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EMBRIAGUEZ DE MOTORISTA E CLÁUSULAS RESTRITIVAS NOS
CONTRATOS DE SEGURO DE AUTOMÓVEL.
ANGÉLICA L. CARLINI é advogada especialista em seguros,
docente do ensino superior na PUC de Campinas, doutoranda em
educação, acadêmica e catedrática da ANSP – Academia Nacional
de Seguros e Previdência, da AIDA – Associação Internacional de
Direito do Seguro e do IBDS – Instituto Brasileiro de Direito do
Seguro.
1.Introdução. 2. Contratos de Seguro – conceito e principais
dispositivos legais que os regulam. 3. Hermenêutica a ser
aplicada à legislação que incide sobre os contratos de seguro. 4.
Função social do contrato de seguro. 5. Conclusão.
1. Introdução.
Recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), amplamente
divulgada na imprensa, entendeu que a ingestão de álcool por parte do
motorista do veículo segurado não desobriga a seguradora de indeniza-
lo, porque a cobertura securitária tem por objetivo cobrir os danos
decorrentes do acidente.
A questão foi definida no julgamento de recurso especial apresentado
por uma segurada contra decisão do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, que havia dado ganho de causa à seguradora entendendo que
tendo constado no boletim de ocorrência que a segurada havia se
negado a fazer o teste do bafômetro e, além disso, apresentava
sintomas de embriaguez ou de ingestão de substancias tóxicas, e não
havendo qualquer prova em contrário, deve ser julgado improcedente o
pedido de condenação da seguradora ao pagamento de indenização.
O recurso apresentado pela segurada continha alegação de que ela não
tinha tido a intenção de causar o acidente, embora tenha colidido com
quatro veículos estacionados na via pública, conforme informa a Revista
Consultor Jurídico de 20 de dezembro de 2.005.
A decisão do STJ foi proferida pela 4ª Turma, e teve como relator o
Ministro Aldir Passarinho.
A notícia divulgada no final do ano de 2.005 é impactante para o
mercado de seguro brasileiro, que tem na comercialização de seguros de
automóvel um de seus mais expressivos segmentos de mercado,
inclusive para captação de novos negócios, como seguros residenciais,
de vida, entre outros.
De outro lado, em 18 de janeiro de 2.006, a imprensa divulgou notícia
de que a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei do deputado
Beto Albuquerque, do PSB do Rio Grande do sul, que aumenta a punição
para motoristas que cometerem crime culposo no trânsito e estiverem
sob efeito de álcool, substâncias tóxicas ou entorpecentes no momento
em que praticarem o crime.
Na proposta de lei, o condutor de veículo automotor que se recusar a
realizar exame de comprovação de embriaguez, será considerado como
embriagado se houver um testemunho do policial que atender a
ocorrência. O texto do projeto afirma que a embriaguez será
comprovada por "notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor,
resultantes do consumo de álcool ou entorpecentes".
O novo texto de lei tem por objetivo diminuir a impunidade no trânsito
no Brasil, cujos acidentes matam mais de vinte mil pessoas por ano,
embora os dados não sejam confiáveis em vista das poucas pesquisas
sobre o assunto e em razão da escassez de dados, vez que são
considerados mortos no trânsito apenas aqueles que morrem no local do
acidente. Os que falecem no hospital, momentos ou dias após o
acidente, ainda que de causas que tenham relação com o traumatismo,
não são considerados mortos de trânsito e por essa razão, não são
computados como números estatísticos de trânsito. Em alguns países
europeus o tempo para cálculo da morte como decorrente de acidente
de trânsito é de até trinta dias, o que torna as estatísticas muito mais
seguras.
A busca de soluções para formar melhor o motorista brasileiro e,
conseqüentemente, coibir as condutas abusivas é procurada
sistematicamente pela sociedade brasileira nos últimos anos e, embora
não se possa negar que o Código de Trânsito Brasileiro tenha
contribuído muito para a disseminação de uma nova cultura entre os
motoristas, é inegável que a ausência de maior fiscalização e de
punições mais rigorosas amenizou o impacto inicial trazido pelo CTB.
Os altos índices de acidentes de trânsito com suas conseqüências
materiais e imateriais sempre tão graves, influem diretamente na
precificação dos contratos de seguro, tornando-os não raro inacessíveis
para uma expressiva parcela da população brasileira.
