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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO VANUSA PEREIRA DOS SANTOS A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA ESPECIAL E DA ESCOLA COMUM EM TEMPOS DE INCLUSÃO SOCIAL VITÓRIA 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

VANUSA PEREIRA DOS SANTOS

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA ESPECIAL E

DA ESCOLA COMUM EM TEMPOS DE INCLUSÃO

SOCIAL

VITÓRIA

2006

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VANUSA PEREIRA DOS SANTOS

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA ESPECIAL E DA

ESCOLA COMUM EM TEMPOS DE INCLUSÃO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, na área de concentração Processos Instituintes Aprendizagem e Ação Educacional. Orientadora: Profª Drª Jussara Martins Albernaz.

VITÓRIA 2006

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VANUSA PEREIRA DOS SANTOS

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA ESPECIAL E DA ESCOLA COMUM EM TEMPOS DE INCLUSÃO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, na área de concentração Processo Instituinte Aprendizagem e Ação Educacional.

Aprovada em 31 de maio de 2006. COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________ Profª Drª Jussara Martins Albernaz

Universidade Federal do Espírito Santo Orientadora

_____________________________________

Profª Drª Elizabeth Maria Andrade Aragão Universidade Federal do Espírito Santo

____________________________________ Prof. Dr. Hiran Pinel

Universidade Federal do Espírito Santo

__________________________________ Profª Drª Sônia Lopes Victor

Universidade Federal do Espírito Santo

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A Deus pela presença em cada letra que compõe este

trabalho.

Aos meus, minha mãe Luzia e meu pai Pedro, por

estarem sempre ao meu lado em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Sou grata a todos as pessoas que, de uma ou outra forma, participaram comigo na realização deste trabalho. À Prof. Drª Jussara Martins Albernaz pelo incentivo e orientação. À Prof. Drª Sônia Lopes Victor, pelas orientações de leituras, sugestões e aconselhamentos que contribuíram e muito com este trabalho. Ao Prof. Dr. Hiran Pinel, pelas orientações e aconselhamentos, durante a graduação e a determinação em colaborar com esta pesquisa. À Prof. Drª. Elizabeth Maria Andrade Aragão, pela disponibilidade em contribuir com este trabalho. À professora Rosângela, que caminhou comigo da 2ª a 4 ª série, me permitindo acreditar na educação, enquanto fator de mudança, me permitindo caminhar com maior confiança. Às Escolas que se colocaram totalmente abertas para a realização da pesquisa. À Coordenação do Núcleo de Educação Inclusiva do município, que colaborou de forma significativa com o estudo. Às professoras que possibilitaram minha presença nas salas de aula sem restrições; compartilhando angústias, alegrias, tristezas e anseios. Aos amigos Ivonilda, Alzira, Vanuza e Carlos pelo apoio, estímulo, incentivo e por acreditar na concretização de mais uma etapa na minha vida. Ao Fausto, pelo carinho e contribuições no momento de finalização deste trabalho. À amiga/irmã Ana Polônia Pivetta, por sua presença constante e por ser a irmã que eu não tive, me ouvindo mesmo sem entender. À Rosemary Christina Ferreira da Costa Mancuso, por ser a pessoa que compartilhou comigo as alegrias e tristezas de todo o processo, só ela me entende.

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“O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um

jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem

jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo

pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O

que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem."

(Rubem Alves, 2002)

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RESUMO

O presente estudo pretende contribuir para o debate acerca da nova modalidade de trabalho pedagógico que vem sendo desenvolvido com alunos especiais que freqüentam, em turnos diferentes, a escola comum e a escola especial. A abordagem histórico-cultural ofereceu suporte teórico à pesquisa. Os estudos do psicólogo russo, Liev Semionovich Vigotski, com crianças deficientes no inicio do século XX, mostraram que os educadores não deviam se adaptar ao defeito, mas buscar superá-lo e que os alunos especiais aprendem por outras vias, por caminhos diferentes dos alunos normais. Para se entender o trabalho realizado hoje nas escolas e avaliar se as práticas pedagógicas viabilizam aprendizagens significativas e uma verdadeira inclusão social dos alunos especiais, foi acompanhado o processo de ensino-aprendizagem de três alunos com deficiência mental, no período de maio a outubro de 2005. O campo de pesquisa foi constituído por duas escolas públicas de um município da Grande Vitória, e uma escola especial privada, que atende a alunos com deficiência mental. Foi realizado um estudo de caso tendo como pano de fundo um contexto bem definido: um projeto de inclusão da Prefeitura realizado em parceria com a escola especial. Foram estudados os pressupostos do trabalho de parceria e como foi feito o planejamento dos professores das escolas – especial e comum, além do apoio dado aos professores pelas Instituições estudadas, como cursos de capacitação, recursos de ensino; etc. O conceito de inclusão dos profissionais foi aferido através de seu discurso e de suas ações práticas, nem sempre concordantes. Observamos o processo de ensino aprendizagem que acontecia em cada uma das salas de aula investigadas com os três alunos pesquisados. Os resultados mostraram que na escola comum não houve um planejamento de atividades voltadas para a inclusão dos alunos especiais. As professoras propunham, tão somente, tarefas distintas para os alunos normais e especiais. Não houve um real trabalho de parceria entre as escolas, tendo sido as ações desenvolvidas na escola especial mais ajustadas aos interesses e necessidades dos alunos. Apesar da Prefeitura possuir um núcleo de educação inclusiva os profissionais das escolas comuns não receberam o apoio necessário para o trabalho com alunos especiais. As políticas adotadas precisam ser repensadas.

PALAVRAS – CHAVE: Escola especial – Escola comum – Deficiência mental.

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ABSTRACT

The present study intends to contribute to the debate concerning the new style of educational work that is being developed with special needs pupils who attend, at different times of the day, the common school and the special school. The historical-cultural approach offered theoretical support to the research. The studies of the Russian psychologist, Liev Semionovich Vigotski, with deficient children in the beginning of the 20th century, had shown that the educators did not have to adapt themselves to the defect, but to seek to overcome it and that the special needs pupils learn in other ways, in different ways to the normal pupils. To understand the work being done today in schools and to evaluate if the educational practices are leading to significant learning and a true social inclusion of the special needs pupils, the teaching-learning process of three pupils with mental deficiency was monitored, in the period of May to October 2005. The research field was constituted by two public schools of an urban area of Vitória-ES, and a private special school, that takes care of pupils with mental deficiency. A case study was carried out having as background a clear-cut context: a project of inclusion of the local Town Council carried through in partnership with the special school. The presuppositions for this partnership were studied as well as how the planning of the teachers of the schools was made - special and common, besides the support given to the teachers for the Institutions under study, such as courses of further training, educational resources; etc. The concept of inclusion of the professionals was measured through their speech and their practical action, not always in agreement with each other. We observed the teaching-learning process that happened in each one of the studied classrooms with the three researched pupils. The results showed that in the common school there was no planning of activities directed toward the inclusion of the special needs pupils. The teachers proposed, quite simply, distinct tasks for the normal pupils and the special needs ones. There was not any real work of partnership between the schools, the activities developed in the special school being more adjusted to the interests and necessities of the pupils. Despite the Town Council possessing a nucleus of inclusive education, the professionals of the common schools had not received the necessary support for the work with special needs pupils. The policies adopted need to be rethought.

Keywords: Special school - Common school - Mental deficiency.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografias 1 a 6 – Momentos de jogos Escola B............................................. 83 e 84

Fotografia 7 e 8- Organização das salas de aula escola especial.............................85

Fotografias 9 e 10 – Organização da sala de aula escola B......................................86

Fotografia 11 – Organização da sala de aula na escola A........................................86

Fotografias 12 e 13 – Curso de capacitação de professores.....................................88

Fotografia 14 – Reunião com professores.................................................................88

Fotografias 15 e 16 – Exposição de atividades escola especial............................... 89

Fotografia 17 – Sala de aula escola especial.......................................................... 101

Fotografia 18 – Desenho da história “o pássaro da sorte”.......................................104

Fotografias 19 e 20 – Cartazes com música ...........................................................105

Fotografia 21 – Desenho da canoa......................................................................... 106

Fotografia 22 – Rodrigo fazendo atividade na escola comum.................................107

Fotografia 23 – Atividade de classificação...............................................................108

Fotografia 24 – Atividade topológica .......................................................................109

Fotografia 25 – Atividade de matemática com Rodrigo ...........................................111

Fotografia 26 – Dominó de matemática...................................................................112

Fotografia 27 – Desenho de Rodrigo no inicio de 2005...........................................114

Fotografias 28 e 29 – Desenho de Rodrigo no final de 2005...................................114

Fotografia 30 – Atividade de matemática da escola especial..................................115

Fotografia 31– Desenho realizado pelo Márcio........................................................118

Fotografia 32 – Atividade sobre o carro...................................................................119

Fotografias 33, 34, 35 e 36 – Atividade da escola especial.....................................120

Fotografia 37 – Atividade de português da escola comum......................................123

Fotografias 38 e 39 – Atividade de matemática da escola comum..........................125

Fotografia 40– Atividade da escola especial ...........................................................132

Fotografia 41, 42, 43 e 44- Atividades da brinquedoteca............................. 132 e 133

Fotografia 45 – Dominó escola comum ...................................................................135

Fotografias 46 e 47 – Desenho do Fábio na escola especial ..................................138

Fotografias 48 – Desenho do Fábio na escola comum ...........................................138

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................13

2 - A ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL E A HISTÓRIA

DO DEFICIENTE .......................................................................................................18

2.1 1ª Fase – Exclusão social .............................................................................. 18

2.2 2ª Fase – Atendimento segregado e suas manifestações

no Brasil ...................................................................................................................20

2.3 3ª Fase – Normalização ................................................................................ 23

2.4 4ª Fase – Inclusão social................................................................................. 25

2.5 Abordagem histórico-cultural ........................................................................ 32

2.5.1 As contribuições de Vigotski com os alunos especiais ............................35

2.5.2 O processo de enunciação em Bakthin .......................................................39

2.6 As práticas educativas..................................................................................... 40

2.6.1 O plano de ensino......................................................................................... 41

2.6.2 Conteúdo de ensino ...................................................................................... 42

2.6.3 Estratégias de ensino e aprendizagem ........................................................43

2.6.4 O atendimento a diversidade ....................................................................... 44

3- DAS QUESTÕES INVESTIGATIVAS E METODOLÓGICAS

DA PESQUISA ...................................................................................................... 47

3.1 As questões investigativas...........................................................................47

3.2 As pesquisas................................................................................................... 48

3.3 Metodologia.......................................................................................................52

3.3.1 Fase exploratória......................................................................................... 53

3.3.2 Caracterização das escolas campo de estudo.............................................54

3.3.3 Caracterização dos sujeitos da pesquisa.....................................................56

3.3.4 O processo de coleta de dados.....................................................................60

3.3.4.1 O período de observação............................................................................60

3.3.4.2 Análise de documentos...............................................................................61

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3.3.4.3 As entrevistas...............................................................................................61

3.3.5 O processo de análise dos dados................................................................ 62

4 - RESULTADOS ...................................................................................63

4.1 O projeto de inclusão social da Prefeitura

e seus desdobramentos ...................................................................................63

4.2 Como era feito o planejamento na escola especial .....................................68

4.2.1 O planejamento na escola especial ...................................................71

4.3 Como era feito o planejamento na escola B....................................................74

4.3.1 O planejamento na escola B...........................................................................75

4.4 Como era feito o planejamento na escola A....................................................77

4.4.1 O planejamento na escola A...........................................................................79

4.5 Considerações gerais sobre o planejamento das atividades

em sala de aula nas diferentes escolas...........................................................80

4.6 O apoio humano e material oferecido aos professores.................................80

4.6.1 O apoio humano na escola especial..............................................................80

4.6.2 O apoio humano na escola B.........................................................................81

4.6.3 O apoio humano na escola A........................................................................ 82

4.6.4 Recursos materiais disponibilizados pelas escolas...................................82

4.6.5 A organização da sala de aula.......................................................................85

4.6.6 Cursos oferecidos aos professores da escola especial.............................87

4.6.7 O debate sobre os alunos especiais e repercussões na

escola comum...............................................................................................88

4.6.8 Considerações gerais sobre o apoio fornecido

aos professores pela escola.......................................................................90

4.7 O trabalho dos professores itinerantes nas escolas..................................... 91

4.8 O processo de ensino aprendizagem...............................................................96

4.9 Rodrigo..............................................................................................................100

4.9.1 O trabalho de oralidade desenvolvido com Rodrigo.................................100

4.9.2 Atividades de leitura e familiaridade com a

representação escrita...................................................................................102

4.9.3 A representação por meio do desenho................................................. 104

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4.9.4 O trabalho de atividades numéricas desenvolvido

com Rodrigo......................................................................................................108

4.9.5 Principais mudanças observadas no Rodrigo em 2005............................113

4.9.6 Avaliação e promoção de Rodrigo..............................................................116

4.10 Márcio..............................................................................................................117

4.10.1 A representação por meio do desenho.................................................... 118

4.10.2 O trabalho de escrita desenvolvido com Márcio......................................118

4.10.3 O trabalho de atividade numérica desenvolvido

com Márcio.................................................................................................. 124

4.10.4 Uma data especial.......................................................................................127

4.10.5 Principais mudanças observadas no Márcio em 2005........................... 129

4.11 Fábio................................................................................................................130

4.11.1 O trabalho de representação escrita desenvolvido

com Fábio.....................................................................................................131

4.11.2 O trabalho desenvolvido com o Fábio na

atividade numérica......................................................................................136

4.11.3 A representação por meio do desenho ................................................. 138

4.11.4 Principais mudanças observadas no Fábio em 2005..............................139

4.12 Algumas considerações sobre o trabalho pedagógico

das escolas..................................................................................................... 140

4.13 O processo de avaliação nas escolas......................................................... 141

5 - CONSIDERAÇÕES......................................................................................... 144

6- REFERÊNCIAS....................................................................................................148

7- ANEXOS............................................................................................................157

Anexo I – Entrevistas........................................................................................... 158

Anexo II- Termo de Consentimento.................................................................... 169

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1- INTRODUÇÃO

O presente trabalho se propõe a contribuir para o debate relativo ao

atendimento de alunos especiais nas escolas comuns e especiais. Tal

discussão se insere no chamado movimento de Inclusão Social, que busca

proporcionar a todos os grupos discriminados da sociedade por um longo

período histórico (índios, negros, mulheres, crianças de baixa renda, as

pessoas com deficiência, etc), a oportunidade de serem respeitados e

reconhecidos como pessoas, com suas singularidades e particularidades.

Neste sentido, surge uma nova proposta de reestruturação da sociedade, no

intuito de abranger a todos os segmentos sociais.

Com efeito, as pessoas com Necessidades Especiais que passaram por vários

séculos de segregação, humilhação, discriminação, não sendo reconhecidas

como pessoas, consideradas eternas crianças, sem qualquer discernimento,

tendo que aceitar tudo o que lhes era imposto (Neves, 2002). No atual

movimento de inclusão social, a escola inclusiva torna-se uma das principais

orientadoras do processo de inclusão dos alunos especiais.

Esta pesquisa foi motivada por minha experiência com crianças especiais e ditas

normais, em diferentes espaços educativos.

No período de Julho de 2000 a janeiro de 2003, atuei como monitora do núcleo de

pesquisa coordenado pela professora doutora Jussara Martins Albernaz, o

NIEPACIS1. Neste núcleo, dentre outras possibilidades, tive contato com crianças

que pertenciam a comunidades carentes, da Grande Vitória. Essas crianças não

possuíam perspectivas na vida, pois viviam em ambientes de sérios riscos sociais.

Havia professores e até mesmo familiares que não acreditavam em suas

potencialidades.

1 NIEPACIS (Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Processos de Aprendizagem,

Cognição e Interação Social) localizado na Universidade Federal do Espírito Santo, cujo objetivo era: atender a alunos do curso de Graduação em Pedagogia, bem como educandos das séries iniciais do ensino fundamental e capacitar professores de diferentes níveis do ensino.

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Trabalhamos diretamente na capacitação de docentes de algumas dessas

entidades, com o recurso de jogos educativos, pois observamos por parte dos

educadores, condutas de mediação que nem sempre favoreciam o processo de

aprendizagem dos educandos. Isso nos levou a repensar a utilização de certos

jogos, cujos efeitos positivos sobre a aprendizagem dos alunos já haviam sido

constatados (ALBERNAZ et al, 2002).

Pudemos perceber, na ocasião, certa correlação entre a utilização diferenciada de

recursos de ensino pelo docente e os bons resultados alcançados pelos alunos no

que diz respeito a aprendizagens pontualmente analisadas (primeiras operações

numéricas).

Como parte do meu histórico profissional, consta ainda a atuação como pedagoga

de uma Escola Especial que atendia a cidadãos com deficiência mental, no período

de maio de 2003 a junho de 2004. Neste momento, pude perceber uma não

articulação, entre o ensino comum e o ensino especial.

Vários alunos freqüentavam ambas as instituições regularmente. No entanto, não

existia nenhum tipo de contato entre elas, com exceção, de algumas visitas

realizadas esporadicamente, pela equipe de serviço social e de pedagogia da escola

especial. Tais visitas eram motivadas, dentre outros fatores, pelos depoimentos dos

pais de alguns alunos que relatavam com recorrência o fato da escola comum não

estar “sabendo” trabalhar com seus filhos. Isso não fazia parte, no entanto, do

planejamento escolar da instituição especial.

A prática da escola especial, não estava direcionada, portanto, para a

implementação de um trabalho mais sistemático de apoio às escolas comuns. Por

sua vez, os professores das escolas regulares não possuíam apoio dos sistemas de

ensino, estadual e municipal, e em algumas ocasiões, os alunos especiais eram

matriculados apenas para o cumprimento de uma exigência legal.

Para o ano de 2005, no entanto, surgira uma proposta concreta da rede municipal de

estabelecer uma parceria com a escola especial. Dois profissionais seriam

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disponibilizados pela rede pública para fazer a ponte entre a escola regular e a

escola especial. A implantação de um eventual trabalho de parceria entre ambas

abria um rico campo de investigação.

Um outro fator que contribuiu para a delimitação do problema de pesquisa foi minha

participação, no VIII Seminário Capixaba de Educação Inclusiva, que aguçou meu

espírito crítico face àquela realidade. A professora Rosângela Gavioli Prieto, na

palestra de abertura, afirmou que as escolas especiais poderiam continuar

funcionando, de acordo com a legislação, desde que atuassem como apoio à escola

regular. Isso me impulsionou a analisar a legislação atual que estabelece sobre a

atuação da escola especial, e a refletir sobre as possibilidades de realização do

trabalho colaborativo.

Vamos começar por apresentar sucintamente a atual legislação.

1- Declaração de Salamanca (1994)

Aprovada pela Conferência Mundial de Educação Especial, em 1994, com

representação de 92 paises e 25 entidades internacionais, a declaração propõe

que as escolas especiais “podem continuar a prover a educação mais

adequada a um número relativamente pequeno de crianças portadoras de

deficiência que não possam ser adequadamente atendidas em classes

regulares” (2005, p.05).

2- Lei de Diretrizes e Bases da Educação , nº 9.394/96, no Art. 58 § 2º (1996)

O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços

especializados, sempre que, em função das condições especificas dos alunos,

não for possível a integração nas classes comuns de ensino regular. (grifo meu).

3- Plano Nacional de Educação (2001)

O PNE, aprovado em Brasília, estabelece 28 (vinte e oito) objetivos e metas para a

Educação Especial.

No sexto objetivo consta:

Implantar, em até quatro anos, em cada unidade da Federação, em parceria com as áreas de saúde, assistência social, trabalho e com as organizações da sociedade civil, pelo menos um centro especializado

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destinado ao atendimento de pessoas com severas dificuldades de desenvolvimento (grifo meu).

4- Resolução do Conselho Nacional de Educação e Câmara de Educação

Básica nº 2 (2001)

A Resolução do Conselho Nacional de Educação e Câmara de Educação

Básica nº 2, promulgada em setembro de 2001, estabelece:

Art. 3º: Por educação especial, modalidade

da educação escolar, entende-se um

processo educacional definido por uma

proposta pedagógica que assegure

recursos e serviços educacionais

especiais, organizados institucionalmente

para apoiar, complementar, suplementar e, em

alguns casos, substituir os serviços

educacionais comuns, de modo a garantir a

educação escolar e promover o

desenvolvimento das potencialidades dos

educandos que apresentam necessidades

educacionais especiais, em todas as etapas

e modalidades de educação básica. (grifo

meu).

Art. 10º Os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais e requeiram atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social; recursos, ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a escola comum não consiga prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse complementando,

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sempre que necessário e de maneira articulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assistência Social. (grifo meu).

A legislação estabelece, portanto, a possibilidade de um trabalho de

cooperação entre as escolas comuns e especiais, e abre espaço para um

estudo mais localizado sobre as práticas educativas que vem sendo

desenvolvidas com os alunos espaciais em nossas escolas.

A presente pesquisa se propõe a contribuir com as discussões em torno do

movimento pela inclusão social, investigando as práticas pedagógicas de

professores que trabalham diretamente com os alunos em escolas comuns

e/ou em escolas especiais e o efeito deste trabalho sobre os alunos.

Para a realização do trabalho dialogarei com os autores dentro de uma abordagem

histórico-cultural do desenvolvimento, os quais irão orientar, não só a coleta de

dados, como também a análise dos mesmos. Pretendo, mais especificamente,

mergulhar no cotidiano de uma instituição, me tornando parte dele, pois, segundo

Sacristán e Gómez, “o investigador mergulha num processo permanente de

indagação, reflexão e comparação, para captar os significados latentes dos

acontecimentos observáveis, para identificar as características do contexto físico e

psicosocial” (SACRISTÁN & GÓMEZ, 1998, p.109).

Para melhor entender, os pressupostos deste trabalho começarei por retomar um

pouco da história da deficiência, situando-a no contexto do século XXI.

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2 - A ABORDAGEM HISTÓRICO- CULTURAL E A HISTÓRIA DO DEFICIENTE

Quando nos referimos às pessoas com deficiência física, mental, visual ou auditiva

estamos nos remetendo a indivíduos, que foram discriminados e excluídos da

sociedade durante um longo período histórico. A história do atendimento

institucional, a essas pessoas foi marcada por quatro grandes fases, cujas principais

características serão apresentadas em suas linhas gerais neste estudo.

Destacaremos suas manifestações no Brasil, sobretudo a partir da 2ª fase.

2.1) 1ª FASE – Exclusão Social

Conforme destaca Madureira e Leite (2003), esta primeira fase não possui um marco

preciso. Em algumas cidades como Esparta na Idade Média, os deficientes eram

considerados possuídos pelo demônio, além de serem abandonados sozinhos em

matas e florestas.

Fonseca (1995) destaca que, nos séculos XVI e XVII a percepção da deficiência foi

afetada pela visão da bruxaria, da mitologia, do espiritismo, decorrendo destes

princípios julgamentos morais, perseguições, encarcerações. Neste período, os

deficientes passaram a ser internados em asilos, hospícios ou prisões, por serem

considerados imorais. A base da não aceitação social se explicava pelo temor, o

horror e a repulsa pelas manifestações diferenciadas daqueles sujeitos. Não havia

normalmente um atendimento educativo para os mesmos (MENDES, 1995).

A história da educação especial, no entanto, tem seu inicio ainda no século XVI, por

meio de médicos e pedagogos que, desafiando os conceitos vigentes, começaram a

acreditar nas possibilidades educacionais de indivíduos até então considerados

ineducáveis. A educação especial nasce, por conseguinte, com uma ênfase no

ensino especial ou, em seu aspecto pedagógico ou metodológico, em uma

sociedade em que a educação formal era direito de poucos. Esses pioneiros

ensinavam a seus pupilos. Não havia um quadro formal teórico ou prático de

prestação de serviços ao qual eles estivessem de se reportar, tendo relativa

liberdade para testar suas teorias, MENDES (2002).

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Alguns trabalhos passaram a discutir a respeito da deficiência: O Psiquiatra Philippe

Pinel (1745-1826) escreveu sobre o atraso mental. O seu aluno e seguidor, o médico

Jean Étienne Dominique Esquirol (1772-1840), estabeleceu a diferença entre

amência (idiotia) e demência (loucura); ele criou o termo “idiotia” em 1818, afirmando

não se tratar de uma doença, seria um estado de não desenvolvimento das

faculdades intelectuais (MENDES, 1995).

O trabalho realizado pelo médico Jean Marc Itard (1774 – 1838), com Vitor (menino

selvagem) um adolescente de doze anos de idade, capturado na floresta de

Aveyron, no sul da França, considerado como idiota. O médico estudou a deficiência

auditiva e mental e elaborou uma didática para o trabalho com deficientes, é

considerado como um dos pioneiros no atendimento educativo dos deficientes. Itard

desenvolveu seu trabalho durante cinco anos, tendo como base a idéia de que era

necessário partir dos hábitos já estabelecidos para estabelecer habilidades mais

complexas, treinar os órgãos dos sentidos e promover discriminações sensoriais

para estimular o sistema nervoso. (MENDES, 1995, MADUREIRA e LEITE, 2003,

MAZZOTTA, 2003, ZANNUZZI, 2004).

O trabalho de Séguin (1812-1880), que desenvolveu propostas de educação para os

deficientes mentais com base no treino sensório-motor. Definia a idiotia com

enfermidade orgânica que provocaria distúrbios fisiológicos, “o idiota padrão é um

ser que nada sabe, nada pode e nada quer”. (MENDES, 1995).

Para Pessotti, um indivíduo poderia ser considerado normal ou cretino, segundo

critérios ligados à aparência física, desenvolvimento e comportamentos

considerados destoantes, isso até a primeira década do século XIX (MENDES,

1995).

O atendimento aos deficientes feito pelos médicos ficou conhecido como modelo

médico de atendimento e segundo Mendes (1995), algumas contribuições deste

modelo foram: o fato de que ao disseminar uma concepção organicista da

deficiência mental, a medicina da época pode minimizar as concepções

supersticiosas e sobrenaturais, produzindo com isto mudança de atitude para com o

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portador. Alguns aspectos do trabalho de Seguin, como o ensino individualizado, a

educação do individuo em sua totalidade, a necessidade de considerar os interesses

do educando. Assim como, o trabalho de Itard com a ênfase em promover

habilidades mais complexas a partir das mais simples e já dominadas, o aspecto

motivacional da relação professor –aluno.

2.2) 2ª FASE – Atendimento Segregado e suas manifestações no Brasil

Na metade do século XIX teve início a segunda fase que foi denominada de

atendimento segregado, onde começaram a surgir as instituições especializadas

para deficientes: escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas protegidas de

trabalho, clubes sociais especiais, associações desportivas especiais. Estas

entidades foram fundadas de forma relativamente aleatória por particulares, pelas

Igrejas, e apresentavam diferenças quanto à finalidade e qualidade de atendimento,

enquanto umas tinham finalidades puramente assistencial outras já objetivavam fins

educativos, Madureira e Leite (2003).

Este tipo de atendimento tinha como crença o fato de que “com o uso de métodos e

técnicas especializadas os alunos [...] poderiam vir a aprender” (TONINI e COSTAS,

2004, p.62).

No início do século XX, a França com uma população predominantemente

urbanizada, vê a escola como importante órgão para a instrução formal. Neste

sentido, o Ministério da Instrução objetivando fazer com que todos aprendessem

rapidamente e para resolver os problemas da repetência e evasão passa a fazer uso

de testes de inteligência, os quais foram elaborados por Binet e Simon (1857-1911),

na colônia de crianças retardadas de Perry-Vaucluve. A definição utilizada por esses

autores de debilidade mental é “a criança que sabe se comunicar com seus

semelhantes por meio de palavras e por escrito, mas mostra um retardo de dois ou

três anos no curso de seus estudos” (JANNUZZI, 2004, p, 54). No Brasil este

trabalho foi traduzido por Lourenço Filho em 1920.

Autores que contribuíram de forma acentuada, para a educação das pessoas com

deficiência ambos no início do século XX, foram: Maria Montessori (1870-1956)

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médica italiana, que teve como referência os trabalhos de Séguin e Itard. Montessori

trabalhou com a idéia de que as limitações de muitos deficientes não eram

problemas médicos e sim pedagógicos. Isso a levou a criar um método que

permitisse ensinar habilidades de leituras e escrita por meio do auto - ensino, além

de propor ambientes que colaborassem com a liberdade de ação, visando reforçar a

idéia de exploração natural do ambiente. Décroly (1871 – 1932), foi responsável

pela criação e a utilização de vários jogos e do trabalho lúdico com crianças normais

e deficientes. Ambos influenciaram o ideário escolanovista tendo repercussão no

Brasil, com a ênfase do respeito às diferenças (MAZZOTTA, 2003, JANNUZZI,

2004).

A preocupação com os alunos deficientes pode ser constatada no Brasil desde o

final do século XVIII e inicio do século XIX, tendo como influência as idéias liberais

que orientavam o pensamento filosófico do período. Segundo Jannuzzi (2004), a

literatura que trata deste tema no país é muito escassa. A Constituição de 1824

assegurava a instrução primária e gratuita a todos.

O atendimento aos deficientes teve seu inicio provavelmente ligadas as atuações

das Câmaras Municipais ou das confrarias particulares. O Imperador D. Pedro II

criou por influência de pessoas importantes da época, o Instituto dos Meninos Cegos

(1954), que seria posteriormente o Instituto Benjamim Constant posteriormente e o

Instituto dos Surdos-Mudos (1857), ambos no Rio de janeiro. (MAZZOTA, 2003).

