14
Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009. A RECICLAGEM COMO EMPREENDEDORISMO: FONTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL Lucila Maria Souza Campos Doutora pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) Programa de Pós-graduação em Administração e Turismo (PPGAT) E-mail: [email protected] – Brasil Ricardo Delfino Guimarães Mestre em Administração de Empresas pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) Programa de Pós-graduação em Administração e Turismo (PPGAT) E-mail: [email protected] – Brasil Rodrigo Vieira Bacharel em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) E-mail: [email protected] – Brasil Denise Maestri Reis Especialista em Contabilidade Financeira e Auditoria pelo Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) Programa de Pós-graduação em Administração e Turismo (PPGAT) E-mail: [email protected] – Brasil Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa realizada na Associação Aparecida de Reciclagem de Lixo (ACARELI), localizada no município de São José (SC), região metropolitana de Florianópolis. O trabalho aborda as ações de melhorias da gestão de resíduos sólidos urbanos nessa associação de catadores de lixo. Foi estudado o gerenciamento estratégico no processo de reciclagem e na melhor forma de otimizar a utilização desses recursos. Neste estudo, são demonstrados o mapeamento dos processos de reciclagem e as possibilidades de melhorias na eficiência, visando uma melhor qualidade de vida e no serviço dos catadores. Esta pesquisa caracteriza-se com sendo de natureza qualitativa. O método de pesquisa utilizado foi descritivo e explicativo. A análise dos resultados sugere que a reciclagem administrada por intermédio do empreendedorismo social, o qual promove a maximização dos retornos sociais ao invés do lucro, pode ser considerada fonte de inclusão socioeconômica e um processo eficiente de redução do volume de resíduos sólidos e preservação do meio ambiente. Abstract: This article aims to present the results of a survey conducted in Aparecida Association of Recycling Waste (ACARELI), located in São José (SC), the metropolitan region of Florianópolis. The work addresses the actions to improve the management of municipal solid waste in the garbage collectors association. Was studied in the strategic management process of recycling and how to optimize the use of these resources. In this study, are shown the mapping of the processes of recycling and the possibilities for improvements in efficiency, to better quality of life and service of collectors. This research is characterized as being of a qualitative nature. The research method used was descriptive and explanatory. The results suggests that recycling administered through the Social

A RECICLAGEM COMO EMPREENDEDORISMO.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    A RECICLAGEM COMO EMPREENDEDORISMO: FONTE DE TRANSFORMAO

    SOCIOECONMICA E AMBIENTAL

    Lucila Maria Souza Campos Doutora pela Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI) Programa de Ps-graduao em Administrao e Turismo (PPGAT) E-mail: [email protected] Brasil

    Ricardo Delfino Guimares Mestre em Administrao de Empresas pela Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI) Programa de Ps-graduao em Administrao e Turismo (PPGAT) E-mail: [email protected] Brasil

    Rodrigo Vieira Bacharel em Administrao pela Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI) E-mail: [email protected] Brasil

    Denise Maestri Reis Especialista em Contabilidade Financeira e Auditoria pelo Fundao Universidade Regional de Blumenau (FURB) Programa de Ps-graduao em Administrao e Turismo (PPGAT) E-mail: [email protected] Brasil

    Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa realizada na Associao Aparecida de Reciclagem de Lixo (ACARELI), localizada no municpio de So Jos (SC), regio metropolitana de Florianpolis. O trabalho aborda as aes de melhorias da gesto de resduos slidos urbanos nessa associao de catadores de lixo. Foi estudado o gerenciamento estratgico no processo de reciclagem e na melhor forma de otimizar a utilizao desses recursos. Neste estudo, so demonstrados o mapeamento dos processos de reciclagem e as possibilidades de melhorias na eficincia, visando uma melhor qualidade de vida e no servio dos catadores. Esta pesquisa caracteriza-se com sendo de natureza qualitativa. O mtodo de pesquisa utilizado foi descritivo e explicativo. A anlise dos resultados sugere que a reciclagem administrada por intermdio do empreendedorismo social, o qual promove a maximizao dos retornos sociais ao invs do lucro, pode ser considerada fonte de incluso socioeconmica e um processo eficiente de reduo do volume de resduos slidos e preservao do meio ambiente.

    Abstract: This article aims to present the results of a survey conducted in Aparecida Association of Recycling Waste (ACARELI), located in So Jos (SC), the metropolitan region of Florianpolis. The work addresses the actions to improve the management of municipal solid waste in the garbage collectors association. Was studied in the strategic management process of recycling and how to optimize the use of these resources. In this study, are shown the mapping of the processes of recycling and the possibilities for improvements in efficiency, to better quality of life and service of collectors. This research is characterized as being of a qualitative nature. The research method used was descriptive and explanatory. The results suggests that recycling administered through the Social

    POZOTypewritten Text3

  • 4 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    Entrepreneurship, which promotes the maximization of social returns rather than profit, can be considered a source of social inclusion and an efficient process for reducing the volume of solid waste and conservation of the environment environment.

    Palavras-chave: Associao de catadores de lixo; Empreendedorismo social; Reciclagem. Resduos slidos urbanos.

