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79 OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011. A PERSPECTIVA ETNOGRÁFICA NA IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ELEMENTOS COTIDIANOS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA Ana Paula Aparecida Ferreira Alves Doutoranda em Geografia - UFPR [email protected] Tanize Tomasi Mestranda em Geografia - UEPG [email protected] Cicilian Luiza Löwen Sahr Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia UEPG e UFPR Doutora em Geografia pela Universidade de Tübingen (Alemanha) [email protected] Resumo Através da Etnociência, procurou-se avaliar a partir das práticas rotineiras, como uma comunidade quilombola caracteriza - a partir de seu próprio conhecimento - os ambientes naturais que vivencia. Para isto, no período de dois meses alternados, houve plena imersão em uma comunidade localizada no Vale do Ribeira sul de São Paulo e leste do Paraná. Numa perspectiva etnográfica, etnopedológica, etnobotânica e etnofaunística, foi possível compreender a identificação e caracterização de elementos que compõe os ambientes vivenciados pela comunidade, evidenciando a forte integração desta com a natureza. Observou-se, nas práticas rotineiras, uma aplicação destes conhecimentos, o que configuram oportunidades de adaptação, sobrevivência e sustentabilidade. Palavras-chave: Etnociência. Quilombola. Sustentabilidade. ETHNOGRAPHIC PERSPECTIVE ON THE IDENTIFICATION AND CHARACTERIZATION OF ELEMENTS OF A QUILOMBOLACOMMUNITY Abstract Through Ethnoscience, we have sought to evaluate - from the routine practices of a Quilombola community - how this particular group see - from his own knowledge - the natural environments that itself experiences. For this, in the period of one month, there was a full immersion in a Quilombola community located in the Ribeira Valley - south of São Paulo and north of Paraná. In ethnographic, Ethnopedology, ethnobotany and Ethnofaunistic perspectives, we had the possibility to understand the identification and characterization of factors that make the environments experienced by the community, highlighting its strong integration with nature. We observed, in the daily practices, the application of such knowledge, which constitutes opportunities for their adaptation, survival and sustainability. Keyword: Ethnoscience. Quilombola. Sustainability.

A PERSPECTIVA ETNOGRÁFICA NA IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ELEMENTOS COTIDIANOS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA

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Através da Etnociência, procurou-se avaliar a partir das práticas rotineiras, como uma comunidade quilombola caracteriza - a partir de seu próprio conhecimento - os ambientes naturais que vivencia. Para isto, no período de dois meses alternados, houve plena imersão em uma comunidade localizada no Vale do Ribeira – sul de São Paulo e leste do Paraná. Numa perspectiva etnográfica, etnopedológica, etnobotânica e etnofaunística, foi possível compreender a identificação e caracterização de elementos que compõe os ambientes vivenciados pela comunidade, evidenciando a forte integração desta com a natureza. Observou-se, nas práticas rotineiras, uma aplicação destes conhecimentos, o que configuram oportunidades de adaptação, sobrevivência e sustentabilidade.

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    A PERSPECTIVA ETNOGRFICA

    NA IDENTIFICAO E CARACTERIZAO DE ELEMENTOS

    COTIDIANOS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA

    Ana Paula Aparecida Ferreira Alves

    Doutoranda em Geografia - UFPR

    [email protected]

    Tanize Tomasi

    Mestranda em Geografia - UEPG

    [email protected]

    Cicilian Luiza Lwen Sahr

    Professora do Programa de Ps-Graduao em Geografia UEPG e UFPR Doutora em Geografia pela Universidade de Tbingen (Alemanha)

    [email protected]

    Resumo

    Atravs da Etnocincia, procurou-se avaliar a partir das prticas rotineiras, como uma

    comunidade quilombola caracteriza - a partir de seu prprio conhecimento - os ambientes

    naturais que vivencia. Para isto, no perodo de dois meses alternados, houve plena imerso em

    uma comunidade localizada no Vale do Ribeira sul de So Paulo e leste do Paran. Numa perspectiva etnogrfica, etnopedolgica, etnobotnica e etnofaunstica, foi possvel

    compreender a identificao e caracterizao de elementos que compe os ambientes

    vivenciados pela comunidade, evidenciando a forte integrao desta com a natureza.

    Observou-se, nas prticas rotineiras, uma aplicao destes conhecimentos, o que configuram

    oportunidades de adaptao, sobrevivncia e sustentabilidade.

    Palavras-chave: Etnocincia. Quilombola. Sustentabilidade.

    ETHNOGRAPHIC PERSPECTIVE

    ON THE IDENTIFICATION AND CHARACTERIZATION

    OF ELEMENTS OF A QUILOMBOLACOMMUNITY

    Abstract

    Through Ethnoscience, we have sought to evaluate - from the routine practices of a

    Quilombola community - how this particular group see - from his own knowledge - the

    natural environments that itself experiences. For this, in the period of one month, there was a

    full immersion in a Quilombola community located in the Ribeira Valley - south of So Paulo

    and north of Paran. In ethnographic, Ethnopedology, ethnobotany and Ethnofaunistic

    perspectives, we had the possibility to understand the identification and characterization of

    factors that make the environments experienced by the community, highlighting its strong

    integration with nature. We observed, in the daily practices, the application of such

    knowledge, which constitutes opportunities for their adaptation, survival and sustainability.

    Keyword: Ethnoscience. Quilombola. Sustainability.

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    Introduo

    Reconhecendo a atual ordem mundial no mbito ecolgico, muitas cincias rediscutem

    o conceito de sustentabilidade, procurando encontrar respostas e solues para a relao

    desproporcional entre meio ambiente e produo, onde as fontes de recursos so esgotveis e

    os usos e manejos prejudiciais natureza. Tanto as cincias sociais quanto as cincias naturais

    redefinem, interdisciplinarmente, as questes que pautam esta discusso. Dentre as mais

    suscitadas est a relao construda pela sociedade ocidental entre desenvolvimento

    sustentvel e populaes tradicionais. Esta idia parte do pressuposto simblico auferido

    aos grupos e povos que preservam suas relaes identitrias, sociais e culturais,

    fundamentadas no profundo conhecimento dos ecossistemas mantendo, atravs destes

    conhecimentos, prticas e aes imprescindveis para sobrevivncia e que so vistas como

    alternativas no plano de sustentabilidade debatido.