Convém destacar que, neste período a educação popular não era preocupação do

governo, muito menos a educação do deficiente. Essa situação pode ter ligação com

o fato da população do Brasil ainda ser predominantemente rural e iletrada. Uma vez

que o número de escolas era escasso visando apenas à educação de uma elite

social das camadas alta e média da população. Não houve a preocupação com a

população das pessoas com deficiência mental. As crianças com deficiência mental

de grau mais severo eram internadas em hospitais psiquiátricos.

Com a proclamação da República em 1889, esse quadro não foi alterado. Os cegos

e surdos foram privilegiados até por volta de 1920, quando teve inicio o período de

urbanização do país que necessitava de mão de obra qualificada o que obrigou ao

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governo a aumentar o número de escolas e as pessoas com deficiência mental

passaram a ser reconhecidas em meio à população (JANNUZZI, 2004).

Segundo Mazzota (2003), até o final do século XIX diversas expressões eram

utilizadas para fazer referência ao atendimento educacional aos portadores de

deficiência: Pedagogia de Anormais, Pedagogia Teratológica, Pedagogia Curativa

ou Terapêutica, Pedagogia de Assistência Social, Pedagogia Emendativa.

No âmbito educacional os deficientes mentais passaram a serem classificados

como: educáveis, treináveis e dependentes ou custodiais, segundo Mendes (1995).

Com a divulgação dos testes de inteligência, no início do século XX, torna-se inviável

a abordagem tutorial e se fez necessário o desenvolvimento de novas propostas

educacionais. Neste período, começam a fortalecer a mobilização da sociedade civil,

principalmente por meio das instituições filantrópicas sem fins lucrativos. Segundo

Mendes (1995), provavelmente pela omissão do governo que forçou a mobilização

comunitária para preencher a lacuna do sistema educacional brasileiro. O sistema

educacional público, por sua vez, passou a atender aos alunos dentro de uma

modalidade segregadora. Foram implantadas classes especiais nas escolas públicas

para os graus de deficiência mais leves, e escolas especiais para os casos mais

severos.

Foram criados, o Instituto Pestalozzi do Rio Grande do Sul, em 1926, e a Associação

de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio de Janeiro, em 1954. Estas Instituições

foram as primeiras de uma série, que estão representadas em todo o território

nacional, segundo Mazzota (2003).

De acordo com Mendes (1995) a segregação educacional antes considerada como

benéfica para a aprendizagem dos portadores de deficiência, na década de 70

passou a ser vista sob a ótica de marginalização e discriminação social.

2.3) 3ª FASE – Normalização

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Na década de 70 as escolas regulares passaram a compartilhar a idéia de aceitar

crianças e adolescentes nas salas de aula comum ou mesmo em classes especiais

ou de recursos, porém a integração só era possível para aqueles estudantes que se

adaptassem à classe comum, sem alterar o sistema, sendo que vários alunos

permaneciam excluídos (MENDES, 2002).

Para Madureira e Leite (2003) existem quatro formas de integração: física, funcional,

escolar e relativa à comunidade.

Segundo Sassaki (2003), a sociedade neste modelo aceitava os alunos com

deficiência desde que eles fossem capazes de:

− Moldar-se aos serviços de apoio especializado;

− Acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos em sala;

− Superar os obstáculos físicos do meio;

− Souber lidar com as atitudes discriminatórias da sociedade;

− Desempenhar papéis sociais individuais com autonomia;

Neste sentido, os alunos devem “demonstrar que são capazes de permanecer na

classe normal” (FERREIRA & GUIMARÃES, 2003, p. 112).

No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB Nº 5692/71) previa o “tratamento

especial ao excepcional”, com ênfase no enfoque terapêutico das ações

educacionais. O Artigo 9º garante o ‘tratamento especial’ aos ‘alunos que

apresentem deficiência físicas ou mentais, os que encontrem em atraso considerável

quanto à idade regular de matrícula e os superdotados’.

Em tais diretrizes fica patenteado um posicionamento que atribui um sentido clínico e/ou terapêutico à educação especial, na medida em que o atendimento educacional assume o caráter preventivo/ corretivo. Não há aí uma característica de educação escolar propriamente dita. Mesmo o encaminhamento dos excepcionais ao ‘sistema educacional’ fica condicionado a um diagnóstico a ser realizado, sempre que possível, em serviços especializados (MAZZOTA, 2003, p,73).

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Na década de 70, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP

com o objetivo de expandir e melhorar o atendimento aos alunos especiais.

Em 1986 o Centro Nacional de Educação Especial, edita uma portaria n º 69, que

determina normas para a prestação de apoio técnico e/ou financeiro à Educação

Especial, definindo-a como parte integrante da Educação, objetivando o

desenvolvimento das potencialidades do “educando com necessidades especiais”.

Essa foi a primeira vez, que a expressão “educando com necessidades especiais” foi

utilizada, substituindo “aluno excepcional” (MAZZOTTA, 2003).

Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal, que, em seu artigo 208, inciso III,

estabeleceu dentre as atribuições do Poder Público “o atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino [...]”. De acordo com Ribeiro (2003) a palavra preferencialmente tem

provocado uma “considerável celeuma”, já que o texto deixa espaço para a exclusão

do aluno do ensino comum.

Após 1990, no Brasil teve início a busca por indicadores que entendam a Educação

Especial como modalidade de ensino. No entanto, segundo Mazzotta (2003) se faz

necessário ressaltar “que as principais propostas e planos mantêm-se numa

abordagem reducionista, interpretando a Educação Especial como questão

meramente metodológica ou procedimentos didáticos” (p. 200). O autor destaca que

“a Educação Especial não deve ser entendida com simples instância preparadora

para o ensino comum, embora se deseje que o maior número possível dos alunos

possa dele se beneficiar” (p. 200).

2.4) 4ª FASE - Inclusão Social

A última fase é denominada de Inclusão Social, teve início segundo Sassaki (2003)

na segunda metade da década de 80, nos países desenvolvidos. Tomando maior

impulso na década de 90, a sociedade inclusiva estabelece alguns princípios como:

− Celebração das diferenças;

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− Direito de pertencer;

− Valorizar da diversidade humana;

− Solidariedade humanitária;

− Igual importância das minorias;

− Cidadania com qualidade de vida.

A inclusão social, não visa apenas à inclusão de pessoas com deficiência física,

visual ou mental. Na nova concepção de inclusão busca-se incluir grupos ou

segmentos sociais que foram excluídos da escola, bem como da sociedade durante

um longo período histórico.

No que diz respeito, à esfera educacional a Conferência de Jomtien, na Tailândia

(1990), foi de fundamental importância ao estabelecer como ideal a “Escola para

todos”. Já em 1994 a Declaração de Salamanca reforça este princípio, ao propor

para as escolas inclusivas que elas devam “reconhecer e responder às

necessidades diversas de seus alunos, [...] assegurando uma educação de

qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais,

estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com as comunidades” (p.05).

Essa declaração subsidiou vários textos da legislação no Brasil.

A Declaração Internacional de Montreal sobre inclusão constitui o documento mais

recente do tema, aprovada em Junho de 2001 em Montreal, Canadá. Essa

declaração reafirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quando

menciona que “todos os seres humanos nascem livres e são iguais em dignidade e

direitos” (ARTIGO, 01), “apelando” aos governos, empregadores, trabalhadores,

assim como a sociedade civil para que assumam o compromisso com o “desenho

inclusivo” em todos os setores.

Para o movimento de Inclusão Social,

A Educação Inclusiva implica em uma mudança de paradigma. Da doença para a saúde. Da deficiência e do distúrbio para as necessidades educativas especiais. [...] não é o sujeito que tem que se integrar na escola; mas a escola que precisa se modificar para incluí-lo (MRECH, 2004b, p. 02).

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A inclusão escolar envolve um processo de reestruturação das escolas, no sentido

de possibilitar a todos a oportunidade de freqüentá-la. Nesta reforma das

instituições, devem ser incluídos a reelaboração do currículo, das formas de se

avaliar, bem como das oportunidades referentes ao lazer e a recreação (MITTLER,

2003).

Para o ensino inclusivo, há três elementos práticos interdependentes, de acordo com

Karagiannis et all (1999): o primeiro seria a rede de apoio, que abrangeria a

coordenação de equipes e indivíduos que se apóiam mutuamente de forma informal

ou formal; o segundo diz respeito à consulta cooperativa e o trabalho em equipe, o

que envolveria indivíduos de diferentes especialidades trabalhando em conjunto, no

intuito de planejar e implementar programas para os diferentes alunos; o último

elemento está relacionado à aprendizagem cooperativa, que envolveria a criação de

um ambiente na sala de aula que estimulasse o interesse dos alunos, levando em

conta suas diferentes habilidades.

O momento, portanto, é de ressignificar os papéis das escolas, tornando-as

inclusivas. Instituições como as escolas especiais, que são caracterizadas por um

atendimento assistencialista e paternalista, com o novo quadro de uma educação

voltada para todos, deveriam atuar de acordo com Santos (2004) “[...] como centros

de referências de educação especial, cujo objetivo principal seria fornecer apoio

técnico e equipamento às escolas regulares” (p. 07).

No que tange ao papel dos professores destas Instituições, que eles possam rever

suas práticas e trabalhar como parceiros dos profissionais do ensino regular

argumenta Mrech (a, 2004).

As ONGs (Organizações Não Governamentais) possuem objetivos e atuações muito

diferentes uma das outras. Algumas delas, segundo Prieto (2002), possuem um

importante papel, de denúncia da negligencia do poder público, diante do quadro de

educação para todos. Outras, por dominarem o conhecimento especifico nessa área,

poderiam atuar como parceiras no planejamento de propostas para o atendimento

especializado dos alunos com necessidades educacionais especiais. Estas

instituições poderiam funcionar como apoio ao ensino regular, pois, como ressalta

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Wernecke (2002), “nem todo bem está com a escola regular, nem todo mal com a

especial” (p.163).

Cabe ressaltar, além disso, que o modelo de educação em vigor no nosso país,

ainda não oferece as condições para que se efetive uma prática inclusiva e que o

caminho a percorrer é longo e árduo, segundo Ferreira & Guimarães (2003).

A própria escolarização das crianças ditas normais enfrenta problemas gravíssimos.

Dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2003,

divulgados no Boletim do MEC de junho de 2004, mostraram dentre outras coisas,

que 55% e 52% respectivamente das crianças que completavam a 4ª série, tinham

um desenvolvimento crítico em leitura e em matemática.

Dos estudantes de 8ª série, 84% apenas consolidaram habilidades e competências

que seriam esperadas para 4ª série do ensino fundamental. A educação ofertada

entre a 5ª e a 8ª séries teria acrescentado muito pouco em termos de aprendizagem.

Segundo Araújo e Luzio (2004), a maioria das crianças ao final da 4ª série não

consegue compreender uma simples reportagem de jornal, lê de forma truncada até

mesmo as frases mais simples, não localiza informações nítidas no texto, não possui

habilidade de fazer inferências, não identifica o tema da reportagem e não conhece

o significado de boa parte das palavras.

A escola comum, portanto, se vê incapaz de trabalhar com os alunos normais e

especiais com os recursos que possui.

Para Macedo (2004), a educação inclusiva é democrática, comunitária. Permite que

o professor saia da solidão, arrogância e tenha coragem de assumir que não sabe,

que tem medo, nojo, vergonha, pena, que deseja rever sua prática, suas estratégias

de ensino e que possa pedir ajuda quando necessário.

Porém, “ao analisarmos as posturas dos professores frente aos problemas da

prática educacional, encontramos um amplo espectro de posicionamentos

assumidos, desde a tentativa de negação da realidade até o compromisso com sua

radical transformação” (VASCONCELLOS, 2001, p.66).

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O trabalho de parceria, entre as instituições que atendem aos alunos com

necessidades especiais depende do posicionamento assumindo pelos profissionais

envolvidos, se de negação da realidade ou de transformação.

Nesta sociedade inclusiva, tanto o serviço de apoio, como as parcerias e o ensino

cooperativo merecem destaque. Alguns autores tratam desse assunto como:

Carvalho (2004), Mittler (2003), Stainback & Stainback (1999) e na Declaração de

Salamanca (1994) quando menciona que “deveria existir uma continuidade de

serviços de apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas

dentro da escola” (p. 05).

Dentre as formas de apoio, deveria ser estruturado a possibilidade do apoio

recíproco dos professores dentro das próprias instituições, com momentos para

discussões dos problemas enfrentados na prática educativa, (MITTLER, 2003).

A legislação brasileira até 1990 permaneceu com

[...] o sentido assistencial e terapêutico atribuído à educação especial, pelo MEC, [...] quando em documento oficial, se reconheceu que ‘pela primeira vez, o MEC começa a encarar a educação para todos’. Daí em diante há alguns indicadores da busca de sua interpretação como educação escolar (MAZZOTTA, 2003, p.131).

Nesse período, iniciou um processo de aprovação de vários documentos no Brasil

como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990).

No que diz respeito à criança e ao adolescente portador de deficiência o Estatuto

estabelece em seu Artigo 11, nos Parágrafos 1º e 2º, que ‘a criança e o adolescente

portadores de deficiências receberão atendimento especializado’ e que a eles será

garantido o fornecimento gratuito de medicamentos, próteses e outros recursos para

tratamento, habilitação ou reabilitação. No que tange ao aspecto educativo, no Artigo

54 dispõe: ”É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente [...]

atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino”.

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A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 trata no capítulo V, Da

Educação Especial nos Artigos 58 a 60. Entendo por educação especial uma [...]

“modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de

ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.

Segundo Minto (2002), existe nesse texto dois aspectos positivos que seriam: o fato

de considerar a educação especial como modalidade de educação escolar e a

definição do local onde deveria ocorrer o atendimento, ou seja, na rede regular de

ensino. O autor menciona ainda, a preocupação com a utilização dos termos

“portadores” e “preferencialmente”. A utilização da primeira expressão pode trazer a

idéia de “carregar algo que, por ser ‘especial’ não cabe no ‘lugar comum’. O

emprego da palavra preferencialmente abre a possibilidade para o não cumprimento

da Lei” (p.20).

Em 2001 o Conselho Nacional de Educação estabeleceu a Resolução nº 2 de 2001,

onde se consideram alunos com necessidades educacionais especiais o que,

durante o processo educacional, apresentarem:

I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de

desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares,

compreendidas em dois grupos:

a) aquela não vinculada a uma causa orgânica especifica;

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos,

demandando a utilização de linguagem e códigos aplicáveis;

III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve

a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.

Recorro a Carvalho (2003), para uma melhor compreensão do significado das

expressões necessidades especiais e necessidades educacionais especiais. O

termo necessidades especiais se refere ao indivíduo privado de “condições

orgânicas ou psicológicas, estruturais ou funcionais, que se manifestam no

cotidiano” (105). A expressão necessidades educacionais especiais se refere às

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necessidades que qualquer pessoa pode apresentar, durante o processo de ensino-

aprendizagem por diferentes razões (traumas, doenças, etc.).

A deficiência mental, por sua vez, assume um caráter relativo para alguns, pois o

que pode ser considerado deficiente em uma cultura pode não ser em outra, o que

torna difícil seu diagnóstico. Vários fatores podem influenciar a constatação da

deficiência: o aspecto afetivo, sócio-econômico, carência de alimentos, assim como

de estímulos, alterações da linguagem, psicoses, dentre outros.

Segundo o relatório2 da Organização Mundial da Saúde (2004) o retardo mental, é

caracterizado pela inibição do desenvolvimento da mente, causando prejuízos em

áreas como a linguagem, cognição, faculdades motoras e sociais.

De acordo com Ballone (2004),

Na Deficiência Mental, como nas demais questões da psiquiatria, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento mais fortemente ligado à noção de normal. Teoricamente, já que a unidade de observação é a capacidade de adaptação, deveriam ficar em segundo plano as questões mensuráveis de QI. (p.03).

Cabe ressaltar que, “a capacidade para aprender varia muito, sendo importante,

conhecer cada criança, perceber qual o seu potencial e necessidades e qual a

melhor forma de auxiliá-la em seu desenvolvimento” (APAE, 1993, p.02). Desta

forma, designar ou não um sujeito enquanto deficiente mental torna-se uma tarefa

um tanto quanto complexa, tendo em vista que alguns comprometimentos podem ser

decorrentes de ambientes pouco estimuladores.

Isso pode ser comprovado no caso Emília, uma adolescente que foi hospitalizada

com as seguintes características: aos dezessete anos não se comunicava, nem por

palavras nem por gestos, não andava e media 97 centímetros. Emília ficou

internada durante um ano para que fossem feitos estudos a respeito do nanismo

(pequeno tamanho) e atraso global no desenvolvimento. Nessa ocasião, foi

desenvolvido um programa com o objetivo de proporcionar maiores oportunidades

de interação social. Após este período, Emília já andava e se expressa por meio da

2 Este relatório pode ser consultado em www.psiqweb.ed.br/acad.

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fala, além de medir 120 centímetros. As conclusões dos estudos foram de que o

atraso no desenvolvimento possivelmente foi causado por inadequações no que diz

respeito às relações sócio-afetivas vivenciadas por Emília (WERNER, 2000, p.30-

34).

Silveira (2004), em artigo que trata de pesquisas recentes sobre a plasticidade do

cérebro, conclui

[...] que se torna necessário estimular as áreas do cérebro objetivando auxiliar os neurônios a desenvolverem novas conexões; educar as crianças desde a mais tenra idade em um ambiente enriquecedor, estimulando a linguagem falada, cantada, escrita criando um clima estruturado com afetividade diversificando positivamente as sensações, com a presença de cor, de música, de interações sociais, e de jogos visando o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e memórias futuras, favorecendo assim o seu processo de aprendizagem (p.02).

Uma grande dificuldade para as pessoas com deficiência mental no ambiente

escolar é a falta de credibilidade em seu potencial. Habitualmente a escola não

acredita na possibilidade de sucesso escolar, colocando-se numa atitude passiva

face ao aluno especial. Os indivíduos com deficiência mental deveriam ser

colocados em situações de conflitos tanto cognitivo, quanto emocional, visando

provocar novas aprendizagens, segundo MONTOAN (1998).

Essa discussão nos remete a estudos desenvolvidos por Vigostki e por autores que

se apóiam em seus trabalhos dentro da abordagem histórico-cultural, uma vez que

este é considerado um dos primeiros pesquisadores a defender as idéias que

sustentam a perspectiva inclusiva, na primeira metade do século XX.

2.5) ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL

Buscando voltar o olhar para o indivíduo enquanto sujeito histórico, adotarei nesse

trabalho a abordagem histórico-cultural como referência, tendo como um dos seus

principais representantes o russo Liev Semionovich Vigotski, que nasceu em 5 de

novembro de 1896 em Orsha na Bielorrussia, falecendo aos 37 anos no dia 11 de

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junho de 1934. Crítico literário e artístico, psicólogo da arte, estudioso dos problemas

da psicologia, dos sentimentos do ator de teatro e da psicologia da criação, notável

educador e professor, refinado terapeuta, psicopedagogo de crianças deficientes,

pesquisador do funcionamento normal e anormal do cérebro e da psique, psicólogo

experimental, teórico da psicologia do pensamento e da linguagem, estudioso do

judaísmo e dos evangelhos e também estudioso da relação entre a psicologia e os

grandes movimentos históricos do século XX. (VIGOTSKI, 2003b).

A atividade do outro ocupa lugar central nos trabalhos de Vigotski, o qual destaca

que “seria [...] correto dizer que nos conhecemos à medida que conhecemos o outro

ou, ainda mais exatamente, que só nos conhecemos à medida que somos outro,

algo estranho a nós mesmos” (VIGOTSKI, 2003a, p. 172). Nesta mesma perspectiva

Pino (2000) diz que “é pelo outro que o eu se constitui em um ser social com sua

subjetividade” (p. 66). “Ao experimentar ser o eu e ser o outro, a criança re-produz

modelos sociais e rituais de vários espaços da cultura, experiências que propiciam a

ela singularizar-se e construir seu eu”. (GÓES, 2000 p. 123).

O desenvolvimento cultural para Vigotski é entendido “como um processo de

internalização de modos culturais de pensar e agir [...] inicia-se nas relações sociais”

(FONTANA e CRUZ, 1997, p. 63).

Para Vigotski o desenvolvimento não representa uma mera acumulação lenta de

mudanças unitárias, constituindo em “complexo processo dialético, caracterizado

pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das diferentes funções,

metamorfose ou transformação qualitativa de uma forma em outra, entrelaçamento

de fatores externos e internos e processos adaptativos” (VIGOTSKI, 2003c, p.162).

O desenvolvimento apresentaria três estágios fundamentais: a) em si b) para os

outros c) para si. Neste sentido, podemos afirmar que, “através dos outros

constituímo-nos” (VIGOTSKI, 2000, p.25).

Os processos psicológicos superiores têm uma origem histórica e social, na

atividade do sujeito compartilhada com outros, “caracterizam o funcionamento

psicológico tipicamente humano, as representações mentais da realidade exterior

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são, [...], os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com

o mundo” (OLIVEIRA, 1997, p.35).

Existem os processos psicológicos elementares e superiores. São considerados

atributos dos processos superiores:

a) Serem específicos dos seres humanos, constituídos na vida social;

b) Regularem a ação em função de um controle voluntário, indo além de sua

dependência e controle por parte do meio ambiente;

c) Serem regulados conscientemente ou terem necessitado dessa regulação

consciente em algum momento de sua constituição;

d) Se valerem de instrumento de mediação, a mediação semiótica possuindo

lugar de relevância, (BAQUERO, 2001).

Segundo Vigotski (2003c), as funções elementares têm como característica o fato de

serem totalmente e diretamente determinadas pela estimulação do ambiente. Já as

funções superiores possuem sua origem essencial na “estimulação autogerida, isto

é, na criação e uso de estímulos artificiais que se tornam causa imediata do

comportamento” (53).

Na perspectiva histórico-cultural, a mediação do homem com o mundo ocorre de três

formas: por meio de instrumentos, que seriam os materiais concretos do meio

externo; por meio da semiótica, que diz respeito à utilização da linguagem; por meio

da mediação social, que consiste na relação entre sujeitos, mediada tanto pelos

instrumentos quanto pela palavra. (ROCHA, 2000).

No processo de formação de conceitos, de acordo com Vigotski (2003b) um conceito

“é mais do que a soma de certas conexões associativas formadas pela memória, é

mais do que um simples hábito mental; é um ato real e complexo de pensamento

que não pode ser ensinado por treinamento” (p. 104). A formação de um conceito só

pode ser realizada quando o desenvolvimento mental da criança tiver alcançado o

nível necessário.

Existem dois tipos de conceitos os “espontâneos” ou cotidianos, que são os

conceitos desenvolvidos no curso da atividade prática da criança, com suas

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interações sociais mais próximas. Segundo Oliveira (1992), a criança possui o

conceito espontâneo, no entanto não tem consciência do ato de pensamento.

O outro tipo de conceito são os científicos que são transmitidos em situação formais

de ensino-aprendizagem, não sendo aprendidos em sua forma definitiva. Eles vão

sendo expandidos, gradualmente por meio dos trabalhos escolares. Oliveira afirma

que “o desenvolvimento dos conceitos espontâneos da criança é ascendente,

enquanto o desenvolvimento dos seus conceitos científicos e descendentes, para

um nível mais elementar e concreto” (1992, p, 31).

Outro conceito elaborado por Vigotski é o da zona de desenvolvimento, que

segundo Van Der Veer (1996), teria sido desenvolvido a partir de sua experiência

com pessoas com deficiência mental. Essas crianças trabalhavam em grupos, que

eram formados por níveis mistos, onde umas auxiliavam as outras como condições

para promover o desenvolvimento cognitivo. Vigostki teria concluído que, o

desenvolvimento dos deficientes mentais era favorecido em interações com pessoas

que estavam em um nível superior ao delas. Mais tarde, esse aspecto influenciou o

que passou a ser conhecido como a zona de desenvolvimento, cuja principal idéia é

que, o que se faz hoje com ajuda amanhã poderá ser feito sozinho.

Dentro da zona de desenvolvimento são estabelecidos pelo menos dois níveis, o

primeiro chamado de nível de desenvolvimento real, o qual consiste em ciclos de

desenvolvimentos já completados, ou às “funções já amadurecidas, ou seja, os

produtos finais do desenvolvimento” (VIGOTSKI, 2003c, p. 113). O segundo nível

seria o nível de desenvolvimento potencial, que é determinado pelas soluções

que a criança é capaz de realizar sob a orientação de um adulto ou mesmo graças à

colaboração de outras crianças mais capazes.

A zona de desenvolvimento proximal “é a distância entre o nível de desenvolvimento

real, [...] e o nível de desenvolvimento potencial” (VIGOTSKI, 2003c, p. 112), sendo

identificada como o caminho que o individuo vai percorrer para desenvolver a

funções que estão em processo de amadurecimento e que serão consolidadas, no

nível de desenvolvimento real. De acordo com Palangana (2001), a zona de

desenvolvimento proximal consiste em um instrumento que permite compreender o

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percurso do desenvolvimento interno, facilitando com isso a atuação sobre as

possibilidades imediatas do indivíduo.

Destacando ainda que o nível de desenvolvimento real caracteriza o

desenvolvimento retrospectivamente, já na zona de desenvolvimento proximal o

desenvolvimento mental é caracterizado prospectivamente.

A seguir estarei relatando um pouco das contribuições de Vigotski, no que diz

respeito, ao trabalho com as pessoas deficientes.

2.5.1) As contribuições de Vigotski no trabalho com os alunos especiais

Possivelmente o interesse de Vigotski por problemas relacionados à deficiência

tenha surgido durante seu trabalho como professor na cidade de Gomel, tornando-

se evidente com a sua primeira publicação na área em 1924. (VAN DER VEER,

1996).

Vigotski (1989), realizou vários trabalhos com crianças surdas, cegas e deficientes

mentais, ressaltando a importância da valorização do lado positivo da doença,

apontando que durante anos, o que foi levado em consideração foram os aspectos

negativos da mesma. A tese defendida por esse autor é que as crianças que

apresentavam algum defeito se desenvolviam de forma diferente das ditas normais.

Na perspectiva vigotskiana o desenvolvimento é analisado, sobretudo, a partir de

suas grandes mudanças qualitativas. A deficiência, por sua vez, era estudada

extrapolando a tendência tradicional de medi-la através de simples testes de QI.

Nesse sentido, a criança deficiente apresenta um tipo especial de desenvolvimento e

não uma variante quantitativa do tipo normal.

Alguns aspectos segundo Beyer (2004) da teoria de Vigotski que tem ligação direta

com o projeto de educação inclusa são:

a) A idéia de deficiência defendida por esse autor, ele não concebia a

deficiência com critérios normativos ou comparativos, não aceita o fato de

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definir alguém pelo que tem a mais ou a menos. Esse ponto de vista é

compatível com o mais atual, que pode ser expresso da seguinte maneira: “A

noção de ‘deficiência’ é, pois, uma questão contingencial e decorre de normas

e expectativas da sociedade. Assim, não deve ser concebida simplesmente

como um atributo da pessoa inerente à pessoa diagnosticada e tratada como

deficiente” (FERREIRA & GUIMARÃES, 2003 p.27).

b) A concepção do conceito de compensação. Para Vigotski a pessoa teria

condições de superar seus limites causados pela deficiência não por meio da

compensação orgânica e sim pela inclusão social. Vigotski (1989) afirma que,

juntamente com a deficiência, o indivíduo possui condições psicológicas para

sua superação, sendo que o meio social é importante para o desenvolvimento

da criança;

c) Vigotski se distância dos testes classificatórios elaborados pelo médico T.

Simon juntamente com o psicólogo Alfred Binet – a conhecida Escala Métrica

da Inteligência de Binet-Simon, publicada em 1911 – relativos ao nível de

desenvolvimento dos alunos, e que predominavam na sua época. Segundo

Vigotski, não bastava somente conhecer o desempenho cognitivo da criança,

o mais importante seria identificar as possibilidades que a criança

apresentava e atuar com mediações específicas que favorecessem o

desenvolvimento.

Os testes da época constatavam que os sujeitos com retardo mental não eram muito

capazes de desenvolver um pensamento abstrato. Os professores se limitam,

normalmente, à utilização de materiais concretos, pois acreditam que os alunos com

deficiência apresentam dificuldades em dominar o pensamento abstrato. Estes

alunos não são estimulados no sentido de desenvolver suas funções psicológicas

superiores (memória, percepção, atenção, etc).

O ensino com o uso apenas de objetos concretos, segundo Vigotsky, falham em

auxiliar as crianças com atraso mental a superarem as suas deficiências, reforçando-

as, “acostumando as crianças exclusivamente ao pensamento concreto, suprindo,

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assim, os rudimentos de qualquer pensamento abstrato que essas crianças possam

ter” (2003c p. 116).

No que diz respeito à educação dos alunos com retardo mental, quando deixados a

si mesmo estes não alcançam formas elaboradas do pensamento abstrato; por esse

motivo a escola deveria fazer todo esforço para trabalhar nesse sentido, objetivando

desenvolver nelas o que está “intrinsecamente faltando no seu próprio

desenvolvimento” (VIGOTSKI, 2003c p. 116). O concreto deve ser visto como ponto

de apoio necessário e inevitável para o desenvolvimento do pensamento abstrato,

que é a base do conhecimento científico.

Conforme Vigotski (1989), estes alunos são pessoas como as outras, se

desenvolvem como as outras, porém a diferença está no modo como este

desenvolvimento ocorre. Os alunos especiais aprendem por outras vias, por

caminhos diferentes dos alunos normais. Para o profissional da educação é

importante conhecer as peculiaridades do desenvolvimento dos alunos que

necessitam de atendimento especial, sabendo que estes possuem limitações. Cabe

ao professor então, possibilitar a aprendizagem por outras vias, utilizando-se para

isto de metodologias especiais.

