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37 O mesmo sol que queima as peles morenas, brancas e negras na Feira de Quarta-Feira, em Jaguaribe, adentra o ateliê de Miguel dos Santos pelas janelas abertas. Quem está acostu- mado às esculturas de traços populares e africa- nos rústicos na casa da Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, em Tambaú, deve estranhar a afirmação. Mas, enquanto em Tambaú, o ateliê de Miguel dos Santos é para a apresentação das obras, em Jaguaribe, em frente ao pátio da feira, o ateliê é para produção. Mas este ele não abre para todo mundo. “Vem. Vou mostrar para você porque você é manso”, disse Miguel ao repórter. No térreo, o forno para queimar a cerâmica então moldada, e, na parede, o único esboço, bidimensional, para a mais recente obra em local público: a Pedra do Reino, situada no anel interno da Lagoa. Subindo as escadas do lado externo, no primeiro andar, um espaço iluminado e mais tranquilo, onde Miguel dos Santos se devota às telas e onde guarda, ou mantêm sacralizadas, as obras de madeira. Além da madeira, das tintas e da cerâmica, também a litografia (trabalho de pintura em cerâmica industrializada), e o molde em mármore e pedra-sabão. No imaginário, as Fotos: Aluizio Nunes Exposições CENÁRIO CULTURAL JOÃO PESSOA, 15 A 28 DE JANEIRO DE 2010 por Emerson Cunha ATELIÊ SERVIÇO ! características da estética armorial, as influências de Aleijadinho e do Mestre Vitalino, e as tribos africanas mais remotas, ou mesmo extintas. In- fluências genéticas e culturais do avô negro. A essência da arte, para Miguel, é pesquisa e experimentação. Sua arte é expressiva, acima de tudo, e não precisa de entendimentos ou de con- ceitos: é arte fluida, de sentimentos e expressões. Para ele, o respeito à arte é também a relação co- mercial justa, de pagamento pela qualidade. Não abrir o ateliê para todos é manter de forma segura o fazer solitário e frágil do artista. Ateliê fechado sacralizado, enquanto que, pelas janelas, adentram as vozes árabes e paraibanas, instrumento de ven- da das frutas, verduras e tapiocas. Música para os ouvidos e o fazer do artista. *Emerson Cunha. É estudante de Jornalismo na UFPB e estagia atualmente no Jornal O Norte. Em 2009, foi premiado com o Rumos Jornalismo Cultural, do Instituto Itaú Cultural. Participa do ‘Projeto Cinestésico’ e integra o ‘Coletivo Comjunto de Comunicação Social’. [email protected]. Ateliê de Apresentação. Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 429 (Tambaú). 3241.2080 Ateliê de Produção. R. Maj. Jader Carvalho Nunes, 132 (Jaguaribe) - em frente ao pátio da feira que acontece às quartas-feiras. MIGUEL DOS SANTOS

Ateliê: Miguel dos Santos

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Matéria sobre o ateliê do artista paraibano Miguel dos Santos para o guia Cenário Cultural ed. 30 (PB)

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Page 1: Ateliê: Miguel dos Santos

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O mesmo sol que queima as peles morenas, brancas e negras na Feira de Quarta-Feira,

em Jaguaribe, adentra o ateliê de Miguel dos Santos pelas janelas abertas. Quem está acostu-mado às esculturas de traços populares e africa-nos rústicos na casa da Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, em Tambaú, deve estranhar a afi rmação. Mas, enquanto em Tambaú, o ateliê de Miguel dos Santos é para a apresentação das obras, em Jaguaribe, em frente ao pátio da feira, o ateliê é para produção. Mas este ele não abre para todo mundo.

“Vem. Vou mostrar para você porque você é manso”, disse Miguel ao repórter. No térreo, o forno para queimar a cerâmica então moldada, e, na parede, o único esboço, bidimensional, para a mais recente obra em local público: a Pedra do Reino, situada no anel interno da Lagoa. Subindo as escadas do lado externo, no primeiro andar, um espaço iluminado e mais tranquilo, onde Miguel dos Santos se devota às telas e onde guarda, ou mantêm sacralizadas, as obras de madeira. Além da madeira, das tintas e da cerâmica, também a litografi a (trabalho de pintura em cerâmica industrializada), e o molde em mármore e pedra-sabão. No imaginário, as

Fotos: Aluizio Nunes

ExposiçõesCENÁRIO CULTURALJOÃO PESSOA, 15 A 28 DE JANEIRO DE 2010

por Emerson Cunha

ATELIÊ

SERVIÇO!

características da estética armorial, as infl uências de Aleijadinho e do Mestre Vitalino, e as tribos africanas mais remotas, ou mesmo extintas. In-fl uências genéticas e culturais do avô negro.

A essência da arte, para Miguel, é pesquisa e experimentação. Sua arte é expressiva, acima de tudo, e não precisa de entendimentos ou de con-ceitos: é arte fl uida, de sentimentos e expressões. Para ele, o respeito à arte é também a relação co-mercial justa, de pagamento pela qualidade. Não abrir o ateliê para todos é manter de forma segura o fazer solitário e frágil do artista. Ateliê fechado sacralizado, enquanto que, pelas janelas, adentram as vozes árabes e paraibanas, instrumento de ven-da das frutas, verduras e tapiocas. Música para os ouvidos e o fazer do artista.

*Emerson Cunha. É estudante de Jornalismo na UFPB e estagia atualmente no Jornal O Norte. Em 2009, foi premiado com o Rumos Jornalismo Cultural, do Instituto Itaú Cultural. Participa do ‘Projeto Cinestésico’ e integra o ‘Coletivo Comjunto de Comunicação Social’. [email protected].

Ateliê de Apresentação. Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 429 (Tambaú). 3241.2080Ateliê de Produção. R. Maj. Jader Carvalho Nunes, 132 (Jaguaribe) - em frente ao pátio da feira que acontece às quartas-feiras.

MIGUELDOS SANTOS