A Questão Do Livre Comércio -Cemarx

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    A Questo do Livre Comrcio

    Andr Morato Dias Cardeal*

    (...) as Amricas so uma comunidade de sociedades democrticas. Embora enfrentemdiferentes desafios de desenvolvimento, as Amricas esto unidas na busca da prosperidadepor meio de mercados abertos, da integrao hemisfrica e do desenvolvimento sustentvel.(...) Nosso progresso econmico contnuo depende de polticas econmicas adequadas, de umdesenvolvimento sustentvel e de setores privados dinmicos. Elemento essencial para aprosperidade e o comrcio sem barreiras, sem subsdios, sem prticas desleais e com fluxocrescente de investimentos produtivos. A eliminao de obstculos ao acesso ao mercado debens e servios entre os nossos pases promover nosso crescimento econmico. Umaeconomia mundial em expanso tambm aumentar a nossa prosperidade interna. O livrecomrcio e a integrao econmica progressiva so fatores essenciais para elevar os padresde vida, melhorar as condies de trabalho dos povos das Amricas e proteger melhor o meioambiente.1

    La fraternidad que el librecambio fundara entre las distintas naciones de la tierra

    difcilmente sera una relacin fraternal; el poner a explotacin, bajo su estructuracosmopolita, la etiqueta de la fraternidad general es una idea que slo puede brotar en el senode la burguesa. Todas las manifestaciones destructivas que la libre competencia pone demanifiesto en el interior de un pas se repiten en proporciones todava ms gigantescas dentrodel mercado mundial. No necesitamos seguirnos deteniendo en los sofismas que loslibrecambistas hacen circular en torno a este tema.2

    (...) el proteccionismo puede ser ventajoso a los capitales industriales, y mientrasdemuestra que el librecambio no representa, ni mucho menos, la ensalza panacea universalpara todos los males de la clase obrera, sino que, por el contrario, incluso puede agrandarlos.3

    As questes relativas ao livre-comrciovm reaparecendo de maneira cclica na histria do

    capitalismo. Ganham importncia em David Ricardo, passam pelos discursos de Marx, pelas

    discusses acerca do imperialismo feitas por Lnin, pela poca de ouro do capitalismo, retornam

    nas dcadas de 1980, 1990 e agora no sculo XXI. Atualmente, o livre-comrcio novamente

    apresentado como se fosse a salvao das crises do modo de produo capitalista, o elemento que

    garantiria o seu funcionamento equilibrado. Ou seja, retorna a defesa de que a abertura das

    economias seria responsvel pela melhora quase que imediata das condies de vida e uma resposta

    para os problemas de desenvolvimento das economias perifricas4.

    com o fim da era de ouro do capitalismo, a partir da verificao de altas taxas de

    * Mestrando em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia.1 I Cpula das Amricas, Declarao de princpios. Miami, dezembro de 1994. Disponvel em:http://www.ftaa.com.br2Karl Marx, Discurso Sobre El Problema Del Librecambio. In: Obras Fundamentales de Marx e Engels: EscritosEconmicos Menores. Mxico, Fondo de Cultura Econmica, 1987, p. 553.3 F. Engels, Proteccionismo y Librecambio. In: Obras Fundamentales de Marx e Engels: Escritos EconmicosMenores, Mxico, Fondo de Cultura Econmica 1987, p. 557.4Para este tipo de interpretao ver como so encaradas estas questes no relatrio de uma reunio de ministros decomrcio do continente americano: Estamos convencidos de que o compromisso dos nossos pases com as economiasabertas, com os princpios de mercado e com sistemas comerciais baseados em regras, contribuir para uma rpidarecuperao e retomada do crescimento nas economias mais afetadas. (...) Com uma viso voltada para o futuro,

    estamos confiantes de que a ALCA ir no apenas reforar a nossa comunidade das Amricas, mas tambm aprimorarsubstancialmente o bem-estar dos cidados de todos os nossos pases, atravs da reduo e eliminao deimpedimentos ao livre fluxo de bens, de servios e de capital por nossas fronteiras (Quinta Reunio Ministerial deComrcio, Declarao Ministerial. Toronto, novembro de 1999. Disponvel em: http://www.ftaa.com.br).

