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VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis - Vitória – ES - BRASIL - 7 a 9 de setembro de 2011 A sustentabilidade no ateliê de projeto: Escola das Artes Balneário Pinhal Júlio Cruz (1), Roberta Krahe Edelweiss (2) e Eugenia Aumond Kuhn (3) (1) Departamento de Arquitetura, FAU/UFRGS, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UNISINOS, Brasil. E-mail: [email protected] (3) Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil – PPGEC; Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UNIRITTER, Brasil. E-mail: [email protected] Introdução: O presente artigo apresenta um exercício acadêmico de projeto em disciplina do penúltimo semestre da Faculdade de Arquitetura da UFRGS (Projeto ArquitetônicoVII). O tema, intitulado “Escola das Artes”, consistiu em uma sede para atividades artísticas e culturais, complementares àquelas de educação da rede pública de ensino fundamental do Município de Balneário Pinhal (RS). Tratou-se de uma demanda real de projeto, trazida pela Prefeitura da cidade, que, com o apoio do Ministério da Educação, pretende retomar o ideal de Educação Integral, executando uma escola modelo. Assim como em experiências anteriores da mencionada disciplina, os projetos tem como premissa a inserção de estratégias de sustentabilidade e há potencial de, por meio da seleção de uma banca avaliadora, um deles ser efetivamente executado. O diferencial deste semestre foi trabalhar com o tema “escola sustentável” dentro de um ateliê cujo o propósito é o próprio ensino com foco em sustentabilidade. Objetivo: A partir do exposto, este artigo tem por objetivo principal divulgar os resultados desta experiência acadêmica, apresentando uma análise das variadas soluções projetuais adotadas pelos alunos. Método/Abordagens: Como objeto de estudo utilizou-se o material produzido como resultado da disciplina e a observação do processo de projeto em sala de aula. Resultados: Como resultado, obteve-se uma síntese estruturada das diferentes soluções compositivas, formais e de sustentabilidade adotadas nos projetos, as quais dão indícios de, a partir do trabalho sequenciado da disciplina, estar se consolidando uma expressão particular do que venha a ser arquitetura sustentável para o Rio Grande do Sul, que alia requisitos de sustentabilidade à uma linguagem contemporânea. Contribuições: Estimular a discussão acerca do ensino e da prática de projeto com ênfase no referencial de sustentabilidade. Como objetivo secundário, busca-se estimular iniciativas do mesmo caráter. Palavras-chave: Escola, Artes, Madeira, Sustentabilidade. Abstract: Introduction: This paper presents an academic project exercise on a discipline of the penultimate semester at the Faculdade de Arquitetura of UFRGS (Projeto ArquitetônicoVII). The theme, entitled "School of the Arts", consisted of a headquarters for arts and cultural activities, complementary to those of public education in elementary schools in the city of Pinhal (RS). It was a real demand for the project, brought by the city administration, which, with support from the Ministry of Education, intends to resume the ideal of Integral Education, running a model school. As in previous experiences of that discipline, the projects are premised on the inclusion of sustainability strategies and there is potential, through the selection of a bank examiner, one of them actually being executed. The difference this semester was to work with the theme "sustainable school" in a workshop whose purpose is the teaching itself with a focus on sustainability. Objective: Based on the presented on this paper, it aims to disseminate the main results of this academic experience, presenting an analysis of various project solutions adopted by the students. Methods / Approaches: As the object of study, it was used the material produced as a result of discipline and observing the design process in the classroom. Results: The result was a structured synthesis of different compositional, formal and sustainability solutions adopted in the projects, which give evidence, sequenced from the work of the discipline, to be consolidating a particular expression of what will be sustainable architecture for the Rio Grande do Sul, which combines sustainability requirements and a contemporary language. Contributions: To stimulate discussion about teaching and project practice with emphasis on the framework of sustainability. As a secondary objective, we seek to encourage initiatives of the same character. Keywords: School, Arts, Wood, Sustainability.

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A sustentabilidade no ateliê de projeto: Escola das Artes Balneário Pinhal

Júlio Cruz (1), Roberta Krahe Edelweiss (2) e Eugenia Aumond Kuhn (3)

(1) Departamento de Arquitetura, FAU/UFRGS, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UNISINOS, Brasil. E-mail: [email protected]

(3) Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil – PPGEC; Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UNIRITTER, Brasil. E-mail: [email protected]

