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A PROPRIEDADE RESOLÚVEL, a rigor, é a que está sujeita a extinção por causa superveniente, inclusive em virtude do implemento de condição resolutiva, ou do advento de termo final. Na propriedade resolúvel há um proprietário atual e um proprietário diferido, ou um futuro proprietário, com direito eventual à propriedade da coisa. Com direito expectativo, nas palavras do alagoano Pontes de Miranda. No direito pátrio a extinção da propriedade resolúvel pode ocorrer em virtude: a) da ocorrência de fato já previsto no contrato – art. 1.359, CC; b) ou da ocorrência de fato superveniente não previsto no contrato (título constitutivo) – art. 1.360, CC. Na primeira hipótese – art. 1.359, CC – o próprio título constitutivo (contrato) prevê a causa da extinção do direito de propriedade: o implemento de condição resolutiva, ou a expiração de prazo (termo final). É o caso, por exemplo, dos pactos de retrovenda (art. 505), da doação com cláusula de reversão (art. 547), do fideicomisso (art. 1.951), da propriedade do credor na alienação fiduciária (Decreto-Lei 911/69), dentre outros. Nessa hipótese, a decisão que decreta a extinção do direito de propriedade produz efeitos ex-tunc (retroage; produz efeitos desde a data da ocorrência do fato causador da extinção da propriedade resolúvel). Um exemplo para aclarar: as partes em um contrato de compra e venda podem pactuar cláusula no sentido de ficar assegurado ao vendedor o direito de recomprar a coisa imóvel vendida, no prazo máximo de 3 (três) anos. Assim, o comprador – atual proprietário – já sabe que, por força do contrato, o seu direito de propriedade será extinto caso o vendedor – antigo proprietário e possível futuro proprietário – exerça o direito de recomprar o imóvel. O atual proprietário, durante o prazo de 3 (três) anos, tem apenas a propriedade resolúvel do imóvel. Após esse prazo sem que vendedor exerça o direito de recompra, o direito de propriedade do comprador – atual proprietário – deixa de ser resolúvel e se torna perpétuo. Na segunda hipótese – art. 1.360, CC – a extinção do direito de propriedade se dá por fato alheio ao título constitutivo, ou seja, de fato não previsto no contrato. É o que corre, por exemplo, no caso de desfazimento da venda feita por condômino sem dar preferência aos demais condôminos (art.504, CC) e na revogação de doação por ingratidão (art. 555, CC). Aqui a decisão que decreta a perda da propriedade produz efeitos ex-nunc (não retroage; não produz efeitos no passado). E por se referir a fato não previsto no contrato, o terceiro, adquirente de boa-fé, tem seu direito de propriedade preservado, cabendo ao alienante (aquele em cujo benefício houve a resolução), tão somente haver perdas e danos contra o adquirente (aquele cuja propriedade se resolveu – não é o terceiro de boa-fé). A ação visando à retomada da coisa – ação reivindicatória – só tem lugar se esta (a coisa) ainda estiver na posse do adquirente (proprietário resolúvel) DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA

A propriedade resolúvel

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A PROPRIEDADE RESOLÚVEL, a rigor, é a que está sujeita a extinção por causa superveniente, inclusive em virtude do implemento de condição resolutiva, ou do advento de termo final. Na propriedade resolúvel há um proprietário atual e um proprietário diferido, ou um futuro proprietário, com direito eventual à propriedade da coisa. Com direito expectativo, nas palavras do alagoano Pontes de Miranda. No direito pátrio a extinção da propriedade resolúvel pode ocorrer em virtude: a) da ocorrência de fato já previsto no contrato – art. 1.359, CC; b) ou da ocorrência de fato superveniente não previsto no contrato (título constitutivo) – art. 1.360, CC. Na primeira hipótese – art. 1.359, CC – o próprio título constitutivo (contrato) prevê a causa da extinção do direito de propriedade: o implemento de condição resolutiva, ou a expiração de prazo (termo final). É o caso, por exemplo, dos pactos de retrovenda (art. 505), da doação com cláusula de reversão (art. 547), do fideicomisso (art. 1.951), da propriedade do credor na alienação fiduciária (Decreto-Lei 911/69), dentre outros. Nessa hipótese, a decisão que decreta a extinção do direito de propriedade produz efeitos ex-tunc (retroage; produz efeitos desde a data da ocorrência do fato causador da extinção da propriedade resolúvel).  