    As populaes tradicionais so consideradas no contexto poltico atual, como grupos

    culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas prprias de

    organizao social, ocupando e usando territrios e recursos naturais como condio para sua

    reproduo cultural, social, religiosa, ancestral e econmica, utilizando para tanto,

    conhecimentos, inovaes e prticas gerados e transmitidos pela tradio. (BRASIL, 2007).

    Estas populaes tradicionais, antes depreciadas sob a justificativa do novo modelo de

    desenvolvimento econmico surgido a partir de 1964, atualmente so alvos da percepo

    social sobre o que podem representar perante o novo contexto da poltica agrria no Brasil.

    Novas polticas pblicas emergem com a inteno do fortalecimento da agricultura familiar e

    valorizao dos grupos especficos como indgenas, quilombolas, faxinalenses, caiaras, entre

    outros.

    Para o segmento quilombola adotam-se os pressupostos baseados na ressignificao

    conceitual do mesmo, como uma forma de dissolver a ideia conceitual de que os quilombos

    so apenas organizaes de escravos fugidos que se formaram durante o perodo que vigorou

    o sistema escravista no pas. Esta ressignificao conceitual vem reformulando o modo de

    olhar para essas comunidades de acordo com suas formas atuais de manifestaes. Neste

    contexto, Arruti (2006) ressalta trs paradigmas: reminiscncia; uso comum da terra e

    etnicidade.

    Os trs paradigmas propostos por Arruti (2006) representam pontos de fuga, ou seja,

    uma estratgia de no capturar rtulos em um rol fixo de caractersticas de forma a no

    referenciar os quilombos a um determinado esteretipo culturalista ou historicista, de como

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    deveriam ser, o que excluiria a maioria dos casos concretos. Assim sendo, deixa-se de lado as

    reminiscncias dos antigos quilombos, como restos de senzalas, monjolos e documentos, e

    passam-se a dar nfase as prprias comunidades, sobretudo, as suas organizaes sociais.

    Destaca-se ainda, a capacidade de mobilizao, de negar um estigma e de reivindicar seus

    direitos.

    Contudo, o conceito est associado ideia de uma afirmao de identidade

    quilombola, que emana da autoatribuio dessas populaes e foge, desta forma, de um

    naturalismo (raa) ou de um historicismo (quilombos histricos). Isso possibilita, na

    atualidade, novos reenquadramentos das investigaes cientficas sobre tal grupo, tendo como

    base uma identidade que no definida como racial, mas como tnica, independente da cor da

    pele e origem africana.

    Portanto, esta proposta de abordagem tnica das comunidades quilombolas apresenta-

    se como uma alternativa de v-las enquanto (...) grupos que desenvolveram prticas de

    resistncia na manuteno e reproduo de seus modos de vida caractersticos num

    determinado lugar, cuja identidade se define por uma referncia histrica comum,

    construda a partir de vivncias e valores partilhados (ABA, 1994, sem p.). Assim, o critrio

    de autodefinio possibilita a comunidade decidir sobre sua sorte, pois (...) os critrios de

    pertencimento de seus membros so decididos coletivamente e indicam a filiao ou a

    excluso daqueles que so ou no quilombolas. (LWEN SAHR et al., 2010, p. 12).

    Essa forma conceitual de abordar os quilombos nos permite analisar o fenmeno a

    partir de sua manifestao local, definindo-o a partir dos dados da experincia, numa

    definio emprica implcita, no enumerando elementos caractersticos para definir o

    fenmeno, numa definio descritiva explcita.

    Logo, a emerso desses novos sujeitos polticos no cenrio nacional resultou na

    criao de polticas pblicas especficas, dentre elas as destinadas agricultura de subsistncia

    praticada pelos povos tradicionais, como os quilombolas. Trata-se de uma tentativa estratgica

    de estabilizao econmica paralela a discusso do desenvolvimento rural sustentvel.

    Contraditoriamente ao modelo agrcola implantado no Brasil, baseado no latifndio e

    no agronegcio, os povos tradicionais mantm suas atividades produtivas em consonncia

    com seu modo de vida e tradio. Desta forma, resistem opresso dos agentes externos

    como fazendeiros, grileiros e empreendedores de diversos ramos, tornando-se atores ativos no

    processo conflituoso deste grande palco de interesse comum: o territrio. Tendo em vista o

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    contraste entre o modelo global e as diferenas locais de um determinado espao, as relaes

    existentes deste cenrio configuram uma dualidade presente em todo o territrio nacional.

    Com base nas consideraes expostas, o objetivo deste artigo tecer uma reflexo

    sobre a concepo do modelo de desenvolvimento etnosustentado para quilombos. Tais

    reflexes se estabelecem a partir do exemplo da Comunidade Rural Quilombola de So Joo,

    localizada no Vale do Ribeira - sul de So Paulo e leste do Paran. Esta comunidade, de difcil

    acesso, vivencia um ambiente com praticamente nenhuma infraestrutura. Esse isolamento

    espacial proporciona a afirmao de soberania e autorreconhecimento do grupo. Para Frana

    (2008, s.p.), tal isolamento fez com que desenvolvessem [nos quilombos] um estilo de vida

    peculiar, adaptada aos recursos ambientais existentes.

