos mestres, os que detinham o seu próprio negócio e gozavam de grande prestígio nas suas comunidades.

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Quem quisesse aprender um ofício tinha, primeiro, que ser aceite como aprendiz por um mestre artesão. Este iria, ao longo do tempo - frequentemente, de anos - ensinar-lhes primeiro as bases e depois, técnicas progressivamente mais elaboradas. Em troca, era frequente ficar o aprendiz obrigado a trabalhar um certo número de anos para o seu mestre. No âmbito da sua formação, os aprendizes aprendiam, assim, os “segredos do ofício”, primeiro através da observação do trabalho do mestre e depois através da prática. Esta transmissão de conhecimento queria-se fortemente restrita e regulada, pelo que não só os mestres artesãos apenas revelavam os segredos à medida da progressão dos recipiendários, como os aprendizes tinham, frequentemente, que jurar guardar os segredos que lhes eram confiados, Assim, era-lhes absolutamente proibido revelá-los quer a estranhos quer a aprendizes que ainda os não conhecessem. No momento em que conseguisse trabalhar sem supervisão, podia o aprendiz passar a ser considerado assistente ou companheiro, altura em que passava a receber salário - pois que, até aí, era comum pouco mais receber que alimentação, guarida e a roupa de trabalho. Ao longo do tempo os assistentes continuavam a aprender com o seus mestres, sempre sob condição de segredo. Por fim, se a certa altura, o assistente conseguia angariar para si mesmo clientes que lhe permitissem autonomizar-se e estabelecer-se por conta própria, passava então a ser mestre de uma oficina. Era esta a progressão profissional nesta classe e nesta época. Não é senão natural que, no sentido de defender os seus direitos e

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interesses comuns, os mestres artesãos tivessem procurado associar-se; podemos assim, sem medo de errar, presumir serem as associações de artesãos tão antigas quanto as respetivas artes. Ao longo dos séculos, cada uma dessas associações foi sendo reconhecida perante a sociedade enquanto interlocutor de toda a classe profissional que lhe dera origem. Era frequente as corporações assistirem os seus membros doentes, e tomarem a cargo as viúvas e órfãos dos artesãos menos prósperos. Davam dinheiro e comida aos pobres, e ofereciam aos hospitais a carne que sobrava dos seus banquetes. Refletindo a religiosidade omnipresente na Idade Média, as associações de artesãos operavam sob o patronato de um santo, que era considerado o especial protetor dessa arte, e em honra de quem era comum existir pelo menos uma pequena capela na zona da povoação em que os respetivos artesãos laboravam. O auge do poderio das guildas - associações ou corporações profissionais medievais - deu-se no século XIV; nessa altura, nenhuma associação de artesãos podia existir legalmente sem a licença do rei, do príncipe, do abade ou do senhor do município onde pretendiam estabelecer-se. O reconhecimento real destas corporações de artesãos passava pela elaboração de leis especiais que lhes permitia governarem-se a si mesmos. Estas leis eram elaboradas com base no testemunho oral dos membros mais seniores de cada corporação; podia-se considerar, assim, serem leis produzidas pelas corporações, verdadeiros estatutos aprovados e aceites pelo Rei, e não uma lista de regras estabelecidas e impostas pelas autoridades. Esses estatutos quase sempre detalhavam com precisão as condições de trabalho, dias e horas de

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laboração, tamanho dos artigos, a qualidade da matéria-prima, emesmo o preço de venda; tentavam, igualmente, prevenir fraudes efalsificações, pelo que os mestres eram, por exemplo, obrigados amarcar com o seu cunho pessoal os bens que produziam. Havia, ainda, regulamentos internos, mas desses falarei no próximopost.

Referências:http://www.medieval-spell.com/Medieval-Guilds.htmlhttp://en.wikipedia.org/wiki/Artisan

Paulo M.

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A Maçonaria: tecnologia avançada (III)

August 09, 2010

Uma das ordens profissionais mais poderosas na Idade Média era a dos pedreiros. Os "mestres pedreiros" eram uma mistura dos atuais arquitetos e engenheiros civis, dominando as vertentes técnica e estética; por produzirem obras duradouras e imponentes, boa parte das quais de caráter religioso, eram socialmente reconhecidos como servidores de Deus. A construção de grandes edifícios de pedra era multi-disciplinar, e implicava conhecimentos avançados de física, mecânica e matemática para a conceção da estrutura, para além do domínio da metalurgia, escultura, pintura e química para a ornamentação, que por sua vez tinham motivos baseados no conhecimento da história, da teologia e da mitologia. Congregava, por isso, as mentes mais brilhantes da época, e eram detentores de "segredos" como o teorema de Pitágoras, ou o desenho de certos ângulos e figuras geométricas a partir de instrumentos simples como um fio e dois ou

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três pedaços de madeira. Por essa razão, a par dos estatutos - que eram públicos e regulavam a relação das corporações com a sociedade envolvente – havia regulamentos que visavam a defesa dos segredos do ofício e que, por não se pretenderem revelados, eram apenas oralmente transmitidos de mestre para aprendiz ou de mestre para companheiro. Porque a maioria da população dessa época era analfabeta, essas técnicas, ao ser transmitidas, eram "embelezadas" com histórias que constituíam mnemónicas que pretendiam ajudar a que não esquecessem os passos da sua execução. Por outro lado, estas "histórias" permitiam que as técnicas fossem referidas simbolicamente entre quem as conhecesse sem revelar o seu sentido oculto. Não esqueçamos, ainda, o contexto físico em que tudo isto se dava. Aquando da construção de um grande edifício, a primeira edificação a efetuar-se era um barraco onde os pedreiros se abrigavam, comiam, dormiam, guardavam as ferramentas e passavam os tempos livres - as "lojas". Ainda hoje este termo é usado em algumas regiões do nosso país para designar o espaço térreo sob a zona habitacional, e onde se guardam os animais e as alfaias agrícolas. Grupos de homens passavam aí juntos meses a fio, e por vezes anos; por isso era importante minimizar-se os conflitos, estabelecer uma hierarquia clara, e fomentar o espírito de grupo. Ora, nada torna um grupo mais coeso do que o estabelecimento de regras, costumes e valores partilhados. Não é difícil imaginar a formação dos aprendizes orientada não só para o aspeto prático do desempenho das funções como para o

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estreitamento destes laços entre os que habitavam a mesma loja. Por outro lado, numa época em que as comunicações entrepovoações mais longínquas podiam demorar semanas ou meses,era comum o estabelecimento de meios de reconhecimento; assim,quem chegasse a uma terra estranha e se dirigisse a alguémdizendo-se enviado por fulano, podia simplesmente identificar-serevelando um segredo apenas conhecido deste e do seuinterlocutor. Deste modo, fazia parte dos segredos de algumasassociações de artesãos os meios pelos quais se poderiam fazerreconhecer noutra terra ou perante um estranho que aparecesse. Havia, por fim, outra razão para que algumas das técnicas nãofossem reveladas. Numa época de grande superstição eignorância, a simples aplicação de uma técnica científica podia ser -e era-o frequentemente - interpretada como bruxaria ou invocaçãode demónios. Não será, de facto, muito mais cómodo atribuir osucesso alheio à ação de forças sobrenaturais do que admitir o seumérito e, eventualmente, a sua superioridade intelectual? Paraevitar "contratempos" dessa natureza é que muito do conhecimentoda época, especialmente o ligado à química e à matemática, eracuidadosamente ocultado, não fosse confundido com artes debruxaria ou adivinhação... Manter e saber guardar um segredo era,assim, mais do que o mero cumprimento de um dever ou a defesado ganha-pão: era uma verdadeira "técnica de sobrevivência". Paulo M.

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O teórico da conspiração

August 11, 2010

Tendo mostrado, no conjunto de textos anteriores, como umasimples e fácil busca de alguma informação desmonta uma dasmais persistentes teorias da conspiração envolvendo a Maçonaria,uma última ponta sobra para desenredar este afinal tão simplesnovelo: como é possível que uns criem tão toscas atoardas e outrostão candidamente nelas acreditem?

É possível porque a capacidade humana de fazer o inesperado é verdadeiramente inesgotável, digo eu! Criar tão toscas atoardas decorre, ou de simples e canhestra má fé de quem procura atingir quem não gosta e inventa parlapatices para enganar os incautos - e desses não curo, porque a

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desonestos não dou importância -, ou de inesperada incapacidade de ajuizar com lógica sobre factos desconexos - e a estes, bem vistas as coisas, nem sequer censuro, porque quem a mais não pode, a mais não está obrigado. Os verdadeiros teóricos da conspiração - porque os outros, os desonestos, são apenas cáfila inconsiderada e inconsiderável, de má memória e nula honra - são pessoas com uma incapacidade atroz de analisar factos dispersos com um mínimo de lógica, relacionando o que não é relacionável, generalizando o que não é suscetível de generalização (e pouco o é!), unindo o que não tem ponta por onde se lhe pegue. Qualquer boato assume o cariz de verdade absoluta, qualquer hipótese, por muito absurda que seja, atinge foros de certeza inabalável, qualquer especulação se transforma em verdade absoluta, num desvario em que a imaginação se sobrepõe à razão, o sonho à realidade, a hipótese à verificação. O homem de ciência formula hipóteses e testa-as experimentalmente. Se as hipóteses se confirmam, em experiências repetidas e repetíveis, passam a ser consideradas verdades científicas; se as experiências não confirmam as hipóteses, disso busca o cientista ensinamento para, à luz dos resultados obtidos, formular novas hipóteses, que submeterá de novo à prova de fogo da experimentação. O teórico da conspiração, pelo contrário, encanta-se por uma hipótese que assola o seu espírito e toma-a por verdadeira e apregoa-a como tal, não só sem se preocupar em testá-la através

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da experiência, como rejeitando toda e qualquer demonstração da inveracidade da sua adorada iluminação. O cientista quer saber. Ao teórico da conspiração apenas interessa a sua especulação, elevada por artes da sua vontade ao patamar do que ele passa a considerar verdade absoluta e inderrogável. O teórico da conspiração tem, mais que uma incapacidade, um desinteresse inato pela verificação das suas mirabolantes hipóteses, pela busca de informação que confirme, alicerçando, ou infirme, derrubando, a sua querida efabulação. Que ninguém venha com os seus factos perturbar os belos argumentos de um teórico da conspiração - não só não são, sequer, ouvidos esses factos, como o que ousa atalhar com a simples e chã lógica é repelido como conspirador, cujo único objetivo é impedir, subverter, dificultar, o conhecimento generalizado da "verdade" proclamada pelo teórico da conspiração. Simples factos - verificáveis - são inaptos para abalar qualquer dos brilhantes argumentos do teórico da conspiração. Ao teórico da conspiração não importa se e vero; basta-lhe que lhe pareça bene trovato. O teórico da conspiração efabula alegremente ao sabor da sua inspiração, de forma a denegrir quem não gosta, ao arrepio da lógica, da razoabilidade, da verdade. Relacionar factos dispersos ao sabor da sua imaginação criadora, extraindo conclusões que se não podem extrair, vendo tenebrosas ligações entre factos

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independentes e coincidentes apenas pela força das coisas, é a sua especialidade, amorosamente cultivada contra e acima de tudo e de todos. O teórico da conspiração facilmente extrai uma curiosa conclusão, por exemplo, deste acervo de factos, cada um por si verdadeiro, mas não relacionáveis necessariamente: - A Loja Mestre Affonso Domingues trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite; - A cor do Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria é o vermelho; - A cor da camisola do equipamento principal do Benfica também é o vermelho; -Os maçons Rui Bandeira, José Ruah e JPSetúbal são obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues - O maçom Rui Bandeira é adepto do Benfica; o maçom José Ruah também; o maçom JPSetúbal, idem; - Os maçons não revelam a identidade, os nomes, dos outros maçons (que, sendo ainda vivos, não se tenham assumido publicamente como tal) - ou seja, a quem lhes pergunta, respondem: No Names, Boy!; CONCLUSÃO (obviamente brilhante e irrefutável): a claque adepta do Benfica No Name Boys foi criada pela Loja Maçónica Mestre Affonso Domingues!!!! Pouco importa que isto não tenha qualquer lógica, que se extraiam conclusões de factos não interrelacionáveis. Uma vez que à mente do teórico da conspiração assole esta ideia, passa, de imediato, à

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categoria de Verdade Irrefutável, a ser divulgada e repetida, à exaustão, contra toda e qualquer demonstração da sua irrazoabilidade! E isto não é o pior! O pior é que, mal um teórico da conspiração lance esta excelsa "verdade", logo outro não menos diligente teórico da conspiração fará mais uma "extraordinária descoberta": - Vários elementos da claque No Name Boys foram condenados, em 1.ª instância (no momento em que escrevo isto a sentença ainda não transitou em julgado, mas isso não interessa nada, para um teórico da conspiração que se preze...) por tráfico de drogas e posse de armas proibidas. SEGUNDA CONCLUSÃO (não menos brilhante e obviamente não menos irrefutável): Os maçons fazem tráfico de droga e possuem armas proibidas!!! O exemplo é obviamente exagerado e disparatado (chama-se a isto, em Lógica, a Demonstração do Erro pelo Absurdo). Mas não ponho as mãos no fogo de que, um dia deste, não apareça um iluminado qualquer a clamar que os No Name Boys são todos maçons e que os maçons fazem tráfico de droga e possuem armas proibidas... invocando em abono da sua tese este texto, ao abrigo do princípio (obviamente irrefutável...) com a verdade me enganas...

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Que os teóricos da conspiração, pobres espíritos que a mais não alcançam, se entretenham com alarvidades deste género, isso a mim não me preocupa. Afinal, dos simples é o Reino dos Céus... O que me admira, me faz abrir a boca de espanto, é que gente manifestamente inteligente, e culta, e capaz, aceite sem sombra ou rasto de espírito crítico, as baboseiras espremidas de tão simplórios espíritos, no fundo e afinal numa mistura de crendice acéfala com a mais pura preguiça de verificar a veracidade de factos e da sua efetiva possibilidade de relacionação. Que um simplório qualquer tenha parido a abstrusa tese de que os maçons - vá-se lá saber porquê, para quê e com que vantagens - conseguiram, à socapa e à falsa fé do Povo, inserir símbolos seus na nota de um dólar americano, não me preocupa. O que me perturba é que, anos passados, ainda haja gente inteligente, culta e capaz que acredite nisto, sem sequer se dar ao trabalho de gastar cinco minutos (não precisa de mais...) para verificar a perfeita insanidade deste disparate! Mas isto sou eu, que me sinto incomodado por estes maçadores dos teóricos da conspiração andarem para aí a denunciar tudo e todos e temo que ainda descubram o meu maçónico plano de agente de forças extraterrestres para dominar a Terra e entregar, de mão-beijada, a sua escravizada população ao domínio dos senhores de Sirius, que há uma mão-cheia de anos deram uns quantos segredos aos meus antepassados maçons, para com eles executarmos tão execrando plano (Uupppsss! Entusiasmei-me... Isto não era para escrever... Era segredo... Façam de conta que

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não leram esta última frase e continuem felizes enquantopreparamos o dia do Domínio Final...). Rui Bandeira

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A Maçonaria: tecnologia avançada (IV)

August 13, 2010

A admissão de um aprendiz numa Loja operativa não era feita em privado; pelo contrário, envolvia todos os obreiros. Feita à noite - depois de um dia de trabalho - envolvia um ritual durante o qual era exposta ao aprendiz a história e importância da arte, salientado o privilégio que era para ele ser admitido, e explicado o que dele se esperava. A progressão de um artesão era, assim, uma cerimónia em que, envergando os seus trajes e instrumentos de trabalho - nomeadamente o avental e as luvas - para acolher no seu seio um novo membro, participavam quantos já por ela haviam passado. Para além da transmissão de conhecimento tecnológico, era inculcado no recipiendário todo um conjunto de ensinamentos históricos, religiosos, mitológicos e morais. A utilidade e o âmbito desses ensinamentos, por sua vez, ultrapassava de longe o do mero trabalho da pedra. Podemos compará-los - evidentemente, com alguma latitude de conceito - aos ensinamentos de deontologia e ética que são, ainda hoje, essenciais ao ingresso, por exemplo,

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nas Ordens dos Médicos ou dos Advogados, mas com um espírito que os tempos modernos já perderam. Na prática, estes rituais - com uma grande componente mística - giravam em torno da leitura das "old charges", episódios retirados da bíblia, da História, da lenda ou do imaginário que descreviam a importância, ascendência e grandes feitos dos construtores ao longo dos tempos, e mostrando serem eles os Mestres da Geometria. Um dos mais antigos manuscritos das "old charges" que persistiu até aos nossos dias remonta a 1588; encontra-se no museu da Grande Loja Unida de Inglaterra, e consiste num rolo de papel com a altura de um homem e um palmo de largura. Mesmo no final do século XVI dá-se na Escócia um evento essencial ao surgimento da maçonaria moderna: William Schaw, funcionário da Coroa, leva a cabo a tarefa de regular o funcionamento das lojas que, até então, eram completamente autónomas. Fá-lo através de dois textos fundamentais, conhecidos pelos "Estatutos de Schaw", dois textos legais aprovados pela Coroa da Escócia - um em 1598 e o outro em 1599 - que, pela primeira vez, organizavam os pedreiros escoceses em entidades chamadas "lojas" e os sujeitavam a obrigações administrativas. Entre estas contava-se o pagamento de uma jóia para admissão nas lojas, a formalização da estrutura das reuniões, e a obrigatoriedade de existir um secretário que registasse o sucedido em todas as reuniões - aquilo a que hoje chamamos "atas" - o que permite que, por exemplo, a "Mary's Chapel Lodge" tenha registos ininterruptos das reuniões dos últimos mais de 400 anos. Ficava também formalizado e regulado um antigo costume dos

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maçons operativos: o uso de senhas e sinais secretos. De acordo com o nível de conhecimento que um maçon obtinha, à medida que progredia na arte, era informado de certas palavras ou certos sinais de reconhecimento. Agora, de acordo com os estatutos de Schaw, tomava carácter obrigatório outro costume: a proibição de um Mestre dar trabalho a um operário a não ser que este lhe desse a sua "chave": a palavra e/ou o sinal que atestavam que estava capacitado a fazer determinado tipo de trabalhos. Curiosamente, os Estatutos contemplam também um sistema de mnemónicas, de memorização. Recorde-se que, não obstante a maior parte dos artesãos ser iletrada - não sabiam nem ler nem escrever - era necessário que não esquecessem o que aprendiam. Para esse efeito, era-lhes ensinado um sistema de memorização a que os oradores do período Clássico recorriam para não esquecerem os leus longos discursos. Baseado na visualização mental de um edifício com várias divisões, cada uma com vários objetos, cada um dos quais se associava à ideia que se pretendia recordar, consistia na deambulação mental pelo edifício evocando os símbolos em sucessão. É deste método que vêm as "tábuas de traçar" ("tracing boards") ainda hoje usadas em Loja. A partir de certa altura as lojas operativas terão aceite no seu seio pessoas que não trabalhavam a pedra: nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons". Os primeiros destes eram aristocratas com funções dentro do governo, e responsáveis pela edificação de palácios, castelos e afins, pelo que havia com os mesmos uma ligação laboral. Por um lado, essas pessoas

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buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia. Por outro lado, as lojas, apesar de serem organizações conceituadas e prestigiosas, mais prestígio ganhavam através do reconhecimento social destes seus novos membros. Estes, durante a iniciação como aprendizes nas Lojas, recebiam, além dos segredos, o avental e as luvas (uma vez que não dispunham dos seus próprios objectos de trabalho), e era a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores. A aura das lojas operativas prolongou-se até ao tempo dos Tudor, altura em que os pedreiros começaram a perder relevância em virtude do início do uso do tijolo, muito mais barato do que a pedra, que levou ao progressivo abandono desta última, usada a partir daí apenas nas partes mais nobres dos edifícios. Foi assim que, pelo início do século XVII já não havia em Londres lojas operativas em funcionamento. Não fora a admissão dos "gentlemen masons" e as Lojas ter-se-iam extinto de todo; contudo, à medida que o número destes foi suplantando o de membros operativos, foi mudando o funcionamento e o propósito das Lojas. Já não se dedicando à construção de edifícios de pedra, construiam agora templos simbólicos em que cada um aparava e polia as suas próprias asperezas de caráter no sentido de se tornar uma pessoa melhor, tomando com base as regras morais da maçonaria operativa, e como símbolos os instrumentos de trabalho desta bem como as mnemónicas que serviam para recordar as suas lições tecnológicas. Enquanto se extinguia a Maçonaria Operativa, ia

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surgindo em seu lugar a Maçonaria Especulativa. Referências: http://libcom.org/library/trade-guilds-initiation-through-work-andre-nataf http://www.scottishkey.com/ Paulo M.

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A Maçonaria: tecnologia avançada (V)

August 16, 2010

Na Inglaterra de meados do século XVII o poder do Rei e da Igreja começavam a ser postos em causa por toda uma classe média emergente, o que levou à guerra civil que devassou a Inglaterra entre 1642 e 1649 e à execução de Carlos I, o que deixou a Inglaterra sem rei. Sob um governo republicano liderado por Oliver Cromwell, a Inglaterra foi governada a ferro e fogo no período de pós-guerra (de 1649 a 1660), depois do que o Parlamento restaurou a Monarquia, tendo Carlos II - filho de Carlos I - sido coroado a 1661, com a idade de 30 anos. Um ano depois casaria com Catarina de Bragança. Carlos II, favorável à causa da liberdade religiosa e patrono das artes e da ciência, ficou conhecido como o Merrie Monarch, o Rei Alegre, quer pela sua boa disposição e pelo hedonismo da sua corte, como pelo alívio pelo retorno à normalidade após o governo de Cromwell.

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Enquanto as autoridades política e religiosa em Inglaterra se encontravam diminuídas e fragilizadas - e eram agora mais fonte de desavença do que de união - surgia no Mundo um novo paradigma entre os meios intelectuais da época: o do primado da razão como fonte de legitimidade e de autoridade, num movimento que veio a ficar conhecido como Iluminismo. Este é, historicamente, coincidente com o século XVIII, mas as suas raízes podem ser encontradas algumas décadas antes. Encontramos, logo após a guerra civil inglesa, a sociedade londrina efervescente de associações e clubes onde os cavalheiros podiam socializar uns com os outros; as temáticas decorriam dos novos interesses da época. Assistia-se, ao mesmo tempo, ao declínio das irmandades (associações de homens, normalmente profissionais do mesmo ramo, com fins de assistência mútua na doença ou na morte), que existiam desde o século XI; para congregar as pessoas já não bastava a ideia de assistência mútua. Foi neste contexto que, em 1660, com o propósito de juntar vários tipos de homens no estudo da Ciência, foi fundada a Royal Society. Robert Moray - um alto oficial do exército e também defensor da tolerância religiosa - conseguiu o apoio da família real para a sua fundação. A Royal Society, de que Moray viria a ser o primeiro presidente, tinha uma característica curiosa: não se iniciava aí discussões sobre política ou religião; falava-se de Ciência. Esta sociedade obteve considerável sucesso, graças ao qual a revolução científica atingiu a Europa através da obra de Isaac Newton, que propunha a visão de um mundo que obedecia a regras passíveis de ser formuladas e entendidas pela mente humana.

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Ora, Robert Moray fora iniciado maçon na Mary's Chapel Lodge, e não foi o único "gentleman mason" iniciado numa loja escocesa. Havia muitos outros que, juntando-se em Lojas em Londres ou constituindo clubes, trariam para esta cidade esta visão, esta forma de estar na vida. Sabemos hoje que muitos dos membros da Royal Society se interessavam pelos clubes maçónicos que acabavam de surgir, pois encontravam neles uma mistura dos princípios científicos e racionais que acarinhavam com os princípios morais a que aspiravam, de mais a mais embelezados por uma rica teia de ensinamentos místicos, o que a tornava muito atrativa. A Maçonaria tornou-se, deste modo, na principal "corrente" - se assim se lhe pode chamar - de clubes de cavalheiros. É verdade que, à semelhança dos outros clubes que surgiam, as lojas constituíam um ambiente onde homens de diferentes convicções religiosas e políticas podiam encontrar-se e confraternizar amigavelmente; contudo, o que a Maçonaria tinha que as outras sociedades não tinham era um propósito mais sério, por assim dizer: tornar os seus membros em pessoas melhores, ensiná-los a ser cidadãos dos seus países, e incentivá-los a cultivar-se intelectualmente. Através dos primeiros gentlemen masons, oriundos da clique intelectual da época, a Maçonaria abraçara os valores de um Iluminismo que dava os primeiros passos, cunho que se manteria até aos dias de hoje. Os gentlemen masons tinham conseguido propagar um novo paradigma de autoridade, um novo conjunto de princípios, um novo edifício ético. Tomaram os ideais do Iluminismo e um conjunto de princípios morais transversais às várias

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denominações religiosas da época, enformaram-nos num clube decavalheiros com tradições seculares, e tornaram-nos apelativos aocidadão vulgar. Finalmente, após as guerras religiosas e civis, apósos ódios fratricidas, a Inglaterra dispunha de um movimentounificador que, em torno de uma espiritualidade não sectária, paraalém dos partidos e das religiões, juntasse homens que de outromodo se manteriam para sempre afastados. De 24 de Junho de 1717 - data da fundação, em Londres, daprimeira Grande Loja do mundo por quatro Lojas Maçónicas - a1723 formaram-se, só em Londres, já mais de 30 Lojas Maçónicas,número que explodiu nos anos que se seguiram, com gente detodas as classes a juntar-se à Maçonaria. Os segredos e osconhecimentos tecnológicos dos antigos pedreiros estavam agoraao alcance de todos. As lições morais e a postura perante a própriaexistência retiradas dos antigos símbolos, associados aosprincípios do Iluminismo, viriam a mudar primeiro a sociedadeInglesa, e depois o resto do mundo.

Referências:http://libcom.org/library/trade-guilds-initiation-through-work-andre-natafhttp://en.wikipedia.org/wiki/Charles_II_of_Englandhttp://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Morayhttp://en.wikipedia.org/wiki/English_Civil_War

Paulo M.

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Religião e espiritualidade

August 18, 2010

Raramente publico aqui no blogue textos que não são escritos pormim. Mas toda a regra tem exceções, quando as exceções ojustificam. É o caso do texto que abaixo segue. Recebi-o através doGrupo Maçônico Orvalho do Hermon. Não confirmei a factualidade.mas a confiança em meus Irmãos do Grupo leva-me a não duvidarda mesma. E o texto do pastor Ed René Kivitz é de primeira água -e merece ser divulgao, lido e, sobretudo meditado.

Primeiro o enquadramento factual, tal como o recebi na mensagemdo Grupo Maçônico Orvalho do Hermon:

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No dia 1°/Abr/2010, o elenco do Santos, atual campeão paulista defutebol, foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. Oobjetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes,a maioria com paralisia cerebral.Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), FábioCosta (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André(19a), todos ídolos super-aguardados.O motivo teria sido religioso, a instituição é espírita, o Lar EspíritaMensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência àParalisia CerebralVisivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer ogrupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santosinformou que os jogadores não entraram no local simplesmenteporque não quiseram.Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doaçãodos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca(23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaramcom as crianças.Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com P maiúsculo) EDRENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fezuma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto abaixoque tenho o prazer de compartilhar.

No Brasil, futebol é religião, por Ed Rene Kivitz

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa.Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a

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superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião. A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé. Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião. O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se

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passar por Deus. Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis,em valores como reconciliação, perdão, misericórdia,compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está nohorizonte da espiritualidade, comum a todas as tradiçõesreligiosas. E quando você está com o coração cheio deespiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e apaz.Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima osdiferentes, faz com que os discordantes no mundo dascrenças se deem as mãos no mundo da busca de superaçãodo sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala,independentemente de raça, gênero, e inclusive religião. Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você ficano ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade quea sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, vocêdesce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança quesofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desdepequenininho.

Não sei se o Pastor Ed René Kivitz é ou não maçom. Nem sequersei se ele aprecia os maçons. Sei que concordo em todas asfrases, em todas as palavras, em todas as letras, com o que oPastor escreveu.

Isto é o que a Maçonaria ensina. Isto é o que os maçons devem eprocuram aprender. Que seja ensinado por quem, porventura, nãoé maçom, não interessa nada. Porque as boas lições são paraserem aprendidas, venham de onde vierem. Hoje tenho muitahonra em bradar que aprendi com este texto e em aqui o publicarpara que outros possam também com ele aprender.

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Rui Bandeira, maçom, advogado e benfiquista desde pequenininho.

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A Maçonaria: tecnologia avançada (VI - Epílogo)

August 20, 2010

Muitos dos "segredos" da maçonaria operativa - especialmente os ligados à engenharia, à arquitetura e à ciência - fazem hoje parte do conteúdo curricular de cursos do ensino superior - e alguns mesmo do ensino obrigatório. Outros ainda, mais ligados à técnica do trabalho artesanal da pedra, ter-se-ão perdido irrecuperavelmente por falta de aprendizes que perpetuassem a arte. Outros, de cariz mais simbólico, apesar de subsistirem, terão distorcido o seu significado a ponto de ser irreconhecível o seu sentido original. A "tecnologia avançada" da época, que as Lojas tão ciosamente guardavam, deixou de ser sigilosa, encontrando-se hoje - com mais ou menos estudo - ao alcance de todos.

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Por tudo isto, é inegável que a Maçonaria actual não tenha quase nada em comum com a maçonaria operativa da Idade Média. Então, o que é hoje a Maçonaria? A chave desta questão encontra-se na forma como a própria Maçonaria se define: "A Maçonaria é um sistema peculiar de moralidade, velado por alegorias e ilustrado por símbolos". A Maçonaria é, portanto, um sistema de moralidade, e um que, como vimos já, abraça os princípios do Iluminismo - com o primado da razão enquanto fonte de autoridade e legitimidade - bem como a tolerância religiosa. A Maçonaria, não obstante partindo do princípio da imortalidade e da crença num princípio criador regular e infinito, apresenta uma conceção do mundo afastada da ignorância, do obscurantismo e da superstição, promovendo a busca da virtude, entendida como a força de fazer o bem no seu sentido mais lato do cumprimento dos nossos deveres para com a sociedade e para com a nossa família sem interesse pessoal. A ética da Maçonaria é, por outro lado, uma ética de trabalho, não pondo nenhum obstáculo ao esforço na busca da verdade, nem reconhecendo outro limite nessa busca senão o da razão. Esse "sistema de moralidade" não é apresentado de uma vez; os princípios vão sendo apresentados de forma progressiva, e vão sendo desvendados novos "segredos" através de histórias alegóricas - que mais não são do que pontos de partida para a reflexão sobre potenciais imperfeições da nossa existência com o fim do auto-aperfeiçoamento. Por outro lado, as alegorias não são apresentadas de forma inequívoca, tendo cada um a liberdade de retirar delas os ensinamentos que lhe sejam mais proveitosos, o que é rigorosamente respeitado e promovido. Os símbolos, do

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mesmo modo, não têm significados universais, podendo serinterpretados por cada um da forma que entenda. A par de todo oaperfeiçoamento moral e espiritual, promove-se um saberdiversificado, muito para além da especialização profissional que éa norma do nosso tempo. Cada um é, por exemplo, incentivado aapresentar oralmente trabalhos que tenha escrito e que podem sersobre qualquer tema que possa interessar os obreiros da Loja, oque, promove para além do conteúdo apresentado, a prática daRetórica e da Gramática. Enquanto tudo isto sucede, vai cada umaprendendo a respeitar a posição alheia, mesmo que com ela nãoconcorde; a calar um reparo se do mesmo não resulte senão aquebra da harmonia; a exercer a sua Liberdade dentro dos limitesque a Igualdade e a Fraternidade impõem.

Mas então, porque continua a Maçonaria a manter "segredos" já revelados? Porque é que se continua a imitar uma profissão extinta, e a perpetuar lendas e símbolos de outros tempos? Por outras palavras, porque é que a Maçonaria é o que é, e porque é que, na Maçonaria, se faz o que se faz, e do modo que se faz? A resposta não poderia ser mais simples: porque funciona. De facto, o passar dos séculos tem demonstrado ter a Maçonaria uma metodologia eficaz de propagação dos princípios que esta acarinha e representa. Por outro lado, pode dizer-se ser o seu "tradicionalismo" uma das causas da sua longevidade e, contrariamente a tantas associações que aparecem e desaparecem num curto espaço de tempo, a Maçonaria não tenciona deixar de existir de um dia para o outro. De facto, é inegável que nas sociedades atuais, como no século XVII, grassa a ignorância e a mediocridade, prevalece o

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fundamentalismo e o preconceito, e o oportunismo sobrepõe-se àretidão de princípios. Os propósitos da Maçonaria estão aindalonge de se ter concretizado, e longe de se ter esgotado os motivosda sua existência. Por esta razão, enquanto houver Homens com ofirme propósito de se melhorar, de aprender a viver em proximidadecom perspetivas diferentes das suas e de praticar a virtude e obem, haverá lugar para que, por seu intermédio, a Maçonaria torneo mundo num lugar mais justo e mais perfeito.

Paulo M.