Com relação à atitude do professor enquanto mediador, convém ressaltar, que ele

deve desenvolver com a criança uma relação de respeito mútuo, de afeto e de confiança que favoreça o desenvolvimento de sua autonomia. [...] respeitar o interesse do aluno e trabalhar a partir de sua atividade espontânea, ouvindo suas dúvidas, formulando desafios à capacidade de adaptação (IDE, 1996, p.95).

Neste sentido, o sucesso ou não do processo de ensino aprendizagem, do aluno

com necessidades especiais dependeria das características do profissional que atua

como mediador no seu desenvolvimento.

Ao tratar das escolas especiais, Vigotski em seus estudos menciona que, instituições

que separam e segregam, não seriam as mais indicadas para o desenvolvimento

das crianças, pois elas não possibilitariam o contato social necessário, para o

desenvolvimento do individuo. As escolas especiais limitam o horizonte social das

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crianças, uma vez que elas necessitam da convivência com outras crianças em

condições cognitivas e sócio-afetivas diferenciadas “[...] é sumamente importante

não isolar essas crianças em grupos fechados especiais, mais exercitar o mais

amplamente possível sua comunicação com os demais” (Vigostki, 2003a, p. 262). As

escolas especiais nesse sentido limitariam os horizontes dos alunos especiais, pois

não lhes possibilitaria o contato com pessoas em nível cognitivo, bem como afetivo

diferenciado.

De acordo com Vigotski et al,

A criança atrasada, abandonada a si mesma, não pode atingir nenhuma forma evoluída de pensamento abstrato e, precisamente por isso, a tarefa concreta da escola consiste em fazer todos os esforços para encaminhar a criança nessa direção, para o desenvolvimento que lhe falta (1988, p. 113).

No entanto, cabe lembrar que no livro Psicologia pedagogia Vigotski destaca que

nos graus profundos de atraso, “somos obrigados a confinar a educação dessas

crianças a escolas especialmente adaptadas a esse propósito” (2003a, p. 262).

Vigotski elaborou seus trabalhos no período de 1924 a 1934. Naquele momento as

escolas especiais eram vistas como única referência para o atendimento aos alunos

especiais.

Para Vigotski, a criança adquire novos conceitos e palavras na dinâmica das

interações verbais, mediadas pelo outro, na situação escolar, a postura do professor

constitui-se determinante nestes momentos interativos. (FOTANA & CRUZ, 1997).

Vigotski percebeu, ainda, que a fala adquire tamanha importância para a criança,

que se for proibida a sua utilização as crianças não resolverão determinados

problemas, (2003 c). Segundo este autor, “o crescimento intelectual da criança

depende de seu domínio dos meios sociais do pensamento, isto é, da linguagem”

(2003b, p. 63). “Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a

controlar o ambiente com a ajuda da fala. Isto produz novas relações com o

ambiente, além de uma nova organização do próprio comportamento” (VIGOTSKI,c,

2003 p. 33).

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Continuando a discussão com o conceito de linguagem tratado por Vigotski. Este

autor afirma que a mesma é o mais importante esquema de mediação do

comportamento humano, abordando-a não como um sistema lingüístico de estrutura

abstrata, mas em seu aspecto funcional, psicológico. Ele buscou estudar a

linguagem como constituidora do sujeito e a relação pensamento-linguagem,

segundo Freitas (1994). Para Vigotski, a palavra se desenvolve por meio da nossa

interação com o outro. O homem para agir coletivamente, teve que elaborar um

sistema de signos, tomando como base os significados compartilhados

coletivamente.

2.5.2) O processo de enunciação em Bakthin

Quanto ao processo de enunciação que ocorre no meio social este tema foi bem

estudado por Mikhail Bakhtin. Para ele, assim como para Vigotski, o homem é um

ser eminentemente social, sendo assim, a atividade mental do ser humano se

constitui no meio social. Segundo Bakhtin (1992), não é a atividade mental que

organiza a expressão, mais sim a expressão que determina, modela e orienta a

organização da atividade mental.

O papel do outro, para quem se constitui o enunciado tem fundamental importância.

O enunciado tem autor e destinatário. Ao falar, devemos levar em consideração o

nível de conhecimento do destinatário, suas concepções e convicções, os seus

preconceitos, suas simpatias, e antipatias, o que determinará a compreensão por ele

do enunciado. (Bakhtin, 2003). Sendo assim o destinatário é quem determina a

forma e o estilo da enunciação.

Neste sentido, “a nossa própria idéia nasce e se forma no processo de interação e

luta com os pensamentos dos outros, e isso não pode deixar de encontrar o seu

reflexo também nas formas de expressão verbalizada do nosso pensamento”

(BAKHTIN, 2003, p. 298). O enunciado reflete as trocas sociais na medida em que

cada enunciação traz consigo a enunciação dos outros.

O conceito de enunciado de Bakhtin me ajudará, assim, a analisar melhor o

processo de interação que ocorre na sala de aula por meio da linguagem, assim

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como por outras vias não verbais, pois na realidade dialógica toda enunciação é um

diálogo, mesmo as produções escritas.

Convém se debruçar, portanto, sobre a análise dos fatores pertinentes para o

desenvolvimento de uma prática educativa, que contribuiria de forma significativa

para o processo de ensino e aprendizagem dos indivíduos com necessidades

especiais.

2.6) AS PRÁTICAS EDUCATIVAS

“Por trás de qualquer prática educativa sempre há uma resposta a ‘por que

ensinamos’ e ‘como se aprende’” (ZABALA, 1998, p.33).

Dentre os autores adotados como referencial deste tema merecem destaque: Antoni

Zabala (1998), Philippe Perrenoud (2000) e J. Gimeno Sacristán (2000), dentre

outros.

Em um primeiro momento faz-se necessário esclarecer que o processo educativo é

extremamente complexo para que não seja fácil reconhecer todos os fatores que o

define (ZABALA, 1998). Estarei me referindo a quatro dos aspectos que me

pareceram mais relevantes para este trabalho.

2.6.1) O plano de ensino

Segundo Sacristán (2000) “o plano para os docentes significa profissionalmente um

tempo para dar oportunidade de pensar a prática, representando-a antes de realizá-

la num esquema que inclua os elementos mais importantes que intervêm na mesma”

(p. 276).

Durante o ato de planejar o professor encontra-se diante de opções nas quais

devem levar em consideração, as condições na qual realiza sua atividade

profissional, uma vez que já existe uma prática institucionalizada, onde nem sempre

é possível apresentar algo novo. O professor não trabalha no vago, todavia dentro

de instâncias que regulam as práticas. Os professores têm um currículo, assim como

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materiais que são elaborados para as disciplinas. No entanto, faz-se necessário

considerar a individualidade dos alunos.

Existem alguns critérios que fazem parte do plano didático que são: coerência e

unidade, continuidade e seqüência, flexibilidade, objetividade e funcionalidade e

clareza. O planejamento permite ao professor se organizar antecipadamente para a

ação didática. (HAIDT, 1999).

Sacristán (2000), estabelece a utilidade do plano para os professores segundo

algumas razões que são: uma atividade que serve como reflexão da prática, para

uma ação consciente dos professores, sendo orientadores da ação. No plano o

professor tem a possibilidade de prevê o cenário para o desenvolvimento das

atividades, distribuição do tempo, do espaço, dos recursos etc. O docente pode

também, estabelecer a relação entre a teoria e a prática. Durante o desenvolvimento

do plano, as ações estabelecidas pelo professor devem ser conhecidas pelos

alunos. Os planos podem ser utilizados para; transmitir e compartilhar experiência

profissional se foram registrados periodicamente pelos docentes.

Tendo como ponto de partida o planejamento, Zabala (1998) estabelece uma série

de funções do professor que são necessárias, visam facilitar a aprendizagem dos

alunos que são caracterizadas da seguinte forma:

− A atividade docente deve ser planejada de forma flexível, objetivando

adaptar-se às necessidades dos alunos;

− Contar com as contribuições e conhecimento dos alunos tanto no início como

no decorrer das atividades;

− Propor metas que estejam ao alcance dos alunos e possam ser superadas

com o esforço e a ajuda se necessário;

− Oferecer ajudas adequadas, sempre que necessário para que os alunos

possam superar os obstáculos;

− Promover a atividade mental auto-estruturante;

− Propiciar um ambiente que valorize o respeito mútuo, além de promover a

auto-estima e o autoconceito;

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− Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos, viabilizando que

aprendam a aprender;

− Avaliar os alunos segundo suas capacidades e seus esforços, valorizando a

auto-avaliação.

2.6.2) Conteúdos de ensino

De acordo com Zabala (1998) o termo conteúdo normalmente é utilizado para

expressar aquilo que deve ser apreendido, em relação a determinadas disciplinas.

Precisamos nos libertar dessa visão restrita do termo e passar a entendê-lo “como

tudo quanto se tem que aprender para alcançar determinados objetivos que não

apenas abrangem as capacidades cognitivas, como também incluem as demais

capacidades” (p. 30). Nesse sentido, os conteúdos não se reduzem apenas às

disciplinas ou matérias tradicionais, são relevantes as aprendizagens motoras,

afetivas, as relações entre as pessoas e mesmo a inserção social. Podemos

valorizar assim, as aprendizagens que acontecem na escola e fazem parte do

currículo oculto e nem sempre estão expressas nos plano de ensino.

Existem diferentes tipos de conteúdos: os factuais, os conceitos e princípios, os

procedimentais e os atitudinais. Entendemos por conteúdos factuais o conhecimento

de fatos, acontecimentos, situações, dados e fenômenos. Segundo Zabala (1998)

esse conhecimento se aprende basicamente por meio de cópia, a fim de ser

integrado nas estruturas de conhecimento, na memória.

A aprendizagem dos conceitos e princípios, os conceitos são termos abstratos,

referem-se a fatos, objetos ou símbolos que possuem características comuns. Os

princípios estão relacionados às mudanças que se produzem num fato, objeto ou

situação em relação a outros fatos, objetos e situações.

Os conteúdos procedimentais incluem a aprendizagem de regras, técnicas, métodos,

habilidades, são ações que devem ser dirigidas para a realização de um objetivo

(ZABALA, 1998). Isso nos remete a uma outra discussão que será apresentada de

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forma esquemática, referente a modelos de aprendizagem mais ou menos

adaptados ao atendimento a grupos heterogêneos de alunos.

2.6.3) Estratégias de ensino e aprendizagem

As escolhas de estratégias de ensino e aprendizagem por parte do professor estão

condicionadas a diferentes fatores, que conduzem ao estabelecimento de um certo

contrato didático, no sentido empregado por Brousseau (1986), ou seja, um conjunto

de regras que regem as atividades que o professor e os alunos seguem, constroem

e respeitam em sala de aula, durante o processo de ensino e aprendizagem. Este

contrato envolve três elementos: o saber, o aluno e o professor.

De acordo com Charnay (1996) haveria três grandes modelos, com algumas

variantes que seriam: O modelo normativo ou tradicional (centrado no conteúdo,

considerado já pronto ou construído); o modelo incitativo (centrado no aluno) – os

métodos ativos seriam uma variante do mesmo; o modelo apropriativo (centrado na

construção do saber pelo aluno).

Neste último modelo o professor procura entender as concepções existentes no

aluno e as desestabiliza ou “coloca-as à prova” para a construção de novos saberes.

Embora este modelo seja o mais valorizado no contexto de um trabalho com grupos

heterogêneos de alunos, sabe-se que nenhum professor lança mão de um único

modelo pedagógico. As escolhas são determinadas em parte pelo tipo de aula que

está sendo desenvolvido (introdução de novos conceitos, solução de problemas,

exercícios, produção e interpretação de textos, etc.). No entanto, as opções

preferenciais do professor dependem em grande parte de suas opções

epistemológicas e teóricas (modelos de aprendizagem a que foram submetidos ou

teorias que o influenciaram).

2.6.4) O atendimento a diversidade

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Os sujeitos que serão analisados nessa pesquisa são pessoas que possuem

singularidades, assim como cada um de nós. Sendo assim, estarei tratando neste

momento alguns aspectos peculiares do atendimento à diversidade.

Dentre as recomendações da declaração de Salamanca consta que,

“Toda criança tem direito fundamental à

educação, e deve ser dada a oportunidade

de atingir o nível adequado de

aprendizagem [...] aqueles com

necessidades educacionais especiais

devem ter acesso à escola regular, que

deveria acomodá-los dentro de uma

Pedagogia centrada na criança, capaz de

satisfazer a tais necessidades” (2005, p.

01).

Este documento valoriza uma nova prática pedagógica, que reconheça a diversidade

humana, respeitando os limites e as necessidades de cada educando.

O que se objetiva é o respeito e o reconhecimento da singularidade de cada sujeito.

Buscando assim, dar a todos a oportunidade de aprender, quaisquer que sejam sua

origem social e/ou cultural, “uma pedagogia diferenciada é uma pedagogia racional”

(PERRENOUD, 2000 p. 28). Essa pedagogia possui inspiração contra o fracasso

escolar e as desigualdades, tendo raízes em instituições muito antigas, com o

movimento da escola nova3. O objetivo desta pedagogia é proporcionar a todos a

3 Os educadores da escola nova, por volta de 1930, introduzem o pensamento liberal democrático, em defesa da escola pública para todos, com o objetivo de alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios. O Brasil tem como um dos principais representantes o filósofo Anísio Teixeira (1900-1971), influenciado pelo pensamento do norte americano Dewey. (ARANHA, 1996).

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oportunidade de aprender, quaisquer que sejam sua origem social e seus recursos

culturais (PERRENOUD, 2000).

Sácristan (2002), afirma que, “a diversidade poderá aparecer mais ou menos

acentuada, mas é tão normal quanto a própria vida, e devemos acostumar-nos a

viver com ela e a trabalhar a partir dela” (p.15).

A pedagogia diferenciada assume o aluno como centro do processo educativo,

sendo o professor o orientador, atuando como fonte de recursos e apoio. De acordo

com Mittler (2003), o caminho para a inclusão escolar, deve ser a sala de aula e os

professores, que devem assegurar que todos os alunos possam participar

ativamente das aulas tendo oportunidades para interagir tanto com o próprio

professor como com os demais alunos.

“O professor precisa criar um clima de confiança que leve os alunos a se exporem,

a revelar suas dúvidas e dificuldades” (ANDRÉ, 2004, p. 23). Para que isto seja

possível ele deverá ter consciência do nível de aptidão de cada aluno, tendo em

vista que os alunos são diferentes tanto a nível cronológico quanto na forma de

aprender.

As atividades a serem desenvolvidas na sala de aula “devem ser adaptadas às

diferentes capacidades, aos ritmos de trabalho e a motivação de cada aluno

considerando individualmente” (PÉREZ, 2002, p.100).

Alguns aspectos, no que diz respeito ao trabalho pedagógico merecem destaque, de

acordo com Sanches (1996), deve-se elaborar atividades que estejam relacionadas

com as situações cotidianas, o trabalho individual ou em pequenos grupos

apresentam melhores resultados, o aspecto afetivo possui importância significativa

para o desenvolvimento de um bom trabalho, o professor como um facilitador que

possa ajudar o aluno e que tenha prazer no processo ensino-aprendizagem,

priorizando a qualidade em detrimento da quantidade.

Nesse sentido no âmbito metodológico de atendimento a diversidade, devemos

considerar alguns aspectos como:

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− Aceitar a diversidade como condição inata aos seres humanos;

− O professor precisa assumir que não é transmissor de conhecimento, no

entanto deve possibilitar que os alunos tenham acesso ao mesmo;

− Considerar que a metodologia proposta deve ser flexível, para aceitar

adaptações sempre que necessário;

− Buscar que as decisões sobre a metodologia sejam fruto do consenso,

visando com isso objetivar que sejam assumidas por todos. (RODRIGUES

apud GONZÁLES, 2002, p 145 e 146).

Neste sentido o ambiente escolar deve ser rico em recursos e estímulos, visando a

aprendizagem diferenciada, o que permitirá o desenvolvimento de todos.

A prática de ensino, no entanto, é uma atividade que não segue um padrão ou

modelo único. Cabe aos professores definir como será sua atuação, principalmente

dentro da sala de aula.

Essas discussões nos remetem mais diretamente as questões investigativas e a

metodologia desta pesquisa, que será apresentada no capítulo a seguir.

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3 - DAS QUESTÔES INVESTIGATIVAS E METODOLÓGICAS DA

PESQUISA

3.1) As questões investigativas

A discussão apresentada suscita inúmeras questões de natureza investigativa

relativas à prática pedagógica hoje adotada ou que poderia ser adotada em

determinadas escolas do ensino fundamental, que atendem a crianças

especiais, que freqüentam tanto a escola comum como uma escola especial.

Este estudo pretende ajudar a esclarecer algumas delas, a saber:

1) Que tipo de articulação está sendo estabelecido entre as escolas comuns e a

escola especial da rede de ensino pesquisada? Quem promove esta

“comunicação”?

2) Qual a concepção de inclusão que os profissionais de ambas as Instituições

possuem?

3) Existe algum tipo de apoio pedagógico (humano ou material) aos professores da

escola especial e comum? É proporcionado algum tipo de capacitação a estes

profissionais?

4) Existe um planejamento das atividades a serem desenvolvidas em sala de aula,

na Escola especial e na comum voltadas para a aprendizagem e inclusão dos

alunos? Como é feito o planejamento e que critérios são levados em consideração

no momento de planejar?

5) Quais atividades são desenvolvidas na sala de aula, na Escola especial e

comum? Que tipo de apoio é dado mais especificamente, às crianças com

necessidades especiais? Como ocorrem as relações aluno-aluno, professor-aluno

neste ambiente?

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6) As atividades propostas pelo educador promovem aprendizagens cognitivas e a

socialização das crianças com necessidades especiais? Ajudam em sua inclusão

com os alunos ditos normais?

Para melhor delimitar não só meu objeto de investigação, como também a

metodologia a ser adotada, analisei alguns trabalhos relacionados a práticas

inclusivas com alunos com necessidades especiais, principalmente os relacionados

à deficiência mental, além de referências a práticas pedagógicas diversificadas

utilizadas em escolas especiais e comuns.

3.2) As pesquisas

A educação inclusiva tem sido tema de vários congressos, seminários, encontros de

educadores. Daí a necessidade de pesquisas nessa área, pois os professores estão

em sala de aula ansiosos, requerendo material prático e teórico que lhes dêem

suporte, para o trabalho.

Alguns trabalhos foram desenvolvidos com tal propósito como os de Marques

(2000), Capellini (2004), Aguiar (2004), Possidio (2004) dentre outros.

A pesquisa desenvolvida por Marques (2000), tinha por objetivo, compreender os

efeitos de sentidos do discurso dos professores de alunos com deficiência mental,

enfocando suas concepções e o trabalho que realizam em sala de aula para que

seus alunos aprendam e se desenvolvam. Além, de analisar o discurso do professor,

a pesquisa objetivava analisar as diferentes abordagens psicológicas que constituem

o discurso, assim como explicitar os gestos de interpretação que determinam a

relação do professor de alunos com deficiência mental e o saber do professor.

A metodologia utilizada teve como referencial a analise do discurso na perspectiva

de Orlandi, além de discussões das abordagens psicológicas do behaviorismo, o

humanismo, a Gestalt, o construtivismo de Jean Piaget e a teoria sócio-histórica de

Vigotski.

Foram selecionados 12 professores do ensino infantil, que possuíam pelo menos um

aluno com deficiência mental.

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Ao analisar na sala de aula o funcionamento discursivo das professoras, os dados

mostraram que formações discursivas objetivistas, subjetivistas e interacionistas

coexistiam.

No que diz respeito, à relação da inserção do aluno com deficiência mental no

ensino regular, ficaram evidenciadas duas formações discursivas - normalidade

versus anormalidade, a diferença sendo estabelecida por um padrão de referência

(padrão normal). O aluno com deficiência mental poderia estar na escola regular

“se...”, as professoras no discurso pela inclusão acabaram reforçando a exclusão do

aluno.

De acordo com Marques (2000), ao analisar a sala de aula, observando o modo

como as turmas foram estruturadas, os planejamentos, os objetivos, os conteúdos, a

metodologia, os recursos, a relação professor – aluno e a avaliação, o sentido

encontrado foi o da exclusão. Mesmo em algumas professoras que fizeram um

movimento discursivo em direção a uma prática interacionista.

Em suas conclusões Marques (2000) aponta que se deve “ressignificar a educação

e, por conseguinte, o papel da instituição escola e o da formação de professores”

(190).

Existem dois pontos em comum da pesquisa de Marques com o presente estudo. Os

sujeitos da pesquisa são alunos com deficiência mental e em ambos os estudos há

um interesse pela prática pedagógica dos professores. Neste trabalho, no entanto o

foco será as atividades que os professores desenvolvem junto aos alunos e as

aprendizagens que suscitam.

O trabalho de Capellini (2004) teve como objetivo, verificar as implicações de uma

forma de trabalho colaborativo na escola, estabelecendo uma parceria entre

professores de ensino comum e especial.

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A pesquisa aconteceu em duas escolas do ensino fundamental, mais pontualmente

em quatro turmas de 1ª a 4ª série, onde estudavam seis alunos com deficiência

mental.

A metodologia utilizada teve como base a pesquisa colaborativa. O período de

intervenção na turma durou de um semestre a um ano, sendo que o estudo teve

duração de dois anos.

Os resultados apontaram para melhoria do desempenho acadêmico dos seis alunos

especiais, além de propiciar uma melhor socialização. O ensino colaborativo foi

avaliado pelas professoras pesquisadas, como positivo no sentido de efetivar as

práticas inclusivas.

Capellini (2004) menciona a necessidade de discussão e mudança na formação

inicial e continuada dos professores do ensino comum e especial, além da

necessidade de definir o papel do professor do ensino especial para atuar enquanto

apoio centrado na classe comum.

A pesquisa de Capellini mostrou a possibilidade do desempenho positivo dos alunos

com deficiência mental a partir de um trabalho colaborativo envolvendo as escolas

especial e comum. Ressalto, contudo que a metodologia utilizada por essa autora

distancia-se desta pesquisa, que recorreu a uma observação com um mínimo de

participação nos eventos analisados.

A pesquisa realizada por Aguiar (2004) trabalhou especificamente com alunos que

apresentavam deficiência mental, na faixa etária de 8 a 17 anos. Teve por objetivo:

“averiguar a influência do jogo sobre a aprendizagem de conceitos básicos à leitura

e à escrita de deficientes mentais alfabetizáveis e verificar a sua generalização para

situações do contexto escolar”. (p.37).

Este trabalho aproxima-se do meu, em alguns pontos, por abordar alunos com

deficiência mental que freqüentavam uma escola especial e a escola regular, muito

embora tenha utilizado uma metodologia de pesquisa diferente da que estou me

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propondo a utilizar, pois minha pretensão é analisar as diferentes atividades

propostas pelo professor aos alunos deficiente na escola especial e na comum. .

Durante a pesquisa de Aguiar foram realizadas vinte e três sessões de atividades

lúdicas, no período de um ano letivo (de maio a dezembro), com vários jogos. Logo

após a implementação dos mesmos, o pesquisador sentava-se com as professoras

para analisar os dados registrados.

Os resultados da pesquisa demonstraram, que os procedimentos adotados

provocaram aprendizagens conceituais. O pesquisador constatou neste estudo a

importância do ensino individualizado, do vínculo afetivo “e da ação sobre objetos

concretos para a abstração e a generalização, no ensino e na aprendizagem do

deficiente mental”. Destacou, por outro lado, a vagarosidade na formação de

conceitos por estes alunos.

Outro trabalho analisado foi o de Possidio (2004), cujo objetivo era analisar a

inclusão de alunos com necessidades especiais, à luz da prática pedagógica, no

ensino fundamental de 1a à 4a séries, em uma escola da rede pública de Petrolina,

PE.

A escola investigada trabalhava com classes especiais e classes regulares. Durante

sua investigação, a pesquisadora percebeu que alguns alunos com necessidades

educacionais especiais estavam sendo matriculados apenas no intuito do

cumprimento da Lei. Constatou ainda que, não eram oferecidos serviços

complementares, práticas diferenciadas e criativas na sala de aula regular. A sala

especial, por sua vez, era vista como “apêndice da educação regular”.

No que diz respeito, as práticas pedagógicas ela pode observar que em ambas as

classes elas eram “apáticas, autoritárias, desinteressantes, impeditivas, não sendo

positivas nem emancipatórias”. A escassez de recursos também foi algo notado pela

pesquisadora.

Nesse estudo, porém, pretendo investigar a relação não entre diferentes tipos de

classes inseridas em uma mesma Instituição e sim o atendimento oferecido a alunos

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especiais que freqüentam duas Instituições diferenciadas – uma de ensino comum e

outra de ensino especial.

Os estudos citados ajudaram a melhor delimitar não só as questões investigativas já

citadas, como, sobretudo a metodologia adotada neste estudo.

3.3) METODOLOGIA

A pesquisa em questão parte de uma abordagem qualitativa, tendo em vista que

este tipo de pesquisa tem “se preocupado com o significado dos fenômenos e

processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças, valores,

representações sociais, que permeiam a rede de relações sociais” (Pádua, 2002,

p.34).

O estudo a ser realizado nas escolas apresenta características de um estudo de

caso, pois o objeto de investigação é a prática pedagógica desenvolvida com quatro

alunos especiais, que freqüentam tanto a escola especial, quanto à escola comum.

Alguns princípios do Estudo de caso segundo Lüdke e André (1986) são:

1- Os estudos de casos visam à descoberta;

2- Os estudos de caso enfatizam a “interpretação em contexto”

3- Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e

profunda;

4- Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação;

5- Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem generalizações

naturalísticas;

6- Os estudos de caso procuram representar os diferentes e às vezes

conflitantes pontos de vista presentes numa situação social;

7- Os relatos do estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais

acessível do que os outros relatórios de pesquisa. (p. 18-20).

De acordo com Pádua (2002), “o caso propriamente dito se constrói no processo de

pesquisa, à medida que se identificam os múltiplos fatores que concorrem para sua

configuração” (p. 71). Esta autora menciona que, o Estudo de caso é uma técnica

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flexível, podendo o pesquisador passar do contexto meramente descritivo para o

interpretativo.

3.3.1) Fase exploratória

Para verificar as possibilidades de estudo na escola especial, estive presente nesta

instituição em vários momentos, até que no dia 17 de novembro de 2004, foi

realizada uma reunião que contou com a presença de representantes, do estado e

do município. A escola especial objetivava articular o desenvolvimento de um

trabalho em parceria com o ensino regular. Meu objetivo era observar como estava

sendo elaborado o planejamento, para os alunos que freqüentam tanto a escola

especial como a escola comum, para o ano letivo de 2005.

Nesta reunião, a diretora em exercício da escola especial disse que, com 103 alunos

freqüentando tanto a escola especial como a escola regular não havia condições de

assegurar um acompanhamento regular das atividades desenvolvidas por estes

alunos na escola comum.

Para o ano de 2005, estariam estudando uma proposta para atuarem em conjunto

com a escola comum. Muitos alunos, segundo a diretora, não costumam trazer para

a escola especial as tarefas que realizam naquela escola, para que as professoras

pudessem realizar um trabalho, partindo das dificuldades dos alunos. Disse ainda,

que estaria disponibilizando dois profissionais para fazer a ‘ponte’ entre a escola

regular e a escola especial no ano de 2005.

Percebi que tanto os representantes da escola especial quanto os da escola comum,

tinham como foco de trabalho a colaboração e parceria para o desenvolvimento de

um trabalho de inclusão dos alunos com deficiência mental nas escolas da rede

comum de ensino, o que viabilizava a realização de meu estudo nas escolas.

Ainda nesta fase pude delimitar o turno na escola especial, no qual seria

desenvolvido o estudo. A opção foi pelo turno vespertino, pois eu já havia trabalhado

na escola especial como pedagoga, nesse turno. Tendo uma relação com os

profissionais ali envolvidos de parceria, o que possibilitou uma melhor coleta de

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dados, tendo em vista que já conhecia tanto os alunos como os seus responsáveis

legais. Além de contar com o apoio verbal do presidente4, como da diretora e da

pedagoga, que demonstraram total interesse no desenvolvimento da pesquisa nessa

escola. Assim como dos representantes da educação especial do município.

A principio meu objetivo era investigar o trabalho desenvolvido com alunos especiais

dentro de uma escola especial, pois, algumas pesquisas já haviam sido realizadas

nas escolas comuns. No entanto, como vários alunos estavam inseridos na escola

especial e em escolas comuns do município, que justamente pretendia realizar um

trabalho de parceria com a escola especial mudei meu foco de investigação. Passei

a acompanhar o processo de ensino e aprendizagem oferecido a quatro alunos

atendidos dentro deste modelo.

Decidi, assim, através de um olhar, voltado mais especificamente para um número

limitado de alunos, examinar como a parceria entre duas instituições de ensino –

comum e especial - afetava não só no processo de aprendizagem conceitual, no seu

campo de interesse como também nos mecanismos de socialização destes alunos.

Este tipo de metodologia empregada apresentava características diferentes

daquelas que havia encontrado em minha revisão de literatura. Apesar de só poder

acompanhar um número pequeno de alunos, em razão das limitações em termos de

tempo e de espaço que requer este tipo de acompanhamento, este tipo de

abordagem permite que se façam algumas inferências mais gerais, próprias do

trabalho de pesquisa.

3.3. 2) Caracterização das escolas campo de estudo

Escola Especial

A Escola Especial escolhida fica localizada em um município da Grande Vitória, foi

fundada em outubro de 1987, após um trabalho pioneiro de um grupo de mães que

buscaram junto ao poder público, atendimento para seus filhos portadores de

deficiência mental. Atende a uma população de baixa renda, que mora em

diferentes municípios da Grande Vitória: Cariacica, Viana e Vila Velha.

