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história, são paulo, 23 ( 1-2 ) : 2004 33 Aspectos políticos e econômicos da circulação do livro didático de História e suas implicações curriculares Célia Cristina de Figueiredo CASSIANO 1 RESUMO : O texto aborda aspectos da circulação do livro didático, que antecedem sua entrada na escola, mas deixam marcas nos saberes que circulam na sala de aula. Para isto, apresenta um panorama das políticas públicas para o livro didático no Brasil, em 2004, e traz um estudo sobre como esses processos interferem, tacitamente, no currículo em ação, por meio dos livros didáticos de História recebidos pelas escolas públicas da cidade de São Paulo, em 2002. PALAVRAS - CHAVE : Livro didático; Políticas públicas; Ensino de História. O objetivo do presente artigo é apresentar um estudo sobre a cir- culação do livro didático no Brasil, na história recente do País. Tal abor- dagem do livro didático pressupõe levar em conta a condição de merca- doria deste produto, que contém tanto elementos da sua materialidade, ou seja, das leis de mercado, como também do seu uso, portanto, da Educação. No campo da Educação, entender o livro didático na sua completude justifica-se, principalmente, em função do papel que este adquire no contexto escolar. Apple observa que “são os livros didáticos que estabe- lecem grande parte das condições materiais para o ensino e a aprendiza- gem nas salas de aula de muitos países através do mundo”. 2 Gimeno Sacristán aponta que entre a prescrição curricular e o currículo real, que se desenvolve na prática, existe uma “elaboração intermediária do mes- mo, que é a que aparece nos materiais pedagógicos e, particularmente, nos livros didáticos”. 3 Lajolo 4 caracteriza o livro didático como o que vai ser utilizado em aulas e cursos, na situação específica da escola, isto é, de aprendizado

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  • histria, so paulo, 23 (1-2): 2004 33

    Aspectos polticos e econmicos da

    circulao do livro didtico de Histria

    e suas implicaes curriculares

    Clia Cristina de Figueiredo CASSIANO1

    R E S U M O: O texto aborda aspectos da circulao do livro didtico, queantecedem sua entrada na escola, mas deixam marcas nos saberes quecirculam na sala de aula. Para isto, apresenta um panorama das polticaspblicas para o livro didtico no Brasil, em 2004, e traz um estudo sobrecomo esses processos interferem, tacitamente, no currculo em ao, pormeio dos livros didticos de Histria recebidos pelas escolas pblicas dacidade de So Paulo, em 2002.

    PA L AV R A S - C H AV E : Livro didtico; Polticas pblicas; Ensino de Histria.

    O objetivo do presente artigo apresentar um estudo sobre a cir-culao do livro didtico no Brasil, na histria recente do Pas. Tal abor-dagem do livro didtico pressupe levar em conta a condio de merca-doria deste produto, que contm tanto elementos da sua materialidade,ou seja, das leis de mercado, como tambm do seu uso, portanto, daEducao.

    No campo da Educao, entender o livro didtico na sua completudejustifica-se, principalmente, em funo do papel que este adquire nocontexto escolar. Apple observa que so os livros didticos que estabe-lecem grande parte das condies materiais para o ensino e a aprendiza-gem nas salas de aula de muitos pases atravs do mundo.2 GimenoSacristn aponta que entre a prescrio curricular e o currculo real, quese desenvolve na prtica, existe uma elaborao intermediria do mes-mo, que a que aparece nos materiais pedaggicos e, particularmente,nos livros didticos.3

    Lajolo4 caracteriza o livro didtico como o que vai ser utilizado emaulas e cursos, na situao especfica da escola, isto , de aprendizado

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    coletivo e orientado por um professor. Provavelmente foi escrito, editado,vendido e comprado em funo da escola, sendo que esse tipo de recursodidtico vai ter sua importncia ampliada em pases como o Brasil, nosquais as condies precrias da educao fazem com que ele acabe deter-minando contedos e decidindo estratgias de ensino. Diz ainda que olivro didtico instrumento importante de ensino e aprendizagem for-mal que, apesar de no ser o nico, pode ser decisivo para a qualidade doaprendizado resultante das atividades escolares. E, finalmente, para serconsiderado didtico, um livro precisa ser usado de forma sistemticano ensino-aprendizagem de um determinado objeto do conhecimentohumano, normalmente caracterizado como disciplina escolar.

    Apesar de acreditarmos ser o livro didtico um elemento prescritivo-chave do currculo, e da a importncia de estud-lo, vale lembrar que oseu uso, que se concretiza na prtica da sala de aula, d-se com sujeitosespecficos, em dadas condies scio-histricas e ao lado de outros re-cursos (a lousa e o giz, por exemplo), tendo ento esse uso a potncia desubverter o prescrito, mas o faz valendo-se do prprio material, isto , deuma condio objetiva que est dada.