Introdução: O presente artigo apresenta um exercício acadêmico de projeto em disciplina do penúltimo semestre da Faculdade de Arquitetura da UFRGS (Projeto ArquitetônicoVII). O tema, intitulado “Escola das Artes”, consistiu em uma sede para atividades artísticas e culturais, complementares àquelas de educação da rede pública de ensino fundamental do Município de Balneário Pinhal (RS). Tratou-se de uma demanda real de projeto, trazida pela Prefeitura da cidade, que, com o apoio do Ministério da Educação, pretende retomar o ideal de Educação Integral, executando uma escola modelo. Assim como em experiências anteriores da mencionada disciplina, os projetos tem como premissa a inserção de estratégias de sustentabilidade e há potencial de, por meio da seleção de uma banca avaliadora, um deles ser efetivamente executado. O diferencial deste semestre foi trabalhar com o tema “escola sustentável” dentro de um ateliê cujo o propósito é o próprio ensino com foco em sustentabilidade. Objetivo: A partir do exposto, este artigo tem por objetivo principal divulgar os resultados desta experiência acadêmica, apresentando uma análise das variadas soluções projetuais adotadas pelos alunos. Método/Abordagens: Como objeto de estudo utilizou-se o material produzido como resultado da disciplina e a observação do processo de projeto em sala de aula. Resultados: Como resultado, obteve-se uma síntese estruturada das diferentes soluções compositivas, formais e de sustentabilidade adotadas nos projetos, as quais dão indícios de, a partir do trabalho sequenciado da disciplina, estar se consolidando uma expressão particular do que venha a ser arquitetura sustentável para o Rio Grande do Sul, que alia requisitos de sustentabilidade à uma linguagem contemporânea. Contribuições: Estimular a discussão acerca do ensino e da prática de projeto com ênfase no referencial de sustentabilidade. Como objetivo secundário, busca-se estimular iniciativas do mesmo caráter.

Palavras-chave: Escola, Artes, Madeira, Sustentabilidade.

Abstract:

Introduction: This paper presents an academic project exercise on a discipline of the penultimate semester at the Faculdade de Arquitetura of UFRGS (Projeto ArquitetônicoVII). The theme, entitled "School of the Arts", consisted of a headquarters for arts and cultural activities, complementary to those of public education in elementary schools in the city of Pinhal (RS). It was a real demand for the project, brought by the city administration, which, with support from the Ministry of Education, intends to resume the ideal of Integral Education, running a model school. As in previous experiences of that discipline, the projects are premised on the inclusion of sustainability strategies and there is potential, through the selection of a bank examiner, one of them actually being executed. The difference this semester was to work with the theme "sustainable school" in a workshop whose purpose is the teaching itself with a focus on sustainability. Objective: Based on the presented on this paper, it aims to disseminate the main results of this academic experience, presenting an analysis of various project solutions adopted by the students. Methods / Approaches: As the object of study, it was used the material produced as a result of discipline and observing the design process in the classroom. Results: The result was a structured synthesis of different compositional, formal and sustainability solutions adopted in the projects, which give evidence, sequenced from the work of the discipline, to be consolidating a particular expression of what will be sustainable architecture for the Rio Grande do Sul, which combines sustainability requirements and a contemporary language. Contributions: To stimulate discussion about teaching and project practice with emphasis on the framework of sustainability. As a secondary objective, we seek to encourage initiatives of the same character.

Keywords: School, Arts, Wood, Sustainability.

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1. INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta a análise de um exercício acadêmico de projeto na disciplina Projeto Arquitetônico VII, a qual se desenvolve no penúltimo semestre do curso de graduação da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao longo dos últimos 7 anos - desde 2005 – a disciplina, sob a coordenação do professor Júlio Cruz e com auxílio de professores assistentes sob regime de contratação temporária, tem objetivado o desenvolvimento de projetos de arquitetura mais sustentável. A proposta busca colaborar com as metas da Agenda 21 para Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento (PLESSIS, 2002), a qual aponta que uma das principais barreiras para o alcance dos objetivos estabelecidos para o setor é “a lentidão das escolas de arquitetura e engenharia em realizar mudanças e atualizações em seus currículos, o que torna também mais lenta a produção de profissionais capacitados”.

Observa-se que, a despeito dos processos de produção do ambiente construído serem de grande relevância para a mitigação de impactos ambientais das ações humanas na Terra e para a promoção de sociedades mais justas e inclusivas, poucos são os cursos de graduação em arquitetura, no Brasil, que contemplam disciplinas voltadas ao tema em seus currículos ou que incluam tais valores em disciplinas tradicionais.

Por ser a última disciplina de projeto do curso, imediatamente antes do Trabalho Final de Graduação, os alunos matriculados já se encontram em um estágio avançado de domínio dos processos de arquitetura, o qual tem permitido que a disciplina buscasse contribuir também com a dimensão social da sustentabilidade, ao adotar, como temáticas de projeto, demandas reais de comunidades que, por meios tradicionais, não possuiriam acesso aos serviços de arquitetura.

Assim, a excepcionalidade da proposta da disciplina dentro do curso de arquitetura da FAUFRGS manifesta-se tanto pela abordagem de sustentabilidade – sobre a qual boa parte da atual geração de estudantes está ávida por informações -, quanto pela possibilidade de que um dos projetos desenvolvidos no semestre seja materializado. A escolha do projeto a ser executado ocorre por intermédio de um concurso interno, julgado, ao final, por uma banca de especialistas em sustentabilidade e arquitetos com afinidade ao tema da Disciplina. O concurso é denominado Concurso de Idéias para Arquitetura mais Sustentável, pois o desenvolvimento do projeto durante a disciplina restringe-se à etapa de anteprojeto. O projeto executivo vem a ser desenvolvido pelo aluno vencedor apenas depois de formado e em pose de seu registro junto ao CREA/RS.

