A Pesquisa

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pesquisa-ação

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  • A pesquisa-ao um tipo de pesquisa interpretativa que abarca um processo

    metodolgico emprico. Compreende a identificao do problema dentro de um

    contexto social e/ou institucional, o levantamento de dados relativos ao problema,

    anlise e significao dos dados levantados pelos participantes, a identificao da

    necessidade de mudana, o levantamento de possveis solues e por fim, a interveno

    e/ou ao propriamente dita no sentido de aliar pesquisa e ao, simultaneamente. Face

    a pouca utilizao dessa metodologia nas prticas de sade, esse estudo tem por objetivo

    refletir e apresentar a pesquisa-ao enquanto uma importante ferramenta

    metodolgico-gerencial capaz de aliar teoria e prtica por meio de uma ao que visa a

    transformao de uma determinada realidade.

    Desmistificar crenas, inovar estratgias gerenciais, organizacionais e de pesquisa,

    problematizar as prticas de cuidado pautadas pelo saber tradicional na

    sade/enfermagem, possibilitar ferramentas para a transformao do ensino e das

    prticas na sade foram, entre outros, elementos de anlise e reflexo individual e/ou

    grupal estabelecidos no Grupo de Estudos e Pesquisas em Administrao de

    Enfermagem e Sade (GEPADES), junto ao Programa de Ps-Graduao em

    Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Tais reflexes tm nos estimulado e provocado, crescentemente, enquanto docentes e

    discentes a produzir novos olhares sobre o panorama da sade, da enfermagem e das

    prticas em geral nas quais nos inclumos espontaneamente e/ou somos includos por

    foras externas. Dentre a multiplicidade de enfoques metodolgicos, a pesquisa-ao

    emergiu tanto como ferramenta de incluso dos sujeitos quanto como possibilidade de

    transformao das prticas de sade. Entendemos ser esta uma importante metodologia

    por aliar pesquisa e ao simultaneamente, ou seja, academia e prtica como via de mo

    dupla.

    As abordagens de pesquisa podem ser sintetizadas em duas grandes linhas, a positivista

    e a interpretativista. A primeira est relacionada s cincias duras e a segunda, pode ser

    enquadrada s vrias metodologias relacionadas s cincias humanas, dentre elas: a

    pesquisa participante, a pesquisa com abordagem scio-histrica, a pesquisa com

    abordagem fenomenolgica, a pesquisa-ao, entre outras(1-2)

    .

  • Nessa perspectiva, a pesquisa-ao caracterizada como um tipo de pesquisa social

    com base emprica, concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com

    a resoluo de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes,

    representativos da situao e/ou do problema, esto envolvidos de forma cooperativa e

    participativa(3-5)

    .

    A pesquisa-ao visa fornecer aos pesquisadores e grupos sociais os meios de se

    tornarem capazes de responder com maior eficincia aos problemas da situao em que

    vivem, em particular sob a forma de estratgias de ao transformadora e, ainda,

    facilitar a busca de solues face aos problemas para os quais os procedimentos

    convencionais tm contribudo pouco.

    Por compreender um movimento circular de compartilhamento, de subjetivao e de

    participao coletiva, como representado no diagrama abaixo, a pesquisa-ao tende a

    se impor, gradativamente, como um importante mtodo de pesquisa na sade e em

    outros setores sociais que intentam provocar transformaes por meio da pesquisa e da

    ao simultaneamente.

    A pesquisa-ao, em outras palavras, abarca um processo emprico que compreende a

    identificao do problema dentro de um contexto social e/ou institucional, o

  • levantamento de dados relativos ao problema e, a anlise e significao dos dados

    levantados pelos participantes. Alm da identificao da necessidade de mudana e o

    levantamento de possveis solues, a pesquisa-ao intervm na prtica no sentido de

    provocar a transformao. Coloca-se ento, como uma importante ferramenta

    metodolgica capaz de aliar teoria e prtica por meio de uma ao que visa

    transformao de uma determinada realidade.