    POZOTypewritten Text

    POZOTypewritten Text3

  • Lucila Maria Souza Campo, Ricardo Delfino Guimare, Rodrigo Vieira e Denise Maestri Reis

    5

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    1. INTRODUO

    Numa sociedade capitalista globalizada cujos princpios econmicos e valores bsicos esto voltados para o consumismo, surgem diversos problemas, dentre eles: o crescimento da desigualdade entre ricos e pobres, o aumento da produo de resduos slidos urbanos e o conseqente problema ecolgico gerado pelo seu tratamento inadequado e/ou falta de depsitos apropriados para seu armazenamento.

    Desde a dcada de 1980, a globalizao, as novas tecnologias e a constante qualificao da mo-de-obra tm proporcionado uma evoluo do processo produtivo. Por outro lado, os cidados que no tm acesso a essa evoluo tornaram-se marginalizados e excludos da sociedade, sem acesso aos bens de consumo e servios bsicos, sem oportunidade de emprego formal, ficando subordinados ao subemprego ou ao emprego informal. Para enfrentar os evidentes desnveis entre as classes sociais provocados por esse processo, uma das alternativas encontradas para tornar a sociedade mais equilibrada e justa est situada na mobilizao do Estado e da sociedade civil organizada (ONGs, associaes, cooperativas, Igrejas, etc.) juntamente com a economia privada visando o desenvolvimento do chamado Empreendedorismo Social.

    Por sua vez, o aumento na produo de lixo, numa sociedade educada para consumir, vem causando danos irreparveis ao meio ambiente e afetando diretamente a qualidade de vida dos habitantes das grandes, mdias e pequenas cidades. Isto criou um problema de propores mundiais, qual seja: o que fazer com a crescente produo de resduos slidos urbanos? A este fato acrescenta-se uma participao ainda insipiente de aes do Estado brasileiro na criao, desenvolvimento e gesto de polticas pblicas para a soluo desse problema, embora j sejam observadas iniciativas concretas no sentido de resolv-lo.

    No obstante, a sociedade, de uma maneira geral, vem buscando alternativas para controlar e armazenar o excesso de produo dos resduos slidos urbanos. Segundo KUHNEN (1995), a reciclagem do lixo se apresenta como uma alternativa fundamental para controlar o problema, haja vista que ela reduz o volume final dos resduos, que precisam ser incinerados ou aterrados, alm de gerar renda s pessoas que manipulam o processo de reciclagem, geralmente indivduos e famlias marginalizadas da sociedade. A recuperao dos resduos e a sua reintegrao, em determinados processos produtivos, asseguram relevante economia de matria-prima e de energia. E a os valores parecem invertidos: o lixo, que sempre foi um problema, torna-se a soluo (KUHNEN, 1995, p.31). Na mesma perspectiva, OLEARY et al. (1999) afirmam que a reciclagem dos resduos slidos uma alternativa vivel que propicia a preservao dos recursos naturais, economia de energia, reduo de rea que demanda o aterro sanitrio, gerao de emprego e renda, assim como a conscientizao da populao para questes ambientais.

    Nesse contexto, a reciclagem parece a ser o elo que une os trs problemas centrais que fundamentam este artigo: gerao de renda aos mais pobres, diminuindo a desigualdade social; controle e reduo do volume de resduos slidos; e minimizao dos impactos ambientais.

    Porm, adverte OLEARY et al (1999), para que haja a reciclagem, o resduo slido ter que passar por um processo que envolve uma triagem na sua coleta, onde a sociedade e o poder pblico (os municpios) tero que investir em duas frentes: 1) num sistema de coleta eficiente com locais apropriados para o descarte do material, entre outras medidas; 2) na

    POZOTypewritten Text3

  • 6 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    conscientizao da sociedade sobre a importncia da reciclagem dos resduos slidos. Para o autor, sem essas atitudes, a sobrevivncia e o bem-estar das geraes futuras estaro comprometidas.

    Portanto, no resta dvida que a reciclagem, promovida na sua maioria pelas associaes de catadores de lixo e pela iniciativa privada, considerada uma forma de empreendedorismo comprometido com o social. Em outras palavras, os catadores viram no lixo uma alternativa para sua sobrevivncia e a sociedade encontrou na reciclagem uma maneira de reverter o crescente quadro de degradao ambiental.

    Contudo, a reciclagem no deve ser vista unicamente como a principal soluo para o lixo. Ela to-somente uma atividade econmica que deve ser encarada como um elemento dentro de um conjunto de solues ambientais. Para GRIPPi (2001, p. 27), apenas separar o lixo sem um mercado enterrar em separado. Ou seja, a separao de materiais do lixo aumenta a oferta de materiais reciclveis. Entretanto, se no houver demanda por parte da sociedade ou do mercado, o processo interrompido e os materiais podem abarrotar os depsitos ou serem enterrados em outro lugar.

    Considerando os argumentos apresentados, este artigo tem por objetivo apresentar e discutir os principais resultados alcanados por um projeto de pesquisa e extenso financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) (Edital 18/2005), que realizou uma interveno junto a uma associao de catadores/recicladores da cidade de So Jos (SC), localizada na regio metropolitana de Florianpolis.

    A regio da Grande Florianpolis abrange os municpios de Palhoa, So Jos e Biguau. Juntos, segundo o Censo Demogrfico de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), esses municpios somam uma populao de aproximadamente 700 mil habitantes. Dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico (PNSB) revelam que a quantidade diria coletada de lixo nessa regio aproxima-se das 710 t/dia (BRASIL, 2000). A Grande Florianpolis conta com trs associaes de catadores formalmente reconhecidas, sendo que duas atendem ao municpio de Florianpolis e uma ao municpio de So Jos.