Como resultado, as vagas de matrícula na disciplina têm sido, nos últimos semestres, preenchidas em sua totalidade e os estudantes, uma vez matriculados, desenvolvem seus projetos individuais com grande entusiasmo e empenho, resultando em trabalhos finais de alta qualidade.

Ao longo das suas diversas edições, as temáticas do Projeto Arquitetônico VII atenderam à diversificadas demandas sociais, entre elas, comunidades familiares de pescadores, comunidades habitacionais de baixa renda, comunidades indígenas com demandas específicas e grupos de auxílio comunitário. Informações adicionais sobre procedimentos didáticos e resultados dos concursos anteriores da disciplina podem ser obtidas em Zanin e Cruz (2009). A última experiência concluída, apresentada neste artigo, buscou contemplar uma edificação para a educação integral infantil, vinculada a rede pública de ensino do Município de Balneário Pinhal, Rio Grande do Sul.

1.1. O papel da edificação para a educação infantil no ensino para a sustentabilidade

Diferentes organismos internacionais, organizações não governamentais e políticas públicas voltadas ao ambiente natural e ao desenvolvimento de alguns países, apontam a educação como chave para o alcance de sociedades mais sustentáveis. Assim, no debate internacional, as expressões educação para a sustentabilidade ou educação para um futuro sustentável têm sido recorrentes. Essa renovação discursiva e de ação pode ser verificada em documentos relacionados ao programa Década das Nações Unidas para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, que engloba o período de 2005 a 2014, e é promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Tecnologia - UNESCO (UNESCO, 2006).

Uma das metas do programa da UNESCO é fornecer oportunidades para que se promova o conceito de desenvolvimento sustentável, por meio da aprendizagem e da sensibilização dos cidadãos desde o mais cedo possível. A estratégia principal é a aplicabilidade do conhecimento, de forma a integrar as experiências de aprendizagem na vida cotidiana pessoal. Nesse contexto, o espaço físico das instituições de ensino, predominantemente de educação fundamental, é apontado como tendo um papel fundamental no aprendizado e na formação de referenciais construtivos e de comportamento das novas gerações, a partir da experiência prática.

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Há tempo o ambiente construído das instituições de ensino é tema de reflexão e de debates entre a comunidade escolar. Entretanto, o desenvolvimento de projetos para ambientes escolares da rede pública brasileira, que fomentem atividades pedagógicas interdisciplinares e a integração entre teoria e prática, esbarra na defasagem de investimentos governamentais, tanto qualitativos, quanto quantitativos.

Neste contexto, considerou-se o tema de projeto Edificação Escolar como de significativa relevância social e de grande potencial de exploração formal e técnica por parte dos estudantes da disciplina de Projeto Arquitetônico VII. Em consonância com o exposto acima, estimulou-se que os alunos explorassem de todas as formas possíveis uma edificação com:

� Caráter didático; � Caráter lúdico; � Ambientes que instigassem a criatividade e a expressão artística.

1.2. A Escola das Artes como promoção da Educação integral

O tema de projeto do semestre em estudo surgiu de uma parceria com a Prefeitura de Balneário Pinhal/RS. Esta parceria, estabelecida pelo terceiro ano consecutivo, tem focado em demandas sociais do Município. A Secretaria de Educação, alinhada com os objetivos do Ministério da Educação, propôs para esta edição do concurso de idéias uma edificação para as atividades de Educação Integral.

A Educação Integral tem sido um ideal presente na legislação educacional brasileira e nas formulações dos mais lúcidos educadores. Iniciativas diversas, em diferentes momentos da vida pública do país, levaram esse ideal para perto das escolas implantando propostas e modelos de grande riqueza, mas ainda pontuais e esporádicos.

O Ministério da Educação, por meio das Secretarias da Educação Continuada e Diversidade (SECAD) e da Educação Básica (SEB), em parceria com o FNDE, retomou esse ideal para, a partir do aprendizado de experiências bem sucedidas, levá-lo como prática às redes de ensino dos estados e municípios do país (BRASIL, 2009).

Neste contexto, a proposta consiste em oferecer, aos alunos da rede pública de ensino fundamental do Município, atividades complementares (artísticas e culturais), as quais ocorrem no contraturno (turno oposto) ao das atividades escolares tradicionais. O exercício de projeto proposto neste trabalho consiste, justamente, em uma sede para essas atividades, denominada Escola das Artes.

