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1 A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA MOTIVAÇÃO Victor Cláudio Paradela Ferreira 1 Ary Ferreira dos Santos Júnior 2 Raquel Campanate de Azevedo 2 Graziella Valverde 2 A criação de condições que favoreçam a motivação para o trabalho representa um desafio para os gestores contemporâneos. A importância dos investimentos nessa área cresceu nas últimas déca- das, diante das características assumidas pelas organizações contemporâneas e dos requisitos de desempenho profissional delas resultantes: criatividade, iniciativa, resolutividade e capacidade de adaptação, dentre outros. Dificilmente uma pessoa desmotivada poderia desempenhar bem suas funções dentro desses parâmetros. A despeito de sua importância, o estudo da motivação tem se revelado um complexo desafio, conseqüência da complexidade do próprio fenômeno. Na tentativa de melhor compreender os estímulos que favorecem a motivação para o trabalho, a pesquisa relatada no presente artigo buscou suporte na Teoria das Representações Sociais. Partindo da técnica de evocação de palavras, foi mapeado o Núcleo Central da Representação estudada. A pesquisa aqui relatada demonstra como essa teoria pode ser utilizada, explicando cada etapa de sua aplicação e os procedimentos utilizados para obtenção e tratamento dos dados A aplicação dessa Teoria revelou-se bastante promissora no estudo do tema em foco, demonstrando ser uma efetiva opção para o desenvolvimento de estudos na área de Gestão de Pessoas. 1. INTRODUÇÃO O trabalho pode representar, em muitas si- tuações, uma atividade bastante penosa, que as pessoas cumprem apenas para sobreviver, sem nela obter nenhuma satisfação. Terkel, ci- tado por MOTTA (1986, p. 117), começa o seu livro Working com a seguinte afirmação: “Este livro, sendo sobre trabalho é, por sua nature- za, sobre violência, tanto ao espírito como ao corpo. É tanto sobre úlceras como sobre aci- dentes (...) É sobretudo (ou abaixo de tudo) sobre humilhações diárias”. O que nos revela essa afirmação é que muitas pessoas sentem- se desestimuladas com o trabalho que desen- volvem e parecem buscar no mesmo somente seu sustento financeiro, sua subsistência. A reversão desse quadro, de desmotivação profissional, reveste-se atualmente de grande importância. Vivemos um momento ímpar na história da humanidade. Nunca nossa civiliza- ção passou por mudanças tão profundas em tão curto espaço de tempo. Nos últimos anos, ingressamos em uma nova era, fruto da revolu- ção da informação. As relações sociais estão sendo completamente modificadas, em seus mais variados aspectos (político, cultural, finan- ceiro, social etc). O advento da sociedade pós- industrial representa uma verdadeira ruptura nos valores que mantínhamos até algumas décadas atrás (TOFFLER, 1985). Dentre as diversas mudanças trazidas pela adoção do modelo pós-industrial de gestão, merecem destaque, no que tange aos impac- tos trazidos para as qualidades requeridas dos trabalhadores, os seguintes (DRUCKER, 1989; HESSELBEIN, GOLDSMITH, e BECKHARD, 1997; TACHIZAWA, FERREIRA E FORTUNA, 2004; TOFFLER, 1985; VERGARA, 2000): Adaptação — Temos observado a ocorrência de mudanças em ritmo cada vez mais inten- so, tornando rapidamente obsoletos não ape- nas produtos e tecnologias como estratégi- as e modelos de gestão. A capacidade de 1 Coordenador do Curso de Administração, Habilitações em Administração Geral e Comércio Exterior - Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora, Doutor em Administração - FGV/EBAPE. 2 Alunos do curso de Administração da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora.

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A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO: UMACONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA MOTIVAÇÃO

Victor Cláudio Paradela Ferreira 1

Ary Ferreira dos Santos Júnior 2

Raquel Campanate de Azevedo 2

Graziella Valverde 2

A criação de condições que favoreçam a motivação para o trabalho representa um desafio para osgestores contemporâneos. A importância dos investimentos nessa área cresceu nas últimas déca-das, diante das características assumidas pelas organizações contemporâneas e dos requisitos dedesempenho profissional delas resultantes: criatividade, iniciativa, resolutividade e capacidade deadaptação, dentre outros. Dificilmente uma pessoa desmotivada poderia desempenhar bem suasfunções dentro desses parâmetros. A despeito de sua importância, o estudo da motivação tem serevelado um complexo desafio, conseqüência da complexidade do próprio fenômeno. Na tentativade melhor compreender os estímulos que favorecem a motivação para o trabalho, a pesquisarelatada no presente artigo buscou suporte na Teoria das Representações Sociais. Partindo datécnica de evocação de palavras, foi mapeado o Núcleo Central da Representação estudada. Apesquisa aqui relatada demonstra como essa teoria pode ser utilizada, explicando cada etapa desua aplicação e os procedimentos utilizados para obtenção e tratamento dos dados A aplicaçãodessa Teoria revelou-se bastante promissora no estudo do tema em foco, demonstrando ser umaefetiva opção para o desenvolvimento de estudos na área de Gestão de Pessoas.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho pode representar, em muitas si-tuações, uma atividade bastante penosa, queas pessoas cumprem apenas para sobreviver,sem nela obter nenhuma satisfação. Terkel, ci-tado por MOTTA (1986, p. 117), começa o seulivro Working com a seguinte afirmação: “Estelivro, sendo sobre trabalho é, por sua nature-za, sobre violência, tanto ao espírito como aocorpo. É tanto sobre úlceras como sobre aci-dentes (...) É sobretudo (ou abaixo de tudo)sobre humilhações diárias”. O que nos revelaessa afirmação é que muitas pessoas sentem-se desestimuladas com o trabalho que desen-volvem e parecem buscar no mesmo somenteseu sustento financeiro, sua subsistência.