    1.2. Um Panorama da Reciclagem de Lixo no Brasil

    Faz-se necessrio definir formalmente a palavra reciclagem e suas inter-relaes, a fim de melhor compreender alguns aspectos deste trabalho. Para DIDONET (1992), o termo reciclagem vem sendo empregado desde os anos 1970 quando a preocupao com o meio ambiente ganhou relevncia econmica e poltica, reforada mutuamente pelo racionamento do petrleo. Segundo o autor, reciclar significa retornar ao ciclo de produo dos materiais que foram usados e descartados.

    Um sistema de produo que se apia no manejo equilibrado do solo e dos demais recursos naturais, partindo do pressuposto de que a fertilidade da terra deve ser buscada na matria orgnica, rica em microorganismos capazes de fornecer os elementos necessrios ao desenvolvimento das plantas ao mesmo tempo em que as torna resistentes a pragas e doenas.

    Tecnicamente, a literatura pesquisada define reciclagem como um conjunto de atividades e processos cuja finalidade seja a separao, recuperao e transformao dos materiais reciclveis, que tm como fonte de matria-prima os resduos slidos urbanos. Esse

    POZOTypewritten Text3

  • Lucila Maria Souza Campo, Ricardo Delfino Guimare, Rodrigo Vieira e Denise Maestri Reis

    7

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    processo visa o reaproveitamento dos resduos slidos urbanos, de forma que eles possam ser reintroduzidos no ciclo produtivo.

    No Brasil, como parte das aes de Estado para a preservao ambiental, a Constituio de 1988 atribuiu novas responsabilidades aos municpios referentes promoo de programas e polticas pblicas, visando melhoria da qualidade de vida nas cidades, at ento centralizados no governo federal. Os municpios, juntamente com outras esferas governamentais, passaram a empreender aes visando proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas (BRASIL, 1988, art. 23, inciso VI) e a controlar a produo, a comercializao e o emprego de tcnicas, mtodos e substncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (BRASIL, 1988, art. 225, inciso V) (SILVA, 1992, p.103).

    Diversas pesquisas tm sido desenvolvidas tendo como tema a viabilidade da reciclagem, atravs da utilizao racional dos recursos disponveis. De maneira geral, os resultados desses estudos apresentam uma abordagem no que diz respeito s exigncias e limitaes que envolvem o processo de reciclagem, indicando que, atualmente, existem diversas tecnologias inovadoras, a custos acessveis, que podem ser facilmente incorporadas aos processos j estabelecidos no Brasil.

    Quanto separao de materiais domiciliares que podem ser reciclados, o estudo de MONTEIRO (2003) revela que esta pode ter uma eficincia significativa de 3 a 6% em peso, se realizado em usinas de reciclagem que disponham de uma boa estrutura fsica e tecnolgica. Porm, segundo o autor, h o inconveniente de que este tipo de material geralmente muito sujo, dificultando o processo de separao e, conseqentemente, o trabalho das indstrias de reciclagem. O ideal seria que o processo de separao tivesse incio em cada domiclio, pela prpria populao consumista dos produtos.

    Mas, o aspecto mais significativo que as pesquisas tm demonstrado vai alm dos benefcios da gesto integrada dos resduos slidos urbanos e dos aprimoramentos nos processos industriais. O fator de insero social um aspecto desse processo que tem se destacado constantemente, para que seja mais bem estudado, planejado e desenvolvido.

    PIMENTEIRA (2000) confirmou a percepo da sociedade ao constatar, em pesquisa realizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), que o trabalho de reciclagem realizado por pessoas de condio social precria, que buscam na coleta e venda de resduos uma forma de renda para suprir as necessidades de subsistncia. A pesquisa conclui ainda que a organizao e melhoria das condies de trabalho dessas pessoas so fatores que merecem ateno, pois atravs disto que se desenvolve o processo de insero social e a recuperao da dignidade desses trabalhadores annimos, alm de estabelecer uma forma mais efetiva da coleta e reciclagem dos resduos.

    1.3. Entendendo o Processo de Insero Social

    Para VALENTIM (2007) e VASCONCELOS (2007), no se pode pensar em insero social de uma maneira individualizada, isolada. Deve-se pensar como um todo, na qual a sociedade esteja engajada em procurar solues para promover a igualdade social e melhorar ndices socioeconmicos, inserindo na vida das pessoas marginalizadas o acesso informao, sade, educao, alimentao, moradia, etc. A preocupao com a insero social vem crescendo tanto na sociedade civil organizada como tambm no setor empresarial,

    POZOTypewritten Text3

  • 8 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    atravs de apoio a programas e parcerias com o setor pblico. Estes desenvolvem formas e modelos variados nas esferas da sociedade para minimizar a desigualdade social. Alm desse apoio, a insero social pode encontrar na economia solidria uma forma alternativa para driblar a conjuntura formada pelo modelo capitalista.

