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Universidade Federal de Campina Grande
Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1
ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765
A RETEXTUALIZAÇÃO E OS GÊNEROS TEXTUAIS ORAIS E ESCRITOS: UMA ANÁLISE NO LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO
MÉDIO
Leidy Ana Tavares de Oliveira (UFRN)1 Kelly Cristiane de Oliveira (UFRN)2
Francimeire Cesário de Oliveira Queirós (SEEC-RN)3
Resumo
O presente trabalho trata da produção de textos direcionada para o processo de retextualização com gêneros orais e escritos, tendo em vista que sua prática contribui para desenvolver o nível de compreensão dos recursos da língua. Esse processo envolve operações que implicam tanto na materialidade linguística como colabora para uma noção de leitura e escrita de forma mais proficiente. Buscamos discorrer sobre o conceito de retextualização e seus conceitos relacionados, bem como sobre sua inter-relação com os gêneros textuais orais e escritos, assim nos pautamos a respeito das implicações desse processo de produção textual em sala de aula, que julgamos uma atividade produtiva, uma vez que desenvolve nos nossos educandos a prática da leitura e da escrita sob um viés de um leitor analítico e de um autor crítico. Como suporte teórico, nos baseamos principalmente em Marcuschi (2010), Dell’Isola, (2007), PCN (BRASIL, 2001), entre outros. Analisamos quantitativamente e qualitativamente os livros do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, enfatizando os espaços que cada um traz para o processo de produção textual e dentro deste qual a importância dada ao processo de retextualização. Entre os vários gêneros abordados escolhemos uma amostra de produção textual proposta no livro didático do segundo ano, mesa redonda, um gênero que se realiza na materialidade sonora, mas que exige um respaldo escrito. Em suma, podemos dizer que o conceito de retextualização ainda
1 Aluna do curso de Letras a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(EAD/UFRN/SEDIS), polo presencial de Marcelino Vieira-RN, Rio Grande do Norte, Brasil; [email protected] 2 Aluna do Curso de Letras a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(EAD/UFRN/SEDIS), polo presencial de Marcelino Vieira-RN, Rio Grande do Norte, Brasil; [email protected] 3 Profª Ms. da Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC-RN) e da Secretaria de
Educação de Marcelino Vieira-RN (SEC-Marcelino Vieira-RN); Tutora do Polo Presencial do Curso de Letras EAD/UFRN/SEDIS. Marcelino Vieira-RN, Brasil; [email protected]
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não se encontra explicitamente nos livros didáticos mais sua prática sim, embora com algumas ressalvas.
Palavras-chave: Retextualização. Gêneros Textuais Orais e Escritos. Produção de texto.
Introdução
Nos últimos anos a preocupação em formar leitores e escritores competentes
só aumenta, mas infelizmente a atual realidade, apesar de alguns bons resultados,
ainda está longe de atingir as metas esperadas, demonstrando o quanto os nossos
alunos estão despreparados em termo de leitura, escrita e produção textual. Essa
preocupação não é de hoje, pois os PCNs (BRASIL, 2001 p. 65) já nos diziam que “um
escritor competente é alguém que, ao produzir um discurso, conhecendo
possibilidades que estão posta culturalmente, sabe selecionar o gênero no qual seu
discurso se realizará escolhendo aquele que for apropriado a seu objetivo”.
Infelizmente, o setor educacional brasileiro vivencia um momento de certa ineficácia,
que reflete diretamente na sala de aula, nas propostas de ensino e nos procedimentos
didáticos, então o que é apontado nos PCNs ficou apenas no campo teórico.
Dessa forma, este trabalho busca direcionar um olhar para a atividade com a
produção de texto, voltando-se para o processo de retextualização de gêneros orais e
escritos, pois de acordo com Marcuschi (2010, p.48): “As atividades de retextualização
são rotinas usuais altamente automatizadas, mas não mecânica, que se apresentam
como ações aparentemente não problemáticas”. A retextualização faz parte de
eventos diários em nossas vidas, mas em sala de aula ela deve ser trabalhada de forma
sistematizada, envolvendo aspectos linguísticos discursivos, nos quais trarão para os
nossos alunos uma nova noção de leitura e escrita de forma mais proficiência.
