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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO Por Leonardo Augusto Iracema Ribeiro Prof. Orientador Francis Rajzman Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE E A

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO

Por

Leonardo Augusto Iracema Ribeiro

Prof. Orientador Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE E A

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO

OBJETIVOS

Esta publicação atende a complementação

didático-pedagógica de metodologia da

pesquisa e a produção e desenvolvimento

de monografia, para o curso de pós-

graduação em Direito Privado e Civil pelo

pós-graduando Leonardo Augusto Iracema

Ribeiro.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................03

INTRODUÇÃO....................................................................................................04

1.A TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE.....................................................06

2.ELEMENTOS ESSENCIAS.............................................................................11

3.APURAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.............................................18

4.DANO EMERGENTE, LUCROS CESSANTES E A TEORIA DA PERDA DE

UMA CHANCE....................................................................................................21

5.A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO E A TEORIA DA PERDA

DE UMA CHANCE..............................................................................................26

CONCLUSÃO.....................................................................................................46

BIBLIOGRÁFIA..................................................................................................47

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RESUMO

Este trabalho tem por finalidade o estudo da teoria da perda de uma chance,

passando por um estudo de seu conceito, de seus elementos essenciais,

características até a sua aplicação em casos de responsabilidade civil do

advogado. Parte da doutrina que, baseada principalmente na subjetividade e

na falta de previsão legal, afirma não ser aceitável a aplicação de tal medida.

Os Tribunais brasileiros tratam do assunto de uma forma bastante limitada,

concedendo tal benefício somente mediante a comprovação de diversos

fatores essenciais. Neste sentido, os doutrinadores salientam que apenas deve

ser ressarcido o prejuízo resultante de uma conduta que apesar de não causar

um dano propriamente dito, retirou uma oportunidade plausível do ofendido.

Todavia, não existe regulamentação jurídica para a referida teoria, cabendo a

doutrina e a jurisprudência, todo e qualquer ensinamento sobre a presente

matéria.

Palavras-chave: Aplicação; Teoria da perda de uma chance; Responsabilidade

civil do advogado.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo o estudo das discussões referentes

a teoria da perda de uma chance e a sua aplicação nos casos de

responsabilidade civil do advogado e foi realizado através de uma pesquisa

exploratória, de levantamento bibliográfico e jurisprudencial, com ênfase nas

principais questões teóricas disponíveis, oferecendo subsídio para a definição e

resolução dos problemas gerados pelo enunciado.

Cabe ressaltar que este tema foi escolhido por despertar grande

curiosidade uma vez que não existe regulamentação jurídica para a referida

teoria, cabendo a doutrina e a jurisprudência, todo e qualquer ensinamento

sobre a presente matéria.

A teoria da perda de uma chance era inicialmente aplicada apenas

aos casos de responsabilidade médica, tendo em vista a grande dificuldade de

configuração do nexo causal entre a conduta do agente e o dano sofrido pela

vítima.

Sua finalidade não consiste na reparação do dano em si, mas sim da

chance perdida, ou seja, mesmo que não haja um dano certo e determinado,

existe um prejuízo para a vítima decorrente da expectativa que ela possuía em

conseguir um benefício ou evitar um prejuízo.

Os Tribunais brasileiros tratam do assunto de uma forma bastante

limitada, concedendo tal benefício somente mediante a comprovação de

diversos fatores essenciais.

Sendo assim, estuda-se no primeiro capítulo a origem da teoria da

perda de uma chance, ressaltando-se o conceito adotado pela doutrina e pela

jurisprudência e as suas principais características.

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No segundo capítulo é tratado dos elementos essências para a

adoção de referida teoria, dando uma importância maior ao “polemico” requisito

chamado de juízo de certeza, tão necessário para a sua aplicação.

O terceiro capítulo trata da apuração do quantum indenizatório.

Discorre sobre a difícil situação do judiciário para na análise e quantificação do

dano.

O quarto capítulo foi destinado ao dano emergente, ao lucro

cessante. Estuda-se a relação existente entre essas duas espécies de dano e a

teoria da perda de uma chance.

Por fim, o último capítulo é reservado para a análise da aplicação do

tema estudado aos casos em que restou configurado responsabilização do

advogado por danos ocasionados por vícios no cumprimento de seu mandato.

Visto isso, ficará demonstrado ao final da pesquisa, o entendimento

sobre esse tema, por parte da doutrina e dos Tribunais.

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1.A TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

A teoria da perda de uma chance foi criada pela jurisprudência

francesa, que inicialmente a denominou como a teoria da chance de uma cura,

uma vez que foi utilizada primeiramente em um julgamento de um médico que

realizou um diagnóstico equivocado que retirou do paciente as chances de cura

da doença que sofria.

A referida teoria foi criada da dificuldade de configuração e

comprovação do nexo causal entre a conduta do agente e o dano sofrido pela

vítima.

Nesta esteira, buscava-se, exatamente, a possibilidade de

responsabilização do médico pela perda da chance de sobrevivência de seu

paciente, vítima de seus eventuais erros profissionais.

Desta forma, grande parte da doutrina entende que esta teoria tem

como fim a indenização da vítima que teve o seu objetivo, que no caso médico

é a sobrevivência, frustrado por erros injustificáveis do profissional que o

assistia.

Sustentam ainda que o dano em si não é imputado ao agente

causador, pois podem haver causas concorrentes, no entanto, o agente é

responsabilizado pela chance perdida, pela certeza de ganho que foi obstada

por sua conduta.

Neste sentido, Gilberto Andreassa Junior afirma que

mesmo não havendo um dano certo e determinado, existe

um prejuízo para a vítima decorrente da legítima

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expectativa que ela possuía em angariar um benefício ou

evitar um prejuízo”1

Outrossim, a chance deve ser real e séria, não podendo ser baseada

em expectativas incertas ou pouco prováveis.

Apesar de todos os problemas já enfrentados pelo Poder Judiciário

Francês, até os dias de hoje, muito ainda se discute perante o Poder

Legislativo.

Todo ensinamento sobre esta teoria encontra-se exclusivamente na

doutrina e na jurisprudência, eis que ausente na legislação qualquer menção

ou orientação sobre o tema.

No Brasil, o judiciário trata do assunto de forma bastante limitada,

aplicando a teoria quando presentes a comprovação de diversos fatores ditos

como essenciais.

Dentre tais fatores, é necessária a demonstração de que em função

de uma conduta culposa atribuída ao agente, ocorreu um dano passível de

indenização.

Em outras palavras, deverá estar comprovado a presença do nexo

etiológico entre a chance perdida e a conduta do ofensor.

Um caso interessante foi analisado pela Terceira Turma Recursal do

Rio Grande do Sul, através de uma ação indenizatória na qual o autor alega

que em virtude de problemas no telefone não obteve êxito em uma

concorrência de emprego, a referida turma entendeu que

quanto à pretendida indenização pela perda de uma

chance, melhor sorte não assiste à autora. Sabe-se que

essa espécie de dano não abarca uma hipótese abstrata

1 ANDREASSA JUNIOR, Gilberto. A responsabilidade pela perda de uma chance no Direito brasileiro. Revista de Direito Privado, 2009, ano 10, n. 40, out.-dez./2009.

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de perda de uma chance. Mister se faz que se trate de

chance provável, real e séria.

No caso dos autos, não logrou a autora evidenciar que,

em decorrência da perda dos créditos telefônicos, tenha

efetivamente sido ceifada da possibilidade de concorrer à

vaga de emprego. A condição da autora de concorrente à

vaga emprego não está demonstrada por um documento

sequer. Não há prova escrita de que estivesse ela

participando de seleções para um novo trabalho, a não

ser a declaração de fl. 23, firmada pela própria

demandante e que, por constituir documento unilateral,

não tem conteúdo probante. E a tal comprovação não

basta, tampouco, a oitiva de uma testemunha que diz

trabalhar na área de recrutamento de novos profissionais

para a área de vendas, mas nem sequer identifica para

qual (s) empresa (s) presta serviço, nem a que vaga,

especificamente, concorria a autora.