    Na sociedade atual, o sistema de produo vigente revela-se incapaz de promover a incluso social, por meio do desenvolvimento econmico e do progresso social, para a maioria dos seus cidados. Da mesma forma que os avanos da sociedade trazem melhorias para a vida de alguns, por outro lado, crescem os ndices de pessoas que vivem em situao de misria (VALENTIM, 2007)

    Nesse contexto, a insero social torna-se necessria e fundamental. Segundo VASCONCELOS (2007), a idia bsica de insero social considera que as atividades econmicas so moldadas e limitadas por ligaes existentes entre todos os atores que delas participam, no ocorrendo de forma independente do contexto social. Sendo assim, a insero social aborda a influncia do desempenho de novas empresas, gerando novas oportunidades (informaes, recursos, contatos, etc.) e barreiras (organizao da atividade econmica e institucionalizao de comportamentos).

    Diante disso, a nfase da insero social est justamente no papel concreto das relaes pessoais com as estruturas sociais (redes), gerando confiana entre esses atores que influenciam as relaes econmicas. Nesse sentido, GRANOVETTER (1985) afirma que a ao econmica sofre influncias por meio das relaes com outras pessoas, como tambm pela rede de relaes que o indivduo faz parte. A relao que se d por meio das relaes com outra pessoa denominada de insero relacional, e a relao que se d pela rede de relaes em que o indivduo est inserido a insero estrutural.

    No que se refere insero relacional, h um efeito direto desse tipo de insero sobre a atividade econmica do indivduo. O fato de um indivduo estar se relacionando com outros indivduos j causa influncias na ao econmica. Este relacionamento no caracterizado apenas pela formao e atividades desses indivduos; o tipo de relacionamentos que os mesmos tm, e que so influenciados por um histrico de interaes, tambm faz parte da fundamentao desta relao (VASCONCELOS, 2007).

    J a insero estrutural tem um efeito menos direto sobre a atividade econmica, pois a influncia depender da denominada densidade de rede, que a extenso em que os indivduos esto ligados uns aos outros. Neste caso, o indivduo pode sofrer influncias comportamentais que acabariam refletindo na ao econmica, alm de que pode ser afetado por informaes que transitam pelo grupo do qual ele faz parte. Sendo assim, uma alta densidade de rede ocasionaria um efeito de maiores dimenses no comportamento econmico (VASCONCELOS, 2007).

    Portanto, a insero social se apresenta como um dos principais fatores a serem considerados pelas diversas instituies (governamentais e privadas), que possuem uma verdadeira viso global a respeito da sociedade e da economia. A insero social uma das alternativas mais eficazes para que a estrutura social se desenvolva numa perspectiva justa, onde os valores humanos sejam evidenciados, sobressaindo ao capitalismo radical que visa apenas o lucro. E neste contexto que vem se destacando a denominada Economia Solidria.

    POZOTypewritten Text3

  • Lucila Maria Souza Campo, Ricardo Delfino Guimare, Rodrigo Vieira e Denise Maestri Reis

    9

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    1.4. O que Economia Solidria?

    A economia solidria considerada um desmembramento do capitalismo. Para ser assim definida precisa ter como objetivo uma finalidade social; e tambm ver o homem como um ser social e no capital. A sua criao tem por fim beneficiar as classes menos favorecidas da sociedade por meio da unio e da formao de cooperativas e associaes que tm como caracterstica a autogesto, em que a distribuio do que foi investido no negcio proporcional ao investimento do cooperado ou do associado. No Brasil, o crescente movimento da economia solidria fez surgir vrias entidades, como as cooperativas e as associaes, que viram na unio uma fora para entrar ou se manter no mercado. Isto favoreceu o surgimento de vrias formas de mercado ainda ou quase inexplorado, como o caso das associaes de resduos slidos urbanos (SINGER, 1999).

    Segundo GAIGER (1996), a economia solidria uma forma de produo que une o princpio da unidade entre a posse e o uso dos meios de produo e distribuio com o princpio da socializao destes meios, e constantemente renovado, especialmente por indivduos que se encontram s margens do mercado de trabalho. A forma de organizao coletiva de trabalho no ambiente da economia solidria baseada nas experincias da Economia Social, que recebeu influncias do pensamento socialista, e caracterizada pela associao de indivduos em gestes democrticas com o intuito de organizar meios de vida atravs de relaes de auxlio mtuo. Alm de incorporar a Economia Social, a economia solidria desenvolve o conceito de projeto, de desenvolvimento local e de diversidade das formas de atividade econmica, contribuindo com a sociedade sob a forma de servios diversos, destinados, principalmente, parcela da populao que vive s margens da sociedade.

    Nesse sentido, complementam COELHO e GODOY (2007), a economia solidria procura compreender determinadas questes especficas de certas localidades, agregando elementos que podem servir como subsdios relevantes para responder a estes desafios e, desta forma, ela pode ser considerada como um conjunto de iniciativas econmicas que funcionam como meios pelos quais se busca a realizao de fins de ordem social. Segundo os autores, a economia solidria vai alm da perspectiva de simples organizao coletiva do trabalho, abarcando os diversos setores polticos e sociais.

    Para WAUTIER (2004), a economia solidria uma forma especfica de organizao e sua atuao transcende a perspectiva unicamente econmica. Ela trabalha a recuperao de valores e prticas sociais que foram sufocados pelo lado insensvel do capitalismo radical. Sua atuao na incluso social de pessoas excludas do mbito econmico faz com que surjam iniciativas locais por parte de diversos indivduos que tm o intuito de promover a extenso da incluso econmica positiva, porm com pretenses de cunho social.

