Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM DO DISTRITO DE
JANDINÓPOLIS, MUNICÍPIO DE LEÓPOLIS-PR: UMA ANÁLISE
TEMPORAL DA PAISAGEM RURAL ENTRE OS ANOS DE 1975 A
2018.
THE LANDSCAPE TRANSFORMATION OF THE DISTRICT
JANDINÓPOLIS, COUNTY OF LEÓPOLIS-PR: A TEMPORAL
ANALYSIS OF RURAL LANDSCAPE BETWEEN THE YEARS OF
1975 AND 2018.
SÉRGIO AUGUSTO PEREIRA1
RESUMO: É sabido que nas últimas décadas o Brasil passou por um processo de migração interna, em que milhões de pessoas deixaram de morar no campo e foram para as cidades. Dessa forma, as paisagens rural e urbana se modificaram completamente, sendo reflexos das relações sociais presentes nos territórios. O recorte espacial desse estudo é o Distrito de Jandinópolis, que se localiza no município de Leópolis-PR, município da mesorregião do Norte Pioneiro do Paraná. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa é compreender quais foram os motivos que influenciaram diretamente na transformação da paisagem rural do Distrito de Jandinópolis, pertencente ao município de Leópolis, a partir da análise temporal da paisagem entre os anos de 1975 a 2018. Metodologicamente, esta pesquisa foi construída por meio de pesquisas bibliográficas pautadas em autores como Milton Santos (1988), Marcelo Lopes de Souza (2013), Bertrand e Bertrand (2009), entre outros, para se discutir o conceito de paisagem. Foi realizada uma pesquisa e coleta de dados demográficos e socioeconômicos em sites governamentais como o IBGE e o IPARDES do município de Leópolis e do Distrito de Jandinópolis, para que esses dados pudessem auxiliar na análise temporal da paisagem. Além dos dados demográficos e socioeconômicos, também foram coletados dados da produção agrícola, retirados do site IBGE, sobre a produção agrícola municipal da área analisada. Para se visualizar a área de investigação, analisaram-se as cartas topográficas do Estado do Paraná, extraídas do site do Governo do Estado do Paraná, mais precisamente a Carta que representa graficamente a área de estudo no ano de 1975. Foi analisada também uma imagem do Google Earth que representa graficamente o Distrito de Jandinópolis do ano de 2018, para que se pudesse comparar as duas representações cartográficas, e consequentemente, fazer uma análise da paisagem e suas transformações. Outro recurso metodológico utilizado foi uma entrevista realizada com cinco moradores do Distrito de Jandinópolis, que residem no Distrito a mais de 50 anos, ou seja, eles já residiam na área de estudo antes do ano de 1975. Como último recurso metodológico, foi feito um trabalho de campo para o reconhecimento da área de análise. Como resultados, têm-se como os principais motivos que influenciaram na transformação paisagística do Distrito de Jandinópolis, o represamento do Rio Paranapanema para a construção de uma hidrelétrica, o fim dos arrendamentos
1 Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Graduado em licenciatura plena em Geografia e Letras pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Bolsista Capes. E-mail: [email protected]
que levaram os trabalhadores que tinham suas plantações a serem empregados ou a irem embora do Distrito e a introdução do cultivo intensivo da soja, milho e trigo, sendo que todos esses agentes, agiram diretamente na mudança e evolução da paisagem do Distrito de Jandinópolis. Palavra chave: Paisagem Rural. Distrito de Jandinópolis. Geografia. ABSTRACT: It’s known Brazil has been passed through an internal migration process in the last decades, where millions of people left the field living and moved to the cities. This way, the rural and urban landscapes modified themselves completely, as a reflex of social relationships present in the territories. The espatial excerpt of this study is the district of Jandinópolis, located in the county of Leópolis-PR, county of mesoregion of pioneer northern Paraná. This way, the aim of this research is to understand what were the reasons that influenced directly in the transformation of rural landscape of the district of Jandinópolis, that belongs to the county of Leópolis, from the temporal analysis of the landscape between the years of 1975 and 2018. Methodologically, this research was concluded through bibliographical researches based on authors as Milton Santos (1988), Marcelo Lopes de Souza (2013), Bertrand e Bertrand (2009), and others, to discuss the landscape concept. It was done a research and demographic and socioeconomic data collection in governamental websites as IBGE and PARDES of Leópolis and from the disctrict of Jandinópolis, in order to have these data as an auxiliary tool in the temporal landscape analysis. Besides the demographic and socioeconomic data, it was also collected agricultural production data extracted from the website IBGE, about the municipal agricultural production in the analysed area. To visualize the investigation area, it was analysed the topographic charts of the state of Paraná, extracted from the website Governo do Estado do Paraná, more precisely the Chart that represents graphically the studied area in 1975. It was also analysed an image of Google Earth that represents graphically the district of Jandinópolis in 2018, in order to compare two cartographic representations, and consequently, to do a landscape analysis and its transformations. Another methodologic resource used was an interview done with five residents of the district of Jandinópolis, who live in the district for more than 50 years, that is, they already lived in the studied area before 1975. As the last methodologic resource, it was done a field work in order to recognize the analysis area. As results, it has as main reasons that influenced in the landscape transformation in the district of Jandinópolis, the dam of Paranapanema river to the construction of a hydroelectric power station, the end of leases that took the workers that had their plantations to be employed or to move away from the district and the introduction of intensive cultive of soy, corn and wheat, once all these agents, acted directly to the change and evolution of the landscape of the district of Jandinópolis. Key-words: Rural Landscape. Jandinópolis District. Geography.