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    desemprego na Europa e nos Estados Unidos, e principalmente devido queda da taxa geral de

    lucro da economia, confirmando a constatao de uma prolongada trajetria de estagnao e

    instabilidade qual se agregam elementos recessivos de longa durao5, que ganha fora um tipo de

    pensamento, que fica conhecido como neoliberal. A resposta do sistema capitalista para a crise

    global uma ofensiva sobre os trabalhadores e sobre as economias ditas subdesenvolvidas6

    .Para entender em que contexto e de que forma se coloca esta discusso somos levados a

    buscar as contribuies clssicas de Marx e Engels. O objetivo ento a partir da discusso

    fundamentalmente destes textos fazermos um anlise da atual conjuntura com o inteno de

    refletirmos sobre a positividade ou negatividade da abertura das economias, para os pases

    perifricos e para os trabalhadores.

    Marx (op. cit.) afirma que uma conseqncia necessria do livre-cmbio uma baixa geral

    no preo das mercadorias, e que, portanto, por este ponto de vista ele seria positivo para ostrabalhadores. Entretanto diz ele, o importante no provar que com a mesma quantidade de

    dinheiro se consegue mais mercadorias se os preos baixam, pois se esquece que antes de trocar seu

    salrio por bens de consumo, os trabalhadores o obtm numa troca direta de sua fora de trabalho

    por capital. Isso decorre do fato de que trabalhadores no tomam como referncia nem negociam

    salrio real, como fazem entender as teorias tradicionais, para eles o que interessa so os salrios

    nominais. Marx ressalta inclusive que uma baixa geral dos preos representaria uma baixa ainda

    maior sobre os salrios:

    Si hacen falta menos gastos para poner en movimiento la maquina que produce lasmercancas, las cosas necesarias para sustentar la mquina que se llama obrero representarntambin menos costo. Se abaratan todos las mercancas, el trabajo, que es tambin unamercanca, bajar igualmente de precio y, (), esta mercanca trabajo descenderproporcionalmente mucho ms que todas la otras.7

    Ao fazer uma anlise sobre o discurso dos livre-cambistas, Marx8, defende a idia de que

    se pode identificar em seus argumentos algo que se assemelharia ao que conhecemos como a

    justificativa do consumo de massas: (...) el bajo precio de las mercancas incrementar el

    consumo; el mayor consumo fomentar una demanda mayor de fuerzas de trabajo, y a estademanda mayor de fuerzas de trabajo, seguir el alza de los salarios. O livre-cmbio favorece a

    ampliao das foras produtivas, efetuando um raciocnio simples de aumento da produo e da

    rentabilidade, o que seria automaticamente transferido para os salrios. Isto ocorreria da seguinte

    forma:

    5 Para uma explicitao deste debate ver: Paulo Balano, Eduardo Costa Pinto e Ana Maria Milani, Crise eglobalizao no capitalismo contemporneo: alguns aspectos do debate em torno dos conceitos de Estado-nao,Imprio e Imperialismo. IX Encontro Nacional de Economia Poltica, Uberlndia, Anais, 8 a 11 de junho de 2004, p. 7.6Para esta discusso de modo mais detalhado ver: Andr Morato Dias Cardeal, O sculo XXI e o capitalismo. XEncontro Nacional de Economia Poltica, Campinas, Anais, 24 a 27 de maio de 2005, p. 174-198.7Marx, op. cit., p. 548.8Idem, ibidem, p. 548.

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    (...) el capital productivo incrementa la demanda de trabajo, aumentar tambin el precio,y, en consecuencia, el salario. La condicin ms favorable para el obrero es el incremento decapital. Hay que reconocer esto. Si el capital permanece estacionario, la industria no seestacionar, sino que retroceder, y la primera vctima de ello, ser el trabajador. Estesucumbir antes que el capitalista.9

    Esta anlise pressupe uma reduo nos salrios, seguida de uma reduo nos custos e,

    portanto, nos preos das mercadorias, o que resultaria na ampliao da produo e das vendas e, em

    conseqncia, dos salrios. Entretanto, no to simples, pois esta transferncia de uma parcela da

    ampliao dos lucros para os salrios no ocorre. Nas ltimas dcadas temos verificado no Brasil

    grandes aumentos de produtividade e mesmo crescimento em alguns setores, o que contrasta com

    uma compresso dos salrios. Ao se considerar o caso dito mais favorvel ao trabalhador, para

    Marx, mesmo esta situao no garante melhores condies, pois na medida que temos um

    incremento no capital produtivo, ele traz consigo, uma ampliao da acumulao e da concentrao

    do capital. Ocorreria, portanto, uma maior centralizao dos capitais, como resultado de uma maiordiviso do trabalho e de um maior emprego de maquinaria. Tambm pode-se verificar que, com o

    acirramento da diviso do trabalho, acaba-se substituindo a capacidade e os conhecimentos

    individuais do trabalhador por processos semi-automticos, possveis de serem executados com

    maior facilidade, resultando numa ampliao da concorrncia entre os trabalhadores, intensificada

    na medida que um trabalhador passa a poder sozinho executar o trabalho de vrios.

