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A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM EM SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Dijanice Maria Ferreira Da Silva Andrade1
Amanda Micheline A. Lucena2
RESUMO As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não perceba ou mesmo não considera a linha teórica adotada. Isso pode ocorrer devido ao fato de os professores desconhecerem ou mesmo esquecerem os principais pontos apontados pelos teóricos, mesmo tendo a temática na grade curricular de sua licenciatura. Por isso o presente estudo se justifica e tem como objetivo apresentar de forma sintetizada, os principais aspectos das teorias da aprendizagem, identificando se professores consideram os princípios das teorias durante sua prática pedagógica. Trata-se de uma pesquisa de campo, explicativa com abordagem quantitativa, tendo como respondentes cinco professoras com mais de 20 anos de exercício do magistério, todas com experiência no ensino fundamental I e que afirmam terem estudado sobre as teorias da aprendizagem. Os resultados evidenciam que os professores conhecem os princípios de algumas teorias, mesmo sem saber os tópicos mais importantes dos conteúdos elaborados pelos teóricos e que trabalham em sintonia com alguma linha teórica, principalmente a sociocognitiva de Vygotsky, a humanista de Rogers e a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel. PALAVRAS-CHAVE: Behavorismo. Cognitivismo. Inteligências múltiplas. Teorias da aprendizagem.
ABSTRACT Learning theories guide the pedagogical works in the classroom although, in most cases, the teacher does not understand or even does not consider the theoretical line adopted. This may be due to the fact that teachers are unaware of or even forget the main points pointed out by theorists, even having the theme in the curriculum of their degree. That is why this study is justified and has as its general objective to present in a summarized way the main aspects of learning theories and as specific objectives, to relate the theorists of each current of learning theories; identify if teachers have studied these theories and investigate if they consider the principles of theories during their pedagogical practice. This is a field research, explanatory and quantitative, having as respondents five teachers with more than 20 years of teaching, all with experience in elementar school I and claim to have studied about theories of learning. The results show that teachers know the principles of some theories, even without knowing the most importante topics of the contentes elaborated by theorists and who work in tunne with some theoretical line, mainly Vygotsky's sociocognitive, Rogers humanist and learning theory of meaningful learning. Ausubel KEYWORDS: Behavorism. Cognitivism. Multiple intelligence. Theories of learning.
1 Mestranda em Ciências da Educação. e-mail: [email protected]
2 Orientadora, professora do CETEC. email: [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
As teorias da aprendizagem estão
divididas em três grupos: behaviorismo;
cognitivismo e humanista. Elas formam o
arcabouço teórico de professores de todas
as séries, do maternal ao ensino superior.
Cada linha teórica traz contribuições para se
compreender como se desenvolve o
conhecimento e se efetiva a aprendizagem.
A referida pesquisa foi desenvolvida
partindo da seguinte problemática: os
professores, em sua prática pedagógica,
consideram os princípios das teorias da
aprendizagem? Foram levantadas as
seguintes hipóteses: há professores que
desconhecem os principais aspectos das
teorias da aprendizagem; há professores que
mesmo desconhecendo os principais aspectos
das teorias da aprendizagem, trabalham em
sintonia com alguma linha teórica; há
professores que não estudaram as teorias da
aprendizagem, mas conhecem os princípios
de algumas delas; há professores que
conhecem os princípios de algumas teorias da
aprendizagem, mas desconhecem os teóricos.
O estudo tem como objetivo geral,
apresentar de forma sintetizada, os
principais aspectos das teorias da
aprendizagem e como objetivos específicos:
relacionar os teóricos de cada corrente das
teorias da aprendizagem; identificar se
professores estudaram essas teorias e
investigar se os professores consideram os
princípios das teorias durante sua prática
pedagógica.
A pesquisa se justifica uma vez que a
prática pedagógica tem a finalidade de
promoção do ensino e da aprendizagem e não
se pode pensar nesse processo sem
considerar as teorias da aprendizagem ou,
pelo menos, ter noções básicas de cada uma.
Por outro lado, o trabalho se apresenta como
um instrumento que reúne os principais
tópicos das teorias da aprendizagem e indica
seus teóricos, a maioria psicólogos.