    Ademais, estudar as relaes concretizadas no processo de circula-o do livro didtico nos possibilita o desvelamento das relaesorganizacionais e interpessoais entre indstria editorial, polticas pbli-cas e instituio escolar, que deixam marcas no uso desse produto. Vis-tas, ento, as especificidades desse produto, nosso intuito verificar asrelaes extra-escolares inerentes ao produto, que adentram os murosescolares, mas que no ficam explcitas.

    Nossa inteno de abord-lo pela sua circulao toma-o no mo-mento posterior sua produo, e anterior ao seu uso, que o momen-to em que este produto circula, em que ser comercializado. Tomamoscomo ponto de partida a seleo de livros didticos que feita na esco-la, porm no entramos no mrito da qualidade da escolha desse mate-rial, e sim focamos, primeiramente, questes que a antecedem, procu-rando entender como ela se d, ou melhor, investigar como esse processose materializa, assim como quem so e como atuam os sujeitos envol-vidos na seleo do livro escolar. A partir disto, nossa perspectiva ana-ltica entender como esses processos interferem no currculo, mas ta-citamente. Por conta deste objetivo, consideramos que trs so as

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    instncias fundamentais nesse processo: a rea comercial das grandeseditoras; o Estado, especificadamente as polticas pblicas para o livrodidtico e a escola.

    Neste texto, vamos enfatizar prioritariamente as aes governamen-tais e apresentaremos os dados referentes aos livros de Histria.

    Atualmente, em 2004, no Brasil, as polticas pblicas para o livrodidtico so representadas pelo PNLD (Programa Nacional do LivroDidtico). Este programa foi criado em 1985, tendo como objetivo aaquisio e distribuio universal e gratuita de livros didticos para osalunos da rede pblica do ensino fundamental, sendo que a poltica deplanejamento, compra, avaliao e distribuio do livro escolar centra-lizada no governo federal. Realiza-se por meio do FNDE (Fundo Nacio-nal de Desenvolvimento da Educao), autarquia federal vinculada aoMEC (Ministrio da Educao) e responsvel pela captao de recursospara o financiamento de programas voltados ao ensino fundamental.

    Quando direcionamos o estudo para a circulao de livros didti-cos no Brasil, um dos pontos que sobressaem o gigantismo do volumede vendas.

    Isto se d porque a educao escolar um sistema que acontece deforma simultnea, gradual e universal, sendo o livro didtico parte inte-grante deste processo. Pensemos que, salvo excees, cada aluno brasi-leiro que est na escola utiliza um livro didtico para cada disciplina,livro este que trocado anualmente (gradualidade), sendo que todos(universalidade) o usam ao mesmo tempo (simultaneidade). Convmobservar que o governo s compra livros para as reas de Portugus,Matemtica, Histria, Geografia e Cincias.

    Tendo em mente esse processo, podemos ter um dimensionamentodo volume de livros didticos que circulam no Brasil.

    O PNLD no s o maior programa de fornecimento de materialdidtico do Brasil. Juntamente com os outros programas de distribui-o de livro (para bibliotecas, por exemplo) em 2001, conforme afirmouMaria Helena Guimares de Castro (Instituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais-INEP/ MEC) na mesa redonda sobre questeseducacionais da atualidade, promovida pela publicao Estudos Avan-ados em 27/4/2001, o Brasil est situado como o pas que tem o maiorprograma de fornecimento de livro do mundo.

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    Partindo dessas consideraes, e como o estudo aqui apresentadofoi delimitado espao-temporalmente na cidade de So Paulo, tendo comofonte dados do PNLD/2002, necessrio que delimitemos a participa-o do Estado de So Paulo no PNLD federal.

    Segundo Batista,5 devido abrangncia do Programa Nacional doLivro Didtico-PNLD, da dificuldade para fazer a distribuio do mate-rial para todos os Estados brasileiros e com base na diretriz formuladapelo Plano Decenal de Educao para Todos (MEC/1993), o governofederal apresentou em 1995, ao Conselho Nacional dos Secretrios Esta-duais de Educao-CONSED, proposta de descentralizao do planeja-mento e execuo do PNLD e da participao financeira dos Estadosquando a compra realizada excedesse o montante repassado pelo Minis-trio. Vrios Estados aderiram proposta: Minas Gerais, Esprito Santo,Gois, Maranho, Paraba, Paran, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul eSo Paulo.