    1.5. A Criao das Associaes de Catadores de Resduos Slidos Urbanos

    A partir dos princpios institudos pela Constituio de 1988, em diversas regies do Brasil, principalmente nas metropolitanas, foram criadas, atravs da responsabilidade social da iniciativa privada e das Organizaes do Terceiro Setor, diversas entidades, dentre elas as associaes de catadores de lixo. Estas tm por objetivos sociais, econmicos e ambientais a conteno do avano dos resduos slidos e lquidos, resolvendo, segundo GRIPPI (2001, p. 27), vrios problemas: para os associados, o ganho de renda e insero socioeconmica; para o meio ambiente, a diminuio de resduos slidos aterrados ou incinerados; para a indstria,

    POZOTypewritten Text3

  • 10 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    o retorno do material como fonte de energia e reduo dos custos operacionais, beneficiando diretamente o meio ambiente.

    A criao das associaes de catadores de lixo, enquanto atividade econmica vivel, foi repercutida no mundo a partir das discusses apresentadas na ECO 92 , em que a sociedade viu na reciclagem uma maneira de amenizar os problemas ecolgicos, e as associaes de catadores de lixo, uma soluo para a falta de renda s pessoas menos favorecidas. Em resumo, de forma bastante simplificada, o lixo, que precisa ser recolhido e reciclado para a sobrevivncia do planeta, encontra no catador uma sada, e o catador, que precisa de trabalho, encontra no lixo uma alternativa de sobrevivncia.

    Depois da ECO 92, foram criadas diretrizes para modelar formas de gesto dessas associaes. Segundo ANDRIOLI (2005), na atual conjuntura da economia mundial, os ndices de desemprego tm crescido exponencialmente. Esse fator associado ao desequilbrio entre as classes sociais contribui para que um grande nmero de pessoas passe a viver em condies de trabalho precrias, carentes do acesso aos direitos sociais, com pouca perspectiva de participar do mercado de trabalho formal. As associaes de catadores de resduos slidos urbanos so compostas exatamente por essas pessoas que no tiveram oportunidades de acesso ao mercado de trabalho. Formadas na sua maioria por indivduos excludos de cidadania, as associaes tm nos catadores seu principal ator que faz do seu dia-a-dia uma batalha para sua sobrevivncia.

    Nesse sentido, as associaes de catadores de resduos slidos urbanos se destacam como uma das alternativas que ajudam positivamente para que uma parte da parcela excluda do mercado de trabalho formal venha a ter o acesso ao trabalho e a uma renda, de modo que possam sobreviver dentro da sociedade com o mnimo de dignidade.

    Alm da questo monetria, pesquisas tm constatado que as relaes de convivncia entre os indivduos que participam dessas associaes tm contribudo significativamente para a sociabilidade positiva dessas pessoas e para o seu desenvolvimento profissional e educacional. vlido destacar tambm que essas pessoas passam a compreender e a se conscientizarem sobre a importncia das questes ambientais, desenvolvendo nelas uma perspectiva global a respeito das questes ecolgicas que fazem parte da vida em sociedade (MONTEIRO et al, 2001).

    O trabalho das associaes de catadores de resduos slidos vinculado atividade de reciclagem. s vezes, esta atividade realizada pela prpria associao. Em outras, realizada em parceria com empresas privadas ligadas s associaes. A reciclagem tem se mostrado como uma opo importante e vivel nesta poca onde a preocupao com o meio ambiente fundamental.

    2. METODOLOGIA

    Para a compreenso das aes de melhoria da gesto de resduos slidos numa associao de catadores da Grande Florianpolis, optou-se por realizar uma pesquisa de natureza qualitativa (GODOY, 1995; RICHARDSON, 1999). Este estudo caracteriza-se pelo mtodo de pesquisa descritiva que permite a construo de um processo analtico que considera diferentes interpretaes dos diversos atores sociais envolvidos com o fenmeno objeto da investigao (VERGARA; BRANCO, 1998). Acredita-se que essa escolha metodolgica produza explicaes acerca das prticas de gesto de resduos em questo, bem

    POZOTypewritten Text3

  • Lucila Maria Souza Campo, Ricardo Delfino Guimare, Rodrigo Vieira e Denise Maestri Reis

    11

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    como sirva de referncia para apreenso do contexto de incluso social em que as referidas prticas esto inseridas, ou seja, o universo da pesquisa.

    Este estudo teve como fonte de dados a Associao Aparecida de Reciclagem de Lixo (ACARELI), localizada no municpio de So Jos (SC), regio metropolitana de Florianpolis. Foi realizado um diagnstico da associao estudada. Para tal, os instrumentos utilizados foram questionrios e roteiros de entrevistas junto aos associados. Tambm foram realizadas observaes diretas a respeito do cotidiano dos trabalhadores da associao, no intuito de verificar na prtica como se desenvolviam as suas atividades.

    O levantamento das informaes sobre o perfil socioeconmico dos associados foi feito por meio da aplicao de um questionrio baseado em uma ficha cadastral elaborada pelo Movimento Nacional de Catadores (MNC). Este cadastro detalha as seguintes especificaes dos associados: identificao, escolaridade, famlia, moradia, trabalho e renda, sade e previdncia, e movimentos dos catadores. O preenchimento do cadastro foi efetuado por cerca de 90% dos associados.

    Esta pesquisa e os resultados aqui relatados fazem parte dos resultados globais de um projeto financiado pelo CNPq (Edital 18/2005), que teve como objetivo principal contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos catadores que fazem parte da associao estudada.