A reversão desse quadro, de desmotivaçãoprofissional, reveste-se atualmente de grandeimportância. Vivemos um momento ímpar nahistória da humanidade. Nunca nossa civiliza-ção passou por mudanças tão profundas emtão curto espaço de tempo. Nos últimos anos,

ingressamos em uma nova era, fruto da revolu-ção da informação. As relações sociais estãosendo completamente modificadas, em seusmais variados aspectos (político, cultural, finan-ceiro, social etc). O advento da sociedade pós-industrial representa uma verdadeira ruptura nosvalores que mantínhamos até algumas décadasatrás (TOFFLER, 1985).

Dentre as diversas mudanças trazidas pelaadoção do modelo pós-industrial de gestão,merecem destaque, no que tange aos impac-tos trazidos para as qualidades requeridas dostrabalhadores, os seguintes (DRUCKER, 1989;HESSELBEIN, GOLDSMITH, e BECKHARD,1997; TACHIZAWA, FERREIRA E FORTUNA,2004; TOFFLER, 1985; VERGARA, 2000):

• Adaptação — Temos observado a ocorrênciade mudanças em ritmo cada vez mais inten-so, tornando rapidamente obsoletos não ape-nas produtos e tecnologias como estratégi-as e modelos de gestão. A capacidade de

1 Coordenador do Curso de Administração, Habilitações em Administração Geral e Comércio Exterior - FaculdadeEstácio de Sá de Juiz de Fora, Doutor em Administração - FGV/EBAPE.2 Alunos do curso de Administração da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora.

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adaptação representa um fator fundamentalpara a sobrevivência das organizações.

• Decisões complexas — Num ambiente em quepredominava a estabilidade, os processosdecisórios gerenciais eram relativamente sim-ples. Bastava ao dirigente aplicar os conheci-mentos adquiridos ao longo de sua carreira,lançar mão de sua experiência, para resolvera maior parte dos problemas. Hoje, com asconstantes mudanças observadas dentro efora das organizações e as indefinições delasdecorrentes, o processo decisório ficou bas-tante mais complexo.

• Visão holística — Ao invés da abordagem frag-mentada das pessoas e fenômenos organi-zacionais que durante décadas dominou a te-oria administrativa e outros ramos da ciência,a visão holística privilegia um enfoque globaldas pessoas e dos fenômenos sociais. Re-descobrindo valores como ética, prazer, ale-gria, comunhão e sua aplicação no dia-a-diapessoal e profissional, o movimento holísticobusca o resgate do equilíbrio interno do serhumano e sua harmonia com os semelhantese a natureza.

• Gestão participativa — A participação repre-senta uma das mais eficazes estratégias paracomprometer os empregados com as metasorganizacionais e reduzir as resistências aosprocessos de mudança que constantementeprecisam ser implementados. Além disso,sabe-se que ninguém melhor para conheceros detalhes de cada operação produtiva e osaspectos que precisam ser considerados nosprocessos de tomada de decisão do queaqueles que estão diretamente envolvidos naexecução, que estão “com a mão na massa”,como se diz popularmente.

• Valorização da iniciativa e do espírito empre-endedor — A dissociação entre o pensar e oexecutar que caracteriza a abordagem clássi-ca da Administração está totalmente inade-quada aos requisitos das organizações con-temporâneas. No modelo superindustrial é es-sencial que todos os membros da organiza-ção pensem, criem, descubram novas solu-ções para os problemas e empreendam es-

forços contínuos pela elevação da eficiência,eficácia e efetividade. As qualidades do em-preendedor, antes relacionadas apenas aosque se tornam empresários, são vistas agoracomo desejáveis também para os funcionári-os, no que tornou-se conhecido comointrapreneur ou empreendedor interno.

• Nova visão da qualidade — Ao invés de selimitarem à realização de testes de qualidadea posteriori, as organizações estão agora ado-tando uma filosofia de controle de qualidadeintegrado aos processos e junto fornecedo-res/clientes.

