A Politica Espacial Brasileira

Embed Size (px)

Citation preview

07

A Poltica Espacial BrasileiraPARTE I

A Cmara pensando o Brasil

A PolticA EsPAciAl BrAsilEirAPArtE i

Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica Presidente Deputado Inocncio Oliveira Titulares Ariosto Holanda Emanuel Fernandes Flix Mendona Fernando Ferro Humberto Souto Jaime Martins Jos Linhares Mauro Benevides Paulo Henrique Lustosa Paulo Teixeira Rodrigo Rollemberg Suplentes Bilac Pinto Bonifcio de Andrada Colbert Martins Fernando Marroni Geraldo Resende Jos Genono Jlio Csar Paulo Rubem Santiago Pedro Chaves Waldir Maranho Wilson Picler Secretrio-Executivo Ricardo Jos Pereira Rodrigues Coordenao de Articulao Institucional Paulo Motta Coordenao da Secretaria Jeanne de Brito Pereira

Mesa Diretora da Cmara dos Deputados 53 Legislatura 4 Sesso Legislativa 2010 Presidncia Presidente: Michel Temer 1 Vice-Presidente: Marco Maia 2 Vice-Presidente: Antonio Carlos Magalhes Neto Secretrios 1 Secretrio: Rafael Guerra 2 Secretrio: Inocncio Oliveira 3 Secretrio: Odair Cunha 4 Secretrio: Nelson Marquezelli Suplentes de Secretrios 1 Suplente: Marcelo Ortiz 2 Suplente: Giovanni Queiroz 3 Suplente: Leandro Sampaio 4 Suplente: Manoel Junior Diretor-Geral Srgio Sampaio Contreiras de Almeida Secretrio-Geral da Mesa Mozart Vianna de Paiva

Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica CAEAT Gabinete 566A Anexo III Cmara dos Deputados Praa dos Trs Poderes CEP 70160-900 Braslia DF Tel.: (61) 3215 8625 E-mail: [email protected]/a-camara/altosestudos

Cmara do DeputadosConselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica

A PolticA EsPAciAl BrAsilEirAPArtE iRelator Rodrigo RollembergDeputado Federal

Equipe TcnicaElizabeth Machado Veloso (Coordenadora) Alberto Pinheiro de Queiroz Filho Bernardo Felipe Estellita Lins Eduardo Fernandez Silva Fernando Carlos Wanderley Rocha Flvio Freitas Faria Ildia de Asceno Garrido Juras Jos Theodoro Mascarenhas Menck Maria Ester Mena Barreto Camino Raquel Dolabela de Lima Vasconcelos Ricardo Chaves de Rezende Martins Roberto de Medeiros Guimares Filho Consultores Legislativos

Centro de Documentao e Informao Edies Cmara Braslia / 2010

CMARA DOS DEPUTADOS DIRETORIA LEGISLATIVA Diretor: Afrsio Vieira Lima Filho CENTRO DE DOCUMENTAO E INFORMAO Diretor: Adolfo C. A. R. Furtado COORDENAO EDIES CMARA Diretora: Maria Clara Bicudo Cesar CONSELHO DE ALTOS ESTUDOS E AVALIAO TECNOLGICA Secretrio-Executivo: Ricardo Jos Pereira RodriguesOs artigos O Direito Internacional Pblico e o Programa Aeroespacial de Alcntara e Problemas Fundirios relacionados ao Centro de Lanamento Espacial de Alcntara - Maranho no esto revisados conforme o novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

Criao do projeto grfico e da capa Ely Borges Diagramao e adaptao do projeto grfico Pablo Braz e Giselle Sousa Finalizao da capa Renata Homem Reviso Maria Clara lvares Correia Dias Cmara dos Deputados Centro de Documentao e Informao Cedi Coordenao Edies Cmara Coedi Anexo II Praa dos Trs Poderes Braslia (DF) CEP 70160-900 Telefone: (61) 3216-5809; fax: (61) 3216-5810 [email protected]

SRIE Cadernos de altos estudos n. 7Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) Coordenao de Biblioteca. Seo de Catalogao. A poltica espacial brasileira / relator: Rodrigo Rollemberg ; Elizabeth Machado Veloso (coord.) ; Alberto Pinheiro de Queiroz Filho ... [et al.]. Braslia : Cmara dos Deputados, Edies Cmara, 2009. 2 v. (Srie cadernos de altos estudos ; n. 7) ISBN 978-85-736-5811-8 (obra completa). ISBN 978-85-736-5751-7 (v. 1). ISBN 978-85-736-5810-1 (v. 2) Ao alto do ttulo: Cmara dos Deputados, Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica. 1. Explorao espacial, poltica, Brasil. 2. Pesquisa espacial, Brasil. 3. Defesa nacional, Brasil. 4. Polticas pblicas, Brasil. I. Rollemberg, Rodrigo. II. Veloso, Elizabeth Machado. III. Queiroz Filho, Alberto Pinheiro de. IV. Srie. CDU 341.229 (81) ISBN 978-85-736-5750-0 v. 1 (brochura) ISBN 978-85-736-5809-5 v. 2 (brochura) ISBN 978-85-736-5811-8 (obra completa) ISBN 978-85-736-5751-7 v. 1 (e-book) ISBN 978-85-736-5810-1 v. 2 (e-book)

SUMRIO

PARTE I

Siglas ______________________________________________________ 9 Apresentao ______________________________________________13 Prefcio ___________________________________________________15 1. Relatrio _________________________________________________17Cenrio e perspectivas da Poltica Espacial Brasileira ________________ 19 1. Introduo __________________________________________________ 19 2. Motivaes do estudo _________________________________________ 28 3. Objetivos do estudo __________________________________________ 30 4. Cenrio internacional _________________________________________ 33 5. O Programa Espacial Brasileiro __________________________________ 385.1 Histrico _______________________________________________________ 38 5.2 Organizao e infraestrutura do programa ____________________________ 42 5.3 Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) ______________________ 44 5.4 Principais desafios do PNAE ________________________________________ 46 5.4.1 Ampliao do marco institucional do setor _________________________ 46 5.4.2 Aprimoramento da coordenao poltica e da governana administrativa _ 50 5.4.3 Sinergia entre os projetos e as aes do PNAE _______________________ 53

Sumrio

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Sumrio

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

5.4.4 Promoo da transferncia de tecnologia __________________________ 54 5.4.5 Priorizao de projetos _________________________________________ 56 5.4.6 Fortalecimento da indstria no setor ______________________________ 58 5.4.7 Aperfeioamento da gesto oramentria __________________________ 60 5.4.8 Consolidao de uma poltica de recursos humanos para o setor ________ 62 5.5 Perspectivas do PNAE _____________________________________________ 64 5.5.1 Projetos programados _________________________________________ 64 5.5.2 Projetos e desafios do Centro de Lanamento de Alcntara ____________ 65 5.5.3 O Inpe e a poltica de satlites ___________________________________ 71 5.5.4 Dependncia de satlites estrangeiros _____________________________ 73

6. Consideraes finais __________________________________________ 76 7. Referncias __________________________________________________ 81

2. Colaboraes especiais _____________________________________85O Brasil na era espacial Samuel Pinheiro Guimares _________________________________________ 87 A Defesa e o Programa Espacial Brasileiro Nelson A. Jobim __________________________________________________ 91 Poltica Espacial Brasileira uma reflexo Carlos Ganem ___________________________________________________ 107 Os benefcios do Programa Espacial para a sociedade Gilberto Cmara Neto _____________________________________________ 113 A evoluo do setor espacial e o posicionamento do Brasil nesse contexto Ronaldo Salamone Nunes e Francisco Carlos Melo Pantoja ________________ 119 Por que o Programa Espacial Brasileiro engatinha Roberto Amaral__________________________________________________ 129 Prioridade da indstria quanto ao Programa Nacional de Atividades Espaciais PNAE e cooperao internacional Walter Bartels ___________________________________________________ 147 Tecnologia, informao e conhecimento para monitorar e proteger a Amaznia Rogrio Guedes Soares ____________________________________________ 161

3. Documento sntese _______________________________________169 4. Proposies Legislativas ___________________________________179Indicao _______________________________________________________ 181 Projeto de Lei____________________________________________________ 185

5. Glossrio________________________________________________197

PARTE II ANLISES TCNICAS

Siglas ______________________________________________________ 9 Nota introdutria ___________________________________________13 1. Perspectivas do setor aeroespacial ___________________________15A indstria e os obstculos ao desenvolvimento de pesquisas, produtos e aplicaes na rea espacial no Brasil Jarbas Castro Neto, Mario Stefani e Sanderson Barbalho ___________________ 17 Uma anlise comparativa do Programa Espacial Brasileiro Himilcon de Castro Carvalho ________________________________________ 37 Recursos humanos para a consecuo da Poltica Espacial Brasileira Maurcio Pazini Brando ____________________________________________ 53 A evoluo dos programas espaciais no mundo e a insero do Brasil: uma retrospectiva e projeo para o perodo 2010 2030 Jos Nivaldo Hinckel _______________________________________________ 67 Os microssatlites e seus lanadores Lus Eduardo V. Loures da Costa ______________________________________ 85 Gesto em reas estratgicas: a poltica espacial brasileira Ludmila Deute Ribeiro ____________________________________________ 105

2. Aspectos tcnico-legislativos _______________________________117A indstria espacial: uma (breve) viso geral Eduardo Fernandez Silva ___________________________________________ 119

Sumrio

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Sumrio

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

A formao de recursos humanos para o Programa Espacial Ricardo Chaves de Rezende Martins __________________________________ 139 Questes administrativas referentes ao Programa Espacial Brasileiro Flvio Freitas Faria ________________________________________________ 151 O PNAE Programa Nacional de Atividades Espaciais aspectos oramentrios Raquel Dolabela de Lima Vasconcelos ________________________________ 161 O papel estratgico da poltica espacial nas reas de meio ambiente, estudos climticos e previso do tempo Ildia da Asceno Garrido Juras _____________________________________ 179 O Direito Internacional Pblico e o Programa Aeroespacial Brasileiro Maria Ester Mena Barreto Camino e Jos Theodoro Mascarenhas Menck______ 201 Problemas fundirios relacionados ao Centro de Lanamento Espacial de Alcntara Maranho: processo de titulao da rea aos remanescentes de quilombos e comunidades de Alcntara Jos Theodoro Mascarenhas Menck e Maria Ester Mena Barreto Camino______ 231 Notas sobre Planejamento Estratgico Nacional Roberto de Medeiros Guimares Filho ________________________________ 257

