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A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão Gramacho – Morro do Chapéu/Ba. Elvis Pereira Barbosa 1 Resumo. Este trabalho trata das pinturas rupestres encontradas em abrigos e cavernas do interior da Área de Proteção Ambiental Gruta dos Brejões Vereda do Romão Gramacho no município de Morro do Chapéu, Estado da Bahia. Estas pinturas nos remete a um período remoto da História do Brasil além de suscitar hipóteses a respeito das estratégias empregadas pelos diversos grupos humanos que ocuparam a área no passado para superar os limites impostos pela natureza. As características físicas, ecológicas e arqueológicas destas pinturas se destacam em meio a um ambiente hostil, onde a seca é uma constante e as condições de sobrevivência dos grupos humanos do passado e do presente chamam a atenção frente ao isolamento geográfico e político do local. Palavras Chave: Pintura Rupestre – Tradição São Francisco – Arqueologia Pré-Histórica. 1 Professor de Introdução à Arqueologia, Pré-História e Antigüidade Oriental do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Mestre em Arqueologia pela PUCRS. E-mail: [email protected] 1

A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

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Page 1: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão Gramacho – Morro

do Chapéu/Ba.

Elvis Pereira Barbosa1

Resumo.

Este trabalho trata das pinturas rupestres encontradas em abrigos e cavernas do

interior da Área de Proteção Ambiental Gruta dos Brejões Vereda do Romão Gramacho no

município de Morro do Chapéu, Estado da Bahia. Estas pinturas nos remete a um período

remoto da História do Brasil além de suscitar hipóteses a respeito das estratégias

empregadas pelos diversos grupos humanos que ocuparam a área no passado para superar

os limites impostos pela natureza. As características físicas, ecológicas e arqueológicas

destas pinturas se destacam em meio a um ambiente hostil, onde a seca é uma constante e

as condições de sobrevivência dos grupos humanos do passado e do presente chamam a

atenção frente ao isolamento geográfico e político do local.

Palavras Chave:

Pintura Rupestre – Tradição São Francisco – Arqueologia Pré-Histórica.

1 Professor de Introdução à Arqueologia, Pré-História e Antigüidade Oriental do Departamento deFilosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Mestre emArqueologia pela PUCRS. E-mail: [email protected]

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Page 2: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Introdução.

Definir o que se considera como arte rupestre, é um pouco delicado e perigoso,

afinal de contas ao olhar para um painel pintado na rocha, a análise que procedemos é a de

um observador do nosso tempo e não com as inferências dos produtores originais das

pinturas rupestres.

Madu Gaspar, renomada arqueóloga brasileira, no prefácio do seu mais recente

livro, relata o seguinte fato a respeito da interpretação da arte rupestre:

Conta o arqueólogo André Prous que a pesquisadora francesa Anette Laming-

Emperaire costumava dizer que a arte rupestre parecia o campo mais fácil de

ser estudado na arqueologia: o “aficcionado” não tem dificuldade em discursar

sobre vestígios – tão visíveis sem precisar de escavação, e tão mudos que

aceitam qualquer interpretação –, acrescentava que, na realidade, trata-se de

seu capítulo mais complexo, e no qual se cometem mais erros. (Gaspar, 2003, p.

7).

Considerar as pinturas rupestres apenas como um simbolismo artístico,

procurando ali um significado estético, induz-nos a desprezar, em parte, a produção

material daquela cultura que está sendo representada através das pinturas. Sob esta ótica,

Gabriela Martin pondera o seguinte detalhe:

por mais que o arqueólogo queira inibir-se da valorização estética do registro

rupestre, procurando-o utilizá-lo apenas como uma parte do contexto

arqueológico, como ser humano sensível aos estímulos estéticos do seu entorno,

valorizará também o seu conteúdo “artístico”. (Martin, 1997, p. 237).

Desta forma, tem-se de aceitar o registro rupestre como um todo e não apenas

de forma isolada, passando a analisar o conjunto das figuras ou dos painéis, buscando

assim, algum significado para as pinturas e contextualizando-as com o seu entorno e os

outros vestígios arqueológicos que venham a aparecer no sítio.

Sendo assim, a interpretação do sítio rupestre, envolve todo um complexo de

análises que vão desde a observação do sítio em si, até a observação do complexo

arqueológico onde o sítio está inserido, ou seja, o seu entorno, a sua flora e fauna atuais, o

seu processo de deterioração, enfim, todos os fatores que possam afetar o sítio. Além do

mais, faz-se necessário também, definir o que vem a ser arte e de que forma este conceito

está inserido na interpretação de um sítio arqueológico rupestre.