    3. OS RESULTADOS DA PESQUISA

    Para a apresentao dos resultados das aes de melhoria da gesto de resduos slidos numa associao de catadores da Grande Florianpolis, esta pesquisa considerou quatro itens: a) A cadeia produtiva de reciclagem na regio; b) Os processos da associao (externos e internos); c) As condies em que os catadores trabalham; d) O perfil socioeconmico dos trabalhadores.

    3.1 A Cadeia Produtiva de Reciclagem na Grande Florianpolis

    CAMPOS, VIEIRA e SANTOS (2007) definem cadeia produtiva como um conjunto de atividades que se articulam progressivamente desde os insumos bsicos at o produto final, incluindo a distribuio e comercializao deste produto. Segundo a Fundao Nacional de Sade (FNC), a reciclagem dos resduos slidos se divide em: a) separao e classificao dos diversos tipos de materiais; b) processamento; c) comercializao; e d) reaproveitamento dos materiais reciclados em processos industriais (BRASIL; 2004).

    Quanto atividade de reciclagem, segundo LEITE (2003), esta pode ocorrer sob duas formas: a) ps-venda, que se refere aos produtos sem uso que carecem ser reparados ou trocados por defeito de fabricao, ou por acidente no transporte; b) ps-consumo, que se refere s embalagens e sobras de produtos j consumidos pela sociedade.

    O entendimento das etapas/estgios da cadeia de reciclagem na regio da Grande Florianpolis foi possibilitado graas ao apoio de pesquisadores de projetos correlatos, entidades e profissionais ligados reciclagem, empresas e indstrias da regio. Essas etapas no seguem uma ordem cronolgica e seqencial entre o ponto de consumo e a indstria. Para cada tipo de material h uma combinao diferente dessas etapas. Foram identificadas seis etapas distintas:

    POZOTypewritten Text3

  • 12 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    Coleta nas ruas, que realizada por catadores autnomos; Separao, que pode ocorrer nas ruas ou em galpes de associaes de catadores ou pequenos sucateiros; Pesagem, que realizada em diferentes estgios, mas ligada comercializao dos materiais (para vender, tem que pesar); Prensagem e enfardamento, que so realizados por algumas associaes, grandes depsitos e por indstrias recicladoras; Beneficiamento, que realizado por empresas especializadas que fornecem materiais especficos para indstrias recicladoras; e Comercializao, que uma etapa realizada por todos os agentes da cadeia, desde os catadores at a indstria que vende o produto da reciclagem.

    Entende-se que o conhecimento desta Cadeia de Reciclagem da regio estudada tem significativa importncia para que a associao possa compreender melhor o processo dessas atividades e, conseqentemente, venha a assumir uma postura mais adequada em meio aos diversos fluxos e canais reversos existentes.

    O entendimento dos funcionamentos desses canais oferece subsdios para que a associao tenha melhores condies de interao e negociao com o mercado, dinamizando seu trabalho e garantindo uma melhor autonomia. Por meio desse conhecimento, fica vivel o planejamento de aes de conscientizao da populao e das indstrias da regio, de forma que o trabalho da associao possa contar com uma maior homogeneizao dos materiais, padronizando os processos de separao e enfardamento (PERIN, 2003).

    3.2 As Atividades da Associao Pesquisada

    Atravs do acompanhamento dos processos da associao, foram mapeadas as atividades desenvolvidas pela Associao, identificadas em oito fatores bsicos, apresentados a seguir:

    Nmero de processos; A tecnologia empregada em cada um dos processos; Interface de entrada (onde se inicia cada processo); Quantas e quais so as atividades dos processos; Registros utilizados (documentos e sistemas informatizados); Pontos de tomada de deciso (possveis gargalos); Interface de ligao (troca de informaes entre os processos); Interface de sada (resultados e produtos)

    O resultado parcial do mapeamento das atividades revela que no h processos distintos, isto : a coleta, separao, enfardamento e a venda so considerados como um nico processo nesta associao. No que se refere tecnologia empregada, a associao dispe de apenas de uma prensa; os materiais no recebem nenhum tipo de tratamento que agreguem valor ao produto final.

    Foram identificadas as seguintes etapas do processo: Coleta/compra/armazenagem de materiais; Separao/seleo de materiais; Armazenagem de materiais; Prensagem/enfardamento de materiais;

    POZOTypewritten Text

    POZOTypewritten Text3

  • Lucila Maria Souza Campo, Ricardo Delfino Guimare, Rodrigo Vieira e Denise Maestri Reis

    13

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    Pesagem de materiais; Venda de materiais reciclveis selecionados.

    Outro fator observado refere-se ao processo administrativo de gerenciamento da associao. A associao apresenta uma dinmica administrativa que envolve valores de compra e venda, beneficiamentos, despesas diretas e indiretas, forma de remunerao dos associados, entre outros. Verificou-se que a associao no tem nenhuma forma de gerenciamento financeiro, assim como das atividades administrativas e comerciais. Diante disso, foi desenvolvido um software de gerenciamento de fluxo de caixa capaz de auxiliar a organizao no pagamento dos associados, receitas, gastos, horas trabalhadas, e cadastro dos associados.