SIGLASABC ABNT AEB AIAB ANATEL CAEAT CAPES CBERS CEA CLA CLBI CNAE CNPq COBAE COMAER CRC CTA CT&I CVS/ATM Academia Brasileira de Cincias Associao Brasileira de Normas Tcnicas Agncia Espacial Brasileira Associao das Indstrias Aeroespaciais do Brasil Agncia Nacional de Telecomunicaes Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior China-Brazil Earth Resources Satellite (Satlite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) Centro Espacial de Alcntara Centro de Lanamento de Alcntara Centro de Lanamento da Barreira do Inferno Comisso Nacional de Atividades Espaciais Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Comisso Brasileira de Atividades Espaciais Comando da Aeronutica Centro de Rastreio e Controle de Satlites Centro Tcnico Aeroespacial Cincia, Tecnologia e Inovao Communication, Navigation, Surveillance and Air Traffic Management (Comunicao, Navegao, Vigilncia e Controle de Trfego Areo) Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Sistema de Deteco do Desmatamento em Tempo Real Estao Espacial Internacional (ISS) Equatorial Atmosphere Research Satellite (Satlite de Pesquisa da Atmosfera Equatorial) Financiadora de Estudos e Projetos (MEC) Global Earth Observation System of Systems (Sistemas Globais de Observao da Terra)

DEPED DETER EEI EQUARS FINEP GEOSS

Sumrio Siglas

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

9

Sumrio Siglas

10

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

GETEPE GOCNAE GOES GPM GPS HSB IAE IAI INPE ISO ISS LCP LIT MCT MD MECB MIRAX MTCR NASA NOOA PCD PIPE PMM PNAE PNDAE PPA PPP PRODES RECDAS RF RHAE SAR SBPC

Grupo Executivo e de Trabalhos e Estudos de Projetos Espaciais Grupo de Organizao da Comisso Nacional de Atividades Espaciais Geostationary Operational Environment Satellites (Sistema Orbital de Monitoramento e Gesto Territorial da Nasa) Global Precipitation Measurement (Medidas Globais da Precipitao) Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global) Humidity Sounder for Brazil (Sensor de Umidade Brasileiro) Instituto de Aeronutica e Espao Inter-American Institute for Global Change Research (Instituto Inter-Americano de Pesquisas de Mudanas Globais) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais International Organization for Standardization (Organizao Internacional de Padronizao) International Space Station (Estao Espacial Internacional) Laboratrio de Combusto e Propulso Laboratrio de Integrao e Testes do Inpe Ministrio da Cincia e Tecnologia Ministrio da Defesa Misso Espacial Completa Brasileira Monitor e Imageador de Raios X Missile Technology Control Regime (Regime de Controle de Tecnologia de Msseis) National Aeronautics and Space Administration (EUA) National Oceanic and Atmosphere Administration Plataforma de Coleta de Dados Programa de Inovao Tecnolgica em Pequenas Empresas Plataforma Multimisso Programa Nacional de Atividades Espaciais Poltica Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais Plano Plurianual de Investimentos Parceria Pblico-Privada Programa de Avaliao de Desflorestamento na Amaznia Legal Rede Dedicada de Comunicao de Dados Radiofrequncia Programa de Recursos Humanos para Atividades Estratgicas Synthetic-Aperture Radar (Radar de Abertura Sinttica) Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia

SCD SECUP SGB SGBD SINACESPAO SINDAE SSR UCA VLS WFI

Satlite de Coleta de Dados Secretaria de Unidades de Pesquisa do MCT Satlite Geoestacionrio Brasileiro Sistemas Gerenciadores de Bancos de Dados Sistema Nacional de Avaliao da Conformidade na rea Espacial Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais Satlite de Sensoriamento Remoto Usina de Propelentes Coronel Abner Veculo Lanador de Satlites Wide Field Imager (Imageador de Campo Largo)

Sumrio Siglas

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

11

APRESENTAO

Na eterna busca pela satisfao de seu mpeto exploratrio, a humanidade tem avanado na conquista espacial. E, como no poderia deixar de ser, o Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica da Cmara dos Deputados participa ativamente na discusso das questes nacionais ao eleger a poltica espacial brasileira como tema prioritrio de sua agenda de debates. Proposto pelo relator, Deputado Rodrigo Rollemberg, em abril de 2009, o tema deu incio a um ciclo de palestras que contou com a participao de especialistas e diretores de instituies e de empresas vinculadas aos projetos que procuram inserir o Brasil como ator de relevante destaque no cenrio internacional de conquista do espao. O resultado das intensas discusses feitas pelo Conselho sobre o tema compe o stimo volume da coleo Cadernos de Altos Estudos: A Poltica Espacial Brasileira. A srie teve incio em 2004 com o ttulo Biodiesel e Incluso Social, relevante contribuio ao programa nacional de biocombustveis. Os outros ttulos da srie so: A Dvida Pblica Brasileira; O Mercado de Software do Brasil; A Capacitao Tecnolgica da Populao; Os Desafios do Pr-Sal; e Alternativas de Polticas Pblicas para a Banda Larga, todos temas centrais para um novo modelo de desenvolvimento para o pas. No caso da poltica espacial, estamos diante de um tema que permaneceu por muito tempo em segundo plano na agenda nacional, mas que agora precisa ter sua verdadeira importncia redimensionada, tanto para os formadores de opinio, quanto para os formuladores de polticas pblicas. O Brasil no pode mais abster-se do confronto tecnolgico e militar que se desenrola nos laboratrios de pesquisa e nas bases de lanamentos de foguetes.

Apresentao

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

13

Apresentao

14

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

O fato de sairmos na frente na conduo desse debate confirma que a Cmara dos Deputados cumpre com vigor sua funo de contribuir para a definio das linhas mestras da estratgia de desenvolvimento e defesa nacionais.Presidente da Cmara dos Deputados

Deputado Michel Temer

PREFCIO

inadmissvel que um pas que possui uma das mais ricas economias do mundo no eleja entre suas prioridades uma poltica espacial forte e consistente com as necessidades tecnolgicas do futuro prximo. Seria o mesmo que imaginar sem marinha mercante os gregos do perodo clssico, os portugueses dos Descobrimentos ou os estrategistas do imprio britnico. Neste sculo, o comrcio, a cincia e a defesa das naes dependero cada vez mais do domnio do espao e das possibilidades criadas pelas telecomunicaes e pelos satlites e artefatos militares posicionados na rbita terrestre. O que at pouco tempo pertencia ao mundo da fico cientfica tornouse realidade que no pode ser ignorada pela geopoltica internacional. Diante desses fatos inquestionveis, o Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica da Cmara dos Deputados props o desafio de investigar as causas do atraso da poltica espacial brasileira, lanando ao Parlamento e sociedade a proposta de repensar a ateno que tem sido dada ao Programa Nacional de Atividades Espaciais e aos objetivos por ele definidos no que diz respeito utilizao de tecnologias de explorao do espao. A extenso territorial, a administrao de fronteiras, a riqueza da Amaznia e a vigilncia da costa e das reservas de petrleo j seriam razo suficiente para justificar mais investimentos no programa espacial. Isso para no falar de educao a distncia e incluso digital, segurana alimentar e monitoramento de safras agrcolas, comunicao empresarial e entretenimento. E, no entanto, apesar de termos reconhecida competncia de pessoal no setor aeroespacial, estamos perdendo oportunidades para outros pases, como ndia e China, que investem mais e melhor nessas atividades. No Brasil, a poltica espacial surgiu simultanemente aos principais programas de outros pases, destacadamente Estados Unidos e Unio Sovitica. Apenas

Prefcio

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

15

Prefcio

16

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

quatro anos aps a Unio Sovitica ter colocado em rbita seu primeiro satlite, o Brasil lanava sua primeira medida oficial para ingressar nesse seleto clube, criando o Grupo de Organizao da Comisso Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), subordinado ao Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Depois de nascer sob um governo civil, perdurar durante o regime militar, ser submetido a duas revises programticas e sofrer severas restries oramentrias, o programa espacial brasileiro ganhou status de poltica estratgica no Plano Nacional Estratgico de Defesa. Mas apesar do pioneirismo, esse programa enfrenta hoje uma demanda maior do que os recursos alocados so capazes de atender. Alm da pesquisa e desenvolvimento de satlites, devem ser contemplados o desenvolvimento de um veculo lanador de satlites e o fortalecimento da base de lanamentos com fins comerciais, situada em Alcntara, no Maranho. Essas trs aes delimitam de maneira genrica o escopo do programa, que foi batizado, no incio dos anos 80, de Misso Espacial Completa Brasileira. Passados trinta anos, o projeto de domnio do chamado ciclo espacial, hoje restrito a poucos pases, ainda est longe de ser alcanado por nossos cientistas. Este estudo organizado em dois volumes visa apurar as razes que levaram sucessiva postergao das metas e do cronograma previstos, bem como apontar propostas que possam equacionar as dificuldades e limitaes do programa espacial no Brasil. Adicionalmente, pretende-se levar sociedade brasileira o debate sobre a relevncia, os objetivos e a relao entre os custos e os benefcios de se manter um programa de alta intensidade tecnolgica, cotejando os investimentos e os riscos envolvidos com os resultados que podem ser alcanados. Lutar por um lugar de destaque na indstria aeroespacial deciso estratgica fundamental para aprimorar a comunicao com o mundo, preservar a soberania e assegurar o desenvolvimento econmico de que depende a harmonia social. O Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica espera, com as recomendaes que ora oferece, contribuir para uma vigorosa retomada da poltica espacial brasileira.Presidente do Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica da Cmara dos Deputados

Deputado Inocncio Oliveira

RELATRIO

1

Cenrio e perspectivas da Poltica Espacial Brasileira

Satlite CBERS 3 ilustrao Fonte: Inpe

Cenrio e perspectivas da Poltica Espacial BrasileiraA Terra o bero da humanidade, mas ningum pode viver eternamente no bero. Konstantin Tsiolkoviski

1. IntroduoA explorao espacial conquistou nova dimenso na disputa de poder entre as naes nas ltimas dcadas. Ter acesso ao ambiente espacial aumenta o poderio militar, promove o desenvolvimento econmico e confere prestgio poltico. No contexto internacional, essencial para elevar a influncia de um pas, em harmonia com as demais atividades industriais. Ademais, os produtos espaciais esto entre os de maior valor agregado no mercado mundial. Trata-se de atividade que traz enormes desafios tcnicos e demanda coragem e preparo humano equiparveis fase herica das grandes navegaes. Confere aos pases que encontram sucesso nesse empreendimento uma autonomia comparvel quela que possuam os pases colonizadores europeus, capazes de construir embarcaes e realizar navegaes atravs dos oceanos, nos sculos XV e XVI. O espao um ativo estratgico que gera foco significativo de investimentos nacionais entre um nmero crescente de naes. E, apenas meio sculo depois do lanamento do primeiro satlite, a atividade espacial ganhou tal dimenso que tornou-se presena indispensvel no cotidiano de todos ns. O marco zero da atividade espacial foi o lanamento do satlite Sputnik I pela Unio Sovitica, em outubro de 1957. Desde ento, o valor econmico das aplicaes e dos benefcios do uso de artefatos espaciais tem aumentado fortemente,

