A Semiótica

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    INTRODUO SEMITICA

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    INTRODUO SEMITICA

    JOS DAVID CAMPOS FERNANDES

    Apresentao

    La historia de la semitica es la de su pasin: la de descubrir que el mundo tiene

    sentido, y com frecuencia, mas y outro sentido del que parece.

    Manoel Gonzalez vila, in Semitica crtica

    e crtica de la cultura, p. 9, 2002)

    Desde o principio, na histria da humanidade, o questionamento sobre as formas de representar

    e de significar sempre se fizeram presentes. No toa que todos reconhecem que a linguagem (falada e

    escrita) a mais importante inveno do homem. Foi atravs da linguagem que todo processo civilizatrio se

    desenvolveu, pela simples transmisso de tudo que foi aprendido de gerao para gerao, cumulativamente.

    A posio privilegiada da semitica nesse processo, como teoria

    geral dos signos, deve-se ao fato de que ela investiga explicita-

    mente todos os signos, as relaes sgnicas e as operaes sgni-

    cas, que so usadas implcita, intuitiva e automaticamente. No

    existe, em nenhuma atividade espiritual, um meio utilizvel ou

    utilizado que, uma vez referido a qualquer fato ou acontecimento

    material, ou no material, no pertena teoria geral dos signos

    (WALTHER-BENSE, 2000).

    Nosso propsito aqui no expor detalhadamente a

    histria e os diversos desenvolvimentos da teoria semitica des-

    de o seu surgimento, mas sim, apresentar, de forma bastante

    breve, os princpios, que a nosso ver, so operatrios para com-

    preend-la melhor. Por conseqncia, este captulo tem a pre-

    tenso de ajudar o aluno a conhecer alguns dos seus rudimentos,

    para pensar com um pouco mais de clareza sobre o assunto, con-

    vidando-o a invadir os domnios dessa teoria. Ser uma invaso

    pacifica, que permita uma viso panormica, meia superficial,

    desse territrio das representaes. Nas noes que apresenta-

    Embora seja corrente o uso

    dos termos SEMITICA e SE-

    MIOLOGIA como sinnimos,

    eles so fortemente marcados

    por origens tericas diferentes

    e, portanto, rigorosamente fa-

    lando, ao serem citados, insi-

    nuam pressupostos diferentes

    e apontam para orientaes

    diferentes. Entretanto, ambas

    denominaes querem desig-

    nar a Cincia Geral dos signos.

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    mos sobre a semitica e semiologia, procuramos traduzi-las em linguagem simples e acessvel e, tanto quanto

    possvel, amena. Por isso, no esperem os entendidos ver aqui um "tratado" de Semitica, mas apenas um

    esboo mais ou menos assistemtico com finalidade exclusivamente prtica.

    O ponto de partida da teoria dos signos o axioma de que as cognies, as idias e at o homem

    so essencialmente entidades semiticas. Como signo uma idia tambm se refere a outras idias e objetos do

    mundo. Assim, tudo sobre o que refletimos tem um passado, informao acumulada.

    Um signo tem uma materialidade que percebemos com um ou vrios de nossos sentidos. poss-

    vel v-lo (um objeto, uma cor, um gesto), ouv-lo (linguagem articulada, grito, msica, rudo), sent-lo (vrios

    odores: perfume, fumaa), toc-lo ou ainda sabore-lo. essa coisa que se percebe que est no lugar de outra.

    Esta a particularidade essencial do signo: estar ali, presente, para designar ou significar outra coisa ausente,

    concreta ou abstrata.

    Nesse sentido, vamos conhecer as duas principais e mais importantes teorias gerais do signo: a

    semiologia, associada a Ferdinand de Saussure, e a Semitica, associada a Charles Sanders Peirce. So dois

    modelos que se propem a validar toda a variedade de signos que compem a linguagem, e so construdas a

    partir de conceitos prprios, que ambas construram para si.

    Para nosso propsito, utilizaremos os dois termos como equivalentes. Embora Saussure e Peirce tra-

    balhassem de forma independente e em continentes diferentes, existem muitas afinidades em seus estudos.

    Eles se preocuparam principalmente com os modelos estruturais do signo que incidiu na interao entre seus

    componentes. Para ambos esta interao entre os elementos que compem o signo que permite a

    representao, em qualquer forma que aparea, em um texto que um sujeito possa compreender.

    Apesar de utilizarem terminologias diferentes, existe uma convergncia na descrio de seus

    modelos, no obstante haja diferenas significativas nos dois estudos, como veremos mais adiante.

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    UNIDADE I

    LINGUAGEM E SIGNO

    A pr-histria da Semitica

    As primeiras concepes do signo foram desenvolvidas pelos gregos que sustentam que ele um

    sinal sobretudo um sinal verbal, por meio do qual se representa alguma coisa. E nessa sustentao de repre-

    sentao est presente a idia de uma coisa que se duplica, uma realidade que se reproduz atravs de outra

    forma, ou, em outras palavras: o original e a cpia. Esse modo de compreenso se v, afirmado de certa forma

    na atualidade, no fenmeno da semiose, que a reproduo continuada de um sinal, que um sinal de ou-

    tro, e assim sucessivamente.

    A palavra semitica vem da raiz grega seme, como em semeiotikos, interprete de signos. J sig-

    no, deriva do latim signum, que vem do grego secnom, que significa cortar, extrair uma parte de, que ge-

    rou em nossa lngua , por exemplo, os termos seco, seccionar, sectrio, seita, entre outros. A semitica, por-

    tanto, como disciplina, a anlise dos signos ou o estudo do funcionamento do sistema de signos.

    Entre os precursores da semitica se encontram Plato, cujo dilogo Crtilo reflete sobre a ori-

    gem da linguagem, e Aristteles, que sinaliza os substantivos na Potica e Sobre a interpretao.

    Plato (427-347 aC.) Aristteles (384-322 aC.)

    Plato, para quem o mundo real no passava de uma plida imitao do mundo das idias, conside-

    rou, que a linguagem vem da natureza das coisas, e que essas mesmas coisas deveriam ser nomeadas, de for-

    ma imperfeita, por um legislador, dotado do dom de apreender, de tudo, sua natureza essencial. O modelo

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    platnico de signo tem uma estrutura tridica, na qual possvel observar os seguintes componentes: o nome,

    a noo (ou idia), e a coisa, qual o signo se refere. As idias para Plato eram entidades objetivas que no

    s existem na nossa mente, como tambm possuem realidade numa esfera espiritual alm do indivduo.

    Aristteles, em oposio s idias de Plato, acreditava num mundo perceptvel sensorial. Defendia

    que as funes intelectuais do homem possuam carter poltico, e deveriam ser desenvolvidas socialmente.