    Grounded Theory, Hermenutica Objetiva e Descrio Densa como mtodos de

    investigao

    Para a realizao desta investigao, permaneceu-se em imerso na comunidade

    durante dois meses alternados. A primeira imerso se deu em maro de 2009 perfazendo um

    total de vinte e cinco dias em campo, perodo necessrio ao levantamento dos dados primrios

    para subsidiar a elaborao do estudo. A segunda imerso ocorreu em julho do mesmo ano,

    correspondendo h quinze dias, os quais foram necessrios para o aprofundamento de

    questes julgadas como pendentes.

    A metodologia utilizada durante estas fases de imerses na comunidade fundamentou-

    se, sobretudo, num processo dialgico entre a comunidade e as pesquisadoras. Buscou-se,

    conjuntamente, sistematizar as informaes das prticas cotidianas de identificao e

    caracterizao prpria dos quilombolas. Diariamente, todas as atividades e informaes

    coletadas eram sistematizadas individualmente por cada autor do presente trabalho em Dirio

    de Campo.

    As ideias da Grounded Theory de Anselm L. Strauss, da Hermenutica Objetiva

    de Ulrich vermann e da Descrio Densa de Clifford Geertz foram os mtodos e tcnicas

    qualitativas adotadas para o desenvolvimento deste trabalho.

    A Grouded Theory, distinguida como Teoria Fundamentada nos Dados

    (MAYRING, 2002), tem sua importncia pelo carter indutivo, construda gradativamente,

    permitindo a construo de conceitos (cdigos e construtos) durante o levantamento de dados.

    Desta forma o levantamento e a anlise de dados ocorrem simultaneamente:

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    No decorrer do levantamento de dados cristaliza-se um referencial terico,

    que estar sendo modificado e complementado passo a passo. Quando este

    satisfaz em termos de clareza e capacidade de afirmao, interrompe-se o levantamento de dados, j que o essencial do trabalho de anlise ter sido

    feito. (LWEN SAHR et al., 2010, p. 44-45).

    J a Hermenutica Objetiva de Ulrich vermann (1979) adotada como um dos

    mtodos de interpretao de textos, o que permite por meio da anlise textual a reconstruo

    lgica de acontecimentos, levando o objeto estudado a se expressar, de forma reconstrutiva na

    formao de conceitos. Para vermann, preciso buscar na particularidade do objeto

    estudado uma compreenso esclarecida e crtica da realidade social, do conjunto.

    Clifford Geertz (1973) preocupou-se com o fazer etnogrfico, apontando para alm de

    uma simples descrio superficial, onde prevalece a tcnica. A descrio densa leva em

    considerao as diversas estruturas conceituais e significativas que moldam as aes

    humanas. Assim, o que interessa no apenas a interpretao ou explicao de fatos isolados,

    mas dos conjuntos que se constroem.

    As estratgias de investigao foram embasadas na observao das prticas sociais

    cotidianas do grupo, para tentar captar os elementos individuais e coletivos de conhecimento

    sobre o ambiente natural no qual esto inseridos. Tais estratgias foram aliceradas por

    incluses de aproximao participativa com os moradores, ou seja, no acompanhamento e

    auxlio na realizao de prticas cotidianas, isto com a preocupao em observar o ambiente e

    participar dos eventos sociais que ali se desenrolaram. Alm disso, foram utilizadas

    entrevistas formais e informais, tanto individuais como em grupo, captura visual e

    audiovisual, alm de registro em dirio de campo. O material textual foi utilizado na

    interpretao hermenutica.

    A Etnocincia na reconstruo do ambiente natural de um quilombo

    A Etnocincia, campo interdisciplinar surgido na Antropologia na dcada de 1950, se

    baseia no estudo de diversas formas do conhecimento humano. Atravs dela, possvel

    avaliar, a partir das prticas rotineiras, como uma comunidade quilombola caracteriza - a

    partir de seu prprio conhecimento - os ambientes naturais que vivencia e de que forma as

    atividades de produo agropecuria se articulam (influenciam e/ou so influenciadas) s

    caractersticas do meio ambiente.

    Para Sturtevant (1964) a Etnocincia abarca uma interdisciplinaridade no estudo das

    mais diversas formas do conhecimento humano sobre o ambiente em que determinado grupo

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    se insere. Seu prefixo etno se refere ao sistema de conhecimento e cognio tpicos de uma

    dada cultura.

    O trabalho etnocientfico realizado a partir de dois padres distintos de estudo e

    avaliao da realidade, bem como da comparao entre eles: a) o mico, que se baseia na

    viso do grupo como agente promotor do fato, portanto, que o vivencia; b) o tico, que parte

    de um valor cultural predefinido pelo observador, portanto, de quem interpreta o fato (ROZO,

    2006 s.p.). Com base nesta abordagem, procurou-se avaliar o sistema de conhecimento e

    cognio de uma comunidade quilombola sobre os ambientes naturais que vivencia,

    contrapondo-os com a viso de observador externo, ou seja, a das pesquisadoras.

    Para Souza e Sanchez (2008), os quilombolas, faxinalenses, caiaras, entre outros,

    podem ser considerados comunidades tradicionais diferenciadas pela estrutura social e o

    modo de organizao territorial. Os povos tradicionais possuem um vasto conhecimento sobre

    o espao que ocupam alm de uma rica cultura, adquirida ao longo de vrias geraes. Tais

    conhecimentos so de extrema importncia para as diversas reas da cincia. Esses povos

    possuem um profundo e complexo conhecimento sobre a natureza, verificado na forma pela

    qual pensam, classificam e utilizam seus recursos.

    Como uma das principais caractersticas da metodologia adotada valorizar a tica do

    sujeito pesquisado, torna-se relevante mostrar como os quilombolas vivenciam e distinguem

    seu ambiente. Uma das formas que possibilitou perceber como isto ocorre, foi a partir da

    perspectiva etnogrfica. Analisa-se a seguir elementos do conhecimento da comunidade

    estudada com relao ao ambiente natural que vivencia: relevo, solos, animais e plantas.