2 PRINCIPAIS ASPECTOS DAS
TEORIAS DA APRENDIZAGEM
Como várias ciências
contemporâneas, a psicologia surge na
segunda metade do século XIX. Baseada no
estudo da mente ou consciência humana, a
psicologia ganha novas correntes de
pesquisa e procedimentos terapêuticos no
início do século XX. O Behaviorismo surge
como uma escola da psicologia reflexo
dessa nova forma de compreender o homem
com foco no próprio comportamento, e não
sendo ele, o comportamento, simples reflexo
de algo da mente. Foi John B. Watson que
inaugura no começo do século XX o
Behaviorismo e atrai outros pesquisadores a
construírem teorias a partir do
comportamento (MATOS, 1995; TOURINHO,
2011).
9
A corrente cognitivista na psicologia, e
em especial na educação, tem como
grandes expoentes, Piaget, Vygostsky,
Bruner e Ausubel, os quais assumem
lugares de destaques, com suas teorias
validadas até à atualidade. Ostermann e
Cavalcanti (2010 apud DISTLER, 2015),
explicam sobre o foco do estudo dos
cognitivistas: compreensão, transformação,
armazenamento, aplicação dos conteúdos
descritos na aprendizagem. A teoria
sustenta-se na ênfase dos significados que o
indivíduo tem da realidade e busca mapear
padrões do processo da transformação da
cognição.
A teoria da aprendizagem cognitivista
surge em contraposição ao behaviorismo.
Enquanto o comportamento humano é o foco
no behaviorismo, o cognitivismo busca
entender como o homem constrói seu
conhecimento a partir da análise do
processo estímulo/resposta, assim se
propõe analisar a mente e o ato de
conhecer: “a psicologia cognitiva preocupa-
se com o processo de compreensão,
transformação, armazenamento e utilização
das informações, envolvida no plano da
cognição” (MOREIRA, 2011, p. 3).
A cognição é atividade mental, é todo
o processo de envolvendo a aquisição, o
armazenamento, a transformação e a
aplicação do conhecimento (MATLIN, 2004).
Nesse sentido, o estudo do desenvolvimento
cognitivo objetiva entender como se
estrutura o pensamento ao longo do
desenvolvimento do indivíduo e a maneira
como as mudanças ocorrem durante o
desenvolvimento.
Já cognitivismo é epistemologia
básica das Ciências Cognitivas e suas
vertentes e conta com cinco características
principais:
A primeira é a centralidade do
conceito de regra para explicar o
processamento cognitivo e o
comportamento. A segunda, o
comprometimento com uma visão
construtivista dos processos cognitivos. A
terceira, pela concepção do comportamento
humano como orientado a metas. A quarta, a
imagem de um sujeito ativo, e não reativo,
como o da tradição positivista. Por fim, a
quinta seria a recuperação do conceito de
consciência na Psicologia (PENNA, 1984
apud CASTAÑON, 2007, p. 14)
Para Castañon (2007, p. 17), Piaget é
o primeiro psicólogo experimental cognitivista:
“Para Piaget, o processo cognitivo é regido
pela aplicação de regras, que são
construídas durante o processo de
desenvolvimento cognitivo através da ação
no mundo de um sujeito orientado para metas
e dotado de consciência como fenômeno
biológico básico”.
Na proposta humanista, o processo
de aprendizagem é uma constante no ser.
Isso inclui o próprio educador, também
denominado de facilitador entre os
10
humanistas. Para isso, as relações de afeto
devem ser pautadas no respeito e na
aceitação. Ver-se na capacidade de se
reinventar e ter uma perspectiva positiva na
capacidade em que o outro também tem de
se educar e se reeducar (MOREIRA, 2011).
Nesse contexto, o professor, que atua como
facilitador, também pode aprender com o
educando.
A essência da teoria da aprendizagem
humanista, é compreender o homem
biológico, fisiológico e psicológico. O homem
integrado ao meio ambiente; o homem que
possui um corpo físico complexo e, o homem
psicológico que pensa e expressa instintos e
sentimentos. É a proposta da corrente
humanista na psicologia. Carl Ransom
Rogers (1902-1987) é apontado como o mais
expressivo e determinante teórico da corrente
humanística e do pensamento, teoria esta
que trouxe uma nova abordagem para a
psicologia e psicoterapia em geral
(HIPOLITO, 1999).