A seleção das modalidades artísticas, a serem ministradas na escola partiu dos Programas lançados pelo Ministério de Educação: Programa Cineclube, o qual tem por objetivo aproximar a comunidade escolar da cinematografia nacional, através da difusão do audiovisual na rede pública de ensino e de promover a educação para a mídia audiovisual; Programa Cultura Viva, o qual busca prover recursos para manifestações artísticas populares, prioritariamente para a fruição, produção e difusão da diversidade cultural brasileira.

A partir dos programas culturais mencionados, estabeleceu-se, juntamente com a Secretaria de Educação de Balneário Pinhal, que o programa de necessidades a ser contemplado no protejo, deveria incluir espaços que abrigassem atividades de ensino em música, dança, teatro e cinema, além de atividades de apoio e administrativas. O desbembramento e dimensionamento ficaram a cargo de cada aluno.

1.3. Condicionantes do contexto de implantação do projeto Escola das Artes

O Município de Balneário Pinhal se localiza no litoral norte do Rio Grande do Sul. Apresenta uma paisagem caracterizada por uma orla marítima ainda mantendo dunas a beira-mar e lagoas de água doce, os quais atraem turistas no verão e propiciam a pesca artesanal como características marcantes do Município. Nas últimas décadas, florestas plantadas de Eucalyptus Grandis têm marcado a região. Uma grande contribuição para tal mudança foi a implantação de uma empresa florestadora e de sua unidade de desdobro de madeira na fronteira do território vizinho. Como decorrência, a apicultura, a exploração e beneficiamento de madeira e a extração de resina se encontram entre as principais atividades econômicas do Município. A madeira cultivada e beneficiada em Balneário Pinhal é, em grande parte, destinada à construção civil e constitui-se uma opção de material predominante nos projetos da disciplina, por se caracterizar como um dos poucos recursos renováveis localmente disponíveis para a construção.

O terreno destinado à Escola das Artes, localizado em uma área central da cidade (figuras 1a e 1b), é praticamente plano e de características alagadiças (figuras 2a e 2b). Apresenta acessos através das duas ruas em lados opostos do quarteirão e prevê a preservação de um caminho peatonal em uma das suas laterais internas, o qual se conecta a um caminho conformado entre diversos lotes e que permite o deslocamento do veranista entre o interior do bairro e o mar.

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Figura 1: Terreno de projeto: a) Localização em Balneário Pinhal (fonte: google maps); b) características básicas.

Figura 2: Vistas do terreno a) Leste / Oeste (foto: J.Cruz); b) Vista Nordeste / Sudoeste (foto: J.Cruz)

Quanto aos condicionantes climáticos, a região se caracterizada como subtropical úmida, com duas estações bem definidas. A carta bioclimática indica que, o condicionamento passivo das edificações requer estratégias de aquecimento solar de maio a setembro e ventilação e desumidificação no restante do ano. Os ventos predominantes de agosto à abril (período ameno ou no qual há desconforto por calor) incidem a partir do quandrante nodeste, enquanto o ventos de junho e julho, período no qual há desconforto por frio), do quadrante sudoeste. Esses ventos são popularmente conhecidos como, respectivamente, Nordestão e Minuano. Ressalta-se ainda que, embora a ventilação seja a principal estratégia para o período de verão, a intensidade dos mesmos é, usualmente, motivo desconforto na maior parte do ano.

2. OBJETIVO

Segundo Mikhail Bakhtin (BAKHTIN, 2003) uma criação verbal se expressa através de forma, conteúdo e material. Podemos estender esta visão às demais Artes, mais especificamente ao campo da arquitetura. O exercício da disciplina, como explicitado na introdução, teve como dados o material predominante (madeira de reflorestamento local) e o conteúdo (a ser interpretado individualmente), deixando a forma como problema a ser resolvido pelos estudantes.

Quanto ao material, o uso da madeira não excluiu, logicamente, a possibilidade complementação do repertório dos projetos por quaisquer outros materiais de cunho sustentável. Quanto ao conteúdo, foi parte do exercício a compreensão e reflexão acerca: do contexto urbano, da demanda social do tema, da materialização do cunho sustentável do projeto, do conhecimento das necessidades dos usuários. A forma, por sua vez, pode ser entendida como a síntese, a maneira com que cada projeto solucionou a problemática proposta, levando em conta a interpretação pessoal de todas as questões supracitadas para o projeto da Escola das Artes.

A partir do exposto, o objetivo deste artigo é divulgar a experiência acadêmica e apresentar as diferentes propostas de abordagem à temática por parte dos estudantes da disciplina de PVII, evidenciando diferentes formas de equacionamento do problema Escola das Artes enquanto espaço para a educação para a sustentabilidade.

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3. MÉTODO EMPREGADO

Partindo do pressuposto de que a arquitetura pode ser compreendida a partir de um sistema de relações e de que o ambiente se constrói para o “habitar” (HEIDEGGER, 1994), é evidente - embora muitas vezes esquecida - a centralidade da figura do ser humano como motivador. A análise dos projetos aqui apresentados partiu, portanto, das relações propostas entre edifício, usuário e contexto. O leitmotiv, como explicitado na introdução do presente artigo, são, então, os estudantes da rede de ensino básico de Balneário Pinhal.