    A pesquisa-ao permite associar ao processo de investigao a possibilidade de

    aprendizagem, pelo envolvimento criativo e consciente tanto do pesquisador como dos

    demais integrantes(7)

    . Da sua importncia, na rea da sade e enfermagem, como

    instrumento, ao mesmo tempo, de educao, investigao e mudana, podendo ser

    utilizada com diversos grupos: profissionais, gestores, estudantes e populao em geral,

    tanto nas comunidades quanto em instituies.

    Considerando a importncia atribuda pesquisa interpretativista, especialmente

    pesquisa-ao, como possibilidade de intervir na realidade de diferentes grupos sociais,

    buscamos informaes, no banco de dissertaes e teses da Coordenao de

    Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), na inteno de identificar sua

    utilizao na rea da sade e Enfermagem. Localizamos os trabalhos desenvolvidos

    entre 2003 e 2007, a partir dos descritores: pesquisa-ao em sade; pesquisa-ao em

    enfermagem e; pesquisa-ao e educao popular. Assim, para o primeiro descritor

    foram encontradas duas teses e uma dissertao; com o segundo, dezessete teses e

    nenhuma dissertao; enquanto o terceiro mostrou apenas uma tese. Isso indica uma

    utilizao, ainda escassa, dessa metodologia de pesquisa na rea da sade e coloca a

    Enfermagem como o campo do saber em sade que mais se apropria da pesquisa-ao

    para produo de conhecimentos, aliando pesquisa e prtica.

    Outro aspecto interessante na busca por estudos que utilizaram pesquisa-ao na

    Enfermagem foi a imensa concentrao deles (77%) em uma nica instituio, a

    Universidade de So Paulo, apontando para a necessidade de maior divulgao dessa

    metodologia. Destaca-se que essa informao restrita s teses e dissertaes

    catalogadas na CAPES sem considerar consulta s publicaes na forma de artigos

    cientficos.

  • Assim, esse estudo tem por objetivo refletir e apresentar a pesquisa-ao, a fim de

    divulg-la como ferramenta metodolgica para utilizao na rea da sade,

    especialmente na Enfermagem, quando se busca produzir conhecimentos e intervir na

    realidade.

    CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA-AO COMO FERRAMENTA

    METODOLGICA

    A pesquisa-ao teve origem com os trabalhos de Kurt Lewin(8)

    em 1946, ao qual se

    atribui tambm a autoria do termo(9)

    . Os traos especiais da pesquisa-ao esto

    relacionados a conceituao de problemas, o planejamento, a execuo e a avaliao de

    aes para resolv-los, seguida da repetio desse ciclo de atividades(10)

    . Alm da

    contribuio social, o trabalho de Lewin sobre pesquisa-ao foi considerado inovador

    por seu carter participativo e democrtico, j que a pesquisa se desenvolve com a

    participao dos sujeitos estudados e orientada, portanto, para a resoluo de problemas

    nos ambientes onde eles ocorrem(11-12)

    . Ressalta-se a preocupao com a validade

    cientfica dos resultados da pesquisa, ao considerar os diagnsticos da situao antes e

    depois das aes, bem como o registro detalhado dos acontecimentos(12)

    .

    A compreenso do modelo de pesquisa-ao relaciona-se a dois conceitos: o ato de

    investigao e o ato substantivo. O ato de investigao corresponde a uma ao que

    impulsiona uma indagao, enquanto o ato substantivo a ao que promove uma

    mudana desejvel no contexto estudado, ou seja, na investigao-ao, as aes so

    necessariamente atos substantivos. Isto , o ato de investigar pressupe uma obrigao

    de beneficiar pessoas que no pertencem comunidade cientfica(12)

    .

    A partir de Lewin, a pesquisa-ao tem sido utilizada de diferentes maneiras e diferentes

    intencionalidades, compondo um vasto mosaico de abordagens terico-metodolgicas, o

    que torna importante refletir sobre sua essencialidade epistemolgica, bem como sobre

    suas possibilidades como prxis investigativa(3)

    .