Por outro lado, a falta de uma cultura de contratação de seguros no
Brasil expõe todos os cidadãos, que ficam arriscados a sofrer danos
materiais e imateriais causados por motorista que não tenha condições
financeiras de assumir os prejuízos e que não tenha se acautelado com
a contratação de um seguro. Nesses casos, a sentença judicial
transitada em julgado se transforma em um quadro para ornamentar a
parede, porque nenhuma valia terá para recuperar ou minimizar os
prejuízos causados.
Pensar na implantação de uma verdadeira cultura de seguro de massa,
tanto no ramo de automóvel como de responsabilidade civil facultativa,
normalmente transacionado junto com o seguro de automóvel, passa
pela necessidade de fortalecer esse instituto jurídico. E só se poderá
fortalecer o contrato de seguro se ele se tornar mais conhecido em seus
aspectos jurídicos, técnicos e econômicos.
Discutir a recente decisão do STJ à luz da realidade nacional dos
acidentes de trânsito, tendo como pano de fundo a necessidade de
fortalecimento das atividades de seguro no Brasil, é uma questão de
grande relevância social.
2. CONTRATOS DE SEGURO – CONCEITO E PRINCIPAIS
DISPOSITIVOS LEGAIS QUE OS REGULAM.
O Código Civil brasileiro definiu contratos de seguro no artigo 757, que
determina: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo
do segurado, relativo a pessoa ou coisa, contra riscos
predeterminados.”
Dois aspectos são fundamentais na análise: o interesse legítimo; e,
os riscos predeterminados.
A expressão interesse legítimo não era adotada pelo Código Civil de
1.916, que tratava o contrato de seguro no viés indenizatório, impróprio
contudo para os contratos de seguro de pessoas em que a inviabilidade
de indenização é por demais evidente. O que se indeniza no seguro de
vida não é o valor da vida perdida, sabida a impassibilidade de
encontrar valor pecuniário para esse bem.
A expressão interesse legítimo tem sido saudada pelos estudiosos do
assunto como mais adequada do ponto de vista técnico securitário. Em
que pese a carência de mais robusta discussão científica sobre a
extensão da expressão interesse legítimo, é razoável afirmar que se
deve entender por interesse legítimo aquele interesse legalmente
defensável, que é legítimo exatamente por estar rigorosamente de
acordo com a legislação em vigor.
Sobre o assunto Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2.003, 32), afirmam:
“Ao dizer que a garantia se reporta ao interesse, a norma legal se refere
a uma relação jurídica relevante, isto é, o interesse há de ser protegido
pela ordem jurídica.”
E são ainda mais preciso os autores quando afirmam (2.003, 32): “Se o
interesse consiste na posição juridicamente relevante de um sujeito de
direito para com um bem da vida, a idéia de legitimidade é acostada
para relevar a importância de que a pertinência entre o sujeito e o bem
da vida seja de ordem a fazer com que aquele queira sua preservação,
não desdenhe o status quo e não queira, e nem lhe seja vantajosa, a
realização do risco garantido.”
Só é legítimo o interesse que não afrontar a legislação em vigor e,
quando a preservação do bem da vida for o verdadeiro ideal do sujeito
contratante do seguro. Isso implica para o segurado cuidar desse bem
da vida com o mesmo desvelo que teria se ele não estivesse amparado
pela cobertura de um contrato de seguro.
O Código Civil contempla, ainda, previsão para riscos assumidos pelo
segurador conforme artigo 760. Esse artigo determina a existência de
cláusulas de riscos cobertos e conseqüentemente, embora não
expressamente mencionado, cláusula de riscos não-cobertos nos
contratos de seguro.
Por fim, no artigo 768 o Código Civil de 2.003 repete em parte o que
dispunha o artigo 1.454 do Código Civil de 1.916, quando determina
que: “O segurado perderá o direito à garantia se agravar
intencionalmente o risco objeto do contrato.”
Nenhuma outra previsão poderia se esperar! Se a garantia contratual
está vinculada a interesse legítimo do segurado sobre pessoa ou coisa,
nada mais correto e coerente esperar que o segurado não agrave
intencionalmente o risco objeto do contrato, porque ele segurado tem
interesse legítimo, ou seja, a preservação da coisa ou da pessoa é de
seu interesse, lhe traz vantagens pecuniárias ou afetivas.
Nesse sentido a lição dos autores Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel,
quando afirmam (2.003, 81): “Há retidão conceitual na norma. Quando
durante a execução do contrato celebrado o segurado agrava
intencionalmente o risco, o comportamento revela o perecimento do
interesse legítimo, objeto do contrato.Afinal, para que seja legítimo o
interesse garantido é imprescindível que o segurado deseje preservar o
status quo e não queira, nem lhe seja vantajosa, a realização do risco.”