A análise das tendências da gestão contem-porânea aqui listadas revela a necessidade deque sejam revistas antigas práticas de gestãode pessoas. No modelo de gestão típico da eraindustrial, era possível fazer com que um traba-lhador mantivesse uma elevada produtividademesmo que não estivesse muito motivado parao seu trabalho. Sendo a maior parte das tare-fas de natureza simples e repetitiva, bastava queos operários fossem adestrados e rigorosa-mente supervisionados. Na era pós-industrial,no entanto, somente serão de fato produtivosos trabalhadores que estiverem se sentindomotivados. Caso contrário, como poderão seradaptativos, tomar decisões complexas, ado-tar uma visão holística, envolver-se em proces-sos participativos, ter iniciativa e espírito em-preendedor e manter um compromisso efetivocom a qualidade?

As pesquisas sobre motivação para o traba-lho podem auxiliar na busca de arranjos orga-nizacionais que favoreçam a criação de condi-ções propícias à motivação. Foi partindo dessapremissa que foi desenvolvida a pesquisa rela-tada no presente artigo.

Para buscar um melhor entendimento sobreo processo que leva o indivíduo a se motivarpara o trabalho, a pesquisa cujos resultados sãoaqui apresentados buscou suporte na Teoriadas Representações Sociais, de Serge Moscovici.Foi aplicado um questionário em um grupo detrabalhadores no qual procurou-se identificarqual a representação social de trabalho por elesmantida.

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O artigo está composto de três seções alémdesta introdução. Na segunda, explicita-se oque é a teoria das representações sociais. Naterceira, apresentam-se os procedimentos me-

todológicos adotados e os resultados estatís-ticos alcançados. Na última, apresentam-se al-gumas conclusões a que o estudo permitiu che-gar.

2. Teoria das Representações Sociais

A teoria das representações sociais foi for-mulada por Serge Moscovici no final dos anos1950, sendo difundida a partir da publicação,em 1961, de seu estudo LaPsychanalyse: Sonimage et son public (MOSCOVICI, 1961), quemarcou o estabelecimento de uma percepçãoinovadora a respeito da integração entre os fe-nômenos perceptivos individuais e sociais. Ini-cialmente empregada em estudos psicossoci-ais, essa abordagem tem sido utilizada em di-versos outros ramos do saber.

As teorias existentes até a publicação do tra-balho seminal de Moscovici estabeleciam umadistinção entre dois níveis de fenômenos: o in-dividual e o coletivo. Durkhein, por exemplo,adotou em suas proposições teóricas a distin-ção entre o estudo das representações indivi-duais, que estaria no domínio da Psicologia, eodas representações coletivas, do domínio daSociologia. Freud, por sua vez, desenvolveu umacrítica psicanalítica da cultura e da sociedadeao mesmo tempo em que tratava o indivíduoclinicamente (FARR, 2002).

Por trás dessa separação em dois níveis, re-velava-se uma crença mantida por esses e ou-tros teóricos de que as leis que explicavam osfenômenos coletivos eram distintas daquelasque podiam ser aplicadas à compreensão dosfenômenos no nível individual. Embora tenha seapoiado nas teorias de Durkhein, Moscovicisuperou a dicotomia entre os níveis individual ecoletivo de representações, integrando-os emsua proposição teórica. A contribuição deMoscovici representou, portanto, uma nova for-ma de entendimento das relações, em termosde construção de significados, dos indivíduoscom a sociedade (FARR, 2002; GOMES, SÁ EOLIVEIRA, 2003; MINAYO, 2002).

Uma representação pode ser definida comoum conjunto de fenômenos perceptivos, ima-gens, opiniões, crenças e atitudes. O entrela-

çamento dos vínculos entre esses elementospossibilita a atribuição de significados aos pro-cessos sociais e psicológicos. Assim, as repre-sentações sociais são fenômenos complexosque dizem respeito ao processo pelo qual osentido de um dado objeto é estruturado pelosujeito no contexto de suas relações, em umprocesso dinâmico de compreensão e transfor-mação da realidade. As representações soci-ais não são reflexos da realidade e sim constru-ções mentais dos objetos, inseparáveis dasatividades simbólicas dos sujeitos e de sua in-serção na totalidade social. (CARVALHO, 2001;MADEIRA, 2001; MOSCOVICI, 2004).

Funcionam como um sistema de interpreta-ção da realidade que regula as relações dos in-divíduos com seu meio ambiente físico e soci-al, orientando os comportamentos e as práti-cas desses indivíduos. Embora não determineminteiramente as decisões tomadas pelos indiví-duos, elas limitam e orientam o universo de pos-sibilidades colocadas à sua disposição(CRAMER, BRITO E CAPELLE, 2001).

Moscovici advogou que uma das caracterís-ticas intrínsecas à sociedade moderna é o con-flito entre o individual e o coletivo, consideran-do-o realidade fundamental para a vida social.A origem fundamental estaria na tensão entreindividualização e socialização estabelecidaspelas normas sociais. As representações soci-ais favorecem a regulação dessas tensões,contribuindo para a compreensão que cada in-divíduo possui dos fenômenos sociais e auxili-ando na construção desses próprios fenôme-nos (CRAMER, BRITO E CAPELLE, 2001; FARR,2002).

