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1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DEIPORÁ
CURSO DE GEOGRAFIA
JOANA DARC ROSA B. MORAIS
A TERCEIRA IDADE: COMO VIVEM OS IDOSOS NO LAR
BOM SAMARITANO – IPORÁ-GO
IPORÁ/GO
2011
2
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DEIPORÁ
CURSO DE GEOGRAFIA
JOANA DARC ROSA B. MORAIS
A TERCEIRA IDADE: COMO VIVEM OS IDOSOS NO LAR
BOM SAMARITANO – IPORÁ-GO
Monografia apresentada ao curso de Geografia
da Universidade Estadual de Goiás - UnU
Iporá, como exigência parcial para obtenção do
título de licenciada Geografia.
Orientador: Kaio José Silva Maluf Franco
IPORÁ/GO
2011
3
Dedico esta monografia a minha filha e ao meu marido,
que sempre estiveram presentes proporcionando carinho
e apoio imprescindíveis para que eu pudesse continuar
nessa jornada.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo o que faz a cada dia em minha vida e por ser “o meu rochedo, o meu
lugar forte e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem me refugio. Ele é o
meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte” (Salmos18:2)
A minha família, que esteve comigo em todos os momentos, torcendo e comemorando
cada vitória.
Ao Prof. Kaio José Silva Maluf Franco, meu orientador, que acompanhou esse
trabalho com toda a paciência, rigor, ética e carinho que a pesquisa acadêmica exige,
contribuindo definitivamente para a concretização deste sonho.
5
“Ninguém envelhece apenas por viver um certo número de anos.
As pessoas envelhecem por abandonarem seus ideais. Os anos
fazem rugas na pele. Desistir do entusiasmo, porém, faz rugas na
alma”.
(Radha Soami)
6
RESUMO
O envelhecimento é um fenômeno natural e social que se estende por dois terços da vida.
Entende-se portanto, que o ser humano precisa de carinho, respeito e assistência social que lhe
garanta condições à dignidade para viver nessa etapa da sua vida. Esse trabalho objetiva
conhecer as percepções dos idosos sobre o envelhecimento e as condições de vida dessa
população que residem no Lar Bom Samaritano na cidade de Iporá, a fim de compreender
alguns conceitos do que é ser velho e como ter uma boa qualidade de vida na velhice É tratada
na monografia a questão da qualidade de vida de idosos garantidos no Estatuto do Idoso para
então verificar como vivem os idosos no Lar Bom Samaritano na cidade de Iporá, onde foi
percebido ser um lugar oferecido para essa parcela da população superar as suas dificuldades
e conquistar o conforto de uma moradia digna, a assistência a saúde e o convívio com pessoas
para possibilitar o entendimento da magnitude do processo de envelhecimento, que é saber
aceitar as barreiras físicas e delinear novas concepções da importância e dos modos do viver.
Palavras-chave: velhice, modo de vida, idosos
7
ABSTRACT
Aging is a natural and social phenomenon, which extends for two thirds of life. It is a phase of
life that human beings need affection, respect and social conditions that will ensure dignity.
This study investigated the perceptions of the elderly about aging and living conditions of the
population residing in the Good Samaritan Home in the city of Iporá in order to understand
the process of institutionalization in the perspective of the individual refugee. It is treated in
the monograph the issue of institutionalization of the elderly, its meaning and its effects on
the elderly, important themes that run through to old age. The survey results showed that the
Good Samaritan Home in the city of Iporá is a place where elderly people found to overcome
their difficulties, recovering the comforts of home, health care and quality of life of the
elderly according to their own understanding . Therefore, understanding the magnitude of the
aging process, is learning to accept the physical barriers and devise new conceptions of the
importance and ways of living.
Keywords: aging, quality of life
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 09
1 CONCEITOS HISTÓRICOS: O QUE É SER VELHO?......................................... 11
1.1 Qualidade de vida ..................................................................................................... 15
1.2 Qualidade de vida na velhice ................................................................................... 17
1.3 Fatores que influenciam para uma boa qualidade de vida na velhice ................. 18
1.4 Asilo ............................................................................................................................ 21
2 O LAR BOM SAMARITANO NA CIDADE DE IPORÁ-GO ................................ 24
3. RESULTADO E DISCUSSÕES ................................................................................ 27
3.1 Os sujeitos da pesquisa .............................................................................................
3.2. Percepção dos idosos sobre saúde e qualidade de vida .........................................
27
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 35
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 36
9
INTRODUÇÃO
Com o tema Terceira Idade: como vivem os idosos no lar Bom Samaritano na cidade
de Iporá-GO, é mostrado que o modo de vida dos idosos que residem nessa casa de apoio está
de acordo lei 8842/94 da Política Nacional do Idoso.pois prevê garantias legais e amparam
uma boa qualidade de vida, conforme consta no decreto 1948/96 que regulamenta essa lei.
No Brasil, assim como na maioria dos países em desenvolvimento, o número de
idosos tem aumentado expressivamente e o assunto sobre o cuidado com essa população tem
movido pesquisadores em busca de dados científicos apontando à organização de políticas
públicas mais humanas de atendimento.
Esse estudo se mostra importante para o ensino da Geografia, pois o estudo do
comportamento humano é essencial para a compreensão e intervenção política em uma
sociedade ávida pela busca de novos caminhos que contribuam para a solução dos inúmeros
problemas que afligem o homem contemporâneo.
A partir daí surgiu a problemática dessa pesquisa, onde buscou saber como vivem os
idosos que residem no Lar Bom Samaritano na cidade de Iporá e qual a concepção desses
idosos sobre o que é ser velho. Buscou ainda descobrir se esses idosos a partir de suas
experiências poderão contribuir com a formação dos mais novos e como acham que devem
ser tratados para se sentirem bem.
A partir dos relatos das entrevistas e observações detectou-se que os idosos sentem
que tem boa qualidade de vida mesmo com a falta de respaldo da família e com a escassez
das políticas de proteção ao idoso, representadas pelo Poder Público na cidade de
Iporá.
A pesquisa é do tipo qualitativa descritiva, a partir de um estudo de caso que teve
como sujeitos os moradores e pessoas que trabalham no lar Bom Samaritano na cidade de
Iporá-GO. Foi ainda realizada uma revisão de literatura baseada em livros, artigos e revistas
10
impressos e de Internet, de grande importância para nortear a investigação, associados à
pesquisa de campo.
O cenário relacionado para o levantamento de informações envolveu o Lar Bom
Samaritano na cidade de Iporá – GO, localizado no bairro Mato Grosso, cujos informantes
foram 16 idosos de ambos os sexos, com idades entre 52 e 84 anos, que por questões éticas
não foram identificados.
A coleta de dados ou levantamento das informações realizou-se no período de 01 de
julho a 20 de julho de 2010, sendo que o instrumento utilizado para amostragem foi
entrevistas semi-estruturada, baseada no questionário da Organização Mundial da Saúde
(OMS) sobre qualidade de vida, e, entrevista, pela diretoria da instituição.
Visando a ordenação e melhor compreensão dessa monografia, esta pontua três
capítulos. Onde no primeiro capítulo trata-se de uma revisão de literatura onde buscou
conceituar os termos velhice e terceira idade, mostrando que ser idoso nos dias atuais é uma
contribuição para quebrar alguns preconceitos sociais. Este capítulo define algumas
abordagens que guiam as discussões sobre a qualidade de vida esperada e necessária a velhice
discutindo os aspectos ligados a: saúde, sociabilidade, suporte social, atividade física,
possibilidade de dar suporte e apoio e sentimento de utilidade.
No segundo capítulo tem-se um relato do modo de vida dos idosos residentes no Lar
Bom Samaritano na Cidade de Iporá-GO, a partir do estudo de caso realizado, que buscou
conhecer a percepção dos idosos sobre a qualidade de vida necessária na velhice. No entanto
não foram mencionados os nomes dos participantes visando preservar-lhes o anonimato foram
identificados por letras do alfabeto.
Os resultados da pesquisa apontaram que no Lar Bom Samaritano na Cidade de Iporá-
GO, é proporcionado uma boa qualidade de vida aos idosos, pois os mesmos demonstraram
que vivem-bem e tem consciência de poder contribuir com a sociedade, quebrando
paradigmas, respeitando e sendo respeitados.
11
1- CONCEITOS HISTÓRICOS: O QUE É SER VELHO?
O envelhecimento é conceituado das mais variadas formas por diferentes autores, com
pressupostos conseqüentes da idade ou da transformação cotidiana, sem contar em contextos
populares de cunho social da representatividade do idoso.
