13

A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não
Page 2: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

7

A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM EM SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Dijanice Maria Ferreira Da Silva Andrade1

Amanda Micheline A. Lucena2

RESUMO As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não perceba ou mesmo não considera a linha teórica adotada. Isso pode ocorrer devido ao fato de os professores desconhecerem ou mesmo esquecerem os principais pontos apontados pelos teóricos, mesmo tendo a temática na grade curricular de sua licenciatura. Por isso o presente estudo se justifica e tem como objetivo apresentar de forma sintetizada, os principais aspectos das teorias da aprendizagem, identificando se professores consideram os princípios das teorias durante sua prática pedagógica. Trata-se de uma pesquisa de campo, explicativa com abordagem quantitativa, tendo como respondentes cinco professoras com mais de 20 anos de exercício do magistério, todas com experiência no ensino fundamental I e que afirmam terem estudado sobre as teorias da aprendizagem. Os resultados evidenciam que os professores conhecem os princípios de algumas teorias, mesmo sem saber os tópicos mais importantes dos conteúdos elaborados pelos teóricos e que trabalham em sintonia com alguma linha teórica, principalmente a sociocognitiva de Vygotsky, a humanista de Rogers e a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel. PALAVRAS-CHAVE: Behavorismo. Cognitivismo. Inteligências múltiplas. Teorias da aprendizagem.

ABSTRACT Learning theories guide the pedagogical works in the classroom although, in most cases, the teacher does not understand or even does not consider the theoretical line adopted. This may be due to the fact that teachers are unaware of or even forget the main points pointed out by theorists, even having the theme in the curriculum of their degree. That is why this study is justified and has as its general objective to present in a summarized way the main aspects of learning theories and as specific objectives, to relate the theorists of each current of learning theories; identify if teachers have studied these theories and investigate if they consider the principles of theories during their pedagogical practice. This is a field research, explanatory and quantitative, having as respondents five teachers with more than 20 years of teaching, all with experience in elementar school I and claim to have studied about theories of learning. The results show that teachers know the principles of some theories, even without knowing the most importante topics of the contentes elaborated by theorists and who work in tunne with some theoretical line, mainly Vygotsky's sociocognitive, Rogers humanist and learning theory of meaningful learning. Ausubel KEYWORDS: Behavorism. Cognitivism. Multiple intelligence. Theories of learning.

1 Mestranda em Ciências da Educação. e-mail: [email protected]

2 Orientadora, professora do CETEC. email: [email protected]

Page 3: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

8

1 INTRODUÇÃO

As teorias da aprendizagem estão

divididas em três grupos: behaviorismo;

cognitivismo e humanista. Elas formam o

arcabouço teórico de professores de todas

as séries, do maternal ao ensino superior.

Cada linha teórica traz contribuições para se

compreender como se desenvolve o

conhecimento e se efetiva a aprendizagem.

A referida pesquisa foi desenvolvida

partindo da seguinte problemática: os

professores, em sua prática pedagógica,

consideram os princípios das teorias da

aprendizagem? Foram levantadas as

seguintes hipóteses: há professores que

desconhecem os principais aspectos das

teorias da aprendizagem; há professores que

mesmo desconhecendo os principais aspectos

das teorias da aprendizagem, trabalham em

sintonia com alguma linha teórica; há

professores que não estudaram as teorias da

aprendizagem, mas conhecem os princípios

de algumas delas; há professores que

conhecem os princípios de algumas teorias da

aprendizagem, mas desconhecem os teóricos.

O estudo tem como objetivo geral,

apresentar de forma sintetizada, os

principais aspectos das teorias da

aprendizagem e como objetivos específicos:

relacionar os teóricos de cada corrente das

teorias da aprendizagem; identificar se

professores estudaram essas teorias e

investigar se os professores consideram os

princípios das teorias durante sua prática

pedagógica.

A pesquisa se justifica uma vez que a

prática pedagógica tem a finalidade de

promoção do ensino e da aprendizagem e não

se pode pensar nesse processo sem

considerar as teorias da aprendizagem ou,

pelo menos, ter noções básicas de cada uma.