    Observou-se que, por meio da implementao de novas tecnologias, a dinmica das atividades da associao pode ser melhorada e atualizada, assim como a introduo de tcnicas de melhoramento dos materiais coletados que agregam valor ao produto final, garantindo um melhor retorno financeiro.

    3.3 As Atividades da Associao Pesquisada

    Considerou-se fundamental compreender as condies de trabalho dos catadores, a fim de contribuir para seu o melhoramento. Foi realizado um roteiro de entrevistas abordando questes relacionadas a aspectos humanos e organizacionais de trabalho, aspectos ambientais e ergonmicos, aspectos de segurana e de sade dos trabalhadores, com o objetivo de identificar as condies de trabalho.

    Quanto aos aspectos organizacionais e humanos, os trabalhadores no tm problemas de relacionamentos com outros colegas de trabalho e tambm no apresentam problemas referentes a presses do trabalho, tais como estresse. No aspecto ambiental, para 83% dos trabalhadores, o ambiente bem arejado; 93% afirmam que a iluminao boa; 52% dizem que no sentem calor e frio excessivo; e 72% no consideram o odor do lixo desagradvel.

    No que se refere aos aspectos ergonmicos, 90% afirmam que a maior parte das atividades so realizadas em p, por isso, necessrio que faam o movimento de curvatura da coluna. Alm disso, 86% carregam os materiais nos ombros, sem o auxlio de um carrinho.

    Quanto ao aspecto da segurana, 93% dos trabalhadores afirmam que os produtos qumicos encontrados no lixo no entram em contato com a pele, enquanto 69% afirmam que ficam excessivamente expostos ao sol. 52% dizem que os acidentes no trabalho so freqentes (sendo que 59% afirmam que os acidentes so causados pela desateno; 41% dizem que a causa devido falta de equipamento de segurana). A atividade de prensagem relatada como a funo que oferece maior risco, e a separao de mesas, como a de menor risco, segundo 90% dos entrevistados. Para 79% dos entrevistados, os acidentes mais comuns so perfuraes e cortes, seguidos de quedas no cho, conforme 21% das respostas. 49% trabalham usando tnis. 66% afirmam que os equipamentos de segurana no so adequados.

    No que se refere aos aspectos de sade, 55% dos trabalhadores afirmam estar em boas condies de sade; 38% a consideram regular; e 7% a consideram ruim, sendo que os principais problemas so relacionados presso alta (15%) e a problemas cardacos (7%). A maior reclamao com relao a dores no corpo (27%), sendo que 18% afirmam ter dores nas costas.

    POZOTypewritten Text3

  • 14 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    3.4 Perfil Socioeconmico

    O levantamento do perfil dos associados foi obtido atravs de um questionrio que continha 31 questes que abarcavam aspectos como: identificao, escolaridade, famlia, moradia, trabalho e renda, sade e previdncia, e movimentos de catadores.

    Cerca de 90% dos associados preencheram o cadastro. Destes, 31% nunca trabalharam com carteira assinada; 58% nunca estudaram ou estudaram apenas at a quarta srie; 28% no possuem nenhum tipo de documento de identificao. Mais da metade possui renda superior ao salrio mnimo; 67% possuem renda entre 300 e 500 reais mensais (aproximadamente US$150,00 e US$350,00); 72% moram em casa prpria; em 100% das casas h gua encanada.

    importante conhecer o perfil socioeconmico das pessoas que trabalham como catadores, pois atravs deste levantamento possvel obter informaes que possam ser utilizadas para o estmulo de mais pessoas, a fim de que estas ingressem nesta atividade, ampliando o processo de reciclagem, trazendo mais benefcios sociedade e ao meio ambiente.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Procuramos, neste artigo, por meio do processo do modelo operacional executado por uma associao de catadores de lixo localizada na regio da grande Florianpolis, apresentar um novo padro no artifcio da gesto o empreendedorismo social como forma de mudana socioambiental sustentado na valorizao da economia solidria, a qual prioriza a democratizao da economia, tendo o homem e o ambiente como atores principais no processo do seu gerenciamento.

    Nesse novo formato de gesto, os empreendedores buscam fortalecer novos padres na maneira de administrar; h, portanto, o surgimento de um paradigma emergente no gerenciamento de temas relacionados com o social e o ambiental centrados na valorizao do ser humano. Por meio deles, busca-se trazer valores e benefcios com atitudes fomentadas por inmeros subsdios sociais e ambientais, que visam produzir um mundo menos desigual.

    Essa pesquisa, que buscou solues prticas atravs do modelo de gesto pelo qual o empreendedorismo social se evidencia, teve como um dos pontos mais importantes o estudo sobre a cadeia produtiva da reciclagem, que pode auxiliar na definio de aes e estratgias para a melhoria das condies dos materiais reciclveis coletados pela associao e das maneiras mais adequadas para a negociao desses materiais reciclados, que permitam obter um maior valor agregado na sua venda.

    Outro aspecto que ficou evidente na pesquisa foi a necessidade de implantar uma estratgia de gesto na associao estudada. Essa ao poder auxiliar no desempenho organizacional como um todo, alm de melhorar a qualidade dos servios prestados e a autonomia comercial dos materiais. Considera-se que esse aspecto estratgico poder aportar uma nova perspectiva administrativa da associao e aperfeioar sua gesto.