1 - Introdução
Interpretar a paisagem é conhecer as relações sociais dentro de um
determinado espaço geográfico que formaram tal paisagem. Um dos processos que
modificou a paisagem, tanto rural quanto urbana de diversos espaços geográficos do
território brasileiro, foi a migração que houve no país no final do século passado.
O recorte espacial desse estudo é o Distrito de Jandinópolis, que se localiza
no município de Leópolis-PR. Assim, o objetivo deste artigo é compreender quais
foram os motivos que influenciaram diretamente na transformação da paisagem rural
do Distrito de Jandinópolis, pertencente ao município de Leópolis, a partir da análise
temporal da paisagem entre os anos de 1975 a 2018.
Metodologicamente, esta pesquisa foi construída a partir de pesquisa
bibliográfica pautada em autores como Milton Santos (1988), Bertrand e Bertrand
(2009), entre outros, para se discutir o conceito de paisagem. Realizou-se coleta de
dados socioeconômicos, demográficos e agrícolas em sites governamentais como o
IBGE e o IPARDES do município de Leópolis e do Distrito de Jandinópolis. Foram
feitas análises de carta topográfica extraída do site do Governo do Estado do
Paraná, em que representa a área de estudo do ano de 1975, e de uma imagem do
Google Earth que representa graficamente o Distrito de Jandinópolis do ano de
2018. Também foi realizada uma entrevista com cincos pessoas que residem no
Distrito desde o ano de 1960, cujos entrevistados não foram identificados, sendo
nomeados de entrevistados A, B, C, D e E, com a seguinte pergunta norteadora:
“Quais foram as transformações ocorridas no Distrito de Jandinópolis entre os anos
de 1975 a 2018?”. Por último, foi realizado um Trabalho de Campo.
Segundo o histórico do município de Leópolis retirado do site do IBGE, a
Companhia Agrícola Barboza, em 1940, lançou os fundamentos do Patrimônio de
Leópolis, que se encontrava na faixa de terra roxa no Norte do Paraná, que na
época, pertencia ao município de Cornélio Procópio. O distrito de Leópolis foi
Elevado à categoria de município com a denominação de Leópolis, pela lei estadual
n.º 790, de 14-11-1951, desmembrado de Cornélio Procópio (IBGE, 2018).
O município de Leópolis localiza-se no sul do Brasil, na mesorregião do Norte
Pioneiro e na microrregião de Cornélio Procópio. Limita-se com o Estado de São
Paulo a norte, com o município de Santa Mariana a leste, Cornélio Procópio a sul e a
sudeste, Uraí a sudoeste e Sertaneja a oeste (Figura 01).
Figura 01 - Localização do Distrito de Jandinópolis, município de Leópolis/PR, 2019
Fonte: Base Cartográfica do IBGE. Elaborado pelo Autor, 2019.
A área total do município é de 345.957 km², localizado numa altitude de 486
metros acima do nível do mar, com latitude de 23º 04’ 48’’ Sul e longitude de 50º 45’
04’’ Oeste (IPARDES, 2019).
Não se tem nada de escrito sobre a história e a formação socioespacial do
Distrito de Jandinópolis. É a partir disso que surge a importância deste trabalho e a
justificativa para a sua elaboração, pois além de fazer uma análise da transformação
da paisagem no decorrer do tempo, a pesquisa traz apontamentos sobre a história e
fragmentos referentes à formação socioespacial do Distrito de Jandinópolis. Sendo
assim, mesmo a paisagem sendo um conceito discutido por diversos autores, este
artigo é o primeiro trabalho a discutir sobre esse assunto no recorte espacial
delimitado neste artigo.