Por outro lado, o trabalho se apresenta como

um instrumento que reúne os principais

tópicos das teorias da aprendizagem e indica

seus teóricos, a maioria psicólogos.

2 PRINCIPAIS ASPECTOS DAS

TEORIAS DA APRENDIZAGEM

Como várias ciências

contemporâneas, a psicologia surge na

segunda metade do século XIX. Baseada no

estudo da mente ou consciência humana, a

psicologia ganha novas correntes de

pesquisa e procedimentos terapêuticos no

início do século XX. O Behaviorismo surge

como uma escola da psicologia reflexo

dessa nova forma de compreender o homem

com foco no próprio comportamento, e não

sendo ele, o comportamento, simples reflexo

de algo da mente. Foi John B. Watson que

inaugura no começo do século XX o

Behaviorismo e atrai outros pesquisadores a

construírem teorias a partir do

comportamento (MATOS, 1995; TOURINHO,

2011).

Page 4: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

9

A corrente cognitivista na psicologia, e

em especial na educação, tem como

grandes expoentes, Piaget, Vygostsky,

Bruner e Ausubel, os quais assumem

lugares de destaques, com suas teorias

validadas até à atualidade. Ostermann e

Cavalcanti (2010 apud DISTLER, 2015),

explicam sobre o foco do estudo dos

cognitivistas: compreensão, transformação,

armazenamento, aplicação dos conteúdos

descritos na aprendizagem. A teoria

sustenta-se na ênfase dos significados que o

indivíduo tem da realidade e busca mapear

padrões do processo da transformação da

cognição.

A teoria da aprendizagem cognitivista

surge em contraposição ao behaviorismo.

Enquanto o comportamento humano é o foco

no behaviorismo, o cognitivismo busca

entender como o homem constrói seu

conhecimento a partir da análise do

processo estímulo/resposta, assim se

propõe analisar a mente e o ato de

conhecer: “a psicologia cognitiva preocupa-

se com o processo de compreensão,

transformação, armazenamento e utilização

das informações, envolvida no plano da

cognição” (MOREIRA, 2011, p. 3).

A cognição é atividade mental, é todo

o processo de envolvendo a aquisição, o

armazenamento, a transformação e a

aplicação do conhecimento (MATLIN, 2004).

Nesse sentido, o estudo do desenvolvimento

cognitivo objetiva entender como se

estrutura o pensamento ao longo do

desenvolvimento do indivíduo e a maneira

como as mudanças ocorrem durante o

desenvolvimento.

Já cognitivismo é epistemologia

básica das Ciências Cognitivas e suas

vertentes e conta com cinco características

principais:

A primeira é a centralidade do

conceito de regra para explicar o

processamento cognitivo e o

comportamento. A segunda, o

comprometimento com uma visão

construtivista dos processos cognitivos. A

terceira, pela concepção do comportamento

humano como orientado a metas. A quarta, a

imagem de um sujeito ativo, e não reativo,

como o da tradição positivista. Por fim, a

quinta seria a recuperação do conceito de

consciência na Psicologia (PENNA, 1984

apud CASTAÑON, 2007, p. 14)

Para Castañon (2007, p. 17), Piaget é

o primeiro psicólogo experimental cognitivista:

“Para Piaget, o processo cognitivo é regido

pela aplicação de regras, que são

construídas durante o processo de

desenvolvimento cognitivo através da ação

no mundo de um sujeito orientado para metas

e dotado de consciência como fenômeno

biológico básico”.

Na proposta humanista, o processo

de aprendizagem é uma constante no ser.

Isso inclui o próprio educador, também

denominado de facilitador entre os

Page 5: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

10

humanistas. Para isso, as relações de afeto

devem ser pautadas no respeito e na

aceitação. Ver-se na capacidade de se

reinventar e ter uma perspectiva positiva na

capacidade em que o outro também tem de

se educar e se reeducar (MOREIRA, 2011).

