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REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL Nizete Lacerda Araújo Organizadores: Pier Giorgio Senesi Filho Roberto Rocha Tross Autores: Nizete Lacerda Araújo, Bráulio Madureira Guerra, Leonardo Cançado, Liciana Bayer, Mauro Mendes, Marcelo Loss Pereira Machado, Marília Inês Naves Cardieri, Matheus Flores Nascimento, Pier Giorgio Senesi Filho, Roberto Rocha Tross

REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

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REFLEXÕES SOBRE APROPRIEDADE INTELECTUAL

Nizete Lacerda AraújoOrganizadores: Pier Giorgio Senesi Filho Roberto Rocha Tross

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APOIO CULTURAL

Autores: Nizete Lacerda Araújo, Bráulio Madureira Guerra, Leonardo Cançado, Liciana Bayer, Mauro Mendes, Marcelo Loss Pereira Machado, Marília Inês Naves Cardieri, Matheus Flores Nascimento, Pier Giorgio Senesi Filho, Roberto Rocha Tross

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Re�exões sobre aPropriedade Intelectual

COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

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Nizete Lacerda AraújoPier Giorgio Senesi Filho

Roberto Rocha TrossORGANIZADORES

Belo Horizonte - MG2021

Re�exões sobre aPropriedade Intelectual

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FICHA CATALOGRÁFICA

R332 Re�exões sobre a Propriedade Intelectual / organi- zado por Nizete Lacerda Araújo, Pier Giorgio Senesi Filho, Roberto Rocha Tross – Belo Horizonte: 3i Editora, 2021.

128 p.

ISBN: 978-65-88696-15-6

1. Propriedade intelectual-Brasil. 2. Ordem dos Advo- gados do Brasil - Seção Minas Gerais - Comissão de Propriedade Intelectual. II. Título

CDU 347.77(81)

Elaborada por Rinaldo de Moura FariaCRB-6 nº 1006

Re�exões sobre a Propriedade IntelectualCopyright © 2021 by Nizete Lacerda Araújo, Pier Giorgio Senesi Filho e Roberto Rocha Tross

3i Editora LtdaTel: (31) 3335-6085E-mail: [email protected]: www.3ieditora.com.br

É proibida a reprodução deste livro ou de parte dele sem a prévia autorização dos organizadores.

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Autores

Nizete Lacerda Araújo. Presidente da Comissão de Proprie-dade Intelectual da OAB/MG. Advogada, especialista em Proprie-dade Intelectual e Inovação Tecnológica. Mestre em Direito Interna-cional e Comunitário/PUC Minas. Doutora em Direito Inter na cional Público/PUC Minas. Membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Membro da Associação Brasileira da Propriedade Intelec-tual-ABPI. Professora, palestrante, consultora em propriedade inte-lectual e autora de livros e artigos.

Bráulio Madureira Guerra. Colaborador da Comissão de Propriedade Intelectual OAB/MG. Graduado em Administração e Letras, aposentado no serviço público federal, cargo de Administra-dor, tendo desempenhado, na área da legislação de pessoal perti-nente, as funções de analista de processos, parecerista administra-tivo e instrutor de treinamento, autor de livros digitais sobre a Lei nº 8.112/90 (Regime Jurídico Único do servidor federal) – Dicioná-rio e Lei Comentada – e, em coautoria, das obras Dicionário de Pro-priedade Intelectual e Marco Legal da Inovação: Breves Comentá-rios.

Leonardo Cançado. Advogado (UFMG-1999), especialista em Direito Autoral e Direito da Arte, Membro da Comissão de Proprie-dade Intelectual da OAB∕MG e Presidente do INPAV - Instituto Nacional de Propriedade Artística Visual.

Liciana Bayer. Advogada, especialista em Direito de Autor, Membro da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB ∕ MG.

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Mauro Mendes. Advogado, especialista em Direito de Autor, Membro da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB ∕ MG.

Marcelo Loss Pereira Machado. Advogado, Músico e Filó-sofo, especialista em Direito de Autor na área da música e Membro da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB ∕ MG.

Marília Inês Naves Cardieri. Colaboradora da Comissão de Propriedade Intelectual OAB/MG. Jornalista e publicitária, especia-lista em Propriedade Intelectual, com ênfase em Indicações Geográ-�cas; mestre em Engenharia Ambiental – Mestrado Pro�ssional Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina.

Matheus Flores Nascimento. Membro da Comissão de Pro-priedade Intelectual da OAB/MG; Advogado e consultor jurídico sobre Propriedade Intelectual; Mestrando em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG; Palestrante e autor de artigos sobre Propriedade Intelectual.

Pier Giorgio Senesi Filho, MSc. Mestre em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Escola Superior Dom Helder Câmara. Especialista em Advocacia Cível pela Fundação Getúlio Vargas. Advogado, Membro da Comissão Propriedade Intelectual e da Comissão de Direito da Infraestrutura da OABMG.

Roberto Rocha Tross. Membro da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/MG; Advogado, especialista em controle externo pela Escola de Contas do Tribunal de Contas de Minas Gerais; Professor e palestrante sobre Direito de Autor; Autor de artigos sobre Direito de Autor.

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Comissão de Propriedade Intelectual OAB/MG Membros

Cintia Ribeiro Freitas

Frederico Franco Orzil - Vice Presidente

Jean Henrique de Maia Leite

Liciana Bayer Bronca

Marcelo Cançado

Marcelo Loss Pereira Machado

Mauro Eugênio Pimentel Mendes

Matheus Flores Nascimento

Nizete Lacerda Araújo - Presidente

Pier Giorgio Senesi Filho

Roberto Rocha Tross

Sâmia Batista Amin - Secretária

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9REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Sumário

COMPREENDENDO A PROPRIEDADE INTELECTUAL ....... 17 Nizete Lacerda Araújo

INOVAÇÃO: DA LEGISLAÇÃO FEDERAL À EGISLAÇÃO MINEIRA .............................................................................................. 23Nizete Lacerda AraújoBráulio Madureira Guerra

DIREITO DE AUTOR (“COPYRIGHT”) E AS NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................................... 29Liciana BayerMauro MendesMarcelo Loss Pereira Machado

UMA ABORDAGEM DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL ......... 36Nizete Lacerda Araújo

DIA MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL – 26 DE ABRIL ........................................................................................ 45Nizete Lacerda Araújo

MARCA, NOME EMPRESARIAL E NOME DE DOMÍNIO ...... 48Pier Giorgio Senesi Filho

DIREITO DE AUTOR E DIREITO DO ENTRETENIMENTO ........................................................................ 56Liciana Bayer

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DIREITOS AUTORAIS NAS MÍDIAS DIGITAIS ....................... 61Roberto Rocha Tross

A AÇÃO DE LUCRO NA INTERVENÇÃO COMO DESESTÍMULO À VIOLAÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECUTAL .................................................................................... 72Matheus Flores Nascimento

A LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL E A AGREGAÇÃO DE VALOR A PRODUTOS REGIONAIS .......... 78Nizete Lacerda AraújoMarília Inês Naves Cardieri

MARCAS BRASILEIRAS NO SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO: PROTOCOLO DE MADRI ................................ 85Nizete Lacerda Araújo

DIREITO AMBIENTAL E PROPRIEDADE INTELECTUAL ... 90Pier Giorgio Senesi Filho

SUCESSÃO NOS DIREITOS AUTORAIS ..................................... 95Leonardo Cançado

COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL OAB/MG: CANAL DE ORIENTAÇÃO PRÉ E PÓS PANDEMIA ............... 101Pier Giorgio Senesi Filho

DIREITOS AUTORAIS: FUNDO JUNTOS PELA MÚSICA E LEI ALDIR BLANC ................................................................ 106Mauro Mendes

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11REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

O BRASIL E A MARCA INTERNACIONAL ............................... 111Nizete Lacerda Araújo

A PATENTE EM TEMPOS DE CORONA VÍRUS ....................... 116Nizete Lacerda Araújo

DIREITOS AUTORAIS E “LIVES” EM TEMPOS DE PANDEMIA ............................................................................... 121Marcelo Loss Pereira Machado

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Prefácio

A Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, criada em 1930 para representar os interesses dos advogados, passando a partir de então a iniciar-se no Brasil, a regulamentação pro�ssional do advogado, com exigência de formação universitária, vem desempenhando a sua missão de maneira a instrumentalizar o advogado do Século XXI a operar o direito nas suas nuances mais modernas e atuais.

Em Minas Gerais, a OAB/MG, cumprindo a sua missão estatu-tária, tem foco especial à formação e capacitação sistemática dos advogados mineiros, disponibilizando atualização permanente de novos temas, que no desenvolvimento do conhecimento moderno se apresentam de maneira integrada em todas as áreas, o que o faz por meio das suas diversas comissões temáticas que tratam de assuntos especí�cos de interesse dos advogados e da sociedade.

O trabalho “REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTE-LECTUAL” trazido a público pela Comissão de Propriedade Inte-lectual, da OAB/MG, retrata o papel e esforço desta Comissão para apresentar aos advogados, estudantes, empresários e técnicos, abor-dagens, diversi�cadas e de leitura simples, sobre tão importante e necessário tema, que no século XXI desperta a atenção pelo desen-volvimento do novo conhecimento e da tecnologia, inclusive em períodos de pandemia como a vivenciada pelo mundo.

A OAB/MG, por meio da sua Comissão de Propriedade Intelec-tual, espera contribuir com a implantação e fortalecimento da Pro-priedade Intelectual no estado de Minas Gerais.

Raimundo Cândido JúniorPresidente OAB/MG

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Apresentação

A Leitura é a chave que destranca uma fonte inesgotável de conhecimento e transformação. É por meio dela que mudamos as formas de pensar, acrescentamos novos aprendizados e ganhamos instrumentos para, aos poucos, mudarmos o mundo.

É com muita alegria e honra que a Caixa de Assistência dos Advogados de Minas Gerais da OAB Minas - (CAA/MG), apoia a disponibilização da obra “Re�exões Sobre a Propriedade Intelectual” idealizado e escrito pela Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/MG.

Esse livro é resultado da tentativa permanente de contribuir para o fortalecimento e a sedimentação da cultura da propriedade intelectual em Minas Gerais e, claro, entre os advogados do estado.

Por meio de um texto claro, objetivo e totalmente pertinente, seus criadores levam ainda mais conhecimento jurídico aos advogados, estudantes e estagiários e todos aqueles que, de formas variadas, poderão se bene�ciar deste texto.

Na absoluta convicção de que “Re�exões sobre a propriedade intelectual” será mais uma porta de conhecimento e aprendizado, deixo o convite à leitura.

Luís Cláudio da Silva Chaves. Presidente em Gestão CAA/MG

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Compreendendo a Propriedade IntelectualNizete Lacerda Araújo

Entender o que é Propriedade Intelec-tual e porque o tema vem sendo tão abordado na atualidade é importante para a sua utilização apropriada.

Apresentação

A partir do mês de dezembro de 2018 inaugurou-se uma parce-ria, que certamente em muito bene�ciará a sociedade mineira, aí incluídas entidades governamentais, pesquisadores e acadêmicos em geral, empresários, estudantes nos níveis técnicos, graduação e pós graduação, em todas as áreas do conhecimento.

Trata-se da parceria entre a COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL DA OAB/MG e o SISTEMA MINEIRO DE INO-VAÇÃO (SIMI) DA SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR – DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

Criado pelo Decreto Número 44.418/2006, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SECTES, do Estado de Minas Gerais, o SIMI tem marcado a sua trajetória de acordo com a sua �nalidade que “busca integrar as ações governamentais, empresariais, e acadêmicas para, de forma cooperada, desenvolver a inovação no estado de Minas Gerais”.

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Criada pela Portaria Número 062/2001, a COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL / OAB/MG tem como objetivo assessorar a Presidência da entidade nos assuntos atinentes à proteção e defesa dos bens imateriais e, disseminar o tema na sociedade mineira.

Com a parceria que ora se inicia as duas entidades, por certo, se tornarão atores importantes no estímulo à inovação tecnológica e proteção, pela legislação de propriedade intelectual, aos novos pro-dutos, processos e serviços resultantes desse estímulo.

Dessa maneira, para maior clareza das expectativas estabelecidas na parceria, que se inicia, há necessidade de iniciar este primeiro contato, da COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL DA OAB/MG com o público atendido pelo SIMI, informando os con-ceitos iniciais a partir dos quais as ações e comunicação se estabele-cerão.

A OAB foi criada em 1930 para representar os interesses dos advogados, passando a partir de então a iniciar-se no Brasil, a regu-lamentação pro�ssional do advogado, com exigência de formação universitária.

Compõe a OAB um Conselho Federal, entidade máxima de representação dos advogados brasileiros e responsável pela regula-mentação da advocacia no Brasil que centraliza as decisões em todo o país, nos estados e Distrito Federal. No nível estadual é composta pelas Seções da Ordem ou Conselhos Seccionais, integradas, por sua vez, por diversas Subseções, que atuam nos municípios.

Em Minas Gerais a OAB/MG, no cumprimento das suas ativida-des estatutárias, investe especial atenção à formação e capacitação sistemática dos advogados mineiros, por meio da atualização per-manente de novos conhecimentos, que no século XXI se apresen-tam cada vez mais integrados, em todas as áreas do saber.

Para tanto, utiliza como um dos instrumentos para atender a sua missão cultural e social de maneira ampla e integrada, conforme

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prevista nos seus estatutos, a manutenção de diversas comissões temáticas que se especializam em assuntos especí�cos, assessorando a Diretoria da Entidade, capacitando os novos advogados, aperfei-çoando e atualizando aqueles com experiência.

Dentre as várias comissões da OAB/MG, o foco do presente texto é a COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, a partir de agora, parceira do SIMI na proteção de criações cientí�cas e artísticas, assim como na implantação da cultura da propriedade intelectual no estado de Minas Gerais.

A COMISSÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL DA OAB/MG é composta por pro�ssionais, especialistas na área de propriedade intelectual, desenvolvendo estudos e realização de eventos como forma de aperfeiçoamento e aprofundamento de temas relacionados com a área.

Propriedade Intelectual

Propriedade Intelectual (PI) é um tema amplamente utilizado na atualidade em decorrência da importância que o conhecimento assumiu como valor agregado aos novos bens produzidos. Aos tra-dicionais fatores de produção, terra, capital e mão de obra, agregou-se, nos últimos anos, o conhecimento com forte preponderância sobre os demais.

Refere-se a PI ao resultado do trabalho da manifestação da inte-ligência do homem no exercício de atividade do intelecto e de cria-ção. A produção de conhecimento, seja nas artes, na técnica ou na ciência, cria relações jurídicas, inclusive benefícios patrimoniais que podem ser auferidos pelos seus titulares. Tais relações formam um conjunto de direitos que passaram por variadas denominações, “propriedade intelectual”, “propriedade imaterial”, “direito de autor”, “direito autoral”, “direito sobre bens imateriais”.

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A expressão “Propriedade Intelectual” é a adotada atualmente pelos Estados e pelos organismos e tratados internacionais, como por exemplo, o Brasil e a Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI, só para citar.

A OMPI não oferece uma conceituação teórica do tema, preferiu elencar os direitos protegidos pela Propriedade Intelectual como aqueles relativos “às obras literárias, artísticas e cientí�cas, às inter-pretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas execu-tantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os campos da atividade humana, aos descobrimentos cientí�cos, aos desenhos e modelos industriais, às marcas de fábrica, de comércio e de serviço, assim como aos nomes e denomi-nações comerciais, à proteção contra a concorrência desleal, e todos os demais direitos relativos à atividade intelectual nos terrenos industrial, cientí�co, literário e artístico”.

Pode-se conceituar a Propriedade Intelectual como o ramo do direito que trata da proteção aos bens intangíveis, incorpóreos ou imateriais, resultantes da criação e engenhosidade do espírito humano.

Contemporaneamente, a abordagem desse ramo do direito está intimamente relacionada à economia mundial e às suas exigências, e em decorrência da celeridade com que a ciência tem evoluído e também do avanço da ciência da informação, que reduz cada vez mais o espaço de tempo entre a concepção de uma ideia, a sua materialização, e, a sua inserção no mercado consumidor mundial. O conhecimento novo é rapidamente disponibilizado e assim, pode ser facilmente apropriado, indevidamente, por terceiros.

Esta estreita interface da ciência a serviço da criação e invenção de bens com a economia, tendo como elo de ligação o avanço da informação, coloca em relevo a importância da proteção legal a ser dispensada a esses bens, a qual se dá por meio de regras especí�cas que compõem o direito da Propriedade Intelectual.

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21REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

A Propriedade Intelectual, portanto, protege as concepções ine-rentes aos bens intangíveis resultantes da geração de novos conheci-mentos, as quais podem ser artísticas e técnicas. É o gênero de onde se extraem as espécies, sendo que com a sua consolidação, duas principais espécies de criadores foram contempladas pelas primei-ras legislações, o criador no campo das artes e o criador no campo da técnica. Formaram-se assim, inicialmente, os dois grandes ramos do gênero, quais sejam o da criação tratado pelo Direito de Autor e Conexos e o da invenção, contemplado pela Propriedade Indus-trial.

O Direito de Autor protege as criações artísticas, englobando as obras literárias, musicais e as obras estéticas, enquanto a Proprie-dade Industrial protege as criações técnicas relacionadas com os bens imateriais aplicáveis à indústria, aí compreendidas as marcas, as patentes, os desenhos industriais, indicações geográ�cas e a repressão à concorrência desleal, de acordo com a Convenção de Berna, para o Direito de Autor e a Convenção de Paris, para a Pro-priedade Industrial.

Modernamente, agregaram-se ao direito de autor, os chamados Direitos Conexos, concernentes aos direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores fonográ�cos e das empresas de radiodifusão, e os Programas de Computador, relacionados aos so�wares. Novas modalidades de proteção surgiram como a das Cultivares, que protege a obtenção de variedade vegetal superior, distinta de outras cultivares e a Topogra�a de Circuitos Integrados afeta a interconexões, com a �nalidade de desempenhar uma função eletrônica.

Se, de um lado, a Propriedade Intelectual (PI) regulamenta a proteção de criações e invenções, de outro, o Sistema Mineiro de Inovação (SIMI) se utiliza dessas invenções para agregar valor aos seus processos e/ou produtos, com o objetivo de adquirir vantagem competitiva diante dos seus concorrentes.

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22 REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Portanto, se o Sistema Mineiro de Inovação necessariamente agrega novos valores aos produtos e processos disponibilizados para o mercado, valores que na atualidade são traduzidos na forma de novos conhecimentos, o Sistema de Propriedade Intelectual, por sua vez, assegura a proteção a determinados conhecimentos que se caracterizam, por exemplo, como invenções, que levadas à aplicação prática se tornam economicamente relevantes.

O Brasil, hoje, enfrenta o desa�o que se coloca para a maioria dos países, principalmente daqueles identi�cados como em fase de desenvolvimento, que é o desa�o de estimular a invenção, mas também o de dar um passo além, isto é, criar e sedimentar uma cul-tura de Propriedade Intelectual para que os bens por ela protegidos sejam transformados em inovações tecnológicas capazes de promo-verem o desenvolvimento social, econômico e tecnológico do país, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988.

No Estado de Minas Gerais, a COMISSÃO DE PROPRIE-DADE INTELECTUAL DA OAB/MG, e o SIMI se integram para enfrentar esse desa�o e assim se alinharem ao que prescreve a constituição brasileira.

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23REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Inovação: da legislação federal à legislação mineiraNizete Lacerda Araújo

Bráulio Madureira Guerra

Apenas no ano de 2004 autoridades, pesquisadores e cientistas perceberam a importância de adotar no país um suporte legal de incentivo à pesquisa.

“A primeira fábrica de ferro foi criada em 1811, na cidade de Congonhas do Campo, pelo então governador de Minas Gerais (...). Três anos mais tarde (...) auxiliaria a construção de outra indústria siderúrgica, a Real Fábrica de São João de Ipanema, em Sorocaba. Em outras regiões foram erguidos moinhos de trigo e fábricas de barcos, pólvora, cordas e tecidos. Laurentino Gomes. (GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. p. 215/216)

São verdadeiros desbravadores aqueles que se arriscam por novos mundos da ciência e da tecnologia: as di�culdades que se apresentam são pouco a pouco vencidas, e lentamente vai se mate-rializando um invento novo, uma inovação revolucionária, uma criação surpreendente, ou mesmo o aperfeiçoamento de algo já existente, mas, como revela a epígrafe, esse processo pode ser abre-viado e mais evidenciado se a participação pública se �zer presente.

Minas Gerais sempre teve um papel importante na economia e no desenvolvimento da Federação. E continua tendo. De pronto, busca adequar a legislação federal, que preza pelo estímulo e incen-tivo à inovação, às características regionais que lhe são afetas.

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24 REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Deve-se ressaltar que em um país de dimensões territoriais e culturais como o Brasil, em que se destaca a pujança da diversidade, é muito importante a participação dos Estados, assim como dos Municípios, nessa tentativa de criar um Sistema Nacional de Inova-ção (SNI). Só assim será possível regionalizar as soluções para pro-blemas previamente identi�cados e que demandam trato local e regional para a sua gestão.

Conhecimento, capital intelectual, ciência, tecnologia, �nancia-mento, incentivo e inovação são alguns dos conceitos que coman-dam o desenvolvimento industrial das nações.

Há 60 anos, na Copa de Mundo de 1958, na Suécia, as transmis-sões chegavam ao brasileiro por meio do rádio, de forma que hoje se torna algo inacreditável – e até hilariante - para um jovem, reple-tas de barulhos e chiados, alternando-se com ausência do som, para de novo se perceber a voz apaixonada do locutor.