De todo o modo, como bem assinalado pela sentença,

fosse o caso de a autora estar realmente empenhada em

obter a vaga de emprego, certamente teria encontrado

outro modo de efetuar o contato, seja colocando créditos

em seu celular ou efetuando a ligação de telefone público,

através de aquisição do cartão respectivo, sabidamente

mais barato. Ao invés disso, permaneceu inerte e, diante

da iminência da perda de uma ótima chance de emprego,

com boa remuneração mensal, seguiu contando apenas

com a possibilidade de utilização de um bônus

promocional de créditos em ligações, concedido pela

operadora de telefonia cerca de um mês antes, para

depois vir atribuir àquela a responsabilidade pela perda de

uma chance.

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A autora foi negligente, contribuindo diretamente para o

dano que alega ter sofrido (perda de uma chance), motivo

pelo qual é descabida a tentativa de repassar à

fornecedora tal responsabilidade.2

Deste modo, deverá ser repudiado todos os casos que visem um

locupletamento ilícito, assim como a reparação sustentada com base em danos

hipotéticos, sem uma efetiva demonstração da perda.

Igualmente, para que haja a efetiva reparação, o dano deve ser certo

e atual e a chance perdida não pode se tratar de um ganho hipotético ou

eventual, e sim possuir uma grande probabilidade de ganho ou de se evitar um

prejuízo, cabendo ao magistrado diferenciar tais situações.

A Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal do Rio Grande do Sul

em um caso em que um condutor de caminhão efetuou uma manobra de

inflexão à esquerda, interceptando a trajetória do motociclista que trafega na

preferencial entendeu que

age com culpa o condutor de caminhão que efetua

manobra de inflexão à esquerda, interceptando a trajetória

do motociclista que trafega na preferencial. Manobra

excepcional que impõe ao motorista o dever de agir com

redobrada atenção e prudência. Parcela de culpa do

segundo envolvido, por aventada velocidade excessiva,

não verificada. (...) Por ser o reflexo futuro do fato sobre o

patrimônio do requerente, que trabalhava ao tempo do

acidente, o lucro cessante exige maior cuidado na sua

caracterização e fixação. No caso concreto, aplicável a

2 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Inominado 71001515147, Relator(a): EUGENIO FACCHINI NETO, Terceira Turma Recursal, julgamento: 11/03/2008.

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teoria da perda de uma chance, uma vez que o autor tinha

comprovada proposta de emprego, que veio a assumir

após sua recuperação. Incidência também.3

As decisões citadas demonstram claramente que o objetivo desta

teoria é exatamente reparar a vítima que teve um ganho frustrado, e não o de

criar uma gama de pretensões indenizatórias sem base probatória.

Imperioso ressaltar que em relação ao nexo causal a ser analisado,

como também acontece na teoria clássica da responsabilidade civil, não pode

carecer de certeza, isto porque, conforme bem assevera a doutrina, a incerteza

do nexo causal presente nos casos em que se aplica esta teoria, reside

somente na causalidade do resultado final.

Um ótimo exemplo é a situação de um paciente que possui uma

doença fatal que a ciência ainda não encontrou sua cura, mas achou métodos

efetivos que podem prolongar a vida dos enfermos.

Imagine-se que tais métodos dependam apenas da fase em que a

doença seja diagnosticada.

O médico jamais poderá ser responsabilizado pela morte deste

paciente, uma vez que ausente o nexo de causalidade entre a conduta e o

evento morte.

Todavia, ante a imperícia apresentada no exercício profissional, este

poderá responder pelo não prolongamento da vida do paciente em questão.

3 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de Apelação 70026290239, Relator(a): Orlando Heemann Júnior, Décima Segunda Câmara Cível, julgamento: 02/04/2009.

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2.ELEMENTOS ESSENCIAIS

Grande parte da doutrina afirma que para o reconhecimento e

aplicação da teoria da perda de uma chance se faz necessário a presença de

quatro elementos essenciais: a) a conduta do agente; b) o resultado que se

perdeu; c) existência de nexo causal entre a conduta e a chance perdida e d) o

Juízo de certeza.

Nas palavras de Tatiana Cavalcanti Fadul

Ressalte-se que este instituto não busca o ressarcimento

pela vantagem perdida, vez que visa a perda de uma

oportunidade de conquistar aquela vantagem ou evitar

algum prejuízo, que não está ligado ao resultado final,

assim a procura da reparação não é do dano , mas sim da

chance. Todavia, essa vantagem segue rigorosamente

um critério probatório, com vistas que este prejuízo tem

caráter de dano emergente e não de lucro cessante, uma

vez que a verossimilhança é indispensável em seu

critério. Isto é justificado pois temos incertezas no nosso

dia-dia, onde é duvidoso se algo será ou não

concretizado. Ressalte-se que a chance dever ser séria e

real, vez que o dano meramente hipotético, não é de teor

de indenização, não se admite expectativas que não

mostrem total certeza com a pouca probabilidade. É

indispensável a prova dos atos, com provas notórias da

lesão. Torna-se imprescindível a total comprovação que a

vítima perdeu um direito a ser adquirido de ser uma

pessoa melhor. Assim, meras suposições e esperanças

não ensejam na Teoria da Perda de uma Chance. Não

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obstante, deve ser provado que o agente por ação ou

omissão, interferiu no resultado esperado pela vítima,

causando a ela um dano, restando configurada a

responsabilidade civil decorrente da perda de uma

chance. Deve ser observado, ainda, os elementos

essenciais para a configuração do dever de indenizar, e

entre eles o nexo de causalidade. De acordo com a teoria,

o nexo de causalidade é a ligação entre o dano e a

conduta de quem cometeu. Este nexo deve ser

comprovado, pois ninguém poder ser responsabilizado

por alguma coisa que não fez, nos termos do artigo 403

do Código Civil: "ainda que a inexecução resulte de dolo

do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos

efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e

imediato, sem prejuízo no disposto da lei processual."

Todavia , mesmo com a nítida definição do artigo acima

citado, a teoria da Perda de uma chance admite lapidação

deste conceito, permitindo a existência da

responsabilidade civil mesmo não tendo nexo causal,

sendo assim um conceito relativo com suas

peculiaridades.4

Rosamaria Novaes Freire Lopes adverte que

Na Perda de uma Chance o autor do dano é

responsabilizado não por ter causado um prejuízo direto e

imediato à vítima; a sua responsabilidade decorre do fato

de ter privado alguém da obtenção da oportunidade de

4 FADUL, Tatiana Cavalcanti. Teoria da responsabilidade civil pela perda de uma chance: a evolução do dano material. Disponível em: http: //www.fiscolex.com.br/doc_ 1779542 TEORIA_RESPONSABILIDADE_CIVIL_PELA_PERDA_UMA_CHANCE_EVOLUCAO_DANO_ MATERIAL.aspx. Acesso em: 26/01/2011.

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chance de um resultado útil ou somente de ter privado

esta pessoa de evitar um prejuízo. Assim, vislumbramos

que o fato em si não ocorreu, por ter sido interrompido

pela ação ou omissão do agente. Então, o que se quer

indenizar aqui não é a perda da vantagem esperada, mas

sim a perda da chance de obter a vantagem ou de evitar o

prejuízo. De acordo com esta teoria, a perda da chance

de obter esta vantagem é feita utilizando um critério de

probabilidade, tendo em vista que este prejuízo tem

caráter de dano emergente e não de lucro cessante, uma

vez que o seu critério de fixação é feito tomando por norte

a verossimilhança, pois jamais será possível afirmar que

realmente o prejudicado teria alcançado aquela vantagem

na hipótese da não ocorrência do ato ou fato do agente

que o privou da chance de poder chegar ao resultado

esperado. Até porque, como estamos dentro de “um

campo estatístico da probabilidade”, poderia nesse lapso

temporal ter ocorrido algum caso fortuito que furgisse do

controle do ser humano, o qual em hipótese alguma

poderia ser evitado por este. Cabe salientar, ainda que a

chance de alcançar o resultado útil, necessariamente,

deve ser séria e real, uma vez que o dano meramente

hipotético não é passível de indenização. (...)As teorias

que circundam a responsabilidade civil sempre

entenderam como elementos essenciais para a reparação

do prejuízo suportado pela vítima a existência de três

elementos, são eles: o dano, a conduta humana e o nexo

de causalidade. (...)Na teoria da perda de uma chance é

necessário, por evidente, provar o nexo causal. Todavia,

apesar da clara definição do artigo 403 do Código Civil de

2002 nos seguintes termos: - “Ainda que a inexecução

resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem

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os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela

direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei

processual.” No sentido de que é necessário provar que o

nexo de causalidade, uma vez que o mesmo é decorrente

de CAUSA DIRETA E IMEDIATA da conduta originária do

agente. Entretanto, a teoria da perda de uma chance,

admite a relativização deste conceito, permitindo a

existência da responsabilidade civil mesmo quando não

existente o nexo causal da forma prevista na legislação

extravagante, ou melhor, no Código Civil Brasileiro. Isto é,

esta nova teoria RELATIVIZA o ideal do nexo de

causalidade adotado pelo diploma supracitado.5

Para Daniel Longo Braga

Com a evolução da sociedade, das tecnologias e

consequentemente do aumento das situações

potencialmente lesivas, deixaram a Doutrina e

Jurisprudência de limitarem-se aos já conhecidos danos

materiais e morais como forma de compensação do

indivíduo, buscando influência no Ordenamento Francês,

aplicando assim a chamada compensation pour la perte

d´une chance ou seja, a indenização pela perda de uma

chance. Chance, por definição muito mais matemática do

que Jurídica, é a probabilidade de ocorrência de um

evento futuro, devendo-se levar em conta, por certo, a

igual probabilidade deste não ocorrer. (...) A indenização

decorrente pela perda de uma chance é uma modalidade

de reparação civil independente, autônoma e não

5 LOPES, Rosamaria Novaes Freire Lopes. Responsabilidade civil pela perda de uma chance. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3861/Responsabilidade-civil-pela-perda-de-uma-chance. Acesso em: 26/01/2011.

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necessariamente ligada à perda patrimonial, cuja proposta

é justamente dissociar-se dos danos morais e materiais,

inclusive dos lucros cessantes. Não se trata de dano

hipotético, denominado pela doutrina como dano eventual

que, como elege o melhor entendimento, não é

indenizável. No dano eventual temos apenas uma

suposição, um evento futuro e absolutamente incerto,

completamente aleatório e que depende de inúmeros

fatores externos para que um dia venha a ocorrer.

Diferentemente da chance, portanto, não existe o mínimo

grau de certeza em sua ocorrência. (...) temos o primeiro

requisito básico (4) para configurar a possibilidade de

pleitear ante o Judiciário a indenização aqui debatida,

qual seja, a existência de uma chance séria e real, que

efetivamente demonstre a possibilidade de concretização

da expectativa futura que fora ilicitamente ceifada da

vítima do evento danoso. (...) A resolução desta questão

reside justamente na quantificação da probabilidade.

Podemos dizer que quando as chances do prejuízo futuro

ocorrer forem próximas à absoluta certeza, é possível a

aplicação dos lucros cessantes. Neste sentido, esta

modalidade indenizatória vincula-se muito mais à certeza

do que à chance, razão pela qual são modalidades

distintas. Caso clássico da Doutrina é o taxista que tem

seu carro abalroado, deixando de auferir ganhos futuros

justamente pela indisponibilidade de seu objeto de

trabalho. Na verdade, seria impossível demonstrar ao Juiz

qual seria seu lucro exato por dia não trabalhado, ainda

que futuro. Entretanto, efetuado simples média aritmética,

é possível convencer o Magistrado acerca de uma quantia

razoável e estimada de seu prejuízo, atribuindo à situação

um grau de elevada certeza. (...) O segundo requisito

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disposto reside na quantificação do dano. Esta questão é

muito importante, principalmente quando o evento futuro

tem cunho patrimonial, devendo sempre o montante

indenizatório respectivo à perda da chance ser inferior à

quantia efetivamente esperada caso o evento futuro

ocorresse sem a intervenção ilícita de um terceiro. Esta

dedução é lógica, pois contrario senso estar-se-ia

equiparando a chance à certeza, fato este que foge à

alçada do Instituto em exame. Por fim, como terceiro e

último requisito, é necessário haver a perda definitiva da

vantagem esperada pela vítima. Caso exista alguma

possibilidade, mesmo que ínfima, de obter êxito naquela

empreitada, não se pode afirmar que o sujeito passivo do

dano perdeu todas as chances de alcançar seu objetivo,

seja qual for, descaracterizando a possibilidade da

aplicação deste Instituto.6

Deste modo, dentre todos os elementos supracitados, o Juízo de

certeza, é o que merece uma análise mais atenta para aqueles que entendem

ser possível a aplicação da referida teoria.

O referido Juízo de Certeza consiste na comprovação ou no grau de

probabilidade de realização daquela chance perdida obstada por uma conduta

efetuada pelo agente.

Fernando Noronha complementa que o Juízo de Certeza deve ser

avaliado “com base em regras de experiência comum subministradas pela

observância do que ordinariamente acontece”7

6 BRAGA, Daniel Longo. A Responsabilidade Civil por Perda de uma Chance. Disponível em: http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/7043/A_Responsabilidade_ Civil_por_Perda_de_uma_Chance. Acesso: 26/01/2011. 7 NORONHA, Fernando. Direito das Obrigações: Fundamento do Direito das Obrigações; Introdução a Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v.01.

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Sendo assim, o Juízo de Certeza não pode ser fundado em dados

hipotéticos, carentes de conteúdo probatório, contudo, por uma questão lógica,

a certeza não é absoluta.

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3.APURAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Para a análise do quantum indenizatório, o judiciário se depara com

uma difícil situação, uma vez que, apesar do caso concreto trazer um juízo de

certeza anteriormente verificado, o dano ainda deverá ser quantificado.

No caso em análise, ou seja, o de uma chance perdida, não há

como restabelecer o estado anterior da coisa, e sim a imposição de uma

compensação monetária pela lesão.

Desta forma, a referida compensação deve ter como base a própria

chance perdida, considerando o resultado que seria alcançado se a chance

tivesse sido aproveitada e o negócio concretizado.

Maria Helena Diniz afirma que

A perda de uma oportunidade é um dano cuja avaliação é

difícil, por não ser possível a condução da vítima ao statu

quo ante, pois não mais terá a chance perdida. Abrange

dois tipos de dano: o da perda da oportunidade, que é

certo, pois a chance foi definitivamente perdida, e o dano

incerto, correspondente a todo prejuízo oriundo da não-

realização da chance.8

Ressalta ainda a referida autora que

O advogado deverá, obviamente, indenizar prontamente o

prejuízo que vier a causar por negligencia, erro ou dolo.

8 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil: 7. Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2009, p.70-71.

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Mas se houver desproporção entre a gravidade de sua

culpa e o dano, o magistrado poderá reduzir

equitativamente a indenização (CC, art.944, parágrafo

único; CPC, arts. 127 e 1.109).9

Rosamaria Novaes Freire Lopes adverte que

Outro problema ligado à responsabilidade civil pela perda

de uma chance se refere ao “quantum debeatur”, por ser

de difícil aferição a condenação do valor a ser pago a

título de indenização. Como na perda de uma chance a

vítima ficou privada de obter o resultado esperado,

justamente por um ato do ofensor que o privou da

oportunidade de ver este resultado alcançado, fica

evidente que jamais será possível afirmar se o mesmo

obteria o resultado útil caso não tivesse ocorrido o ato do

ofensor. Diante disso, a aplicação da indenização deve-se

utilizar de um critério de probabilidade ao estabelecer o

valor devido à vítima, fazendo uma avaliação do grau da

álea da chance de alcançar o resultado no momento em

que ocorreu o fato, pois esta chance possui um valor

pecuniário, e isso não pode ser negado, mesmo sendo de

difícil quantificação, portanto é o valor econômico desta

chance que deverá ser indenizado. Para delimitar o valor

da indenização o Juiz deve com base no caso concreto,

fazer um juízo de valor de maneira eqüitativa, buscando

encontrar a melhor solução para a lide. Sendo assim,

após verificar qual o valor da chance perdida, deve

atentar para o valor do benefício que a vítima conseguiria

na hipótese de atingir o resultado esperado, porque o

9 Ibidem, p.296.

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valor da indenização jamais poderá ser igual ou superior

ao que receberia caso não tivesse sido privado da

oportunidade de obter uma vantagem determinada.10

Para Daniel Longo Braga

O segundo requisito disposto reside na quantificação do

dano. Esta questão é muito importante, principalmente

quando o evento futuro tem cunho patrimonial, devendo

sempre o montante indenizatório respectivo à perda da

chance ser inferior à quantia efetivamente esperada caso

o evento futuro ocorresse sem a intervenção ilícita de um

terceiro. Esta dedução é lógica, pois contrario senso

estar-se-ia equiparando a chance à certeza, fato este que

foge à alçada do Instituto em exame.11

Sendo assim, torna-se fácil concluir que o que o valor deve ser

avaliado pela chance, levando em consideração o resultado que provavelmente

ocorreria, e não pela perda desta.

