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CLÁUDIO EDUARDO REGIS DE FIGUEIREDO E SILVA

A Revolução Informacional

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Resenha do texto de Jean Lojkine utilizada para debater o processo eletrônico no judiciário e o acesso à justiça. Autor: Cláudio E. R. F. e Silva

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CLÁUDIO EDUARDO REGIS DE FIGUEIREDO E SILVA

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INTRODUÇÃO

O sociólogo francês JEAN LOJKINE analisa a REVOLUÇÃO INFORMACIONAL a partir do marxismo, para lançar uma luz sobre os reflexos das novas tecnologias sobre o modo de produção capitalista, bem como sobre as novas possibilidades que se desvendam na busca de referências teóricas para o século XXI.

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LOJKINE inicia identificando no tempo (final do século XX) uma DOMINAÇÃO MUNDIAL DO CAPITALISMO ao mesmo tempo em que as novas tecnologias põem em questão o MONOPÓLIO DO PENSAMENTO, característico da divisão do trabalho.

Passa a pergunta: é possível uma recomposição de funções na divisão do trabalho, entre os que decidem e os que executam?

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Ilustrando as ENORMES POTENCIALIDADES dessa transformação, define a REVOLUÇÃO INFORMACIONAL como aquele que “nasce da oposição entre a revolução da máquina-ferramenta, fundada na objetivação das funções manuais, e a revolução da automação, baseada na objetivação de certas funções cerebrais desenvolvidas pelo maquinismo industrial” (p. 14).

Diante da capacidade proporcionada pelas novas tecnologias da informação, o problema central consiste em saber “como se organizar para tomar decisões – ou seja, como tratar a informação” (Herbert Simon, 1983).

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Descreve uma crise do modelo americano que vê a informação como mercadoria que “perde valor” ao ser compartilhada, para considerá-la como INVESTIMENTO (cfe. Benjamin e a indústria da comunicação), daí a importância do seu controle!

A obra se divide em três partes:

1ª – avalia a revolução informacional comparada à revolução industrial;

2ª - trata do problema do controle da informação;

3ª - busca analisar as possibilidades da superação da divisão entre produção e informação na organização do trabalho, entre produtores e elaboradores, enfim, entre funções produtivas e improdutivas.

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Pretende “desmascarar o fosso” que divide os ganhadores e os excluídos da modernização tecnológica.

Para discutir os novos problemas surgidos com a informática, é necessário superar velhos conceitos:

● uma revisão crítica do taylorismo-fordismo (MITOS);

● definir a natureza e os tipos de informação tratados pela revolução informacional (aberta e interativa ou fechada e concentrada);

● distinguir a lógica da rentabilidade (MERCADO) da lógica específica do tratamento da informação.

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A revisão dos MITOS MOBILIZADORES da produção começa com definições MICRO-ECONÔMICAS correntes (p. 31):

→ TAYLORISMO: divisão do trabalho em micro-tempos. Cada trabalhador recebe a “atribuição” de produzir o número de peças calculado para a jornada em razão do tempo atribuído para cada tarefa.

→ FORDISMO: os trabalhadores são dispostos numa linha mobilizada por uma cadência fixa (esteira) que impõe o ritmo de trabalho.

Paralelamente, foram desenvolvidas máquinas especializadas, com peças e produtos estandartizados que facilitam a formação dos operários.

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1) divisão de tarefas;

2) separação entre concepção / execução;

3) volume crescente de produto para um mesmo efetivo;

4) controle “’pelo alto” e tempo imposto pela cadeia;

5) regulação de preços e salários pela oferta de massa;

6) direção autoritária: estatismo, burocracia e Estado-providência.

“RIGIDEZ”

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→ KAN-BAN (Niponismo ou Toyotismo)

Sistema adaptado à produção, em séries restritas, de produtos variados.

O trabalhador do posto posterior recolhe, quando necessita, as peças no posto de trabalho antecedente, onde o incremento da fabricação só ocorre para realimentar a produção que é vendida. “FLEXIBILIDADE”.

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Ocorre tanto em relações intra-empresas como inter-empresas (terceirização).