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

19

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

20

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

a exemplo dos servios de previso meteorolgica, de posicionamento global e de sensoriamento remoto. O xito de um programa espacial depende no apenas do uso dos recursos espaciais, mas, necessariamente, da autonomia que um pas deve possuir no tocante colocao de satlites em rbita, sem submeter-se a interesses polticos, econmicos e militares das naes que detm essa capacidade. O domnio do ciclo completo da atividade espacial, que inclui autonomia para lanamento de satlites por veculos lanadores prprios em territrio prprio, est restrito hoje a poucos pases: Estados Unidos, Rssia e China, alm das iniciativas conjuntas dos pases que integram a Unio Europeia. Um nmero cada vez maior de naes, inclusive em desenvolvimento, envidam esforos em programas espaciais visando afirmao de sua soberania, ao aumento da segurana nacional e do desenvolvimento econmico e social. Novas dimenses esto sendo agregadas a esses objetivos, adequando as atividades espaciais evoluo tecnolgica promovida pelas Tecnologias da Informao e da Comunicao (TIC). Exemplo disso a rede mundial de computadores. Assim como a Internet, que nasceu como uma rede de defesa dos Estados Unidos e hoje foi incorporada sociedade civil, a tecnologia espacial, sem perder seu carter militar original, avana rapidamente no setor das telecomunicaes, assumindo papel relevante em misses como a de incluso digital de populaes em reas remotas, tele-educao, telemedicina e outras aplicaes diretas em benefcio da sociedade. No deve ser minimizada, no entanto, a importncia militar da tecnologia espacial. A conjuntura internacional incerta, complexa e dinmica. Novas ameaas surgem a cada dia, sustentadas por conflitos urbanos, pelo risco de contrabando de armas de destruio em massa e pelo uso, por pases ou grupos hostis, dos recursos de informtica e do ambiente virtual. O pesquisador Robert C. Harding (2009) afirma que as grandes potncias, e especialmente suas foras armadas, fazem do espao um meio indispensvel na coleta de informaes de inteligncia e nas atividades de comunicao. A espionagem espacial uma nova dimenso dos sistemas de segurana dos pases do Primeiro Mundo.

As disputas internacionais que estimulam a corrida espacial no so apenas globais, mas tambm regionais. A ttulo de exemplo, o programa espacial japons ganhou impulso diante da ameaa norte-coreana. A atividade espacial, incluindo bens e servios, indivduos, corporaes e governos, movimentou 257 bilhes de dlares em 2007, dos quais 35% so oriundos de servios satelitais comerciais e 32% da indstria responsvel pela infraestrutura comercial (THE SPACE report, 2008). Deste total, 26% so provenientes do oramento espacial do governo dos Estados Unidos e 6% dos outros governos. Curiosamente, apenas 1% refere-se a lanadores e indstria de suporte. Os Estados Unidos continuam na liderana do setor espacial, tanto nos investimentos na rea militar, quanto no mercado comercial de servios e aplicaes de satlites ou de lanamentos. Detm 41% do mercado global de satlites, sendo que a participao brasileira representa 1,9% do total. Os americanos detm tambm o controle do mercado espacial, por meio de tratados que restringem a transferncia de conhecimento, tecnologia, produtos e componentes de uso dual, dos quais o Atomic Energy Act, ou Lei da Energia Atmica, foi o precursor, em agosto de 1946. O Brasil hoje se insere na lista dos pases considerados preocupantes no que se refere aos projetos de desenvolvimento de veculos de longe alcance, em que pese tenha entre seus princpios o carter pacfico das atividades espaciais (SANTOS, 2000). Como parceiro, competidor ou observador, com ou sem restries a programas de outros pases, os Estados Unidos ainda definem as tendncias dos programas governamentais e suas diretrizes. A deciso anunciada pelo presidente Barack Obama, no incio de 2010, de cancelamento do projeto Constellation, sucessor da misso Apollo, responsvel por levar o homem Lua, reafirma a preferncia pela explorao comercial do espao, que prevalece neste momento. Embora o oramento da rea militar tenha sido mantido, os recursos globais da Nasa foram reduzidos e o governo est redirecionando os esforos para a indstria de lanadores e veculos espaciais, que assumir a funo hoje da agncia americana de levar astronautas nas futuras misses espaciais. A estratgia tambm resposta crise econmica que abalou os Estados Unidos e outras economias mundiais, o que tem levado a uma grande reviso dos programas

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

21

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

22

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

espaciais de pases pioneiros, como Rssia, e em ascenso na explorao espacial, como Coreia do Sul, China e ndia. Alm de manter o poder dissuasrio do Estado, por meio do incremento do poderio militar, e de fortalecer a pesquisa cientfica e tecnolgica, esses governos visam elevar a competitividade de suas indstrias, por meio da formao de capital humano e do estmulo inovao. Com os mais diferentes formatos e oramentos, os programas espaciais estabelecem suas misses a partir de uma viso de governo de mdio e longo prazo, considerando as questes prioritrias de cada pas. So polticas hoje complementares dos demais setores do Estado e da economia, em especial o meio ambiente, a agricultura, a segurana, as comunicaes e a navegao aeronutica. A maioria, no entanto, segue a tendncia de fortalecimento das comunicaes por satlites segmento este que j predominantemente privado e desenvolvimento e uso de aplicaes em informtica, sensoriamento remoto e navegao. O Programa Espacial Brasileiro tem reagido aos movimentos internacionais. Embora pouco conhecidas dentro do pas, as atividades espaciais no Brasil so acompanhadas com grande interesse por todos os atuantes do setor. So diversas as razes para a visibilidade do programa. Entre elas, merece ser destacado que o Brasil um pas lder na Amrica Latina, seja em termos econmicos, seja em termos polticos detm o maior PIB, a maior populao e a economia mais diversificada da regio. Possui, ainda, a quinta maior extenso territorial do mundo e abriga a mais extensa floresta tropical, com toda a sua biodiversidade. O patrimnio da Amaznia seria, por si s, motivo relevante para os investimentos governamentais na rea espacial. No entanto, h outros fatores motivadores, como a recente descoberta das reservas de petrleo na camada do pr-sal da costa brasileira. O Programa Espacial Brasileiro evoluiu como extenso natural da estratgia dos governos militares de transformar o Brasil em uma potncia de mdio porte. Assim surgiram os projetos na rea energtica, como a construo de grandes hidroeltricas e o programa nuclear, alm das aes de interiorizao do pas nos anos 60 e 70. Atualmente, as pesquisas, misses e projetos espaciais no Brasil esto ligados indiretamente poltica governamental de Relaes Exteriores, que visa projetar o pas como nao-continente, com ambies econmicas e geopolticas regionais,

embora rigorosamente comprometido com o uso da tecnologia para fins pacficos, em consonncia com os princpios do direito espacial internacional. Apesar de estar se tornando uma indstria multibilionria e cada vez mais comercial, o setor espacial sempre estar condicionado a interesses polticos e militares das naes mais poderosas. A histria da corrida espacial demonstra que a defesa tem sido o grande fator impulsionador dos programas espaciais, como ocorreu com os Estados Unidos na dcada de 60 e acontece hoje com pases como Ir e China. A nova legislao japonesa consagrou mudanas na prpria estratgia do programa espacial, que assumiu abertamente suas necessidades de defesa frente ameaa da Coreia do Norte. No existem indicadores econmicos ou orientaes polticas que se correlacionem ou que justifiquem a deciso de um pas de investir em atividades espaciais. Pases de realidades socioculturais to dspares quanto frica do Sul e Estados Unidos, ou Japo e ndia dedicam-se a projetos na rea espacial, cada qual com conformao prpria e objetivos distintos. Um programa espacial, portanto, no emblema de desenvolvimento econmico ou organizao do Estado, evidenciados por alto IDH ou renda per capita, moeda forte, oramentos elevados ou sistemas polticos democrticos. Mas , certamente, smbolo de poder militar e prestgio poltico, o que assegura que uma nao seja respeitada no cenrio mundial. Desde a sua instituio, no incio dos anos 60, o Programa Espacial Brasileiro influenciado por essa dimenso de defesa nacional comum aos mais diversos pases. Inicialmente reconhecendo-nos como parceiro, os Estados Unidos consideram hoje o Brasil competidor na rea. Embora a cooperao internacional seja extensamente praticada na atividade espacial, os acordos e tratados, alm dos dispndios elevados, so invariavelmente cercados de salvaguardas no que tange transferncia de tecnologia. Representam, na prtica, dentro de um modelo de diviso de tarefas, mais uma conjuno de interesses do que um real esforo das naes para o desenvolvimento conjunto de novas tecnologias. O cenrio poltico determinante para a aplicao de restries e embargos internacionais, especialmente pelos Estados Unidos, contra a aquisio de tecnologias crticas para uso militar. Essa uma das razes pelas quais o Brasil avanou na rea de aplicaes civis de satlites. No entanto, teve poucos resultados no

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

23

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

24

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

projeto do veculo lanador. Vrios componentes necessrios ao projeto tiveram a sua venda embargada pelo governo norte-americano, por meio de mecanismos institucionalizados de restries a vendas, especialmente o ITAR (International Traffic in Arms Regulations), que tem dificultado a exportao, por empresas norte-americanas, de sistemas e componentes de lanadores e satlites, inclusive de telecomunicaes. Apesar de o Brasil ter aderido ao MTCR (Regime de Controle da Tecnologia de Msseis), em fevereiro de 1994, a adeso no impediu as restries no acesso a tecnologias sensveis. Os embargos no so a nica explicao para os atrasos no Programa Espacial Brasileiro. A misso espacial no Brasil foi estabelecida ainda na dcada de 80. Instituda em 1979, a misso de lanamento de satlite prprio em lanador desenvolvido no pas a partir do Centro de Lanamento de Alcntara cuja posio geogrfica considerada a mais privilegiada do mundo para o lanamento de artefatos espaciais, por sua proximidade com a linha do Equador no foi concluda. A Misso Espacial Completa Brasileira (MECB) ainda integra o objetivo central do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), com horizonte de ao entre 2005 e 2014. Com oramento limitado, restries internacionais e dificuldades operacionais na conduo do programa espacial, o carro-chefe do Programa Espacial Brasileiro, que o desenvolvimento de satlites e lanadores e o acesso autnomo ao espao, pouco avanou. H, porm, reas em que o Brasil atingiu resultados. O pas tem competncia internacionalmente reconhecida no que diz respeito ao processamento de imagens de satlites, especialmente na rea de meteorologia. O conhecimento, no entanto, limitado, uma vez que o Brasil dependente dos satlites estrangeiros1. Com a desativao do satlite CBERS-2B2, que fornecia imagens para os programas Prodes e Deter do Inpe, responsveis pelo monitoramento do ndice de desmatamento da Amaznia, a dependncia internacional aumentou.