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O Grifo

August 21, 2010

O grifo é um animal mitológico com corpo de leão e cabeça e asas de águia. O leão era considerado o rei dos animais, e a águia o rei das aves, pelo que o grifo era considerado uma criatura majestosa e poderosa. Os grifos eram conhecidos por guardar tesouros e outros bens sem preço. Ora, o que poucos saberão é que este "tesouro" que é o A-Partir-Pedra tem um grifo a guardá-lo! Senão vejamos: a Águia é o símbolo do Benfica; e quem nasceu a 21 de Agosto é do signo Leão. Consequentemente, um Benfiquista que faça hoje anos é um Grifo: meio Águia e meio Leão!!!

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Parabéns, Rui Bandeira! Um grande abraço, e um dia feliz! Paulo M.

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Os sinais de reconhecimento

August 23, 2010

Um dos segredos que os maçons devem guardar consiste nos sinais, palavras e toques próprios de cada um dos graus. A sua origem - os sinais pelos quais um artesão da maçonaria operativa identificava as suas aptidões perante mestres que o não conhecessem - já foi aqui sobejamente explicada. Mas quais a sua utilidade e significado atuais? Desde o século XVIII que há exposés, ou revelações, de rituais maçónicos. Como seria de esperar, uma vez que cada Grande Loja tem autonomia para alterar os seus rituais - o que costumam fazer com alguma regularidade - rapidamente os sinais de reconhecimento estabelecidos nos rituais terão sido alterados em reacção a essas "inconfidências". Também não surpreenderá que, em função dessas alterações, os sinais de reconhecimento não sejam, hoje em dia, os mesmos nem em todo o mundo, nem em todos os ritos, nem em todas as obediências. Há variações, pelo

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que os maçons são delas instruídos para que possam reconhecer irmãos apesar das diferenças. Entenda-se, por outro lado, que estes "meios de reconhecimento" são meramente rituais. O que é que isto significa? Significa que, em primeiro lugar, são usados no contexto das sessões rituais, e do acesso às mesmas. Assim, se um maçon se dirigir a um templo onde se vão reunir irmãos de outra Loja na qual não seja conhecido, e pretender assistir à sessão, é quase certo que o farão identifica-se através dos sinais rituais de reconhecimento. No entanto, quase certo é também que não se fiquem por aí. Nos nossos dias a maioria das Obediências emite cartões em nome e para uso dos seus obreiros que atestam estarem os mesmos com a sua situação regularizada. É também costume as Obediências emitirem, a pedido, o chamado "Passaporte Maçónico", que permite a identificação do seu portador perante Obediências estrangeiras. Sem qualquer destes documentos, e sem que sejamos conhecidos, é não só possível como quase inevitável vermos a nossa entrada negada numa sessão de Loja. E fora de uma sessão de Loja? Espero que ninguém imagine os maçons a fazer macaquices e "sinais secretos" a estranhos, não vá dar-se o caso de eles serem maçons também... Fora de Loja os maçons, ou já se conhecem previamente, ou reconhecem-se pela sua postura, forma de estar na vida e princípios que defendem. Dados os modernos meios de identificação (cartões, passaporte maçónico, etc.), a utilidade original dos sinais de reconhecimento é reduzida. Por que se mantêm então, e qual a razão do seu secretismo? Não nos esqueçamos de que a Maçonaria se socorre

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de símbolos e alegorias para transmitir os seus ensinamentos.Assim, os segredos de grau recordam a cada maçon que deve serum homem honrado, de bons costumes, capaz de guardar para sium segredo que lhe tenha sido confiado. Por outras palavras, osmaçons guardam segredo desses sinais de reconhecimento, umavez mais, por uma razão muito simples: porque juraram fazê-lo. Paulo M.

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O terceiro Grão-Mestre

August 25, 2010

O terceiro Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi José Manuel Morais Anes. Exerceu essas funções entre 2001 e 2004. Coube-lhe assumir a tarefa da retomada da normalidade, após o tumultuoso mandato do seu antecessor. Garantida que fora por este a continuação do reconhecimento internacional da GLLP/GLRP como a única Potência Maçónica Regular em Portugal, José Manuel Anes, na frente internacional consolidou a normalização das relações. Com ele, virou-se a página e retomou-se o caminho. Também na frente interna o mote do trabalho do Grão-Mestre José Manuel Anes foi a retomada e consolidação da normalidade. Paulatina mas firmemente, deixou bem claro que o passado era passado e que, mais do que recordar eventos, o que interessava era que cada um prosseguisse o seu trabalho de aperfeiçoamento pessoal, que cada Loja exercesse a sua função de enquadramento e catalisador do trabalho dos seus elementos.

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Bem-disposto, bonacheirão, sempre com um sorriso na cara, JoséManuel Anes transmitiu a todos a sua confiança. E o seu mandatofoi um percurso em crescendo para a normalidade... O Grão-Mestre José Manuel Anes recebeu uma Grande Loja aindamarcada pelos eventos que ofuscaram o mandato do seuantecessor e transmitiu ao seu sucessor uma Grande Lojaestabilizada, confiante e em velocidade de cruzeiro. Podemos edevemos, sem dúvida alguma, considerar, com toda a justiça, quefoi o homem certo a segurar na altura certa o leme da Grande LojaLegal de Portugal / GLRP. Eis o seu currículo, reunindo informação registada no sítio daGLLP/GLRP e na página a ele dedicada na Wikipédia:

Nascido em Lisboa a 21-6-1944.

Residente na Costa da Caparica.

Licenciado em Química, pela Faculdade de Ciências de Lisboa, em1975 (Bacharel em 1973).

Nos anos 70 foi assistente de Biomatemática na Faculdade de Medecina de Lisboa (HSM) - 1976-77 e 1977-78 - e, tendo sido equiparado a bolseiro, frequentou um curso de pós-graduação em Química-Física Inorgânica na Fac. de Ciências da Universidade Complutense de Madrid e estagiou em Catálise e Catalisadores no Instituto de Química-Física do Conselho Superior de Investigações Científicas de Madrid. Foi durante vinte anos Perito Superior de Criminalística do Laboratório de Polícia Científica da P.J.;

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actualmente está na situação de aposentado.

Desde 1986,é docente convidado de Matemáticas para as CiênciasHumanas do Departamento de Antropologia da Faculdade deCiências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,Faculdade onde tem lecionado também Métodos Quantitativos noDepartamento de História, Estatística e no de Ciência Política;desde o ano de 2000-2001, leccionou também, na FCSH da UNL, acadeira de Antropologia da Religião no Departamento deAntropologia, nos anos de 2000-2001 e 2001-2002. Tem dado,desde 1998, Cursos livres sobre História das Correntes Esotéricas,Novos Movimentos Religiosos e "New Age", no Instituto deSociologia e Etnologia das Religiões da mesma Faculdade, etambém no Centro Nacional de Cultura, os último dos quais seintitularam "Violência e Novos Movimentos Religiosos" e"Esoterismo e Política". Foi Assessor Cultural da FundaçãoCultursintra, em 1996 e 1997, sendo Medalha de Prata da C.M. deSintra em virtude da sua iniciativa pessoal que conduziu àclassificação da Quinta da Regaleira pelo IPPAR como imóvel deinteresse público e também pelos estudos realizados (um dos quaisfoi apresentado em Londres na Cornerstone Society - ver o resumoda conferência em www.workingtools.org) e pela divulgação damesma Quinta. Foi Presidente da Academia de EstudosIbero-árabes (1995/97) e Vice-Presidente da Associação FernandoPessoa (1999-2000).

É membro correspondente em Portugal da Associação "ARIES" (de Estudos e Informações sobre Esoterismo) dirigida pelo Prof. Antoine Faivre da EPHE (Sorbonne), do CIRET (Centro de Estudos sobre Transdisciplinaridade) dirigido por Basarab Nicolescu (Paris)

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e das seguintes Associações de estudos dos Novos MovimentosReligiosos: a francesa AEIMR dirigida por Bernard Blandre e aitaliana CESNUR (Torino) dirigida pelo Doutor Massimo Introvigne(Torino). Foi Director da "Biblioteca Hermética" da Hugin Editores,onde publicou obras de diversos autores, entre os quais Lima deFreitas, Gilbert Durand, Adalberto Alves, Carlos Calvet, etc.

É um especialista de Correntes Esotéricas Ocidentais, sendomembro da ESSWE- European Society for the Study of WesternEsotericism, dirigida pelos Profs. Wouter Hanegraaff (Univ.Amsterdão) e Antoine Faivre (Jubilado da EPHE-Sorbonne).

Organizou, em 2000, a pedido da Câmara Municipal deCascais/Pelouro de Cultura, o Colóquio internacional "FernandoPessoa, o Esoterismo e Aleister Crowley" que contou com asparticipações, entre outros, dos grandes especialistas universitáriosde esoterismo e de "novos movimentos religiosos", Antoine Faivre,Massimo Introvigne e Gordon Melton e dos pessoanos Maria AlietteGalhós, Manuela Parreira da Silva e Luis Filipe Teixeira.

Escreveu prefácios para vários livros, os últimos dos quais para “OPensamento Maçónico de Fernando Pessoa” de Jorge de Matos(Sete Caminhos, Lisboa, 2006) e “La Franc-Maçonnerie commeVoie d’Éveil” de Rémi Boyer (Rafael de Surtis/Éditinter, Monts,França, 2006).

Para além da sua formação em Criminalística, desde 1999, tem-se dedicado também, no quadro da Socio-Antropologia, particularmente no domínio do estudo da Violência em “Seitas” e grupos religiosos radicais, tem sido Docente de cursos sobre

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Violência Religiosa e Terrorismo Religioso, quer no ISER, a partirde 2001, quer em 2006, na Reitoria da Universidade (Clássica) deLisboa, na Universidade Autónoma de Lisboa e na Faculdade deDireito da Universidade Nova de Lisboa, num curso dePós-graduação e Mestrado em Estudos Avançados de Segurança eDireito, onde lecciona as cadeiras de Violência Religiosa e deCriminalística. É co-autor no livro “As Teias do Terror” (Ésquilo,2006).

Foi (desde 2004) Vice-Presidente do OSCOT- Observatório deSegurança, Crime Organizado e Terrorismo e é, desde o início de2010, o seu Presidente. É Director da revista para o grande públicointitulada “Segurança e Defesa”.

Bibliografia publicada:

"Re-creações Herméticas", Hugin, Lisboa, 1ª. ed. 1996, 2ª. ed. 1997; "O Esoterismo da Quinta da Regaleira", Hugin, Lisboa, 1ª. ed.1998, 2ª ed. 2000, 3ª ed. 2003. "Maçonaria Regular - Maçonaria Universal" - Hugin, Lisboa, 2003. "Re-creações Herméticas - II" - Lisboa, Hugin; “Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos” – Lisboa, Ésquilo, 1ª. E 2ª. Eds., 2004;“Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira” – Lisboa, Ésquilo, 2005. Com outros autores: "As Tentações de Bosh e o Eterno Retorno", Lisboa, Museu de Arte Antiga, 1994; "Poesia e Ciência", Lisboa, Cosmos/GUELF, 1994; "Caos e Meta-Psicologia", Lisboa, Fenda/ISPA, 1994; "Religião e ideal maçónico", Lisboa, ISER, 1990); "Seminário sobre Newton", Évora, Universidade de Évora/CEHFC, 1995; "Masoneria y religión", Madrid, Ed. Complutense, 1996; "A Vivência do Sagrado", Lisboa, Hugin, 1998,

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"A Quinta da Regaleira: história, símbolo e mito", FundaçãoCultursintra, 1998; "Portugal Misterioso", Lisboa, SRD, 1998;"L'Âme secrète du Portugal", Paris, L'Originel, nº 9, 2000;"L'Homme à venir - Mémoire du XXe.siècle - nº.2", Paris, Rocher,2000; "Discursos e práticas alquímicas - I", Lisboa,Hugin/CICTSUL, 2001; "Esoterismo e Humanidades"-Colibri/Faculdade de Letras de Lisboa, 2001; "Discursos e práticasalquímicas - II" - Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2002; "O Homem dofuturo - um ser em construção" - São Paulo -Br., Triom/USP, 2002;"A Creação - La Création" - Lisboa, Atalaia/Intermundos, 2003; "LeSacré aujourd'hui" - Paris, Rocher, 2003; “Templiers: les yeux duBaphomet” – Monts (Fr.), Rafael de Surtis/Editinter, 2004.

Percurso Maçónico

Foi iniciado Maçon no Grande Oriente Lusitano, em 1988, tendosaído em 1990, para constituir a Grande Loja Regular dePortugal-GLRP, onde fundou a Loja "Quinto Império" e onde foisucessivamente, até finais de 1996, Grande Inspector, Assistentede Grão-Mestre e Vice Grão-Mestre. A partir de 1997, continuou aintegrar a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP - potência regularinternacionalmente reconhecida pela Maçonaria Universal - de quefoi, a partir dos começos de 2001, Grão Mestre, até Março de 2004.

Foi de 1995 a 2000, Grão Prior do Grande Priorado Independenteda Lusitânia da Ordem dos CBCS (Altos Graus do Rito EscocêsRetificado).

É CBCS-Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (armado na Prefeitura de Genève do Grande Priorado Independente da

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Helvécia, de que é Membro de Honra), Cavaleiro maçónico deMalta - KM (armado no Grande Priorado da Gálias, em Paris), doGrande Priorado de Inglaterra e Gales) e 33º., Grau honorário doRito Escocês Antigo e Aceite (Supremo Conselho para Portugal).

É membro do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugale do Conselho Críptico para Portugal (Mestres Reais e Escolhidos)- altos graus do Rito de York. É ainda Cavaleiro do Conclave"Henrique de Borgonha" do Grande Conclave Imperial para aFrança da Ordem Maçónica e Militar da Cruz Vermelha deConstantino e das Ordens do Santo Sepulcro e de S. JoãoEvangelista. É IXº. Grau e membro honorário do Colégio dos"Supreme Magus" da Sociedade Rosacruciana dos EUA ("SocietasRosacruciana in Civitatibus Foederatis" e ainda membro da"Societas Rosacruciana in Lusitania (SRIL).

É membro de honra da Loja "Oldest Ally" da Grande Loja Unida deInglaterra, Companheiro do Arco Real inglês (Capítulo "Benaventa"de Northamptomshire), Cavaleiro Templário - KT de Honra(Capítulo "Holy Cross" de Northamptonshire, "Supreme Ruler" daOrdem inglesa do "Secret Monitor" e do Conclave "OlissipusFidelis" (a Oriente de Lisboa) da OSM, Cavaleiro Rosa Cruz daOrdem Real da Escócia (Grande Loja de Edimburgo), Maçon deMarca e do "Royal Ark Mariner" da Loja "Rose and Lilly" de Londrese membro (em Inglaterra, do Conselho do Grão-Mestre) dos 5Ordens que constituem os Allied Masonic Degrees: St. Laurencethe Martyr, Knight of Constantinople, Grand Tiler of Salomon, RedCross of Babilon e Grand High Priest. É Knight Templar Priest doTabernáculo «London Freemen» e membro da Sociedade«Operatives».

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É detentor das mais altas distinções do Grande Oriente do Brasil -GOB, entre as quais, a Condecoração da "Estrela da DistinçãoMaçónica" (Conferida pelo Grão Mestre Geral do GOB), Diploma eMedalha de Honra ao Mérito "Gonçalves Ledo" (Conferida peloGrão Mestre do Grande Oriente do Estado de São Paulo, federadoao GOB), Medalha do Mérito "Presidente Ivo Ramos de Mattos"(Conferida pela Assembleia Estadual Legislativa do Grande Orientedo Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB) e Medalha "Jubileude Prata do GOERJ- 2003" (Conferida pelo Grão Mestre do GrandeOriente do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB). É aindadetentor da Medalha do "Mérito Montezuma" do Supremo Conselhopara o Brasil do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA (atribuídapelo Soberano Grande Comendador).

É Grande Representante da Grande Loja do Estado de NovaJersey (EUA) , junto da GLLP/GLRP, da Grande Loja da Suéciajunto do Grande Priorado Independente da Lusitânia e GrandeOficial de Honra da GL Real de Marrocos.

É membro correspondente das seguintes sociedades deinvestigação maçónica: «Ars Quotur Coronati» (Inglaterra), «Villartde Honnecourt» (França) e «Scottish Rite Research Society»(EUA).

Rui Bandeira

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Brincadeira de "gente crescida"

August 27, 2010

Perguntou um dos leitores habituais do A-Partir-Pedra, no comentário ao texto "Os sinais de reconhecimento": "Continuo a considerar tudo isto um brincadeira de “gente crescida”. Para quê? Ensinamentos que os maiores filósofos do mundo não tenham explicado?" A pergunta é tão pertinente que, tendo tencionado inicialmente responder-lhe nos comentários, acabei por decidir dedicar-lhe o texto de hoje. Comecemos então por uma analogia. Existem milhentas formas de perder peso: dietas equilibradas, dietas malucas, jejum, exercício moderado, exercício pesado, exercício combinado com dietas, bulimia, enfim... Há para todos os gostos. No fim, todas têm o mesmo objetivo: perder peso. De uma forma mais lata, podemos ainda explorar o objetivo "ser saudável". Aí entram, além das dietas e do exercício, as pulseiras magnéticas milagrosas, os chás de

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tudo e mais alguma coisa, as noites de sono bem passadas, as almofadas mágicas, o auto-controlo, a alternância equilibrada entre períodos de descanso e períodos de trabalho, os amuletos, o cumprimento de determinados rituais, enfim... Todas elas nos prometem mais e melhor saúde. Umas serão globalmente mais eficientes do que outras - e não esqueçamos que a eficiência é diferente de pessoa para pessoa - e umas terão mais contra-indicações do que outras. No fim, cada um deverá procurar aquela que mais se lhe adequa, e pode, até, conseguir bons resultados combinando vários métodos ou aplicando apenas parte deles. Do mesmo modo, tudo o que a Maçonaria ensina de substantivo pode ser encontrado de muitas outras formas: através de várias religiões, de diferentes correntes filosóficas, de palestras, de "gurus" privados, ou, para quem se disponha a despender algum do seu tempo, através até de uma boa biblioteca pública. O que a Maçonaria tem de único é o método, o meio, a forma. Não há ensinamentos exclusivos da Maçonaria que não sejam instrumentais, ou seja, que não digam respeito ao método e não ao fim, ao objetivo. Por isso, quem procura na Maçonaria ensinamentos exclusivos, secretos, reservados, e que o resto do mundo desconheça, então desengane-se: não há. Já aqui foi dito, bem como explicado o que a Maçonaria não revela e porquê. Os símbolos, as alegorias, os "segredos de grau"? Não passam de instrumentos, simples andaimes, meros artefactos que suportam, ilustram e consolidam os verdadeiros ensinamentos. Mas que ensinamentos são esses, afinal?! Ah, esses são tão

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únicos como único é cada indivíduo! Pretender sabê-los seriacomo, através da descrição das técnicas de pintura de um dosgrandes Mestres, pretender saber o que viriam a representar astelas pintadas por cada um dos seus discípulos... A Maçonariaapenas indica os princípios, e esses são bem simples: afraternidade, a entre-ajuda, a tolerância perante a diversidade, acrença num Princípio Criador, o trabalho como meio de obterresultados, o desenvolvimento intelectual, a procura do Bem e daVirtude, o combate ao Vício e às Paixões, e tudo isto focado emcada um, do modo que este melhor entenda que mais lhe aproveitapara atingir os objetivos que definiu para si mesmo. É, por isso,impossível dizer-se que ensinamentos é que a Maçonariatransmite: era preciso, para isso, que cada um estivesse ciente dosmesmos - que, tantas vezes, são absorvidos quase que "porosmose", pelo contacto com ideias alheias, sem que sejampropriamente sequer verbalizados, e por vezes nem mesmoconscientemente apercebidos, o que traz a segunda dificuldade:mesmo que apercebidos, podem não se conseguir transmitir senãode forma imperfeita. Pensemos como explicaríamos como se pintaa alguém que nunca pegou num pincel, mas sem o fazer passarpela experiência de conspurcar dezenas de telas brancas, nem sebesuntar nas tintas, ou passar pelo experimentar, olhar e tentar denovo... Por fim, quem considere ser a Maçonaria uma "brincadeira degente crescida" deve recordar que:

• a Maçonaria Regular não faz proselitismo, ou seja, não faz convites nem recruta novos membros, pelo que ninguém pode acusar a Maçonaria de o ter arrastado para um erro; cada um

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dos que adere à Maçonaria fá-lo pelo seu próprio pé, por suaprópria opção e no exercício da sua própria liberdade.

• apesar de nem todos serem livres de entrar, todos são livres desair quando entendam; não queremos entre nós gentecontrariada; há inúmeras formas de aumentarmos o nossopotencial humano e espiritual, das quais a Maçonaria é apenasmais uma.

• como os meios de emagrecimento, cada um deverá procurar oque mais se lhe adequa; de facto, aos olhos de quem façaexercício duro uma ou mais horas por dia, uma pessoadedicar-se ao vegetarianismo como único meio de emagrecerpode parecer uma "brincadeira de gente crescida"; se de facto oé ou não, já é questão completamente diferente...

Paulo M.

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Os símbolos e os rituais maçónicos: ferramentas detrabalho

August 30, 2010

Conta-se que um novo monge, chegado a um mosteiro, éincumbido de auxiliar os outros monges na cópia de textos antigosà mão. Nota, porém, que estão a copiar a partir de cópias, e não detextos originais., o que o leva a perguntar a razão ao superior,notando que, em caso de erro em qualquer cópia, esse seriapropagado por todas as cópias seguintes. O superior responde-lhe:«É assim que temos feito há séculos, mas é uma boa questão, meufilho.»

Assim, o velho monge desce com uma das cópias à cripta para a comparar com o original, e por lá fica horas esquecidas. Não o vendo regressar, os monges, preocupados, enviam um deles ao seu encontro. Este, ao aproximar-se, ouve o ancião soluçar debruçado sobre um dos livros antigos. Pergunta-lhe o que se

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passa, ao que ele lhe responde, com os olhos rasos de lágrimas:«Aqui diz "celebrado", não diz "celibato"...»

O tempo e as sucessivas passagens de testemunho encarregam-sede que as palavras, os símbolos e os gestos percam o seusignificado original, adquirindo eventualmente outroscompletamente distintos. "Quem conta um conto acrescenta umponto", diz com razão a sabedoria popular. Aquilo que, na suagénese, poderia constituir mero artifício literário destinado a ilustraruma ideia pode, ao fim de algum tempo, ser distorcido pela própriaevolução linguística. Ainda hoje se discute a que se referiria,precisamente, a frase bíblica que diz ser "mais fácil um camelopassar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar noReino dos Céus". O camelo seria o bicho de duas bossas, ou umamá tradução da palavra grega que significa "cordel", ou ainda umtipo de cabo usado nos barcos para os amarrar ao cais? E o buracoda agulha, é mesmo um buraco literal de uma agulha vulgar, ou éuma porta, uma passagem, um estreito, como especulam alguns?As palavras - simbólicas - ficaram connosco; o seu contexto originalperdeu-se. Ficou a ideia que se pretenderia passar: de que aosricos é difícil "entrar no Reino dos Céus".

Por outro lado, algumas mentes têm tendência para tomar os símbolos por aquilo que representam. A partir deste instinto formam-se verdadeiros cultos: veja-se o das personalidades políticas nos países do bloco soviético ou , mais proximamente, o do Doutor Sousa Martins. Cientes deste facto, várias religiões têm duras regras de condenação da idolatria, que mais não é do que a adoração de um símbolo, ao tomar-se o objeto por aquilo que ele representa. O Islão proíbe, por exemplo, qualquer representação de pessoas ou animais, não vá alguém tentar-se e lançar-se em sua

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adoração; e os protestantes costumam acusar os católicos deidolatria por terem nas suas igrejas imagens humanas.

Quer as restrições alimentares estipuladas por certas religiõescomo o Islão ou o Judaísmo (segundo as quais não se podeconsumir carne de porco, e se impõe que os animais sejamabatidos de forma ritualizada e sangrados) quer a proibição deconsumo de álcool pelo Islão, parecem refletir hábitos e costumesanteriores ao surgimento dessas mesmas religiões.Recordemo-nos de que o álcool desidrata, e que quem o consumano calor do deserto pode correr perigo de vida; que a carne deporco, rica em gordura, se decompõe facilmente com o calor,podendo provocar epidemias; que o mesmo se pode dizer dosangue, que, se retirado da carne, permite que esta chegue a secarou, pelo menos, dure mais em temperaturas altas. Estas medidasconstituem, por si mesmas, sensatas medidas sanitárias de defesada saúde pública. Se a sua inclusão enquanto preceito das religiõesem causa decorreu de causa humana ou revelação divina já équestão a ser respondida no foro íntimo de cada um.

A Maçonaria tem os seus símbolos e os seus rituais. Os símbolos - que representam princípios, ideias e deveres - servem para evocar, e não para que se lhes preste culto. Não há nada de idólatra nos símbolos maçónicos. Há, de facto, símbolos e lendas cuja génese se perdeu; mas persiste o seu significado, que não podemos garantir que seja o original. Há entre os maçons, como em todo o lado, quem tome os símbolos por mais do que eles representam, atribuindo-lhes sentidos oblíquos, afectando-lhes significados ocultos, e mesmo especulando encerrarem os mesmos verdades inalcançadas. Esta "corrente" existe desde que a Maçonaria existe -

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e existe ainda hoje - mas a maioria dos maçons tem os pés maisassentes na terra, e considera serem os símbolos, rituais e lendassimples ferramentas de trabalho. Cada um é, todavia, livre de crerno que quiser, e mesmo de fabricar o próprio objeto da sua crença,mas essa é uma postura que, em certa medida, é contrária aoespírito da Maçonaria, segundo o qual o Homem deveria caminharpara a Luz e para o Esclarecimento.

E aqui se suscita uma questão essencial: onde acaba a liberdadereligiosa e começa a superstição e o disparate? Como se concilia, aeste respeito, o facto de a Maçonaria defender a liberdadeindividual (que passa pelo direito de cada um crer no que quiser)com a defesa da Razão enquanto fonte de autoridade e delegitimidade? Perante princípios antagónicos temos queestabelecer hierarquias; e a Maçonaria dá primazia ao respeito pelaliberdade individual, o direito de cada um acreditar no que queira,sobre o interesse em que todos sejam racionais e esclarecidos.Assim, cada um é senhor de si mesmo e do caminho pessoal queescolheu e, desde que respeite os ideais e princípios maçónicos ea liberdade alheia, tem o direito de não ver questionado,escrutinado ou dissecado aquilo em que acredita.

Paulo M.

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A Cadeia de União

September 01, 2010

Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União. É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos. A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

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É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo. A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto. A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais. A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

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A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça eassinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assimse une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, nabusca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos osespíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, namesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas omesmo... A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto.É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porqueguardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto provao contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quemnunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, acomunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assimunidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seusignificado só é plenamente apreendido por quem nele participa,uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado quenão se ensina. Aprende-se vivendo-o! Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagemfúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então,têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamamde ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nemregularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boavontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boavontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos. Rui Bandeira

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Uma loja maçónica não é uma tertúlia (I)

September 03, 2010

«Tenho um grupo, que com as vicissitudes da vida se foi afastando,mas que durante uns bons 15 anos formou uma tertúlia que seencontrava quase todos os dias. Tivemos incontáveis debates epolémicas. Aprendemos todos muito uns com os outros. Hoje,ainda continuamos todos amigos. Não há necessidade deproibições no que toca a troca de ideias.» (Diogo, num comentáriorecente)

Este comentário explica, quase por si mesmo, porque é que umaLoja Maçónica não é - nem pode ser - uma tertúlia. Oracomecemos, como quem analisa, escrutina e disseca um textonuma aula de Português.

Ter um grupo «... que com as vicissitudes da vida se foi afastando...» é uma das coisas que se pretende evitar numa Loja. Pertencer a uma Loja é como que um casamento. Não é forçosamente para toda a vida, pode-se ter "outras" ao mesmo

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tempo (se bem que seja difícil de gerir) mas, mesmo quando issoacontece há sempre uma que é a "principal"; pode-se cortar oslaços com essa, e ou arranjar outra "principal" ou mesmo passar anão ter nenhuma, mas ambas são situações dolorosas. Uma Loja écomo que uma família. Uns nascem, outros morrem, mas a famíliaé a mesma - se não se extinguir; numa Loja, são iniciados uns,adormecem ou partem para o Oriente Eterno outros, mas a Lojapermanece - se não abater colunas. Há lojas várias vezescentenárias, e esse vínculo a algo que existia antes de nós econtinuará a existir depois é uma das coisas boas que a Maçonarianos proporciona; ao mesmo tempo que nos reduz à nossapequenez de meros "passadores de testemunho" dá-nos asatisfação de saber que pertencemos a essa cadeia decontinuidade.

Pertencer a um grupo «...que se encontrava quase todos os dias»deve ser algo de muito exigente, e pouco consentâneo, suponho,com os deveres conjugais, laborais e parentais. Claro que isso équestão que só se põe a quem esteja sujeito a esses deveres... Poroutro lado, encontros diários não serão, como dizia Shakespeare,"too much of a good thing"? Não terão esgotado em 15 anosconversa que dava para uma vida inteira? Em contraste, amaçonaria alerta os seus membros de que os seus principaisdeveres são para com a família, para com o Criador (qualquer queseja a conceção que dele se faça), e para com o país; a maçonariavem depois.

Dizer-se, ao fim de 15 anos, que «ainda continuamos todos amigos» implica ter-se começado por aí: pela amizade enquanto vínculo genitor. Ora, quando se ingressa uma loja é-se integrado num grupo de desconhecidos; as amizades que surjam são

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paralelas ao grupo, não são condição prévia do mesmo. Os nossosamigos são pessoas que nós conhecemos e cujo contactodecidimos manter e aprofundar, e com quem nos identificamosmais; numa loja, pelo contrário, não se escolhe nada; um poucocomo a família do cônjuge, fica-se com o que nos calha na rifa. Aum amigo perdoa-se mais, aceita-se mais e tolera-se mais do que aum desconhecido; por isso, as regras e os pressupostos de umaloja e de um grupo de amigos não podem deixar de ser diferentes,pois que numa loja a diversidade é maior do que num grupo deamigos.

Tertúlias como aquela de que o Diogo fala são próprias daadolescência e da juventude. Nos debates, frequentemente acesos,cada um tenta marcar a sua posição, convencer os demais, ensinare impor o seu ponto de vista. Contudo, é normal que os seusmembros, uma vez "crescidos", tendo adquirido a sua própriaindividualidade e identidade fora do grupo, se afastemprogressivamente.; é normal que haja menos disponibilidade paraum contacto tão íntimo e envolvente, para uma exposição tãoprolongada, para um desnudar-se tão profundo - até porque asideias se vão cimentando e há cada vez menos temas novos adebater sem que o resultado do debate esteja determinado a priori.Assim, a maturidade acaba por estabelecer o limite. Em loja, pelocontrário, o objetivo não é "converter" ninguém a um determinadoponto de vista, mas permitir que cada um encontre o seu.

Paulo M.

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Uma loja maçónica não é uma tertúlia (II)

September 06, 2010

Dois grandes factores de distinção entre uma tertúlia e uma lojamaçónica são o objetivo e forma da intervenção de cada um. Numatertúlia as intervenções sucedem-se, e cada um vai tomando apalavra repetidamente tantas vezes quantas queira (ou lhopermitam...), sucessivamente acrescentando ao que disse antes,refutando os argumentos deste ou daquele, e fortalecendo - oualterando - a sua posição de cada vez que se dirige aos demais.Cada um vai tentando fazer prevalecer a sua posição através deargumentos e contra-argumentos ao que foi dito antes,esperando-se que, a partir de um certo ponto, se tenha atingido umequilíbrio em que já tudo foi dito e cada um (re)contruiu já a suaposição face ao assunto em debate.

Numa loja maçónica, porém, as coisas não poderiam ser mais diferentes. Começa por que, no que respeita cada assunto, cada um pode fazer apenas uma única intervenção - e só muito excecionalmente poderá fazer uma segunda, sempre muito curta, e apenas se absolutamente impreterível, como por exemplo para

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clarificar algo que não tenha sido dito da forma mais inteligível. Estaimposição obriga a que se tenha um cuidado multiplicado comaquilo que se diz, de forma a dizê-lo bem à primeira.

Há uma ordem estrita a ser seguida. Primeiro começa-se pelascolunas (do Norte e do Sul), para que os mestres maçons que aí sesentam possam, querendo, pedir a palavra. Depois de não havermais pedidos de intervenção, os dois Vigilantes podem pedir apalavra para si mesmos, primeiro o 2º Vigilante e depois o 1ºVigilante. É então dada a indicação de que não há maisintervenções nas colunas, e esta passa ao Oriente, onde residem oVenerável Mestre, o Secretário, o Orador, o Ex-Venerável eeventuais visitas a quem tenha sido dada essa distinção. A palavraé dada, no Oriente, a quem quiser dela fazer uso, e o VenerávelMestre é o último a intervir. Caso esteja em causa uma decisão,esta poderá ser tomada pelo Venerável Mestre de imediato, ou estepoderá consultar a Loja através de uma votação. De qualquermodo, a intervenção do Venerável Mestre deve ser sempre nosentido de procurar encontrar uma conclusão que seja harmoniosapara a loja, e com que a maioria se identifique.