No início do século XX, tem-se uma necessidade de que seja feito um breve histórico
em relação aos idosos em diferentes épocas, nas intervenções sociais, políticas e legais na
sociedade brasileira, pois a partir desse século começa-se a viver um momento de transição
entre a sociedade industrial, para a sociedade pós-industrial, onde a criatividade, o trabalho
intelectual impera, e, nessa transição vê-se a exclusão do idoso, onde ser velho é ter que lutar
para continuar ser homem, conforme afirmação de Boff (1999, p. 18):
“Que é, pois, ser velho na sociedade capitalista? É sobreviver. Sem projeto, impedido
de lembrar e de ensinar, sofrendo as adversidades de um corpo que se desagrega à
medida que a memória vai-se tornando cada vez mais viva, a velhice, que não existe
para si, mas somente para o outro. E este outro é opressor.” (BOFF, 1999, p.18).
Nota-se que de acordo com as projeções estatísticas até o ano 2025, o Brasil ocupará o
6º lugar do mundo no que se refere à população idosa, e com isso a desvalorização do idoso
não poderá ser vista mais como um dos preconceitos contra a velhice, deverá tornar-se um
desafio para as pessoas que chegam a essa etapa da vida (DEBERT, 1996, p. 33).
aquele que vê no amanhã a continuidade do trabalho do hoje, aquele que não fica à
espera do descanso eterno, que vai à luta, que busca preencher os espaços da vida, que
se vê como elemento útil à sociedade. Enfim, aquele que acredita e demonstra que tem
experiências a serem relatadas e que, acima de tudo, é ainda capaz de grandes
realizações (DEBERT, 1996, p. 33).
O que mostra que diferente de cada cultura o idoso representa a continuidade da de
uma história, ou seja, dos valores almejados pelo grupo social. Uma vez que nas culturas
tradicionais, o idoso sempre foi visto como símbolo da sabedoria, através do ato de lembrar e
12
de dar expressão as suas lembranças. Já nas sociedades indígenas, o papel do idoso é de
extrema importância na distribuição e manutenção de conhecimentos culturais entre os
integrantes da tribo. Tem-se ainda conhecimento que em sociedades milenares da Ásia, como
o Japão, existe uma relação de extremo respeito pela população idosa, até os dias de hoje.
Nas sociedades industriais, os idosos não são respeitados, onde, de acordo com Buss
(2003, p. 15), “a velhice é maléfica, porque nela todo sentimento de continuidade é
despedaçado”. O que não pode ser o desaparecimento contínuo da memória do idoso, onde o
antigo não tem mais função, a não ser em lojas de antiguidades, pois o envelhecimento é um
processo que acontece gradativamente
Assim sendo, percebe-se que a velhice tem sido vista e tratada de modo diferente, de
acordo com períodos históricos e com estrutura social, cultural, econômica e política de cada
povo. Portanto, acredita-se que a idade do início da velhice é uma questão que não comporta
um critério único e invariável, no tempo ou entre culturas, pois existe certa controvérsia
quanto à questão de qualificar o idoso, muito bem ilustrada por Veras (2007):.
A velhice é um termo impreciso, e sua realidade, difícil de perceber. Quando uma
pessoa se torna velha? Aos 50, 60, 65 ou 70 anos? (...) Uma pessoa é tão velha quanto
suas artérias, seu cérebro, seu coração, sua moral ou sua situação civil? Ou é uma
maneira pela qual outras pessoas passam a encarar estas características que a
classificam como velha?” (VERAS, 2007, p. 37)
Para esse autor, a idade é de qualquer modo um limite arbitrário, uma vez que trata o
envelhecimento como é um processo contínuo, não se iniciando em nenhuma idade ou
momento particular.
Segundo dados da (ONU), Organização das Nações Unidas (ONU), o idoso é aquela
pessoa que já atingiu a idade de 60 anos e mais. Essa mesma faixa etária é adotada no Brasil,
de acordo com a Lei n.º 8.842/94, em seu capítulo I, artigo 2.º, onde traz que a faixa etária
para uma pessoa ser considerada idosa é a de 60 anos ou mais (Andreotti et al, 2009, p. 4).
Já para Andreotti et al, (2009, p. 4), a pessoa é considerada idosa perante a sociedade a
partir do momento em que encerra as suas atividades econômicas. Trata o processo de
envelhecimento, de uma maneira geral que envolve uma perda progressiva das aptidões
funcionais do organismo. Portanto o indivíduo passa a ser visto como idoso quando começa a
depender de terceiros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou tarefas rotineiras
(ANDREOTTI et al., 2009).
13
Conforme França (2004, p. 56), na verdade, ao contrário do que a maioria pensa,
envelhecer não significa perda da capacidade, mas “é o nosso sistema educacional e de
trabalho que está caduco para atender às necessidades dos mais idosos”.
Nesse sentido, o envelhecer não é somente um momento na vida de um indivíduo, mas
um processo extremamente complexo e pouco conhecido, conforme relata Foucault (1972, p.
134 e 135:.
(...) A velhice deve ser considerada, ao contrário, como uma meta, e uma meta
positiva da existência. Deve-se tender para a velhice e não resignar-se a ter que um dia
afronta-la. É ela, com suas formas próprias e valores próprios, que deve polarizar todo
o curso da vida. (FOUCAULT, 1972, p. 134/135).
A velhice pode ser entendia ainda como um período de desabrochar, mas também
pode ser acompanhada por perturbações psicopatológicas graves. Portanto, o envelhecimento
é um processo que se modifica com a relação do homem e o tempo, com o mundo e sua
própria história, onde Foucault (2005), esclarece que:
“o processo de envelhecimento ocorre diferente para cada pessoa, onde são
considerados vários fatores como o ritmo, época de vida e um estado de espírito onde
os próprios indivíduos se concebem nessa etapa da vida, exercendo sua cidadania
(FOUCAULT, 2005, p. 48)”.
Assim sendo, com o envelhecimento podem aparecer modificações nas reações
emocionais; perdas e separações, solidão, isolamento e marginalização social. Portanto, saber
envelhecer é uma virtude que requer integração dos anos vividos e aceitação do momento
presente. A velhice deve necessariamente ser encarada como um fator social e cultural
associadas da qualidade de vida esperada.
Não se pode ter medo da velhice, especialmente da incompreensão, do abandono ou
mesmo solidão, mas é preciso se manter a mente ativa durante toda a vida, de forma que a
memória se conserve em pleno funcionamento, como é esclarecido por Foucault (2005, p.
148):
[...] se a velhice não está incumbida das mesmas tarefas que a juventude, seguramente
ela faz mais e melhor. Não são nem a força, nem a agilidade física, nem a rapidez que
autorizam grandes façanhas; são outras qualidades, como a sabedoria, a clarividência,
o discernimento. Qualidades das quais a velhice não só não está privada, mas, ao
contrário, pode muito especialmente se valer (CALDAS, 1998, p. 18 e 19).
Nesse entendimento, nota-se que o conceito de velhice está relacionado a última fase
do envelhecimento humano, ou seja, um estado que caracteriza a condição do ser humano
idoso. Entretanto nos dias atuais, com os avanços da medicina, da farmacologia e, até mesmo
14
da cirurgia plástica, a velhice parece encontrar novos limites, uma vez que os efeitos do
envelhecimento podem ser escamoteados.
Dessa forma “o idoso tem maior aceitação, integração e reconhecimento da sociedade”
(p. 86), já que ser idoso não é uma abstração, porém uma condição visível e que determina, de
certo modo, as possibilidades de ação e inter-relacionamento social, mas é um jeito cruel da
velhice, talvez o pior ou o mais doloroso, é a sensação angustiante que assalta o idoso de não
ser mais capaz de cuidar de si, de não ser amado, ou de não ser merecedor de ocupar o espaço
que lhe é devido.
Portanto há multiplicidades de opiniões ao se conceituar a pessoa idosa. Observa-se
que conceituar população idosa não é tarefa fácil, devido a não clarificação da idéia do que
marca a transição entre fim da idade adulta e o começo da última etapa da vida.
velhice não comporta um só conceito, porque não há equivalência sobre as
características de uma pessoa em determinada idade, isto é, a idade cronológica pode não ser idêntica à biológica e social do indivíduo. O conceito cronológico seria
determinado a partir os 65 anos nos países desenvolvidos, e dos 60 anos nos países em
desenvolvimento (GUEDES, 2001, p. 29).
Os idosos têm um papel fundamental em nossa sociedade e para que seus direitos
fossem reconhecidos criou-se a LEI N o 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o
Estatuto do Idoso que tem como propósito fundamental a promoção do envelhecimento
saudável, a prevenção e/ou a melhoria, ao máximo possível, da capacidade funcional dos
idosos, o cuidado e a prevenção de doenças, a recuperação da saúde daqueles que adoecem e a
reabilitação daqueles que venham a ter sua capacidade funcional diminuída, de modo a
garantir-lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas
funções na sociedade.