A realização do risco deverá ser, portanto, como regra, fruto de conduta
culposa do segurado, ilícita porque fruto de ato eivado de imperícia,
imprudência ou negligência intencionais, porém com o resultado final
não desejado. A realização do risco é que não pode ser intencional,
embora o ato praticado estivesse eivado de intencionalidade desde o
momento de sua consecução podendo resultar ou não desse ato a
materialização do risco.
Esse elemento é de fundamental importância na compreensão do artigo
768 da legislação civil. A expressão agravar intencionalmente,
contida no artigo, interpretada exclusivamente de forma gramatical,
poderá levar à compreensão de que todo e qualquer ato praticado pelo
segurado e do qual decorra dano à coisa segurada, ficará isento de
indenização por parte da seguradora por ser furto de ação intencional.
Assim fosse estaria descaracterizada a função do contrato de seguro de
bens, que somente mereceria indenização quando os fatos causadores
de danos fossem oriundos de caso fortuito ou de força maior, ou seja,
de atos que dispensassem por completo a intencionalidade da parte.
O ato ilícito culposo é fruto de uma conduta intencional. Não há
intencionalidade do resultado, mas há intencionalidade na prática de ato
culposo, comissivo ou omissivo.
Nesse sentido, enfatiza Cavalieri Filho (2.000,35) “A vontade, como
elemento subjetivo da conduta, é a carga de energia psíquica que
impele o agente; é o impulso causal do comportamento humano. Não se
confunda, entretanto, vontade com intenção. .... Haverá vontade desde
que os atos exteriores, positivos ou negativos, sejam oriundos de um
querer íntimo livre. Já, a intenção é a vontade dirigida a um fim
determinado. É a bússola da vontade, seu elemento finalístico, que a
norteia para o objetivo eleito.”
Vontade tem, portanto, dois elementos fundamentais para serem
levados em conta: a vontade de praticar uma determinada conduta e, a
vontade de obter um determinado resultado. Nisso consiste, em linhas
gerais, a diferença entre culpa e dolo. Ambas, é certo, vão gerar o dever
de indenizar caso haja prejuízo a outrem, mas nem por isso a diferença
deve entre elas deve ser minimizada.
A vontade de praticar uma conduta capaz de causar um dano, a si
próprio ou a outrem, não é amparada pelos contratos de seguro,
enquanto que a vontade de praticar um ato eivado de imprudência,
imperícia ou negligência, porém sem almejar nenhum resultado danoso,
é exatamente aquela protegida pelos contratos de seguro.
Decorre dessa conclusão a constatação de que o indivíduo praticante de
um ato deve estar, em princípio, de posse plena de seu domínio mental
para poder quantificar em que medida está praticando um ato com
intencionalidade de resultado ou, um ato cujo resultado não pode ser
previsto. Em outras palavras, aquele que se sujeita de forma voluntária
à perda ou redução de sua capacidade de discernimento, já sinalizou a
intencionalidade de correr todos os riscos, exatamente porque se
encontra em uma situação em que não é mais possível administra-los.
3. METODOS DE INTERPRETAÇÃO A SEREM APLICADOS À
LEGISLAÇÃO QUE INCIDE SOBRE OS CONTRATOS DE SEGURO.
A interpretação do direito é assunto que adquire cada vez maior
relevância na atualidade. A renovação de Códigos, como ocorreu com o
Código Civil, o surgimento de novas leis especiais e, a complexidade da
vida social exigem um estudo mais aprofundado e constante da
interpretação e aplicação do direito, de modo a permitir que o texto de
lei seja permanentemente útil para a organização da vida social e para a
efetivação da justiça.
Para Venosa (2.004, 175) “Interpretar o direito não significa
simplesmente tornar clara ou compreensível a norma, mas
principalmente revelar seu sentido apropriado para a vida real.
interpretar é, de fato, a ponte que liga o abstrato ao mundo real.”
Completa o pensamento de Venosa a afirmação de que o intérprete é
um renovador, porque atualiza a extensão e a compreensão da norma.
Nesse aspecto, provavelmente, resida a maior importância do trabalho
do intérprete no mundo contemporâneo, porque a sociedade muda com
grande velocidade, propõe questões de ordem social cada vez mais
complexas e, com isso, exige que o aplicador da norma realize um
esforço contínuo de compreensão dos múltiplos significados da mesma,
para poder solucionar os problemas concretos que se apresentam.
Interpretar, para uma expressiva parcela dos estudiosos do tema
(Maximiliano, Grau, Bastos, Reale, entre outros), significa extrair o
verdadeiro significado da norma e de posse desse conhecimento, aplicá-
lo ao caso concreto que pede solução mais adequada e, destaque-se,
mais adequada deve sempre ser sinônimo de mais justa.