    As informaes obtidas sobre as condies de trabalho da associao forneceram contribuies ideais para investir naqueles setores que demonstraram mais necessidades e

    POZOTypewritten Text

    POZOTypewritten Text

    POZOTypewritten Text3

  • Lucila Maria Souza Campo, Ricardo Delfino Guimare, Rodrigo Vieira e Denise Maestri Reis

    15

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    ateno, tais como a segurana e a sade. Investindo nessas reas, a qualidade do trabalho desenvolvido pela associao tender a melhorar, podendo gerar mais renda e melhor qualidade de vida para os associados. Benfeitorias e atitudes aplicadas como essas finalidades sintetizam e justificam a maneira como deve ser o procedimento administrativo do empreendedorismo social.

    Na formulao de uma estratgia de gesto de resduos slidos urbanos, segundo a experincia desta pesquisa, os aspectos a serem mais considerados so os seguintes: o entendimento da cadeia produtiva de reciclagem, dos processos da associao, das condies de trabalho dos associados e do perfil dessas pessoas.

    Em suma, aprofundar os conhecimentos sobre os fatores que constituem a associao pesquisada foi uma experincia singular, e trabalhar conceitos e fundamentaes sobre essa nova forma de gerir solues socioambientais s foi possvel porque se pde observar o quanto esse tipo de atitude importante. Sua influncia se reflete em diversos setores, desde a insero de pessoas excludas do mercado de trabalho e a reaquisio da sua dignidade humana at os inmeros benefcios que traz ao meio ambiente.

    5. BIBLIOGRAFIA ANDRIOLI, Antnio Incio. Cooperativismo: uma resistncia excluso. Disponvel em: Acesso em: 15 ago. 2005. BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, Centro Grfico, 1988. BRASIL. INSTITUTO BRASILEITO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo Demogrfico de 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. CAMPOS, Lucila M. S; VIEIRA, Rodrigo; SANTOS, Pedro F. Aes de melhoria da gesto de resduos slidos numa associao de catadores na Grande Florianpolis. Relatrio de Pesquisa. UNIVALI, 2007. COELHO, Diego B; GODOY, Arilda S. Formao e dinmica organizacional de uma cooperativa de seleo e processamento de materiais reciclveis: um estudo de caso. XXXI Anais: EnANPAD. 2007. DIDONET, Marcos (org). O lixo pode ser um tesouro: um monte de novidade sobre um monte de lixo. Livro do Professor. Rio de Janeiro: CIMA, 1992. GAIGER, L. (Org.). Formas de combate e de resistncia pobreza. So Leopoldo: UNISINOS, 1996. GODOY, Arilda S. Introduo pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administrao de Empresas v. 35, n. 2, Mar./Abr. 1995 p. 57-63. GRANOVETTER, Mark. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology. Chicago, v. 91, n.3, p. 481-510, Nov. 1985. GRIPPI, Sidney. Lixo, reciclagem e sua histria: guia para as prefeituras brasileiras. Rio de Janeiro: Intercincia, 2001. KUHNEN, Ariane. Reciclando o cotidiano: representaes sociais do lixo. Florianpolis: Letras Contemporneas, 1995. LEITE, Paulo R. Logstica reversa: meio ambiente e competitividade. So Paulo: Prentice Hall, 2003.

    POZOTypewritten Text

    POZOTypewritten Text

    POZOTypewritten Text3

  • 16 A reciclagem como empreendedorismo: fonte de transformao socioeconmica e ambiental

    Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.2, p.3-15, 2009.

    LEVI, Alberto R. Competitividade organizacional. So Paulo: Makron McGraw-Hill, 1992. MATTUELLA, Juvir Luiz et al. Competitividade em mercados agroindustriais integrados. Revista de Administrao, So Paulo, v. 30, n. 4, p. 34-42, out./dez. 1995. MELLO, Sueli. Potencial orgnico: produtos certificados conquistam espao dentro e fora do pas. Problemas Brasileiros, So Paulo, v. 42, n. 364, p. 12-15, jul./ag. 2005. MENEZES, Francisco. Sustentabilidade ambiental: uma nova bandeira? In: FERREIRA, ngela Duarte Damasceno, BRANDENBURG, Alfio (orgs). Para pensar: outra agricultura. Curitiba: UFPR, 1998. p. 249-270. PORTER, Michael E. Estratgia Competitiva: tcnicas para anlise de indstrias e da concorrncia. 7. ed., Rio de Janeiro: Campus, 1986. RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa Social: mtodos e tcnicas. So Paulo: Atlas, 1989. ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Meio ambiente e dinmica de inovaes na agricultura. 1. ed., So Paulo: Annablume, 1998. VALENTIM, Igor Vinicius Lima Valentim. Confiar Para Reciclar: O Significado da confiana para recicladores de resduos slidos de Porto Alegre. Anais: XXXI EnANPAD. 2007. VASCONCELOS, Geraldo Magela Rodrigues de. Empreendedores e redes de relacionamentos. Anais: XXXI EnANPAD. 2007. VERGARA, Sylvia C; BRANCO, Paulo D. Empresa humanizada: a organizao necessria e possvel. Revista de Administrao de Empresas. Abr./Jun. 2001. So Paulo, v. 41, n. 2, p.20-30. WAUTIER, A. M. T. G. E. As relaes de trabalho nas organizaes de economia solidria: um paralelo Brasil-Frana. Tese (Doutorado em Sociologia) UFRGS, 2004.

    POZOTypewritten Text3