2 - Fundamentação Teórica: o conceito de paisagem
Preocupando-se em entender a transformação da paisagem do Distrito de
Jandinópolis, município de Leópolis – PR, a datar da década de 1960 até os dias
atuais, foi realizada uma análise temporal da paisagem para tentar compreender
quais foram os motivos que influenciaram a transformação da paisagem do Distrito.
Sendo assim, é de suma importância refletir e entender o conceito geográfico de
paisagem, conceito chave para essa pesquisa, além de compreender como a
formação e a construção do processo histórico influenciaram na configuração da
paisagem do Distrito em questão.
A paisagem pode ser interpretada de várias formas, tendo um sentido
polissêmico, de acordo com a perspectiva do pesquisador que a está analisando. “A
paisagem é uma forma, uma aparência. O conteúdo “por trás” da paisagem pode
estar em consonância ou em contradição com essa forma e com o que ela, por
hábito ou ideologia, nos “sugere”” (SOUZA, 2013, p. 46).
Tradicionalmente, a geografia diferencia a paisagem em natural e
humanizada, sendo que a primeira diz respeito aos elementos formados pela própria
natureza, e a segunda é formada pela intervenção do homem no ambiente natural.
Dessa forma, tem-se a paisagem natural e a paisagem humanizada ou cultural. As
paisagens rural e urbana fazem parte na humanizada (EMÍDIO, 2006). Destarte,
como este artigo trata-se de um recorte espacial que foi modificado pelo homem, a
paisagem em foco aqui será a humanizada, especificamente a rural.
Bertrand e Bertrand (2009) dissertam que a paisagem é a parte do natural
que foi modificada antropicamente, e dessa forma, ela tem uma intrínseca ligação
com a sociedade que nela habita, expressando suas identidades, suas vivências e
suas marcas, exteriorizando tudo isso por meio de símbolos e simbologias, e pode-
se dizer que essa conexão é um dos fatores de diferenciação de cada paisagem.
A paisagem é o reflexo e a marca impressa da sociedade dos homens na natureza. Ela faz parte de nós mesmo. Como espelho, ela nos reflete. Ao mesmo tempo, ferramenta e cenário. Como nós e conosco, ela evolui, móvel e frágil. Nem estática, nem condenada. Precisamos fazê-la viver, pois nenhum homem, nenhuma sociedade, pode viver sem território, sem identidade, sem paisagem (BERTRAND; BERTRAND, 2009, p. 299).
Os autores supracitados apresentam o conceito de paisagem como uma
produção humana em relação com o meio natural, fazendo com que as pessoas que
produzem essa paisagem tenham uma íntima ligação com o que produziram.
Ressaltam também que a paisagem não é estática, ou seja, está em constante
transformação, evoluindo com a sociedade que a constrói. “A paisagem pertence ao
mundo das representações, da estética e da simbologia. Ela está na raiz de novos
comportamentos e de novos valores que abalam nossas relações com os territórios”
(BERTRAND; BERTRAND, 2009, p. 330).
Para Milton Santos (1988) a paisagem é tudo aquilo que a nossa visão
alcança. Ela não é só formada por volumes, mas também por cores, movimentos,
odores e sons. Logo, como afirma o autor, a paisagem não é percebida apenas pela
visão, mas também por outros sentidos humanos, como o olfato, tato, audição.
É fundamental compreender o conceito de paisagem para entender como ela
é refletida e se constrói, produzindo o espaço Jandinópolis. Consoante a isso, Milton
Santos diz que “[...] a paisagem é um conjunto de formas heterogêneas, de idades
diferentes, pedaços de tempos históricos representativos das diversas maneiras de
produzir as coisas, de construir o espaço” (SANTOS, 1988, p. 24).
Para Souza (2013, p. 48-49), “o fato de ser uma forma, uma aparência,
significa que é saudável “desconfiar” da paisagem. É conveniente sempre buscar
interpretá-la ou decodificá-la à luz das relações entre forma e conteúdo, aparência e
essência”. Por esse conceito ter um caráter polissêmico e ao analisá-lo se ter
múltiplas interpretações, é fundamental que o pesquisador se atente a essas
questões, tentando entender a essência da paisagem, enquanto forma e conteúdo,
até porque, ela é cheia de contradições, e em seus elementos de análise que a
constrói apresentam vários contrastes.