Vários são os métodos de interpretação que podem ser utilizados,
segundo os estudiosos do tema. Os mais tradicionalmente citados são:
A) GRAMATICAL OU LITERAL - é o ponto de partida da
interpretação. Através dele se busca alcançar o sentido real, o
significado de cada vocábulo utilizado pela norma. O intérprete, para
utilizar este método, deve ter um perfeito conhecimento gramatical.
Durante algum tempo essa era a única interpretação permitida.
B) INTERPRETAÇÃO LÓGICA OU TELEOLÓGICA – tem em vista a
conclusão que faz sentido daquela que não faz. O que se procura é
desvendar o sentido e o alcance da norma, compatibilizando-a com o
ordenamento. A lei deve ser analisada segundo sua finalidade e a
conclusão do intérprete não pode ser contrária ao sentido da lei.
C) HISTÓRICO – é utilizado para se examinar o momento, a época em
que a lei foi editada, bem como as condições políticas e sociais que
fizeram a lei surgir.
D) SISTEMÁTICO – leva em conta que o ordenamento jurídico possui
unidade e coerência e que a norma não pode ser vista de forma isolada.
As normas se relacionam por conexão, subordinação e analogia. Todas
as normas devem estar subordinadas aos princípios gerais que orientam
o ordenamento e o sistema. A interpretação sistemática parte do
pressuposto de que o sistema jurídico é concebido para ser um todo
harmônico. Dentre os muitos sentidos que um artigo de lei pode possuir,
o mais correto deve ser o que preserva a harmonia do conjunto, do
ordenamento enquanto sistema.
Os estudos de hermenêutica apontam que nenhum dos métodos deve
ser utilizado isoladamente. Um método deve ser utilizado sempre em
conjunto com os demais, porque não se pode afirmar, em princípio, que
qualquer um deles seja mais relevante que o outro.
Nesta reflexão sobre contratos de seguro e embriaguez de motorista de
veículo segurado, nossa atenção se volta para os métodos de
interpretação lógico e sistemático.
O primeiro, lógico ou teleológico, nos informa que interpretar é procurar
o sentido ou a finalidade da norma. Em outras palavras, é procurar o
valor a ser protegido, aquele bem público importante para a sociedade
e que por isso, deve ser amparado pela norma para desse modo
proteger todos os cidadãos.
No método sistemático, por sua vez, a idéia principal é que o sistema
jurídico deve constituir um todo harmônico e para isso, todas as normas
de um sistema jurídico devem estar subordinadas a princípios gerais de
direito.
Para Celso Antonio Bandeira de Mello (2.000, 73) “Princípio é o
mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce, disposição
fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o
espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e
inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalização do
sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido
harmônico.”
Na atualidade, os princípios têm merecido cada vez mais destaque nos
estudos jurídicos porque eles são a forma de permitir à lei que dê conta
das múltiplas e diversas mudanças que têm ocorrido na sociedade
contemporânea. Com a utilização de princípios a lei se torna mais apta a
acolher as novas demandas sociais, sugerindo uma flexibilidade que
está longe de causar insegurança jurídica e, muito próxima de integrar
o ordenamento evitando lacunas indesejáveis.
Exemplo dessa afirmação acontece com o Código de Defesa do
Consumidor, uma legislação com clara inspiração principiológica,
extremamente moderna, que tem dado conta das inúmeras inovações
ocorridas no plano das relações de consumo exatamente por conta de
seus princípios, que permitem uma interpretação capaz de construir
maior flexibilidade e atualização da legislação.
Possível concluir, portanto, que os métodos de interpretação lógica e
sistemática se completam, um a buscar o sentido da norma e outro a
verificar, principalmente, se esse sentido está em consonância com os
princípios gerais do direito e com as demais normas do ordenamento
jurídico.
No caso analisado por este artigo, o STJ entendeu que não deve ser
aplicada a perda do direito à indenização derivada do contrato de seguro
ao segurado que se recusa a realizar exame de dosagem alcoólica após
a ocorrência do acidente, ainda que existam elementos de prova
testemunhal da aparência de embriaguez. A alegação do STJ é de que o
segurado não pretendeu o resultado danoso, embora estivesse
supostamente embriagado.
O artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro determina que é infração
gravíssima dirigir sob a influência de álcool em nível superior a seis
decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente
ou que determine dependência física ou química.