Nesse contexto, o professor, que atua como

facilitador, também pode aprender com o

educando.

A essência da teoria da aprendizagem

humanista, é compreender o homem

biológico, fisiológico e psicológico. O homem

integrado ao meio ambiente; o homem que

possui um corpo físico complexo e, o homem

psicológico que pensa e expressa instintos e

sentimentos. É a proposta da corrente

humanista na psicologia. Carl Ransom

Rogers (1902-1987) é apontado como o mais

expressivo e determinante teórico da corrente

humanística e do pensamento, teoria esta

que trouxe uma nova abordagem para a

psicologia e psicoterapia em geral

(HIPOLITO, 1999).

Quadro 1 – Resumo das teorias da aprendizagem e seus respectivos teóricos

COMPORTAMENTALISTA

Pavlov Reflexos condicionados: adquiridos ou condicionados à experiência passada; reflexos

incondicionados: inatos

Watson O meio ambiente é determinante para a ocorrência de aprendizagem

Skinner Condicionamento respondente: automaticamente (reflexo); condicionamento operante: (por

estímulos: positivos ou negativos)

COGNITIVISTA

Piaget Processo de aprendizagem: situação; desequilíbrio; assimilação; acomodação e equilíbrio.

Vygotsky Desenvolvimento intelectual das crianças: condições de vida; interações sociais; relação entre o

pensamento e a linguagem.

Ausubel Aprendizagem significativa: uma ideia ou informação nova se relaciona com conceitos já

assimilados. Aprendizagem mecânica: as novas ideias não se relacionam com as ideias já

existentes.

Bruner Aprendizagem por descoberta: o professor apresenta todas as ferramentas necessárias ao aluno para

que ele descubra por si o que deseja aprender; o aluno é parte ativa da construção do seu

conhecimento.

Gardner Inteligência: chave para a resolução de problemas. Inteligências múltiplas: lógico-matemática;

linguística; corporal-cinestésica; musical; espacial; interpessoal; intrapessoal.

HUMANISTA

Wallon Aprendizagem não é linear; o processo de aprendizagem é cíclico e implica a passagem para uma

outra fase, independentemente da idade.

Rogers Pessoa dotada de liberdade e poder de escolha; relação de confiança (professor x aluno).

Fonte: Ostermann e Cavalcanti (2011).

Page 6: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

11

3 METODOLOGIA A metodologia empregada é uma

pesquisa de campo a qual, segundo Marconi

e Lakatos (2011, p. 69) “[...] é aquela

utilizada com o objetivo de conseguir

informações e/ou conhecimentos a cerca de

um problema para o qual se procura uma

resposta”.

A amostragem é composta por cinco

professoras, sendo que três atuaram no

ensino fundamental I por mais de 20 anos e

duas por 05 anos. Todas as respondentes

são do sexo feminino, cursaram o magistério

durante o ensino médio e são concursadas,

sendo a Professora D da rede municipal de

Caruaru e as demais, da rede estadual de

Pernambuco. As professoras A e B atuaram

na rede estadual e na rede particular

trabalhando com ensino fundamental I,

paralelamente. O Quadro 3 apresenta o

perfil das participantes da pesquisa.

Quadro 2 – Perfil das professoras que atuam no ensino fundamental I e médio

Respondente Idade Quando

cursou

Magistério

Conclusão

da

graduação

Graduação Tempo de atuação no

Ens. Fundamental I

Tempo de atuação

no Ensino médio

Professora A 56 1977 a

1979

1985 Letras 20 anos 29 anos

Professora B 54 Não cursou 1985 Geografia 22 anos 26 anos

Professora C 48 1986 a

1988

1992 Matemática 5 anos 19 anos

Professora D 48 1987 a

1989

1993 Ciências

Sociais

20 anos 3 anos

Professora E 45 1990 a

1991

1997 História 5 anos 12 anos

Fonte: Autoria própria, 2019.

Os critérios de inclusão das

respondentes foram: ter cursado magistério

no ensino médio; ter graduação em

licenciatura; ter mais de 20 anos de exercício

de magistério; ter mais de cinco anos

trabalhando especificamente com alunos do

2º ao 5º Ano.