    El incremento de capital productivo obliga al capitalista industrial a trabajar con mediossin cesar crecientes, arruinando con ello a los pequeos industriales y lanzndolos a las filas

    del proletariado. Adems, como el tipo de inters desciende en la medida en que se acumulanlos capitales, los pequeos rentistas que no pueden seguir viviendo de sus rentas se ventambin obligados a recurrir a la industria, engrosando con ello el nmero de los proletarios.Por ltimo, cuanto ms crece el capital productivo ms obligado se ve a producir para unmercado cuyas necesidades desconoce. Tanto ms precede la produccin a la necesidad, tantoms trata la oferta de imponer la demanda y se hacen ms intensas y ms repentinas las crisis.Y cada crisis acelera a su vez la centralizacin de los capitales y aumenta el proletariado.10

    Esta ampliao no capital produtivo necessrio provoca uma ampliao em maior escala da

    concorrncia, inclusive fazendo com que pequenos capitalistas sejam obrigados a integrar as fileiras

    do proletariado, devido aos altos montantes de capital exigidos restringirem cada vez mais a prpria

    classe capitalista. O movimento verificado e apontado por Marx que os pequenos capitalistas so

    muitas vezes obrigados a integrar a classe trabalhadora, fazendo com que a remunerao do

    trabalho diminua para todos e a carga de trabalho aumente para alguns, juntamente com a ampliao

    do exrcito industrial de reserva.

    Ao analisar qual influncia exerceria sobre a classe trabalhadora a implantao do livre-

    cmbio, Marx11, aponta para uma reflexo importante, que o fato de que todas las leyes

    9 Idem, ibidem, p. 548-549. Esta citao se refere a forma como Marx analisa o discurso de um defensor do livre-comrcio, e no a forma como interpreta esta relao de coisas.10Idem, ibidem, p. 549.11Idem, ibidem, p. 551.

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    formuladas por los economistas desde Quesnay hasta Ricardoutilizam o livre-comrcio enquanto

    premissa em seus modelos. A partir da pode-se concluir que estas leis se fortaleceriam com a

    implantao do livre-comrcio, sendo que para ele, a primeira delas que a concorrncia reduz o

    preo de todas as mercadorias ao seu custo mnimo de produo12.De acordo com esta lei, o salrio

    mnimo seria o preo natural do trabalho, ou seja, o salrio natural seria aquele estritamentenecessrio para o sustento do trabalhador e para manter suas condies de vida. importante

    tambm sempre observar que, em diversos momentos, o capitalismo se apresenta de tal maneira que

    mesmo os meios mnimos para garantir as condies de vida so reduzidos cada vez mais13.

    Vale ressaltar que estas condies reafirmam o que Marx14 chamou de lei geral da

    acumulao capitalista. Atravs dela Marx nos mostra que a dinmica fundamental da economia

    capitalista atua de maneira contraditria: ao passo que cresce a riqueza social, o capital em

    funcionamento, a grandeza absoluta do proletariado e a fora produtiva de seu trabalho, crescetambm o exrcito industrial de reserva. Ou seja, a evoluo de uma sociedade capitalista

    significa, de um lado, a prosperidade de poucos, estes sendo cada vez mais reduzidos, e de outro, a

    superexplorao da crescente maioria.

    Marx afirma que a implantao do livre-cmbio daria apenas mais liberdade ao capital,

    fazendo com que este tivesse ainda mais condies para explorar a classe trabalhadora livremente,

    alm de se apropriar de riquezas de outros pases menos desenvolvidos. Desta forma, ter-se-ia uma

    maior transparncia na forma real dos conflitos de classe.

    Mientras mantengis en pie la relacin entre el trabajo asalariado y el capital, aunque elcambio de mercancas se lleve a cabo bajo las condiciones ms favorables, habr siempre unaclase explotadora y otra explotada. Le resulta a uno realmente difcil llegar a comprender laarrogancia de los librecambistas, quienes se imaginan que el empleo ms ventajoso del capitalhar desaparecer el antagonismo entre el capitalista industrial y el trabajador asalariado. Muypor el contrario. La nica consecuencia de ello ser que el antagonismo entre estas dos clasesse pondr de manifiesto todava ms claramente.15