Hoje, 2018, repita-se, 60 anos depois, tudo é claro, nítido, atraente, nada é necessário acrescentar, todos assistiram à Copa da Rússia e são testemunhas do desempenho técnico das transmissões, trazendo a pátria de Dostoiévski e de Tolstói para tão perto de nós. A isto se dá o nome de pesquisa, ciência e tecnologia, tríade que contribui decisivamente para o desenvolvimento de um país.

Centenas de exemplos como esse atestam a evolução da ciência e da tecnologia, notadamente ao longo das últimas décadas, e o ator a que se dá o nome de poder público contribuiu, em graus variados, para dar impulso a todo o processo.

Entretanto, de 2004 a 2018 – período de 14 anos, portanto, observou-se uma preocupação mais intensa no Brasil, de autorida-des, empresários, pesquisadores e cientistas para dotar o país de um suporte legal que não só possibilitasse, mas incentivasse um pro-cesso ininterrupto de pesquisas, experiências e busca pelo novo, fazendo com que o caminho entre uma ideia e um produto �nal se tornasse mais breve.

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25REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

A Constituição já possuía, originalmente, dispositivos que pro-curavam resguardar e incentivar a ciência e a tecnologia, nos termos dos artigos 218 e 219. Entretanto, depois das alterações e acréscimos decorrentes da Emenda Constitucional nº 85/2015, o panorama passou a mostrar um certo avanço do quadro legal brasileiro, relati-vamente tímido até então.

Em resumo, a legislação constitucional, a legislação ordinária federal e as legislações ordinárias estaduais – e complementemos, as municipais – tentam traçar, neste momento, um panorama de con-tribuição para o desenvolvimento tecnológico e econômico do Brasil por meio do estímulo à inovação.

Quando o legislador constitucional incluiu na Lei Maior o § 6º do art. 218 (estímulo do Estado na articulação entre entes das diver-sas esferas de governo) e artigo 219-B (cujo § 2º a�rma que Estados, Distrito Federal e Municípios deverão legislar no respectivo âmbito), conferiu ele certa independência às várias esferas, para estabelecer as respectivas normas disciplinadoras no espaço pró-prio.

Assim, o recente Decreto estadual nº 47.442/2018 (04/07/2018) constitui-se na regulamentação, com relação ao Estado de Minas Gerais, das Leis Federais Nº 10.973/2004 e Nº 13.243/2016, bem como da Lei Estadual Nº 22.929/2018 (12/01/2018).

De maneira geral, pode-se a�rmar que o legislador de Minas Gerais transcreveu neste Decreto o que deveria ser mantido, rea�r-mado e obedecido. Porém, detalhou o que merecia ser objeto de normatização mais pormenorizada e acrescentou disposições parti-culares que a especi�cidade do Estado o exige.

Portanto, ao dispor sobre “incentivos à inovação e à pesquisa cientí�ca e tecnológica no âmbito do Estado”, o Decreto mineiro de regulamentação das Leis de Inovação insere Minas Gerais ainda mais intimamente na cadeia da pesquisa e inovação tecnológica.

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26 REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Dessa forma, formalizou-se a inclusão das instituições habilita-das nas ações relativas ao desenvolvimento tecnológico, na condição de agentes do processo de incentivo à inovação, dentro dos espaços geográ�cos e políticos de sua competência, seja federal, estaduais ou municipais. O que o legislador constituinte e federal generaliza, o legislador estadual/municipal especi�ca e particulariza. No caso mineiro, as ICT se transformam em ICTMG, com a menção expressa – complementar à regra geral - das agências de fomento indispensáveis ao processo, quais sejam, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais e Banco de Desen-volvimento de Minas Gerais (BDMG).

Do mesmo modo, a criação do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Minas Gerais – Secti-MG, faz com que Minas passe a dispor de um sistema abrangente e e�caz, sem o qual as iniciativas particulares poderiam �car à deriva, sem a integração necessária.

A Lei federal nº 10.973/2004 pode ser considerada como o marco inicial da inovação no Brasil, com as alterações e acréscimos trazidos pela também federal Lei nº 13.243/2016. Ressaltem-se ainda a chamada Lei do Bem – Lei nº 11.196/2005 - e os respectivos decretos regulamentadores – nº 5.798/2006 e nº 9.283/2018.

A citada Lei estadual nº 22.929/2018 – cujos artigos 5º, inciso III, e 6º, inciso I, são fundamentos considerados pelo Decreto nº 47.442/2018 – incluiu Minas Gerais no círculo da inovação tecnoló-gica em termos de legislação. Com a promulgação deste recente Decreto, certamente o Estado de Minas Gerais fortalece o arca-bouço legal mineiro pertinente à matéria.

Dessa maneira, o estado de Minas de Gerais passa a ter a sua regulamentação própria como suporte legal básico para proporcio-nar o incentivo à inovação e à pesquisa nos vários aspectos que per-meiam a área cientí�ca e tecnológica.

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27REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Diante de uma estrutura legal decorrente de discussões ao longo dos últimos anos, acredita-se que o Brasil, nas suas várias esferas de governo, tenha buscado colocar, para a sociedade em geral, e para os pesquisadores em especial, instrumentos legais, ao lado de outros estímulos, que proporcionem atrativos para o investimento na pes-quisa cientí�ca e tecnológica, possibilitando condições para trans-formar seus resultados em produtos inovadores que propiciem o desenvolvimento local, estadual e nacional.

Ressalte-se que o primeiro passo já havia sido dado pelo Decreto nº 47.153/2017, que “Dispõe sobre incentivos à inovação tecnoló-gica no Estado e dá outras providências”. O atual Decreto nº 47.442/2018, muito mais abrangente, revogou-o, através do seu art. 110. Na verdade, são 111 artigos que abrangem disposições de uma atualização adequada aos fundamentos do conhecimento produzido no século XXI e, fruto de análise cuidadosa da legislação constitu-cional e federal, e, entre outros aspectos, tal Decreto abre caminho para as ações efetivas das Instituições Cientí�cas, Tecnológicas e de Inovação em terras mineiras.

Tal preocupação perpassa por vários estados da Federação e alguns diplomas legais estaduais até mesmo se anteciparam à orien-tação constitucional, antes mesmo do Decreto federal nº 9.283/2018, como é o caso, por exemplo, do Decreto nº 62.817/2017, do Estado de São Paulo. En�m, conscientes da maior segurança e de incenti-vos proporcionados pela legislação pertinente, os empresários, os empreendedores, os pesquisadores, os cientistas e os inventores independentes ousarão correr os riscos inerentes à atividade, com crença na possibilidade de que o sucesso esperado seja real.

Sabe-se que o caminho é árduo, exige persistência, abnegação e entusiasmo, e o êxito é certamente possível, mas incerto, como toda empreitada no processo de criação e de produção de ciência e tec-nologia.

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Aliás, assim sugere o ditado latino Per angusta ad augusta (“Por caminhos estreitos (se chega) a patamares superiores”), ou numa tradução mais livre “Pelo doloroso (se alcança) o maravilhoso”.

Que os partícipes do processo aproveitem a oportunidade de terem o embasamento legal que no passado lhes faltou e que sempre será passível de aperfeiçoamento, e se lancem nessa caminhada sem retorno nem �m, que certamente será responsável por trazer signi�-cativo desenvolvimento econômico, social e tecnológico para o Brasil.

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Direito de Autor (“Copyright”) e as novas tecnologiasLiciana Bayer

Mauro MendesMarcelo Loss

A era digital apresenta desa�os ao direito de autor o que exige uma proteção espe-cial a estes direitos.

Origem do Copyright

Em 1440 (há pequenas discordâncias quanto à data exata) foi criada a prensa de Gutemberg, que propiciava a impressão e publi-cação de escritos. Com a prensa, iniciou-se uma revolução na escrita e leitura e é marcado o surgimento no mundo do Direito de Autor.

A partir de então, o alcance das obras ao público atinge um nível nunca visto antes, que já não se reproduziam demoradamente atra-vés dos copistas, e sim, em processo industrial.

Historicamente, o primeiro conceito de copyright vem da Ingla-terra, em 1557, na Idade Média, onde existiam as corporações de ofício dos livreiros e editores - Stationer’s Company -, que detinham a carta ou licença real para publicação de textos e livros, sobre os quais os seus membros garantiam a exclusividade. Eles registravam a aquisição e assim passavam a ter direito de impressão e publica-ção. Apenas os editores recebiam as vantagens econômicas. Os auto-res não tinham direito algum e ainda eram censurados, sob duras

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penalidades, se imprimissem suas ideias que pudessem subverter essa ordem.

A primeira lei de direitos autorais conhecida foi instituída pelo Estatuto da Rainha Ana da Inglaterra em 1710, que �cou conhecida como Copyright Act. Isso porque, no início do século 18, os mono-pólios e privilégios passaram a ser vistos como obstáculos ao desen-volvimento do comércio e pretendia, também, limitar a pirataria.

Em 1790 o Congresso dos Estados Unidos sancionou o Copyri-ght Act. Surgem dois pensamentos sobre a proteção da criação artística no �nal do século 18 (depois do Copyright Act dos EUA e da Revolução Francesa): o Direito Autoral da Europa Continental centrado no Autor e no direito sobre suas obras e o Copyright nor-te-americano, que protegia a obra e sua exploração comercial.

Conceito de Direito Autoral

Direitos de autor, ou direitos autorais, são os direitos concedidos aos criadores sobre suas obras intelectuais, que podem ser artísticas, literárias e cientí�cas.

Os direitos autorais são divididos, para efeitos legais, em:• Morais: Garantem a autoria da criação;• Patrimoniais: Utilização econômica da obra intelectual.

Pode-se dizer que o direito autoral protege o autor em seus direi-tos morais, e o direito patrimonial, sobre suas obras; o copyright visa a proteger a exploração econômica da obra.

No caso da música, o direito autoral protege para recebimento o autor-compositor e a editora para cada execução pública e reprodu-ção.

Há também os direitos conexos vinculados à obra, que são rece-bidos pelas reproduções, representados pelos intérpretes, músicos acompanhantes, produtores fonográ�cos, gravadoras e selos.

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Há o direito de inclusão ou de sincronização, que é relativo à autorização para que determinada obra musical ou fonograma faça parte da trilha sonora de uma produção audiovisual (�lmes, nove-las, peças publicitárias, programação de emissoras de televisão etc) ou de uma peça teatral.

Quando se trata do uso apenas da obra musical executada ao vivo, a administração é da editora musical. Quando se trata da utili-zação do fonograma, a administração é da editora e da gravadora.

O Ecad – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – cuida da arrecadação e distribuição dos direitos decorrentes da exe-cução pública das músicas. Já os direitos de sincronização e sono-mecânicos devem ser defendidos diretamente por seus titulares ou suas associações de gestão coletiva.

Convenção de Berna – Convenção da União de Berna (CUB)

Adotada na cidade de Berna, Suíça, em 9 de setembro de 1886. Foi uma iniciativa para garantir o respeito ao direito do autor em territórios exteriores ao seu. Foram uni�cadas as regras que já exis-tiam em acordos bilaterais, criando-se um sistema multilateral para estimular o intercâmbio internacional de conhecimento, tecnologia e obras artísticas.

Hoje conta com 174 países signatários.O art. 7º da Convenção de Berna instituiu que a obra entra em

domínio público 50 anos após o ano subsequente ao do falecimento do autor. No Brasil, essa regra é de 70 anos.

Direito Autoral no Brasil

Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935) foi uma das pioneiras na defesa de direitos autorais no Brasil. Em 1917, ela fundou a Socie-dade Brasileira de Autores Teatrais, que posteriormente passou a se

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chamar Sociedade Brasileira de Autores - SBAT. No início era para atores de teatros, mas ampliou-se com o ingresso de compositores musicais.

Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935) foi uma das pioneiras na defesa de direitos autorais no Brasil.

Como cada compositor, intérprete, produtor e demais detento-res de direitos tinham uma associação, em 1973 a arrecadação foi centralizada no Ecad – Escritório Central de Arrecadação. Em 1977, iniciaram-se suas atividades em todo o território brasileiro.

Estatística e desa�os do Direito Autoral na era digital

A era digital apresenta desa�os ao direito de autor impactando sobremaneira a indústria do entretenimento. Pesquisas e novos conhecimentos, desenvolvidos pelas ciências da informação e inteli-gência arti�cial, �zeram surgir empresas e novas possibilidades de criação que hoje fazem parte do nosso cotidiano e que exigem pro-teção especial pelo direito de autor.

Os direitos autorais patrimoniais garantem ao autor o recebi-mento sobre a distribuição e as reproduções, que são as transmis-sões e execuções públicas.

A título de curiosidade, no Brasil, no caso de músicas em áudio visuais, são divididas as porcentagens para �ns de recebimento de acordo com sua importância. Por exemplo, o tema de abertura e encerramento de um �lme recebem 12 ∕ 12, tema de personagem, 8 ∕ 12, etc. Na Espanha e Reino Unido, não há essa distinção.

A TV aberta e a cabo representam 60% da distribuição musical.95% das pessoas que acessam o YouTube é para ouvir produção

musical com imagem.A previsão de investimento da Net�ix de conteúdo original no

Brasil a partir de 2019 é de R$8 bilhões. Há 125 milhões de pessoas inscritas na Net�ix no mundo.

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Um episódio judicial recente foi um marco para de�nir os rece-bimentos pelos autores no Brasil, que foi o acordo celebrado entre YouTube com Ecad e UBEM (União Brasileira de Editoras de Música). A UBEM esclarece que o YouTube utilizava há muitos anos milhões de obras musicais sem autorização, obtendo resulta-dos �nanceiros enormes sem remunerar autores e editores musicais. Quando acionada, pretendeu pagar somente 75% do que deveria, deixando de pagar os direitos conexos (que abrangem também intérpretes e músicos que participam da gravação originais). Ao contrário do que acontecia nos EUA, Inglaterra, Espanha, México e Argentina, que recebem os 100% de direitos autorais. Com o acordo, passam a pagar a totalidade dos direitos principais e conexos para os autores brasileiros.

A UBEM (União Brasileira de Editoras de Música) esclarece que o YouTube utilizava há muitos anos milhões de obras musicais sem autorização.

A �scalização é possível graças a recursos que as editoras de música possuem para identi�car todas as obras executadas naquele canal, como os serviços de streaming, como Spotify e Apple. Mas, dado o gigantismo dessas plataformas, há ainda intensa luta por melhor controle das execuções e melhores condições de remunera-ção de titulares de direito. Os valores pagos por streaming do audio-visual são divididos de acordo com as informações presentes no “cue sheet”.

Esclarece a UBC (União Brasileira de Compositores) que recentemente foram fechados outros acordos com grandes players do setor digital, como o entendimento que o ECAD alcançou com Net�ix, Spotify, Deezer, Apple Music, Napster e YouTube para o pagamento de direitos autorais. E para dar mais segurança jurídica, o STF (Supremo Tribunal Federal) manteve o entendimento do STJ (Superior Tribunal de Justiça) reconhecendo o streaming como execução pública passível de cobrança pelo Ecad.

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No caso da teledramaturgia, um caso recente ocorreu no �nal do ano de 2018, quando se estabeleceu uma polêmica entre um autor de novelas e alunos de um curso de dramaturgia. Os alunos argumentavam que o tema surgiu deles em uma matéria escolar e o autor se apropriou sem autorização. Essa polêmica envolveu a alta cúpula da Rede Globo de televisão pela ameaça que causava à sua programação, impedindo até o lançamento de um dos seus mais rentáveis programas, que são as novelas, no caso “O Sétimo Guar-dião”.

A questão que se discutiu era sobre a autoria da criação ou direi-tos autorais, hoje de signi�cativa relevância pelo desenvolvimento de novas tecnologias e sistemas de inovação que impulsionam esta área da Propriedade Intelectual, tornando um relevante fator de desenvolvimento econômico e tecnológico do país.

Com relação às obras de arte, ensina o Dr. Leonardo Cançado, advogado membro da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB ∕ MG que soluções para problemas envolvendo autoria, autentici-dade, proveniência e arrecadação de direitos autorais sempre encon-traram barreiras para que fossem adotadas. Desde 1973 há previsão legal para o Direito de Sequência, que garante ao autor ou seus sucessores uma participação de, no mínimo, 5% sobre as valoriza-ções da obra de arte a cada revenda (Lei 9.610 ∕ 98, art. 38).

Recentemente, com as novas tecnologias, especialmente do “blo-ckchain”, é possível adotá-lo com segurança. Trata-se de uma tecno-logia que surgiu em 2008, funcionando como uma rede que registra o tempo das transações, colocando-as em uma cadeia contínua imutável. É uma espécie de grande central contábil que registra vários tipos de transações e possui seus registros espalhados por vários computadores. Como o próprio nome indica, o sistema é for-mado por uma “cadeia de blocos”.

Para solucionar o problema do direito de sequência sem interfe-rir nas práticas do mercado de arte foi concebido um sistema

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baseado em dois contratos básicos: o de registro de autoria e o de transferência de propriedade, utilizados sempre em conjunto. O artista faz o registro de autoria da obra e o torna público. Em seguida, transfere a propriedade para a galeria ou o para coleciona-dor. O registro é con�dencial e criptografado. Todos os futuros pro-prietários da obra também devem registrá-la. Assim, a cada revenda, o sistema apura se houve lucro e coleta do vendedor 5% para o autor ou seu sucessor.

No caso da literatura, acompanhamos pela imprensa brasileira o noticiário sobre a entrada em domínio público, a partir de 2019, da obra de Monteiro Lobato, um dos mais populares escritores brasilei-ros. Certamente tal notícia trará um impacto importante no mer-cado editorial, possibilitando novas oportunidades de inovação e econômicas.

Assim, os direitos autorais, dado o desenvolvimento da internet e suas variadas possibilidades de inovação, com o avanço das artes e do entretenimento, desa�am os envolvidos a uma maior preocupa-ção com a sua proteção pelas normas da legislação de Propriedade Intelectual.

LEGISLAÇÃOConstituição Federal - art. V, XXVII, XXVIII

Código Penal - art. 184, §§ 1º e 2º

Lei 9.610 ∕ 98 – Lei de Direitos Autorais

Lei 12.853 ∕ 13 - Dispõe sobre a gestão coletiva de direitos autorais, altera, revoga e acrescenta dispositivos à Lei 9.610 ∕ 98

Decreto 8.469 ∕ 15 – Regulamenta a Lei 9.610 ∕ 98 e a Lei 12.853 ∕ 13 para dispor sobre a gestão coletiva de direitos autorais.

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Uma abordagem da Propriedade IndustrialNizete Lacerda Araújo

No presente texto elencaremos alguns conceitos que visam con-tribuir à implantação da cultura da Propriedade Industrial no estado de Minas Gerais

Neste espaço já tivemos a oportunidade de apontar a diferença entre Propriedade Intelectual, o gênero, e Propriedade Industrial, a espécie, que protege os bens destinados à indústria.

Alguns conceitos fazem parte da nomenclatura daqueles que lidam com a Propriedade Industrial e, para melhor compreensão, devem sempre ser referidos, até como forma de torná-los familiares àqueles que pretendem se dedicar à matéria, seja na indústria, seja na academia.

A seguir elencaremos alguns desses conceitos como contribui-ção à implantação da cultura da Propriedade Industrial no estado de Minas Gerais.

Tecnologia

Atualmente é o motor que conduz a vida moderna e se refere a conhecimentos sistemáticos para a fabricação de certo produto, a aplicação de um procedimento ou a prestação de um serviço, re�e-tidos em uma invenção, um desenho ou modelo industrial, um modelo de utilidade, ou uma nova variedade vegetal, ou na infor-mação ou quali�cação técnica, ou nos serviços e assistência propor-

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cionados por especialistas para a projeção, a instalação, a operação, ou a manutenção de uma fábrica, ou para a administração de uma empresa industrial ou comercial ou suas atividades.(Guia de Licen-ças para os Países em Desenvolvimento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual – 1977)

Em outras palavras, tecnologia é o conjunto das várias áreas do conhecimento que uma organização empresarial armazena, e que constitui o diferencial para o sucesso junto ao mercado em seu campo de atuação. (Lacerda Araújo, Nizete, Guerra, Madureira Bráulio. Dicionário de propriedade intelectual. Curitiba: Juruá, 2010, 216 p.)

Uma vez, que a tecnologia se re�ete em novos conhecimentos, materializados em um bem passível de proteção jurídica, a Proprie-dade Industrial dispõe de mecanismos próprios para esta proteção. No momento, vivemos o século da tecnologia.

Desenho ou Modelo Industrial

Refere-se ao aspecto ornamental ou estético de um objeto útil, que pode ser constituído por elementos tridimensionais como a forma ou superfície de um produto, ou bidimensionais, como os padrões, as linhas ou as cores. O desenho industrial protege a forma estética do produto agregando valor ao mesmo, e não à sua funcio-nalidade. Trata-se de uma forma de proteção apropriada, por exem-plo, à indústria de couro (calçados, bolsas, etc), de joias, de móveis, nichos industriais importantes em Minas Gerais.

Há meios sociais em que a qualidade do uísque, do perfume, só para citar alguns, é atribuída à apresentação da garrafa ou vidro que embalam o produto. Isto é agregação de valor e portanto, passível de proteção.