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Retextualização: o que é e o que não é
A retextualização é uma das maneiras de analisar o grau de consciência dos
usos da língua a respeito das diferenças entre fala e escrita observando a própria
atividade de transformação, uma vez que, não é um processo mecânico, já que a
passagem da fala para a escrita não se dá naturalmente, envolve operações complexas
que interferem tanto na materialidade linguística como no sentido. Entretanto, o
processo de retextualização, não acontece apenas na passagem da fala para a escrita,
ocorre de outras maneiras, como nos mostra Marcuschi (2010, p. 48) existem quatro
combinações, que estão representadas no quadro a seguir.
Quando observada as possibilidades de retextualização percebe-se que em (1)
a fala é passada para a escrita, permanecendo o mesmo gênero; em (2) a
retextualização não muda de ordem, ela continua no campo da oralidade; em (3) a
escrita é oralizada, podendo haver mudanças até em seu gênero textual, já que nas
exposições orais costuma-se acrescentar ou modificar o texto base; já em (4)
permanece na mesma ordem, escrita, só que há mudanças quanto ao gênero textual,
pois o resumo escrito é um tipo de gênero que precisa de um texto base para ser
elaborado e em sua maioria o texto principal tem o seu tipo textual diferente.
Em Dell’Isola (2007), a retextualização está mais no nível da modalidade
textual, em que podemos tanto refazer como reescrever um texto transformando
noutro. A autora envolve em seu conceito outros como “refacção” e “reescritura” e
estes, segundo suas definições, são processos inerentes a retextualização. Ainda
Possibilidades de retextualização
(1) Fala – Escrita (entrevista oral – entrevista impressa)
(2) Fala – Fala (Conferência – tradução simultânea)
(3) Escrita – Fala (texto escrito – exposição oral)
(4) Escrita – Escrita (texto escrito – resumo escrito)
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defende que diferentes gêneros são envolvidos. E isso é similar ao que Marcuschi
expõe, embora este esclareça os conceitos como atividades distintas.
Para Dell’Isola (2007), o processo de retextualização implica em algumas etapas
como: a leitura; a compreensão; a identificação do gênero; a produção textual que
resulta na retextualização, ou seja, produzir a partir de um texto; a conferência, que é
a análise da relação ente o texto produzido e o texto lido; a caracterização do gênero
produzido; a reescrita, que deve ser pautada nas duas últimas etapas. De acordo com a
autora, por meio das duas primeiras etapas, que é a leitura e a compreensão, há três
questões pertinentes a serem consideradas: o propósito comunicativo da proposta de
produção de retextualização; as afinidades tipológicas entre os gêneros envolvidos na
proposta e a constituição peculiar de cada um dos gêneros (lido/produzido).
Já nos PCNs (BRASIL, 1998), enfatizam-se a refacção, na produção de textos,
defendendo-a como um processo que faz parte da escrita, impulsionando para a
importância desse processo, como de grande relevância para o ensino e aprendizagem
de determinados gêneros. A refacção seria mediada pelo professor e realizada pelos
próprios alunos, ou seja, estes teriam que analisar seus próprios textos, percebendo os
aspectos relacionados a coesão e coerência, parte interno do texto e partindo para o
externo, para a caracterização do gênero e seus aspectos linguísticos e discursivo.
Nesse contexto, a refaccção promove uma profunda reestruturação do texto,
ou melhor dizendo, promove uma retextualização, só que os alunos irão retextualizar
suas próprias produções, implicando também numa reescrita. Em suma, são processos
interligados e interdependentes.
A retextualização e a transcrição podem ser confundidas, sendo que, a
transcrição está ligada a um único processo, a passagem da fala para a escrita, ou
como define Marcuschi (2010, p. 51):
Transcrever não é uma atividade de metalinguagem, nem é uma atividade de simples interação gráfica do significante sonoro. A transcrição representa uma passagem, uma transcodificação (do sonoro para o grafemático) que já é uma primeira transformação, mas não é ainda uma retextualização.
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Na transcrição o texto oral, passa por uma neutralização, perdendo suas
características extralinguísticas, seu caráter originário e pessoal, sofrendo uma
transcodificação, em que se passa da substância e forma da expressão oral para a
substância e forma da expressão escrita, prezando pela fidelidade do texto-base.