Um exemplo para aclarar: as partes em um contrato de compra e venda podem pactuar cláusula no sentido de ficar assegurado ao vendedor o direito de recomprar a coisa imóvel vendida, no prazo máximo de 3 (três) anos. Assim, o comprador – atual proprietário – já sabe que, por força do contrato, o seu direito de propriedade será extinto caso o vendedor – antigo proprietário e possível futuro proprietário – exerça o direito de recomprar o imóvel. O atual proprietário, durante o prazo de 3 (três) anos, tem apenas a propriedade resolúvel do imóvel. Após esse prazo sem que vendedor exerça o direito de recompra, o direito de propriedade do comprador – atual proprietário – deixa de ser resolúvel e se torna perpétuo. Na segunda hipótese – art. 1.360, CC – a extinção do direito de propriedade se dá por fato alheio ao título constitutivo, ou seja, de fato não previsto no contrato. É o que corre, por exemplo, no caso de desfazimento da venda feita por condômino sem dar preferência aos demais condôminos (art.504, CC) e na revogação de doação por ingratidão (art. 555, CC). Aqui a decisão que decreta a perda da propriedade produz efeitos ex-nunc (não retroage; não produz efeitos no passado). E por se referir a fato não previsto no contrato, o terceiro, adquirente de boa-fé, tem seu direito de propriedade preservado, cabendo ao alienante (aquele em cujo benefício houve a resolução), tão somente haver perdas e danos contra o adquirente (aquele cuja propriedade se resolveu – não é o terceiro de boa-fé). A ação visando à retomada da coisa – ação reivindicatória – só tem lugar se esta (a coisa) ainda estiver na posse do adquirente (proprietário resolúvel)

DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIAConsidera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. A propriedade fiduciária constitui-se mediante négocio jurídico de disposição condicional. Sendo subordinado a uma condição resolutiva, porque a propriedade fiduciária cessa em favor do alienante, uma vez verificado o implemento da condição resolutiva, não exige nova declaração de vontade do adquirente ou do alienante, nem requer a realização de qualquer novo ato. O alienante, que transferiu fiduciariamente a propriedade, readquire-a pelo só pagamento da dívida. Na propriedade fiduciária dá-se a transferência do domínio do bem móvel ao credor, (denominado fiduciário), em garantia do pagamento, permanecendo o devedor (fiduciante) com a posse direta da coisa. O domínio e a posse indireta passam ao credor, em garantia. Não se dá a tradição real, mas sim ficta, pelo constituto possessório. O domínio do credor é resolúvel, pois resolve-se automaticamente em favor do devedor alienante, sem necessidade de outro ato, uma vez paga a última parcela da dívida.A propriedade fiduciária é negócio jurídico formal. Para que possa constituir-se juridicamente e torna-se hábil a produzir seus efeitos no mundo jurídico, deve observar os requisitos como: o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do devedor, ou, em se tratando de véiculos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.O contrato deve ter, portanto a forma escrita, podendo o instrumento ser público ou particular, contendo; o total da dívida ou sua estimativa, o prazo ou a época do pagamento, a taxa de juros, caso houver, a descrição da coisa objeto de transfêrencia, com os elementos indispensáveis á sua identificação.Os direitos e obrigações do fiduciante(devedor) resumem-se em : ficar com a pose direta da coisa e o direito eventual de reaver a propriedade plena, com o pagamento da dívida; purgar a mora, quando lhe for movida ação de busca e apreensão, se tiver pago 40% do preço financiado; receber o saldo apurado na venda do bem efetuada pelo fiduciário para satisfação de seu crédito; responder pelo remanescente da dívida, se a garantia

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não se mostra suficiente; não dispor do bem alienado, que pertence ao fiduciário; entregar o bem, no caso de inadimplemento de sua obrigação, sujeitando-se á pena de prisão imposta ao depositário infiel.E a obrigação principal do credor fiduciário consiste em proporcionar ao alienante o financiamento a que se obrigou, como também, em respeitar direito ao uso regular da coisa por parte deste. Haja vista que, não deve molestar a posse direta do fiduciante e não se aproriar da coisa alienada, uma vez que é defesa a cláusula comissória.