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A arte, como ela é conhecida, tem por objetivo uma finalidade sem fim. Ela traz

em si a sua própria definição, a sua contemplação, o seu significado estético. No dizer de

Prous (1992), a chamada arte rupestre, portanto, não se enquadra dentro do contexto

contemporâneo de arte, uma vez que ela possui um significado lógico e foge ao mero apelo

estético por mais ambígua que ela seja.

Para Madu Gaspar, a arte nas chamadas sociedades complexas,

(..) caracteriza-se pela dissociação entre o produtor e o consumidor de bens

artísticos. Tal dissociação não ocorre nas sociedades simples; nelas é possível

até mesmo contar com a presença de certos especialistas, mas não com um

corpo de profissionais que produzem para o mercado e obtêm o seu sustento

através da prática.

Assim, o domínio da arte nas sociedades consideradas simples está

particularmente integrado á rotina da comunidade, reforça tradições e tende a

estar vinculado ao domínio ritual. (Gaspar, 2003, p. 10).

Acima de tudo, os grafismos rupestres podem ser considerados também como

um símbolo de linguagem, expressa através de diversos motivos pintados nas rochas e

paredões pelas culturas do passado, onde persiste todo um princípio simbólico no tocante à

tentativa de se expressar com um indivíduo ou com um grupo inteiro (Barbosa, 1999, p.

84).

É possível então começar a entender o complexo caminho para os arqueólogos

que trabalham com arte rupestre no Brasil. Este conceito vai muito além da simples

compreensão do que seria realmente arte, de como ela se manifesta e da sua relação dentro

da sociedade que a produziu. Assim, concordando com Prous, temos a seguinte afirmação:

por “arte rupestre” entendem-se todas as inscrições (pinturas ou gravuras)

deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas,

matacões, etc). A palavra rupestre, com efeito, vem do latim rupes-is (rochedo);

trata-se, portanto, de obras imobiliares, no sentido de que não podem ser

transportadas (à diferença das obras mobiliares, como estatuetas,

ornamentação de instrumentos, pinturas sobre peles, etc). (Prous, 1992, p. 510).

Neste sentido e com a finalidade de facilitar o entendimento dos sítios rupestres

no Brasil, é adotado o modelo proposto por André Prous (1992) e que classifica a arte

rupestre brasileira em oito Tradições a saber:2

2 Existem diversos conceitos para o termo Tradição em Arqueologia. O que é empregado aqui édefinido da seguinte forma: as unidades rupestres descritivas receberam nomes variados,

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● Meridional, para a região sul do Brasil;

● Litorânea Catarinense, para a região litorânea de Santa Catarina;

● Geométrica, que se estende desde o planalto catarinense até o Nordeste e que ainda

possui as Manifestações Setentrionais (Subtradição Itacoatiara) e as Manifestações

Meridionais (subtradição Morro do Avencal);

● Planalto, desde a divisa dos estados de São Paulo e Paraná até o estado da Bahia;

● Nordeste, englobando todo o planalto central brasileiro, o Nordeste (estados de

Pernambuco, Rio Grande do Norte, parte da Bahia e do Ceará);

● Agreste, englobando os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e

Piauí;

● São Francisco, encontrada no vale do Rio São Francisco em Minas Gerais, Bahia e

Sergipe;

● Amazônica, encontrada na bacia amazônica.

sendo que a categoria mais abrangente é geralmente chamada “tradição”, implicando uma certapermanência de traços de traços distintivos, geralmente temáticos. (Prous, 1991, p. 511).

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Mapa 01 – Distribuição das tradições de arte rupestre.

Fonte: Gaspar, 2003.

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A metodologia.

O Estado da Bahia é uma área rica em sítios rupestres, principalmente na região

da Chapada Diamantina. Apesar de possuir ocorrência de quatro Tradições para todo o

Estado, existe uma certa predominância da Tradição São Francisco, com maior incidência

na parte Norte da Chapada. É dentro deste compartimento geográfico que está inserido a

APA dos Brejões.

A Área de Proteção Ambiental da Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Gramacho, localiza-se no noroeste do município de Morro do Chapéu, ao norte da Chapada

Diamantina. Além de Morro do Chapéu, dois outros municípios integram a APA dos

Brejões: João Dourado e São Gabriel.

Dentro da APA dos Brejões, foram identificados sítios arqueológicos de

características rupestres e de características líticas. A grande maioria dos sítios rupestres da

APA, estão localizados em abrigos de rocha, nos paredões ao longo do cânion do Rio

Jacaré e nas paredes de calcário próximas a cursos d'água que desembocam no Rio Jacaré.