Conforme Silva (2014), A transcrição deve ser o mais fiel possível da fala, o texto
transcrito deve trazer à visibilidade a construção textual falada, com suas pausas,
hesitações e fragmentações. Dessa forma, transcrição é a mudança da materialidade
sonora para a gráfica, sem que sejam realizadas transformações semânticas,
morfológica ou sintática no texto durante esse processo, e assim prezando pela
fidelidade do texto base, mesmo que ocorram algumas perdas, uma vez que alguns
traços da fala podem escapar ao transcritor.
De acordo com Silva (2014), algumas características são próprias do processo
de retextualização:
A transformação de um texto em outro, que acontece quando muda-se o gênero
textual durante o processo de retextualização, esse tipo de mudança é
corriqueira em determinados gêneros, como o resumo, no qual seu texto inicial
pode ser um artigo, um livro ou um conto.
A editoração que é a edição da fala, mas também diz respeito à edição da escrita;
a editoração está relacionada a gramaticalidade, pois essa é uma condição
determinante do que deve ser selecionado na fala, havendo um eliminação nos
traços coloquiais desta, transformando-a em um discurso normalizador,
produzindo fluência sintática no plano textual discursivo.
A multimodalidade que faz parte da retextualização, visto que, a retextualização
não se refere apenas a parte linguística, mas também, a soluções gráficas, como
uma entrevista que será publicada em uma revista. Quando publicada, ela ganha
foto e design gráfico que se adeque ao novo texto, um título, letras grandes em
negrito e outros aspectos que o suporte requer;
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O processo de oralização em que temos a passagem da fala para a escrita e da
escrita para a fala, dessa relação se estabelece um contínuo em que a fala e a
escrita estão interligadas, mas que em determinadas ocasiões podem ser mais
monitoradas ou menos monitoradas, dependendo do grau de formalidade, do
gênero textual abordado;
A compreensão vai além das informações que estão dispostas no texto, esse
processo envolve a identificação das ideias centrais, informações objetivas,
realização de inferências, no sentido de produzir novas informações a partir das
informações prévias, sem ferir o valor de verdade do texto.
A retextualização é um processo complexo em que um texto é criado a partir de
outro, ela tanto infere no sentido do texto, como na sua parte fonológica, morfológica
e sintática, podendo acontecer tanto na passagem do oral para o gráfico, como do
gráfico para o oral, da fala para a fala ou da escrita para a escrita, só que durante esse
processo é preciso cautela para não ferir o valor de verdade do texto base.
A retextualização e os gêneros textuais
A retextualização é uma atividade de produção textual, e esta se relaciona com
a fala/escrita e as características que ambas possuem, formando um contínuo fundado
nos próprios gêneros textuais em que se manifesta o uso da língua escrita ou falada.
Então, ao retextualizar, o retextualizador precisa conhecer as condições de
funcionamento do novo texto e ter habilidades que vão desde o conhecimento sobre o
gênero textual até a sua adequação e situação comunicativa. Entretanto, o ideal seria
que esses conhecimentos fossem sistematizados no ambiente escolar, já que, é na
escola que estão presentes práticas de leitura, escrita e produção de texto. Pois como
afirma Benfica (2012, p. 32):
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[...] o trabalho com a atividade de retextualização em sala de aula não pode negligenciar a função sociocomunicativa do gênero. É importante criar situações para que o aprendiz reflita sobre as regularidades linguísticas, textuais e discursivas dos gêneros envolvidos na prática discursiva. Trata-se, portanto, de realizar um movimento que engloba desde a organização das informações e formulação do texto, a construção dos modos de referência, a construção dos tipos textuais, o esquema global do gênero até aspectos discursivos, que remetem ao evento da interação do qual o texto emerge.
Há uma necessidade de se trabalhar em sala de aula com a diversidade que
envolva os gêneros, já que estes estão presentes em todos os lugares e fazem parte
das situações comunicativas do nosso cotidiano. De acordo com o PCN de língua
portuguesa (BRASIL, 2001, p. 65): “O trabalho com produção de textos tem como
finalidade de formar escritores competentes capazes de produzir textos coerentes,
coesos e eficazes”. Nesse sentido, é notório o trabalho com os gêneros textuais que
está intimamente ligado com a produção textual e consequentemente com a
retextualização, uma vez que, os nossos alunos precisam produzir e saber identificar os
gêneros textuais e essas competências só serão adquiridas com atividades de
produção e de retextualização, pois quando eles retextualizam, ou seja, criam um novo
texto a partir de um texto anterior, eles necessitam distinguir o gênero e saber
adequá-lo a situação de uso.