10 Op. Cit 11 Op. Cit.

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21

4. DANO EMERGENTE, LUCROS CESSANTES E A

TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

O Código Civil determina que

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as

perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele

efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as

perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros

cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto

na lei processual.

Nesta esteira, Maria Helena Diniz ensina que

não só o dano emergente (o que o lesado efetivamente

perdeu) mas também o lucro cessante (o aumento que

seu patrimônio teria, mas deixou de ter, em razão do

evento danoso). Logo, ao se admitir indenização por lucro

cessante, procurar-se-á, em razão de juízo de

probabilidade, averiguar a perda de chance ou de

oportunidade, de acordo com o normal desenrolar dos

fatos (...) Para conceder indenização o magistrado

deveria, portanto, considerar se houve: 1) Dano positivo

ou emergente, que consiste num déficit real e efetivo no

patrimônio do lesado, isto é, numa concreta diminuição

em sua fortuna, seja porque se depreciou o ativo, seja

porque aumentou o passivo, sendo, pois, imprescindível

que a vítima tenha, efetivamente, experimentado um real

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prejuízo, visto que não são passíveis de indenização

danos eventuais ou potenciais, a não ser que sejam

conseqüência necessária, certa, inevitável e previsível da

ação. (...) Na condenação relativa a dano emergente, a

indenização poderá processar-se de duas formas: o

lesante será condenado a proceder à restauração do bem

danificado ou a pagar o valor das obras necessárias a

essa reparação. A indenização relativa ao dano

emergente pretende restaurar o patrimônio do lesado no

estado em que anteriormente se encontrava. (...) 2) Dano

negativo ou lucro cessante ou frustrado, alusivo à

privação de um ganho pelo lesado, ou seja, ao lucro que

ele deixou de auferir, em razão do prejuízo que lhe foi

causado. Para se computar o lucro cessante, a mera

possibilidade é insuficiente, embora não se exija uma

certeza absoluta, de forma que o crédito mais acertado

estaria em condicioná-lo a uma probabilidade objetiva,

resultante do desenvolvimento normal dos

acontecimentos, conjugado às circunstancias peculiares

do caso concreto (RT, 434:163, 494:133). Trata-se não só

de um eventual benefício perdido, como também da perda

da chance, de oportunidade ou de expectativa (...) requer

o emprego do tirocínio equitativo do órgão judicante,

distinguindo a possibilidade da probabilidade e fazendo

uma avaliação das perspectivas favoráveis ou não à

situação do lesado, para atingir a proporção da reparação

e deliberar seu quantum. Consequentemente, nesta

última hipótese, a indenização não seria do ganho que

deixou de ter, mas, na verdade, da chance. (...) Enfim, a

perda da chance é, de modo genérico, a frustração de

probabilidade de obtenção de um benefício na esfera

jurídica de quem foi lesado, moral ou patrimonialmente,

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por um ato comissivo ou omissivo do lesante. A perda da

chance é um dano real indenizável se se puder calcular o

grau de probabilidade de sua concretização ou da

cessação do prejuízo. Se assim é, o dano deve ser

apreciado, em juízo, segundo o maior ou menor grau de

probabilidade de converter-se em certeza. A chance, ou

oportunidade, seria indenizável por implicar perda de uma

expectativa ou probabilidade. (...) Se for substancial a

probabilidade de concretização da chance, sua frustração

constituirá um prejuízo. (...) 3) Nexo de causalidade entre

prejuízo e a conduta do lesante, pois, se o dano advier de

negligencia da própria vítima, não haverá ressarcimento,

porque não existe norma que impeça o sujeito

responsável de diminuir seu próprio patrimônio.12

Rosamaria Novaes Freire Lopes adverte que

A perda de uma chance é uma modalidade autônoma,

específica, de dano, não se amoldando nos tipos de

danos já conhecidos pelo sistema, no entanto, para a sua

configuração é necessário que a vítima prove a existência

de um prejuízo e o seu nexo causal. No entanto, nesta

teoria há uma relativização desses elementos que

circundam a responsabilidade civil. Na perda de uma

chance o dano é tido como dano emergente e não como

lucros cessantes, isso quer dizer que no momento do ato

ilícito essa chance já se fazia presente no patrimônio do

sujeito passivo desta relação jurídica, sendo algo que ela

12 Ibidem, p.68-71.

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efetivamente perdeu no momento do ilícito e não algo que

ela deixou de lucrar.13

No mesmo sentido, Tatiana Cavalcanti Fadul conclui que

Esta teoria é uma nova compreensão do instituto de

reparação de danos, pois visa reparar a perda da

oportunidade que alguém, que deixou de conseguir algo,

em razão de ato ilícito praticado por terceiros Podemos

dizer que é uma evolução do chamado dano moral. Como

é sabido, a reparação de dano se ramificou em danos

materiais e morais, sendo que os primeiros foram

subdivididos em danos emergentes e lucros cessantes. O

dano material, assim como as espécies de Darwin,

passou por uma seleção natural, e evoluiu, nascendo esta

nova teoria, que posteriormente foi aplicada em outros

países europeus, despertando inovações pelos juristas, e

que está sendo aplicada recentemente no Brasil.

Observe-se que a Teoria da Perda de uma chance, assim

como o dano material, está sobre a visão da

Responsabilidade civil, prevista no artigo 927 do Código

Civil, que assegura o castigo a pessoa que causar um

dano a outrem, obrigando-a a ressarcir e responder os

eventuais prejuízos que dele decorreu. (...) Frise-se que o

ordenamento jurídico visa reprimir os atos ilícitos

defendendo os atos lícitos, nos termos do artigo 186 do

Código Civil, in verbis: "aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito". Assim, a citada teoria, tem

13 Op.Cit.

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aplicabilidade quanto a probabilidade de obter um proveito

que foi abastada única e exclusivamente pelo ato ilícito de

terceiro. Ressalte-se que este instituto não busca o

ressarcimento pela vantagem perdida, vez que visa a

perda de uma oportunidade de conquistar aquela

vantagem ou evitar algum prejuízo, que não está ligado

ao resultado final, assim a procura da reparação não é do

dano , mas sim da chance.14

14 Op.Cit.

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5. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO E A

TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

Sergio Cavalieri Filho ensina que

não é obrigado o advogado a aceitar o patrocínio de uma

causa, mas, se firmar contrato com o cliente, assume

obrigação de meio, e não de resultado, já que não se

compromete a ganhá-la, nem a absolver o acusado. A sua

obrigação é defendê-lo com o máximo de atenção,

diligência e técnica, sem qualquer responsabilidade pelo

sucesso ou insucesso da causa. Consequentemente, não

há presunção de culpa nessa espécie de

responsabilidade, a despeito de ser contratual. O cliente

só poderá responsabilizar o advogado pelo insucesso da

demanda provando que ele obrou com dolo ou culpa.15

Carlos Roberto Gonçalves entende que

o mandato judicial impõe responsabilidade de natureza

contratual do advogado perante seus clientes. (...) A

responsabilidade do advogado se assemelha à do

médico, pois não assume ele a obrigação de sair vitorioso

na causa. São obrigações de meio as decorrentes do

exercício da advocacia e não de resultado. (...) O que lhes

cumpre é representar o cliente em juízo, defendendo pela 15 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2004, p.388

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melhor forma possível os interesses que este lhe confiou.

Se as obrigações de meio são executadas

proficientemente, não se lhe pode imputar nenhuma

responsabilidade pelo insucesso da causa (cf.RJTJSP,

68:45). O advogado responde pelos erros de fato e de

direito cometidos no desempenho do mandato. Quanto

aos últimos, é necessário que o erro em si se revista de

gravidade, para conduzir à responsabilidade do

advogado. A propositura de uma ação requer estudo

prévio das possibilidades de êxito e eleição da via

adequada. É comum, hoje, em razão da afoiteza de

alguns advogados, e do despreparo de outros, constatar-

se o ajuizamento de ações inviáveis e impróprias, defeitos

esses detectáveis ictu oculi, que não ultrapassam a fase

do despacho saneador, quando são então trancadas.

Amiúde percebe-se que a pretensão deduzida seria

atendível. Mas, escolhida mal a ação, o autor, embora

com o melhor direito, torna-se sucumbente. É fora de

dúvida que o profissional incompetente deve ser

responsabilizado, nesses casos, pelos prejuízos

acarretados ao cliente. Pode responder o advogado pelo

parecer desautorizado pela doutrina ou pela

jurisprudência, induzindo o cliente a uma conduta

desarrazoada, que lhe acarretou prejuízos. A perda de

prazo constitui erro grave. Pode constar expressamente

da lei, não se tolera que o advogado o ignore. Na dúvida

entre o prazo maior ou menor, deve a medida judicial ser

tomada dentro do menor, para não deixar nenhuma

possibilidade de prejuízo ao cliente. O advogado deve ser

diligente e atento, não deixando perecer o direito do

cliente por falta de medidas ou omissão de providencias

acauteladoras, como o protesto de títulos, a notificação

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judicial, a habilitação em falência, o atendimento de

privilégios e a preferência de créditos. Deve, inclusive, ser

responsabilizado quando dá causa à responsabilidade do

cliente e provoca a imposição de sanção contra este, nas

hipóteses dos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil.

(...) incorre em responsabilidade se deixa de recorrer,

contrariando os desejos manifestados pelo cliente. A

desobediência as instruções do cliente sempre pode

acarretar a responsabilidade do advogado, já que tem ele

o direito de renunciar ao mandato, se com elas não

concordar. Se o advogado se associa a um colega de

profissão, torna-se responsável perante o cliente pelos

atos prejudiciais do colega. Não será, entretanto, qualquer

erro que irá dar causa a responsabilidade civil do

profissional, proporcionando a respectiva ação de

ressarcimento. E só quando ele for inescusável, patente,

demonstrativo apenas de ignorância profunda é que terá

justificativa o pedido de perdas e danos. (...) E esta

responsabilidade, que é, em princípio, tão-só disciplinar –

quer dizer, sujeita apenas às sanções previstas na

legislação específica (art.35 da Lei Federal n.8.906, de

1994, e Código de Ética Profissional) -, pode ser também

civil e até penal, dependendo da gravidade do ato

praticado. (...) Atente-se, por primeiro, que o advogado

não pode ser responsabilizado civilmente pelos eventuais

conselhos que deu, convicta e honestamente, ao seu

cliente, só porque não houve sucesso na ação que em

seguida propôs, mas perdeu. (...) Manteve-se o princípio

de que tal responsabilidade pessoal será apurada

mediante a verificação de culpa (art.14, §4).16

16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p.382-

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Para Maria Helena Diniz

apesar de a função do advogado participar, em nosso

direito, do caráter de múnus publico, o mandato judicial

apresenta uma feição contratual, daí ser, como

apontamos anteriormente, sua responsabilidade

meramente contratual, por decorrer de uma obrigação de

meio, exceto, é óbvio, nos casos em que presta

assistência judiciária (Lei n.8.906/94, art.34, XII).

Realmente, o advogado poderá recusar o mandato, sem

ter de justificar a causa de sua rejeição, porque a própria

ética profissional lhe impõe um exame prévio da causa

que se lhe pretende confiar, de forma a poder recusá-la,

ante o princípio da liberdade profissional, se lhe parecer

inviável ou injusta a pretensão a que faz jus seu

constituinte. (...) O advogado deverá responder

contratualmente perante seu constituinte, em virtude de

mandato, pelas suas obrigações contratuais de defendê-lo

em juízo ou fora dele (Lei n.8.906/94, arts.1 e 2) e de

aconselhá-lo profissionalmente. Entretanto, será preciso

lembrar que pela procuração judicial o advogado não se

obriga necessariamente a ganhar a causa, por estar

assumindo tão-somente uma obrigação de meio e não

uma de resultado. Logo, sua tarefa será de dar conselhos

profissionais e de representar seu constituinte em juízo,

defendendo seus interesses pela melhor forma possível,

pois seus atos constituem um múnus publico (Lei

n8.906/94, art. 2, §2). O advogado que tiver uma causa

sob seu patrocínio deverá esforçar-se para que ela tenha 385.

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bom termo, de modo que não poderá ser responsabilizado

se vier a perder a demanda, a não ser que o insucesso,

seja oriundo de culpa sua (RJTJSP, 68:45). Há presunção

juris tantum de culpa no serviço prestado por advogado

(CDC, art.14, §4) e inversão do ônus da prova. O

advogado deverá provar que não foi culpado porque: o

serviço foi executado dentro da técnica profissional; houve

culpa do cliente que dificultou sua ação sonegando

informações, negociando com a parte contraria, depondo

de forma contraditória a defesa, não apresentando os

documentos necessários etc.; ocorreu alteração

procedimental, impedindo que alcançasse o objetivo

almejado.17

Ressalta ainda a referida autora que

Haverá, portanto, responsabilidade do advogado: 1) Pelos

erros de direito, desde que graves, podendo levar à

anulação ou nulidade do processo. (...) Não pode, ainda,

sob pena de receber sanção, deturpar o teor da lei, de

citação doutrinária ou de julgado, de depoimentos e

alegações da parte contrária para confundir o adversário e

iludir o juiz da causa (art.34, XIV, da Lei n. 8.906/94); 2)

Pelos erros de fato que cometeu no desempenho da

função advocatícia; 3) Pelas omissões de providencias

necessárias para ressalvar os direitos do seu constituinte,

pois, se aceitou o patrocínio da causa, deverá zelar pelo

bom desempenho do mandato, fazendo tudo o que puder

para sair vitorioso na demanda (RT, 65:367). Assim, p.ex.,

17 Op. Cit., p. 292-293.

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responderá civilmente o advogado que: a) recebeu

mandato para adquirir em hasta pública um terreno

penhorado e deixou de fazê-lo (RT, 98:561, 104:164); b)

devia protestar o título que lhe foi entregue para cobrança;

c) não se habilitou em falência ou concurso de credores;

d) permitiu que outro credor se apoderasse da quantia

sobre a qual poderia recair a execução o seu cliente; e)

deu causa à nulidade de atos indispensáveis à

conservação ou ao reconhecimento dos direitos de seu

constituinte; f) recusou um acordo proposto pela parte

contrária, estando incumbido de uma causa difícil, e vir a

perder a demanda etc. (Lei n.8.906/94, art.34, IX); g) não

cumpriu obrigações assumidas em contrato de mandato

judicial, deixando prescrever a pretensão de seu

constituinte de perceber prestações devidas (RT,

749:267); 4) Pela perda de prazo para cumprir

determinação emanada do órgão da Ordem (Lei

n.8.906/94, art.34, XVI) e para contestação ou recurso

(RF, 83:494; AJ, 59:24). Todavia, só será

responsabilizado pelo fato de não haver recorrido, se este

era o desejo do seu constituinte e se havia possibilidade

de ser reformada a sentença mediante interposição de

recurso, cabendo ao seu cliente a prova de que isso

aconteceria (RT, 104:458); 5) Pela desobediência as

instruções do constituinte, alterando-as, excedendo aos

poderes nelas contidos ou utilizando os concedidos de

modo prejudicial ao cliente (...); 6) Pelos conselhos dados

ao cliente, sob a forma de pareceres, desde que

contrários a lei, a jurisprudência e a doutrina, não só pelo

fato de ser o conselho absurdo ou errôneo como também

por ter agido imprudentemente, pois o advogado deverá

pesar as conseqüências ou os danos causados pela

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inexatidão do conselho dado (Revista de Direito, 29:493);

7) Pela omissão de conselho, fazendo com que o

constituinte perca seu direito ou obtenha um resultado

desfavorável ou prejudicial, quando poderia ter-lhe dado

conselhos que o permitissem enveredar por um caminho

vitorioso (...); 8) Pela violação de segredo profissional, em

virtude de imposição de ordem pública (...); 9) Pelo dano

causado a terceiro, embora excepcionalmente, pois seus

atos são tidos como sendo do mandante, exceto se

houver desvio, excesso ou abuso de poderes (...); 10)

Pelo fato de não representar o constituinte, para evitar-lhe

prejuízo, durante 10 dias seguintes à notificação de sua

renuncia ao mandato judicial (CPC, art.45; Lei n.8.906/94,

arts.5, §3, e 34, IX), salvo se for substituído antes do

término desse prazo; 11) Pela circunstancia de ter feito

publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente,

alegações forenses ou relativas a causas pendentes; 12)

Por ter servido de testemunha em processo no qual

funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado

com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo

quando autorizado ou solicitado pelo constituinte (Lei

n.8.906/94, art.7, XIX), bem como sobre fato que constitua

sigilo profissional; 13) Pelo fato de reter ou extraviar

valores de clientes ou autos, que se encontravam em seu

poder, recebidos com vista ou em confiança (Lei

n.8.906/94, art.34, XXII); 14) Pela imputação, em nome do

constituinte, sem anuência deste, a terceiro de fato

definido como criem (Lei n.8.906/94, art.34, XV); 15) Pelo

locupletamento à custa do cliente ou da paret adversa,

por si ou por interposta pessoa (Lei n.8.906/94, art.34,

XX); 16) Pela recusa injustificada a prestar contas ao

cliente de quantias recebidas dele ou de terceiros por

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conta dele (Lei n.8.906/94, art.34, XXI); 17) Pela omissão

de informação sobre vantagens e desvantagens da

medida judicial proposta e a ser proposta. (...) 19) pelo

patrocínio infiel, traindo, comissiva ou omissivamente, o

dever profissional, prejudicando interesse do constituinte,

violando os princípios da probidade e da boa-fé objetiva

(CC, art.422).18

Maria Helena Diniz afirma ainda que o advogado deve ser

responsabilizado

pela conduta culposa que resultou em perda da chance

de seu constituinte de: a) ver seu pleito analisado em

instancia superior, havendo probabilidade de o recurso

cabível não interposto ser bem sucedido; b) conseguir

produção de prova necessária ao êxito de sua pretensão,

que seria provável se tal prova tivesse sido provocada e

etc. Ter-se-á perda de uma chance (dano moral), quando

por culpa do advogado o patrimônio do cliente sofre uma

lesão, até mesmo se deixar prescrever uma pretensão de

seu constituinte (RT, 749:267), se dispensar perícia

médica imprescindível para elucidar dano físico causado

por um desastre. Pela perda da chance o advogado

deverá ser responsabilizado civilmente, exceto se

comprovar que, p.ex., a interposição daquele recurso ou a

realização da referida prova não traria qualquer benefício

ao seu constituinte. (...) O advogado que for acionado por

responsabilidade profissional não fará jus aos honorários

advocatícios, apesar de haver julgados que reconheçam

18 Ibidem, p.293-296.

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seu direito a eles, mandando-os descontar da indenização

a ser paga ao constituinte lesado, o que não nos parece

acertado. Se se tratar de advogado-empregado pelo

regime da CLT, o empregador assume a

responsabilidade, indenizando o lesado, mas tem ação de

regresso contra o advogado se agiu culposamente (CC,

arts. 932, III, 933 e 934). Porem, se for advogado-

empregado de sociedade de advogados, esta responderá

subsidiaria e ilimitadamente (Estatuto OAB, art.17). Tal

responsabilidade, contudo, é subjetiva (CDC, art.14, §4 e

Estatuto OAB, art.32), por ser sociedade de pessoa, com

finalidade profissional. Em se tratando de advogado-sócio

integrante de sociedade de advogados (Provimento

112/2006 – Conselho Federal OAB), sua responsabilidade

será solidária e ilimitada perante os demais sócios e

clientes, podendo responder com seus bens pessoais.

Mas nada obsta que o contrato social limite a

responsabilidade dos advogados-sócios.19

Sérgio Novais Dias salienta que

na perda de uma chance nunca se saberá qual seria o

resultado do julgamento se o ato houvesse sido praticado,

como, no exemplo da ausência de recurso, nunca se

saberá com absoluta certeza se a decisão que o cliente

desejava que fosse reexaminada seria reformada em seu

favor, ou não (...) impossível prever, com absoluta certeza

em todos os casos, o resultado de um julgamento, porque

o ato de julgar envolver juízo de valor e há sempre a

19 Op. Cit., p.296-297.

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‘irredutível margem de livre apreciação por parte do juiz’

(...) nos casos de perda de uma chance o advogado é

responsável pelos danos sofridos pelo cliente desde que

exista uma relação de causalidade adequada entre o ato

ou a omissão do advogado e o dano, ou seja, que, em

termos de probabilidade, num prognóstico feito a

posteriori, os danos tenham decorrido, necessariamente,

direta e imediatamente da falha cometida pelo

advogado.20

Imperioso salientar o posicionamento de Rui Stoco que alega que

não se pode concordar com a tese, embora desenvolvida

com seriedade, competência e maestria, pois incide nos

impedimentos e ofende os princípios (...) Para nós, tal

exsurge como inaceitável. Não há como admitir que

outrem substitua o juiz natural da causa para perscrutar o

íntimo de sua convicção e fazer um juízo de valor a

destempo sobre a “possibilidade” de qual seria a sua

decisão, caso a ação fosse julgada e chegasse ao seu

tempo. Ora, admitir a possibilidade de o cliente obter

reparação por perda de uma chance é o mesmo que

aceitar ou presumir que essa chance de ver a ação

julgada conduzirá, obrigatoriamente, a uma decisão a ele

favorável. Será também admitir a existência de um dano

não comprovado e que não se sabe se ocorreria. Ademais

de se caracterizar em verdadeira futurologia empírica,

mais grave ainda é admitir que alguém possa ser

responsabilizado por um resultado que não ocorreu e, 20 DIAS, Sérgio Novais. Responsabilidade Civil do Advogado – Perda de uma Chance. São Paulo: LTr, 1999, p.13-15.

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portanto, por um dano hipotético e, em ultima ratio, não

verificado ou demonstrado e sem concreção. Por fim, a

maior heresia será admitir que o profissional, em uma

obrigação contratual de meios, seja responsabilizado pelo

resultado. Seria, data venia, a summa contraditio.21

Todavia, os tribunais pátrios vêm se utilizando desta teoria e

responsabilizando o advogado nos casos de perda de uma chance pelos danos

sofridos pelo cliente desde que presente uma relação de causalidade

adequada entre o ato ou a omissão do advogado e o dano.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já se manifestou por

diversas vezes no sentido de que

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOGADO.

DESIDIA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.

OCORRÊNCIA. Contrato de prestação de serviços de

advocacia. Alegação de não cumprimento, pelo

advogado, dos deveres inerentes à profissão, desde que

deixou de dar correto andamento ao processo. Perda de

uma chance ao deixar o advogado de dar regular

andamento ao feito. Dever de indenizar. Dano moral.

Ocorrência. Reparação moral arbitrada em R$ 6.000,00

(seis mil reais), que se exibe justa e proporcional à lesão

infligida. Precedentes desta E. Corte. Manutenção da

sentença recorrida. Recursos a que se nega seguimento

na forma do artigo 557 caput do Código de Processo

Civil.22

21 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: RT, 2007, p.512. 22 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso de Apelação 0204473-96.2007.8.19.0001, Relator(a): MARILIA DE CASTRO NEVES, Décima Câmara Cível, julgamento: 05/08/2010.

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37

***

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL.

RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA. PROVA DA

CULPA. TEORIA DA PERDA DA CHANCE. DANO

MORAL. FIXAÇÃO EM MOEDA CORRENTE.

OBSERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE

E PROPORCIONALIDADE. A demanda deve ser

analisada à luz da regra geral do Código Civil, que prevê

a responsabilidade subjetiva do causador do dano, na

qual não se afasta a prova da culpa. Ação Consignatória

na seara trabalhista julgada extinta em razão do

abandono da causa pelo advogado. Culpa comprovada.

Teoria da Perda de uma chance (perte d'une chance).

Dano moral fixado em Cr$ 47.907,66 (quarenta e sete mil,

novecentos e sete cruzeiros e sessenta e seis centavos)

que, convertido, equivale a R$ 0,01 (um centavo de real).