    Porm, a maioria destes Estados encontrou dificuldades paraoperacionalizar o PNLD, principalmente em relao ao aumento de cus-tos em funo da compra descentralizada e, conseqentemente, neces-sidade de complementao financeira com verbas estaduais. Por isso,So Paulo passou a ser o nico Estado no Brasil que manteve a opera-cionalizao do PNLD de forma descentralizada do governo federal, des-de 1995.

    De acordo com dados do Centro de Informaes Educacionais daSecretaria da Educao do Estado de So Paulo CIE/SEE -SP (1998), arede pblica de ensino de So Paulo uma das maiores do mundo: em1998 seus nmeros abarcavam 6.086.947 alunos, 223.288 professores,6.074 escolas urbanas e 1.352 escolas rurais, sendo que, pelo nmero defuncionrios, de acordo com a Organizao das Naes Unidas ONU, a quarta maior empresa do mundo.

    Como procedimentos de pesquisa fizemos um levantamento esta-tstico de todos os livros recebidos pela totalidade das escolas pblicasda cidade de So Paulo, em 2002, de 5 8 srie das disciplinas de Hist-ria, Matemtica, Geografia, Portugus e Cincias. Valemo-nos, comofonte, das listas de livros de 5 8 srie entregues por ocasio do PNLD/2002. Alm disso, entrevistamos docentes e consultamos documentosgovernamentais.

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    Segundo os dados apresentados pela Secretaria da Educao doEstado de So Paulo SEE-SP, no 6 encontro tcnico nacional dos pro-gramas do livro PNLD e PNBE, o total de investimentos no PNLD/2002,de So Paulo, foi de R$ 83,6 milhes, sendo que R$ 82,7 milhes foramrecursos provenientes do MEC e R$ 0,9 milhes financiados pela SEE-SP,devido complementao financeira pressuposta no processo de esco-lha descentralizada.

    Contudo, antes de apresentarmos os resultados de nosso estudo necessrio que definamos quais foram as diretrizes para a escolha dolivro didtico no perodo estudado.

    Em 1993 o Brasil traou o Plano Decenal de Educao para Todos(1993-2003), fruto de compromisso assumido internacionalmente naConferncia Mundial sobre Educao para Todos, realizada em Jomtien,na Tailndia. Neste evento, os pases participantes se comprometeram acriar um plano que atendesse s necessidades especficas bsicas da edu-cao de cada um.

    O plano do Brasil, entre outras consideraes, apontou estratgiaspara o livro didtico; dentre elas, deu prioridade s medidas para asse-gurar tanto a qualidade fsica do livro, quanto a qualidade de seu con-tedo, visto que o princpio de livre escolha pelo professor esbarra em suainsuficiente habilitao para avaliar e selecionar.6

    No mesmo ano da publicao do Plano Decenal de Educao paraTodos, o MEC constituiu uma comisso para analisar a qualidade doscontedos programticos e dos aspectos pedaggico-metodolgicos dos

    Quadro 1 Livros recebidos Estado de So Paulo/Cidade de So PauloPNLD/2002

    Estado de So Paulo Cidade de So Paulo ESP/CSP %

    Total de livrosrecebidos 18.991.127 4.014.502 21,1

    Escolasatendidas 9.902 1.443 14,6

    Fonte: CASSIANO, Clia Cristina de Figueiredo. Circulao do livro didtico: Polticas pblicas,editoras, escola e o professor na seleo do livro escolar. So Paulo, 2003. Dissertao (Mestrado).PUC-SP.

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    livros que vinham sendo comprados por este ministrio para as sriesiniciais do ensino fundamental. Tal comisso analisou os dez livros decada disciplina mais solicitados pelos professores das escolas pblicas.Este estudo demonstrou que o MEC vinha comprando e distribuindopara a rede pblica de ensino livros didticos com erros conceituais,preconceituosos e desatualizados no tocante aos contedos. Como con-seqncia, a partir de 1996 o MEC passou a submeter os livros didticosa uma avaliao, cujos resultados so divulgados nos Guias de LivrosDidticos, distribudos nacionalmente para as escolas, com o objetivo deorientar os professores na escolha do livro didtico.

    O governo federal, que at ento se mantivera como comprador edistribuidor de livros didticos, instituiu, dessa forma, um processo deavaliao destes livros, redefinindo o papel do MEC no PNLD. Sendoassim, as obras inscritas pelas editoras e que no fossem aprovadas seriamexcludas da compra pelo PNLD.