Quadro 1 – Resumo das teorias da aprendizagem e seus respectivos teóricos
COMPORTAMENTALISTA
Pavlov Reflexos condicionados: adquiridos ou condicionados à experiência passada; reflexos
incondicionados: inatos
Watson O meio ambiente é determinante para a ocorrência de aprendizagem
Skinner Condicionamento respondente: automaticamente (reflexo); condicionamento operante: (por
estímulos: positivos ou negativos)
COGNITIVISTA
Piaget Processo de aprendizagem: situação; desequilíbrio; assimilação; acomodação e equilíbrio.
Vygotsky Desenvolvimento intelectual das crianças: condições de vida; interações sociais; relação entre o
pensamento e a linguagem.
Ausubel Aprendizagem significativa: uma ideia ou informação nova se relaciona com conceitos já
assimilados. Aprendizagem mecânica: as novas ideias não se relacionam com as ideias já
existentes.
Bruner Aprendizagem por descoberta: o professor apresenta todas as ferramentas necessárias ao aluno para
que ele descubra por si o que deseja aprender; o aluno é parte ativa da construção do seu
conhecimento.
Gardner Inteligência: chave para a resolução de problemas. Inteligências múltiplas: lógico-matemática;
linguística; corporal-cinestésica; musical; espacial; interpessoal; intrapessoal.
HUMANISTA
Wallon Aprendizagem não é linear; o processo de aprendizagem é cíclico e implica a passagem para uma
outra fase, independentemente da idade.
Rogers Pessoa dotada de liberdade e poder de escolha; relação de confiança (professor x aluno).
Fonte: Ostermann e Cavalcanti (2011).
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3 METODOLOGIA A metodologia empregada é uma
pesquisa de campo a qual, segundo Marconi
e Lakatos (2011, p. 69) “[...] é aquela
utilizada com o objetivo de conseguir
informações e/ou conhecimentos a cerca de
um problema para o qual se procura uma
resposta”.
A amostragem é composta por cinco
professoras, sendo que três atuaram no
ensino fundamental I por mais de 20 anos e
duas por 05 anos. Todas as respondentes
são do sexo feminino, cursaram o magistério
durante o ensino médio e são concursadas,
sendo a Professora D da rede municipal de
Caruaru e as demais, da rede estadual de
Pernambuco. As professoras A e B atuaram
na rede estadual e na rede particular
trabalhando com ensino fundamental I,
paralelamente. O Quadro 3 apresenta o
perfil das participantes da pesquisa.
Quadro 2 – Perfil das professoras que atuam no ensino fundamental I e médio
Respondente Idade Quando
cursou
Magistério
Conclusão
da
graduação
Graduação Tempo de atuação no
Ens. Fundamental I
Tempo de atuação
no Ensino médio
Professora A 56 1977 a
1979
1985 Letras 20 anos 29 anos
Professora B 54 Não cursou 1985 Geografia 22 anos 26 anos
Professora C 48 1986 a
1988
1992 Matemática 5 anos 19 anos
Professora D 48 1987 a
1989
1993 Ciências
Sociais
20 anos 3 anos
Professora E 45 1990 a
1991
1997 História 5 anos 12 anos
Fonte: Autoria própria, 2019.
Os critérios de inclusão das
respondentes foram: ter cursado magistério
no ensino médio; ter graduação em
licenciatura; ter mais de 20 anos de exercício
de magistério; ter mais de cinco anos
trabalhando especificamente com alunos do
2º ao 5º Ano.
O instrumento de pesquisa
empregado foi um questionário contendo 18
perguntas objetivas e nove perguntas para
pontuação entre 1 a 5, sendo, gradualmente,
1 para ruim e 5, para muito bom.
Trata-se de uma pesquisa explicativa,
pois, de acordo com Gil (2010) busca
identificar, quais fatores determinam ou
contribuem para a existência dos
fenômenos, sendo, portanto, o tipo que mais
aprofunda o conhecimento da realidade,
uma vez que explica a razão e o porquê das
coisas. É um estudo quantitativo, pois, ainda
de acordo com Gil (2010), apresenta dados
quantitativos, embora não sejam
percentuais.
12
4 ANÁLISE DOS DADOS
Através da pesquisa, constatou-se
que todas as respondentes estudaram sobre
teorias da aprendizagem quando fizeram sua
graduação, porém quando perguntado se
elas conheciam os princípios as teorias da
aprendizagem elaboradas pelos teóricos,
todas dizem conhecer os princípios das
teorias apresentadas por Piaget e Vygotsky,
como pode ser observado no quadro 3,
entretanto alguns dos principais teóricos
nem são citados por algumas das
professores arguidas.
