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A Proteção da Biotecnologia e os Dilemas Relativos à sua Fiscalização: As Questões Ambientais Patrícia Aurélia Del Nero 1 Resumo Este artigo descreve e analisa as interfaces relativas à proteção da propriedade intelectual da biotecnologia e das normas e princípios no campo do Direito Ambiental, a partir do estudo de caso das atividades desenvolvidas pela Monsanto do Brasil, com relação à experiência transgênica da Soja Roundup Ready. Ao evidenciar esse estudo de caso das atividades desenvolvidas pela Monsanto no país, serão analisadas, ao mesmo tempo, as providências que foram levadas a efeito pelo Estado brasileiro, com relação ao referido episódio. Palavras-chaves: propriedade intelectual, biotecnologia, Direito Ambiental. 1. Introdução O problema central abordado, neste trabalho, evidencia a forma pela qual o Estado Brasileiro vem levando a efeito a amplitude jurídica da proteção da propriedade intelectual da biotecnologia de forma sistemática e ostensiva em detrimento das devidas providências no campo da proteção ambiental. O objetivo central proposto consiste em analisar as principais implicações referentes à interface da proteção da biotecnologia e as questões relativas à fiscalização estatal desses experimentos e seu impacto ambiental. Trata-se de uma interface pouco explorada e que merece, no mínimo, algumas formulações investigativas com relação a esses aspectos que ocupam juristas, economistas, engenheiros agrônomos e outros agentes envolvidos com esta questão. 2. As Patentes em Biotecnologia e as Questões Relativas à Biossegurança 1 Advogada, D.S. Professora Adjunta I do Departamento de Direito da Universidade Federal de Viçosa (M.G.). Doutora em Direito pelo Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina.

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A Proteção da Biotecnologia e os Dilemas Relativos à sua Fiscalização: As Questões Ambientais

Patrícia Aurélia Del Nero1

ResumoEste artigo descreve e analisa as interfaces relativas à proteção da propriedade intelectual da biotecnologia e das normas e princípios no campo do Direito Ambiental, a partir do estudo de caso das atividades desenvolvidas pela Monsanto do Brasil, com relação à experiência transgênica da Soja Roundup Ready. Ao evidenciar esse estudo de caso das atividades desenvolvidas pela Monsanto no país, serão analisadas, ao mesmo tempo, as providências que foram levadas a efeito pelo Estado brasileiro, com relação ao referido episódio.

Palavras-chaves: propriedade intelectual, biotecnologia, Direito Ambiental.

1. Introdução

O problema central abordado, neste trabalho, evidencia a forma pela qual o Estado

Brasileiro vem levando a efeito a amplitude jurídica da proteção da propriedade intelectual

da biotecnologia de forma sistemática e ostensiva em detrimento das devidas providências

no campo da proteção ambiental.

O objetivo central proposto consiste em analisar as principais implicações referentes

à interface da proteção da biotecnologia e as questões relativas à fiscalização estatal desses

experimentos e seu impacto ambiental. Trata-se de uma interface pouco explorada e que

merece, no mínimo, algumas formulações investigativas com relação a esses aspectos que

ocupam juristas, economistas, engenheiros agrônomos e outros agentes envolvidos com

esta questão.

2. As Patentes em Biotecnologia e as Questões Relativas à Biossegurança

1 Advogada, D.S. Professora Adjunta I do Departamento de Direito da Universidade Federal de Viçosa (M.G.). Doutora em Direito pelo Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina.

A partir da promulgação, no Brasil, da Lei de Propriedade Industrial2 e da Lei de

Biossegurança3, a biotecnologia e seu universo de riscos e perigos; inseguranças e

incertezas passam a ser terreno propício para a concessão de patentes4, nesta área, bem

como para a realização dessa modalidade de pesquisa, no Brasil.

Deve-se observar que no tocante a esses dois diplomas legislativos citados, à época,

primeiramente, foi aprovada a Lei de Biossegurança e, posteriormente a Lei da Propriedade

Industrial.

Sendo assim, à primeira vista, pode-se entender que a preocupação brasileira,

relativamente às questões da biossegurança eram prioritária em face da possibilidade de

proteção da biotecnologia, por intermédio da concessão das patentes de invenção5. No

entanto, ao analisar concretamente os movimentos estatais que foram sendo desencadeados,

na medida em que, naquela ocasião, a proteção da biotecnologia, por intermédio da

concessão de patentes de invenção, ainda não estava efetivamente positivada. Ao longo do

2 Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Disciplina os direitos e obrigações referentes à propriedade industrial.3 Vale relembrar que essa referência relaciona-se à original aprovação da Lei da Biossegurança consubstanciada por intermédio da Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995 que “Regulamenta os incisos II e V do parágrafo primeiro do artigo 225 da Constituição Federal, estabelece normas para uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados e autoriza o Poder Executivo a criar, no âmbito da Presidência da República, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e dá outras providências.” Essa Lei, deve-se destacar, mais uma vez foi recentemente revogada pelas disposições constantes na Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do δ 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória n. 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei n. 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências.4 Cumpre destacar que a patente é uma categoria inserida no âmbito da Lei de Propriedade Industrial, cujo reconhecimento estatal, no Brasil, é realizado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial, para as invenções e para os modelos de utilidade. Na hipótese da biotecnologia, as patentes são concedidas e reconhecidas, sob a égide da invenção. Nesse sentido, o artigo 8º da Lei n. 9.279/96 estabelece que: “É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.”5 Nesse sentido, destacam-se as seguintes disposições constantes na Lei n. 9.269, de 14 de maio de 1996 que “Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial”: Artigo 10 – “Não se considera invenção nem modelo de utilidade: (...) IX – o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que delas isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.” Artigo 18: “Não são patenteáveis: (...) III – o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade – novidade, atividade inventiva e aplicação industrial – previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta. Parágrafo único: Para os fins desta lei, microorganismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais.”

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tempo, é possível verificar que a essência da atuação do Estado brasileiro foi justamente no

sentido contrário.

Para abordar essa relevante interface da proteção da biotecnologia, deve-se destacar

que os riscos envolvidos nessa forma de proteção e de desenvolvimento de produtos ou de

processos, vão desde a sua produção nas bancadas de laboratório, até seu destinatário final:

o consumidor; perpassando o seu retorno e/ou liberação no meio ambiente.

Sendo assim, a atividade que ganhou destaque no campo da concessão das patentes

em biotecnologia, no Brasil, é a referente à Soja Roundup Ready, conforme se passa a

destacar. Munidas e "amparadas" pelo Marco Jurídico Regulatório da Propriedade

Intelectual da Biotecnologia6, a Monsanto Company e a Monsoy Ltda., solicitaram pedidos,

de patente para a "Soja RR - Roundup Ready".

Nesse sentido, é preciso esclarecer que para cercar seus interesses, a Monsanto

depositou junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial7 as seguintes solicitações de

patentes8: PI 1100006 (de 1996); PI 1100007 (de 1996); PI 1100008 (de 1996) e PI 11010

(de 1997), todas essas patentes descrevem a codificação da enzima glifosato

oxidoreductase, principal herbicida introduzido na soja sob a marca registrada: Roundup

Ready. Sendo assim, a partir dos experimentos realizados pela Monsanto foi possível

introduzir o destacado herbicida no material genético da soja. Além do mais, as titulares das

patentes passaram a ter o direito exclusivo de exploração dos objetos protegidos9.