    O que causou grande desconforto em relao avaliao dos livrosdidticos, em 1996, foi a extensa lista de livros inscritos e excludos, prin-cipalmente por erros conceituais. Alm do impacto da prpria avaliao,at ento indita no PNLD, o fato de o MEC ter divulgado a existnciada tal lista, porm adiado a sua publicao vrias vezes, ocasionou umgradativo mal-estar nos interessados no resultado da avaliao, gerandomanifestaes de entidades diversas, tais como a Associao Brasileirade Editores de Livros Abrelivros; a Associao Brasileira de Autores deLivros Educativos Abrale; a Associao de Pais e Alunos do Estado deSo Paulo - Apaesp; a Associao Intermunicipal de Pais e Alunos de SoPaulo - Aipa; a Cmara Brasileira do Livro CBL e o Sindicato Nacionalde Editores de Livros Snel, entre outros.

    No entender de Batista, os critrios comuns de anlise dos livrosdas diferentes disciplinas foram: a adequao didtica e pedaggica; aqualidade editorial e grfica; a pertinncia do manual do professor parauma correta utilizao do livro didtico e para atualizao do docente.7

    Como critrios eliminatrios foram definidos que os livros: nopoderiam expressar preconceito de qualquer origem; no poderiam apre-sentar erros conceituais.

    No Guia de Livros didticos para o PNLD/2002, cuja anlise incidiusobre os livros de 5 8 srie, pela primeira vez um dos critrios im-

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    postos s editoras para a inscrio dos livros foi o da coleo, isto , spuderam ser inscritas colees completas para as quatro sries do cicloII. Para o MEC, alteraes importantes foram feitas no PNLD/2002,sendo que:

    Uma delas foi a deciso de que os livros no seriam mais avaliados porsrie, mas por coleo, para o conjunto das quatro sries. O objetivo des-sa modificao foi proporcionar a articulao pedaggica dos volumesque integram uma coleo didtica, possibilitando, assim, o desenvolvi-mento curricular na escola.8

    At ento, de 1996 at 1999 (em 2000 o Guia no foi editado), oslivros eram avaliados isoladamente, chegando ao extremo de dentro deuma coleo para o mesmo componente curricular, alguns livros seremmal avaliados e, por conseguinte, excludos do programa, e os outrosdessa mesma coleo, bem avaliados e mantidos.

    Excetuando-se esse, os outros critrios comuns de avaliao e clas-sificao dos livros dos anos anteriores foram mantidos: correo dosconceitos e informaes; correo e pertinncia metodolgica; contri-buio para a construo de cidadania; manual do professor; e aspectosgrficos editoriais.

    Quando finalizamos o levantamento dos livros recebidos pelas es-colas paulistanas no PNLD/2002, alguns fatores nos chamaram a aten-o, entre eles o descompasso entre a escolha dos docentes e a avaliaodo Guia dos Livros Didticos para boa parte das disciplinas; a concentra-o das vendas em poucas editoras e o recebimento das colees de 5 8srie de forma fragmentada, inclusive de colees que possuam propos-tas metodolgicas bastante diversificadas.

    Em relao ao recebimento das colees de forma fragmentada,verificamos que a SEE de SP, diferentemente das orientaes do MEC,possibilitava esta alternativa para os docentes, porm como escolha, eno como imposio:

    No caminho de ampliao de opes, salientamos que, embora o Guia deLivros Didticos do PNLD 2002 do MEC organize as obras em colees, issono significa que a escolha deva incidir sobre toda a coleo, pois a SEE-SPoptou por permitir escola a possibilidade de adoo da coleo inteira ou a

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    escolha de diferentes obras da mesma coleo, de acordo com seu interesse. Aoanalisarmos as escolhas feitas nos dois ltimos anos constatamos que asmesmas tm sido diversificadas, no privilegiando a adoo de colees,escolhendo o livro que melhor atende ao desenvolvimento do trabalhocom a sua clientela. Fica, portanto, mais esta deciso para a escola: aquelaem que ela prpria monta sua coletnea e o acervo que melhor apoio ofe-rece ao seu projeto.9

    O levantamento dos livros recebidos pelas 1.443 escolas pblicaspaulistanas nos apontou um grande nmero de escolas que receberamcolees fragmentadas (dois livros de uma coleo e dois de outra, porexemplo). Procuramos, ento, aleatoriamente, estabelecer comunicaocom algumas destas escolas, sendo que todas as escolas contatadas fo-ram unnimes em dizer que haviam escolhido colees inteiras nas duasopes e que ficaram decepcionadas em receber colees mescladas en-tre suas primeiras e segundas opes.