    O relevo e a hidrografia numa perspectiva etnogrfica

    A nica estrada de acesso entrada da comunidade no asfaltada. Nesta entrada

    existe uma guarita construda pelos moradores. Esta guarita serve de abrigo para a espera do

    transporte escolar. Ao lado desta, situa-se a porteira das terras de um dos fazendeiros do

    entorno que cria bfalos. H cem metros dela encontrava-se at pouco tempo uma ponte

    pnsil bastante desgastada que servia como principal via de travessia de um lado ao outro do

    rio Pardo. Este rio representa a divisa entre os estados de So Paulo e Paran. Atualmente,

    com a queda da ponte devido s intensas chuvas, a nica forma de travessia atravs de

    canoas. Na margem paranaense inicia-se a trilha de acesso a comunidade, aberta na mata

    pelos prprios moradores. Deste ponto at a primeira casa so percorridos aproximadamente

    quatro quilmetros em um relevo bastante acidentado com trechos em meio mata fechada e

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    campos abertos pelos quais se avistam as grandes serras que ladeiam a comunidade (Fotos 1 e

    2). Pelo caminho possvel observar a diversificada vegetao, os crregos e o rio So Joo

    que d nome localidade.

    Fotos 01 e 02 - Aspectos do relevo da Comunidade Quilombola de So Joo. Autor: ALVES, et al,

    2011.

    Esta paisagem se estende por todas as trilhas e caminhos do territrio quilombola. As

    habitaes se localizam dispersas. Para se chegar as mais distantes em que necessrio

    percorrer at dez quilmetros. Estes pontos so denominados pelos moradores de serto.

    comum ouvi-los falar, por exemplo: hoje o fulano foi pro serto, ou tal pessoa mora l

    mais pro serto. Nesta expresso j se percebe uma identificao destes com um ambiente

    rural distante.

    A comunidade quilombola de So Joo ocupa uma rea bastante dobrada, que abrange

    parte de trs sub-bacias da margem esquerda da bacia hidrogrfica do Rio Pardo, que mantm

    ainda bastante preservada a Mata Atlntica.

    Observa-se que os moradores estabelecem pontos de referncia do relevo para fins de

    localizao, relacionando-os com os crregos e serras que recebem denominaes ligadas a

    elementos da prpria comunidade. Alguns deles so: Crrego da Bica, Serra do Querosene,

    Morro do Cruzeiro e Ilha dos Cedros. Tambm distinguem subunidades baseados nas sub-

    bacias hidrogrficas. Desta forma, as terras do rio Pardo, as terras do rio So Joo, as terras do

    crrego Feital Grande/Crrego Comprido e as terras do rio dos Veados representam 04

    subunidades do relevo (Figura 01).

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    Figura 01 Relevo e hidrografia Comunidade Quilombola de So Joo. Autor: ALVES, et al, 2011.

    Conforme os moradores, o nome dos crregos e das guas que cortam as terras

    historicamente ocupadas pela comunidade de So Joo, bem como das comunidades vizinhas,

    so atribudos em funo de:

    Certo indivduo ou famlia viver prximo dali, como por exemplo, a gua do

    Francisquinho que irmo de um morador prximo dali.

    Ficar prximo a algum elemento da natureza como rvores, como o caso do

    Crrego da Jabuticabeira, ou

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    Por motivos especficos do local como o Crrego da Escadinha, por ter

    desnveis em seu curso.

    Ainda outras nomenclaturas so atribudas, mas os moradores j no sabem precisar

    por qual motivo so denominados de uma forma ou de outra, mas para a maioria deles,

    possvel achar uma histria que justifique sua denominao. O mesmo tambm ocorre com as

    nomenclaturas dos elementos referenciais do relevo.

    Os moradores adotam elementos referenciais prprios, que se baseia na estrutura

    organizacional vivenciada por eles e que tem como ponto inicial de referncia o sentido

    Nordeste - Sudoeste e no Norte como convencional.

    Esta observao aparece descrita no seguinte trecho:

    Os elementos referenciais do relevo so utilizados pelos moradores para se

    referir a suas prticas rotineiras e classificaes variadas do territrio. Esta

    uma das maneiras de organizar o conhecimento sobre o territrio por eles ocupado. A denominao dos locais representa uma maneira que a

    comunidade tem de identificar e classificar o ambiente, que passa a ser

    tambm uma maneira de autoidentificao e autodefinio da prpria

    comunidade enquanto grupo social particular. Assim, na mesma medida em que produz conhecimento sobre a natureza, a comunidade de So Joo forja

    de maneira inconsciente, como todos os outros grupos sociais, sua identidade

    cultural e social. (LWEN SAHR et al., 2010, p.118).

    O conhecimento local do meio que habitam tambm observado nos caminhos e

    trilhas utilizados em suas prticas cotidianas de trnsito e para estabelecer contato com

    comunidades vizinhas ou com o mundo urbano. Esta rotina permite-lhes adquirir profundo

    conhecimento deste ambiente, sendo ordenado e classificado pelos moradores por meio de

    uma linguagem prpria que por eles compartilhada.

    A Etnopedologia na classificao dos solos

    A importncia do espao fsico e cultural para as populaes tradicionais propicia o

    desenvolvimento de tcnicas especficas de uso e manejo dos solos, que buscam o mximo

    aproveitamento destes enquanto recursos naturais.

    A Etnopedologia uma cincia hbrida que segue a estruturao de diversas outras

    cincias sociais e naturais, principalmente aquelas relacionadas cincia do solo, como o

    levantamento pedolgico, a geografia rural, a agronomia e a agroecologia, alm da

    antropologia social. Segundo Alves e Marques (2005), Etnopedologia o conjunto de estudos

    interdisciplinares dedicados ao entendimento das interfaces existentes entre os solos, a espcie

    humana e os outros componentes dos ecossistemas.