É importante ressaltar a adoção proposta pelo presente artigo de uma leitura simbólica de vozes, carregada de valores poéticos (ARISTÓTELES, 1982), através da qual se identifica a voz do autor e a voz do usuário. A voz do autor; na figura dos estudantes da disciplina de P7, revela suas intenções e é, imprescindivelmente, baseada na voz do usuário hipotético, representado pela figura dos alunos da rede escolar. A resposta do autor ao usuário pode acontecer de diferentes formas, representando um conceito arquitetônico proposto, dependente da leitura que o autor faz da problemática apresentada.

O entendimento de diferentes vozes e tempos; tempo de prefiguração imaginário onde se encontra o usuário hipotético, tempo de configuração de projeto, e tempo futuro de uso propriamente dito; é de sumo interesse para o entendimento do sistema de relações no momento de configuração do projeto arquitetônico. O emprego do termo dialogia, proposto por Paul Ricoeur (RICOEUR, 2003), como foco de análise e detecção de conceito arquitetônico justifica-se por ser um instrumento que considera a arquitetura como parte de um conjunto relacional. A partir desta consideração se faz necessário compreender a arquitetura como um elemento calcado dentro de um sistema que se relaciona, a partir do diálogo, com os demais elementos.

A partir do exposto, as análises dos projetos foram feitas de modo a identificar as singularidades e semelhanças conceituais, formais e compositivas e de atendimento às questões técnicas e de caráter didático do edifício como espaço para a educação para a sustentabilidade. A análise formal e compositiva foi realizada com base nos critérios apresentados por Ching (2000), enquanto que a análise dos aspectos de sustentabilidade foi feitas a partir das estratégias para conforto térmico, visual e acústico e de equacionamento dos fluxos de materiais e energia envolvidos no uso das edificações.

4. CONCURSO DE IDEIAS ESCOLA DAS ARTES

Apresenta-se aqui, 8 projetos selecionados entre aqueles desenvolvidos pelos 30 estudantes matriculados da disciplina. Tratam-se dos projetos que apresentaram maior profundidade no atendimento do problema apresentado e que, por esse motivo, participaram do Concurso de Idéias. Apresenta-se, na seção a seguir, uma análise geral dos projetos, identificando-se soluções comuns e, posteriormente, faz-se uma análise individual, ressaltando soluções específicas.

4.1. Análises dos projetos selecionados para a Escola das Artes

A interpretação do diálogo entre usuário e edificação e, consequentemente, a materialização dos conceitos nos projetos, se deram de diferentes formas. Três linhas principais, muitas vezes sobrepostas, podem ser observadas nos conceitos adotados: a) foco no caráter lúdico dos ambientes; b) foco no caráter congregador do ambiente escolar e; c) foco na valorização da individualidade de cada Arte.

Observa-se que foi objeto de reflexão dos autores a dicotomia entre a escala humana e, particularmente, a infantil e a escala de uma edificação que se propõem a fornecer uma contribuição cultural e educacional para cidade através da criação de espaços de referência social e atrativo urbanístico. Em geral o atendimento a ambos os requisitos foi obtido através da conjugação de diferentes elementos, tais como pérgulas, coberturas e volumes, de alturas e/ou dimensões distintas. Como exemplo, pode-se citar o projeto apresentado no item 4.1.3, que estabelece, como marco na paisagem, uma grande cobertura, sustentada por altos pilares ramificados. Em contrapartida, volumes soltos abaixo desta cobertura configuram ambientes internos de uma escala menor.

Quanto à materialidade, a totalidade dos projetos optou por manter a madeira com sua aparência natural, como sendo convidativa ao tato. Entretanto, a formas de exploração estrutural e de vedação foram bastante variadas. Para fins estruturais, foram utilizadas tanto toras roliças quanto peças desdobradas, em diferentes composições de vigas e pilares. Para vedações e proteções verticais, uma variedade de padrões de painéis, sejam completamente vedados ou vazados, foi explorada pelos estudantes, conferindo plasticidades distintas aos projetos. Ressalta-se que, para fins de racionalidade construtiva e economia de recursos, todos os estudantes trabalharam com coordenação modular e

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realizaram o projeto do módulo individual dos painéis, mesmo – e principalmente - quando os volumes projetados apresentam formas circulares ou variáveis.

Poucos projetos valeram-se do uso de materiais, além da madeira, como vedação. As propostas que o utilizam, em geral o fazem, com a finalidade de ressaltar algum elemento organizador da composição dos edifícios, como o exemplo do projeto apresentado no item 4.1.2.