O instrumento de pesquisa

empregado foi um questionário contendo 18

perguntas objetivas e nove perguntas para

pontuação entre 1 a 5, sendo, gradualmente,

1 para ruim e 5, para muito bom.

Trata-se de uma pesquisa explicativa,

pois, de acordo com Gil (2010) busca

identificar, quais fatores determinam ou

contribuem para a existência dos

fenômenos, sendo, portanto, o tipo que mais

aprofunda o conhecimento da realidade,

uma vez que explica a razão e o porquê das

coisas. É um estudo quantitativo, pois, ainda

de acordo com Gil (2010), apresenta dados

quantitativos, embora não sejam

percentuais.

Page 7: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

12

4 ANÁLISE DOS DADOS

Através da pesquisa, constatou-se

que todas as respondentes estudaram sobre

teorias da aprendizagem quando fizeram sua

graduação, porém quando perguntado se

elas conheciam os princípios as teorias da

aprendizagem elaboradas pelos teóricos,

todas dizem conhecer os princípios das

teorias apresentadas por Piaget e Vygotsky,

como pode ser observado no quadro 3,

entretanto alguns dos principais teóricos

nem são citados por algumas das

professores arguidas.

A professora C é a que apresenta

conhecer menos teóricos (apenas Piaget e

Vygotsky) e passou menos tempo no EFI

(cinco anos), embora a professora E com o

mesmo tempo de atuação nesta faixa de

ensino conheça também cinco teóricos. Num

contraponto, as professoras A e B, com 20 e

22 anos, respectivamente, trabalhando com

turmas 2º ao 5º Ano demonstram conhecer

um maior número de teóricos da

aprendizagem, mas a professora D, com 20

anos de trabalho com alunos dessas séries

conhece apenas três estudiosos.

Quadro 3 – Declaração das professoras a respeito de terem conhecimento sobre os princípios das teorias da aprendizagem e seus respectivos teóricos.

Teórico Professora A Professora B Professora C Professora D Professora E

Pavlov Sim

Watson Sim

Skinner Sim Sim

Piaget Sim Sim Sim Sim Sim

Vygotsky Sim Sim Sim Sim Sim

Bruner Sim

Ausubel Sim

Gardner Sim

Wallon Sim

Rogers Sim Sim Sim

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2019

Foi pedido que as professoras respondessem as perguntas seguintes pontuando com números entre 1 e 5, sendo 1 considerado ruim e 5 muito bom no que se

refere a situações já vivenciadas por elas no exercício do magistério. O objetivo era saber como as professoras avaliam se, a partir das circunstâncias apresentadas, o aluno

Page 8: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

13

aprende com mais facilidade. As respostas são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Resposta das professoras quanto aos aspectos que envolvem as teorias da aprendizagem e sua prática docente

Questionamentos

Respostas das Professoras

A B C D E

Nível de Intensidade*

Professor repetir a explicação por três vezes ou mais 1 3 2 1 1

Aluno fazer os exercícios para fixação de aprendizagem 3 2 3 2 2

Atividades valendo pontos 3 1 3 1 2

Alunos ganhando recompensa 3 4 1 2 2

Alunos competindo ou jogando 4 4 5 3 4

Alunos pesquisando 5 5 1 4 4

Com outras formas de ilustrações 5 5 5 5 5

Conteúdo com alguma relação com o dia a dia do aluno 5 5 5 5 5

Alunos fazem atividades em seu ritmo 5 5 5 4 5

Alunos definem como trabalhar determinados conteúdos 5 5 3 5 4

Fonte: dados da pesquisa de campo (2019). *Nível de intensidade, considerando 1 = ruim e 5 = muito bom

Buscou conhecer a percepção das

professoras, quanto aos estudantes

aprendem melhor quando o professor repete

a explicação do assunto por três vezes ou

mais, e as respondentes não consideram

essa metodologia como facilitadora de

aprendizagem. Embora a professora B disse

não se lembrar da teoria do behaviorismo,

deu maior importância à repetição.