Outra característica das representações so-ciais é que elas possuem um caráter prescritivo,impondo-se sobre os indivíduos como uma es-pécie de “força irresistível”, incorporando estru-turas de pensamento pré-existentes ao próprio

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sujeito. As representações ditam, de certa for-ma, o que deve ser pensado a respeito de umdado objeto (CAVEDON, 1999).

As representações sociais podem ainda servistas como produção cultural de uma determi-nada comunidade, tendo como um dos seusobjetivos resistir à incorporação de conceitos,conhecimentos e atividades que ameacem des-truir sua identidade. Essa função de resistênciapossibilita a manutenção da heterogeneidadeno mundo simbólico de contextos inter-grupais,permitindo às diferentes subculturas a manu-tenção de sua autonomia, resistindo às inova-ções simbólicas que não tenham sido por elasproduzidas. Essa resistência não impede, noentanto, a evolução da representação, com aincorporação de inovações. O que ocorre é queesse processo passa por um controle maiscriterioso. As novas idéias podem ser assimila-das às já existentes, neutralizando-se, assim, aameaça que elas representam. Tanto a novaidéia quanto o sistema que a hospeda sofremmodificações nesse processo de incorporação(BAUER, 2002).

A teoria das representações sociais revela-se útil na busca de uma melhor compreensãodas práticas coletivas. Por meio do conhecimen-

to de uma representação social torna-se possí-vel um entendimento mais adequado dos pro-cessos de constituição simbólica encontradosna sociedade, onde indivíduos se engajam paradar sentido ao mundo e nele construir sua iden-tidade social (GOMES, SÁ e OLIVEIRA, 2003;JOVCHELOVITCH, 1995).

As características aqui destacadas sinalizamque uma representação social não provém deprocessos racionais de prospecção da realida-de. Não se trata de idéias diretamente relacio-nadas a informações concretas que se tem arespeito de um dado fenômeno. Com isso, sãomenos suscetíveis a mudanças provocadas pordebates de idéias ou mesmo por novas vivênci-as. A percepção da realidade manifesta na re-presentação encontra-se, em geral, solidamen-te alicerçada no indivíduo que a possui e servede parâmetro para a forma pela qual ele vai serelacionar com o objeto de sua representação.Essa característica reforça, portanto, a valida-de do estudo de representações sociais quan-do se deseja entender a forma pela qual a so-ciedade tem se relacionado com determinadosfenômenos sociais, como é o caso das ONGs,objeto da pesquisa aqui apresentada.

O núcleo central e o sistema periférico da representação social

As representações sociais não são neces-sariamente consensuais. O sentido atribuído aum dado objeto e o próprio processo de atri-buição são construções psicossociais que in-tegram a história pessoal de cada indivíduo como resultado de suas interações grupais. Paraauxiliar na identificação da parte mais importantede uma representação social, dos valores epercepções que são compartilhados com maisclareza e coesão pelo grupo investigado, pode-se trabalhar com o chamado núcleo central darepresentação social.

Jean-Claude Abric propôs, em 1976, a teoriado núcleo central, apresentada como comple-mentar à teoria das representações sociais. Aopropor essa teoria, Abric entendeu que “a or-ganização de uma representação apresentauma característica particular: não apenas oselementos da representação são hierarquiza-

dos, mas além disso toda representação é or-ganizada em torno de um núcleo central, cons-tituído de um ou de alguns elementos que dãoà representação o seu significado” (ABRICapud SÁ, 2002, p. 62).

O núcleo central é constituído pelas signifi-cações fundamentais da representação, aque-las que lhe atribuem identidade. Quando o nú-cleo central passa por transformações, cria-seuma nova identidade. Considera-se tambémnessa teoria a existência do chamado “sistemaperiférico”, que abriga as diferenças de percep-ção entre os indivíduos envolvidos na pesqui-sa, suportando a heterogeneidade do grupo eacomodando as contradições trazidas pelocontexto mais imediato (MADEIRA, 2001;MAZZOTTI, 2001).

Os valores que constituem o núcleo centralde uma representação social são aqueles que,

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em geral, o sujeito não tem consciência ou nãoexplicita, mas que direcionam a sua ação e de-finem seu comportamento. Representam o queé “inegociável”, a essência da representaçãosocial, constituída pela memória coletiva do gru-po e suas normas. Possuindo uma funçãoconsensual que visa à homogeneidade do gru-po, o núcleo central caracteriza-se por ser está-vel, coerente, resistente à mudança. Sua princi-pal função é garantir a permanência da repre-sentação. Também se caracteriza por ser decerta forma independente do contexto social ematerial imediato, ou seja, não é significativa-mente influenciável pelos fatos mais recentes.O núcleo central é, portanto, decisivo na inflexãoque o sentido de um dado objeto assume paraum grupo em um dado contexto histórico e cul-tural (MADEIRA, 2001; SÁ, 2002).