Sendo assim, é nessa perspectiva que este artigo pretende abordar a
evolução da paisagem do Distrito de Jandinópolis, apresentando uma interação
entre a sociedade que se relaciona no Distrito com o espaço geográfico, e/ou
território e/ou o meio natural, para que assim, possa-se emergir uma paisagem
peculiar daquela sociedade que a constrói.
4 - A evolução da paisagem no Distrito de Jandinópolis
Nesse tópico, discutiu-se a evolução da paisagem do Distrito de Jandinópolis
entre os anos de 1975 até 2018. Para fazer a discussão e chegar aos resultados
foram utilizados os recursos metodológicos já apresentados na introdução e que
serão mais bem evidenciados nesse tópico.
O principal elemento da paisagem que sofreu uma modificação drástica foi o
rio Paranapanema, que a partir do ano de 1978, teve seu leito represado. Essa
modificação pode ser observada na figura 02 e comparada com a figura 03.
Figura 02 - Distrito de Jandinópolis no ano de 1975.
Fonte: ITCG, 2019.
Como se pode observar na figura 02, existiam várias residências no Distrito,
que são os pontinhos pretos presentes na figura, bem como várias propriedades, em
que as pessoas que cultivavam café, algodão, e as margens do rio, plantavam arroz.
Segundo o entrevistado B, na década de 1960 e no começo da década de
1970, várias famílias do Distrito de Jandinópolis plantavam arroz nas margens do
Rio Paranapanema, ou seja, essa área se apresentava como local de fonte de renda
para os moradores. Eles residiam à beira do rio ou moravam no Distrito.
Trabalhando as margens do rio, conseguiam tirar o sustento da família.
Segundo o site Ctg Brasil (China Three Gorges Corporation) (2018),
responsável por administrar a usina, as obras da Represa Capivara foram iniciadas
no ano de 1971 e concluídas em 1978. Arruda (2017, p. 837) disserta que “a Usina
Capivara possui o maior reservatório ao longo do rio Paranapanema com 576 Km²,
com 10,6 bilhões de m³ represados, gerando o total de 676Mw”. A Represa Capivara
inundou cerca de 150.000 hectares nos estados de São Paulo e do Paraná. Leópolis
foi um dos municípios que foi afetado pelo represamento (ARRUDA, 2017).
Com o represamento do Rio, as famílias que produziam arroz as margens,
tiveram que se mudar dali e ir morar em outros lugares. Segundo o entrevistado B,
que era um morador das margens do Rio Paranapanema e produtor de arroz, disse
que as pessoas que plantavam ou residiam nas margens do Rio Paranapanema
tiveram que deixar suas casas e suas áreas de plantações e se mudaram para o
povoado do Distrito ou foram para outras cidades.
O espaço geográfico era marcado por fragmentações, pois muitos
trabalhadores eram arrendatários e cultivavam, como principais produtos, café,
algodão e arroz. O entrevistado A e B trouxeram em suas falas a questão dos
arrendamentos, que a maioria das pessoas não residia no povoado, e sim nos lotes
que eram arrendados para a plantação. Como as pessoas tinham trabalho nessa
época, a economia do Distrito era aquecida fazendo com que empreendimentos
surgissem ali, como açougues, mercadinhos, posto de gasolina e até um cinema.
Todos os entrevistados disseram que foi a partir da década de 1980, e na
década de 1990 foi ganhando mais força, que os donos das terras começaram a
requerer suas propriedades para inserir o monocultivo de soja, milho e trigo no
Distrito. Assim, muitos arrendatários ficaram sem a terra para plantar, gerando um
forte impacto socioeconômico, refletindo na vida dos moradores de Jandinópolis. Os
ex-arrendatários começaram a trabalhar como assalariados e quem não conseguiu
emprego, teve que se mudar para outras cidades. A partir dessa década, a
população do Distrito começou a decrescer e alguns comércios fecharam, como dois
açougues, o posto de gasolina, e o cinema, segundo o entrevistado E.
No ano de 1970, o município de Léopolis possuía 12.021 habitantes (Gráfico
01). Nas entrevistas, todos os entrevistados disseram que o Distrito de Jandinópolis
tinha cerca de 4.000 habitantes. Quando se pega os dados de população do IBGE
mais recentes, observa-se que o número da população rural no ano de 1990 era
maior do que o da população urbana. Isso só se inverte a partir dos anos 2000, ou
seja, em 1970, tendo uma população de 12.021 habitantes, sendo que a população
do município sempre foi majoritariamente rural, mudando essa perspectiva a partir
dos anos 2000, a maior parte da população rural do município residia no Distrito,
corroborando com o que foi relatado pelos entrevistados.