    Nesse sentido, a linguagem era fruto de conveno - em que as categorias do pensamento coincidiam com as

    categorias da linguagem - e representaria a realidade na qual os homens se inseriam. Aristteles discutiu a

    teoria dos signos no mbito da lgica e da retrica. Comeou a delinear uma separao entre signo certo

    (tekmrion) e o signo incerto (semeion): o primeiro tipo de signo reservado para as interaes naturais, de

    verdade necessria, no sentido de prova, podendo ser traduzido por signo necessrio: se tem febre, logo

    est doente. Este tipo de signo necessrio vai do universal ao particular e pode, neste sentido, servir de pre-

    missa a um silogismo. O segundo tipo de signo baseado em signos genricos, no necessrios, podendo ser

    chamado de signo fraco ou hipottico. Por exemplo no juzo Se tem os lbios estourados, ento tem

    febre, a concluso apenas provvel, podendo ser verdadeira ou no. uma forma lgica da conjuno e no

    da implicao.

    Depois deles, um dos debates mais significativos sobre os signos que teve lugar no mundo antigo

    foi o dos esticos1 e dos epicreos2 (por volta do ano 300 aC, em Atenas). O debate se estabeleceu na diferen-

    a entre os signos naturais (os que se do livremente na natureza) e os signos convencionais (os criados espe-

    cificamente para a comunicao). Sobretudo para os esticos, o signo por excelncia era o que conhecemos

    como sintoma mdico. O sintoma seguiu considerando como o signo modelo durante a poca clssica.

    Entre os antigos o termo signo sempre foi associado doutrina mdica. Se o paciente tinha o corpo quente, o sintoma era de febre. Logo, isso signo.

    1 Estoicismo: doutrina fundada por Zeno de Ccio (335-264 a.C.), e desenvolvida por vrias geraes de filsofos, que se caracteriza por uma tica em que a imperturbabilidade, a extirpao das paixes e a aceitao resignada do destino so as marcas fundamentais do homem sbio, o nico apto a experimentar a verdadeira felicidade [O estoicismo exerceu profunda influncia na tica crist.] Foram os Esticos os primeiros a oferecer ao mundo uma teoria que considera trs componentes integrantes do signo: o significante, o significado (ou sentido) e o objeto externo (referido). 2 doutrina do filsofo grego Epicuro (341-270 a.C.) e seus epgonos, caracterizada por uma concepo atomista e materialista da natureza, pela busca da indiferena diante da morte e uma tica que identifica o bem aos prazeres comedidos e espirituais, que, por passarem pelo crivo da reflexo, seriam impermeveis ao sofrimento includo nas paixes humanas

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    Na idade mdia, os escritos de Santo Agostinho estabe-

    leceram as bases no ocidente para a investigao sobre o signo.

    dele a clssica definio, contida na obra De Doctrina Christia-

    na, de que o signo , portanto, uma coisa que, alm da impres-

    so que produz nos sentidos, faz com que outra coisa venha

    mente como conseqncia de si mesmo. Santo Agostinho dis-

    tinguiu os signos naturais dos signos convencionais. Para ele os

    signos naturais so aqueles produzidos sem a inteno de uso

    como signo, mas nem por isso conduzem cognio de outra

    coisa. Os signos convencionais so aqueles que todos os seres

    vivos trocam mutuamente para demonstrar sentimentos da

    mente, contribuindo para delimitar o estudo dos signos ao expressar que as palavras parecem ser os correla-

    tos de palavras mentais. Essa delimitao imposta por Santo Agostinho teve um srio impacto nos estudos

    posteriores sobre os signos.

    Santo Agostinho (354-430)

    Outros acadmicos, como o franciscano ingls Guilhermo de Occam referendaram esta verso de

    signo. E esta, por sua vez, serviu de sustentculo para John Locke para seu ensaio sobre o entendimento hu-

    mano (1690). No principio do sculo XX surge uma cabal conscincia semitica, impulsionada por dois funda-

    dores: Saussure e Peirce.

    A fumaa como ndice de fogo um dos exemplos daquilo que Santo Agostinho en-

    tendia como signo natural

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    Guilherme de Occam John Locke

    Ferdinand de Saussure Charles Sanders Peirce

    A teoria dos signos

    A teoria dos signos est indissoluvelmente associada s questes do conhecimento, e isso desde

    que passou a ocupar a ateno dos pensadores, tal como se encontra em Plato, no Crtilo3, um dos momentos

    3 O texto em questo, em forma de dilogo, confronta duas vises filosficas concorrentes sobre a linguagem; a saber, a corrente naturalista e a corren-te convencionalista. Neste dilogo, Plato antecipa idias levantadas sculos mais tarde por Saussure. Plato percebeu a riqueza e a complexidade da linguagem e, de certa forma, props que a lngua fosse objeto de estudo. Alm disso, o filsofo antecipou a idia proposta por Saussure da arbitrarieda-de absoluta e da arbitrariedade relativa do signo lingustico.

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    inaugurais de investigao sobre a linguagem. Aristteles nos

    mostra, por exemplo, em A Repblica, o mito da caverna

    (conhea a histria no box ao lado), em que explora o pro-

    blema da ligao da linguagem realidade, atravs da oposi-

    o entre a "naturalidade" e a "convencionalidade" dos sig-

    nos lingsticos. Para ele existem dois mundos: o do corpo na

    caverna e o do esprito fora dela. O corpo d conta dos sig-

    nos ou das imagens das coisas e assume a existncia destas.

    O esprito, liberto dos seus grilhes, concebe indiretamente a

    essncia de cada tipo de coisa antes de interagir com ela, por

    intuio. Deste modo, os nomes e as idias no se coadu-

    nam. A relao mediata, uma vez que os nomes (que ape-

    nas tm significado quando inseridos no discurso) refletem,

    por analogia, somente particularidades das idias. Os signos

    lingsticos so instrumentos destinados a representar as

    coisas, as quais no passam de sombras ou garatujas aos

    olhos do homem prisioneiro da caverna.

    O termo signo, como j vimos, deriva do latim

    signum. Do grego, o termo semeion, que vem de sec-

    non, raiz do verbo cortar extrair parte de, porque primiti-

    vamente o signo era pensado como algo que se referia a uma

    coisa completa, maior e da qual ele era extrado. Veremos no

    prximo momento duas formas diferentes de conceber o

    signo: a linha saussuriana e a peirceana, construtores de

    correntes da teoria semitica.

    LETRAS | 167

    O mito da caverna Imaginemos uma caverna subterr-

    nea onde, desde a infncia, gerao aps gerao, seres

    humanos esto aprisionados. Suas pernas e seus pescoos

    esto algemados de tal modo que so forados a perma-

    necer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para

    frente, no podendo girar a cabea nem para trs nem

    para os lados. A entrada da caverna permite que alguma

    luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-

    obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que

    ali entra provm de uma imensa e alta fogueira externa.

    Entre ela e os prisioneiros no exterior, portanto h um

    caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma

    mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de

    marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens trans-

    portam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres

    humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da

    fogueira e da posio ocupada por ela, os prisioneiros

    enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das

    estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as pr-

    prias estatuetas, nem os homens que as transportam.

    Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam

    que as sombras vistas so as prprias coisas. Ou seja, no

    podem saber que so sombras, nem podem saber que so

    imagens (estatuetas de coisas), nem que h outros seres

    humanos reais fora da caverna. Tambm no podem saber

    que enxergam porque h a fogueira e a luz no exterior e

    imaginam que toda luminosidade possvel a que reina na

    caverna. Que aconteceria, indaga Plato, se algum liber-

    tasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado?

    Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros

    seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira.

    Embora dolorido pelos anos de imobilidade, comearia a

    caminhar, dirigindo-se entrada da caverna e, deparando

    com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro

    momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na

    verdade a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado

    por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os

    homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no

    caminho, enxergaria as prprias coisas, descobrindo que,

    durante toda sua vida, no vira seno sombras de imagens

    (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caver-

    na) e que somente agora est contemplando a prpria

    realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro

    regressaria caverna, ficaria desnorteado pela escurido,

    contaria aos outros o que viu e tentaria libert-los. Que lhe

    aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zomba-

    riam dele, no acreditariam em suas palavras e, se no

    conseguissem silenci-lo com suas caoadas, tentariam

    faz-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em

    afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certa-

    mente acabariam por mat-lo. Mas, quem sabe, alguns

    poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, tambm

    decidissem sair da caverna rumo realidade. O que a

    caverna? O mundo em que vivemos. Que so as sombras

    das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que perce-

    bemos. Quem o prisioneiro que se liberta e sai da caver-

    na? O filsofo. O que a luz exterior do sol? A luz da

    verdade. O que o mundo exterior? O mundo das idias

    verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumen-

    to que liberta o filsofo e com o qual ele deseja libertar os

    outros prisioneiros? A dialtica. O que a viso do mundo

    real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zom-

    bam, espancam e matam o filsofo (Plato est se referin-

    do condenao de Scrates morte pela assemblia

    ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensvel o

    mundo real e o nico verdadeiro (CHAU, 2006, p. 46-47).

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    A teoria semitica nos permite penetrar no prprio movimento interno das mensagens, no modo

    como elas so engendradas, nos procedimentos e recursos nela utilizados. Permite-nos tambm captar seus

    vetores de referencialidade no apenas a um contexto mais imediato, como tambm a um contexto estendi-

    do, pois em todo processo de signos ficam marcas deixadas pela histria, pelo nvel de desenvolvimento das

    foras produtivas econmicas, pela tcnica e pelo sujeito que as produz (SANTAELLA, 2005).

    Peirce, em sua teoria, afirma que um signo algo que est no lugar de alguma coisa para algum,

    em alguma relao ou alguma qualidade. O mrito dessa definio mostrar que um signo mantm uma

    relao solidria entre pelo menos trs plos (e no apenas entre dois, como props Saussure): 1) a face per-

    ceptvel do signo, representmen, ou significante; 2) o que ele representa, objeto ou referente; 3) e o que

    significa, interpretante ou significado. A definio do signo incorporando o interpretante, nos mostra que

    sua teoria toma a seu cargo o efeito do signo sobre o sujeito, considerado um ser social, determinado por suas

    experincias em um mundo historicamente dado. Alm disso, todos esses elementos esto inseridos dentro de

    um contexto.

    A semitica, portanto, a cincia que estuda a vida dos signos no interior da convivncia social. Ela

    vai das mecnicas relativas ao conhecimento at as reorientaes formais e, por conseqncia, s apropria-

    es de contedo, ou de sentido.

    A primeira originalidade do sistema peirciano, segundo Todorov (1998), reside na prpria definio

    que ele d do signo. Peirce afirma que um signo um Primeiro, que mantm com um Segundo, chamado seu

    objeto, uma relao to verdadeira que capaz de determinar um Terceiro, denominado seu interpretante,

    para que este assuma a mesma relao tridica com respeito ao mencionado Objeto que reinante entre o

    Signo e o Objeto. A ao do signo a de determinar um interpretante, termo que no deve ser tomado como

    sinnimo de intrprete meio atravs do qual o interpretante produzido, ou mesmo sinnimo de interpre-

    tao processo de produzir um interpretante. O interpretante deve ser compreendido como o efeito que o

    signo est apto a produzir ou que efetivamente produz numa mente interpretadora. Portanto, o signo uma

    mediao entre o objeto (aquilo que ele representa) e o interpretante (o efeito que ele produz), assim como o

    interpretante uma mediao entre o signo e um outro signo futuro.

    Para Bense (1971, p. 28), entre o mundo e a conscincia intervm sempre os signos como meios.

    [...] Este deve ser visto, antes, como um sistema de signos, entendido como um sistema conscientizado de

    sinais que partem do mundo. Nenhuma relao conscincia-mundo imediata. Entre o mundo e a conscin-

    cia interpem-se os meios da ao e da elaborao. Bense conclui que essas mediaes tm, na sua base, es-

    quemas semiticos.

    Outro aspecto notvel da atividade semitica de Peirce: suas classificaes das variedades de signos.

    O nmero trs, segundo Todorov (1999), desempenha papel fundamental, tanto quanto o dois de Saussure.

    Vamos ento ver de forma mais detalhada, a seguir, estas teorias.

  • LETRAS | 169

    UNIDADE II

    CONCEPO DUAL E CONCEPO TRIDICA DOS SIGNOS

    Saussure

    A Concepo dual de SAUSSURE

    A teoria dos signos, ou cincia dos signos chamada de semitica ou semiologia de acordo com a es-

    cola a que se refere. Quando se fala de uma concepo derivada dos trabalhos de Saussure, considerado o pai

    do estruturalismo lingstico e principalmente numa tradio mais ligada lingustica verbal, muitas vezes se

    usa semiologia. Seu trabalho se desenvolveu paralelamente ao de Peirce, sem que os dois tivessem contato.

    necessrio compreender a diferena entre as concepes duais de Saussure e as concepes tridicas de signo

    defendidas por Peirce. A concepo dual de signo no comporta a referncia, porque a considera uma questo

    ontolgica e no semitica, enquanto a concepo tridica de signo entende o referente como parte integran-

    te da relao sgnica. Saussure e Peirce so respectivamente os representantes mximos das noes de signo

    referidas.

    Em Saussure, o signo decorre de uma relao dual, ou didica, entre significante e significado ou

    a forma externa e a essncia mental do conceito e o signo tido como a unidade bsica da linguagem, quer

    dizer, toda linguagem seria um sistema de signos.

    Saussure define o signo como algo que [...] une no uma coisa e um nome, mas um conceito e

    uma imagem acstica. Esta ltima no o som material, puramente fsico, mas a marca psquica desse som, a

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    sua representao fornecida pelo testemunho dos sentidos; sensorial e se, por vezes, lhe chamamos material

    neste sentido e por oposio ao outro termo da associao, o conceito, geralmente mais abstrato. Para

    Saussure o significante, a imagem acstica, arbitrria, no-motivada (SAUSSURE,1990, p.124), pois inexiste

    relao de causa-e-efeito entre o significante e a coisa por ele representada.

    Saussure portanto, considera o signo lingstico uma entidade psquica bifacial, ou seja, est compos-

    ta em duas partes: um significante (Se) e um significado (So) e o signo vem ser a juno destas faces (Se+So =

    signo), sendo que o signo sempre mental e a representao que o sujeito tem de algo na sua cabe-

    a/mente.