1) polivalência no trabalho horizontal;

2) polifuncionalidade na relação vertical;

3) razão da diminuição de efetivos para uma mesma quantidade de produto;

4) auto-controle do anterior pelo posterior “sob os olhos”;

5) regulação pela demanda diversificada;

6) negociações contratuais descentralizadas com atores “autônomos”. Neoliberalismo e “democracia salarial”.

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A flexibilidade afeta desde a regulação econômica e sociopolítica até a divisão social do trabalho!

Deve-se observar que mesmo existindo grupos semi-autônomos ou “ilhas de montagem”, tais unidades não recebem nenhuma prerrogativa para tomar iniciativas e exercer responsabilidades.

Pelo contrário, “nova maneira de tirar partido da linha de montagem clássica com fluxo contínuo e fracionamento do trabalho” (p. 39).

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Não há TRATAMENTO REFLEXIVO (cfe. Maria Alice Rezende de Carvalho) da informação, apenas um “fracionamento temporal” entre o ritmo de funcionamento das máquinas e do trabalho humano possibilitado pela micro-eletrônica.

As decisões estratégicas escapam completamente aos operadores e até mesmo supervisores intermediários.

Mais que paradoxos: ao mesmo tempo cria funcionários altamente qualificados com garantia de emprego vitalício (os “colarinhos azuis” – a burocracia), flexibiliza e precariza a mão de obra, permitindo a contratação temporária apenas quando necessário, tornando a grande massa de operários descartáveis (os “replicantes” em Blade Runner).

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Isso evidencia que a lógica da rentabilidade não é alterada pela inovação tecnológica.

O “número de peças X número de operários” ainda serve de parâmetro para as escolhas e a confiabilidade das máquinas assume maior importância que o trabalho vivo:

“A PRODUTIVIDADE DEPENDE MAIS DO EQUIPAMENTO DO QUE DO PESSOAL”.

Assim, a automação converte o computador (de instrumento de transformação) em meio de alienação do trabalho.

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Parte da superação da teoria de Marx ao tratar das “FORÇAS PRODUTIVAS” como meio de transformação da natureza pelo homem, quando o COMPUTADOR, mais que um meio de informação (comunicação para Marx com atividade “improdutiva”) mostra ser um poderoso instrumento de transformação do mundo material e humano. Mais que isso, condição essencial para elevação da produtividade do trabalho humano (DESENVOLVIMENTO).

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A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL produzida pelos CHIPS produz uma interpenetração entre o meio material e o informacional, colocando em cheque a divisão entre trabalho produtivo e improdutivo feita por Marx, que já destacava a importância dos MEIOS DE TRABALHO.

Porém, antes de adentrar no impacto social dessa transformação, alerta que as tecnologias são instrumentos passivos diante das ideologias e a transformação de uma não implica mudança na outra!

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Destaca a importância de estímulos para que sejam atingidos os objetivos através do trabalho e que maior deverá ser o estímulo quanto mais difícil for o trabalho. Por isso a evolução do trabalho não implica obrigatoriamente num evolucionismo social, mas em avanços e retrocessos (Ex: a Revolução Industrial na 1ª fase. Crítica a Pierre Lévy?).

A Revolução Tecnológica (informacional) tem a mesma magnitude daquela da máquina-ferramenta, ou ainda da descoberta, no neolítico, do instrumento.

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Trata-se da passagem do HOMO FABER (H. Arendt?) para o HOMEM DAS LINGUAGENS: dos COMPORTAMENTOS AUTOMÁTICOS, diretamente ligados à natureza do homem; evolui-se para COMPORTAMENTO MAQUINAL, envolvendo séries operatórias adquiridas pela experiência e educação; para chegar ao COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO, lúcido e consciente, onde a linguagem opera de modo preponderante.

A “mão” deixa de ser o motor, que passa a ser o “cérebro” essencial à atividade comunicativa.

A organização social e do trabalho idealizada por Marx nunca imaginou tamanha evolução (ainda que tenha cogitado a fábrica “totalmente automatizada”).

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A AUTOMAÇÃO proporcionada pelos sistemas eletrônicos é capaz de prever, antecipar e corrigir as disfunções e, até mesmo, mudar a programação.

Ex: comando automático dos aviões (que também caem!)

Mas até isso mostra a importância da CONSCIÊNCIA REFLEXIVA PARA TOMADAS DE DECISÃO!