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    A Etnopedologia, segundo Gomes (2008), est relacionada no somente aos

    conhecimentos que o produtor tem acerca dos solos, mas tambm dos recursos naturais

    diretamente ligados a estes, levando em considerao as demais informaes sobre a natureza

    e os valores da cultura e da tradio local.

    O quilombo em estudo tem na Mata Atlntica sua principal fonte de recursos, nesta

    relao ntima e cotidiana entre comunidade e ambiente que muitos saberes culturais locais

    foram e so desenvolvidos, sem quaisquer recursos tecnolgicos ou assistncias

    profissionalizantes. Os quilombolas desta comunidade tm seu conhecimento pedolgico

    associado as suas prticas agrcolas vinculadas a uma agricultura de subsistncia destinada a

    determinados cultivos, como feijo, arroz, milho, batata doce e mandioca.

    Os espaos cultivveis so escolhidos segundo a melhor fertilidade do solo, observada

    pelos tipos florsticos presentes em determinados lugares da mata. Um dos exemplos citados

    por um quilombola da comunidade a presena do cip milhome na rea, classificando-a

    com um solo de primeira qualidade.

    Atravs da Etnopedologia foi possvel identificar uma classificao peculiar das

    terras do quilombo:

    a) Solos classificados como manchas de barro, que podem apresentar-se em 05

    cores diferenciadas: marrom, amarelo, branco, vermelho e rosa. (Fotos 03 a 07). Estes so

    utilizados na construo de suas casas de pau-a-pique, proporcionando uma diversificao de

    cores a estas.

    b) Solos com presena de pedras e pedregulhos aflorando, classificados, em

    geral, como terras ruins.

    c) Solos pisoteados pelo gado bovino dos fazendeiros, classificados como de

    difcil regenerao para uso agrcola (roa). Estes se localizam, sobretudo, nos espiges e

    encostas, necessitando de no mnimo um intervalo de oito anos de descanso para sua

    recuperao.

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    barro marrom barro amarelo

    barro vermelho barro rosa

    barro branco

    Fotos 03 a 07 - Tipologia de argila encontrada na Comunidade Quilombola de So Joo.

    Autor: ALVES et al, 2011.

  • A Perspectiva Etnogrfica na Identificao e Caracterizao de Elementos Cotidianos de uma Comunidade Quilombola

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    Assim, as prticas agrcolas so desenvolvidas em solos por eles classificados e

    julgados como de melhor qualidade e com caractersticas propcias para obter melhor

    desenvolvimento das plantas.

    O conhecimento dos aspectos fsico-naturais constitui a base para o aproveitamento

    dos recursos existente na comunidade. Nela ainda se desenvolvem tcnicas prprias de uso e

    manejo dos solos, mantendo pouco ou nenhum contato com os rgos oficiais responsveis

    pelas atividades rurais. Confirma-se assim, a afirmao de Gomes (2008, p. 20) de que h um

    conhecimento pedolgico local associado s prticas adotadas por essas comunidades.

    A Etnobotnica na reconstruo florstica

    A Etnobotnica compreende o estudo das plantas e vegetais que compem os

    ambientes biologicamente diversificados onde esto inseridas as sociedades humanas. Essas

    constroem um autoaprendizado com o manejo consciente dos recursos vegetais e apresentam

    uma forte interao com a vegetao, dispondo-a para uma finalidade utilitria. As tcnicas

    que desenvolvem com as plantas so utilizadas para diversos fins especficos, como a

    emprego dessas no uso culinrio, bem como na preveno, no tratamento e na cura de

    distrbios, disfunes ou doenas do homem e animais.

    As informaes da comunidade quilombola a respeito das plantas e ervas medicinais,

    tanto as plantadas como as encontradas junto mata, so conhecimentos j dominados por

    seus dos antepassados e que foram repassados de gerao em gerao. No passado este

    conhecimento era utilizado como a nica alternativa de combate as enfermidades. Com o

    tempo seus valores foram sendo adequados realidade, incorporando novos conhecimentos e

    novas prticas de uso.

    A comunidade quilombola de So Joo estabelece classes florsticas das plantas e

    ervas medicinais. Estas so classificadas de acordo com os locais encontrados. Tm-se as

    plantas da mata virgem (Quina Branca, Quina Amarelo, Jatob, Jambo), as da capoeira

    (Gavirova, Imbauva, Goiabeira) e as plantadas ao redor da casa (Confrim, Joo bolo,

    Losna, Alecrim, Abacateiro, Laranjeira), cada uma com um determinado uso.

    Esta relao da comunidade com a vegetao tem um valor de carter curativo e

    erudio local. Este saber apresenta-se em suas prticas sustentveis, onde h forte equilbrio

    com o meio ambiente. Uma das espcies utilizadas no passado para a prtica da pesca era o

    Tucum. Para as construes de pau-a-pique so utilizadas madeiras da mata virgem.

  • A Perspectiva Etnogrfica na Identificao e Caracterizao de Elementos Cotidianos de uma Comunidade Quilombola

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    Recentemente uma antiga prtica a de cestaria vem sendo resgatada pela

    comunidade. Os cestos produzidos, com diferentes tipos de cips e bambus, so utilizados,

    sobretudo, para o transporte da colheita. Tal prtica vem sendo vista com interesse pelos mais

    jovens, que a desenvolvem sem necessariamente pens-la como atividade econmica

    potencial. Nesse sentido, papel importante pode ser atribudo aos mais idosos no repasse de

    conhecimentos.

    Os Conhecimentos Etnofaunsticos

    Para Santos-Fita e Costa-Neto (2007, p. 101) a etnozoologia pode ser definida como o

    estudo transdisciplinar dos pensamentos e percepes (conhecimentos e crenas), dos

    sentimentos (representaes afetivas) e dos comportamentos (atitudes) que intermedeiam as

    relaes entre as populaes humanas que os possuem com as espcies de animais dos

    ecossistemas que as incluem.