O artigo 276 do mesmo Código de Trânsito, determina que a
concentração de seis decigramas de álcool por litro de sangue comprova
que o condutor se acha impedido de dirigir veículo automotor.
Some-se a esses o parágrafo quarto do artigo 54 do Código de Defesa
do Consumidor, Lei 8.078/90, que determina que: “As cláusulas que
implicarem em limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas
com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.”
Considerados os artigos do Código de Trânsito Brasileiro, do Código Civil
e do Código de Defesa do Consumidor, como decidir o caso concreto que
ora se analisa, em que uma pessoa guiando um veículo amparado por
um contrato de seguro colidiu com quatro veículos que se encontravam
estacionados na via pública, se recusando a realizar exame de dosagem
alcoólica após o acidente, em que pese aparentar estado de
embriaguez?
A interpretação lógica ou teleológica nos impele a procurar o bem
jurídico protegido pela lei. Qual é o bem jurídico que se pretende
proteger no Código de Trânsito? A vida, tanto do condutor do veículo
como daqueles que vão conviver com ele na via pública.
E o bem jurídico protegido pela legislação civil ao tratar do contrato de
seguro, exigindo que o segurado não agrave intencionalmente o risco? A
vida, novamente é a resposta! A vida daqueles que vão conviver com o
segurado. É por isso que seguro, em especial na modalidade automóvel,
não pode se constituir em um alvará para que o segurado saia pelas
ruas de forma alucinada causando os danos que bem entender,
simplesmente pelo fato de que possui um contrato de seguro que
cuidará de indenizar os resultados desses danos.
E qual o bem jurídico que pode estar protegido por cláusulas restritivas
de direito, permitidas pelo Código de Defesa do Consumidor? Também
se pode responder que a vida, o maior bem público a ser defendido em
uma coletividade pode ser protegido através de cláusulas que limitem
direitos, de tal sorte a lembrar permanentemente ao cidadão que seus
direitos não são absolutos e sim relativizados em uma sociedade que
tem na garantia do bem comum sua principal função.
E se utilizarmos a interpretação sistemática, que resultado obteremos?
A análise de artigos de codificações diversas, Código Civil vedando a
agravação intencional de risco, o Código de Trânsito vedando a direção
de automotor por motorista embriagado, e Código de Defesa do
Consumidor permitindo cláusulas restritivas de direito, conduz a um
mesmo resultado: o sistema da legislação brasileira tem como princípio
fundamental a proteção da pessoa humana, de sua dignidade em todos
os aspectos, dos mais elementares aos mais sofisticados.
Para confirmar essa interpretação lógica e sistemática, basta analisar o
disposto na Constituição Federal brasileira, em seu artigo 1º. Um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa
humana, ou seja, o respeito mais amplo possível a todos os seres
humanos que habitem no país.
A esse respeito, escreve Nelson Rosenvald (2.005, 8): “Percebemos que
o significado de dignidade se relaciona ao respeito inerente a todo ser
humano – por parte do Estado e das demais pessoas –
independentemente de qualquer noção de patrimonialidade. É
simultaneamente valor e princípio, pois constitui elemento decisivo para
a atuação de intérpretes e aplicadores da Constituição no Estado
Democrático de Direito. O homem se encontra no vértice do
ordenamento jurídico, pois o direito só se justifica em função do ser
humano.”
Se o direito só se justifica em função do ser humano e, se o respeito
devido ao ser humano por parte do Estado e de toda a sociedade
transcende a noção de patrimonialidade, não existem elementos
jurídicos para admitir que um condutor de veículo automotor, guiando
embriagado e em flagrante contraposição ao disposto na legislação de
trânsito, receba cobertura de um contrato de seguro, fundado este na
vedação de agravar intencionalmente o risco, conforme determinação
legal e cláusula restritiva expressa.
O argumento que sustenta a decisão do STJ é que o segurado, ainda
que guiando embriagado, não pretendia causar nenhum dano a outrem,
ou pelo menos, que não há prova dessa intencionalidade. Nessa
interpretação, guiar embriagado seria o mesmo que guiar em velocidade
acima da permitida pela legislação, uma prática culposa mas não dolosa
porque não se pretende necessariamente um resultado danoso.
Mas essa análise tecnicamente correta e defensável, coloca de lado a
interpretação lógica e sistemática da norma. Interpretado o Código Civil
em seu artigo 768 isoladamente, a decisão do STJ é aceitável.
Interpretado o artigo 768 à luz da Constituição Federal e do Código de
Trânsito, evidentemente a decisão deixa de proteger a dignidade da
pessoa humana, deixa de respeitar esse fundamento constitucional e
esse princípio que perpassa todo o ordenamento jurídico nacional, qual
seja, a proteção do valor supremo da vida humana.