Violação aos princípios da razoabilidade e

proporcionalidade. Dano moral que deve ser fixado em

moeda corrente e atual, no valor de R$ 5.000,00 (cinco

mil reais). Reforma da sentença. Parcial provimento do

primeiro recurso. Desprovimento do segundo recurso.23

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de forma reiterada

afirmou que

Mandato. Indenização. 1. A perda da chance de obter

uma vantagem futura (perda de chance clássica) fica

evidenciada quando o advogado, não se comportando 23 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso de Apelação 0004220-62.2006.8.19.0087, Relator(a): TERESA CASTRO NEVES, Vigésima Câmara Cível, julgamento: 04/08/2010.

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com a prudência e diligência exigíveis no caso concreto,

deixou de formalizar acordo obtido nos corredores da sala

de audiência, depois da realização desta, recebendo,

inclusive, cheque (que depois devolveu, com

testemunhas), da primeira parcela daquela transação

malograda, e que estadeou fundamentação da sentença

de extinção do processo de falência manejado pelo autor,

por ele patrocinado. 2. Tivesse formalizado aquele

acordo, ainda que por petição e até mesmo dependente

do posterior aval do pai da representante legal da

empresa CEMEP, seguramente outro seria o resultado

daquela demanda e, jamais o da extinção pura e simples,

pelo fundamento da ocorrência de moratória,

desnaturando o requisito da impontualidade. 3. O dano da

perda da chance jamais poderá consistir na vantagem que

era esperada, porque esta não passava de mera

expectativa (até porque o decreto de falência poderia até

não trazer mais vantagens ao autor, simples credor com

título quirografárto), mas, presente forte e sério grau de

probabilidade do recebimento daquelas parcelas restantes

do acordo, a reparação indenizatória é de rigor, fixada,

dentro dos critérios da razoabilidade e proporcionalidade

e, até mesmo, pela metade, porque reconhecida culpa

recíproca (do advogado e do cliente). 4. Presente a

sucumbência recíproca, impõe-se repartir entre os

litigantes as custas e despesas judiciais deste processo,

arcando, cada qual, com os honorários.24

***

24 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Recurso de Apelação 992051012684, Relator(a): VANDERCI ÁLVARES, Vigésima Quinta Câmara de Direito Privado, julgamento: 29/07/2010.

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Mandato. Responsabilidade civil. Falhas na prestação de

serviços advocaticios. Perda de uma chance.

Indenização. Dano moral. Julga-se deserto o apelo

quando, embora concedida oportunidade para

complementação do preparo, os apelantes deixam

transcorrer o prazo "in albis". Se em virtude de falhas na

prestação dos serviços advocaticios ocorreu a prescrição

da pretensão de ex-cliente, respondem os advogados

pela frustração decorrente da perda de uma chance.

Apelo dos réus não conhecido, provido em parte o recurso

do autor.25

***

MANDATO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

ADVOCATÍCIOS - INDENIZAÇÃO - FALTA DE

IMPUGNAÇÃO DE CÁLCULO TRABALHISTA E NÃO

INDICAÇÃO DE BENS A PENHORA - PREJUÍZO NÃO

DEMONSTRADO - AÇÃO IMPROCEDENTE. RECURSO

DESPROVIDO. A atividade do advogado é de meio e não

de resultados, não podendo o advogado ser

responsabilizado pelo insucesso da demanda, salvo se

comprovada culpa ou dolo, vez que de cunho subjetivo a

sua responsabilidade (CDC, art. 14, §4°), não estando,

ainda, o advogado obrigado a apresentar impugnação a

todo e qualquer ato ou recorrer de toda e qualquer

decisão lançada no processo. Inexistência de dever de

indenizar quando não demonstrado dano material ou

mora (CC, arts. 186, 927). A recusa injustificada do autor

em exibir em juízo documentação que tem ou deveria ter

em seu poder, e que é direta e necessária para a prova a

25 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Recurso de Apelação 992070119227 (1097872200), Relator(a): Cesar Lacerda, Vigésima Oitava Câmara de Direito Privado, julgamento: 27/07/2010.

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prova do dano, fato constitutivo do direito do autor (CPC,

art. 333, I), determina a improcedência do pleito

indenizatório.26

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul também defende que

RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOGADO. PEDIDO DE

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.

DESÍDIA EM PATROCÍNIO DE PROCESSO JUDICIAL,

ADVINDO DAÍ PREJUÍZO À AUTORA. COMPROVAÇÃO

CABAL DA CONDUTA CULPOSA DOS RÉUS. EFETIVA

COMPROVAÇÃO DOS DANOS SOFRIDOS. DEVER DE

REPARAÇÃO CARACTERIZADO. 1. Caso em que restou

plenamente demonstrada a desídia dos réus, que

demoraram 2 anos e 3 meses para o ajuizamento de ação

revisional de contrato imobiliário e foram negligentes

também durante o trâmite da ação. 2. A autora perdeu o

imóvel que era objeto de ação revisional, bem assim a

importância nele investida. 3. Evidenciada a negligência e

desídia dos réus no patrocínio da causa, demonstrada

está a culpa dos demandados no evento danoso, razão

pela qual devem arcar com as conseqüências daí

advindas. Demonstrada a falha na prestação do serviço

dos profissionais, bem assim a culpa, incide na espécie o

art. 14, §4º, do CDC. 4. Os danos morais restaram

devidamente configurados, pois a situação a qual foi

submetida a autora, efetivamente, ultrapassa a seara do

mero aborrecimento, configurando verdadeira lesão à

personalidade, passível, pois, de reparação. 5.

26 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Recurso de Apelação 992070600278 (1154452100), Relator(a): Clóvis Castelo, Trigésima Quinta Câmara de Direito Privado, julgamento: 26/07/2010.

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Manutenção do "quantum" indenizatório fixado no Juízo

de origem (R$ 4.500,00), o qual encontra-se em

consonância com a dúplice finalidade do instituto da

reparação civil. 6. Danos materiais indevidos,

considerando a incerteza quanto ao sucesso da ação

revisional e o fato de que a autora concorreu com culpa

na medida em que deixou de adimplir as parcelas. No que

se refere aos valores pleiteados a título de comissão de

corretagem, o raciocínio segue a mesma lógica. 7. Por

fim, quanto à alegação de perda de uma chance,

descabida indenização a tal título, pois como já referido,

inexiste certeza de chance real de alcançar o resultado

esperado. Sentença mantida pelos próprios fundamentos.

RECURSOS DESPROVIDOS.27

***

APELAÇÃO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO. PERDA

DE UMA CHANCE. OBRIGAÇÃO DE MEIO QUE NÃO

ELIDE O DEVER DE PRESTAR SERVIÇOS DE FORMA

ADEQUADA E DE ACORDO COM OS INTERESSES DO

CLIENTE. HIPÓTESE EM QUE O ADVOGADO DEIXA

DE COMPARECER À AUDIÊNCIA E DE COMUNICAR A

SUA REALIZAÇÃO AO CLIENTE DEIXANDO QUE

OCORRESSE A REVELIA. APELAÇÃO INTERPOSTA

QUE NÃO FOI CONHECIDA POR INTEMPESTIVIDADE.

DANO CAUSADO TENDO EM VISTA A PERDA DA

POSSIBILIDADE DE CONSEGUIR RESULTADO MAIS

FAVORÁVEL NO PROCESSO. CONFIGURAÇÃO DE

NEGLIGÊNCIA E IMPRUDÊNCIA DO ADVOGADO.

27 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Inominado 71002381481, Relator(a): Eduardo Kraemer, Terceira Turma Recursal, julgamento: 10/06/2010.

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DEVER DE INDENIZAR. QUANTUM INDENIZATÓRIO

QUE NÃO SE VINCULA AO VALOR EFETIVAMENTE

PERDIDO. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DOS

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DESPENDIDOS NA

CAUSA. DERAM PROVIMENTO, EM PARTE, AO

APELO. UNÂNIME.28

***

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL E

MATERIAL. PRESCRIÇÃO AFASTADA. ADVOGADO.

OMISSÃO NEGLIGENTE CONFIGURADA. I - O prazo

prescricional tem início a partir da efetiva ciência da

condenação pelo autor, que se deu com a sua intimação

pessoal. Assim, inocorrente a prescrição. II - O advogado

tem o dever de usar todos os meios processuais cabíveis

para melhorar a situação de seu cliente. Hipótese na qual

a ausência de apelação no tocante à sentença

condenatória configurou omissão negligente do patrono.