Após o reconhecimento dessas patentes, por parte do I.N.P.I., evidentemente as

titulares das mesmas, ou seja, a Monsanto Company e a Monsoy Ltda. deveriam explorá-las

comercialmente, no Brasil. Aliás, esta é uma exigência constante na Lei de Propriedade

6 Essa expressão foi construída e analisada na obra intitulada: A Proteção Jurídica da Biotecnologia no Brasil: Análise e Crítica do Marco Jurídico Regulatório (no Prelo da Editora Revista dos Tribunais).7 Trata-se de uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento e que tem como objetivo principal reconhecer a proteção das categorias referentes à propriedade industrial, incluindo-se as patentes de invenção.8 O artigo 19 da Lei n. 9.279/96 determina que: “O pedido de patente, nas condições estabelecidas pelo INPI conterá: I – requerimento; II – relatório descritivo; III – reivindicações; IV – desenhos, se for o caso; V – resumo; e VI – comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito.”9 Nesse sentido, estabelece o artigo 38 da Lei 9.279/96: “A patente será concedida depois de deferido o pedido, e comprovado o pagamento da retribuição correspondente, expedindo-se a respectiva carta patente.”

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Industrial brasileira. Caso não haja a exploração econômica do objeto protegido, por meio

da patente de invenção, este mesmo objeto estará sujeito ao licenciamento compulsório10.

Nesse sentido, a discussão relativa ao cultivo (plantio) e a liberação comercial da

soja RR da Monsanto, foi bipolarizada, ou seja, alguns setores da sociedade civil brasileira

eram favoráveis11, enquanto outros setores eram, por seu turno, contrários12.

3. Os Principais Argumentos Favoráveis e Contrários ao Cultivo da Soja Transgênica

Os argumentos favoráveis e os contrários, relativamente ao tema, serão aqui

recuperados, em seus aspectos essenciais, apenas com o objetivo de situar o debate que foi

travado entre os especialistas aos leitores. Não se trata, ao mesmo tempo, de gerar um

posicionamento teórico favorável ou contrário ao plantio e à liberação comercial dos

transgênicos. Qualquer iniciativa, nesse sentido, poderia ser considerada – como de fato é –

um falso problema no campo teórico. No entanto, a partir da apresentação desses

argumentos, torna-se possível verificar quais os aspectos que o Marco Jurídico da

Propriedade Intelectual da Biotecnologia deve – ou deveria - observar ou estabelecer em

função de seu relacionamento temático com as questões referentes à Biossegurança.

A explicação da própria Monsanto Company, no tocante à Soja RR, para a

sociedade é a seguinte,

“A Monsanto está desenvolvendo variedades de soja tolerantes ao herbicida Roundup. Através da inserção de um gene (Roundup Ready) a planta ficará tolerante à aplicação do herbicida e poderá se desenvolver normalmente, pois todas as ervas daninhas serão eliminadas.

O herbicida Roundup atua nas plantas como inibidor enzimático. Aminoácidos e proteínas vitais para o desenvolvimento das plantas deixam de ser formulados, matando-as lentamente. O Roundup

10 Esse instituto está expressamente previsto no artigo 68 da Lei 9.279/96 e determina: “O titular ficará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente se exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva, ou por meio dela praticar abuso de poder econômico, comprovado nos termos da lei, por decisão administrativa ou judicial.”11 A título de ilustração, destaca-se: a Monsanto Company que era parte interessada e agricultores (produtores de soja).12 Podem-se citar as Organizações Não-Governamentais Ambientalistas, como o Greenpeace e o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), bem como os produtores de soja livre de organismos geneticamente modificados, isto é, produtores de soja convencional.

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Ready é um gene que, uma vez incorporado à planta, neutraliza a ação do Roundup. A soja modificada geneticamente conserva seus processos bioquímicos como se o produto não tivesse sido aplicado.

Os métodos de transferência de genes às plantas são absolutamente seguros. Fenômenos como estes ocorrem na própria natureza. Algumas plantas adquirem através das trocas genéticas, resistência a determinadas pragas ao longo do tempo. Porém, este fenômeno natural ocorre lentamente.

Os especialistas em biotecnologia conseguem realizar este processo de forma rápida, produzindo alimentos de qualidade, que podem ser consumidos sem restrições sem alteração no sabor ou no valor nutricional.”

Os segmentos representantes dos setores favoráveis ao plantio e à comercialização

deste produto alegam que as atividades de transgenia apresentam vantagens competitivas e

larga ampliação da escala de produtividade.

No que diz respeito às vantagens relativas a soja resistente a Roundup, a

Monsanto13, mais uma vez evidencia os seguintes aspectos,

“Maior eficiência no controle de ervas; redução dos custos com herbicidas; menor dependência de herbicidas no pré e no pós-plantio; maior flexibilidade para o controle de ervas, ou seja, apenas quando e onde necessário; melhor adequação ao plantio direto e, conseqüentemente, maior umidade do solo, redução da erosão e menor uso de combustível.”

No que diz respeito à utilização da engenharia genética na agricultura, a ecologista

Vandana Shiva14 , chama a atenção para os riscos inerentes à referida atividade,

“Como técnica, a engenharia genética é muito sofisticada. No entanto, como tecnologia para usar biodiversidade de maneira sustentável visando atender às necessidades humanas, ela é inadequada. A monocultura transgênica reduz a biodiversidade ao eliminar culturas variadas, que proporcionam fontes variadas de nutrientes.

Além do mais, novos riscos à saúde são introduzidos pelas culturas transgênicas. Os elementos derivados de plantas geneticamente modificadas têm o potencial de introduzir novas alergias. Também trazem o risco de ‘poluição biológica’, de novas vulnerabilidades a

13 Nesse sentido, consultar: <http://www.cooplantio.com.br/empresa/monsanto/biotec/btec_1.htm>. Acesso em 19/05/99 às 15:47 horas.14 SHIVA, Vandana. Biopirataria. A Pilhagem da natureza e do conhecimento. Tradução Laura Cardellini Barbosa de Oliveira. Petrópolis: Vozes. p. 64.

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doenças, de uma espécie se tornar dominante em um ecossistema e da transferência de genes entre espécies.”

O argumento central utilizado pela Monsanto, para alavancar seus negócios, no

Brasil, é no sentido de que os transgênicos irão acabar com a fome no mundo. É evidente

que esse argumento é decisivo para os apelos humanitários.

No que se refere a esta questão, o historiador, Eric Hobsbawn15 observa que,

“Não creio que o problema mais grave seja o da produção de alimentos para todos. Nos últimos cinqüenta anos, o mundo produziu comida em quantidade suficiente, ou até mais do que suficiente, para acompanhar o aumento da população, que triplicou no mesmo período. E isto recorrendo a métodos que, pelos padrões atuais, nem mesmo são avançados: por exemplo, com a seleção de sementes, em vez do uso das biotecnologias que estão se tornando disponíveis. Por isso, não há por que supor que essa tendência produtiva não irá continuar no futuro próximo. Na verdade, a quantidade de alimentos hoje produzido no mundo poderia sustentar uma população muito maior. É por esse motivo que não me convencem os argumentos das industriais que produzem alimentos geneticamente modificados, segundo os quais esta seria a única saída para alimentar o mundo. Esse não é bem o caso, pelo menos com base nas atuais previsões de crescimento populacional. Isso não quer dizer que eu seja contra a biotecnologia. Mas apenas não se trata de uma argumentação válida, pois não estamos ameaçados por nenhuma escassez de alimentos.”