Se considerada a proteção que o ordenamento jurídico nacional destina
à pessoa humana em sua integralidade física e moral, não se pode
aceitar que alguém decida guiar um veículo em estado de embriaguez,
arriscando sua própria vida e a de outras pessoas com esse gesto,
simplesmente amparada pelo fato de que possui um contrato de seguro
de automóvel, seguro esse que responderá pelos resultados
decorrentes de seu ato voluntário.
Ingerir bebida alcoólica para além dos índices permitidos na legislação
de trânsito é prática que se assemelha ao dolo, porque há intenção de
violar o dispositivo de lei, ainda que não haja intenção de causar danos
a outrem. Por demais sabidos e conhecidos os efeitos que as
substâncias alcoólicas causam ao sistema nervoso central, podendo
levar as pessoas a agirem de forma totalmente descontrolada, perigosa
para si própria e para os outros. Quem ingere álcool para além do
permitido por lei para guiar sabe, ou devia saber que o resultado final
pode fugir ao seu controle físico e mental.
Por fim, e ainda amparada pela interpretação sistemática, não coibir a
embriaguez de motoristas de veículos automotores de forma severa é
caminhar na contramão do atual momento histórico, negando um dos
objetivos constitucionais mais celebrados pela sociedade brasileira, que
é o da construção de uma sociedade mais livre, justa e solidária.
De fato, como construir justiça e solidariedade se os tribunais brasileiros
minimizam a atitude de guiar embriagado, ignorando todos os extensos
malefícios sociais que esse ato pode causar?
4. FUNÇÃO SOCIAL E BOA-FÉ OBJETIVA APLICADAS AOS
CONTRATOS DE SEGURO.
Criticado por muitos juristas quando de sua promulgação, o Código Civil
não conseguiu ser unanimidade em quase nenhum de seus múltiplos
aspectos. Acusado de não trazer as inovações necessárias para a
solução dos conflitos privados na sociedade contemporânea, o Código
Civil mereceu em um primeiro momento de sua entrada em vigor mais
críticas do que elogios.
Alguns aspectos, no entanto, foram aplaudidos por muitos. Um desses
foi a nova ordem contratual que o Código Civil introduziu nas relações
privadas, com vertentes que em alguns casos já eram de muito
reconhecidas pelos tribunais brasileiros em sua produção
jurisprudencial.
O Título V, dos CONTRATOS EM GERAL, contém um primeiro capítulo
que trata das disposições gerais e que em preliminares, contém três
artigos bastante inovadores e, por essa razão, que têm sido objeto de
rigoroso estudo científico da parte dos civilistas brasileiros.
No artigo 421 o princípio da função social dos contratos, no artigo 422 a
boa-fé objetiva e, no artigo 423 o princípio da interpretação mais
favorável ao aderente, nos contratos em que existirem cláusulas
ambíguas ou contraditórias.
Dos princípios supra referidos, o da boa-fé objetiva e o da interpretação
mais favorável ao aderente já eram amplamente aplicados aos contratos
de seguro por força da construção do pensamento jurisprudencial
brasileiro dos últimos anos. Já o princípio da função social do contrato
merece um pouco mais de reflexão.
Humberto Theodoro Júnior (2.004,31) afirma que: “A função social do
contrato consiste em abordar a liberdade contratual em seus reflexos
sobre a sociedade (terceiros) e não apenas no campo das relações entre
as partes que o estipulam (contratantes).”
E continua (2.004,33): “Reconhece-se, de longa data, e não apenas nos
tempos atuais, que os contratantes, embora livres para ajustar os
termos da convenção, deverão agir sempre dentro dos limites
necessários para evitar que sua atuação negocial se torne fonte de
prejuízos injustos e indesejáveis para terceiros.”
Na pesquisa de Cláudio Luiz Bueno de Godoy (2.004,132), encontramos:
“Giovanni Ettore Nanni, forte na lição de Renan Lotufo, bem acentua
que “os contratos atualmente cada vez mais interferem em terceiros,
espraiando seus efeitos à comunidade, em que devem ser protegidas
também as partes não contratantes, admitindo-se também a
intervenção nos negócios quando o contrato não estipular uma função
social, uma vez que o contrato não é mais limitado às partes,
transcendendo e outorgando uma função social frente a toda a
sociedade.”
Assim, considerada a definição de função social do contrato, é fácil
compreender a importância da aplicação desse princípio aos contratos
de seguro em qualquer de suas modalidades. Talvez não seja exagero
afirmar que no contrato de seguro, mais do que em muitos outros, a
função social desponta com rara clareza e com contornos tão nítidos.