    Isso pode ocorrer porque as escolhas devem ser feitas em duas op-es, isto , devem ser escolhidos quatro livros como primeira opo equatro livros como segunda opo. No caso do PNLD/2002 centraliza-do no governo federal, tais escolhas devem incidir obrigatoriamente emduas colees. No caso do PNLD descentralizado do Estado de So Pau-lo, o critrio das duas opes se mantm, porm no se obriga a escolhapor colees, conforme j foi exposto. Com referncia ao que consta noGuia de Livros Didticos 2001/2002, a segunda opo importante por-que a negociao com autores e editores feita por meio de variveiscomo preo, tiragem mnima e prazo de entrega. Por este motivo, a se-gunda opo tambm tem de ser obrigatoriamente de uma editora di-ferente da primeira.

    E justamente neste contexto que encontramos um descompassoconsidervel entre os livros solicitados por grande parte dos docentes eos efetivamente recebidos nas escolas, desmanchando todo o discursoque apregoa a liberdade de escolha dos docentes e as prioridades peda-ggicas na compra dos livros.

    Para que os dados referentes s informaes acima possam servisualizados, optamos por apresentar os dados relativos disciplina deHistria, porque tal constatao chama a ateno pela discrepncia daspropostas metodolgicas dos livros recebidos pelas escolas.

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    Os indicadores obtidos na tabulao dos livros de Histria recebi-dos pelas instituies escolares pblicas de So Paulo apontam os livrosHistria Temtica (162.387) e Histria e Vida Integrada (129.049) comoos mais escolhidos pelos docentes paulistanos, sendo que estes livrosso igualmente os mais bem recomendados no Guia de Livros Didti-cos, com duas e trs estrelas respectivamente, como pode ser visto noQuadro 2.

    Quadro 2 Total de vendas em Histria/ Avaliao do MEC Cidade deSo Paulo/ PNLD/2002

    Ttulo Autor Editora Avaliao Vendas

    MEC

    1 - Histria & companhia Adhemar M Marques / L * 16.539I, II, III e IV Flvio C. Berutti / Ricardo

    de M. Faria

    2 - Histria cotidiano Eliete Toledo / Ricardo Atual * 13.460e mental Dreguer

    3 - Histria das cavernas Patrcia R. Braick e Myriam Moderna Avaliada 4.224ao 3 milnio B. Mota pela CENP

    4 - Histria do Brasil/ Joaci P. Furtado / Marco Moderna * 21.205Histria geral Antonio Villa

    5 - Histria temtica Andrea R. Dias Montellato / Scipione ** 162.387Conceio A Cabrini /Roberto Catelli Jr.

    6 - Jornada para o nosso Gleuso Damasceno Duarte L * 0tempo I, II, III e IVv

    7 - Nas trilhas da Histria Ktia C. P. Alves / Regina Dimenso * 7.215Clia de Moura / GomideBelisrio

    8 - Nova Histria crtica Mario Furley Schmidt Nova * 0Gerao

    9 - Para compreender Renato Mocellin Do Brasil * 21.308a Histria

    10 - Saber e fazer Histria Gilberto Vieira Saraiva * 74.809

    11 - Tempos de Histria Gleuso Damasceno Duarte L Avaliada 0pela CENP

    12 - Trabalho e civilizao Maria F. M. Antunes / Moderna * 12.736 Uma Histria global Ricardo F. de Albuquerque

    Maranho

    13 - Histria e Vida Claudino Piletti / Nelson tica Avaliada 13.477

    Piletti pela CENP

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    Porm, ao tabularmos os dados das 1.443 escolas pblicas paulis-tanas, deparamos com um fator bastante intrigante: a maioria das escolasque recebeu os livros das colees citadas no as recebeu completas, isto, recebeu dois ou trs livros das colees citadas, e o(s) outro(s) de outracoleo, dentre as possveis opes que podem ser vistas no Quadro 2.

    Tal fato nos chamou a ateno, principalmente por conta da abor-dagem metodolgica diferenciada proposta no livro Histria Temtica,nica coleo que, no PNLD/2003, ofertou livros formados por quatrograndes eixos temticos: Tempos e Culturas; Diversidade Cultural e Con-flitos; Terra e Propriedade e O mundo dos cidados.

    Devido sua proposta metodolgica, os livros da Coleo HistriaTemtica dificilmente seriam bem articulados com os livros de outrascolees, a no ser que fossem intencionalmente escolhidos pelo docen-te, isto porque as outras colees, apesar de possurem diferenas entresi, tm mais possibilidade de interao entre elas, visto que a maioriaaborda o ensino de Histria cronologicamente.