Quanto à mesma questão, Fritjof Capra16 argumenta no seguinte sentido,

“Quando o capitalismo global começou a crescer na década de 1990, sua mentalidade de atribuir valor supremo ao ganho de dinheiro envolveu a biotecnologia e, ao que parece, provocou o esquecimento de todas as considerações éticas. Atualmente, muitos geneticistas de renome são donos de empresas de biotecnologia ou trabalham em íntima associação com tais empresas. A motivação desse crescimento da engenharia genética não é o progresso da ciência, nem a descoberta de curas para as doenças, nem a vontade de alimentar os famintos: é o desejo de garantir ganhos financeiros nunca vistos antes.”

15 HOBSBAWN, Eric. O novo século. Entrevista a Antônio Polito. Companhia das Letras. São Paulo: 2000. pp. 178-179.16 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas. Ciência para uma vida sustentável. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Pensamento, 2002. p. 171.

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Nesse universo da biotecnologia, onde as características genéticas naturais das

variedades são alteradas, o objetivo do titular dessas patentes de invenção é o lucro e a

competitividade agrícola, em detrimento da segurança alimentar e do equilíbrio ambiental e

da saúde humana.

No que diz respeito às possíveis vantagens que os agricultores podem ter a partir do

plantio da soja transgênica, o economista Jean Marc Von Ver Weid17, esclarece que,

“É óbvio que os agricultores têm uma percepção positiva da soja RR ou não estariam se arriscando para planta-la. Eles afirmam ter ganhos de produtividade e economia de custos. No entanto, esta percepção é enganosa em função de vários fatores.

Em primeiro lugar, os agricultores estão plantando soja RR com sementes produzidas em grande parte pelos próprios agricultores, a partir de sementes contrabandeadas da Argentina.

Esta economia desaparecerá se a soja RR da Monsanto for legalizada. Pelo direito de patente sobre esta tecnologia a empresa proíbe o replantio e obriga a compra de sementes, 40% mais caras que as convencionais, a cada ano. Aliás, a Monsanto está ameaçando entrar com uma reclamação na OMC contra o Brasil, pelo uso pirata de suas sementes patenteadas.

Por outro lado, o alegado menor consumo de herbicida com o uso da soja transgênica não se confirma nas estatísticas gaúchas. Desde 1999, quando começa o plantio ilegal de soja RR no RS, até 2002 o aumento do consumo de Roundup foi de 47,6%. No mesmo período o consumo de herbicidas no Paraná, Estado com forte controle contra plantio ilegal de transgênicos, caiu exatamente na mesma proporção, 47,6%.

A grande economia na produção de soja no RS não tem a ver com o uso ou não de sementes transgênicas. Foi o preço do herbicida que caiu em cerca de 60%, compensando amplamente nos custos de produção e uso de maior quantidade do produto.

Quanto à produtividade da soja gaúcha, os dados também mostram que não é o uso da soja transgênica que faz a diferença, pois a mesma foi, em 2002, a mais baixa do país. A euforia com a safra atual não tem a ver com maior competitividade da soja transgênica no RS, mas com a melhoria das condições climáticas que fez crescer a produtividade em relação ao ano anterior. O Paraná que não usa soja transgênica tem uma produtividade 25% mais alta que a do RS.”

17 WEID, Jean Marc Von Ver. A questão dos Transgênicos. Transgênicos. ASPTA, Rio de Janeiro. 2003. pp.8-9.

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Por fim, deve-se destacar que os argumentos desenvolvidos pelos setores favoráveis

ao comércio e à liberação dos produtos geneticamente modificados sustentam que se essa

providência não for efetivamente levada a efeito, o Brasil, irá perder a oportunidade de

desenvolvimento científico e tecnológico.

Com relação aos riscos para a saúde, que os transgênicos podem acarretar, Flávia

Londres18 destaca que,

“Ainda não existem métodos apropriados para avaliar com profundidade os efeitos dos transgênicos na saúde do consumidor. Algumas pesquisas preliminares indicam que os alimentos transgênicos apresentam riscos para a saúde humana (há indícios de problemas gastrointestinais, alergias e até transferência horizontal de genes – fenômeno de conseqüências imprevisíveis), mas até o momento não foram levadas adiante pesquisas independentes e de longo prazo sobre os efeitos nutricionais, toxicológicos e microbiológicos destes alimentos.

Ao contrário do que se poderia imaginar, nos países onde estes produtos foram liberados (96% dos transgênicos estão nos EUA, Canadá e Argentina, usou-se um conceito fortemente atacado no meio científico, o da ‘equivalência substancial’, segundo o qual, comparando-se os níveis de uma lista limitada de químicos, como nutrientes e toxinas, entre um organismo e seu similar convencional, pode-se concluir que eles são ‘equivalentes’. Considerou-se então por serem ‘equivalentes’ aos produtos convencionais, por princípio, os produtos transgênicos não apresentam riscos,portanto não necessitam passar por avaliações rigorosas e de longo prazo.”

Em que pesem todos esses argumentos, a Monsanto Company e a Monsoy,

detentoras das destacadas patentes que incidem sobre a tecnologia da soja RR, lançam

esforços para a comercialização do referido produto no Brasil; contando, inicialmente, com

parecer favorável da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Essa

Comissão deve-se destacar era institucionalizada, pelas determinações da recém revogada

Lei 8.974, de 5 de janeiro de 199519. Na atualidade, o perfil da Comissão Técnica Nacional 18 LONDRES, Flávia. 2003, p. 11.19Essa Comissão era originariamente institucionalizada pela Lei 8.974/1995 e possuía o seguinte perfil previsto no artigo 1o: “Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, liberação e descarte do organismo geneticamente modificado (OGM), visando a proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o meio ambiente.” No artigo primeiro desta Lei, revogada, foi inserida a letra “A”, cujas disposições eram as seguintes: “Art. 1o A – Fica criada, no âmbito do Ministério da

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de Biossegurança é estabelecido pelas disposições constantes no artigo 10 da Lei 11.10520,

de 24 de março de 2005 que determina,

“Art. 10. A CTNBio, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, é instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente.

Parágrafo único. A CTNBio deverá acompanhar o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas de biossegurança, biotecnologia, bioética, com o objetivo de aumentar sua capacitação para a proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.”