Basta que se pense em um único exemplo: a fábrica destruída pelo
incêndio pode significar desemprego e falência. Coberta por um seguro
de incêndio significa a continuidade da produção econômica, positiva
para os empresários, para os empregados e para o Estado arrecadador
de tributos. Lucra toda a sociedade!
E a função social do contrato de seguro de automóvel, também é clara?
Segue os mesmos contornos propostos para o exemplo do seguro de
incêndio, em especial na atualidade, em que o veículo é utilizado como
fonte facilitadora da obtenção de trabalho e renda, quando não é ele
próprio, o veículo, a fonte de trabalho e renda de muitas pessoas.
Mas essa fonte de trabalho e de renda para muitos não pode se
constituir em fonte de geração de prejuízos para outros, decorrente do
uso indevido, inadequado, ou imprudente. O ideal de convívio social é
que o veículo seja utilizado de forma correta, em estrito cumprimento à
legislação de trânsito em vigor.
A legislação garante que o causador do dano, patrimonial ou
extrapatrimonial, deve indenizar. Mas o ideal da sociedade é que o dano
não ocorra até porque muitas vezes, o resultado do ato praticado é
verdadeiramente irreparável. A indenização pela perda da visão não
restitui esse sentido fundamental; a indenização pela perda das pernas
não faz o indivíduo indenizado voltar a caminhar e, a indenização pela
morte não ressuscita a pessoa falecida.
Portanto, em que pese ser clara e expressa a lei quanto ao dever de
indenizar, reclama a ordem social que se coíbam as possibilidades de
ocorrência do dano sabido que muitos deles serão indenizáveis, mas não
representarão jamais a volta ao status quo ante.
É também nesse viés que a função social dos contratos de seguro deve
ser analisada. Os contratos de seguro se justificam pela preocupação do
sujeito com seu patrimônio e com o patrimônio dos outros, quando se
trata do seguro de responsabilidade civil em suas múltiplas
modalidades. A propósito, o seguro de responsabilidade civil representa
um avanço na organização social de uma nação, porque significa que os
indivíduos estão transferindo a preocupação que têm consigo próprios
para os outros membros da sociedade, superando o caráter
individualista, o que é sempre um aspecto positivo.
Mas, ainda mais importante que difundir uma cultura de contratação de
seguro de responsabilidade civil para prevenir danos indesejáveis
causados a terceiros, é preciso difundir uma cultura de não causar
danos que possam ser evitados pelo simples cumprimento da legislação
em vigor. É o que ocorre com a direção de veículo automotor por pessoa
embriagada, ou o que ocorre com a direção de veículo automotor em
velocidade excessiva, para além dos limites previstos para o local.
A indenização não cumpre a função de devolver o pai ao filho, a esposa
ao marido, o filho à mãe, ou ainda, não cumpre a função de repor
membros arrancados, danificados irremediavelmente, ou que tenham
perdido por completo sua atividade motora. A indenização não recupera
a visão, o olfato, a audição. Compensa pela perda, torna menos
dolorosa a ausência, mas não traz de volta o que irremediavelmente se
perdeu.
Evitar o dano é o grande objetivo a ser alcançado pela sociedade para
obtenção da paz e da justiça, e para alcançar esse objetivo é necessária
a conjugação de esforços de todos os segmentos sociais, inclusive do
Poder Judiciário. Por isso é que não se pode admitir, pacificamente, a
decisão do Superior Tribunal de Justiça.
No tocante ao princípio da boa-fé objetiva importa recordar a lição de
Judith Martins-Costa (1.999, 411) “A expressão “boa-fé” denota “estado
de consciência”, ou convencimento individual de obrar (a parte) em
conformidade ao direito (sendo) aplicável, em regra, ao campo dos
direitos reais , especialmente em matéria possessória. Diz-se
“subjetiva” justamente porque, para a sua aplicação, deve o intérprete
considerar a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado
psicológico ou íntima convicção. Antiética à boa-fé subjetiva está a má
fé, também vista subjetivamente como a intenção de lesar a outrem.”
E continua: “Já por “boa-fé objetiva” se quer significar – segundo a
conotação que adveio da interpretação conferida no parágrafo 242 do
Código Civil alemão, de larga força expansionista em outros
ordenamentos, e, bem assim, daquele que lhe é atribuída nos países de
common law – modelo de conduta social, arquétipo ou standard
jurídico, segundo o qual “cada pessoa deve ajustar a própria conduta a
esse arquétipo, obrando como obraria um homem reto: com
honestidade, lealdade, probidade.” Por este modelo objetivo de conduta
levam-se em consideração os fatores concretos do caso, tais como
status pessoal e cultural dos envolvidos, não se admitindo uma
aplicação mecânica do standard, de tipo meramente subsuntivo.”