4 A Escola Especial possui uma Diretoria Executiva que é composta pelos seguintes membros: Presidente, Vice-

Presidente, 1º e 2º Diretores Secretários, 1º e 2º Diretores Financeiros, Diretor de Patrimônio e Diretor Social.

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Esta Instituição, para funcionar possui parcerias com vários organismos tais como:

os Governos Municipal, Estadual e Federal, assim como convênios com empresas

particulares, além de doações de diferentes fontes.

Cerca de 670 alunos recebem atendimento clinico ou pedagógico neste ambiente.

Sendo que, na área pedagógica estão matriculados em média 560 alunos nos turnos

matutino e vespertino. O número de alunos da Instituição é muito flexível, pois são

recebidos durante todo o ano pessoas que necessitam de algum tipo de

atendimento.

A escola oferece aos seus alunos um atendimento pedagógico que inclui sala de

aula, aulas de informática, natação, capoeira, bandas fanfarra e congo, projetos de

dança, teatro, etc. Além disso, oferece serviços de neurologia, pediatria, odontologia,

fonoaudiólogia, hidroterapia, fisioterapia, psicologia, apoio social as famílias com

maiores necessidades, curso de capacitação aos responsáveis pelos alunos, etc.

Na escola especial em média os professores trabalham com 10 alunos em cada sala

de aula.

Escola A

A escola A fica localizada em um bairro de classe média do município, sendo

mantida com recursos prioritariamente da rede municipal, foi fundada em 1988.

Atendeu no ano de 2005 há uma media de 800 alunos nos turnos matutino e

vespertino, sendo no turno matutino da pré-escola a quarta série e vespertino de

quinta a oitava série.

Nessa escola estive acompanhando uma quarta série com os alunos Márcio e

Rodrigo. A freqüência dos alunos na sala de aula ficou entorno de 33 alunos por dia,

sendo que na pauta constavam 36.

Escola B

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A escola B está localizada em um bairro de periferia do município foi fundada em

2000, recebe recursos da prefeitura municipal para funcionar.

Atende alunos da pré-escola a quarta série nos turnos matutino e vespertino, num

total de nove turmas em cada turno, atendendo em torno de 560 alunos, no ano de

2005.

Os alunos que acompanhei nessa escola foram Fábio e Flávia. Normalmente na sala

de aula compareciam por volta de 23 alunos. O número de alunos registrados na

pauta escolar era de 26 alunos.

Tanto a escola A, quanto na escola B, ofereciam aos alunos duas vezes por semana

aulas de educação artística e educação física.

3.3.3) Caracterização dos sujeitos da pesquisa

Os alunos

A escolha destes alunos deu-se por dois critérios: a) eles deveriam freqüentar a

mesma escola comum no município; b) estarem matriculados na mesma sala de

aula na escola especial, no turno vespertino, tendo em vista que eu estaria com eles

na escola comum no horário matutino.

Foram escolhidos quatro sujeitos, uma vez que eu já tinha experiência com alunos

especiais e consciência que normalmente eles não apresentam uma freqüência

regular nas escolas, bem como são sujeitos mais suscetíveis a doenças.

Os alunos escolhidos foram:

Márcio, idade 12 anos esteve na escola especial pela primeira vez em setembro de

1999, encaminhado pela escola comum. Segundo o setor pedagógico da escola

especial em outubro de 1999, reconhecia cores e gravuras (animais) vogais,

freqüentava a pré-escola.

Quando avaliado pelo neurologista apresentou hipercinesia com retardo de

desenvolvimento.

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Os pais apresentam atrasado no desenvolvimento mental e sua tia paterna tem

Síndrome de Down.

(Dados do prontuário do aluno na escola especial).

Freqüentava a quarta série no ensino comum no horário matutino e a escola

especial três vezes na semana à tarde.

Rodrigo, idade 12 anos o aluno foi encaminhado a escola especial em setembro de

2000 com o seguinte relato da escola comum:

Problemas no processo ensino-aprendizagem:

− Fraca memorização;

− Dificuldade de assimilar;

− Inabilidade para concentra e compreender o que ouve;

− Aluno dislexo, com distúrbios motor.

Temas de relacionamento no ambiente escolar.

− Não há integração com os outros alunos;

− Corre e ri o tempo todo;

− Parece ser revoltado chuta as coisas, rasga as folhas do caderno;

− Com o professor é solidário, aceita o abraço da mesma, as vezes olha com

estranheza.

Segundo avaliação neurológica apresenta hipercinecia e retardo de

desenvolvimento.

(Dados do prontuário do aluno na escola especial).

Freqüentava a quarta série no ensino comum no horário matutino e a escola

especial três vezes na semana à tarde.

Fábio, idade 15 anos esteve na escola especial pela primeira vez em agosto de

1998, encaminhando pela escola comum como pode ser percebido no relato que

segue: “há dois meses não freqüenta escolaridade, pois a diretora disse que a

criança não tem evolução em sala de aula. Professora disse que ela (criança) teria

que trocar de escola ou arrumar um tratamento e assim que melhorasse retornasse

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a escola.” Laudo da neurologista transtorno desenvolvimento fala e linguagem,

transtorno hiperativo da conduta.

Freqüentava a terceira série no ensino comum no horário matutino e a escola

especial três vezes na semana à tarde.

Flávia, idade 15 anos iniciou o atendimento na escola especial em maio de 1998.

A adolescente foi encontrada em um barraco de estuque descoberto. Um catador de

lixo ouviu choros e falou para os pais adotivos e eles foram até lá por volta de 10

horas (da noite). Não encontraram ninguém além da criança a qual estava envolvida

em poucos panos velhos.

Na avaliação pedagógica da escola especial não reconhecia cores, vogais,

numerais, não conseguia contar e seguir a seqüência de uma história.

O laudo do neurologista sugere retardo de desenvolvimento.

(Dados retirados do prontuário do aluno na escola especial)

Apesar de ter selecionado está aluna para acompanhamento, não pude realizar a

coleta de dados até o final da pesquisa, pois a mãe por está doente deixou de levá-

la à escola especial.

No que tange aos dados da escola comum estes alunos não apresentavam

nenhuma avaliação mais detalha, apenas uma ficha de matricula, os relatórios

descritivos seriam elaborados na avaliação final do ano letivo.

Os alunos Márcio e Rodrigo freqüentavam a escola A, em uma quarta série

estudando na mesma sala tanto na escola comum quanto na escola especial.

Já Flávia e Fábio cursavam respectivamente a segunda e terceira série na escola B

e estavam na mesma sala na escola especial.

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As professoras

Da escola especial:

Professora Cristina - Trabalhou com Rodrigo e Márcio.

Professora Geovana - Trabalhou com Fábio

Da escola comum:

Escola A:

Professora Solange - Lecionava português e história. Sua primeira experiência com

alunos especiais ocorreu em 2005.

Professora Elisabete - Já havia trabalhado com os alunos Rodrigo e Márcio no ano

anterior nesta mesma escola. Ela lecionou no ano de 2005, as disciplinas de

matemática e ciências.

Escola B:

Professora Rosangela - Trabalhou com o Fábio. Já havia trabalhado com alunos

especiais anteriormente.

Outros sujeitos observados

Outros sujeitos foram entrevistados e observados para melhor compreender

algumas questões investigadas deste estudo, como as pedagogas, as diretoras, as

professoras itinerantes e a professora que faz o trabalho de ponte entre escola

especial e escola comum.

Os nomes utilizados neste trabalho são de caráter fictícios, para preservar a

identidade dos sujeitos.

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3.3.4) O processo de coleta de dados

3.3.4.1) O período de observação:

Observei os alunos entre o final do mês de maio e inicio do mês outubro de 2005.

Voltei às escolas em novembro e dezembro, com o objetivo de efetuar entrevistas

formais (anexo I).

Foram realizadas na escola especial quinze (15) observações antes da qualificação

do projeto de pesquisa e trinta e oito (38), após o exame de qualificação, durante

três dias da semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira).

Tanto na escola A quanto na escola B estive catorze (14) vezes realizando

observações efetivas. Em vários outros momentos visitei as escolas. No entanto,

como os alunos especiais não estavam presentes, não permaneci nas mesmas, o

que levou à ampliação do tempo de observação que previra inicialmente para a

pesquisa.

Na escola A, a observação normalmente acontecia nas quartas-feiras e na escola B

nas quintas-feiras, sempre no horário matutino.

Na segunda-feira, pela manhã, participava de uma reunião com os professores

itinerantes que compunham o núcleo de apoio do município às escolas regulares. A

reunião tinha como objetivo discutir os problemas enfrentados pelas escolas, trocar

experiência e realizar estudos tendo como foco a educação do aluno com

necessidades especiais. Acompanhei este trabalho de agosto a setembro de 2005,

perfazendo um total de sete (7) encontros.

Utilizei durante todo o período um diário de campo que consiste no “registro

cotidiano dos acontecimentos observados: manifestações de comportamento,

mudanças decorrentes de medicamentos ministrados, conversas, atividades

desenvolvidas, rotinas diárias em instituições, escolas, etc.” (PÁDUA, 2002, p.72).

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3.3.4.2) Análise de documentos

Analisei os prontuários5 dos alunos na escola especial, com o objetivo de saber a

quanto tempo estavam nesta escola, qual o diagnóstico (se havia), quais

atendimentos eram oferecidos, e outros fatores que poderiam ser relevantes a esta

pesquisa, explicitados nos referidos documentos. Para isto utilizarei a análise de

documentos, que consiste em uma fonte rica e estável de dados, (GIL, 2002).

3.3.4.3) As entrevistas

Foram realizadas entrevistas com as professoras da escola especial e comum, com

as três pedagogas e diretoras.

Durante as entrevista utilizei a gravação em áudio que “tem a vantagem de registrar

todas as expressões orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para

prestar toda a sua atenção ao entrevistado” (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p.37).

Utilizei ainda, fotografia para registrar tanto as atividades desenvolvidas com os

alunos, assim como a forma de organização das mesmas. A solicitação para

publicação das fotos foi devidamente assinada pelos professores e diretores das

escolas, (o modelo de consentimento encontra-se no anexo II).

Objetivando analisar o processo de desenvolvimento ocorrido por meio das

atividades dos alunos no ano de 2005, realizei a análise dos cadernos.

Participei ainda do curso de capacitação oferecido pela escola especial que foi de

abril a dezembro no ano de 2005, além das três reuniões que aconteceram no

auditório da escola especial, com pedagogos, diretores e professores da escola

comum.

5 Os prontuários são os registros feitos pelos profissionais (psicólogo, fisioterapeuta, neurologista, etc) da escola

especial sobre todos os alunos que são atendidos na Instituição.

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3.3.5) O processo de análise dos dados

Como procedimento para analisar os dados coletados adotei, a Análise de

Conteúdo, uma vez que, este tipo de análise é utilizado “quando se quer ir além dos

significados, da leitura simples do real. Aplica-se a tudo que é dito em entrevistas ou

depoimentos [...] toda a comunicação não verbal: gestos, posturas, comportamentos

e outras expressões culturais” (FERREIRA, 2004, p.01).

Aa tratar o corpus com os dados da pesquisa, este método sugere segundo Bardin

(1979) que seja realizado em um primeiro momento, uma leitura flutuante de todo o

material, de onde poderão surgir as primeiras explicações, para as questões que

orientaram o trabalho de coleta de dados. Em seguida, foram estabelecidas, as

categorias que demarcam cada questão investigativa, sendo orientados pelas

palavras, temas, sujeitos investigados, etc.

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4 - RESULTADOS

4.1) O projeto de inclusão social da Prefeitura e seus desdobramentos

Na prefeitura do município onde a pesquisa foi realizada existe um núcleo de

educação inclusiva, que tem por objetivo dar suporte aos profissionais da educação

nas escolas. Esse núcleo possuía no ano de 2005 uma equipe, que era composta

por duas pedagogas, três professoras, vinte e quatro (24) professores itinerantes e

doze (12) professores de apoio.

O trabalho do núcleo começou a ser estruturado no ano de 2001, com cursos de

capacitação para alguns professores da rede, o que também aconteceu nos anos

seguintes. No ano de 2005, o Município elaborou um plano de ação cuja meta era

“ampliar e aperfeiçoar a política e os serviços de apoio pedagógico das Unidades de

Ensino no sentido de qualificar cada vez mais os serviços já existentes,

principalmente aqueles que levam a uma verdadeira inclusão” (PLANO DE AÇÃO E

DIRETRIZES, 2005).

Os documentos que nortearam o Plano de Ação foram:

− A Diretriz Nacional para a Educação Especial na Educação Básica / 2001;

− LBD 9394/96;

− Declaração de Salamanca / Espanha 1994;

− Regimento das Escolas Municipais – 2004.

No inicio do ano de 2005, os professores itinerantes e de apoio, cujas funções estão

definidas adiante, foram distribuídos nas escolas do município objetivando realizar

um levantamento do número de alunos que possuíam necessidades especiais, quais

eram as necessidades e em quais escolas eles estavam.

A coordenação do projeto, por sua vez, convocou, no primeiro semestre do ano de

2005, diretores e pedagogos da rede, com o objetivo de esclarecer como se

desenvolveria na escola o trabalho de dois tipos de profissionais - o de apoio e o

itinerante. Na ocasião foram discutidos textos e leis que tratavam de aspectos

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relacionados aos alunos especiais. Foi apresentado também um vídeo que relatava

um pouco da história do atendimento oferecido a esses indivíduos.

O trabalho do professor itinerante consistia em:

� Articular junto a Pedagoga e Diretor as ações pertinentes à área de Educação

Inclusiva;

� Promover estudos em grupo, com professores, pedagogos, coordenadores e

diretores da sua escola;

� Oportunizar canais de atendimento ao aluno com necessidades educacionais

especiais, em situações permanentes ou temporárias;

� Responsabilizar-se por levantamentos de dados relacionados a esta clientela,

solicitados pela Secretaria de Educação;

� Notificar ao setor de educação inclusiva, as situações que necessitam de

intervenção;

� Ter espaço garantido nos grupos de estudo, na escola e em reuniões de pais

e comunidade, para apresentar os trabalhos de inclusão;

� Ter garantido o dia em que deverá participar dos encontros e das

capacitações;

� Ser divulgador das ações do setor de educação inclusiva;

� Estabelecer parcerias para atendimento especializado ao aluno com

necessidades educacionais especiais (PLANO DE AÇÃO E DIRETRIZES,

2005).

O professor itinerante deveria atender a duas escolas do município, dedicando dois

dias da semana a cada uma delas.

Já, ao professor de apoio caberia atende a uma escola onde houvesse alunos

matriculados com deficiências severas. Ele deveria atuar preferencialmente com o

aluno que necessitasse de maior atenção. Além disso, daria suporte ao pedagogo e

aos professores. Sua função, nesse caso, seriam semelhante a do professor

itinerante.

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Nos meses de fevereiro e março do ano de 2005, já haviam sido coletadas as

informações que constam no quadro abaixo relativas a todas as unidades de ensino

do município:

Especificidade Matutino Vespertino Total

Mental 75 97 172

Físico 11 20 31

Auditivo 14 14 28

Visual 16 36 52

Oral 89 100 189

Múltiplas 07 08 15

Superdotado 09 12 21

Dificuldade de

Aprendizagem

13 444 457

Condutas Típicas 05 175 180

Total Geral 1.146 Fonte: Projeto de Inclusão da Prefeitura, 2005.

Merece destaque neste quadro o levantamento realizado no turno vespertino com os

alunos que apresentavam dificuldade de aprendizagem (em negrito). Havia

quatrocentos e quarenta e quatro alunos classificados nesta categoria no turno

vespertino e apenas treze no matutino. Isso revela muito provavelmente diferentes

concepções dos professores itinerantes e de apoio com relação ao conceito de

dificuldade de aprendizagem.

As dificuldades de aprendizagem envolvem vários fatores, podendo ser decorrente

de problemas fisiológicos, estresse vivido pela criança, dificuldades de convívio

familiar, separação dos pais. Na escola podem se relacionados com as faltas de

estímulos, carência de materiais didáticos; problemas patológicos como o transtorno

de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH), dislexia, psicopatias, alterações do

desenvolvimento cerebral, dentre outros (OSTI, 2004, p. 52).

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Tendo como referência todas estas possíveis causas para a dificuldade de

aprendizagem o diagnóstico de uma criança, deve ser feito segundo Kiguel, citado

por Osti (2004), por uma equipe interdisciplinar com o médico da criança, pedagogo,

psicólogo, psicopedagogo, terapeuta, além do professor e da família. Após, a

realização de uma anamnese com a família, que possa levantar o desenvolvimento e

as condições de aprendizagem, além de exames clínicos. Será possível diagnosticar

a dificuldade de aprendizagem.

Tendo em vista todos estes aspectos referentes ao diagnóstico da dificuldade de

aprendizagem, ficou evidente que a equipe de professores da prefeitura, não dispôs

no momento do levantamento dos dados, de um o quadro de profissionais

necessário para realizar o diagnóstico dos alunos, que apresentavam

verdadeiramente dificuldade de aprendizagem.

O grupo de profissionais, itinerantes e apoio, se reuniam uma vez por semana no

núcleo de educação inclusiva, onde eram discutidas as dificuldades, assim como os

avanços que os profissionais conseguiam nas escolas. Estive presente em sete

destas reuniões no segundo semestre, quando pude acompanhar alguns momentos

desse trabalho.

Na reunião do dia 29 de agosto a coordenadora do projeto disse que: - No primeiro

semestre a avaliação da equipe foi de muita resistência, hoje estamos em um

espaço menos espremido dentro das escolas. (Diário de campo, 2005)

Ela estava se referindo as dificuldades que os profissionais encontraram nas escolas

para trabalharem com os alunos especiais, que foram: a não aceitação da presença

do profissional em algumas escolas, limitação do espaço para atuação, a não

abertura da direção para as discussões teóricas, dificuldades para a participação do

professor itinerante e de apoio nas reuniões com os pais e comunidade, dentre

outras questões.

Nessa mesma reunião, a coordenadora chamou a atenção para o fato do trabalho

na escola ter como foco o professor e o pedagogo, pois são quem atuam

diretamente com o aluno. (Diário de campo: 29/08/2005)

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Em algumas reuniões do núcleo de educação especial as professoras leram e

discutiram textos, como no dia 12 de setembro de 2005, quando foi lido um trecho

do livro “Pais brilhantes e professores fascinantes”, de Augusto Cury. Em seguida

elas discutiram um texto que tinha por título “Atitudes e técnicas facilitadoras da

inclusão”. No dia 26 de setembro de 2005 foi discutido um texto que tratava da

multisseriação. Algumas questões foram levantadas sobre a postura do itinerante no

que diz respeito à necessidade de adaptações curriculares, pois esse profissional

deve orientar o professor no trabalho com os alunos especiais. Foi discutida a

importância de um espaço para os grupos de estudos nas escolas.

Uma das reuniões que merece destaque foi a do dia 19 de setembro de 2005,

quando uma professora da rede esteve presente em busca de auxilio, afirmando que

não sabia o que fazer, pois tinham dentre seus alunos um com Síndrome de Down

que possuía atendimento uma vez por semana em uma escola especial. A

professora, lecionava para uma pré-escola na faixa etária de 3 anos, tendo em sala

21 alunos.

A professora argumentou: - Eu me vejo na necessidade de saber como ajudar, não

sei como estar agindo com relação ao comportamento [...] É uma criança que não se

defende. Eu gostaria de vocês uma orientação de como lidar com esta criança.

(Diário de campo, 2005).

A coordenadora do projeto explicou:

“O comportamento dele não é diferente de outros alunos nesta mesma faixa etária. A

sala é numerosa, pois orientamos que uma creche tem que ter até 15 alunos. O

quadro é normal dentro do nosso atendimento, ter atendimento na escola especial. É

uma criança que se for trabalhada será meiga, carinhosa. O que tem que ser

trabalhado é a questão afetiva. Busca o apoio do pedagogo da escola. A meu ver

não há necessidade de professor de apoio.

- A inclusão é difícil. Aqui é o lugar de falar!” (Diário de campo, 2005).

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As professoras que trabalham na rede deram sugestões de atividades e no final da

reunião a professora disse: - Agora não estou mais sozinha! Já até chorei em sala!

Sabendo como os professores itinerantes e de apoio deveriam atuar nas escolas da

rede municipal, procurei acompanhar não só o planejamento realizado pela escola

comum e especial, como o trabalho de apoio das professoras itinerantes nas salas

de aula, com os professores e pedagogos, assim como seu impacto sobre os alunos.

Começarei por analisar o planejamento e a estrutura de apoio ao trabalho docente

nas três escolas investigadas.

4.2) Como era feito o planejamento na Escola Especial

Antes de analisar o planejamento e a estrutura de apoio da escola especial convém

apresentar como se deu o envolvimento da escola com o projeto da Prefeitura e

quais foram os principais agentes deste processo: o corpo técnico-pedagógico e as

professoras que lá atuavam, com sua respectiva formação e concepção de inclusão.

A escola especial atendeu no ano de 2005, uma média de cento e trinta e seis (136)

alunos de escolas comuns, das redes municipal, estadual e particular. Os alunos

procediam de diferentes municípios da Grande Vitória e deveriam está matriculados

em uma escola comum em um turno e no outro turno na escola especial.

Segundo a Diretora da escola especial o objetivo do trabalho pedagógico com esses

alunos era o reforço escolar para que,

“[...] ele possa acompanhar as atividades na escola, dando a ele a oportunidade de

acompanhar os colegas da turma” (Entrevista em 05/12/2005, diretora da escola

especial).

No ano de 2005 a escola especial destinou um profissional especificamente para

atender as escolas comuns. A proposta de trabalho seria o acompanhamento

pedagógico visando à troca de informações entre as instituições, sobre os

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professores, assim como o atendimento clinico, realizado na escola especial. De

acordo com a professora que realizou esse trabalho nas escolas, o objetivo era

estabelecer um intercambio de informações sobre os alunos.

Foram realizadas uma média de sessenta (60) visitas, durante o ano letivo. Algumas

dificuldades encontradas foram analisadas e serão listadas a seguir:

− O número de escolas que tem alunos da escola especial matriculados: cento

e oito em média (108);

− À distância entre as escolas;

− Na maioria dos casos apenas uma visita não era suficiente para atender a

necessidade das escolas. Foi necessário um acompanhamento efetivo ao

professor, bem como ao aluno;

− As visitas precisavam ser bem planejadas. Em alguns casos, outros

profissionais da escola especial também compareciam a escola comum,

como: psicólogo e serviço social. Isso demandava tempo e disponibilidade

dos profissionais.

Vejamos agora a formação que tinham o que pensavam a respeito da inclusão os

principais agentes envolvidos na pesquisa.

A Diretora é graduada em História (Licenciatura plena) e em Pedagogia, com ênfase

em magistério e orientação educacional. Fez pós-graduação na UFES, na área de

Educação (Planejamento e avaliação). Fez também curso de pós-graduação em

educação especial na área da deficiência mental.

Concepção de inclusão:

“O termo, a palavra inclusão a própria palavra diz está incluído está inserido como elemento

participativo de toda a vida o portador de necessidades especiais inserido em todos os

setores da vida humana; educação, trabalho, saúde, esporte, lazer” (Entrevista em

05/12/2005).

Pedagoga. Formada em Magistério de 2º grau e em Pedagogia, com Pós-

graduação em gestão educacional, possui dez anos de experiência com alunos

especiais.

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Concepção de inclusão

“A inclusão eu acredito que seja o respeito das nossas diferenças, entendeu? Independe

se é deficiente mental se é deficiente físico se é dito normal, somos diferentes e temos

nossas limitações então eu acho que a partir do momento que tiver esse respeito não

haverá esse preconceito. Porque fulano é cadeirante6, entendeu?

Não tem rampa, porque quando se respeita já se pensa em uma sociedade para o todo e

não só pra alguns tem visão maior” (Entrevista em 04/11/2005).

Professora da escola Especial responsável pelo trabalho de ponte entre as

escolas especial e comum - Formação em Letras (Português). Trabalha há quinze

anos na escola especial e fez todos os cursos de capacitação oferecidos pela

instituição.

Concepção de inclusão:

“[...] é o aluno incluído na escola [...] ele inserido de igual pra igual. O professor dando

atividades de igual pra igual eu digo enquanto colegas, ‘né’. Mais, com a sua especificidade

o professor está trabalhando com a dificuldade que ele apresenta no dia-a-dia e oferecendo

algum suporte pra ele desenvolver”. (Entrevista em 05/12/2005)

Professora Cristina (atendeu aos alunos Rodrigo e Márcio, ambos com 12 anos) -

Formada em Técnico em Administração e Magistério de 2º grau, cursando o primeiro

período de Pedagogia. Tempo de experiência na sala de aula: 16 anos.

Especialização em DV7, DA8, DM9 e altas habilidades. Primeiro ano de trabalho

dentro da escola especial.

Concepção de inclusão:

“Eu acho que inclusão o ideal seria que todos estivessem no mesmo nível no mundo com a

mesma condição social, a mesma [...] não na mesma, mas semelhantes se você pudesse

ter o direito de ir e vir normal sem que as pessoas fossem te criticar pela sua cor, pelo seu

6 Cadeirante, pessoa que se locomove utilizando cadeira de rodas. 7 Deficiência visual.

8 Deficiência auditiva.

9 Deficiência mental.

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andar, pelo seu tamanho. Que você não fosse ponto de referência, porque você é gordo,

você é magro, porque você é diferente. A inclusão é isto, quando todas as barreiras

discriminatórias fossem eliminadas. Aí haveria a inclusão, ai haverá inclusão. Mas,

enquanto isso não acontecer eu acho que tudo que a gente consegue é uma guerra, eu

acho que a gente ‘tá’ numa guerra e tudo que você consegue é vitória. Vitória é avanço”.

(Entrevista em: 04/11/2005)

Professora Geovana (atendeu ao aluno Fábio, de 15 anos): Formação em Técnico

no Magistério cursando o primeiro período de Pedagogia, trabalha há 13 anos com

alunos especiais. Fez curso de capacitação em DM.

Concepção de inclusão:

“Eu acho que inclusão é: direito de todos iguais, sem diferença todos tem o mesmo

direito”. (Entrevista em 05/12/2005)

Constata-se que na escola especial a maioria dos profissionais entende a inclusão

como direito de todos, independente da deficiência. Isso pode estar relacionado aos

cursos de capacitação já realizados, também oferecidos aos profissionais que

trabalham na instituição. A inclusão não é entendida somente como a dos alunos

que possuem uma deficiência, mais sim como o reconhecimento do ser humano com

suas diferenças.

Será visto agora como era feito o planejamento das atividades na Instituição.

4.2.1) O planejamento na escola especial

Na escola especial, presencie oito momentos de planejamento das professoras,

juntamente com a pedagoga. Em duas ocasiões a diretora da instituição também

participou deste mesmo.

Normalmente, as professoras possuíam três horas de planejamento semanal,

distribuídas em três dias. Em um dia determinado - na terça-feira no caso da

professora Cristina e na quarta-feira no caso da professora Geovana - elas deveriam

se reunir na sala da pedagoga, com outra professora que também trabalhava com

alunos que freqüentavam a escola comum e especial.

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Nesses momentos, foram tratados assuntos relacionados aos alunos, como número

de faltas e os motivos das mesmas, atitudes dos alunos em sala, a conveniência da

presença ou não da família na escola, a necessidade de algum tipo de atendimento

clinico, como: fisioterapia, neurologista, dentista, psicólogo, etc.

Presencie em algumas ocasiões a discussão de textos teóricos. Um deles foi citado

pela professora Cristina durante a entrevista realizada no final do ano escolar:

“Eu achei assim, que aquele texto que a gente estudou logo no começo da ‘ai meu Deus’

Izabel Sanches, eu achei assim que foi muito bom que falava sobre a questão de você

trabalhar [...] porque antes a minha idéia era assim, que a gente tem que trabalhar o mesmo

conteúdo, ‘né’ com objetivo diferente. A partir da leitura daquele texto eu entendi que a

gente deve trabalhar e é melhor trabalhar as diferenças mesmo. Se o aluno está mais

avançado eu faço, preparo atividade pra ele diferente mesmo, porque não adianta. Mesmo

se eu estou trabalhando dentro do contexto, vamos supor o projeto literatura infantil, mais as

atividades, eu não preciso mandar todo mundo recortar Mônica, entendeu?” (Entrevista em

04/11/05).

O texto ao qual a professora se refere tem por titulo “O professor dinamizador de

estratégias e atividades de aprendizagem”, escrito por Isabel Rodrigues Sanches

(1996). Ele havia sido discutido em um momento de planejamento no dia 17 de maio

de 2005, sendo o primeiro texto estudado durante o planejamento. Nesse texto, a

autora discutiu a atitude do professor face à diversidade da população que compõe

cada turma. Menciona que o professor continua a ser o principal dinamizador das

estratégias e atividades dentro da sala de aula e diz que “não se pode ensinar

adequadamente sem saber o que os nossos alunos sabem, [...] adequar melhor os

objetivos e conteúdos programáticos e dar-lhes significado a curto prazo” (p. 37).

A discussão desse texto levou a professora a refletir sobre conhecimentos já

sedimentados e a mudar de postura face às atividades a serem trabalhadas em sala

de aula.

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No que diz respeito, ao planejamento das atividades que eram trabalhadas na sala

de aula, as professoras normalmente as realizavam sozinhas. No entanto, elas

compartilhavam sugestões e mesmo o material a ser trabalhado com os alunos.

Isso foi constatado principalmente quando as professoras estavam trabalhando por

meio de projetos interdisciplinares, que consistiam na base principal do trabalho

proposto. Acompanhei o desenvolvimento de cinco deles: projeto de drogas, do

município, sobre o folclore brasileiro, literatura infantil e “A gazeta na sala de aula”,

além do planejamento de atividades relacionadas a várias datas comemorativas.