    A discusso do livre-comrcio nos leva tambm para uma outra discusso importante, a

    questo da diviso internacional do trabalho e da especializao produtiva, pois os livre-cambistas e

    os adeptos das teorias de vantagens comparativas apregoam que o melhor para um pas seespecializar naquilo que teoricamente teria vantagens naturais. Isso implicaria, por exemplo, o

    Brasil concentrar sua produo em produtos agrcolas e produtos intensivos em mo-de-obra,

    fatores que possui em abundncia. Entretanto no podemos esquecer que estas vantagens so em

    12Si, en vez de cosechar el trigo en nuestro pas (), descubrisemos un nuevo mercado en que pudiramos adquirirloa precio ms barato, ello hara bajar los salarios y aumentara las ganancias (). La baja de precio de los productosagrcolas no reduce solamente los trabajadores ocupados en la agricultura, sino tambin los de cuantos trabajan en laindustria o en el comercio (David Ricardo,Des principes de lconomie politique et de limpt. Paris, 1835, p. 178, In:Marx, op. cit., p. 547).13Pero no es esto todo; los progresos de la industria suministran medios de sustento menos costosos. As, vemos, queel aguardiente sustituye a la cerveza, el algodn a la lana y el lino y las patatas al pan (Marx, op. cit., p. 552).14Karl Marx, O Capital: crtica da economia poltica. So Paulo, Nova Cultural, 1988, v. II, p. 187-258.15Marx, Discurso Sobre El Problema Del Librecambio, cit, p. 552.

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    parte construdas historicamente, ou seja, o que determina se um pas detentor de altas tecnologias

    ou se apenas intensivo em mo-de-obra no uma pr-destinao natural, mas sim um processo

    construdo historicamente. Alm disso, a especializao no permite aos pases competirem de

    maneira igualitria no mercado mundial16, pois ramos industriais diferentes no tm a mesma

    capacidade competitiva, existindo, conforme aponta Marx, a supremacia de alguns sobre os demais. importante dar ateno tambm ao fato de que a concorrncia internacional se d

    substancialmente entre indstrias e no entre pases.

    Se nos dice, por ejemplo, que el librecambio har nacer una divisin del trabajointernacional y mostrar con ello a todos los pases el camino de una produccin que searmonice con sus ventajas naturales. () Hay una circunstancia que, a este propsito, nodebemos perder nunca de vista: la de que, al convertirse todo en monopolio, existen tambinhoy algunas ramas industriales que dominan a todas las dems y que, preferentemente,aseguran a los pueblos activos la dominacin sobre el mercado mundial. () Esverdaderamente ridculo que los librecambistas sealen dos o tres especialidades en cada ramaindustrial para lanzarlas a la balanza contra los productos de uso cotidiano cuya produccin

    resulta ms barata en los pases donde la industria se halla ms desarrollada.17

    H ainda uma outra questo que no deve ser ignorada ao se analisar as relaes econmicas

    internacionais, principalmente quando se refere diviso internacional do trabalho e a

    especializao produtiva: no se pode perder de vista que a economia mundial no formada por

    agentes iguais, com a mesma capacidade de interao, de negociao. O que acaba ocorrendo ento,

    a mistificao do real objetivo que est por trs dos Estados Nacionais, o de representar os

    interesses das classes dominantes, de servir enquanto seus porta-vozes. Romo destaca que o Estado

    Nacional representa portanto um papel importante inclusive nas relaes entre firmas no mercadomundial:

    () la internacionalizacin del capital entra en contradiccin con la existencia de Estadosnacionales, que las burguesas necesitan para luchar contra las clases obreras. El capitalmonopolista se vale del Estado para evitar las consecuencias del carcter contradictorio de suacumulacin. Cada Estado apoya necesariamente unos capitales contra los dems, y pone suspoderosos medios al servicio de la lucha por la ganancia. Las instituciones o los aparatos seala Poulantzas no poseen poder propio, y no hacen sino expresar y cristalizar poderes declase. En estas circunstancias, es imposible hablar de capital como de algo cualitativamentehomogneo: su fuerza y su rentabilidad no slo son funcin de su tamao sino de otrascaractersticas especficas, entre las cuales est la nacionalidad, que desempea un papel muy

    importante. Incluso si la reproduccin social de las relaciones sociales de produccin es an elEstado nacional, cuadro ideolgico y poltico indispensable para la organizacin de lasrelaciones sociales.18

    extremamente irreal pressupor que as economias perifricas podem discutir em condies

    mnimas de igualdade com as grandes potncias internacionais, sobretudo quanto tratamos de

    grandes acordos comerciais, como, por exemplo, o caso do Mxico no NAFTA ou mesmo do

    Brasil na ALCA. Deve-se dar grande importncia e ateno aos recentes movimentos do

    16 Si los librecambistas son incapaces de comprender cmo puede un pas enriquecerse a costa de otro, no

    necesitamos asombrarnos de que los mismos seores comprendan todava menos que, dentro de un pas, una clase seenriquezca a costa de otra (Idem, ibidem, p. 554).17Idem, ibidem, p. 553-554.18Hctor Guilln Romo,Lecciones de Economa Marxista. Mxico, Fondo de Cultura Econmica, 1988, p. 384-385.