    Do ponto de vista pedaggico, esta seleo, aparentemente feitapelos docentes, fica mais comprometida se pensarmos que tais livrosforam os que obtiveram maior vendagem.

    continuao

    Ttulo Autor Editora Avaliao Vendas

    MEC

    14 - Histria e vida Claudino Piletti / Nelson tica *** 129.049integrada Piletti

    15 - Histria passado Eliane F. Bittencourt Couto / Atual * 23.010e presente Sonia Irene Silva do Carmo

    16 - Histria edio Jos Roberto Martins FTD * 8.898reformulada Ferreira

    17 - Estudo de Histria Ledonias Franco Garcia UFG * 1.767

    18 - Histria Marlene Ordoez IBEP * 25.222

    19 - Cultura e sociedade Lucy R. Valentini / Maria IBEP * 11.571Clia Pinto Vilela / MarleneOrdoez

    20 - Brasil: Uma Histria Jos Rivair Macedo / Mariley Do Brasil * 66.826em construo Wanderley de Oliveira

    Fonte: ver Quadro 1.Obs.: Indicam-se em negrito as colees mais vendidas.

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    Procuramos, ento, estabelecer uma correspondncia entre o des-compasso das escolhas das escolas que, apesar de escolherem os livrosmais estrelados, no foram ao encontro das expectativas do MEC10 notocante escolha ser feita por colees, que, como j mencionamos, que-ria preservar a unidade e a articulao didtico-pedaggica da escola,possibilitando, assim, o desenvolvimento curricular de forma integrada.Lembramos, tambm, que no caso especfico das escolas do Estado deSo Paulo, alm das orientaes do MEC (pois o Guia de Livros Didticosera fonte de consulta), a SEE CENP possibilitou a escolha por coleesinteiras ou por obras de diferentes colees. Porm, foi enfatizado que sea escolha recasse sobre a coleo completa seria respeitada, pois o intuitoera de que a escola escolhesse os livros que atendessem adequadamenteao desenvolvimento do trabalho da escola com a sua clientela.

    Apesar das consideraes feitas pela SEE-CENP no sentido de queas escolhas no precisariam recair obrigatoriamente numa coleo com-pleta, causou espanto constatar que grande parte das escolas paulistasoptou por escolher parcialmente os livros da coleo Histria Temtica,graas s especificidades metodolgicas desta coleo. Este foi o motivoque nos levou a entrevistar docentes com as seguintes caractersticas: osque participaram da escolha em 2001, que atuassem em escolas localiza-das em bairros diferenciados e que fossem professores de Histria deescolas que receberam a coleo Histria Temtica de forma fragmenta-da. Nosso interesse primordial foi averiguar se realmente esta havia sidoa opo da escola, isto , receber a coleo fragmentada.

    As primeiras entrevistas foram realizadas com professores que, em2001, atuavam na EMEF Senador Milton Campos, de Brasilndia. Nestaescola foram recebidos os livros de Histria apresentados no Quadro 3:

    Quadro 3 Livros de Histria recebidos pela EMEF Sen. Milton Cam-pos PNLD/2002

    Srie Livros Editora Quantidade

    5 Histria Temtica Scipione 221

    6 Histria Temtica Scipione 261

    7 Histria Temtica Scipione 141

    8 Brasil, uma Histria em construo Brasil 141

    Fonte: ver Quadro 1.

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    Ao ser questionada sobre a procedncia de tal escolha, a professoraSilmar, docente de Histria dessa escola em 2002, disse que levou umchoque com o livro de 8 srie que a escola havia recebido, ou seja, Bra-sil: Uma Histria em construo:

    Havamos pedido a coleo completa de Histria Temtica como primeiraopo, sendo que a segunda opo, acho que foi Histria crtica. Quandoeu entrei na sala da coordenadora, no ano seguinte, 2002, para pegar acoleo, ela no veio completa. Eu abri e vi que vieram os livros de Hist-ria Temtica de todas as sries, porm, quando abri o pacote da 8 srie,apareceu Brasil, uma histria em construo. Que no tinha nada a ver.11

    A professora enfatizou a escolha da coleo completa para as duasopes, como pde ser confirmado posteriormente nos registros da es-cola. Ressaltou que essa coleo, por ser temtica, tem uma seqncia, eque o ideal seria, inclusive, trabalhar com os alunos das 8 sries de for-ma articulada com o trabalho que j vinha fazendo nas outras sries.

    Temos, ento, que a deciso da SEE CENP de possibilitar a esco-lha parcial ou total das colees, aparentemente bastante democrtica ecom objetivo de privilegiar a prtica pedaggica, na verdade possibilitaum subterfgio para que a prpria Secretaria da Educao negocie deforma bastante flexvel com as editoras, pois no se justifica que a EMEFMilton Campos tenha sido prejudicada na sua opo de receber a coleointeira, visto que as condies objetivas para o atendimento de tal solici-tao existiam. Esta afirmao pode ser verificada levando-se em contaque algumas escolas receberam a coleo Histria Temtica completa.