A CTNBio, na época, emitiu parecer conclusivo, acerca da soja RR da Monsanto,

pois essa era a sua competência funcional21. Esse parecer foi qualificado como

Ciência e Tecnologia, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, instância colegiada multidisciplinar, com a finalidade de prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a OGM, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos conclusivos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM e derivados. Parágrafo único. A CTNBio exercerá suas competências, acompanhando o desenvolvimento e o progresso técnico e científico na engenharia genética, na biotecnologia, na bioética, na biossegurança e em áreas afins.” Essa nova redação do artigo em pauta foi alterada, por força das disposições constantes no artigo 1o da Medida Provisória n. 2.191-9, de 23 de agosto de 2001 que acresce e altera dispositivos da Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995 e dá outras providências.20 É importante dispor expressamente os dispositivos relacionados, ainda que revogados, para se estabelecer o perfil das alterações estabelecidas pela nova Lei de Biossegurança, quanto ao tema.21 É necessário destacar que em sua versão originária o Decreto 1.752, de 20 de dezembro de 1995, que “Regulamenta a Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995, dispõe sobre a vinculação, competência e composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, e dá outras providências”, dispunha em seu artigo 2o, dentre outras, as seguintes atribuições funcionais da CTNBio: “Compete à CTNBio: (...) VI – Classificar os OGM segundo o grau de risco, definindo os níveis de biossegurança a eles aplicados e às atividades consideradas insalubres e perigosas; VIII – Emitir parecer técnico conclusivo sobre os projetos relacionados a OGM pertencentes ao Grupo II, conforme definido no Anexo I da Lei 8.974, de 1995, encaminhando-os aos órgãos competentes; IX – apoiar tecnicamente os órgãos competentes no processo de investigação de acidentes e de enfermidades verificadas no curso dos projetos e das atividades na área de engenharia genética, bem como na fiscalização e monitoramento desses projetos e atividades; X – emitir parecer técnico prévio conclusivo sobre qualquer liberação de OGM no meio ambiente, encaminhando-o ao órgão competente; (...) XII – emitir parecer técnico prévio conclusivo sobre registro, uso, transporte, armazenamento, comercialização, consumo, liberação e descarte de produto contendo OGM ou derivados, encaminhando-o ao órgão de fiscalização competente; (...) XIV – exigir como documentação adicional, se entender necessário, Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto no Meio Ambiente (RIMA) de projetos e aplicação que envolvam a liberação de OGM no meio ambiente, além das especificadas para o

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“controvertido”, pois a Monsanto e a Monsoy ficaram desobrigadas de apresentação do

Estudo de Impacto Ambiental (EIA), bem como do Relatório de Impacto Ambiental

(RIMA).

Trata-se de um entendimento flagrantemente inconstitucional, na medida em que o

artigo 22522, inciso IV da Constituição Federal torna obrigatória a realização de Estudos de

Impacto Ambiental para "toda atividade potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente." No entanto, conforme destacado, as disposições constantes

no referido Decreto que regulamentava a recém revogada Lei da Biossegurança, fazia tal

previsão de forma discricionárias, ou seja, exigir a referida documentação, caso a CTNBio

“entenda necessário”.

Parece óbvio, até mesmo para um leigo no assunto, que a alteração genética de uma

planta é uma atividade tecnológica arrojada e que implica, no mínimo, em potenciais riscos

para a saúde humana e para o meio ambiente, bem como para o ecossistema como um todo.

No entanto, lamentavelmente, o entendimento do então Ministro da Ciência e da

Tecnologia, da época, Bresser Pereira23 que assim se pronunciou quanto ao tema,

oficialmente, em uma Audiência Pública realizada, na Câmara dos Deputados, para discutir

a questão da biossegurança, especificamente com relação aos transgênicos, destacou:

“Com relação aos produtos transgênicos, creio que devemos examinar o problema sob dois pontos de vista: um é específico da Biossegurança e outro é o do âmbito econômico, da eficiência, da tecnologia e da competitividade do Brasil internacionalmente. Tanto um assunto quanto o outro interessam, evidentemente, ao Ministério da Ciência e Tecnologia. (...)

No caso dos produtos transgênicos, por mais que eu analise o problema e por tudo que ouvi de todos os técnicos e cientistas com quem conversei, não creio que haja algum trade off em relação ao desenvolvimento econômico e do desenvolvimento auto-sustentável. Não há perdas em termos de segurança biológica e

nível de risco aplicável.”22 Deve-se destacar também que o Meio Ambiente é disciplinado a partir do artigo 225 da Constituição Federal, em redação avançada quanto a sua disciplina jurídica. O “caput” do referido dispositivo determina que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”23 Pronunciamento de Bresser Pereira, em Audiência Pública na Câmara dos Deputados - Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informação, realizada em Brasília, 05 de maio de 1999.

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proteção ambiental, como contrapartida a ganhos em desenvolvimento econômico.”

Conforme se verifica, o entendimento oficial do Estado brasileiro, representado pelo

Ministro da C&T bipolariza a questão dos transgênicos, enfocando apenas os aspectos

relativos à biossegurança e ao caráter essencialmente econômico. A partir desse

pronunciamento, verifica-se um tratamento meramente economicista da questão.

Além do mais, o reducionismo ao tratamento dado à matéria implica no

favorecimento conferido a Monsanto e a Monsoy, quanto a suas atividades biotecnológicas

e seus conseqüentes lucros.

Ao observar esse tipo de tendência essencialmente neoliberal, deflagrada pelo

Estado brasileiro, o Professor Octávio Ianni24 evidencia que,

“[...] sob o neoliberalismo [...] o Estado adquire todas as características de um aparelho administrativo das classes e grupos dominantes, ou dos blocos de poder predominante em escala mundial. Trata-se de um Estado comprometido principalmente com a abertura e a fluência dos 'fatores de produção' nos mercados, tendo em conta o dinamismo do capital produtivo e especulativo, bem como das tecnologias eletrônicas, informáticas e cibernéticas, além dos movimentos do mercado de força de trabalho; tudo isso conforme as sugestões, injunções ou imposições das corporações transnacionais [...] e outras organizações empenhadas em favorecer a dinâmica dos 'fatores de produção', com escassa ou nula atenção por suas implicações ou custos sociais.”

As questões inerentes tanto à biotecnologia, quanto à biossegurança, requerem

apreciação transdisciplinar. Os aspectos econômicos são consideravelmente importantes,

sem dúvida, para as transnacionais envolvidas que aguardam avidamente os lucros a partir

da hiper produtividade possibilitada pela Soja RR.

No entanto, deve-se observar que é necessário levar em consideração as questões

referentes à biossegurança e ao meio ambiente. Sendo assim, em face da possibilidade

concreta de danos ao meio ambiente, este se encontra vulnerável, na medida em que

nenhuma medida concreta quanto à sua preservação foi levada a efeito por parte do Estado

brasileiro. Ao contrário, o Estado brasileiro liberou expressamente a Monsanto da

apresentação de Relatório de Impacto Ambiental e de Estudo de Impacto no Meio 24 Op. loc. cit. p. 59.

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Ambiente, quer dizer, quanto as atividades relativas ao plantio e à comercialização

realizadas pela Monsanto estavam livres de quaisquer exigências ou formalidades.

4. As Ações Judiciais Propostas e seu Descumprimento e as Medidas Provisórias que Estabilizam a Situação da Monsanto no Brasil

Em face do descaso ou, no mínimo, da omissão estatal ou o que pode ser

considerado inexoravelmente pior: o total comprometimento do Estado brasileiro com os

interesses transnacionais da Monsanto e da Monsoy, duas Ações Civis Públicas foram

ajuizadas, naquela ocasião. A primeira proposta pelo Greeenpeace, em dezembro de 1997 e

a outra patrocinada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC, em junho de

1998.

As duas ações têm como objetivo a argumentação contrária da introdução de

Organismos Geneticamente Modificados. Estas Ações tramitaram perante a 6a Vara da

Seção Judiciária do Distrito Federal.