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    imperialismo, que cada vez mais exacerbadamente, busca conquistar esferas mais lucrativas para a

    inverso de seus capitais, o que se manifesta na incansvel defesa da livre mobilidade de capitais e

    do livre-comrcio19. Esta movimentao internacional de capitais deve ser analisada luz da lei

    geral do sistema capitalista, a lei da queda tendencial da taxa de lucro, que faz com que esta busca

    de vantagens, de esferas para garantir a rentabilidade, se torne fundamental para a manuteno doprprio capitalismo20.

    Por conseqncia da necessidade da busca de rentabilidade, verifica-se que a atuao dos

    pases centrais do sistema do capital incisiva quando se trata de defender os interesses de

    liberalizao do capital (dar-lhe melhores condies para a explorao). importante observar-se

    tambm que estes movimentos de defesa da liberalizao das economias no vem sendo reservados

    exclusivamente potncia hegemnica internacional, mas a todo o centro do sistema do capital.

    Segundo Chesnais

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    , nos Estados Unidos que se v uma adequao, mais perfeita do que emqualquer outro grande governo civilizado, do sistema poltico e da filosofia social em relao s

    necessidades de uma valorizao do capital livre de qualquer freio. Foram eles que tomaram a

    iniciativa, mais do que outros pases, de publicar em editais, antes de tudo, as polticas de ajuste

    estrutural e mais tarde de liberalizao e desregulamentao financeira e comercial, pois estas

    polticas so aquelas que melhor correspondem tanto a seus interesses de grande potncia, quanto

    queles de seus lobbies. Os governos de todos os pases onde o capital financeiro desenvolvido

    esto comprometidos com a ordem mundial liberalizada. Todas as iniciativas que os Estados Unidos

    tomaram no FMI, no Banco Mundial, na OCDE22, no GATT23 e, mais tarde, na Organizao

    19 As, pues, la conquista del mercado mundial por la industria capitalista no se realiza por medios puramenteeconmicos. La presin y la fuerza poltica y militar han jugado aqu un papel importante, cuando no decisivo. Lascondiciones de desigualdad poltica, los desiguales tratados impuestos a China, a India, permitieron a Gran Bretaaconquistar el mercado mundial y lograr un monopolio de productividad. Una vez concluida esta conquista, laproclamacin del dogma universal del libre cambio, que se volvi a imponer por la fuerza a las antiguas vctimas, seconvirti en el arma esencial de Gran Bretaa (y, en cierta medida, de Francia, Blgica, los Pases Bajos, etc.), paradestruir la industria que exista en los pases asiticos, y para frenar su industrializacin durante medio siglo (ErnestMandel, Tratado de economia marxista. Mxico, Editora Era, 1969, p. 258).20 Com sua importncia e suas propores atuais, a exportao de capitais , pois, provocada, como se v, pelas

    particularidades da evoluo econmica dos ltimos anos. Se a examinarmos do ponto de vista da expanso dasformas de organizao do capitalismo moderno, ela apenas a conquista e a monopolizao de novas esferas deinvestimento de capital pelos monoplios de uma grande potncia, ou, ento se se toma o processo em seu conjunto por uma indstria nacional organizada ou ainda por um capital financeiro nacional. A exportao de capital constituio mtodo mais cmodo de aplicao da poltica econmica dos grupos financeiros que, com a maior facilidade,colocam sob sua dependncia novas regies. Eis por que o agravamento da concorrncia entre os diversos Estadosaparece, nesse quadro, com relevo particular (Nikolai Ivanivitch Bukharin, A Economia Mundial e o Imperialismo.So Paulo, Abril Cultural, 1984, p. 93).21Franois Chesnais, Mundializao: o capital financeiro no comando. Revista Outubro, n 05, 2001, p. 15-16.22A Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento Econmico (OCDE) sucedeu Organizao Europia deCooperao Econmica, que foi criada para administrar a ajuda dos Estados Unidos e do Canad, no quadro do PlanoMarshall, ao processo de reconstruo europia que se seguiu 2 Guerra Mundial. Desde que iniciou a sua atividade,em 1961, a OCDE, que conta hoje com 30 pases membros, tem por misso reforar a economia dos pases membros,

    melhorar a sua eficcia, promover a economia de mercado, desenvolver um sistema de trocas livres e contribuir para odesenvolvimento e industrializao dos pases.23Acordo Geral sobre Tarifas de Comrcio (GATT), mais tarde foi substitudo pela Organizao Mundial do Comrcio(OMC).