1

O pas utiliza satlites da srie GOES, da NOAA, dos Estados Unidos, como cortesia (Duro, 2010), ficando sujeito s decises operacionais estrangeiras. Lanado em 2007, o satlite CBERS-2B tinha vida til estimada de dois anos, tendo completado cerca de 13 mil voltas na rbita da Terra, gerando cerca de 270 mil imagens para usurios brasileiros e outras 60 mil para mais de 40 pases. Falhas de comunicao com o satlite foram detectadas em maro de 2010, e em maio de 2010 foi anunciado o fim das operaes.

2

O aporte elevado e crescente de recursos condio bsica para a obteno de resultados em atividades deste tipo. De 2003 a 2008, Rssia, ndia, China, Coreia do Sul, Japo e Frana aumentaram substancialmente os investimentos no setor (GOVERNMENT, 2008). O Brasil exceo, tendo em vista que o oramento pblico sofreu queda no incio da dcada de 90, recuperando-se apenas a partir de 2002, aproximadamente. Teve maior crescimento em 2009, porm com corte de 20% em 2010 (R$ 352 milhes, contra R$ 450 milhes autorizados em 2009). Comparativamente, os gastos governamentais em aplicaes civis em 2008 foram de US$ 18,9 bilhes para a National Aeronautics & Space Administration (Nasa); US$ 4,55 bilhes para a European Space Agency (ESA); US$ 2,48 bilhes para a Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA); US$ 2,09 bilhes para a French Space Agency (CNES); US$ 1,31 bilho para a Russian Federal Space Agency (RKA); US$ 1,30 bilho para a Chinese National Space Administration (CNSA); US$ 966 milhes para a Indian Space Research Organization (ISRO) e US$ 147 milhes para a Agncia Espacial Brasileira (AEB). O oramento do programa brasileiro menor do que o da Netherlands Institute for Space Research (SRON), a agncia espacial holandesa, cujo programa espacial bem menos abrangente que o brasileiro. Diante dos recursos escassos e resultados insuficientes obtidos at agora, em que pese a relevncia poltica, cientfica e econmica do setor, o Programa Espacial Brasileiro passa por uma srie de questionamentos com relao sua operacionalidade e eficcia. As discusses envolvem questes relativas estrutura institucional e coordenao poltica, com a falta de hierarquia entre os rgos, dotaes oramentrias insuficientes e ausncia de sinergia entre os projetos propostos, alm de inadequao dos instrumentos jurdicos e legais necessrios sua consecuo. O dilema sobre os rumos do Programa Espacial Brasileiro acentuou-se aps o acidente que matou 21 tcnicos e cientistas durante a preparao para o lanamento do VLS-1, no Centro de Lanamento de Alcntara (CLA), em agosto de 2003. A instabilidade de recursos e os sucessivos contingenciamentos oramentrios so apontados como os principais fatores para a tragdia, demonstrando que, embora se tratasse de uma poltica estratgica nacional, o programa espacial no se apresentava altura de sua misso, por decises da rea econmica do governo.

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

25

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

26

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Relatrio de comisso externa da Cmara dos Deputados criada para avaliar o acidente apontou trs causas principais: baixos investimentos na rea, carncia de pessoal capacitado e problemas na estrutura organizacional do Programa Espacial Brasileiro, sugerindo que a Agncia Espacial Brasileira passasse a ser subordinada diretamente Presidncia da Repblica (discusses levantadas na mdia por autoridades ligadas ao CLA chegaram a aventar a hiptese de sabotagem, nunca porm confirmada). Tendo passado quase uma dcada do acidente, as diretrizes, objetivos e misses previstas do programa foram mantidos, no se alterando, contudo, o quadro de dificuldades oramentrias e gerenciais. Consubstanciada no documento Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), a poltica espacial tem escopo definido e a conquista da autonomia tecnolgica tratada como um objetivo funcional. Na teoria, o programa no visa to somente produo cientfica, mas considerado um meio de produzir ganhos sociedade. O PNAE estabelece, em termos literais, que o objetivo do programa :capacitar o pas para desenvolver e utilizar tecnologias espaciais na soluo de problemas nacionais e em benefcio da sociedade brasileira, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, por meio da gerao de riqueza e oferta de empregos, do aprimoramento cientfico, da ampliao da conscincia sobre o territrio e melhor percepo das condies ambientais. (AGNCIA ESPACIAL BRASILEIRA, 2005, p. 12)

Em todo o mundo, os governos no conseguem atingir sozinhos tais objetivos econmicos e sociais, mas atuam como os grandes financiadores da pesquisa bsica e aplicada, que s se justifica, porm, caso esse conhecimento seja transferido para a indstria, para que se possa produzir bens e prestar servios sociedade. No Brasil, como nos demais pases, os recursos para a rea espacial so provenientes do oramento pblico e uma das principais diretrizes fortalecer a indstria e promover maior envolvimento das universidades e centros de pesquisa. Na prtica, a indstria espacial brasileira incipiente, e as empresas que lograram sobreviver no rido ambiente de escassos recursos diversificaram seus negcios, ingressando em setores como o de tecnologia aplicada sade ou o de armamentos e defesa.

Em 2008, o programa recebeu nova chancela pblica de prioridade nacional, ao ser includo em uma das diretrizes da Estratgia Nacional de Defesa na rea de cincia e tecnologia, qual seja, a de fortalecer os setores espacial, ciberntico (Tecnologias da Informao e da Comunicao) e nuclear. Seguindo preceitos internacionais, a rigor os requisitos para a valorizao do programa espacial como projeto de alta relevncia estariam preenchidos: motivao militar de defesa do territrio, das riquezas e da soberania do pas e preveno a crimes, como grilagem de terras; demanda social de integrao de reas isoladas por meio da comunicao via satlite e preveno a desastres naturais; interesse na massificao de tecnologias da informao, como a Internet em banda larga; potencial econmico para setores vitais, como o agronegcio e aplicativos como geoposicionamento e defesa dos interesses ambientais de preveno a queimadas, desmatamentos e estudos sobre mudanas do clima. Entretanto, o descompasso entre as diretrizes e metas do programa e as condies oferecidas sua consecuo tem trazido prejuzo no apenas ao desenvolvimento do pas, deixando todas essas reas a descoberto. Atinge tambm a imagem de pioneirismo conquistada pelo Brasil em pesquisa espacial ao longo das ltimas dcadas. Enquanto pases emergentes como ndia, China e Coreia do Sul avanam a passos largos em suas polticas espaciais em virtude de propsitos coerentes e recursos substanciais compatveis com os objetivos, o programa brasileiro perde o destaque que conquistou por ter sido um dos mais antigos e completos. Em 2003, o Brasil era classificado no nvel III entre os programas espaciais na Amrica Latina (NEWBERRY, 2003). Posicionou-se entre aqueles que no detinham capacidade para, independentemente, produzir e lanar naves espaciais em larga escala, mas que possuam a infraestrutura e a capacidade tcnica para desenvolver artefatos espaciais. O relatrio Futron Space Competitiveness Index (SCI) alerta que o Brasil vem perdendo posies ao longo dos anos. Ocupa hoje a ltima colocao entre os dez pases analisados quanto ao ndice de Competitividade Espacial, que avalia trs dimenses principais: programas governamentais, capital humano e participao

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

27

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

28

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

da indstria (FUTRONS 2009)3. A razo apontada pelo relatrio para a perda de competitividade brasileira a falta de estratgia clara e de compromisso de investir em atividades espaciais, aspectos que sero detalhados neste estudo. A busca da autonomia, tanto no domnio de tecnologias crticas, quanto no acesso ao espao ou no uso de servios e aplicaes espaciais, no foi alcanada, gerando at hoje dependncia dos operadores e fornecedores internacionais. Depois de quase meio sculo de dedicao e esforo de seus cientistas, o Brasil parece estar distante do sonho de completar o desenvolvimento de foguetes de sondagem, de veculos lanadores e de ter o domnio das tecnologias de satlites para viabilizar as misses orbitais e suborbitais previstas no programa.

2. Motivaes do estudoO Brasil possui um programa espacial institucionalmente estruturado em bases legais slidas. H um conjunto de leis e normas jurdicas que delimitam as aes do Estado na rea espacial e buscam estabelecer as conexes com os demais setores da sociedade, em especial os setores acadmico e produtivo. Da parte do Estado, duas instituies lideram os esforos de pesquisa espacial: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministrio da Cincia e Tecnologia, e o Instituto de Aeronutica e Espao (IAE), ligado ao Departamento de Cincia e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronutica (Comaer), vinculado ao Ministrio da Defesa. No meio acadmico, o Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA), tambm ligado ao DCTA, o grande formador de recursos humanos para a rea espacial. O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) coordena esforos com o Sistema Nacional de Cincia e Tecnologia, formado por centros tecnolgicos e de inovao, universidades, institutos de pesquisa e empresas. Possui interfaces com vrias aes do governo federal, como o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) para a rea de cincia e tecnologia. Est presente no Plano Plurianual, do3

O relatrio Futrons 2009 Space Competitiveness Index selecionou cerca de 50 mtricas para avaliar a competitividade dos programas espaciais nas suas trs principais dimenses: governamental, de recursos humanos e indstria. Aos trs segmentos tradicionais da Poltica Espacial, quais sejam, sensoriamento remoto, uso militar e posio, navegao e tempo (PNT), foram acrescidos outros dois: explorao espacial, que inclui misses espaciais, e desenvolvimento de tecnologia industrial de base para setores estratgicos da economia, como as reas de engenharia.

Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto, em diversas aes com impacto direto sobre a vida em sociedade. Conceitualmente, o programa demonstra sua caracterstica multidisciplinar e de amplo espectro. Na atualizao da Poltica Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), aprovada pelo Decreto n 1.332, de 8 de dezembro de 1994, so apontadas, entre outras, as seguintes diretrizes: prioridade para a soluo de problemas nacionais; concentrao de esforos em programas mobilizadores; nfase nas aplicaes espaciais e coerncia entre programas autnomos. Em termos prticos, os servios espaciais prestam-se hoje, por meio de satlites e equipamentos de solo, a funes como previso de safras agrcolas, coleta de dados ambientais, previso do tempo e do clima, localizao de veculos e sinistros, e desenvolvimento de processos industriais, alm da defesa e segurana do territrio nacional. O tema poltica espacial tem, portanto, implicaes mais diretas no cotidiano do que a maioria das pessoas imagina. A importncia do Programa Espacial Brasileiro e as dificuldades que vem enfrentando motivaram o Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica, da Cmara dos Deputados, a inserir o tema na agenda poltica do Parlamento brasileiro. Em virtude disso, o Conselho aprovou, em abril de 2009, a realizao de estudo para avaliar a situao do Programa Espacial Brasileiro, suas demandas e necessidades, bem como desafios e ameaas, e propor mecanismos para permitir o seu aperfeioamento nos prximos anos. Vislumbrar para o Brasil uma posio afirmativa e soberana em uma rea que detm reconhecida importncia no atual marco geopoltico mundial significa tambm avanar na reflexo sobre um tema que requer extraordinrio esforo e dedicao para que o pas possa tornar-se protagonista. So desafios que o Brasil j demonstrou ser capaz de superar, como nas reas de explorao do petrleo e de tecnologia agropecuria, tendo frente, respectivamente, a Petrobras e a Embrapa. Ademais, trata-se de um segmento que contempla o atendimento de interesses econmicos e, simultaneamente, os interesses de Estado voltados defesa e ao controle de informaes, dentro da tradicional vocao pacifista do pas.

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

29

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

30

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Em que pesem a dimenso continental e as agudas demandas econmicas e sociais, o Programa Espacial Brasileiro ainda no goza do necessrio prestgio poltico, o que se reflete na ausncia de estrutura organizacional e investimentos humanos, financeiros e logsticos adequados. As unidades executoras esto posicionadas em nveis de segundo ou terceiro escalo na estrutura do Estado, e o rgo de coordenao, a Agncia Espacial Brasileira, no dispe, na prtica, nem de autonomia poltica nem administrativa4 para atender s necessidades do setor.

3. Objetivos do estudoEste estudo investiga as razes que levaram sucessiva postergao das metas e cronogramas estabelecidos no Programa Espacial Brasileiro, procurando apontar propostas que possam equacionar dificuldades e limitaes, com vistas a estimular a atividade espacial no Brasil. Visando tambm a conscientizar a sociedade sobre a relevncia, os objetivos e a relao entre custos e benefcios do programa, o estudo externa, ainda, a opinio de dirigentes, tcnicos e especialistas do setor espacial, por meio de artigos sobre o tema. Outra meta a que se prope promover a sensibilizao do prprio Congresso Nacional, da rea militar e da sociedade civil organizada, que foram convidados a debater o tema em reunies, audincias pblicas, seminrios, eventos e fruns eletrnicos via Internet, realizados pelo Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica, desde abril de 2009. Como legtimo frum de debates da sociedade, a Cmara dos Deputados, por meio de parlamentares e de consultores tcnico-legislativos da Casa, dedicou-se a colher depoimentos, sugestes, crticas e observaes concernentes ao Programa Espacial Brasileiro. O Quadro 1 sintetiza as principais audincias, visitas e programas de divulgao coordenados pelo CAEAT no contexto deste estudo.

4

Como autarquia, a AEB se submete s restries vlidas para a Administrao Pblica direta, autrquica e fundacional, no que se refere gesto de pessoal, compras e contrataes e gesto patrimonial.

Quadro 1 Aes relacionadas ao estudo sobre o Programa Espacial BrasileiroData Atividade Palestra do diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Cmara Neto, para apresentao do Instituto, primeiro rgo pblico brasileiro de pesquisa cujo trabalho se encontra focado em atividades de observao da Terra e do meio ambiente Palestra do diretor-geral brasileiro da empresa binacional Alcntara Cyclone Space, Roberto Amaral, para prestar esclarecimentos sobre a empresa, que resultou de um acordo entre o Brasil e a Ucrnia para o desenvolvimento de tecnologia espacial Palestra do presidente da Agncia Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, seguida de exposio do diretor de Poltica Espacial e Investimentos Estratgicos da Agncia, Himilcon Carvalho, sobre o Programa Espacial Brasileiro Definio do tema Poltica Espacial Brasileira como objeto de estudo do Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica, sob a relatoria do Deputado Membro Rodrigo Rollemberg Visita tcnica ao DCTA e ao Inpe, e reunio com o setor produtivo aeroespacial, em So Jos dos Campos (SP) Apresentao institucional do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteo da Amaznia Censipam, que compe o sistema de monitoramento de aes de governo na Amaznia Legal Brasileira Audincia Pblica conjunta com a Comisso de Cincia e Tecnologia, Comunicao e Informtica (CCTCI) da Cmara dos Deputados, para debater o tema: A formao de recursos humanos e o desenvolvimento da pesquisa cientfica e tecnolgica para a poltica espacial brasileira Seminrio Por uma Nova Poltica Espacial Brasileira: realidade ou fico? realizado na TV Cmara, com transmisso ao vivo para todo o pas. Programao: 9/11/2009 1 Painel de Debates: Relevncia do setor espacial para o pas e reavaliao dos rumos e objetivos do Programa Nacional de Atividades Espaciais 2 Painel de Debates: Instrumentos e ferramentas necessrios catalisao de programas e aes no mbito da poltica espacial brasileira 16/11/2009 Lanamento do Programa E-democracia (www.edemocracia.gov.br), no portal da Cmara dos Deputados, com o objetivo de promover a discusso com a sociedade por meio da comunidade virtual disponibilizada na Internet Insero do tema Poltica Espacial na pgina eletrnica da Cmara dos Deputados no programa Fique por Dentro, destinado a debater temas em destaque no Congresso Nacional Visita tcnica, coordenada pelo Deputado Rodrigo Rollemberg, ao Centro de Lanamento de Alcntara, no Maranho. O roteiro incluiu oitiva com militares e servidores do CLA, visita a agrovilas de Pepital e Marud e reunio com o governador do Estado em exerccio, Joo Alberto

18/3/2009

15/4/2009

29/4/2009

29/4/2009

16-19/8/2009

07/10/2009

15/10/2009

18/1/2010

28-29/1/2010

Fonte: CAEAT

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

31

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

32

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Decisiva foi a participao dos rgos que integram o sistema espacial brasileiro no sentido de oferecer subsdios ao estudo, a quem agradecemos, especialmente, aos representantes da AEB, do Inpe, do IAE, do CLA, do DCTA. Informaes relevantes (anexo desta publicao) tambm foram obtidas por meio do Portal E-democracia (http://www.edemocracia.camara.gov.br/publico/), mantido pela Cmara dos Deputados, no qual tcnicos, especialistas, cientistas e estudiosos da poltica espacial puderam opinar livremente sobre o tema. O E-democracia um espao virtual criado para discutir idias e estimular cidados, profissionais interessados e organizaes a contribuir no processo de elaborao de leis no pas. O stio da Cmara dos Deputados dedicado ao pblico infanto-juvenil tambm entrou na discusso da poltica espacial brasileira. Com uma linguagem didtica e acessvel a um nmero imenso de usurios e acessos em escolas, o Plenarinho lanou quiz sobre a explorao espacial no Brasil e no mundo, com questes como as primeiras misses para a Lua, quem cuida da poltica brasileira e quantos satlites o Brasil j desenvolveu. O objetivo estimular a imaginao e a vocao das novas geraes para as atividades cientficas de alto valor agregado. O quiz tambm integra os anexos deste documento. Os veculos de Comunicao Social da Cmara dos Deputados, incluindo jornal, agncia eletrnica de notcias, rdio e televiso, tambm acompanharam as vrias etapas do estudo. A TV Cmara produziu srie especial de reportagens, alm de outros debates em sua programao, conforme listagem a seguir: 04/03/2010 Ministro5 pede mais recursos para programas espacial e nuclear (Cmara Hoje); 25/02/2010 Programa Espacial Brasileiro Srie Especial 4: solues (Cmara Hoje); 24/02/2010 Programa Espacial Brasileiro Srie Especial 3: foguetes x quilombolas (Cmara Hoje); 23/02/2010 Programa Espacial Brasileiro Srie Especial 2: problemas financeiros (Cmara Hoje);5

Ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratgicos, Samuel Pinheiro Guimares.

22/02/2010 Srie Especial 1: os desafios do Programa Espacial Brasileiro (Cmara Hoje); 09/11/2009 Conselho de Altos Estudos debate o Programa Espacial Brasileiro (Cmara Hoje); 13/10/2009 Expresso Nacional debate o Programa Espacial Brasileiro (bl. 1, 2 e 3 ) (Expresso Nacional). Com base nas informaes colhidas na literatura da rea e nas informaes obtidas com o apoio dos rgos envolvidos no Programa Espacial Brasileiro, so avaliados neste estudo, entre outros, os seguintes aspectos da poltica espacial: histrico de aes, desempenho dos rgos executores e atendimento aos objetivos, poltica de formao e capacitao de recursos humanos, anlise oramentria, aspectos relevantes da indstria do setor espacial, defesa e segurana nacional, acordos internacionais e aplicaes ambientais voltadas preservao do meio ambiente. O estudo tambm oferece a gestores e reas estratgicas uma viso geral de como a poltica espacial tem sido percebida pela sociedade, por meio da intermediao da mdia. Aborda ainda, de maneira ilustrativa, (ver anexos) o enfoque de reportagens jornalsticas na mdia em geral que versam sobre o Programa Espacial Brasileiro. Finalizando o trabalho, como contribuio da Cmara dos Deputados ao Poder Executivo e sociedade, apresenta-se documento sntese com as principais concluses e recomendaes, no intuito de apoiar o aperfeioamento do setor espacial brasileiro. Como resultado propositivo do estudo, elaboramos projeto de lei para assegurar fontes de recursos financeiros e de pessoal, alm de indicao com sugestes ao Poder Executivo de medidas que so de sua exclusiva competncia.