Com relação à apreciação judicial das ações destacadas, o Juiz Antônio de Souza

Prudente, na sentença determinou que25,

“[...] fosse apresentado pela Monsanto e pela Monsoy estudo prévio de Impacto Ambiental como condição indispensável para o plantio da soja "round up ready";

impedir as referidas empresas de comercializarem as sementes da soja geneticamente modificadas até que sejam definidas, pelo Poder público competente, as normas de rotulagem dos transgênicos;

suspensão do cultivo em escala comercial do referido produto, sem que sejam suficientemente esclarecidas as questões técnicas suscitadas por pesquisadores de renome, a respeito das possíveis falhas apresentadas pela CTNBio em relação ao exame do pedido de desregulamentação da soja "round up ready" intimação pessoal

25 Resumo da decisão da r. sentença pp. 60/62. PODER JUDICIÁRIO. Justiça Federal. Seção Judiciária do Distrito Federal. Ação Cautelar Inominada. Processo n.N1.1998.34.00.027.681-8. Sentença n. 01/99. Requerentes: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor; Associação Civil Greenpeace e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Requeridos: União Federal; Monsanto do Brasil e Monsoy Ltda. Brasília, 1999. Merece, também, destaque a atuação do Procurador Regional da República do Distrito Federal - Aurélio Virgílio Veiga Rios que não mediu esforços na defesa dos consumidores e do meio ambiente brasileiro, um verdadeiro exemplo de atuação que deveria inspirar o Estado brasileiro em suas realizações concretas quanto ao tema.

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dos Ministros da Agricultura, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e da Saúde para que não expeçam qualquer autorização para plantio e comercialização da soja Round up Ready. Se por ventura, alguma autorização foi expedida, a r. sentença determinou sua suspensão.

Por fim, fixação de multa pecuniária de dez salários mínimos por dia, a partir da data do descumprimento da r. sentença.”

Ao decidir judicialmente acerca da questão, a sentença citada determina e, ao

mesmo tempo, torna obrigatória a apresentação, por parte dos titulares das patentes de

invenção incidentes sobre a Soja RR, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, de acordo

com as determinações contidas no artigo 225 da Constituição Federal, conforme destacado

anteriormente.

Com relação ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto no

Meio Ambiente (RIMA), deve-se mencionar que o Decreto n. 1.752, de 20 de dezembro de

199526 “Regula a Lei 8.974, de 05 de janeiro de 1995, dispõe sobre a vinculação da

competência da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, e dá outras

providências.” Sendo assim, ao regulamentar, no artigo 2o a Competência da CTNBio,

determina o inciso XIV a exigência “como documentação adicional, se entender

necessários, Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto no

Meio Ambiente (RIMA) de projeto e aplicação que envolva a liberação de OGM no meio

ambiente, além das especificações para o nível de risco aplicável.”

Conforme se verifica tanto a antiga Lei da Biossegurança quanto seu Decreto,

deixavam ao critério da CTNBio a exigência da apresentação de Estudo de Impacto

Ambiental e o Relatório de Impacto no Meio Ambiente.

Desta forma, normatizam a questão em termos discricionários, vale dizer, a Lei e o

Decreto conferem à autoridade administrativa, no caso a CTNBio, solicitar, ou não, os

referidos documentos. Nesse sentido, a CTNBio possui margem de liberdade para levar a

efeito essa exigência.

26 Deve-se destacar que o Decreto n, 2.577, de 30 de abril de 1998. “Dá nova redação ao art. 3o do Decreto n. 1.752, de 20 de dezembro de 1995, que regulamenta a Lei 8.974, de 05 de dezembro de 1995, que dispõe sobre a vinculação, competência e composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio.”

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Note-se que ao interpretar e decidir o conflito concreto de interesses, no âmbito das

Ações Civis Públicas, a sentença citada determinou expressamente como sendo obrigatória

a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental.

Quanto ao EIA e ao RIMA e sua obrigatoriedade, deve-se destacar que a Resolução

n. 305, de 12 de junho de 2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),

“dispõe sobre o Licenciamento Ambiental, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de

Impacto no Meio Ambiente de atividades e empreendimentos com Organismos

Geneticamente Modificados e seus derivados.” O artigo 1o da referida Resolução,

estabelece que,

“Esta Resolução disciplina os critérios e os procedimentos a serem observados pelo órgão ambiental competente para o licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos que façam uso de Organismos Geneticamente Modificados – OGM e derivados, efetiva ou potencialmente poluidores, nos termos do art. 8o, da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 198127, e, quando for o caso, para elaboração de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental no Meio Ambiente – RIMA, sem prejuízo de outras Resoluções ou normas aplicáveis à matéria.”

Portanto, em face das determinações contidas na sentença em pauta, o plantio e a

comercialização da soja Roundup Ready estavam proibido em todo o território nacional. No

entanto, mesmo assim, a soja da Monsanto continuou a ser plantada. Evidentemente

cresceu e originou, no Brasil, a primeira safra de soja transgênica.

A questão posta, naquela ocasião, consistia em resolver o que fazer com a safra da

soja transgênica que era ilegal? Como o Estado brasileiro iria resolver esse episódio, a

partir do dilema posto: punir a ilegalidade ou convalida-la? Preservar os interesses

nacionais ou privilegiar os interesses do capital transnacional representado pela Monsanto?

Em resposta a este dilema, o primeiro movimento do Estado brasileiro, no sentido

de solucionar momentaneamente a questão, por intermédio do Poder Executivo Federal,

adota a Medida Provisória n. 113, de 26 de março de 200328 que: “Estabelece normas para a

comercialização da produção da safra de 2003 e dá outras providências.”27 Esta Lei é bom destacar: “Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.”28 Esta Medida Provisória foi convertida na Lei 10.688, de 13 de junho de 2003 que: “Estabelece normas para a comercialização da produção de soja da safra de 2003 e dá outras providências.”.

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O artigo 1o da Medida Provisória em questão determina que,

“Art. 1o A comercialização da safra de soja de 2003 não estará sujeita às exigências pertinentes à Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995, com as alterações da Medida Provisória n. 2.191-9, de 23 de agosto de 2003.

δ 1o - A Comercialização de que trata este artigo só poderá ser efetivada até 31 de janeiro de 2004, inclusive, devendo o estoque existente após aquela data ser destruído, mediante incineração, com completa limpeza dos espaços de armazenamento para recebimento da safra de 2004.”

Ao que tudo indica os estoques existentes da safra de 2003 da soja RR da Monsanto

não foram incinerados, pois outra safra da mesma soja foi plantada. Sendo assim, é gerada

no Brasil, a segunda safra transgênica. Desta forma, os avanços da Monsanto, no Brasil,

mais uma vez se delineia, com o mesmo perfil. Novamente, por seu turno, os dilemas

anteriormente postos e evidenciados que, frise-se, não foram solucionados ressurgem. Mais

uma vez, prontamente o Poder Executivo Federal, lança mão de mais uma Medida

Provisória, a de n. 131, de 26 de setembro de 200329 que, por seu turno, “Estabelece normas

para o plantio e comercialização da produção de soja da safra de 2004, e dá outras

providências.” Os artigos 1o e 2o desta Medida Provisória destacam que,

“Art. 1o às sementes da safra de soja de 2003, reservadas pelos agricultores para uso próprio, consoante os termos do art. 2o, inciso XLIII, da Lei 10.711, de 5 de agosto de 200330, e que sejam utilizadas para plantio até 31 de dezembro de 2003, não se aplicam as disposições dos incisos I e II do art. 8o , do caput do art. 10 da Lei 6.938, de 31 de agosto de 198131, relativamente às espécies

29 Esta Medida Provisória foi convertida na Lei 10.814, de 15 de dezembro de 2003 que: “Estabelece normas para o plantio e comercialização da produção de soja geneticamente modificada da safra 2004, e dá outras providências.”30 O dispositivo em questão, previsto na Lei que “Dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências”, estabelece a figura da “Semente para uso próprio”, que consiste na: “quantidade de material de reprodução vegetal guardada pelo agricultor, a cada safra, para semeadura ou plantio exclusivamente na safra seguinte e em sua propriedade ou outra cuja posse detenha, observados, para cálculo da quantidade, os parâmetros registrados para a cultivar no Registro Nacional de Cultivares –RNC.31 O artigo 8o da referida Lei teve a redação de seus incisos alterada pelas disposições da Lei 8.028, de 12 de abril de 1990 e estabelecem: “Art. 8o Compete ao CONAMA: I – estabelecer, mediante proposta da SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente), normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo SEMA; II – determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional.”