As professoras da escola especial no momento de planejar as atividades

procuravam normalmente levar em consideração as potencialidades dos alunos

como pode ser verificado em suas falas, manifestadas no momento das entrevistas:

Professora Geovana (atendeu ao aluno Fábio, de 15 anos):

“Eu vou vê qual aluno que tem capacidade para fazer aquela atividade eu vou de acordo

com a capacidade deles. Eu procuro diversificar o máximo que eu posso” (Entrevista

05/12/05).

Professora Cristina (atendeu aos alunos Rodrigo e Márcio):

“As possibilidades que ele tem ‘né’, porque eu sei que o limite ele tem então se eu for

trabalhar com esse limite eu não vou conseguir muita coisa, eu vou conseguir dentro das

possibilidades que ele tem de fazer alguma coisa”. (Entrevista 04/11/05)

Adiante ela diz:

“Eu sempre acredito que eles são capazes de muito mais, quando eu trago uma

informação pra eles eu nunca trago assim, vou trabalhar na escola e “pros" meninos da [...]

vou falar de um jeitinho. Não, se eu tenho que fazer uma leitura eu faço do mesmo jeito,

entendeu.

Não é porque é um aluno especial que eu vou usar um vocabulário inferior ou outro tipo de

palavras, não eu vou falar! Agora eu acho que eu tenho que explicar mais ‘né’. Tanto quanto

lá na escola regular, porque acontece a mesma coisa - uns vão entender e outros vão ficar

[...]” (Entrevista 04/11/05, professora Cristina).

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Esta fala da professora nos pareceu coerente com sua conduta em sala de aula.

Podemos adiantar desde já um diálogo com um dos alunos especiais que

acompanhei, o qual comprova esta interpretação,

A professora comentou que a partir do dia primeiro de setembro estariam trabalhando com o

tema literatura infantil.

Professora: - O que você entende Márcio, por literatura infantil?

Márcio: - Ai, que você me pegou!

Professora: - Porque eu te peguei?

Márcio: - Porque eu não sei!

Professora: - Literatura infantil...Nós temos vários tipos de literatura, as lendas. A literatura

vai passando de geração em geração, de boca em boca ai as lendas viram folclore.

(Diário de campo: 31/08/05)

4.3) Como era feito o planejamento na Escola B

Convém apresentar os principais agentes do processo de ensino e aprendizagem e

do apoio técnico-pedagógico da escola B, com sua respectiva formação e sua

concepção de inclusão. Nessa escola estava matriculado o aluno Fábio (15 anos).

Diretora, Graduada em pedagogia, pós lato-sensu em planejamento escolar.

Concepção de inclusão:

“A inclusão é: estar adequando a criança e todo sistema de ensino dentro das suas

possibilidades” (Entrevista em: 08/11/2005)

Pedagoga, graduada em pedagogia, especialização em supervisão escolar, pós-

graduação em administração escolar.

Concepção de inclusão:

“Inclusão pra mim é: colocar esses alunos com necessidades educacionais especiais

na sala de aula e ser trabalhado e não o que está acontecendo - jogar esse aluno na sala

regular”. (Entrevista em: 24/11/2005)

Professora Rosângela, formada em Técnico no Magistério, cursando o 4º período

de Pedagogia. Lecionava para a 3ª série. Nunca fez curso de capacitação na área

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da educação especial. Aposentada como professora, já trabalhou com alunos

especiais anteriormente.

Concepção de inclusão:

“Bem, a inclusão: são aqueles alunos que apresentam determinados problemas ‘né’ e

que freqüentam [...] freqüentam salas especiais e também sala de ensino fundamental [...]

as salas comuns do ensino fundamental e esses alunos terão que ser tratados de igual pra

igual”. (Entrevista em: 08/11/2005)

Ao analisar os depoimentos pude perceber que os profissionais desta escola tem um

conceito inclusão, limitada a alunos com deficiência. A concepção de inclusão destas

pessoas pode ter sido influenciada pelo fato da inclusão acontecer, quando um

aluno deficiente é matriculado na escola comum. Eles se referem, assim, apenas à

inclusão escolar.

Destaca-se, porém, a preocupação da Direção da escola com uma adequação

sistêmica da escola para o atendimento a todos.

4.3.1) O planejamento na escola B

A pedagoga da escola B, onde estava matriculado o aluno Fábio, forneceu pouco

subsídio para o planejamento das atividades que as professoras deveriam realizar

em sala de aula. Isso pode ser constatado através da sua fala, relacionada a uma

proposta de trabalho para as professoras que atendiam a alunos especiais:

“Eu só peço a elas para trabalhar utilizando material concreto, assim eu com elas na

sala de aula? – Não, só passo as informações, assim só sugestões” (Entrevista em:

24/11/2005).

Destaca-se aqui o ponto de vista muito difundido que considera que as crianças com

deficiência mental dominam com dificuldade o pensamento abstrato. Daí o trabalho

exclusivo com materiais concretos e visuais.

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Na escola B, onde o Fábio freqüentava pela manhã, habitualmente havia um período

de reforço, onde os alunos de uma outra terceira série ficavam na sala da professora

Rosângela para serem alfabetizados. Dentre esses alunos, havia os que sabiam lê,

porém não conseguiam interpretar, havia os reconheciam algumas letras e outros

que não identificavam nenhuma letra, nem mesmo as letras do seu próprio nome.

Este grupo era composto com aproximadamente 22 alunos.

O reforço acontecia no mínio quatro vezes por semana, com um período de uma

hora que correspondia das 7:00 as 8:00. Nesse momento, a professora trabalhava

de forma totalmente diferenciada do conteúdo que estava trabalhando com a terceira

série. Utilizava recursos como o bingo de letras, palavras cruzadas, dominó com

gravuras e nomes, cantigas, palavras-chaves, dentre várias outras atividades. Colou

em uma das paredes da sala de aula um alfabeto com os diferentes tipos de letras,

buscando auxiliar os alunos no momento da escrita das palavras.

O reforço era uma possibilidade sugerida pela prefeitura, no intuito de recuperar os

alunos que apresentavam atraso em relação à série que estavam cursando,

cabendo as escolas determinar a forma como o implantariam. A direção da escola B

determinou pela realização do reforço, tendo em vista o grande número de alunos

que não sabiam lê e escrever.

No que diz respeito, ao planejamento das atividades a serem trabalhas na sala de

aula, estive presente em seis momentos de planejamento das atividades da turma

da 3ª série do ensino fundamental freqüentada por Fábio (15 anos).

Nos planejamentos as questões discutidas eram relativas ao meio ambiente, a festa

junina, a primavera, e outros. Na maioria das vezes, a professora Rosângela esteve

sozinha na sala de aula, trabalhando dentro de suas quatro horas de planejamento

semanal. Em dois momentos ela esteve na sala dos professores para discutir

projetos comuns da escola e datas comemorativas, como a apresentação da rainha

da primavera e o programa de reforço adotado pela instituição.

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A professora Rosângela permanecia normalmente em sua sala selecionando

atividades para a turma, sem uma preocupação especifica com o planejamento de

atividades voltadas para o aluno especial. Ela esclareceu em diferentes momentos

que na seleção das atividades buscava atender a turma como um todo, inclusive aos

que apresentavam diferentes níveis de dificuldades no processo de aprendizagem.

Isso ficou claro em sua entrevista:

“Olha geralmente eu busco atividade que vá atender no geral é [...], depois separo para

um e para outro. Para atender a necessidade de cada um deles” (Entrevista 24/11/05).

Havia coerência deste discurso com as atitudes observadas em algumas ocasiões,

como no dia primeiro de setembro de 2005, quando ela passou uma cantiga

folclórica para turma:

Fui na Espanha

Buscar meu chapéu

Azul e branco, da cor daquele céu.

Olha palma, palma, palma...

Enquanto a maioria dos alunos deveria encontrar a silaba tônica de algumas

palavras, três alunos com maiores dificuldades, inclusive o aluno especial, deveriam

escrever o nome das cidades, dos animais, de objetos e das cores.

O planejamento da professora Rosângela me pareceu, portanto, flexível para

atender as diferentes situações da sala de aula, levando em consideração as

possibilidades e contribuições dos alunos.

4.4) Como era feito o planejamento na Escola A

Como já foi feito anteriormente serão apresentados os principais agentes do

processo de ensino e aprendizagem e do apoio técnico-pedagógico da escola a,

com sua respectiva formação e sua concepção de inclusão. Nessa escola estavam

matriculados os alunos Rodrigo (12 anos) e Márcio (12 anos).

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Diretora, graduada em Pedagogia, com pós- graduação em educação inclusiva.

Concepção de inclusão:

“A inclusão são todos, que em determinadas vezes nos todos temos necessidades de

momento. Como por exemplo, se você quebra o braço você precisa do apoio do professor

para você auxiliando na sala de aula”. (Entrevista em: 28/10/2005)

Pedagoga, formada em psicopedagogia pós-graduada em orientação, supervisão,

administração, direção.

Concepção de inclusão:

“Olha só, eu acho que todos têm capacidade, nos todos somos capazes, o cego, surdo,

mudo. Todos, todos porque cada um tem suas diferenças uns se adaptam, mas um modo

outros menos, né”. (Entrevista em: 28/10/2005)

Professora Solange (atendeu aos alunos Rodrigo e Márcio, ambos da 4ª série, nas

áreas de Português e História). Fez graduação em Pedagogia. Pós–graduada em

Psicopedagogia, não fez curso na área de educação especial. Tem oito anos de

experiência no campo educacional. Era a primeira vez que trabalhava com alunos

com deficiência.

Concepção de inclusão:

“Inclusão são essas crianças que tem [...] como se diz deixa eu vê; se eu sei falar. Inclusão

é a criança que tem o déficit de alguma coisa de aprendizagem ou alguma deficiência ‘tá’,

mais essa criança ela tem que está incluída no meio dos demais que dizem normais, é

isso?”. (Entrevista em: 28/10/2005)

Professora Elizabete (atendeu aos alunos Rodrigo e Márcio, ambos da 4ª série,

nas áreas de Matemática e Ciências) - Formada em Técnico no Magistério não fez

curso na área de educação especial. Já trabalhou com alunos especiais na sala de

aula da escola comum. Atua como professora há catorze anos.

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Concepção de inclusão:

“[...] é que antes essas crianças ficavam separadas da sociedade e hoje eles crescem

junto com as outras crianças consideradas normais aprenderem a respeitarem esse tipo de

cidadão” (Entrevista em: 28/10/2005).

Os depoimentos mostram que, com exceção da Direção da escola A, os demais

profissionais tem um conceito de inclusão limitada a alunos com deficiência, como os

da Escola B. Vejamos agora como planejavam suas atividades.

4.4.1) O planejamento na escola A

As duas professoras que atendiam aos dois alunos especiais (de uma mesma 4ª

série) possuíam quatro horas de planejamento, que correspondiam aos momentos

das aulas de educação física e de educação artística, Nesse momento, elas ficavam

na sala dos professores, elaborando atividades para a turma, corrigindo ou

elaborando provas, preenchendo a pauta escolar.

As atividades eram programadas em alguns momentos por uma professora sozinha,

em outros com a professora que dividia a mesma sala de aula. Nessa ocasião elas

trocavam experiências, conversando sobre os alunos. As atividades dos alunos

especiais eram selecionadas pelas professoras em casa, elas xerocavam e

colocavam os trabalhos propostos em uma pasta.

A Pedagoga, assim como a Diretora dificilmente estava presente nos momentos de

planejamento. Elas compareciam apenas para informar alguns eventos ou projetos

da escola. A Pedagoga disponibilizava certo tempo para conversar sobre os alunos

que estavam com problemas de indisciplina. Estive presente em quatro momentos

de planejamento nessa escola.

No que diz respeito, aos critérios de seleção das atividades na escola A as

professoras levavam em consideração.

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“As condições deles, não sei se seria a palavra certa, mais a capacidade que cada um tem

de desenvolver aquele tipo de atividade, então é de acordo com a capacidade ‘né’”.

(Entrevista em 28/10/05, professora Elizabete).

4.5) Considerações gerais sobre o planejamento das atividades em sala de

aula nas diferentes escolas

Os dados coletados mostram que todas as escolas possuem momentos reservados

para o planejamento das atividades escolares. No entanto, existe uma diferença no

modo como esse momento é utilizado e no apoio dado ao professor pelo gestor

escolar. Nas escolas comuns o professor trabalha mais individualmente. Na escola

especial o pedagogo se faz mais presente nos assuntos de sala de aula. Isso será

analisado com maiores detalhes adiante, quando for analisada a qualidade do apoio

oferecido aos docentes.

Na escola comum, por sua vez, as professoras geralmente não discutem que

atividades diferenciadas devem propor aos alunos especiais. Elas planejavam

apenas o conteúdo a ser trabalhado com os alunos ditos normais. Na escola B,

observei que a professora fazia uma adaptação da atividade no momento da aula,

enquanto na escola A as professoras selecionavam as atividades dos alunos

especiais em casa.

Analisarei, em seguida, de forma mais detalhada, o apoio fornecido pelas escolas

para o trabalho das professoras em sala de aula.

4.6 ) O APOIO HUMANO E MATERIAL OFERECIDO AOS PROFESSORES

Será analisada aqui a estrutura de apoio oferecida aos docentes, em cada uma das

escolas, além dos cursos de capacitação eventualmente oferecidos pela rede de

ensino, sobretudo aos professores que trabalham com alunos especiais.

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4.6.1 ) O apoio humano na Escola especial

No que diz respeito ao apoio oferecido às professoras na escola especial, constatei

que suas solicitações eram normalmente atendidas. No dia 02 de setembro de 2005,

por exemplo, a professora Cristina solicitou ao serviço social, o encaminhamento de

um de seus alunos ao médico, pois o mesmo estava apático em sala, podendo está

até doente, além de ter abandonado a escola comum. Ela foi atendida.

A assistente social esteve na sala de aula e na semana seguinte a família

compareceu a instituição. A professora conversou com a mãe do aluno em conjunto

com a assistente social, pedagoga e com a professora que era a ponte entre escola

especial e a comum.

Outros momentos como esse também foram presenciados durante o processo de

observação na escola especial. Nas entrevistas isso foi confirmado.

Professora Cristina:

“Apoio pedagógico da pedagoga, coordenadora das colegas. Quando a gente senta em

dia de PL pra conversar que você põe as dúvidas ‘né’, sempre tem uma solução através de

uma leitura de um texto, entendeu?” (Entrevista 04/11/05).

Professora Geovana:

“Eu não tenho queixa não, eu acho que tenho apoio sim, das colegas. A pedagoga

também me ajudou muito, eu não tenho queixa não” (Entrevista 04/11/05).

Nesse sentido, podemos afirmar que os profissionais da escola especial trabalharam

recebendo o apoio tanto da pedagoga, como da coordenadora e demais

profissionais da escola. “O ensino não pode se limitar a proporcionar sempre o

mesmo tipo de ajuda nem intervir da mesma maneira” (ZABALA, 1998, p.98). Faz-se

necessário diversificar os apoios oferecidos, buscando sempre que necessário o

auxilio de profissionais de outras áreas. Isso era seriamente considerado na escola

especial.

4.6.2 - O apoio humano na Escola B

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Na escola B, observei que em alguns momentos as professoras trocavam

experiências, e mesmo sugestões de atividades, principalmente quando estavam

desenvolvendo algum tipo de projeto educativo. No entanto, elas se queixavam de

apoio institucional, como ficou claro durante a entrevista da professora Rosângela.

“Olha, apoio é bem pouco né porque a gente ter um apoio deveria ser uma pessoa pra está

trabalhando até mesmo orientando né, uma vez que a gente não tem, eu no caso não tenho

curso especifico, mais o apoio que eu tenho aqui na escola é bem pouco” (Entrevista:

24/11/05).

4.6.3 - O apoio humano na Escola A

Na escola A, a professora também sentia falta de apoio institucional, como pode ser

confirmado pela fala de uma das professoras da turma:

“Sinceramente não temos apoio, a gente sempre trabalha mais sozinha, não sei se é

devido aos pedagogos estarem sempre fora da escola né. Devido a cursos e mais cursos,

reuniões com a prefeitura, mas a gente sempre procura caminhar com o que a gente tem,

sabe, e buscar aquilo que a gente acha que é viável pra eles” (Entrevista em 28/10/05,

professora Elizabete, grifo meu).

Nessa escola pude presenciar a pedagoga entrar na sala aula em vários momentos

para chamar a atenção da turma por indisciplina. Como no dia 03 de agosto quando

a ela entrou na sala para questionar a falta de educação dos alunos, pois eles

falavam alto, andavam pelo corredor, brigavam.

A professora Elizabete então conversou com a turma falando: - “vocês não têm 5 anos,

vocês tem que tomar responsabilidade”. Nesse momento os alunos ficaram quietos ouvindo

a pedagoga, assim como à professora. (Diário de campo: 03/082005)

4.6.4 - Recursos materiais disponibilizados pela escola

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Segundo Zabala, os materiais “são os meios que ajudam os professores a

responderem aos problemas concretos que as diferentes fases do processo de

planejamento, execução e avaliação apresentam” (1998, p.168),

Buscando averiguar quais recursos são disponibilizados pelos professores para

atender as necessidades dos alunos especiais elaborei o quadro comparativo que se

segue. Ele foi elaborado a partir das aulas observadas.

ESCOLA ESPECIAL ESCOLA A ESCOLA B Cristina Geovana Solange/Elizabete Rosângela Alfabeto movél Alfabeto movél Alfabeto nas

paredes Alfabeto nas

paredes Histórias Histórias Histórias Músicas Músicas Músicas EVA EVA Atividade xerografada Atividade

xerografada Atividade xerografada

Atividade xerografada

Jogos Jogos Jogos Livro didático Livro didático Livro didático Livro didático Gravuras Gravuras Gravuras Gravuras Rótulos Massinha Encartes Encartes Encartes Maquetes Bingo de letras Tampas de diferentes tamanhos

Fonte: Diário de campo, 2005. Pode-se perceber a partir do quadro acima que as professoras que mais utilizam

recursos diferenciados são as da escola especial. Em seguida a da escola B. Na

escola A prevaleceu à utilização do livro didático. Nessa escola, os recursos da

massinha, o encarte e as gravuras foram utilizados apenas com os alunos especiais.

Na escola B, em diferentes momentos a professora disponibilizou jogos para todos

os alunos, como pode ser constatado nas fotos que seguem:

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Nesse momento os alunos se organizaram de diferentes maneiras, em duplas, trios

ou mesmo grupos, sentando-se tanto nas carteiras como no chão. Os jogos

utilizados pela professora eram tanto da escola, como confeccionado por ela.

Sabe-se que “a participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais:

respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de

responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal” (HAIDT, 1999, p.176).

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A utilização apenas do livro didático, por sua vez remete a algumas considerações,

abordadas por Zabala (1998).

− A estrutura do livro didático trata os conteúdos de forma unidirecional;

− São mediatizados por vários interesses, que produzem preconceitos, valores,

ideologias, etc;

− Os livros didáticos apesar de todo conteúdo apresentado, não podem oferecer

toda a informação necessária para garantir a aprendizagem.

De acordo com Vigotski (2003c), quando colocamos as crianças em situações

novas, que se renovam constantemente, isso “as obriga a diversificar de forma

ilimitada a coordenação social de seus movimentos e lhes ensina flexibilidade,

plasticidade e aptidão criativa, como em nenhum outro âmbito da educação” (p.106).

Adotando estes pressupostos como verdadeiro, pois inúmeras pesquisas apontam

nessa direção, pode-se esperar um desenvolvimento menos acentuado de

habilidades cognitivas, de criatividade, além de atitudes mais imaturas do ponto de

vista social nos alunos da classe analisada - escola A - na qual estão inseridos dois

dos alunos examinados. Os recursos disponibilizados nessa classe eram escassos

para os alunos especiais, para a turma eram praticamente inexistentes. Vejamos

agora como era organizado o espaço físico das salas de aula.

4.6.5) A organização da sala de aula

A necessidade de uma boa organização do espaço físico da escola e sua correlação

com o bom desempenho escolar é bem conhecida. Lanço mão aqui de estudos de

RODRIGUES & SENTIS (2002), relativos à organização da sala de aula. Segundo

estes autores, a sala de aula deve ser organizada de modo a facilitar o atendimento

à diversidade. As mesas devem ser dispostas de forma a propiciar o trabalho

cooperativo entre os alunos, além de lhes dar uma relativa autonomia no momento

de realização das atividades.

Na escola especial normalmente os alunos estavam sentados próximos às

professoras Cristina e Geovana, como pode ser constatado nas imagens que

seguem das duas salas de aula:

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(Sala de aula da professora Cristina) (Sala de aula da professora Geovana)

Na escola B, onde estudava o Fábio não havia uma forma única de organização da

sala de aula. Pude observa a organização em fila, em duplas, circulo ou grupos. A

disposição era determinada pelo tipo de atividade que a professora pretendia

desenvolver.

Na escola A onde estudavam Rodrigo e Márcio a sala era organizada sempre em

fila, sendo o livro didático o principal recurso utilizado.

(Sala de aula das professoras Elizabete e Solange)

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Podemos inferir a que a forma como a sala de aula da escola A estava organizada

não valorizava o trabalho de atendimento a diversidade.

Vejamos agora o apoio aos professores de alunos especiais em termos de cursos

oferecidos

4.6.6) Cursos oferecidos ao professores da Escola especial

Na escola especial durante o ano de 2005, além dos textos trabalhados nos

momentos de planejamento, a escola ofereceu aos profissionais um curso de

capacitação de duzentas e vinte horas (220), ministrado em sua maioria aos

sábados, por profissionais mestres e doutores do Brasil e mesmo do exterior

(Suécia) com atividades presenciais e não-presenciais.

O objetivo do curso era capacitar os profissionais da escola especial, para atender

as necessidades educacionais dos alunos com deficiência mental de acordo com as

suas particularidades (Projeto de Capacitação – 2005).

Os conteúdos trabalhados foram os seguintes

� Escola especial – a escola que buscamos, níveis e modalidades de educação

e ensino;

� Distúrbios da linguagem interferindo no processo de aprendizagem;

� Atendendo a diversidade por meio de jogos;

� O movimento da inclusão educacional: reflexos sobre a formação e a prática

docente;

� Alfabetização: Mitos-verdades e intervenções. A construção do conhecimento

sobre a escrita;

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� Matemática: o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático com alunos

de necessidades especiais- utilizando jogos e material concreto;

� Estimulação do desenvolvimento da criança com deficiência ou risco de

atraso de desenvolvimento;

� Transtornos globais do desenvolvimento;

� Autismo e comunicação – O comportamento do autista;

� O desenvolvimento da leitura e da escrita em crianças autista;

� A comunicação na sala com os movimentos Relation Play – exercícios

práticos;

� A importância da educação física no processo de reabilitação.

Participei do curso e pude perceber que nele se buscou sempre relacionar teoria e

prática.

Nas fotos que se seguem os professores estavam confeccionando e jogando alguns

jogos, após um momento de argumentação teórica.

(Atividade de capacitação, desenvolvida com os professores da escola especial no dia 23 de março de 2005).

4.6.7) Debate sobre alunos especiais e repercussões na escola comum

Nas escolas comuns não foram oferecidos cursos de capacitação aos professores.

Houve um único momento em que presenciei discussões gerais a respeito dos

alunos especiais. Foi em um encontro realizado no dia 22 de setembro de 2005.

Neste dia estiveram presentes no auditório da escola especial, diretores, pedagogos

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e professores das escolas comum que trabalhavam com os alunos especiais, como

mostra a imagem abaixo.

(Auditório da Escola Especial em 22/09/2005)

A abertura dos debates foi feita pela professora que constitui a ponte entre a escola

especial e a comum. Em seguida a diretora e a pedagoga da escola especial deram

boas vindas aos profissionais.

A coordenadora do núcleo de educação especial do município assumiu a palavra

trazendo o histórico do núcleo de inclusão e apresentando a forma como o município

estava organizado, para atender as escolas no ano de 2005.

Duas questões foram apresentadas aos professores.

1) Como podem os professores organizar suas salas de aula de modo a

assegurar a aprendizagem a todos os seus alunos?

2) Como podem as escolas se estruturar de forma a apoiar os professores neste

esforço?

Estas questões visavam tão somente direcionar a fala da palestrante.

Nessa reunião estavam presentes uma das professoras da escola A e a professora

da escola B. As professoras puderam entrar em contato com as atividades e

produzidas pelos alunos especiais, pois estas estavam expostas no corredor da

instituição, como mostram as imagens abaixo.

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(Exposição dos trabalhos dos alunos na escola especial em: 22/09/2005, para os professores da escola comum).

No dia seguinte a reunião a professora da escola A que compareceu argumentou

que, apesar de ter consideração pela pessoa responsável pelo núcleo de educação

inclusiva da prefeitura, entendia que o núcleo não oferecia condições para que os

professores trabalhassem com os alunos em sala de aula. A professora Solange,

disse ainda que não sabia como trabalhar com os alunos especiais, principalmente

com o aluno Rodrigo (analisado de forma detalha adiante, neste trabalho).

Percebemos, nesta fala da professora algo muito comum dentre os profissionais da

educação nas escolas comuns: a alegação de que não sabem como trabalhar com

os alunos especiais. Sabe-se que os professores “em seus cursos de formação de

[...] não tiveram a oportunidade de estudar a respeito, nem de estagiar com alunos

especiais” (CARVALHO, 2004, p. 27). O processo de formação continuada, assim

como os serviços de apoio do município deveriam, assim, oferecer um suporte mais

efetivo aos professores para o trabalho com alunos com necessidades especiais, o

que não aconteceu normalmente, como pudemos observar.

4.6.8) Considerações gerais sobre o apoio fornecido aos professores pela

escola

Vigotski (1989) diz que, a tarefa da escola não é adaptar-se ao defeito e sim vencê-

lo. Para este autor juntamente com a deficiência foram dadas as possibilidades para

sua superação. Para isso faz-se necessário que os professores trabalhem levando

em consideração as possibilidades de desenvolvimento dos alunos, acreditando que

o aluno é sempre capaz de superar suas limitações.

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A aprendizagem pode ser favorecida em um ambiente seguro e ordenado, num

clima que estabeleça as interações e que promova a cooperação e a coesão do

grupo (ZABALA ,1998).

As observações coletadas mostram que o apoio dado aos professores da escola

especial foi grande, tanto do ponto de vista de formação contínua, como do ponto de

vista material e humano.

Na escola comum o apoio ficou quase ao nível da intenção. A única palestra

ocorrida foi promovida pela escola especial, em uma tímida tentativa de vencer as

barreiras de comunicação até então existentes, com pouco efeito prático sobre as

atividades oferecidas aos alunos especiais, como será mostrado adiante.

A falta de recursos disponibilizados para os alunos foi maior na Escola A. Além

disso, a organização da sala de aula dificultava as interações entre alunos e

professor. Nessa escola, o esforço dos pedagogos e da gestão escolar parecia mais

voltado para a manutenção da disciplina do que para garantir a aprendizagem dos

alunos, normais ou especiais. Isso, como se verá, teve repercussões no trabalho

realizado com os alunos especiais.

Ou seja, a formação da Direção em Educação inclusiva não se traduziu em

propostas concretas para a escola que promovessem uma verdadeira inclusão

escolar.

Vejamos agora como trabalharam nessas escolas os professores da rede de apoio

da Prefeitura e se o Plano de reestruturação do núcleo de educação inclusiva

viabilizou mudanças de conduta e de atitudes no interior de cada uma das escolas

analisadas.

4.7) O trabalho dos professores itinerantes nas escolas

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Buscando constatar como o atendimento proposto era realizado nas escolas, tentei

acompanhar o trabalho das professoras itinerantes nas salas de aula das escolas A

e B, e o apoio que deram a professores e pedagogos.

A escola A possuía uma professora itinerante cuja habilitação era em deficiência

auditiva. Ela foi substituída por outra com capacitação na área da deficiência mental,

que era a que prevalecia na escola. Essa profissional, porém, só visitava a escola

uma vez por semana, pois atendia a duas outras escolas. Na escola B, não observei

nenhuma atuação efetiva da profissional na sala de aula. Entreviste-a uma única

vez. Vejamos sua formação e seu conceito de inclusão.

Professora itinerante, graduação pedagogia fazendo pós-graduação em educação

especial, fez curso de capacitação em DV (deficiência visual).

Concepção de inclusão

“[...] Não só com esses alunos, mas no geral porque tem alunos que não tem dificuldades

mais são especiais, ‘né’, igual às vezes a gente, não está bem”. (Entrevista em: 08/11/2005).

Visando averiguar se o atendimento aos alunos especiais aconteceu em algum

momento que não presenciei, realizei com os professores, pedagogas e diretoras

das escolas uma entrevista, obtendo os seguintes relatos.

Escola A

Professora Solange:

“Bom eles tão assim com interesse, que isto funcione, mais até agora não está

funcionando. A pessoa mudou. Até hoje ela não pegou os meninos. O atendimento este

ano aqui na escola foi muito ruim. Não foi bom” (Entrevista: 28/10/2005).

Professora Elizabete:

“Eu sinceramente achei é como se não tivesse ninguém vindo para cá, porque nenhum

dos profissionais que pra cá foram enviados fez trabalho nenhum com os nossos alunos,

pelo menos com os meus alunos de quarta série. Eu tive umas 3 ou 4 presenças do

professor e [...] na verdade o professor que pediu ao invés de trazer informações material

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pra nós que não temos a experiência na área, muito pelo contrario ele pedia pra gente [...].