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Os imperativos da rentabilidade possuem papel predominante no espaço da produção, o que limita a flexibilidade e o fluxo de informações à relação PRODUÇÃO X RENTABILIDADE.

Mesmo as cooperativas de artesãos sucumbem a esta lógica de “MONETARIZAÇÃO” que produziu:

● ruptura das cadências por “STOCKS TAMPONS”;

● rotatividade dos postos e das tarefas;

● ampliação das tarefas (às vezes todas na oficina!).

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Surge a figura do “gerente de produção”, que administra e aloca o pessoal, assumindo sua gestão.

Raramente, porém, esse profissional terá acesso à informação que lhe permita participar do processo decisório, diagnosticando os incidentes e otimizando o funcionamento.

Começa aqui a pressão para ultrapassar as divisões hierárquicas e substituí-las por gradações flexíveis → DEMOCRATIZAÇÃO E TRANSPARÊNCIA (semelhança com o Judiciário!).

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“Formalista”“reducionista”, “obscuro”“pense”, “procure”, “substime”

► CRÍTICA A HABERMAS

Não se pode separar a transformação da natureza material (diálogo homem-máquina) do grande desenvolvimento das funções informacionais.

HABERMAS põe a atividade comunicativa em detrimento do ato de trabalho “como se uma substituísse o outro”.

Critica a visão procedimentalista da democracia, sendo irreal a participação apenas por “elites instruídas” no processo comunicativo.

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Metáfora do “impossível diálogo entre o cego e o mudo” para ilustrar a necessidade de acesso à palavra por todos que estão privados do debate.

Crise de gestão e dos poderes relacionados à débil mobilização sindical e política com o reflexo das lutas de classe a partir dos anos 80.

Também a questão do acesso ao trabalho e o problema do controle da comunicação de massa não são enfrentado por Habermas junto com o “conteúdo” do discurso.

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Dentro das novas possibilidades surgidas na revolução informacional, passa a dedicar-se ao TRATAMENTO DADO À INFORMAÇÃO e à RELAÇÃO HOMEM-MÁQUINA.

O debate sobre a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL discute a capacidade das novas gerações de computadores de “pensar” como o homem (sistemas inteligentes).

Voltamos à questão: os computadores estão a serviço de quem? A fórmula não muda (Simon):

● tomadas de decisão não programadas reservadas aos dirigentes;

● tomadas de decisão programadas para quadros intermediários.

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Para Herbert A. Simon a automação e o computador são um meio de “inserir logaritmos na manufatura como alfinetes” de Adam Smith. Todos os problemas são passíveis de resolução através de bases simples, bastando encontrar a resposta na memória.

“Não há diferença substancial entre o cérebro do homem ou da formiga” (behaviorismo de Skinner).

* Também no judiciário, imprensa, etc.

A crítica de Hubert Dreyfus a Simon é relativa à capacidade do homem de aprender (diferente da formiga), sendo que o enxadrista avalia apenas as melhores opções, enquanto o computador verá as 26.000 jogadas possíveis.

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A mesma polêmica divide N. Wiener, fundador da cibernética, cuja idéia central está na não previsibilidade do programa ou do cálculo, com uma lógica analógica de retroação (FEEDBACK), contra Von Neumann, o pai do computador, que defende a formalização e o cálculo exaustivo de todos os casos possíveis, “estratégia” utilizada na TEORIA DOS JOGOS, onde é preciso conhecer todas as possibilidades postas pela identificação do conjunto dos futuros possíveis, com os jogadores conscientes das alternativas desde o início. A máquina digital já conhece todas as jogadas A PRIORI, sem necessidade de feedback, ignorando o aprendizado.

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Wiener advertiu contra o emprego da teoria dos jogos de Von Neumann pelas organizações governamentais com objetivos militares, mas não foi por acaso que o COMPUTADOR surgiu por demandas do Pentágono às Universidades americanas na II Guerra (ENIAC, 1945) e na Guerra Fria (ARPA, 1957): o modelo hierárquico idealizado por Simon é praticamente intangível, levando a reduzir o papel dos trabalhadores no mito da “FÁBRICA SEM HOMENS” que voltará a ser questionado com a crise americana e o desenvolvimento da Web.