    Santos-Fita e Costa-Neto (2007, p. 103) apontam que a percepo, identificao e

    classificao dos elementos faunsticos por parte de uma dada sociedade so influenciadas

    tanto pelo significado emotivo, quanto pelas atitudes culturalmente construdas direcionadas

    aos animais. O saber tradicional a respeito dos animais formado pelo conjunto de valores,

    conhecimentos e percepes envolventes na relao homem/natureza. Conhecimento este que

    vem sendo acumulado h muitas geraes pelo convvio direto com a mata e todos os seus

    componentes.

    O reconhecimento da fauna pelos quilombolas da comunidade em estudo feito a

    partir da classificao dos animais silvestres em: animais grandes de plos (Cachorro do mato,

    Veado, Cateto, Ona parda), aves (Tangar, Sara, Bonito-lindo, Ti preto), cobras (Jararaca,

    Cascavel, Jaracuu, Urutu), peixes (Taraira, Corimbat, Rabo-seco, Cadela), insetos

    (Borrachudo, Bariqui, Malacara, Carrapato), entre outros.

    o olhar das populaes tradicionais aos animais que faz com que eles adquiram

    maiores conhecimentos acerca desses e tenham uma convivncia mtua de utilizao do

    espao de acordo com suas necessidades bsicas de sobrevivncia, com usos racionais e

    trocas benficas com o meio. Isto proporciona geraes de vivencia sustentvel junto a esse

    ambiente. Uma jovem quilombola decora as paredes de seu quarto com desenhos de espcies

    da fauna local (Fotos 08 e 09).

  • A Perspectiva Etnogrfica na Identificao e Caracterizao de Elementos Cotidianos de uma Comunidade Quilombola

    Ana Paula Aparecida Ferreira Alves; Tanize Tomasi; Cicilian Luiza Lwen Sahr

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    Fotos 08 e 09 - Desenhos da fauna local elaborados por jovem da Comunidade Quilombola de So

    Joo. Autor: ALVES et al, 2011.

    Antigamente a prtica da pesca garantia a sobrevivncia da comunidade. Hoje, leis

    ambientais impedem tal prtica. A pesca de vara, entretanto, ainda praticada. Trata-se de

    uma atividade praticada basicamente pelas mulheres, sobretudo nos horrios que antecedem

    as refeies. Em determinadas pocas se utilizam armadilhas como o covo, construdo com

    cip e bambu.

    A Etnocincia na reconstruo da dinmica agropecuria de um Quilombo

    Conseqncia do contexto geral vivido pelos quilombolas da comunidade estudada, a

    produo agropecuria praticada nos moldes tradicionais, indissociveis em relao s

    caractersticas locais. Estas caractersticas compreendem os aspectos naturais elencados

    anteriormente e a situao de difcil acesso e impossibilidade no escoamento de mercadorias,

    produtos e criaes. Desta forma, no cotidiano desta comunidade mantm-se uma constante

    relao equitativa entre subsistncia e meio ambiente.

    Este tipo de relao existente no quilombo o que Posey (1997, p.348) chama de

    tica ambiental, desenvolvida pela vivncia em ecossistemas especficos e que segundo este

    autor, enfatizam os seguintes valores e caractersticas: a) cooperao; b) laos familiares e

    comunicao entre geraes, inclusive com ligao aos ancestrais; c) preocupao pelo bem-

    estar das geraes futuras; d) escala local, auto-suficincia e dependncia dos recursos

    naturais disponveis localmente; e) conteno da explorao de recursos e respeito natureza.

    A configurao do espao de produo do quilombo revela os conflitos hoje

    vivenciados em seu territrio historicamente ocupado. Existe uma intensa presso externa

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    sobre este territrio, sobretudo por fazendeiros pecuaristas, que cada vez mais invadem os

    espaos agrcolas desta populao expandindo suas criaes de gado nelore nas encostas e

    bfalos no vale. A essa populao resta uma estreita faixa, sobretudo s margens dos rios,

    onde se concentram suas atividades.

    A maioria dos povos tradicionais habita florestas ou reas prximas a estas e

    dependem largamente de alimentos e recursos provenientes da caa, da coleta ou da extrao

    (POSEY, 1997). Esta tambm a situao da Comunidade Quilombola de So Joo, a caa e

    a pesca, muitas vezes, a nica sada para se ter ocasionalmente a carne como refeio.

    Frutos da Floresta Atlntica, como a banana, o mamo, o ara e a goiaba so coletados e

    saboreados pelos moradores.

    A realidade agropecuria, todavia, apresenta uma dinmica. Analisamos a seguir: o

    perodo em que se distinguiam as terras de plantar e as terras de criar, o processo de

    integrao do sistema agrofloresta agricultura tradicional e as iniciativas para garantir a

    segurana alimentar do grupo.

    Distino entre Terras de Plantar e Terras de Criar

    No passado recente, at a dcada de 1970, o territrio desta comunidade quilombola

    era composto por trs grandes criadouros situados nas terras adjacentes dos trs rios que o

    cortam. Delimitando estas reas a comunidade mantinha uma cerca deitada, esta era

    construda e mantida em sistema de mutiro com galhos de rvores sobrepostos de forma

    horizontal que tinham aproximadamente um metro e vinte de altura. No seu interior moravam

    as pessoas e se criavam coletivamente porcos soltos de forma semelhante utilizada pelas

    comunidades faxinalenses que ocupam a rea da Mata com Araucria (LWEN SAHR,

    2008). Do outro lado da cerca, nas encostas e espiges, se praticava a roa de forma

    tradicional, com a coivara, e se plantavam cultivos de subsistncia, como o feijo para

    alimentao humana e milho para a alimentao animal. Nesta fase, o quilombo se inseria na

    economia regional, abastecendo com porcos as charqueadas.