Considera-se que a estrutura de uma repre-sentação social é alterada quando são adicio-nados ou suprimidos elementos do seu núcleocentral. As mudanças ocorridas no núcleo cen-tral implicam, portanto, mudanças na própriarepresentação social. Tais mudanças costumamser pouco freqüentes e geralmente estão res-tritas à ocorrência de eventos muito significati-vos, que levem o sujeito a rever seus valores,expectativas e conceitos de forma radical. Umexemplo de evento desse tipo foi o conjunto de

atentados terroristas sofridos pelos EstadosUnidos em 11 de setembro de 2001. A partirdesse acontecimento, provavelmente mudou onúcleo central e, portanto, a representação so-cial da sociedade norte-americana a respeito dediversos objetos relacionados à política inter-nacional, alterando, conseqüentemente, as co-municações e condutas daquele povo em rela-ção a tais objetos. Eventos tão significativos eimpactantes assim são, todavia, bastante raros,tornando pouco comum esse tipo de mudança.

O sistema periférico representa uma partedistinta da representação social, estando com-posto dos elementos que se posicionam emvolta do núcleo central, não constituindo, assim,valores “inegociáveis”. Ao contrário, nele estãoacomodados os conceitos, percepções e valo-res que o indivíduo até admite rever, negociar.Pode até mesmo ser visto como uma forma dedefesa do núcleo central, permitindo o intercâm-bio com outros grupos. Propicia, assim, a evo-lução da representação social, sem chegar amudá-la (MADEIRA, 2001; SÁ, 2002).

Na pesquisa aqui relatada, o interesse bási-co repousou no conhecimento do núcleo cen-tral da representação estudada e nas conclu-sões a que se pôde chegar, visando à compre-ensão do fenômeno da motivação para o tra-balho.

3. Procedimentos Metodológicos

A seleção dos sujeitos que compuseram aamostra utilizada na pesquisa foi efetuada pelocritério de acessibilidade, sendo acionada a redede relacionamentos dos pesquisadores Foramconsultadas no total 96 pessoas, sendo condi-ções para participação na amostra, estar tra-balhando há, no mínimo. A adoção desse crité-rio de seleção deveu-se à suposição de que avisão dos desempregados estaria influenciadafortemente por sua situação.

Para o levantamento dos possíveis elemen-tos que compõem o núcleo central da repre-sentação social estudada foi utilizada a técnicadenominada evocação de palavras. Os proce-dimentos estão descritos a seguir.

Foi utilizado um questionário, no qual, sem

precisar identificar-se, cada pessoa deveria res-ponder algumas questões de caracterização deperfil: sexo, tempo e área de trabalho, naturezado trabalho (operacional, administrativo ougerencial) e nível de escolaridade. Em seguida,os sujeitos foram convidados a escrever asquatro primeiras palavras que lhe vinham à men-te a partir da expressão “trabalho”. Esta foi,portanto, a palavra indutora do método. Ospesquisadores explicaram que a resposta de-veria ser a mais espontânea possível, devendoos entrevistados procurar não elaborar racio-nalmente o que iriam expressar, deixando fluiras idéias mais imediatas que tivessem. Comoexemplo, foi citada a técnica conhecida como“tempestade de idéias”, na qual, da mesma for-

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ma, os participantes são estimulados a respon-der de forma livre, sem pensar detidamentesobre o que vão dizer.

Após relacionarem as quatro palavras, os res-pondentes deveriam coloca-las em ordem de im-portância, atribuindo “1” para aquela que fosse,na sua percepção, mais relevante para o entendi-mento do conceito de “trabalho”, “2” para a se-gunda mais importante e assim sucessivamente.

Depois, foram apresentadas quatorze fato-res que podem contribuir para a motivação parao trabalho, solicitando-se que fossem marca-dos os cinco mais importantes, em ordem deimportância, numerando-os de 1 a 5. Tais fato-res foram selecionados da seguinte forma: An-tes dessa etapa da pesquisa, foi selecionadoum grupo de pessoas, utilizando-se os mesmoscritérios anteriormente relatados. A esse grupoinicial foi pedido que escrevessem em um pa-pel quais os fatores que, na sua percepção,poderiam contribuir para a motivação para otrabalho. Nessa etapa não forma oferecidasopções prévias. Após a categorização das res-

postas, reunindo-se as expressões semelhan-tes, foram selecionadas as que apareceramcom maior freqüência, resultando nas quatorzeutilizadas no questionário.

Do total de 96 pessoas que participaram, 20não conseguiram traduzir em palavra ou expres-sões simples a percepção que tinham sobre otrabalho, preferindo pular a evocação e apenasposicionar-se em relação aos possíveis fatoresmotivacionais apresentados.