4. Cenrio internacionalA ampliao da indstria espacial e os ganhos de escala com a oferta e o uso cada vez mais intensivo de aplicaes e servios, bem como o ingresso de novos atores nesse mercado, esto levando a uma competitividade crescente entre os pases que dele participam. Os custos, tanto de lanamentos quanto de fabricao e uso de satlites ou de prestao de servios, esto se reduzindo e a influncia da

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

33

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

34

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

indstria privada tem aumentado, sem representar necessariamente o declnio dos investimentos pblicos, especialmente na rea de defesa. O mercado espacial adquire maturidade com a nova conjuno de foras, em que alianas para cooperao do-se no mais na perspectiva militar, mas sobretudo nas esferas comercial e poltica. O contexto internacional evoluiu da polarizao entre Estados Unidos e Unio Sovitiva, tpica da Guerra Fria, para uma complexa configurao multilateral. A Rssia alinha-se aos Estados Unidos como um dos principais parceiros no maior projeto coletivo empreendido at hoje por vrias naes, a Estao Espacial Internacional (International Space Station ISS). Os russos, porm, tambm vislumbram a cooperao com novas potncias espaciais, particularmente a China. A sia tornou-se centro de disputa, com trs competidores fortes: China, ndia e Japo. Parceria e cooperao tornaram-se imperativas, como forma de potencializar os resultados e otimizar o investimento em tecnologia, componentes, infraestrutura e servios espaciais. O aumento da competitividade da Unio Europeia e do Japo no mercado internacional espacial indica tambm uma tendncia maior cooperao, tanto em programas multiuso quanto em plataformas multinacionais, especialmente se China, ndia e Rssia incrementarem a participao privada em seus programas. Embora na dianteira, ocupando o primeiro lugar no mercado internacional, os Estados Unidos tm perdido vantagem nas principais categorias da rea espacial: aplicaes governamentais, recursos humanos e indstria, de acordo com o ndice de Competitividade do Setor Espacial (Space Competitiveness Index SCI) (FUTRONS, 2009). Em segundo lugar, est a Unio Europeia, seguida da Rssia, Japo, China, Canad, ndia, Coreia do Sul, entre outros. A competitividade europeia manteve-se inalterada, enquanto a Rssia demonstrou melhores indicadores no que diz respeito aos investimentos de governo. O Japo promoveu mudanas na sua legislao que o fizeram saltar da stima posio no SCI 2008 para a quarta posio no SCI 2009. A China registrou ganho de quase 10 % no SCI global, atrs do Japo. Canad vem em seguida, com crescentes investimentos na rea civil e governamental (Figura 1).

Figura 1 ndice de competitividade espacial SCI (2009)

Fonte: Futrons, 2009

Ainda segundo a consultoria Futron, a Rssia considerada o pas com a mais profcua atividade de lanamento de foguetes. A ndia vista como um ator colaborativo e lder nas atividades de sensoriamento remoto. A Coreia do Sul almeja enviar astronauta ao espao e Israel considerado lder no desenvolvimento de tecnologia espacial, embora sem escala comercial (FUTRONS, 2009). No cenrio internacional, o Brasil classificado como um competidor menos atuante. Pelo segundo ano consecutivo, ocupa o dcimo lugar em cada um dos trs fatores de competitividade, no apenas pela inatividade de alguns de seus projetos, mas porque outros pases tm evoludo com maior velocidade. Na avaliao da consultoria Futron, o programa carece de uma estratgia militar mais realista, que assegure as condies para a sua implementao, alm de instrumentos e de organizao para executar seus principais projetos. Entre eles, destacam-se: design e produo de veculos lanadores de satlites com tecnologia de propulso lquida; produo de satlites geoestacionrios de telecomunicaes e de sensoriamento remoto de alta resoluo; desenvolvimento de tecnologias de controle e atitude de satlites e desenvolvimento de sistemas de coordenadas geogrficas via satlite.

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

35

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

36

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Quadro 2 Alguns programas espaciais de outros pasesPasAlemanha

QualificaoSensoriamento remoto, transporte, energia Lanamentos, balstica, comunicaes

Projetos prioritriosReconhecimento por satlite Estao Espacial Internacional Projeto lunar no tripulado Base orbital prpria Satlites de comunicao Satlites para uso civil Veculo lanador Infraestrutura de solo Sonda lunar Aplicaes militares Lanamentos comerciais Aplicaes militares Satlites de comunicao Estao Espacial Internacional Misses tripuladas Sondas interplanetrias Txi orbital Estaes espaciais

Oramento estimado 300 milhes

China

US$ 1 bilho

Coreia do Sul

Comunicaes, sensoriamento remoto, monitoramento Desenvolvimento de satlites, lanamento, comunicao Ciclo completo

--

ndia

820 milhes US$ 840 milhes

Rssia

Unio Europeia

Desenvolvimento de satlites, lanamento

3,5 bilhes

EUA

Ciclo completo, transporte orbital

Explorao tripulada interplanetria Satlites Segurana domstica

US$ 6 bilhes (Nasa)

Fonte: Futrons, 2009

No contexto dos programas de cooperao, merece destaque o Comit das Naes Unidas para o Uso Pacfico do Espao (Copuos), criado em 1959. O rgo integra a estrutura organizacional da ONU e seu objetivo desenvolver programas de cooperao internacional no estudo e no uso pacfico do espao exterior. Ele estimula pesquisas e dissemina informaes sobre o assunto, alm de discutir as questes polticas e jurdicas que emergem das atividades espaciais, permitindo a elaborao de tratados, convenes e recomendaes a respeito. O Copuos o mais alto frum intergovernamental para o exame, a avaliao e a regulamentao das atividades espaciais para fins pacficos. As questes do uso

do espao para fins militares so de competncia da Conferncia da ONU sobre Desarmamento, com sede em Genebra, Sua. O Copuos aprovou por consenso, em 15 de junho de 2006, proposta do Brasil intitulada Cooperao Internacional na Promoo do Uso de Dados Geoespaciais para o Desenvolvimento Sustentvel como novo ponto da agenda de debates, organizada em planos de trabalho trienais. No mbito da cooperao e da regulao das atividades internacionais, os EUA mantm uma posio de liderana, compatvel com sua importncia comercial e militar nesse setor. A maior parte dos pases estabelece regulamentos e revises de seus programas espaciais com periodicidade decenal. Em linhas gerais, as diretrizes mais recentes tendem a elevar a participao das indstrias locais de cada pas, priorizar aplicaes comerciais e admitir a explorao de novos nichos de mercado, a exemplo do turismo espacial. Pases com algum posicionamento pacifista, como o Japo, passaram a admitir pesquisas espaciais com carter militar, para fins de defesa do seu territrio. Os EUA, em sua nova Poltica Espacial Nacional, de 2006, defendem o uso do espao como auxlio para a segurana interna, destacando e fortalecendo as parcerias entre agncias e reiterando a importncia que o sucesso das misses tem nos programas de aquisio espacial do governo americano. A China, que em 2006 publicou o Chinas Space Activities, iniciando nova fase de desenvolvimento espacial, centrar seus trabalhos em objetivos estratgicos nacionais, promover suas capacidades de inovao e far o mximo para desenvolver o pas. As principais legislaes internacionais encontram-se no quadro a seguir. Quadro 3 Diretrizes de outros pases na rea espacialPas China China Estados Unidos Estados Unidos Estados Unidos Estados Unidos Japo Japo Japo Documento Chinas Space Activities Chinas Space Activities (White Paper) FY2010 Performance Plan Nasa Strategic Plan A Renewed Spirit of Discovery The National Aeronautics and Space Act of 1958 Basic Plan for Space Policy Law Concerning Japan Aerospace Exploration Fundamental Policy of Japans Space Activities Ano 2006 2003 2010 2006 2004 1958 2009 2002 1996

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

37

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

38

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Pas Reino Unido Reino Unido Rssia Unio Europeia Unio Europeia

Documento UK Civil Space Strategy 2008-2012 and beyond Outer Space Act 1986 Federal Space Program of the Russian Federation for 2006 2015 Resoluo do Conselho de 26 de setembro de 2008 Levar para diante a Poltica Espacial Europeia Resoluo do Parlamento Europeu, de 20 de novembro de 2008, sobre a Poltica Espacial Europeia: como aproximar o Espao da Terra

Ano 2008 1986 2006 2008 2008

Fonte: Informaes disponveis em stios oficiais e coligidas pelo Centro de Documentao e Informao da Cmara dos Deputados

5. O Programa Espacial Brasileiro5.1 HistricoAs primeiras aes do Brasil na rea espacial tiveram incio durante os governos Jnio Quadros e Joo Goulart, entre 1961 e 1964. Formalmente, as atividades espaciais no Brasil comearam em 1961, com a criao da Comisso Nacional de Atividades Espaciais (CNAE), em So Jos dos Campos, So Paulo, para planejar as polticas do setor. A poltica era definida por especialistas, e no propriamente por dirigentes pblicos. Os recursos, reduzidos, eram provenientes do CNPq e previa-se cooperao com a Nasa para lanamento de pequenos foguetes de experimentos cientficos e capacitao em sensoriamento remoto. O Brasil foi um dos pioneiros na institucionalizao da pesquisa espacial, cujo foco principal era constituir competncias em cincias espaciais e atmosfricas, observao da Terra e meteorologia os objetivos descritos no PNAE incluem tambm a rea de telecomunicaes. Em meados dos anos 60, o programa encaixou-se no projeto de nao que posteriormente ficou conhecido como milagre econmico. Em 1965, foi inaugurado o Centro de Lanamento da Barreira do Inferno (CLBI), em Natal (RN), de onde se lanou o primeiro foguete de sondagem, o americano Nike-Apache. Em 1966, foi criado o Grupo Executivo e de Trabalhos e Estudos de Projetos Espaciais (Getepe), para envolver o ento Ministrio de Aeronutica com os trabalhos da Comisso Nacional de Atividades Espaciais

(CNAE). O Getepe era responsvel por planejar o desenvolvimento de foguetes. Nesse primeiro perodo, a nfase das atividades foi a formao de quadro de cientistas e pesquisadores especializados em cincias e engenharia espaciais, de forma a dotar o pas com a competncia do uso do espao. Em 1969, o Getepe tornou-se o Instituto de Atividades Espaciais, que mais tarde viria a ser o Instituto de Aeronutica e Espao (IAE). Em 1971, foi criado o atual Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a partir da CNAE. Para coordenar as atividades espaciais como um todo e assessorar o presidente da Repblica, foi criada a Comisso Brasileira de Atividades Espaciais (Cobae), tambm em 1971. (PEREIRA, 2008) As dcadas de 60 e 70 foram marcadas pela formao de mestres e doutores em cincias de modo geral, especialmente em parceria com a Alemanha, visando ao lanamento de foguetes e, posteriormente, com a Frana, com quem o Brasil assinou acordo para aquisio de tecnologia para desenvolvimento de foguetes de sondagem, que possibilitou especificar os projetos Sonda II e III no ento CTA. Dentro da pragmtica poltica externa do governo Ernesto Geisel (1974-1979), que resultou na aproximao com a China e com os pases africanos, e no incio da cooperao com a Alemanha na rea nuclear, o pas estabeleceu com a Frana acordos para treinamento de engenheiros no desenvolvimento de lanadores e satlites. A aprovao da Misso Espacial Completa Brasileira (MECB), durante o governo Joo Figueiredo (1979-1985), representou um marco no programa e permitiu a consolidao do Inpe. Porm, a crise fiscal, com endividamento, estagnao econmica e inflao, refletiu-se no andamento da misso. At 1988, o pas tinha cooperao com os Estados Unidos na rea de experimentos aeroespaciais com foguetes de sondagem. No governo Jos Sarney (1985-1990), a criao do Ministrio da Cincia e Tecnologia representou impulso para o Inpe, que firmou parceria com a China para desenvolvimento, fabricao e operao conjunta de satlites de sensoriamento remoto de uso pacfico, na proporo de 70% de participao chinesa e 30% de participao brasileira. A presso internacional, especialmente dos Estados Unidos, levou o pas a assinar o Regime de Controle de Tecnologia de Msseis