Para além da forma, já exposta, há o objetivo. Idealmente, cada intervenção destinar-se-ia a que cada um, na medida em que considerasse ser isso útil, apresentasse a sua posição ou opinião a respeito do assunto em causa, e sem que o seu conteúdo fosse condicionado por ser a primeira ou a última intervenção a ser efetuada. O que se diz não deve ser dirigido a ninguém em particular, mas a toda a Loja, e não deveria sequer referir-se alguma intervenção anterior, mas apenas fazer-se referência ao tema que esteja em discussão. Não deve haver interpelações, refutações ou contraditório, uma vez que isso colocaria em

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desvantagem aquele que já fez a sua intervenção e não pode agoraresponder. Pretende-se, assim, que cada um possa dar a conhecera sua posição, sem que tente impô-la aos demais, e sem queexplicitamente contrarie alguma posição já exposta, e por outrolado que cada um tenha a oportunidade de ser confrontado comopiniões alheias - porventura distintas das suas - num tom e numapostura que não ameacem a posição com que cada um seidentifica.

A Maçonaria cria, deste modo, um contexto que induz cada um aconfrontar-se com opiniões e posições distintas da sua, numambiente de boa fé, entre iguais, sem que ninguém possa impor aninguém nenhuma obrigação, mas em que cada um possa,querendo, tomar para si as palavras do outro, seja como asrecebeu seja na forma que as queira incorporar naquilo queconstitui a sua identidade.

Por fim, é costume - se bem que não creia haver nenhuma regra escrita a esse respeito - serem públicos os louvores e privados os reparos. Quando um bom trabalho é apresentado, é frequente que, nas palavras proferidas por cada um, sejam manifestadas palavras públicas de louvor e de encorajamento. Quando, porém, foi dito algo passível de ser interpretado como menos bom ou menos correto, a correção fraterna - que raramente falha - surge quase sempre em voz baixa directamente ao ouvido do "prevaricador". A franqueza e honradez manifestadas, de mão dada com a genuína preocupação que os maçons têm uns com os outros, levam a que seja frequente surgirem amizades muito fortes entre irmãos da mesma loja - e mesmo entre irmãos de lojas diferentes. A este respeito não me sai da cabeça uma frase que li há tempos numa entrevista em que alguém dizia: «A maçonaria é a única

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organização em que se faz amigos de infância aos 40 anos». Nãosei se é a única, mas que se faz, faz.

Paulo M.

P.S.: Devo recordar que a Loja Mestre Affonso Domingues estáintegrada numa Obediência Regular - a Grande Loja Legal dePortugal / GLRP, e que o que descrevi se aplica a esta. Noutrasobediências far-se-á de forma distinta; um destes dias escrevereium texto sobre isso.

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33.º = 3.º

September 08, 2010

Uma das razões pelas quais quem está de fora da Maçonaria temdificuldade em compreender, na sua plenitude, o que esta é resulta- bem vistas as coisas, naturalmente - de aquele que vê do exteriorjulgar, apreciar, avaliar, a instituição segundo o paradigma dasociedade em que se insere e não através do paradigma própriocriado pela Maçonaria.

Quem vê de fora tem tendência a conceber a Maçonaria segundo o cânone da hierarquia, que é comum à maior parte das instituições humanas. O Governo é dirigido por um Primeiro-Ministro, que manda nos, ou coordena os, Ministros, que, por sua vez, mandam no seu Ministério, dando ordens aos seus Secretários de Estado, e estes aos Diretores-Gerais, que ordenam aos Diretores de Serviço, que mandam nos Chefes de Repartição, que exercem autoridade

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sobre os Chefes de Secção, que dão instruções aosAdministrativos, que... E todo o titular de um cargo superiorhierarquicamente exerce autoridade não só sobre o seu inferiorhierárquico imediato, mas por todos os que hierarquicamente estãoabaixo deste e de si.

Se pensarmos nas Forças Armadas, idem, aspas, apenas com adiferença de o superior ter o título de General, aquele que está nabase da pirâmide, o praça, ser o soldado e, entre um e outro, havertoda uma cadeia hierárquica de Oficiais, Sargentos e Cabos.

Se nos lembrarmos de um clube desportivo, lá está: facilmentevisualizaremos a cadeia hierárquica que vai do Presidente daDireção ao roupeiro, passando pelos Diretores, Treinadores,Adjuntos, Capitão de Equipa e seus substitutos, jogadores edemais pessoal.

Se nos detivermos na Igreja do credo religioso maioritário emPortugal, lá temos a omnipresente hierarquia de Papa, Cardeais,Arcebispos, Bispos, Cónegos, Padres e, na aparente base dapirâmide, afinal a sua única razão de ser e de existir, a massa doscrentes.

Em suma, e para não me alongar em exemplos, a maneira comumde ver as instituições da sociedade é de forma hierárquica, em quealguém manda, alguém é mandado e manda, em sucessivospatamares até se chegar a quem só obedece.

A tendência de quem olha de fora para a Maçonaria é vê-lasegundo este paradigma e, portanto, considerar que, se no RitoEscocês Antigo e Aceite há 33 graus, os detentores do grau 33.ºsão os que estão no topo da hierarquia e "mandam" em todos osque se integram nos graus inferiores e o mesmo sucede ao longoda "cadeia hierárquica".

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Esta forma de ver a instituição maçónica é profundamente errada econduz a graves vícios de análise. Persiste quer pelo contágio dasdemais instituições sociais, quer porque os próprios maçons têmnegligenciado o esclarecimento do erro. É por isso que não meescandalizo quando um dos nossos interlocutores afirma - comopor vezes sucede - que Fulano era do grau 33 e portanto pertenciaao topo da hierarquia e o que disse ou escreveu há de ter umespecial significado, pois integrava o escol dos que mandam. Seeste erro persiste, a culpa não é só dos meus interlocutores - étambém minha! É, pois, tempo de alijar o fardo da minha culpa eesclarecer!

A Maçonaria não se organiza segundo o princípio da hierarquia. AMaçonaria funciona estritamente segundo o princípio da Igualdade!

A única - e temporária - derrogação destes princípio respeita aosAprendizes e Companheiros (graus 1.º e 2.º), os quais, por estaremem processo de formação e integração, têm uma diminuição defaculdades, não tendo (ainda) o direito de voto nem o direito depalavra (em reunião formal). Mas esta derrogação da plenaIgualdade é temporária e estritamente decorrente da natureza doprocesso de formação e de integração de Aprendizes eCompanheiros. O seu percurso far-se-á com naturalidade até que -sem demasiada demora, mas também sem grandes pressas -aquele que um dia se apresentou à Iniciação se submete ao Ritualde Elevação ao 3.º grau e assume a condição de Mestre Maçom.

A partir desse exato momento, é um Mestre com exatamente os mesmos direitos e deveres e a mesma e igual posição hierárquica que todos os outros Mestres. Nem a antiguidade importa. Nem esta é um posto. O maçom acabado de ser elevado a Mestre pode, no minuto seguinte, ver ser-lhe confiado o exercício de um ofício em

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loja. E, logo que tenha exercido o ofício de 2.º ou de 1.º Vigilante,pode ser eleito Venerável Mestre, em estrito pé de igualdade comtodos aqueles que estão na mesma situação há 1, há 10 ou há 30anos. E todo aquele que tenha exercido o ofício de VenerávelMestre de uma Loja pode ser eleito Grão-Mestre.

É indiferente, em Loja, se A tem "apenas" o 3.º grau, B o 9.º, C o 15.º, D o 33.º. Todos são estritamente iguais e aquele que tem "apenas" o 3.º grau pode ser eleito Venerável Mestre e dirigir os outros, os que têm o 9.º, o 15.º ou o 33.º grau. Todos os Mestres maçons são estritamente iguais, independentemente do grau dos Altos Graus a que cada um tenha acedido. Um maçom do 3.º grau não é menos, nem mais, do que um maçom do 33.º grau. São ambos Mestres maçons - e com um estatuto rigorosamente igual em Loja. Um dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante um ano, exercer o ofíci0 de Venerável Mestre. Outro dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante o mesmo período, exercer o ofício de Tesoureiro da Loja. O Venerável Mestre eleito designa, segundo os costumes e os critérios próprios da Loja, estabelecidos ao longo do tempo, os Mestres maçons que exercem os demais ofícios necessários para o bom funcionamento da Loja. Independentemente do grau que tenha ou deixe de ter cada um dos designados. Durante um ano, os Oficiais da Loja exercem os poderes e cumprem os deveres inerentes aos respetivos ofícios e os demais elementos da Loja respeitam esse exercício e, se assim o quiserem, colaboram. Em qualquer assunto que se debata, todos - mas rigorosamente todos! - os Mestres maçons, independentemente do grau que porventura adicionalmente detenham ou do ofício que no momento cada um exerça ou não, têm exatamente o mesmo direito à palavra e o mesmo direito ao

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voto, com exatamente o mesmo valor.

Igualdade absoluta, pois.

Também as Lojas são estritamente iguais. Nenhuma tem maisdireitos ou deveres do que as outras.

Sendo assim, perguntará, e bem, quem está de fora, porque há 33graus, que relação existe entre eles, se não é hierárquica, em queconsiste esse paradigma de graus "iguais"?

Essa é matéria que procurarei esclarecer no próximo texto,dedicado aos Altos Graus.

Rui Bandeira

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Simplicidade, lógica, razão e o comportamento humano

September 10, 2010

O mundo que nos rodeia é cada vez mais complexo. Dos telemóveis aos automóveis, dos despertadores aos computadores, dos estacionamentos aos aquecimentos, tudo nos impõe mais conceitos, mais técnicas, mais botões. O lamento pela perda da simplicidade de outrora é constante. Então, num mundo dominado por máquinas de lavar cheias de botões, luzinhas e manípulos, um conhecido fabricante de máquinas de lavar roupa desenvolve um projeto revolucionário: uma máquina que pesa a roupa, da qual determina o grau de sujidade, através dos quais doseia automaticamente a quantidade de detergente e escolhe o mais eficiente programa de lavagem. Cúmulo da simplificação, a máquina é apresentada pelo Departamento de Engenharia com apenas dois controlos: um botão

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de ligar/desligar, e a escolha entre "roupa de cor ou muito suja" e"roupa de limpeza fácil"; o resto do programa é determinado pelopróprio aparelho, que dispõe de um automatismo tal que, com todaa simplicidade, parcimónia e racionalidade, reduz ao mínimo osgastos de água, detergente, tempo e energia. Contudo, estamáquina acaba por ser apresentada ao público com uma profusaquantidade de controlos adicionais, impostos pelo resultado deestudos feitos pelo Departamento de Marketing!

Pois é. Todo o racionalismo na conceção, toda a simplificação douso, toda a sofisticação do funcionamento, esbarraram em doisfactores de peso. Por um lado, a perceção por parte doconsumidor, quando compara as máquinas em exposição à procurada que vai adquirir, de que quanto mais funcionalidades a máquinativer, melhor é - e que as funcionalidades têm, forçosamente, quese traduzir em mais comandos e botões. Por outro lado, umsentimento primário absolutamente contrário aos clamores pormecanismos mais simples, e que pode ser traduzido por algo como"mas queres uma máquina que mande em ti, ou vais tu mandar namáquina?" e que deita por terra os automatismos mais argutamentedesenvolvidos.

A razão é um valor que a Maçonaria muito preza. Contudo, a mentehumana não paira no éter: reside no cérebro, que por sua vez estáagarrado ao resto desta coisa a que chamamos corpo. E mesmo amente humana não é, como podemos ver, um bastião de razãopura. Por isso a Maçonaria insiste na tolerância, no equilíbrio e nadiversificação dos saberes enquanto medidas conducentes àharmonia entre corpo e espírito, à aceitação das diferenças, e àinteriorização de que, no fundo, somos frágeis, falíveis e imperfeitos- primeiro passo para pretendermos tornar-nos melhores.

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Paulo M.

Para quem tenha curiosidade quanto à história rerferida:http://www.jnd.org/dn.mss/simplicity_is_highly.htmlhttp://www.joelonsoftware.com/items/2006/12/09.html

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Prioridades

September 13, 2010

Nunca cansa repeti-lo: nas prioridades de um maçon, os deverespara com a família, os deveres para com os filhos, os deveresreligiosos e os deveres civis sobrepõem-se aos deveres para com aMaçonaria. Por isso, uma das perguntas que alguém que pensepedir para ser admitido maçon deve fazer a si mesmo é,precisamente, se a família próxima - especialmente o cônjuge ou,como se diz agora, significant other - o apoiará, ou se, pelocontrário, lhe irá "cobrar" as ausências, as quotas e adisponibilidade mental. É essencial pelo menos a aceitação - e,idealmente, o apoio - do cônjuge para que se possa tirar partido daMaçonaria, sob pena de que os benefícios que esta deveriaproporcionar através do melhoramento do maçon - que se tornarianuma pessoa melhor e mais passível de espalhar a felicidade emseu redor - sejam ofuscados pelas querelas conugais.

Do mesmo modo que a Maçonaria Regular não reconhece Grandes Lojas em países que proíbam a Maçonaria - decorrendo isto do facto de a Maçonaria Regular se cingir estritamente ao

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cumprimento das leis dos países onde está constituída, pelo quenão faria sentido reconhecer uma Grande Loja que, para existir,violasse as leis do país que proíbem a sua própria existência -também, por idêntica ordem de razão, não deveria, em princípio,ser admitido à iniciação um profano que ocultasse do cônjuge essefacto, ou cujo cônjuge desaprovasse a sua admissão, uma vez que,devendo prevalecer o auxílio e a harmonia familiares sobre osdeveres para com a Maçonaria, estaria a ser esta causa dedesavenças e contendas, o que de modo algum é desejável.

Mesmo assim, se se conseguir fazer como defendia um doscomentadores habituais deste blogue - que, entre dois cenáriosalternativos, escolhia os dois - o ideal será, igualmente, conjugarambos os deveres sem faltar a nenhum, que foi o que tentei fazerhoje, na medida das escassas possibilidades que tive, escrevendoum texto, apesar de curtinho e publicado para além da hora docostume. Desculpem-me os habituais leitores, mas deveresfamiliares não permitiram mais; sexta-feira cá estarei com outrotexto - que se espera mais disponível e mais inspirado.

Paulo M.

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Altos Graus

September 15, 2010

A formação de um maçom está formalmente concluída logo que concluída a cerimónia pela qual ele é elevado ao 3.º grau e assume a qualidade de Mestre Maçom. Todos os "segredos" lhe estão transmitidos, todas as "lições" lhe estão dadas, o método maçónico de evolução é-lhe conhecido. A partir desse momento, o Mestre Maçom é um Aprendiz que aprende o que tem de aprender, como pretende, segundo as suas prioridades e preferências. Acabou a sua aprendizagem e tem a sua "carta de condução". Mas aprender o quê? Tudo o que lhe foi exposto, apresentado, mostrado. Todos os símbolos, rituais, ornamentos, textos, que lhe foram fornecidos ao longo da sua formação. Não que tenha de saber esses textos de cor. Mas porque todos esses elementos são pistas, sinais, caminhos abertos à sua individual exploração.

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Onde conduzem esses caminhos? Ao interior de si próprio! À interiorização das virtudes e normas de comportamento e princípios que devem reger a conduta de um homem bom e justo e que procura aproximar-se o mais possível do conceito de homem perfeito. Porquê? Porque crê que é esse trabalho, esse esforço, esse objetivo, o verdadeiro significado da vida, a razão de ser da nossa existência, porque o nosso caráter, o nosso espírito, a nossa alma (chame-se-lhe o que se quiser) necessita desse esforço, desse reforço, desse aperfeiçoamento, para evoluir e passar adiante (chame-se-lhe Ressurreição, ou Glória, ou Paraíso, ou Nirvana, ou o que se quiser). Complementarmente à sua crença religiosa e em reforço e desenvolvimento desta, o maçom procura assim descortinar o inescrutável, entrever o sentido da vida e o Plano do Criador, cumprir a sua vocação. Em bom rigor, para o fazer segundo o método maçónico não necessita de mais ferramentas do que as que lhe foram dadas ao longo da sua instrução como Aprendiz e Companheiro e na sua exaltação a Mestre. Elas chegam, está lá tudo o que é necessário para que o homem bom que um dia bateu à porta do Templo se torne um homem melhor, um pouco melhor em cada dia que passa, um tudo nada melhor do que no dia anterior e um não sei quê pior do que no dia seguinte. Para esse trabalho fazer, basta-lhe atentar e meditar e trabalhar nos conceitos e lições que recebeu, explorar a miríade de símbolos e chamadas de atenção com que se deparou. E tirar de cada meditação, de cada exploração, de cada esclarecimento, a

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respetiva lição e - mais e sobretudo - aplicá-la na sua conduta de vida. O Mestre Maçom tem tudo o que necessita para o seu trabalho e a obrigação de ensinar os que se lhe seguem - cedo descobrindo que será também ensinando que ele próprio aprende... Mas alguns Mestres Maçons sentiam-se insatisfeitos, desconfortáveis. Até à sua exaltação, tinham tido um guião, uma cartilha, mentores, que auxiliavam o seu percurso. E, de repente, ainda inseguros, ainda tateando o seu caminho, os seus Irmãos largavam-nos ao caminho e diziam-lhes: "aí tens tudo o que precisas de ter para fazer o teu caminho! Procura, lê , estuda, medita, tenta, acerta, erra, quando errares volta atrás e tenta de novo até acertares." Não haveria maneira de guiar ainda o seu trabalho? Não de os conduzir, mas de fornecer como que um mapa, um guia, que facilitasse a sua tarefa? Tudo bem que tudo o que havia a explorar e aprender já lá estava no que lhe fora ensinado. Mas as alegorias têm de ser decifradas, os significados encontrados... É certo que o trabalho tem de ser individual mas... precisa absolutamente de ser tão solitário? Está certo que cada Mestre Maçom deve procurar a sua Luz e, para o fazer, tem de se abalançar ele próprio a atravessar a escuridão mas... não se pode dar-lhe nem uns fosforozitos, nem uma velinhas, para ajudar a alumiar o caminho? Cedo se chegou à conclusão que sim, que se podia. Que, embora cada um tivesse os meios de explorar o seu caminho, não havia mal nenhum em proporcionar a quem o quisesse um mapa, um guia, um roteiro, que desenvolvesse, paulatinamente, patamar a patamar, as noções que já estavam disponíveis para serem

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desenvolvidas, mas que não havia mal nenhum se o fossem através de um roteiro bem organizado. E assim se desenvolveu aquilo a que hoje se chama Altos Graus. Nas derivas do Romantismo, muitos sistemas de altos Graus foram desenvolvidos. De alguns deles ainda restam resquícios, tentativas de manutenção. Outros entretanto desapareceram. No mundo maçónico, nos dias de hoje, predominam dois sistemas de Altos Graus, do Rito Escocês Antigo e Aceite e do Rito de York. Outros são também praticados: do Rito Escocês Retificado, por exemplo. Mas não se engane ninguém: ao percorrer qualquer desses sistemas (ou mais do que um), não se sobe, não se fica mais alto, mais poderoso, superior. Ao percorrer cada um dos sistemas de Altos Graus está-se a utilizar um guia de auxílio no nosso caminho individual. Cada grau não é um patamar. É uma viagem de descoberta e estudo. E o grau seguinte não é um patamar superior. É apenas outra viagem de descoberta e estudo. De que se volta para de novo partir, seja para reestudar a mesma lição, para reestudar lição anterior, ou para explorar nova lição. E, a todo o momento, o Mestre Maçom pode decidir fazer nova viagem segundo o seu roteiro (e tomar novo grau) ou explorar por sua conta própria. Ou fazer ambas as coisas... A Maçonaria é um caminho de conhecimento, iluminação e aperfeiçoamento. Que cada um percorre como quer. Às vezes com roteiro. Às vezes sem guia. Uns de uma maneira. Outros de outra. Nem sequer, bem vistas as coisas, o mais importante é o destino. Importante, importante mesmo, é afinal a viagem e o que se retém

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dela! Rui Bandeira

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A Maçonaria incorpórea

September 17, 2010

"Ministro da Saúde acusa Medicina de incoerência". "Engenhariadesacredita cursos do ensino privado". "Dança moderna nabancarrota". "Atletismo acusado de burla". "Geografia convocaeleições". "Química sobe os preços dos combustíveis". Imaginemqualquer destas frases na primeira página de um jornal. Nenhumadelas faz sentido, pois não? Agora imaginem-nas alteradas destaforma: "Ministro da Saúde acusa Ordem dos Médicos deincoerência". "Associação dos Engenheiros Civis desacreditacursos do ensino privado". "Escola Nacional de Dança Moderna nabancarrota". "Tesoureiro do Conselho Superior de Atletismoacusado de burla". "Sociedade Lisbonense de Geografia convocaeleições". "GALP sobe o preço dos combustíveis". Já se percebemelhor, não acham?

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A Medicina, a Engenharia, a Dança, o Atletismo, a Geografia, aQuímica, não são entidades; são, quando muito, nomes de áreasdo saber, de técnicas, de actividades. Dizer-se que "a Medicina" fezisto ou aquilo é desprovido de sentido, assim como o é acusar-se"a Política" de má fé. Já dizer-se que "o quadro médico do HospitalX ganhou prémo de excelência" é um discurso pelo menoscoerente, como o será acusar-se "o Secretário de Estado de Z" demá fé. Por outro lado, não parece correto dizer-se que "a ponte foiconstruída com recurso aos mais modernos conhecimentos daOrdem dos Engenheiros", mas se dissermos "aos mais modernosconhecimentos da Engenharia" tudo muda de figura.

Entaladas entre dois conceitos ficam frases como "Igreja Católicacondena o uso do preservativo", ou "O Futebol está de luto". O quenão é claro, nestes casos, é a identidade do sujeito. "IgrejaCatólica" refere-se a quê, precisamente? Ao conjunto dos fiéis,significando que estes, na sua maioria, condenam o uso dopreservativo; ou, por outro lado, ao Papa, enquanto representanteda Igreja Católica, sendo este quem condena independentementeda posição da massa de fiéis? Quanto ao futebol, pode a notíciasignificar que, por exemplo, a Federação Portuguesa de Futeboldecretou luto oficial por uma qualquer razão; ou pode, por outrolado, querer dizer que milhões de adeptos da modalidade sofremcom a perda de uma figura de referência. Qualquer dasinterpretações faz sentido; traduz é realidades distintas.

Precisamente o mesmo fenómeno ocorre de cada vez que se ouve ou lê: "A Maçonaria fez...", "Maçonaria implicada em..." ou "Ligações à Maçonaria no caso...", como se a Maçonaria, à semelhança de uma Igreja, de uma Colmeia ou um Clube Desportivo, fosse uma entidade, uma soma das partes, um

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substantivo coletivo. E aqui, uma vez mais, há quem tenha umentendimento, e quem tenha outro, quem concorde com estaposição e quem a repudie.

Para a Maçonaria Regular - de origem Britânica, recorde-se - "aMaçonaria" não é o conjunto dos Maçons, mas o nome daquilo queeles fazem, do mesmo modo que "a Medicina" é o nome daquiloque os médicos fazem, e não o nome que se dá ao conjunto dosmédicos. Da esfera da Maçonaria Regular faz parte o princípio deque a Maçonaria não deve intervir na sociedade enquanto tal, masapenas através de cada maçon. Cada um destes pode - deve! -promover a melhoria da sociedade através do seu próprio exemplo,da sua atuação e da sua influência, seja isoladamente seja emações conjuntas dos elementos da mesma Loja ou, mesmo, damesma Obediência (ou seja: da mesma Grande Loja ou GrandeOriente). Assim, não se pode dizer que a Maçonaria Regular tenhaum "corpo" atuante, pois cada mão, cada dedo, cada cabelo, agepor si mesmo, sem que haja concertação daquilo que se faz.

Entendimento diverso tem, normalmente, quem pratica a MaçonariaLiberal - de origem Francesa - por entender ser a Maçonaria oconjunto dos Maçons, ativamente empenhados, enquanto parceirosocial, na promoção dos ideais maçónicos de uma sociedade maislivre, mais igualitária e mais fraterna. A Maçonaria é, aos seusolhos, o conjunto daqueles que defendem uma mesma visão domundo, e que se congregam enquanto grupo organizado no sentidode a tornar realidade. Deste modo, atua de forma mais ou menosconcertada, mas sempre com a consciência de que fazem parte deum todo, de um corpo, com um propósito comum para o qual cadaum contribui na medida da sua possibilidade.

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Em Portugal, a obediência internacionalmente reconhecida no seioda Maçonaria Regular é a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, deque a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues faz parte. Amaior das obediências portuguesas internacionalmentereconhecidas no seio da Maçonaria Liberal é o Grande OrienteLusitano (GOL). Uma e outra praticam Maçonaria - mas fazem-node forma substancialmente diferente, decorrendo esta diferença,nomeadamente, do distinto entendimento que têm da ação daMaçonaria na sociedade. Não será alheia a esta diferença depostura perante a sociedade a profusão de referências nos mediaao GOL, enquanto que a GLLP/GLRP tem uma exposiçãomediática muito mais reduzida. A avaliação do quanto de benéficoou de nefasto para cada uma das Obediências e para a Maçonariaadvém destas distintas posturas é algo que vos deixo comoexercício de especulação individual.

E a partir de agora, quando ouvirem dizer ou lerem que "aMaçonaria" fez isto ou aquilo, averiguem a quem se refere anotícia: a que maçons, a que loja, a que obediência - isto, se nãofor "boato". Vão ver que, se o fizerem, muitas das perguntas queaqui têm surgido ficarão rapidamente respondidas - ou saberão,pelo menos, a quem dirigi-las.

Paulo M.

(Todas as frases referidas no primeiro parágrafo são um produto deficção e meramente exemplificativas; qualquer eventualcorrespondência com a realidade não passa de mera coincidência)

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Dos demónios e falsos deuses

September 20, 2010

É infelizmente frequente - e, na última década, tem-no sido mais doque nas anteriores - ouvir-se os seguidores de uma religiãoatacarem e denegrirem os seguidores de outras. De cada lado sevê quem, aferrado às suas "razões", esgrime argumentosteológicos, brande razões sociais e antropológicas, e por fim cravaos ferros do mais baixo e vil preconceito. Em cada fação se incita oespírito de cerco, se exacerba a diferença entre o "nós" e o "eles",e se exorta ao ataque e à conquista (pela força, claro) do outro, doherege, do infiel, do adorador de demónios. Sim, que quase todasas religiões, de um modo ou de outro, reclamam a posse daVerdade, o monopólio do Caminho, a exclusividade da Luz - o que,infelizmente, é interpretado por muitos como "quem não é dosnossos está condenado".

Um dos pilares de base da maçonaria especulativa, desde que esta existe, tem sido, precisamente, a oposição a este mindset, a esta forma mesquinha de gerir a diversidade, a esta incapacidade de ver

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o mundo por outros olhos, de outro ângulo, sob outra luz. Numcontexto histórico em que o confronto entre lados opostos tinhadado origem a uma guerra civil, a maçonaria estimulava acontenção, a tolerância e o amor fraterno entre homens que, deoutro modo, nunca demonstrariam sequer um mínimo deurbanidade uns para com os outros. Estabelecendo conceitospassíveis de ser considerados um mínimo denominador comum,uma plataforma base de estabelecimento de pontes culturais ereligiosas entre crentes de diversas fés, a maçonaria proibia - demodo a manter a harmonia custosamente conquistada - que cadaum ultrapassasse esses frágeis compromissos e, em loja,manifestasse o que quer que fosse de próprio e exclusivo de umaqualquer denominação religiosa.

Logo vozes clamaram que a maçonaria queria destruir esta ou aquela religião, e que a maçonaria era um anátema, uma abominação, uma obra dos seguidores de satanás. Ao pretender conciliar várias crenças sob uma mesma égide, a maçonaria teria tocado num ponto nevrálgico: a maioria das pessoas não estava (e não está...) na disposição de admitir que o "outro" possa, seguindo um caminho diverso do seu, chegar ao mesmo lugar. Muitas religiões ensinam, mesmo, que os "deuses" das outras religiões são, na verdade, demónios empenhados em confundir os incautos, e que segui-los é caminho certo para a danação eterna. Esta perspetiva é, de facto, absolutamente incompatível com a maçonaria, por ser diametralmente oposta ao conceito de tolerância que a maçonaria promove e defende. Como poderia um maçon sentar-se em loja ao lado de alguém que ele considerasse um adorador de demónios, e com ele dizer estarem ambos a trabalhar "à Glória do Grande Arquiteto do Universo", expressão

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que congrega os diversos conceitos de divindade de cada um dosmaçons sob uma denominação comum? Por outro lado, quemtivesse a alma grande e quisesse "salvar" o seu irmão do erro emque este estivesse metido, apresentando-lhe as virtudes da suaprópria fé, logo se veria remetido ao silêncio, senão voluntário, logoimposto. Como conciliar esta limitação ao proselitismo com deveresassumidos para com a sua igreja ou religião?

A resposta é simples: a maçonaria não é para esses. Quem assimpensar e quiser juntar-se a nós, melhor será que o não faça, ourapidamente se verá confrontado com situações que lhe serãodesconfortáveis e que pode entender serem contrárias aos ditamesda sua fé. Nesse caso, o melhor que teria a fazer - pois nuncadeveria ter sido admitido, no seu próprio interesse - seria pedir oatestado de quite e abandonar a maçonaria, pois os deveres decada um para com a sua fé sobrepõem-se aos deveres para com amaçonaria. Quem achar que é sua obrigação converter o mundo auma determinada fé, pois que o faça (ou que o tente...) mas sem acondição de maçon a atrapalhar. E quem, no mais fundo do seucoração, achar que todos quantos abraçam outras fés sãoadoradores de falsos deuses, ou mesmo de demónios, então nadatem que aprender connosco.

Mas quem aceite as limitações do seu entendimento, que a fé e a certeza são coisas distintas, e que várias pessoas podem olhar para a mesma coisa e ver coisas diferentes; quem queira ultrapassar o preconceito, praticar a virtude e tornar-se numa pessoa melhor; quem queira fazê-lo acompanhado, ajudando e sendo ajudado num espírito de fraternidade que ultrapassa as diferenças e as diversidades de pontos de vista; então encontrará entre nós verdadeiros irmãos na pessoas de uns quantos homens

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bons que, sob um mesmo Deus - mas respeitando as diferenças deentendimento que cada um tem d'Ele - se juntam para se tornaremmelhores.

Paulo M.

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O Visitante, o Viajante e o Turista

September 22, 2010

Três homens decidiram deslocar-se a uma grande cidade, umadaquelas cidades que todos desejamos conhecer, com história,dimensão, vida, monumentos, museus, teatros, cinemas, enfim,uma metrópole moderna. Todos eles dispunham de tempo e meiospara por lá ficarem um mês e todos eles iam decididos a fazer a"viagem da sua vida" e a ficar a conhecer aquela cidade o maisprofundamente possível. Esses três homens eram, como é natural,diferentes e cada um preparou e realizou a expedição à suamaneira.

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O primeiro homem, chamemos-lhe Visitante, contratou através da sua agência de viagens os serviços do melhor operador turístico da cidade, que lhe preparou meticulosamente a estada. Chegado a essa cidade, o Visitante tinha preparado um completo programa de trinta dias de visitas guiadas a tudo o que a cidade de melhor tinha para oferecer aos seus visitantes. Foi uma visita inesquecível! O Visitante foi guiado pelos melhores museus da cidade, onde lhe foram mostradas as mais significativas obras de arte que aí havia e as mesmas foram explicadas, enquadradas histórica e artisticamente. Foi guiado nas visitas aos mais relevantes monumentos, sendo-lhe chamada a sua atenção para o seu significado histórico, os detalhes da sua construção, a sua utilização nos dias de hoje. O operador reservou-lhe bilhete para assistir ao melhor espetáculo da cidade, proporcionou-lhe um guia para o conduzir pelas mais esconsas vielas da Cidade Antiga, pelos mais pitorescos recantos, pelos mercados mais tradicionais, apresentando-o a interessantes pessoas que ali viviam ou trabalhavam. Também ao Visitante foram mostradas as mais deslumbrantes paisagens da cidade e proporcionados demorados e agradáveis passeios nos mais agradáveis parques e jardins ali existentes. Claro que foi conduzido também às melhores, mais concorridas, completas e diversificadas zonas comerciais da cidade, onde o Visitante pôde admirar a maior variedade de objetos e bens de consumo e adquirir o que lhe interessou adquirir. Visitou a Universidade e as Bibliotecas, guiado por um culto guia que o operador contratou para o efeito. Visitou o Parlamento e os mais emblemáticos edifícios onde funcionavam os representantes políticos da urbe e do país, ouvindo as explicações de um guia especializado, que o esclareceu sobre as circunstâncias e a prática

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política ali vigentes. Maravilhou-se com a grandiosidade dosedifícios religiosos, enquanto ouvia as informações e explicaçõesproporcionadas pelo guia especialista em Arte Sacra que ooperador turístico contratou para o efeito. Enfim, foram trinta diasde algum cansaço, muitas visitas, muitos conhecimentos novospara digerir, mas foi realmente uma viagem extraordinária! Noregresso, o Visitante pensava na melhor forma de elucidar os seusconterrâneos sobre as maravilhas, as riquezas, as belezas, queexistiam naquela deslumbrante metrópole.