A professora C é a que apresenta
conhecer menos teóricos (apenas Piaget e
Vygotsky) e passou menos tempo no EFI
(cinco anos), embora a professora E com o
mesmo tempo de atuação nesta faixa de
ensino conheça também cinco teóricos. Num
contraponto, as professoras A e B, com 20 e
22 anos, respectivamente, trabalhando com
turmas 2º ao 5º Ano demonstram conhecer
um maior número de teóricos da
aprendizagem, mas a professora D, com 20
anos de trabalho com alunos dessas séries
conhece apenas três estudiosos.
Quadro 3 – Declaração das professoras a respeito de terem conhecimento sobre os princípios das teorias da aprendizagem e seus respectivos teóricos.
Teórico Professora A Professora B Professora C Professora D Professora E
Pavlov Sim
Watson Sim
Skinner Sim Sim
Piaget Sim Sim Sim Sim Sim
Vygotsky Sim Sim Sim Sim Sim
Bruner Sim
Ausubel Sim
Gardner Sim
Wallon Sim
Rogers Sim Sim Sim
Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2019
Foi pedido que as professoras respondessem as perguntas seguintes pontuando com números entre 1 e 5, sendo 1 considerado ruim e 5 muito bom no que se
refere a situações já vivenciadas por elas no exercício do magistério. O objetivo era saber como as professoras avaliam se, a partir das circunstâncias apresentadas, o aluno
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aprende com mais facilidade. As respostas são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 – Resposta das professoras quanto aos aspectos que envolvem as teorias da aprendizagem e sua prática docente
Questionamentos
Respostas das Professoras
A B C D E
Nível de Intensidade*
Professor repetir a explicação por três vezes ou mais 1 3 2 1 1
Aluno fazer os exercícios para fixação de aprendizagem 3 2 3 2 2
Atividades valendo pontos 3 1 3 1 2
Alunos ganhando recompensa 3 4 1 2 2
Alunos competindo ou jogando 4 4 5 3 4
Alunos pesquisando 5 5 1 4 4
Com outras formas de ilustrações 5 5 5 5 5
Conteúdo com alguma relação com o dia a dia do aluno 5 5 5 5 5
Alunos fazem atividades em seu ritmo 5 5 5 4 5
Alunos definem como trabalhar determinados conteúdos 5 5 3 5 4
Fonte: dados da pesquisa de campo (2019). *Nível de intensidade, considerando 1 = ruim e 5 = muito bom
Buscou conhecer a percepção das
professoras, quanto aos estudantes
aprendem melhor quando o professor repete
a explicação do assunto por três vezes ou
mais, e as respondentes não consideram
essa metodologia como facilitadora de
aprendizagem. Embora a professora B disse
não se lembrar da teoria do behaviorismo,
deu maior importância à repetição.
Já a prática de exercícios para fixação
de aprendizagem foi mais considerada como
um facilitador do processo de ensino e
aprendizagem pelas Professoras A e C,
evidenciando que as demais não veem a
repetição como um instrumento que auxilia o
ato de aprender. Essa é a mesma opinião
que elas têm quando as atividades valem
pontos.
Por outro lado, quando há alguma
recompensa, por exemplo, poder jogar bola
ou fazer outra atividade prazerosa em outro
momento após uma explicação, não é fator
condicionante para os alunos aprenderem
melhor na opinião da maioria das
respondentes. Ao considerar essas
respostas, percebe-se que a prática
pedagógica das professoras participantes da
pesquisa não encontra eco no behaviorismo.
Para Watson “o Behaviorismo dedica-
se ao estudo das interações entre o
indivíduo e o ambiente, entre as ações do
indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as
14
estimulações)” (TEIXEIRA, 2007, p. 45).
Segue a proposta do estímulo condicionado
e a alteração de comportamento no sujeito.
É nessa alteração que se verifica e
comprova a aprendizagem.
Watson buscou provar o determinismo
dos fatores externos no processo de
aprendizagem humana superando o fator
interno que é a mente: inteligência, aptidão,
vontade e sentimentos. No processo
condicionante, os atos podem ser reflexos ou
involuntários, mas resultados dos estímulos
do ambiente externos que são determinantes
nessa aprendizagem como repetição ou
modificação do comportamento. Watson
denomina sua teoria de Ambientalista
(TOVAR e ROSA, 1990).