Eu ache assim, que não serviu pra absolutamente nada, foi como se eles nem tivessem

aparecido na escola, não desmerecendo a imagem do profissional em hipótese alguma, mas

pelo menos não fizeram trabalho nenhum. A proposta vale a pena, desde que eles

mandem profissionais sérios e que eles também respeitem esses profissionais e

coloquem no lugar certo, porque eles jogam ali. O profissional as vezes nem faz por não

saber fazer mas porque nem ele sabe onde ficar. Eles são mandados com um objetivo.

Chegam aqui e na realidade é outra.” (Entrevista: 28/10/2005)

Pedagoga:

“Eu acho que não tem [...] eu acho que por mais força de vontade que a Prefeitura está

tendo, que o corpo da Prefeitura esta tendo, ainda assim nos precisamos de mais. Talvez

seja o caso especifico desta escola, não estou falando que esta acontecendo em todas as

escolas, mais eu sinto necessidade de mais ajuda por parte dos professores itinerantes,

mesmo porque qual a função delas? É estar sempre aqui ‘né’, mais é uma coisa que você

quase nunca vê, mas a Prefeitura tem se esforçado mais. A Prefeitura tem dado uma

atenção especial aos portadores de deficiência ela tem se esforçado, mais é difícil você em

pouco tempo ajustar um corpo docente especializado nesta área” (Entrevista: 28/10/2005).

Diretora:

“Eu vejo assim: por exemplo, esse ano a prefeitura fez o processo seletivo para atender nas

escolas aos alunos de necessidades [...] as pessoas que tem vindo trabalhar tem menos

experiência que nós, que estamos dentro da escola e praticamente quase não

participamos de formação continuada.

Mesmo o quadro de funcionários de um modo em geral né, mesmo a mídia que fala que as

escolas têm que se inclusivas, mais eu acho que pra ser aceito no ensino regular os alunos

portadores de necessidades, primeiro a gente deveria ter reestruturado a escola, de um

modo geral funcionários, professores. Para ter, assim, pelo menos o conhecimento de como

estar lidando com estas necessidades” (Entrevista: 28/10/2005).

Escola B

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Professora Rosângela:

“Na verdade o apoio do pessoal da prefeitura eu não tive, eu trabalhei sozinha eu e

eles, entende? Porque, no meu ponto de vista já que tem uma pessoa pra trabalhar com

esse pessoal, com essas crianças deficientes e dar apoio, não é nem mais apoio é dar

apoio. E eu não tive uma atividade diferente”.

“Olha, na verdade a pessoa esteve aqui na sala, se não me falha a memória, duas vezes.

Não fez nada, (sorriu) porque sentou na sala e não fez nada, não trouxe um jogo, num

trouxe uma coisa diferente, nada! Eu não sei na realidade, eu imagino, mais eu não sei

detalhadamente qual seria o trabalho dessa pessoa de apoio aqui na sala, mas imagino

como deveria ser”.

No meu ponto de vista né, eu acho que deveria vir em um primeiro momento observar, o

andamento da criança até propor atividades, jogos alguma coisa que despertasse mais o

interesse dela. Esse é o meu ponto de vista e não aconteceu isto.

Eu acho que é um trabalho bom quando o funcionário quer trabalhar, se realmente ele

tiver vontade de trabalhar é um trabalho bom, mais da forma que acontecendo aqui,

sinceramente pra mim não ajudou. No meu caso não ajudou” (Entrevista: 24/10/2005).

Diretora:

“Isto não acontece na prática, isto não acontece. Pelo menos nos dias que eu olho, que

eu observo, pergunto as meninas. Eu sou muito atenta a minha escola ‘tá’, demais você

nem imagina quanto. Quando eu saiu daqui eu já sei que a escola estará tudo bem porque a

coordenadora é fora de série, mas eu sou muito atenta. Isto não acontece. Eu acho que

você ter uma pessoa para ficar ali como se fosse um estágio de observação não resolve

para a escola. Não teve práticas mais efetivas” (Entrevista: 24/10/2005).

Pedagoga:

“Pela reunião, o que eles falaram na reunião, daria um ótimo trabalho na escola, mas a

Célia não faz nada aqui. Eu pedi, olha, eu sou uma profissional. O seguinte: a primeira vez

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eu falo - vamos fazer assim desse jeito. Agora a partir dali a pessoa tem que ter

responsabilidade de faze a tarefa dela certo.

Nós combinamos; nós fizemos um horário, nos sentamos no primeiro dia. Você vai ter que

auxiliar essa, essa, essa turma, que tem aluno com dificuldades. Então você pode estar

fazendo isto? Posso, Então vamos fazer o horário? Vamos. Então fizemos o horário. Tem

sala que ela não entra, ela vai mais na sala de Carla, porque Carla pede pra ela e pronto.

Auxiliar o aluno mesmo, não ‘tá’ sendo auxiliado. A única coisa que ela está fazendo

agora é avaliação final, mas como que ela vai fazer uma avaliação se ela não

trabalhou?

Veio uma avaliação da prefeitura. Ela tem que fazer uma avaliação, ela tem que fazer isto

com as professoras? Como que ela vai fazer isto se ela não trabalhou?

Percebi que a professora Rosângela é que fazia a avaliação. Eu não sei se tem alguma

parte dessa avaliação que ela fez, entendeu? Tipo assim, um relatório dela da observação

dela, do trabalho dela. Ao meu ver não tem nem como ela avaliar, porque ela, sinceramente,

a Rosângela mesmo reclamou comigo: - essa menina não sentou com o Fábio” (Entrevista:

05/12/2005).

Os grifos são meus, tendo como objetivo destacar alguns aspectos das entrevistas,

tais como: as professoras afirmando que trabalharam no ano letivo de 2005 sozinhas

com os alunos especiais, mesmo tendo os profissionais itinerantes dentro das

escolas.

Algumas das pessoas entrevistadas afirmaram que na teórica apresentada pelo

núcleo de educação especial da prefeitura é uma coisa, na prática o trabalho não

acontece. No entanto, em determinadas falas percebemos que, os profissionais das

escolas valorizam a iniciativa do município, julgando que se o trabalho acontecesse

de fato o processo de ensino e aprendizagem seria privilegiado.

Uma das falas que merece destaque foi a da Diretora da escola A, que afirmou que

os profissionais que foram enviados para a escola não estão capacitados para

atender os alunos especiais.

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Outro ponto levantado foi, a avaliação que deveria ser apresentada ao núcleo de

educação especial pelo professor itinerante. A pedagoga da escola B questiona,

“como que ela vai fazer uma avaliação se ela não trabalhou?”.

Na verdade quem preencheu o questionário foi a professora Rosângela, uma vez

que a itinerante não conhecia o desenvolvimento do aluno, nem mesmo do trabalho

que foi realizado durante o ano letivo.

Os profissionais da escola comum esperavam dos professores itinerantes o apoio,

suporte necessário, para trabalhar na sala de aula com os alunos especiais, tendo

em vista que

A grande dificuldade dos professores de diversos níveis educacionais é, justamente, lidar com o diferente, o inesperado, o incomum. Oriundos de uma formação tradicional, segundo a qual o único método de ensinar é falar e escrever na lousa, ou melhor, em que os únicos canais sensoriais utilizados são a visão, a fala e a audição, é compreensível que se sintam perdidos diante dos alunos, os quais requerem educação diferenciada e especializada (WECHLER, 2002, p. 202-203).

Isso não ocorreu, as respostas dadas nas entrevistas e as observações coletadas

durante as visitas à escola mostraram isso claramente.

Ou seja, o projeto idealizado pela Prefeitura não teve desdobramentos práticos

positivos nas escolas analisadas, apesar da administração ter reestruturado o núcleo

de atendimento. A baixa formação dos profissionais itinerantes disponibilizados para

o atendimento nas escolas analisadas e o não acompanhamento efetivo de suas

ações pelo núcleo de educação inclusiva (houve relatos da não presença física

destes profissionais e da ausência de propostas práticas e eficientes dos mesmos)

fez com que os professores da escola comum ficassem sem o apoio necessário para

garantir o atendimento que os alunos necessitavam.

4.8) O Processo de ensino de aprendizagem

Neste tópico estarei tratando do processo de ensino aprendizagem que ocorreu nas

três escolas pesquisadas, tendo como sujeitos investigados os alunos e os cinco

professores que atuaram com eles. Embora não pretenda fazer uma analise

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comparativa do processo entre as escolas, em alguns momentos este fator tornar-

se-á necessário, visando melhor esclarecer os dados apresentados.

Na análise das práticas educativas, as observações se apoiaram, sobretudo, em

uma concepção vigotskiana que vê o aluno como sujeito de seu próprio

desenvolvimento, embora dependente em muitos momentos de mediadores que lhe

permitem avançar para níveis de desenvolvimento mais complexos.

Observou-se assim:

1 - Se os conhecimentos prévios dos alunos eram considerados com relação aos

diferentes conteúdos abordados em sala de aula.

2 - Se os conteúdos eram significativos e funcionais para os alunos

3 - Se as questões abordadas representavam um desafio, compatível com o nível de

desenvolvimento do aluno, possibilitando um conflito cognitivo e a superação de

formas de pensar menos elaboradas.

4 - Se as atividades provocavam o interesse do aluno, fortaleciam sua auto-estima, e

o ajudavam a adquirir habilidades relacionadas ao que muitos denominam hoje

“aprender a aprender”.

O foco de interesse para fins de análise das aprendizagens foi o trabalho

desenvolvimento nas atividades escritas e numéricas, sendo que em determinados

momentos outros conteúdos também foram analisados.

Convém ressaltar que, além das aulas convencionais, os alunos tinham nas escolas

comuns duas aulas de artes e duas aulas de educação física, semanais.

Escola A

Na escola A, estudaram os alunos Rodrigo (12 anos) e Márcio (12 anos), com as

professoras Elizabete e Solange. Tratava-se de uma quarta série, ressaltando que

Rodrigo e Márcio freqüentam a escola A desde a pré-escola.

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Habitualmente o aluno Rodrigo sentava-se próximo à mesa da professora. Interagia

muito pouco com os demais alunos na sala de aula. Conversava ou brincava poucas

vezes com as meninas que estavam próximas a sua carteira (em geral manipulava

objetos, quase não verbalizando).

Rodrigo durante o recreio geralmente permanecia sozinho, em pé encostado numa

parede próximo à cozinha, enquanto comia a merenda da escola. Os demais alunos

neste momento corriam, brincavam, conversavam em grupos, havia durante o

recreio duas coordenadoras que ficavam ‘vigiando‘ os alunos.

O Márcio sentava-se ora próximo à mesa da professora, ora em uma carteira no

fundo da sala de aula. Conversava com a maioria dos alunos da turma (durante as

aulas e no recreio). Seus assuntos favoritos eram DVD, filmes, carros, máquinas

fotográficas, celulares e computadores. No momento do recreio Márcio, conversa

com vários alunos da escola, não havia nenhum tipo de problema de aceitação.

Os alunos desta turma em sua maioria possuíam lugares fixos na sala de aula,

sendo alterados em algumas ocasiões por determinação das professoras, no intuito

de evitar brincadeiras e conversas durante as aulas e para manter a ‘disciplina’. A

sala de aula era organizada em fila, sendo o livro didático o principal recurso

utilizado.

Durante as aulas pude observar alguns alunos, desenhando personagens de

desenhos animados, brincando com o colega do lado, algumas meninas olhando

revistas. O número de alunos na pauta escolar era de 36, sendo que regularmente

freqüentavam uma média de 33 alunos.

Escola B

Na escola B, estudou o aluno Fábio (15 anos) com a professora Rosângela.

Tratava-se de uma 3ª série. Nesta escola foi implantado um período de reforço,

visando auxiliar os alunos que apresentavam maiores dificuldades. Na sala de aula

onde lecionava a professora Rosângela, os alunos não possuíam lugares pré-

estabelecidos. A posição das carteiras era altera sempre que necessário. O aluno

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Fábio sentava-se tanto sozinho, como com um colega ou mesmo em grupo. Em

algumas atividades os alunos sentavam-se no chão como no momento dos jogos, ou

de confeccionar maquetes, dentre outros.

No momento do recreio o Fábio, habitualmente brincava de bolinha de vidro, de

pique, ou mesmo ficava conversando com outros alunos da escola.

Na sala de aula do Fábio, havia 26 alunos registrados na pauta escolar, sendo que

regularmente freqüentava uma média de 23 alunos.

Escola Especial

Na escola especial, os alunos desenvolviam atividades próprias do currículo das

escolas comuns (português, matemática, história, ciências), além de aula de artes,

informática, educação física e atividades na brinquedoteca (espaço reservado para a

utilização de jogos e brincadeiras).

Nesta escola, tanto na sala de aula da professora Cristina onde estudavam Rodrigo

e Márcio, quanto na sala da professora Geovana com o aluno Fábio, os alunos não

possuíam uma forma pré-determinada de organização na sala de aula. Os alunos

interagiam tanto com a professora, como com os demais alunos da turma.

Na sala da professora Geovana estavam registrados na pauta escolar 20 alunos. Na

pauta da professora Cristina constavam 19 alunos. Todos os alunos destas turmas

freqüentavam outras escolas comuns, e não eram atendidos na escola especial

todos os dias. Os grupos de alunos se revezavam, de acordo com um calendário

pré-estabelecido, de forma que em cada dia as professoras trabalhavam no máximo

com 10 alunos em sala de aula.

As atividades desenvolvidas com cada um dos alunos observados na escola

especial e na escola comum serão apresentadas, com destaque para eventos que

pareceram mais significativos: mudanças de conduta observadas, interesse ou

desinteresse provocado pelas atividades, interações das crianças normais com as

especiais ou destas com a professora por iniciativa própria ou por iniciativa da

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professora, dificuldades e estratégias empregadas pelas crianças para resolver

situações - problemas propostas pela professora (da escola especial e comum).

Começarei por apresenta inicialmente cada um dos alunos especiais. Em seguida

vamos analisar o que foi sendo proposto a cada um deles nos dois espaços

escolares que freqüentavam.

4.9) Rodrigo

Rodrigo tinha 12 anos de idade, estudava na Escola A, no turno matutino e na

escola especial no vespertino. Sua mãe o levava as escolas. No ano letivo de 2005

ficou sem freqüentar as aulas de ambas as escolas durante praticamente todo o mês

de junho. A mãe afirmou que não o levava às escolas, porque ele não queria.

Rodrigo caminha e tem movimentos lentos. Segundo a neurologista da escola

especial, ele apresenta atraso no desenvolvimento. Dificilmente conversava com

seus colegas nas escolas, comunicando-se normalmente por meio de gestos. Cabe

ressaltar, que ele não apresentava qualquer limitação em seu aparelho fonador.

A seguir serão apresentados os dados analisados: o desenvolvimento da oralidade e

da escrita, as atividades numéricas, bem como as representações através de

desenho feito por Rodrigo, nas duas escolas.

4.9.1) O trabalho de oralidade desenvolvido com o Rodrigo

Devido à dificuldade de se comunicar verbalmente o que compromete

necessariamente a escrita, as professoras tanto da escola especial, como da escola

comum formulavam questões para incentivar Rodrigo a se expressar. Isso pode ser

ilustrado com o trecho de diálogo que se segue, envolvendo a professora Cristina,

da escola especial:

A professora iniciou a aula dizendo que gostaria de ouvir todos falarem como havia

sido o final de semana. Os alunos (havia sete alunos presentes) estavam

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organizados em fila na sala de aula, pois a sala estava arrumada dessa forma

quando chegaram. Como pode ser comprovado na imagem que segue:

Professora: - Cada um fala o que fez. O Junior disse que dormiu, o Renato que tomou suco.

Professora: - E você Rodrigo o que fez, no seu final de semana?

Rodrigo: - Brincou!

Professora: - Brincou de que?

Rodrigo: - Carrinho, Bola!

Professora: - Onde?

Rodrigo: - Na rua,

Professora: - Quem brincou com você?

Rodrigo: - Meu irmão!

Professora: - Qual o nome dele?

Rodrigo: - Danilo!

Professora: - O que você fez mais?

Rodrigo: - Tomou banho!

Professora: - O que você fez mais?

Rodrigo: - Fui à igreja!

Professora: - Foi à igreja? Que louvor cantou na igreja? (ela espera o Rodrigo falar) Canta Rodrigo só

um pedacinho! (ele não cantou) Depois da igreja você foi para onde?

Rodrigo: - Para a casa da minha tia!

Professora: - O que tinha lá?

Rodrigo: - Arroz,

Professora: - Mais o que?

Rodrigo: - Feijão!

Professora: - Mais o que?

Rodrigo: - Ovo, lingüiça,

Professora: - E depois de jantar o que você fez?

Rodrigo: - Dormi!

Professora: - Você dormiu na casa da sua tia e depois você fez o que?

Rodrigo: - Fui pro parque!

Professora: - Com quem?

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Rodrigo: - Minha mãe!

Professora: - O que tinha no parque?

Rodrigo: - Roda gigante!

Professora: - Você andou?

Rodrigo: - Andei!

Professora: - Com quem?

Rodrigo: - Minha mãe!

Professora: - Seu final de semana, foi bom, regular ou ótimo?

Rodrigo: - Bom!

(Diário de campo: 06/09/2005)

A professora comentou que o final de semana do Rodrigo foi bom. Em seguida,

pediu a alguns que fizessem um desenho sobre o que comentaram, outros deveriam

escrever o que disseram.

Pudemos perceber que Rodrigo tinha conhecimento das atividades que

desenvolveu. No entanto, não forma frases, não as expressa de forma a estabelecer

um diálogo com a professora. De acordo com Bakthin (2003), o enunciado é um elo

na cadeia da comunicação discursiva, sendo determinado pela alternância dos

sujeitos no discurso. Ficou nítido no diálogo apresentado, que Rodrigo não

estabeleceu um elo discursivo com a professora. Essa por sua vez tenta

restabelecer uma cadeia discursiva ao elaborar novas questões, sem muito sucesso.

Na escola comum, pude observar que diálogos como esse não aconteciam com

freqüência, porém as professoras também solicitavam a Rodrigo que se

comunicasse verbalmente. Quando faziam a chamada aguardavam que ele

respondesse; quando queria ir ao banheiro pediam que dissesse aonde desejava ir.

4.9.2) Atividades de leitura e familiaridade com a representação escrita

Escola Especial

Na escola especial a professora Cristina fez um alfabeto em uma folha de chamex e

sentou-se ao lado do Rodrigo (Diário de campo: 07/03/2005).

Ela disse: o r com a letra a é o ra!

Professora: - Vou falar para você a história do seu nome essa é a letra r se eu junto com o forma o?

Rodrigo: Ro!

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Quando a professora questionava o Rodrigo sob as sílabas do seu nome ele

respondia.

Por exemplo professora: - g com o tem que som?

Rodrigo demorou um tempo e disse: - Go!

Professora: - ai vem a letrinha O e completa o seu nome!

A professora fez a mesma atividade com o aluno Gabriel. Em seguida pediu aos

alunos Rodrigo e Gabriel que sentassem juntos, pois ela faria uma atividade com

eles. Cristina fez um alfabeto na folha de chamex e circulou as letras do nome deles

na folha, depois em jornal e revista para recortarem.

Os alunos formaram os nomes seguindo o modelo estabelecido pela professora.

No mês de outubro e novembro, quando a professora estava trabalhando o projeto

literatura infantil, em vários momentos solicitou ao Rodrigo que recortasse de jornais

e revistas às letras que compõem os nomes dos personagens de Mauricio de Souza:

Mônica, Cascão, Cebolinha, Magali dentre outros.

Normalmente, para realizar esse tipo de atividade Rodrigo necessitava de um

modelo. Por esse motivo a professora escrevia o nome dos personagens em uma

folha de chamex. Em seguida dava jornais e revistas para ele recortar as letras e

formar os nomes dos personagens. Segundo o relato da ficha de desenvolvimento

pedagógico da escola especial, neste projeto Rodrigo conseguiu avanços

consideráveis, uma vez que conhecia os personagens das histórias em quadrinhos.

A professora aproveitou para trabalhar vários aspectos como o desenho, a escrita e

mesmo a oralidade. Nesse momento, Rodrigo já relatava as histórias em quadrinhos

de uma forma própria e seguindo uma seqüência.

Na escola comum atividades de familiarização com a escrita não foram observadas.

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4.9.3) A representação por meio do desenho

O desenho é uma possibilidade de trabalhar a coordenação motora das crianças,

sua capacidade de atenção, bem como a concentração, além do conhecimento de

cores e formas. (FONTANA e CRUZ, 1997). Vejamos como este tema foi tratado nas

escolas por ele freqüentadas.

Escola Especial

No dia 31 de agosto de 2005, a professora Cristina contou a história do “pássaro da

sorte”. Em seguida pediu aos alunos que falassem o que entenderam e depois

solicitou que desenhassem sobre a história. Na imagem que segue poderá ser

observado o desenho realizado por Rodrigo nessa atividade.

Em um outro momento, tendo como tema a preservação ambiental a professora

Cristina elaborou algumas atividades: primeiro fixou no quadro dois cartazes, onde

estavam as seguintes músicas:

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A canoa virou e deixou de virar foi por causa de [...] que soube remar. Se eu fosse peixinho e soubesse nadar eu tirava [...] do fundo do mar.

No outro cartaz estava:

A canoa não navegou porque não pode navegar foi por causa do lixo que encheu o rio e o mar se eu fosse ambientalista e pudesse reivindicar, educava as pessoas para não sujar o rio e o mar.

Logo em seguida ela entregou uma folha de chamex dobrada para que os alunos

desenhassem o que entenderam da música.

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Esse foi o desenho do Rodrigo, segundo ele seria uma canoa. (Diário de campo: 15/08/2005).

Rodrigo representava alguns dos elementos do que ouvia, sem integrá-los em um

todo significativo. Na primeira atividade ele se propôs a desenhar um barco, um

carrinho, o sol, um boneco, e uma bolinha, e, na segunda atividade, uma canoa.

Segundo Vigotski (2003c), os primeiros desenhos surgem como resultado de gestos

manuais, sendo o gesto a primeira representação do significado. Só após algum

tempo a representação gráfica começa a designar um objeto. Os desenhos de

Rodrigo, porém, não apresentavam uma forma bem definida. Os objetos começavam

apenas a se diferenciar uns dos outros.

Escola Comum

Normalmente as atividades desenvolvidas com Rodrigo na escola comum giravam

em torno da pintura de formas geométricas, ou do desenho de trajetos. Na foto

abaixo, a professora Elizabete havia pegado sob a mesa do Rodrigo um livro

didático e escolheu uma atividade onde ele deveria seguir um caminho, levando a

cenoura para o coelho comer.

Ela disse: - “Pinta o caminho! O coelhinho está com fome! Você tem que levar ele para comer a

cenoura. Então pinta para ele não ficar com fome!”

Em outro momento ela disse: - Só dentro Rodrigo, não pode sair para fora, não!

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(Diário de campo: 16 de agosto de 2005)

Enquanto isso, os demais alunos realizavam atividade de português respondendo a

questões de interpretação de texto, no livro didático. Não se observou qualquer

interação de Rodrigo com os demais alunos da turma, no desenrolar das atividades.

A professora mudava sua forma de falar ao se dirigir a Rodrigo. Ficava implícito na

fala da professora um tratamento infantilizado para com ele, tratando-o como criança

de pré-escola.

Segundo Vigotski (1989), as pessoas com deficiência são pessoas como as outras,

devendo ser tratadas como iguais. Ainda de acordo com Bakthin (2003), quando

falamos devemos levar em consideração o destinatário do discurso, para quem se

destina à enunciação. No caso da professora Elizabeth, ao falar com Rodrigo,

apesar dele não ser uma criança pequena era tratado como sendo. Ela não

considerava a idade de Rodrigo (12 anos de idade). Ao falar com ele, ela se

expressava como se falasse com uma criança pequena.

Quanto às atividades propostas a Rodrigo, na escola comum, em várias ocasiões, as

duas professoras buscavam trabalhar a noção de limite (caminho percorrido e

pintura de formas bem definidas - quadrados, círculos, etc), por meio da pintura,

assim como o reconhecimento de cores e mesmo a coordenação motora envolvendo

as mãos, aparentemente no intuito de favorecer o futuro desenvolvimento da escrita.

Esse tipo de atividade é comumente desenvolvido na pré-escola. As duas

professoras apesar de desenvolverem atividades diferenciadas para o restante da

turma, não propunham tarefas diferenciadas para Rodrigo, em conexão com o que

estavam trabalhando com o restante da turma.

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4.9.4) O trabalho de atividades numéricas desenvolvido com Rodrigo

Escola Especial

Na escola especial a professora Cristina deu um material para Rodrigo selecionar,

objetivando trabalhar as cores e o tamanho dos objetos (pequeno, médio e grande),

como mostra a foto abaixo.

(Estava escrito nos pedaços de papéis o nome dos objetos: carro, bala, árvore, menina, bala, coelho,

pato, peixe, diário de campo: 22/08/2005).

A professora entregou as gravuras ao Rodrigo, todas desorganizadas e pediu que

ele as organizasse. A princípio ela não deu nenhum tipo de sugestão de como ele

deveria realizar a atividade. Contudo, como não havia um modelo a ser seguido, ele

se mostrou um pouco resistente. Acabou por realizar a atividade com a intervenção

da professora, que pediu que ele separasse os objetos semelhantes. Ela deu um

exemplo e ele terminou a tarefa. No final, ela questionou verbalmente ao Rodrigo

sobre as cores e o tamanho dos objetos. Percebemos que Rodrigo reconhecia todos

os objetos e identificava as cores, no entanto não distinguia objetos pequenos de

objetos grandes.

Nesta atividade Rodrigo separou os objetos levando em consideração a cor. A

Observou-se que ele não representava as noções topológicas como: dentro, fora,

em baixo, em cima, perto, longe, etc. Isto foi objeto de troca de informação entre a

pesquisadora e a professora. Ambas concordaram com este diagnóstico.

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Visando trabalhar as noções topológicas a professora, encenou com os alunos da

turma o que seria estar perto, longe, dentro, fora, em cima, em baixo. Ela pediu a

alguns alunos que ficassem longe do Rodrigo, a outros que ficassem próximos.

A professora perguntou a Rodrigo o que estava em cima da mesa. Ele não

respondeu. Foi então que ela propôs outro tipo de atividade topológica: pintar o

interior de um círculo de azul, o que poderá ser observada na imagem que segue:

(Diário de campo: 26/10/2005)

Na atividade a professora escreveu e leu para Rodrigo. “Pinte o desenho como se

pede: dentro de azul”.

Rodrigo pintou dentro do circulo de azul, sem dificuldade e com muita atenção.

Em seguida, ele deveria pintar fora de um outro circo, também em azul. Rodrigo

pintou a parte inferior do círculo, do lado de fora, seguindo a linha do caderno como

pode ser observado na imagem acima. Ele se impôs um limite espacial, não previsto

na atividade.

Outras atividades propostas pela professora foram: (1) pintar o quadrado que estava

mais longe do quadrado amarelo (havia diversos quadrados desenhados); (2) pintar

o menor circulo e (3) pintar o maior quadrado. O Rodrigo realizou todas as atividades

com a ajuda da professora.

Uma outra atividade que envolvia a classificação foi proposta pela professora. Ela

sentou-se ao chão com os alunos em circulo, e colocou no meio da roda tampas de

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cores e tamanhos variados. As tampas eram de refrigerante, de pasta de dente, de

remédio, perfume, etc. A professora pegou uma tampa e pediu aos alunos que

escolhessem uma característica da mesma e pegassem dentre as demais tampas

uma semelhante.

Alguns alunos, dentre eles o Rodrigo, tiveram dificuldade em realizar a atividade.

Normalmente quando escolhiam a característica correta, estava relacionado à cor da

tampa (Diário de campo: 14/09/20065).

No que tange as atividades apresentadas pela professora da escola especial

pudemos concluir que estavam próximas da realidade de Rodrigo. Ela buscou

diferentes formas de ensinar o mesmo conceito, o que facilita o processo de

aprendizagem. No dia 09 de novembro de 2005, a professora questionou novamente

ao Rodrigo sobre quem estava próximo a ele e quem estava longe. Outras questões

de natureza topológica também foram feitas. Nesse momento ele acertou em

algumas respostas (quem estava longe) e errou em outras. Percebemos que ele

encontrasse em processo de formação destas noções topológicas.

Escola A

No que diz respeito, a atuação das professoras da escola A na aquisição do

conhecimento numérico, com exceção do momento de uma atuação da professora

itinerante, não observei nenhuma atividade, que envolvesse a matemática.

A professora itinerante atuou muito poucas vezes na escola A. No dia 16 de agosto

de 2005, ela sentou-se em uma carteira no fundo da sala com Rodrigo.

Enquanto isso, os demais alunos faziam atividade de matemática que envolvia retas,

paralelas e ângulos. No quadro estava escrito:

Correção de matemática - página 101.

Atividade de nº 3 e 5 da página 102.

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Neste momento a professora itinerante escreveu no caderno do Rodrigo números de

1 a 9. Entregou-lhe um livro didático antigo, para que ele recortasse esses números

e colasse no caderno, como pode ser confirmado na foto abaixo:

Ela o orientava, falando: - bem devagar! Devagar, isto! Agora cola, vai! Assim não! Está de

cabeça pra baixo!

Após ter recortado todos os números com ajuda da professora - ela indicava quais

números ele deveria recortar - ela pediu que ele mostrasse (apontando), onde

estavam os números 1, 3, 7. O Rodrigo não acertou nenhum número. Ele apontou

para outros números.

Na atividade seguinte a professora escreveu no caderno do Rodrigo, números de 1 a

5, de um lado do caderno no outro lado desenhou uma quantidade especifica de

bolas que representavam os números, em seguida pediu a ele que ligasse o número

à quantidade. Ele não conseguiu realizar a atividade. Demonstrava não entender o

que a professora desejava que ele fizesse.