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Invenção

É a ideia nova que leva à solução prática de um problema tecno-lógico, não conhecida, ou utilizada anteriormente. Na invenção, o inventor elabora a sua criação a partir de conhecimentos novos, apresentando um invento inédito para solucionar uma demanda tecnológica existente.

A invenção sempre trará uma resposta prática a um problema técnico existente. Há invenções que são protegidas pela legislação e outras que foram excluídas da proteção pelo legislador.

No Brasil o seu acolhimento legal está fundamentado na Consti-tuição de 1988 e na Lei de Propriedade Industrial – LPI, sendo a proteção requerida junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, autarquia federal do Brasil para este �m.

Ao tratar do estímulo e implantação do sistema de inovação no país – SNI, a lei faz distinção entre o inventor institucional, ligado a alguma instituição ou empresa, e o inventor independente, que não possui qualquer vínculo com instituição ou empresa.

Inovação

Trata-se da capacidade de usar os conhecimentos agregados aos produtos, processos e serviços oferecidos, em bens de consumo, isto é, a capacidade de converter um invento técnico, uma invenção, em produto industrializado, econômico, apto a ser consumido pelo mercado.

O conceito de inovação foi ampliado pela Lei nº 13.243/2016 (Nova Lei da Inovação), estabelecendo que “inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços ou processos ou que com-preenda a agregação de novas funcionalidades ou características a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho.”

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Desde o ano de 2004 o Brasil vem investindo esforços no sen-tido de estabelecer um sistema inovativo no país (SNI), dada a importância da inovação nos negócios nacionais e internacionais do século XXI.

O país dispõe atualmente, no âmbito federal, de um marco legal de inovação com a legislação promulgada a partir de 2004 até feve-reiro de 2018. (vide Marco Legal da Inovação: breves comentários. Lacerda Araújo, Nizete; Guerra, Madureira Bráulio; Lobato, Cami-sassa R., Lobato; Doyle, Rosa Maria de Lourdes - Ed. Lúmen Juris. Rio de Janeiro/RJ. 2018).

Da mesma forma, também os Estados têm promulgado as suas leis, assim como alguns municípios.

Marca

De grande importância na implantação da cultura de proprie-dade intelectual é o conceito de marca. Trata-se do sinal visual-mente perceptível que serve para distinguir os produtos ou os servi-ços de uma empresa. Pode ser formado por uma ou várias palavras distintas, letras, números, desenhos ou imagens, emblemas, cores ou suas combinações e por combinações de palavras e cores, bem como por demais sinais, que podem compô-la.

A marca é um forte agregador de valor a um produto, processo ou serviço. Ela individualiza, identi�ca o produto, processo e ser-viço dos demais colocados no mercado levando o consumidor à sua escolha por aquele de sua preferência.

A marca pode ser de produto ou serviço, de certi�cação e cole-tiva, podendo ser registrada na forma nominativa, mista e tridi-mensional.

A escolha, o registro e a manutenção da marca são procedimen-tos que devem merecer a atenção do interessado no registro e manutenção da mesma. No momento da decisão, a escolha de

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pequenas palavras podem sugerir o sucesso da marca futura, como por exemplo, a conhecida marca Nike para produtos esportivos tem o mesmo nome do termo grego para “vitória”, associando-se com glória, sucesso e estrategicamente trabalhada para ser usada por famosos.

É importante chamar a atenção para o fato de que a propriedade da marca só se adquire com o seu registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI e que a mesma é renovável. Assim, como é importante esclarecer que a marca não deve ser confundida com o nome civil da empresa, o CNPJ, obtido nas Juntas Comer-ciais dos estados.

Patente

Este é um dos conceitos amplamente utilizado no que se refere a cultura de propriedade intelectual, por se tratar de uma forma robusta de proteção aos bens destinados a indústria e por ser consi-derado um dos índicadores de desenvolvimento de um país.

Patente é um título de propriedade temporária sobre uma inven-ção, modelo de utilidade, concedido pelo Estado, por meio de órgão especí�co, aos inventores ou autores, ou a outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação.

Por este documento, denominado Carta Patente, emitido pelo Estado, que no Brasil é delegado ao Instituto Nacional de Proprie-dade Industrial – INPI, cria-se uma situação jurídica pela qual a invenção patenteada só pode ser explorada, seja por meio de fabri-cação, utilização, venda e importação, pelo titular, dono da patente ou com sua autorização a terceiros. Esta autorização se formaliza por meio de atos jurídicos de licenciamento de produção/comercia-lização, ou cessão de titularidade.

A patente pode ser de invenção ou de modelo de utilidade e não é renovável.

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Patente de Invenção

Refere-se à proteção concedida a um novo produto, processo ou serviço, resultado de atividade inventiva e passível de ser aplicado industrialmente, que apresenta considerável progresso em seu setor tecnológico.

A patente sempre protege os bens destinados à indústria e intro-duz inovação tecnológica ao estado da arte, pelo que é considerada um importante índice de análise do desenvolvimento dos países.

Observa-se que a patente de invenção pode ser concedida tanto a novo produto, quanto a novo processo ou serviço e que a mesma não é renovável, após o seu prazo de vigência.

Modelo de Utilidade

É a proteção concedida a nova forma ou disposição, resultado de ato inventivo e passível de aplicação industrial, conferida a um objeto de uso prático, proporcionando aumento de sua capacidade de utilização.

Há que observar que enquanto na invenção se protege um novo produto, processo ou serviço, não existente antes no estado da téc-nica, no modelo de utilidade se protege uma nova forma, desenvol-vimento ou aperfeiçoamento a um objeto de uso prático, existente no estado da técnica aumentando a sua função.

Portanto, o modelo de utilidade não se aplica a processo ou ser-viço e, já existe a tecnologia no estado da arte, a qual será aperfei-çoada por novos conhecimentos agregados ao conceito inventivo inicial.

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Know How

Trata-se de conhecimento e experiência acumulado utilizado na fabricação de determinado produto agregando valor ao mesmo.

O know how não é protegido por patente nem por registro junto ao órgão o�cial, ou seja, não é protegível pela legislação de pro-priedade industrial. A sua proteção se dá pelo “segredo” que o torna inacessível aos concorrentes. Uma vez divulgado o know how, perde-se o seu valor pelo acesso ao mesmo.

Know How, portanto, é o “saber fazer” individual de um deter-minado produto que o individualiza e distingue de outros similares. Para maior clareza, basta lembrarmos aquele delicioso empadão que saboreamos aos domingos na casa da tia. Só na dela. Quando solici-tamos a receita nos é dada com a melhor das vontades, mas o nosso empadão nunca sai igual. Faltou a tia nos repassar o know how, isto é, o seu “saber fazer” aquele produto, o qual é guardado como segredo a sete chaves.

Importância

A tecnologia, como diferencial intrínseco do conhecimento, que hoje constitui valor agregado a qualquer produto, processo ou ser-viço, tem papel de indicador básico no processo de desenvolvi-mento de uma nação, seja utilizando como parâmetro a inventivi-dade nacional, seja a partir de sua importação no mercado inter nacional.

Com a revolução cientí�ca e tecnológica pós-guerra, o estágio de desenvolvimento dos países foi redimensionado em função de seus padrões tecnológicos, criando situação de desvantagem para as nações menos desenvolvidas, que não produzindo em seu território conhecimento técnico-cientí�co necessário para suprir suas carên-cias de desenvolvimento, foram levadas a buscá-lo no mercado

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externo criando o pesado ônus de volumosos pagamentos, decor-rentes do licenciamento para sua exploração e, para muitos, depen-dência cientí�ca e tecnológica.

Estimular o processo de invenção e agregar essas novas soluções tecnológicas aos serviços, processos e produtos industriais é questão de sobrevivência às exigências do mercado, onde a inovação tecno-lógica exerce papel de motor da atividade econômica.

Na economia globalizada o padrão que marca a diferença entre as empresas bem sucedidas e aquelas acomodadas, geralmente des-tinadas ao fracasso, é o padrão de utilização e proteção do fator ino-vador no desenvolvimento de seus serviços, processos e produtos.

A inovação torna-se assim, nos dias de hoje, requisito de funda-mental importância para o crescimento dos negócios das empresas, proporcionando também para o consumidor a redução de preços com melhoria da qualidade dos produtos e serviços e, principal-mente, integrando esforços que acabam provocando efeitos positi-vos sobre toda a economia. Entretanto, já está comprovado que, paralelamente a essas vantagens, existe também um efeito perverso, representado pelo desencadeamento do desenfreado processo de competição que, por sua vez, gera muitos perdedores.

Neste cenário, marcado como a era do conhecimento, os bens intangíveis, como aqueles protegidos pela Propriedade Intelectual, serão cada vez mais valorizados, tornando-se o diferencial no desenvolvimento dos Estados e no valor das empresas.

Consequentemente, o investimento em pesquisas para a promo-ção de inovação tecnológica, como fonte propulsora do progresso tecnológico, econômico e social vem ganhando fôlego por parte das empresas e dos países, quer individualmente, quer reunidos em blocos regionais.

Quanto mais consistente apresentar-se o sistema legal sobre Pro-priedade Industrial, mais atração exercerá nos investidores em pes-quisas e desenvolvimento de produtos e processos inovadores. Tal

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atração se exerce pela garantia sobre a titularidade das criações e pelo direito à sua exploração, que considera o diferencial inovador exigido pelo mercado atual, mesmo às tecnologias não patenteadas, mas que possuam acentuada dose de inventividade, e que mantidas como segredos de negócio podem garantir a competência para dis-putar lugar na concorrência, como por exemplo, é o caso da tecno-logia conhecida como “know how” (acumulação de conhecimento, “como fazer”).

É de especial interesse para os países em desenvolvimento a questão da Propriedade Industrial, desde o estímulo à sua criação, perpassando pela regulação, até a sua exploração, resultante em lucros �nanceiro, tecnológico e social para suas populações. Poucos países, nessa situação, perceberam sua importância e souberam fazer uso dela, transformando-a em benefício e fonte de desenvolvi-mento.

A importância da Propriedade Industrial não deve ser reconhe-cida apenas pelos países desenvolvidos, mas também por aqueles em desenvolvimento, de modo que possam ter acesso à tecnologia de ponta que propicia, não só a construção de infra-estrutura industrial, como também o desenvolvimento de tecnologias utilizá-veis na agricultura, considerando ser esta uma das atividades predo-minantes desses países.

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Dia Mundial da Propriedade Intelectual – 26 de abril

Nizete Lacerda Araújo

É reconhecida a importância dos bens intangíveis na economia do conhecimento e a sua função no desenvolvimento social, tecnológico e econômico do país. A Propriedade Intelectual, área do Direito que protege os bens intangíveis produzidos por todas as áreas do conhecimento, tem marcado o �uxo da economia local e mundial.

Apropriadamente, já em 2002 a então Ministra do Superior Tri-bunal de Justiça, Eliana Calmon, chamou a atenção para esta nova área do direito e assim se pronunciou:

“Na atualidade, a atenção dos juristas deve voltar-se para uma das grandes questões do novo milênio: a propriedade intelectual ou imaterial, as marcas e patentes de invenção.” (Eliana Calmon. Direi-tos de Quarta Geração: biodiversidade e biopirataria. Revista da Aca-demia Paulista de Magistrados, São Paulo, ano II, n.2, 2002, p. 47).

Reconhece-se a importância do tema e do ensino do Direito para a formação de pro�ssionais inseridos nessa atualidade do milê-nio, formação esta a ser complementada por capacitação e treina-mentos no decorrer do exercício da pro�ssão. Dessa forma, o Direito estará sempre alinhado às demais áreas do conhecimento de maneira interdisciplinar.

Com o objetivo de disseminar a compreensão da Propriedade Intelectual e implantar a adoção da sua cultura como instrumento do desenvolvimento, a Organização Mundial da Propriedade Inte-

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lectual - OMPI, organismo da ONU – Organização das Nações Unidas, instituiu no ano de 2000 o dia 26 de abril como o Dia Mun-dial da Propriedade Intelectual.

A partir de então, esta data é comemorada ao redor do mundo, oferecendo uma oportunidade para re�exão, discussão e iniciativas de criação e proteção aos bens intangíveis, reduzindo diferenças entre aqueles que dominam o conhecimento e os que não o detêm. Dessa forma, é uma oportunidade para se perceber o quanto a Pro-priedade Intelectual contribui com o �orescer das artes, da música e, o desenvolvimento de novas tecnologias para melhor qualidade de vida da Humanidade.

A �m de chamar a atenção para a amplitude e fortalecimento da Propriedade Intelectual, a OMPI sugere a cada ano, um tema espe-cí�co, para as comemorações do Dia Mundial da Propriedade Inte-lectual, como novas fontes de re�exão sobre o assunto.

Em 2019 o mote da comemoração, por exemplo, foi “Proprie-dade Intelectual e Esportes: Demonstrando as Conexões.”

O esporte nas suas variadas formas tem desenvolvido e anga-riado adeptos ao redor do mundo, agregando so�sticado conheci-mento à sua prática e desempenho, tanto nos campeonatos tradicio-nais, quanto nos paraolímpicos, tornando-se um espaço de alto desempenho e de inclusão de pessoas.

A Propriedade Intelectual tem muito a contribuir com o desen-volvimento do esporte, disponibilizando múltipla proteção aos pro-dutos e serviços relacionados às suas atividades, por meio de paten-tes de novas tecnologias, marcas dos seus produtos e eventos, desenho de novos produtos como o atual aperfeiçoamento dos cal-çados e vestuário desportivo, direitos autorais e outros desenvolvi-mentos que se �zerem presentes.

A estreita interface das artes e da ciência com o direito, na prote-ção desses bens imateriais, requer estudos e debates permanentes, para os quais se torna imprescindível a participação dos principais atores na implantação e manutenção de uma cultura de Propriedade Intelectual na comunidade nacional e global.

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Com este propósito, a realização do evento “Desa�os da Pro-priedade Intelectual” con�gura uma iniciativa da OAB/MG, por meio da sua Comissão de Propriedade Intelectual, que tem como objetivo a sedimentação da cultura da propriedade intelectual no Estado de Minas Gerais.

Nesta empreitada, se juntaram à OAB/MG, em parceria, a Orga-nização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI (WIPO, em inglês) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – Sedectes, por meio do Sis-tema Mineiro de Inovação – Simi.

Na agenda do evento, a OAB/MG está convidando representan-tes dos atores envolvidos nesta atualíssima área do direito, em um momento em que o conhecimento cada vez mais se apresenta indis-pensável para o desenvolvimento nacional.

Ressalte-se que a geração de inovação em produtos e serviços, assim como a criação na esfera das artes depende basicamente da utilização do conhecimento no âmbito da sociedade, processo esse que desencadeia permanentemente a apropriação de novos conhe-cimentos, em ciclo constante.

No caso particular do Brasil, existe um arcabouço legal especí-�co, ajustado a acordos internacionais sobre o tema, capaz de ofere-cer rumos de proteção pela Propriedade Intelectual aos bens imate-riais, enriquecido pela legislação relativa à inovação, a partir de 2004.

Para os “Desa�os da Propriedade Intelectual” são convidados extremamente bem-vindos representantes do Governo, da Indústria, do Comércio, do Direito e da Academia, para a abordagem, sob ótica diversi�cada, de temas relevantes no âmbito da propriedade intelec-tual, direcionados especialmente aos pro�ssionais e estu dantes de Direito, no sentido da sua integração ao novo contexto do século XXI.

Trata-se de uma iniciativa da OAB/MG que, na oportunidade, se junta a outros atores ao redor do mundo para re�exões pertinentes sobre alguns dos “Desa�os da Propriedade Intelectual”.

Junte-se a nós!

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Marca, nome empresarial e nome de domínioPier Giorgio Senesi Filho

Introdução

De forma simples e objetiva, o artigo aborda sinteticamente as proteções comumente utilizadas para a marca, o nome de domínio e o nome empresarial.

Uma empresa dispõe de várias possibilidades de proteção do seu negócio que lhe garanta uma convivência saudável com as concor-rentes e, principalmente, para que tenha com o consumidor de seus produtos uma relação de con�ança e �delidade. Como consequên-cia dessa relação ela será identi�cada por meio de sua marca, nome empresarial e pelo domínio na grande rede mundial de computado-res, a Internet.

Veri�ca-se que, não raro, muita confusão e possibilidades disto acontecer envolvem estas proteções da empresa ao seu negócio. Tanto o interessado, quanto o seu concorrente/competidor, com a adoção do seu nome empresarial, da marca de seus produtos e do domínio na internet, podem se envolver em con�itos e sofrer pre-juízos que são passíveis de serem evitados, seguindo-se regras sim-ples e claras, mas também obrigatórias, conforme a legislação.

Assim, o presente texto visa, de forma simples e objetiva, abor-dar sinteticamente as proteções comumente utilizadas para a “marca”, o “nome de domínio” e o “nome empresarial”. Para cada um dos três tipos acima há legislação especí�ca e, nela, há os indica-tivos para que o empreendedor tome as providências para a prote-

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ção especí�ca de seu nome e da sua marca. Tal identi�cação está entranhada num cipoal de leis e regras que, como dito, confundem e prejudicam os empreendedores de um modo geral, quando não são bem esclarecidos.

Marca

O site do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), esclarece que marca é todo sinal distintivo, visualmente perceptível, que identi�ca e distingue produtos e serviços, bem como certi�ca a conformidade deles com determinadas normas ou especi�cações técnicas.

A marca de um produto ou serviço se rege pelos seguintes pre-ceitos legais:

• Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88).

• Lei 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial - LPI).

• Decreto 75.572 de 1975 e Decreto 635 de 1992 (Con-venção da União de Paris para a Proteção da Proprie-dade Industrial - CUP).

• Decreto 1.355 de 1994 (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio - TRIPS de 1994).

Segundo o que dita a Cartilha de Propriedade Intelectual da OAB-RS (pág. 32):

”A marca de produto e de serviço é compreendida como um sinal distintivo visualmente perceptível, que visa a identi�car um produto ou serviço do titular deste bem ou de quem licitamente a tenha licenciado, podendo apresentar-se na forma nominativa, �gu-

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rativa, mista ou tridimensional” (...) “Às marcas registradas, a lei confere o direito de uso exclusivo em todo o território nacional. Ao titular é conferido o direito de ceder seu registro ou pedido de regis-tro, licenciar seu uso, e zelar pela sua integridade material ou repu-tação, conforme preceituado pelo art. 130 da LPI”.

Ainda na Cartilha de Propriedade Intelectual da OAB-RS encontram-se as informações relativas à proteção e são:

“A proteção é obtida através do depósito de um pedido de regis-tro de marca, que resultará na abertura de um processo administra-tivo perante o INPI. Este processo deverá preencher aos requisitos formais e materiais previsto na LPI e nas Resoluções do INPI, em especial o Manual de Marcas do INPI, instituído pela Resolução nº 142/2014. Uma vez apresentado o pedido, o mesmo será submetido a exame formal e, preenchendo os requisitos legais, será devida-mente publicado na Revista da Propriedade Industrial (RPI). Com a publicação do pedido, abre-se um prazo de 60 (sessenta) dias para que terceiros se oponham ao registro. Após o exame de mérito, o pedido poderá ser deferido e, posteriormente, com o pagamento da taxa especí�ca, será expedido o Certi�cado de Registro da marca”.

As de�nições acima encontram o seu respaldo na legislação per-tinente, internacional e nacional. No Brasil a Lei de Propriedade Industrial, no seu artigo 122, estabelece:

“São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais”. Portanto, são requisitos legais que o sinal a ser registrado como marca seja distintivo e visualmente perceptível e que não haja sinal idêntico anteriormente registrado no órgão o�cial para os mesmos produtos e serviços.

O registro de uma marca se faz no Instituto da Propriedade Industrial – INPI e é válido pelo prazo de dez (10) anos podendo ser renovável, por igual período, quantas vezes for do interesse do titular. A marca registrada agrega valor aos negócios da empresa.

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Nome de domínio

Se refere a um recurso criado para indicar os endereços da inter-net que são identi�cados como nome de domínio, mais fáceis de serem lembrados. Trata-se do Sistema de Nomes de Domínio, cuja sigla em inglês é DNS (Domain Name System) que é uma forma bem simpli�cada de indicar onde estarão armazenados, em servido-res computacionais, os dados de uma empresa. Segundo o Comitê Gestor da Internet, a entidade responsável pela manutenção, regis-tro, regramento, solução de con�itos é o Registro.br. Todas as infor-mações adicionais sobre a regulamentação podem ser obtidas em https://www.registro.br/dominio/regras.html, onde se encontram armazenadas as orientações para a criação do nome de domínio.

Conforme se observa dessas diversas informações na internet, o nome de domínio nada mais é que a sua identi�cação na rede mun-dial de computadores. Tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurídicas podem ter um nome de domínio, seguindo para tanto as regras impostas pelo NIC, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, entidade responsável por coordenar e integrar as ini-ciativas da internet no Brasil, criado pelo CGI.br – Comitê Gestor da Internet no Brasil. (Disponível em: https://www.nic.br/sobre/).

O registro do nome de domínio segue as regras do NIC e fun-ciona com uma consulta feita aos administradores de domínio e que consiste em formular uma consulta sobre a disponibilidade do nome, as extensões e �nalmente a contratação pelo prazo estabele-cido de manutenção do nome de domínio.

Os elementos e forma de obtenção do nome de domínio podem ser encontrados em https://registro.br/sobre/. É importante destacar que o nome de domínio é de quem chega e registra primeiro. É pro-tegido pelas regras do CGI.br.

No endereço eletrônico https://www.nic.br/atividades/ encon-tram-se todas as informações sobre as atividades do órgão controla-dor de domínios.