Foi comum aos projetos a adoção do edifício dito “transparente”, onde os sistemas, tais como leito de evapotranspiração para tratamento de águas residuais, reservatórios e canalizações para coleta água de chuva e painéis de aquecimento solar, foram deixados aparentes e explorados formalmente. A proposta de revelar tais sistemas pode ser entendida como uma estratégia pedagógica, uma vez que as crianças que utilizarem a escola passarão a familiarizar-se com os mesmos, seguindo a proposta da Década das Nações Unidas para a Educação para a Sustentabilidade.

4.1.1. Projeto de autoria de Maria Victória Deguer: primeiro colocado no Concurso de Idéias

O conceito do projeto, segundo a autora, foi a idéia de movimento, bem como a idéia de singularidade das quatro Artes. A organização da forma, derivada do conceito, se deu através de uma volumetria simbólica: edificações alongadas em desníveis, configurando faixas, cada uma abrigando uma das modalidades artísticas e expondo-as através de grandes aberturas voltadas para as ruas (figuras 3a e 3b). A unidade entre os volumes é obtida a partir de três estratégias principais, que, segundo Ching (2000), caracterizam uma repetição: seções transversais similares; disposição dos volumes em uma mesma direção, e materialidade idêntica, conferida pela madeira. Em contraposição, a singularidade de cada Arte é caracterizada por molduras de cores diferentes nas aberturas que expõem cada modalidade artística e por traços gestuais que formatam desníveis diferenciados nas coberturas dos volumes. Esses desníveis também são responsáveis por conferir ao conjunto a idéia de movimento, evocando as funções artísticas de música e dança, e por proporcionar espaços internos e internos de configurações variadas, criando ambientes cênicos. A organização de acesso e hierarquia do conjunto se dá a partir de um dado, na linguagem de Ching (2000), que configura um eixo no sentido ortogonal ao conjunto e que orienta o usuário através de uma pérgula entre os volumes.

No que se refere às estratégias de conforto térmico, a articulação dos espaços verdes e das faixas de edifícios, alinhados em relação ao eixo norte-sul e com afastamentos entre si, permitem a ventilação cruzada, sem, entretanto, deixar os ambientes totalmente expostos aos intensos ventos locais. Os espaços de maior permanência foram voltados à orientação norte, a qual se caracteriza como a de mais fácil controle nos diversos períodos do ano. Painéis deslizantes de madeira contribuem tanto para a regulagem da entrada de radiação solar, quanto da ventilação nos ambientes.

Destaca-se, no projeto, o papel “expositor” das coberturas, as quais podem ser percorridas ou usadas para funções recreativas. Além da função lúdica e de experimentação espacial, nelas estão expostas equipamentos tais como reservatórios de coleta de água da chuva e coletores solares. São constituídas por telhados vegetados, tanto com vegetação nativa de caráter ornamental, quanto por uma horta permacultural de manutenção coletiva, lá locada como forma de reforçar, desde a escola, a importância do trabalho desenvolvido em comunidade.

Figura 3: a) vista aérea; b) vista do acesso principal (fonte: Maria Victória Deguer).

4.1.2. Projeto de autoria de Elisa Meurer: segundo colocado no Concurso de Idéias

O antagonismo entre a singularidade e a inter-relação das quatro Artes é o conceito articulador do projeto. A partir dele, a organização da forma é obtida através de um dado, na linguagem de Ching (2000), representado por um

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espaço de circulação conformado lateralmente por duas lâminas em pedra. Essa circulação apresenta uma cobertura acessível, a qual atua também como um mirante, permitindo a visualização do mar à distância; e como um circuito didático, demonstrando os equipamentos instalados nas coberturas e o desenho do paisagismo produtivo no pátio. A partir da circulação, se distribuem as quatro Artes, em uma repetição de volumes, cuja identidade entre si é conferida pela forma idêntica e pela materialidade predominante da madeira. A singularidade, em contrapartida, é obtida através de aberturas com formatos diferenciados e vidros coloridos, voltadas para a passagem peatonal interna ao terreno. Essa variabilidade confere também um caráter lúdico aos espaços internos e a imagem exterior da edificação. O elemento central organizador articula, além dos mencionados volumes, os espaços de congregação externos e uma edificação de maior área, destinada aos espaços administrativos e ao refeitório. As largas placas em pedra, contrapõem-se à leveza do restante dos volumes em madeira, que estão elevados do solo, conferindo um contraste harmônico ao conjunto.

Quanto ao conforto térmico e visual, houve uma preocupação com a criação de espaços internos com acesso controlado da radiação solar e da ventilação cruzada. O controle da insolação se dá através de painéis externos de brise soleil de bambu e da ventilação, através de aberturas em alturas variadas, permitindo a passagem do ar ao nível dos usuários ou acima (ventilação higiênica). Atenção também foi dada ao espaço exterior, dotando o pátio congregador de exposição solar ao longo de todo o ano e de proteção dos ventos de inverno.

Figura 4: a) vista aérea; b) vista do acesso principal (fonte: Elisa Meurer).