Algumas pessoas lembraram-se de menosdo que quatro palavras, sendo aceita essa pos-sibilidade sem restrições por não haver prejuí-zos aparentes ao tratamento estatístico a queas respostas seriam submetidas. Houve tam-bém respondentes que escreveram mais do quequatro palavras, sendo consideradas, nessescasos, apenas as quatro primeiras. Houve, ain-da, pessoas que escreveram as palavras masnão as colocaram em ordem de importância.Nesses casos, os pesquisadores considerarama ordem de citação como sendo a ordem deimportância.

Tratamento das palavras evocadas

O tratamento dos dados segundo a técnicade associação ou evocação livre obedeceu aosseguintes passos: (a) categorização das pala-vras; (b) cálculo de freqüência das categorias;(c) cálculo da ordem média de evocação. Osresultados são apresentados a seguir.

A primeira operação referente ao tratamen-to dos dados levantados foi a categorizaçãodas palavras citadas pelos sujeitos. Foram, as-sim, agrupadas em categorias as expressõessimilares, de modo a evitar que variantes de umamesma evocação, com conteúdo semânticoequivalente, fossem consideradas como distin-tas, o que prejudicaria a aferição da importân-cia da idéia expressa na constituição da repre-

sentação.

Foram desconsideradas as palavras que apa-receram uma única vez e que não possuíam si-milaridade com nenhuma outra expressa. Essaspalavras não foram, portanto, consideradas natabulação, mesmo porque jamais seriamindicadas para constituir o núcleo central, dadaa freqüência insignificante com que aparece-ram. A desconsideração das expressões comfreqüência unitária respalda-se, também, no ar-gumento de que uma representação só é soci-al quando um conjunto de sujeitos a comparti-lha (MÖLLER, 1996).

A Tabela 1 apresenta um resumo dos núme-ros envolvidos na etapa em foco:

Tabela 1 — Números da evocação de palavras

Procedeu-se, a seguir, o cálculo da freqüên-cia de ocorrência das categorias, representada

pelo número de vezes em que ela foi citada pe-los sujeitos e o cálculo da ordem média de evo-

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cação (OME), que considera a posição em quea expressão evocada foi hierarquizada pelo en-trevistado. Nos casos em que um mesmo sujeitocitou duas ou mais palavras agrupadas na mes-ma categoria, foram desconsideradas as que re-ceberam menor importância na ordem hierárqui-ca por ele estabelecida. Em conseqüência, foi re-vista a ordem atribuída às demais expressões.

O número de vezes em que cada termo foievocado e citado como o mais importante foimultiplicado por 1. A freqüência das citaçõesem segundo lugar na hierarquização foi multi-plicada por 2, a de terceiro lugar por 3 e a de

quarto lugar por 4. A OME corresponde à mé-dia aritmética desses produtos. O que a OMEindica, portanto, é o grau de importância atribu-ído a cada expressão, que pode variar, no casode serem pedidas quatro palavras, de 1,0 a 4,0.Se algum termo aparecesse em 100% das evo-cações como o mais importante, a sua OMEseria igual a 1,0. Caso, ao contrário, apareces-se sempre como a menos relevante, sua OMEseria 4,0.

A Tabela 2 apresenta um exemplo que de-monstra como se deu o cálculo da freqüência eda OME:

Tabela 2 — Exemplo de cálculo de freqüência e OME

O resultado dos cálculos da freqüência e da OME de cada categoria, está exposto na Tabela 3:

Tabela 3 — Freqüência e ordem média de evocação das categorias submetidas à análise

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A partir do exame conjugado da freqüênciae da ordem média de evocação de cada cate-goria, foram levantados os elementos supos-tamente pertencentes ao núcleo central da re-presentação social. Para tanto, as categoriasforam agrupadas nos seguintes quadrantes:· superior esquerdo – as que tiveram freqüên-

cia maior e OME menor do que média· superior direito – as que tiveram freqüência

maior e OME maior do que média· inferior direito – as que tiveram freqüência

menor e OME maior do que média· inferior direito – as que tiveram freqüência

menor e OME menor do que média

O resultado desse agrupamento está apre-sentado na Figura 1, na qual estão apontadosos componentes do Núcleo Central (quadrantesuperior esquerdo) e do sistema periférico(quadrante inferior direito).

São consideradas componentes do núcleocentral da representação, as categorias locali-zadas no quadrante superior esquerdo. A im-portância dessas expressões para os sujeitosentrevistados reflete-se no elevado número devezes em que foram evocadas, resultando emuma freqüência maior do que a média, e no altograu de importância atribuído na hierarquização,o que fez com que a OME ficasse menor do

que a média (SÁ, 2002).

As categorias situadas no quadrante inferiordireito são consideradas componentes do cha-mado sistema periférico, no qual estão os as-pectos menos rígidos da representação socialestudada. São idéias que, embora sejam asso-ciadas pelos sujeitos ao conceito de ONG, nãosão consideradas como essenciais para o en-tendimento desse conceito, sendo mais facil-mente modificáveis (MADEIRA, 2001; SÁ, 2002).