O segundo homem, designemo-lhe por Viajante, preparou e realizou a sua viagem de forma muito diferente. Não contratou os serviços de qualquer operador turístico, dispensou excursões e visitas guiadas. Preparou a sua viagem lendo tudo o que conseguiu descobrir sobre a cidade, a sua história, os seus monumentos e locais de interesse, as suas gentes. E mal desembarcou na cidade e se instalou no hotel escolhido, lançou-se numa contínua exploração da cidade. Também visitou, mas por si só, museus. Não viu tudo. Não teve ninguém que lhe chamasse a atenção para as melhores obras. Mas viu o que antecipadamente lera que era importante ver, apreciou demoradamente aquilo de que gostou, passou mais brevemente pelo que achou menos significativo. Também visitou e fotografou os monumentos da cidade, descobrindo ângulos curiosos, vestígios do passado interessantes. Falou com os guardas dos monumentos e descobriu curiosas e picarescas histórias, do passado e do presente, por eles contadas. Perguntou aos habitantes locais que espetáculos interessantes havia e acabou por ir ver um par de espetáculos que não constavam dos circuitos turísticos, que o elucidaram sobre a genuinidade das gentes daquela terra. Vagabundeou pela Cidade

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Antiga e ali se perdeu horas esquecidas, recanto aqui, conversaacolá, absorvendo a atmosfera da cidade e da sua história e da suavida. Provou o que se vendia nos mercados, comeu as comidastípicas da cidade, confraternizou à roda de uns copos comgenuínos habitantes da cidade, apercebeu-se dos seus anseios edesilusões, das suas alegrias e tristezas, do seu labor e do seuócio. Passeou por agradáveis jardins, observando as brincadeirasdas crianças e nelas se intrometendo. Conheceu muita gente,conversou, ouviu histórias interessantes, soube onde adquirir asmais genuínas coisas da cidade ao melhor preço, visitou fábricas elocais de trabalho, escolas e locais de culto. Em descontraídamanhã de domingo, ousou mesmo jogar com um grupo de jovens odesporto preferido na cidade e - claro! - perdeu... Falou comtaxistas e polícias, vendedores e ardinas e artesãos ecomerciantes, enfim embrenhou-se no coração da cidade,misturou-se com as suas gentes, viu e visitou a cidade e tudo o quede bom e bonito ela tinha pelos olhos dos seus habitantes. Quandofindou o tempo que tinha reservado para aquela visita, o Viajantequase se sentia um novo habitante daquela urbe, dela partia comalguma pena. Na sua máquina fotográfica, tinha mais fotografias depessoas do que de monumentos, mas cada imagem de cadapessoa recordava-lhe um momento único, uma história curiosa, umepisódio pitoresco. Na viagem de regresso, pensava de si para sique ficara mesmo a conhecder a cidade e as suas gentes e quetalvez fosse interessante elucidar os seus conterrãneos como sevivia naquela importante urbe.

O terceiro homem, refiramo-lo por Turista, antes de viajar, comprou um guia de viagem relativo à cidade, consultou-o e assinalou meia dúzia de monumentos a visitar, viu quais os restaurantes

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recomendados, anotou as mais agradáveis esplanadas. Escolheucuidadosamente o hotel onde ficaria. Chegado à cidade, instalou-seno hotel e tratou de descobrir os serviços que proporcionava.Reservou um dia para utilizar o SPA, comprou umas horas deconsumo de Internet, para que, diariamente, ou quase, reservasseum pedaço do dia a ler as notícias do seu país. Contratou, paradeterminado dia, uma visita guiada à cidade, daquelas de autocarroaberto com guia de microfone, que vai debitando informações sobreo que se vai vendo. Visitou descansamente a cidade. Viu osmonumentos que selecionara, calma e descontraídamente. Comeuem todos os restaurantes que referenciara. Passou agradáveis finsde tarde em sossegadas esplanadas. Passeou quando lheapeteceu, olhando para onde o seu olhar caía, falando com quem oacaso colocava perto de si, ouvindo os ruídos ou músicas que asorte e o local proporcionavam, cheirando aqu o perfume de flores,ali o odor de comida. Enfim, descansadamente viu o que quis ver,visitou o que lhe agradou visitar. Descansou e andou, parou eavançou. Voltou aos locais que mais lhe agradaram. Nem sequerpassou por onde não lhe interessava. No regresso, satisfeiro erepousado, começou a germinar na sua mente algo que decidiupartilhar com os seus conterrâneos.

Caro leitor, faça agora uma pausa, pense e decida de si para si:qual dos três agiu melhor? E qual o pior?

A minha opinião é que nenhum foi melhor ou pior do que osdemais. Cada um viu a cidade da e pela forma que a ele mais lheconvinha. Todos tiraram proveito da estada. Certamente proveitosdiferentes - mas isso não é melhor nem pior, apenas diferente!

O Visitante, de regresso a casa, escreveu um exaustivo guia de viagem sobre a cidade, pelo qual os seus conterrâneos quase

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podiam saber tudo o que havia a saber sobre ela, mesmo antes delá chegarem. O Viajante escreveu um livro de viagem, que retratou,com grande fidelidade, como era, como vivia, o que sentia, a gentedaquela cidade. As suas impressões, os seus relatos permitiram aquem leu esse livro saber como é realmente, por dentro, essacidade e como são os seus habitantes, mesmo antes de lá irem. OTurista, esse, regressado da sua despreocupada, descansada enada exaustiva viagem... escreveu um romance passado naquelacidade. Quem o leu, admirou, além da qualidade da escrita e datrama da história, a forma como daquelas páginas se desprendia,leve mas sensivelmente, a atmosfera da cidade.

Que tem isto que ver com Maçonaria? Releia, caro leitor, o meu último texto sobre os Altos Graus. O Visitante simboliza o maçom que decide percorrer os Altos Graus, fazer a sua viagem apoiado no guia. Tudo aprende, certinho, direitinho. Compensa a falta de espontaneidade com a qualidade e quantidade do saber que recolhe. O Viajante simboliza o maçom que opta por seguir o seu caminho por si, fazendo a sua busca desenvolvendo ele as noções que aprendeu no seu percurso até à sua Exaltação como Mestre Maçom. Não tem a sua viagem tão organizada, tão completa, mas vive intensamente a sua busca. Não recolherá talvez a quantidade de ensinamentos passível de ser recolhida numa viagem organizada, mas recolheu o que lhe interessa e, no que lhe interessa, aprende a fundo. Vive a sua viagem e apreende a essência dela. E o Turista? Esse é o maçom que não se preocupa grandemente com tempos e saberes. Faz a sua viagem, segundo o seu tempo, o seu ritmo, os seus gostos. Não conhecerá tão profundamente como os outros, mas tudo vê, talvez mais de passagem, talvez mais intermitentemente, mas sempre de uma

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forma para si agradável. Só vai à Loja quando lhe apetece ir à Loja,uns anos exerce ofícios, noutros não está nisso interessado.Quando vai, quando está, participa e contribui. Mas nem sempreestá disponível, necessita das suas pausas nas esplanadas. Faz asua viagem como gosta, ao seu ritmo. Não aprende tanto como oVisitante, nem tão profundamente como o Viajante, mas o queaprende, aprende com gosto e por gosto e disso retira proveito. Epartilha-o.

Todos fazem a sua viagem conforme preferem. Todos partilham oque aprendem com ela. Cada um à sua maneira. É útil partilhar aerudição. Mas também é útil partilhar a profundidade, a vivência, agenuinidade. E não menos útil partilhar a Beleza, a satisfação, quese tira da viagem, seja ela mais esforçada ou mais descansada.Nenhuma forma de viajar é melhor do que a outra. São,simplesmente, diferentes.

Afinal, o Visitante, que tudo aprendeu na sua primeira estada,quando voltar, já só voltará a lugares escolhidos, para relembrar asua beleza e terá disponibilidade para sentir a vida do povo dolugar. E o Viajante, que conheceu ao início como vive a cidade,quando voltar certamente quererá saber mais sobre os seusmonumentos e sua história, dará mais atenção à erudição, mastambém apreciará fazê-lo mais descansadamente, com maispausas, para melhor apreciar a atmosfera da cidade. E o Turista,esse, sempre visitando ao seu descansado ritmo, quando voltaaprende mais um pouco e mais profundamente.

Não importa como se começa, como se prefere fazer a viagem. O que importa é fazê-la e ir aliando a Sabedoria (os conhecimentos privilegiados pelo Visitante), à Força (a profundidade, a vivência, a genuinidade, em primeiro lugar buscadas pelo Viajante) e à Beleza

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(descansadamente privilegiada pelo Turista).

Maçonaria é vida, faz parte da vida, é uma forma de aprender eapreciar e viver o mundo à nossa volta. De evoluir com a nossavivência. E sobretudo de partilhar a nossa vivência, os nossosconhecimentos, a nossa evolução com os demais e beneficiar dapartilha do que os demais nos proporcionam. Em suma, de cadaum fazer a sua viagem, da forma que prefere e de que retira maisproveito e partilhar esse proveito com os demais, pela forma comomelhor o conseguir fazer.

Rui Bandeira

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Correlação e causalidade (I)

September 24, 2010

O governo de um país, preocupado com as assimetrias verificadasno rendimento escolar dos seus cidadãos mais jovens,encomendou um estudo que permitisse determinar uma formaeficaz e eficiente de aumentar os níveis de literacia da porção maisdesfavorecida dessa faixa populacional. A metodologia adotada erasimples e, aparentemente, inatacável: pretendia-se estudar asfamílias cujos filhos tivessem melhor rendimento escolar, e isolar asvariáveis determinantes para as diferenças verificadas. Notou-se,durante o estudo, que havia, nas casas dos miúdos com melhoresnotas, determinados livros que pautavam pela ausência nasfamílias dos miúdos com resultados mais baixos: clássicos daliteratura, livros infantis e juvenis, dicionários e enciclopédias, entreoutros.

Face a isto, o que decide o governo fazer? Ora, muito apropriadamente, estabelecer uma "biblioteca familiar básica" com base nos livros detetados, adquirir milhões de livros e, semanalmente, enviar um diferente para cada uma dessas famílias

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cujas crianças tinham piores notas. Excelente ideia - no papel. E oresultado? Zero. Os livros não tiveram qualquer impactomensurável.

"- Mas como é possível?!" - perguntarão. Muito simplesmente -especulou-se depois - porque não era dos livros que decorriam asboas notas, mas de toda uma cultura familiar de que os livros eramum mero sintoma. Assim, nas famílias cujos pais detinham um nívelde escolarização superior, ou um nível cultural mais elevado, eranatural que existissem livros que lhes interessassem ou queachassem que interessariam aos filhos. Os bons resultadosadviriam do tipo de contacto, de atividades, do estilo de educaçãoque os pais imprimiam nos filhos, e quem nem um milhão de livrospoderia substituir.

Mas não nos fiquemos por aqui. Já todos ouvimos certamente dizerque "um ou dois copos de vinho tinho por dia tomados às refeiçõesfazem bem ao coração". De facto, há estudos que apontam parauma fortíssima correlação entre o consumo moderado e regular devinho tinto e uma boa saúde cardíaca. O que poucos saberão éque, estudo clínico após estudo clínico, as farmacêuticas têm - emvão - tentado isolar as substâncias do vinho responsáveis por esseefeito. Parece que o efeito se desvanece assim que o vinho éseparado nas substâncias que o constituem. Pior: se o vinho tinto,por si mesmo, foi administrado como se de um medicamento setratasse, de forma controlada e medida, deixa de apresentarqualquer efeito.

Uma vez mais, conjetura-se que quem pratica esse consumo moderado - os tais dois copitos por dia de vinho tinto - é quem, por um lado, tem algum poder económico que lho permita, e por outro lado não caia em exageros ou em excessos de consumo. Em

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suma: alguém com dinheiro para investir na sua própria saúde ebem-estar, e com um estilo de vida descontraído que lhe permitafazer refeições sem pressas, quiçá em boa companhia, mesmo quenão consuma vinho, terá certamente menos problemas cardíacosdo que a média... Uma vez mais, o consumo de vinho seria umsintoma, um indicador, e não uma causa.

Estes exemplos são bem ilustrativos da diferença entre "correlação"e "causalidade". Para haver correlação entre dois fenómenos bastaque se detete que quando um se verifica mais, ou outro também severifique mais (ao que se chama uma correlação positiva), ou severifique menos (caso em que passa a ser uma correlaçãonegativa). No primeiro caso havia uma correlação entre os livros eo sucesso escolar; no segundo, entre o consumo de vinho e adoença cardíaca. Contudo, para que haja causalidade, énecessário que se prove que uma das ocorrências foi causada pelaoutra - o que nem sempre é fácil, pois obriga a que se descubra,com perfeita clareza, os mecanismos que leva de um estado aooutro.

De facto, a indústria farmacêutica desconhece as razões por detrás do funcionamento de muitos medicamentos à venda no mercado; não fazem ideia de qual seja o nexo de causalidade, apenas conhecem a existência de uma correlação. Para estabelecer a correlação basta observar e reter; contudo, para determinar a causalidade é necessário, através do raciocínio, procurar a regra, a fórmula, a razão por detrás dos fenómenos ocorridos. Especulativa que é, cada uma dessas regras pode sempre ser refutada caso se encontre um caso concreto à qual ela se não aplique; tem, então, que se encontrar uma nova regra de que decorram os mesmos resultados para o que foi já estabelecido, mas que comporte ainda

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os resultados dos casos novos.

É esta a base do conhecimento e do método científicos: aobservação - e mensuração - repetida dos fenónenos, aespeculação das regras a partir dos resultados, e a validação dasregras ao longo do tempo. E que tem isto que ver com maçonaria,perguntareis? Tudo! Um maçon é um homem tendencialmenteesclarecido e completo, e distinguir estes dois conceitos -correlação e causalidade - é essencial para a compreensão demuitos argumentos, e para o desmontar de muitas falácias edesonestidades intelectuais que tolhem e limitam a nossacapacidade de escolha - pois que, só na medida directa em queestamos de posse da verdade, é que podemos verdadeiramenteagir com liberdade.

Paulo M.

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O dia foi bom para a Mestre Affonso Domingues

September 26, 2010

Ontem o dia foi bom para a Loja Mestre Affonso Domingues.

Ficou demonstrado que o trabalho arduo é o caminho a seguir.

José Ruah

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O Sexto Grão Mestre

September 26, 2010

Foi ontem, perante uma assembleia de varias centenas de irmãos portugueses e estrangeiros, instalado o Sexto Grão Mestre da GLLP/GLRP, José Francisco Moreno de seu nome. O MRGM J.Moreno, é obreiro da Grande Loja há muitos anos e o seu CV maçónico foi já aqui publicado por ocasião do processo eleitoral. José, como o trato, perdão Muito Respeitavel José, é um companheiro de caminho desde 1992, quando foi iniciado na Loja Mestre Affonso Domingues, da qual sempre foi obreiro e Veneravel Mestre. A sua instalação enquanto Grao Mestre é um corolário do seu caminho maçónico de então a até hoje. Pessoa de poucas palavras e muitos actos, nele ficam agora depositadas as esperanças de um mandato tranquilo e proficuo. E como muito bem disse o actual VM da Mestre Affonso Domingues, Irmao José Moreno vais daqui emprestado ao oficio de Grão Mestre mas concluido que for o teu desempenho queremos-te de volta na Loja. Votos de bom trabalho

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José( como ele me chama a mim)

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Correlação e causalidade (II)

September 27, 2010

Quando, ainda pequenos, começamos a aperceber-nos do mundoque nos rodeia, tudo é inesperado, e o controlo que temos sobre anossa realidade imediata é muito reduzido. Com a repetição dosacontecimentos em circunstâncias semelhantes vamo-nosapercebendo de padrões, coisa que o nosso cérebro estáespecialmente "afinado" para detetar. Apercebemo-nos, destemodo, que logo após uma coisa sucede, normalmente, umasegunda e, ao fim de algumas repetições, quais cães de Pavlov,começamos a salivar logo que ouvimos a sineta.

Pode ser impossível memorizar todas as ocorrências de um fenómeno frequente, mas muito fácil recordar uma regra que as traduza e resuma. A questão que se coloca é, por um lado, a da fiabilidade da regra para explicar os acontecimentos passados, e por outro a capacidade de prever os acontecimentos futuros. E,

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mesmo quando a encontramos - a regra perfeita que explica acorrelação perfeita - nada fica explicado, apenas registado.

Suponhamos que eu pego num copo de água e o provo. Não sabea nada - ou não deve saber, pois a água pura é insípida e inodora.Agora pego num pouco de açúcar, deito-o na água e provo. A águapassou a "saber a doce"! Posso repetir esta experiência as vezesque quiser, até chegar a uma conclusão: de todas as vezes quedeitei açúcar na água a água ficou doce. A partir desta constataçãovou inferir uma regra que, espera-se, seja universal: sempre quealguém deitar açúcar na água, esta fica doce. Estabelecemos umacorrelação.

Esta informação é útil? Claro que sim. Perguntem-no a qualquerpessoa que trabalhe numa cozinha. Mas explica verdadeiramentealguma coisa? Claro que não. Ficamos a saber que a água ficadoce, mas não sabemos porquê. Para isso, teremos que estudar aspapilas gustativas, os recetores que detetam os iões presentes noaçúcar, e os estímulos gerados nas mesmas para o cérebro. Aí,sim, podemos dizer que entendemos o fenómeno, e que, dacorrelação, passámos à causalidade: o açúcar é, de facto, a causado sabor a doce. Com base nesta informação, e cientes de comofunciona a nossa língua, podemos, agora, inventar coisas novas,como adoçantes que não tenham as propriedades do açúcar. E quenos adianta isso sobre o conhecimento inicial de que o açúcaradoça a água? Por vezes, muito; as mais das vezes, nada paraalém da satisfação de entendermos um pouco melhor o nossomundo.

A maioria do conhecimento que temos é meramente correlacional, e não estabelece qualquer prova quanto à causalidade. Uma correlação consegue-se pegando nos dados, na observação dos

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fenómenos repetidos muitas vezes, e inferindo, através de métodosmatemáticos, uma ligação entre eles. A correlação, contudo, nadademonstra por si mesma. Peguemos, por exemplo, no crescimentosemanal, em centímetros, das tulipas de uma certa estufa, ao longode alguns meses; e no preço, em euros, das botas de neve numaloja de desporto. Poderia suceder, por mero acaso estatístico - oupor qualquer outra razão - que houvesse um a correlação perfeitaentre ambas as medidas. Uma correlação é algo de objetivo eindesmentível por definição: contra factos não há argumentos,como se costuma dizer.

Já o mesmo não pode dizer-se das conclusões de causalidadesupostamente decorrentes de tal correlação. Seria, por exemplo,pouco sensato dizer-se que "o crescimento das tulipas torna asbotas mais caras", ou que "as tulipas crescem tanto melhor quantomais caras estiverem as botas de neve". Pior, ainda, seriaaumentar-se o preço das botas esperando que isso aumentasse ataxa de crescimento das tulipas... Já, por outro lado, dizer-se que"quanto mais alta a temperatura, mais crescem as tulipas por umlado, e mais raras são as botas de neve nas lojas - pois terão sidovendidas na época fria - o que as torna mais caras" pode ter todo ocabimento - mas carece de demonstração para se poderestabelecer uma causalidade.

Contrariamente à correlação, estritamente objetiva, a causalidade implica sempre uma dose de especulação e de juízo sobre os dados objetivos que lhe darão suporte. Estabelecer uma correlação é, muitas vezes, trivial; provar uma causalidade é, por outro lado, frequentemente um desafio, para não dizer impossível. É, quase sempre, um trabalho árduo. Contudo, provar-se uma causalidade permite-nos chegar mais fundo, entender melhor, alargar o

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conhecimento dos conceitos em causa, coisas que a meracorrelação não garante. Deveremos, por isso, abandonar ascorrelações e focar-nos nas causalidades? Claro que não.Devemos é saber distingui-las, dar a umas e a outras o devido valore, acima de tudo, não tomar por causalidades o que não passa demeras correlações - falácia que muitos órgãos de comunicaçãosocial, ávidos da nossa atenção, repetem vezes sem conta.

Paulo M.

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Terminando um periodo

September 28, 2010

Chega ao fim um período. Foram três anos e meio de mandato (2 + 1 ½), mas na verdade foram 4 anos desde o anuncio formal da candidatura do Mário ao cargo de Grão Mestre. Foram muitas conversas, muitas opiniões trocadas, muitas idas à Mexicana para “despacho” (ou só mesmo para um café). Foram muitas gargalhadas, sorrisos, cumplicidades, e mesmo algumas preocupações. O lema era, temos que nos divertir a fazer isto. Foi também muito trabalho feito, por todos os que receberam as várias incumbências, que apareciam sempre numa chamada telefónica simpática e preferencialmente com estes termos “ não achas que seria importante….”. Impossível recusar. Duas hipóteses se me põem para continuar este texto. Torná-lo longo e extenso, ou curto e conciso. Opto pela segunda porque enumerar o que aconteceu ao longo destes últimos anos seria impossível. Apesar de cada vez que falamos o Mário me dizer que eu tenho mais 4000 anos de sabedoria que ele, na verdade foi ele que me ensinou quase sempre, mesmo quando discordávamos, e se discordámos.

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Quero pensar que fizemos uma boa equipa, e que o resultado finalsendo positivo, se resume a uma Grande Loja melhor e maisestruturada, mais muito mais por intervenção do Mário. Mário, Muito Respeitável Irmão, Antigo Grão Mestre, mas para mime para mais uns quantos – Tio Mário ou melhor Muito RespeitávelTio – obrigado pelo trabalho que fizeste e que proporcionaste fazer. José Ruah

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André Franco de Sousa, maçom nacionalista angolano

September 29, 2010

André Franco de Sousa passou ao Oriente Eterno em 17 de agostode 2010.

Foi um dirigente nacionalista angolano, nos anos 50 do séculopassado, e um dos fundadores do MPLA.

Foi um dos envolvidos no "processo dos 50" e esteve preso noTarrafal. Depois do 25 de Abril, com Aurora Verdades, fundou umpartido político, que não vingou. Depois do Acordo do Alvor,assinado entre Portugal e os três movimentos de libertaçãoreconhecidos, tomou posse o Governo de Transição e AndréFranco de Sousa partiu para Portugal.

Aqui escreveu e publicou, em 1998, o livro “Angola, o ApertadoCaminho da Dignidade” onde explicou as razões pelas quais eraum opositor ao partido que fundou, o MPLA.

Foi um dos fundadores da Mestre Affonso Domingues. Ainda merecordo de com ele ter estado em várias reuniões de Loja. Depois,fundou outra Loja, para onde se transferiu, e raramente o passei aver, normalmente em assembleias de Grande Loja.

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Conheci-o já idoso. Manteve sempre o seu apreço pelaDemocracia, que o levara a cortar com a organização que fundara.Dele guardo uma imagem de completa serenidade e enormesimpatia.

Contou-se, embora brevemente, entre os obreiros da MestreAffonso Domingues. Foi um dos nossos e como um dos nossos éaqui recordado. Foi um dos veteranos que criaram as condiçõespara a Loja ser o que ela é. Estamos-lhe gratos pelo seu contributo.

Há já alguns anos que a doença o afastara do nosso convívio e oAndré se encaminhava para o nicho das recordações. Das boasrecordações. Agora ali encontrou, em definitivo, o seu lugar.

Rui Bandeira

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Correlação e causalidade (III)

October 01, 2010

Por esta hora estarão já uns quantos a pensar: "Podia ter-lhe dadopara pior. Falar de coisas que nada têm que ver com a Maçonarianum blogue sobre Maçonaria..." Quem assim pensar estárotundamente equivocado, por três razões.

Em primeiro lugar, porque, como disse já, confundir estes doisconceitos leva-nos a conclusões precipitadas e, frequentemente,erradas e afastadas da verdade, porque ilógicas; e o estudo daLógica é parte integrante da formação de um maçon. De facto, oestudo das Artes Liberais - base da formação para o gentlemanship- é promovido e incentivado entre os maçons.

Em segundo lugar porque um meio a que os maçons recorrem para se aperfeiçoarem consiste, precisamente, na exposição aos demais das sua próprias conquistas, das suas próprias conclusões e do seu próprio aperfeiçoamento, para que cada um possa dela retirar os ensinamentos que tiver por convenientes. Neste caso, estes textos, decorrentes da minha própria pesquisa e especulação,

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refletem o meu percurso na busca de algumas razões que queroagora partilhar convosco.

Como sabeis, uma das diferenças entre a Maçonaria Regular e aMaçonaria Liberal consiste na obrigatoriedade - numa - e a suaausência - na outra - de crença num Ser Supremo, a quechamamos, para não dar prevalência à terminologia de nenhumcredo religioso, "Grande Arquiteto do Universo". Começando porser estritamente cristã, a Maçonaria Regular alargou o âmbito dasfés "aceites", até aceitar qualquer crença em qualquer SerSupremo, desde que não fosse a crença em coisa nenhuma. AMaçonaria Liberal aceita no seu seio quem tenha ou não qualquercrença. A Maçonaria Regular proíbe a discussão ou controvérsiareligiosa ou política em loja; a Maçonaria Liberal promove ambas.

Mas porquê estas restrições? Não poderá surgir uma discussãosadia sobre religião entre pessoas de entendimentos religiososdistintos? Não poderá ser útil a discussão política entre irmãos defacções opostas, quiçá promovendo um entendimento que em maiscontexto algum seria possível? E não poderia um ateuaperfeiçoar-se e auxiliar outros no seu respetivo aperfeiçoamento,com respeito pela crença dos demais? Claro que sim! Então porqueé que nem um Grão-Mestre, com a unanimidade de toda a suaObediência, pode mudar alguns princípios da Maçonaria Regular?

Estas questões colocavam-se-me há já algum tempo, quando me surgiu uma resposta: os Landmarks da Maçonaria nada explicam, apenas enunciam, e isso basta. Não é necessário saber-se de que é feita uma aspirina - e muito menos entender-se como interage com o nosso organismo - para que ela nos livre de uma dor de cabeça. Não precisamos de provar a causalidade para nada - basta-nos constatar a correlação. Toma-se a aspirina e - puf! - lá se

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foi a dor de cabeça. Mesmo sem se perceber porquê.

Do mesmo modo, determinadas regras - algumas velhas de trêsséculos - não precisam de se justificar. Passaram já a prova dotempo, e este tem-lhes dado razão. São como são, e moldam aMaçonaria de um modo com que os maçons se identificam. Como aaspirina, funcionam sem que saibamos muito bem porquê. Secompreendermos como funciona a aspirina, e com base nesseconhecimento a alterarmos de modo que atue de outra forma,tenha outros efeitos, trate doutras patologias, obteríamos talvez ummedicamento melhor - mas não era aspirina. Também podíamospassar a aceitar que se jogasse futebol com a mão - mas o jogo, ao sofrer tal alteração de dinâmica, deixava de ser futebol. Etambém como é evidente, muita coisa se poderia mudar naMaçonaria - mas deixava de ser, de certeza, a Maçonaria queconhecemos e, quem sabe, deixaria, de todo, de ser Maçonaria. Epor isso, mudar por mudar, fica como está.

Paulo M.

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Poema à Amizade

October 02, 2010

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...

Mas, enquanto houver amizade,

Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...

Mas, se a amizade permanecer,

Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...

Mas, se formos amigos de verdade,

A amizade reaproximar-nos-á.

Pode ser que um dia não mais existamos...

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Mas, se ainda sobrar amizade,

Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...

Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,

Cada vez de forma diferente.

Sendo único e inesquecível cada momento

Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida:

Uma é acreditar que não existe milagre.

A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

Albert Einstein

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5 de Outubro, revolução e maçonaria

October 05, 2010

Não pode deixar-se passar a data de 5 de Outubro - aniversário daimplantação da República em Portugal - sem se falar na Maçonaria.É público e conhecido o papel que a maçonaria teve neste evento.De facto, a revolução não só terá sido promovida, arquitetada eexecutada - pelo menos em parte - por maçons, como a maçonariaterá na mesma participado ativamente de forma institucional.

O que poucos saberão é que tal modo de atuação é daqueles quedistingue a Maçonaria Regular da Maçonaria Liberal. Não sequestiona o mérito da causa, mas a forma e os meios utilizados. Defacto, as razões invocadas para a revolução - o despotismopolítico-religioso, a ausência de liberdade de culto e da liberdade deconsciência que se viviam no regime de então - são válidas emeritórias, e pode mesmo dizer-se que pertencem ao ideáriomaçónico. Todavia, algumas questões de fundo separaminexoravelmente as duas correntes da Maçonaria - Regular eLiberal - e podem ser apreciadas neste contexto.

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Por um lado, tomemos a questão da discussão de política e religiãoem loja. Pelo que se sabe, esta revolução - como outras - foipreparada durante sessões de loja. Forçosamente se discutiu omérito desta política sobre aquela e - sabendo-se que haviamaçons quer na fação republicana quer na monárquica -certamente houve vozes minoritárias que viram os seus Irmãos, asua Loja, e mesmo a sua Obediência, agirem como um corpo naprossecução de objetivos e de ideias contrários aos seus. Por fazerprevalecer, na escala dos valores, a harmonia fraterna, é que amaçonaria regular proíbe essas discussões, para que não seestabeleçam partidos opostos dentro das lojas, para que estas nãoescolham lados, e para que as grandes lojas não manifestempreferências que poriam, em qualquer dos casos, uns "de dentro" eoutros "de fora".

Por outro lado, atente-se a que a maçonaria regular exige dos seus membros que sejam cidadãos cumpridores das leis do país. Ora, esta questão tem duas consequências. Por um lado, de forma mais imediata, implica que caso um maçon seja condenado pelo sistema judicial civil por um crime que tenha cometido, sofrerá quase que por certo uma sanção disciplinar no seio da sua Obediência, sanção essa que poderá mesmo constituir a sua expulsão (mas, evidentemente, ninguém é expulso por algo como uma multa de estacionamento). Por outro lado, esta exigência reflete-se nas Obediências, não sendo reconhecidas a nível internacional aquelas que, para existirem, impliquem que os seus membros cometam algume ilegalidade; por exemplo, se as leis do país passarem a proibir a Maçonaria, e mesmo assim uma Grande Loja continue a existir - cometendo uma ilegalidade - ser-lhe-á retirado o reconhecimento internacional por parte das outras Grandes Lojas

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regulares.

Tais condicionantes - a proibição de discussão política e religiosa, ea obrigação de cumprimento da lei do Estado - não se verificam naMaçonaria Liberal. Cada maçon que pertença a uma Obediência daMaçonaria Regular é livre de agir como a sua consciência lhe dite econtinuar a ser maçon - desde que não cometa nenhum crime.Participar de - e, especialmente, promover - uma revolução,atentando contra os órgãos do Estado, é um crime contra o mesmoEstado, e não é considerado pela Maçonaria Regular uma formaaceitável de se agir. Entendimento diametralmente oposto tem aMaçonaria Liberal, que argumenta que uma lei injusta não temlegitimidade, que crime seria observá-la, e que promove o seuderrube.

Dois pontos de vista.Duas formas de agir.Duas Maçonarias.

Paulo M.

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José Luís Ribeiro Moita de Macedo, maçom improvável

October 06, 2010

Ao longo dos quase vinte anos que tenho da Loja Mestre AffonsoDomingues, conheci umas centenas de Irmãos. Com alguns forjeilaços de amizade. Com outros, construí uma agradável relação decamaradagem. Com outros ainda, uma saudável relação fraternade integração num mesmo grupo. Com poucos, muito poucos, ascircunstâncias do nosso contacto não possibilitaram umconhecimento mútuo. José Luís Moita de Macedo foi um dessespoucos casos, nem sei bem porquê. Quando preparava a edição dolivro relativo aos Vinte Anos da Loja, o José Ruah enviou-me a lista,que trabalhosamente efetuou, dos obreiros que, ao longo destetempo, passaram pela Loja. Um dos nomes incluídos nessa listaera o do José Luís Moita de Macedo - com a indicação de que játinha falecido.

Uma vez que o projeto do livro previa a inclusão de textos evocativos dos Irmãos da Loja que, nos dois decénios de vida desta, tinham já passado ao Oriente Eterno, a minha falta de memória em relação ao José Luís tornava-me tarefa quase

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impossível elaborar o texto evocativo que era de toda a justiçadedicar-lhe. Pergunta daqui, inquire dacolá, cheguei à conclusão deque a pessoa indicada para escrever essa evocação era o AntigoVenerável da Loja, presentemente adormecido mas semprefraterno e disponível para colaborar, Vítor E. C.. A ele solicitei otexto evocativo, que foi incluído no livro. O In memoriam do bloguenão ficaria completo sem a evocação aqui deste Irmão.

Portanto, aqui transcrevo o texto de Vítor E.C., evocativo de

José Luís Moita de Macedo, maçom improvável

Jornalista Profissional

Nasceu a 16 de Julho de 1953

Faleceu a 5 de Fevereiro de 2000

O nosso querido Zé Luís, foi sempre, para muitos de nós, que oconhecíamos bem, um improvável maçon. Na forma, assumo edigo eu… Não era homem de espaços fechados, não era pessoade rituais, detestava o fato escuro, a alva camisa, a gravata preta eas luvas brancas – assim não poderia praticar os seus própriosrituais de mordiscar, nervosamente, o dedo indicador! - nem,sequer, era sensível ao cadenciado mito drama dos nossoscatecismos! Davam-lhe sono…

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No conteúdo, contudo, o Zé Luís, foi sempre um Irmão! Um Irmãoe… um Amigo! Quando nem sempre o Amigo é um Irmão e, muitasvezes, o Irmão não pode ser o Amigo! De facto, ele foi Irmão, porum sentimental, emotivo e singular laço de amizade que o unia aalguns de nós - ao Manuel A. G., ao José Manuel Severino, aoJoão M. V., ao H. S. e a mim – e a Todos foi fiel bem como a Todosos outros Irmãos que, pela sua simpatia e bonomia, o adoptaram,também, pela sua fidalga e discreta maneira de estar e de ser.