Já a prática de exercícios para fixação

de aprendizagem foi mais considerada como

um facilitador do processo de ensino e

aprendizagem pelas Professoras A e C,

evidenciando que as demais não veem a

repetição como um instrumento que auxilia o

ato de aprender. Essa é a mesma opinião

que elas têm quando as atividades valem

pontos.

Por outro lado, quando há alguma

recompensa, por exemplo, poder jogar bola

ou fazer outra atividade prazerosa em outro

momento após uma explicação, não é fator

condicionante para os alunos aprenderem

melhor na opinião da maioria das

respondentes. Ao considerar essas

respostas, percebe-se que a prática

pedagógica das professoras participantes da

pesquisa não encontra eco no behaviorismo.

Para Watson “o Behaviorismo dedica-

se ao estudo das interações entre o

indivíduo e o ambiente, entre as ações do

indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as

Page 9: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

14

estimulações)” (TEIXEIRA, 2007, p. 45).

Segue a proposta do estímulo condicionado

e a alteração de comportamento no sujeito.

É nessa alteração que se verifica e

comprova a aprendizagem.

Watson buscou provar o determinismo

dos fatores externos no processo de

aprendizagem humana superando o fator

interno que é a mente: inteligência, aptidão,

vontade e sentimentos. No processo

condicionante, os atos podem ser reflexos ou

involuntários, mas resultados dos estímulos

do ambiente externos que são determinantes

nessa aprendizagem como repetição ou

modificação do comportamento. Watson

denomina sua teoria de Ambientalista

(TOVAR e ROSA, 1990).

Outro psicólogo que também se

destaca na Teoria Comportamentalista é

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990),

também norte-americano e mencionado

como o criador do Condicionamento

Operante, mas que ficaram conhecidas como

Behaviorismo Radical. Seu destaque entre os

behavioristas está nas pesquisas que mais

contribuíram na teoria comportamental

voltadas para a Educação. Práxis escolar e

aprendizagem compuseram o foco dos seus

estudos.

Observando elementos até então desprezados pelo comportamentalismo, Skinner não deu uma abertura à introspecção, mas admitiu o estudo de pensamentos e sentimento, desde que estes sejam abordados por

intermédio de manifestações exteriores. Skinner usou também, os procedimentos de recompensas [...], sugerindo que a aprendizagem do homem se faz a partir de sucessivos processos de condicionamento que modelam a ação do homem (LÉDA, 2008, p. 136-137).

O pensamento skinneriano vincula a

aprendizagem à modificação do

desempenho. Para Skiner faz-se necessária

à repetição constante do condicionamento

para reforçar as respostas (aprendizagem)

pretendidas (MOREIRA, 2011). Para

Skinner (1973, p. 35), “se a ocorrência de

um comportamento operante é seguida pela

apresentação de um estímulo (reforçador), a

probabilidade de reforçamento é

aumentada”. A recompensa é uma ação

externa, ou seja, de quem opera o

condicionamento. Para ele, motivação,

retenção e transferência, três aspectos que

formam a aprendizagem, são acionados

através do comportamento operante que é a

repetição.

Todas as professoras mudam de

opinião quando se trata do emprego de

jogos aplicados para o ensino de variados

conteúdos. Elas avaliam que competindo ou

jogando em grupos, os alunos aprendem

com mais facilidade. O uso de pesquisa por

parte do aluno, após a explicação de um

assunto, de acordo com a maioria das

professoras ouvidas, contribui com o

processo de aprendizagem. Neste ponto, as

professoras concordam com a teoria da

Page 10: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

15

aprendizagem de Vygotsky que o aluno

aprende a partir de sua elação com o meio.

As participantes pontuaram com 5

quando se perguntou se quando há outras

formas de ilustrações, como filme, desenhos,

fotos, gravuras ou mesmo passeios, se os

estudantes demonstram aprender melhor, o

que reforça, na prática, a teoria da

aprendizagem de Vygotsky.