    Atualmente, apenas um morador mantm um cercado com alguns porcos, numa

    tentativa de manter viva uma tradio que foi se perdendo. Segundo ele, na fase dos

    criadouros coletivos, chegou a ter mais de sessenta animais seus nas terras de criar da

    comunidade. As criaes na comunidade se reduzem hoje apenas as galinhas, cavalos e

    jegues. As galinhas, todavia, no resistem s altas temperaturas do perodo de vero. Os

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    poucos cavalos e jegues existentes na comunidade so utilizados, sobretudo, para o transporte

    e para o trabalho.

    Em contraste com esta pequena pecuria no espao quilombola, utilizada apenas para

    a subsistncia, na produo agrcola e deslocamento, no entorno, grandes propriedades

    pertencentes aos fazendeiros exibem grandes quantidade de bovinos e bufalinos. Estes

    animais, via de regra, invadem as poucas terras que restam aos quilombolas, danificando seus

    solos, roas e causando riscos populao. Segundo alguns moradores, os fazendeiros

    utilizam suas criaes na tentativa de amedrontar ou causar represlias aos quilombolas.

    A dinmica no uso da terra: da agricultura tradicional agrofloresta

    A forma de organizao social e de produo, baseada nas tcnicas e critrios adotados

    pelos mais antigos, a qual preserva os conhecimentos adquiridos, possibilita ainda nos dias

    atuais a subsistncia do grupo. As famlias possuem pequenas lavouras ou pequenos

    roados onde so produzidos os alimentos para o sustento da famlia e das poucas criaes.

    Na rea que compreende o territrio quilombola vivem dezoito famlias, entre

    quilombolas e no quilombolas (assentados). Estas famlias tm no cultivo do solo o acesso

    aos produtos que compe a base alimentar. A produo segue as formas tradicionais de

    manejo do solo, inexistindo a utilizao de insumos e maquinrio agrcola. A escolha das

    terras para plantar segue a classificao das terras (solos) apresentada anteriormente.

    Aquelas consideradas boas so as localizadas nos vales sob a sombra da vegetao alta

    raleada. As famlias cultivam apenas nas encostas do vale em que vivem ou em vales mais

    distantes.

    A base alimentar consiste nos cultivos de mandioca, arroz, feijo, batata-doce, milho,

    amendoim e car e seguem o regime de chuvas, que determina as melhores pocas para

    plantio e colheita destes produtos. Conforme os moradores, esta condio segue um ciclo

    anual representada no Quadro 01.

    Alimentos Tempo da Plantao Tempo da colheita

    Feijo Agosto a setembro 03 a 04 meses

    Feijo da seca Fevereiro a maro 03 meses

    Milho Agosto a dezembro 03 meses

    Mandioca Agosto a outubro 01 ano

    Arroz Agosto a janeiro 03 meses

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    Banana Agosto a dezembro 01 ano

    Batata Doce Agosto a dezembro 06 meses

    Amendoim Agosto a outubro 05 meses

    Car Agosto a outubro 01 ano

    Quadro 01 Calendrio agrcola da comunidade quilombola. Fonte: Quilombolas, mar. 2009. Org.: ALVES et al, 2011.

    Todavia, uma nova forma de prtica agrcola vem sendo implantada nesta

    comunidade. Dois moradores j desenvolvem o cultivo no sistema de agrofloresta. Este

    sistema foi iniciado na regio do Vale do Ribeira em 1996. Um dos moradores que pratica

    este sistema diz participar deste projeto por tratar-se de um modelo de manejo sustentvel dos

    recursos naturais que capacita atividades geradoras de renda, como no seu caso, onde esta

    atividade a nica fonte de renda. A renda obtida atravs dos produtos comercializados em

    feiras orgnicas em Curitiba.

    A cooperativa responsvel pelo projeto na regio, Cooperafloresta, fornece sementes,

    mudas, ferramentas e defensivos naturais, de acordo com o exigido pelas normas de

    agricultura orgnica, alm de auxiliar no difcil escoamento da produo. No quilombo em

    estudo, atualmente mescla-se o sistema de roa tradicional com o sistema de cultivo

    agrofloresta. As plantaes de subsistncia no sistema agrofloresta so feitas entre a

    vegetao nativa. Num mesmo espao so cultivados diferentes produtos, sem uma

    organizao setorial. A roa de floresta no sofre queimadas e as pragas e matos servem para

    a adubao, sendo algumas plantadas para esta finalidade (adubo verde). Suas folhas,

    sementes e frutos adubam a terra e quando necessrio derruba-se tambm seus galhos para

    que fertilizem o solo.

    Neste grupo organizado pela Cooperafloresta existe o trabalho de mutiro entre os

    participantes das diversas comunidades que o integram. Quando o servio na roa est

    atrasado ou apurado, os demais auxiliam. Existe ainda um sistema de fiscalizao, e sempre

    que um agricultor participante infringe as regras, expulso do grupo.

    Outra atividade inovadora que vem sendo implantada na comunidade quilombola a

    horta comunitria, idealizada e incentivada pelo Instituto Paranaense de Assistncia Tcnica e

    Extenso Rural (EMATER) com apoio do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA),

    que h dois anos lanou um edital de fomento a hortas voltadas s populaes tradicionais.

    Enquanto esta pesquisa etnocientfica era realizada junto comunidade o projeto de horta foi

    iniciado, sendo possvel acompanhar os primeiros preparos da rea de aproximadamente 25m2

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    que foi cedida por um dos moradores para o uso coletivo. O material para a preparao da

    horta j havia sido enviada para o presidente da associao dos moradores da comunidade e

    estava sendo transportado para o local. Alguns moradores j comeavam a plantar as

    primeiras mudas. Posteriormente, no perodo da segunda imerso, observou-se o

    desenvolvimento da horta e a rotina de sua utilizao pelos moradores.