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    Mundial do Comrcio (OMC), foram apoiadas e aplicadas na Europa pelo Reino Unido e setores

    importantes da Unio Europia. Ultimamente, no dos Estados Unidos que veio o projeto da

    Rodada do Milnio na OMC, mas da Unio Europia. Deve-se destacar tambm que foram, antes

    de tudo, setores antagnicos da sociedade americana que atacaram frontalmente a OMC em Seattle.

    por isso que se deve considerar que: A mundializao contempornea no americana. Ela capitalista e como tal que ela deve ser combatida24.

    Mas, em conflito com estas tendncias, as regulamentaes defendidas e efetuadas pelos

    organismos multilaterais e os tratados de comrcio em nvel mundial, observa-se que discurso e

    prtica esto distanciados nas grandes potncias internacionais. Ao mesmo tempo em que se

    negocia abertura comercial na ALCA, os EUA apresentam dificuldades internamente, inclusive

    dentro do prprio Congresso, para aprovar medidas de liberalizao. O mesmo ocorre, por exemplo,

    com respeito ao corte de subsdios para os produtos agrcolas na Unio Europia. A partir da ficaainda mais claro qual o real objetivo dos acordos de livre-comrcio, o intuito de garantir reas de

    explorao privilegiada para as grandes potncias, ou seja, tentativa de garantir esferas para

    exportao de mercadorias e capitais que garantam a lucratividade dos grandes trustes, fundos e

    grupos financeiros destes pases. O fato marcante a tentativa de embasar a defesa deste tipo de

    prtica na total mistificao da suas reais conseqncias, como se pode verificar nos relatrios

    oficiais das rodadas de negociao para a implementao da ALCA25. Estas conseqncias podem

    ser graves, como se percebe ao analisar a economia mexicana depois da implementao do NAFTA,

    onde as promessas foram revertidas em uma piora considervel nas condies econmicas do pas26.

    Esta defesa da liberalizao comercial, feita e no cumprida pelos pases imperialistas,

    ocorre porque at certo ponto as barreiras protecionistas acabam atuando na defesa dos interesses

    dos capitais nacionais, pois se contrape, em parte, transferncia de valor para o pas que tem

    maior produtividade27. Essa contraposio se d pelo fato de que o pas fica menos exposto

    24Chesnais, op. cit., p. 16.25 O livre comrcio e uma maior integrao econmica so fatores essenciais para o desenvolvimento sustentvel.Nesse contexto, novos avanos sero obtidos medida que nos empenharmos em fazer a liberalizao do comrcio e aspolticas ambientais se apoiarem mutuamente, levando em considerao os esforos do GATT/OMC e de outrasorganizaes internacionais. medida que prosseguir a integrao econmica no Hemisfrio, estaremos assegurando,de forma crescente, a observncia e promoo dos direitos do trabalhador, conforme definidos pelas convenesinternacionais pertinentes (I Cpula das Amricas, Plano de Ao. Miami, dezembro de 1994. Disponvel em:http://www.ftaa.com.br).26 Para maiores detalhes ver Borges (Altamiro Borges, A trgica experincia do Nafta. 2003, Disponvel em:http://resistir.info/brasil/alca_nafta.html): Nos anos 70, antes da implantao do acordo (NAFTA), a economiamexicana crescia, em mdia, 6,6% ao ano. J nos anos 90, o crescimento despencou para 3,3%. Agora, com atravagem da economia americana, a situao degringolou de vez. O Mxico entrou em recesso no ano passado. Seudficit na balana comercial saltou quase 22% e suas exportaes encolheram 5%. De resto, perdeu receita com aqueda do preo do petrleo, produto que gera um tero do seu rendimento. A previso do governo que a economia

    cresa apenas 1,7% em 2002.27 Por lo dems, el sistema proteccionista no es ms que un medio para fomentar en un pas la gran industria, esdecir, para hacerlo depender del mercado mundial; y, a partir del momento en que se depende del mercado mundial, sedepende en mayor o menor medida del librecambio. Adems, el sistema proteccionista desarrolla la libre competencia