Para este trabalho, foi adotada como metodologia de trabalho a descrição das

características físicas do sítio, a realização de fotografias dos sítios e dos desenhos e a

busca de indícios arqueológicos mais consistentes no entrono dos sítios visando uma

caracterização mais coerente da ocupação dos espaços, fossem eles permanentes ou

temporários.

Diversos estudos arqueológicos já foram realizados no município de Morro do

Chapéu, entre os mais importantes, podem ser destacados os de Calderón (1967; 1969-a;

1983), Beltrão e Costa (1972), Beltrão e Andrade Lima (1986), Barberi (1995) e Beltrão

(1996). Para análise e interpretação das pinturas rupestres da APA, adotou-se a

metodologia empregada por Calderón (1983), e faz-se necessário, portanto, uma breve

justificativa para o emprego desta.

Entende-se que o estabelecimento de uma Tradição demanda bastante trabalho

de campo e, consequentemente, o enquadramento dos diversos sítios arqueológicos

rupestres dentro de uma ou mais Tradições e suas respectivas fases ou não. Barberi preferiu

enquadrar os sítios estudados por ela em Morro do Chapéu dentro das Tradições Planalto,

São Francisco e Nordeste, mas como a própria autora coloca, considero também que a

área em questão constitui uma zona de convergência de diferentes estilos que se misturam,

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pois situa-se nos limites estabelecidos para as diferentes tradições citadas. (Barberi, 1995,

p. 204).

Portanto, adotou-se uma posição cautelar antes de enquadrar os sítios rupestres

dentro desta ou daquela Tradição sem um estudo mais pormenorizado dos mesmos. Por

isto, inicialmente, mantém-se apenas a descrição dos sítios, levando-se em conta os seus

aspectos técnicos, como Técnica, Motivos, Cor e Ecologia, e uma pré-classificação dentro

da Tradição São Francisco, haja vista que todos os sítios visitados apresentavam as mesmas

características em relação ao motivo dos desenhos.

Na Tradição São Francisco, é possível observar os seguintes aspectos:

Nos grafismos predominam os motivos geométricos, mas verificam-se também

desenhos que representam formas humanas e animais (peixes, pássaros, cobras,

sáurios e algo parecido com tartaruga). Não existe nenhuma cena e, na maioria

dos casos, as figuras são feitas em duas cores. Como outras tradições, também

apresenta variedades regionais que contam com representações de pés

humanos, armas, instrumentos. (...) Os artesãos demonstram um forte sentido de

“efeito” na combinação das figuras geométricas, o que torna os painéis

extraordinariamente espetaculares. (Gaspar, 2003, p. 52-53).

Assim, para o total dos sítios descritos aqui, concorda-se com a predominância

da Tradição São Francisco, mas destaca-se a região como sendo uma zona de transição

entre diversas Tradições, conforme o descrito por Barberi (1995). A este fato, o zona de

transição, pode ser acrescido o tamanho relativamente pequeno dos sítios arqueológicos, o

que pode apontar para grupos caçadores-coletores de grande mobilidade espacial em

função das condições climáticas da região: seco entre os meses de março a outubro e

chuvoso e parcialmente úmido entre novembro e fevereiro. Mas esta hipótese ainda carece

de uma comprovação, haja vista que pouco trabalhos foram realizados na região.

Os sítios.

Apesar de já terem sido localizados mais de 30 sítios arqueológicos dentro da

APA e diferentemente do Relatório sobre a Arqueologia do local (Barbosa, 2001, p. 3-

181/3-192), serão tratados aqui apenas quatro sítios arqueológicos: Brejões I e Brejões II;

Bocana I e Bocana II. A escolha dos sítios não ocorreu de maneira aleatória, mas sim,

devido ao fato da proximidade entre eles, formando uma provável zona de ocupação

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temporária ou de passagem. Esta afirmação decorre das suas características físicas e

geográficas.

Além do mais, as pinturas encontradas nestes quatro sítios possuem uma certa

semelhança no traço e na incidência de positivos de mãos pintados nas paredes dos abrigos

com grande freqüência. Existe também uma certa repetição dos motivos geométricos nos

quatro sítios e apenas uma ligeira diversificação dos motivos no sítio Bocana I, onde

aparecem algumas figuras que guardam semelhança com pássaros.

• Sítio Brejões I – sítio localizado sob um grande paredão, que colocava, parcialmente ao

abrigo da chuva, as populações que ali deixaram os seus sinais. O sítio é composto de

uma série de pinturas, dispostas ao longo de 130 m de comprimento, numa altura média

de 1,60 m, sendo que existem neste sítio, pinturas localizadas a mais de 8,0 m de altura.