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

39

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

40

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

(MTCR), encerrando a cooperao com a Alemanha para foguetes e iniciando um ciclo de dificuldades de acesso a tecnologias sensveis. O Centro de Lanamento de Alcntara (CLA), em Alcntara (MA), foi criado em 1983 e sua posio geogrfica foi considerada a que oferece a melhor relao custo-benefcio para lanamentos, com economia de combustveis de at 30%. Os anos do governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) foram crticos para o programa espacial, que perdeu relevncia, como programa estratgico. Iniciaram-se os atrasos em programas como o CBERS e o VLS-1, em parte por embargos impostos pelos norte-americanos ao projeto VLS, que resultaram no rompimento em 1991 dos acordos junto Arianespace para transferncia de tecnologia. Em 1992, o SCD-1 foi lanado do foguete Pegasus, ao mesmo tempo em que tinha incio a poltica de contigenciamento oramentrio para formao de supervit primrio. Sucessora da Cobae, a Agncia Espacial Brasileira (AEB) foi criada em 1994 para coordenar o PNAE, com o objetivo de capacitar o pas para desenvolver e utilizar tecnologias espaciais na soluo de problemas nacionais e em prol da sociedade brasileira. Entretanto, nos governos do presidente Fernando Henrique Cardoso (19952002), o setor sofreu com as restries da poltica econmica e com as exigncias de contingenciamento oramentrio. Em 1999, durante o segundo mandato de FHC, houve o lanamento do satlite sino-brasileiro de recursos terrestres CBERS-1, e posteriormente do CBERS-2 (2003) e CBERS-2B (2007). Foram realizadas trs tentativas de lanamento do Veculo Lanador de Satlites (VLS) a partir do CLA, em 1997, 1999 e 2003. Em 2004, renovou-se a parceria com a China para desenvolver os satlites CBERS-3 e CBERS-4. O acidente com o VLS-1, em 2003, levou o Brasil a restabelecer parceria com a Rssia no intuito de apontar as causas do infortnio e propor alteraes no projeto do VLS, que se mantm como o principal programa do IAE. A parceria considerada a base para a retomada do projeto de desenvolvimento e fabricao de veculos lanadores chamado de Cruzeiro do Sul, que prev investimentos de US$ 750 milhes (valores de 2004) para a construo de cinco foguetes em

dezessete anos, com o objetivo de atender s demandas brasileiras na rea de transporte espacial. O documento de reviso do VLS, que inclui a anlise da configurao do novo veculo, simulao de desempenho e proposta de propulsor, foi elaborado pelo Centro Estatal de Foguetes Acadmico V.P. Makeyev, da Rssia. A elaborao do anteprojeto do foguete VLS Alfa precisou ser ratificada por um acordo de salvaguarda tecnolgica, assinado, em 2009, pelos governos do Brasil e da Rssia. O Quadro 4 destaca algumas das datas mais marcantes do Programa Espacial Brasileiro. Quadro 4 Cronologia do Programa Espacial Brasileiro1961 Criao do Grupo de Organizao da Comisso Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), subordinado ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), hoje Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Centro de Lanamento da Barreira do Inferno (CLBI), em Natal (RN), dedicado prestao de servios de rastreio e lanamento de foguetes de sondagem nacionais e estrangeiros Criao, no mbito do ento Ministrio da Aeronutica, do Grupo Executivo e de Trabalhos e Estudos de Projetos Espaciais (Getepe) Criao do atual IAE, Instituto de Aeronatica e Espao Transformao do Inpe em Instituto de Pesquisas Espaciais. Subordinado diretamente ao Ministrio da Cincia e Tecnologia desde 1985, em 1990 o Inpe passou a chamar-se Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Instituio da Comisso Brasileira de Atividades Espaciais (Cobae), rgo de coordenao interministerial presidido pelo ministro-chefe do Estado-Maior das Foras Armadas (EMFA) Instituio pelo governo federal da Misso Espacial Completa Brasileira, primeiro Programa Espacial Brasileiro de grande porte, com metas de desenvolver pequenos satlites de aplicaes e um veculo lanador compatvel Incio da implantao do Centro de Lanamento de Alcntara CLA, no Maranho Adeso do Brasil ao Missile Technology Control Regime MTCR estabelecido no mbito do G-7 Criao, por meio da Lei 8.854, de 10 de novembro de 1994, da Agncia Espacial Brasileira (AEB), de natureza civil, inicialmente vinculada Presidncia da Repblica e, em 1996, transferida para a alada do Ministrio da Cincia e Tecnologia Instituio do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais Sindae, com a finalidade de organizar a execuo das atividades destinadas ao desenvolvimento espacial de interesse nacional, como o Programa Nacional de Atividades Espaciais PNAE

1965 1966 1969 1971

1971

1979 1983 1994/1995 1994

1996

Fonte: Elaborao de Elizabeth Veloso, Consultora Legislativa (2010)

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

41

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

42

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

5.2 Organizao e infraestrutura do programaO setor espacial brasileiro hoje regido pela Poltica Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), instituda pelo Decreto n 1.332, de 8 de dezembro de 1994, que estabelece objetivos e diretrizes para os programas e projetos nacionais relativos rea espacial, com destaque para o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Sua execuo ocorre de forma descentralizada no mbito do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (Sindae). Como rgo central do Sindae, a AEB responsvel por coordenar a formulao de propostas de reviso da Poltica Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais e de atualizao do PNAE, bem como executar e acompanhar as aes do Programa. O Inpe, do MCT, e o DCTA, vinculado ao Comando da Aeronutica, so os responsveis pela execuo dos projetos e atividades estratgicas do PNAE, sendo ambos os principais rgos do Sindae (Figura 2). Figura 2 Organograma do Sistema Nacional de Desenvolvimento de Atividades Espaciais

Fonte: AEB

O Sindae dispe de uma frota de dois satlites operando em rbita (SCD 1 e 2), bem como dois satlites de sensoriamento remoto em desenvolvimento (CBERS 3 e 4) com lanamentos inicialmente previstos para 2009 e 2011, respectivamente, e um satlite de sensoriamento remoto (Amaznia-1), em desenvolvimento, utilizando a Plataforma Multimisso (PMM). Outros projetos incluem um satlite com imageador ptico, utilizando a PMM, com lanamento inicialmente previsto para 2010; o satlite cientfico Lattes, em desenvolvimento, utilizando a PMM, com lanamento previsto para 2011; e o satlite de sensoriamento remoto Radar, em desenvolvimento, com imageador radar, com lanamento previsto para 2013, segundo previses da Agncia Espacial Brasileira. O projeto Radar depende do empenho da agncia espacial alem (DLR) em colaborar no desenvolvimento do imageador, que assegura uma viso atravs das nuvens, sendo mais eficaz que o satlite Amaznia-1 para o monitoramento da regio em dias chuvosos. Quanto a lanadores, o Brasil dispe de diversas alternativas de foguetes de sondagem desenvolvidos pelo Instituto de Aeronutica e Espao IAE/DCTA: o foguete lanador ucraniano Cyclone-4 da Empresa binacional Alcntara Cyclone Space (ACS), e os Veculos Lanadores de Satlite, em desenvolvimento tambm pelo IAE/DCTA, para servios comerciais, com lanamento a partir de Alcntara. Em termos de infraestrutura espacial em solo, o sistema nacional formado pelas unidades descritas no Quadro 5. Quadro 5 Relao de instalaes de solo que compem a estrutura do Programa Espacial BrasileiroUnidade ou recurso Centro de Rastreio e Controle de Satlites (CRC) do Inpe Rede de dados que interliga o Centro de Rastreio s Estaes Terrenas Estao Terrena em Cuiab (MT) Estao Terrena em Alcntara (MA) Centro de Lanamento de Alcntara (CLA) Funo Controle e rastreio de satlites Controle e rastreio de satlites Recepo de dados e imagens e envio de telecomandos para controle da frota de satlites Recepo de dados e imagens e envio de telecomandos para controle da frota de satlites Dedicado a veculos lanadores de satlites e apoio s operaes comerciais de lanamento do CEA

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

43

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

44

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Unidade ou recurso Centro de Lanamentos na Barreira do Inferno (CLBI) Centro Espacial de Alcntara (CEA) Laboratrio de Integrao e Testes (LIT) do Inpe Laboratrio de Combusto e Propulso (LCP) do Inpe, em Cachoeira Paulista (SP) Centro Regional de Pesquisa do Inpe em Natal RN Centro Regional de Pesquisa do Inpe em Santa Maria RS Instituto de Aeronutica e Espao (IAE/ CTA), em So Jos dos Campos SP Usina Cel. Abner de Propelentes Slidos do Inpe Instituto de Fomento Industrial (IFI/ CTA), em So Jos dos Campos SP Fonte: AEB

Funo Lanamento de foguetes de sondagem e rastreio dos lanamentos a partir do CLA Suporte aos stios comerciais de lanamento (a ser implantado) Stio de Lanamento do Cyclone-4 (a ser implantado) Laboratrio Laboratrio Centro de pesquisas Centro de pesquisas Instituto de pesquisas Centro de pesquisas Instituto de pesquisas

Compe o sistema, ainda, a empresa binacional Alcntara Cyclone Space ACS, com sede em Braslia (DF), destinada comercializao de servios de lanamento a partir de Alcntara. O sistema conta, por fim, com relaes com o setor privado e com universidades e unidades acadmicas associadas, participantes de programas de cooperao, como o Uniespao e o Microgravidade, e do Projeto de Satlite Universitrio.

5.3 Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE)O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) o conjunto de programas, aes e diretrizes que norteiam as atividades espaciais no Brasil, que se desenvolvem de acordo com o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (Sindae), institudo pelo Decreto n 1.953, de 10 de julho de 1996. O Sindae, conforme a lei, tem como rgo de coordenao central a Agncia Espacial Brasileira, vinculada ao Ministrio da Cincia e Tecnologia, e tambm recebe diretrizes do Conselho Superior da AEB, formado por ministrios e outros rgos de governo, bem como por entidades da sociedade civil.