Aceitou o desafio, não fez muitas perguntas e como bom coração ealma solidária, embarcou, cúmplice e fraterno!

As lides em loja não eram, de todo, do seu agrado! Mas as nossasobras de solidariedade, os convívios, os passeios, o trabalho desapa que sempre nos é pedido, como obra cívica e exemplo deética social… sempre mereceram dele toda a atenção,disponibilidade e carinho. Era membro de uma outra fratria que nosunia, também em Loja e, espiritualmente ao Fernando Teixeira –era Epicurista, Monárquico e Aficionado Tauromáquico! ComoHomem de Cultura, filho de um grande vulto das nossas letras eartes – o pintor e poeta Moita Macedo! - e, sobretudo, comoJornalista, ao serviço do “Correio da Manhã”, foi sempre incansávelna divulgação, na promoção e no engrandecimento da nossa Loja eda Grande Loja.

Cruzou o Oriente Eterno, na força da vida, quando dele ainda muitose esperava e ele próprio tinha, ainda, muito para dar… deixou umpeculiar vazio, uma Saudade e a Memória que aqui se evoca, comchorada Amizade!

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Vítor E. C.

Aqui deixo esta evocação do José Luís. Não o conheci muito bem.Mas não o esqueci!

Rui Bandeira

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Ainda os Altos Graus

October 08, 2010

Mesmo depois de tudo quanto foi já explicado quanto à naturezados Altos Graus e à sua vacuidade de poder, poderão restar aindaalgumas dúvidas facilmente sanáveis. Desmontemos então, umapor uma, as bases em que tal argumentação se sustenta.

Em primeiro lugar, os Altos Graus estão, muito democraticamente,ao alcance de qualquer mestre maçon que seja suficientementeempenhado para investir o seu tempo e o seu dinheiro (sim, que osaventais, luvas e demais adereços não são de graça, e amaçonaria não recebe subsídios...). Pensemos neles como grausacadémicos, mas sem a "pequena questão" da avaliação: quemfrequenta obtém o grau. Ora, tal sistema não permite distinguirquem sabe de quem não sabe, já para não falar de outrasqualidades. Um sistema que permita chegar-se ao topo apenascom tempo e dinheiro só pode ser interessante para o próprio, oque é justamente o caso.

Em segundo lugar, não sendo objeto de eleição ou escrutínio, os Altos Graus não conferem qualquer legitimidade representativa. Um mestre maçon que tenha atingido o grau 32 ou mesmo o 33 não

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fala por ninguém senão por si mesmo. Por isto é que é frequente,sempre que alguém nota que fulano de tal, "que até é grau 33",disse isto ou aquilo, de imediato se recordar que cada um apenasfala por si, e é livre de manifestar a sua opinião como quiser, semque os demais se sintam obrigados pela sua palavra.

Em terceiro e último lugar, foquemo-nos onde se encontra overdadeiro poder: nos Grandes Oficiais. Destes, apenas oGrão-Mestre é eleito, indigitando depois o seu quadro de GrandesOficiais. Todavia, se recordarmos que a Maçonaria é como que um"pequeno mundo em miniatura", em que pode desempenhar-sepapéis a que, doutro modo, dificilmente se acederia - sendo assimuma espécie de "Kidzania para crescidos" onde se aprende com aexperiência - então vemos que, quais notas de Monopólio, qualjogo a feijões, o "poder" da Maçonaria se confina aos limites daprópria Ordem, e mesmo dentro desta os "poderes" são,essencialmente, administrativos e/ou rituais. Ser-se Grande Oficial,longe de conferir qualquer poder real, é antes uma carga detrabalhos, e visto, acima de tudo, como um serviço que se presta.

Para terminar, para quando virem um texto assinado por um "grau33", deixo uma pista para se aferir a legitimidade do discurso e dasua representatividade: um "grau 33" não fala, normalmente, senãopor si mesmo; no entanto, um Grão Mestre pode falar por toda umaObediência...

Paulo M.

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Vida em sociedade: confiança vs. ordem?

October 11, 2010

A população mundial há apenas 200 anos era 8 vezes menor do que é hoje. Recuemos alguns milénios e veremos a população mundial reduzir-se a poucas dezenas de milhões, número que hoje associamos a uma grande cidade. Primeiro nas tribos nómadas, depois nas aldeias após o advento da agricultura, agremiavam-se poucas dezenas de pessoas que se conheciam e conviviam do berço ao túmulo. Não havia como se esconder numa pequena povoação; mais valia não se ter nada a ocultar. Sabia-se precisamente quem eram "os nossos" e quem eram "os outros", os "da casa" e os "de fora". Se algo a isso obrigava, tinha que se fugir para outra povoação mais longínqua; não havia como permanecer e passar despercebido. Esse facto condicionava fortemente o comportamento das pessoas, que agiam em função da reação da comunidade, que por seu lado estava vigilante e atenta (sempre

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houve coscuvilheiras...) e caía implacavelmente em cima doprevaricador.

Como a Terra não estica, o progressivo aumento de populaçãotraduziu-se, inevitavelmente, num aumento de densidadepopulacional - mais pessoas por quilómetro quadrado - o queacarretou um maior número de contactos com um maior número dedesconhecidos anónimos, de que decorre um maior número deconflitos. Ao mesmo tempo, ia-se criando um nevoeiro difusodecorrente do aumento de número, que impedia que seconhecesse, já, a totalidade dos "nossos", e não se conseguissedistingui-los dos "outros". A confiança que se tinha começa adeclinar - as portas passam a ter fechaduras, e estas passam aficar trancadas. Surgem crimes cuja autoria se desconhece.

Hoje em dia, a elevadíssima densidade populacional, especialmente nas zonas urbanas, levou a que a convivência nas sociedades modernas seja fortemente regulada, a um ponto que seria impensável há pouco tempo atrás. Não precisamos de recuar muito - basta fazê-lo uma década, para quando se podia viajar tranquilamente de avião para todo o lado sem o verdadeiro strip-tease abelhudo a que hoje nos sujeitam - para vermos em que curto espaço de tempo foram criadas tantas defesas, tantas barreiras, tantos controlos. A partir de certo ponto, os controlos deixam de ser instrumentais, e passam a constituir um fim em si mesmos, propulsionados por toda uma indústria que deles se alimenta. Cada vez há menos confiança da polícia no cidadão - que, afinal, pode ser um bandido - e deste na polícia - que, afinal, tem a faca e queijo na mão para cometer os abusos que entenda. O poder político, esse, desconfiado de ambos e numa posição altaneira, produz leis a um ritmo acelerado - muitas das quais nem

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os cidadãos cumprem, nem a polícia consegue fazer cumprir.

E neste momento interrompo este texto para vos convidar a vereste video. Tomar-vos-á apenas 5 minutos. Para quem o nãoqueira ou não possa ver, descreve como, na baixa de uma cidadede Inglaterra, foram eliminados por completo os semáforos e amaioria dos sinais de trânsito, regulando-se este apenas pelasregras mais básicas de prioridade. O resultado? O trânsito parecemais caótico - com todos a andar ao mesmo tempo - masdesapareceram as longas filas nos semáforos e grandes tempos deespera. O tráfego automóvel adquiriu uma fluidez nunca vista, e istosem se diminuir o número de viaturas e até diminuindo o número deacidentes! Uma das habitantes relata, estupefacta, que o percursoque antes lhe levava mais de 20 minutos é agora feito em 5. E acidade parece outra, sem filas de carros em ponto morto e a deitarfumo. As pessoas são mais cordiais ao volante, e muitas dãopassagem com um sorriso. Só os cegos se queixam de que asmentalidades demoram a mudar, e têm medo de atravessar a ruasem o conforto dos semáforos e sinais sonoros nas passadeiraspara garantir que os carros param mesmo. Este problema estápresentemente em estudo, e quer-se resolvido.

Eis como, deixando as coisas nas mãos do cidadão comum queage num espaço público perante a vigilância atenta dos demaispeões e condutores, se consegue obter um modelo muito maisjusto e perfeito de circulação. Eis como se muda uma cidade semrevoluções, sem derrubar leis, e sem atentar contra a vontade deuma população - fazendo-o estritamente a partir do edifício legalexistente. Se a maçonaria regular fosse uma autoridade de trânsito,arrisco dizer que seria assim que deliberaria.

Paulo M.

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Maçonaria e Modernidade

October 13, 2010

Modernidade não é substituir o antigo pelo novo. É adicionar o novo ao antigo. A Maçonaria, herdeira das tradições dos construtores de catedrais da Idade Média, soube, no século das Luzes, reinventar-se, evoluir para a sua atual forma de Maçonaria Especulativa, assumindo a modernidade do Iluminismo sem deixar cair o acervo das tradições, da ética, dos costumes, dos maçons operativos.

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Neste dealbar de novo século e milénio, no findar da sua primeira década, importa refletir sobre o papel da Maçonaria num Mundo que evolui e se transforma a um ritmo nunca dantes visto, com um avanço tecnológico ímpar na História da Humanidade, mas também com riscos e desequilíbrios de uma dimensão global, também novos, em tão ampla escala. Importa refletir sobre a melhor forma de bem utilizar as Novas Tecnologias de Informação. Importa refletir sobre como integrar os novos conhecimentos, os avanços científicos, as evoluções sociais, no paradigma maçónico. Importa refletir sobre o papel, o interesse, a contribuição, da Maçonaria nas sociedades de hoje e do amanhã. Importa refletir, em suma, sobre como adicionar o novo ao antigo. A Maçonaria é uma contínua sucessão de atos de construção de cada um de nós, em que cada um de nós é simultaneamente a obra, a ferramenta e o construtor. Nesta permanente tarefa, o uso, a prática, a execução, da Tradição, a repetição de palavras, gestos e atos que a nós chegam vindos de tempos para nós imemoriais, é-nos confortável e reconfortante, dá-nos segurança, um ponto de apoio e de equilíbrio. Fazemos o mesmo que muitos outros antes de nós, em muitos tempos e diversos lugares, fizeram, que muitos outros além de nós no mesmo dia em que nós o fazemos também o fazem, esperamos fazer o mesmo que muitos muito depois de nós continuarão a fazer. É-nos confortável, dá-nos segurança, estabilidade, paz de espírito, sabermos que somos individualmente elos de uma imensa cadeia que nos chega de um profundo passado, continua num tranquilo presente e prossegue num risonho futuro...

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Nós, maçons, somos os cultores por excelência da Tradição! No entanto, não recusamos, nunca recusámos, a Modernidade! Anossa história mostra mesmo que, em algumas épocas, nós fomosa Modernidade: muitas das Luzes que iluminaram o século dasditas foram de maçons, espíritos científicos avançados para a suaépoca, que cultivaram, divulgaram e fizeram avançar a Ciência e aTécnica. Os princípios hoje quase universalmente aceites (eansiamos pelo dia em que o “quase” desapareça) dos DireitosHumanos foram acarinhados, cinzelados (é o termo), divulgados edefendidos, antes de mais e antes de todos, por maçons. Nós,maçons, orgulhamo-nos de, ao longo da nossa já apreciávelhistória, sabermos aliar a Tradição à Modernidade. Nós, maçons, procuramos nunca substituir o antigo pelo novo,porque isso seria deitar fora, desprezar, desaproveitar, tudo o quede bom o antigo continua a ter para nos ensinar, ilustrar,proporcionar, antes integramos o novo no antigo, cultivando aTradição, mas utilizando tudo o que a Ciência, a Técnica e aprópria evolução do Homem nos proporciona. Rui Bandeira

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"Sim, mas o que é que fazem na cama?"

October 15, 2010

Imaginem um celibatário virgem a tentar entender o conceito de"casamento" explicado por um homem casado.

"- Ouvi dizer que as pessoas casadas fazem coisas esquisitas nacama. O que é que fazem na cama?"

"- Isso não é, de modo algum, o mais importante. De qualquermodo, as pessoas casadas não costumam falar disso a pessoasque não são casadas, e as outras pessoas casadas sabemsuficientemente do que se trata para que não seja necessáriodiscuti-lo."

"- Porquê? É segredo? Dê-me lá só um exemplo, para eu ter umaideia."

"- O que se passa no leito conjugal é do foro da intimidade docasal, e não é para ser discutido por estranhos. De qualquer modo,o essencial é a camaradagem, que de tão intensa nos leva apertencer um ao outro. É esse o nível de comprometimento."

"- Pois, eu tenho grandes amigos, mas não abdico da minhaliberdade..."

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"- A liberdade não se perde; passa-se é a decidir em conjunto, e emfunção um do outro. Ao ter que se conjugar as vontadesaprende-se, por outro lado, a ver a realidade sob outros ângulos, ea estabelecer prioridades. Isso torna-nos pessoas melhores."

"- Não concordo nada. Não vejo a vantagem de abdicar deconcretizar os meus desejos, nem vislumbro que essa mortificaçãome tornasse uma pessoa melhor. Quando muito, mais amarga."

"- De modo nenhum. Estar ao serviço do outro é um privilégio: ésinal de que temos valias, e que estas podem ser postas emprática. Isso dá-nos uma satisfação muito grande. Por outro lado,esta dádiva de si mesmo, praticada por ambos, leva a que ambosse tornem melhores, que cada um apreenda do outro o que estetem de mais positivo."

"- Pois, mas não percebo. Afinal, o que fazem na cama? Dãoprivilégios um ao outro? Praticam a camaradagem? Eu e os meusamigos também praticamos camaradagem, mas praticamosdesporto juntos e passamos noitadas nos bares. Isso é que écamaradagem. Agora numa cama? Num sítio onde se dorme,pequeno e acanhado? Não percebo."

"- São coisas completamente diferentes. Os amigos podem termuitas afinidades, mas um casal constroi essas afinidades paraalém das que originaram o relacionamento, e fá-lo durante todauma vida. As amizades são mais efémeras, apesar de poderemdurar mais do que muitos casamentos. Os casamentos desejam-seeternos, e moldam toda a vida dos envolvidos."

"- Uma vez mais, não vejo nada que distinga um casamento deuma boa amizade. Tenho amizades que mantenho desde miúdo, eque espero fazer durar até ao túmulo."

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"- Pois, seja. No entanto, há uma sensação de bem-estar, derealização pessoal, de completude, que o casamento proporciona eque uma amizade, por mais intensa, não atinge, por se tratar de umregisto completamente diferente."

"- Isso deve ser um registo mesmo muito esquisito, que eu e osmeus amigos não passamos dias enfiados numa cama a cheirar adormido, embrulhados nas almofadas, a sacrificar-nos uns pelosoutros. A camaradagem pratica-se ao ar livre, no meio da natureza.Mas diga lá, que eu prometo não contar a ninguém. Afinal, o quefazem na cama?"

"- Olhe, o que um casal faz numa cama não é nada que se possacontar. Aliás: até podia, mas para isso deixaria de cumprir com osmeus deveres de decoro e discrição conjugal. Estaria a ser um maumarido. Por outro lado, de nada lhe aproveitaria: é algo que precisade ser vivido para se entender. As palavras não são adequadas. Selho descrevesse, acharia eventualmente a descrição repulsiva,quando na verdade se trate de algo de sublime. Poderia até afastarqualquer desejo de vir, um dia, a casar-se. Se alguma vez decidircasar-se, e o fizer de facto, verá depois a que me refiro."

"- Segredinhos e mais segredinhos! Isso são desculpas.Explique-me lá, que eu tenho um estômago de ferro, e sou capazde aguentar o embate. Afinal, o que fazem na cama?"

"- Ó homem, já lho disse. Um casamento é algo que vai muito para além do que se faz na cama. É possível, até, ser-se casado, ter-se alguém com quem se partilha tudo, e nunca se partilhar dessa intimidade. O estar-se casado é mais um modo de vida, um estado de espírito, uma forma de estar no mundo, e a partilha na cama mera manifestação disso mesmo; no entanto, não é absolutamente essencial que essa manifestação exista. As mentes mais ortodoxas

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lhe dirão que para se ser casado tem, mesmo, que se fazer essapartilha. Contudo, há verdadeiros «casamentos sem aliança», emque duas pessoas vivem em comunhão de tudo - exceto de cama.Fiz-me explicar?"

"- Mais ou menos. Continuo a achar que a cama é apertada einadequada à camaradagem de que fala, e que partilhar de umcopo de cerveja se faz numa mesa de um bar com muito maispropriedade do que numa cama, onde ainda se entorna o preciosolíquido no colchão. A não ser que o que fazem seja muito diferente.É? É diferente? O que é que fazem na cama?"

"..."

Lembra-vos alguma coisa?

Paulo M.

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Como se pode - ou não - falar de religião em loja

October 18, 2010

A proibição de discussão religiosa em loja é assuntoreiteradamente debatido. Não há, todavia, como o exemplo parailustrar o princípio. Quando procurava uma ocorrência - real oufictícia - que não soasse forçada, recebo um simpáticocumprimento feito por um leitor aqui num dos comentários: "Que oSenhor lhe conceda discernimento para encontrar a verdade queliberta e está em Cristo Jesus!". Nem de propósito. Estecumprimento, feito sem qualquer dúvida com a melhor dasintenções, consubstancia, precisamente, o tipo de discurso que,apesar de socialmente admissível fora de loja, não o é numa lojamaçónica.

Mas porque é que um simples cumprimento como este - que até é auspicioso, traduzindo os desejos de que suceda ao seu destinatário uma coisa que o emissor tem por positiva - não é

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admissível em loja? Vejamos com mais atenção o que se diz. "Queo Senhor"... Até este início insuspeito pode gerar controvérsia; se,por exemplo, se pertencer a uma religião que denomine aDivindade de uma outra forma, é quanto basta para que se sinta aexpressão como estranha. Nesse sentido, não é difícil imaginaruma situação em que alguém interprete isto como sinónimo de "queo meu Deus - que não é o teu - te conceda isto e aquilo". "... averdade que liberta ...", esta sim, é uma quase certa fonte dediscórdia, por causa da sua mais pequena palavra: "a". Referir-se"a" verdade que liberta, especialmente junto de um nomecomummente associado a certa religião, implica ser esta verdadealgo de único, que não há outra, e que muito menos há várias.Referirmos a existência de um único caminho certo implica quequem não o percorra estará a ir... por caminhos errados - o que écontrário à ideia de que cada um deva sentir ser respeitadas assuas crenças de forma que não haja preponderância de quaisqueroutras sobre estas - ou destas sobre quaisquer outras. Isto faz-noschegar à última parte: "... e está em Cristo Jesus". Se a todas asoutras fórmulas se poderia, eventualmente, fazer "vista grossa"quando utilizadas em loja, esta última não é, de todo, passível deser aceite, por ser indiscutivelmente própria de uma religião, e porisso sentida como estranha por quem professe uma fé diversa.

Cada religião tem uma terminologia própria para referir a(s) divindade(s) a quem presta culto. Forçar seguidores de várias crenças a utilizar a terminologia de uma delas seria algo de muito pouco paritário. Para ultrapassar esta dificuldade, a maçonaria decidiu adotar uma nomenclatura própria, alheia a qualquer crença ou religião - e por isso equidistante de todas estas - para designar a Divindade. Assim, em vez de um dizer Elohim, outro Deus e outro

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Jesus Cristo; em vez de invocar Allah ou Jeová, Krishna ouZoroastro, Thor, Zeus - ou a Divindade por qualquer outro nome -os maçons dizem "Grande Arquiteto do Universo". Essa expressãodesigna não um qualquer "deus maçónico" - pois tal não existe -mas constitui apenas um mesmo nome através do qual todos osmaçons se referem cada um ao seu próprio Deus.

De fora fica também, evidentemente, tudo o que é próprio desta oudaquela religião. Não faria sentido dizer-se "invoquemos Maria,mãe do Grande Arquiteto do Universo", ou "O Grande Arquitecto doUniverso é grande, e Mohammed é o seu profeta". Assim, em loja,apenas nos referimos ao "Grande Arquiteto do Universo". Aspranchas maçónicas - na maçonaria regular - começam sempre: "ÀG.·.D.·.G.·.A.·.D.·.U.·. ", uma vez que todo o trabalho é feito "ÀGlória Do Grande Arquiteto Do Universo". Cada um dedica otrabalho que fez ao Deus da sua predileção, mas todos sob uma"alcunha" comum. Um pouco como cada adepto se refere aorespetivo clube como "o Glorioso"...

Um dos momentos altos de cada sessão é a Cadeia de União. Uma vez formada, um dos irmãos profere uma curta oração, que não deve ser própria de nenhuma religião, e é, as mais das vezes, espontânea. Pode ser algo como: "Agradeçamos ao Grande Arquiteto do Universo a graça de estarmos todos aqui, juntos uma vez mais, e recordemos todos quantos já partiram para o Oriente Eterno". Dificilmente alguém poderá sentir-se posto de parte perante tal fórmula, e é precisamente o que se pretende: fomentar a união, a identificação apesar da diversidade, e o foco naquilo que, de facto, é comum a todos. Não faria sentido, apesar de a esmagadora maioria dos maçons da nossa loja ser cristã, rezar-se um "pai-nosso" na cadeia de união - até porque um dos nossos

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irmãos é judeu, e sentir-se-ia certamente desconfortável. E mesmoque todos fôssemos cristãos, o princípio é para manter - bastarecordar que recebemos frequentemente visitas de irmãos deoutras lojas, e nunca sabemos que fé professam...

Esta limitação de expressão pode tornar-se problemática para osseguidores de certas religiões que tenham por princípio otestemunho permanente perante os outros dos valores, princípios everdades da sua religião - e, no limite, tentar converter os demaispara a sua fé, expondo as fraquezas de uma crença e exaltando aoutra. Quem sinta essa obrigação não poderá sentir-se bem namaçonaria, pois esta não lho permite.

Apesar de tudo o que disse ser regra apenas vigente em loja e emsessão ritual, o que acaba frequentemente por suceder é - por forçado hábito por um lado, pela interiorização dos princípios pelo outro,e por último pela generalização da sua aplicação - desenvolver-seum certo comedimento nas palavras, e acabar por se evitar autilização de expressões manifestamente próprias de uma ou outrareligião, substituindo-as por outras menos passíveis de fazer onosso interlocutor sentir-se desconfortável. Assim, não possosenão agradecer o cumprimento, e retribuir: "Que o GrandeArquiteto do Universo lhe conceda o discernimento para encontrar -e saber manter - a Luz!"

Paulo M.

P.S.: Tenho, desde que comecei a escrever aqui no blogue, vindo aescrever dois textos por semana. Afazeres diversos impedem-mede manter este ritmo, pelo que irei passar a escrever, no futuromais próximo, apenas um texto por semana, ao fim de semana.Assim que possa passarei, de novo, a escrever mais.

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A Maçonaria nos dias de hoje

October 20, 2010

A Maçonaria teve historicamente o seu auge, em termos quantitativos, após o final da Segunda Guerra Mundial. Tinham-se vivido anos de horror e de violência inauditos. Os sobreviventes dos combatentes no conflito necessitavam de manter a camaradagem, a união, o espírito de corpo, que sentiam ter possibilitado a sua sobrevivência. Uma das formas que, sobretudo nos países anglossaxónicos, acharam para o fazer foi buscar a admissão nas Lojas maçónicas e aí praticarem essa particular forma de camaradagem que inexoravelmente os marcou. Por outro lado, os horrores vividos e assistidos mostraram a muitos e muitos a necessidade de um espaço de convivência sã e de aprimoramento ético. Quem conviveu com o mal aprecia mais plenamente o bem!

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O pós Segunda Guerra Mundial foi assim um período de grande florescimento da Maçonaria, em que os números dos maçons cresceram até atingirem níveis nunca antes historicamente atingidos. Mas a vida é feita de ciclos! A essa fase de crescimento seguiu-se - inexoravelmente - uma fase de declínio. As condições sociais mudaram. A prosperidade material foi desfrutada por mais gente. As gerações sucederam-se. O que foi vivido no tempo daquela guerra passou a ser mera matéria de documentário histórico para os filhos, netos e bisnetos da geração que vivera aquele tempo. O que fora importante para a geração do pós-guerra não era já entendido nem sentido como tal pelas gerações subsequentes - e, bem vistas as coisas, ainda bem que as gerações subsequentes tiveram a possibilidade de não viver, nem sentir, nem suportar, aqueles duros tempos! Outras solicitações sociais e de utilização de tempos livres se perfilavam. E a Maçonaria, em termos quantitativos, declinou sensivelmente. Passou a ser vista como uma coisa de cotas nostálgicos e ultrapassados e de cromos com a mania de se armarem em diferentes. Tantas coisas para fazer na vida, tanta vida para viver, tanto trabalho para fazer, tanto para conquistar - para quê gastar (ou perder) tempo com essa coisa esquisita, meio desconhecida, fechada? Com a escolaridade a aumentar exponencialmente, quando os jovens passavam anos e anos a preparar-se para a vida ativa e esta era cada vez mais competitiva, que esquisitice era essa do autoaperfeiçoamento? Não era evidente que cada geração era melhor, mais sabedora, mais dinâmica, mais apta, do que a anterior? A Maçonaria não passava,

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para muitos, de um resto do passado, em vias de fossilização, em persistente declínio, precursor da inevitável decadência e do inexorável arquivamento nas prateleiras das curiosidades da história! A vida moderna, a tecnologia, o progresso imparável, o céu que é o limite do pujante avanço da Humanidade, relegavam a vetusta organização para a sala dos fundos onde as relíquias do passado acumulavam respeitável poeira... Mas os ciclos inexoravelmente avançam, as suas fases sucedem-se e, nunca se repetindo exatamente da mesma forma, as grandes tendências inevitavelmente que paulatinamente se repetem. Este início do século XXI parece mostrar-nos uma mudança de ciclo da Maçonaria, em que o declínio cessou e o crescimento recomeça. A vida moderna insensivelmente empurra-nos para a massificação, a generalização. Cada vez mais, cada um de nós é menos um indivíduo e mais um número, um fator, um pequeno elemento de um conjunto cada vez mais numeroso. E cada vez mais descobrem que a Maçonaria permite aos que a integram dispor de um espaço, de tempo e de locais em que cada um consegue afastar essa asfixiante sensação de ser apenas uma peça de um imenso formigueiro humano e assumir-se como indivíduo inserido numa comunidade e com ela e os seus outros componentes interagindo. Volta a "estar em alta" no "mercado" dos valores pessoais e sociais a necessidade de ética, a vontade de aperfeiçoamento, a interação com pequenos grupos de pares, com interesses e objetivos similares.

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Cada um de nós sente que, por si só, não consegue deixar de ser apenas um número, inseto numa colmeia, peça de uma imensa máquina que é a sociedade de hoje. Mas verifica que, inserida num grupo com dimensão humana, em que todos se conhecem e se podem conhecer, a individualidade de cada um tem significado e é reconhecida nesse grupo com dimensão humana. E que, inserido nesse grupo, os progressos de cada um são reconhecidos pelos demais, tal como cada um reconhece os progressos dos demais. Ser um parafuso bem polido num depósito de milhões de parafusos é irrelevante. Mas ser uma pessoa, um indivíduo, com virtudes a cultivar, com defeitos a combater, com arestas a polir, no meio de iguais, também com virtudes e defeitos e arestas, mas sobretudo sendo cada um UM, diferente entre iguais - isso é gratificantemente diferente! Nos dias de hoje, a Maçonaria é uma ancestral instituição que - como é caraterístico das instituições verdadeiramente relevantes e duradouras - se reinventa para responder aos desafios e às necessidades de agora. E hoje é necessário - cada vez mais urgentemente necessário! - que a vetusta instituição da Maçonaria disponibilize a quem disso cada vez mais necessita o tempo, o espaço, o meio, as ferramentas, para que o homem-número que o progresso que trilhámos criou se transforme no Homem Completo que cada um de nós tem a potencialidade de ser. Único. No melhor e no pior. Cada vez com mais melhor e menos pior. Mas sobretudo Homem - imprescindivelmente diferente entre iguais. Tempo virá em que novo declínio experimentará a Maçonaria, em que os nossos filhos, ou netos, ou bisnetos, de forma geral a verão

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de novo como coisa do passado. Não é esse o tempo que vivemos. O tempo de agora é de crescimento, de consolidação, de valorização. Porque os Valores que recebemos dos nossos antecessores e que cultivamos para transmitir aos vindouros são intemporais, essenciais e imprescindíveis para o Homem e para a Humanidade. Curiosamente, a imutável linha de rumo da Maçonaria parece atuar como força de equilíbrio na Sociedade. No passado, quando imperava a desigualdade, a Maçonaria foi um espaço de igualdade. Hoje, quando a normalização impera ao ponto de asfixiantemente nos sentirmos números num conjunto, formigas cumprindo desconhecida missão do formigueiro, obreiras mecanicamente contribuindo para a manutenção e crescimento da Grande Colmeia social em que nos sentimos aprisionados, a Maçonaria possibilita a cada um dos seus elementos que exercite, execute, desenvolva, a sua individualidade. O combate de há trezentos anos era o de convencer a sociedade inteira da igualdade essencial dos seus membros. Hoje, o desafio é o de consciencializar todos de que essa igualdade só se concretiza verdadeiramente se for permitido a cada um desenvolver a sua individualidade. Porque cada um de nós é verdadeiramente único e diferente entre iguais. E é essa Diferença na Igualdade que, afinal, constitui a maior riqueza de uma sociedade. As épocas sucedem-se, as modas vêm e vão, os tempos mudam - mas os Valores essenciais, esses, são perenes e cultivá-los com são equilíbrio é Arte verdadeiramente Real!

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Rui Bandeira

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A interpretação e significado dos símbolos maçónicos

October 24, 2010

Hermann Rorschach foi um psiquiatra suiço que viveu entre 1884 e1922, e que ficou conhecido pelo seu trabalho sobre o significadopsicológico de interpretações dadas a manchas de tinta, tendodesenvolvido para isso uma técnica que tomou seu nome: o testede Rorschach. Este teste baseia-se na chamada "hipóteseprojetiva", de acordo com a qual a pessoa a ser testada, aoprocurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem umsignificado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projetaaspectos da sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, opsicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade dereconstruir os aspectos da personalidade que teriam levado àsrespostas dadas. Dito de outro modo: confrontado com um objetosem um significado previamente estabelecido, o sujeito atribui-lheuma conotação, uma semântica, um sentido que decorre,essencialmente, de si mesmo, não tendo que ser - efrequentemente não sendo - uniformes e invariáveis os significadosatribuídos de um sujeito para outro.

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Algo de semelhante sucede na maçonaria com os símbolos. Hásímbolos a que se atribui significados convencionados - como oesquadro que, servindo para traçar ângulos retos, evoca a retidãode caráter - o que não impede que lhes sejam atribuídos outrossignificados. Outros símbolos traduzem uma maior diversidade desentidos - como o G que a maçonaria regular coloca entre oesquadro e o compasso. Símbolos mais obscuros, menosfrequentes e de menor universalidade são por vezes encontradosnum contexto maçónico, mas poderão ser apenas percetíveis eutilizados num determinado contexto cultural, no âmbito de certorito, ou confinados a um perímetro geográfico específico.Contrariamente ao teste de Rorschach, todavia, o recurso àsimbologia pela maçonaria não tem o fim de constituir qualqueranálise psicológica ou psiquiátrica por um terceiro, mas apenas decada um por si mesmo.

A simbologia maçónica - que tem como tema dominante a maçonaria operativa medieval, a que hoje chamaríamos arquitetura ou engenharia civil - tem o triplo propósito de estabelecer uma estrutura e um contexto cultural para os arquétipos universais que identificam a maçonaria, uma forma sintética de comunicação de conceitos, e uma cultura de heterogeneidade e tolerância. Cada símbolo maçónico - normalmente coisas tão banais como uma pedra ou uma colher de pedreiro - evoca um ou mais significados que, no seu conjunto, constituem uma matriz semântica que dota a Ordem de um contexto cultural que, por sua vez, enquadra e dá corpo aos conceitos e princípios que a maçonaria pretende transmitir, propagar e perpetuar. Fica assim estabelecida, em torno dos símbolos, uma linguagem que, de forma sintética, permite a rápida e eficaz evocação, relacionamento e comunicação de

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conceitos, bastando por vezes uma simples palavra para transmitirum conceito complexo no seu contexto adequado. Por fim, ao nãofazer corresponder de forma imposta, rígida e imutável os símbolosaos conceitos, a simbologia maçónica permite que cada maçonatinja as sua próprias respostas às importantes questões filosóficasque a vida coloca.

Contudo - e isto é a minha interpretação pessoal, que vale o quevale - a maior virtude do recurso à simbologia e à alegoria consisteno distanciamento que estabelece entre os princípios e a suaaplicação. Este distanciamento possibilita que a interiorização dosconceitos decorra da sua aplicação a um sujeito abstrato (e,mesmo, claramente do foro do mítico e do imaginário), e que sóuma vez absorvida a sua essência e apercebidas as consequênciasda sua incorporação no edifício ético e moral individual - o quepode levar mais ou menos tempo, ou nunca suceder de todo - cadaum aplique então a si mesmo o significado pessoal e personalizadoque atribuiu ao símbolo, interiorizando-o e consolidando-o da formaque entende ser a que mais se adequa à sua própria realidade e,por fim - porque, em maçonaria, nada se ensina mas tudo seaprende - tire partido da lição que deu a si mesmo.

Paulo M.