    Os estudos de Franco(5)

    identificaram pelo menos trs conceituaes diferentes de

    pesquisa-ao no Brasil, classificadas como sendo: Pesquisa-aocolaborativa, quando

    a busca de transformao solicitada pelo grupo de referncia equipe de

    pesquisadores. A funo do pesquisador, nesse processo, ser a de fazer parte e

  • cientificizar um processo de mudana anteriormente desencadeado pelos sujeitos do

    grupo; Pesquisa-ao crtica, se, a partir dos trabalhos iniciais do pesquisador com o

    grupo, percebida a necessidade de transformao. Quando ela decorrente de um

    processo que valoriza a construo cognitiva da experincia, sustentada por reflexo

    crtica coletiva, com vistas emancipao dos sujeitos e das condies que o coletivo

    considera opressivas, a pesquisa vai assumindo o carter de criticidade; Pesquisa-

    ao estratgica, se, ao contrrio, a transformao previamente planejada, sem a

    participao dos sujeitos, e apenas o pesquisador acompanhar os efeitos e avaliar os

    resultados de sua aplicao. Aqui a pesquisa perde o qualificativo de pesquisa-ao

    crtica.

    A condio para ser pesquisa-ao crtica requer um mergulho na prxis do grupo social

    em estudo, do qual se extraem as perspectivas latentes e o no familiar que sustenta as

    prticas, sendo as mudanas negociadas e geridas no coletivo. Nessa direo, a

    pesquisa-ao colaborativa, na maioria das vezes, assume tambm o carter de

    criticidade(4-5)

    .

    A criticidade da pesquisa-ao pressupe um processo de reflexo coletiva, acerca das

    estratgias operacionais a serem adotadas, uma vez que esta considera a voz do sujeito e

    suas perspectivas no apenas para o registro e posterior interpretao, mas como parte

    da tessitura da metodologia da investigao. Nesse caso, a metodologia no se

    estabelece por meio das etapas lineares de um mtodo propriamente dito, mas se

    organiza a partir das situaes relevantes que emergem do processo. Da a nfase no

    carter formativo dessa modalidade de pesquisa, visto que o sujeito deve tomar

    conscincia das transformaes que vo ocorrendo em si prprio e no processo. Por este

    motivo a pesquisa-ao assume o carter emancipatrio, no qual os sujeitos da pesquisa

    passam a ter a possibilidade de se libertarem dos mitos e preconceitos que organizam

    suas defesas em relao s mudanas desejadas(13)

    .

    A pesquisa-ao sofreu, ao longo dos anos, influncias positivistas, pela incorporao

    da dialtica da realidade social e os fundamentos de uma racionalidade crtica linear.

    Nessa perspectiva, o estatuto epistemolgico de investigao da pequisa-ao voltou-se

    questo da transformao social, agora referendada com compromissos ticos e

    polticos, com vistas emancipao dos sujeitos e das condies que obscurecem esse

    processo emancipatrio; configurada por abordagens interpretativas de anlise;

  • estruturada sob forma de participao crtica, cujo processo de pesquisa dever permitir

    reconstrues e reestruturao de significados e caminhos em todo desenrolar do

    processo, enquadrando-se num procedimento essencialmente pedaggico e poltico(4-5)

    .

    Na perspectiva da pesquisa qualitativa, apresentam-se trs dimenses a serem

    consideradas na pesquisa-ao, quais sejam: "a ontolgica, referente natureza do

    objeto a ser conhecido; a epistemolgica, referente relao sujeito-conhecimento e a

    metodolgica, referente a processos de conhecimento utilizados pelo pesquisador"(5)

    .

    A dimenso ontolgica refere-se a um conhecimento norteador que deve permitir aos

    sujeitos produzirem conhecimentos para uma melhor compreenso dos condicionantes

    da prxis; para estabelecer mudanas em suas prticas profissionais; para a melhoria das

    prticas; para fins coletivamente desejados e para produzirem conhecimentos para a

    reestruturao de processos formativos.