Os elementos dos quadrantes restantes, su-perior direito e inferior esquerdo, possibilitamuma interpretação menos direta, uma vez quetratam de cognições que, apesar de não esta-rem compondo o núcleo central, mantêm comele uma relação de proximidade (TURA, 1997).

Na pesquisa em tela, trabalhou-se com focoprivilegiado no Núcleo Central, considerando-seque nele estão as expressões mais fortementeassociadas à representação social estudada.Assim, é nas categorias que compõem essequadrante que estão concentrados os comentá-rios apresentados na conclusão do presente arti-go. Em outros trabalhos poderia ser buscada, tam-bém, a interpretação do sistema periférico, o qualapresenta uma contribuição potencial à compre-ensão de parte do fenômeno investigado.

Figura 1 — Agrupamento em quadrantes das categorias submetidas à análise

Obs: O número entre parênteses indica a freqüência com que o termo foi evocado pelo con-junto dos sujeitos.

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Tratamento dos dados da segunda parte do questionário

Conforme anteriormente exposto, foramapresentadas, na segunda parte do questioná-rio, quatorze proposições sobre fatores quepoderiam contribuir para a motivação para otrabalho. O tratamento estatístico empregadofoi o seguinte: cada marcação em 1º lugar foimultiplicada por 5, em 2º lugar por 4 e assimaté o 5º lugar, multiplicado por 1. No caso hipo-

tético de uma mesma opção ser marcada comomais importante por todos os respondentes (77pessoas), ela alcançaria 385 pontos (77 multi-plicado por 5). Esse número (385), foi conside-rado como o valor máximo, calculando-se opercentual de cada opção comparando-se como mesmo.

Tabela 4 — Exemplo de cálculo de percentual de importância

Aplicando-se esse mesmo tratamento às demais opções oferecidas, chegou-se aos resulta-dos expostos na tabela 5:

Tabela 5 — Percentual de importância atribuída a cada possível fator motivacional

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4. Conclusões

A pesquisa teve como objetivo primordialverificar a possibilidade de contribuição da teo-ria das representações sociais para o estudoda motivação para o trabalho. Não se tratou deum estudo com uma amostra ampla o suficien-te e estratificada de tal modo que seja possívela extrapolação dos resultados alcançados paraa população em geral ou mesmo parte deter-minada da mesma. Os resultados demonstramtão somente, portanto, a percepção das pes-soas que participaram do levantamento realiza-do, através do preenchimento do questionário.Feita essa ressalva, podem ser apontadas asconclusões a seguir.

O núcleo central da representação socialestudada está constituído por um conjunto dediversas idéias de conotação positiva: satisfa-ção, segurança, crescimento, qualidade e dig-nidade e outras de conotação neutra, nem po-sitiva nem negativa: remuneração, responsabi-lidade e compromisso. Essa constatação reve-la que a idéia de trabalho como fonte de pro-blemas, como opressão, não é compartilhadapelos respondentes.

Seria remuneração é ou não uma fonte demotivação ou apenas um fator higiênico,comodefende Frederick Herzberg? Dadas as limita-ções expostas no início das conclusões, ficaclaro que seria inadequada uma resposta à essapolêmica com base apenas nos resultados des-ta pesquisa. É fato, no entanto, que, para o gru-po pesquisado, a remuneração está intimamen-te ligada ao conceito de trabalho.

Essa foi a expressão que alcançou a maiselevada freqüência de citação, sendo lembradapor 24 participantes. Em relação à Ordem Mé-dia de Evocação – OME, no entanto, a palavramais relevante foi compromisso, que alcançouo valor mais reduzido – 1,73. Pode-se afirmar,em conseqüência, que embora esteja intrinse-camente ligada ao trabalho, a remuneração nãoé, para a maioria dos participantes, a idéia maisforte da representação social. Dentre os queapontaram essa expressão, 59 % não a colo-caram em primeiro lugar no momento dahierarquização.

Na segunda parte do questionário, quando

foram apresentadas opções prévias de possí-veis fatores motivacionais, confirmou-se a im-portância atribuída à remuneração, ficando oitem “remuneração adequada” com o mais ele-vado percentual de importância relativa: 46%.

Responsabilidade foi outra expressão demarcante presença no núcleo central da repre-sentação social, com uma elevada freqüênciade citação (16) e uma OME reduzida (1,81). Parao grupo entrevistado, portanto, a idéia de tra-balho está fortemente associada a uma respon-sabilidade, seja consigo mesmo, com a empre-sa, a família ou a sociedade. Um melhor enten-dimento dessa relação dependeria, no entanto,de uma pesquisa complementar, utilizando-seentrevistas em profundidade ou outra técnicade pesquisa qualitativa.

Satisfação revelou-se igualmente muito im-portante na composição do núcleo central, comfreqüência elevada e OME reduzida. Para o gru-po estudado, portanto, o trabalho não é ape-nas uma fonte de sustento e um compromis-so. Espera-se que ele seja também um meio desatisfação. Fica, no entanto, uma questão que,a exemplo da apontada no parágrafo anterior,precisaria ser trabalhada em uma pesquisa com-plementar: que tipo de satisfação se busca?Das aspirações pessoais? Das necessidadesde sobrevivência? A polissemia desse termoprejudica, portanto, conclusões mais aprofun-dadas.