4.1.3. Projeto de autoria de Gabriela Áustria: terceiro colocado no Concurso de Idéias

As noções de congregação e de proteção caracterizam-se como a idéia forte do projeto, o qual se organiza sob uma grande cobertura e sobre um grande platô, que serve como elo de ligação entre os volumes soltos que abrigam as atividades da escola. A imagem do conjunto apresenta uma forma retangular voltada para centro no qual se estabelece o espaço de congregação comum com uma pequena arena (figuras 5a e 5b). Os espaços de atividades das diferentes Artes não são diretamente identificados por esta proposta formal, salvo por uma estratégia de emprego de diferentes cores nas grandes portas internas que lhes dão acesso. Um diferencial da proposta é a exploração da estrutura como elemento aparente: pilares ramificados possibilitam maiores vãos e se distinguem formalmente.

Da ótica do conforto térmico e visual, o distanciamento da cobertura permite o controle da incidência solar e a proteção das coberturas, sem prejuízo à ventilação. O distanciamento entre os volumes de atividades proporciona ventilação cruzada e iluminação natural em todos os ambientes.

Figura 5: a) vista do acesso principal; b) vista do pátio interno (fonte: Gabriela Áustria).

4.1.4. Projeto de autoria de Felipe Ambrosini: menção honrosa no Concurso de Idéias

A idéia forte do projeto foi a reprodução da referência icônica do favo, baseada em uma característica da cultura local que é a extração do mel de abelhas. O formato de hexágono dos favos de mel foi reproduzido nas edificações, cuja organização formal é caracterizada pela repetição de volumes de mesma dimensão, dispostos dentro de uma malha também hexagonal. Como conseqüência dessa malha, os espaços de uso comum apresentam a mesma configuração de favo, conectados sequencialmente, conduzindo o usuário ao acesso dos diferentes volumes. A

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variação de níveis de piso e de coberturas, assim como o ritmo proporcionado pelo posicionamento dos volumes edificados, gera espaços com diferentes relações e leituras, tornando dinâmica a circulação através do conjunto. Essa leitura do espaço vem ao encontro da voz do usuário da escola, que demanda estímulo por parte do ambiente. Diferencia-se no projeto o uso de taipa de pilão, como material com capacidade de isolamento térmico e acústico e com alta absorção da umidade do ar. A estratégia de uso de múltiplas camadas como envoltória da edificação permite iluminação zenital e lateral filtradas, bem como controle da ventilação cruzada ao nível do usuário.

Figura 6: a) vista aérea; b) vista do acesso principal (fonte: Felipe Ambrosini).

4.1.5. Projeto de autoria de Vitor Wawrick: menção honrosa no Concurso de Idéias

O conceito do projeto baseia-se na idéia de máxima de congregação entre os usuários. Como conseqüência, o círculo foi adotado para tal representação. Proteção e controle, requisitos também importantes em uma escola infantil, são resolvidos de maneira fácil pela forma do círculo, que conforma os usuários ora dentro, ora fora. A abertura para “fora” se dá somente nos espaços onde não há necessidade de controle das crianças, tal como o acesso principal. O diálogo entre usuários fica possível e claro através da forma proposta que, pela simplicidade, é facilmente percebida pelas crianças. As quatro áreas de concentração artística ficaram sutilmente identificadas por uma repartição e subtrações da edificação em formato de anel.

Figura 7: a) vista aérea; b) vista do acesso principal (fonte: Vitor Wawrick).

4.1.6. Projeto de autoria de Cecília Esteves: menção honrosa no Concurso de Idéias

O conceito do projeto parte da idéia de relacionamento da escola com a comunidade. A materialização do mesmo é gerada por espaços de transição entre interior e exterior, que se manifestam como “molduras” edificadas semiabertas, que destacam as atividades internas. A implantação por barras reúne os usuários em faixas no interior do terreno, o qual está protegido pelas edificações. O projeto utiliza volumes prismáticos, que abrigam as diferentes Artes e os setores administrativos sem criar uma clara identidade para os mesmo. Os espaços de circulação e união entre os volumes também são prismas edificados, porém com leituras mais transparentes.

Figura 8: a) vista aérea; b) vista do acesso principal (fonte: Cecília Esteves).

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4.1.7. Projeto de autoria de Karen Kotz: menção honrosa no Concurso de Idéias

As noções de congregação e proteção caracterizam-se como a idéia forte do projeto, o qual se organiza sob uma grande cobertura e sobre um grande platô, que serve como elo de ligação entre os volumes. A cobertura confere uma repetição de elementos de pérgula dispostos de forma lúdica, que geram desenhos com tramados de luz e sombra no espaço de uso comum. O interior é concebido, então, como um espaço para múltiplas atividades.

Figura 9: a) vista do acesso principal; b) vista do vista do pátio interno (fonte: Karen Kotz).