Vygotsky difere de Piaget ao apontar

que a partir da interiorização os signos (o

que ele define como regulação interna) e dos

instrumentos (definida como regulação

externa), ocorre o desenvolvimento humano,

ou seja, o sujeito tem contato com os objetos

externos para conhecer as coisas e

incrementar sua inteligência e a consciência

se constrói culturalmente. Tendo por base de

suas pesquisas a dialética marxista,

Vygotsky inclui o conceito de mediação na

interação homem-ambiente (VYGOTSKY,

1994).

[...] o sujeito produtor de conhecimento não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem (REGO, 2002, p. 98).

Esse processo de reconstrução do

pensamento é definido por Vygotsky (1994)

como o conceito de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZPD), que pode

ser entendido como o nível de

desenvolvimento que a criança tem quando

começa a aprender, mas ainda precisa de

ajuda para fazer determinada atividade até o

momento em que ela aprende a fazer

sozinha. Nesse sentindo, é a relação da

pessoa com sua cultura que promove a

aprendizagem, ou seja, o desenvolvimento

da inteligência se dá de forma dialética.

A teoria da aprendizagem significativa

parece ser bem aceita por todas as

respondentes, pois assinaram com

pontuação máxima que o aluno aprende

com maior facilidade quando o conteúdo tem

alguma relação com o seu dia a dia.

A teoria da Aprendizagem

Significativa de Ausubel tem por princípio

fundamental o “armazenamento de

informações” através de uma organização

hierárquica dos conceitos na mente,

denominada “estrutura cognitiva” (MOREIRA

e MASINI, 1982 apud DISTLER, 2015, grifos

da autora), num processo sistematizado de

informações, mas que é dinâmico e contínuo

pela absorção de novas informações,

formando assim, os aspectos cognitivos do

seu humano.

Ausubel vê o armazenamento de informações no cérebro humano como sendo altamente organizado, formando uma hierarquia conceitual, na qual elementos mais específicos de conhecimento são ligados (e assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos (MOREIRA, 1999, p. 276).

Page 11: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

16

Ausubel ao afirmar que a

aprendizagem é sistematizada e com ênfase

na mente, explica sobre o processo de

interação das informações já conhecidas.

Para ele, a estrutura cognitiva dar-se pelos

conceitos organizados em ordem no cérebro

de maneira hierarquizada com conexões de

conceitos específicos com os gerais. A

aprendizagem significativa ocorre quando

uma informação nova adentra nessa

estrutura cognitiva, possuidora dos

conhecimentos já armazenados, e passam a

interagir. Este fenômeno de interação,

Ausubel denomina-o de subsunçores

(MOREIRA, 1999).

Segundo Moreira (1999) é pela

compreensão dos subsunçores que Ausebel

explica quando há aprendizagem

significativa ou quando ocorre a

aprendizagem mecânica no aluno. Por

compreender a estrutura cognitiva como

conceitos extremamente hierarquizados com

conexões entre conceitos específicos com

os gerais, a aprendizagem significativa

ocorre quando há interação das novas

informações com a estrutura cognitiva.

Quando não há a dinâmica interativa, ou se

há de forma insatisfatória, o aprendizado

tornou-se mecânico, sem significado.

Considerando a pontuação, todas

com nota máxima, obtida para o

questionamento se os alunos aprendem

melhor quando desenvolvem atividades em

grupo ou mesmo individualmente, mesmo

sob a observação da professora, mas

respeitando o ritmo/tempo deles, percebe-se

que a teoria humanista de Rogers tem

fundamento a partir da prática pedagógica

das professoras.

Moreira (2011) ao analisar a teoria

Humanista proposta por Rogers aponta para

uma análise holística do ser humano e

observa a importância em compreender o

afeto no desenvolvimento comportamental e

cognitivo. Dessa forma, os sentimentos e as

emoções passam a ser integrantes no

processo de ensino-aprendizagem.