O PNAE considerado estratgico para o desenvolvimento soberano do pas, sendo seu desenvolvimento condio importante para a argumentao poltica em mesas de negociao diplomtica perante as demais naes. O setor espacial integra o conjunto de metas e aes previstas no Plano Brasil 2022, que traa diretrizes ao desenvolvimento nacional, elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratgicos (SAE), ligada Presidncia da Repblica. O objetivo fomentar aes de pesquisa e desenvolvimento (P&D), juntamente com o setor acadmico, como forte indutor de inovao, visando capacitao e competitividade da indstria nacional, sob a forma de aquisio de competncias e tecnologias estratgicas, e novas metodologias e processos de trabalho, luz de normas de qualidade de padro internacional. As aplicaes so a linha de chegada das atividades espaciais. A finalidade criar produtos ou servios para a sociedade. O PNAE explicita algumas das aplicaes que norteiam o programa brasileiro:As aplicaes da tecnologia espacial na soluo de problemas tpicos de um pas com as caractersticas geopolticas do Brasil constituem a principal justificativa para os investimentos governamentais neste setor. O planejamento das atividades espaciais brasileiras dever contemplar as aplicaes da tecnologia espacial na soluo de problemas como comunicaes em regies remotas, monitoramento ambiental, vigilncia da Amaznia, patrulhamento de fronteiras e da zona costeira, inventrio e monitoramento de recursos naturais, planejamento e fiscalizao do uso do solo, previso de safras agrcolas, coleta de dados ambientais, previso do tempo e do clima, localizao de veculos e sinistros e desenvolvimento de processos industriais em ambiente de microgravidade, alm da defesa e segurana do territrio nacional. (AEB, 2005: 106)

O Quadro 6 permite obter um retrato claro das principais misses em andamento e das aes do Programa Espacial Brasileiro.

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

45

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

46

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

Quadro 6 Aplicaes, finalidades, misses e aes do PNAEAplicaes Finalidade Uso de imagens de satlites orbitais para controle da ocupao da terra, obteno de informaes para agricultura e pecuria e preveno de desastres naturais, alm de mapeamento cartogrfico, entre outros Misses Programa Satlites de Sensoriamento Remoto (SSR) Programa Sino-Brasileiro Programa de Coleta de Dados Programa Radar de Abertura Sinttica (SAR) Plataformas Suborbitais Satlite de Pesquisa da Atmosfera Equatorial (Equars) Monitor e Imageador de Raios X (Mirax) Plataformas Orbitais Recuperveis Bales Estratosfricos de Longa Durao Estao Espacial Internacional Programa Microgravidade Prestao de servios comerciais de telecomunicaes Monitoramento do tempo e clima com fins de prover informaes meteorolgicas Satlite Brasileiro de Telecomunicaes (tratase do projeto do Satlite Geoestacionrio Brasileiro (SGB) com transponders nas bandas X e C) Geoestacionrio Monitoramento Global da Precipitao Coleta de dados Aes

Observao da Terra

Misses Cientficas e Tecnolgicas

Telecomunicaes

Posies Orbitais Geoestacionrias

Meteorologia

Fonte: Elaborao da Consultoria Legislativa da Cmara dos Deputados, com dados do PNAE

5.4 Principais desafios do PNAE5.4.1 Ampliao do marco institucional do setorEm que pesem as metas e programas bastante definidos, o PNAE enfrenta dois problemas primordiais: o volume de projetos desconexos que competem entre si e as dificuldades de ordem administrativa, poltica, financeira, legal e de pessoal. O resultado o atraso no cumprimento das metas e dos cronogramas estabelecidos.

A discusso dos pontos fracos e dos desafios do programa espacial frequente entre os gestores do programa, entre os membros do corpo tcnico e cientfico e entre as lideranas polticas. Uma das caractersticas de um setor como o espacial, intensivo em tecnologia, a perenidade de seus quadros, muitos dos quais atuando h dcadas no setor. Por outro lado, a renovao permanente tambm desejvel nesse tipo de setor em que a inovao e as novas tecnologias so essenciais para a aperfeioamento dos programas. Os problemas apontados so desconhecidos pela sociedade brasileira, mas tm sido recorrentes e de difcil equacionamento para quem atua no setor espacial. Em maio de 2004, a Agncia Espacial Brasileira (AEB), em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) e com a Academia Brasileira de Cincias (ABC), realizou, em So Jos dos Campos, simpsio para debater a atual forma de organizao das atividades espaciais brasileiras e subsidiar futuras aes de governo (Quadro 7). A maior parte das propostas oriundas daquele debate no foram implementadas e esto sendo objeto de discusso da terceira reviso do PNAE, que estava prevista para 2009 e 2010. Entre as propostas, mencione-se: a de dar referida agncia nvel equivalente ao de ministrio; implementar o Sindae com todos os setores envolvidos, inclusive as universidades e o setor industrial; estudar as vantagens e desvantagens dos modelos unificado e matricial para o arranjo institucional constitudo pela Agncia Espacial Brasileira e rgos setoriais do Sindae e desenvolver e consolidar um marco regulatrio amplo para as atividades espaciais. discurso corrente no setor a necessidade de reconhecer o carter estratgico e multissetorial das atividades espaciais, dotando essas atividades de uma poltica industrial prpria. O apelo traduz-se no desejo de estabelecer regras especiais de incentivo para o setor espacial brasileiro, cujo prazo de validade seja superior ao do mandato presidencial, minimizando, assim, a interferncia poltico-partidria e as solues de continuidade. Para tanto, busca-se aprovar instrumentos que assegurem um fluxo adequado de suprimento nas reas de oramento, recursos humanos, contratao e aquisio de bens e servios, com base nos seguintes pr-requisitos (CARLEIAL et al, 2004):

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

47

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

48

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

a) Recursos Humanos: as atividades espaciais exigem recursos humanos de alto nvel tcnico, em constante processo de aprimoramento. A AEB e os rgos setoriais precisam atualizar e ampliar seus quadros, e dot-los de poltica salarial e de carreiras adequadas. b) Oramento: a gesto oramentria deve ser compatibilizada com as peculiaridades dos projetos espaciais, que requerem estabilidade e continuidade no fluxo dos recursos orados e aprovados. c) Infraestrutura: dotar o sistema de capacidade de implantar, manter e modernizar a infraestrutura requerida pelas atividades presentes e futuras do PNAE. d) Fundo Setorial: rever e ampliar a fonte de recursos do Fundo Setorial Espacial, criado pela Lei n 9.994, de 24 de julho de 2000, que institui o Programa de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Setor Espacial. e) Lei de Licitaes e Contratos: estabelecer modalidades adicionais ou alternativas para a aquisio de bens e servios de alto contedo tecnolgico, que sejam capazes de responder mais adequadamente s incertezas, riscos, prazos e custos que lhe so peculiares.

O Quadro 7 sintetiza algumas concluses do simpsio de 2004 e as principais queixas e reclamaes dos especialistas da rea, bem como propostas de encaminhamento das solues.

Quadro 7 Problemas, Detalhamento e Solues para o PNAEPROBLEMAS 1. Poltica espacial brasileira, com baixo status na agenda de governo e pouca conexo com a demanda de longo prazo dos rgos federais DETALHAMENTO Baixa demanda dos rgos federais por dados, imagens e servios de satlites nacionais, devido a elevadas expectativas de confiabilidade e desempenho, conjugadas a restries oramentrias, que afetam seu poder de compra, e os levam a optar pela aquisio de servios fornecidos por agncias espaciais estrangeiras ou empresas internacionais Agenda de governo favorece projetos espaciais com aplicao ambiental ou social POSSVEIS SOLUES a) Centralizao das aquisies de dados, imagens, e servios de satlites, por meio de uma agncia especfica de compras e contrataes b) Linhas especiais de financiamento para empresas que desenvolvam satlites nacionais para atender demanda federal de longo prazo c) Obrigatoriedade de participao mnima da indstria nacional no desenvolvimento dos sistemas espaciais utilizados nos servios de satlite contratados por rgos federais d) Priorizao de projetos espaciais voltados para o atendimento de demandas sociais e ambientais 2. Agncia Espacial Brasileira (AEB) com pouca autonomia poltica, administrativa e oramentria Vinculao ao Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT), associada insuficincia de recursos prprios, reduz a autonomia oramentria Status de autarquia reduz autonomia poltica e administrativa dos dirigentes a) Identificao de novas fontes de recursos para o Fundo Setorial Espacial (Lei n 9.994 de 24 de julho de 2000) b) Mudana do formato jurdico-institucional da AEB, de autarquia para agncia reguladora ou empresa pblica, conforme opo poltica c) Contratualizao de resultados entre a AEB e o MCT, visando a ampliao da autonomia poltico-administrativa 3. AEB com baixa capacitao em gesto de polticas e regulao Ausncia de quadro prprio especializado em gesto e regulao da poltica espacial Predomnio de cientistas e tcnicos em funes gerenciais a) Criao da carreira especfica para o setor b) Valorizao de conhecimentos e habilidades nas reas de gesto de polticas e regulao no provimento dos cargos comissionados na AEB c) Ampliao da cooperao com rgos federais que atuem nas reas de gesto de polticas e de regulao d) Estmulos formao de ncleos de estudos e pesquisas em poltica espacial e regulao do setor espacial

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

49

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | RELATRIO

50

Cadernos de Altos Estudos 7 A Poltica Espacial Brasileira

PROBLEMAS 4. Insuficincia do Marco Regulatrio das Atividades Espaciais

DETALHAMENTO Norma de compras e contrataes (Lei 8.666/93) inadequada para contrataes de sistemas de alta complexidade tecnolgica, feitos sob encomenda e em pequena escala Regulao restrita s questes de licenciamento e segurana em lanamentos comerciais de satlites (no h regulao econmica e a regulao tcnica necessita ser ampliada)

POSSVEIS SOLUES a) Normas especficas para compras e contrataes b) Ampliao do marco regulatrio das atividades espaciais c) Lei especfica para as atividades espaciais brasileiras

5. Indstria espacial brasileira com baixa capacitao tecnolgica e frgil insero no mercado internacional

Instituies de Cincia e Tecnologia ICT (Inpe e IAE/DCTA) atuam como prime contractors de projetos tecnologicamente maduros Inexistncia de uma empresa nacional, pblica ou privada, com capacitao tecnolgica e financeira para assumir o desenvolvimento de projetos de alta complexidade tecnolgica e grande porte

a) Criao de empresa pblica (ou fortalecimento de uma empresa privada nacional) para atuar como prime contractor e liderar a insero da indstria nacional no mercado internacional b) Transferncia de projetos tecnologi