A maioria das pinturas podem ser classificadas dentro da Tradição São Francisco.

a)Técnica: figuras geométricas estilizadas e algumas figuras antropomorfas

e zoomorfas, composta de linhas grossas, sem movimento, sem muitos detalhes. Boa

parte das gravuras estão cobertas por uma grossa camada de poeira, haja vista que o

local já fora utilizado como área de pastagem para o rebanho bovino e caprino dos

moradores da vila dos Brejões. O piso do local está coberto por uma espessa camada de

sedimentos;

b)Motivos: basicamente desenhos geométricos com ângulos acentuados,

formas circulares concêntricas isoladas ou com linhas retas partindo do centro para as

extremidades; existem neste sítio poucas figuras zoomorfas e antropomorfas, além da

impressão positiva das mãos. Completam os painel, uma série de desenhos compostos

por pontos coloridos que dão forma aos mesmos;

c)Cor: as cores predominantes são o vermelho, para as figuras zoomorfas,

antropomorfas e a maioria das figuras geométricas; as demais figuras geométricas estão

pintadas em preto ou amarelo; algumas poucas estão representadas através de mais de

uma cor, como o vermelho, o amarelo, o preto e o branco;

d)Ecologia: a vegetação do entorno é primária, composta de malváceas e

algumas árvores de médio porte, como o angico e a aroeira.

• Sítio Brejões II – as pinturas seguem as mesmas tendências de Brejões I. Está

localizado numa pequena parede de aproximadamente 4 m de comprimento, situado em

frente ao sítio Brejões I. Os desenhos já estão em estado avançado de deterioração por

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ação natural da água que se infiltra na rocha e promove a dissolução de sais que

produzem a clacita e vai aos poucos cobrindo os desenhos e dificultando a sua

observação. Outro fator de destruição dos painéis é a excessiva camada de poeira que

aos poucos va sendo depositada sobre as pinturas.

a)Técnica: figuras geométricas disformes, situadas a baixa altura, com a

predominância de linhas grossas;

b)Motivos: desenhos geométricos isolados e figuras circulares concêntricas;

c)Cor: vermelho e ocre;

d)Ecologia: a mesma do sítio Brejões I.

• Sítio Bocana I – sítio localizado sob um grande abrigo de rochas, com uns 30 m de

comprimento por 30 m de altura, num terreno bastante acidentado, íngreme (15°+ de

inclinação) e com muitos blocos abatidos na entrada do abrigo. As pinturas estão

localizadas ao longo de todo o abrigo, sendo que algumas delas situam-se na área de

penumbra, ou seja, estão na parte mais escura do abrigo; dois destes conjuntos de

pinturas estão em condutos pequenos e que se afunilam abruptamente e um terceiro está

no teto baixo de uma pequena cavidade no canto direito do abrigo.

a)Técnica: figuras geométricas pintadas com linhas grossas, com

superposição de cores, positivos das mãos espalhados ao longo dos painéis; figuras

geométricas estilizadas com linhas duplas de execução complexa;

b)Motivos: antropomorfos e zoomorfos em pequena quantidade, motivos

geométricos espiralados com linhas retas partindo do centro para as extremidades,

desenhos labirínticos e desenhos anguliformes;

c)Cor: vermelho, vermelho-ocre, amarelo, preto e branco;

d)Ecologia: árvores de médio porte na frente do abrigo, principalmente

angico e aroeira; durante a estação das chuvas as águas de um rio temporário cortam a

frente do abrigo.

• Sítio Bocana II – o sítio localiza-se na entrada da Gruta da Bocana e tem na sua

composição básica, painéis nas laterais das paredes da gruta. Os painéis já estão bastante

deteriorados, possuindo uma grossa camada de poeira que impede a visualização de boa

parte dos desenhos. A entrada da gruta também está localizada em terreno com

inclinação bem acentuada, possuindo grande número de blocos abatidos na sua entrada.

a)Técnica: figuras geométricas pintadas com linhas grossas simples, numa

única tonalidade; possui também figuras geométricas estilizadas;

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b)Motivos: motivos geométricos espiralados; conjuntos de linhas retas

formando figuras geométricas retangulares com linhas paralelas no seu interior;

c)Cor: vermelho e vermelho-ocre;

d)Ecologia: semelhante a encontrada no sítio Bocana I.

Conclusão.