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Na atual evolução mundial da internet o nome de domínios constitui uma importante ferramenta de identi�cação e proteção nas relações globalizadas.

Para o domínio na internet, quem chega primeiro é quem tem o direito ao domínio. Neste sentido, o STJ, da lavra do Ministro João Noronha, decidiu: “No Brasil, o registro de nomes de domínio na internet é regido pelo princípio ‘First Come, First Served’, segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satis�zer as exigências para o registro” (REsp 1238041 SC 2001/0035484-1).

Nome empresarial

Com frequência o nome empresarial é confundido com o insti-tuto da marca. Pode-se entender o nome empresarial como sendo aquele utilizado por um empresário, pessoa física ou jurídica, para se apresentar ao mercado de maneira individualizada das demais empresas existentes.

A Constituição Federal em seu art. 5º, inc. XXIX trata da prote-ção jurídica, regrada e regulamentada pelo Código Civil e demais leis infraconstitucionais.

Enquanto a marca é regulamentada, no Brasil, pela Lei de Pro-priedade Industrial (LPI), o nome empresarial tem a sua regula-mentação prevista no Código Civil.

Portanto, é possível a�rmar que enquanto a marca é um sinal distintivo dos produtos e serviços da empresa, o nome empresarial é o nome civil de registro da empresa. Pode coincidir, ou não, da marca ser constituída do nome ou parte do nome empresarial.

A Constituição Federal de 1988 assegura em seu inciso XXIX os termos de proteção aos autores de inventos, à marca ao nome de empresas e signos distintivos a devida proteção. Diz o texto consti-tucional:

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“Art. 5º ...(...)XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos indus-triais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen-volvimento tecnológico e econômico do País;”

O Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406 de 2002 dedicou um capítulo para considerar o nome empresarial. O texto a seguir a des-taca artigos com os correspondentes comentários.

Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a �rma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capí-tulo, para o exercício de empresa.Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das socie-dades simples, associações e fundações.Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro.Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga.Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos cons-titutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averba-ções, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.Parágrafo único. O uso previsto neste artigo esten- der-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial.

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Serve, portanto, o nome empresarial para identi�car a pessoa jurídica ou pessoa física, e para se diferenciar dos seus concorren-tes.

Para resguardar registro de nome empresarial realizado, o inc. V do art. 35 da Lei 8934/94, prevê a impossibilidade de registro e arquivamento dos atos com nome em duplicidade. De forma a asse-gurar o nome empresarial em todo o território nacional, é necessá-rio que se promova o registro em todas as Juntas Comerciais esta-duais. Desta feita, o nome empresarial �ca protegido através do registro na Junta Comercial de cada Estado e do Distrito Federal e, por conseguinte, nenhum outro indivíduo poderá utilizar-se do nome registrado.

Conforme a Cartilha de Propriedade Intelectual da OAB-RS: “A proteção do nome empresarial é perfectibilizada a partir do arqui-vamento dos atos constitutivos da empresa e pressupõe a observân-cia dos princípios da novidade e da veracidade. A novidade consiste na capacidade de distinguir o nome frente aos outros nomes empre-sariais já constituídos, tendo prevalência aquele que primeiro tiver sido formalizado; enquanto que a veracidade é a capacidade de não induzir em erro terceiros quanto à forma de constituição e atividade da empresa. Como exemplo, cita-se o nome “Comercial de Autope-ças Xalalá Ltda.”, onde através do princípio da veracidade é possível se extrair o ramo de atividade (comercialização de autopeças) e a forma jurídica da empresa constituída (empresa limitada). Ainda que sirva como forma de identi�cação quanto à origem empresarial, o nome empresarial não se confunde com as marcas. Este último instituto é regulado através da Lei nº 9.279/96 e identi�ca produtos e serviços, enquanto o nome empresarial tem como função primá-ria a identi�cação da empresa ou do próprio empresário”.

Para �nalizar, anota-se a legislação pertinente ao nome empresa-rial:

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. - Lei 10.406/02 (código civil, com destaque na Parte Especial, Livro II – “Do Direito de Empresa”). - Lei nº 8.078/90 (código de defesa do consumidor, em especial no art. 4º, VI). - Lei 9.279/96 (lei da propriedade indus-trial). - Decreto 75.572 de 1975 e Decreto 635 de 1992 (convenção da união de Paris para a proteção da pro-priedade industrial). - Instrução Normativa nº 104 do Departamento do Registro Empresarial e Integração. - Decreto 1.355 de 1994 (acordo sobre aspectos dos direi-tos de propriedade intelectual relacionados ao comércio - TRIPS de 1994).

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Direito de Autor e Direito do EntretenimentoLiciana Bayer

Autores e entretenimento existirão em qualquer tempo, estes sempre necessitarão de regulação social e amparo dos seus direitos.

Do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, podemos extrair os conceitos básicos de autor e entretenimento.

Autor: “1. A causa principal, a origem de. 2. Criador de obra artística, literária ou cientí�ca.”

Entretenimento: “Ato de entreter(-se) ou aquilo que entretém.” E Entreter: “1. Distrair, para desviar a atenção. 2. Divertir com recreação.”

O Direito de Autor é o direito que todo criador de obra intelec-tual detém sobre sua criação. A Lei que trata do assunto de�ne o “Autor como sendo a pessoa física criadora de obra literária, artís-tica ou cientí�ca.”

O Direito do Entretenimento, por sua vez, é o direito que se relaciona a tudo que decorre do entretenimento – feito para divertir e distrair – atingindo criações artísticas de todas as formas, direitos constitucionais pétreos, além de criações e inovações tecnológicas.

O entretenimento é das mais antigas práticas do ser humano, buscado como forma de distração desde os tempos remotos, inde-pendente do formato em que poderia ser praticado. Era utilizado até mesmo como forma de atenuar o sofrimento gerado pelas guer-ras e a permanente luta pela sobrevivência dos povos.

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Ainda hoje a cidade de Roma conserva como seu principal monumento o Coliseu, datado do ano de 72 d.C., com capacidade para mais de 50.000 pessoas, um an�teatro onde as pessoas se reu-niam para assistir à combates entre gladiadores e animais selvagens, típica forma de entretenimento da época.

Na atualidade temos a internet acessada por mais da metade da população mundial – estimadas 4 bilhões de pessoas conectadas –, é uma das principais e das mais democráticas formas de entreteni-mento ao redor do mundo.

O direito do entretenimento engloba várias áreas do direito e tem re�exos nos direitos de personalidade, bem como no direito de imagem, direito à privacidade, direito à intimidade e à honra, todos constitucionalmente protegidos. Sem deixar de mencionar, ainda, a liberdade de expressão, com previsão na Constituição Federal.

Pode-se extrair dos dispositivos constitucionais que tratam do assunto, entre outros, mas precipuamente no Título “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, cláusulas pétreas da nossa Constituição Federal o seguinte:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;...IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientí�ca e de comunicação, independentemente de censura ou licença;...

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XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de uti-lização, publicação ou reprodução de suas obras, trans-missível aos herdeiros pelo tempo que a lei �xar;...”Por sua vez, a Declaração Universal de Direitos Huma-nos, proclamada em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, assim dispõe:Artigo XXVII“1. Todo o ser humano tem o direito de participar livre-mente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso cientí�co e de seus benefícios.2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interes-ses morais e materiais decorrentes de qualquer produ-ção cienti�ca, literária ou artística da qual seja autor.”Já a legislação brasileira de direito de autor – Lei 9.610/98 – dispõe no Título “Obras Intelectuais”, sobre as “Obras Protegidas” da seguinte forma:Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou �xadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:I - os textos de obras literárias, artísticas ou cientí�cas;II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;III - as obras dramáticas e dramático-musicais;IV - as obras coreográ�cas e pantomímicas, cuja execu-ção cênica se �xe por escrito ou por outra qualquer forma;V - as composições musicais, tenham ou não letra;VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográ�cas;

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VII - as obras fotográ�cas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotogra�a;VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litogra�a e arte cinética;IX - as ilustrações, cartas geográ�cas e outras obras da mesma natureza;X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geogra�a, engenharia, topogra�a, arquitetura, paisa-gismo, cenogra�a e ciência;XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelec-tual nova;XII - os programas de computador;XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclo-pédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu con-teúdo, constituam uma criação intelectual.”

Note-se que em todos os dispositivos mencionados, da legisla-ção nacional e internacional, existe a preocupação em regulamentar as criações intelectuais e garantir o acesso de todos a tais criações, como forma de sedimentação da cultura e do entretenimento.

À época da citada regulamentação, atualmente em vigor, a internet, maior meio de divulgação de obras intelectuais de inú-meras naturezas e consequentes violações destas, estava no início da sua vida.

Não havia como prever todo o avanço que decorreria da larga utilização da internet, menos ainda o aumento em larga escala das inovações tecnológicas a ela atreladas. Assim também a legislação vem tentando acompanhar tais avanços e muitos dispositivos já tratam especi�camente de relações na e com a rede de computado-res.

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Em um mundo cada vez mais digital, com a criação de inúmeros meios de difusão da cultura e do entretenimento, bem como com a criação de novas tecnologias, inimagináveis até bem pouco tempo, há a constante necessidade de atualização da regulamentação para proteção jurídica especí�ca dos direitos autorais e das inovações tecnológicas a nós apresentadas neste século.

Autores e entretenimento existirão em qualquer tempo, e com a atual escalada da disseminação de novas tecnologias e modalidades inovadoras de propagação da cultura, estes sempre necessitarão de regulação social e amparo dos seus direitos para geração de segu-rança jurídica na sociedade.

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Direitos autorais nas mídias digitaisRoberto Rocha Tross

Introdução

O século XXI pode ser chamado do século da informação. Esta-mos cercados de ideias, mensagens, compartilhamento de conteú-dos, fotos, músicas, �lmes. Tudo ao alcance das mãos através dos celulares ou mesmo dos computadores e até Smart TVs.

As pessoas dispensam bibliotecas, discotecas, hemerotecas, enci-clopédias ou videotecas. Basta ter um celular de boa tecnologia que todas essas informações chegam instantaneamente até o receptor.

A internet é considerada uma revolução. E como tal, nos brin-dou com milhões de facilidades e possibilidades de se obter algum tipo de conteúdo e até remuneração. Mas, trouxe problemas também.

Quem poderia imaginar há 05 anos, que teríamos as seguintes pro�ssões: Motorista de Aplicativo, Recolhedor de Patinete (que surgiu e já se extinguiu), Administrador de Página de Rede Social, Youtuber, Desenvolvedor de Start Up, entre outras.

Da mesma forma que a sociedade evolui e surgem novas opor-tunidades, dúvidas e desa�os aparecem.

Como regular as relações jurídicas diante deste novo mundo? Como �cam as relações de trabalho? As relações comerciais? As relações familiares?

O Direito, como ciência que regula as relações e con�itos huma-nos, está sempre um passo atrás, com seu enorme peso doutrinário e legal, tentando movimentar-se e acompanhar as transformações

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que o ser humano, com seu espírito inventivo, desenvolve a passos largos.

Neste mundo da informação, não seria diferente. Com tantas facilidades de obtenção de conteúdo, como o direito

autoral deve ser tratado nas novas tecnologias? Será que os disposi-tivos legais existentes conseguem proteger os autores de eventuais contrafações e plágios?

As músicas podem ser acessadas instantaneamente. Como �ca a remuneração dos autores? E o youtube? E o Facebook? Se eu copiar um trecho de uma música e colocar na minha rede social? Posso ter que pagar alguma coisa?

São algumas das perguntas que tentaremos responder com o presente artigo. A�nal, a sociedade está se desenvolvendo rapida-mente e os direitos não podem ser negligenciados e devem se ade-quar aos novos tempos.

O Direito de Autor

O Direito de autor é uma das áreas da Propriedade Intelectual que trata da proteção da criação do espírito humano, os direitos autorais e aqueles a eles relacionados.

No Brasil temos legislação especí�ca que regula os Direitos dos Autores de obras literárias, artísticas e cientí�cas e conexos.

Trata-se da Lei 9.610/98 que traz como auto de�nição o seguinte dispositivo:

“Art. 1º Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos.”

Assim, �ca evidente que a norma regulamenta os direitos de uma determinada pessoa. O chamado autor. Mas quem seria?

A própria Lei 9.610/98 o de�ne. Vejamos:

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“Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literá-ria, artística ou cientí�ca”

O autor é sempre uma pessoa física que cria uma obra, sendo esta literária, artística ou cientí�ca.

Daí podemos concluir que músicas, textos, livros, poesias, �lmes, peças de teatro, fotogra�as, esculturas, arte cinética, adapta-ções, enciclopédias, dicionários, programas de computador, coreo-gra�as, coletâneas entre outras, são consideradas obras protegidas pela legislação de direitos autorais.

Os principais estudiosos do direito de autor e a própria legisla-ção acabam por de�nir a “OBRA” como uma criação de espírito. Ou seja, a exteriorização de uma ideia.

É importante deixar claro que uma simples ideia não é protegida pelo direito pátrio. O simples pensar é algo importante para quem quer meditar, re�etir sobre a existência, imaginar mundos perfeitos, mas para o Direito Autoral, a ideia precisa, necessariamente, estar �xada em algum suporte material.

É o que de�ne o Art. 7º da 9.610/98:

“Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou �xadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

Veja que ela deve ser expressa e �xada. Vale um pedaço de papel, um papiro, um videocassete, um vinil ou mesmo uma �ta K7. Se aquela criação está expressa e �xada, ela e seu autor receberão as proteções legais de�nidas.

Outro ponto, no meu entender, genial da lei autoralista, é a parte �nal do Art. 7º quando a�rma, expressamente, que o suporte pode ser tangível ou intangível, conhecido ou mesmo que se invente no futuro.

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Com uma visão futurista do que viria, o legislador, de forma bri-lhante, garantiu a proteção das obras e dos autores, mesmo no mundo da internet e de suas mídias digitais. A�nal, os suportes atuais, conhecidos tais como redes sociais e streamings são intangí-veis e não existiam à época da edição da lei.

E mesmo assim, nossos autores recebem a devida proteção em suas criações Literárias, Artísticas ou Cientí�cas.

E como essa proteção ocorre? Vamos entender como este sis-tema funciona. Para tanto precisamos primeiro entender as mudan-ças tecnológicas.

Vamos a elas:

Histórico

Na maioria dos artigos e textos cientí�cos, os aspectos históricos aparecem no início. Porém, considerei importante mostrar onde queremos chegar, antes de mostrar de onde partimos.

Mas é fundamental um brevíssimo demonstrativo da história humana pelo olhar daqueles que sempre criaram obras e como estas foram tratadas desde nossos antepassados romanos.

“Em Roma, as obras eram reproduzidas por meio de cópias manuscritas, e apenas os copistas eram remune-rados pelo seu trabalho, que resultava em verdadeiras criações artísticas. Os autores nada recebiam: só lhes eram reconhecidas a glória e as honras, quando lhes res-peitavam a paternidade e �delidade ao texto original.” (Gandelman, Henrique. De Gutemberg à Internet. Pg. 27. Ed. RECORD.)

O que importava naquela época ao autor, era o reconhecimento por seu trabalho intelectual, não importando a remuneração por ela.

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Até que um grande inventor descobriu a primeira grande mara-vilha da comunicação humana após a escrita, a imprensa. Gutem-berg criou uma máquina que fazia cópias em série. E, evidente-mente, tudo mudou.

“Com GUTEMBERG, que inventou a impressão grá�ca com os tipos móveis (século XV), �xou-se de�nitiva-mente a forma escrita, e as ideias e suas diversas expres-sões puderam �nalmente, e aceleradamente, atingir divulgação em escala industrial. Aí, sim, surge real-mente o problema da proteção jurídica do direito auto-ral, principalmente no que se refere à remuneração dos autores e de seu direito de reproduzir e de qualquer forma utilizar suas obras.” (Gandelman, Henrique. De Gutemberg à Internet. Pg. 28. Ed. RECORD.)“Na Inglaterra, começa-se a reconhecer formalmente o copyright – e daí, também, a palavra royalty: o rei, isto é, a Coroa, concedia uma regalia (protegendo por 21 anos, e após registro formal) para a cópias impressas de deter-minada obra.” (Gandelman, Henrique. De Gutemberg à Internet. Pg. 29. Ed. RECORD.)“A Revolução Francesa de 1789, com sua exacerbação dos direitos individuais, adicionou ao conceito inglês a primazia do autor sobre a obra. O droit d’auteur enfoca também os aspectos morais, o direito que o autor tem ao ineditismo, à paternidade, à integridade de sua obra, que não pode ser modi�cada sem o seu expresso con-sentimento. Mesmo que o autor ceda todos os direitos patrimoniais referentes à sua obra, ele conserva em sua esfera esses direitos morais, que são inalienáveis e irre-nunciáveis.” (Gandelman, Henrique. De Gutemberg à Internet. Pg. 30. Ed. RECORD.)

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Com estas breves pinceladas podemos entender os princípios históricos do Direito Autoral e as alterações que sofreu. No Brasil a Lei 9.610/98 foi o grande marco legal que vigora até hoje e protege autor e obra, conforme dissemos anteriormente.

Mas o presente texto não trata apenas do Direito Autoral e Conexos. Estamos a falar também sobre as Mídias Digitais. Vamos conceituá-las.

Mídia

Mídia é meio, caminho. O “local” pelo qual devemos passar para alcançarmos alguém e comunicar-lhe algo. É o conjunto dos diver-sos meios de comunicação, com a �nalidade de transmitir infor-mações e conteúdos variados.

Abrange uma série de diferentes plataformas que agem como meios para disseminar as informações, como os jornais, revistas, televisão, rádio e internet, por exemplo.

Pelo que já aprendemos até aqui, podemos concluir que uma mídia pode ser um meio intangível ou tangível no qual uma obra pode ser expressa ou �xada.

Ou seja, as obras utilizadas por qualquer mídia, devem sofrer proteção da Lei 9.610/98.

E o fato de ser ou não digital, não importa para o que determina a Lei.

Até porque a Tecnologia Digital pode ser de�nida como: “um conjunto de tecnologias que permite, principalmente, a transforma-ção de qualquer linguagem ou dado em números, isto é, em zeros e uns (0 e 1). Uma imagem, um som, um texto, ou a convergência de todos eles, que aparecem para nós na forma �nal da tela de um dis-positivo digital na linguagem que conhecemos “(imagem �xa ou em movimento, som, texto verbal.)(http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/tecnologia-digital)

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67REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL

Como resta claro, uma Mídia (meio) baseada em tecnologia digital (linguagem binária) forma o que nós chamamos hoje de MÍDIAS DIGITAIS que podem possuir basicamente três categorias:

Os Microblogs

Blogs extremamente curtos estabelecidos em REDES no qual postam-se mensagens muito curtas. Geralmente com menos de 200 caracteres. O Exemplo mais emblemático é o TWITTER.

As redes sociais

É uma estrutura social formada por pessoas que compartilham interesses similares. O propósito principal das redes sociais é o de conectar pessoas. Você preenche seu per�l em canais de mídias sociais e interage com as pessoas com base nos detalhes que elas leem sobre você. Pode-se dizer que redes sociais são uma categoria das mídias sociais.

Blogs

Blogs são páginas on-line, atualizadas com frequência, que podem ser diários pessoais, periódicos ou empresariais. Dessa forma, são formas de comunicação de pessoas e de instituições com o mundo.

Em todos os casos acima citados, as pessoas podem comparti-lhar de forma instantânea, obras previamente criadas por um autor. Sejam músicas, trechos de poemas, vídeos, etc.

Em todos os casos, incide a proteção da Lei 9.610/98, de Direito de Autor e Correlatos.

Tal proteção se subdivide em Direitos Morais e Direitos Patri-moniais do Autor.

Vamos a eles.

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Direitos Morais do Autor

O Direito de Autor tem características muito emblemáticas, uma vez que, aquele que criou a Obra, é possuidor de uma série de prer-rogativas e proteção legal.

Não seria razoável, após todos os esforços criativos, que a Obra fosse simplesmente colocada em circulação, sem que seu criador tivesse quaisquer direitos econômicos e morais sobre sua criação de espírito.

Diante disso, o legislador cuidou de garantir essa interrelação Autor/Obra de modo a �xar uma importante manutenção de con-trole tanto econômico quanto moral por parte do Autor.

Dentro da técnica legislativa, valorou os Direitos Morais como mais signi�cativos, aparecem descritos no Título III (Direitos do Autor) Capítulo II (Dos Direitos Morais do Autor).

De�ne a partir do Artigo 24.

Art. 24. São direitos morais do autor:I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencio-nal indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;III - o de conservar a obra inédita;IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modi�cações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;V - o de modi�car a obra, antes ou depois de utilizada;VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua repu-tação e imagem;

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VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o �m de, por meio de processo fotográ�co ou asse-melhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qual-quer dano ou prejuízo que lhe seja causado.

Essa proteção garante ao autor, não apenas os direitos patrimo-niais sobre a obra, mas também os direitos morais. Ele pode impe-dir sua publicação e pode exigir autorização prévia para que seja postada.

É o que descreve o Art. 28 do diploma legal autoral.

A Responsabilidade Civil

Pois bem, se o Autor tem o direito de receber pelo conteúdo de sua obra, ou até impedir a sua execução, como tal fato pode ser pro-tegido pelo direito, uma vez que as pessoas não podem ser controla-das em sua atuação como membros de uma Mídia Digital?

Para tentar resolver esse dilema legal, foi instituída a lei 12.965/14 que regulamenta o uso da Internet no Brasil.