Portanto, os idosos não podem mais ser tratados como se fossem peças descartáveis,
ele seria a pessoa mais indicada a nos dar uma opinião, pois são pessoas vividas que nos
servem de exemplo. Pois segundo essa Lei, no Art. 2º, consta que:
O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em
condições de liberdade e dignidade. (ESTATUTO DO IDOSO, art. 2º)
Acredita-se que a velhice se coloca como um novo problema a ser enfrentado,
necessitando de pessoas para o cuidado, esta deve ser vista como uma etapa agradável e
15
alegre, de recordar o que já se viveu em etapas anteriores. “Todo aquele que sabe tirar de si
próprio o essencial não poderia julgar ruins as necessidades da natureza” (CALDAS, 2000, p.
9). Assim, uma vida tranqüila pode levar a uma velhice pacífica e suave com bons cuidados.
O cuidado que o idoso necessita está garantido na nova Constituição Federal brasileira
(1988), “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de cuidar dos idosos, assegurando-lhes
uma participação na vida comunitária, protegendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes
o direito à vida” (art. 230). Esse cuidar é na realidade, uma atitude que necessita de
preocupação, ocupação, responsabilidade e envolvimento afetivo com o ser cuidado.
Para Silvestre (1996, p. 45), o cuidar em favor da saúde do idoso, devem objetivar ao
máximo a manutenção do idoso na comunidade, junto de sua família, da forma mais digna e
confortável possível e possa enfrentar os desafios do envelhecimento saudável. Assim, sendo
esse cuidado com o idoso deve oferecer boa qualidade de vida, com ótimas condições de
moradia e momentos de lazer, uma vez que com o passar dos anos muitos idosos tornam-se
totalmente submissos de familiares e amigos.
Neri (2005, p. 5), assegura que ao idoso deve ser garantidos maneiras preventivas de
saúde, prática de atividades físicas, combate ao estresse, alimentação adequada e moradia
adequada. Para o autor é preciso encarar a chegada da terceira idade sem se esconder do
mundo, achando-se inválido e esperando a morte. Ao idoso deve ser dispensados respeito e
dignidade, o envelhecimento não deve estar relacionado à sobrevida, mas a qualidade de vida.
Desse modo, hoje, envelhecer é um triunfo, mas para desfrutar da velhice, é conciso
dispor de políticas públicas adequadas que possam garantir um mínimo de condições e
qualidade de vida para os que atingem a terceira idade.
1.1 Qualidade vida
Qualidade de vida é um amplo conceito que envolve diferentes aspectos relacionados a
saúde física, estado psicológico, relações sociais, nível de independência e pelas relações do
indivíduo com as características mais relevantes do seu meio ambiente.
Cada indivíduo e cada grupo humano procura interpretar a qualidade de vida de
acordo com seus valores, princípios e interesse, sempre utilizando os seus próprios e
diferentes indicadores, originando assim a uma diversidade de interpretações de usos do
conceitos.
Segundo Neri (2005, p. 5), a qualidade de vida pode ser definida como sendo “a
condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais,
16
modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano. O “estilo de
vida é um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores individuais e as
oportunidades na vida das pessoas”
Entende-se então que a qualidade de vida pode relacionar-se a diversos pontos que
afetam a vida como um todo. Torna-se um conceito amplo e complexo, para garantir que ter
qualidade de vida é estar em equilíbrio com si próprio, com a vida ou com as diferentes
pessoas.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1986) saúde não é apenas ausência de
doenças, mas também o completo bem-estar biológico, psicológico e social. Nesse sentido, a
Qualidade de Vida envolve indivíduo em qualquer circunstância no contexto onde sobrevive,
considerando a satisfação do bem-estar, no envolvimento de atividades sociais, comunitárias e
físicas, desenvolvimento e enriquecimento pessoal, recreação, e independência para
realização de atividades.
Uma boa qualidade de vida pressupõe ainda no equilíbrio para desenvolver as
atividades, comunicação, relações com grau de afetividade capaz de despertar sentimentos
altruístas, pois o isolamento não proporciona trocas, mas só leva as frustrações, e segundo
Medrado (1996):
Contribui para o desenvolvimento das competências afetivas, éticas, estéticas,
cognitivas, de relação interpessoal e de inserção social. A sua prática, acima de tudo é
saúde e deve ser praticada por todos independente da idade, como forma de lazer e
também como forma de prazer (MEDRADO 1996, p. 56):
Nesse sentido, o exercício físico torna-se como um dos principais mecanismos para
melhorar a nossa saúde e a qualidade de vida, como garante Bacelar (2002):
Realizado de forma moderada e regular, é um santo remédio. Depende unicamente de
nossa força de vontade e disciplina para que possamos restaurar este hábito em nossas
vidas. O hábito se forma com a prática de exercícios até que o corpo passe a solicitar à
mente, incorporando o movimento e substituindo o sedentarismo. (BACELAR, 2002,
p. 34).
Qualidade de vida é um termo que se reveste de grande complexidade, dada a
subjetividade que representa para cada pessoa ou grupo social, podendo representar
felicidade, harmonia, saúde, prosperidade, morar bem, ganhar salário digno, ter amor e
família, poder conciliar lazer e trabalho, ter liberdade de expressão, ter segurança, ter uma
moradia digna, e pode ainda significar todo esse conjunto de atributos e/ou benefícios
(FREITAS, 2004, p. 271)
17
1.2 Qualidade de vida na velhice
A qualidade de vida na velhice é um fator que se relaciona a uma multiplicidade de
aspectos e influências referentes ao processo de envelhecimento, ou seja, uma velhice
satisfatória não é um atributo do individuo biológico, psicológico ou social, mas resulta da
qualidade da interação entre pessoas em mudanças. Portanto, qualidade de vida é a satisfação
que se tem proveniente de saúde geral, conforto e relações pessoais mais do que de dinheiro.
A qualidade de vida na velhice está diretamente relacionada à interação de vários
fatores construídos ao longo da vida. Esses fatores compreendem carga genética,
estilo de vida, relações sociais e familiares, capacidade laborativa, educação, suporte
econômico e ambiente físico (FREITAS, 2004, p. 271).
Segundo Néri (2004), o interesse pela qualidade de vida na velhice é ainda incipiente e
fragmentado no Brasil, devido ser um fenômeno social é muito recente e, por inserir-se num
quadro de forte desigualdade social e de acentuadas carências, em que uma minoria, como os
idosos, não chega a constituir demandas capazes de mobilizar a sociedade em favor do
atendimento de suas necessidades.
Ter ou não ter uma boa qualidade de vida na velhice não é um atributo do indivíduo
biológico ou psicológico, nem uma responsabilidade individual, mas, sim, um produto da
interação entre pessoas vivendo numa sociedade em transformação (NERI, 2004; SANTOS,
2001).
Nesse sentido pode-se entender que para ter uma boa qualidade de vida na velhice é
preciso ter boa moradia, um bom relacionamento social e praticar atividades físicas para
garantir uma boa saúde. Portanto, quanto mais ativo o idoso, maior sua satisfação,
conseqüentemente melhor sua qualidade de vida (GATTO, 2002, p. 67). Vê-se que o cuidado
com a saúde é uma das questões mais importante que se interrelaciona ao envelhecimento,
pois atua diretamente na forma como este irá encarar a sua velhice.
O cuidado com a saúde é importante em qualquer etapa e mais ainda em idade
avançada, não porque o envelhecimento seja sinônimo de enfermidade, senão porque,
na velhice, as pessoas têm maior propensão a adoecer, já que são mais frágeis ao
diminuir sua capacidade de adaptação às agressões externas e internas
(CORTELLETTI, CASARA & HERÉDIA, 2004, pag. 47).
Percebe-se que a saúde das pessoas idosas, é uma questão de saúde pública e não pode
ser entendida como de responsabilidade individual, pois demanda por políticas sociais que
devem impactar sob os sistemas de saúde, educação, planejamento dos ambientes de trabalho
18
e dos espaços urbanos, sistema de seguridade social e também sob o modelo de formação e
atuação dos profissionais que cuidam desses assuntos.
1.3 Fatores que influenciam para uma boa qualidade de vida na velhice
Assis (1999, p. 33) acredita-se que qualidade de vida para a pessoa idosa, implica na
manutenção da autonomia, auto-satisfação, participação e a possibilidade de atuar em
variados contextos sociais. Pois a qualidade de vida na velhice é experimentada de diversas
formas e pode estar associada também à impressão subjetiva de seu estado de saúde.