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geneticamente modificadas no código 20 do seu Anexo VIII; da Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995, com as alterações da Medida Provisória n. 2.191-9, de 23 de agosto de 2001; do δ 3o do art. 1o32 e do art. 5o33 da Lei 10.688, de 13 de junho de 2003.

Parágrafo único. É vedada a comercialização do grão de soja da safra de 2003 como semente, bem como a sua utilização como semente em propriedade situada em Estado distinto daquele em que foi produzido.

Art. 2o - Aplicam-se à soja colhida a partir das sementes de que trata o art. 1o o disposto na Lei 10.688, de 2003, restringindo-se a sua comercialização ao período até 31 de dezembro de 2004, inclusive.

Parágrafo único. O estoque existente após a data estabelecida no caput deverá ser destruído, mediante incineração, com completa limpeza dos espaços armazenados para recebimento da safra 2005.”

A redação da prescrição comportamental contida no artigo 1o da referida Medida

Provisória é de uma clareza que salta aos olhos. Para o intérprete realizar sua atividade, ele

deve recorrer a inúmeras disposições normativas constantes em outros diplomas legais34.

Outro aspecto que merece destaque é que o artigo 9o da Medida Provisória 131/03

foi vetado. O referido dispositivo determinava que,

“Art. 9o. Compete exclusivamente ao produtor de soja arcar com os ônus decorrentes do plantio autorizado pelo art. 1o desta Medida Provisória, inclusive os relacionados a eventuais direitos de terceiros.

Parágrafo único. A responsabilidade prevista no caput aplica-se, igualmente, aos detentores dos direitos de patente sobre a tecnologia aplicada à semente de soja de que trata o art. 1o.”

32 Esse dispositivo da Lei que “estabelece normas para a comercialização da produção de soja da safra de 2003 e dá outras providências”, determina que: “A soja mencionada no caput deverá ser obrigatoriamente comercializada como grão ou sob outra forma que destrua as suas propriedades produtivas, sendo vedada sua utilização ou comercialização como semente.”33 O referido artigo 5o determina que: “Para o plantio da safra de soja de 2004 e posteriores, deverão ser observados os termos da legislação vigente, especialmente das Leis 8.974, de 5 de janeiro de 1995 e n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, e demais instrumentos legais pertinentes.”34 Destaca-se que essa é uma característica inerente à formulação das Normas que disciplinam a Biossegurança no Brasil. Nesse sentido, o leitor deve observar o Apêndice desenvolvido por esta autora, ao final desta pesquisa apresentado, intitulado “Marco Jurídico Regulatório da Propriedade Intelectual da Biotecnologia”, especialmente o item IV, intitulado: “Normas que dispõem acerca da Biossegurança no campo da Biotecnologia (Organismos Geneticamente Modificados).

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A Mensagem Presidencial n. 741, de 15 de dezembro de 2003, encaminhada ao

Presidente do Senado Federal, estabelece as seguintes razões de veto,

“Trata o dispositivo de estender a responsabilidade civil, objetiva e solidária pelos danos causados ao meio ambiente e a terceiros, aos detentores dos direitos da patente sobre a tecnologia aplicada à semente de soja geneticamente modificada de 2003.

A contrariedade ao interesse público decorre do fato de que o dispositivo traz à baila relação jurídica estranha ao objeto do texto legal, na medida em que pretende responsabilizar os detentores dos direitos de patentes sobre a tecnologia aplicada à semente de soja geneticamente modificados pelos danos ao meio ambiente e à saúde de terceiros.

Se de um lado há o aspecto positivo de tutelar direitos fundamentais como a vida e o meio ambiente, responsabilizando todos aqueles que participam da cadeia produtiva da soja geneticamente modificada, a redação do dispositivo em comento, a contrário sensu, está a afirmar os direitos de patente sobre a tecnologia aplicada à semente de soja geneticamente modificada da safra de 2003.

A matéria referente a direitos e obrigações relativos à propriedade industrial mereceu detalhada disciplina no texto da Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996, a denominada Lei de Patentes, e é sob sua égide que deve ser decidida.

Não pode pretender uma lei que se destina a, única e exclusivamente, estabelecer normas excepcionais para o plantio e comercialização da produção de soja geneticamente modificada da safra de 2003, criar normas e definir direitos e obrigações de supostos detentores de direitos sobre patente da semente utilizada.

Ademais, há que se registrar o caráter ilícito da importação das sementes em questão, o que torna ainda mais complexa a relação jurídica entre os eventuais detentores de direitos sobre patentes e os produtores rurais, matéria essa que deve ser equacionada pelas vias competentes, vale dizer, pelo Poder Judiciário, tendo em consideração a legislação específica do setor.”

Em face das razões expostas no veto Presidencial que excluem a detentora das

patentes relativas à soja transgênica de toda e qualquer responsabilidade pelo seu plantio,

resta cristalino que o Poder Executivo Federal eximiu a Monsanto de todo e qualquer tipo

de responsabilidade, bem como em face das disposições constantes na Medida Provisória,

como um todo, eximiu também a referida empresa transnacional de apresentação de

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qualquer tipo de avaliação referente aos impactos ambientais que seu produto irá – ou

poderá – causar ao meio ambiente.

5. A Irresponsabilidade Ambiental: Quem Arca com os Prejuízos?

Parece inexorável que a atividade referente ao plantio da soja geneticamente

modificada é uma atividade “potencialmente causadora de significativa degradação do meio

ambiente35”

Não houve, também, a observância do Princípio do “poluidor-pagador”, estruturante

e basilar no campo do Direito Ambiental, que determina que o poluidor é obrigado a pagar

ou responsabilizar-se economicamente pelos danos decorrentes da poluição causada.

Conforme, verificado, ao recuperar os argumentos dos setores contrários ao plantio e à

liberação dos organismos geneticamente modificados, neste caso concreto, o risco da

poluição36 é química é gênica.

O Princípio do “Poluidor Pagador” é importante observar, vem previsto

expressamente no inciso IX, do item 2 do Anexo do Decreto 4.339, de 22 de agosto de

2002 que: “Institui princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da

Biodiversidade”. O referido Princípio estabelece que,

“2. A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelos seguintes princípios:

[...]

IX – a internalização dos custos ambientais e a utilização de instrumentos econômicos será promovida tendo em conta o princípio de que o poluidor deverá, em princípio, suportar o custo da poluição, com o devido respeito pelo interesse público e sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.”

35 Artigo 225 da Constituição Federal.36 O artigo 3o, incisos III, letras “a” até “e”, e no inciso IV da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981 que “Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.”, estabelece que: “Art. 3o – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] III- poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.”