Em seguida a professora passou a trabalhar com o Rodrigo um quebra-cabeça

envolvendo diferentes formas de representação do número, pelo símbolo ou

quantidade como pode ser observado na imagem.

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Nesta atividade Rodrigo conseguiu realizar a montagem do número um. As demais

peças foram organizadas com o auxílio da professora.

Percebemos que Rodrigo ainda não assimilara o conceito de número. A

aprendizagem deste conceito não se aprende por meio de uma simples contagem

rotineira, nem graças à associação de símbolos a uma determinada quantidade de

objetos desenhados, nem graças a uma aprendizagem de regras de combinação de

algarismos, operadas de forma mecânica. A idéia de número, está relacionada a

duas operações lógicas: classificação (juntar por semelhança e separar por

diferença) e seriação (ordenação de elementos). Não são conceitos que possam ser

dados através de símbolos falados e escritos que, de tanto ouvir e repetir, a criança

passe a compreender as idéias que cada conceito possui.

A conquista desses conhecimentos ocorre por meio de operações abstratas,

realizadas em pensamento, sendo o resultado da experimentação, simulação de

situações, observação de modelos, manipulação de objetos. Segundo Santos (1998)

o “número é a designação de uma classe de coleções que têm a mesma quantidade

de elementos e que ocupa um lugar em uma série, ou seja, o número não é

conhecimento físico: é conhecimento lógico-matemático” (p. 26).

Nesse sentido, ficou evidenciado que as atividades propostas pela professora

itinerante estava distante da realidade cognitiva de Rodrigo. Ela sequer testou se ele

sabia contar uma coleção de objetos, o que precede um trabalho de representação

escrita dos números.

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Durante o momento em que Rodrigo realizava as atividades os demais alunos da

turma estavam em silêncio fazendo atividade de matemática, proposta pela

professora. A professora itinerante, por sua vez, não interagiu com a professora da

sala ou com os demais alunos da turma.

4.9.5) Principais mudanças observadas no Rodrigo em 2005

Na escola comum, no dia 20 de outubro de 2005 a professora Elizabete chamou a

atenção do Rodrigo, pois ele estava brigando com os alunos, que reclamaram. Ele

batia nas costas dos colegas e ficava sorrindo. Na escola especial ele jogou papel

no ventilador, bateu em um colega de sala, jogou a borracha no chão, atitudes que

não eram observadas no inicio do ano, quando Rodrigo era visto como apático pelos

professores.

Essas atitudes não aconteceram somente neste dia. Ele passou a se comunicar

dessa forma com os demais alunos, no final do ano. Tentava o contato com o outro,

por meio da brincadeira. Pude perceber que Rodrigo não sabia brincar de uma forma

socialmente aceitável. Quando batia em um colega ficava rindo. Passou a tentar

estabelecer uma relação não mais por meio de gestos, mais batendo.

O brincar segundo Cruz e Fontana (1997) não é apenas uma forma de aprender, é

muito mais que isso. É experimentar-se, relacionar-se, imaginar-se, expressar-se,

compreender-se, confrontar-se, negociar, transformar-se.

Outra mudança constatada pela professora da escola especial diz respeito à forma

como Rodrigo desenhava no inicio do ano. Observe o desenho foi realizado em

fevereiro de 2005, quando a professora escreveu para Rodrigo desenhar sua

brincadeira favorita:

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(Atividade retirada do caderno do aluno).

Já em outubro quando a professora solicitou que ele realizasse um desenho livre o

tipo de traçado foi alterado. Na segunda imagem, podemos perceber que o desenho

de Rodrigo tem um traçado com maiores definições. Ele desenhou os personagens

infantis, Mônica, Cebolinha e Cascão:

(Atividades retiradas do caderno do aluno, realizadas em 11/10/2005).

Pudemos perceber certo desenvolvimento na forma dos desenhos. Na primeira

imagem em alguns momentos ele ainda faz alguns rabiscos sem significado

aparente, mas tenta formar gravuras, com o recurso de figuras fechadas. Já na

segunda imagem, observa-se que a atividade de representar os personagens da

turma da Mônica, facilitou a representação gráfica, pois os personagens em questão

já faziam parte do universo cultural de Rodrigo.

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As formas passaram a apresentar maiores definições. Isso não chegou a

representar uma mudança no nível de desenvolvimento do desenho, de acordo com

classificação utilizada por Luquet (1969), Rodrigo encontra-se na fase denominada

de “incapacidade sintética”, onde a criança reconhece que os objetos possuem

formas e passam a reproduzi-las, neste sentido os desenhos ganharam contornos

mais definidos e diferenciados.

Outra atividade em onde se pode observar avanços no processo de aprendizagem

de Rodrigo foi proposta pela professora Cristina, da escola especial em 19 de

outubro de 2005, na disciplina de matemática, quando Rodrigo conseguiu,

representar as quantidades que a professora havia proposto.

Na atividade a professora escreveu: 2 bolas e representou com dois círculos,

Rodrigo deveria desenhar os dois círculos, em seguida continuar a atividade com os

números 1, 3, 4, 5, 6, 7 e 8. Como pode ser constatado na imagem que segue:

(Atividade do caderno de Rodrigo em 19 de outubro de 2005)

Consideramos aprendizado, tendo em vista que em atividades anteriores ele não

representava a quantidade da maneira que era proposto. Nesta ocasião, ele fez os

círculos correspondentes a cada termo, fazendo com isso uma representação termo

a termo das quantidades propostas. O aluno começou assim a adquirir certo domínio

da contagem de pequenos números, relacionando-os a sua representação escrita. A

professora escreveu no caderno de Rodrigo, PARABÉNS! ADOREI!

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4.9.6) Avaliação e promoção de Rodrigo

As atividades relatadas mostram que a escola especial trabalhou conteúdos mais

significativos e desafiantes para Rodrigo, pois a professora explorava seu

conhecimento prévio, As atividades estavam mais voltadas para ajudá-lo a

desenvolver a oralidades e a entender o significado da representação escrita,

através de desenhos significativos, de representação de quantidades e familiaridade

com letras e fonemas (relacionados ao seu nome). O conteúdo era motivador para o

aluno. Na escola comum as atividades eram sempre de mesmo tipo e não

motivavam o aluno. Ele desenvolveu, apenas condutas mais interativas com as

outras crianças. Como estas costumavam driblar a atenção das professoras e jogar

pequenos objetos umas nas outras, levando as professoras a lhes chamar a atenção

ou a trocá-las de lugar, Rodrigo, também passou a desenvolver pequenas condutas

irreverentes. Nenhum outro tipo de aprendizagem foi observado na escola comum,

apenas um certo nível de rompimento do isolamento, que levava os colegas a rir ou

se queixar dele junto às professoras.

No ano de 2006, Rodrigo continua na escola especial, no turno matutino. Na escola

comum ele foi aprovado rotineiramente para a quinta série. A preocupação da escola

é apenas de natureza burocrática. Não se observou qualquer tentativa da escola A

de levar Rodrigo a aprender coisas novas ou desafiantes.

4.10) MÁRCIO

O Márcio tem 12 anos, estuda na escola A pela manhã, na mesma sala de aula do

Rodrigo. A tarde freqüenta a escola especial, onde participa da capoeira, da banda

fanfarra, além de receber atendimentos clínicos: psicólogo e fonoaudiólogo.

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Márcio tem grande potencial de comunicação, demonstrando ainda interesse por

aparelhos como: telefones celulares, máquinas fotográficas, DVD e mesmo

automóveis. Ele sabe manipular corretamente os aparelhos mencionados, tendo

conhecimento do processo de funcionamento de um carro como, por exemplo: o que

devemos fazer para dar a partir, o que é a aceleração, a localização dos pedais

(freio, embreagem e acelerador), a utilização dos faróis, dentre várias outras

funções.

Na escola comum em vários momentos presenciei o Márcio dormindo na carteira até

o momento do recreio. Ele chegava à escola e dormia. As professoras permitiam que

ele dormisse tranqüilamente. Para os alunos da turma isso era natural, ninguém o

interrompia neste momento. Quando o Márcio acordava as professoras pediam que

ele lavasse o rosto e fosse para o recreio, ou que fosse fazer alguma atividade.

Segundo as professoras, Márcio dormia em sala por assistir televisão até a

madrugada. Ele comentava durante a aula que havia ficado acordado por esse

motivo. Nenhum outro aluno da sala de aula tinha esse tipo de conduta.

As pessoas que o acompanhavam à escola especial eram sua mãe ou a avó. Para a

escola comum ele ia sozinho, pois morava próximo à escola. No que se refere, à

freqüência do Márcio no ano letivo de 2005, ele faltou duas semanas, no mês de

junho de 2005, pois sua avó ficou hospitalizada, não podendo levá-lo para a escola.

No mês de agosto ele faltou durante uma semana. Nessa ocasião, Márcio quem

ficou internado em um hospital.

A seguir serão apresentadas as atividades desenvolvidas com o Márcio no ano letivo

de 2005, nas duas escolas (especial e comum).

4.10.1) A representação por meio do desenho

Escola Especial

Na escola especial a professora contou no dia 31 de agosto de 2005 a história do

“Pássaro da Sorte”. Em seguida, solicitou aos alunos que desenhassem o que

entenderam da história, o desenho abaixo foi realizado por Márcio.

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Podemos perceber que as formas humanas já estão começando a serem

estabelecidas, no entanto as pessoas possuem pernas, mas não tem braços nem

pescoço. O nível do desenho de Márcio é, portanto mais avançado do que o de

Rodrigo, no entanto ele também se encontra de acordo com a classificação de

Luquet (1969) na fase da incapacidade sintética.

4.10.2) O trabalho de escrita desenvolvido com o Márcio

No inicio do ano letivo de 2005, Márcio sabia escrever seu nome completo,

reconhecia a maioria das letras do alfabeto, narrava a seqüência de uma história,

segundo a professora da escola especial. Reconhecia também, seu próprio corpo

assim como as funções de diversas partes do corpo, sabendo ainda o nome do seu

bairro, do município, bem como o do país.

Escola especial:

Apesar do Márcio reconhecer todas as letras, ele não formava palavras completas

como pode ser verificado com a atividade proposta pela professora Cristina, no 23

de maio de 2005, onde a mesma mostrou a imagem de um carro e solicitou ao

Márcio que escrevesse o nome de cinco partes daquele carro. Ele então escreveu:

o a, que significava roda,

froal que seria farol,

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po a, que corresponde a porta

porta mala

mot, para motor

A professora o auxiliou e ele reescreveu as palavras corretamente, como pode ser

percebido na imagem abaixo:

(Diário de campo 23/05/2006)

Essa atividade merece destaque, uma vez que a professora observando o interesse

do aluno por veículos a elaborou para atender ao conhecimento prévio do mesmo.

Márcio fez a atividade com prazer esforçando-se para não errar.

No final da atividade, ele pediu à professora se poderia escrever a cor do carro

(vermelho). Ela disse que sim, Márcio teve dificuldade na escrita da silaba “lho”, a

professora pronunciou várias vezes para que ele tentasse escrever, no entanto ele

não conseguiu. Então ela escreveu a palavra e ele copiou.

Outras atividades de português trabalhadas com o aluno Márcio poderão ser

visualizadas nas imagens que segue:

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(imagem 01) (imagem 02) (imagem 03)

(urubu, bem-te-vi, águia, pavão, pato, imagem 04)

Na imagem número 01, a professora entregou aos alunos uma folha de papelão com

quatro gravuras de objetos. Os alunos deveriam formar o nome utilizando o alfabeto

móvel. Normalmente o Márcio tinha dificuldade com algumas palavras como:

geladeira, vassoura, televisão. Nesse momento a professora o ajudava, sempre

falando a palavra e pedindo que o Márcio prestasse atenção no som e no número de

vezes que ela abria a boca.

Na imagem número 02, a professora apresentava ao aluno gravuras de objetos,

animais, pessoas conhecidas e dava silabas, pedindo que eles formassem os

nomes. Márcio conseguiu em alguns casos em outros pedia ajuda à professora ou

aos colegas, porém sempre realizava a atividade e festejava quando conseguia

formar a palavra.

Já na imagem de número 03 o Márcio deveria ler o que as gravuras significavam.

Ele realizava esse tipo de atividade com prazer. A professora comemorava, pois ele

sempre acertava, após um período de tentativas.

Márcio costumava pedir a professora para realizar esse tipo de atividade. Em alguns

momentos apresentava dificuldades que eram sanadas com o auxilio da professora.

Na imagem de número 04, a professora contou a história do “Pássaro da Sorte”, dia

31 de agosto de 2005 e pediu ao Márcio que escrevesse o nome de cinco pássaros,

enquanto para outros alunos ele pediu que desenhassem ou reescrevessem a

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história. O Márcio escreveu com ajuda de um colega os seguintes nomes: urubu,

bem-te-vi, águia, pavão e pato.

Na atividade realizada com os alunos pela professora Cristina no dia 15 de agosto

de 2005, ela cantou a música da Canoa, apresentada anteriormente, no caso do

aluno Rodrigo. Para o Márcio a professora disse: - além da canoa quais outros meios de

transporte se utiliza no mar, no rio. Vocês vão escrever.

A professora pediu aos alunos Elias e Márcio que escrevessem o nome de três

meios de transportes marítimos. Márcio escreveu com ajuda da professora, navio,

submarino e iate.

Os alunos se auxiliaram, no que diz respeito a que meio de transporte estariam

escrevendo. A professora teve que intervir na forma como eles deveriam escrever.

A interação entre os alunos era constante na escola especial, como poder ser

constatado com a atividade do dia 01 de agosto de 2005.

A professora contou a história “Festa no Céu”, e pediu ao Márcio que escrevesse o

nome dos personagens.

No mesmo momento o aluno Elias terminava algumas atividades que havia deixado

por fazer no caderno.

Em um determinado momento, Elias sabia que deveria escrever a silaba Ra. Só não

sabia como fazer e o Márcio ensinou.

Márcio: - É o R e o A!

Em um outro momento o Márcio não sabia fazer o Ba e o Elias disse: - É o b e o a!

O Elias então disse: - Tá vendo tia, aqui é um ensinando o outro! (falou sorrindo).

(Diário de campo)

Podemos analisar desde já dois pontos fundamentais nas atividades apresentadas.

O primeiro seria o fato de cada aluno estar fazendo uma atividade de acordo com

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sua singularidade. Com isso percebemos o respeito às peculiaridades de cada

pessoa. O segundo ponto diz respeito às possibilidades de interações dos alunos.

Eles se ajudavam mutuamente e demonstravam capacidade de interação, tão bem

analisada por Vigotski (2003c), ao falar da zona de desenvolvimento potencial.

Aprendizagens podem ocorrer a partir da intervenção de um adulto no caso da

professora ou mesmo de uma criança, como pode ser percebido nessa última

atividade onde os alunos Márcio e Elias se auxiliavam em momentos diferentes.

Constatamos de uma forma geral que as atividades apresentadas pela professora

Cristina ao aluno Márcio estavam provocando em alguns momentos conflitos que

eram resolvidos ora pela professora, ora por outro aluno, gerando aprendizagens.

Escola A

Após ter participado de uma visita à escola especial, já relatada (palestra oferecida

aos professores da rede municipal para Escola Especial) a professora Solange da

escola A, observou algumas atividades desenvolvidas com Márcio na escola

especial e resolveu implementar uma delas, como pode ser observando na imagem

abaixo.

Nessa atividade o Márcio deveria recortar encartes de objetos cujos nomes a

professora havia escrito em uma folha de chamex. Ele fez a atividade sem muita

dificuldade. Em alguns momentos recorreu à professora questionando: - Tia, e agora?

Quando Márcio questionava, a professora desejava saber qual era o objeto que ele

queria recortar. A professora apontava objeto, ele recortava e colava. Márcio fez

toda a atividade com o auxilio da professora.

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(Diário de campo: 23/09/2005)

Enquanto o Márcio fazia essa atividade, os demais alunos da turma copiavam as

datas das provas que aconteceriam na semana seguinte.

No dia 29 de setembro de 2005, o Márcio deveria recortar de um encarte os objetos

que faziam parte de sua sala, em casa. Em seguida ele deveria escrever o nome

destes objetos.

O Márcio se empolgou para fazer a atividade. Ele recortou DVD, televisão, sofá,

telefone. Para escrever os nomes dos objetos, buscou seu caderno onde a

professora havia escrito a palavra televisão anteriormente. A professora não permitiu

que ele olhasse. Ela o auxiliou a escrever o nome dos objetos, sem copiar dos

anteriores. Ele fez a atividade com a ajuda da professora.

Nesta atividade não houve interação de Márcio com os demais alunos da turma, pois

os alunos estavam fazendo prova de história.

Percebemos que o conteúdo era motivador para o aluno. Ele se mostrou estimulado

a recortar e escrever o nome dos objetos que faziam parte da sala de sua casa.

4.10.3) O trabalho de atividade numérica desenvolvido com Márcio

Escola especial

No dia 04 de março de 2005 a professora Cristina falou para o Márcio que ele

deveria somar. Ela escreveu no seu caderno, tendo dado várias tampinhas de

refrigerante para ele utilizar durante a atividade:

Vamos Somar:

Márcio assim resolveu a questão sem o auxilio da professora):

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8 + 2 = 10

5 + 2 = 7

4 + 2 = 6

5 + 2 = 7

6 + 2 = 8

9 + 2 = 8 (erro)

10 + 2 = (sem resposta)

Enquanto resolvia a atividade o Márcio disse: - oito mais dois é igual a dez, deu dez!

Professora Cristina: - Márcio é fera!

Pode-se perceber que a professora variou a primeira parcelar e manteve a segunda

com o número 02. Márcio não teve dificuldade com os números até oito. Já no nove

ele não soube responder. Diante da expressão 10 + 2, que ele nem deu uma

resposta, pois se limitava às somas que resultavam em valores inferiores a dez.

Márcio reconhece os números até dez, operando apenas com a soma,. No dia 09 de

maio de 2005, a professora passou uma atividade semelhante a primeira onde

constava:

Arme e efetue:

4 + 1 = 5

2 + 2 + 2 = 6

1 + 1 = 2

2 + 1 = 3

Nessa atividade ele também utilizou as tampinhas, no entanto não teve grandes

dificuldades em realizar as operações, uma vez que os números eram inferiores a

dez.

Outras noções matemáticas foram trabalhadas como menor, maior e a organização

de uma seqüência. No entanto, nenhuma atividade mais significativa, envolvendo

problemas numéricos, foi observada. Não foram propostas atividades de desafio. As

atividades com números não eram associadas a situações do cotidiano do aluno ou

a atividades que provocassem seu interesse.

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Escola A

Na escola A, no dia 29 de setembro de 2005, a professora Elizabete, auxiliou ao

Márcio a fazer uma atividade onde ele deveria colocar o antecessor e sucessor dos

números de 0 à 8. Em seguida ela também o auxiliou a fazer a atividade de ligar

pontos para formar objetos: casa, barco, camisa e televisão. Ambas atividades

podem ser observadas nas imagens abaixo:

Enquanto, o Márcio realizava essas atividades com o auxilio da professora os

demais alunos da turma faziam prova de história.

Já no dia 03 de agosto de 2005, no momento que a Professora Elisabete disse: -

Pessoal eu vou dar mais três minutos. Depois vamos passar para matemática!

Márcio: - Ih! Meu caderno de matemática ‘tá’ quase acabando, tia!

Enquanto, os alunos terminavam a atividade de ciências o Márcio explicava para a

professora que, a Tim era a melhor operadora de celular, porque se ele cadastrasse

outras três pessoas poderiam falar de graça até o final do ano. A professora

concordou com o Márcio. Em seguida ela escreveu no quadro:

Atividade:

1) Resolva as divisões:

a) 86: 2 88:4 612:6 475:6 755:5 68:4

A atividade proposta a Márcio foi a de pintar os círculos de amarelo, os triângulos de

vermelho e os quadrados de azul. Enquanto, ele realizava a atividade ele falava do

seu celular, A professora finalmente solicitou que ele parasse de falar sobre aquele

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assunto. Ele orientou Márcio para pintar da melhor forma, não deixando

ultrapassando os limites.

Durante a aula de matemática Márcio demonstrou a preocupação em acompanhar a

turma, quando disse que seu caderno de matemática estava acabando. No entanto,

como a atividade dele era diferente, continuou falando sobre o celular, pois esse era

o assunto que o interessava naquele momento. Pintar formas geométricas não era

uma atividade significativa ou desafiadora para Márcio.

A professora em um determinado momento, após observar a forma como o Márcio

se expressava ao falar do celular comentou: -“ O Márcio tem tudo para aprender a ler”.

As professoras de sala de aula e a itinerante, que estava presente nesse dia,

comentaram que o Márcio só queria atividade com o livro didático. Pude observar

em várias ocasiões, o Márcio com o livro didático aberto em cima da mesa, na

página que a turma estava fazendo a atividade, na tentativa de imitar os demais

alunos, provavelmente objetivando se igualar a eles. Em alguns momentos, Márcio

copiava trechos do livro didático. Como no dia 05 de julho de 2005. No quadro

estava escrito: Ler 90, 91, 92 .

93 fazer (os exercícios)

O Márcio estava sentado na última carteira com o livro de matemática aberto nas

páginas 92 e 93. Ele copiava a atividade do livro didático. A professora Elizabete

permitiu, sem nenhuma interferência.

As atividades desenvolvidas no campo da Matemática, como pode ser percebido

não estimularam Márcio e não o levaram a novas aprendizagens. O desejo do aluno

para realizar certas atividades não foi aproveitado.

4.10.4) Uma data especial

Neste tópico será abordada a forma como um mesmo assunto foi tratado na escola

especial e na escola comum.

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Escola especial

Na escola especial, no dia 27 de junho de 2005, a professora disse que na última

quinta-feira comemorariam na quadra da escola o dia do município. Em seguida, leu

uma poesia sobre o mesmo e conversou com a turma, relatando onde ficava a

antiga sede da prefeitura municipal, recordando a visita que eles fizeram, juntamente

com a turma da professora Geovana à sede do município.

Nesse dia havia na sala seis alunos e todos puderam expressar sua opinião a

respeito do tema estudado.

A professora passou uma atividade especifica para os alunos. Três deveriam

desenhar algo relacionado ao que entenderam do assunto, enquanto outros três

estariam escrevendo um relato da visita.

O Márcio fez o desenho da visita à sede do município. Nesse momento ele tinha

como referência o desenho de outros alunos. Eles comparavam e discutiam sobre

qual desenho estava mais bonito.

Escola A

Na escola comum no dia 28 de junho de 2005, a professora Solange disse:

- Pegue o caderno de história. Todo mundo já copiou sobre o nosso município no livro?

Alguns alunos: - “Não, tó quase acabando!”

Os alunos estão sentados em filas.

Márcio se aproximou da professora. Ela disse: - “Chega de passear, vamos fazer uma

atividade!”

Márcio sentou-se e a professora propôs que fizesse uma atividade onde ele deveria

percorrer um caminho e colocar a roupa na personagem infantil da Mônica.

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Assim que, a professora acabou de propor a atividade o Márcio pegou a chave do

armário. A professora questionou onde ele estava indo e ele respondeu:

- Guardar meu livro!

O Márcio voltou para o seu lugar e fazia a atividade em uma folha xerografada.

Em determinado momento ele disse: - Oh tia! Eu não achei o caminho da Mônica não!

Professora: - Você vai deixar ela sem roupa?

Márcio: - Eu tô achando, tia!

O Márcio realizou essa atividade sozinho sem a intervenção, de nenhum aluno nem

da professora.

Algumas considerações podem ser tecidas nesse momento. Em uma escola como

na outra os trabalhos se realizavam em torno do mesmo assunto. No entanto, na

escola A o Márcio não realizou nenhuma atividade concernente ao município onde

reside. Já na escola especial o tema foi tratado sem restrições e de forma bem mais

interessante, de acordo com as habilidades e a capacidade de cada indivíduo.

4.10.5) Principais mudanças observadas no Márcio em 2005

Dentre as principais mudanças observadas pela professora da escola especial,

consta um maior desenvolvimento na oralidade. Não houve muitos progressos na

representação escrita, embora algumas atividades propostas em ambos os espaços

o tivessem interessado. A professora da escola especial comentou no mês de

agosto que ele estava no nível silábico, nesta fase são feitas tentativas de dar um

valor sonoro a cada uma das letras que compõem a palavra, isto de acordo com a

teoria de Emíla Ferreiro (1985). Isto pode ser confirmado nas atividades da história

do ‘pássaro da sorte’ e de escrita das partes do carro. Márcio, não avançou para o

nível alfabético.

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Convém mencionar, porém, que as professoras investiram pouco em seu processo

de alfabetização, pelo que pudemos observar. Em matemática, só na escola

especial ele desenvolveu atividades formais de soma, envolvendo números

pequenos. Houve baixa estimulação numérica em ambas as escolas e ausência de

desafios ou propostas de problemas ligados ao cotidiano do aluno.

O Márcio foi aprovado rotineiramente para a quinta série na escola A, como Rodrigo.

Ele continua freqüentado a escola especial, agora no turno matutino.

4.11) FÁBIO

O Fábio tinha 15 anos de idade. Normalmente ia sozinho para a escola comum. No

entanto sua mãe o levava para a escola especial, onde também estudava um de

seus irmãos, mais velho.

A avaliação psicológica aplicada em novembro de 2004, utilizando o teste Raven e o

de Papel de cartas constatou o seguinte:

O aluno mostra-se “apático”, sem muito interesse em realizar a avaliação. Suas

narrativas possuem conteúdo pobre. Muita dificuldade em expressar-se tanto

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verbalmente como na escrita (diz não saber escrever, só faz cópia); lentidão até para

exprimir o que foi pedido.

Diagnóstico apresentado a partir dos testes:

− Pobreza de conteúdo (quase não houve);

− Omissão de estímulos importantes;

− Não justificou algumas partes importantes (disse não saber);

− Dificuldade na construção de palavras ou frases (verbal);

− Presença de déficit de alfabetização;

− Não houve uma boa disponibilidade para a execução das tarefas;

− Estrutura de pensamento inferior a sua idade;

− Noção tempo-espaço insuficiente.

“O aluno mostrou-se com muita dificuldade, até mesmo em realizar a avaliação.

Dizia entender, mais tinha que ser reforçado, pois não percebia que não estava

fazendo adequadamente”.

“Déficit cognitivo importante”.

(Dados do prontuário do aluno na escola especial).

Cabe destacar que dentre os alunos selecionados apenas o Fábio realizou a

avaliação psicológica com os testes Raven e Papel de cartas, por estar em processo

de alta da escola especial desde 2004.

No ano letivo de 2005, Fábio geralmente não era muito expressivo na sala de aula.

Falava muito pouco, segundo descrição do prontuário da escola especial.

Apresentava seqüelas de meningite, fazia tratamento psicológico e fonoaudiólogico

na escola especial, além do acompanhamento com a neurologista.

No ano letivo de 2005, Fábio não apresentou um número de faltas significativo.

Quando faltava era por motivo de doença, normalmente dor de cabeça, seqüela da

meningite.

4.11.1) O trabalho de representação escrita desenvolvido com o Fábio

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No inicio do ano o Fábio conhecia todo o alfabeto, sabia algumas silabas, no entanto

possuía dificuldade no momento de formar palavras e frases. Sabia escrever e

identificar o seu próprio nome.

Escola especial

Dentre as principais atividades trabalhadas pela professora Geovana na disciplina

de português posso mencionar: completar as palavras recortando e colando a

primeira letra; escrita do nome de objetos pessoais; textos informativos; colocar uma

história na seqüência e relatar oralmente o que aconteceu; recortar e colar gravuras

com alimentos e escrever seus nomes; caça-palavras e cruzadinhas sobre diferentes

temas (páscoa, festa junina, drogas, preservação ambiental, saúde, folclore, natal,

etc). Isso pode ser ilustrado com a atividade do dia 15 de agosto de 2005.

A professora Geovana perguntou ao Fábio se ele gostava de cruzadinhas, e ele

balançou a cabeça no sentido afirmativo. Logo após, a professora começou a

explicar sobre o folclore. Ela questionou aos alunos se eles conheciam os

personagens que faziam parte das histórias do folclore. Os alunos disseram alguns

nomes tais como: Iara, Mula sem cabeça, saci-pererê. Em seguida, a professora

contou uma história sobre a Iara e deu a atividade que pode ser observada na

imagem.

A professora entregou a atividade de cruzadinha para o Fábio, a Francieli, a Mara e

o Anderson. E entregou uma outra para o Lucas, onde ele deveria procurar em

revistas as letras da palavra Iara.

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Os alunos estavam sentados próximos à mesa da professora, que distribuiu alfabeto

móvel, para eles formarem as palavras. Eles se ajudavam tanto no momento de

encontrar as palavras na cruzadinha, quanto para formar as palavras utilizando o

alfabeto móvel.

Na brinquedoteca da escola especial era comum a professora trabalhar com a

formação de palavras como pode ser observado nas imagens abaixo:

(imagem 01) (imagem 02)

(imagem 03) (imagem 04)

Nas duas primeiras imagens os alunos deveriam encontra a gravura e o nome

correspondente. Na terceira fotografia os alunos deveriam formar o nome dos

animais, completando os desenhos. Na quarta imagem a professora da

brinquedoteca distribuiu as gravuras para os alunos formarem as palavras, utilizando

o alfabeto móvel.

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Um outro tipo de atividade trabalhado pela professora Geovana, que o Fábio

realizava com ajuda em algumas ocasiões era formar frases substituindo os

desenhos por palavras, como:

O gosta de comer

O Fábio gostava desse tipo de atividade pelas ilustrações apresentadas. Quando

tinha alguma dúvida na forma como deveria escrever determinada palavra recorria à

professora.