De acordo com Veras (2007, p. 54) muitas vezes, na velhice, os problemas de saúde
causados por patologias múltiplas são agravados pela solidão e a pobreza. Assim sendo
existem outros fatores que influenciam para uma boa qualidade de vida na velhice que estão
relacionados ao apoio social e familiar, seu estilo de vida, experiência pessoal, satisfação com
a vida e estado de humor.
Segundo Neri, (2004, p. 34) os fatores que se relacionam ao estilo de vida referem-se
ao conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades de
independência na vida das pessoas.
Portanto, a capacidade de se manter independente funcionalmente e a capacidade de
realizar atividades sem a interferência ou influência de outras pessoas é uma das questões
mais significativas da velhice.
Para Freitas (2004, p. 28), é possível buscar o envelhecimento saudável através da
promoção da saúde e da prevenção de doença, mantendo a capacidade funcional pelo maior
tempo possível.
Assim sendo, a condição que o idoso tem em se manter independente, conduzindo sua
própria vida, decidindo, atuando e utilizando as habilidades que o indivíduo tem para
desempenhar suas atividades do dia a dia, garantem-lhe boa qualidade de vida.
1.3.1 Saúde
A saúde e a doença nos idosos é destacada para Silvestre. (1996, p. 45) como
fenômenos clínicos e sociológicos que são dependentes, entre outros fatores, da situação
econômica e social, na qual a velhice é limitada principalmente pela aposentadoria e pela
"desqualificação" como mão - de - obra para o mercado de trabalho.
19
De acordo com Freitas (2004, p. 33) a saúde é a chave para uma boa vivência do
processo de envelhecimento, mas depende corretos hábitos de vida, inserção familiar,
inserção social e adequação ambiental.
Para Machado (1997), a saúde é um estado de equilíbrio geral psicofisiológico: o
social, o cultural, o trabalho, a efetividade e a participação política são ingredientes
intervenientes à saúde. Assim, a saúde não é mais analisada como o objetivo final de vida,
mas o meio para se atingir seus desejos e Anseios.
A atenção à saúde dos idosos no Brasil, no que dizer respeito à organização e
estruturação, avançou significativamente com a criação da Lei n.º 8.842, de 4 de janeiro de
1994, onde foi regulamentada pelo Decreto n º 1.948, de 3 de julho de 1996, dispondo sobre a
Política Nacional do Idoso, sendo que esta lei, em seu artigo 10, inciso II – na área de saúde,
alínea “a”, garante ao idoso a assistência à saúde para estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não apenas a ausência de doença, nos diversos níveis de atendimento
(LOPES, 2000, 121).
A garantia da saúde ao idoso, conforme é citado na Lei acima possibilitará que ele
tenha uma boa qualidade de vida, ou seja uma “condição humana com dimensões física,
social e psicológica, caracterizadas num contínuo, com pólos positivo e negativo” (FREITAS,
2004, p. 120).
A partir desse estatuto, foi garantido por lei a importância merecida à terceira idade,
devendo ser oferecido melhor qualidade de vida e assistência para se viver bem, uma vez que
envelhecer pode significar amadurecer e não ser velho, pode significar a soma de experiências
que levam ao crescimento e não à morte.
Neri (2004) já afirmava que na fase da velhice, se vivida em condições ótimas de
saúde e ambiente, é provável manter o desempenho, contrair conhecimento, sustentar relações
sociais e aperfeiçoar a capacidade de auto-regulação. O idoso precisa portanto ter saúde para
mudar e enfrentar o ambiente como um todo e satisfazer seus desejos.
Portanto, A saúde representa um fator decisivo para a manutenção, na velhice, de uma
boa qualidade de vida. Durante a velhice, se vivida em condições ótimas de saúde e ambiente,
é possível manter o desempenho, adquirir conhecimento, manter relações sociais, aprimorar a
capacidade de auto-regulação e assim diminuir os prejuízos e conservar a autonomia (NERI,
2004).
De acordo com os autores acima citados, percebe-se que para se ter um
envelhecimento saudável e tranqüilo se faz necessário que os homens usufruam suas
20
potencialidades e disponibilidades, viva intensamente o momento, dando sentido e novos
significados para a vida na idade avançada.
O idoso precisa se sentir útil e deve-se colaborar para que isso aconteça. Se tiverem
condições de saúde para realizar tarefas, sempre incentivo, pois assim possibilito uma melhor
qualidade de vida pra eles. Cabe acentuar que é necessário compreender o sentido de saúde
para os idosos a partir do seu próprio olhar, tendo em vista a associação que se estabelece
entre a velhice e a doença em nossa sociedade, bem como a representação social dessa
associação.
1.3 2 Habitação
Ter uma habitação digna significa ter conforto, bem-estar, satisfação e segurança para
desempenhar com melhores condições as atividades diárias.
A moradia digna constitui-se num direito humano firmado na Constituição Federal
brasileira de 1988, hoje está previsto no artigo 6º da Constituição Federal, fundado no
princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III e V, CF), ele abrange, além da garantia
da própria moradia, a qualidade e conforto, vinculadas às redes de infra-estrutura básica
(água, esgoto, energia elétrica e drenagem), ao transporte coletivo e aos equipamentos sociais
(saúde, educação, segurança, lazer e cultura). Portanto, um direito fundamental do cidadão
brasileiro, além de revestir-se em um direito inerente à personalidade humana.
A não efetivação deste direito propicia a violação a inúmeros outros direitos e valores
que visam assegurar a dignidade do ser humano, tais como: direito à identidade, à qualidade
de vida, à segurança, à saúde, às oportunidades de trabalho, à inclusão social, cidadania, entre
outros.
De fato, há que se conceber o direito à moradia como elemento principal do
reconhecimento de sua dignidade enquanto pessoa, já que a questão da dignidade, não
obstante tratar-se de um valor espiritual e moral, também é instituto de proteção
jurídica, daí o direito à moradia estar intimamente relacionado a outros direitos, já que
pelo fato de morar sob um teto, em um local determinado, tem-se também direito a
outros direitos, como o direito à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem, ao
sigilo de correspondência de sua residência, ao segredo doméstico, ao sossego, à
educação, à saúde, pois não há como admitir o exercício de um direito sem o outro,
porquanto são tão essenciais que se unem em um só indivíduo, de forma que não se
pode separá-los integralmente ou definitivamente (BACELAR 2002, p. 88).
As pessoas precisam ter um local adequado em que possam tentar ter uma vida
tranqüila, e isto é impossível quando as pessoas moram, a cada dia, em um lugar diferente.
21
Portanto, a qualidade de habitação é um fator de excelência pessoal que pode fazer com que
as pessoas atendam suas necessidades.
1.3.3 Lazer
As necessidades individuais das pessoas podem ser satisfeitas por um programa de
lazer com motivação que garantam uma boa qualidade de vida evitando assim doenças
psicológicas e fisiológicas, uma vez que o direito ao lazer está assegurado no Estatuto do
Idoso, para estimular a integração entre as pessoas.
Machado (1997), defende a idéia de que, para o idoso usufruir do lazer, é necessário
primeiramente a prática, o aprendizado, o estímulo, a preparação e a iniciação aos conteúdos
culturais. Nesse sentido um programa de atividade física pode ser efetivo para a capacidade
funcional desse grupo de pessoas, podendo contribuir certamente para a autonomia e,
sobretudo para a qualidade de vida.
Salgado (2006) entende que para um idoso encontrar na terceira idade um perfeito
equilíbrio, necessita que tenha hábitos de vida saudáveis durante toda a sua trajetória:
infância, adolescência e vida adulta.
Devemos estar cientes de que “uma velhice tranqüila é o somatório de tudo quanto
beneficie o organismo, como por exemplo, exercícios físicos, alimentação saudável,
espaço para o lazer, bom relacionamento familiar, enfim, é preciso investir numa
melhor qualidade de vida” (SALGADO, 2006, p. 2).
Para Matsudo (2001), a população idosa poderá prolongar mais tempo a execução das
atividades da vida diária e garantir melhor qualidade de vida, quando começar a ver a
atividade física como forma de prevenção e reabilitação da saúde que podem ser adquiridas
como forma de lazer. Trata-se de um fenômeno sócio-cultural na vida de pessoas idosas,
representando, além de uma melhora na auto-estima, maior tempo livre vivido com qualidade.
1.4 Asilo
O processo histórico de constituição dos asilos se assemelha a história dos hospitais,
uma vez que em seu início ambas abrigavam idosos em situação de pobreza e exclusão social.
Quando não existiam instituições específicas para idosos, estes eram abrigados em
asilos de mendicidade, junto com outros pobres, doentes mentais, crianças abandonadas,
desempregados.