Outro psicólogo que também se
destaca na Teoria Comportamentalista é
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990),
também norte-americano e mencionado
como o criador do Condicionamento
Operante, mas que ficaram conhecidas como
Behaviorismo Radical. Seu destaque entre os
behavioristas está nas pesquisas que mais
contribuíram na teoria comportamental
voltadas para a Educação. Práxis escolar e
aprendizagem compuseram o foco dos seus
estudos.
Observando elementos até então desprezados pelo comportamentalismo, Skinner não deu uma abertura à introspecção, mas admitiu o estudo de pensamentos e sentimento, desde que estes sejam abordados por
intermédio de manifestações exteriores. Skinner usou também, os procedimentos de recompensas [...], sugerindo que a aprendizagem do homem se faz a partir de sucessivos processos de condicionamento que modelam a ação do homem (LÉDA, 2008, p. 136-137).
O pensamento skinneriano vincula a
aprendizagem à modificação do
desempenho. Para Skiner faz-se necessária
à repetição constante do condicionamento
para reforçar as respostas (aprendizagem)
pretendidas (MOREIRA, 2011). Para
Skinner (1973, p. 35), “se a ocorrência de
um comportamento operante é seguida pela
apresentação de um estímulo (reforçador), a
probabilidade de reforçamento é
aumentada”. A recompensa é uma ação
externa, ou seja, de quem opera o
condicionamento. Para ele, motivação,
retenção e transferência, três aspectos que
formam a aprendizagem, são acionados
através do comportamento operante que é a
repetição.
Todas as professoras mudam de
opinião quando se trata do emprego de
jogos aplicados para o ensino de variados
conteúdos. Elas avaliam que competindo ou
jogando em grupos, os alunos aprendem
com mais facilidade. O uso de pesquisa por
parte do aluno, após a explicação de um
assunto, de acordo com a maioria das
professoras ouvidas, contribui com o
processo de aprendizagem. Neste ponto, as
professoras concordam com a teoria da
15
aprendizagem de Vygotsky que o aluno
aprende a partir de sua elação com o meio.
As participantes pontuaram com 5
quando se perguntou se quando há outras
formas de ilustrações, como filme, desenhos,
fotos, gravuras ou mesmo passeios, se os
estudantes demonstram aprender melhor, o
que reforça, na prática, a teoria da
aprendizagem de Vygotsky.
Vygotsky difere de Piaget ao apontar
que a partir da interiorização os signos (o
que ele define como regulação interna) e dos
instrumentos (definida como regulação
externa), ocorre o desenvolvimento humano,
ou seja, o sujeito tem contato com os objetos
externos para conhecer as coisas e
incrementar sua inteligência e a consciência
se constrói culturalmente. Tendo por base de
suas pesquisas a dialética marxista,
Vygotsky inclui o conceito de mediação na
interação homem-ambiente (VYGOTSKY,
1994).
[...] o sujeito produtor de conhecimento não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem (REGO, 2002, p. 98).
Esse processo de reconstrução do
pensamento é definido por Vygotsky (1994)
como o conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZPD), que pode
ser entendido como o nível de
desenvolvimento que a criança tem quando
começa a aprender, mas ainda precisa de
ajuda para fazer determinada atividade até o
momento em que ela aprende a fazer
sozinha. Nesse sentindo, é a relação da
pessoa com sua cultura que promove a
aprendizagem, ou seja, o desenvolvimento
da inteligência se dá de forma dialética.
A teoria da aprendizagem significativa
parece ser bem aceita por todas as
respondentes, pois assinaram com
pontuação máxima que o aluno aprende
com maior facilidade quando o conteúdo tem
alguma relação com o seu dia a dia.
A teoria da Aprendizagem
Significativa de Ausubel tem por princípio
fundamental o “armazenamento de
informações” através de uma organização
hierárquica dos conceitos na mente,
denominada “estrutura cognitiva” (MOREIRA
e MASINI, 1982 apud DISTLER, 2015, grifos
da autora), num processo sistematizado de
informações, mas que é dinâmico e contínuo
pela absorção de novas informações,
formando assim, os aspectos cognitivos do
seu humano.
Ausubel vê o armazenamento de informações no cérebro humano como sendo altamente organizado, formando uma hierarquia conceitual, na qual elementos mais específicos de conhecimento são ligados (e assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos (MOREIRA, 1999, p. 276).