Aplicação da teoria da "perda de uma chance". A

manifestação do autor no sentido de não ter interesse em

recorrer não exclui a responsabilidade do advogado, pois

é ele quem detém o conhecimento técnico acerca da

melhor condução do processo. Ademais, não restou

provado que tenha havido um efetivo esclarecimento para

o outorgante acerca das conseqüências de não se

interpor o recurso. III - Dano moral que se configura in re

ipsa, não sendo necessário prova do prejuízo. IV - Da

indenização, considerando a gravidade do ato ilícito

praticado contra o autor, o potencial econômico do

ofensor, o caráter punitivo-compensatório da indenização

28 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de Apelação 70035639715, Relator(a): Otávio Augusto de Freitas Barcellos, Décima Quinta Câmara Cível, julgamento: 30/06/2010.

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e os parâmetros adotados em casos semelhantes, mas

também atento à péssima conduta social e aos fatos

praticados o valor da indenização vai reduzido para R$

1.000,00 (mil reais). APELAÇÃO DO AUTOR

DESPROVIDA; RECURSO DO RÉU PROVIDO EM

PARTE.29

***

INDENIZATÓRIA. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS

ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DE AJUIZAMENTO DE

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA. PERDA DE UMA CHANCE

NÃO DEMONSTRADA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

Ainda que o contexto probatório dê conta da contratação

do advogado réu, que obrou com desídia, ao não ajuizar o

pedido que visava ao restabelecimento do auxílio-doença

à recorrente, o qual veio a ser aforado um ano após, sob

o patrocínio de outro causídico, a autora não logrou

demonstrar as condições de êxito para a concessão de

tutela antecipada, de modo a sofrer efetivo prejuízo pelo

retardo no ingresso da lide, cuja decisão, em caso de

procedência, abrangerá as verbas devidas desde a data

da cessação do benefício. RECURSO IMPROVIDO.30

***

APELAÇÃO CÍVEL. ADVOGADO. EXERCÍCIO DO

MANDATO. DANOS MORAIS. PERDA DE UMA

CHANCE. NEGLIGÊNCIA. NÃO VERIFICADA. A perda

de uma chance leva a caracterização da responsabilidade

civil do causídico não quando há mera probabilidade de

29 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de Apelação 70032077158, Relator(a): Túlio de Oliveira Martins, Décima Câmara Cível, julgamento: 27/05/2010. 30 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Inominado 71002489623, Relator(a): Fernanda Carravetta Vilande, Segunda Turma Recursal Cível, julgamento: 26/05/2010.

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reforma de uma decisão lançada no processo, porém

quando a alteração dessa vai além da eventualidade,

tangenciando a certeza. Ainda, a responsabilidade civil do

patrono é subjetiva, sendo necessária a comprovação de

culpa ou dolo (art. 14, § 4º e art. 32 do CPDC). A

advocacia trata-se de atividade de meios e não de

resultados, em tese não podendo o profissional ser

responsabilizado tão-somente pelo insucesso no certame.

Comprovação de exercício profissional adequado dos

advogados contratados no exercício do mandato

outorgado. Outrossim, não está o advogado sempre

obrigado a se manifestar de toda e qualquer decisão ou

despacho lançada no processo. DESPROVERAM O

APELO.31

Enfim, o Superior Tribunal de Justiça entende que

PROCESSUAL CIVIL E DIREITO CIVIL.

RESPONSABILIDADE DE ADVOGADO PELA PERDA

DO PRAZO DE APELAÇÃO. TEORIA DA PERDA DA

CHANCE. APLICAÇÃO. RECURSO ESPECIAL.

ADMISSIBILIDADE. DEFICIÊNCIA NA

FUNDAMENTAÇÃO. NECESSIDADE DE REVISÃO DO

CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7, STJ.

APLICAÇÃO.

- A responsabilidade do advogado na condução da defesa

processual de seu cliente é de ordem contratual. Embora

não responda pelo resultado, o advogado é obrigado a

31 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de Apelação 70034913186, Relator(a): Paulo Sérgio Scarparo, Décima Sexta Câmara Cível, julgamento: 29/04/2010.

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aplicar toda a sua diligência habitual no exercício do

mandato.

- Ao perder, de forma negligente, o prazo para a

interposição de apelação, recurso cabível na hipótese e

desejado pelo mandante, o advogado frustra as chances

de êxito de seu cliente. Responde, portanto, pela perda da

probabilidade de sucesso no recurso, desde que tal

chance seja séria e real. Não se trata, portanto, de reparar

a perda de “uma simples esperança subjetiva”, nem

tampouco de conferir ao lesado a integralidade do que

esperava ter caso obtivesse êxito ao usufruir plenamente

de sua chance.

- A perda da chance se aplica tanto aos danos materiais

quanto aos danos morais.

- A hipótese revela, no entanto, que os danos materiais

ora pleiteados já tinham sido objeto de ações autônomas

e que o dano moral não pode ser majorado por deficiência

na fundamentação do recurso especial.

- A pretensão de simples reexame de prova não enseja

recurso especial. Aplicação da Súmula 7, STJ.

- Não se conhece do Especial quando a decisão recorrida

assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso

não abrange todos eles. Súmula 283, STF. Recurso

Especial não conhecido. 32

32 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1079185 / MG, Relator(a) Ministro Nancy Andrighi, terceira turma, DJe 04/08/2009.

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CONCLUSÃO

A teoria clássica de Responsabilidade Civil afirma e defende a

existência de três pressupostos essenciais para a responsabilização do agente:

a conduta do agente; o dano e o nexo de causalidade.

Com a evolução da sociedade passou-se a admitir a indenização

pela perda de uma chance nos casos em que seja certo que a conduta do

agente acarretou em prejuízos a vítima, mas que existam dúvidas quanto a

causalidade do dano.

A teoria da perda de uma chance teve sua origem na França vem

sendo adotada pela doutrina e jurisprudência pátria que apesar de bem

escassa, vêm construindo e modelando seus fundamentos.

Todavia, no caso concreto o juiz deve ter muita cautela uma vez que

presentes os elementos essências, deve ser indenizado apenas a chance que

efetivamente deixou de ocorrer, excluindo-se todos os danos hipotéticos.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm, acesso em: 17 de

janeiro de 2011.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1079185 / MG,

Relator(a) Ministro NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJe 04/08/2009.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Recurso de Apelação

992051012684, Relator(a): VANDERCI ÁLVARES, Vigésima Quinta Câmara de

Direito Privado, julgamento: 29/07/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Recurso de Apelação

992070119227 (1097872200), Relator(a): Cesar Lacerda, Vigésima Oitava

Câmara de Direito Privado, julgamento: 27/07/2010.

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BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Recurso de Apelação

992070600278 (1154452100), Relator(a): Clóvis Castelo, Trigésima Quinta

Câmara de Direito Privado, julgamento: 26/07/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso de

Apelação 0004220-62.2006.8.19.0087, Relator(a): TERESA CASTRO NEVES,

Vigésima Câmara Cível, julgamento: 04/08/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso de

Apelação 0204473-96.2007.8.19.0001, Relator(a): MARILIA DE CASTRO

NEVES, Décima Câmara Cível, julgamento: 05/08/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de

Apelação 70026290239, Relator(a): Orlando Heemann Júnior, Décima

Segunda Câmara Cível, julgamento: 02/04/2009.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de

Apelação 70034913186, Relator(a): Paulo Sérgio Scarparo, Décima Sexta

Câmara Cível, julgamento: 29/04/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de

Apelação 70035639715, Relator(a): Otávio Augusto de Freitas Barcellos,

Décima Quinta Câmara Cível, julgamento: 30/06/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso de

Apelação 70032077158, Relator(a): Túlio de Oliveira Martins, Décima Câmara

Cível, julgamento: 27/05/2010.

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BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso

Inominado 71001515147, Relator(a): EUGENIO FACCHINI NETO, Terceira

Turma Recursal, julgamento: 11/03/2008.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso

Inominado 71002381481, Relator(a): Eduardo Kraemer, Terceira Turma

Recursal, julgamento: 10/06/2010.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso

Inominado 71002489623, Relator(a): Fernanda Carravetta Vilande, Segunda

Turma Recursal Cível, julgamento: 26/05/2010.

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