O art. 19 aduz:

“Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civil-mente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial especí�ca, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.”

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Já o § 2º, deste artigo, a�rma:

“§ 2o A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão legal especí�ca, que deverá respeitar a liber-dade de expressão e demais garantias previstas no art. 5o da Constituição Federal.”

O Art. 31 do mesmo diploma traz uma combinação dos dois dispositivos acima citados, com o seguinte texto:

“Art. 31. Até a entrada em vigor da lei especí�ca prevista no § 2o do art. 19, a responsabilidade do provedor de aplicações de internet por danos decorrentes de con-teúdo gerado por terceiros, quando se tratar de infração a direitos de autor ou a direitos conexos, continuará a ser disciplinada pela legislação autoral vigente aplicável na data da entrada em vigor desta Lei.”

Ou seja, a responsabilidade pela utilização irregular de obra alheia em uma Mídia Digital, continua sendo a prevista na Lei 9.610/98.

A proteção está insculpida no Título IV Capítulo II, Das Sanções Civis. Veja o que a�rmam os Arts. 102 e 104.

“Art. 102. O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzi-dos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível.”“Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou

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fonograma reproduzidos com fraude, com a �nalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidaria-mente responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior.”

Há aí duas questões bem claras. Aquele que se utiliza de qual-quer espécie de mídia social para realizar um plágio, contrafação ou qualquer agressão a um direito autoral, deve, imediatamente, cessar a utilização e ainda ser responsabilizado pecuniariamente por tal atitude. Da mesma forma, o provedor ou rede social que permite a realização de atitude irregular é, de acordo com o Art. 104, da 9.610/98, solidariamente responsável.

Conclusão

Após esta breve análise, concluímos que o autor que se sentir lesado com a utilização ilegal de sua obra deve comunicar imediata-mente o provedor ou rede social exigindo a retirada imediata do conteúdo da obra. Posteriormente, através de ação própria, requerer indenização daquele que plagiou ou postou irregularmente, bem como do provedor ou rede social, em listisconsócio passivo, pela responsabilidade solidária que a lei lhe imputa.

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A ação de lucro na intervenção como desestímulo à violação da Propriedade Intelecutal

Matheus Flores Nascimento

O artigo pretende trazer a possibilidade da “Ação de Lucro de Intervenção” como meio justo de reparação pela exploração de bem ou direito alheio.

Introdução

No ambiente atual, marcado pela revolução digital e acesso rápido à informação, esta se tonou cada vez mais presente na vida das pessoas. Basta apenas um toque no celular e “voilà”, encontram-se diversos conteúdos como músicas, textos, imagens, empresas, pro-dutos, serviços, programas de computadores, dentre outros.

Se por um lado o avanço tecnológico trouxe desenvolvimento econômico, maior visibilidade às obras artísticas, produtos e servi-ços, por outro, trouxe também o aumento da pirataria ou contrafa-ção, conhecidas como cópia, venda ou distribuição de material inte-lectual sem autorização dos respectivos proprietários.

Em que pese a proteção legal que garante ao detentor da pro-priedade intelectual o direito de impedir que outros utilizem inde-vidamente o conteúdo protegido, inclusive, com possibilidade de recebimento de indenização, muitas vezes isso não é su�ciente para reparar os prejuízos causados e desestimular o uso não autorizado.

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Nesse sentido, o presente artigo pretende trazer a possibilidade da “Ação de Lucro de Intervenção” como meio justo de reparação pela exploração de bem ou direito alheio, garantindo não apenas indenização por Danos Morais ou sobre parte do lucro auferido, mas restituição integral do lucro obtido pela violação dos direitos, patrimoniais e/ou morais, garantidos pela propriedade intelectual.

Propriedade Intelectual

O leitor, com certeza já ouviu falar sobre a importância de regis-tro e proteção de marcas, patentes e direitos autorais. Mas o que todas essas palavras têm em comum?

Direitos autorais, marcas e patentes, além de outros, são espécies de propriedade intelectual.

A propriedade intelectual abrange todas as criações imateriais decorrentes da atividade inventiva do ser humano e permite aos res-pectivos criadores o direito de reivindicar a autoria, bem como dispor da obra ou criação, da melhor maneira que lhes interessar.

Dentro da propriedade intelectual encontram-se três grandes grupos, direito autoral, propriedade industrial e proteção sui generis.

O direito autoral abarca:1. a) Direitos de autor, compreendidos como:• obras literárias, artísticas e cientí�cas;• programas de computador;• descobertas cientí�cas.

1. b) Direitos conexos envolvem as interpretações dos artistas intérpretes e as execuções dos artistas executantes, os fonogramas e as emissões de radiodifusão.

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A propriedade industrial envolve:1. a) Patentes que protegem as invenções criadas com o obje-

tivo de produção em escala;2. b) Marcas, nomes e designações empresariais;3. c) Desenhos e modelos industriais;4. d) Indicações geográ�cas;5. e) Segredo industrial e repressão à concorrência desleal.

A proteção sui generis abrange:1. a) Topogra�as de circuitos integrados;2. b) As cultivares (novas espécies de plantio);3. c) Conhecimentos tradicionais.

Mediante a propriedade intelectual, é possível ao dono da cria-ção impedir terceiros, em todos os territórios em que dispõe de pro-teção, de copiar, produzir, usar, colocar à venda, vender, importar ou exportar o objeto da invenção, sem que haja consentimento para tal.

Legislação

No Brasil, a propriedade intelectual encontra-se resguardada por um conjunto de leis distribuídas no nosso ordenamento jurí-dico.

Dentre elas, cita-se as seguintes:

• Propriedade industrial- Lei 9.279/96• Direito autoral- Lei 9.610/98• Lei do so�ware- Lei 9.609/98• Cultivares- Lei 9.456/97• Topogra�a de circuito integrado- Lei 11.484/07• Conhecimento tradicional- Decreto 8.772/16

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Veri�ca-se, então, que o legislador pátrio cuidou de editar normas para garantir cada um dos objetos da propriedade intelec-tual, resguardando aos respectivos criadores o direito de usar, ceder total ou parcialmente a criação, além de impedir que outros o façam.

Lucro da intervenção e possibilidade de cumulação com indenização.

No ordenamento jurídico brasileiro, encontram-se normas que garantem ao ofendido o direito a indenização seja ela material ou moral.

Exemplo disso é o artigo 927 do Código Civil, o qual dispõe que aquele que causa dano a outrem �ca obrigado a repará-lo.

Via de regra, quando ocorre a utilização não autorizada da pro-priedade intelectual o poder judiciário é acionado, para que aquele que infringe os direitos garantidos por lei, indenize por danos morais e/ou materiais o real detentor.

Acontece que sempre houve di�culdade para se quanti�car qual seria o prejuízo a ser reparado no caso de violação aos bens imate-riais, tornando muitas vezes imprevisível o valor da indenização.

Por outro lado, frequentemente, os valores arbitrados judicial-mente não se mostravam capazes de desestimular a prática ilícita, uma vez que mesmo após o pagamento da indenização por danos morais ou materiais, o infrator permanecia com os lucros resultan-tes da exploração comercial do bem alheio, restando preservado o enriquecimento ilícito.

Nesse contexto, surgiu por parte de alguns juristas a tese de que, além do dever de reparação por danos morais e materiais causados pela utilização não autorizada com �ns econômicos ou comerciais, o titular do bem violado tem contra o infrator o direito de exigir a restituição integral do lucro decorrente da prática ilícita.

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Segundo Sergio Savi, o lucro da intervenção, caracteriza-se pelo ganho auferido por aquele que, sem autorização, interfere em direi-tos ou bens jurídicos alheios (SAVI, Sérgio. Responsabilidade Civil e Enriquecimento sem causa. Editora Atlas, 2012.)

O fundamento legal do lucro da intervenção decorre da disposi-ção contida no artigo 884 do Código Civil, o qual descreve que “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.”

Nessa ótica, revela-se possível ao ofendido pela violação dos direitos da propriedade intelectual buscar judicialmente, além da indenização moral e material pelos prejuízos sofridos, todo lucro decorrente da intervenção.

Entendimento do STJAté recentemente, a ideia de punir o ofensor com a perda inte-

gral do lucro resultante da prática ilícita não era muito aceita pelo judiciário, contudo o Superior Tribunal de Justiça, em decisão ino-vadora, reconheceu a aplicabilidade do lucro da intervenção e determinou à uma empresa a restituição integral do lucro recebido pela utilização não autorizada da imagem de uma atriz.

A decisão foi proferida nos autos do Recurso Especial nº 1.698.701, de relatoria do ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, membro da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.

Na decisão, o ministro esclareceu que diferente da indenização decorrente da responsabilidade civil, compreendida pela reparação por prejuízos morais e materiais sofridos, o lucro da intervenção devolve ao titular do bem os ganhos resultantes da interferência em bem ou direito alheio, do qual emergiu o enriquecimento ilícito.

Destacou ainda ser plenamente viável a cumulação de indeniza-ção por danos morais e materiais com o pedido de restituição por enriquecimento ilícito.

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A decisão se revela como importante paradigma para garantir aos titulares de bens imateriais a reparação adequada pelo uso não autorizado, bem como desestimular esta conduta ilícita que cresce cada vez mais nos dias de hoje.

Conclusão

Tendo em vista que a propriedade intelectual tem como maior objetivo o estímulo à criatividade e a proteção à atividade inventiva, a ação de lucro da intervenção, recentemente chancelada pelo STJ, representa importante ferramenta de combate ao uso não autori-zado de direitos autorias, marcas, patentes e outros espécies de bens e direitos imateriais, reforçando ainda mais a proteção já assegurada em lei.

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A Lei de Propriedade Industrial e a agregação de valor a produtos regionais

Nizete Lacerda AraújoMarília Inês Naves Cardieri

O presente artigo abordará a importância de um instituto espe-cí�co da propriedade industrial, isto é, dos bens destinados à indús-tria e que de maneira especial agrega valores a produtos regionais.

No mundo globalizado de hoje em que as conexões se estabele-cem instantaneamente entre o “local” e o “global”, especialmente na esfera da concorrência e das relações comerciais, a agregação de valor por meio do conhecimento e do savoir faire na geração de produtos, processos e serviços faz o diferencial. É ela que vai contri-buir com o sucesso na economia nacional e internacional.

Em mais de uma ocasião demonstramos neste mesmo espaço, a contribuição da propriedade intelectual na agregação de valor a bens, seja por meio das marcas, das patentes, dos desenhos indus-triais ou dos direitos autorais, dentre outros. Hoje vamos abordar a importância de um instituto especí�co da propriedade industrial, isto é, dos bens destinados à indústria, e ainda pouco divulgado no Brasil. Trata-se das indicações geográ�cas (IG).

De acordo com a Lei de Propriedade Industrial, Lei Nº 9.279/96, “constitui indicação geográ�ca a indicação de procedência ou a denominação de origem” (art.176). E nos artigos seguintes a lei prossegue nos fornecendo as de�nições da indicação de procedên-cia (IP) e da denominação de origem (DO), levando à conclusão de que indicação geográ�ca é o gênero do qual as duas são espécies.

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Assim, indicação de procedência nada mais é do que o território (nome do país, cidade, região ou localidade) que tenha se tornado conhecido pelo valor que agrega aos bens e serviços ali prestados, produzidos, extraídos e ou fabricados. Ou seja, o valor que se agrega aos bens e serviços, os quais advêm da qualidade, da reputa-ção ou outra característica essencialmente atribuída à origem geo-grá�ca daquele produto ou serviço. É um nome geográ�co que associa determinado produto ou serviço, a uma região especí�ca, que �cou conhecida pela excelência dos seus produtos ou serviços. Quem já não ouviu falar dos famosos perfumes franceses? E do café brasileiro? Ou ainda, dos biscoitos da cidade mineira de São Tiago? Assim, como do famoso queijo Canastra?

A denominação de origem, por sua vez, refere-se ao nome geo-grá�co do país, cidade, região ou localidade que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devem exclusiva ou essencialmente ao meio geográ�co, incluídos fatores naturais e humanos, essenciais e determinantes para a diferenciação e estabe-lecimento de excelência de um determinado produto ou serviço. A lei exige a comprovação da qualidade do produto, serviço para se caracterizar a denominação de origem. Quem já não ouviu falar no Champagne? E nos vinhos do Vale do Vinhedo no Rio Grande do Sul?

Não são poucos os autores que citam a utilização de nome geo-grá�co para designar produtos oriundos da mesma região; trata-se de uma prática antiga, como por exemplo, os vinhos de Corinthio e de Rodhes e no império romano, o famoso mármore de Carrara.

Apesar de serem conceitos empregados no direito internacional e no direito de propriedade industrial a indicação geográ�ca é pouca utilizada, sobremaneira nos países emergentes, enquanto recurso de inserção concorrencial e comercial, nacional e internacionalmente.

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No Brasil, já temos uma legislação mínima que regulamenta o assunto e, em que pese a necessidade de seu aperfeiçoamento, nem mesmo esse mínimo é conhecido dos interessados e do público em geral. É necessário entender a sua importância e reconhecer que a indicação geográ�ca se trata de um status dado a determinados pro-dutos e serviços em função de determinadas características espe-ciais aliadas a um alto padrão de qualidade. E mais: o selo de uma Indicação Geográ�ca é reconhecido internacionalmente.

A indicação geográ�ca é o reconhecimento do valor que aquela determinada região agrega aos produtos nela extraídos, produzidos ou fabricados e/ou nos serviços ali prestados. O seu registro é feito no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI e tem natu-reza declaratória de reconhecimento das indicações geográ�cas, podendo ser requerido pelas associações, sindicatos, institutos e pessoas jurídicas representativas da coletividade legitimada ao uso exclusivo do nome geográ�co e estabelecida no respectivo territó-rio.

Só recentemente, em 2002, teve início entre nós as primeiras ini-ciativas de proteção de determinados bens regionais por meio do seu registro junto ao INPI na qualidade de indicação geográ�ca, sendo pioneira a Indicação de Procedência para o Vale dos Vinhe-dos, região vinícola gaúcha que congrega as cidades de Bento Gon-çalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. Dez anos depois, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos – APROVALE obteve a Denominação de Origem para aquela região vinícola.

O INPI concedeu, até a presente data, o registro para 84 Indica-ções Geográ�cas, das quais 61 são Indicação de Procedência (IP) e 23 correspondem a 14 Denominações de Origem (DO) nacionais e 9 estrangeiras (https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/indicacoes--geogra�cas/pedidos-de-indicacao-geogra�ca-no-brasil, acesso em 17/01/2021).

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O pedido do reconhecimento de Indicações Geográ�cas estran-geiras no Brasil comprova a relevância deste instituto da proprie-dade intelectual, reforçando a sua importância para proteção contra usos indevidos que comprometem notoriedade e reputação con-quistadas.

As DO estrangeiras no Brasil tiveram início em 1999, com Região Vinhos Verdes, de Portugal, seguida do Cognac da França (2000), Franciacorta, da região italiana de vinhos, espumantes e bebidas alcoólicas (2003) e San Daniele, com seu prosciutto, também da Itália (2009). Em 2012 foram registradas no Brasil as Denominações de Origem Porto, de Portugal; Napa Valley, dos Estados Unidos, e Champagne, da França. Em 2013 foi a vez do Roquefort, para o queijo francês. O último registro estrangeiro até o momento foi em fevereiro de 2019 para Tequila, o destilado mexi-cano.

Com relação às Denominações de Origem nacionais, a primeira foi concedida para o Arroz do Litoral Norte Gaúcho, em 2010, seguida de Camarões de Costa Negra/CE, em 2011. Em 2012 foram cinco concessões: Região Pedra Carijó Rio de Janeiro, Região de Pedra Madeira Rio de Janeiro, Região de Pedra Cinza Rio de Janeiro, Manguezais de Alagoas (própolis vermelha) e Vale dos Vinhedos, que, conforme mencionado anteriormente, é detentor da primeira Indicação Geográ�ca nacional.

Em 2013, a Região do Cerrado Mineiro obteve DO para café verde em grão e café industrializado torrado em grão ou moído. Ortigueira, no Paraná, é DO para mel de abelha desde 2015. A Região da Própolis Verde de Minas Gerais obteve o registro em 2016 e em 2018 a Banana da Região de Corupá, de Santa Catarina, teve o seu registro deferido.

Campos de Cima da Serra, que abrange municípios de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul na produção do queijo artesanal serrano, e Terra Indígena Andirá-Marau, produtora de waraná

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(guaraná nativo) e de pães de waraná (bastão de guaraná) em muni-cípios do Amazonas e do Pará, obtiveram o certi�cado em 2020. Também naquele ano Mantiqueira de Minas, com o seu café verde em grão e café industrializado torrado em grão ou moído, conse-guiu a alteração do registro de IP para a espécie Denominação de Origem.

O potencial para Indicações Geográ�cas brasileiras é condizente com as dimensões continentais e a diversidade cultural do Brasil. São tradições que encantam em manifestações as mais diversas. Proteger as regiões que se notabilizam por seus produtos e serviços é assegurar a preservação e valorização de seus diferenciais compe-titivos adicionando, cada vez mais, valor ao agronegócio nacional, um dos mais reconhecidos do mundo.

Vinculada a agremiações representativas, estimulando e criando condições para postos de trabalho, produção em área delimitada, controle de qualidade, preços justos e retorno para a população local, as Indicações Geográ�cas propiciam o fortalecimento do associativismo e promovem o desenvolvimento sustentável.

Com o apoio de técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e também do Sebrae, os pedidos de Indicação Geográ�ca vêm se intensi�cando no Brasil, mas ainda é ín�mo dentro da realidade de produtos e serviços com características regionais passíveis do reconhecimento. Isso, sem falar no manancial de possibilidades inerentes a culturas e tradições esparramadas pelo território brasileiro.

No INPI, são 158 processos na “planilha de acompanhamento de pedidos e registros”, desde o depósito até a decisão sobre conces-são ou não da IG. De acordo com a Agência CNI de Notícias, no �nal de 2018 existiam cerca de 10 mil indicações geográ�cas reco-nhecidas no mundo, das quais os países em desenvolvimento conta-bilizavam apenas 10%. (https://noticias.portaldaindustria.com.br/especiais/um-panorama-das-indicacoes-geogra�cas-no-brasil/)

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Os produtos e serviços brasileiros bene�ciados até o momento com a espécie Indicação de Procedência (IP) contemplam bebidas (vinho, café e cachaça), alimentos, doces e temperos (queijo, carne bonina, uvas de mesa e manga, doces tradicionais, biscoitos, melão, cajuína, mel, melado, lingüiça, açafrão, goiaba, abacaxi, inhame, erva-mate, farinha de mandioca, guaraná, socol, derivados de jabu-ticaba, cacau, bala de banana e amêndoas de cacau), artesanato (capim dourado, renda de agulha em lace, renda renascença, bor-dado e bordado �lé, peças artesanais de estanho, opalas preciosas e joias artesanais, joias artesanais em prata, panelas de barro, cerâ-mica), além de calçados e têxteis de algodão colorido, couro aca-bado, mármore, peixes ornamentais e também serviços de tecnolo-gia de informação e comunicação através de desenvolvimento, manutenção e suporte do Porto Digital, em Pernambuco.

Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná possuem igualmente nove registros de Indicação de Procedência, seguidos do Espírito Santo, com cinco, Amazonas, com quatro, e Bahia e São Paulo, com três concessões de IP, cada. Com duas Indicações de Procedência constam os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Goiás, Piauí e Mato Grosso do Sul, sendo a IP Mel do Pantanal, deste último, compartilhada com Mato Grosso. A Indicação Geográ�ca para joias artesanais em prata de Pirenópolis, em Goiás, teve registro apro-vado em julho de 2019. Rio de Janeiro, Tocantins, Pernambuco, Ser-gipe, Santa Catarina, Alagoas, Acre e Pará possuem uma IP, cada Estado, sendo a do Pará concedida em 2019 para o cacau de Tomé--Açu. Registra-se ainda a IP Vale do Submédio São Francisco, no oeste de Pernambuco e norte da Bahia, para uvas de mesa e manga desde 2009.

Em Minas Gerias, as Indicações de Procedência concedidas são para: café das Regiões do Cerrado, de Campos das Vertentes e das Matas de Minas; queijo minas artesanal do Serro e queijo da Canas-tra; aguardente de cana tipo cachaça da Região de Salinas; biscoitos

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de São Tiago; derivados de jabuticaba de Sabará e peças artesanais em estanho de São João Del Rey.

Com a disseminação de selos de IG concedidos, e em ritmo pró-prio, produtores e prestadores de serviços brasileiros vão aos poucos constatando a importância do reconhecimento da indicação geográ�ca como fator determinante de sucesso e como mobilizador do cooperativismo, com realce para os produtos e serviços regio-nais. Tal importância se destaca sobremaneira em um país com a dimensão e diversidade como o Brasil.

Observa-se nos exemplos consolidados como a Indicação Geo-grá�ca incide na organização do ambiente produtivo e comunitário, na união e autonomia da cadeia produtiva local; favorece o controle, valoração e promoção dos produtos e serviços, a�ança autentici-dade e qualidade, fortalece a economia local, amplia mercados e promove o turismo; respeita tradições e incorpora o desenvolvi-mento sustentável. Trata-se de uma credencial para os mercados nacional e internacional com destaque para iniciativas no coopera-tivismo e no agronegócio.

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Marcas brasileiras no sistema internacional de proteção: Protocolo de Madri

Nizete Lacerda Araújo

A partir de 02 de outubro de 2019 entrou em vigor no Brasil o Protocolo de Madri. Saiba o que muda a partir disso.