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Regra particular

October 27, 2010

Cada agrupamento humano institui as regras que lhe convêm. Por vezes, uma instituição adota uma regra que normalmente não é adotada, que muitas outras não consideram boa - mas que se revela adequada à instituição que a adota, em função das suas particularidades. Na GLLP/GLRP, desde a sua fundação, vigora uma regra que não é comummente adotada - e que não creio que fosse saudável a sua adoção generalizada. Essa regra postula que, no processo eleitoral

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para a eleição do Grão-Mestre, efetuada a votação e contados os votos, apenas seja divulgado quem foi eleito Grão Mestre, não se divulgando o concreto resultado quantitativo da eleição - isto é, o número de votos recebido por cada candidato. Mais, os elementos que integram a assembleia de apuramento dos resultados - composta pela Comissão Eleitoral e pelos candidatos ou seus representantes - ficam obrigados a rigoroso dever de sigilo quanto a esse resultado quantitativo. Esta regra evidentemente não é adequada para a generalidade dos casos. Na maior parte das eleições, a exigência de transparência impõe que sejam pormenorizadamente divulgados os resultados apurados. Porquê então esta regra, neste particular caso? Porquê a falta de preocupação com a transparência? A resposta está em que, por um lado, a necessidade de zelar pela transparência é aqui reduzida e, por outro, um outro valor se procura defender. A necessidade de transparência é neste caso reduzida, atento o universo de votantes e de interessados. Votam para Grão-Mestre todos os Mestres da GLLP/GLRP. Ser Mestre Maçom pressupõe uma elevação ética, a ser constantemente exercida, que impede que haja fraude eleitoral. Mais: que torna impensável a possibilidade de fraude eleitoral. A genuinidade e honestidade do processo - e a fiscalização do seu decorrer - está garantida pelo respeito que merece a Comissão Eleitoral e a confiança que todos depositam na sua imparcialidade, além de, obviamente, o apuramento dos resultados ocorrer na presença e sob fiscalização

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dos candidatos ou seus representantes. Todos sabem que o candidato que for anunciado como tendo sido eleito é aquele que, sem margem para dúvidas ou suspeitas, recolheu mais votos. Isso é ponto assente! Assim sendo, a divulgação quantitativa dos resultados apenas serviria para satisfazer a curiosidade. A não divulgação quantitativa dos resultados protege um outro valor: a imagem, a valia, o potencial futuro do ou dos candidatos derrotados! Pouco importa a dimensão da vitória do candidato escolhido. Não esqueçamos que a dimensão da vitória do escolhido é diretamente proporcional à dimensão da derrota do ou dos preteridos... O processo de votação para eleição de Grão-Mestre potencia probabilidades de existência de resultados desnivelados. Todos os Mestres dispõem de um voto, mas o voto é exercido pelos Mestres nas suas Lojas, em sessões especificamente convocadas para a eleição. O forte cimento que liga os obreiros de uma Loja entre si, o hábito da busca e obtenção de consensos, potencia as possibilidades de cada Loja ter votações muito fortes, quiçá unânimes, ou quase, no candidato em relação ao qual na Loja se gerou consenso no sentido do seu apoio. Isto gera a tendência de - salvo quando haja porventura significativa divisão entre Lojas quanto à escolha do candidato a eleger - para que o resultado quantitativo seja uma votação muito significativa, quiçá esmagadora, no candidato eleito. E, no entanto, a significativamente menor expressão eleitoral do ou dos candidatos derrotados não implica a sua menor valia.

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Sobretudo, não implica que não seja ou sejam capazes ou merecedores para exercer o ofício de Grão-Mestre. Significa apenas que, naquele particular momento, a escolha recaiu noutro. Tão só. Ao não se divulgar resultados quantitativos, protege-se a igualdade qualitativa dos candidatos. A votação não escolheu um em detrimento de outro ou de outros porque aquele era bom e este ou estes eram maus. Escolheu-se de entre vários Irmãos a quem foi reconhecida capacidade para o exercício do cargo - e por isso beneficiaram da proposta de vários Mestres - um para o exercer. Aquele que, naquele momento, se entendeu ser o que teria condições para melhor exercer a função. Tão só. O que não quer dizer que, na eleição seguinte, o ou um dos derrotados desta eleição não possa vir a recolher o apoio para ser, por sua vez e então, eleito. Ter sido candidato derrotado não inviabiliza ou dificulta eleição posterior. Mas ter sido candidato copiosamente derrotado pode dificultar muito essa possibilidade e, quiçá injustamente, quiçá com prejuízo para a instituição, liquidar as possibilidades futuras de eleição de um bom candidato que, em determinado momento, defrontou e perdeu perante outro que foi então considerado mais bem colocado para exercer o ofício, em detrimento de, possivelmente, um menos bom candidato que beneficiaria de não ter sofrido anteriormente copiosa derrota... apenas porque não se apresentou à eleição. Em eleições maçónicas, não há vencedores nem vencidos. Há

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apenas os que são escolhidos e os que, naquele momento, o nãosão. Aquele que foi preterido numa escolha eleitoral não deve ficar,de forma alguma, diminuído para o futuro. Essa preterição nãosignifica que não tenha capacidade ou merecimento para oexercício da função. Significa apenas que, naquele momentoconcreto, se entendeu haver outro um pouco mais bem qualificadoou um pouco mais merecedor de a exercer. E a diferença de valia,naquele momento, entre ambos, pode ser muitíssimo menor, doque a expressão eleitoral quantitativa resultante de uma votação. Não é comum, sabemos, esta regra. Mas é uma regra que protegee salvaguarda os preteridos numa votação, mantendo incólumes assuas possibilidades no futuro. E isso já sucedeu! Já foi eleito umcandidato que, na eleição anterior, tinha sido preterido em favor deoutrem. Sem problemas: a generalidade dos votantes não sabia se,nessa eleição, fora preterido por curta margem ou copiosamentebatido na escolha. A eleição subsequente não foi, assim,perturbada por um elemento que - manifestamente - não fez faltanenhum para a escolha então efetuada. Esta regra que mantemos entre nós, na GLLP/GLRP, não é -sabemo-lo bem - suscetível de ser comummente aplicada. Masatrevo-me a pensar que o mundo será um pouco melhor se equando puder sê-lo, sem problemas... Rui Bandeira

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O 1º dia como Venerável Mestre

October 28, 2010

Caros Leitores

Ser Venerável Mestre de uma loja é, em si, um motivo de orgulho,já que significa que os restantes Irmãos da Loja nos aceitam e nosconfiam a orientação da Loja, durante um Veneralato; serVenerável da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues é, emmeu entender, mais do que isso. Vejamos:

• A RLMAD é uma das mais antigas Lojas que integram aGLLP/GLRP.

• A RLMAD é uma das Lojas mais activas, tendo sido pioneira em muitos aspectos, dos quais a presença activa na Internet

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constitui um excelente exemplo

• A RLMAD é uma Loja de referência, dado o rigor e dedicaçãocom que se envolve em tudo. Como exemplo deste facto,pode-se destacar um determinado período da sua vida em queera a única Loja a fazer iniciações.

• Na RLMAD, discutem-se forte e veementemente todos osassuntos, sendo que essas discussões são sempre balizadaspelo forte sentimento de tolerância e amizade que une osIrmãos

• ...

Face ao acima exposto, creio que fica claro que assumir o Veneralato nesta Loja, trás consigo um forte "receio de não estar à altura", mas também um desejo enorme de que, no final, os Irmãos considerem ter valido a pena. Sinto-me simultâneamente um bafejado pela sorte e alguém a quem foi confiada uma tarefa na qual falhar não é uma opção. Acresce que existe sempre uma tendência para fazer comparações e o anterior Venerável foi extraordinário na forma como conduziu os trabalhos da Loja; se não fosse o receio de com isso poder ser injusto com outros Veneráveis, arriscaria a dizer que considero este, um dos melhores Veneralatos da história da Loja. Fica aqui a minha homenagem ao I:. Rui L:., pelo excelente trabalho que desenvolveu, bem como um sentimento de tranquilidade, por poder contar com ele como meu conselheiro.

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Como é que se resolve o problema da comparação??? trabalhandomuito todos os dias, buscando levar a Loja ainda mais alto, usandocomo alicerces, tudo o que os anteriores Veneráveis "plantaram".Para todos eles, o meu Muito Obrigado e para mim, Mãos à obra...

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O Vigésimo Primeiro Veneravel Mestre

October 28, 2010

Tem o cronista, para o efeito eu próprio, que começar por pedir desculpa por em tempo devido nao ter anunciado a eleição do ora empossado Veneravel Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues. Na sessão de 27 de Outubro, foi instalado o Irmão A.Jorge, ele também cronista deste blog e editor do sitio internet da loja. Nao foi por isso que foi eleito e instalado, foi mais porque durante 12 anos, tempo que intervalou a sua iniciação em Outubro de 1998 e a sua Instalaçao como VM, progrediu desempenhou quase todos os cargos de Loja, aprendeu, ensinou, trabalhou. A sua instalação é um corolário da sua disponibilidade para com a Loja. Dele esperamos trabalho, e progresso, serenidade e seriedade. Para mim, que ha 12 anos atrás assinei a sua ficha de candidatura, assumindo-me como proponente, foi um privilégio enorme poder ser o Mestre Instalador. Da Loja, sabe ele já que receberá tudo o que houver para dar, A Loja ao escolhe-lo sabe bem que o espremerá para que dê tudo o que tem para dar. É assim na Affonso Domingues, e nós gostamos.

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José Ruah

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A liberdade na interpretação da simbologia maçónica

November 01, 2010

Magritte pintou, entre 1928 e 1929, um célebre quadro em querepresenta um cachimbo sob o qual escreveu "Ceci n'est pas unepipe." ou, em português, "Isto não é um cachimbo". De facto, apintura não é um cachimbo, mas a imagem de um cachimbo - etransmitir essa ideia era o intuito de Magritte. "O famoso cachimbo",viria ele a confessar, "Quanto me censuraram por causa dele! Eporém, alguém poderia encher o meu cachimbo? Não, pois é sóuma representação, não é verdade? Por isso, tivesse eu escrito nomeu quadro «Isto é um cachimbo», estaria a mentir."

Um símbolo - do grego σ■ µβολον (sýmbolon) - pode ser um objeto, uma imagem, uma palavra, um som ou uma marca particular que represente algo diferente por associação, semelhança ou conceção. Deste modo, pode substituir-se um conceito complexo por um símbolo simples. O significante é evidente - constitui o símbolo em si mesmo; contudo, o seu significado pode ser obtuso, ou mesmo variável com o tempo, pois reside naquele que o descodifica, e cada um acaba por fazê-lo de forma pelo menos

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ligeiramente diferente dos demais. Por isto, é quase certo que, umavez estabelecidos, os símbolos "adquiram vida própria",alterando-se o seu significado com o passar do tempo. Porexemplo, a Estrela de David é um símbolo que começando porconstituir - de acordo com a tradição judaica - uma marca apostanos escudos com que os guerreiros do rei David se protegiam,adquiriu, a partir de certa altura, um caráter místico, passando a sergravado como amuleto ou proteção, e acabando por ser adotadacomo símbolo do Estado de Israel.

Não pode falar-se de simbolismo maçónico sem citar a velhadefinição de maçonaria: "É um sistema de moral velado poralegorias e ilustrado por símbolos". De facto, a maioria dossímbolos usados em maçonaria é evocativa dos princípios moraiscom que a maçonaria se identifica. O importante são os princípios;os símbolos são apenas os meios usados para que não osesqueçamos. E, uma vez que cada um recorda de forma diferente,e interioriza o princípio de forma única e pessoal - pois que único,individual e irrepetível é cada indivíduo e a sua experiência de vida- seria um exercício de futilidade tentar-se exigir que o significadodos símbolos fosse sempre o mesmo para todos. De facto, nem talseria proveitoso.

Uma das frequentes utilizações dos símbolos é como oportunidade e meio de auto-análise - e também por isso se diz da maçonaria ser especulativa - que permita a cada um determinar as suas próprias "asperezas" no sentido de as "polir". Sendo as "rugosidades do espírito" diferentes de pessoa para pessoa - apesar da universalidade dos princípios, que podem aplicar-se a todos - cada um vê, sente e aplica o princípio a si mesmo de forma distinta da de todos os demais. Cada um pode, então, especulando, dar ao

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símbolo os significados que entenda, pois o símbolo é meramenteinstrumental - não tem nada de sagrado ou de "conspurcável" comeste processo - para além de que atribuir novos significados a umsímbolo não implica a perda dos significados mais convencionais,pelo que o diálogo sobre os mesmos continua a ser possível.

Dou-vos um exemplo que se passou comigo. Diz-se das lojasmaçónicas serem "Lojas de S. João". Mas de qual? A respostaconvencional é dizer-se que de dois: de João Batista - conhecidopela sua retidão e verticalidade, implacável consigo mesmo e comos outros, a ponto de fazer com que lhe cortassem a cabeça - e deJoão Evangelista - apóstolo do amor, cultor da fraternidade, epromotor da tolerância. Ambos se celebram por volta dos solstícios- João Evangelista no de Verão, João Batista no de Inverno. Istosão as premissas. Os princípios a transmitir são os que foramexpostos: o da retidão e verticalidade de espírito por um lado, e odo amor fraterno pelo outro. Estes significados são mais ou menosuniversais na maçonaria. Há quem refira, ainda, que os raios de solno solstício de Verão estão no seu ponto mais próximo da vertical,e no solstício de Inverno no seu ponto mais próximo da horizontal.Partindo desta pista, ávido de explorar estes símbolos e de fazerboa figura ao apresentar a respetiva prancha, o aprendiz que euera então não se ficou por aqui; procurou especular mais ainda.Notou que João Batista - o da Verticalidade - era celebrado porentre uma Luz predominantemente horizontal, e que JoãoEvangelista - o do amor fraterno entre pares - o era quando a LuzSolar era mais vertical. Conclusão? "Devemos ser equilibrados eequilibrantes: retos e justos quando à nossa volta todos falem defraternidade e tolerância, e tolerantes e fraternos quando insistamna aplicação dos princípios de forma implacável."

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São um significado e uma conclusão com alguma lógica? São -pelo menos, do meu ponto de vista. É um significadouniversalmente reconhecido? Não. E está certo? Ou está errado?Bom... para mim, parece-me certo, na medida em que foiinstrumental para que aplicasse a mim mesmo os princípiosreferidos de forma mais eficaz. Para outros não resultará. Ossímbolos são isso mesmo: instrumentos, meios, meras ferramentascoadjuvantes na prossecução de um objetivo maior. Aqui possodizer: se da "adulteração" do significado "puro" e "convencional" dosímbolo resultou a melhor aplicação do princípio à minha vidatornando-me numa pessoa melhor, então - porque a ninguémprejudica o meu entendimento peculiar deste símbolo - o exercíciofoi profícuo. Se, para além disso, a alguém aproveitou para além demim, então dou-me por muito satisfeito...

Paulo M.

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Vencedor e... vencedor!

November 03, 2010

Quando decorreu o processo eleitoral para a eleição do terceiro Grão-Mestre, a GLLP/GLRP estava ainda em convalescença da cisão que abalara o mandato do segundo Grão-Mestre. Esse processo eleitoral teve uma diferença substancial em relação aos anteriores: enquanto, quer Fernando Teixeira, quer Luís Nandin de Carvalho tinham sido candidatos únicos, para a eleição do terceiro Grão-Mestre apresentaram-se dois candidatos: José Manuel Anes e Alberto Trovão do Rosário. José Manuel Anes era bem conhecido. Fora um prestimoso

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colaborador de Luís Nandin de Carvalho e em boa parte também a ele se devera a manutenção do reconhecimento internacional, após a cisão. Alberto Trovão do Rosário, professor universitário, obreiro de uma Loja no distrito de Setúbal, era então menos conhecido, mas era-lhe reconhecida grande capacidade, profunda estatura cívica e intelectual e era ardentemente apoiado por alguns Irmãos que suportavam a sua candidatura. Recentemente cicatrizada de uma cisão, a GLLP/GLRP e os seus obreiros não pretendiam propiciar condições para que uma outra viesse a ocorrer. As duas candidaturas preocuparam-se assim em atuar de forma a que nenhuma fagulha ativasse indesejável braseiro. Pela primeira vez havia disputa eleitoral, importava demonstrar que esse facto integrava a normalidade da vida institucional da Obediência. Sabia-se que alguém havia de vencer e alguém haveria de perder a eleição. Isso era normal e fazia parte do processo eleitoral. Importava que a aceitação do resultado eleitoral fosse consensual e não criasse risco de perturbações - já tínhamos tido a nossa conta delas! A divulgação das candidaturas e seus projetos - aquilo a que vulgarmente se designa por campanha eleitoral... - decorreu de forma exemplar: cada candidatura elaborou os seus documentos, que foram divulgados e distribuídos pela estrutura da GLLP /GLRP, com rigorosa imparcialidade. Ambos os candidatos se deslocaram às Lojas para se apresentarem e com os obreiros das Lojas debater os respetivos projetos. Mas essas deslocações tiveram a particularidade de terem sido feitas em conjunto. Não houve campanhas eleitorais, houve a apresentação de projetos, em sadio

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confronto. Dificilmente se poderia ter tomado melhor opção! O processo eleitoral decorreu em harmonia, sem incidentes, cada um apresentando as suas ideias e assistindo à apresentação das ideias do seu opositor. Tudo decorreu com elevação, em verdadeira fraternidade. No decorrer desse processo, verificou-se que as bases, as Lojas e seus obreiros, apreciaram a forma como ambos os candidatos divulgaram os seus propósitos. Verificaram que tinham perante si dois verdadeiros potenciais Grão-Mestres. Sabiam que só um seria eleito. Mas demonstravam o seu apreço por ambos. Consensualmente, a ideia surgiu, a sugestão foi verbalizada, o apelo foi feito, a opinião, Loja a Loja, coletivamente foi formada: um dos dois candidatos seria eleito, mas ambos eram merecedores de o ser. Então, sendo inevitável que houvesse um eleito e um não eleito, havia que proceder da forma que melhor se pudesse reconhecer esse mérito de ambos os candidatos. Loja a Loja, a mensagem que os candidatos ouviram afinava pelo mesmo diapasão: o candidato eleito Grão-Mestre deveria designar o outro candidato Vice-Grão-Mestre! Talvez inicialmente não fosse essa a ideia dos candidatos. Mas o pulsar da Obediência era inequívoco. E assim foi feito! Apurados os resultados da eleição, verificou-se que fora eleito para terceiro Grão-Mestre José Manuel Anes. Não se soube - está definido que não se saiba! - se a sua eleição

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ocorreu com grande ou pequena vantagem. Não houve elementosquantitativos a deslustrar a valia qualitativa de ambos oscandidatos. E o Grão-Mestre eleito designou comoVice-Grão-Mestre o seu opositor na eleição! Alberto Trovão do Rosário foi assim designado Vice-Grão-Mestre,com toda a legitimidade, com todo o peso institucional que aexemplar atuação de ambos os candidatos na eleição permitiramque lhe fosse conferido. E foi assim que, de uma assentada, a GLLP/GLRP, recentementecicatrizada a ferida da cisão, elegeu, não um, mas doisGrão-Mestres! Porque logo então se percebeu que, salvo qualqueranormalidade, não se tinha eleito apenas o terceiro Grão-Mestre:também se tinha escolhido o seu sucessor! Rui Bandeira

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Os símbolos em Maçonaria: o ensinar e o aprender

November 07, 2010

É conhecido que a maçonaria recorre extensivamente a símboloscomo forma de transmissão do conhecimento. É evidente queesses símbolos terão algum significado. O que, todavia, é menosevidente, é que não há significados universalmente aceites ouimpostos para os símbolos maçónicos. O que um interpreta de ummodo, outro pode interpretar de modo diverso. Assim sendo, deque serve a simbologia na maçonaria? A que aproveita essa"plasticidade" nos significados dos símbolos? E como é que sepode usar os símbolos como meios de comunicação do seusignificado subjacente, se esse significado pode variar de pessoapara pessoa?

Para o entendermos, temos que recuar no tempo. Bem antes da maçonaria especulativa ter surgido - o que sucedeu, oficialmente, em 1717 - já os maçons operativos se socorriam de símbolos para

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se recordarem dos ensinamentos que os seus mestres lhes haviamtransmitido. De facto, muitos dos trabalhadores da pedra nãosabiam ler nem escrever, pelo que se socorriam de pictogramas erepresentações de objetos para o efeito. Os símbolos não erampropriamente secretos; o seu significado - as técnicas a que osmesmos se referiam - é que era apenas revelado a alguns. Amaçonaria especulativa veio a adotar esse método de transmissãode conhecimento. Assim, hoje como outrora, os símbolos sãoauxiliares de memória, instrumentos de suporte ao conhecimento,verdadeiras mnemónicas- diriamos hoje: são cábulas - que nospermitem recordar, evocar e especular.

Mas se o seu significado pode ser individualizado, como é que oconhecimento passa sem se perder, sem se desvanecer, sem seespraiar numa mar de semânticas? De forma muito simples: paratudo há um início, e o método consiste, precisamente, em dar acada um os pontos de partida, sem estabelecer qualquer ponto dechegada... Assim, a um aprendiz é, desde logo, ensinado osignificado comum de vários símbolos: o esquadro, o prumo, onível, o mosaico bicolor do chão dos templos, a pedra bruta, apedra polida, entre outros. É das poucas ocasiões que, emmaçonaria, alguma coisa é verdadeiramente ensinada, e mesmo aíos significados gerais são dados com parcimónia de explicações ede forma sucinta e concisa. A cada um é dito, então, que deveráprocurar interpretar cada símbolo de forma pessoal, podendo queraplicar o significado original, quer levá-lo até onde o deseje. E éesse o trabalho do aprendiz: estudar os símbolos, construir umsignificado em torno dos mesmos, e aplicá-lo a si mesmo.

E como se mantém um denominador comum? Quando um maçon se refere ao prumo, os demais sabem que se refere à retidão

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moral, à integridade, à verticalidade de caráter - aquilo que ouviuquando, ainda aprendiz, lhe "apresentaram" os símbolos. Contudo,mais tarde cada um irá interiorizar a seu jeito o que estas palavrassignificam. O que será sinal de caráter para um poderá serduvidoso para outro; a nenhum, porém, é imposto qualquersignificado universal. E porquê? Porque, se a maçonaria se destinaa tornar cada homem num homem melhor, deve fazê-lo dentro doabsoluto respeito pela sua liberdade. Por isso se diz que emmaçonaria tudo se aprende e nada se ensina, no sentido de quecada um deve procurar os seus próprios ensinamentos semesperar que lhos facultem. Cada um deverá poder procurar, nomais íntimo de si, o que quer fazer dos princípios que lhe sãotransmitidos: se quer segui-los ou ignorá-los, quais aqueles a quevai dar maior preponderância, e até onde vai levar esse ânimo dese superar. E é por tudo isto que, sendo essa luta de cada homemconsigo mesmo algo de mais único do que uma impressão digital, aliberdade individual de interpretação se impõe sobre qualquereventual tentativa de normalização do significado dos símbolos.

Paulo M.

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O quarto Grão-Mestre

November 10, 2010

O quarto Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi Alberto Trovão do Rosário. Exerceu o ofício entre 2004 e 2007. Antes disso, tinha sido, em 2001, com José Manuel Anes, candidato ao exercício do ofício. Então, foi este quem foi eleito terceiro Grão-Mestre. Mas a divulgação das candidaturas a que então se procedeu mostrou a elevada qualidade de ambos os candidatos e José Manuel Anes soube interpretar bem o desejo que então se formou e designou Alberto Trovão do Rosário para o exercício do ofício de Vice-Grão-Mestre. Trovão do Rosário colaborou assim no trabalho de normalização da vida da Grande Loja levado a cabo por José Manuel Anes e recebeu uma Grande Loja pacificada, em velocidade de cruzeiro,

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com a normalidade restabelecida. Preocupado em preservar o rumo readquirido, Trovão do Rosário dirigiu a Grande Loja com particular prudência. Cada passo, cada iniciativa, era analisado e reanalisado, estudado e ponderado antes de ser dado ou de ser levado a cabo, por forma a garantir-se que não fosse um passo em falso, uma iniciativa falhada ou erradamente controversa. Esta prudência não foi bem vista pelos mais impacientes, que, com algum humor, não isento de carinho e respeito, brincavam com o nome do Grão-Mestre, apelidando-o de Travão do Rosário... Mas provavelmente o quarto Grão-Mestre tinha e teve razão: há que deixar o tempo fazer o seu trabalho, que consolidar o que anteriormente foi abalado e reparado. A impaciência é generosa, o desejo de fazer é positivo, mas há um tempo para avançar e um para consolidar o progresso alcançado. O quarto Grão-Mestre considerou que o seu tempo era de consolidação - e a evolução futura deu-lhe razão! A melhor prova disso é o percurso bonançoso que a Grande Loja tem trilhado desde então. Alberto Trovão do Rosário, professor universitário, foi e é um homem ponderado, de estudo, de organização e exposição do saber adquirido. Foi talvez esta a linha de força que deixou marcada na organização que dirigiu. O seu tempo foi de aprofundamento do que é, para que serve, a Maçonaria, foi de organização das nossas ideias. Para fazer este trabalho, é preciso sossego. Que não deve ser confundido com inércia...

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Este blogue, em devido tempo, registou o pensamento do quartoGrão-Mestre, quando publicou, entre 30 de outubro e 20 denovembro de 2006, na íntegra, mas dividido em nove excertos, oseu artigo "A Actualidade da Maçonaria", originalmente publicadono boletim da Grande Loja, "O Aprendiz". Ainda hoje vale a penareler este artigo. Ainda hoje tem as marcas da atualidade e daqualidade. Alberto Trovão do Rosário não foi travão. Foi pausa, foi estudo, foiprudência. Foi o que era necessário na altura. E o seu trabalhopossibilitou que o seu sucessor estabelecesse o seu rumo, semreceio de que o terreno da partida estivesse em falso. O vigor dospassos que se dá também depende da consolidação do terreno emque esses passos se dão... Hoje, quando o seu sucessor deu já porterminada a sua tarefa e novo elemento tomou as rédeas daGrande Loja, podemos com justiça afirmar que o tempo deconsolidação proporcionado pelo quarto Grão-Mestre foi precioso. Eis um excerto, retirado do sítio da Grande Loja, do percursomaçónico do quarto Grão-Mestre que, na vida profana, éLicenciado pelo Instituto Nacional de Educação Física, Doutorado,com Distinção, pela Universidade Técnica de Lisboa (Faculdade deMotricidade Humana) e assegurou uma bem sucedida carreirauniversitária.

Percurso Maçónico

• Ex-Obreiro da RL Bocage, Obreiro da RL Santiago, Obreiro daRL Fraternidade, Obreiro da RL Pisani Burnay.

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• Nestas RRLL desempenhou todas as funções do quadro deLoja tendo sido VM da RL Santiago por duas vezes e sido VMda RL Pisani Burnay.

• Ex-Grande Inspector (Rito de York).

• Assistente do MR Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Por inerência,foi membro do Grão-Mestrado.

• Capelão do Capítulo «Mosteiro dos Jerónimos» (Arco Real).

• Ilustre Mestre do Conselho da «Ordem de Santiago» (GrausCrípticos).

• Generalíssimo da Comenda «D. Henrique o Navegador»,integrada na Grande Comenda dos Cavaleiros Templários dePortugal, juntamente com as Ordens da Cruz Vermelha e deMalta.

• Grande Prelado do Conclave «Henrique de Bourgogne» daOrdem Maçónica e Militar da Cruz Vermelha de Constantino edas Ordens anexas do Santo Sepulcro e de S. JoãoEvangelista.

• Supremo Magnus substituto da Societas Rosacruciana inLusitania.

• Membro do Shrine (Europa)

• Membro do Shrine (Internacional).

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• Representante do GC dos MC do Arizona junto do GC de MR eE de Portugal.

• Representante do GC dos GC do RAM do Arizona junto doSupremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal.

• Foi Presidente da Comissão Científica do Iº Congresso daMaçonaria Regular.

• Foi Vice-Presidente e Presidente da Direcção da associaçãoprofana Grande Loja Legal de Portugal.

• Criador, com outros obreiros, da colecção «CadernosMaçónicos», na RL Santiago, em 1997. Posteriormente, apublicação desta colecção prosseguiu na RL Astrolábio.

• Autor de dezenas de pranchas, artigos e comunicações sobretemas maçónicos.

• Autor, com NN Fernandes, do livro «Mozart e a Flauta Mágica -Espiritualidade, Música e Maçonaria.

Rui Bandeira

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A clivagem racial e cultural e o insucesso escolar

November 14, 2010

Li esta semana um artigo sobre o insucesso escolar dos negros nosEUA. E depois outro idêntico sobre o Reino Unido. Há anos queestes estudos vêm sendo feitos e refeitos e, não obstante a adoçãode variadas estratégias com o propósito de mitigar as diferenças,chega-se sempre a resultados semelhantes: certos grupos raciaisde estudantes obtêm piores notas e abandonam mais a escola doque outros. Estes estudos comparam frequentemente os resultadosobtidos por crianças, adolescentes e jovens oriundos de famíliasdo mesmo estrato sócio-económico - leia-se: habitando a mesmazona e frequentando as mesmas escolas, com pais com saláriosidênticos e idênticas habilitações.

É claro que, sempre que um estudo desta índole é feito, logo clamam vozes acusando-o de racista e discriminatório. Recordo que os factos não podem sê-lo, mas apenas, e eventualmente, a interpretação dos mesmos. Contudo, será difícil fazê-lo a estudos

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que constatem encontrar-se acima da média os estudantes deascendência asiática, seguidos dos descendentes de judeus e deindianos, não obstante colocarem os de ascendência africana nofim da cauda. Os factos foram estes e, tendo sido recolhidos etratados de acordo com as melhores práticas e normas daestatística, não serão passíveis de grande discussão. Já astentativas da sua interpretação - e, especialmente, as medidas atomar - levantam interessantes questões.

Uma das conclusões hoje em dia mais bem fundamentadas é a deque a questão não é de modo algum racial, mas cultural, e as suasraízes podem encontrar-se bem fundo na educação que as famíliasdão às suas crianças desde o berço até que ingressam no sistemaescolar. As expetativas dos pais para com os seus filhos por umlado, a forma como entendem o papel da escola por outro,condicionam o apoio - ou a falta dele - que as crianças receberãodo seu núcleo familiar no sentido da obtenção de melhoresresultados escolares.

É assim que, em famílias de ascendência asiática - em que orespeito quase reverencial para com os mais velhos é um valorcultural muito forte, e em que o trabalho e o esforço são entendidoscomo parte da normalidade da vida e como um caminho para osucesso, o que leva os pais a andar "em cima dos filhos" para osfazer estudar e fazer os trabalhos de casa - as crianças têm, emmédia, dos melhores resultados escolares. Por oposição, famíliasem que as crianças tratem os pais com displicência, passem otempo livre a ver televisão ou na rua com os amigos, não seesforçando por obter bons resultados - e, mesmo, chamando a isso"to act white" (diríamos nós: "armar-se em branco") - não terão asmesmas alegrias na hora de assinar o boletim das notas.

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Também importante é a diferente atitude dos pais para com aescola e para com o seu próprio papel no sucesso escolar dosfilhos. Enquanto que uns delegam por completo na escola todas astarefas atinentes ao bom aproveitamento escolar, outros vêem aescola um parceiro sobre o qual não podem colocar todo o peso daeducação da criança, e outros ainda, desconfiados da eficiência dosistema escolar, complementam-no das mais diversas formas, deexplicações particulares a escolas de línguas, de música, de estudoacompanhado, sei lá... Certo, certo, é que será, essencialmente, otipo de educação familiar o principal fator determinante para osucesso escolar das crianças.

Por fim, não se pode generalizar: cada caso é um caso, cadacriança é única, cada família é diferente. Pode, mesmo assim,tentar encontrar-se padrões, e tentar encontrar as causas dosproblemas. Não basta, aqui, encontrar correlações: é mesmonecessário encontrar a causalidade.

Face a estas conclusões, que medidas se pode tomar? Aqui aquestão torna-se, subitamente, muito mais delidada. Será que cabeao Estado ensinar os pais a educar os filhos? Será o estilo deeducação que cada um recebeu e transmite aos descendentesparte integrante da sua cultura? E sendo-o, poderá ou deverá oEstado dar orientações precisas no sentido de que as crianças -para bem destas últimas, entenda-se - devam ser educadas destaou daquela maneira? Contra, eventualmente, a vontade dos pais?O respeito pela cultura de cada um, pela sua auto-determinação e,por fim, pela sua liberdade, não iriam colidir com tais hipotéticasmedidas?

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Esta questão, apesar de melindrosa, poderia perfeitamente serdiscutida numa Loja como a Mestre Affonso Domingues. A questãolevantada é filosófica, antropológica e, apesar de também política,não o é de forma partidária ou inevitavelmente conducente adivisões entre posições tomadas. Traz informação que é,certamente, útil a que cada um de nós entenda melhor o mundoque o rodeia, e ajudará, certamente, a combater preconceitosretrógrados. Estou certo de que qualquer opinião formulada seriano sentido de se dar prevalência ao respeito pela liberdadeindividual, que não haveria qualquer comentário racista - muito pelocontrário, e que seria salientado que a tolerância só faz sentido sehouver diversidade. No fim, todos manifestariam agrado com otema tratado, e cada um sairia com uma posição forçosamentediferente de todos os demais, mas enriquecida pela exposição aideias diferentes daquelas que possuía.