16
Ausubel ao afirmar que a
aprendizagem é sistematizada e com ênfase
na mente, explica sobre o processo de
interação das informações já conhecidas.
Para ele, a estrutura cognitiva dar-se pelos
conceitos organizados em ordem no cérebro
de maneira hierarquizada com conexões de
conceitos específicos com os gerais. A
aprendizagem significativa ocorre quando
uma informação nova adentra nessa
estrutura cognitiva, possuidora dos
conhecimentos já armazenados, e passam a
interagir. Este fenômeno de interação,
Ausubel denomina-o de subsunçores
(MOREIRA, 1999).
Segundo Moreira (1999) é pela
compreensão dos subsunçores que Ausebel
explica quando há aprendizagem
significativa ou quando ocorre a
aprendizagem mecânica no aluno. Por
compreender a estrutura cognitiva como
conceitos extremamente hierarquizados com
conexões entre conceitos específicos com
os gerais, a aprendizagem significativa
ocorre quando há interação das novas
informações com a estrutura cognitiva.
Quando não há a dinâmica interativa, ou se
há de forma insatisfatória, o aprendizado
tornou-se mecânico, sem significado.
Considerando a pontuação, todas
com nota máxima, obtida para o
questionamento se os alunos aprendem
melhor quando desenvolvem atividades em
grupo ou mesmo individualmente, mesmo
sob a observação da professora, mas
respeitando o ritmo/tempo deles, percebe-se
que a teoria humanista de Rogers tem
fundamento a partir da prática pedagógica
das professoras.
Moreira (2011) ao analisar a teoria
Humanista proposta por Rogers aponta para
uma análise holística do ser humano e
observa a importância em compreender o
afeto no desenvolvimento comportamental e
cognitivo. Dessa forma, os sentimentos e as
emoções passam a ser integrantes no
processo de ensino-aprendizagem.
Na pedagogia humanista Rogeriana, o
estudante é apresentado como uma pessoa
em construção, livre em suas escolhas,
porém responsável por elas. É nessa
liberdade de escolha que o processo ensino e
aprendizagem se consolida sendo o
educando o sujeito ativo e o professor, o
facilitador para as escolhas (MOREIRA,
2011).
Novamente é possível perceber a
força da teoria rogeriana ao considerar que
as professoras concordam que quando é
combinado com a turma como eles querem
trabalhar determinados conteúdos, seja com
pesquisa extraclasse ou apresentação de
trabalhos ou outra modalidade, os alunos
aprendam com maior facilidade.
O respeito e a autoconfiante que o
educador precisa ter de si são fatores
necessários para estimular o educando a
aprender e consequentemente, este aluno
17
se autorealiza (MOREIRA, 2011). Dessa
forma, o processo de ensino aprendizagem
rompe com autoritarismos e outras formas
de poder que possam ocorrer dentro do
espaço escolar, ficando o processo
educativo como uma atividade cotidiana
onde o sujeito é protagonista nas ações de
aquisição do conhecimento.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa de campo foi
possível constatar que há professores que
desconhecem os principais aspectos das
teorias da aprendizagem e, mesmo assim,
trabalham em sintonia com alguma linha
teórica. Também ficou comprovado que, há
professores que não estudaram em
profundidade algumas das teorias da
aprendizagem, mas conhecem os princípios
de algumas delas e, há professores que
conhecem os princípios de algumas teorias
da aprendizagem, mas desconhecem quem
são os teóricos que as formularam.
Desta forma, a pesquisa comprova as
hipóteses levantadas e foi respondido o
problema formulado: os professores, em sua
prática pedagógica, consideram os princípios
das teorias da aprendizagem, se não todas,
mas algumas delas, sendo a teoria
sociocognitiva de Vygotsky, a humanista de
Rogers e a teoria da aprendizagem
significativa de Ausubel, as mais
empregadas.
Todos os objetivos propostos foram
alcançados, pois o estudo apresentou de
forma sintetizada, os principais aspectos das
teorias da aprendizagem, assim como
relacionou os teóricos de cada corrente
apresentada. Também constatou-se que os
professores consideram os princípios das
teorias durante sua prática pedagógica e
todas as respondentes já estudaram algo
relacionado à teoria da aprendizagem
embora nem todas conseguiram identificar
os teóricos e as respectivas correntes que
defendem.
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18
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