Escola B

A professora Rosângela trabalhava com a terceira série os conteúdos de verbo,

silaba tônica, elaboração e interpretação de textos, palavras com s, ss, a utilização

de m ou n, dentre outros.

Nas aulas de reforço, a professora trabalhava com alunos que apresentavam

dificuldade de aprendizagem o reconhecimento das vogais, das silabas, a formação

de palavras, como pode ser constatado com a aula, do dia 21 de julho de 2005. A

professora Rosângela iniciou a aula de reforço questionando: - Quais são as vogais?

Os alunos responderam: - a, e, i, o, u!

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A professora entregou uma folha em branco aos alunos para que eles escreverem

as vogais. Em seguida pediu aos mesmos que juntassem as vogais com a

consoante p, para saber qual som formaria.

Os alunos falaram e a professora escreveu várias palavras com a letra p: poeira,

picolé, pai, pente, pular. Os alunos deveriam copiar.

Após este momento, os alunos que terminaram a primeira atividade a professora

distribuiu um dominó com as gravuras e o nome dos objetos, como pode ser

confirmado na imagem abaixo, este dominó foi confeccionado pela professora com o

auxilio dos alunos.

No momento que os alunos jogavam, a professora auxiliava a um grupo de quatro

alunos. Uma das auxiliares de serviços gerais da escola auxiliava a professora com

outro grupo de alunos.

A diretora da escola, por não dispor de professores suficientes para trabalhar o

reforço com os alunos, solicitou a uma profissional auxiliar de serviços gerais que

auxiliasse a professora Rosângela em sala.

No momento do reforço os alunos interagiam, ajudando-se mutuamente.

A professora visando trabalhar a escrita das palavras que estavam em um jogo, no

dia 05 de setembro de 2005, fez desenhos que estavam no dominó na lousa para

que os alunos colocassem os nomes.

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Fábio fez a atividade pedindo auxilio tanto da professora, quanto dos colegas no

momento de escrever palavras como dezesseis, carrossel, girassol. Ele fez toda a

atividade.

Após o período de reforço a professora, em alguns momentos, passava atividades

comuns a toda a turma, como no dia 19 de outubro de 2005, quando ela trabalhou

com a interpretação de rótulos. Os alunos em duplas receberam um rótulo para

serem analisados. A professora explorou com os alunos o que havia nas

embalagens. A maioria da turma teve a oportunidade de se expressar. Em seguida,

ela escreveu na lousa:

a) Qual o nome do produto?

b) Qual é a marca?

c) Qual é o sabor?

d) Quanto pesa?

e) Como deve ser consumido?

f) Como deve ser preparado?

g) Uma palavra oxítona.

h) Uma palavra com acento circunflexo.

i) Uma palavra paroxítona.

Percebemos que o Fábio era estimulado a reconhecer, escrever e formar palavras,

tanto na escola especial, quanto na escola comum.

4.11.2) O trabalho desenvolvido com Fábio na atividade numérica

O aluno Fábio reconhecia os números de zero a cem, sabendo realizar a operação

de adição, além de fazer a classificação e seriação de objetos.

Escola especial

No dia 16 de maio de 2005 o Fábio estava fazendo operações de adição que a

professora passou para serem feitas em casa. Para realizar somas Fábio contava,

nos dedos, fazia pauzinhos na carteira.

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Ele acertou algumas operações. Outras a professora teve que auxiliá-lo. Contudo fez

toda a atividade.

Tanto na escola B, como na escola especial a disciplina de matemática não foi o

foco do trabalho das professoras.

Escola B

As atividades de matemática na escola B, para a terceira série envolviam a

multiplicação e divisão com dois números, além da representação em frações e

mesmo a utilização de instrumentos de medida como a régua. Nenhum desses

conteúdos era dominado por Fábio. Ele reconhecia o valor dos números e operava

principalmente a soma com parcelas utilizando recursos como palitos de picolé e

mesmo pauzinhos na carteira.

Fábio copiava as atividades que a professora passava no quadro, no entanto ele não

as fazia. No dia 13 de setembro de 2005 a professora passou os seguintes

exercícios :

1) Escreva os números mistos:

a) um inteiro e três décimos

b) dois inteiros e cinco nonos

c) dois inteiros e quatro sétimos

(Atividade do caderno do aluno).

Nesta atividade o Fábio em alguns momentos conversou com dois alunos que

estavam próximos a ele. O assunto não tinha relação com a atividade de

matemática. Conversavam sobre bicicleta.

Durante a aula de reforço do dia 11 de outubro de 2005, a professora passou duas

atividades de matemática. Na primeira os alunos deveriam escrever números:

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2) Leia e complete com numerais:

a) vinte e nove –

b) vinte e cinco-

c) vinte e um-

d) noventa-

e) oitenta e seis-

f) sessenta e oito –

Na segunda, eles deveriam armar e efetuar operações diversas.

3) Arme e efetue:

a) 839 + 756 + 74=

b) 2846 + 395 + 34 =

c) 7460 – 3831 =

d) 8645 x 52 =

e) 7846 : 3 =

A primeira atividade o Fábio fez com ajuda de um colega de sala. Acertaram todos

os números. Na segunda ele acertou as duas primeiras operações que envolviam a

soma e errou as demais. O colega de sala tentou auxiliá-lo. No entanto também não

sabia como resolver as contas propostas.

As atividades eram todas de cunho tradicional, focadas no ensino de algoritmos e de

exercícios, não na solução de problemas significativos com recurso a operações

numéricas, conforme apregoam as propostas de ensino aprendizagens mais atuais,

compatíveis com o modelo apropriativo (centrado na construção do saber pelo

aluno). De acordo com este modelo discutido por Charnay (1996), a solução de

problemas e não a realização de exercícios numéricos intervém desde o começo da

aprendizagem. Os alunos, por sua vez, constroem seu saber em interação com

outros alunos. As interações foram estimuladas, mas os exercícios não eram

estimulantes.

4.11.3) A representação por meio do desenho

O Fábio se sobressaia, em relação aos demais alunos das turmas, na escola

especial e comum, no momento de atividades artísticas. As professoras o elogiavam

e valorizavam toda atividade de pintura que fazia.

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(Escola especial)

(Escola B)

Na primeira imagem a professora havia conversado com a turma, no dia 15 de

agosto de 2005, sobre a necessidade da preservação do meio ambiente em seguida

pediu aos alunos que desenhassem um lugar preservado. O Fábio desenhou o mar

com os peixes em um dia de chuva e sol entre nuvens.

No segundo desenho a professora leu um texto informativo sobre a independência

do Brasil, logo após, solicitou aos alunos que colorissem o desenho. Fábio pintou a

gravura com cuidado respeitando a utilização das cores.

Na última imagem, a professora da escola B solicitou que ele desenhasse animais,

para colar no mural sobre preservação ambiental. Ele fez a atividade com muita

satisfação. Vários alunos da turma foram a sua mesa observar as imagens que o

Fábio havia produzido.

Percebemos nestas atividades o quanto o trabalho artístico era valorizado por Fábio.

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4.11.4) Principais mudanças observadas no Fábio em 2005

As professoras relataram que Fábio teve um grande avanço no conteúdo de

português, uma vez que passou a formar algumas frases e ler palavras novas.

A professora da escola especial mencionou no relatório final que o Fábio interagiu

muito bem no projeto de literatura infantil, chegando a se expressar mais oralmente.

Fábio recebeu alta da escola especial, no final do ano de 2005, pois segundo

avaliação da equipe técnica da instituição (pedagogo, neurologista, psicólogo,

fonoaudiólogo, serviço social, fisioterapeuta) o aluno apresentava condições de

seguir apenas na escola comum, recebendo atendimento especifico em outra

instituição especial, que atendesse a alunos surdos. Seus exames mostraram que

ele teve perda auditiva.

Na escola comum, Fábio no final do ano letivo realizou o processo de nova

oportunidade de aprendizagem (NOA), sendo aprovado para a quarta série.

Continua estudando no turno matutino.

4.12) Algumas considerações sobre o trabalho pedagógico das escolas

A apresentação das atividades desenvolvidas pelos alunos na escola especial,

assim com nas escolas comuns – A e B -, mostra que na escola especial e na escola

B foram desenvolvidas atividades mais significativas para os alunos especiais

investigados. Elas possibilitaram que novas informações fossem disponibilizadas

para os alunos, que seus conhecimentos prévios fossem levados em consideração,

além de suas motivações, interesses, seus níveis de desenvolvimento cognitivo e

demandas afetivas.

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Alguns pontos podem ser mencionados no que se refere ao favorecimento do

processo de ensino e aprendizagem na escola especial. Alguns fatores merecem

destaque, como: um maior esforço de capacitação dos professores para trabalharem

com os alunos especiais, uma equipe clinica e pedagógica que auxilia o trabalho na

sala de aula. Na escola B, a direção ao viabilizar a implementação de um sistema de

reforço, favoreceu a professora no processo de adaptação curricular do conteúdo às

necessidades dos alunos. Isso propiciou um melhor atendimento aos alunos com

dificuldades de aprendizagem, inclusive o aluno especial, Fábio.

Observa-se que, mesmo sem o apoio do núcleo de educação inclusiva da Prefeitura,

a professora Rosângela da escola B, trabalhou atendendo a diversidade dos seus

alunos, independente desse fator está associado a uma deficiência. Seu discurso

sobre a inclusão não pode ser considerado compatível com as concepções mais

atuais, mas sua prática sim. Isso pode estar relacionado com o seu longo tempo de

experiência no campo educacional, além de ter relatado haver trabalhado

anteriormente com alunos especiais.

Já as professoras da escola A, disseram que não sabiam trabalhar com os alunos

especiais (Rodrigo e Márcio). Na verdade, as atividades que elas desenvolviam em

sala de aula para os alunos ditos normais eram do tipo “estudo dirigido”, centradas

exclusivamente no livro didático e as provas eram tradicionais (verificar se os

conteúdos veiculados pelo livro haviam sido aprendidos).

Na escola A, normalmente os alunos especiais interagiam somente com as

professoras e não foram auxiliados pelas professoras itinerantes. Uma única visita a

escola especial (palestra em uma certa data programada) permitiu que uma das

professoras da escola A propusesse um tipo de atividade de português que

interessou Márcio. Porém, não houve continuidade no trabalho. E ele quase nada

aprendeu de novo. Em raros momentos Márcio conversava com os colegas, no

recreio. Rodrigo se retraia, a não ser no final do ano, quando passou a bater nos

colegas, importunando-os. Já na escola especial e na escola B as crianças

interagiam, tanto com as professoras, quanto entre si, auxiliando-se mutuamente.

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Na escola B, assim como na escola A, a professora Rosângela também dispunha do

livro didático. Contudo, no momento de desenvolver as atividades com os alunos,

não foi à utilização deste recurso que prevaleceu.

4.13) O processo de avaliação nas escolas

Não poderia deixar de apresentar como os alunos foram avaliados pelas escolas,

pois o tipo de avaliação implementado retrata em grande parte a concepção do

processo de ensino e aprendizagem presente nas mesmas.

A avaliação teria o papel de identificar os problemas, os avanços e as possibilidades

de redimensionamento, sendo entendida como um processo investigador e formativo

contínuo, na qual diferente atores (pais, professores, alunos) participam ativamente

(DALBEN, 2004).

A avaliação na perspectiva histórico-culturalleva em consideração o sujeito datado

situado historicamente, com seus hábitos, costumes, valores, crenças. Sendo o

conhecimento um processo socialmente construído, por meio da interação de um

sujeito com outro, o sujeito é produtor e produto da história. Neste sentido, a

avaliação serviria para melhorar a aprendizagem, uma vez que determinaria o que

ainda não se sabe, “revela novos conhecimentos que se fazem não só necessários

como também possíveis” (ESTEBAN, 2001, p.147).

Escola especial

Na escola especial os alunos são avaliados oficialmente, por meio de fichas

descritivas, preenchidas bimestralmente. Ao final do ano letivo os professores devem

preencher uma ficha que especifica os aspectos cognitivos em:

Português: Conhecimentos referentes à escrita: Produção espontânea do aluno.

Conhecimento referentes à leitura:

Desenvolvimento da oralidade:

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Matemática:

Classificação:

Seriação:

Conhecimento de número:

Coordenação motora e viso-motor:

Ciências e Estudos Sociais:

Socialização:

Educação Física:

Informática:

Escola A

Na escola A, pude observar que os alunos estavam fazendo prova de matemática no

dia 12 de julho de 2005, enquanto o Rodrigo pintava o desenho de uma menina.

No dia 29 de setembro de 2005, os alunos dessa escola faziam prova de História.

Rodrigo e Márcio estavam com a prova em mãos. Márcio escreveu algumas letras

aleatoriamente, já o Rodrigo simplesmente não fez nada com a folha da avaliação,

uma vez que seu conteúdo não era significativo.

Não havia, nessa instituição a preocupação em avaliar os alunos durante o processo

de ensino-aprendizagem. Quando questionei às professoras sobre a forma como

avaliariam os alunos especiais elas me informaram que estariam fazendo um

relatório descritivo no final do ano letivo.

Escola B

Habitualmente os alunos da escola B realizavam, uma prova escrita de todas as

disciplinas com o conteúdo trabalhado no bimestre. No entanto, o conteúdo das

provas era diversificado para atender as particularidades dos alunos, principalmente

dos que faziam as aulas de reforço.

Percebemos que as escolas do município não apresentavam uma forma única de

avaliar, sendo que a escola B diferenciava a avaliação, no intuito de atender as

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necessidades dos alunos. Na escola A, percebe-se avaliação é centrada no

conteúdo veiculado pelo livro texto, visando promover os mais aptos ou que retém

melhor as lições do livro. O conteúdo vem empacotado, pronto. Os alunos especiais

são deixados de lado. As atividades que lhes são propostas não promovem

aprendizagens. Então não há o que avaliar. Suas promoções para a série seguinte

são de ordem burocrática, para se ajustar à norma vigente.

5) CONSIDERAÇÕES

Ao considerarmos os dados aqui apresentados, percebemos que o município no

qual a pesquisa foi realizada, tem um grupo estruturado para o atendimento aos

professores na escola comum, com objetivos e proposta de trabalho definidos. No

entanto, essa organização não produziu efeito nas escolas estudadas. Os

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professores continuam necessitando de apoio, humano e material que os auxilie no

trabalho com alunos normais e especiais. Ficou evidenciado por meio dos dados

apresentados que a prefeitura matem um controle puramente burocrático do

atendimento oferecido às escolas pelos professores itinerantes e de apoio.

Ao analisar os depoimentos percebemos dois conceitos atribuídos à palavra

inclusão. O primeiro restrito aos alunos com deficiência. O segundo reconhece a

diversidade humana e o respeito as suas singularidades.

Os profissionais que estabeleceram a ligação do conceito de inclusão com os

alunos deficientes estão em sua maioria ligados às escolas comuns. A

concepção de inclusão destas pessoas pode ter sido influenciada por esta

acontecer somente quando um aluno deficiente é matriculado na escola

comum. Estes profissionais se limitam à inclusão do deficiente no ambiente

escolar.

Já na escola especial a maioria dos profissionais entende a inclusão como direito de

todos, independente da deficiência. Isso pode ser associado aos cursos de

capacitação já realizados, como também os oferecidos, no ano de 2005, aos

profissionais que trabalharam na instituição. A inclusão não é entendida apenas

como dos alunos que possuem uma deficiência, mas sim o reconhecimento do ser

humano com suas diferenças.

Outro aspecto que merece destaque é o fato dos profissionais da escola especial,

assim como a diretora da escola A e a professora itinerante (que adotaram o

discurso da inclusão em seu aspecto mais amplo) terem em sua formação

acadêmica maior contato com as discussões pertinentes a concepção de inclusão, o

que também pode ter influenciado sua definição verbal do conceito de inclusão,

enquanto direito de todos.

Os discursos, no entanto, nem sempre produzem práticas coerentes com os

mesmos. A professora da escola B procura levar em consideração à diversidade de

seus alunos, os ditos normais e os especiais, apesar de ter uma definição verbal de

inclusão restrita. Os gestores da escola B, onde estudava o aluno Fábio, propiciaram

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à professora Rosângela, algumas condições de trabalho: maior disponibilidade de

material e de tempo para atender aos alunos que apresentavam maiores

necessidades. Sua concepção de inclusão, porém, é bem restritiva. Cabe ressaltar

também que as atividades que propõe aos seus alunos ainda são, em muitos

momentos bem tradicionais (a matemática se restringe ao ensino de técnicas

operatórias, por exemplo, tão criticadas pelas modernas teorias de aprendizagem).

Já a diretora da Escola A, apesar de fazer uso de uma definição menos restrita

de inclusão, não incentiva em sua escola o desenvolvimento de práticas

verdadeiramente inclusivas. A gestão da escola parece mais preocupada com

questões disciplinares (carteiras em fila, alunos realizando suas tarefas em

silencio, etc,), que acabam escapando de seu controle. A falta de interesse das

crianças pelas atividades as levam a dispersão e a atividades dissimuladas ou

proibidas (jogar objetos nos colegas, brincar durante as aulas, etc.).

Cabe mencionar também que, a escola especial por possuir o atendimento voltado

para alunos com deficiência mental, tanto o planejamento, quanto o apoio e mesmo

as atividades, não poderia haver outro foco. Já na escola comum o objetivo é

atender aos alunos normais, inscritos naquela série. O aluno especial é um foco

secundário.

A escola no Brasil foi organizada de forma a atender a um ensino propedêutico,

organizado em séries. A idade do aluno define a série a cursar e as atividades que

deverá realizar. Não foi cogitado na organização da escola comum a presença de

alunos com necessidades especiais nas salas de aula. Entendia-se que o ensino a

essas pessoas deveria ser diferenciado, oferecido por instituições especializadas. A

escola comum continua refém de uma organização escolar que dificulta o trabalho

diversificado com os alunos.

Procurei responder a algumas das questões formuladas. Mas novos

questionamentos emergiram deste estudo:

Como deveriam se organizar as escolas comuns para atender a alunos que

apresentam diferenças acentuadas do ponto de vista cognitivo, sejam eles normais

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ou especiais? Que tipo de formação deveria ser dado aos docentes dessas escolas,

que parecem não saber o que e como ensinar aos alunos, prendendo-se o professor

inteiramente a um livro texto?

O que seria uma instituição especializada? Qual seria de fato seu papel educativo

junto às crianças especiais nas condições de hoje, em que a escola, em geral, com

honrosas exceções, atende mal até mesmo às crianças ditas normais e deixa de

lado as especiais? Como sua experiência educativa poderia ser melhor

aproveitada?

Como poderia atuar de forma mais satisfatória o núcleo de educação inclusiva da

Prefeitura? Como garantir sua eficiência?

Não tenho a pretensão de responder a essas questões, mas de fazer algumas

considerações que podem auxiliar na busca de respostas.

Primeiramente é preciso admitir que a escola especial examinada não tem um cunho

assistencialista ou paternalista, desenvolvendo atividades que se parecem muito

com as de diversas escolas comuns. Ela propiciou aos alunos examinados melhor

possibilidade de desenvolvimento da linguagem falada e escrita e de atividades de

desenho e matemática, de noções de cidadania, etc.

Que razões explicariam isso?

Na escola especial, os professores puderam contar com cursos de capacitação

específicos na área de interesse. No caso da escola pesquisada existe uma equipe

clinica, que oferece melhores condições para o professor trabalhar com os alunos

deficientes mentais em sala de aula. Além disso, há uma equipe pedagógica com

coordenadores e pedagogos voltados para as necessidades dos alunos, que

auxiliam no atendimento as necessidades da sala de aula. Os alunos são bem

acolhidos naquele espaço. As manifestações de afeto são grandes.

Nas escolas comuns alguns professores se negam a receber alunos especiais

alegando que não estão preparados para trabalhar com essa clientela. Afirmam que

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não foram capacitados e não sabem como atuar com esses alunos. Outros aceitam

o aluno na sala de aula, contudo o colocam a parte, promovendo assim sua

exclusão, uma vez que as atividades são totalmente distintas das trabalhadas com

os demais alunos.

Hoje, “defende-se o trabalho em equipe como meio para promover a socialização e a

cooperação, para poder atender aos diferentes níveis e ritmos de aprendizagem,

para resolver problemas de dinâmica grupal, para tornar possível a aprendizagem

entre iguais, etc” (ZABALA, p.112,1998).

Este tipo de trabalho foi observado em larga escala na escola especial, sendo

desenvolvido em alguns momentos na escola B. Na escola A, as atividades

centradas no livro texto, não promoviam a socialização ou o trabalho colaborativo

entre os alunos, aumentando a exclusão dos alunos especiais. Havia lá uma falsa

inclusão dos mesmos, embora os alunos normais respeitassem os especiais. Pelo

menos esse objetivo foi alcançado.

Reformar a escola, aumentar a capacitação dos professores sobre o saber

escolar, sobre seus alunos e sobre a organização das atividades em sala de

aula que promovam uma aprendizagem significativa. Levar os professores a

uma reflexão sobre sua atuação em sala de aula. Sem isso, as leis que

garantem a escola para todos cairão no vazio e as velhas práticas continuarão

a coexistir dentro da escola dita inclusiva.

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ANEXOS

Anexo I

Entrevista ao diretor da Escola Especial 1) Identificação:

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Escola Especial Nome: _____________________________________________ 2) Formação Profissional: 2.1) Formação acadêmica: _______________________________________________________________ 2.1) Já fez algum curso de aperfeiçoamento na área da educação especial? Em caso afirmativo, qual e há quanto tempo? ______________________________________________________________________ 3) O trabalho como os alunos especiais: 3.1) Como você entende a inclusão? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.2) Qual o objetivo da escola especial para os alunos que freqüentam tanto a rede regular qual a escola especial? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3) Porquê a Escola especial deve preparar os alunos para só então eles terem a possibilidade de cursar a escola regular? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.4) Qual o tipo de relação que existe hoje entre a Escola especial e a escola regular? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5) Existe algo que poderia ser melhorado? O que e como? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________

Entrevista ao diretor das Escolas Regulares

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2) Identificação: Escola Municipal:_______________________________________________ Nome: _____________________________________________ 2) Formação Profissional: 2.1) Formação acadêmica: _______________________________________________________________ 2.1) Já fez algum curso de aperfeiçoamento na área da educação especial? Em caso afirmativo, qual e há quanto tempo? ______________________________________________________________________ 3) O trabalho como os alunos especiais: 3.1) Como a sua escola tem se preparado para receber os alunos especiais? ______________________________________________________________________ 3.2) Você tem recebido algum tipo de apoio (prefeitura, escola especial)? Em caso afirmativo, como isto tem ocorrido? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3) O que é inclusão para você? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.4) Quais os entraves ou limitações que você tem encontrado? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5) Existe algum tipo de comunicação desta escola com a escola especial? Em caso afirmativo como ocorre está comunicação?

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____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.6) Como você entende a escola especial? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.7) Existe algo que poderia ser melhorado? O que e como? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Entrevista ao professor da Escola especial

1) Identificação do Professor: Nome:_________________________________________________________ Instituição na qual leciona: ________________________________________________ 2) Formação Profissional: 2.1) Formação acadêmica: _______________________________________________________________ 2.2) Já fez algum curso de aperfeiçoamento na área da educação especial? Em caso afirmativo, qual e há quanto tempo? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) O trabalho com os alunos com n.e.e: 3.1) Você recebe apoio para trabalhar com os alunos? Em caso afirmativo de qual natureza (pedagógico, material, etc)? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.2) Como você vê o seu aluno? Quais critérios utilizam no momento de elaborar as atividades a serem trabalhas com eles? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3) Você utiliza recursos diversificados na sala de aula? Quais? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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3.4) Você tem a sua disposição os recursos didáticos necessários, para trabalhar com os alunos? Em caso negativo o que poderia ser melhorado? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5) Você sabe quais são as particularidades do seu aluno? Em caso afirmativo quem forneceu esta informação? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.6) O que você entende por inclusão dos alunos na rede regular de ensino? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.7) Como você percebe o trabalho desenvolvido na rede regular de ensino? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.8) Existe algo que poderia ser melhorado? O que e como? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Entrevista ao professor da Escola regular

1) Identificação do Professor: Nome:_________________________________________________________ Instituição na qual leciona: ________________________________________________ 2) Formação Profissional: 2.1) Formação acadêmica: _______________________________________________________________ 2.2) Está matriculada em algum curso de capacitação? Em caso afirmativo, qual? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2.2) Já fez algum curso de aperfeiçoamento na área da educação especial? Em caso afirmativo, qual e há quanto tempo? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) O trabalho com os alunos com n.e.e 3.1) Você recebe apoio para trabalhar com os alunos especiais? Em caso afirmativo de qual natureza (pedagógico, material, etc)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.2) Você utiliza recursos diversificados na sala de aula? Quais?

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____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3) Você tem a sua disposição os recursos didáticos necessários, para trabalhar com os alunos tanto especiais como os ditos normais? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.4) Quais critérios você utiliza no momento de selecionar as atividades a serem trabalhadas em sala? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5) Você sabe quais é a deficiência do seu aluno especial? Em caso afirmativo quem forneceu esta informação? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.6) Como ficou sabendo que seu aluno recebia atendimento na escola especial? Você concorda com este atendimento? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.7) Você tem conhecimento do que é trabalhado com o seu aluno na escola especial? Quem fornece estas informações? Considera importante o trabalho desta Instituição? Em que sentido? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.8) O que você entende por inclusão de alunos especiais em sala regular de ensino? ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.9) Como foi sua primeira experiência com alunos especiais? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

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Entrevista aos Pedagogos da Escola Especial

Nome: _________________________________________________________ Instituição na qual leciona: ________________________________________________ 2) Formação Profissional: 2.1) Formação acadêmica: _______________________________________________________________ 2.2) Já fez algum curso de aperfeiçoamento na área da educação especial? Em caso afirmativo, qual e há quanto tempo? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) O trabalho com os alunos com n.e.e: 3.3) O que é inclusão para você? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.2) Como você entende o trabalho desenvolvido pela escola especial? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3) Qual o objetivo da escola especial para os alunos que freqüentam tanto a rede regular qual a Escola especial? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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3.4) Existe algum tipo de comunicação entre esta escola e a escola especial? Em caso afirmativo como ocorre e que assuntos são tratados? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5) O programa de inclusão desenvolvido pela prefeitura, tem colaborado como seu trabalho? Em caso afirmativo de que forma? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.6) Como você auxilia o professor de sala no trabalho com os alunos especiais? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.7) Existe algo que poderia ser melhorado? O que e como? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Entrevista aos Pedagogos da Escola Regular Nome:_________________________________________________________ Instituição na qual leciona: ________________________________________________ 2) Formação Profissional: 2.1) Formação acadêmica: _______________________________________________________________ 2.2) Já fez algum curso de aperfeiçoamento na área da educação especial? Em caso afirmativo, qual e há quanto tempo? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) O trabalho com os alunos com n.e.e: 3.3) O que é inclusão para você? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.2) Como você entende o trabalho desenvolvido pela escola especial? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3) Existe algum tipo de comunicação entre esta escola e a escola especial? Em caso afirmativo como ocorre e que assuntos são discutidos? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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3.4) Você recebe apoio para trabalhar com os alunos especiais? Em caso afirmativo de qual natureza (pedagógico, material, etc)? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5) O programa de inclusão desenvolvido pela prefeitura, tem colaborado como seu trabalho? Em caso afirmativo de que forma? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.6) Como você auxilia o professor de sala no trabalho com os alunos especiais? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.7) Existe algo que poderia ser melhorado? O que e como? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Anexo II

TERMO DE CONSENTIMENTO (Diretor)

Eu,___________________________________________ Diretor (a) da Escola

EMEF _______________________________________________, abaixo assinado, ciente

dos objetivos da pesquisa “Práticas Educativas com alunos que freqüentam tanto a

escola especial quanto a escola regular no processo de inclusão escolar”, que

pretende observar e analisar o que vem sendo proporcionado nessas Instituições aos

alunos com deficiência mental. Conduzida pela mestranda VANUSA PEREIRA DOS

SANTOS, sob a orientação da Profª Drª Jussara Martins Albernaz, docente do

Programa de Pós- Graduação da Universidade Federal do Espírito Santo.

Desta forma concorda em participar da mesma, permitindo a realização de

fotografia e aplicação de entrevista em situações previamente combinadas.

Concordo, também, com a divulgação dos resultados provenientes desta

pesquisa, com o objetivo de colaborar com as pesquisas científicas, sendo preservado

o direito de sigilo à identidade pessoal dos participantes.

Cariacica –ES, de de 2005.

________________________________________ Assinatura da Diretora

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TERMO DE CONSENTIMENTO

(Professoras)

Eu professora ___________________________________________ da Escola

_______________________________________________, abaixo assinado, ciente dos

objetivos da pesquisa “Práticas Educativas com alunos que freqüentam tanto a

escola especial quanto a escola regular no processo de inclusão escolar”, que

pretende observar e analisar o que vem sendo proporcionado nessas Instituições aos

alunos com deficiência mental. Conduzida pela mestranda VANUSA PEREIRA DOS

SANTOS, sob a orientação da Profª Drª Jussara Martins Albernaz, docente do

Programa de Pós- Graduação da Universidade Federal do Espírito Santo.

Desta forma concorda em participar da mesma, permitindo a realização de

fotografia e aplicação de entrevista em situações previamente combinadas.

Concordo, também, com a divulgação dos resultados provenientes desta

pesquisa, sendo preservado o direito de sigilo à identidade pessoal dos participantes.

Cariacica – ES, de de 2005.

________________________________________ Assinatura da Professora