    Dentre as 1.443 escolas pblicas da cidade de So Paulo, 316 insti-tuies receberam os livros da coleo Histria Temtica, porm apenas129 receberam a coleo na ntegra, sendo que as 187 restantes recebe-ram somente dois ou trs livros da coleo.

    Observamos na Tabela 1 a disparidade entre os volumes recebi-dos pela 7 e 8 sries. Por mais que na 8 srie houvesse menos alunos,o contraste no se justifica, sendo que no caso de algumas coleeshouve uma venda expressiva justamente na 8 srie, como o caso dacoleo Brasil: Uma Histria em construo, alvo das nossas observa-es anteriores.

  • a s p e c t o s p o l t i c o s e e c o n m i c o s d a c i r c u l a o . . .

    histria, so paulo, 23 (1-2): 2004 45

    Outra constatao interessante pode ser feita na comparao dasduas colees que obtiveram o maior nmero de vendas.

    Tabela 1 Coleo Histria Temtica PNLD/ 2002 (Cidade de SoPaulo).

    Sries- ciclo II Livros recebidos

    5 51.412

    6 37.271

    7 88.683

    8 25.898

    Total 163.387

    Fonte: ver Quadro 1.

    Tabela 2 Total de obras recebidas da Coleo Histria Temtica e His-tria e Vida Integrada Cidade de So Paulo - PNLD/ 2002

    Sries Livros recebidos Livros recebidosCiclo II Histria Temtica Histria e Vida Integrada

    5 51. 412 27.476

    6 37.271 46.807

    7 88.683 17.657

    8 25.898 37.109

    Total 163.387 129.049

    Fonte: ver Quadro 1.

    Notamos que, no caso das colees especificadas na Tabela 2 jus-tamente as mais vendidas de Histria h alternncia de livros maisvendidos em sries diferenciadas. Ou seja, tambm aqui conseguimosvisualizar que as escolas no receberam as colees completas.

    Opo ou imposio? Esta foi a pergunta que nos fizemos ao depa-rar com tais dados.

    Poderamos considerar a hiptese de as escolas realmente teremoptado pela coleo fragmentada; sendo assim, ou a maioria das escolastenderia a estar com projetos diferenciados, ou ainda poderamos pres-supor a incapacidade do docente de escolher adequadamente o livro di-

  • c l i a c r i s t i n a d e f i g u e i r e d o c a s s i a n o

    46 histria, so paulo, 23 (1-2): 2004

    dtico, sendo esta alternativa a mais apresentada no discurso governa-mental, tal como consta no MEC (1993), Batista, e at em anlises inter-nacionais, como a de Choppin.12

    Porm, o que conclumos dos indicadores apresentados em relaoao recebimento das colees fragmentadas que na compra dos livros asconsideraes mercadolgicas superaram as consideraes educacionais,visto que todos os docentes entrevistados (de todas as disciplinas) afir-maram que as colees foram solicitadas completas, tanto na primeiraquanto na segunda opo. Enfatizamos que esta parte de nosso estudose deu predominantemente de forma qualitativa, sendo que entrevista-mos nove docentes ao todo, que confirmaram a escolha por coleo, masconsideramos que estes profissionais representam, pelo menos, os valo-res do grupo ao qual pertencem.

    O depoimento da diretora do Milton Campos, em relao ao rece-bimento das colees de forma fragmentada, reflete o discurso dos ou-tros docentes entrevistados. Na poca da escolha dos livros em questo,2001, ela era coordenadora pedaggica:

    Lembro de ter recebido as colees fragmentadas. terrvel, porque otrabalho fica sem continuidade. Inclusive, voc escolheu a coleo por-que gostaria que houvesse a continuidade, e essa foi cortada. Seria melhorvir a 2 opo desde que inteira, justamente por causa da continuidade.13

    O professor paulistano, foco do nosso estudo, subverte a prescri-o na sua prtica, utilizando o livro didtico recebido de modo areinvent-lo criativamente, ou mesmo recusando-se a utiliz-lo.

