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A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO FAMILIAR Paula Dely Nos últimos meses, pudemos acompanhar inúmeros casos de maus-tratos e atitudes bárbaras contra crianças e adolescentes. Chocados com a brutalidade das histórias, esquecemos que a violência está presente no cotidiano de grande parte das famílias, até mesmo nas nossas próprias casas. Formas mais sutis de violência, como o uso abusivo da palmada, a negligência ou o autoritarismo excessivo, continuam a ser modelos de educação adotados por muitos pais, mas podem gerar graves conseqüências. Há mais de dez anos, pesquisadores vêm estudando a influência das práticas educativas na socialização e na agressividade de crianças e adolescentes. Com base nesses estudos, especialistas classificaram os estilos parentais (conjunto de atitudes de apoio, interação, disciplina, afeto e punições utilizadas pelos pais) em quatro tipos: o autoritário, o negligente, o permissivo e o participativo. Cada um deles apresenta conseqüências positivas e negativas para a personalidade da criança. - Pais negligentes: são os ausentes, intolerantes, inconstantes. Podem ser ao mesmo tempo distantes e punitivos. Filhos desse tipo de pais têm mais riscos de desenvolver atrasos nos desenvolvimentos cognitivo e emocional, baixa auto-estima e comportamentos anti-sociais, assim como dificuldade nas habilidades sociais.

A violência no cotidiano familiar

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Artigo sobre a A violência no cotidiano familiar.

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A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO FAMILIAR

Paula Dely

Nos últimos meses, pudemos acompanhar inúmeros casos de maus-tratos e atitudes bárbaras contra crianças e adolescentes.

Chocados com a brutalidade das histórias, esquecemos que a

violência está presente no cotidiano de grande parte das famílias, até mesmo nas nossas próprias casas.

Formas mais sutis de violência, como o uso abusivo da palmada,

a negligência ou o autoritarismo excessivo, continuam a ser modelos

de educação adotados por muitos pais, mas podem gerar graves conseqüências.

Há mais de dez anos, pesquisadores vêm estudando a influência

das práticas educativas na socialização e na agressividade de crianças

e adolescentes. Com base nesses estudos, especialistas classificaram os estilos parentais (conjunto de atitudes de apoio, interação, disciplina, afeto e punições utilizadas pelos pais) em quatro tipos: o

autoritário, o negligente, o permissivo e o participativo. Cada um deles apresenta conseqüências positivas e negativas para a personalidade

da criança. - Pais negligentes: são os ausentes, intolerantes, inconstantes.

Podem ser ao mesmo tempo distantes e punitivos. Filhos desse

tipo de pais têm mais riscos de desenvolver atrasos nos desenvolvimentos cognitivo e emocional, baixa auto-estima e

comportamentos anti-sociais, assim como dificuldade nas habilidades sociais.

- Pais autoritários: geralmente mais impositivos e hostis às

necessidades dos filhos. Baseiam a educação em regras e coerção e fornecem pouca atenção e afeto. Os filhos costumam

ter dificuldades de socialização e podem apresentar maior

agressividade, baixa auto-estima, ansiedade e depressão. - Pais permissivos: extremamente afetivos, mas incapazes de

impor os limites essenciais para o desenvolvimento da

personalidade da criança. Estas apresentam maiores dificuldades em lidar com frustrações.

- Pais participativos: Fornecem suporte afetivo e também os limites e as regras necessários para o amadurecimento saudável.

Atitudes de apoio, respeito, encorajamento e normas claras que

ajudam a orientar e organizar a personalidade da criança constituem a base da educação. Filhos desse tipo de pais

costumam demonstrar maior habilidade social, auto-estima e resiliência, características essenciais para o desenvolvimento

saudável.

Não existe regra para educar, mas bom senso e equilíbrio

emocional são essenciais.

Pesquisas desse tipo não têm como intenção estabelecer regras

para mostrar como os pais devem ou não educar os filhos, mas servem para atentar sobre a complexidade do processo educativo,

suas nuances e particularidades.

Impor limites, exercer a autoridade e aplicar castigos é

importante para a formação da personalidade da criança, mas para isso não é preciso fazer uso da violência. A palmada, por exemplo,

largamente utilizada pela maioria das famílias como forma de punir e

ensinar, na realidade pouco contribui para a aprendizagem.

Bater pode solucionar o problema de imediato, mas não ensina a

criança a resolver os conflitos. Ela acabará aprendendo que a violência e a força física são formas de resolver as dificuldades, uma

péssima lição que levará para a vida toda, praticando-a em sua futuras

relações.

Educar um filho é uma tarefa bastante complexa. É preciso se doar, negociar consigo mesmo, fazer concessões, refletir sobre a

própria postura, valores e expectativas. Demanda equilíbrio emocional

e a compreensão de que o filho não é um prolongamento de si mesmo e, sim, um ser humano que está aprendendo, que precisa de alguém

para lhe ajudar a escolher o caminho, dar colo e segurança.

É um trabalho difícil, durante o qual podemos nos perder,

exagerar, desistir. Crianças desafiam a autoridade, testam os limites da tolerância e da paciência. Faz parte do aprendizado. E também tocam nossos sentimentos mais hostis e agressivos, pois somos pais,

mas também seres humanos.

Sem dúvida alguma, é muito mais fácil fazer uso da força que investir no diálogo e na dedicação. Prestar atenção ao outro exige

tempo e disponibilidade afetiva, elementos que hoje parecem faltar em

meio à correria e pressão do dia-a-dia.

Mas é preciso lembrar que ser pai é assumir a responsabilidade

pelo pequeno ser que foi colocado no mundo, e que essa responsabilidade não se limita apenas ao seio da família: estende-se a

toda a sociedade, pois é para ela que, no futuro, a criança vai

direcionar tudo que aprendeu com seus pais.