A boa-fé objetiva aplicada aos contratos é, portanto, uma limitadora da
vontade das partes contratantes, que independentemente do que
julgarem melhor para si próprias no contrato, devem agir de forma a
não ferir o ordenamento jurídico, os princípios gerais do direito e o fim
social dos negócios jurídicos.
Nesse sentido é que Rosenvald (2.005,90) afirma: “O recurso
interpretativo ao princípio da boa-fé será a forma pela qual o operador
do direito preservará a finalidade econômico-social do negócio jurídico e
determinará o sentido do contrato em toda a sua trajetória,
preservando a relação cooperativa, mesmo que a operação
hermenêutica contrarie a vontade contratual.”
O Superior Tribunal de Justiça ao deixar de aplicar a cláusula restritiva
que veda ao segurado o direito à indenização quando estiver guiando
embriagado, protegeu a vontade individual do contratante do seguro
mas não protegeu o interesse público.
Além disso, a decisão do Superior Tribunal de Justiça deixou de
considerar o caráter mutual dos contratos de seguro, que se fundam em
uma coletividade de pessoas que contribuem com o pagamento de
prêmios para um fundo comum, que será regularmente utilizado para o
pagamento de indenizações oriundas de riscos pré-determinados que se
materializam durante a vigência do contrato.
Essa coletividade de pessoas que contribuem para a formação de um
fundo comum representa um valor maior que a vontade individual do
contratante. Respeitar as cláusulas do contrato de seguro, inclusive
aquelas que limitam direitos, é uma forma de garantir o equilíbrio do
grupo segurado e, também nesse sentido, cada segurado tem obrigação
de agir com a mais absoluta boa-fé objetiva.
5. Conclusão.
A decisão do STJ divulgada em dezembro de 2.005 não foi a primeira
nesse mesmo sentido, ou seja, admitindo que a embriaguez não deve
ser causa de exoneração do dever de indenizar por parte do segurador.
Em outros momentos recentes a mesma Quarta Turma do Superior
Tribunal de Justiça já haviam se manifestado nesse sentido, em decisões
proferidas por outros relatores além do Ministro Aldir Passarinho.
Essas decisões sinalizam uma tendência que com o passar do tempo,
pode ser absorvida por outros Tribunais e por outras Turmas do STJ,
razão pela qual deve haver uma reação por parte dos juristas que se
dedicam ao estudo dos contratos de seguro e à repercussão desses
contratos na sociedade, com o objetivo de que haja uma profunda e
rigorosa discussão sobre o tema.
Um motorista alcoolizado nem sempre pretende produzir um resultado
danoso conduzindo um veículo, mas está cientificamente provado que
um motorista alcoolizado tem seus reflexos drasticamente diminuídos,
sua atenção desconcentrada e, via de conseqüência, assume um risco
acima da média, um risco maior, diferente por completo do risco que
assume um motorista que não fez uso de substância alcoólica.
Essa decisão de assumir o risco maior não pode ter eventual resultado
negativo transferido para o segurador porque, como todos sabemos, em
um contrato de caráter mutual, todos os segurados vão contribuir para o
pagamento dessa indenização.
Ninguém que pretenda tomar conta de um bem, patrimonial ou
extrapatrimonial, poderá faze-lo de forma bem sucedida se estiver
embriagado ou de alguma forma privado de sua capacidade plena de
discernimento, de bom senso e da lucidez necessária para adotar as
medidas mais corretas.
Por isso é que o assunto merece reflexão, estudo e discussão científica e
técnica. Para além da discussão de uma decisão do STJ está a discussão
do modelo de sociedade que temos e do modelo de sociedade que ainda
pretendemos construir neste país e, parece correto afirmar que no
modelo que queremos, se espera do cidadão que seja cada vez mais
responsável e solidário em relação aos demais cidadãos.
REFERÊNCIAS:
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edição, S.Paulo: Saraiva, 2.004;
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Saraiva, 2.004;
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REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª edição, S.Paulo:
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THEODORO Jr., Humberto . O Contrato e sua Função Social. 2ª edição,
R.de Janeiro: Forense, 2.004;
VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao Estudo do Direito. S.Paulo:
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Tribunais, 2.005;
TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio de Queiroz B.; PIMENTEL,
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