    O despreparo do professor alardeado pelo discurso oficial, pelosrgos internacionais e pela mdia, que lhe atribuem toda a responsabi-lidade pela escolha inadequada do livro didtico. Todavia, no caso apre-sentado, as conseqncias de uma negociao que se estabeleceu em partepor objetivos de mercado, os quais, em vez de prioritariamente educacio-nais, ficaram velados. Aos docentes coube administrar na sua prticacotidiana a organizao dos saberes com os livros recebidos. Voltemosao depoimento da Prof. Silmar:

    Em 2002 eu dei aula para todas as 6as sries e para uma sala de 8a srie.Senti muito ter recebido o livro Brasil: uma histria em construo, pois

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    histria, so paulo, 23 (1-2): 2004 47

    eu j vinha trabalhando com a Histria Temtica e ela se desprende umpouco da questo cronolgica. Ela vai direo de voc levantar umquestionamento, de voc pegar um tema e ver como ele permeia toda aHistria. Independentemente de sculo, de datas, enfim... porque o temaest presente em nossas vidas. Agora, no caso do Brasil, uma histria emconstruo, ele foca o Brasil. Que interessante? . Mas para uma 8 srieeu preferia estar trabalhando com Histria Temtica e, principalmente,focando em coisas do mundo contemporneo. Coisa que infelizmente olivro didtico no ajudou. Apesar disso, eu ainda consegui trabalhar como livro, mesclando com outros materiais. Agora, professores outros, quepegaram as outras salas de 8 srie, simplesmente no usaram os livros.Eu usava com textos complementares, e at com outros livros, porque aescola normalmente tem uma reserva de anos anteriores, e a gente traba-lhava um pouco com cada um.14

    Podemos concluir, pelos dados apresentados e pela fala dos docen-tes que, muitas vezes, aspectos da materialidade dos livros didticos in-terferem diretamente na sua prtica pedaggica, atuando como um cons-trangimento que obriga o professor a reelaborar o desenvolvimento desua prtica em funo do material recebido e, por vezes, alterando ossaberes pedaggicos que circularo na sala de aula.

    Procuramos demonstrar, ento, que aspectos polticos e econmi-cos, subjacentes circulao do livro didtico, interferem diretamentena prtica do professor, que se concretiza na sala de aula e, portanto, nocurrculo em ao!

    CASSIANO, Clia Cristina de F. The political and economical aspects ofthe History textbook circulation and its implications with the curriculum.Histria, So Paulo, v. 23 (1-2), p. 33-48, 2004.

    A B S T R A C T: The article considers some aspects of the textbook circula-tion that precedes its ingress into the school, but interferes directly withthe knowledge present at the classroom. It reveals the Brazilian publicpolicies for the textbooks, in 2004, and analyses the interference of thispolicies on the curriculum through the History textbooks, adopted inthe public school system of the city of Sao Paulo, during 2002.

    K E Y WO R D S : Textbooks; public policies; History education.

  • c l i a c r i s t i n a d e f i g u e i r e d o c a s s i a n o

    48 histria, so paulo, 23 (1-2): 2004

    NOTAS

    1 Doutoranda da Pontifcia Universidade Catlica de Santos PUC-SP CEP 05014-

    001. [email protected] APPLE, Michael W. Trabalho docente e textos. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995,

    p.85.3 GIMENO-SACRISTN, J. O currculo: uma reflexo sobre a prtica. 3.ed. Porto

    Alegre:Artmed, 2000, p.89.4 LAJOLO, Marisa (org). 1996. Livro didtico: um (quase) manual de usurio. In:

    Em aberto. INEP. v.16. n 69, pp. 3-75 BATISTA. Antonio Augusto Gomes. Recomendaes para uma poltica pblica de

    livros didticos. Braslia: Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Funda-

    mental, 20016 MEC. 1993. Plano decenal de Educao para Todos/ 1993 2003. Braslia: MEC.

    grifo meu.7 BATISTA, Antonio Augusto Gomes. Op. cit.8 MEC. 2001. Guia de livros didticos. 5 a 8 sries. Braslia: MEC.9 SEE SP/CENP. Lendo e aprendendo. manual de orientao para a escolha de livros:

    PNLD 2001/2002. So Paulo: SEE/CENP, 2001, p. 7-8 (grifo do autor).10 MEC. 2001. Guia de livros didticos. 5 a 8 sries. Braslia: MEC.11 Profa. Silmar, entrevista realizada em 10/1/2003.12 MEC, 1993. Op. Cit, BATISTA, Antonio Augusto Gomes. Op. cit.; CHOPPIN,

    Alain. Las polticas de libros escolares en el mundo: perspectiva comparativa e his-

    trica. In: PREZ SILLER, J. y RADKAU GARCA, V. (coords.): Identidad en el

    imaginario nacional. reescritura y enseanza de la historia. Mxico: Instituto de

    Ciencias Sociales y Humanidades de la Universidad Autnoma de Puebla/El Colegio

    de San Luis y Georg Eckert Institut, 1998, p.169-180.13 Profa. Daise em entrevista concedida em 23/01/2003 para Clia Cassiano.14 Prof. Silmar, entrevista concedida em 10/1/2003 para Clia Cassiano.

    Artigo recebido em 06/2004. Aprovado em 09/2004.