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A subordinação entre homem/máquina vista nos atuais sistemas administrativos (Ex. bancos) e nos serviços de diagnóstico médico, leva a questionar a importância da interação com o cérebro humano: um sistema não pode funcionar sozinho. Ele só adquire sentido num diálogo com um sujeito.

“A máquina informacional não substitui o homem - ao contrário, reclama a sua presença e a interatividade, ampliando e liberando não só a sua memória, mas também a sua imaginação criadora” (p. 137) - V. YOUTUBE, ORKUT, MYSPACE...

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As alternativas indicam PERSPECTIVAS ANTAGÔNICAS:

► substituição do homem, com reforço da dominação;

► prolongamento das funções informacionais com diálogo progressivo com o operador humano numa lógica de direção.

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*Como o computador não é neutro, mas um instrumento de quem o programa, seu uso tem sido reforçando a programação e a formalização (INFORMÁTICA) contra a construção de sistemas capazes de aprender e assimilar elementos novos (CIBERNÉTICA), de forma aberta e flexível.

Assim, o debate da INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL envolve a passagem de mecanismos automáticos pré-determinados para processos mais autônomos, não programados previamente.

Na AUTOMAÇÃO, a máquina controla e corrige a máquina, ao passo que o AUTÔMATO é apenas uma máquina que move a si mesma.

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● sistema de controle e de informação distinto do sistema de transformação e transmissão de energia;

● mensuração da diferença entre objetivo e resultado;

● redução dessa diferença e

● adaptação flexível ao contexto, valorizando a capacidade de auto-organização e criatividade de cada sujeito.

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A TEORIA DOS JOGOS (behaviorista) valoriza:

→ o individualismo e o utilitarismo (Bentham e Smith);

→ a teoria de troca mercantil e

-→ o equilíbrio estético e conservador entre os atores da “transação” (LEI DO REFORÇO RECÍPROCO).

Tal modelo de previsibilidade remete diretamente à BUROCRACIA que já era descrita por HOBBES como uma máquina na célebre passagem do Leviatã (p. 147), também em Weber na Economia e Sociedade (p. 175).

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INFORMAÇÃO E PODER:

Os confrontos de poder estão na base das grandes organizações. As concepções antagônicas acerca do uso político do computador e suas redes; por um lado uma concepção elitista e tecnocrática; e por outro uma concepção verdadeiramente revolucionária, que implica no acesso de todos a todas as informações, e no autogoverno dos homens.

Michel Crozier aponta 4 FATORES PARA CÍRCULOS VICIOSOS no “fenômeno burocrático”:

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1) IMPESSOALIDADE DAS REGRAS que prescrevem minuciosamente as tarefas dos operários e da gerência;

2) CENTRALIZAÇÃO DE TODAS AS DECISÕES, tanto ditar quanto interpretar as regras;

3) ISOLAMENTO e FALTA DE COMUNICAÇÃO ENTRE CADA CATEGORIA HIERÁRQUICA;

4) DESENVOLVIMENTO DE PODERES PARALELOS em torno de áreas de incerteza (semelhança com o PODER JUDICIÁRIO!!!).

E acrescenta: “toda tentativa de modificação das regras pelo alto provoca o reforço do bloqueio comunicacional”.

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Além disso, o critério de economia da massa salarial sempre intervém, de uma maneira ou de outra.

Acrescentam-se, recentemente, as pressões acumuladas pela eficácia (EFICIÊNCIA), em detrimento da competência profissional (Ex: operação “Kendal”).

O sistema de informação integrado pode ser visto como um “espião”, gerando desconfiança e retração por parte dos profissionais.

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Por outro lado, se as informações forem coordenadas com o pessoal, poderão servir não só para aumentar a eficiência, mas para o aumento das competências de cada um!

Por que isso não acontece?

Tudo depende dos contextos sociais em que se inserem as relações interindividuais, com relação de confiança e reconhecimento recíproco da complementaridade das competências.

“Trabalharemos para uma máquina inteligente ou seremos pessoas inteligentes dirigindo uma máquina?”

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Para um “aprendizado coletivo” é necessário romper lógicas corporativas, protecionistas que aprisionam em áreas de competência e autonomia.

Mesmo na “autogestão” sempre haverá hierarquia “piramidal”. Como não existe “sociedade virtuosa”, a transformação só pode vir através das trocas de informações contínuas, com a tomada de decisão por grupos bem informados e envolvidos na produção.

Passagem da pirâmide para diamante (p. 163), distinguindo o nível estratégico e o operacional, com organização, supervisão e coordenação.

Cabe lembrar que descentralização não é a mesma coisa que autogestão, e por isso mesmo tendem a surgir novos conflitos e reivindicações mais complexas.

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Pode-se confundir os suportes físicos da produção ou do tratamento da informação com o efeito da atividade, opondo-se à transformação da natureza?

O estatuto social privilegia há milhares de anos os agentes que controlam a escrita na relação social. Ex. Sumérios + de 3.000 a. C.; sociologia da dominação em Weber; olhos arrancados como pena em Roma.

Contudo, não há idéia de troca, para caracterizar comércio, mas sim o papel do sujeito numa ordem social.

A idéia nas sociedades modernas, é que todos possam escrever e ter acesso à informação.

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De acordo com Boccara (p. 187):

→ o prestador de informações não se separa da informação;

→ não há informação sem interatividade entre interlocutores;

→ aquele que recebe a informação, tratando-a, enriquece-a;

→ a riqueza informacional não é redutível à acumulação de mercadorias privadas

A troca de informações não preenche os requisitos descritos por Marx para a troca de mercadorias, nem pelos antropólogos, como Maus e Lévi-Strauss (Ex.: troca de irmãs p/ casamento entre primos como ‘troca não mercantil’).

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A valorização dos serviços não-mercantis na atualidade indica que “a roda da história estaria andando para trás”, contrariando o “triunfo do individualismo e da lei do mais rico”, diante da desregulamentação dos serviços públicos.

Outros exemplos: a tendência à proteção das informações científicas e a cooperação entre laboratórios públicos e empresas privadas, com o patenteamento das descobertas.

Verifica-se um debate entre tendências contraditórias, onde o todo é maior que a soma das partes: projeto GENOMA, Programa Europeu de Biotecnologia, financiamentos públicos, quebra de patentes, pirataria na internet, etc.

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Dificuldade em ‘colocar equivalência’ quando se trata de informação, conhecimento científico e cultural. Ex. Coquille Saint-Jacques (p. 205) – “3 milhões de pesquisadores não controlam 5 bilhões de homens!” (Latour, p. 210).

Nos EUA, a pesquisa é financiada em 47% pelos contribuintes (Bay-Dole Act, de 1980).

O pesquisador brasileiro não existiria sem financiamento público! (98%)

Para Bourdieu: “a representação cognitiva, tomada como modelo epistemológico, é exclusivamente perceptiva, discursiva e simbólica” (p. 218).

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O modelo “turbilhonário” da inovação, em oposição ao mecanicista, aponta aberturas, circulação da informação, articulação, adaptação e flexibilidade, sublinhando o modelo do “envolvimento” e a dimensão coletiva e ativa da inovação: deve-se partilhar as informações entre os que as concebem e seus usuários (MIT – p. 224).

“A referência mítica ao mercado como norma suprema do trabalho das redes tecno-científicas se mostra incapaz de dar conta do divórcio entre o horizonte a curto prazo do lucro e da rentabilidade, e do horizonte a longo prazo da inovação.” (p. 225)

A crítica ao dogma mercantil único pede novos critérios, com indicadores que reflitam melhor a qualidade do trabalho, produtividade, tempo de concepção, tempo para levar ao mercado, preservação do meio-ambiente, emissão de carbono e outros critérios não-mercantis de qualidade!

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É possível superar a divisão entre os que produzem e os que pensam a produção?

Como fica essa divisão na relação internacional?

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Três objeções na ordem mundial:

1) Divisão PAÍSES RICOS X PAÍSES POBRES – hoje, Brasil e Coréia do Sul possuem indústria de alta tecnologia e exportam mão de obra qualificada, indicando uma nova divisão mundial do trabalho.

2) As MULTINACIONAIS introduziram filiais no Terceiro Mundo onde a complexidade das tarefas e a remuneração são equivalentes aos EUA (México/Brasil).

3) Os altos índices de DESIGUALDADE e INFORMALIDADE no trabalho, outrora característicos do Terceiro Mundo, são hoje uma tendência em TODOS os países capitalistas, na mesma forma que o neoliberalismo e a flexibilização das relações formais de trabalho.

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O QUE DISTINGUE O CENTRO DA PERIFERIA É O CONTROLE DAS INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS e “a revolução da informação exacerba o debate sobre sua significação e seu uso social” (p. 237).

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Questionamento radical da divisão milenar entre “escribas” e “obreiros”:

DANIEL BELL: na sociedade “PÓS-INDUSTRIAL” haveria a SUBSTITUIÇÃO da produção industrial pela informação e da experiência profissional pela ciência, dos operários pelos engenheiros, com “centralidade do saber teórico, tanto gerador da inovação quanto das idéias-matrizes que inspiram a coletividade”.

RICHTA: descreve uma SUBSTITUIÇÃO: “a ciência impregna o conjunto do processo de produção, tornando-se progressivamente a força produtiva central da sociedade e, praticamente, o fator decisivo do crescimento das forças produtivas.”

P/ LOJKINE, “as premissas da revolução informacional, no contexto atual de crise e reestruturação capitalistas, discutem a idéia de uma substituição da produção pela informação, defendendo a tese de uma interpenetração complexa entre indústria e serviços, concepção e fabricação, ciência e experiência e, conseqüentemente, entre assalariados da produção e assalariados da concepção.” (p. 238)

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Crítica à concepção substitucionista da inovação “pelo alto”, que conduz “a reduzir a automação a uma simples substituição dos homens por máquinas” buscando o ideal da “fábrica totalmente automatizada” (Marx), onde o valor-trabalho da sociedade industrial (capitalista) seria substituído pelo valor-saber da sociedade pós-industrial:

1) Existe uma reciprocidade, e não uma ruptura entre o saber abstrato e a experiência concreta dos usuários das novas tecnologias (pesquisa científica, desenvolvimento, métodos, fabricação e marketing);

2) Não há crescimento de atividades de serviço (informacional) sem crescimento de atividades industriais;

3) A teoria dos três setores (primário, secundário e terciário de Clarque-Fourastié-Bell) não corresponde nem à realidade nem às principais tendências perceptíveis;

4) Não ocorreu uma substituição da classe operária por uma nova classe de trabalhadores da informação.

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Há uma contradição aberta entre as novas potencialidades tecnológicas, que demandam um desenvolvimento dos homens e de suas capacidades, e os critérios dominantes da avaliação do progresso técnico pela economia do trabalho vivo.

A tendência hegemônica da vontade patronal de centralizar e monopolizar as decisões faz com que os investimentos em tecnologia sejam justificados unicamente como uma substituição capital/trabalho (reduzir o pessoal para produzir mais).

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Os defeitos e perda de qualidade e quebra na produção por tempo parado nos sistemas automatizados faz com que o operador, em princípio eliminado, recupere um papel importante no sistema, pela necessidade de interação com a máquina para controlar a variabilidade do sistema. (v. Dilema de W. Baumol nos serviços)

Zuboff e Walton, da Harvard Business School, propõem que se permute a lógica da automatização-substituição (to automate) pela lógica da informação (to informate), onde: “a tecnologia da informação é empregada para oferecer aos operadores uma nova informação, que lhes serve para melhorar seu processo de tomada de decisões e sua produção.” (p. 246)

Isso permite alto grau de envolvimento espontâneo e saberes cognitivos de alto nível, que podem chegar ao que Walton chama de self-manegement (autogestão). Ao mesmo tempo, tal nível de conhecimento e partilha da informação põe em causa o sistema hierárquico. Para superar esse efeito, é necessário ampliar o espaço da interatividade, para que ela não seja apenas transitória, mas inerente ao próprio sistema tecnológico.

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Exemplo desse conflito: na informatização da imprensa, diretores de jornais usaram a ocasião para reduzir os efetivos operários, com uma tendência de super-investimento em materiais tecnológicos de rápida obsolescência, colocando em questão o trabalho do próprio jornalista, que se vê obrigado a substituir o antigo tipógrafo na elaboração da matéria (crise de identidade).

A informação como serviço público (CF, arts. 5º, XIV; 222 e 223) se vê confrontada com um produto mercantil “serializado”; “esquadrejado” e “segmentado” em função do público que pretende atingir. (p. 249 e 284)

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Outra mudança é a inovação: na visão tecnocrática, a pesquisa tecnológica precede e é completamente divorciada da produção. No novo modelo, ao contrário, a inovação deve ser concebida e desenvolvida no interior do próprio processo de produção – “todos os recursos humanos, em todos os momentos do processo de produção, são envolvidos pela inovação” – traduzindo uma correlação entre capacidade de produzir e capacidade de inovar.

Cuidado: isso não significa subordinação da pesquisa científica à produção – p. ex. questão ambiental, saúde pública, defesa do consumidor, etc. (p. 252)

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Interpenetração recíproca entre o material e o informacional na formação do capital fixo das empresas, com crescentes despesas relativas à pesquisa, formação, organização, gestão, marketing e programas de informática. Cada vez é menor a despesa com material e maior o gasto em “recursos humanos”: as matérias-primas necessárias aos componentes microeletrônicos vão de 2 a 3% do seu custo de fabricação. Segundo o FMI, desde 1900 a quantidade de matérias-primas necessárias à produção diminuiu anualmente em 1,25%, e essa redução deve se acelerar.

Ao mesmo tempo, cresce a participação do setor “terciário” na economia, principalmente nos serviços públicos (de 14 a 36% nos Estados Unidos, e de 27 a 40,5% na França). Crescem na proporção de equipamentos sem os quais os serviços não funcionam: equipamentos médicos, computadores, redes informáticas e telemáticas, sistemas urbanos, habitação, etc.

A interpenetração se verifica com a transferência da população do setor agrícola para o industrial, e do setor industrial para os serviços.

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Algumas tendências:

● em oposição ao setor terciário público, o setor terciário “móvel” desempenha um claro papel de acolhimento e redistribuição de jovens e desempregados, com salários muito baixos, particularmente os estagiários com contrato de prazo determinado. (p. 265)

● a crise decorrente da baixa do financiamento público envolvendo empregos muito qualificados (médicos, professores) e a pressão das ideologias liberais (New Public Management) tende transferir o terciário “público” pelo “móvel” com terceirizações e privatizações. (quadro p. 267)

● o imediatismo de curto prazo incide sobre a pesquisa das utilizações eficazes de novas tecnologias da informação, com uma tendência hegemônica de aquisição dos equipamentos informáticos para substituir pessoas, sem criação de novos empregos qualificados exigidos pela revolução informacional.

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● no médio prazo, o desenvolvimento informacional suporá a diminuição global do emprego ocupado com o aumento maciço da população em formação; e uma diminuição maciça do tempo trabalhado com um aumento maciço do tempo disponível para atividades criadoras de alto nível.

● será necessário reconsiderar completamente as nomenclaturas da contabilidade nacional no que se refere ao “ciclo da vida” que separa a “vida ativa” da dita “inativa” (aposentados, jovens escolares, períodos de aprendizagem e reciclagem), porque “a revolução informática exige uma baixa maciça do tempo de trabalho em proveito da formação permanente, de uma formação inicial de alto nível e, mais largamente, do tempo criativo, para além do tempo dos ‘lazeres tranqüilizantes’.” (p. 268)

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Em cento e cinqüenta anos, nada de fundamental teria mudado?

Persiste a completa separação entre a propriedade do capital e o trabalho de direção e de gestão, confiado a certos gerentes assalariados?

Na grande indústria, o que faz da ciência uma força produtiva independente do trabalho e o coloca a serviço do capital?

No Brasil, Coréia do Sul, Índia e China não se verifica uma simples repetição da revolução industrial do século XIX. O subdesenvolvimento coexiste com o florescimento da sociedade de informação, colocando em questão a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual.

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Distinguir:

● os “improdutivos produtivos”: além daqueles encarregados pelo enquadramento da produção (o ‘maestro descrito por Marx), o engenheiro que concebe um software e o técnico que o realiza são improdutivos de valor, mas em troca, quando este software implementa um novo método de usinagem e assim contribui para a fabricação de produtos materiais, o engenheiro se torna produtivo de valor.

● os “produtivos improdutivos”: desenvolvimento de funções informacionais no trabalho produtivo; como por exemplo as oficinas autorizadas e concessionárias criadas no processo de trabalho da indústria automobilística (venda e pós venda), onde o engenheiro-chefe da oficina é simultaneamente produtivo e improdutivo.

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Tais características dão ênfase à polifuncionalidade característica do trabalho informacional, onde o tempo de trabalho é uma mescla entre atividades produtivas e improdutivas integradas à produção.

A gestão de informações se torna uma função central para o desenvolvimento do trabalho, zelando pela relação entre prestadores e clientes, numa nova confusão de papéis.

“De um lado, abrem-se ofícios operários às competências “relacionais”; de outro, ao contrário, parece-se dar marcha-à-ré no processo, procurando dividir, parcelarizar o trabalho complexo dos serviços, para melhor mensurá-lo com os parâmetros do trabalho simples.” (p. 288)

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Novamente, coexistem tendências contraditórias: a recomposição enriquecedora de atividades relacionais voltadas para contados com os usuários; e tentativas de estandartização e desqualificação dos trabalhos considerados mais rotineiros, menos relacionais.

A longo prazo, com a revolução informacional, vem à tona uma tendência irreversível para abrir todas as atividades produtivas às funções de serviços e todas as atividades de serviço às funções produtivas.

Contudo, a lógica de mercado permanece dominante, com a tendência de eliminação do trabalho vivo para economizar pessoal, com a intensificação do trabalho e as reduções maciças de pessoal que bloqueiam as capacidades inovadoras e paralisam os esforços para melhorar a circulação da informação. (p. 290)

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No ensino, a mesma tendência: de um lado, os chefes dos processos de projetos, arquitetos de sistemas e de redes informacionais egressos de grandes escolas de engenharia; de outro lado, os técnicos superiores e egressos de pequenas escolas, submetidos a uma certa estandartização de tarefas em gabinetes de programação e grandes escritórios de projetos, sofrendo uma perda da sua autonomia, e desvalorização do seu estatuto, onde o desemprego cresce mais rapidamente. Percebe-se uma crise de identidade que se reflete em grandes incertezas que pesam sobre as qualificações das gerações futuras.

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O operário profissional experimenta, principalmente a sensação do ‘roubo do seu saber’ e da sua ‘desqualificação’; tendo se tornado técnico mediante a qualificação no próprio trabalho, está convencido de que a informatização nada lhe oferecerá de positivo. Surge a política deliberada de promover a concorrência entre duas gerações de operários e de técnicos, onde os novos técnicos são vistos como ‘privilegiados’, ‘ganhadores das mutações tecnológicas’. (p. 294)

Contudo, são ‘técnicos especialistas’ sem responsabilidades e com ínfimas chances de se tornarem diretores, pois sua formação não lhes ensinou a comunicar. Desse “desencanto entre os jovens diplomados” cresce o individualismo que se reflete na baixa adesão ao movimento sindical.

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As causas dessa desmobilização política cada vez maior em todo o mundo são apontadas como:

1) O esgotamento das utopias e dos projetos políticos que mobilizaram os operários e os trabalhadores ao longo de dois séculos;

2) A incapacidade do movimento operário ocidental em superar no seu interior a delegação de poder e a hierarquia piramidal na divisão entre a esfera das reivindicações sociais e a esfera administrativas;

3) A falta de capacidade de construir, autonomamente, regras de gestão diversas daquelas da rentabilidade e do lucro.

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“Somos todos nós, conscientemente ou não, usuários das Novas Tecnologias da Informação, que devemos buscar autonomia e cooperação contra o individualismo estéril dos que querem manter o monopólio da formação e das informações estratégicas, quando o próprio controle da informação exige a mobilização de todas as inteligências.” (p. 309) 

Enquanto dirigentes empresariais, assalariados e cidadãos estiverem persuadidos de que a tomada de decisões estratégicas (na economia e na política) é um problema da elite, assistiremos a uma aceleração das crises informacionais e organizacionais provocadas pelas Novas Tecnologias da Informação.

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O estoque informacional não pode ser gerido como um capital, porque a máxima acumulação de informações não produz a riqueza, mas a asfixia. Ao longo do tempo mostra-se ineficaz, na medida em que não se partilha e não se faz circular as informações, reproduzindo o círculo vicioso dos surdos (os dirigentes) e dos mudos (os executores).

É preciso mudar as regras do jogo. Contudo, eles ainda não sabem como fazê-lo.

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LOJKINE, Jean. A Revolução Informacional. Trad. De José Paulo Netto. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.