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    economia mundial, podendo direcionar esforos para o desenvolvimento de seu mercado interno, na

    medida em que as barreiras so voltadas para a proteo de determinado conjunto de indstrias

    nacionais. O que ocorre, portanto, que este livre-comrcio significa a derrubada destas barreiras

    protetoras nos pases mais fracos e sua manuteno, mesmo que em partes ou de forma modificada,

    nos pases centrais.Sabe-se que os cartis tiveram como conseqncia a criao de tarifas protecionistas de

    um tipo novo, e original: como j notava Engels, no Livro III, de O Capital,28protegendo-seprecisamente os produtos suscetveis de serem exportados. Tambm sabemos que os cartis eo capital financeiro dispem de um sistema que lhes prprio o da exportao a preo vil,o do dumping (...) Se a Alemanha aumenta o seu comrcio com as colnias inglesas maisrapidamente do que a prpria Inglaterra isso apenas prova uma coisa: que o imperialismoalemo mais forte, melhor organizado do que o imperialismo ingls, que lhe superior; masisso, no prova, de forma alguma, a supremacia do comrcio livre. E isto porque esta lutano ope o comrcio livre ao protecionismo, dependncia colonial, mas ope entre si doisimperialismos rivais, dois monoplios, dois grupos de capital financeiro. A supremacia doimperialismo alemo sobre o imperialismo ingls mais forte do que a muralha das fronteiras

    coloniais ou a das tarifas aduaneiras protetoras; tirar da argumentos a favor da liberdade docomrcio e da democracia pacfica divulgar asneiras, esquecer os traos e os caracteresessenciais do imperialismo, substituir o marxismo pelo reformismo pequeno-burgus.29

    Percebe-se tambm que as prticas intervencionistas mantm um outro tipo de tarifa, o

    subsdio, que atua com o objetivo de garantir vantagens aos produtores de determinado pas para

    que possam competir no mercado mundial, ou seja, mesmo que um pas no tenha vantagens

    naturais ele poderia ganhar mercado de outros que as tenham. Assim os avanos liberalizantes

    imperialistas atuam tambm no sentido de garantir aos pases centrais a manuteno destas prticas

    e obrigar os perifricos a abrir mo da proteo de suas economias. Isso demonstra que muitasvezes os mercados so tomados por empresas, no por terem maiores nveis de produtividade ou

    menores custos, mas porque seus pases-sede lhes garantem vantagens naturais.

    necessrio que seja destinada uma especial ateno anlise dos impactos de uma abertura

    comercial acentuada, como a proposta da ALCA, para os pases perifricos e para o conjunto da

    classe trabalhadora. Como adiantam Marx30 e Engels31, a discusso acerca de protecionismo e

    dentro de pas. Por eso vemos que en aquellos pases en que la burguesa comienza a abrirse camino como clase, por

    ejemplo en Alemania, hace grandes esfuerzos por obtener aranceles protectores. Estas son para ella las armas contrael feudalismo y el Estado absoluto, representan para ella el medio de concentrar sus fuerzas y realizar el librecambiodentro del pas (Marx, Discurso Sobre El Problema Del Librecambio, cit, p. 554).28Para esta mesma discusso ver tambm: Bukharin, op. cit., captulo IV.29Lnin, op. cit., p. 113. Da mesma forma o inverso considerado verdade, na afirmao de Hilferding, pois nem livre-comrcio, nem protecionismo resolveriam os problemas da classe trabalhadora: se o capital no pode desenvolveroutra poltica que a imperialista, ento o proletariado no pode contrapor imperialista uma poltica que foi a dotempo da hegemonia do capital industrial; no prprio do proletariado opor a poltica capitalista mais avanada apoltica ultrapassada da era do livre-comrcio e da hostilidade estatal. A resposta do proletariado polticaeconmica do capital financeiro o imperialismo - no pode ser o livre-comrcio; s pode ser o socialismo(RudolfHilferding, O Capital Financeiro. So Paulo, Nova Cultural, 1985, p. 343).30Marx nos elucida que o fim das tarifas de proteo e das barreiras comerciais, o desaparecimento das circunstanciassecundarias que hoje mascaram as verdadeiras causas para a situao miservel em que se encontram os trabalhadores,

    o trabalhador ver ento que o capital liberto de suas travas no o far menos escravo que aquele que est sujeito amedidas protecionistas. Pero, en general, el sistema proteccionista es hoy un sistema conservador, mientras que elsistema librecambista acta destructivamente. Desintegra las nacionalidades anteriores y hace culminar elantagonismo entre el proletariado y la burguesa. En una palabra, el sistema de la libertad de comercio, acelera la