Segurança foi outro termo que compôs onúcleo central, conforme anteriormente expos-to, e também teve uma freqüência elevada. Emuma ambiência marcada pelo desemprego epela incerteza no futuro, a segurança parececrescer em importância. Essa conclusão éfortalecida pelo elevado percentual de importân-cia atribuída à opção estabilidade no empregona segunda parte do questionário, uma vez queficou em terceiro lugar dentre as 14 sentençasapresentadas.

Crescimento foi outra categoria encontradano núcleo central, estando, portanto, intimamen-te relacionada à representação social estuda-da. Observou-se, no entanto, que na segundaparte do questionário, as expressões que po-

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deriam ser associadas a essa categoria – “aqui-sição de novos conhecimentos e oferecimentode treinamentos” e “oportunidade de fazer car-reira na organização” alcançaram uma posiçãomodesta na relação das sentenças oferecidaspara marcação: 8º e 9º lugar, respectivamente,em um universo de 14 possibilidades. Em coe-rência com esse fato, tem-se a OME da expres-são crescimento como relativamente alta paraos padrões do núcleo central. A OME em ques-tão – 2,15, ficou bem próxima ao ponto de cor-te, a partir do qual a palavra não mais comporiao núcleo central, que foi de 2,24. A conclusãoque pode ser tirada é que o crescimento é im-portante mais não está entre as principais aspi-rações dos participantes.

Mais uma vez deve ser ressalvada a limita-ção da amostra e a inadequação da extrapola-ção dos resultados. É possível que com outrossujeitos, de perfil diferente, fosse dada umamaior importância a esse item. No conjunto depessoas que participaram da pesquisa, apenas13,5% estão cursando faculdade e 9,4% pos-suem curso superior completo. A reduzida es-colaridade da expressiva maioria dos respon-dentes pode explicar, portanto, a relativamentebaixa importância atribuída à possibilidade decrescimento.

Qualidade foi outra categoria encontrada nonúcleo central, indicando associação entre aidéia de trabalho e a manutenção de padrõeselevados de qualidade. Os números alcançadosna freqüência de citação e na OME ficaram, noentanto, bem próximos ao ponto de corte. Asexpressões que poderiam ser a ela associadas,apresentadas na segunda parte do questioná-rio, também tiveram baixo percentual, ficandoentre as últimas colocadas. Enquadram-se nes-se caso, “trabalho interessante e desafiador”,que alcançou 11%; “boa imagem da organiza-ção junto à comunidade”, com 8% e “trabalhofocado em metas e planos claros”, com 3%.

Outra palavra que compôs o núcleo centralfoi dignidade. A freqüência foi a mais reduzidaentre as expressões desse quadrante. A OME,porém, foi a segunda mais reduzida, indicando

a elevada importância atribuída a essa expres-são pelos respondentes. Infelizmente, não foioferecida na segunda parte nenhuma opção quepudesse ser associada à essa idéia, o que im-possibilitou uma melhor compreensão de suamanifestação na pesquisa. Parece lógico, noentanto, que o trabalho seja associado à idéiade dignidade pessoal, em um contexto ondetantas pessoas estão desempregadas, sentin-do-se, em conseqüência, atingidas em seu or-gulho próprio e sua dignidade.

Dentre as categorias que ficaram fora donúcleo central merece ser destacada “relacio-namento”. Essa categoria alcançou uma fre-qüência bastante elevada, sendo inferior ape-nas à da categoria remuneração. O que deter-minou a sua não inclusão no núcleo central foi aOME acima da média. Observa-se, no entanto,que foi mínima, quase desprezível, a diferençaentre a OME média e a alcançada por relacio-namento – 2,24 contra 2,25. Essa expressãopode ser considerada, portanto, como intima-mente relacionada ao conceito de trabalho. Asegunda parte do questionário confirma a im-portância dessa categoria, uma vez que ‘bomrelacionamento interpessoal na organização”ficou em 7º lugar dentre as opções oferecidasaos participantes. Esse resultado confirma osdiversos estudos realizados por teóricos daAdministração desde a conhecida Experiênciade Hawthorne, que demonstraram a relevânciada manutenção de um bom ambiente de traba-lho e da facilitação do relacionamentointerpessoal positivo para a motivação e o com-prometimento dos funcionários.

Pode-se concluir, por fim, que a Teoria dasRepresentações Sociais apresenta um excelen-te potencial de contribuição para o estudo daAdministração, em especial na área de Gestãode Pessoas. A despeito das limitações daamostra adotada, anteriormente destacadas,foi possível verificar-se no presente artigo comoessa teoria pode ser aplicada para a melhorcompreensão de um fenômeno administrativoda importância da motivação para o trabalho.

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