A ação humana nas proximidades do vale do Rio São Francisco e de seus

afluentes, conduz o pesquisador a períodos remotos da nossa história, onde é possível

observar que os grupos humanos agiam e interagiam com a flora e a fauna – principalmente

a mega fauna – da região de maneira sistêmica.

A chegada dos povos colonizadores europeus pode ter interrompido o

estabelecimento de novos parâmetros de exploração dos recursos naturais para estes povos,

no sentido de conseguirem transpor a etapa do nomadismo e da caça/coleta de alimentos

para o semi-nomadismo e um possível início da agricultura. Infelizmente, estas questões

nunca serão respondidas na sua plenitude, ficando assim, uma lacuna dentro do processo de

ocupação do interior do país.

As ações destes grupos, em meio a geografia da região, ficaram gravadas nos

diversos abrigos de rocha, entrada de grutas e cavernas do vale do Rio Jacaré. As pinturas

rupestres encontradas ali, podem fornecer subsídios – mesmo que precários – para

compreender as condições de vida do grupo que ocupou o vale, mesmo sendo eles

presumivelmente pequenos, haja vista tratarem-se de caçadores/coletores e não de

horticultores. As evidências encontradas até o presente momento apontam para esta

constatação o que pode ser comprovado através da relação cor/motivo de algumas pinturas

que se repetem ao longo dos abrigos, principalmente nos quatro que foram descritos aqui.

Como já foi posto, jamais se saberá o significado pleno das pinturas, mas as

inferências que podem ser elaboradas em torno do tema, permite adentrar em diversas

análises de significação para o mesmo assunto. Aos arqueólogos, basta tentar compreender

em que condições de sobrevivência estes indivíduos, e os seus respectivos grupos,

conseguiram atuar e manejar uma área tão vasta por um período considerável de tempo,

onde, provavelmente, as transformações climáticas e da paisagem pouco mudaram ao

longo dos últimos milênios.

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Neste sentido, a abordagem das pinturas em associação com outros grupos

humanos que habitaram as imediações do vale, adquire outra conotação, uma vez que, com

este procedimento será possível observar a distribuição espacial das populações e a

interação entre os diversos grupos que ocuparam e exploraram o vale do Rio Jacaré durante

a Pré-História. A localização e identificação dos sítios arqueológicos prossegue, cabendo

apenas às Instituições de Ensino Superior e Pesquisa do Estado da Bahia incentivarem os

seus Departamentos a desenvolverem a pesquisa em Arqueologia na região.

Agradecimentos.

Agradeço a Higesa Ltda. pela oportunidade de poder participar da equipe que

realizou o Diagnóstico Ambiental da APA dos Brejões Vereda do Romão Gramacho; à

geóloga Maria Lúcia Maciel Machado e à Arquiteta Andréia Cristiane Rios Leite Cabral

pelo convite e apoio durante todas as etapas do trabalho; ao Sr. Aloísio Cardoso,

administrador da APA, pela amizade construída ao longo do trabalho e pela facilidade de

acesso ao local para as aulas de campo dos alunos do curso de História da UESC, em

diversos outros momentos; à Universidade Estadual de Santa Cruz e ao Departamento de

Filosofia e Ciências Humanas pelo apoio no desenvolvimento de pesquisas na área de

Arqueologia; por último, aos alunos do curso de História, que estão sempre me

incentivando em seguir em frente e continuar com o desenvolvimento de novos projetos de

pesquisa nesta área do conhecimento.

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Page 11: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

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Page 12: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Memorial fotográfico dos sítios arqueológicos da APA dos Brejões

Foto 01 – Sítio Brejões I: figura geométrica estilizada.

Foto 2 – Sítio Brejões I: figura geométrica estilizada com dupla coloração.

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Page 13: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Foto 3 – Sítio Brejões I: zoomorfo sobre a impressão de um positivo de uma mão.

Foto 4 – Sítio Brejões I: desenho geométrico, bicolor, com linhas paralelas e ângulos

acentuados.

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Page 14: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Foto 4 – Sítio Brejões I: antropomorfo com pontilhado na cor branca.

Mapa 02 – Mapa do Sítio Bocana I elaborado pelo Grupo Bambuí de Pesquisas

Espeleológicas.

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Page 15: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Foto 5 – Sítio Bocana I: paredão lateral esquerdo.

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Page 16: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Foto 6 – Sítio Bocana I: vista frontal.

Foto 7 – Sítio Bocana I: mão estilizada.

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Page 17: A pintura rupestre da APA Gruta dos Brejões Vereda do Romão

Foto 8 – Sítio Bocana I: detalhe de antropomorfo.

Foto 9 – Sítio Bocana I: pintura com motivo geométrico em vermelho e ocre.

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