    Receitas para uma segurana alimentar

    O hbito alimentar desta comunidade relativamente varivel se considerar que os

    produtos cultivados so restritos. A proposta de produo de alimentos orgnicos, que comea

    a ser implantado na regio, somada a iniciativa de produo em horta comunitria, apontam

    para um futuro com consumo de alimentos com maior riqueza nutritiva. Uma alimentao

    saudvel baseia-se no consumo de produtos considerados saudveis, mas tambm de produtos

    com variedade nutricional.

    A preparao dos alimentos uma responsabilidade comumente das mulheres

    quilombolas, sendo que estas possuem um vasto conhecimento de receitas e modos de preparo

    baseados nos produtos cultivados na comunidade (Quadro 02). A maioria destas receitas

    foram passadas de gerao a gerao, mantendo uma forte tradio. A possibilidade de

    criao no preparo dos alimentos enriquece a base alimentar das famlias.

    Produto Receitas

    Milho Pamonha cozida, pamonha frita, curao, bolos, milho assado

    Arroz Arroz doce, arroz caseiro

    Batata-Doce Batata-doce cozida

    Mandioca Biju, farinha de mandioca, doce de mandioca, sopa de mandioca, bolo de mandioca

    Banana Virado de banana, doce de banana

    Outros Frango caipira, bolo pingado, car cozido, ensopado de peixe, doce de abbora,

    doce de goiaba, canjica com amendoim, doce de mamo, doce de laranja, paoca

    de amendoim, carne na banha, torresmo defumado.

    Quadro 02 Receitas tradicionais na comunidade quilombola. Fonte: Quilombolas, mar. 2009. Org.: ALVES et al, 2011.

    Para Neto (2009), as comunidades negras no so subdesenvolvidas tecnologicamente

    como afirmam alguns, mas exatamente devido a seu isolamento dos grandes centros,

    preservam uma tecnologia e uma cultura muito prpria os engenhos e moendas em

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    madeiras, as casas de farinha, fornos de barro, monjolos e piles. Isto os faz viver em um

    sistema estruturado e vivel com os produtos por eles cultivados.

    A partir dos alimentos produzidos, os vnculos histricos e culturais permanecem. Na

    comunidade, muitos alimentos so preparados tradicionalmente, como o biju de mandioca. A

    preparao realizada artesanalmente com instrumentos por eles fabricados. A mandioca

    colhida ralada na casa de farinha, primeiramente a massa prensada e depois temperada e

    assada em forno de barro. A realizao do biju um evento que rene os moradores e absorve

    muitas horas do dia para seu feitio, simbolizando um dos aspectos da cultura imaterial mais

    presente nesta comunidade em estudo.

    Sobrevivendo de suas atividades na terra, num conflituoso cenrio de resistncia,

    torna-se cada vez mais importante que esta comunidade mantenha suas qualidades enquanto

    reafirma sua identidade e cultura, valorizando seu modo de vida, o que lhe proporciona

    benefcios em simultnea manuteno e preservao do meio ambiente.

    Consideraes Finais

    A ideia de garantir o territrio s populaes tradicionais, atravs de um processo de

    regularizao fundiria, est associada de garantir suas caractersticas culturais, buscando o

    que se denomina etnodesenvolvimento. Quilombolas, ndios, caranguejeiros, pescadores

    artesanais, dentre dezenas de outros povos, tm sua sobrevivncia relacionada aos recursos

    naturais agricultura, especiarias, caa e coleta -, mas igualmente as estruturas sociais que se

    reproduzem a partir da relao com a natureza ritos religiosos, processos teraputicos,

    simbolismo e organizao social (SILVA, 2002, p.4).

    O etnodesenvolvimento em uma comunidade tradicional, portanto, refere-se ao

    desenvolvimento econmico autosustentvel dessas comunidades. Assim, se fortalece seu

    patrimnio cultural e sua identidade tnica, tendo como foco a busca da sobrevivncia do

    homem a longo prazo, com a preservao dos recursos para a manuteno das geraes

    futuras sobre o mesmo espao.

    Toda a terra utilizada historicamente para garantia da reproduo fsica, social,

    econmica e cultural das comunidades tradicionais de remanescentes de quilombos

    considerada territrio quilombola. A terra torna-se um capital natural, meio de

    sobrevivncia, de reproduo de vida e da identidade coletiva. O meio ambiente aparece como

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    OBSERVATORIUM: Revista Eletrnica de Geografia, v.3, n.7, p.79-100, out. 2011.

    recurso para o desenvolvimento de atividades agrcolas, pelo uso comum do territrio, pela

    sazonalidade dos cultivos, pelo extrativismo e pela ocupao dos espaos de forma extensiva.

    As comunidades quilombolas apresentam prticas agrcolas de resistncia na

    manuteno e reproduo de seus modos de vida, com intensas relaes familiares e forte

    vnculo territorial. Nesta territorialidade tradicional, prevalece o trabalho familiar e

    comunitrio, atravs da ajuda mtua e de mutires desenvolvido em pocas em que se

    necessita de maior fora de trabalho.

    A articulao entre meio ambiente e produo agropecuria cria agroecossistemas

    produtivos menos dependentes de recursos externos. Desta forma, a comunidade quilombola,

    estando baseada em princpios e processos que garantam o equilbrio de ambos, combinam

    elementos do conhecimento tradicional.

    Em meio a inmeras buscas por projetos e solues que amenizem a acelerada crise

    ecolgica, Frana (2008, s.p.) aponta que a saga centenria quilombola de resistncia contra

    a discriminao e a injustia e sua habilidade de habitar em harmonia com o meio ambiente,

    faz com que o nome quilombola se constitua numa marca promissora no mercado de consumo

    responsvel e solidrio, voltado para valores ticos, tnico-culturais e ambientais. Nesta

    perspectiva, acredita-se que a articulao entre meio ambiente e produo agropecuria, possa

    vir a se constituir numa estratgia de garantia destas mesmas condies tambm para a

    sociedade de forma mais abrangente.

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