    A dimenso epistemolgica requer, para o seu exerccio, um mergulho na

    intersubjetividade da dialtica do coletivo. preciso que o pesquisador assuma uma

    postura diferenciada diante do conhecimento, uma vez que este busca, ao mesmo tempo,

    conhecer e intervir na realidade que pesquisa. Essa imbricao entre pesquisa e ao faz

    com que o pesquisador, inevitavelmente, faa parte do universo pesquisado o que, de

    alguma forma, anula a possibilidade de uma postura de neutralidade e de controle das

    circunstncias de pesquisa. So pressupostos epistemolgicos fundamentais: a

    priorizao da dialtica da realidade social, da historicidade dos fenmenos, da prxis,

    das contradies, das relaes com a totalidade e da ao dos sujeitos sobre suas

    circunstncias; a prxis deve ser concebida como mediao bsica na construo do

    conhecimento, pois por meio dela se veicula teoria e prtica. O conhecimento no se

    restringe mera descrio, mas busca o explicativo a partir do observvel e por meio

    dos movimentos dialticos do pensamento e da ao. Nessa expectativa, o saber

    produzido necessariamente transformador dos sujeitos e das circunstncias.

    A dimenso metodolgica exige procedimentos articuladores da ontologia com a

    epistemologia da pesquisa-ao que instaurem, no grupo, uma dinmica de princpios e

    prticas dialgicas, participativas e transformadoras. Nessa dimenso devem ser

    observados aspectos, tais como: a prxis social ponto de partida e de chegada na

    construo/ressignificao do conhecimento; o processo de conhecimento se constri

  • nas mltiplas articulaes com a intersubjetividade; a pesquisa-ao deve ser realizada

    no ambiente natural da realidade a ser pesquisada; a flexibilidade de procedimentos

    fundamental e a metodologia deve permitir ajustes e caminhar de acordo com as

    snteses provisrias que vo se estabelecendo no grupo; o mtodo deve contemplar o

    exerccio contnuo de espirais cclicas que compreendem planejamento, ao, reflexo,

    pesquisa, ressignificao e replanejamento, quando necessrio.

    Na pesquisa-ao o processo de investigao, de educao e de ao acontecem

    concomitantemente. Por razes epistemolgicas e metodolgicas, o conhecimento

    produzido quando os sujeitos participam ativamente do processo de investigao. Desse

    modo, a investigao leva ao saber e este ao poder, instigando as mudanas na realidade

    por meio da ao(6)

    .

    Nesse processo, o pesquisador depara-se, frequentemente, com alguns questionamentos,

    dentre eles: como se colocar numa cultura com cdigos, significados, representaes,

    resistncias, expectativas, por certo variados e dissonantes? Como tornar familiar um

    ambiente to novo, do qual, a princpio, o pesquisador no um de seus componentes?

    Como adentrar e lidar com as contradies iniciais, como perceb-las? Como fazer dos

    grupos ali presentes equipe de trabalho? Como comear um trabalho de equalizar

    resistncias? Como alcanar confiana e cumplicidade no grupo de trabalho?

    Alm dos elementos j pontuados, uma questo mais ampla que se coloca a da

    necessria interpenetrao de papis, ou seja, como passar de pesquisador a participante,

    continuando a ser prioritariamente pesquisador, ou como passar de sujeito de pesquisa a

    pesquisador de seu fazer, mantendo-se prioritariamente no seu papel?

    Nesse processo, h que se considerar que a pesquisa-ao no se realiza em um curto

    espao de tempo. A imprevisibilidade um componente fundamental prtica da

    pesquisa-ao. Considerar a imprevisibilidade significa estar aberto para as

    reconstrues, para as retomadas de princpio, para a recolocao de prioridades por

    meio de acordos consensuais e amplamente negociados(4)

    .

    O percurso requer, igualmente, o registro rigoroso e metdico dos dados. Esse trabalho

    precisa ser realizado constantemente, sendo necessrio um dirio de campo, ou seja, um

    instrumento capaz de consignar os dados recolhidos durante todo o processo de

  • pesquisa, de forma a objetivar o vivido e o compreendido. A dinmica de coletar os

    dados e registr-los coletivamente, discuti-los e contextualiz-los, o caminho para a

    construo de novos saberes e/ou teorias cientficas. Esse processo, entendido como

    compartilhamento dialtico possibilita a produo de conhecimentos novos e contribui

    na formao de sujeitos crticos e reflexivos.