É proibido a estipulação de cláusula comissória nos direitos de garantia. No qual, sendo o devedor inadimplente, não pode o credor ficar com a coisa dada em garantia, mesmo que seu crédito seja maior. Incumbe-lhe promover as medidas legais para vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, e aplicar o preço no pagamento de seu crédito, entregando o saldo, caso houver, ao devedor.Sendo comprovada a mora do devedor,pode o credor considerar vencidas todas as obrigações contratuais e ajuizar ação de busca e apreensão, obtendo a liminar. A mora decorréra do simples vencimento do prazo para pagamento, mas deverá ser comprovada mediante o protesto do título ou por carta registrada,expedida por intermédio do Cartório de títulos e Documentos, ficando a critério do credor.Da SuperficieCódigo Civil de 2002 , introduziu o direito de superfície gratuito ou oneroso.O regramento do direito de superfície pelo Código Civil de 2002 trouxe consigo divergências no que tange à aplicação da legislação geral ou da especial. Nelson Rosenvald defende o posicionamento que não admite a aplicação da regra da lei de introdução, de acordo com a qual a lei posterior revoga a lei anterior, quando regula inteiramente a matéria nela tratada. Aduz, ainda, que a Lei nº 10.257/01 é especial e a sua finalidade é distinta do modelo apresentado pelo Código Civil, vez que o Estatuto da Cidade dirige-se exclusivamente aos imóveis urbanos. O direito de superfície é de origem exclusivamente romana e consiste na faculdade que o proprietário possui de conceder a um terceiro, chamado de superficiário, a propriedade das construções e plantações que este efetue sobre ou sob o solo alheio (solo, subsolo ou espaço aéreo de terreno), por tempo determinado ou indeterminado, desde que ocorra a escritura pública no registro imobiliário. A superfície insere-se no rol taxativo de direitos reais, constituindo-se mediante concessão, após a celebração de um contrato firmado por escritura pública, obrigatoriamente levado a registro, operando-se efeito erga omnes. Relativamente à natureza jurídica, repercute na doutrina uma polêmica, na qual questiona se seria o direito real de superfície uma verdadeira propriedade ou um direito real em coisa alheia. O melhor entendimento é defendido pelo professor Nelson Rosenvald, ao advogar que a natureza jurídica pertence a ambos, na medida em que o direito de superfície é um direito real sobre coisa alheia. Isso se dá porque sua formação é consectária de uma concessão do titular do domínio para fins de futura edificação ou plantação. Outrossim, ao ser concretizada pelo superficiário, converterá o direito inicialmente incorpóreo, em um bem materialmente autônomo à propriedade do solo do concedente. O direito de superfície será objeto de negócio jurídico de cessão gratuita ou onerosa admitindo-se, em caso de dúvida, a presunção da onerosidade. Sendo o contrato celebrado desta ultima forma poderão as partes estabelecer um valor a ser pago ao proprietário de uma só vez, ou uma remuneração mensal conhecida como solarium. Quanto aos tributos e encargos que incidirem sobre o imóvel responderá o superfíciário, de acordo com a regra do art. 1371 do Código Civil Brasileiro.Por último, além das causas comuns, como desaparecimento da coisa, são motivos para extinção do direito de superfície: a falta de pagamento do cânon; o advento do termo final; infração às clausulas contratuais, tais como destinação diversa daquela que foi concedida, o abandono do terreno e sua conseqüente deteriorização, a falta de pagamento dos tributos, etc.Extinta a concessão pela averbação no cartório de sua extinção, o proprietário ingressa na condição de titular da propriedade plena, adquirindo as acessões edificadas pelo superficiário, sem indenização a este, se nada constou no contrato. Caso ocorra a presença do superficiário ou de seus familiares no imóvel, após a extinção da concessão, caracteriza-se posse injusta, motivo pelo qual autoriza a reintegração de posse. Em sendo o imóvel desapropriado na constância da relação de superfície, a indenização caberá na devida proporção ao proprietário e ao superficiário, conforme apropriação econômica concreta de cada uma das partes.Uma das grandes vantagens do direito de superfície é a sua grande densidade econômica, porquanto uma pessoa tem a liberalidade de construir ou plantar em solo alheio, sem necessidade de adquirir o terreno, propiciando a concessão de função social à propriedade, evitando que o proprietário sofra sanções decorrentes da não-utilização da propriedade.