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No campo dogmático, Édis Milaré37 firma o seguinte entendimento, quanto ao

Princípio do Poluidor-pagador (polluter pays principle),

“Assenta-se este princípio na vocação redistributiva do Direito Ambiental. E se inspira na teoria econômica de que os custos sociais externos que acompanham o processo produtivo (v.g., o custo resultante dos danos ambientais) precisam ser internalizados, vale dizer, que os agentes econômicos devem leva-los em conta ao elaborar os custos de produção e, conseqüentemente, assumi-los. Busca-se, no caso, imputar ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada, engendrando um mecanismo de responsabilidade por dano ecológico abrangente dos efeitos da poluição não somente sobre bens e pessoas, mas sobre toda a natureza. Em termos econômicos é a internalização dos custos externos.”

No tocante aos objetivos da aplicabilidade e observância do Princípio do “poluidor-

pagador”, Édis Milaré38, evidencia que,

“O princípio não objetiva, por certo, tolerar a poluição mediante um preço, nem se limita apenas a compensar os danos causados, mas sim, precisamente, evitar o dano ao ambiente. Nesta linha, o pagamento pelo lançamento de efluentes, por exemplo, não alforria condutas inconseqüentes, de modo a ensejar o descarte de resíduos fora dos padrões e das normas ambientais. A cobrança só pode ser efetuada sobre o que tenha respaldo na lei, pena de se admitir o direito de poluir. Trata-se do princípio poluidor-pagador (poluiu, paga os danos), e não pagador-poluidor (pagou, então pode poluir). A colocação gramatical não deixa margem a ambigüidades na interpretação do princípio.”

Além do mais, deve-se observar que o veto, não observa as determinações

constantes da Convenção sobre a Diversidade Biológica, recepcionado pelo ordenamento

jurídico brasileiro. Nesse sentido o artigo 8o, alínea “g” da referida Convenção, estabelece

que,

“g) regulamentar, administrar ou controlar os riscos associados à utilização e liberação de organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia que, provavelmente, provoquem impacto ambiental negativo que possa afetar a conservação e a utilização da

37 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. Doutrina, jurisprudência, glossário. 3a ed. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. p.142.38 Op. loc. cit. p. 143.

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diversidade biológica, levando também em conta os riscos para a saúde humana.”

Nesse sentido, ao vetar a matéria constante no parágrafo único do artigo 9o da

Medida Provisória n. 131/03, o interesse público foi flagrantemente contrariado, em favor

dos interesses da empresa transnacional detentora das referidas patentes, ou seja, do lucro

estabelecido por intermédio de ampla liberdade para realização de suas atividades, no

Brasil, sem imposição de quaisquer responsabilidades.

Além do mais, nas razões de veto transcritas, consta da sua motivação, que a

questão é “complexa” e que, no entanto, deve ser superada a partir das disposições

constantes na Lei de Propriedade Industrial.

Ora, em face da exposição constante ao longo deste artigo, uma das principais

críticas lançadas à atual situação do Marco Jurídico Regulatório da Propriedade Intelectual

da Biotecnologia, sinaliza no sentido de que o tratamento normativo conferido à questão foi

disciplinado de forma fragmentada, pontual e pulverizada.

Ao construir o referido Marco Jurídico Regulatório, verifica-se que a preocupação

estatal foi no sentido de positivar a possibilidade de proteção da biotecnologia; sem,

contudo, conferir um tratamento amplo, ou seja, interdisciplinar ou transdisciplinar. Nesse

sentido, a questão é efetivamente “complexa”, conforme qualifica o veto Presidencial. No

entanto, a forma pela qual a mesma vem sendo enfrentada pelo Estado brasileiro, é

simplista e fragmentada.

Esta Medida Provisória foi adotada, acompanhada por um Regulamento, veiculado,

por intermédio do Decreto n. 4.846, de 25 de setembro de 2003 que: “Regulamenta o art. 3o

da Medida Provisória n. 131, de 25 de setembro de 2003, que estabelece normas para o

plantio e comercialização da produção de soja da safra de 2004 e dá outras providências.”

A referida Medida Provisória estabelece o que foi denominado, na época, de

“liberação limitada”, ou seja, disciplina a isenção dos produtores de soja transgênica da

apresentação de licenças ambientais e de Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA),

mas, veda a comercialização dos grãos da safra de 2003 geneticamente modificados como

sementes. Para a safra da soja transgênica a ser colhida no próximo ano, sua

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comercialização deverá ocorrer até 31 de janeiro de janeiro de 2005. Esse prazo pode ser

ainda prorrogado por mais sessenta dias pelo Poder Executivo.

Essa figura da “liberação limitada” é - no mínimo - curiosa, pois plantar sem

qualquer controle ou apresentação de relatórios e de licenças ambientais que estabeleçam os

riscos inerentes à produção da soja transgênica, é possível e, até mesmo, permitido. Com

relação à comercialização, esta só pode ser realizada para os grãos da safra de 2004, desde

que essa atividade tenha sido desenvolvida até o dia 31 de dezembro de 2004. Depois desta

data o que acontece? Trata-se de uma norma, sem dúvida nenhuma, datada, pontual e que

dilata a solução definitiva dos dilemas ambientais que o Estado brasileiro, está longe de

enfrentar. Além do mais, não supera o dilema relativo à comercialização da soja

transgênica: Está a comercialização permitida e, portanto, expressamente autorizada ou está

a comercialização vedada e, portanto proibida?

Cumpre destacar que o arsenal de Medidas Provisórias para “resolver”, ou, no

mínimo, “disciplinar” o episódio das safras de transgênicos no Brasil, o Poder Executivo

Federal adotou, mais uma Medida Provisória, a de n. 223, de 14 de outubro de 2004 que:

“Estabelece normas para o plantio e comercialização da produção de soja geneticamente

modificada da safra de 2005, e dá outras providências.” O artigo 1o da referida Medida

Provisória determina que,

“Art.1o. Às sementes da safra de soja geneticamente modificadas de 2004, reservadas pelos agricultores para uso próprio, consoante os termos do art. 2o, inciso XLII, da Lei 10.711, de 5 de agosto de 2003, e que sejam utilizadas para plantio até de 31 de 2004, não se aplicam as disposições:

I – dos incisos I e II do art. 8o e do caput do art. 10 da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, relativamente às espécies geneticamente modificadas previstas no código 20 do seu Anexo VIII;

II – da Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995, com as alterações da Medida Provisória n. 2.191-9, de 23 de agosto de 2001; e

III – de vedação de plantio de que trata o art. 5o da Lei 10.814, de 15 de dezembro de 2003.

Parágrafo único. É vedada a comercialização do grão de soja geneticamente modificado da safra de 2004 como sementes, bem como a sua utilização como semente em propriedade situada em Estado distinto daquele em que foi produzido.”

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Conforme se verifica, mais uma vez, o dilema relativo ao plantio e à

comercialização da soja geneticamente modificada não foi resolvido pelo Estado brasileiro.

Além do mais, deve-se destacar que a sucessão de Medidas Provisórias disciplinadoras das

safras que foram paulatinamente sendo plantadas no Brasil, contrariam a decisão judicial

que proibiu o plantio do referido produto resultante da biotecnologia, bem como inobservou

- como de fato inobserva - o Princípio da Precaução.

O Princípio da Precaução é previsto na Declaração do Rio, formalizada em 1992

que estabelece,

“Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.”

Nesse sentido, Édis Milaré39, evidencia as diferencias relativas à denominação do

referido Princípio no seguinte sentido,

“De início, convém ressaltar que há juristas que se referem ao princípio da prevenção, enquanto outros reportam-se ao princípio da precaução40. Há, também, os que usam ambas as expressões, supondo ou não diferença entre elas.