    O planejamento da pesquisa-ao deve necessariamente compreender a flexibilidade e a

    circularidade, uma vez que a mesma no pressupe as fases ordenadas e lineares das

    metodologias positivistas. No entanto, so destacados alguns momentos que podero

    auxiliar no desenvolvimento do processo(3-6)

    , tais como:

    a) Fase exploratria: a fase em que se realiza o diagnstico da realidade e onde se

    estabelece um primeiro levantamento da situao, dos problemas de primeira ordem, e

    das eventuais aes. A partir da, pesquisadores e participantes se dedicam a

    estabelecerem os principais objetivos da pesquisa, os quais devem estar interligados ao

    campo de observao, aos atores e ao tipo de ao que se pretende focalizar no processo

    investigativo.

    b) O tema da pesquisa: definido a partir de um problema prtico e da rea de

    conhecimento a ser abordada. escolhido com base em compromissos assumidos entre

    a equipe de pesquisadores e os sujeitos da situao investigada ou, pode tambm, ser

    solicitado pelos atores da situao. Deve interessar tanto aos pesquisadores como aos

    sujeitos investigados, para que todos desempenhem um papel ativo no desenvolvimento

    da pesquisa. Nesse momento, um marco terico especfico escolhido para nortear a

    pesquisa.

    c) A colocao dos problemas: o momento em que definida uma problemtica na

    qual o tema escolhido ganhe sentido. A colocao dos problemas abarca os seguintes

    pressupostos: anlise e delimitao da situao inicial; delineamento da situao final,

    em funo de critrios de desejabilidade e factibilidade; a identificao de todos os

    problemas a serem resolvidos para permitir a passagem de (a) para (b); planejamento

    das aes correspondentes; execuo e avaliao das aes.

    d) O lugar da teoria: o projeto de pesquisa-ao precisa estar articulado dentro de uma

    determinada realidade com um quadro de referncias tericas que adaptado de acordo

  • com o setor em que se d a pesquisa. As informaes sero analisadas e interpretadas

    luz de uma determinada teoria.

    e) Hipteses: apesar da falsa concepo de que na linha interpretativista de pesquisa

    no existem hipteses, chegado o momento de pensar com cuidado acerca desta

    proposio. fundamental compreender as hipteses como suposies formuladas pelo

    pesquisador a respeito de possveis solues para um problema colocado na pesquisa.

    Elas assumem um carter de condutoras do pensamento e no so testadas.

    f) Seminrio: o seminrio desempenha um papel coletivo de discusses e tomada de

    decises acerca da investigao, alm de coordenar as atividades e substituir as atas. As

    principais tarefas do seminrio so: definir o tema e equacionar os problemas para os

    quais a pesquisa foi solicitada; elaborar a problemtica na qual sero tratados os

    problemas e as correspondentes hipteses da pesquisa; constituir os grupos de estudos e

    equipes de pesquisa; coordenar suas atividades; centralizar as informaes provenientes

    das diversas fontes e grupos; elaborar as interpretaes; buscar solues e definir

    diretrizes de ao; acompanhar e avaliar as aes e divulgar os resultados pelos canais

    apropriados.

    g) Campo de observao, amostragem e representatividade qualitativa: a pesquisa-

    ao pode abranger uma comunidade geograficamente concentrada e/ou espalhada. A

    questo da amostragem e da representatividade fator discutvel. Alguns excluem a

    amostra, outros recomendam o seu uso e uma terceira posio valoriza os critrios de

    representatividade qualitativa.

    h) Coleta de dados: as principais tcnicas utilizadas so as entrevistas coletivas e/ou

    individuais, os questionrios convencionais, o estudo de arquivos, entre outros. Na

    seqncia, as informaes coletadas pelos diversos grupos de observao e

    pesquisadores de campo so transferidas para o seminrio central, onde so discutidas,

    analisadas e interpretadas em conjunto.

    i) Aprendizagem: na pesquisa-ao tem-se a associao entre a capacidade de

    aprendizagem e o processo de investigao. Vale lembrar, que muitas vezes possvel

    entrever a colaborao entre os participantes apenas na perspectiva do pesquisador para

    com os pesquisados.