Gráfico 01 - População total do município de Leópolis/PR - 1970 – 2010.
Fonte: Dados do IBGE, 2019, adaptado pelo autor, 2019.
No gráfico 01, observa-se que ano de 1970, a população do município de
Leópolis era de 12.021. Já em 1980, esse número cai, passando a ser de 5.180. No
ano de 1990 era de 4.761. No ano 2000 era de 4.435. E em 2010, era de 4.145
habitantes. Esses dados refletem no número de habitantes de Jandinópolis.
Assim, percebe-se no gráfico 01, comparando os dados do IBGE, que com o
passar das décadas, o município de Leópolis tem a sua população decrescendo,
sendo que isso também acontece com a população do Distrito de Jandinópolis. Isso
é afirmado nas entrevistas quando os entrevistados D e E comentam que com os
fins dos arrendamentos, os agricultores perdem as suas terras, e quem não
consegue emprego com os donos das terras, se muda para outras cidades, como
São Paulo e Londrina para trabalhar nas indústrias e para o estado do Mato Grosso
para trabalhar com a agricultura, a procura de uma vida melhor.
Os dados de população rural e urbana só foram encontrados a partir do ano
de 1990 (Gráfico 02). Observando os dados, percebe-se que a população urbana do
município, passou a rural no ano de 2000. Assim, isso se reflete do Distrito, pois a
população que ali reside é rural, ou seja, se a população rural do município diminuiu,
logo a do Distrito também diminuiu. Destarte, os dados corroboram com as palavras
dos entrevistados D e E.
0
5.000
10.000
15.000
1970 1980 1991 2000 2010
Nº
de H
ab
itan
tes
Décadas
População
total do
Município
de
Leópolis/PR
- 1970 -…
Gráfico 02 - População rural e urbana do município de Leópolis/PR entre os anos de 1991 e 2010.
Fonte: Dados do IBGE, 2019, adaptado pelo autor, 2019.
Em 1990, 2.248 habitantes residiam na área urbana e 2.390 na área rural. Em
2000, o número de habitantes urbanos passa a ser de 2.513 e da área rural, 2.045.
Em 2010, dos 4.145 habitantes do município, 2.401 residiam na área urbana e 1.744
na área rural. Vê-se que o número de habitantes da área rural do município diminuiu.
Tendo o Distrito de Jandinópolis o maior número de habitantes da área rural, fica
notório que o número de habitantes de Distrito diminuiu consideravelmente.
Na tabela 01, observa-se a questão da produção agrícola de Leópolis.
Quantidade produzida de lavouras temporárias e permanentes (em toneladas) no
município de Leópolis/PR entre os anos de 1975 e 2010. Ano
Cultura 1975 1985 1994 2005 2010
Arroz 1.440 630 1.281 90 123
Café 1.656 374 93 217 240
Soja 19.872 21.080 20.079 37.260 59.985
Milho 5.040 4.724 23.290 27.550 73.268
Trigo 2.250 18.972 5.200 27.600 14.316
Tabela 01 - Quantidade produzida de lavouras temporárias e permanentes (em toneladas) do município de Leópolis/PR entre os anos de 1975 e 2010. Fonte: IBGE/SIDRA – Produção agrícola municipal, 2018.
Com a entrada do monocultivo, colocado pelos entrevistados, a produção de
soja, milho e trigo aumentou, e a de arroz e café, diminuiu. Dessa forma, esses
dados referentes ao município colocado na tabela 01, refletem no Distrito, cujo sua
produção é considerável no município, por ser a maior área rural.
O entrevistado C relatou que hoje só se produz soja, milho e trigo no Distrito,
sendo que existe muita terra para poucos donos, sendo uns 6 ou 7 proprietários. O
uso de tecnologia como maquinários de ponta, uso de pivô de irrigação e também o
0
1.000
2.000
3.000
1991 2000 2010
Nº
de H
ab
itan
tes
Décadas
População Urbanado Município deLeópolis/PR - 1991- 2010
População Rural doMunicípio deLeópolis/PR - 1991- 2010
uso intensivo de agrotóxicos, faz com que se precise cada vez menos de mão de
obra, e dessa forma, o desemprego aumentou.