22
O Asilo São Luiz para a Velhice Desamparada, criado em 1890, foi a primeira
instituição para idosos no Brasil aconteceu no estado do Rio de Janeiro, em 1890 até meados
da década de 20, por um proeminente homem de negócios da sociedade carioca, o Visconde
Ferreira de Almeida,para acolher a velhice desamparada. Na época, quando a instituição
passava por um intenso processo de modernização foi motivo para uma série de reportagens
nos jornais.
Esse asilo foi fundado e rapidamente passou a receber subvenções públicas e a contar
com o apoio de uma ordem de freiras Franciscanas que cedia irmãs para cuidarem dos
asilados. Em pouco mais de três décadas, ampliou enormemente sua capacidade, iniciando
com 45 leitos, em 1892,e passando para 260 leitos, em 1925. Teve o prédio ampliado e
contou ainda com modernas instalações, numa série de obras financiadas com o dinheiro das
subvenções e dos inúmeros donativos que a instituição recebia.
Em fins do século XIX, teve em São Paulo a construção da Santa Casa de Misericórdia
para dar assistência a mendigos e idosos. Conforme o aumento de internações para idosos foi
crescendo passou a definir-se como instituição gerontológica.
Nos anos 60 aos anos 90 a velhice transformou-se em questão pública, sendo essa
época caracterizada pela demarcação da velhice, como estágio distinto do ciclo de vida.
A mudança de hábitos de vida dos idosos quando deixam seus lares para uma
habitarem em uma instituição de longa permanência representa um grande desafio, pois se
deparam-se com um jeito diferente do estilo de vida antes vivido por eles.
No entanto, Buss (2003), assegura que os idosos não podem encarar o processo de
institucionalização como perda de liberdade, abandono pelos filhos, aproximação da morte,
pois causará ansiedade quanto à condição do tratamento recebido pelos funcionários.
Muitas vezes uma instituição de longa permanência cumpre papel de abrigo, ou seja, a
nova habitação para o idoso excluído da sociedade e da família, abandonado e sem um lar
fixo, tornando-se como único ponto de referência para uma vida digna e um envelhecimento
com paz e tranqüilidade.
No entanto, mesmo com direito garantido pela Constituição Federal que declara a
obrigatoriedade de proteção a pessoa idosa1, com boas condições de vida que assegure a
dignidade humana, nem sempre o Estado destina os recursos aos asilos para suprir as
1 A proteção ao idoso tem assento constitucional. A Constituição Federal, logo no art. 1º declara que são
princípios fundamentais da República Federal do Brasil, a cidadania e a dignidade humana (incisos I e II). “O
idoso é ser humano, portanto possui status de cidadão e, por consequência, deve ser contemplado por todos os
instrumentos asseguradores da dignidade humana aos brasileiros, sem distinção”. (Constituição Federal, 1988)
23
necessidades aos idosos que não tem família e acaba comprometendo os recursos do asilo e
dificultando o trabalho dos dirigentes dessas instituições.
Pelo fato da questão do envelhecimento e da velhice ter adquirido grandes proporções
e tender a aumentar, o Estado terá que ser acionado para atuar em parceria com organizações
privadas e não governamentais. O reconhecimento da política de assistência social deu-se
institucionalmente e formalmente, a partir da Constituição Federal de 1988. A regulamentação
desse artigo constitucional foi através da Lei Orgânica de Assistente Social – LOAS, Lei
Orgânica do Assistente Social, de n.º 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a
organização da assistência social.
E, para corrigir os maus tratos que muitos idosos vem recebendo por parte de
familiares que se julgam muito ocupados para dedicar amor e carinho a essas pessoas que já
contribuíram e ainda muito pode contribuir com a sociedade, e até mesmo com o Estado, que
em muitas situações tem se mostrado omisso com a ajuda aos asilos que recebem esses idosos
que a família ignora, a Constituição Federal passa a estabelecer meios legais para que o idoso
deixe de ser discriminado e receba o tratamento que lhe é devido2.
Mas não é somente a Constituição Federal que se preocupa com a dignidade do idoso,
pois foi também criado a partir de 1994, a Política Nacional do Idoso que através de Leis e
diretrizes asseguram o atendimento as necessidades básicas ao idoso para que tenham boas
condições de vida, e possam desfrutar dessa fase de vida com saúde e bem estar3.
2 Constituição Federal estipula que um dos objetivos fundamentais da República é o de promover o bem de
todos, sem preconceito ou discriminação em face da idade do cidadão, bem como de origem, raça, sexo, cor e
quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso IV. Para o idoso que não integre o seguro social, ou
seja, o benefício a que tem direito apenas quem contribui para a Previdência Social, a Constituição assegura a
prestação de assistência social à velhice. Tal proteção deve se dar com os recursos orçamentários da previdência
social e prevê, entre outras iniciativas, a garantia de um salário mínimo mensal ao idoso que comprove não
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família (arts. 203 e 204). Especial
destaque na proteção constitucional ao idoso é o papel da família. A família é a base da sociedade e merece
atenção especial do Estado. A partir dessa conceituação, o estado deverá assegurar assistência a cada um dos que
a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações (art. 226). Ainda com
respeito ao aspecto familiar, é dever da família, bem como do Estado e da sociedade, amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à
vida (art. 3º).
3 A Política Nacional do Idoso (Lei Federal nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, regulamentada pelo Decreto
Federal nº 1.948, de 3 de julho de 1996) é o instrumento básico. A lei começa por repetir os princípios
constitucionais, garantindo ao idoso a cidadania, com plena integração social, a defesa de sua dignidade e de seu
bem-estar e do direito à vida, bem como o repúdio à discriminação (art. 3º). Uma de suas diretrizes é a
priorização do atendimento do idoso em órgãos públicos e privados prestadores de serviços. Quando desabrigado
e sem família deve receber do Estado assistência asilar condigna (art. 4º). Na implementação desta política
nacional do idoso, a lei atribui ao Poder Público incumbências muito claras nas mais diversas áreas: a) na
promoção e na assistência social, há previsão de ações no sentido de atender as necessidades básicas do idoso,
estimulando-se a criação de centros de convivência, centros de cuidados noturnos, casas-lares, oficinas de
trabalho, atendimentos domiciliares, além da capacitação de recursos para atendimento do idoso (art. 10, I); b) na
área de saúde, o idoso deve ter toda assistência preventiva, protetiva e de recuperação por meio do Sistema
24
2 O LAR BOM SAMARITANO NA CIDADE DE IPORÁ-GO
O Lar Bom Samaritano é de caráter filantrópico, localizado no setor Jardim Arco Íris,
Q. 5 L.1, avenida Monte Alegre, na cidade de Iporá-GO. Sua coordenação é exercida por W.
I. C. A unidade apresenta objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os
princípios do Estatuto do Idoso, estando inscrita, no Conselho Municipal de Saúde. Sua
capacidade é para atendimento a 30 idosos, havendo, atualmente, 25 pessoas, dentre homens e
mulheres, abrigados na instituição.
O Lar Bom Samaritano não possui nenhum convênio, recebe donativos, e os idosos
contribuem com 90% dos benefícios recebidos, de acordo com o contrato celebrado na
presença dos familiares. Não foi possível saber,entretanto, qual orçamento mensal da
instituição.
A instituição conta com quatro prestadores de serviços à comunidade e utiliza serviços
médicos e de Enfermagem do Programa Saúde da Família. As condições de trabalho dos
profissionais são adequadas, mas que possuem pouca autonomia para o desenvolvimento de
projetos socioeducativos.
Sobre as instalações físicas, a instituição conta com 10 quartos, com área média de
nove m2 cada quarto, havendo dois ou três idosos em cada cômodo. Os alojamentos possuem
Único de Saúde; deve ser incluída a geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públicos
federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais (art. 10, II); c) na área da educação prevê-se: a adequação
dos currículos escolares com conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar
preconceitos; a inserção da Gerontologia e da Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores; a
criação de programas de ensino destinado aos idosos; o apoio à criação de universidade aberta para a terceira
idade; d) na área do trabalho e da previdência: impedir a discriminação do idoso, no setor público e privado;
programas de preparação para a aposentadoria com antecedência mínima de dois anos antes do afastamento;
atendimento prioritário nos benefícios previdenciários; e) habitação e urbanismo: facilitar o acesso à moradia
para o idoso e diminuir as
barreiras arquitetônicas; f) na área da justiça: promoção jurídica do idoso, coibindo abusos e lesões a seus
direitos; g) na área da cultura, esporte e lazer: iniciativas para a integração do idoso e, com este objetivo, a
redução de preços dos eventos culturais, esportivos e de lazer. A lei também prevê a criação de conselhos do
idoso no âmbito da União, dos Estados, Distrito Federal e municípios, com o objetivo de formular, coordenar,
supervisionar e avaliar a política nacional do idoso, no âmbito da respectiva atuação (arts. 5º e 6º).