Como vêem - e ao contrário do que dizem algumas vozes - há,numa Loja Maçónica, muito mais a discutir do que a cor dosaventais ou a decoração do templo.

Paulo M.

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Diversidade

November 17, 2010

A Maçonaria é, por vezes, vista do exterior como uma instituição fechada, imutável, dotada de uma grande coesão, que atua em bloco. Esta visão não é, nem de perto, nem de longe, correta. Pelo contrário, a Maçonaria é dotada de uma invulgar diversidade, agrupando sob a mesma genérica denominação, realidades distintas, práticas diversas, entendimentos díspares. Em todos os aspetos, a começar logo pelas suas origens... A maior parte dos estudiosos da Maçonaria considera que ela tem a sua origem nas corporações medievais de construtores em pedra, de catedrais, palácios, fortificações, etc.. Mas essas agremiações medievais, embora partilhando regras e costumes similares, tinham caraterísricas muito próprias e específicas, em função da sua

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localização geográfica. Só para falar das Ilhas Britânicas, a organização específica das Lojas Operativas inglesas diferia das escocesas, que por sua vez, tinham sensíveis diferenças das irlandesas. Em França, não se pode falar dos antecedentes históricos da Maçonaria sem referir a Compagnonage. As agremiações de construtores da Flandres tinham usos diversos das italianas e estas das teutónicas. Por isso, quando se afirma que a Maçonaria Especulativa moderna evoluiu da Maçonaria Operativa - afirmação que, pessoalmente, considero correta -, é bom que se tenha presente que esta evolução resulta de diferentes Tradições, não inteiramente díspares, mas também não totalmente semelhantes. Mas, ainda no campo da origem da maçonaria, há aqueles que a situam nos Templários e respetiva Tradição. E aqueles que a fazem remontar aos Antigos Mistérios egípcios e ou mitraicos. Só no tema das origens podemos detetar assinaláveis diferenças de entendimento, que conduzem a diversas posturas e práticas. É inevitável que haja diferenças de conceção, mais visíveis ou mais subtis, entre quem considera praticar algo que evoluiu das corporações medievais e quem acredita que a sua prática descende da tradição cavaleiresca religiosa e ainda quem considera a maçonaria herdeira dos herméticos mistérios da Antiguidade. Mas a Maçonaria também assume estilos e práticas diversas em função dos grandes espaços em que se insere. Não é a mesma coisa falar-se da Maçonaria Americana e da Maçonaria Europeia

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Continental. Não é de todo a mesma a realidade da Maçonaria Inglesa e da Latinoamericana. Isto para não falar da diversidade asiática e da progressiva afirmação maçónica em África. Mesmo dentro de cada bloco geográfico - diga-se assim - as Obediências Nacionais e as práticas maçónicas em cada país mostram-nos assinaláveis diferenças e visíveis variantes, designadamente em práticas rituais. Cada país tem uma discreta evolução própria, que, ao longo do tempo, adquire uma individualidade específica, também inerente às diversidades culturais dos diversos povos. Se se assistir a uma sessão de Loja em Itália, na Alemanha, em França, num país eslavo e em Portugal, ainda que em Lojas do mesmo rito - designadamente do Rito Escocês Antigo e Aceite - facilmente reconhecemos um ambiente comum, uma base partilhada, mas também diferenças, idiossincracias, práticas próprias. Por outro lado, não olvidemos a transversal diferença existente entre a Maçonaria Regular e a Maçonaria Liberal, aquela trabalhando à glória do Grande Arquiteto do Universo e com os seus obreiros na busca de um aprofundamento espiritual, esta efetuando os seus trabalhos à glória do Homem e do seu aperfeiçoamento moral. Ambas têm a sua específica valia e ambas são - creio-o - necessárias. Mas as respetivas buscas são diferentes. Sem serem reciprocamente opostas, prosseguem caminhos diferentes, esta tendente a melhorar o relacionamento do Homem com a Sociedade e os diferentes grupos sociais, aquela trilhando a rota de uma espiritualidade baseada na Fé no UM universal, origem e reflexo de tudo e todos. Ambas as vias são -

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repito - respeitáveis e valiosas. Ambas têm assinaláveis pontos de contacto entre si, partilham aqui e ali caminhos e princípios e valores comuns. Ambas têm - sobretudo - a inestimável caraterística de integrarem homens que procuram ser melhores. Mas são intrinsecamente diferentes. Para os cultores de cada uma das vias, essa é a melhor. Intrinsecamente nenhuma é melhor do que a outra. Apenas diferentes. Por outro lado ainda, a Maçonaria pratica-se em diferentes ritos, uns mais universais ou mais difundidos, outros mais seletos ou localizados. Sem preocupações de exaustão, podemos referir uma dezena de ritos hoje em dia praticados: Emulação, York, Escocês Antigo e Aceite, Escocês Retificado, Sueco, Brasileiro, Adonhiramita, Francês ou Moderno, Memphis-Misraim, Schröder. Cada um com simbologia própria ou diferente interpretação simbólica, ou diverso encadeamento do ensinamento. Todos diferentes. No entanto, cada maçom de um destes ritos, de visita a uma Loja de qualquer dos outros, reconhece ali Maçonaria... Mesmo na mesma região, no mesmo país, na mesma Obediência, praticando o mesmo rito, cada Loja tem uma prática subtilmente diferente das demais. Tem a marca da sua individualidade, o resultado da sua evolução própria, a levemente diferente evolução de uma mesma matriz. E, finalmente, dentro de cada Loja, que pratica o mesmo rito, que pertence a uma mesma Obediência, no mesmo país e na mesma região do globo... cada maçom é - inevitável e felizmente! - diferente do Irmão ao seu lado. Cada maçom tem a sua pessoal

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busca, a sua individual interpretação, o seu diferente caráter, a suadiversa história, o seu incomparável plano. Buscam todos o mesmo- o seu aperfeiçoamento -, utilizando o mesmo método, seguindo omesmo rito, integrando-se no mesmo grupo. Mas, porque intrínsecae gloriosamente diferentes, não prosseguem todos o mesmocaminho, à mesma velocidade e não chegarão aos mesmoslugares. Embora naveguem à vista um dos outros. Embora seauxiliem e influenciem mutuamente. Cada um é um diferentemaçom, ainda que na mesma maçonaria. Quando se fala em Maçonaria, está-se na realidade falando detodas estas diversas maçonarias. Todas - mais ou menos -diferentes. Mas todas se incluindo no mesmo universal conceitode... Maçonaria. Rui Bandeira

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As elites e a curva de Gauss

November 21, 2010

Ao estudar a diversidade das populações, os matemáticos descobriram um facto curioso: muitas das populações, quando ordenadas por uma das sua dimensões - como o peso, a altura, ou mesmo a distância entre os olhos - distribuíam-se de acordo com uma curva em forma de sino, como a que pode ver-se na imagem que ilustra este texto. O ponto mais alto da curva corresponde ao valor médio, e as "pontas" correspondem aos valores que mais se afastam da média. No gráfico em causa, vemos a distribuição do QI (Quociente de Inteligência) de uma população. Sendo 100 o QI médio, vemos que podemos encontrar 68,2% (34,1 + 34,1) da população - mais de dois terços - entre os 85 e os 115. Entre os 70 e os 130 encontramos já 95,4% (13,6 + 34,1 + 34,1 + 13,6), o que significa que um pouco mais de 19 em cada 20 pessoas se encontram neste intervalo. Entre os 130 e os 145 encontramos 2,2% da população - tantos quantos encontramos entre os 55 e os 70. Mas é acima dos 145 (e abaixo dos 55...) que encontramos os grupos mais reduzidos: 0,1%. Um em cada mil. Os melhores - e os piores... - são sempre raros. Fácil é ser-se mediano. A este tipo de

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distribuição chama-se "distribuição normal", e a sua universalidadetem uma explicação matemática. Uma vez que o saber não ocupalugar, e o conceito até é fácil de abarcar, vamos a ele.

Tomemos um dado de jogar: um cubo, com 6 faces, em cada umadas quais está inscrito um certo número de pintas: 1, 2, 3, 4, 5 ou 6.A probabilidade de cada face ficar por cima é igual para todas asfaces. Suponhamos agora que lançamos o dado uma centena devezes. é natural que "saia" cada um dos números o mesmo númerode vezes - entre 16 e 17, uma vez que 100/6 = 16,666666. Atéaqui, nada de novo.

As coisas começam, porém, a tornar-se interessantes sedecidirmos lançar de cada vez não um mas dois dados, e registar asoma das pontuações. Podemos obter qualquer número de 2 a 12,inclusive, num total de 11 resultados diferentes, correspondentesrespetivamente de um par de "uns" a um par de "seis". Aprobabilidade de se obter qualquer desses números é que não éigual. Senão, vejamos: para se obter "2" tem que se obter 1 noprimeiro dado e 1 no segundo dado; não há outra forma. Já para sesomar 3, podemos ter 1 no primeiro dado e 2 no segundo (1+2), ou2 no primeiro dado e 1 no segundo (2+1). Pode, do mesmo modo,somar-se 4 com 1+3, 2+2 ou 3+1. A soma "7" pode ser obtida com1+6, 2+5, 3+4, 4+3, 5+2 ou 6+1, ou seja, de seis formas distintas!Diz-se, por isso, que a probabilidade de obtermos "7" é 6 vezesmaior do que a de obtermos "2". Se somarmos o número de formasque nos permitem obter um dado número, ficamos com:

Total de "2": 1 (1+1)

Total de "3": 2 (1+2, 2+1)

Total de "4": 3 (1+3, 2+2, 3+1)

Total de "5": 4 (1+4, 2+3, 3+2, 4+1)

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Total de "6": 5 (1+5,2+4, 3+3, 4+2, 5+1)

Total de "7": 6 (1+6, 2+5, 3+4, 4+3, 5+2, 6+1)

Total de "8": 5 (2+6, 3+5, 4+4, 5+3, 6+2)

Total de "9": 4 (3+6, 4+5, 5+4, 6+3)

Total de "10": 3 (4+6, 5+5, 6+4)

Total de "11": 2 (5+6, 6+5)

Total de "12"": 1 (6+6)

Se lançarmos os dados cem vezes, é natural que obtenhamos asoma "7" cerca de seis vezes mais do que a soma "2". Os valores"2" e "12" são mais raros do que quaisquer dos restantes,ocorrendo em média uma vez em cada 36, enquanto que o valor"7" ocorrerá em média 6 vezes em cada 36, que é o mesmo quedizer 1 vez em cada 6. Os valores de "5" a "9", que são menos demetade dos números possíveis, acumulam entre si 24 em cada 36lançamentos - ou seja, dois terços, ou quase 67%.

Se repetirmos o mesmo exercício com 3 dados, depois com 4, epor aí fora, ir-nos-emos aproximando sucessivamente de umadistribuição normal. É isto mesmo o que nos diz o "Teorema doLimite Central", de acordo com o qual "a soma de muitas variáveisaleatórias independentes e com mesma distribuição deprobabilidade tende à distribuição normal".

Em qualquer população heterogénea há, incontornavelmente, quem se situe no topo, como sucede com a nata do leite que, rica em gordura, flutua sobre este, e donde vem a expressão "a nata da sociedade". Do francês - em que "crème" é, precisamente, a nata do leite - nos vem, precisamente, a expressão "la crème de la crème", que significa os melhores de entre os melhores. As elites, termo usado no século XVIII para nomear produtos de qualidade

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excepcional, viriam a constituir, por alargamento semântico dotermo, grupos sociais superiores, tais como unidades militares deprimeira linha ou os elementos mais altos da nobreza.

Quem tiver lido até aqui não estranhará, agora, ouvir-me dizer queas elites não são, no fundo, senão uma inevitabilidade matemáticaque tem na sua origem a própria diversidade humana. Setomarmos como premissa que cada dimensão que procurarmosmedir decorre de uma multiplicidade de fatores, podemos dizer queenquanto os homens forem diferentes haverá, para cada dimensão,uns grandes e outros pequenos, uns mais acima e outros maisabaixo, uns melhores e outros piores. As elites são, tão só, aquelesque se encontram junto ao limite superior da medida cujo critériotivermos estabelecido.

Paulo M.

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O Orador

November 24, 2010

O Orador é o guardião da Tradição Maçónica e zelador pelo cumprimento das leis e regulamentos em Loja, pela Loja e pelos obreiros da Loja. Integra, com o Venerável Mestre e o 1.º Vigilante, a Comissão de Justiça da Loja. É o único obreiro que pode interromper qualquer outro obreiro, incluindo o Venerável Mestre, quando se lhe afigure necessário para assegurar o cumprimento dos princípios, leis ou regulamentos maçónicos. Não admira, assim, que a medalha do Orador seja constituída por uma imagem das Tábuas da Lei. O Orador é um ofício específico do Rito Escocês Antigo e Aceite, que não deve ser confundido, por exemplo, com o ofício de

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Capelão em outros ritos. Com efeito, o Orador é o oficial da Loja que tem, além da anteriormente referida, a função ritual de proferir Orações. Mas isso não quer dizer Preces... A Oração proferida por este Oficial da Loja é de outra natureza: o Orador tira, de cada debate, as suas conclusões e nisso deve consistir a Oração final (no sentido de "intervenção oral") que lhe compete produzir. Assim, compete ao Orador, no final de cada debate, resumir e organizar as várias posições que tenham sido expostas e, em função das mesmas dar o seu parecer ao Venerável Mestre sobre a decisão a tomar e a forma como deve ser tomada. Recorde-se que o debate em Loja processa-se segundo regras rígidas, tendentes a possibilitar a livre expressão da opinião de cada um, sem constrangimentos nem perturbações. Importa a substância do que é transmitido, não a sua forma. Debate-se, no sentido de se analisar uma questão e tomar uma decisão; não se discute para procurar fazer valer a sua opinião, para levar de vencida opositores (pois em Loja não há opositores, apenas Irmãos que cooperam) ou rebater argumentos. Em Loja, o debate estabelece-se sempre relativamente a uma questão concreta, em relação à qual cada Mestre deve proceder à sua análise, dar a sua opinião, apresentar o seu entendimento da melhor forma de proceder. Cada Mestre intervém uma e só uma vez em cada debate. Não se interrompe ninguém (o único que pode fazê-lo, e unicamente para salvaguarda dos usos e costumes, leis e regulamentos maçónicos é precisamente o Orador - e esta situação só raramente ocorre). Cada Mestre só inicia a sua intervenção após estar terminada a intervenção anterior e depois de devidamente autorizado a fazê-lo pelo Venerável Mestre. Em caso algum se

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estabelece diálogo: cada Mestre fala para toda a Loja, não para uma pessoa em particular. Cada um dá a sua opinião sobre o tema, não gasta o seu latim e a paciência dos demais a refutar ou criticar outras opiniões anteriormente expressas: a assembleia é composta de homens inteligentes, que facilmente podem discernir que se A entende branco e B amarelo, B não concorda com A e tem uma opinião diversa dele - não vale a pena afirmá-lo expressamente. A mera expressão da fundamentação da sua opinião chega para mostrar a todos as concordâncias e discordâncias com intervenções anteriores. Em resumo, em Loja não se diz "não concordo com...", declara-se "o meu entendimento sobre o assunto em debate é este, por estas razões"). O Orador efetua o resumo do debate com o máximo de objetividade possível e coloca em relevo o sentir da Loja, o que resultou do debate. Ao fazer o resumo, o Orador evidencia se se verificou uma posição unânime, e em que sentido, se se manifestaram entendimentos diversos, mas um deles foi largamente maioritário, e qual, se há diversos entendimentos, sem que se tivesse destacado uma posição largamente maioritária, ou se o debate não foi conclusivo, por falta de elementos ou de opiniões consolidadas sobre a questão em análise. Feito o resumo do debate, o Orador tira a sua conclusão, isto é, o parecer, a recomendação, que transmite ao Venerável Mestre sobre a decisão a tomar. A conclusão do debate tirada pelo Orador nada tem a ver com a posição pessoal que porventura tenha. Assinala se houve unanimidade ou, pelo menos, uma posição largamente maioritária - e, nesse caso, recomenda que o Venerável

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Mestre decida em conformidade com o sentido expresso pela Loja, sem necessidade de votação - ou indica as posições expressas que, não sendo evidente uma tendência largamente maioritária, devem ser colocadas à votação pela Loja. O enunciar dessas posições deve ser claro e inequívoco, para que a Loja, ao votar, saiba exatamente o que está em causa na escolha que vai fazer. Quando tal se justifique, seja por das intervenções ressaltar a falta de elementos suficientes para uma decisão devidamente fundamentada, seja por se notarem mais dúvidas do que certezas, o Orador deve recomendar o adiamento da decisão, sugerindo as diligências a efetuar para possibilitar, em devido tempo, uma decisão mais esclarecida. Note-se que o Venerável Mestre não está obrigado a decidir em conformidade com as conclusões do Orador. Pode discordar e decidir em sentido diferente, formal ou substancialmente. É o Venerável Mestre aquele a quem a Loja delegou o exercício da autoridade. O Orador é - sempre - um colaborador, um auxiliar, do Venerável Mestre, nunca uma eminência parda que se lhe imponha. E isto mesmo até quando o Orador, no uso da sua competência de guardião da Tradição Maçónica e zelador pelo cumprimento das leis e regulamentos, porventura chame a atenção do Venerável Mestre para uma infração ou falha que se esteja em vias de cometer. Ainda assim, o poder de decisão final é do Venerável Mestre e só do Venerável Mestre. Se errar, é ele quem erra e é ele que assume a responsabilidade do erro. Ao Orador compete avisar, não pretender sobrepor uma sua inexistente autoridade à única que vigora em Loja.

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No final da sessão, após ter sido concedida a palavra a bem da Ordem ou da Loja (o que, em reuniões profanas corresponde ao "período depois da Ordem do Dia"...), o Orador tira as suas conclusões sobre a reunião. Não se trata aqui de sumariar as intervenções a bem da Ordem ou da Loja, porque estas, ou são meramente informativas ou, se carecerem de deliberação, são apenas introdutórias de um debate a efetuar em sessão futura. Trata-se de sumariar o que foi feito e deliberado na sessão. Este breve sumário, para além de evidenciar o trabalho realizado, facilita a tarefa do Secretário de elaboração da ata da sessão, a ser aprovada na reunião seguinte. É também frequente que o Orador, nas suas conclusões finais, apresente uma (breve, muito breve) Prancha Traçada sobre um tema maçónico, preferentemente relacionado com o que se tratou na sessão em causa. Porém, tal NUNCA sucede quando na sessão tiver sido apresentada uma outra Prancha Traçada por um Mestre. Em cada sessão de Loja deve haver formação dos obreiros, deve ser apresentado, em contribuição para o trabalho de aperfeiçoamento dos obreiros, um trabalho, uma exposição, um estudo - em resumo, uma Prancha Traçada. É incumbência, dever, dos Mestres da Loja garantirem-no. Se o não fizerem, estão a prejudicar a aprendizagem e a integração dos Aprendizes e Companheiros e a própria evolução pessoal dos Mestres. Mas apenas deve ser apresentada e colocada à meditação da Loja uma única Prancha Traçada de Mestre. Mais do que isso, seria estabelecer a confusão. Um tema para meditação e estudo por sessão é o necessário e o suficiente. Assim, se nessa sessão, tiver sido apresentada por um Mestre uma Prancha Traçada, a

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conclusão final do Irmão Orador resumir-se-á ao sumário dostrabalhos (incluindo a referência a essa Prancha Traçada,obviamente). Se tal não tiver sucedido, incumbe ao Orador, Mestreque efetua a última intervenção formal antes do encerramento dostrabalhos, garantir que a Loja não fique sem matéria para estudo emeditação, através então de uma brevíssima Prancha Traçada, emque, mais do que ensinamentos ou proposições, deve levantarpistas para reflexão. Assim, ficam os trabalhos justos e perfeitos! Rui Bandeira

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A pedra bruta

November 28, 2010

O aprendiz tivera recentemente a sua primeira lição sobre a pedrabruta e a pedra polida. Foi-lhe explicada a base, o essencial, oponto de partida do significado desses símbolos, que depoisinteriorizaria e desenvolveria por si mesmo. Aprendeu, então, que apedra é cada um de nós; que o nosso trabalho consiste em "aparar"as nossas asperezas de modo a atingirmos um estado de maiorperfeição - ou de polimento - para que, por fim, juntos, formemosessa sublime construção, esse supremo templo que o Homemedifica, a partir de si mesmo, à Glória do seu Criador.

Várias noites seguidas o aprendiz adormeceu sobre o assunto, esonhou com pedras de todos os feitios. Sonhou com enormes eantigos rochedos cobertos de um musgo ancestral; sonhou comareia fina, outrora parte de imponentes escarpas e agora reduzida apó; sonhou com mós de moinho, com as pedras dos muros dasaldeias da sua infância, com a calçada da cidade, com esquinas deprédios, com gravilha, com os seixos rolados que lançava foraquando abria um buraco no quintal e cuja forma traía um longopercurso de leito de rio e de enxurradas de Outono.

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Num dos seus sonhos, o seu olhar recaiu sobre um calhau quaseem bruto, semi-enterrado, com um dos lados mais plano - o maisbatido pela intempérie - e o resto, por ter passado a maior parte dotempo oculto debaixo da terra, ainda cheio de rugosidades eimperfeições. Algo de familiar lhe chamara a atenção para comaquela pedra, pelo que a fixou com atenção. Logo acordou, masaquele calhau, mais áspero de uns lados, mais liso de outro, nãolhe saía da cabeça.

Só dias depois, ao fazer uma introspeção sobre as suas fraquezase as suas forças, se reconheceu, não sem algum embaraço, napedra com que sonhara. O seu lado mais polido - aquele, afinal, emque mais tempo investira, e que era aquele que lhe punha o pão namesa - estava, não obstante, rachado e eivado de sulcos aqui, masali ainda com sinais de pouco trabalho e pouca perseverança quetraíam a rugosidade original. Do resto nem valia a pena falar;precisava de tudo.

Inspirou fundo e quase desistiu; a tarefa era árdua, e não sabiasequer por onde começá-la. Apercebeu-se, então, que nem sequersabia onde queria chegar, pelo que não fazia sentido meter-se,antes disso, ao caminho. O que deveria fazer dessa pedra que eraele mesmo?

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Inquieto, procurou junto de um dos seus Mestres orientaçõesquanto ao que deveria fazer. Este, à guisa de resposta, mostrou-lhedois muros, igualmente sólidos e compactos: um, formado porpedras de forma paralelepipédica, cada um com as suas 6 faceslaboriosamente aparadas; outro, formado por pedras irregularesmas firmemente encaixadas umas nas outras, em que apenas umaou duas faces - as exteriores - tinham sido polidas, mas essas, oh,como brilhavam!

Mais baralhado ainda, perguntou ao Mestre que pedra deveria ser,e o que deveria fazer para o atingir. Deveria ir aparando, nas váriasfaces, as rugosidades maiores, esperando que, ao fim de muitaspassagens, a forma se fosse compondo? Ou deveria investir numaou duas das faces e ignorar as restantes? Ou, pelo contrário,deveria trabalhar todas, mas dando forte preponderância a uma ouduas, e limitando-se a atingir os mínimos nas remanescentes?

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Respondeu-lhe o Mestre que não tinha resposta para lhe dar. Quecada um deveria aparelhar a sua pedra da forma que entendesseser a mais perfeita, e que o Grande Arquiteto saberia usá-la, comoficasse, na construção do Templo. Umas, mais toscas, seriamusadas como enchimento, sem o qual as paredes não teriamconsistência para se suster; outras, mais ornamentadas, seriamcolocadas em lugar de destaque, mas seriam eventualmente maisfrágeis; outras ainda, robustas e fortes, aparadas de formamilimétrica mas sem quaisquer adornos, tornar-se-iam nas pedrasque susteriam os vãos e as abóbadas. Algumas pedras, pela suaprópria natureza, nunca poderiam servir para certos fins; mas todasconseguiriam tornar-se úteis para alguma coisa, e tanto mais úteisquanto mais trabalho tivesse sido despendido nas mesmas.

O Aprendiz olhou então, longamente, a sua pedra, inspecionouminuciosamente a face mais polida - mas imperfeita - bem como asoutras, rugosas e ásperas, e lançou-se ao trabalho.

.·.

Anos mais tarde, já o Aprendiz chegara, por sua vez, a Mestre, tendo a oportunidade de ir apreciando os trabalhos dos Aprendizes

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e Companheiros da sua Loja, e o quanto eram diferentes uns dosoutros. Enquanto uns se esforçavam mais por distribuir o seuesforço por várias faces - obtendo belas peças geométricas queformavam um todo harmonioso, em que nenhuma face sobressaíadas demais - outros persistiam em trabalhar a mesma face até queesta brilhasse como um espelho, ofuscando as imperfeições quehaviam ficado por trabalhar nas restantes, e que podiam, mesmo,ser vistas como uma promessa de aperfeiçoamento futuro. Emtodas elas o Mestre teve oportunidade de aprender algo de novo. Eapercebeu-se, então, de que o seu Mestre tivera razão, pois quede nenhuma poderia dizer, com segurança, que fosse melhor doque as outras.

Paulo M.

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O décimo nono Venerável Mestre

December 01, 2010

O décimo nono Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, João F., foi instalado no ofício, no segundo sábado de setembro de 2008, por um dos Vice-Grão-Mestres, na presença do Muito Respeitável Grão-Mestre, que pessoalmente dirigiu algumas partes da Cerimónia de Instalação. Augurava-se mais um bom e bonançoso ano para a Loja Mestre Affonso Domingues, sob a sua direção. Com efeito, João F., um empresário calmo, metódico, simpático, percorrera toda a "linha de sucessão" tal como estava

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informalmente instituída na Loja Mestre Affonso Domingues. Depois de, já Mestre Maçom, ter assegurado ocasionalmente alguns ofícios em substituição do titular, foi eleito Tesoureiro da Loja e exerceu tal ofício um ano. Seguidamente, cumpriu outro ano no ofício de Secretário. e depois mais outro no de Orador. Cumpriu então mais dois anos de exercício de maiores responsabilidades, assegurando sucessivamente os ofícios de 2.º e 1.º Vigilante. Inegavelmente, estava bem preparado. Tinha a experiência, a competência e a vontade necessárias para ter um mandato auspicioso. Mas, mesmo quando se julga que tudo está reunido em nosso favor, por vezes o destino trai-nos. João F., mal foi instalado na Cadeira de Salomão, apresentou o programa do que se propunha fazer e formou a sua equipa. Sob a sua liderança, tudo estava pronto e começou a ser executado. Depois, caiu-lhe a crise em cima da cabeça! Não qualquer crise interna, como sucedera, mais de uma década antes ao José Ruah. Caiu-lhe em cima a crise - a económica, aquela que ainda vai dificultando as nossas vidas. Empresário de um setor especialmente vulnerável, de um dia para o outro teve de se preocupar, praticamente em exclusivo, com a sua atividade profissional. As suas qualidades de liderança tiveram de ser totalmente aproveitadas na sua empresa. Entre acorrer à gestão do seu negócio, profundamente afetado, e dedicar-se à gestão da Loja, a escolha era óbvia. Para ele e para

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todos nós. As prioridades existem e têm de ser respeitadas. Havia postos de trabalho a assegurar, o sustento e o conforto da sua família a defender. João F. teve de deixar para segundo plano a liderança da Loja. Não tinha nem tempo, nem cabeça, para se dispersar da sua principal preocupação. João F. tomou a decisão que devia tomar e toda a gente compreendeu. Aliás, era a mais lógica: a Loja, essa, estabilizada como estava, podia suportar esse contratempo. João F. e a Loja tiveram, então, que, ao contrário do que ele e ela pretendiam, entrar num regime de "serviços mínimos". Não havia disponibilidade para mais! Poderia a Loja ter colmatado a menor disponibilidade do seu Venerável Mestre, organizando-se para prosseguir o seu normal ritmo de trabalho sem ele? Poderia. Mas não devia! A Loja segue e respeita a liderança do seu Venerável Mestre. Nas condições em que essa liderança é possível. Substituir-se a essa liderança, ultrapassá-la, seria liquidá-la. E uma Loja maçónica, não sendo apenas isso, é também uma escola de liderança e de aceitação de liderança - não da sua subversão. O ano em que a Loja foi dirigida por João F. foi, assim, um ano de relativa acalmia, de alguma pausa, de trabalho de rotina (também necessário). E também de reflexão e de programação do que se faria seguir. Mas não se pense que nada se fez. Fez-se porventura menos do

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que a nossa ambição pretendia. Mas fez-se: foi elaborado e aprovado o regulamento de funcionamento do sítio da Loja na Internet; organizou-se e realizou-se o já tradicional almoço de solstício de inverno da Loja, com leilão de objetos doados, para recolha de fundos para doação a instituição de solidariedade social; efetuou-se uma ação de doação de sangue, em colaboração com os escuteiros da Pontinha; auxiliou-se e preparou-se a criação da Loja João Gonçalves Zarco, ao Oriente do Funchal; a Loja geminou-se com a Loja Hippokrates, do Oriente de Viena, da Grande Loja da Áustria; fizeram-se iniciações, passagens e elevações; apresentaram-se pranchas. Bem vistas as coisas, que agradável que é olhar para uma lista destas e considerar-se que só se fez trabalho de rotina, "serviços mínimos"... Com João F., a Loja aprendeu que a liderança tranquila e aparentemente rotineira não é, afinal, de menosprezar. E deu-se conta da sua ambição. Ambição de fazer cada vez mais. Mas tomou nota que há tempos para tudo. Que as pausas são necessárias, que o refúgio na rotina é, por vezes, necessário, para retemperar forças, acorrer a outras prioridades e preparar novos voos. E, todas as contas feitas, a Loja estava afinal melhor, mais bem preparada, mais adulta, mais experiente, no fim do mandato do João F.. João F. deu-nos a ocasião de experimentarmos que o ótimo é

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inimigo do bom... e que o bom, afinal, não é mau... Rui Bandeira

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Quite

December 08, 2010

Um maçom deve estar sempre quite para com a sua Loja, isto é, ter cumpridas as suas obrigações para com esta. As obrigações mínimas do maçom perante a Loja respeitam ao dever de assiduidade, isto é, à comparência em todas as sessões de loja para que for convocado, e o pontual pagamento da quota mensal. Estar quite é cumprir estes deveres SEMPRE. Sempre que um obreiro injustificadamente falte a uma sessão, viola o dever de assiduidade e, portanto, não está quite. Sempre que se inicia um mês do calendário civil sem ter pago a sua quota do mês anterior, não está quite.

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Não está quite perante si próprio, perante a sua consciência. Porque, incumprindo o seu dever de assiduidade, sem justificação para tal, incumprindo, podendo fazê-lo, o seu dever de pagar a sua quota mensal, o obreiro está, antes de mais, a faltar aos compromissos que assumiu, respetivamente, de assiduidade e de comparticipação para o Tesouro da Loja. E o cumprimento dos compromissos livremente assumidos é uma questão de honra! Logo, o maçom que injustificadamente falte a uma sessão de Loja para que foi convocado, que se deixa, sem razão que o justifique, entrar em mora no cumprimento do seu dever de contribuição para as despesas da Loja, antes de tudo e cima de tudo sente-se ele próprio desonrado. O atraso no pagamento das quotas pode ser remediado: basta pagar o que está em dívida e ficar-se-á quite. Já o incumprimento do dever de assiduidade causa sempre prejuízo. À Loja porque fica privada do contributo do maçom. E todos os contributos de todos os maçons da Loja são inestimáveis e imprescindíveis. Do Mestre mais antigo ao Aprendiz mais recente, todos e cada um são essenciais para o aperfeiçoamento de cada um e global da Loja. Mas o incumprimento do dever de assiduidade prejudica sobretudo o próprio incumpridor. E, de alguma forma, é incompreensível: pois não tomou o maçom a decisão de pedir a Iniciação para beneficiar da ajuda da Loja no seu crescimento pessoal, na sua jornada própria? E vai prejudicar a sua demanda, prescindir do contributo do grupo não comparecendo? O tempo não para, não se pode rebobinar o filme. A única forma de remediar a falta sem motivo é diligenciar pelo estrito cumprimento do dever de assiduidade. Assim se diluirá o atraso, assim se recuperará o trabalho que ficou um dia

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por fazer. Assim se fica, de novo, quite. Quite para com a Loja. Mas sobretudo – e principalmente! – quite perante si próprio! O maçom tem, a todo o tempo, direito a que a sua Loja certifique que se encontra quite. Se o fizer na constância e na permanência da ligação à sua Loja, é-lhe emitida uma declaração de good standing, com a qual poderá provar, perante qualquer outra Loja que visite, ser um maçom quite, em boa posição, de pé e à ordem, perante a Loja, a Maçonaria e ele próprio. Se o fizer no âmbito do processo de desvinculação da sua Loja – que é um direito que todo o maçom a todo o tempo pode exercer -, seja por entender dever adormecer, isto é, suspender a sua atividade maçónica ou por decidir mudar de Loja, é-lhe então emitido um atestado de quite. Com esse documento, fica ultimada a sua desvinculação da Loja. O maçom pode assim pedir a sua admissão a outra Loja, comprovando perante a mesma estar quite de todas as suas obrigações perante a Loja de que se desvinculou. Ou, se simplesmente pretender suspender a sua atividade maçónica, pode, se e quando o entender, retomá-la reintegrando-se na mesma ou em outra Loja, comprovando que cumpriu os seus deveres enquanto esteve em atividade maçónica, pelo que saberá voltar a cumpri-los ao retomá-la. Mas, no fundo, o atestado de quite é apenas uma declaração num papel. O que verdadeiramente interessa é que o maçom se sinta, ele próprio, pessoalmente, perante si mesmo, sempre quite. E é para que assim seja que a Loja existe e se disponibiliza e auxilia e coopera. Porque a razão de ser da Loja, da Obediência, da Maçonaria é, afinal, simplesmente, o maçom. Cada um deles. Cada

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um de nós. Livre, especial, insubstituível e... quite! Rui Bandeira

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Meus irmãos em todos os vossos graus e qualidades... ...... disse!

December 12, 2010

Era a primeira vez que este irmão tomava a palavra em Loja.Enquanto companheiro ou aprendiz fora-lhe vedado fazê-lo. Porisso, agora, ao fim dessa longa caminhada, tendo acabado de serexaltado ao grau de Mestre, podia, finalmente, falar!!! Eu, aprendizrecentemente iniciado, esbugalhava os olhos e tudo absorvia comsofreguidão, e talvez por isso este episódio tenha ficadoindelevelmente marcado na minha memória. Assim, chegado omomento em que, numa sessão maçónica, o Venerável Mestre põea palavra nas colunas - que é como quem diz: autoriza que osmestres peçam a palavra - o novo Mestre pediu-a da formaregulamentar, e esta foi-lhe dada. Colocando-se de pé e à ordem -como é suposto - começa a sua intervenção como quase todascomeçam:

"Venerável Mestre, meus Irmãos em todos os vossos graus equalidades..."

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Fez-se silêncio absoluto na Loja - como, de resto, é supostoacontecer. Todos aguardavam com curiosidade e expetativa asprimeiras palavras que este irmão proferiria em sessão. Contudo,estas teimavam em não surgir. O silêncio, já denso, adensava-se acada segundo que passava sem que fosse quebrado. Visivelmente,o Irmão debatia-se com as palavras que queria dizer. O esforçomental transparecia-lhe na face, e começava, decorridos algunssilenciosos segundos, a ficar visivelmente horrorizado com acircunstância em que ele mesmo se havia colocado. É que aspalavras não saíam.

"... ... ..."

Nem um sopro se ouviu. Todos partilhavam do esforço, daatrapalhação, do embaraço do Irmão. Mas ninguém podiasocorrê-lo. Uma vez dada a palavra a um Irmão, só o VenerávelMestre ou o Orador podem tomá-la antes que esse irmão indiqueter terminado a sua alocução. Não fez, porém, nenhum destesqualquer diligência nesse sentido, pois todos sentiam que só elepodia - e só ele devia - quebrar o silêncio que iniciara. E assim foi.Com grande esforço, recorreu à fórmula com que, em Loja - e porvezes, fora dela - os maçons indicam ter terminado a suaintervenção:

"... Disse!"

E sentou-se.

Toda a Loja sorriu de alívio e, prazenteiramente, vários, no fim da sessão, entre abraços de cumprimentos, lhe disseram ter sido uma intervenção memorável. E foi-o de verdade - o certo é que nunca mais a esqueci. Recentemente outro episódio semelhante sucedeu - de novo com um Mestre recém-exaltado - que me fez, de novo, recordar o primeiro. Para além do evidente humor da situação, que

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ensinamentos se pode retirar destes episódios?

Em primeiro lugar, constatou-se que qualquer dos Mestres emquestão aprendera de que forma a sua intervenção teria queocorrer: como e quando pedir a palavra, como se colocar para falar,as fórmulas a utilizar para marcar o início e o fim da suaintervenção, e o que fazer após ter terminado; nisso ambos foramirrepreensíveis. Foi, por isso, uma lição de forma, mais do que deconteúdo, como se alguém experimentasse uma peça de roupa ese mirasse ao espelho, fazendo-a sua, imaginando-se a usá-la narua ou numa circunstância especial, para que, chegada esta, aroupa nova o não atrapalhasse.

Em segundo lugar, a Loja comportou-se com enorme dignidade.Apesar de ser uma situação confrangedora - todos partilharam doevidente desconforto do Irmão que, engasgado, não sabia comoprosseguir - todos se mantiveram impávidos, sem um sinal deimpaciência, sem esboçar um sorriso. A disciplina da Loja revelouque todos tinham interiorizado o valor do silêncio, que sabiampraticá-lo, e que não era só coisa de aprendizes e companheiros;não, o silêncio e a contenção eram para todos.

Em terceiro lugar, veio-se a constatar que esse Irmão - que, daprimeira vez, "entupiu" e quase nada conseguiu dizer - até tinha oque partilhar, até possuía ideias válidas, até acabou por teralgumas intervenções muito pertinentes, que se foram tornandomais sólidas e seguras de cada vez que lhe era concedida apalavra. E quem não podia, ainda, falar, teve a oportunidade de verum outro percorrer o seu caminho, e com isso aprender que apesarde falar não ser, de início, tarefa fácil, é algo que a experiência vaiensinando.

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Falar é, mais do que um direito, um dever dos Mestres. Faz parteda formação de um homem - e, consequentemente, de um maçon -saber dirigir-se a uma assembleia e transmitir por palavras o quelhe vai na alma. Poder ir aprendendo a fazê-lo face a umaassistência disciplinada, paciente e cooperante é só mais um dospequenos privilégios que advêm do facto de se estar integradonuma Loja Maçónica.

Paulo M.

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O tempo de Companheiro

December 15, 2010

O tempo de Companheiro é um tempo difícil. O obreiro já não é umAprendiz rodeado, apoiado, apetece até dizer mimado, por todos osMestres da Loja. Alcançado o seu aumento de salário, afinal oprémio que obtém é apenas uma mudança do seu lugar na Loja,um pouco de cor no seu avental e... uma sensação de menor apoio.Após uma Cerimónia de Passagem que é um verdadeiro anti-clímax em relação à sua recordação do que experimentou quando foi iniciado, depara-se com um par de símbolos novos, metem-lhe uns regulamentos e um ritual e catecismo na mão e... parece que se desinteressaram dele, ele que se oriente...

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Não é assim, embora pareça que seja assim. E é assim que deve ser. A Iniciação foi o nascimento para a vida maçónica. O tempo de Aprendiz é a sua infância, em que se é guiado, educado, amparado, mimado. O tempo de Companheiro, esse, é o da adolescência. Já não se admite ser tratado como criança – como Aprendiz – pois já se cresceu – já se evoluiu – mas... sente-se a falta do apoio que se recebia em criança. Já não se quer, mas ainda afinal se tem a nostalgia do apoio do tempo de Aprendiz. O Companheiro, tal como o adolescente, sofre a sua crise de crescimento. É o preço que tem a pagar pelo seu trajeto em direção à idade adulta maçónica, em que será reconhecido como Mestre. No entanto, só aparentemente o Companheiro é deixado só. Os Mestres permanecem atentos a ele e, de entre eles, em especial o Primeiro Vigilante, responsável pelos Companheiros. Simplesmente já não tomam a iniciativa de sugerir caminhos, orientar trabalhos, avançar explicações, dar opiniões. Porque o Companheiro já não é Aprendiz, tal como o adolescente já não é criança. O tempo é de aprendizagem por si próprio, de exploração segundo os seus interesses. E só se houver grande desorientação no caminho se deve intervir. Tal como em relação ao adolescente é contraproducente pretender-se guiá-lo, impor-lhe caminhos, pois ele ou não aceitará o que considerará indesejável intromissão ou tornar-se-á dependente de uma superproteção que muito dificultará a sua vida adulta, também os Mestres não devem abafar o Companheiro com recomendações, intromissões, solicitudes a destempo. O tempo é de o deixar explorar, ele próprio, o que tiver a

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explorar. Se errar, aprenderá com o erro. Mas, no final, cresceráaté à responsável maturidade da Mestria. É o que se pretende. No início é – sabemo-lo bem! – confuso. Mas afinal as ferramentasforam fornecidas ao Companheiro logo no primeiro dia, tal como oguia de trabalho lhe foi apresentado. O Companheiro só tem deperceber isso, pegar nas ferramentas e seguir o trilho que, desde oinício, lhe foi mostrado. Só não foi levado, empurrado, carregado,até ao seu início. Afinal, já não é criança... A prancha de proficiência culmina o percurso do Companheiro.Mostra que ele entendeu o que escolheu entender, que trabalhouno que optou por trabalhar. A idade adulta está ao virar da esquina.O que implica virar essa esquina já é outra história... Rui Bandeira

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A (im)perfeição e as Old Charges (I)

December 20, 2010

No Livro das Constituições de Andersen, de 1723, aprovado pormaçons ilustres como Desaguliers, Cowper e Payne - reputados ereconhecidos pela sua sabedoria maçónica - podem encontrar-seestas palavras: "The men made masons must be free-born, nobastard, and of mature age, and of good report, hale and sound, notdeformed, or dismembered at the time of their making" (Os homensfeitos maçons devem ter nascido livres, não bastardos, de idademadura, boa fama, saudáveis e sãos, não deformados ouamputados na altura da sua admissão). Isto levanta a questão:manter-se-á esta exigência nos dias de hoje? Não há melhor formade entender uma lei do que descobrir e entender o propósito dolegislador quando se deu ao trabalho de a elaborar.

Em Junho de 1718 - fazia a Grande Loja de Inglaterra um ano - o Grão-Mestre manifestou o desejo de que os Irmãos que tivessem acesso a registos e escritos antigos sobre Maçons e Maçonaria os trouxessem à Grande Loja, para que pudessem ser constatados os antigos usos e costumes da Maçonaria Operativa. Era importante,

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no contexto da altura, conferir à Ordem recém criada uma certapatine, alguma daquela aura de autoridade que só a idadeproporciona. Foi assim que, nesse ano, apareceram diversascópias de documentos referente à Maçonaria Operativa - as "GothicConstitutions". Face a estas, e não as achando adequadas, oGrão-Mestre e a Grande Loja ordenaram ao Irmão James Andersenque as coligisse e elaborasse um novo e melhor Método.

James Anderson, em 1973, com a aprovação da sua Grande Loja,publicou o resultado do seu laborioso trabalho, no que se tornouuma das obras que mais influenciou a Maçonaria até aos nossosdias: o primeiro livro de "The Constitutions of the Free-Masons".Nele incluiu uma secção chamada "the Charges of a Free-Mason" -os chamados "Antigos Deveres" - extraída de registos de lojas"para além do mar", bem como de Inglaterra, Escócia e Irlanda,para uso pelas Lojas de Londres. Foi assim que James Andersonfez uso dos antigos manuscritos a que chamou "The Old GothicConstitutions", e que citou e parafraseou extensivamente na suaobra. É por esta razão que, num livro destinado a MaçonsEspeculativos, encontramos regras que só fazem sentido quandoaplicadas a Maçons Operativos.

Os "Antigos Deveres" são os documentos históricos que constituemas tais "Gothic Constitutions". De um total de 119 documentos,cerca de dois terços são anteriores à primeira Grande Loja de 1717- talvez uns 75 - e uns 55 são anteriores a 1700. Quatro foramescritos por volta de 1600, um é datado de 1583, outro de cerca de1400 ou 1410, e outro será de cerca de 1390.

Quase todos começam com uma invocação: "Que a vontade do Pai do Céu, com a sabedoria do seu Glorioso Filho, através da graça e bondade do Espírito Santo, que são três Pessoas num só Deus,

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estejam connosco no nosso início, e nos dêem a graça de quegovernemos a nossa vida aqui de modo que possamos chegar àSua felicidade que não tem fim. Amen."

Pode ler-se então o anúncio do propósito e do conteúdo, seguidode uma breve descrição das Sete Artes Liberais ou Ciências, umadas quais é a Geometria. Seguia-se uma extensa HistóriaTradicional da Geometria, Maçonaria e Arquitetura, que tomavamais de metade do texto, e que se iniciava nos tempos bíblicos deNoé, terminando no ano de 930, em que o Príncipe Edwin reuniuuma assembleia de maçons na cidade de York, e estabeleceu osregulamentos usados "desde esse dia até aos dias de hoje".

A seguir vinha a forma de se fazer um juramento: "Um dos anciãossegurava o Livro, de modo que ele ou eles pudessem colocar asmãos sobre o Livro, e então as regras eram lidas." a que se seguiao aviso: "Que cada maçon tome nota destes juramentos, pois sealguma vez se vir culpado de ter violado um, que possareconciliar-se com Deus. E especialmente tu que vais prestarjuramento, toma atenção ao cumprimento destes juramentos, pois éum grande perigo para um homem quebrar um juramento feitosobre um Livro".

Seguia-se a lista das regras a cumprir, algumas de cariz comercial,outras de índole comportamental. Sem dúvida que eram essenciaisa uma comunidade de artesãos que trabalhavam em grandeproximidade vinte e quatro horas por dia. Por fim, vinha ojuramento: "Estas ordens que ensaiámos, e outras que pertençamà Maçonaria, iremos guardar, assim Deus nos ajude, e por esteLivro e para o seu poder. Amen."

Paulo M.

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Elegia a um homem bom

December 22, 2010

Chegámos, a minha mulher e eu, ao hospital ao fim da tarde. Íamos visitar o pai de uma amiga que sabíamos estar gravemente doente. Encontrámo-lo rodeado pela família - a mulher e as duas filhas. Um olhar atento e alguns momentos chegaram-me para perceber que o seu estado não era apenas grave. A agonia começara. Não obstante, o homem doente estava lúcido. Fraco, muito fraco, mas lúcido. Não sei se consciente de que a travessia do umbral da eternidade estava próxima, mas lúcido.

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Escondi o meu pensamento, proferi as palavras de conforto e encorajamento que devem ser levadas por quem visita quem está doente - esperando que às mesmas conseguisse conferir um pouco de credibilidade. Como é meu hábito (defesa?) nestas situações, procurei orientar a conversa para temas ligeiros e lançar um par de larachas que, por momentos embora, desanuviassem o ambiente. Senti-me grato por ter conseguido vislumbrar um par de sorrisos no homem doente. Pensei que, quando chegasse a altura de ser eu a fazer a mesma viagem que adivinhava que aquele homem não demoraria muito a fazer, também gostaria que alguém conseguisse fazer-me sorrir - a tal viagem é certa para todos nós, já que todos temos que a fazer, que se faça bem-disposto... Da família que rodeava o homem, uma das filhas já se apercebera da iminência da partida. A outra guardava ainda uma réstia de esperança que a técnica médica ainda pudesse adiar o momento que a irmã já sentia chegando. A mãe de ambas, companheira de toda uma vida, incansavelmente acompanhava o seu marido, refugiando-se em pequenas coisas, não querendo pensar nem encarar o que temia sucedesse. Uma hora depois, deixámos o homem doente. Outras solicitações de uma vida sempre atarefada nos aguardavam. Na manhã seguinte, a notícia! O homem bom que tínhamos visitado, partira para o além desconhecido durante essa noite. A minha mulher soltou a sua emoção. Eu pensei - mas reservei para mim esse pensamento - que fora uma felicidade que a agonia tivesse sido breve. Vim a saber depois que a viagem fora feita

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durante o sono - e de novo dei graças por tal. A minha mulher, imersa na sua emoção, perguntava, insatisfeita, porque eram os bons que partiam quando tantos maus ficavam por aqui atormentando os seus semelhantes. Perguntei-lhe se sabia ela que se estava melhor aqui do que para onde se seguia... Gostaríamos que os bons estivessem connosco sempre mais. Lamentamos a sua partida. Principalmente a família experimenta a orfandade da separação, o desgosto do desaparecimento. E tem de fazer o luto pela sua perda. Quem não é crente, não tem, nestas ocasiões, arrimo para o sentimento de perda. Já quem crê em algo mais do que a materialidade que nos rodeia, sem deixar de sofrer o choque, tem a possibilidade de se consolar com a noção de que o fim deste caminho não é o fim do caminho, que, para além do que vemos e sentimos e sabemos, mais e diferente caminho existe para caminhar, não sabemos de que forma, como - mas existe. O maçom confronta-se com a ideia do seu desaparecimento físico e aprende a não o temer, a entender que o momento inescapável é apenas uma passagem - um fim, mas também um novo princípio. Um homem bom terminou a sua caminhada entre nós. Como todos os que gostam da companhia de quem é bom, lamento que essa companhia tenha cessado. Mas creio que a razão porque a sua presença física cessou foi apenas porque a sua missão aqui foi cumprida. Nova missão, novo desafio, nova jornada, encetou - como todos nós havemos de encetar. Foi cedo de mais? Poderia a

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Providência ter-lhe dado, a ele e aos seus e a todos nós um poucomais de tempo para apreciarmos a nossa mútua companhia? Éhumano que o desejemos. Mas a hora foi esta porque a sua missãoaqui fora ultimada, cumprida, realizada - e com êxito! Já o homembom era, porventura, mais necessário onde seu espírito agoraprossegue a sua caminhada. Os bons vão primeiro? Pudera! É por serem bons que melhor emais depressa cumprem a sua missão aqui! O solstício de inverno - que hoje decorre - lembra-nos que aescuridão, o frio, a noite longa e o dia breve, o fim, afinal são umrecomeço e, a partir do ponto de transição, a escuridão pouco apouco de novo cede o lugar à luz, o frio desaparece, a noite seencurta e o dia se alonga, o fim é afinal um novo princípio. É disto que nos devemos lembrar sempre que vemos partir umhomem bom. (Homenagem a um homem bom que partiu). Rui Bandeira

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Boas festas!

December 23, 2010

O "A-partir-pedra" deseja a todos Boas Festas,

e um ano de 2011 menos mau do que se antecipa!

Paulo M.

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A distância não se mede em segundos

December 24, 2010

Porque se se medisse em segundos eu estaria a anos luz doA-Partir-Pedra.

E por que, quer queiremos quer não, para nós esta época tem umtratamento diferente, trago ao blog a imagem e as palavras que meocorrem neste momento.

A imagem foi apanhada por mim há uma semana, as palavras sãodo nosso saudoso José Carlos Ary dos Santos que soube, nospoucos anos que viveu, escrever sentimentos como muito poucosalguma vez o fizeram.

Para todos o desejo de uma época de Paz, gozando a Paz mas,principalmente, fazendo a Paz.

É ela a saúde da Humanidade.

És meu irmão amigo

Tu que dormes a noite na calçada de relento

Numa cama de chuva com lençois feitos de vento

Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento

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És meu irmão amigo

És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme

Numa cama de raiva com lençois feitos de lume

E sofres o Natal da solidão sem um queixume

És meu irmão amigo

És meu irmão

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

É quando um homem quiser

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar

Tu que inventas bonecas e comboios de luar

E mentes ao teu filho por não os poderes comprar

És meu irmão amigo

És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei

Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei

Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei

És meu irmão amigo

És meu irmão

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

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É quando um homem quiser

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher.

Ary dos Santos

JPSetúbal

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A (im)perfeição e as Old Charges (II)

December 25, 2010

Em pleno século XIX houve diversas tentativas de se tornar menos estrita a regra que impedia a admissão de deficientes físicos na Maçonaria, alegando-se ser esta um legado dos tempos da maçonaria operativa. Algumas Grandes Lojas deixaram, mesmo, cair este requisito, exigindo apenas que o candidato tivesse a capacidade física estritamente necessária a que pudesse ser iniciado e receber os ensinamentos da Ordem. Mas logo vozes se elevaram, recordando que o que estava em causa era um dos landmarks da Maçonaria, que são por definição imutáveis, e por isso a questão não careceria sequer de mais discussão. Independentemente da origem do preceito residir na maçonaria operativa e ter, entretanto, deixado de fazer sentido, este deveria ser cumprido, sob pena da retirada do reconhecimento às Obediências que não o cumprissem e fizessem cumprir. Mas não

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se pense que, sem mais debate, a questão se ficava por aqui, ou que os argumentos alegados eram desprovidos de substância; pelo contrário. Alegava-se, por exemplo, que a Bíblia descreve, repetidamente, como só um animal perfeito e sem mancha podia ser oferecido em sacrifício. Se o bicho tivesse a mínima imperfeição deixava de ser passível de ser oferecido em holocausto: ao Divino não se oferecia senão o que se tinha de melhor. Ainda nesta perspetiva, uma vez que, em Maçonaria Regular, se trabalha "À Glória do Grande Arquiteto do Universo" - donde decorre que o trabalho que se faz é feito em Sua intenção, sendo cada maçon a sua própria oferenda - a aplicar-se à letra o antigo princípio da perfeição da vítima sacrificial, poder-se-ia discorrer que um deficiente físico não seria "suficientemente bom" para ser oferecido ao Grande Arquiteto do Universo. Outro dos argumentos teria que ver com a capacidade de trabalhar. A Maçonaria - mesmo a Especulativa - socorre-se do trabalho como forma e método de aprendizagem, pelo que a incapacidade para desempenhar tarefas úteis poria em causa todo o método maçónico. Por outro lado, é essencial que um maçon se baste a si mesmo, pois de outro modo não teria a disponibilidade mental para se aperfeiçoar enquanto pessoa. É uma questão de prioridades: primeiro o sustento do corpo, depois o apuramento do espírito. A própria simbologia maçónica era usada como argumento. Discutia-se, com a maior seriedade, se, uma vez que a maçonaria tinha por objetivo a "construção do Templo" a partir das pedras que

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cada um ia tratando de polir, não seria contrário à mesma maçonaria aceitar pedras "tortas"? Que Templo Perfeito poderia a Maçonaria almejar construir à Glória do Grande Arquiteto se as pedras não fossem todas perfeitas? Espantosamente, este debate ainda persiste; ainda há Obediências - Grandes Lojas - cujos regulamentos proíbem a admissão de deficientes físicos. Contudo, mesmo a maioria dessas admite que, se um Irmão ficar limitado (amputado, paralisado...) após a sua admissão, terá todo o apoio da loja. Na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP a questão, tanto quanto sei, não se coloca. As condicionantes à admissão são, de acordo com a Constituição e Regulamento Geral da GLLP, apenas que os candidatos sejam "homens livres e de bons costumes que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz" , que tenham "o respeito pelas opiniões e crenças de cada um", e sejam "homens de honra, maiores de idade, de boa reputação, leais e discretos, dignos de serem bons irmãos e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem, e o infinito poder do Eterno". Pode argumentar-se que um deficiente físico não é inteiramente livre. Fosse esse um requisito - ser inteiramente livre - e não haveria quem pudesse ser admitido na maçonaria. Todos nós só o somos até certo ponto. Quanto à iniciação, será que se perde alguma coisa se for feita de cadeira de rodas? Claro que sim. Mas não se perde mais numa iniciação do que num passeio na cidade; quem está limitado sabe que o está, e em que medida.

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E um surdo? Ou um cego? Poderão ser iniciados maçons? Nãovejo porque não. Desde que aptos a comunicar, estou certo de quese providenciaria o que fosse razoável para os acomodar. Umsurdo pode, por exemplo, ler nos lábios; e poderia "falar" porescrito, à falta de melhor. Um cego pode ouvir e falar - apesar depoder ser curioso ouvir da sua boca algumas fórmulas rituais quese referem à Luz e às Trevas, por exemplo, mas basta queinteriorizemos que a Luz e as Trevas, em Maçonaria, sãosimbólicas, não precisando nós dos olhos para as poder entender,para que logo as suas palavras deixassem de soar estranhas. Pode um amputado praticar natação? Ou um paraplégico jogarbasquete? Sabemos que podem. E podem competir de igual paraigual com uma pessoa não deficiente? Tenho as minhas dúvidas.Mas poderá a prática desportiva tornar a sua vida mais completa,incrementar a sua saúde, torná-los pessoas mais felizes? Disso játenho a certeza. Do mesmo modo, poderá um deficiente físico tirarpartido da maçonaria tanto quanto alguém que o não seja? Bom...em muitos casos até pode, mas admitamos que não podia. Seriaessa lacuna, esse inultrapassável obstáculo, razão para que fosseimpedido de atingir todo o resto? Paulo M.

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Paulo Guilherme D'Eça Leal, maçom irreverente

December 29, 2010

Passou ao Oriente Eterno em 9 de outubro deste ano, após uma profícua e criativa vida de setenta e oito anos. A notícia da sua saída deste mundo físico foi publicada em vários órgãos de comunicação social, seguida do habitual rol de realizações, breve historial de vida em meia dúzia de linhas. Sim, foi ilustrador - prolífico e genial. Sim, foi decorador de edifícios emblemáticos (a sede do Banco Pinto e Sotto Mayor, no Porto, por encomenda de António Champalimaud, o Aeroporto de Lisboa, o Museu do Centro Cultural de Macau em Lisboa). Sim, foi pintor e escultor de qualidade que permanecerá reconhecida. Sim, foi escritor, contista, investigador do esotérico. Sim, foi autor de diversos selos, moedas e medalhas. Sim, foi cenógrafo. Sim, foi, em resumo, um artista multifacetado, que espalhou a sua criatividade, qualidade e originalidade. Mas, para mim, para nós, os mais antigos da Loja Mestre Affonso

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Domingues, foi simplesmente o Paulo Guilherme, um dos nossos, um pouco, um tudo nada, excêntrico, um espírito vivo e irreverente. E uma língua afiada também... O Paulo Guilherme fez parte da Loja Mestre Affonso Domingues nos anos noventa. A sua permanência entre nós foi mais breve do que ele e nós gostaríamos. Nunca chegou a ser exaltado Mestre maçom. Foi iniciado Aprendiz e passado a Companheiro maçom. Depois, a doença que, anos mais tarde, veio a vitimar o seu invólucro físico revelou-se. Fumador inveterado, o cancro da laringe apareceu. E foi o calvário dos tratamentos, a operação, a perda das cordas vocais, a incapacidade de falar, a aprendizagem da fala pelo esófago, com o auxílio do amplificador que gera aquela estranha voz metálica. Outras prioridades assolaram o Paulo Guilherme. A doença forçou-o a ficar mais caseiro. O trabalho em Loja não mais foi uma prioridade séria. E o Paulo Guilherme fez aquilo que um maçom que se preza deve fazer, quando as circunstâncias e a vontade própria a isso obrigam: pediu o seu quite e adormeceu. Mas sempre permaneceu interessado na busca esotérica a que dedicou a parte final da sua vida. O seu estudo e tese sobre a Pirâmide de Quéops aí estão para o demonstrar. À distância, foi mantendo contacto com alguns de nós. Em particular, com o Luís R. D., com quem, de longa data, manteve laços de amizade. Na parte final da sua vida, alguns contactos manteve comigo, também.

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A idade, a doença e a debilidade foram-no tornando um pouco mais rezingão do que o habitual. Mas o génio, o vivo espírito crítico, a autoconfiança, esses, permaneceram sempre. O Paulo Guilherme foi, de facto, um artista com um génio admirável. A sua ironia enfeitiçava-me. A sua cultura maravilhava qualquer um. Tenho pena que a doença e as circunstâncias tenham impedido que o Paulo Guilherme tivesse continuado mais tempo o seu percurso junto dos demais na Loja. Estou certo que, tivesse isso sido possível, ele deixaria uma intensa marca na Loja, quiçá inolvidável. Não posso deixar de tentar imaginar como seria se as coisas tivesse sido diferentes e o Paulo Guilherme tivesse permanecido até culminar o seu percurso com a sua Exaltação como Mestre Maçom, como seria se tivesse feito o normal percurso que todos na Loja fazemos até à Cadeira de Salomão, que surpreendente e inolvidável seria o seu tempo de Venerável Mestre da Loja. Não me atrevo a perspetivar se seria bom ou mau - sei, sem sombra de dúvida, que seria intensamente diferente! Com o Paulo Guilherme, a Loja aprendeu a conviver com o génio algo excêntrico. Se ele a tivesse dirigido, teria sido, não duvido, algo de épico e inolvidável. Não sei se a Loja seria hoje melhor ou pior do que é. Mas de certeza, certezinha, que seria diferente! A irreverência do Paulo Guilherme só não deixou marcas mais profundas na Loja porque a sua doença e as circunstâncias não deram tempo a que as sementes dela germinassem. Mas nós, os mais antigos, testemunhámos um pouco dessa irreverência. E eu tenho para mim que - é inevitável... - algum dia um outro artista de

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génio, também irreverente, deixará a sua marca na Loja. E entãoteremos um pouco da noção do que teria sido a marca do PauloGuilherme na Mestre Affonso Domingues. Paulo Guilherme, o artista nunca passa despercebido. E tu não opassaste na Mestre Affonso Domingues. Até um dia, em outradimensão, que a todos nós espera! Suspeito que a esta hora, amarca da tua irreverência já se faz sentir e que, parafraseando oPoeta, o assento etéreo onde subiste já está, no mínimo, muitomais bem decorado! Olha, se puderes, faz um favor a este teuadmirador: usa as tuas capacidades e faz lá uma ilustração decomo agora o puseste. Sei que só em sonho a poderei ver - masestou certo que vou gostar! Rui Bandeira

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A (im)perfeição e as Old Charges (III)

December 31, 2010

Para além da questão da deficiência física coloca-se a dadeficiência mental. Poderá um deficiente mental ser iniciadomaçon? Neste caso, a porta já não se abre tanto quanto face àdeficiência física, mas também não se fecha de todo. É tudo umaquestão da natureza e das consequências da deficiência. Umprofano, para ser iniciado maçon, tem que ser "livre e de bonscostumes". A pedra de toque da questão da deficiência mentalcoloca-se, precisamente, na liberdade. Há três vertentes em que seexige que uma pessoa seja livre se quer ser admitido:

- Liberdade da luta pela auto-suficiência. Para ser admitida na maçonaria, uma pessoa tem que dispor dos meios económicos para se bastar a si mesma de modo que o sustento diário não seja uma preocupação tal que se sobreponha a todo o resto. Não está em causa a quantidade dos rendimentos, mas que este sejam suficientes e adequados ao garante do sustento do próprio e daqueles que tenha a cargo - descendentes ou ascendentes. Deve, ainda, permitir que os custos decorrentes da pertença à maçonaria (quotas, material, etc.) não causem transtorno. Uma pessoa que

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viva constantemente assoberbada com o que vai amanhã colocarna mesa para os filhos, ou falte mesmo aos seus deveresfamiliares, não tem disponibilidade mental para ser maçon - decorraessa carência económica ou não de deficiência mental.

- Liberdade de pensamento. Uma pessoa que não seja livre depoder, voluntariamente, alterar a sua forma de pensar não temlugar na maçonaria, pois a maçonaria tem como objetivo oaperfeiçoamento do Homem, e aperfeiçoar-se é, forçosamente,mudar. Ora, procurar aperfeiçoar-se é sinal de que se admitiu já aprópria imperfeição, e isto só pode ter decorrido de umaauto-análise - que, por sua vez, só pode ter tido lugar numa mentesuficientemente ordenada para a ter efetuado. Por esta razão,quem não tenha a capacidade de ver e aceitar como válido umponto de vista distinto do seu - o que sucede, por exemplo, comalguns fundamentalistas, cujas crenças podem ser rígidas a pontode que o impeçam de pensar por si mesmo - também não estáapto, independentemente da sua sanidade mental, a ser iniciado.

- Liberdade de agir em consciência. Uma pessoa incapaz de pôrem prática os seus próprios desígnios e de agir de acordo com osditames da sua consciência dificilmente poderia tirar algum proveitoda maçonaria. Se a maçonaria não tiver repercussões na forma deagir do maçon, então estamos perante um caso de insucesso. Éessencial que o maçon não só tenha uma consciência bem formada- uma boa noção do bem e do mal - como paute o seu modo de agirpor esses mesmos princípios. Uma pessoa que, em virtude de umadependência (do jogo, de uma droga...) que condicione a suavontade, não possa agir em consciência - não porque esta nãoexista, mas porque a sua concretização esteja fortementecondicionada - não deverá ser iniciada.

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Não esqueçamos, por fim, que o conceito de normalidade épuramente arbitrário e estritamente decorrente das característicasda população em que o indivíduo se insira: um indivíduo "normal"numa população pode ser "anormal" se inserido noutra. A fronteiratem que ser traçada algures, mas isso quer dizer o quê? Que, se apessoa estiver num dia bom, pode ser iniciada, e depois, num diamau, é excluída? Mas não temos todos momentos melhores epiores, de maior ou menor lucidez, uns mais felizes do que outros?

Uma pessoa dependente do álcool a ponto de que isso perturbe asua vida quotidiana está tão privada de liberdade de ação comouma pessoa que tenha o espírito igualmente embotado mas semque tal decorra da bebida. Ou um fanático religioso pode ser tãoinabalável e impermeável à mudança quanto umobsessivo-compulsivo. Não é a deficiência mental, em si mesma, oobstáculo, mas as limitações - que podem ter variadas origens paraalém da deficiência mental - a que a liberdade do indivíduo estejasujeita.

Pretender que apenas seres perfeitos e perfeitamente livres setornem maçons seria um contrassenso. Por não existirem homensperfeitos, seria esta uma excelente receita para se acabar com amaçonaria. Mas, acima de tudo, a maçonaria é um método deaperfeiçoamento - e só se aperfeiçoa quem não é perfeito. Pedraspolidas não precisam de desbaste - e liberdade absoluta não existe.Como em tantas outras coisas, aqui só podemos socorrer-nos daslinhas gerais e, para cada caso particular, aplicar uma das maisimportantes regras: a do bom senso.

Paulo M. P.S.: Este é o meu último texto deste ano. Para todos, um feliz ano

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novo de 2011!