Na pedagogia humanista Rogeriana, o

estudante é apresentado como uma pessoa

em construção, livre em suas escolhas,

porém responsável por elas. É nessa

liberdade de escolha que o processo ensino e

aprendizagem se consolida sendo o

educando o sujeito ativo e o professor, o

facilitador para as escolhas (MOREIRA,

2011).

Novamente é possível perceber a

força da teoria rogeriana ao considerar que

as professoras concordam que quando é

combinado com a turma como eles querem

trabalhar determinados conteúdos, seja com

pesquisa extraclasse ou apresentação de

trabalhos ou outra modalidade, os alunos

aprendam com maior facilidade.

O respeito e a autoconfiante que o

educador precisa ter de si são fatores

necessários para estimular o educando a

aprender e consequentemente, este aluno

Page 12: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

17

se autorealiza (MOREIRA, 2011). Dessa

forma, o processo de ensino aprendizagem

rompe com autoritarismos e outras formas

de poder que possam ocorrer dentro do

espaço escolar, ficando o processo

educativo como uma atividade cotidiana

onde o sujeito é protagonista nas ações de

aquisição do conhecimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da pesquisa de campo foi

possível constatar que há professores que

desconhecem os principais aspectos das

teorias da aprendizagem e, mesmo assim,

trabalham em sintonia com alguma linha

teórica. Também ficou comprovado que, há

professores que não estudaram em

profundidade algumas das teorias da

aprendizagem, mas conhecem os princípios

de algumas delas e, há professores que

conhecem os princípios de algumas teorias

da aprendizagem, mas desconhecem quem

são os teóricos que as formularam.

Desta forma, a pesquisa comprova as

hipóteses levantadas e foi respondido o

problema formulado: os professores, em sua

prática pedagógica, consideram os princípios

das teorias da aprendizagem, se não todas,

mas algumas delas, sendo a teoria

sociocognitiva de Vygotsky, a humanista de

Rogers e a teoria da aprendizagem

significativa de Ausubel, as mais

empregadas.

Todos os objetivos propostos foram

alcançados, pois o estudo apresentou de

forma sintetizada, os principais aspectos das

teorias da aprendizagem, assim como

relacionou os teóricos de cada corrente

apresentada. Também constatou-se que os

professores consideram os princípios das

teorias durante sua prática pedagógica e

todas as respondentes já estudaram algo

relacionado à teoria da aprendizagem

embora nem todas conseguiram identificar

os teóricos e as respectivas correntes que

defendem.

REFERÊNCIAS DISTLER, Rafaela Regina. Contribuições de David Ausubel para a intervenção psicopedagógica. Rev. Psicopedagogia, São Paulo, 2015. v. 32, n. 98, p. 191-199. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. 174p. LÉDA, Denise Bessa. Universidade nova/plano de reestruturação e expansão das universidades federais: mais uma dose da reforma universitária? Anais da 30ª Reunião anual Anped. Caxambu, 2008. Disponível em <http://www.anped11.uerj.br/30/GT11-2936--Int.pdf>. Acesso em 18 jul. 2019. MARCONI, Marina de Andrad; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2011. MATOS, Maria Amélia. O behaviorismo metodológico e suas relações com o mentalismo e o behaviorismo radical. In:

Page 13: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE AS TEORIAS DA€¦ · As teorias da aprendizagem norteiam os trabalhos pedagógicos em sala de aula embora, na maioria das vezes, o professor não

18

Bernard Rangé (Org.). Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática, aplicações e problemas. Campinas, Editorial Psy, 1995. 371p. MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora da UnB, 1999. 129p. MOREIRA, M. A. Teorias da aprendizagem. 2 ed. São Paulo: EPU, 2011. 496p. OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J H. Teorias da Aprendizagem. Porto Alegre: Evangraf, UFRS, 2011. 58p. REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. 140p. SKINNER, B. F. O mito da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1973. 168p. TEIXEIRA, E. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007. 185p. TOVAR, S. M.; ROSA, M. B. S. S. (Org). Psicologia da aprendizagem. Rio de Janeiro: Agua-Forte, 1990. 160p. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 224p.