Como se pode observar na figura 03, que representa cartograficamente o
Distrito de Jandinópolis no ano de 2018, há lotes de terras extremamente grandes,
significando que grandes porções de terras são apenas de um ou poucos
proprietário, além de uso de tecnologia como o pivô de irrigação, que são esses
círculos no meio da área agrícola da figura.
Figura 03 - Distrito de Jandinópolis, 2018 – Google Earth Pro. Fonte: Google Earth Pro.
Ainda na figura 03, percebe-se que há apenas um pequeno núcleo onde as
pessoas residem. Comparando com a imagem 02, do ano de 1975, percebe-se a
mudança da paisagem como o represamento do rio Paranapanema, bem com a
área de produção agrícola, em que na figura 02, há várias propriedades – pontinhos
pretos -, e na figura 03, há grandes extensões de terras, significando que toda a
extensão de terra tem poucos proprietários. Importante ressaltar também, que a área
de mata ciliar que margeia a represa é relativamente pequena.
Portanto, têm-se como os principais motivos que influenciaram na
transformação paisagística rural do Distrito de Jandinópolis, o represamento do Rio
Paranapanema para a construção de uma hidrelétrica, sendo a primeira modificação
evidente na paisagem, o fim dos arrendamentos que levaram os trabalhadores que
tinham suas plantações a serem empregados ou a irem embora do Distrito e
também a introdução do cultivo intensivo da soja, milho e trigo, com um viés
extremante capitalista, sendo que todos esses agentes agiram diretamente na
mudança e na evolução da paisagem rural do Distrito de Jandinópolis.
5 - Considerações Finais
O Distrito de Jandinópolis passou por muitos processos que influenciaram na
modificação da sua paisagem. Neste trabalho foram identificados alguns,
significando que essa pesquisa precisa de ser ampliada. Sendo assim, ela é um
ponto de partida para o aprofundamento teórico e histórico da formação e
transformação paisagística e socioespacial do Distrito, trazendo a elucidação de
fatos e informações que ainda não estão disponíveis a todos ou que estão apenas
nas memórias de seus moradores.
Assim, ficou evidente que a transformação da paisagem rural ocorrida no
Distrito foi ocasionada pela tomada das terras dos arrendatários por seus donos e a
inserção do monocultivo capitalista da soja, milho e trigo, fazendo com que as
pessoas migrassem da área agrícola do Distrito para a vila, ou migrassem para
outras cidades, a procura de emprego, tanto na área rural quanto urbana. Esse
movimento de migração ocorreu em diversos espaços dentro do território brasileiro.
É importante destacar que a primeira mudança significativa na paisagem do Distrito
de Jandinópolis foi o represamento do rio Paranapanema.
Sendo assim, este estudo será aprofundado e ampliado, tanto no recorte
temporal quanto na questão teórica e histórica, para que assim, possa se trazer à luz
mais dados, informações, acontecimentos, entre outros, e o impacto que isso tem
em relação à transformação da paisagem rural do Distrito de Jandinópolis.
6 – Referências ARRUDA, G. Paisagens e Memórias Sobrepostas em uma Barragem Hidroelétrica: a Represa Capivara, Rio Paranapanema. In: VIII Congresso Internacional de História – XII Semana de História, 2017, Maringá. Anais... Maringá: Universidade Estadual de
Maringá, 2017. p. 835 – 842. BERTRAND, C.; BERTRAND, G. Uma Geografia Transversal e de Travessias: o meio ambiente através dos territórios e das temporalidades. Maringá: Ed. Massoni, 2009. CTG BRASIL. Usinas, 2018. Disponível em: <http://www.paranapanemaenergia.com.br/usinas/Paginas/Usinas.aspx> acesso em 16 de Setembro de 2018. EMÍDIA, T. Meio Ambiente e Paisagem. São Paulo: Editora Senac, 2006. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍTICA. Leópolis, Paraná. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/parana/leopolis.pdf .> acesso em 15 de março de 2018. IBGE. Leópolis. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/leopolis/panorama> acesso em 04 de julho de 2019. IBGE/SIDRA. Produção Agrícola Municipal. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas> acesso em 24 de agosto de 2018. IPARDES - INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Caderno Estatístico do Município de Leópolis, julho de 2019. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/cadernos/MontaCadPdf1.php?Municipio=86330>. acesso em 02 de julho de 2019. ITCG - INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E GEOLOGIA DO PARANÁ. Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Paraná. Disponível em: < http://www.itcg.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=51 >. acesso em 08 de abril de 2019. SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos Teórico e metodológico da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. SOUZA, M. L. Os Conceitos Fundamentais da Pesquisa Sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.