25
condições de aeração e iluminação adequadas, mas as condições de higiene não são muito
boas. Os idosos possuem espaço para guardar seus pertences pessoais e não há espelhos nos
quartos. Estão presentes 12 banheiros na unidade, em boas condições de higiene, contando
com artefatos de proteção/apoio nos chuveiros e vasos sanitários, não possuindo, entretanto,
tratamento com piso antiderrapante. As paredes e tetos possuem cores claras e laváveis, o que
facilita a limpeza da casa. A instituição de longa permanência atende a todas as exigências
mantendo as dependências em perfeitas condições de higiene, possuindo lixeira externa e
mantendo os lixos em sacos plásticos.
No Lar Bom Samaritano não há escadas por onde os moradores tenham que
obrigatoriamente se deslocar, mas, em caso de sinistro, haveria dificuldade em evacuar o
prédio com rapidez. A unidade possui extintores de incêndio em locais visíveis e dentro dos
prazos de validade, mas os quartos não estão equipados com campainhas de emergência.
As instalações elétricas e hidráulicas estão em boas condições, assim como a cozinha e
o refeitório, estando também os alimentos armazenados e acondicionados corretamente. O Lar
Bom Samaritano possui área externa, e o espaço oferece condições apropriadas para o trânsito
dos idosos.
Verificou-se, durante a visita, que a instituição não presta atendimento personalizado e
não procede ao estudo pessoal e social de cada caso. As visitas aos internos podem ocorrer
diariamente, entre 7h e 20h, constatando-se que O Lar Bom Samaritano não promove a
preservação dos vínculos familiares e sociais dos idosos.
Quanto à alimentação, são servidas cinco refeições diárias, de boa qualidade, havendo
poucos idosos que necessitem de dietas especiais. A instituição não conta com projeto
terapêutico que norteie suas ações de saúde e o número de profissionais é inadequado para
atender à demanda. Os problemas de saúde encontrados são hipertensão e diabetes, havendo
casos de sofrimento psíquico e deficiências. Nos últimos três anos, há registro de um óbito na
unidade. Os medicamentos disponíveis são adequados e estão armazenados corretamente,
sendo manipulados pelos técnicos em Enfermagem. Todos os idosos possuem cartão de
vacina. Os idosos não praticam exercícios físicos na instituição, que promove poucas
atividades comunitárias internas e externas. Os moradores quase não saem da instituição, a
não ser para irem a igreja, que na sua maioria são evangélicos. Não há projeto educacional em
curso, nem biblioteca, mas a assistência religiosa é oferecida de forma satisfatória. Os idosos
têm acesso aos meios de comunicação, podendo escrever e receber cartas, receber e efetuar
ligações telefônicas, mas não lhes são asseguradas as condições de privacidade necessárias à
vida sexual e afetiva.
26
O Lar Bom Samaritano, assim como outros asilos de Iporá e até mesmo do estado de
Goiás sofrem pó falta de uma política de atenção integral do poder público em oferecer
serviços de longa permanência. Os idosos que vivem nessa instituição são na sua grande
maioria abandonados nessa instituição filantrópica primeiramente pela família e, depois, pelas
próprias instituições, que deveriam garantir tratamento digno, mas que, na maioria das vezes,
repetem a segregação e a exclusão.
Percebe-se portanto, que mudanças ainda precisam acontecer. O Estatuto do Idoso
precisa ser divulgado, o Poder Público tem a função de estabelecer políticas públicas efetivas
de atenção à pessoa idosa e nós, cidadãos e cidadãs indignados com essa sociedade perversa,
temos o dever de, por meio das instâncias de controle social, exercer a nossa cidadania e lutar
por uma sociedade mais digna para todos e todas.
27
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com o objetivo de caracterizar os sujeitos da pesquisa e nortear as questões das
entrevistas, foram utilizados instrumentos do tipo roteiro de entrevista ao Dirigente do Lar
Bom Samaritano (Apêndice I) e para o idoso que ali reside (Apêndice II). Pode-se considerar
que esse momento da entrevista, foi uma das etapas mais desafiadoras da pesquisa, pois
adentrar como um estranho no mundo privado do entrevistado e transformá-lo em parceiro da
caminhada, trazendo em seu relato a profundidade do seu vivido exige troca e aproximação.
Todos os sujeitos receberam pseudônimos, objetivando a preservação do anonimato.
Esta identificação atenta para o aspecto ético da pesquisa , constante no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE., seguindo as normas da resolução do CONEP
196/96, pois conforme afirma Vieira (2004) "todo e qualquer pesquisador deve obedecer
princípios, diretrizes e normas para a elaboração de seu trabalho científico, principalmente, se
o mesmo envolver seres humanos".
Os sujeitos da pesquisa foram esclarecidos sobre os objetivos a que se propunha. Para
Vieira (2004) e Trivinos (1992) o consentimento livre e esclarecido ou informado com o
consentimento, transforma o que seria simples uso da pessoa em participação consciente dessa
pessoa num empreendimento cientifico. Ainda, segundo esses mesmos autores o termo de
consentimento tem como finalidade principal proteger o participante; e também, o
pesquisador e a instituição.
Foi então solicitada autorização prévia do Dirigente do Lar Bom Samaritano,
entregando-lhe uma carta de apresentação, elaborada pela pesquisadora, constando a
finalidade da pesquisa.
3.1 Os sujeitos da pesquisa
28
Os sujeitos da pesquisa são 25 idosos que residem no Lar Bom Samaritano, sendo a
maioria do sexo feminino (quinze sujeitos) e (10) do sexo masculino. A idade varia entre 65 e
90 anos, com exceção de um(tetraplégico) com 30 anos. A religião da maioria (22 sujeitos) é
Evangélica e apenas de uma (01) é Católica. A grande maioria (18 sujeitos) são de estado
civil solteiro, três são viúvos e quatro são casados (porém não vivem com o esposo(a)).
Quanto ao nível de escolaridade 15 entre os (25) não são alfabetizados e 10 são
alfabetizados. Esses números mostram o grande número de pessoas de terceira idade com
pouco ou nenhum grau de escolaridade, o que mostra que analfabetismo no idoso representa
uma realidade nos países em desenvolvimento, como, por exemplo, o Brasil.
QUADRO 01: Características dos idosos que residem no Lar Bom Samaritano
Sujeito Sexo Idade
Estado civil
Escolaridade
Religião
A1 Feminino 66 anos Solteira Não alfabetizado Católica
A2 Feminino 73 anos Casada Alfabetizado Evangélica
A3 Feminino 85 anos Casada Não alfabetizado Evangélica
A4 Feminino 69 anos Solteira Não alfabetizado Evangélica
A5 Feminino 80 anos Solteira Não alfabetizado Evangélica
A6 Feminino 70 anos Viúva Não alfabetizado Evangélica
A7 Feminino 68 anos Solteira Não alfabetizado Católica
A8 Feminino 66 anos Solteira Alfabetizado Evangélica
A9 Feminino 72 anos Solteira Não alfabetizado Evangélica
A10 Feminino 69 anos Solteira Não alfabetizado Evangélica
A11 Feminino 85 anos Viúva Alfabetizado Evangélica
A12 Feminino 90 anos Solteira Alfabetizado Evangélica
A13 Feminino 70 anos Solteira Não alfabetizado Evangélica
A14 Feminino 71 anos Solteira Não alfabetizado Evangélica
A15 Feminino 75 anos Viúva Não alfabetizado Evangélica
A16 Masculino 76 anos Solteiro Alfabetizado Evangélica
A17 Masculino 81 anos Solteiro Não alfabetizado Católica
A18 Masculino 73 anos Solteiro Alfabetizado Evangélica
A19 Masculino 90 anos Casado Não alfabetizado Evangélica
A20 Masculino 84 anos Solteiro Não alfabetizado Evangélica
A21 Masculino 65 anos Solteiro Alfabetizado Evangélica
A22 Masculino 70 anos Solteiro Alfabetizado Evangélica
A23 Masculino 68 anos Casado Não alfabetizado Evangélica
A24 Masculino 99 anos Solteiro Alfabetizado Evangélica
A25 Masculino 30 anos Solteiro Alfabetizado Evangélica Fonte: Dados obtidos na enfermaria do Lar Bom Samaritano, em julho de 2010
Os idosos que residem no Lar Bom Samaritano, quanto ao grau de dependência são
distribuídos em ala A (ala feminina) 12 idosas, a ala B (ala masculina) com 10 idosos, já a ala
29
C (ala mista – totalmente dependentes) com 3 internos – do sexo masculino, sendo 1
tetraplégico.