Ao inserir o aluno em situações reais de produção e utilização da língua,
pensando nela como forma de interação, devemos perceber que ela se materializa em
diversos gêneros e propaga-se em inúmeros suportes, nos quais estão ligados a
intenção comunicativa, ao público alvo e a situação envolvendo produtores e
receptores, ou seja, essa visão estimula os estudantes a perceber os aspectos
discursivos dos gêneros textuais, para depois perceberem os aspectos linguísticos e a
organização textual.
Para Bouzada, Alves Faria e Silva (2013): a atividade de retextualização é
promissora para um trabalho com leitura e produção de texto, pois proporciona a
reflexão sobre o uso de diferentes gêneros, observando a situação de produção e a
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esfera em que eles se constituem e atuam. A retextualização trabalhada a partir dos
gêneros textuais evidencia o funcionamento social da linguagem, levando os alunos a
compreender diversos gêneros e a produzi-los de forma contextualizada e significativa,
em que o texto seja visto como evento comunicativo, uma vez que, este tem um
sentido e uma função no meio social.
Nesse sentido, é necessário considerar que “os gêneros [textuais] cada vez mais
flexíveis no mundo moderno nos diz sobre a natureza social da língua” (BRASIL, 2000,
p. 21, grifo acrescentado). Desse modo, língua elucida as experiências e as visões de
mundo inerente ao homem que, na interação verbal, produz sentidos para as suas
atividades. Assim, é a infinidade de gêneros textuais que materializa essa natureza
social da língua.
Nessa mesma perspectiva Marcuschi (2008, p. 154) diz que: “Quando
denominamos um gênero textual, não denominamos uma forma linguística e sim uma
forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais
particulares.” Os gêneros textuais atuam como forma de regularidade do uso
discursivo, uma vez que, as situações de comunicação são mediadas por estes.
Diante dessa compreensão, gêneros textuais, sejam orais ou escritos, se
complementam e são essenciais aos processos de retextualizações, pois permitem a
ampliação de práticas e usos diversos de manifestações da língua.
Retextualização: leitura, fala e escrita
Não é de hoje a grande preocupação do ensino com o aperfeiçoamento das
habilidades de leitura e escrita, tendo em vista que, a disciplina de língua portuguesa
deve contribuir no incentivo e na ampliação de práticas que levem à superação das
deficiências nessa área, frequentemente constadas pelos professores, o que implica
em baixo rendimento nas provas do ENEM, vestibulares, concursos e no mercado de
trabalho. Matos, Leite e Araújo (2014, p.212):
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Enfatiza-se a importância de se desenvolver uma metodologia que possibilite ao discente diferenciar um texto oral/coloquial de um escrito/formal, garantindo-lhe o acesso ao conhecimento gramatical de uma maneira prática e menos metódica, por meio de retextualizações.
Isso significa que devemos investir num processo de ensino e aprendizagem
que considere mecanismos progressivos sobre o trabalho com os textos que circulam
socialmente, recorrendo a diferentes estratégias que possibilitem esse trabalho.
Acreditamos que as atividades com retextualizações ajudam aos estudantes a
perceberem quando, onde e quais regras gramaticais usar no seu texto, de forma mais
coerente, percebendo que fala e escrita tem suas regras que se completam e em
determinados contextos não atuam tão distintamente (tendo em vista o contínuo
delineado por Marcuschi, 2002), pois em muitas situações o veículo mesmo sendo em
forma escrita se aproxima muito mais da fala, ou mesmo, o veículo sendo oral a
linguagem se aproxima muito mais da escrita.
Nessa linha de pensamento, podemos observar no quadro mais abaixo, que nas
extremidades dos polos a modalidade é mais específica, que vai se diluindo nos
diversos gêneros, ou seja, alguns gêneros textuais focalizam mais uma modalidade do
que outra, o que não quer dizer que a fala e a escrita estejam separadas, pelo
contrário, ambas estão sujeitas a um contínuo, numa relação de dependência, de
acordo com os usos linguístico-enunciativos-discursivos. Vejamos abaixo o quadro do
contínuo fala-escrita proposto por Marcuschi (2001):
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Fonte: http://memoriasalfalinguagama.blogspot.com.br/2008/09/16-encontro-14-de-setembro.html
Portanto, como já vimos acima a fala e a escrita possuem uma relação de
interligação e precisam estar coerentes nas suas situações de uso. Para isso, é
necessário levarmos nossa discussão a um novo tópico que anda intrisicamente
associado aos usos da língua, as variedades linguísticas e a adequação da linguagem.