  • j) Saber formal e saber informal: partindo da suposio de que h diferentes formas

    de saber, os pesquisadores, num primeiro momento, so levados a descrever a situao

    ou o problema focalizado, buscando explicao e soluo possveis. Deve ocorrer, nessa

    fase, a comparao de temticas a fim de mostrar as zonas de compatibilidades e

    incompatibilidades e, conseqentemente, as estratgias de compreenso e interveno.

    l) Plano de ao: a elaborao do plano de ao consiste em definir com preciso:

    quem so os atores e/ou as unidades de interveno? como se relacionam os atores e as

    instituies? quem toma as decises? quais os objetivos a serem alcanados e os

    critrios de avaliao? como dar continuidade ao na emergncia de possveis

    intercorrncias? como assegurar a participao dos diferentes atores e como incorporar

    suas sugestes? como controlar o conjunto do processo e avaliar os resultados?

    m) Divulgao externa: alm de dar o retorno aos participantes da pesquisa,

    importante que os resultados sejam divulgados em peridicos, eventos, congressos,

    conferncias e outros, para que o conhecimento produzido seja validado e/ou refutado.

    CONSIDERAES FINAIS

    O processo de investigao, apreenso da realidade, bem como o desencadeamento e a

    avaliao das ferramentas metodolgicas qualitativas, requerem dialogicidade,

    conhecimento reflexivo e um compromisso com a realidade concreta, o que implica, em

    outras palavras, um reconhecimento efetivo do sujeito no objeto e um movimento

    dinmico de ida das partes ao todo e vice-versa. nessa perspectiva circular e dinmica

    que a pesquisa-ao encontra ressonncia e sustentao para a conquista de um novo

    espao e/ou a conquista de um novo conhecimento no contexto da sade/enfermagem.

    A pesquisa-ao enquanto ferramenta metodolgica realizada por meio do agir

    comunicativo e participativo, favorece o compartilhamento de saberes, alm de tecer

    uma estrutura relacional de confiana e comprometimento com os sujeitos que integram

    a realidade a ser transformada. O objeto da pesquisa-ao, nesse caso, consiste em

    resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situao observada. H, durante

    o processo, um acompanhamento das decises, das aes e de toda a atividade

    intencional dos atores da situao. Sob esse enfoque, a pesquisa no se limita a uma

  • forma de ao, mas, visa aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o nvel de

    conscincia das pessoas/grupos envolvidos.

    Sendo assim, a pesquisa vai muito alm de um simples levantamento de dados e/ou

    intervenes na prtica. Para alm das consideraes j pontuadas, a pesquisa-ao

    agrega discusses e explicaes e possibilita gerar um conhecimento descritivo e mais

    crtico acerca das situaes vivenciadas nos espaos organizacionais e sociais.

    Possibilita, de outro modo, expresso e reflexo a respeito dos significados e

    sentimentos dos participantes e seus pares atribudos ao processo de avaliao de

    desempenho.

    A funo da universidade no pode restringir-se ao ensino tcnico-cientfico formal,

    mas tambm em oferecer oportunidades para aplicar tais conhecimentos na prtica. O

    fazer na rea da sade/enfermagem envolve, por excelncia, um agir interativo e

    intersubjetivo. Nessa perspectiva, a pesquisa-ao se constitui numa importante

    ferramenta metodolgica pela possibilidade de agregar valores, sentimentos, aes e,

    por ampliar e estreitar a rede de interaes entre sujeito-objeto e teoria-prtica.

    Em suma, a pesquisa-ao se constitui em uma importante ferramenta metodolgica no

    contexto da sade/enfermagem, pelo fato da mesma no sustentar-se em epistemologias

    positivistas e lineares, mas em abordagens que pressupem a integrao dialtica entre o

    sujeito e sua existncia, entre os fatos e valores, entre teoria e ao e, principalmente,

    entre pesquisador e pesquisado.

    Koerich MS, Backes DS, Sousa FGM, Erdmann AL, Alburquerque GL. Pesquisa-ao:

    ferramenta metodolgica para a pesquisa qualitativa. Rev. Eletr. Enf. [Internet].

    2009;11(3):717-23. Available

    from: http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n3/v11n3a33.htm.