  • 7/24/2019 A Questo Do Livre Comrcio -Cemarx

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    abertura comercial uma questo que no responde aos problemas da classe trabalhadora, embora

    atue, ao dar maior liberdade ao capital, no sentido de explicitar as contradies inerentes ao prprio

    modo de funcionamento do sistema capitalista. Age ento clarificando que o responsvel pelas

    mazelas sociais no um modo especfico de gesto do capital historicamente determinado (como o

    neoliberalismo ou o Estado do Bem Estar Social), mas sim o prprio sistema do capital, emconsonncia com o fato de que o modo especfico de gesto do sistema relaciona-se com as

    condies histricas de cada perodo, e com a maior ou menor necessidade de ofensiva do capital

    sobre as foras produtivas, os trabalhadores.

    Ao se compreender que o neoliberalismo no diferente do prprio capitalismo, mas

    simplesmente a forma como este se apresenta na atual conjuntura, e que o imperialismo ao se

    encontrar caracterizado enquanto Imperialismo Senil32 j responde por tamanha explorao da

    classe trabalhadora, manifesta em ofensivas aos direitos trabalhistas, previdencirios, compressosalarial e altssimos nveis de desemprego, que caberiam algumas ponderaes a este argumento,

    pois dar ainda mais liberdade ao capital significaria uma acelerao na destruio da prpria classe

    trabalhadora, principalmente nos pases subdesenvolvidos. sob esta perspectiva que se justifica a

    atuao dos movimentos polticos e sociais representativos da classe trabalhadora, que em todo

    continente americano, e no s nele, mantm sua organizao de forma a combater a

    implementao da ALCA e tambm de modo a combater as normas impostas principalmente pela

    OMC e pelo FMI.

    revolucin social. Solamente en este sentido revolucionario emito yo, seores, mi voto a favor del librecambio (Marx,Discurso Sobre El Problema Del Librecambio, cit, p. 554).31El problema del librecambio y la proteccin arancelaria se mueve todo l dentro de los lmites del actual sistema deproduccin capitalista, razn por la cual no tiene inters directo para los socialistas, que reclaman la abolicin de estesistema. Pero s les interesa indirectamente, en el sentido de que desean asegurar al sistema de produccin actual lamayor libertad de desarrollo posible y la ms rpida expansin, ya que con ello se desplegarn tambin sus necesariasconsecuencias econmicas: la miseria de la gran masa del pueblo como consecuencia de la superproduccin, queprovoca crisis peridicas o estancamientos crnicos del intercambio; la escisin de la sociedad en una pequea clasede grandes capitalistas y un gran clase de esclavos asalariados que realmente van transmitindose por herencia, de

    proletarios cuyo nmero aumenta sin cesar, en tanto que va dejndolos sin trabajo, constantemente, la nuevamaquinaria que desplaza al trabajador; en una palabra, la entrada de la sociedad en un callejn sin salida, del que nohay escape fuera de la total transformacin de la estructura econmica que sirve de base a la sociedad (Engels, op.cit., p. 567-568).32Com relao a esta discusso sobre o imperialismo e atual fase do capitalismo, destacamos o conceito de Gluckstein,que chama a atual fase de Imperialismo Senil. Para ele esta nova face assumida pelo imperialismo seria caracterizadapela tendncia mundial de financeirizao da riqueza e dos fluxos de capital, o que fora os capitalistas na tentativa dedefender a sua taxa de lucro, a nica alternativa de destruir as foras produtivas, destruir as fbricas, destruir a forade trabalho viva, que est dentro das fbricas, por isso que est sendo organizada a desertificao industrial daFrana, por isso tambm que destroem a fora de trabalho humana, por exemplo, organizando a ofensiva contra ocusto do trabalho. (...) isto que faz com que o que era parcialmente progressista, no capitalismo ascendente, cedalugar hoje a um sistema que de nenhuma maneira apresenta qualquer trao progressista e que, sob todas as formas,procure preservar o lugar da classe capitalista sob a forma de destruio da classe operria, de suas conquistas

    [como, por exemplo, aqui no Brasil mais recentemente os ataques ao sistema previdencirio] e de suas organizaes[poderamos citar a necessidade de destruir/cooptar os partidos dos trabalhadores, o que vem se concretizando de formaacelerada no Brasil, com o PT] (Daniel Gluckstein, O Imperialismo Senil. So Paulo, Comisso de Formao de OTrabalho, 1995, p. 135).