Todos os idosos fazem uso freqüente de medicamentos, sendo bastante comum os
agentes cardiovasculares, analgésicos, sedativos e tranqüilizantes.
Quadro 02: Distribuição de idosos residentes no Lar Bom Samaritano, segundo o sexo e o grau de dependência.
Iporá - GO. 2010.
SEXO Indep. Dep.
Parcial
Totalmente
Dep.
TOTAL
Masculino 5 2 3 10
Feminino 8 7 - 15
Total 13 9 3 25
Fonte: Dados obtidos na enfermaria do Lar Bom Samaritano, em julho de 2010.
3.2. Percepção dos idosos sobre saúde e qualidade de vida
Visando apresentar os resultados dos depoimentos dos idosos do Lar Bom Samaritano
sobre saúde e qualidade de vida na velhice, este tópico traz dois momentos: identificando as
suas percepções sobre o contexto em que vivem, a influência de suas crenças, valores,
sentimentos e visão de mundo, refletindo deste modo, suas percepções.
3.2.1 Aspectos ligados a saúde
Na opinião dos 25 idosos que residem no Lar Bom Samaritano, em relação ao estado
de saúde, a grande maioria considera que sua saúde esta boa, conforme pode ser verificado
nos gráficos 1 e 2.
Os dados sugerem que a visão de boa saúde pode estar atrelada à questão da saúde
psicológica. A pesquisa também sugere que há idosos com representação de saúde muito
positiva pois, apesar de terem problemas de saúde, buscam sempre a autonomia, enfrentando
os obstáculos, enquanto alguns se apóiam em pequenos problemas da saúde física, num
discurso de infelicidade e sofrimento, o que pode ser indício de que a saúde emocional ou
psicológica representa importante critério para que idosos institucionalizados possam ter
maior qualidade de vida. A questão de ter ou não saúde para essas pessoas parece ser
compreendida por uma questão de não ter sofrimento, ou não sentir dor.
30
Gráfico 1: Auto-avaliação da saúde segundo idosos que residem no Lar Bom Samaritano. Iporá-GO. – 2010.
Fonte: a autora/2010
No gráfico 1, referente às condições de saúde, observa-se que 60% dos idosos
consideram sua saúde boa, 16% regular, 12% ótima, 8% ruim, e 4% péssima. Percebe-se que
os entrevistados demonstraram uma atitude e uma visão bastante positiva com relação à
própria saúde, pois a maioria considera como boa o estado de saúde. E as respostas foram
bem interessantes já que, a menor parte dos entrevistados consideram sua saúde como
péssima.
88%
12%
Apresenta problemas de saúde
Tem problemas de saúde
Não tem problemas de saúde
31
Fonte: a autora/2010
No gráfico 2, é mostrado que a maioria das pessoas entrevistadas 88% tem problemas
de saúde e apenas 12% não tem problemas de saúde. Dessas pessoas com problemas de saúde,
os problemas mais citados pelos idosos foram dor nas articulações, problemas de vista e
doenças do coração. Todos usam remédios, que são adquiridos no Posto de Saúde ou, quando
não tem no posto são adquiridos com o dinheiro da aposentadoria.
A importância da saúde para esses idosos podem ser constatadas a partir de alguns
depoimentos que foram registrados abaixo.
Ter saúde é poder comer, andar, e sair. É ter uma vida com mais qualidade e saúde é
conviver com familiares e amigos que realmente gostam de você, independente da sua saúde.
(A2)
Eu acho que se você não tem saúde você não aprecia todas as outras coisas que você
possa ter, quer dizer eu não tenho tudo o que eu quero, mas se eu não tiver saúde... Sabe, se
você não tem saúde você nem corre atrás das coisas, você também não usufrui das coisas que
você tem... (A5)
A minha saúde está boa, eu não tenho assim, doença física, que a gente fala...(A8).
Saúde é não sentir dor, é ter muita felicidade é algo que Deus nos dá. É não viver
bebendo um e outro remédio sem valer nada. Eu mesmo só bebo os que tem costume. (A11).
Ter saúde é não sentir nada e poder se virar sozinho, é quando agente come e dorme
bem.( A17).
Saúde é a riqueza de Deus. È poder estudar e ir a igreja (A19)
Saúde é mesmo sendo velho poder conversar e andar. Dormir bem e comer. (A22)
Nota-se que para esses idosos a saúde é um bem importante, pois acreditam que com
saúde é possível realizar seus objetivos, ideais e sonhos, podem ainda batalhar e trabalhar para
alcançar a felicidade.
32
Vê-se que os idosos entrevistados sentem que tem saúde, já que acreditam ser
independentes e conseguem sobreviver. Cabe mencionar que atualmente grande parte dos
idosos é definitivamente capaz de sustentar o controle sobre sua própria vida, pois mesmo
tendo doenças são saudáveis, uma vez que convivem bem com elas (GUEDES, 2001;
TEIXEIRA, 2002).
O estado de saúde para os idosos entrevistados tem relação com o seu cotidiano, e é
subjetivado a partir do contexto de vida e da realização das atividades por eles valorizadas.
Pode-se ainda notar nas falas dos mesmos que a saúde é admirada, retratada com sentimento
de quem não encara a velhice como doença e sim como mais uma fase de vida. Para essas
pessoas a saúde é um bem muito precioso e a sua perda significa dependência e a falta de
autonomia para as atividades cotidianas.
Percebe-se que o sentido de saúde está associado à não existência de doença, porém, é
importante destacar que esses indivíduos consideram doenças aquelas que classificam como
graves, ou seja que impossibilitam a pessoa de sair da cama para realizar suas atividades.
Estes idosos entrevistados apontam a saúde como uma dimensão importante em sua
vida, pois dependem dela para realizarem suas atividades cotidianas e de lazer. E, em geral, os
idosos consideram a saúde como o valor mais fundamental, reforçando o dito popular “o
importante é estar com saúde”. Ter saúde para fazer suas atividades é algo de grande valor
para essa idosa.
3.3.2 Aspectos ligados a qualidade de vida
Quando foi perguntado aos idosos sobre ter qualidade de vida, é percebido de acordo
com suas falas, que relacionam qualidade de vida com ter um lugar para morar e cuidado
especiais sendo oferecidas comidas e roupas lavadas.
Dona (A1). Diz: “eu tenho uma vida boa aqui, mas eu não queria vim pra cá, vim
porque não tinha escolha. Não tinha ninguém pra cuidar de mim. Aqui eu não sinto solidão”.
Ter uma vida boa é levar uma vida saudável, se cuidando para a saúde, levantando
sempre na hora certa, comendo bem e na hora certa, não fumando e não bebendo bebida
alcólica (A2)
33
Segundo as pessoas entrevistadas, sentem-se bem onde vivem, e, reconhecem as
constantes perdas de que vem sendo vítimas ao longo de toda vida, porém com mais ênfase
quando a velhice se aproxima. Percebe-se que essas perdas são a nível biológico, psicológico
e social, e se associam com todo o processo de envelhecimento.
Assim diz (A3):
...eu gosto muito daqui desse asilo, aqui é bem tranqüilo, agente quando ta mais velho
as vezes gosta de ficar sozinho, sem muito barulho, e aqui agente pode ficar a vontade. Cê
sabe como é gente velho né?
As pessoas têm o direito de se isolarem para viverem consigo mesmas! Mas se for
garantido uma boa qualidade de vida para alcançar uma velhice tranqüila (BASSIT, 2004, p.
40).
(A5) diz que viver aqui é bom e eu procuro viver tudo o que me resta, vou a igreja
sempre que posso (não estou doente) e ainda estudo. Pra mim ter voltado a estudar, mesmo
depois de velho, é muito importante, pois nunca é tarde pra aprender. Quero aproveitar cada
minuto da minha vida. Não sei quando vou ser chamada para morar com Deus.
“[...] morar aqui é muito bom, eu não quero ficar sozinha, Deus me livre acontece
alguma coisa [...] Moro aqui porque sei que não vai acontecer nada de ruim comigo, assim
fico perto de outras pessoas se acontecer alguma coisa.” (A9)
“qualidade de vida é poder vencer obstáculos, é uma luta diária, com otimismo e
força para vencer.” (A12)
...para viver bem é preciso ter saúde, pois “é o melhor da vida”. “viver bem, é viver
com saúde, porque não tem nada melhor do que você poder sair, fazer tudo o que quer e não
precisar usar óculos por exemplo, não precisar ficar com a caixinha de comprimidos.” (A16).