Este Protocolo trata do registro internacional de marcas, fazendo parte do mesmo, 106 partes contratantes, que abrangem 122 países.

A adesão do Brasil a este Protocolo possibilita ao titular de uma marca registrada no país, protegê-la nos demais países membros de maneira mais racionalizada, com apenas um processo, em um mesmo idioma, e economia de custos, de maneira mais efetiva do que o registro país a país como praticado pelas empresas brasileiras até 02/10/2019.

Pelo Protocolo de Madri, empresas e pessoas físicas de um país membro estarão habilitadas a requererem a proteção de sua marca em diversos países membros, simultaneamente. Para tanto, é necessário que o pedido de registro da marca tenha sido deposi-tado, ou a marca esteja registrada no escritório nacional de marcas e patentes, no caso brasileiro, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Após análise de certi�cação, o INPI encami-nhará a solicitação de registro internacional, a qual será recebida e administrada pela Secretaria Internacional da Organização Mun-dial da Propriedade Intelectual (OMPI), sediada em Genebra/Suiça.

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É importante esclarecer que, após recebimento da solicitação internacional, a OMPI remeterá os pedidos de registro da marca aos países indicados, que a partir de então seguirão as legislações e processamentos locais de cada país membro, sem afetar as suas respectivas soberanias nacionais.

A prática tem demonstrado, que no Brasil, até a adesão ao Pro-tocolo, o prazo médio entre o depósito de um pedido de registro de marca e a sua análise pelo INPI vinha sendo de três a quatro anos. Porém, o Protocolo de Madri estabelece o prazo máximo de dezoito meses para exame e retorno ao interessado, sob pena de concessão automática.

E há que se reconhecer, que o órgão o�cial brasileiro tem se esforçado já a partir do passado recente, visando adequar-se à entrada em vigor do Protocolo de Madri, que para o presidente do INPI, é uma “abertura dos portos” de 122 países e de regiões parti-cipantes, às marcas brasileiras, ao mesmo tempo em que promove a abertura do Brasil aos seus países membros, cujas estatísticas indi-cam que em conjunto representam oitenta por cento do comércio global.

Portanto, ocorrerá uma integração do Brasil ao sistema interna-cional de registro de marcas, que é o objetivo do Protocolo, promo-vendo a internacionalização de empresas brasileiras, inclusive as de pequeno e médio portes, integração esta, fundamental para estimu-lar a participação das empresas nacionais no comércio exterior ao mesmo tempo em que atrairá investimentos estrangeiros para o país.

O Protocolo abrange cento e vinte países participantes, conside-rados responsáveis por oitenta por cento do comércio internacional, dado de muita relevância para os negócios neste mundo globalizado de agora. Com a inclusão do país ao Protocolo, o requerente do pedido de registro da marca internacional passa a trabalhar com apenas uma solicitação internacional, uma data de prorrogação, uma única moeda para os principais pagamentos e um idioma.

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Como esclarecido acima, tão somente a análise do pedido de registro da marca, e o seu deferimento ou indeferimento, seguirá a legislação nacional de cada país com retorno ao interessado em dezoito meses.

A adesão ao Protocolo apresenta vantagens às partes participan-tes, tanto aos nacionais, como aos estrangeiros que poderão indicar o Brasil nos requerimentos de registro das suas respectivas marcas. Dentre as vantagens comumente mencionadas afetas à simpli�cação de procedimentos se encontram a utilização de um mesmo processo para vários pedidos de registro com redução de custos, a possibili-dade de adicionar novos países após o pedido inicial, agilização no prazo de resposta ao pedido, o uso de um mesmo idioma para reque-rimento em vários países, pagamento de taxas, prorrogação do regis-tro, transferência de titularidade e alteração de dados de titulares.

Com a entrada em vigor do Protocolo entre nós, alguns paradig-mas que vigoravam até então terão que ser revistos trazendo mudanças de entendimentos, destacando-se a adoção do regime de cotitularidade de marca, em que é possível obter registro em nome de mais de uma pessoa física ou jurídica. Continua a ser exigido que as mesmas exerçam as atividades, cuja proteção elas reivindicam, sendo as exigências aplicáveis aos mesmos em conjunto.

Há ainda, a possibilidade do sistema multiclasses, considerada uma das mudanças signi�cativas, em que é possível em um só requerimento reivindicar a proteção em várias classes de produto ou serviço, podendo o pedido ser deferido ou indeferido total ou parcialmente.

Estas mudanças acima mencionadas deverão estar em vigor a partir de março de 2020.

Assim, o Sistema de Madri para marcas internacionais é admi-nistrado de maneira centralizada pela Secretaria Internacional da OMPI, que se encarrega do registro internacional e o publica na sua revista o�cial, a Gazeta de Marcas Internacionais com a validade de dez anos.

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O Protocolo possui dezesseis artigos e um anexo especialmente importante, por ser um Regulamento de Execução comum ao Acordo de Madri, relativo ao Registro Internacional das Marcas e, ao Protocolo, relativo a esse Acordo, o qual é atualizado sempre, sendo o texto atual adotado em 31 de janeiro de 2019, entrando em vigor, internacionalmente, no dia seguinte.

O INPI regulamentou o processamento dos registros internacio-nais de marcas, no Brasil, pelo Protocolo de Madri, por meio de resoluções, também em vigor a partir de 02 /10/2019.

O órgão o�cial brasileiro terá o importante papel frente aos depositantes nacionais de certi�car à Secretaria Internacional da OMPI a data em que o pedido internacional foi recebido e, analisar previamente, a consistência entre as informações indicadas no pedido internacional e aquelas constantes no pedido ou registro base nacional, portanto, um papel de certi�cador perante o orga-nismo internacional gestor da Propriedade Intelectual.

Dessa maneira, a certi�cação prevista nada mais é do que um exame formal realizado pelo INPI, oportunidade em que se con-frontam as informações fornecidas pelo depositante do pedido internacional e aquelas constantes no pedido ou registro base, para o pedido internacional, existentes no banco de dados do órgão bra-sileiro.

Não sendo apontadas inconsistências, o pedido será encami-nhado à Secretaria Internacional e a data da inscrição internacional será a data de apresentação do pedido no INPI.

Por outro lado, ocorrendo inconsistências, estas terão que ser sanadas pelo depositante no prazo de sessenta dias, o que pode pre-judicar o prazo inicialmente estipulado de exame e decisão do pro-cesso.

Sendo assim, há que se buscar uma expertise e acuidade no preenchimento do pedido internacional, no idioma escolhido, para

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que se reduza a probabilidade de inconsistências no pedido e que o encaminhamento à Secretaria Internacional ocorra de forma a favo-recer o depositante.

É bom ter em mente que o Protocolo de Madri não cria, nem modi�ca direitos já existentes, consolidados no pedido base. Ele tão somente apresenta procedimentos simpli�cados e com redução de custos, que facilitam a obtenção de registros internacionais de marcas nos países signatários.

Alterações no pedido base, promovidas nacionalmente, tais como indeferimento, cancelamento ou extinção de registro no período de cinco anos, afetará a inscrição do registro internacional, a qual será cancelada. Sendo esta apontada como uma das fragilida-des do sistema, bem como eventuais pendencias jurídicas a serem discutidas nos respectivos países.

Durante exame formal para certi�cação do pedido internacional do registro de marcas, o INPI, não encontrando irregularidades para serem sanadas pelo interessado encaminhará o pedido à Secre-taria Internacional da OMPI, que realizará exames formais para, encontrando-se o processo em conformidade, proceder à inscrição internacional do pedido, publicar na Revista da Organização e noti-�car os países escolhidos pelo requerente.

Os primeiros depósitos de pedido de registro de marcas interna-cionais pelo Protocolo de Madri estão dando entrada no INPI. O desa�o que se apresenta para esta autarquia federal, as empresas e os pro�ssionais que atuam na área de Propriedade Intelectual é aperfeiçoar o conhecimento sobre o Protocolo e seus instrumentos de execução no Brasil. Ele é mais um passo importante para a inser-ção do Brasil no comércio globalizado. Muito em breve a experiên-cia fará com que a sociedade brasileira vença o desa�o contribuindo para o desenvolvimento do país.

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Direito Ambiental e Propriedade IntelectualPier Giorgio Senesi Filho

Inicia-se o presente texto trazendo alguns conceitos e de�nições sobre Propriedade Intelectual, direito que abarca importante tema para a sociedade mundial e sobre o Meio Ambiente, sistematizado no Direito Ambiental, igualmente importante para a sociedade global, sem o qual a vida não subsiste.

Propriedade Intelectual: De�nida pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO na sigla em inglês) Propriedade Intelectual é “a soma dos direitos relativos às obras literárias, artísti-cas e cientí�cas, às interpretações dos artistas intérpretes e às exe-cuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os domínios da atividade humana, às descobertas cientí�cas, aos desenhos e modelos indus-triais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como às �rmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, cientí�co, literário e artístico” (grifei).

Direito Ambiental: A Lei 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente) conceituou “meio ambiente como o conjunto de condições, leis, in�uências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art. 3º, I).

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O CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, que atra-vés de suas resoluções busca a proteção do meio ambiente de um modo geral e legal, na Resolução 306/2002 reforça o entendimento de que Meio Ambiente “é o conjunto de condições, leis, in�uência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”, conforme asseverado pela legislação federal.

A Constituição Federal de 1988, impõe a todos o direito e o dever de defendê-lo e preservá-lo. No seu art. 23, inc. VI declara ser obrigação da União, Estados e Municípios “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” (grifei). No art. 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologi-camente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (grifei).

Em que ponto o Direito Ambiental e o Direito de Propriedade Intelectual se encontram para atuarem a favor da sociedade mun-dial?

Em apertada síntese, pode-se dizer que ambos os direitos, o Direito Ambiental e o Direito de Propriedade Intelectual, protegem e defendem o meio ambiente ecologicamente equilibrado, defen-dem a sua regulamentação para assegurar o uso sustentável, e o for-necimento de matéria prima para as pesquisas, assegurando a ino-vação para o progresso da ciência.

Tudo o que se toca, se sente, respira, veste, come, vê, e cura, tem a ver com meio ambiente e, por conseguinte é tutelado pelo Direito Ambiental.

Do mesmo modo, tudo o que cria e se desenha, engenha e inventa, marca e identi�ca, en�m, se produz, tem a proteção do Direito de Propriedade Intelectual. Incluem-se os bens, serviços, marcas, essências, extratos modi�cados ou não, descobertas cientí�-

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cas associadas, de inúmeros produtos encontrados na natureza, e por conseguinte, no meio ambiente, são protegidos e como tal reco-nhecidos pelo Direito à Propriedade Intelectual, à marca, à patente, dentre outros.

Ao introduzirmos no nosso território a discussão de temas rela-tivos ao meio ambiente, desenvolvimento sustentável e direitos da propriedade intelectual, surgem algumas teses e muitas discussões sobre se está, ou não, havendo indevida apropriação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, utilizando-se a individuali-zação da propriedade sobre tais recursos, por meio de patente, por exemplo, valendo-se do direito à propriedade intelectual para legali-zar e converter essas ações em direitos privados.

Muita polêmica tem surgido em torno desse tema e é saudável que os brasileiros comecem a se interessar e participar da mesma. É necessário a consciência de que somos possuidores de uma das maiores biodiversidades do planeta e que a área da biotecnologia é uma das que mais crescem no país.

Em paralelo com a biotecnologia surgem as questões correlatas à biodiversidade e biossegurança, temas estes diretamente ligados à nossa existência e subsistência no planeta.

A profa. Maria Helena Diniz, no seu livro “O Estado atual do Biodireito”1, conceituou a biotecnologia como abaixo:

“A biotecnologia é a ciência da engenharia genética que visa o uso de sistemas e organismos biológicos para aplicações medicinais, cientí�cas, indústrias, agrícolas e ambientais”.

Tem por conseguinte, um debate sobre a biotecnologia, que uti-liza os bens da biodiversidade para a composição de diferentes pro-dutos da indústria química, farmacêutica, cosmética e alimentícia, a cada momento com um trabalho atribuído a um, ou a vários países, que por diversos meios, investem na constante busca por novidades

1 Diniz, Maria Helena. O Estado atual do Biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 364

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do meio ambiente, que possam ser utilizados e transformados em marcas, patentes e produtos, revertendo a propriedade intelectual para o seu desenvolvedor, ou transformador.

Quem não se lembra quando a imprensa noticiou que nomes típicos da nossa biodiversidade estavam sendo indevidamente apro-priados e registrados como marcas fora do país, como por exemplo, o nome cupuaçu.

Um ciclo virtuoso se cria a partir desse estímulo para a inovação e criação de tecnologias de ponta, utilizando-se de produtos a partir da extração sustentável de bens ambientais, em benefício da socie-dade. De um modo geral, o direito à propriedade intelectual conju-gado com as novas descobertas se justi�ca com o interesse público no cenário mundial, por reconhecer inventores e autores, estimu-lando-os a criar e a buscar novos produtos na biodiversidade ambiental que possam vir a agregar valor para a sociedade.

Porém as próprias leis que regulamentam a Propriedade Intelec-tual tratam de normatizar as questões delicadas como proteção das espécies que se encontram na natureza, bem como do uso que se dá às mesmas, estabelecendo os limites legais.

Em artigo publicado na revista do XXIV CONPEDI, intitulado Sociedade, Sustentabilidade e Meio Ambiente2, o autor alerta que:

“A sociedade no mundo contemporâneo está cada vez mais glo-balizada, mais integrada e consequentemente tem acesso a um número muito maior de informações disponíveis em diversos meios de comunicação, gerando, por certo, diversas correntes de pensa-mento que buscam orientar essa grande aldeia, essa grande massa humana”.

2 Senesi Filho, Pier Giorgio. Sociedade, Sustentabilidade e Direitos Humanos. XXIV CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI - UFMG/FUMEC /DOM HELDER CÂMA-RA. Tema: DIREITO, SUSTENTABILIDADE E DIREITOS HUMANOS. 2015. pp. 6 a 22.

Disponível em: http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/66fsl345/lsid56cz/lj8Yt0tMnn8i-Mw3A.pdf

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“A sociedade está em constante evolução e ávida por mais conhecimento. É preciso compreender essa constante mudança para absorver e compreender a imperativa necessidade de se criar uma sociedade ambiental, que se adaptará obrigatoriamente à realidade do mundo globalizado, buscando melhorar as interfaces entre os homens e o meio ambiente”.

Conclui-se que o Direito à Propriedade Intelectual, o desenvol-vimento com sustentabilidade e o Direito ao Meio Ambiente devem seguir em harmonia inevitavelmente unidos, produzindo bens e serviços e garantindo a qualidade de vida para as futuras gerações, sob normas que protejam a todos e estimule o avanço da ciência e da tecnologia com preservação de um meio ambiente saudável.

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Sucessão nos Direitos AutoraisLeonardo Cançado

Dentre as garantias outorgadas ao indivíduo pela Constituição Federal, estão os direitos autorais, os quais possuem como objetivo proteger e incentivar a produção artística, cientí�ca e literária.

Eles se dividem em dois grandes grupos: os direitos morais e os patrimoniais.

Os direitos morais são aqueles relacionados à personalidade, estando intrinsecamente ligados ao autor e dele nunca se disso-ciando. O direito de reivindicar autoria e ser sempre identi�cado como autor, o direito à integridade e o direito de manter a obra iné-dita, são direitos morais que pertencem ao autor e são exercidos pelos seus sucessores após a morte do autor. Há ainda o direito de modi�cação da obra, o direito de retirá-la de circulação e o direito de livre acesso à exemplar raro ou único, como no caso das obras de arte. Estes, conforme a legislação, somente podem ser exercidos pelo próprio autor.

Já os direitos patrimoniais, como o próprio nome sugere, são aqueles relacionados ao aproveitamento econômico das obras inte-lectuais (utilizar, fruir e dispor) e pertencem originalmente ao autor, sendo considerados bens móveis.

Via de regra, os direitos morais, por terem natureza de direitos de personalidade, são inalienáveis e irrenunciáveis. Já os direitos patrimoniais possuem natureza de direito de propriedade e, por isso, podem ser objeto de negócios jurídicos e serem passíveis de transmissão. Uma exceção a esta regra é o direito de sequência, que

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possui natureza eminentemente patrimonial, econômica, mas também é indisponível, não podendo ser renunciado ou alienado.

Embora possa parecer um tema relevante apenas para aqueles que são detentores de direitos autorais, vê-se que ele também tem relação com o restante da sociedade, a qual se utiliza das obras intelectuais, podendo haver alguma obrigação decorrente dessa utilização.

Assim, diante das obrigações surgidas a partir da utilização de obras intelectuais, é muito importante saber quem é o titular dos direitos autorais sobre determinada obra.

No caso do autor isso pode ser superado com alguma facilidade. O problema surge quando este não está mais presente, devendo-se

recorrer ao direito das sucessões, imprescindível para identi�car os legítimos titulares dos direitos autorais.

Caso os direitos patrimoniais não tenham sido transferidos em vida pelo autor, por meio de contratos de licenciamento, concessão, cessão ou outros meios admitidos em Direito, eles serão transferi-dos quando da morte do autor, via sucessão.

Pela lei brasileira, os direitos autorais patrimoniais perduram por mais 70 anos após a morte do autor. Ao �m deste prazo ou, caso o autor não deixe herdeiros, a obra cai em domínio público e pode ser utilizada livremente.

Veja o que diz a Lei do Direito Autoral:

“Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano sub-seqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil.”

A questão é relativamente simples sob o ponto de vista da suces-são, que seguirá as regras do Código Civil. Em geral, caso não haja disposição em contrário, o cônjuge �cará com 50%, e os �lhos com o restante, dividido em partes iguais entre eles.

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Havendo herdeiros legítimos e não havendo outros bens a serem repartidos, os direitos autorais poderão ser legados apenas na pro-porção de 50%, atendendo aos requisitos legais referentes à legítima.

Caso existam outros bens, os direitos autorais poderão ser lega-dos a pessoas físicas ou jurídicas (fundações, museus, entidades ou mesmo empresas), conforme a vontade do autor.

É muito importante que seja feita e documentada a transferência formal dos direitos autorais, seja por disposição expressa em formal de partilha, seja por ato notarial no inventário extrajudicial, com a lavratura de escritura pública, uma vez que poderá ser exigida a prova de titularidade perante terceiros que estejam interessados em transacionar ou mesmo pagar algum dos direitos autorais patrimo-niais. Tais direitos podem se referir à reprodução, edição, execução pública, direito de sequência, dentre outros.

A documentação da titularidade de direitos autorais de terceiros é necessária para que os usuários tenham segurança jurídica de que estão transacionando e pagando para as pessoas legítimas.

Por outro lado, a falta de legitimidade do credor (título hábil) é a principal alegação daqueles que querem se furtar do pagamento de direitos autorais quando são cobrados.

E por conta do longo período de proteção, alguns problemas podem surgir, principalmente na divisão e administração dos direi-tos autorais.

É comum que os direitos autorais sejam repartidos generica-mente entre os herdeiros, mantendo cada um seu quinhão sobre a totalidade dos direitos autorais.

Outro aspecto relevante é que a maioria dos autores não se preo-cupa com a administração dos seus direitos autorais após a sua morte e não deixam qualquer indicação de como e por quem gosta-ria que esses fossem cuidados, recaindo tal encargo sobre uma gestão familiar, não pro�ssional e suscetível a in�nitas divergências, por simples falta de consenso.

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O modelo de gestão feito por entidades especializadas e criadas para este �m ainda é incipiente no país e devido à grande liberdade na contratação e, principalmente, na mensuração e cobrança dos direitos autorais, é que surgem os problemas entre os titulares.

Muitos são os exemplos de disputa entre herdeiros. No Brasil são célebres os casos envolvendo os artistas visuais Alfredo Volpi e Ligia Clark:

– https://www.select.art.br/pobres-herdeiros-ricos/ – https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-guerra-dos-

-clark/ – https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/45531-fi-

lha-de-volpi-vive-com-menos-de-r- 1000-por-mes.shtml

Quanto ao prazo de proteção dos direitos autorais, há um caso interessante envolvendo o escritor Graciliano Ramos, falecido em 1953.

Teoricamente a obra do escritor cairia em domínio público em 2024. Mesmo assim, a Editora Record assinou contrato recente-mente com os herdeiros para edição do romance “Vidas Secas” até janeiro de 2029:

(https://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,her-deiros-de-graciliano-ramos-e-record-renovam-contra-to-para-alem-do-dominio-publico,70002513439).

Já em relação aos direitos autorais de Heitor Villa-Lobos, estes foram transmitidos à sua viúva, que por sua vez legou os direitos aos seus irmãos. Em decisão bastante polêmica, o Tribunal de Jus-tiça do Rio de Janeiro (AI0011414-69.1995.8.19.0000) decidiu que os direitos deveriam cair em domínio público em vez de passarem aos cunhados do compositor. Esta decisão se aproxima das disposi-

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ções do direito francês, que limita a transmissão para herdeiros pró-ximos, diretamente ligados ao autor.

Envolvendo a sucessão de direitos autorais, há também o caso de Franz Ka�a, que deixou suas obras para o amigo Max Broad com instruções para que fossem destruídas após sua morte, pedido este que foi desrespeitado, possibilitando que o público tivesse acesso a obras consagradas como O Processo, O Castelo e América.

Caso fosse o desejo dos herdeiros legítimos, estes poderiam ter se insurgido contra o herdeiro testamentário que desrespeitou o desejo do autor falecido.

Episódio similar também aconteceu com o �lósofo Francês Michel Foucault, que mesmo deixando carta proibindo a publicação de qualquer obra póstuma, teve “Con�ssões da Carne” publicada 30 anos depois de sua morte.

Na música, onde os direitos autorais se desdobram ainda em direitos conexos, bene�ciando não só o compositor, mas também sendo repartidos com o intérprete, músicos e gravadora, há muitos desentendimentos e que por vezes envolvem cifras vultosas.

Os casos de desavenças entre herdeiros são in�ndáveis e conti-nuarão a ser por muito tempo. Talvez a principal razão seja a frag-mentação dos direitos entre várias pessoas, cada qual com o seu entendimento do que seria melhor a se fazer, ensejando o recrudes-cimento de uma imagem negativa dos herdeiros, como sugere a matéria da Revista Época: “Pro�ssão: herdeiro”.

(http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI-155579-15220,00-PROFISSAO+HERDEIRO.html).

Por �m, cumpre mencionar que nos últimos anos nota-se um aumento expressivo da produção acadêmica defendendo uma �exi-bilização dos direitos autorais em favor do interesse social, facili-tando o acesso de todos às obras, que são objetos culturais. A prin-

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cipal medida para esta “evolução” seria a redução do prazo de proteção após a morte do autor.

Fato é que, mesmo com algumas das vicissitudes aqui citadas, não se pode generalizar esta imagem de herdeiros descompromissa-dos e preocupados apenas com o dinheiro, valendo destacar o tra-balho das famílias de Cândido Portinari, Emiliano di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Tomie Ohtake, que tanto honram, preservam e divulgam suas obras com responsabilidade e pro�ssionalismo.

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Comissão de Propriedade Intelectual OAB/MG Canal de orientação pré e pós pandemia

Pier Giorgio Senesi Filho

Nesses tempos de Pandemia, a OAB/MG e suas Comissões Temáticas têm se desdobrado por meio de lives que se utilizam dos diversos sistemas de comunicação, via Internet, para que seus mem-bros e pro�ssionais de diversas áreas e setores importantes da socie-dade, pro�ram palestras e realizem seminários. Este esforço faz com que a OAB/MG seja um importante canal de divulgação e orienta-ção sobre vários temas do direito, reforçando-os e divulgando-os, especialmente, nesse momento pelo qual atravessa o país.

Neste sentindo, a Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/MG que é composta por pro�ssionais especialistas na área de pro-priedade intelectual, voltados para as Artes (Direito Autoral) e para a Técnica (Propriedade Industrial), vem desenvolvendo estudos e realizando reuniões e eventos on line, como forma de aperfeiçoa-mento e aprofundamento de temas relacionados com a área da pro-priedade intelectual, com foco, nesse caso, dos aspectos ligados ao momento de atenção à saúde ao isolamento social necessário e, como não pode deixar de ser, observando as diversas renovações e adaptação do trabalho durante e pós pandemia, assim como a cria-ção de novas tecnologias, de produtos e serviços inovadores, que visem a solução dos problemas tecnológicos apresentados e o bem estar de todos.

Tristemente o mundo viu perderem-se, até o momento, as vidas de 2.403.462 pessoas, sendo 108.994.619 infectadas e 61.2020.970

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curadas da terrível enfermidade. No Brasil os números são 239.245 mortos, com 9843.513 infectados e 8.765.048 curadas (fonte: Google, consulta em 15/02/2021). E o mundo não estava preparado para tal grave pandemia, não possuindo pesquisas, tecnologias, pro-dutos, processos e serviços capazes de prevenir, tratar e curar o mal que se apresentou.

Em apertada síntese pode-se de�nir:

1. “O CORONAVÍRUS (SARS-COV2), é uma família de vírus que causa infecções respiratórias e provoca a doença COVID-19, cuja transmissão se dá por meio de gotículas de saliva, espirro ou tosse, que contaminam objetos e superfícies.

2. Depois de infectada, a pessoa pode levar até 14 dias antes de começar a manifestar os sintomas e o período médio de incubação é de 5 dias.

3. Os sintomas mais comuns são febre e tosse, ou di�culdade para respirar, entre outros sinais respiratórios.

4. A Covid-19 ainda não tem tratamento especí�co: são indica-dos repouso e ingestão de bastante líquido.

5. Deve-se procurar, em caso de falta de ar, atendimento médico imediato. Recomenda-se não usar medicamentos, pois há várias substâncias ainda em estudo, mas nenhuma com e�cácia compro-vada.

6. Ainda não existe vacina contra o corona vírus e a melhor pre-venção é a higienização das mãos. Cientistas da UFMG e de univer-sidades em todo o mundo trabalham dia e noite para desenvolver vacinas e tratamento”. (Fonte: https://ufmg.br/coronavirus).

A Comissão de Direito da Propriedade Intelectual da OAB/MG tem realizado ampla divulgação em seminários, artigos e em webi-nar, informando sua constante atuação e divulgando sua capacidade

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e expertise para assessorar e orientar os diversos segmentos da sociedade sobre os temas que envolvem propriedade industrial, direitos autorais, inclusive em internet, e direito de imagem, na situação peculiar em que vivemos.

Isolamento social é a palavra de ordem e sair de casa deve ser exclusivamente para se obter o imprescindível. O conhecimento e as informações chegam até você por meio das várias mídias.

A sociedade, para estar segura, depende de muita gente traba-lhando com integração das várias áreas do conhecimento para manter a paz social e a segurança nas várias esferas da vida, como saúde, direito, comunicação engenharias, e outras.

Assim, analisando a situação na qual o mundo está envolvido neste momento, aguça a percepção de que nessa crise instalada sur-girão novas oportunidades, nas quais os pro�ssionais que atuam com a propriedade intelectual, estarão atentos para organizar a par-ticipação e assegurar os direitos inerentes ao desenvolvimento dessas novas propostas: inventos, internet, arte, literatura e música.

Exemplos interessantes dessa capacidade extraordinária e inven-tiva da mente humana têm criado vários elementos novos, que pas-sarão pelos processos de licenciamento, inscrição e proteção pela propriedade intelectual, a qual assegura os direitos dos seus criado-res e/ou desenvolvedores. Como exemplo desse boom estão:

1. Capacetes para evitar intubação;2. Lives musicais e artísticas (teatros);3. Vacinas e novos medicamentos;4. Equipamentos médicos de alta capacidade de resposta e de

baixo custo operacional e de venda.

Nesta crise do corona vírus muitos inventores, pesquisadores, novos inventos e novas pesquisas, permearão o nosso horizonte e trarão novas formas de relacionamento das pessoas e da sociedade em geral.

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Novos canais de divulgação de todo esse movimento surgirão na Internet; buscarão atingir o maior número de pessoas de uma só vez, trazendo e renovando as formas de se comunicar. Canais inteli-gentes como canais de divulgação e orientação, como o WhatsApp, tenderão a crescer sua participação na sociedade.

Inovação na área médica, por exemplo, com empresas de planos de saúde lançando o atendimento por telemedicina e vídeo-medi-cina (já está sendo regulamentada pelo Conselho Nacional de Medi-cina).

Laboratórios e indústria farmacêutica, juntamente com vários cientistas e pesquisadores que se debruçaram sobre o desenvolvi-mento de novos medicamentos e vacina, já estão preparados para, após a fase �nal dos testes em humanos, que já começou (no Brasil o Instituto Butantã e a Fiocruz, entre outros) lançar ainda este ano a produção de nova vacina que vai ser colocada à disposição da socie-dade.

Músicos, Atores, Produtores, Escritores e Artistas em geral, que fazem a cultura do país buscam alternativas nas lives para mante-rem em funcionamento a sua atuação artística, provocando a indús-tria do entretenimento a se reinventar, como já se pode ver no retorno dos cinemas drive-in e nas visitas aos museus sem descer dos automóveis.

Na nova ordem mundial, pesquisadores, cientistas e empresas se unem em cooperação mundial na busca da prevenção e tratamento e cura da doença Covid-19, provocada pelo corona vírus. O conhe-cimento de todas as áreas deve se juntar neste esforço para melhores resultados.

Já se comprova que as luzes se acenderam sobre a possibilidade real de que em um futuro não muito distante, vacinas estarão dispo-níveis para distribuição em massa e novas formas de expressão no campo das artes e da ciência começam a serem vislumbradas como

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sinal de um novo tempo; todos os movimentos cientí�cos que estão em desenvolvimento e os que ainda estão por vir vão gerar inova-ções e aperfeiçoamento do que já existe com impacto na área do direito, mormente na área da Propriedade Intelectual.

Neste sentido, com as artes e as técnicas como propriedade inte-lectual, que encontram novas formas de expressão, divulgação e incorporação à nova sociedade, rea�rma-se o papel a desempenhar pela Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/MG e por seus pro�ssionais, que atuarão e acompanharão esta parte da nossa his-tória, para orientar sobre a proteção aos bens intangíveis surgidos desses movimentos, zelando pelo direito de propriedade intelectual resguardando a sua proteção e defesa e benefício para todos.

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Direitos Autorais: Fundo Juntos pela Música e Lei Aldir Blanc

Mauro Mendes

Logo que se promoveu o isolamento social de toda a população e fechados os estabelecimentos comerciais, mantendo-se abertos somente os de�nidos como essenciais pelo Poder Público, houve uma ruptura dos costumes e modo de consumo e trabalho por parte da população mundial.

Cada país incentivou os vários setores da sua economia, já que houve uma mudança radical na forma que se promovia a arrecada-ção de ganhos �nanceiros. Todos os setores sentiram esta mudança e o meio artístico �cou especialmente prejudicado, já que depende do público para divulgar e executar o seu trabalho. No Brasil, ime-diatamente, foram tomadas iniciativas nos campos privado e público.

Citaremos aqui dois exemplos surgidos durante a pandemia com o objetivo de amenizar o impacto do corona vírus no setor musical, sendo que a iniciativa privada focou o autor, que já arreca-dava e vivia dos direitos sobre sua obra. Não exigiu contraprestação nem devolução de valores. Já a iniciativa pública promoveu uma distribuição de valores para os pro�ssionais que vivem de sua arte e foram afastados do seu público em função da pandemia. Essa última exige contrapartidas.

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Fundo Juntos pela Música

A iniciativa privada que destacamos neste texto vislumbrou um ressarcimento aos autores que recebem e vivem dos direitos sobre suas obras musicais, especialmente a arrecadação feita pelo ECAD em execuções públicas. Os locais públicos entendidos como aglo-merações e principal foco propagador do Covid-19 foram os pri-meiros a serem proibidos e, provavelmente e com razão, serão os últimas a serem liberados.

Assim, para atender a esses artistas, músicos e compositores que já recebem e vivem de direitos autorais sobre as obras que compuse-ram, interpretaram ou tocaram, a UBC (União Brasileira de Com-positores) criou uma ação juntamente com o Spotify de Matchfun-ding, que é um modelo de Crowdfunding, ou seja, de �nanciamento coletivo, em que ocorre a participação de uma empresa ou institui-ção. A iniciativa foi chamada de Fundo #JuntosPelaMúsica. Ambas entraram com R$500.000,00 (quinhentos mil reais), totalizando R$1.000.000,00 (um milhão de reais). E foi divulgado para quem quisesse colaborar �zesse doações. Para cada R$1,00 doado, o Spo-tify poderia doar outro R$1,00 (um real).

A campanha se iniciou em abril e terminou no dia 09 de setem-bro 2020, quando o Spotify encerrou seu programa global de Matchfunding , o Covid-19 Music Relief.

Foram arrecadado R$1.705.944,00 (um milhão, setecentos e cinco mil, novecentos e quarenta e quatro reais), sendo que a meta era de R$1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais). Foram bene�ciados 1057 músicos com doações de 2.405 benfeitores. Eles receberam uma doação de R$400,00 (quatrocentos reais) durante 4 meses, totalizando R$1.600,00 (um mil e seiscentos reais).

A gestão do Fundo foi feita pela UBC para artistas, músicos e compositores que são associados à UBC há pelo menos 1 ano, que tenham percebido nos 3 últimos anos pela UBC uma média anual

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entre R$300,00 e R$12.500,00 e que comprovem estar passando por sérias di�culdades em virtude do corona vírus. O valor recebido é uma doação e não precisará de contrapartida ou devolução.

Mesmo tendo terminado esta campanha no último 09 de setem-bro/2020, a UBC continuou, até a presente data, com a iniciativa indicando uma conta corrente para doações diretas. E o Spotify criou nos Per�s O�ciais de alguns artistas um indicativo da conti-nuidade deste projeto chamado #PORQUEMFAZAMÚSICA.

Um dos artistas que continuam ajudando em seu per�l no Spo-tify é o músico Alceu Valença. Acessando sua página de artista no Spotify, destaca-se a “Iniciativa COVID-19” - “COVID-19 SUPPORT”. Clicando nesses botões, o assinante é encaminhado para a página da UBC Juntos Pela Música. Durante a campanha, Alceu Valença fez uma live pelo YouTube que arrecadou R$43.000,00 (quarenta e três mil reais). O Spotify também promoveu shows em uma live e obteve um público bem maior, mas como foi indicada conta cor-rente para doação, a arrecadação foi de R$86.000,00. Mostrou-se mais e�caz a arrecadação via QR Code no molde de Alceu Valença no YouTube.

A conclusão sobre o resultado é que o mesmo se deu porque o público não precisaria deixar de ouvir o show enquanto doava, mas seria encaminhado diretamente para o respectivo site arrecadador enquanto o show continuava rolando. Por outro lado, o forneci-mento de uma conta corrente faria com que o doador tivesse de entrar em sua instituição bancária ou cartão de crédito para tanto.

Outro artista que contribuiu para a campanha em prol dos músicos mais necessitados foi a musicista Adriana Calcanhoto que doou toda a arrecadação sobre uma composição sua para a causa.

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Lei Aldir Blanc

A Lei 14.017 de 29 de junho de 2020, que é a Lei Nacional de Emergência Cultural chamada Lei Aldir Blanc, foi uma iniciativa do Poder Legislativo para ajuda ao setor cultural durante a pandemia do Covid-19. Foram destinados 3 bilhões (três bilhões), sendo que 1,5 bilhão será repassado em parcela única aos estados e 1,5 bilhão aos municípios.

Trata-se de uma renda emergencial de R$600,00 (seiscentos reais) pagos em 3 parcelas sucessivas de R$200,00 (duzentos reais), retroativa a 1º de junho 2020, destinada aos trabalhadores da cul-tura descritos no artigo 6º da Lei, limitados a dois membros da mesma família.

Farão jus a esta renda emergencial os pro�ssionais que atuaram na área artística nos últimos 24 meses anteriores à data da publica-ção da Lei, que não tenham emprego formal, que não recebam benefícios previdenciário ou assistencial, seguro desemprego ou participem do Bolsa Família e que, não sejam bene�ciados pelo auxílio emergencial previsto na Lei 13.982 (benefício de prestação continuada para os vulneráveis sociais em função do corona vírus). A renda familiar do bene�ciado não poderá ultrapassar ½ salário mínimo per capta por mês, até 3 salários-mínimos. Não poderão ter recebido no ano de 2018 rendimentos acima de R$28.559,70.

O subsídio é também para manutenção de espaços artísticos e culturais, cooperativas, instituições e organizações culturais comu-nitárias, produções audiovisuais de�nidas no artigo 8º da Lei no valor entre R$ 3.000,00 (três mil reais) e R$ 10.000,00 (dez mil reais). Não serão contemplados os espaços criados pela administra-ção pública.

Os espaços culturais contemplados deverão apresentar como contrapartida após o reinício de suas atividades “a realização de ati-vidades destinadas, prioritariamente, aos alunos de escolas públicas

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ou de atividades em espaços públicos de sua comunidade, de forma gratuita, em intervalos regulares, em cooperação e planejamento de�nido com o ente federativo responsável pela gestão pública de cultura do local”.

Neste mês de setembro de 2020 serão detalhados planos para execução dos recursos, que serão repassados através do Banco do Brasil. Os interessados que se enquadrarem no projeto deverão se cadastrar na Plataforma + Brasil.

As pessoas físicas, que trabalham no setor cultural e as microempresas, também terão das instituições �nanceiras federais condições especiais para renegociação de débitos e linhas de crédito para atividades e aquisição de equipamentos, obrigando-se a manter os empregos de seus colaboradores.

Diante do delicado momento de pandemia, fragilidade da saúde pública e econômica, as iniciativas privada e pública do Brasil ado-taram iniciativas para minimizar a situação dos artistas dedicados ao setor musical, especialmente aqueles no início da carreira como as aqui mencionadas.

Com todas as limitações em contemplar todos os necessitados, foram bem-vindas para aqueles que se enquadraram em seus objeti-vos, e podem ser ampliadas, além de servir de referência para outras iniciativas e/ou artistas dispostos a ajudarem neste momento incerto de pandemia pelo Corona vírus.

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O Brasil e a marca internacionalNizete Lacerda Araújo

No dia 02 de outubro de 2020 o Brasil comemorou um ano de vigência do Protocolo de Madri no país, o qual trata do registro internacional de marcas. Este Protocolo foi criado em 1989, tendo como início de aplicação o ano de 1996, com gerenciamento da sua aplicação pela Organização Mundial do Comércio - OMPI.

No Brasil, a sua discussão teve início em 1990 e se estendeu por quase duas décadas, até a entrada em vigor em 02 de outubro de 2019, com a sua publicação do Diário O�cial da União – DOU.

Percebe-se o longo período que o país �cou afastado da sua inserção no sistema internacional de marcas, bem como das longas discussões travadas e adequações necessárias para que �nalmente pudéssemos estar incluídos no sistema internacional de marcas, reforçando, dessa maneira, a marca Brasil e possibilitando a entrada de marcas estrangeiras na economia nacional, dinamizando a con-corrência e o desenvolvimento econômico.

Atualmente, fazem parte do Protocolo de Madri 106 membros contratantes, que abrange 122 países, representando 80% (oitenta por cento) do comércio global.

A adesão do Brasil a este Protocolo possibilita, ao titular de uma marca registrada no país, protegê-la nos demais países membros do Protocolo, de maneira mais racionalizada e menos onerosa, ao se apresentar apenas um pedido inicial de registro no órgão o�cial e em um mesmo idioma, utilizando-se uma única moeda para os pagamentos internacionais e uma única data de depósito para todos

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os países, de maneira econômica e vantajosa em relação ao sistema de registro país a país como praticado pelas empresas brasileiras até 02/10/2019, antes da entrada em vigor do Protocolo.

Nos termos do Protocolo de Madri, empresas e pessoas físicas de um país-membro estarão habilitadas a requererem a proteção de sua marca em diversos países-membros, simultaneamente. Para tanto, é necessário que o pedido de registro da marca tenha sido deposi-tado ou a marca esteja registrada no escritório nacional, no caso brasileiro o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Após análise de validação do pedido internacional requerido, o INPI encaminhará a solicitação de registro internacional, que será recebida e administrada pela Secretaria Internacional da Organiza-ção Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), sediada em Gene-bra, órgão gestor do Protocolo.

É importante esclarecer que, posteriormente ao recebimento da solicitação internacional, a OMPI remeterá o pedido de registro de marca aos países indicados, que a partir de então seguirão as legislações e processamentos locais de cada país membro, sem afetar as suas respectivas soberanias nacionais.

Por sua vez, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI tem se esforçado sistematicamente e procurado se adequar para a entrada em vigor do Protocolo de Madri no Brasil, com o objetivo de orientar e facilitar a internacionalização das marcas bra-sileiras pela indústria nacional, assim como das marcas das empre-sas estrangeiras aqui no Brasil.

Este esforço se faz notar, por exemplo, na celeridade da análise e tramitação dos pedidos de registro de marcas pelo INPI atualmente, os quais, em média, demoravam de três a quatro anos para a sua conclusão ao passo que, atualmente, demoram em torno de 06 (seis) meses para a sua análise. Esta celeridade na análise do processo é muito importante e necessária, considerando que a Lei de Proprie-dade Industrial brasileira (Nº 9.279/96) estabelece como vigência da

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marca a data da sua concessão, e o Protocolo de Madri estabelece o prazo máximo de dezoito meses para análise do processo, sob pena de concessão automática.

Dessa maneira, o Brasil está integrado ao sistema internacional de registro de marcas, que é o objetivo do Protocolo de Madri, pro-movendo a internacionalização de empresas brasileiras, inclusive as de pequeno e médio portes, integração esta fundamental para esti-mular a participação das empresas nacionais no comércio exterior, ao mesmo tempo em que atrairá investimentos estrangeiros para o país.

A adesão ao Protocolo apresenta vantagens às partes contratan-tes, tanto aos nacionais, que de maneira racionalizada poderão registrar as suas marcas no exterior, como aos estrangeiros, que poderão indicar o Brasil nos requerimentos de registro das suas res-pectivas marcas.

Para o Brasil, dentre as vantagens comumente mencionadas afetas à simpli�cação de procedimentos, encontram-se também o estímulo à internacionalização das marcas brasileiras, as já citadas utilização de um mesmo processo para vários pedidos de registro com redução de custos, a possibilidade de adicionar novos países após o pedido inicial, a agilização no prazo de resposta ao pedido, e o uso de um mesmo idioma para requerimento de registro em vários países, pagamento de taxas, prorrogação do registro, transfe-rência de titularidade e alteração de dados de titulares.