Com efeito, há cambiantes semânticos entre essas expressões, ao menos no que se refere à etimologia. Prevenção é substantivo do verbo prevenir, e significa ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes; induz uma conotação de generalidade, simples antecipação no tempo, é verdade, mas com intuito conhecido. Precaução é substantivo do verbo precaver-se (do Latim prae = antes e cavere = tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela para que uma atitude ou ação não venha a resultar em efeitos indesejáveis. A diferença etimológica e semântica (estabelecida pelo uso) sugere que prevenção é mais ampla do que precaução e que, por seu turno, precaução é atitude ou medida antecipatória voltada preferencialmente para casos concretos.

Não descartamos a diferença possível entre as duas expressões nem discordamos dos que reconhecem dois princípios distintos. Todavia, preferimos adotar princípio da prevenção como fórmula

39 Op. loc. cit. pp. 143-144.40 O autor cita os juristas Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva e Cristiane Derani que utilizam a expressão Princípio da Precaução.

22

simplificadora, uma vez que prevenção, pelo seu caráter genérico, engloba precaução, de caráter possivelmente específico.

O princípio da prevenção é basilar em Direito Ambiental, concernindo à prioridade que deve ser dada às medidas que evitem nascimento de atentados ao ambiente, de modo a reduzir ou eliminar as causas de ações suscetíveis de alterar a sua qualidade.”

Feitas estas considerações com relação ao dilema inerente ao plantio e à

comercialização da soja geneticamente modificada, verifica-se que o mesmo não foi

superado pelo Estado brasileiro que, utilizando-se de sucessivas normatizações para adiar a

superação desse problema irreversivelmente posto, gerando, produzindo e reproduzindo

outros dilemas e problemas de âmbito ambiental.

Mais uma vez, é possível verificar que o Estado brasileiro, neste contexto

representado pelo Poder Executivo e pelo Legislativo Federal, estão se utilizando da

legislação posta, no caso, das Medidas Provisórias destacadas para estabelecer a eficácia

simbólica das mesmas como “fórmula de compromisso dilatório”. Nesse sentido, esclarece

Marcelo Neves41 ,

“Nesse caso, as divergências entre grupos políticos não são resolvidas através do ato legislativo, que, porém, será aprovado consensualmente pelas partes envolvidas, exatamente porque está presente a perspectiva da ineficácia da respectiva lei. O acordo não se funda então no conteúdo do diploma normativo, mas sim na transferência da solução para um futuro indeterminado.”

O Estado entende que com a aprovação do Projeto de Lei n. 2.40142, de 31 de

outubro de 2003 que: “Estabelece normas de segurança de mecanismos de fiscalização de

atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGMs e seus derivados,

cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão técnica

Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança e

dá outras providências”, o dilema estatal relativo ao plantio e a comercialização de

transgênicos, bem como em uma perspectiva mais ampla, os dilemas relativos à política

nacional de biossegurança estarão superados e, portanto resolvidos.

41 Op. loc. cit. p. 41.42 Esse Projeto de Lei foi convertido na Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005.

23

Deve-se destacar no contexto do direito positivo que a regulamentação da nova Lei

da Biossegurança foi disciplinada por intermédio do Decreto n. 5.591, de 22 de novembro

de 2005 que: “regulamenta dispositivos da Lei 11.105, de 24 de março de 2005, que

regulamenta os incisos II43, IV44 e V45 do δ 1º do art. 225 da Constituição e dá outras

providências.”

No entanto, objetivamente, o episódio da Monsanto no Brasil permanece latente e

socialmente disciplinado por inúmeras Medidas Provisórias que em seu conteúdo produzem

e reproduzem a ineficácia. Além disto, ainda que a nova Lei da Biossegurança discipline,

com eficácia, os conflitos e lutas relativas à matéria; concretamente, o Brasil já se tornou

um país produtor e exportador de soja transgênica. Nesse sentido, outro “caso trágico” se

produz, perfazendo, dessa forma, um novo dilema, qual seja: É possível reverter essa

situação? É possível, para o Brasil, adotar a produção de soja convencional ou livre de

transgênicos? Ou, em outros termos: Transgênicos ou Convencionais, eis a questão?

Portanto, conforme se verifica, os dilemas e impasses analisados, neste trabalho, são

proposições abertas e subsidiam, no mínimo, alternativas e/ou possibilidades para discussão

e reflexão. Não há uma fórmula ou formulação pronta e acabada, conforme se mencionou

anteriormente, mesmo porque essa é a dinâmica recorrente proposta e subjacente no Marco

Jurídico Regulatório da Propriedade Intelectual da Biotecnologia e suas questões conexas,

como as referentes a biossegurança, por exemplo.

Além do mais, em que pese toda a permissividade estatal realizada em favor das

atividades da Monsanto com relação a sua soja, deve-se destacar que a empresa pretende

cobrar royalties para as sementes de sua soja que foram utilizadas, conforme noticiado

recentemente46,

43 O referido dispositivo constitucional determina que: “II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.”44 O inciso IV do parágrafo primeiro do artigo 225 da Constituição Federal estabelece que: “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.”45 Por fim, o inciso V do parágrafo primeiro do artigo 225 da Constituição Federal disciplina que: “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.”46 Terra Notícias Ciência e Meio Ambiente, disponível em <http://noticias.terra.com.br/ciencia/biotecnologia/interna/O,,OI571293-EI1434,00.html>. Acesso em 09 de julho de 2005.

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“A Monsanto anunciou como será o sistema de remuneração pelo uso da tecnologia Roundup Ready (RR) na soja para a safra 2005/2006: cobrará dos produtores R$ 0,88 por quilo de semente certificada, o que, segundo a empresa, corresponde a uma remuneração a título de royalties de R$ 50,00 por hectare. A empresa tomou essa decisão, pois, a partir de agora, com as novas variedades nacionais, disponíveis no mercado, o agricultor brasileiro passa a ter a opção de escolher entre plantar sementes certificadas com ou sem a tecnologia RR.

Para definir o valor da tecnologia, a Monsanto baseou-se em estudos de algumas entidades de pesquisas e em relatos dos próprios sojicultores e concluiu que os ganhos adicionais que o uso da tecnologia RR tem demonstrado na soja é de cerca de R$ 200 por hectare, principalmente em função da redução do uso de agroquímicos.”

Além dos referidos royalties por ter as patentes relativas à soja RR protegida e

reconhecida no Brasil, a Monsanto pretende, ainda, pleitear indenização pelo uso não

autorizado da referida tecnologia.

Desta forma, além da total irresponsabilidade com relação a essa atividade

desenvolvida, no Brasil, de forma ilegal, a referida corporação transnacional terá em seu

favor lucros substanciais e o provável recebimento oficial de indenização. Portanto,

conforme exposto, ao longo deste trabalho, as opções realizadas pelo Estado brasileiro, sem

dúvida favoreceram os interesses econômicos dessa transnacional, em detrimento do meio

ambiente, da saúde e da integridade do público consumidor. Os dilemas relativos a esse

episódio concreto, inegavelmente, está sendo superado para favorecer os interesses

econômicos da Monsanto. No entanto, parece oportuno lançar a seguinte reflexão e, ao

mesmo tempo, indagar: Quem irá pagar a conta dos danos?

6. Referências Bibliográficas

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