    A representao deste sinal vai para a mente do sujeito como uma imagem acstica e se acopla a um

    significante (Se) que o referente, para este referente se acopla um significado (So), que o contedo da coi-

    sa, o significado daquilo que percebido e representado na minha mente.

    Se ocorrer, por exemplo, a pronuncia da palavra RVORE, o som produzido cria na mente do sujeito

    que o escuta o correspondente a essa pronncia. Existe montado na sua cabea uma estrutura capaz de reco-

    nhecer o que est de fora. H na mente essa imagem. O significante (Se) a imagem mental de uma cadeia

    sonora. Toda vez que determinada matria chega ao crebro com algum sentido e o crebro acopla isto a um

    significado, estamos na presena de uma funo signica. Isto significa dizer que o signo sempre mental.

    Tanto (Se) quanto o (So) so mentais. O signo em Saussure uma folha de papel que tem dois ver-

    sos, um destes lados o conceito, o outro a imagem acstica; o pensamento o anverso e o som o verso;

    no se pode cortar um, sem cortar ao mesmo tempo o outro.

    Saussure afirma que o som no o som material, coisa puramente fsica, mas a impresso deste

    som, a representao que dela nos d o testemunho de nossos sentidos. Do mesmo modo que o significado

    no a coisa, mas sim a imagem mental da coisa.

  • LETRAS | 171

    Se = imagem acstica (palavra oral) imagem grfica (palavra escrita, etc.)

    So = conceito/contedo

    ou ainda

    Se = significante (denotativo / conotativo)

    So = significado ( idia da coisa, qualquer coisa)

    Significado(conceito)

    Significante(imagem-som)

    Concepo dual de Saussure

    Fonte: Saussure (1990)

    Essa definio que Saussure prope para o signo, tomando-o como entidade mental que associa um

    significante(Se) a um significado(So), desempenha papel central na lingustica estrutural. Este papel central

    configura-se com a distino entre signos naturais (ou motivados) e signos arbitrrios (ou convencionais). Para

    Saussure (1990, p. 83), ela [a arbitrariedade] no deve dar a ideia de que o significante depende da livre

    escolha do sujeito falante [...] queremos dizer que ele [o significante] imotivado [...] em relao ao

    significado, com o qual no tem, na realidade, qualquer ligao material.

    O signo, qualquer sistema de signos, para construir linguagem, ter de ser convencional e, portanto,

    arbitrrio. Neste sentido, na perspectiva estruturalista, o significante no est por um dado objeto, existente,

    antecipado ou construdo, mas por uma imagem mental ou conceito. Para o pensamento estruturalista, o

    objeto, o real, externo conscincia e, portanto, independente deste, so categorias perifricas.

    Em seus estudos Ferdinand de Saussure tem dois problemas:1) no considera a matria externa;2) diz que o significado (So) o conceito da coisa, mas no especifica que coisa essa.Pois, se o significante (referente) pode ser diferente para diferentes pessoas, pode causar tambm significados diferentes, no ?

  • LETRAS | 172

    A Concepo tridica de PEIRCE

    Peirce

    Por outro lado, Peirce em sua teoria acrescenta mais um elemento: o referente. A sua concepo

    tridica do signo bem ilustrada no clebre tringulo de Ogden e Richards (1972, p. 32), em que na base do

    tringulo se encontram o smbolo e o referente, e no topo o pensamento ou referncia. Na base do tringulo,

    atravs de uma linha tracejada, observa-se que no h uma relao direta entre smbolo e referente. A relao

    entre os dois elementos indireta, mediada pelo pensamento ou referncia que se encontra no topo.

    PENSAMENTO OU REFERNCIA

    SMBOLO REFERENTERepresenta(uma relao imputada)

    VERDADEIRO

    CORR

    ETO

    Simbo

    liza

    (uma r

    ela

    o cau

    sal)

    ADEQUADO

    Refe re-se a

    (outras re laes causais)

    Tringulo semitico

    Fonte: Ogden-Richards (1972)

  • LETRAS | 173

    Quando substitumos a terminologia de Ogden e Richards (1972)4 pela de Peirce, representamen ou

    signo em vez de smbolo, interpretante em vez de pensamento, objeto em vez de referente, ou a de Morris,

    respectivamente veculo sgnico, interpretante e designatum, percebemos que a estrutura tridica do signo

    mantm-se a mesma.

    INTERPRETANTEINTERPRETANTE

    REPRESENTAMEN

    VECULO SGNICOOBJETODESIGNATUM

    Tringulo semitico com termos de Peirce

    Como Saussure, Peirce tambm considera que a relao entre signo e interpretante convencional

    (ao contrrio de Ogden e Richards, que consideravam haver relaes causais nos dois lados do tringulo). A

    diferena est efetivamente na dimenso de exterioridade do signo que a semitica de Saussure no contem-

    pla.

    Com sua teoria, Peirce prope uma mudana radical em relao concepo saussuriana ao afirmar

    que:

    um signo ou representamen, aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para algum. Di-

    rige-se a algum, isto , cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais de-

    senvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma

    coisa, seu objeto. Representa esse objeto no em todos os seus aspectos, mas com referncia a um tipo

    de idia que eu, por vezes, denominei fundamento do representamen (PEIRCE, 1990, p. 46).

    Peirce nos mostra que o importante no determinar o que mental e o que no mental, mas de-

    terminar se nosso pensamento se dirige ou no aos objetos reais, dado que o "real o que significa qualquer

    coisa de real". Esta atitude serve, de um lado, para evitar posies que participam da iluso de dar a uma pala-

    vra, ou outra representao, um sentido universal externo ao pensamento e linguagem e acreditar que se

    pode conceber as coisas independentemente de toda relao concepo que se tem no esprito. O signo ,

    4 No tringulo semitico poderamos representar a teoria dos signos de Saussure como contemplando apenas o lado esquerdo do tringulo. Significante

    corresponderia a smbolo e significado a pensamento ou referncia.

  • LETRAS | 174

    portanto, um processo produtor de objetos novos5, que manifesta e realiza uma relao tridica. Como j de-

    monstramos, a relao tridica tem como pontos de apoio o representamen, o interpretante e o objeto.

    Alguma coisa AlgumSIGNO(ALGO)

    O signo tridico em Peirce

    Como se v, as intenes de Peirce na formulao de sua Semitica no so compartimentadas, mas

    universalizantes. Sua metodologia permite examinar os condicionamentos histricos que fazem com que algo

    signifique B e no C. Tambm permite alargarem-se os eixos interpretativos medida que reconhecem o

    intrprete, observador, ou leitor, como autnomo em relao ao produtor ou enunciador. Sua teoria dos

    signos, alicerada na fenomenologia, foi concebida como uma doutrina formal de todos os tipos possveis de

    semiose. Como afirma Santaella(1992, p. 36):

    Esta doutrina to geral e abstrata a ponto de poder dar conta de qualquer processo sgnico, esteja ele

    no invisvel mundo fsico microscpico ou no universo cosmolgico, esteja ele nas interaes celulares

    ou nos movimentos poltico-sociais.

    Nesse sentido, no se deve confundir semiose com semitica. Semiose quer dizer ao do signo. A

    ao do signo a de determinar um interpretante. Peirce tambm conceituou a semiose como o processo no

    qual o signo tem um efeito cognitivo sobre o intrprete (NTH, 1998, p. 129). A semitica a cincia que tem

    por tarefa estudar todos os tipos possveis de aes sgnicas, portanto, a semiose seu objeto de estudo. Na

    Semitica, o pensamento concebido como semiose ou processo de formao de signos. O processo de co-

    nhecimento s acontece se houver a mediao de signos, ou seja, o que est fora do sujeito (os fenmenos,

    objetos, os eventos) no existe at que seja nomeado. Portanto, para se conhecer e compreender qualquer

    coisa, a conscincia produz um pensamento, que uma relao entre o sujeito e o fenmeno. E isso, j ao

    nvel do que chamamos de percepo, um signo. Perceber no seno traduzir um objeto captado pelos

    rgos do sentido em um julgamento. interpor uma camada interpretativa entre a conscincia e o que alcan-

    5 O pragmatismo de Peirce alimenta uma concepo de linguagem a partir da idia de que a significao se d no processo da validao de nossas cren-

    as e fixao de hbitos de se agir numa certa direo. O estabelecimento de um significado um processo interpretativo (inferencial) de nomeao do

    primeiro signo por meio de outro signo (seu interpretante), a que seu turno conta com outro signo que s poder ser interpretado por outro signo, e

    assim sucessivamente numa cadeia que se no infinita, ao menos indefinida, visto que o significado de uma representao no pode ser mais que

    uma representao.

  • LETRAS | 175

    a os sentidos. Para conhecer e se conhecer, o homem s toma conscincia do real porque, de alguma forma,

    o traduz, o representa, e s interpreta essa representao numa outra representao: interpreta signos tradu-

    zindo-os em outros signos.

    H trs fatores envolvidos em qualquer semiose o signo, o elemento designado e a pessoa a quem

    ele se destina como signo e, por isso, a relao semitica , como j dissemos, uma relao tridica, respei-

    tando-se, aqui, a recorrncia ao componente pragmtico.

    Usado inicialmente por Peirce e difundido na Lingustica por Charles Morris, o termo pragmtica re-

    mete a um dos nveis da anlise de concentrao semitica: a sintaxe ocupa-se da relao entre os signos e

    fixa a estrutura gramatical de uma lngua como sistema de signos. A semntica ocupa-se da relao entre o

    signo e o seu denotatum real, ou objeto. A pragmtica ocupa-se da relao entre o signo e o objeto com os

    seus usurios, ou intrprete, seja este um produtor, seja um leitor.

    RELAO

    SINTTICO SIGNO SIGNO

    SEMNTICO SIGNO OBJETO

    PRAGMTICO SIGNO USURIO

    Relaes Signo X Objeto X Usurio (Morris) Fonte: Bense (1971)

    Dessa forma,

    se numa investigao feita uma referncia explcita ao falante, ou, em termos mais gerais, ao usurio

    da linguagem, ento a atribumos (a investigao) ao campo da pragmtica. Se abstramos do usurio

    da linguagem e analisamos apenas as expresses e suas denotaes, estamos no campo da semntica.

    E finalmente se abstramos tambm das abstraes, e analisamos somente as relaes entre as

    expresses, estamos na sintaxe (CARNAP, 1938 apud SILVEIRA, 2006, p. 3).

    Influenciado pela proposta de Peirce de refletir sobre os sinais e seus respectivos significados no m-

    bito filosfico, William James escreveu, em 1898 (vinte anos depois que Peirce usou o termo pragmatics), o

    ensaio intitulado Philosophical conceptions and pratical results e instaurou, a partir da, o que ficou conhecido

    como Pragmatismo Americano. Suas idias, no entanto, s causaram impacto no sculo XX, com o empenho

    de alguns filsofos em definir a filosofia, a linguagem e o conhecimento como prticas sociais6.

    6 Entre os estudiosos que se destacaram na divulgao das idias pragmatistas de James (e, por extenso, de Peirce), costuma-se registrar Williard V.

    Quine. Este, alm de estudar o empirismo do Crculo de Viena, desprezou o vocabulrio logicista e reforou muitas idias peircianas, as quais foram por

    ele chamadas de pragmatismo radical. Outros nomes que, segundo Pinto (2001) e Marcondes (2000), ajudaram a propagar o Pragmatismo Americano

    so os de Donald Davidson e Richard Rorty (defendendo a tese que se caracteriza como neopragmatismo). Tais estudiosos creditam suas reflexes aos

    estudos desenvolvidos pelos filsofos James Dewey e L. Wittgenstein. Estes defendiam a tese de que a anlise dos fundamentos da linguagem pode ser

  • LETRAS | 176

    De modo geral, o pragmatismo aponta as bases filosficas para uma anlise lingustica que relacione

    a todo momento signo e falante, antes de qualquer coisa, compondo ambos o que se chama de fenmeno

    lingustico (PINTO, 2001, p. 57).

    Um ponto importante a ser destacado, aqui, reside no fato de o pragmatismo americano entender

    que a anlise do significado em linguagens naturais necessariamente envolve consideraes pragmticas. Nes-

    se sentido, Peirce reserva pragmtica, dentro do contexto mais amplo da semitica, um espao especial,

    afirmando que os signos de uma linguagem, para que possam referir os objetos do mundo e organizar-se co-

    mo estrutura, dependem do uso que deles possa fazer o indivduo. Dessa perspectiva, a pragmtica caracte-

    rizada como a disciplina que estuda a relao dos signos com os seus usurios.

    Como j dito, apesar de no ser nosso propsito expor a histria e os diversos desenvolvimentos da

    teoria semitica desde o seu surgimento, consideramos relevante apresentar, ainda que de forma breve, al-

    guns dos princpios operatrios abordados por Peirce, a fim de melhor compreender o nvel de anlise caracte-

    rizado como pragmtico.

    As propriedades do signo

    Foi o pragmatismo que prestou especial ateno relao entre os signos e os seus utilizadores. O

    pragmatismo compreendeu que para alm das dimenses sinttica e semntica na anlise do processo sgnico

    h uma dimenso contextual. Isto , o signo no independente da sua utilizao. A novidade da abordagem

    pragmtica da semiose est em no remeter a utilizao dos signos para uma esfera exclusivamente emprica,

    socio-psicolgica, mas encarar essa utilizao de um ponto de vista lgico-analtico.

    O pragmatismo, como Peirce o concebe, um mtodo lgico-semitico de clarificao das idias. No

    esquema peirceano da classificao das cincias, a lgica (ou semitica em sentido geral) divide-se em trs

    ramos, conforme Santaella (2005): o primeiro, a gramtica especulativa, que nos d uma fisiologia das formas,

    uma classificao das funes e das formas de todos os signos; a segunda, a lgica crtica, que consiste no es-

    tudo da classificao e da validade dos argumentos; e em terceiro, o mais vivo ramo, a metodutica (ou retri-

    ca especulativa) que o estudo dos mtodos a que cada tipo de raciocnio d origem. O pragmatismo, que se

    baseia na idia de que o sentido de um conceito ou proposio pode ser explicado pela considerao dos seus

    efeitos prticos, uma teoria metodutica.7

    Representamen o nome peirceano, como j dissemos, do objeto perceptvel que serve como signo

    para o receptor. o veculo que traz para a mente algo de fora; o objeto corresponde ao referente, coisa

    concebida como uma prtica social contempornea e, dessa forma, puseram em evidncia uma perspectiva historicista. Contemporaneamente inclue-se

    o filsofo Stanley Cavel. 7 De acordo com Santalella(1988) a principal funo da Metodutica estudar a ordem ou procedimento apropriado a qualquer investigao, podendo

    se tambm chamada, de forma mais simplista, de Metodologia.

  • LETRAS | 177

    (pragma), ou ao denotatum em outros modelos de signo. O objeto pode ser uma coisa material do mundo, do

    qual temos um conhecimento perceptivo, mas tambm pode ser uma entidade meramente mental, ou imagi-

    nria, portanto, o signo pode denotar qualquer objeto: sonhado, resultante de alucinao, existente, esperado

    etc. Quando ele est fora do signo, sendo a realidade que o signo s pode indicar, ela chamado de objeto

    real, ou dinmico. Quando ele uma cognio produzida na mente do intrprete como representao mental

    de tal objeto, ele chamado de objeto imediato; o interpretante a significao do signo, o efeito do signo.

    Em alguns momentos, Peirce chama de significance, significado, ou interpretao do signo.

    A triangulao peirceana tambm representa bem a dinmica de qualquer signo como processo

    semitico, cuja significao depende do contexto de seu aparecimento, assim como da expectativa de seu

    receptor.

    Ainda em Peirce (1990), a semiose a elaborao de pensamentos (em pensamentos) desen-

    volve-se em trs etapas sucessivas e interligadas, em que a segunda pressupe a primeira e a terceira as duas

    anteriores:

    1) cone, quali-signo e rema pertencem categoria denominada primeiridade, que compreende o domnio do sensvel,

    do possvel, do qualitativo (do emocional); a apresentao de algo aos sentidos, imediato e integral, na qual cap-

    tamos as qualidades de algo como um sentimento instantneo e fugaz, que precede qualquer elaborao posterior;

    2) ndice, sin-signo e dicente pertencem categoria denominada secundidade, que compreende o domnio da experincia, da

    realidade, da ao da coisa ou evento (do energtico); depois da primeiridade, que pura impresso, vem a sensao, o

    confronto e a conscincia de algo concreto, exterior a si mesmo.

    3) smbolo, legi-signo e argumento pertencem categoria denominada terceiridade, que compreende tudo o que de-

    pende do pensamento, da conscincia. a esfera da prpria inteligibilidade (racionalidade). o momento em que o

    ator (sujeito da semiose) atravs de progressivos nveis de conscincia, passa de um pensamento que uma impres-

    so pura e instantnea de algo (primeiridade) para um pensamento constatativo, produzido pela sensao desse algo

    como uma presena concreta (secundidade), conduzindo-o, finalmente, percepo da realidade exterior.

    referncia de objeto, de meio e de interpretante da relao tridica so coordenadas, respecti-

    vamente, trs referncias semiticas precisas a que se pode denominar de cone, ndice e smbolo, relativa-

    mente referncia de objeto; quali-signo, sin-signo e legi-signo em relao referncia de meio; rema, dicen-

    te e argumento referncia de interpretante.

    Referncia de Objeto

    cone (escala de correspondncia: primeiridade, sintaxe, qualissigno, possibilidade) um represen-

    tamen que, em virtude de qualidades prprias, se qualifica em relao a um objeto, representando-o por tra-

    os de semelhana ou analogia, e de tal modo que novos aspectos, verdades ou propriedades relativas ao ob-

    jeto podem ser descobertos ou revelados.

  • LETRAS | 178

    cone:Uma esttua, um desenho, uma fotografia so icnicos porque mantm uma semelhana com o que ela representa

    ndice (escala de correspondncia: secundidade, semntica, sinsigno, existente) signo que se refere

    ao Objeto designado em virtude de ser realmente afetado por ele. Tendo alguma qualidade em comum com o

    objeto, envolve tambm uma espcie de cone, mas o fato de sua ligao direta com o objeto que o caracte-

    riza como ndice, e no os traos de semelhana.

    ndice: na primeira representao voc v fumaa, que ndice de fogo. Na segunda as gotas nos dizem que choveu.

    Smbolo (escala de correspondncia: terceiridade, nvel pragmtico, legissigno, lei ou pensamento)

    signo que se refere ao Objeto em virtude de uma conveno, lei ou associao geral de idias. Atua por meio

    de rplicas. Implica idia geral. A palavra o smbolo por excelncia.

    O braso representa a instituio UFPB. O sinal pare substitui um guarda de trnsito.

  • LETRAS | 179

    Referncia de Meio

    Quali-signo um signo qualitativo, uma qualidade sensvel tomada como signo. S signo quando fiscali-

    zado, mas no essa fiscalizao que o caracteriza como signo. Uma cor por exemplo, a sensao de vermelho;

    Sin-signo (sin = aquilo que uma vez s, como em singular) um objeto ou evento (ou uma coisa a-

    tualmente existente), tomado como signo. Como exemplo, citamos um determinado quadro, uma palavra como

    representao, um catavento;

    Legi-signo uma lei, ou tipo geral, tomado como signo. um prottipo, que se manifesta e se significa

    por corporificaes concretas. Como exemplo, as letras do alfabeto, independentemente de sua realizao impres-

    sa, uma placa de trnsito (pare).

    Em outras palavras, a referncia meio organiza os signos segundo as caractersticas do representa-

    men (do prprio signo). O quali-signo uma qualidade sgnica, imediata, tal como a impresso causada por

    uma cor. Podemos tambm dizer que o quali-signo um pr-signo, pois quando essa mesma qualidade se

    singulariza ou individualiza, ela se torna um sin-signo. O sin-signo, por sua vez, pode em seguida se tornar uma

    generalizao (uma conveno, uma lei, que substitui o conjunto que a singularidade representa), tornando-se

    assim um legi-signo.

    Para melhor compreenso tomemos o exemplo: as impresses que a cor azul e rosa podem propor-

    cionar em um indivduo so quali-signos, meras sensaes ou qualidades (as cores, os sons, os aromas etc, nos

    transmitem sensaes); se o indivduo acha que as sensaes provocadas so de seriedade, para o azul, e de

    delicadeza, para o rosa, porque ele percebe essas cores de uma forma singular. Trata-se, portanto, de sin-

    signos. Se ocorre uma generalizao de que a cor azul transmite o conceito de seriedade e deve ser associada

    ao sexo masculino e a cor rosa transmite o conceito de delicadeza e deve ser associada ao sexo feminino, isso

    passa a ser uma conveno, aceita em nossa sociedade. Assim, isso vira um legi-signo.

    Referncia de Interpretante

    Rema8 um signo que no verdadeiro nem falso, e que para seu interpretante o signo de uma

    possibilidade qualitativa, de uma funo proposicional que depende de completao (o rema um termo em

    relao ao dicente, que um enunciado, e ao argumento que um juzo completo, um raciocnio conclusivo);

    Dicente9, que corresponde ao enunciado, um signo que se presta afirmao ou assero, move a

    conscincia ao julgamento, verdadeiro ou falso, e, para seu interpretante, signo de existncia real, atual;

    um signo, para seu interpretante de existncia real. uma proposio ou quase-proposio envolvendo um

    Rema.

    8 Rema (escala de correspondncia: primeiridade, sintaxe, qualissigno, cone, possibilidade) signo, para o seu interpretante, de uma possibilidade

    qualitativa; termo ou funo proposicional que representa tal ou qual espcie de objeto possvel, destituda da pretenso de ser realmente afetada pelo

    objeto ou lei qual se refere. 9 Dicissigno ou Signo Dicente (escala de correspondncia: secundidade, semntica, sinsigno, ndice, existente).

  • LETRAS | 180

    Argumento10 um signo que, para seu interpretante, de uma conjuno ordenada. O argumento

    contm premissas e uma concluso que o completam. Como exemplos, citamos um silogismo, um estilo arts-

    tico regulado por leis.

    Para exemplificar, tomemos um exemplo de expresso lgica formal. O rema corresponderia ao que

    se chama de termo, isto , um enunciado impassvel de averiguao de verdade. Uma palavra qualquer, "man-

    ga", por exemplo, fora de um contexto sinttico um rema. Se incluirmos a palavra "casa" em uma sentena,

    como em "a casa est pegando fogo", podemos verificar seu grau de veracidade. O termo inicial tornou-se um

    dicente. Podemos procurar saber se a casa de dois andares porque a sentena apresentada no nos mostrou

    os motivos pelos quais se fez tal afirmao. Se houvesse tais informaes comprobatrias, no se trataria mais

    de um dicente, mas de um argumento. A sentena "A casa pegou fogo porque caiu um balo de papel em seu

    telhado de madeira traz um raciocnio completo, justificado, com carter conclusivo. Nesse caso, temos ento

    um argumento.

    No quadro a seguir, apresentamos o esquema das referncias dos signos, com as categorias peircia-

    nas, produzido por Bense (1971, p. 63):

    Quadro de referncia dos signos

    Fonte: Bense (1971)

    Peirce (1990) enceta mais uma subdiviso dos signos icnicos em imagem propriamente dita, dia-

    grama e metfora.

    A imagem propriamente dita rene os cones que mantm uma relao de analogia qualitativa, uma

    similaridade na aparncia. Uma foto, um desenho, uma pintura retomam as qualidades formais de seu objeto.

    O diagrama representa relaes principalmente relaes didicas ou relaes assim consideradas

    das partes de uma coisa, utilizando-se de relaes anlogas em suas prprias partes. Utiliza-se uma analogia

    de relao, interna ao objeto. Um organograma, o projeto de um motor.

    A metfora trabalha a partir de um paralelismo qualitativo, um paralelismo com algo diverso. A me-

    tfora uma figura de retrica. O leo (fora e agilidade) poderia ser comparado ao jogador de futebol Dunga,

    da seleo brasileira.

    10 Argumento (escala de correspondncia: terceiridade, nvel pragmtico, legissigno, smbolo, lei) Signo para seu interpretante de uma lei, de um

    enunciado,de uma proposio-enquanto-signo. Ou seja, o objeto de um Argumento, para o seu interpretante, representado em seu carter de signo;

    esse objeto uma lei geral ou tipo. Envolve um Dicissigno.

    MEIO

    OBJETO

    INTERPRETANTE

    MEIO

    PRIMEIRIDADE

    Quali-signo

    cone

    Rema

    OBJETO

    SECUNDIDADE

    Sin-signo

    ndice

    Dicente

    INTERPRETANTE

    TERCERIDADE

    Legi-signo

    Smbolo

    Argumento

  • LETRAS | 181

    Em sntese, pode-se afirmar que a imagem uma similaridade na aparncia; o diagrama nas relaes

    e a metfora no significado.

    Pela lgica peirceana, no entanto, quando passamos da imagem para o diagrama, este embute aquela,

    assim como a metfora engloba, dentro de si, tanto o diagrama como a imagem. Da que as cintilaes

    conotativas da metfora produzam ntidos efeitos imagticos, assim como a metfora sempre se engen-

    dra num processo de condensao tipicamente diagramtico. Essa mesma lgica de encapsulamento

    dos nveis mais simples pelo mais complexo tambm vai ocorrer nas relaes entre cone, ndice e sm-

    bolo. por isso que o smbolo no seno uma sntese dos trs nveis sgnicos: o icnico, o indicial e o

    prprio simblico. A afirmao de que a imagem sempre e meramente cone j relativamente enga-

    nadora; a de que a palavra pura e simplesmente smbolo decididamente equivocada. [...] tambm h

    necessidade de imagem no smbolo, pois sem a imagem o smbolo no poderia significar (SANTAELLA,

    1999, p. 63).

    Segundo Eco (1985), representar iconicamente um objeto transcrever segundo convenes grficas

    propriedades culturais de ordem tica e perceptiva, de ordem ontolgica (qualidades essenciais que atribuem

    aos objetos) e de ordem convencional, quer dizer, o modo costumeiro de representar os objetos.

    O signo esttico prope-se como totalizante, isto , signo que aspira completude, visto que se enra-

    za no icnico e, como tal, signo que no se distrai de si, nem na relao com o objeto que pelo cone subs-

    titudo, nem na relao com o interpretante que s pode ser fundada na analogia.

    As dez classes principais de signos segundo Peirce

    Um aspecto notvel da atividade semitica de Peirce: suas classificaes das variedades de signos,

    uma das grandes contribuies cincia dos signos. O nmero trs, segundo Todorov (1999), desempenha

    papel fundamental, tanto quanto o dois de Saussure. O nmero total de variedades que Peirce distingue de

    66. Algumas dessas distines so bastante correntes. A mais conhecida: cone, ndice e smbolo.

    Estudioso da lgica, Peirce estabeleceu 10 tricotomias, isto , 10 divises tridicas do signo de cuja

    combinatria resultam inmeras classes. Peirce estabeleceu regras de construo de correlaes. So regras

    que dizem respeito natureza que devem assumir os correlatos de uma trade genuna, para se manterem

    compatveis uns com os outros. Silveira (2007, p. 94) apresenta uma verso dessas regras:

    Primeira regra: O primeiro correlato , dentre os trs, aquele considerado como da mais simples natu-

    reza, sendo uma lei se qualquer dos trs for uma lei e no sendo mera possibilidade, a menos que todos

    os trs participem dessa natureza.

    Segunda regra: O terceiro correlato , dentre os trs, aquele considerado de natureza mais complexa,

    sendo mera possibilidade, caso qualquer dos trs participe daquela natureza e no sendo uma lei a me-

    nos que todos os trs participem daquela natureza.

    Terceira regra: O segundo correlato dentre os trs, aquele considerado, como de complexidade inter-

    mediria, de tal sorte que se qualquer dos dois for da mesma natureza, sendo ou meras possibilidades

    ou existncias concretas ou leis, ento o segundo correlato ser dessa mesma natureza, enquanto que

    se os trs forem todos de natureza diferente, o segundo correlato ser uma existncia concreta.

  • LETRAS | 182

    As 10 classes se estabelecem na relao do signo consigo mesmo (quali-signo, sin-signo, legi-signo),

    do signo com seu objeto (cone, ndice, smbolo) e do signo com seu interpretante (rema, dicente, argumento).

    As classes de signo obtidas decorrem da compatibilidade encontrada na interseo das trs tricotomias.

    No quadro 3, elas so dispostas da seguinte maneira: na primeira coluna, o primeiro correlato, que

    corresponde ao signo relacionado com ele mesmo, ou como relao de representmen; na segunda, corres-

    ponde a relao do signo como seu objeto dinmico, ou relao do objeto; e na terceira, a relao do signo

    com seu interpretante.

    Relao de representmen Relao de objeto Relao de interpretante

    I Possibilidade Possibilidade Possibilidade

    II Existncia Possibilidade Possibilidade

    III Existncia Existncia Possibilidade

    IV Existncia Existncia Existncia

    V Lei Possibilidade Possibilidade

    VI Lei Existncia Possibilidade

    VII Lei Existncia Existncia

    VIII Lei Lei Possibilidade

    IX Lei Lei Existncia

    X Lei Lei Lei

    Funo dos correlatos Fonte: Silveira (2007)

    No esquema a seguir, mostramos essas relaes graficamente:

    Funo dos correlatosFonte: Mari (1998)

  • LETRAS | 183

    Relao de representmen Relao de objeto Relao de interpretante I Qualissigno Icnico Remtico (Regra 1)

    II Sinsigno Icnico Remtico (Regra 1e 2)

    III Sinsigno Incitativo Remtico (Regra 1, 2 e 3)

    IV Sinsigno Indicativo Dicente (Regra 3)

    V Legisigno Icnico Remtico (Regra 1 e 3)

    VI Legisigno Indicativo Remtico (Regra 1, 2 e 3)

    VII Legisigno Indicativo Dicente (Regra 1 e 3)

    VIII Legisigno Smbolo Remtico (Regra 1 e 3)

    IX Legisigno Smbolo Dicente (Regra 1 e 3)

    X Legisigno Smbolo Argumento (Regra 2)

    Classificao dos signos Fonte: Silveira (2007)

    O QUE EXEMPLO 1

    QUALI-SIGNO ICNICO REMTICO uma qualidade que um signo, tal

    como a sensao de vermelho. Pura

    sensibilidade

    2

    SIN-SIGNO ICNICO REMTICO um objeto particular e real que, pelas

    suas prprias qualidades, evoca a idia

    de um outro objeto, tal como um dia-

    grama de circuitos eletrnicos numa

    mquina particular.

    3

    SIN-SIGNO INDICIAL REMTICO Dirige a ateno a um objeto determina-

    do pela sua prpria presena, tal com um

    grito espontneo um signo de dor.

    UM GRITO

    4

    SIN-SIGNO INDICIAL DICENTE tambm um signo afetado diretamente

    por seu objeto, mas alm disso capaz

    de dar informaes sobre esse objeto,

    origem, finalidade. Um cata vento.

    5

    LEGI-SIGNO ICNICO REMTICO um cone interpretado como lei, tal

    como um diagrama - parte sua indivi-

    dualidade ftica- num manual de eletr-

    nica.

    6

    LEGI-SIGNO INDICIAL REMTICO uma lei geral que requer que cada um

    de seus casos seja realmente afetado por

    seu objeto, de tal modo que simplesmen-

    te atraia a ateno para esse objeto,

    como um pronome demonstrativo.

    PRONOME

    DEMONSTRATIVO

    SIRENE DE

    AMBULNCIA

    7

    LEGI-SIGNO INDICIAL DICENTE uma lei geral afetada por um objeto

    real, de tal modo que fornea informao

    definida a respeito desse objeto, tal

    como um prego de um mascate, uma

    placa de trnsito, uma ordem.

    8

    LEGI-SIGNO SIMBLICO REMTICO um signo convencional que ainda no

    tem o carter de uma proposio, tal

    como um dicionrio

    SUBSTANTIVO

    COMUM

    9

    LEGI-SIGNO SIMBLICO DICENTE Combina smbolos remticos em propo-

    sio, sendo, portanto, qualquer propo-

    sio completa.

    PROPOSIO

    10

    LEGI-SIGNO SIMBLICO ARGUMEN-

    TAL

    o signo do discurso racional, tal como a

    forma prototpica de um silogismo.

    SILOGISMO

    As dez classes tricotmicas de Peirce

  • LETRAS | 184

    E para concluir...

    Para concluir este Captulo, observamos que para discutir as questes que envolvem os signos, a se-

    mitica apresenta em sua matriz terica indicaes para uma abordagem adequada. As teorias de Saussure e

    Peirce e seus seguidores, nos fornecem parmetros para avaliar as diversas interfaces da linguagem verbal e

    no-verbal, e nos ajudar a entender o fenmeno da representao.

    Primeiro, mostramos a semiologia de Ferdinand de Saussure, dando especial ateno sua concep-

    o dual de signo. Depois Charles Sanders Peirce, situando seu lugar especfico no conjunto do seu pragmatis-

    mo, dando tambm uma especial ateno ao seu modelo tricotmico de signo.

    A Semitica nos d a base conceitual e o instrumental que nos permite avanar para uma anlise

    pragmtica dos signos em si mesmos, valorizando determinados aspectos que no o so em outras conceitua-

    es. Como sublinhamos, ela uma teoria dos signos, da representao e do conhecimento, que elabora uma

    extenso da lgica no territrio da cognio e da experincia dos fenmenos, propondo novas luzes e olhares

    sobre questes da significao e da produo do sentido.

    Como diria Peirce, um signo algo atravs do conhecimento do qual ns conhecemos algo mais

    daquelas coisas que ns no poderemos nunca conhecer totalmente nem represent-las totalmente. Isso nos

    leva para uma certa idia de substituio, associada linguagem, seja das coisas invisveis seja das coisas

    visveis. Mas atravs do signo que se gera o encontro particular entre uma determinada invisibilidade que

    no se conforma nunca plenamente no que visvel. Por isso esse processo criativo permanente.

    Esta abordagem do pensar como produo de signos e a capacidade analtica das funes e relaes

    do signo transformam a semitica numa sofisticada ferramenta para esclarecer as articulaes entre a forma e

    o(s) sentido(s), entre a leitura da estrutura e o leitor. Adotamos o ponto de vista semitico, livre dos paradig-

    mas e das hierarquias verbais, para verificarmos os modos de funcionamento de todos os signos.

    E por fim, advertimos que no so os signos que constituem o objeto de anlise semiolgica e, sim, o

    texto. Os signos so as unidades de superfcie a partir dos quais se procura descobrir o jogo das significaes

    que est contido nele, e que feito com eles.

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  • LETRAS | 185

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