Por via disso, tanto a escola em seu todo, como, e principalmente, o professor
de língua portuguesa devem sistematizar e orientar o aluno a adequar sua forma de
falar aos diversos ambiente, interlocutores e gêneros textuais. Diante do exposto,
surge a necessidade de se trabalhar a gramática como um novo método, a partir do
processo de retextualização, valorizando e adequando a diversidade de produção
textual dos alunos de todas as idades, sexo, raça e etc.
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Retextualização na oralidade
A atividade de retextualizar é algo complexo que envolve um diálogo entre o
sujeito autor com o produto, portanto, quanto mais intensificar e sistematizar esse
tipo de trabalho, mais rápido o sujeito autor se constituirá numa perspectiva de
produtor, percebendo que todo texto pode ser modificado. Como nos aponta Nicola
(2011, p. 5297): “o sujeito-autor se constitui à medida que adquire essa consciência de
texto como processo, vinculado a condições situadas e autênticas de produção
textual”. Nesse sentido, o sujeito autor passa a adequar e fazer uso de certas regras
que o ajudará na composição de seu texto oral e consequentemente no seu
desempenho linguístico, tendo em vista que, o processo de retextualização envolve
operações complexas que interferem tanto no forma linguística, como no sentido e
tais operações exigiram do retextualizador um olhar mais minucioso sobre o texto
base, conhecimentos sobre o gênero em questão, habilidade e compreensão no
processo de produção e de transformação do texto.
Como nos fala Matos, Leite e Araújo (2014) Ao adequar os textos
orais/coloquiais para o escritos/formais, ou nas situações cotidianas, o discente passa
a desenvolver melhor a sua expressão e ter maiores possibilidades lexicais. Dessa
forma, é percebível uma metodologia voltada para o processo de retextualização de
gêneros orais para o escrito, ou vice-versa, fazendo com que os discentes notem que o
texto oral dependendo do grau de formalidade, se apresenta de forma menos
monitorada e que ao ser retextualizado para a escrita ele precisa ser adequado a
certas formalidades gramaticais, que a fala e a escrita são modalidades distintas, mas
não dicotômicas.
Vale ressaltar que o trabalho com gêneros orais ou escritos, se constitui como
dois modos de organização discursiva, mas fala e escrita formam um contínuo que se
estabelecem entre os gêneros um grau de maior ou menor monitoramento por parte
de seus produtores, seja na materialidade escrita ou sonora, uma vez que, existem
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textos que se materializam na fala mais de constituição escrita e textos que se
constitui na escrita mais com grandes marcas da oralidade.
Em suma, trabalhar a retextualização em sala de aula não é uma tarefa fácil,
mas é essencial, uma vez que essa atividade desenvolverá em nossos educandos a
prática da leitura e da escrita, sob um viés de leitor analítico e de autor crítico, além de
progredirem no campo da escrita.
Análise: descrição dos corpus
O corpus desse trabalho é constituído de uma amostra da coleção de livros
didáticos, Português Linguagens, dos autores Wiliam Roberto Cereja e Thereza Cochar
Magalhães, do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, no qual através de nossas análises
buscando evidenciar nas atividades de produção textual dos livros o trabalho com a
retextualização.
No que cerne a coleção, o livro do primeiro ano é formado por 4 unidades, 37
capítulos, sendo que, 10 capítulos são voltados para a produção textual; o livro do
segundo ano é constituído por 4 unidades, 45 capítulos, tendo 10 capítulos voltados
para a produção de texto; para o terceiro ano temos um livro com 4 unidades, 39
capítulos e 6 capítulos voltados para a produção textual.
Nota-se em toda a coleção em análise, que o trabalho de produção textual
perpassa com o mesmo olhar, no qual vem sobre a perspectiva dos gêneros textuais.