Ter qualidade de vida é alimentar bem, não fazer extravagâncias, não fumar, não
beber, é isso aí. Porque uma pessoa que bebe e que fuma não tem saúde e não tem boa
qualidade de vida. Uma pessoa que vara a noite, também não tem saúde e boa qualidade de
34
vida. Então tem que ter seu horário direitinho, fazer exercícios, cuidar da sua vida, não
cuidar da vida dos outros e é isso aí... (A18)
Pode-se notar que nos discursos dos idosos o autocuidado e o estilo de vida são os
únicos meios encontrados por eles para ter saúde e qualidade de vida. E, quando falam sobre
qualidade de vida foi possível perceber um mergulho no olhar, na fala, na linguagem, nas
expressões, nas emoções, que foram traduzidas. E, por alguns, até mesmo em lágrimas, por
estarem tendo o privilégio de ter cuidados, comida quentinha, roupa lavada e um lugar para
morar, já que muitas pessoas quando chega a terceira idade são abandonadas e não conseguem
um amparo para viver os últimos dias que ainda lhe restam.
Leme (2006) destaca que é necessário contentar-se com o tempo que é dado para
viver, seja qual for, mesmo sendo ele curto, sempre há tempo suficiente para que se possa
viver na sabedoria e na honra. Ele muito bem assim se expressa: “a maneira mais bela de
morrer é com a inteligência intacta e os sentidos despertos, deixando a natureza desfazer
lentamente o que ela fez (...) os velhos não devem nem se apegar desesperadamente nem
renunciar sem razão ao pouco de vida que lhes resta” (CALDAS, 2000, p. 56).
A qualidade de vida se aprende e se constitui através de hábitos de saúde, de
relacionamentos e de compreensões que são exercitadas desde a mais tenra idade. Teixeira diz
que “as pessoas envelhecem de maneira coerente com a história de suas vidas. A pessoa
sempre será o que foi, ainda que com novas configurações” (2000, p.48).
Nos discursos dos entrevistados há preocupação com o estilo de vida saudável para ter
uma boa qualidade de vida. Acham interessante não consumir bebidas alcoólicas e não fumar
e ressaltam que não podemos fazer “extravagâncias”, ou seja, abusar da saúde. Retratam ainda
a importância de uma alimentação adequada para a vida com saúde. O estilo de vida saudável
é enfatizado por esses idosos como uma das principais formas de cuidar da sua saúde e
adquirir uma boa qualidade de vida.
35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados conclui-se que a vida dos idosos do asilo analisado é
satisfatória, pois conforme foi encontrado, considerando a média geral dos asilados, estão
satisfeitos com a qualidade de vida que possuem.
Para esses entrevistados a velhice não pode ser vista como sinônimo de doença e
incapacidade e demonstraram acreditar no desenvolvimento nesta fase que independente da
idade devem ser tratados como todos seres humanos, já que tem essa garantia em Lei,
conforme mostra o Estatuto do Idoso.
Os idosos do Lar Bom Samaritano na cidade de Iporá não ignoram seus problemas e
sofrimentos mas, porém encaram com certa naturalidade, buscando muitas vezes a
espiritualidade e a religiosidade como suporte e sustentação para enfrentá-los.
Eles conseguem estabelecer uma distinção entre saúde e velhice, afirmando que não há
interferência direta do aumento da idade com o estado de saúde. Portanto, reconhecem a
maior probabilidade de perdas e limitações com o próprio envelhecimento.
Nota-se que para se ter um envelhecimento saudável é fundamental manter-se
independente e autônomo durante a velhice, e esse é exatamente o sentido oculto de saúde
para as idosas pesquisadas.
Percebe-se que para esses idosos a saúde é muito importante para se viver bem.
Acreditam que ter saúde é ótimo e apontam que com saúde conseguem viver melhor.
Colocam a saúde como um bem que o indivíduo pode adquirir fundamental para se usufruir
de uma vida tranquila.
Os sentidos dados à saúde ao longo do processo sócio-histórico dos idosos estudadas
configuram-na como um valor, e o autocuidado é assumido como um comportamento
importante para a aquisição de uma boa qualidade de vida.
36
REFERÊNCIAS
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Estudos Superiores de Maceió, Alagoas, 2004.
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APÊNDICES
40
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA AO COORDENADOR DA INSTITUIÇÃO
1- Qual é o nome da instituição asilar?
2- Onde se encontra localizado?
3- Essa instituição desenvolve alguns projetos? Se SIM, quais?
4- Quantos idosos residem nesta instituição?
5- Qual o processo adotado para morar nesta instituição?
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APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA AOS MORADORES DA INSTITUIÇÃO
PESQUISA SOBRE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
NA TERCEIRA IDADE
1ª PARTE - Identificação
1) Identificação do entrevistado
a) Nome:
b) Idade:
c) Onde e quando nasceu:
d) Seu estado civil:
e)Religião:
f) Escolaridade:
2ª PARTE – História de Vida
2) Falando um pouco da sua vida:
a) Há quanto tempo está na instituição (Lar Bom Samaritano);
b) Onde morava antes de vir para o lar;
c) Por que mudou para o lar;
d) O mais agrada no lar;
e) O que menos agrada no lar;
3ª PARTE - Aspectos familiares
3) Falando sobre sua família: (caso tenha)
a) Você tem família
b) Eles moram aqui em Iporá: (caso positivo)
b.1) Há visitas por parte de seus familiares;
b.2) E o que fazem quando estão aqui;
c) Eles moram aqui em Iporá; (caso negativo)
c.1) Ainda tem contato com eles.
d) Sente falta dos seus familiares, porquê;
4ª PARTE - Aspectos sociais
4) Vamos falar sobre seu envelhecimento;
a) Como você acha que as pessoas vêem os idosos;
5ª PARTE - Aspectos culturais
5) Freqüentou escola? No caso negativo -Porque?
6) Frequenta a igreja?
6ª PARTE - Aspecto econômico
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6) Qual é a sua renda?
a) De onde vem;
b) Como você gasta seu dinheiro;
7ª PARTE - Aspectos psicológicos
7) Fale sobre sua Felicidade / Satisfação / Sentido da Vida / Fé:
a) O que você acha que é “ser velho”?
b) O que é estar na terceira idade?
8ª PARTE - Saúde
8) O que é saúde para você?
a) Como está sua saúde atual?
b) Tem problemas de saúde? Quais?
c) Quantos remédios toma por dia?
d) Quais são os gastos com a saúde?
e) Faz exames de rotina?
f) Já foi fumante ou fuma?
g) Já sentiu ou sente algum problema respiratório devido ao cigarro?
9ª PARTE - Qualidade de vida
9) Sobre qualidade de vida:
a) Como conceituaria qualidade de vida?
b) Você acha que tem qualidade de vida?
c) O que faria para melhorar?
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UEG – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNVERSITÁRIA DE IPORÁ
CURSO: GEOGRAFIA
ACADÊMICA: JOANA DARC ROSA B. MORAIS
Identificação do idoso
Nome: _____________________________________________________________.
Ocupação: _________________________. Idade: __________________________.
End. Res: ___________________________________________________________.
Telefone para Contato: ____________________________
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PÓS-INFORMAÇÃO.
Eu, ________________________________________________________ aceito
participar da pesquisa A TERCEIRA IDADE: QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS
NO LAR BOM SAMARITANO – IPORÁ-GO., que tem como objetivo geral de observar,
descrever e analisar a percepção dos idosos institucionalizados com relação a qualidade de
vida relacionada à saúde, seus aspectos familiares, sociais, culturais, econômicos,
psicológicos e físicos. A entrevista será feita individualmente numa sala semiestruturada e
acompanhada pelo dirigente da instituição. Permito que a pesquisadora utilize recursos de
áudio e vídeo (filmadora e gravadora). Durante a entrevista e/ou na discussão de grupo, terei
liberdade de interromper, parar e/ou desistir da entrevista a qualquer momento sem qualquer
prejuízo. A pesquisadora estará à disposição para tirar quaisquer dúvidas relacionadas às
perguntas e métodos utilizados antes, durante e depois da entrevista. Foi informado que esta
pesquisa será publicada, respeitando o sigilo absoluto e minha privacidade. Quaisquer danos
que possam vir causar a minha imagem ou moral, a pesquisadora ficará responsável. Certo da
assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido em 02(duas) vias (via entrevistador e
via entrevistado) e da proposta da pesquisa a mim apresentado, declaro autorizado a
pesquisadora a entrevista.
Iporá - GO,___ de ____________ de 2011.
Assinatura: _____________________________
Para maior esclarecimentos, entrem em contato:
Joana D’arque Fone: