11
258 23º Encontro da ANPAP “Ecossistemas Artísticos” 15 a 19 de setembro de 2014 Belo Horizonte - MG A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM RESÍDUOS À FOTOPLÁSTICA Marília Andrés Ribeiro FAFICH/UFMG RESUMO: O propósito deste texto é refletir sobre a poética do artista Eymard Brandão a partir de uma perspectiva crítica, visando contribuir para o conhecimento da história da arte contemporânea brasileira. Faremos um breve resgate de sua trajetória artística e focalizaremos o momento atual de sua pesquisa com os resíduos industriais e a fotografia. Salientaremos o olhar do artista voltado para o interior de seu ateliê, concentrado no seu fazer artístico, e o seu olhar fotográfico focalizado no entorno, na natureza. Mostraremos o seu trabalho como um desdobramento singular das propostas dos artistas que trabalham com a questão da Land Art. Palavras-chave: História - Arte - Fotografia ABSTRACT: The purpose of this paper is to reflect on the poetics of the artist EymardBrandão from a critical perspective, to contribute to the knowledge of the history of Brazilian contemporary art. We will present a brief rescue of his artistic career and will focus on the current state of his research with industrial waste and photography. We will point out the look of the artist facing the inside of his studio, concentrating on his art making, and his photographic eye focused on the surroundings in nature. We intend to show his work as a particular approach from artists working with the issue of Land Art Key words: History - Art - Photography Introdução A questão colocada por Didi-Huberman em “o que vemos, o que nos olha” 1 nos leva a descobrir as potencialidades que se apresentam aos nossos olhos quando mergulhamos na obra de um artista. A obra nos instiga, nos convida a olhar e no momento em que a vemos e a tornamos visível para o outro ela passa a ter um significado enquanto objeto específico e relacional. Tornar visível a obra dentro de um circuito artístico que a legitima é a função do crítico, do curador e do historiador da arte, daquele que vê nas entrelinhas de uma obra as possibilidades criativas do artista e as insere num contexto histórico e cultural. A poética de Eymard Brandão

A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

258

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM RESÍDUOS À FOTOPLÁSTICA

Marília Andrés Ribeiro – FAFICH/UFMG

RESUMO: O propósito deste texto é refletir sobre a poética do artista Eymard Brandão a partir de uma perspectiva crítica, visando contribuir para o conhecimento da história da arte contemporânea brasileira. Faremos um breve resgate de sua trajetória artística e focalizaremos o momento atual de sua pesquisa com os resíduos industriais e a fotografia. Salientaremos o olhar do artista voltado para o interior de seu ateliê, concentrado no seu fazer artístico, e o seu olhar fotográfico focalizado no entorno, na natureza. Mostraremos o seu trabalho como um desdobramento singular das propostas dos artistas que trabalham com a questão da Land Art. Palavras-chave: História - Arte - Fotografia

ABSTRACT: The purpose of this paper is to reflect on the poetics of the artist EymardBrandão from a critical perspective, to contribute to the knowledge of the history of Brazilian contemporary art. We will present a brief rescue of his artistic career and will focus on the current state of his research with industrial waste and photography. We will point out the look of the artist facing the inside of his studio, concentrating on his art making, and his photographic eye focused on the surroundings in nature. We intend to show his work as a particular approach from artists working with the issue of Land Art

Key words: History - Art - Photography

Introdução

A questão colocada por Didi-Huberman em “o que vemos, o que nos olha”1 nos leva

a descobrir as potencialidades que se apresentam aos nossos olhos quando

mergulhamos na obra de um artista. A obra nos instiga, nos convida a olhar e no

momento em que a vemos e a tornamos visível para o outro ela passa a ter um

significado enquanto objeto específico e relacional. Tornar visível a obra dentro de

um circuito artístico que a legitima é a função do crítico, do curador e do historiador

da arte, daquele que vê nas entrelinhas de uma obra as possibilidades criativas do

artista e as insere num contexto histórico e cultural.

A poética de Eymard Brandão

Page 2: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

259

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

Minha proposta é apresentar o olhar de Eymard Brandão voltado para o interior de

seu ateliê e a paisagem ao seu redor. A Natureza construída através do olhar e do

fazer do artista tem sido o eixo de sua poética. Ela está presente nos desenhos e

colagens realizados nos anos 1970/80 e nas pinturas e técnicas mistas que foram

feitas ao longo de sua trajetória a partir dos anos 1990. Mas, a grande novidade de

seu trabalho é o aparecimento da fotografia digital focalizada na natureza e em

diálogo com suas pesquisas atuais realizadas com pigmentos e resíduos minerais.

Farei uma breve retomada de sua fortuna crítica para situar o lugar da fotografia na

obra de Eymard Brandão. O texto crítico de Bartolomeu Campos de Queiroz,

referente aos desenhos e colagens do artista, salienta o aparecimento da “natureza

em transformação” através do fazer artístico2. Já Moacyr Laterza usa a palavra “re-

matéria” para denominar as pinturas-objetos e enfatizar a interferência do artista na

matéria, apontando o sentido construtivo de seu trabalho3. Olívio Tavares de Araújo,

por sua vez, mostra o caráter apolíneo, construtivo, racional e ao mesmo tempo

sensível, da obra do artista inserindo-a na vertente da geometria sensível da arte

brasileira4.

Completando as ponderações dos críticos salientarei como se deu o surgimento da

fotografia na trajetória de Eymard Brandão, apresentando o seu potencial artístico e

a importância da “foto como a memória do olhar”5 do artista.

Eymard é um artista brasileiro que despontou nos anos 1970 e tem atuado até hoje,

revelando uma trajetória exemplar como artista, pesquisador e educador. No início

de sua carreira, os desenhos realistas de objetos urbanos e as colagens realizadas

com fragmentos da natureza já apontavam um olhar construtivo direcionado para a

paisagem urbana e natural.

Page 3: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

260

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

Ateliê de Eymard Brandão, Nova Lima, 2010

Recentemente, o artista vem registrando as mudanças na paisagem de Minas,

através de sua pesquisa da pintura no campo ampliado, onde ele trabalha com os

pigmentos naturais e os resíduos minerais para construiruma outra paisagem,

aquela que é criada no seu ateliê e que resultou na série Arte em Resíduos (2010).

O artista salienta que seu objetivo nessa série foi:

transformar em matéria prima os materiais descartados por

indústrias que exploram o minério e que poluem o meio ambiente

com sobras do processo industrial, material este que poderá ser

reutilizado em diversificadas áreas, gerando sustentabilidade6.

No silêncio de seu ateliê, em Nova Lima, Eymard refina os pigmentos naturais e os

resíduos minerais usando trituradores e peneiras, constrói os objetos com diversos

materiais e sucatas, pinta os suportes explorando a cor, a matéria, a linha, a textura,

e, no final do processo, registra seus trabalhos através da fotografia digital.

Page 4: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

261

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

Eymard Brandão. Arte em Resíduos, minerais, 2010

Mas, no deslocamento de seu ateliê exterior, imerso na paisagem natural e urbana,

o artista fotografa as marcas de tapumes, paredes, portões desgastados pelo tempo

e aquelas deixadas no solo pelos tratores e caminhões que trabalham na construção

de estradas ou no calçamento de ruas. Entre o trabalho de diversas máquinas

Eymard vai registrando o que o cerca, o sensibiliza e atrai o seu olhar, usando a

lente fotográfica. Ele nos diz como se processa esse primeiro contato do seu olhar

com o objeto olhado e como esse objeto atrai o seu olhar fotográfico:

Eu não saio com o objetivo premeditado de fotografar. O ato de fotografar acontece na minha convivência cotidiana com a natureza e com o urbano. Normalmente o que eu fotografo é algo considerado anônimo e esse anônimo cria uma identidade plástica através do olhar fotográfico. Esse olhar registra e tira de um todo um detalhe das terras, dos minérios, dos objetos considerados impessoais e anônimos. Muitas vezes este detalhe torna-se abstrato7.

Page 5: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

262

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

Eymard Brandão. Fotografia (Série Solo e Subsolo), 2013

O que interessa ao artista é registrar aquele momento de encontro de seu olhar com

o “objeto anônimo”, o olhar criativo e plástico que percebe, na vida cotidiana e na

natureza, fragmentos de realidade transfigurados em arte. Desse encontro entre o

olhar do artista e a realidade surge a fotografia artística, a “fotoplástica” 8, aquela

fotografia que apresenta uma percepção apurada de formas, texturas, linhas e

cores, e que é própria do olhar de um artista plástico, um olhar que plasma as

imagens com a luz e as aproxima do desenho, da pintura ou da escultura.

Eymard nos fala das suas escolhas, de seus deslocamentos e da amplitude da

fotografia enquanto uma mídia que oferece inúmeras possibilidades de uso e diálogo

com outras formas de expressão artística

Eu não procuro exatamente um tema ou um motivo para ser fotografado. Ando com uma máquina fotográfica e o olhar atento aos lugares com os quais eu convivo. E a partir daí surgem coisas que me atraem para desenhar, ou pintar ou fotografar. Então, a fotografia é um meio como qualquer outro. A fotografia tem um campo muito amplo e vasto, ela pode se integrar ao desenho, à pintura e às outras linguagens9.

Page 6: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

263

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

O artista aponta, ainda, o momento inaugural em que sua fotografia foi usada na

produção de seu livro de artista para a exposição Da Pedra ao pó, realizada na

GaleriaLivrobjeto10, em Belo Horizonte.

A fotografia começou a ser integrada ao meu trabalho de artista plástico ao preparar uma individual para a Galeria Livrobjeto, em 2012. Eu tinha livros de uma antiga enciclopédia que escolhi utilizar e o desafio era como preenche-los. Nesse momento, revendo o meu ateliê de artista, fui descobrindo que o registro de várias coisas que me cercavam seriam as fotos utilizadas como ilustrações e criadas para o livro de artista. No caso deste livro, não existia nenhuma integração do texto com a imagem, a integração se dava no sentido plástico da escrita com a fotografia11.

Exposição de Eymard Brandão, Galeria Livrobjeto, Belo Horizonte, 2012

O olhar atento de Eymard Brandão, herdeiro do olhar neo-realista de Raymond

Hains12, artista que resgatou a beleza dos muros e tapumes de Paris, nos dá a

chave para desvendar sua poética no campo ampliado da arte contemporânea.

Na nova série “Solo e Subsolo” (2013), que dá continuidade à sua pesquisa com a

fotografia, integrada à investigação dos pigmentos e resíduos minerais, o artista

Page 7: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

264

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

estabelece uma relação entre a fotografia e a matéria, o olhar macro focado nas

marcas e cicatrizes da terra e o reaproveitamento dos resíduos e pigmentos

encontrados no solo. Essas marcas, registradas pela fotografia, são justapostas aos

trabalhos em técnica mista, estabelecendo uma ambigüidade e um diálogo entre

opostos, uma mestiçagem que consiste na justaposição de elementos heterogêneos

e ao mesmo tempo íntegros, distinguíveis uns dos outros13.

Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013

O trabalho de Eymard Brandão, recentemente apresentado na exposição do Centro

Cultural Ives Alves14, em Tiradentes, discute a presença da fotografia como registro

e criação artística. Considera, ainda, a ampliação do campo artístico em direção aos

possíveis desdobramentos entre a fotografia e outras expressões artísticas,

englobando também as experiências do artista na natureza e na vida cotidiana15.

A expansão do campo artístico na Land Art

Essa perspectiva ampliada da arte contemporânea direciona-se para uma nova

discussão da paisagem artística, que leva em conta a intervenção do artista no meio

ambiente através da transformação da matéria local. Considera a paisagem

Page 8: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

265

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

construída por ele a partir de sua vivência e de sua experiência com a natureza ao

redor, aproximando-se das propostas daqueles artistas que trabalham com as

questões da Land Art(Arte da Terra)16.

Desde os anos 1960 esses artistas17propõem trabalhar com a escultura num campo

expandido, realizando intervenções nos parques, nos desertos, nos vales, lagos e

rios, questionando o fechamento da obra de arte dentro do cubo branco. Usam a

fotografia como um meio para registrar suas obras, que são exibidas, ao lado de

seus projetos conceituais, para o público que freqüenta as Galerias e Museus18. E

convidam esse público para experimentar o contato com a natureza, transformada

em obra de arte, através do deslocamento, do percurso, da caminhadapor lugares

que se situam fora do espaço urbano.

Eymard Brandão. Fotografia (Serie Solo e Subsolo), 2013

A crítica Glória Ferreira, pesquisadora da obra de Walter de Maria, um dos artistas

mais interessantes dessa tendência, nos mostra a experiência estética

fenomenológica de deslocamento proposto pela Land Art.

A Land Art incorporou à experiência estética o percurso, ou melhor, fez dele sua modalidade de funcionamento e, no caso de De Maria, o modo de acesso à obra. Essa abordagem revelou-se constitutiva das

Page 9: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

266

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

diferentes poéticas que têm em comum a relação com o terreno, com a paisagem, com a solidão, assim como a rejeição aos espaços institucionais de materialidade do objeto de arte. (...) Não se trata apenas de criar fenômenos perceptivos interessantes, mas de produzir situações nas quais o corpo e o pensamento do espectador são implicados num espaço-tempo cosmológico, subtraído na medida de um tempo histórico, que não seria baseado senão na História da Humanidade ou na História da Arte19.

Finalizaremos o texto com uma pequena reflexão de Walter de Maria, criador do

Earth Room (Quarto de Terra), uma instalação de terra realizada na Galeria Heiner

Friedrich, na Alemanha, em 1968; e inventor da The Lightning Field(Campo de

Raios), intervenção realizada no deserto de Quemado, no Novo Mexico, em 1977,

composta de 400 varas de ferro que atraem os raios durante as tempestades,

propiciando um espetáculo artístico-natural.

Eymard Brandão. Fotografia (Serie Solo e Subsolo), 2013

Segundo Walter de Maria “a terra está aqui não só para ser contemplada mas

também para que se faça uma reflexão sobre ela”. Ele completa seu pensamento

afirmando que “o terreno não é o cenário da obra, é parte da obra”20.

Page 10: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

267

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

Conclusão

Para concluir, entendemos que as questões suscitadas pelos artistas da Land Art

estão em sintonia com a proposta de discutir os ecossistemas artísticos, uma vez

que elas nos remetem à natureza, à ecologia, ao meio ambiente e à preservação do

nosso planeta. Discutir questões atuais referentes à natureza, ao corpo, à memória,

à cidade, às instituições e ao poder, através da arte, é discutir os ecossistemas

artísticos no contexto da história da arte contemporânea.

NOTAS

1 DIDI-HUBERMAN, Georges. Oque vemos, oque nos olha. São Paulo, Editora 34, 1998. 2 QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. “Natureza em transformação”. Belo Horizonte, Catálogo da exposição Eymard Brandão-Desenhos realizada na Sala Corpo de Exposições, 1982. 3 LATERZA, Moacyr. “Re-matéria”. Belo Horizonte, 2002 4 ARAÚJO, Olívio Tavares. “Construção, Regra e Emoção”. Eymard Brandão. Arte em Resíduos. Belo Horizonte.

Catálogo da exposição realizada no Centro Mineiro de Referências em Resíduos, 8 de junho a 8 de julho de 2010, p.9-13. 5 “A fotografia é a memória do olhar”. Aforismo proposto por João Diniz em: VisibleCities. Belo Horizonte, Transbooks, 2013. 6 Depoimento de Eymard Brandão à autora, Nova Lima, 21 de novembro de 2013. 7 Depoimento de Eymard Brandão à autora, Nova Lima, 8 de janeiro de 2014. 8 O termo foi cunhado por LáslóMoholy-Nagy e usado por Roberto Conduru para pensar a poética de Mário Cravo Neto no ensaio: “Imagens-corpos na fotoplástica de Mário Cravo Neto”. In: SANTOS, Alexandre e ALBANI, Ana Maria (Orgs). Imagens, Arte e Cultura. Porto Alegre, Editora UFRGS, 2013, p. 229. 9 Depoimento de Eymard Brandão à autora, Nova Lima, 8 de janeiro de 2014. 10A exposição de Eymard Brandão na Galeria Livrobjeto foi realizada entre abril e julho de 2012 e apresentou vários livros de artista com interferências fotográficas apropriadas da Enciclopedia e Diccionario Internacionalorganizada e dirigida com a colaboração de distinctos homens de sciencia e de lettras, ilustrada e editada no inicio do século XX . 11 Depoimento de Eymard Brandão à autora, Nova Lima, 8 de janeiro de 2014. 12 Raymond Hains é um artista que pertenceu ao movimento neorealista francês nos anos 1960, movimento que propunha resgatar o “maravilhoso” da vida cotidiana na paisagem urbana. Liderado pelo crítico Pierre Restany, o movimento agrupava os artistas Yves Klein, Jean Tinguely, Jacques de La Villeglé e François Dufrêne, entre outros. Raymond Hains usava a decollagee a fotografia em prol de uma atitude política ativista de resistência ao status quo e de insubmissão às instituições estabelecidas, 13 A questão da mestiçagem na arte contemporânea é discutida por IcleiaCattani em: CATTANI, Icleia (Org.). Mestiçagem na Arte Contemporânea. Porto Alegre. Editora da UFRGS, 2007. 14 A exposição Solo e Subsolo de Eymard Brandão, aconteceu no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes, Minas Gerais, entre 8 de fevereiro e 16 de março de 2014. 15As questões de projeto, processo, trajeto e desdobramentos da paisagem usados nas práticas artísticas contemporâneas vem sendo discutidas no projeto de Sandra Rey denominado “DesDOBRAmentos da Paisagem: Um Processo Artístico com base na Fotografia Digital”. In: BULHÕES, Maria Amélia e KERN, Maria Lúcia (Orgs). Paisagens, desdobramentos e perspectivas contemporâneas. Porto Alegre, Editora UFRGS, 2010, p. 267-279. 16 Para discutir as propostas da Land Art consultar: TIBERGHIEN, Gilles. Land Art, Paris, ÉditionCarré, 1993;KASTNER, Jeffrey e WALLS, Brian. Land and Environmental Art, New York, Phaidon Press, 1998;, LAILACH, Michael. Land Art,Koln, Taschen, 2007. 17Osartistaspioneirosdessemovimentosãoosamericanos e europeuscomo Carl Andre, Herbert Bayer, Christo e Jeanne Claude,Walter de Maria, Jan Dibbets, Michael Heizer, Nancy Holt, Patricia Johanson, Richard Long, Robert Morris, Dennis Oppenhein e Richard Smithson, entre outros.