Sobre os respectivos gêneros temos no livro do primeiro ano o trabalho com: poema,
texto teatral, relato pessoal, hipertexto e hiperlink, texto instrucional, resumo,
seminário, debate e dissertação. No segundo ano temos: cartaz e anúncio publicitário,
texto de campanha comunitária, conto, mesa redonda, notícia, entrevista, reportagem,
crítica, editorial e o texto dissertativo. No terceiro ano temos: a crônica, o texto de
divulgação científica, a carta de leitor, as cartas argumentativa de reclamação e de
solicitação, o debate regrado público e o texto dissertativo argumentativo. Todos os
gêneros são trabalhados a partir de outros textos que vem explicando e
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exemplificando-os, com orientações para o planejamento da proposta de produção
textual e também orientações sobre a importância da reescrita.
Observa-se nas propostas de atividades que quase todas trazem embutida a
atividade de retextualização, pois em sua maioria as produções são orientadas a partir
de um texto base. Nota-se também uma perca de espaço das atividades de produção
textuais do 2º ano para o 3º ano, já que os capítulos voltados para a produção,
quantitativamente baixam de 10 para 6. Percebe-se que no terceiro ano os conteúdos
trazem uma ênfase voltada para a literatura, entretanto, temos um contínuo no que se
refere ao trabalho com os gêneros, tendo em vista sua importância no que diz respeito
aos desenvolvimentos linguísticos, comunicativo e social dos educandos.
A coleção, mesmo que de forma implícita, trabalha a retextualização sobre a
ótica dos gêneros textuais, mas é preciso que nossos alunos conheçam
detalhadamente como ocorre esse processo e que o professor perceba a importância
de se retextualizar para um desenvolvimento eficaz com o trabalho da leitura e da
escrita.
Análise de uma amostra
Encontra-se em anexo uma proposta de produção textual do livro do segundo
ano, na qual está sendo proposto o gênero oral mesa redonda com um tema, (os
idosos, ao se aposentarem, devem permanecer no mercado de trabalho ou devem dar
lugar aos mais jovens?). O gênero é abordado a partir das seguintes etapas:
trabalhando o gênero, em que explica a constituição de uma mesa redonda e sua
organização; a proposta de produção do texto; a sugestão de uma coletânea de
informações; um texto informativo, sobre o tema e um fragmento do estatuto do
idoso; o planejamento do texto, com orientações sobre a linguagem que deve ser
usada e alguns questionamentos que podem ajudar no desenvolvimento do tema;
orientação para a revisão e reescrita; a escolha do moderador; a postura dos
participantes, por fim a filmagem e avaliação da mesa redonda.
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A proposta traz um gênero que se realiza oralmente, mas que exige um
respaldo escrito, percebendo-se que a produção deste passa por várias etapas que
constitui e caracteriza o processo de retextualização:
A transformação de um texto em outro, ou seja, para a produção do texto é
preciso respaldo de várias fontes, conhecimentos esses que serão de grande
relevância na hora de argumentar e defender sua opinião. Por isso, a própria
proposta já traz um texto para conhecimento do assunto e mais um trecho do
Estatuto do Idoso. Com isso o aluno ainda pode requerer a outras fontes.
Editoração, uma vez que durante o levantamento de informações deverão ser
eliminados tanto na fala, quanto na escrita traços coloquiais, de modo que o
texto tenha uma adequação linguística e fluência.
Processo de oralização, já que o texto é escrito, entretanto, ele se realiza na
fala.
A compreensão, pois é com base no que foi compreendido durante o
levantamento de dados que será estabelecidos novas ideias, mas sem ferir o
valor de verdade dos textos fontes e a reescrita, que por si só já é uma forma
de retextualização.
Em síntese, mesmo que de forma implícita fica evidente no gênero em questão
o processo de retextualização, que não acontece de forma simples, exigindo do aluno
um grande trabalho de análise tanto de textos de outros referencias, quanto de seu
próprio texto, seja durante a escrita ou depois de pronto, na reescrita.
Considerações Finais
A retextualização é uma atividade que envolve vários processos, sendo
classificada como complexa, contudo, mesmo de forma implícita ela já se encontra nos
livros didáticos do ensino médio, embutida nos trabalhos de produções textuais,
precisando ser ampliada e apresentada de forma criteriosa tanto para os professores,
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quanto para os alunos, pois ao ser compreendida e exercitada como se deve, fica
evidente a sua eficácia, levando os estudantes a compreender textos de forma mais
eficiente e a produzir de forma contextualizada, criativa e significativa. Nesse sentido,
a retextualização acontece no funcionamento da linguagem, na situação cultural,
social, histórica e ideológica e por isso, não pode ficar de fora do processo de ensino
aprendizado.
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