O INPI registrou 109 (cento e nove) pedidos internacionais de marcas por usuários brasileiros neste primeiro ano de vigência do Protocolo, e 7.896 (sete mil, oitocentos e noventa e seis) solicitações do exterior com indicação para registro no Brasil3, demonstrando o interesse de empresas estrangeiras de terem as suas marcas protegi-das no Brasil. Esta estatística deve crescer no período pós-pande-

3 www.inpi.gov (acesso em 13/11/2020

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mia, considerando todas as di�culdades vivenciadas pela população mundial no ano de 2020, com forte impacto na economia mundial, o pouco tempo de vigência do Protocolo entre nós e a necessidade de maior internalização e aplicação do mesmo pela sociedade brasi-leira.

O Protocolo de Madri exigiu algumas mudanças e novos enten-dimentos, particularmente no que se refere ao que até então vigia relacionado ao requerimento de marcas no Brasil, destacando-se a adoção do regime de cotitularidade de marca, em que é possível a obtenção de registro em nome de mais de uma pessoa física ou jurí-dica, exigindo-se que as mesmas exerçam as atividades que a marca busca proteger, sendo que as exigências aplicar-se-ão aos mesmos, em conjunto. Da mesma forma, outra novidade introduzida pelo Protocolo é a adoção do sistema de multiclasse, considerado uma das mudanças signi�cativas, em que é possível em um só requeri-mento reivindicar-se a proteção em várias classes de produto ou serviço, podendo o pedido ser deferido ou indeferido total ou par-cialmente.

Estas mudanças entraram em vigor a partir de março de 2020, por meio de Resoluções especí�cas para o sistema multiclasse e para o regime de cotitularidade4.

O Protocolo possui dezesseis artigos e um anexo especialmente importante, por ser um Regulamento de Execução comum ao Acordo de Madri, relativo ao Registro Internacional das Marcas e ao Protocolo relativo a esse Acordo, o qual é atualizado permanente-mente, sendo o texto atual adotado em 31 de janeiro de 2019, entrando em vigor, internacionalmente, no dia seguinte.

O órgão o�cial brasileiro, o INPI, tem um papel certi�cador perante os depositantes nacionais, ao atestar, perante o organismo

4 Resolução /INPI/PR Nº 245/2019, para o regime de cotitularidade Resolução/INPI/PR Nº 248/2019, para o sistema multiclasse

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internacional, por meio da Secretaria Internacional da OMPI, a data em que o pedido internacional foi recebido no Brasil e a consistên-cia, entre as informações indicadas no pedido Internacional, bem como aquelas constantes no pedido ou registro concedido, pedido base nacional. A certi�cação prevista nada mais é do que um exame formal realizado pelo INPI, oportunidade em que se confrontam as informações fornecidas pelo depositante do pedido internacional e aquelas constantes no pedido ou registro base já depositados no órgão.

É bom que se tenha em mente que o Protocolo de Madri não cria nem modi�ca direitos já existentes, consolidados no pedido base nacional, tão somente apresenta procedimentos simpli�cados e com redução de custos, que facilitam a obtenção de registros internacionais de marcas nos países signatários.

A pandemia do corona vírus, com certeza, trouxe sérias conse-quências à implantação e sedimentação do Protocolo de Madri no Brasil, como em todas as áreas da economia e desenvolvimento do país e do mundo. Porém, novas oportunidades também poderão advir desta crise, como novos mercados, parcerias, novas invenções, dentre outros. Daí a importância de se continuar o estudo, entendi-mento, divulgação e execução do mesmo no país, para que esta seja mais uma oportunidade de inserção nacional na internacionaliza-ção da Propriedade Intelectual.

Com a publicação sistemática de informações sobre o tema, a Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/MG procura contri-buir com a compreensão e difusão do Protocolo de Madri no Estado de Minas Gerais e no País.

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A patente em tempos de corona vírusNizete Lacerda Araújo

No ano de 2001 e, posteriormente, em 2005, a sociedade brasi-leira acompanhou discussão polêmica entre o governo brasileiro e laboratórios da indústria farmacêutica estrangeira envolvendo a fabricação de medicamentos contra a AIDS, que, àquela época, ameaçava a todos. O foco da discussão naquela oportunidade era a ameaça feita pelo Brasil de “quebrar a patente” de antirretrovirais.

Chegamos em 2020, em estado de quarentena e assustados com a falta de conhecimento que temos sobre o corona vírus, a pande-mia do momento que nos isola a todos e desa�a a ciência e a pes-quisa.

Novamente, surgem referências à patente, instituto de proprie-dade industrial, espécie do gênero propriedade intelectual.

A imprensa noticiou, logo no início da pandemia, que na Câmara dos Deputados haviam sido protocolados dois projetos de lei para a “quebra de patentes” de alternativas terapêuticas contra o corona vírus.

Como estamos todos envolvidos e comprometidos com essa pandemia é importante esclarecer o termo patente e a expressão “quebra de patente”, muito utilizada pelo brasileiro.

Patente é um título de propriedade temporária sobre uma inven-ção ou um aperfeiçoamento, concedido pelo Estado, por meio de órgão especí�co, aos inventores ou autores, ou a outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação.

Estabelece-se uma situação jurídica pela qual a nova tecnologia, ou criação, patenteada confere ao seu proprietário “o direito de

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impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar com estes propósitos”5 produto e ou pro-cesso objeto da proteção por patente.

Essa proteção é respaldada pela legislação internacional que regulamenta a matéria e da qual o Brasil é signatário. Destaca-se a Convenção da União de Paris - CUP6 para a proteção da proprie-dade industrial, datada de 1883. De igual importância também é o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio - TRIPS7, um dos Acordos que consti-tuem os instrumentos jurídicos que levaram à criação da Organiza-ção Mundial do Comércio - OMC, em 1994.

A Lei Brasileira de Propriedade Industrial, nº 9.279/96 - LPI, em consonância com as legislações internacionais rati�cadas pelo Brasil, assegura ao proprietário de uma patente o direito de impedir terceiros de explorar a sua patente sem autorização8. A utilização da tecnologia patenteada por terceiro interessado, prevista pela legisla-ção, se dá por meio de cessão ou de licença para exploração9, em instrumento jurídico próprio e de acordo com as condições estabe-lecidas pelos contratantes.

A licença, portanto, é um dos meios de se comercializar uma tecnologia em pedido de patente ou já patenteada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI. A lei em vigor na maio-ria dos países, inclusive no Brasil, nos artigos 61 a 63 e 68 a 74, da LPI, além da licença voluntária, que se formalizará por contrato entre as partes, prevê a licença compulsória, nacionalmente popu-larizada como “quebra de patente”. Trata-se de uma expressão bem brasileira, tratada pela legislação como licença compulsória.

5 Art. 42 da LPI6 Art. 5 2) da CUP7 Art. 31 do TRIPS8 Art. 42 da LPI9 Art. 58 e 61 da LPI

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Para que uma patente possa ser licenciada compulsoriamente faz-se necessário o atendimento de requisitos legais. De especial relevância para a discussão estabelecida entre o governo brasileiro e os titulares de patentes para a produção de tecnologias contra o corona vírus é a previsão contida na legislação brasileira de Proprie-dade Industrial, que a prevê para os “casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade, podendo ser concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e não exclusiva, para a exploração da patente, sem pre-juízo dos direitos do respectivo titular”.

Nesse caso, exige-se o estado de emergência nacional ou inte-resse público declarados por ato do Poder Executivo Federal, e, encerrada a situação de emergência, ou não mais a justi�car o inte-resse público, a licença compulsória perderá o motivo da sua exis-tência e portanto, será suspensa, e, além de ser temporária, ela sempre será concedida sem nenhuma exclusividade de exploração a um interessado em especial.

Na licença compulsória, o titular da patente não perde a pro-priedade sobre a tecnologia patenteada, conservando os seus direi-tos sobre a mesma, inclusive os relacionados à remuneração que deverá ser paga pelo licenciador.

Observa-se, portanto, que a lei brasileira de patentes, a LPI, já dispõe da �exibilização necessária para que, em situações especiais se possa adotar a �gura da licença compulsória da patente prevista no referido artigo 71 da LPI, para os casos de emergência nacional ou interesse público, respeitada a sua regulamentação na referida Lei. Esta licença poderá, inclusive, ser declarada de ofício, caso o titular da mesma ou proprietário não atenda à necessidade da emer-gência nacional ou interesse público.

Portanto, para este �m não há necessidade de apresentação de novos projetos de lei ao Congresso Nacional. A lei especí�ca já dis-

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ponibiliza a alternativa necessária, a qual, se utilizada, economizará tempo e esforço neste momento tão delicado.

Se o Brasil declarar a licença compulsória em relação às tecnolo-gias para combate ao corona vírus, protegidos pelo depósito ou con-cessão de patentes, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI, esta medida é legal, amparada pela lei brasileira que regulamenta a patente, pela legislação internacional sobre o assunto e conta com o apoio de vários países e órgãos internacio-nais, como a Organização Mundial da Saúde.

É também uma medida ética e inclusiva por assegurar que o acesso a medicamentos, pelas populações com menor poder de renda, se sobreponha ao direito de propriedade sobre uma invenção cientí�ca onde prevalece o interesse público. O Brasil não seria o primeiro país a utilizar-se da licença compulsória. A China e os Estados Unidos já utilizaram este mecanismo em situações que jul-garam necessárias.

A di�culdade encontrada foi que o vírus se apresentou total-mente desconhecido para o mundo e para a ciência, não existindo, por consequência, nenhuma patente e/ou pedido de patente que fundamentasse a licença compulsória. A ciência até então não havia se preocupado em estudá-lo e apresentar solução para os seus impactos na saúde pública, nacional, nem tampouco mundial, pelo total desconhecimento do mesmo.

Só com o seu surgimento e a sua imediata e simultânea propaga-ção pelo mundo é que os pesquisadores o incluíram com prioridade nos seus objetos de pesquisa, mundo afora. Nesse caso, em havendo um resultado patenteável ou patenteado se poderá aplicar a licença compulsória, conforme previsão legal supra citada. Hoje, em 2021 o mundo já tem conhecimento de várias tecnologias destinadas ao combate ao corona vírus, algumas patenteadas pelas farmacêuticas titulares e, de vários projetos em andamento, que certamente leva-rão a resultados positivos.

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Algumas tentativas de �exibilizar a proteção por patente das novas soluções terapêuticas contra o corona vírus chegaram a ser propostas no início da pandemia, como por exemplo, a iniciativa da Organização Mundial da Saúde - OMS, no sentido de se criar um consórcio internacional em que seriam estabelecidos critérios para priorizar o recebimento de vacinas pelos países, ou seja, pro�ssio-nais de saúde, idosos e adultos.

Nesta concepção da OMS, os países menos desenvolvidos, com baixa renda, seriam apoiados com doações e envio de vacinas e medicamentos pagos pelos países mais ricos. A ideia é uma aborda-gem global da pandemia oferecendo um mínimo de equidade entre países ricos e pobres.

Houve também uma tentativa de �exibilizar a patente dos pro-dutos destinados à pandemia do corona vírus, ao �nal do ano de 2020.

Trata-se da proposta apresentada na Organização Mundial do Comércio – OMC, pela Índia e África do Sul. A proposta consistiu em suspender as vacinas e outros produtos destinados ao combate da pandemia do Covid 19.

Porém, esta proposta não logrou êxito na efetivação de um acordo entre os governos mundiais. Os países desenvolvidos e entre os emergentes, o Brasil, foram contra a proposta, impedindo-a de prosseguir e obter êxito, uma vez que na OMC a decisão é tomada por consenso,

Assim, conhecer a nossa Lei de Propriedade Industrial – LPI e o melhor uso que podemos fazer do instituto da patente, para as solu-ções de problemas tecnológicos de que necessitamos para o desen-volvimento da pesquisa, ciência e inovação brasileiras, nos leva a ações mais exitosas na administração da propriedade intelectual gerada no país e o seu uso para benefício da humanidade. Trata-se de um ativo econômico importante e indicador de desenvolvimento de um país.

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Direitos autorais e “lives” em tempos de pandemiaMarcelo Loss

A Pandemia chegou e nos atingiu. Como um fantasma que pare-cia pertencer aos livros de história ela entrou em nossas casas, em nossos trabalhos e em nossas vidas, e, o mundo mudou. E como muitos já ousam dizer, mudou e nunca mais será o mesmo.

Diversos setores se transferiram para o mundo digital, empresas se desestruturaram e/ou reestruturaram, trabalhadores se adequa-ram, as famílias e a sociedade como um todo tiveram que inventar um novo jeito de agir, interagir e conviver. Home o�ce, aulas online, diversões virtuais tornaram-se realidades em nossas vidas. Compras, até mesmo as mais triviais, realizadas na venda da vizi-nhança, migraram para o computador ou para o smartphone.

A inesgotável capacidade humana de resistir e sobreviver, evi-denciada pelos avanços cientí�cos, representa uma luz no �m do túnel e a esperança de que tudo isso um dia voltará a fazer parte dos livros e da memória de algumas gerações. Mas certos hábitos, adquiridos nesses tempos difíceis, permanecerão.

Entre as muitas questões suscitadas pela pandemia está a ques-tão dos Direitos Autorais, objeto desse artigo.

Em mais de um ano de isolamento e distanciamento social, em maior ou menor grau, não há quem não tenha ouvido falar ou mesmo assistido a uma “live”. Trata-se da transmissão pela internet por “streaming”, uma nova modalidade de show e entretenimento, uma vez que os eventos estão proibidos por resultarem em aglome-rações que aumentam a velocidade de transmissão do vírus e a gra-vidade da pandemia.

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Assim, os artistas, dos maiores e mais famosos aos pequenos, chamados independentes por não possuírem vínculos com grandes gravadoras e distribuidoras, migraram para o mundo digital como uma forma de manter seus rendimentos ou mesmo com o objetivo de serem lembrados por seu público.

Nessas apresentações, esses artistas, costumam tocar seu próprio repertório autoral, mas não é incomum que incluam também can-ções de outros artistas. Obviamente que o uso da obra de um ter-ceiro tem consequências jurídicas e patrimoniais. Ou o artista tem a autorização do autor da música executada, ou da editora musical que o represente, ou deverá pagar pelo seu uso, na forma de arreca-dação de direitos autorais e direitos conexos pelo ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

É sabido por todos que a internet não é um universo à parte do mundo “real” e que as mesmas leis e regras que regulam as relações humanas se aplicam a ela, seja no âmbito do direito civil, penal ou autoral.

Portanto, não há dúvidas que para fazer uso da obra de um artista, a pessoa deva pagar por esse uso. No caso de um restaurante que tenha música ao vivo, o proprietário do estabelecimento é obri-gado a recolher junto ao ECAD os valores relativos à execução das músicas pelos artistas contratados. Quando o próprio artista pro-move seu show, algo comum entre artistas independentes, é ele quem deve se entender com o órgão arrecadador, no caso de apre-sentar obras de terceiros.

Mas em uma “live”, transmitida pelo Youtube, Instagram ou Facebook, para citar as modalidades mais comuns, �ca a dúvida sobre quem seria o responsável por esse recolhimento.

Há dois aspectos importantes a serem considerados neste ponto. O primeiro é que uma “Live” pode ser equiparada a um show ao vivo, estando sujeita aos pagamentos dos autores das obras como uma execução pública tradicional. Porém, eventualmente elas

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podem se caracterizar como outras modalidades de uso da obra musical, uma vez que podem ser “�xadas” e tornadas disponíveis para acesso posterior pelos usuários da plataforma que a transmitiu. Desta forma as “lives” podem gerar outras obrigações para seus res-ponsáveis, em relação a remuneração dos autores das obras.

Outra questão necessária é fazer uma diferenciação entre o quem vem sendo chamado de “live” patrocinada, da “live” comum. No caso desta, estamos falando de um pequeno artista que toca seu repertório, transmitindo para um número reduzido de espectado-res, muitas vezes sem qualquer remuneração, ou apenas com uma sugestão para colaboração, como uma forma de “couvert” artístico espontâneo do público. Algo bem diverso da “live” patrocinada, onde o artista, normalmente mais conhecido do público, recebe um pagamento para a apresentação em troca da divulgação da marca e do nome dos seus patrocinadores. Nessa modalidade, ao contrário da primeira hipótese, falamos de valores econômicos substanciais envolvidos, tanto para o artista, como para os promotores e os patrocinadores. Nada mais natural que haja a cobrança dos valores relativos aos direitos autorais então.

Foi nesse sentido que o ECAD e a UBEM (União Brasileira de Editores Musicais) se uniram para cobrar das plataformas que reali-zam as “lives” o pagamentos dos direitos autorais das obras executa-das e �rmaram um acordo com o Google relativo às transmissões pelo Youtube. O mesmo acordo tem sido realizado com as demais plataformas.

O entendimento é no sentido de responsabilizar solidaria-mente os promotores (as plataformas em si) e os patrocinadores por esses pagamentos, fazendo-se uma analogia ao artigo 110, da Lei Direitos Autorais, que estipula a responsabilidade solidária entre todos os envolvidos no uso das obras musicais, nomeada-mente os proprietários, diretores, gerentes, empresários e arrenda-tários dos eventos.

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A discussão é nova e promete se intensi�car com a aparição de novas tecnologias e modalidades de entretenimento. O fato é que, nesse novo mundo que surge com a pandemia e, esperamos, com o pós pandemia, novas questões surgirão advindas de diferentes formas de interação humana. Cabe ao universo jurídico entender e administrar essas novas relações, aplicando seus tentáculos de forma a se fazer justiça e, sobretudo, equilibrar as relações natural-mente desiguais entre os indivíduos.

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Posfácio

A Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/MG, disponibi-liza para o público a obra “REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL”, resultado da sua experiência na tentativa perma-nente de contribuir para o fortalecimento e a sedimentação da cul-tura da propriedade intelectual no estado de Minas Gerais. Ela é resultado de parcerias estabelecidas entre a mencionada Comissão e parceiros identi�cados, e, prontos em divulgar o conhecimento jurí-dico aos advogados, estudantes, empresários, bem como à socie-dade em geral. No início eram artigos que se transformaram em livro.

Sabe-se que a propriedade intelectual tem como sustentáculo o conceito de capital intelectual, dado pelo inciso XIV do art. 2º da Lei nº 10.973/2004, na alteração trazida pela Lei nº 13.243/2016, Leis brasileiras da Inovação, segundo o qual trata-se do “conheci-mento acumulado pelo pessoal da organização, passível de aplica-ção em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação.”

Em REFLEXÕES SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL são abordados temas especí�cos dentro da área jurídica de Proprie-dade Intelectual, alguns retratando, inclusive, o momento especial de pandemia que o mundo vive, e do qual somente sairá vencedor por meio de resultados produzidos pela ciência, pela tecnologia, pela inovação e protegidas pela proteção da propriedade intelectual, até para uma eventual licença compulsória. Na sua maioria, os textos retratam demandas apresentadas à Comissão por interessa-

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dos, como no caso de Direitos Autorais, Entretenimento, Internet e Mídias Digitais, Marcas e Patentes, sobre os quais muito se comen-tou e comenta nesta pandemia e cujos impactos são amplamente divulgados.

Também foi abordada a entrada em vigor do Protocolo de Madri, referente a marcas internacionais, cuja vigência no país era ansiosamente esperada desde há muito. Assim como foi abordada a questão da Inovação, a Ação do Lucro como desestímulo a violação de propriedade intelectual, a questão da sucessão na PI e a agrega-ção de valor a produtos regionais por meio da proteção por proprie-dade intelectual, as denominadas indicações geográ�cas (IGs). De importância, também, foi a abordagem da integração da Proprie-dade Intelectual (PI) com o Direito Ambiental, exempli�cando a interface e conexão da PI com as demais áreas do conhecimento.

Acreditamos que a OAB/MG presta um importante serviço na divulgação desta obra, que se con�gura de necessária utilização por aqueles que desejam conhecer as experiências proporcionadas na área da propriedade intelectual. Por sua vez, a Comissão de Proprie-dade Intelectual da OAB/MG �cou enriquecida com os conheci-mentos e experiência de seus membros, compartilhadas por meio dos seus artigos.

Com certeza, é uma experiência que será aperfeiçoada e multi-plicada para benefício da área de Propriedade Intelectual e das gera-ções que se sucederão.

E por �m, mas não menos importante, a Comissão agradece ao SISTEMA MINEIRO DE INOVAÇÃO (SIMI), DA SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPE-RIOR – DO ESTADO DE MINAS GERAIS, parceiro inicial da publicação dos artigos e à ESCOLA SUPERIOR DA ADVOCACIA, DA OAB/MG (ESA OAB/MG), parceira atual e sempre presente na divulgação dos artigos produzidos.

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De maneira especial, agradece à Diretoria da OAB/MG pelo apoio nas suas ações e a Dra. Helena Delamonica, que como Coor-denadora Geral das Comissões da OAB/MG, se mostrou sensível às manifestações da Comissão de Propriedade Intelectual, OAB/MG, assim como aos funcionários da Ordem pelo apoio..

Belo Horizonte, junho de 2021

Nizete Lacerda Araújo Presidente da Comissão de Propriedade Intelectual OAB/MG

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REFLEXÕES SOBRE APROPRIEDADE INTELECTUAL

Nizete Lacerda AraújoOrganizadores: Pier Giorgio Senesi Filho Roberto Rocha Tross

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APOIO CULTURAL

Autores: Nizete Lacerda Araújo, Bráulio Madureira Guerra, Leonardo Cançado, Liciana Bayer, Mauro Mendes, Marcelo Loss Pereira Machado, Marília Inês Naves Cardieri, Matheus Flores Nascimento, Pier Giorgio Senesi Filho, Roberto Rocha Tross