Page 11: A POÉTICA DE EYMARD BRANDÃO. DA ARTE EM ...anpap.org.br/anais/2014/Comitês/1 CHTCA/Marília Andrés...Eymard Brandão. Técnica mista (Serie Solo e Subsolo), 2013 O trabalho de

268

23º Encontro da ANPAP – “Ecossistemas Artísticos”

15 a 19 de setembro de 2014 – Belo Horizonte - MG

18 As exposiçõespioneiras da Land Artforam: Earth WorksnaDwan Gallery em Nova York (1968); Earth Artna Andrew Dickson White Museum of Art de Cornell University em Nova York (1969); Earth Room, instalação de Walter de Maria naGaleriaHeiner Friedrich de Munique (1968); Ecological ArtnaGaleria John Gibson de Nova York (1969), entre outras, 19 FERREIRA, Glória. “Walter de Maria: entre invisibilidade e paisagem”. In: BULHOÕES, Maria Amélia e KERN, Maria Lucia (Orgs.). Paisagem. Desdobramentos e Perspectivas Contemporâneas. Porto Alegre, Editora da

UFRGS, 2010. 20 MARIA, Walter de. The New York Earth Room e The Lightning Field in: LAILACH, Michael. Land Art, Köln, Taschen, 2007, p.36 e 38.

REFERÊNCIAS BULHÕES, Maria Amélia e KERN, Maria Lucia (Orgs.). Paisagem. Desdobramentos e Perspectivas Contemporâneas. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2010. CATTANI, Icleia (Org.). Mestiçagem na Arte Contemporânea. Porto Alegre. Editora da UFRGS, 2007. DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo, Editora 34, 1998. DINIZ, João Diniz :Visible Cities. Belo Horizonte, Transbooks, 2013. KASTNER, Jeffrey e WALLS, Brian. Land and Environmental Art. New York, Phaidon Press, 1998. LAILACH, Michael. Land Art. Köln, Taschen, 2007. ROBINSON, Julia. Nuevos realismos: 1957-1962. Estrategias del objeto entre readymade y espetáculo. Madrid, Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, 2010. SANTOS, Alexandre e ALBANI, Ana Maria (Orgs). Imagens, Arte e Cultura. Porto Alegre, Editora UFRGS, 2013, p. 229. TIBERGHIEN, Gilles. Land Art, Paris, Édition Carré, 1993

Marília Andrés Ribeiro Professora, doutora, curadora, crítica e historiadora da arte. É Doutora em Artes pela ECA/USP e atualmente está realizando o pós-doutorado com o prof. Francisco Jarauta da Universidade de Múrcia, na Espanha. É presidente do Instituto Maria Helena Andrés (IMHA), vice-presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e do Instituto Arte das Américas (IAA). Coordena as coleções História e Arte,Circuito Atelier e Historiando a Arte Brasileira na Editora C/Arte. Publicou os livros Neovanguardas. Belo Horizonte, anos 60 (C/Arte, 1997) e Introdução às Artes Visuais em Minas Gerais (C/Arte, 2013).