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 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UFF  publicado em 20 de maio de 2012 Sylvia Moretzsohn Quem passava por aquela curva per- to da Praça do Russel, na Glória, sempre via o ambulante espirituoso, fantasiado de garçom, equilibrando uma bandeja para vender água e refrigerante quando o sinal fechava. Circulava pelos carros, puxava conversa com os motoristas de ônibus, contava e ouvia piadas. Era des- ses personagens populares típicos da ci- dade, um dos inúmeros paraíbas que dri- blam a dureza da vida com criatividade, irreverência e bom humor e vão fazendo seus malabarismos para sobreviver. Há 21 anos estava ali. Até que um dia a Guarda Municipal da cidade olímpica do choque de ordem chega e acaba com a festa. (link 1) Na manhã desta sexta, 18 de maio, três guardas municipais abordaram o ambulante, que resistiu e foi agredido. Apreenderam a mercadoria, apesar da apresentaç ão da nota fiscal. “Ele está ir- regular”, alegou um dos guardas. Irregular como Cavendish, quem sabe? Não, os guardas provavelmente nun- ca ouviram falar em Cavendish, o em- preiteiro amigo do governador e de secretários zelosos por contêineres de pronto-socorro e negligentes com bon- dinhos sucateados, meninos travessos a posar sem-cerimônia com guardanapos na cabeça nas alegres noites de Paris. Cavendish, o que escapou do aciden- te fatal de helicóptero na viagem para uma festa de aniversário num resort baia- no da qual seu parceiro governador tam- bém era convidado, é aquele que não se interessa pela “arraia-miúda” na hora de cultivar seus contatos na política. Hoje está à beira de ser convocado pela CPI do Cachoeira, aquela do “você é nosso e nós somos teu”. (link 2) Nas altas rodas os amigos se pro- tegem. Já da arraia-miúda cuidam os guardas, que extrapolam à vontade, investidos de autoridade com seus cas- setetes psicanaliticamente óbvios. Ao “garçom do sinal” só restou pro- testar, chorar de raiva, catar as moedas entre o gelo espalhado pelo chão, de- pois que lhe levaram – irregularmente – a mercadoria, e amargar o prejuízo. E se não fosse a câmera providencial de um jornalista a gravar a cena, não ha- veria documento dessa injustiça. (link 3) O jornalista Marcio Motta tem vários vídeos postados no youtube, alguns de- les denunciando os excessos da Guarda Municipal, como este, contra um supos- to camelô no Centro do Rio. Há comen- tários indignados com a violência, mas outros que propõem atacar quem documenta a cena, como era cor- riqueiro nos tempos da ditadura.     (      l     i    n      k      1      )   w   w   w  .   y   o   u    t   u    b   e  .   c   o   m   /   w   a    t   c    h    ?    f   e   a    t   u   r   e   =   p    l   a   y   e   r _   e   m    b   e   d   d   e   d    &   v   =    f    b    9   u    L    U    i   e    R    A    A    #    ! A violência da Guarda contra o “Garçom do Sinal”   (   l   i   n   k    2   )  w  w  w .  y  o  u  t  u   b  e .  c  o  m  /  w  a  t  c   h   ?  v  =   l  d   l  r  u   W  n  M  J  y   I  &  f  e  a  t  u  r  e  =  p   l  a  y  e  r_  e  m   b  e  d  d  e  d  #   !  (  l  i  n  k  3  )  w  w  w.  y  o  u  t  u  b  e.  c  o  m /  w  a  t  c  h  ?  v  =  2  1  h   M  n  o  s  o  Z  F  w  &  f  e  a  t  u  r  e  =  r  e  l  a  t  e  d

A violência da Guarda contra o “Garçom do Sinal”

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Quem passava por aquela curva perto da Praça do Russel, na Glória, sempre via o ambulante espirituoso, fantasiado de garçom, equilibrando uma bandeja para vender água e refrigerante quando o sinal fechava. Circulava pelos carros, puxava conversa com os motoristas de ônibus, contava e ouvia piadas. Era desses personagens populares típicos da cidade, um dos inúmeros paraíbas que driblam a dureza da vida com criatividade, irreverência e bom humor e vão fazendo seus malabarismos para sobreviver. Há 21 anos estava ali.Até que um dia a Guarda Municipal da cidade olímpica do choque de ordem chega e acaba com a festa.

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PRODUO JORNALSTICA DO CURSO DE COMUNICAO SOCIAL DO INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAO SOCIAL DA UFF

publicado em 20 de maio de 2012

Sylvia Moretzsohn

A violncia da Guarda contra o Garom do Sinal

Quem passava por aquela curva per to da Praa do Russel, na Glria, sempre via o ambulante espirituoso, fantasiado de garom, equilibrando uma bandeja para vender gua e refrigerante quando o sinal fechava. Circulava pelos carros, puxava conversa com os motoristas de nibus, contava e ouvia piadas. Era des ses personagens populares tpicos da ci dade, um dos inmeros parabas que dri blam a dureza da vida com criatividade, irreverncia e bom humor e vo fazendo seus malabarismos para sobreviver. H 21 anos estava ali. At que um dia a Guarda Municipal da cidade olmpica do choque de ordem chega e acaba com a festa. (link 1) Na manh desta sexta, 18 de maio, trs guardas municipais abordaram o ambulante, que resistiu e foi agredido. Apreenderam a mercadoria, apesar da apresentao da nota fiscal. Ele est ir regular, alegou um dos guardas. Irregular como Cavendish, quem sabe? No, os guardas provavelmente nun ca ouviram falar em Cavendish, o em preiteiro amigo do governador e de secretrios zelosos por contineres de prontosocorro e negligentes com bon dinhos sucateados, meninos travessos a posar semcerimnia com guardanapos na cabea nas alegres noites de Paris.

Cavendish, o que escapou do aciden te fatal de helicptero na viagem para uma festa de aniversrio num resort baia no da qual seu parceiro governador tam bm era convidado, aquele que no se interessa pela arraiamida na hora de cultivar seus contatos na poltica. Hoje est beira de ser convocado pela CPI do Cachoeira, aquela do voc nosso e ns somos teu. (link 2) Nas altas rodas os amigos se pro tegem. J da arraiamida cuidam os guardas, que extrapolam vontade, investidos de autoridade com seus cas setetes psicanaliticamente bvios. Ao garom do sinal s restou pro testar, chorar de raiva, catar as moedas entre o gelo espalhado pelo cho, de pois que lhe levaram irregularmente a mercadoria, e amargar o prejuzo. E se no fosse a cmera providencial de um jornalista a gravar a cena, no ha veria documento dessa injustia. (link 3) O jornalista Marcio Motta tem vrios vdeos postados no youtube, alguns de les denunciando os excessos da Guarda Municipal, como este, contra um supos to camel no Centro do Rio. H comen trios indignados com a violncia, mas outros que propem atacar quem documenta a cena, como era cor riqueiro nos tempos da ditadura.

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