4.1.8. Projeto de autoria de Antony Ling: menção honrosa no Concurso de Idéias

A idéia forte do projeto partiu da setorização dos diferentes volumes, fornecendo à municipalidade a possibilidade de construção por etapas. Para atender tal objetivo, a coordenação modular teve papel ainda mais importante do que nos demais projetos. A partir do módulo e de sua exploração se poderia primeiramente construir o volume central e a partir dele os demais volumes. Desta maneira o conceito de interdependência não é somente formal, mas também processual. A interdependência fica bastante clara pela imagem aérea do conjunto; o volume central, de dimensão maior é o volume de acesso, distribuição e espaços comuns a todas as artes, os demais volumes comportam cada um, uma das quatro artes, além do refeitório. A repetição do prisma de mesmo acabamento, no entanto de dimensão diferente dá a unidade ao conjunto e também sua hierarquia, indicando naturalmente ao usuário que o acesso se dá pelo volume de maior altura. Os espaços abertos servem como espaços de congregação setorizados. Há uma hierarquia dos espaços de congregação, pois no volume principal se encontram todos os usuários, já nos pátios entre os volumes menos se encontram somente os usuários que freqüentam as atividades ministradas nos mesmos.

Figura 10: a) vista aérea; b) vista do espaço interno (fonte: Antony Ling).

4.1.9. Projeto de autoria de Stefânia Duhá: menção honrosa no Concurso de Idéias

O projeto é organizado a partir de um estruturador central, um dado, que serve como circulação e como espaço de transição, aberto. A partir dela se distribuem as quatro artes, em uma repetição de volumes. Desta maneira fica clara a interdependência entre as artes e a proposta de organização a partir de um espaço de congregação que é a circulação, além do pátio que serve como espaço de congregação entre todos os usuários.

Figura 11: a) vista aérea; b) vista exterior (fonte: Stefânia Duhá).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos projetos selecionados para o concurso Escola das Artes foi permitiu detectar seus conceitos a partir de uma visão de diálogo entre usuário e edifício, conforme proposta por Ricoeur (2003), e justificá-los a partir da organização da forma, com base em Ching (2000). Cada proposta à sua maneira tem uma diferente visão da relação entre os indivíduos e a propõe em seus projetos de maneiras mais abertas ou mais intimistas, mais iluminadas e ventiladas ou mais protegidas da incidência solar e dos ventos e assim por diante. Cada decisão, por sua vez está justificada na individualidade dos projetos a partir da organização formal, associada ao emprego dos materiais e aos preceitos de sustentabilidade, conferindo identidades próprias. A identidade dos projetos também é reforçada pelas diferentes visões, por parte dos autores, em relação às Artes, ao funcionamento do edifício e à imagem do mesmo.

Em contrapartida, apesar das singularidades de cada projeto, percebem-se indícios de, a partir do trabalho seqüenciado da disciplina, estar se consolidando uma expressão particular do que venha a ser arquitetura sustentável para o Rio Grande do Sul, que alia requisitos de sustentabilidade a uma linguagem contemporânea, que dialoga com seu contexto e usuário. Assim, o que há em comum entre os projetos é que a linguagem dos mesmos não está sujeita a fórmulas preconcebidas do que venha a ser a expressão de uma arquitetura sustentável. Como contribuição do presente artigo, pretende-se estimular a discussão acerca do ensino e da prática de projeto com ênfase no referencial de sustentabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Poética. In: Obras. Madrid: Aguilar S.A. de ediciones, 1982. 1162pp.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2003. 476 pp.

BRASIL. Ministério de Educação. Rede de Saberes mais Educação: Pressupostos para Projetos Pedagógicos de Educação Integral. Brasília, 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cad_mais_educacao_2.pdf>. Acesso em: jun 2010.

CHING, F. Arquitetura, Forma, espaço e ordem. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2000.

HEIDEGGER, M. Conferencias y artículos. Capítulo sexto. Construir, habitar, pensar. Barcelona: Ed. Serbal, 1994. p. 139-142.

PLESSIS, C. (Org.). Agenda 21 for sustainable Construction in developing Countries: a discussion document: a discussion document. Rotterdam: CIB; CSIP, 2002.

RICOEUR, P. Arquitectura y narratividad. In: Revista Arquitectonics, nº4, 2003. p. 9-29.

UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO). Unesco role, vision and challenges for the UN decade of education for the sustainable development. Connect. v. 31. n.1-2. p. 919-938. 2006.

ZANIN, N. Z.; CRUZ, J. H. P. A sustentabilidade no ensino de arquitetura na Faculdade de Arquitetura /UFRGS. In: ENCONTRO NACIONAL E LATINO AMERICANO SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS, 3 ., 2009, Recife. Anais. Porto Alegre: ANTAC, 2009.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todos que participaram e colaboraram com as atividades da disciplina de Projeto Arquitetônico VII, durante o semestre de 2010/2: Município de Balneário Pinhal, pretensos usuários, professores e profissionais ministrantes de palestras e participantes na comissão julgadora do concurso. Em especial, agradece-se aos estudantes pela motivado envolvimento com as atividades propostas e pela cessão das imagens dos seus respectivos projetos para publicação no presente artigo.