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RSP 351 Gardênia da Silva Abbad Revista do Serviço Público Brasília 58 (3): 351-374 Jul/Set 2007 Educação a distância: o estado da arte e o futuro necessário Gardênia da Silva Abbad A Educação a distância (EAD), no mundo inteiro, é uma modalidade voltada à aprendizagem de adultos. Essa modalidade está vinculada a vários princípios educacionais, entre os quais os de aprendizagem aberta, aprendizagem ao longo de toda vida ou educação permanente. No Brasil, a EAD está sendo adotada na educação, nos programas de qualificação e formação profissional e na educação corporativa. Escolas de governo na Europa, no Canadá e no Brasil estão adotando a educação a distância, em todas as suas formas, na oferta de cursos para servidores públicos e comunidade. Há escolas de governo européias que possuem programas bastante desenvol- vidos de EAD, haja vista o Instituto de Gestão Pública e Desenvolvimento Eco- nômico (IGPDE), da França, o Instituto Nacional de Administração Pública (Inap), da Espanha, e a Escola Canadense do Serviço Público (CSPS), do Canadá. A ENAP Escola Nacional de Administração Pública, engajada nesse processo de ampliação do acesso à educação continuada e à aprendizagem ao longo da

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A Educação a distância (EAD), no mundo inteiro, é uma modalidade voltada

à aprendizagem de adultos. Essa modalidade está vinculada a vários princípios

educacionais, entre os quais os de aprendizagem aberta, aprendizagem ao longo

de toda vida ou educação permanente. No Brasil, a EAD está sendo adotada na

educação, nos programas de qualificação e formação profissional e na educação

corporativa. Escolas de governo na Europa, no Canadá e no Brasil estão

adotando a educação a distância, em todas as suas formas, na oferta de cursos

para servidores públicos e comunidade.

Há escolas de governo européias que possuem programas bastante desenvol-

vidos de EAD, haja vista o Instituto de Gestão Pública e Desenvolvimento Eco-

nômico (IGPDE), da França, o Instituto Nacional de Administração Pública (Inap),

da Espanha, e a Escola Canadense do Serviço Público (CSPS), do Canadá.

A ENAP Escola Nacional de Administração Pública, engajada nesse processo

de ampliação do acesso à educação continuada e à aprendizagem ao longo da

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vida, oferece atualmente aos servidorespúblicos brasileiros mais de 20 cursos àdistância através da sua Escola Virtual. Odecreto 5.707, de 2006, sobre a PolíticaNacional de Desenvolvimento de Pessoal(PNDP), trouxe a capacitação do servidorpúblico para o centro da questão e, comodiretiva legal, passou a exigir da adminis-tração pública a adoção de estratégias maiseficazes de capacitação do servidor, paraque serviços de qualidade possam ser ofe-recidos ao cidadão.

É crescente o número de instituiçõesde ensino credenciadas pelo Ministério daEducação (MEC) para ofertar cursos àdistância ou para empregar modalidadeshíbridas de ensino-aprendizagem comoestratégia de democratização do acesso àeducação. A educação corporativa no Brasile em outros países está crescendo rapida-mente, calcada na oferta de cursos por meiode ambientes virtuais de aprendizagem quepossibilitam ao aluno e ao professor ainteração assíncrona e a veiculação deobjetos de aprendizagem pela Internet.

O profissional do presente e dofuturo terá que pautar a sua aprendizagemno desenvolvimento de quatro grandesconjuntos de competências, necessários auma aprendizagem ao longo de toda a vida.São eles, os pilares da educação, segundoDelors (2005):

• o aprender a conhecer: decorrente danecessidade de o indivíduo, em um cenárioem que o conhecimento torna-se cada vezmais instável, estar continuamente inseridoem um processo de compreensão, desco-berta, construção e desconstrução doconhecimento. Mais do que aprenderconteúdos é necessário conhecer linguagense metodologias a partir das quais os conhe-cimentos são gerados e transferidos;

• o aprender a fazer: constitui-se nosegundo pilar mencionado por Delors.

Relaciona-se a habilidades e atitudes supos-tamente capazes de tornar o indivíduoconstantemente apto a enfrentar novas edesafiadoras situações, inclusive de trabalho.Na medida em que aumenta o descom-passo entre as oportunidades de educaçãosuperior e as exigências impostas pelo mun-do do trabalho, cada vez mais se tornainsuficiente a preparação profissional parauma atividade específica e um realidadeestática. É preciso que essa preparação sejacontínua e abrangente;

• o aprender a viver junto: refere-se àshabilidades e atitudes que permitem aoindivíduo conviver bem com outraspessoas em um cenário em que os traba-lhos, cada vez mais complexos, exigem aatuação profissional em equipes interdis-ciplinares para a solução de problemas;

• o aprender a ser: refere-se aodesenvolvimento integral da pessoa. Épreciso que o ser humano se desenvolvaplenamente em todas as potencialidades.

Esses pilares oferecem os rumos paraum processo educacional em que o“aprender a aprender” torna-se essencial,na medida em que o conhecimentobaseado na compreensão da realidadeassume posição de destaque no atualmundo do trabalho.

Muitas universidades abertas, emvários países do mundo, oportunizamaprendizagem ao adulto por meio decursos à distância. Entre essas universidadesestão: a University of South África (Unisa);a Fernuniversität, da Alemanha; a OpenUniversity, da Inglaterra; a Central Radioand Television University, da China;University of the Air, do Japão; a NationalUniversity – Teleconference Network, dosEUA; a Contact North, do Canadá; a Uni-versidade Aberta da Grécia, a UniversidadeAberta da Coréia, a Universidad Nacionalde Educación a Distancia (Uned); e a

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Universitat Oberta de Catalunya, daEspanha, entre outras.

A Open University, conforme OttoPeters (2001) foi a primeira universidade adistância a adotar o ensino aberto (openlearning), em 1969, quando da suafundação. Essa atitude levou outras 14universidades a distância, sediadas emdiversos países do mundo, a adotarem essaprática e o nome de universidades abertas. Asdemais 23 universidades a distância, deacordo com Peters (2001), também foraminfluenciadas por essas idéias desde afundação da Open University.

A educação aberta baseia-se nos prin-cípios da igualdade e do ensino perma-nente, acessível a qualquer pessoa,independentemente do seu perfil, aqualquer hora e em qualquer lugar.Oportuniza uma segunda chance a quemnão pode concluir seus estudos ou umaprimeira chance para outros que, de outromodo, não teriam acesso aos estudos.Entre esses estão mulheres, minoriasétnicas, membros de comunidades geogra-ficamente isoladas e distantes de institui-ções de ensino e pessoas de baixa renda,que deixam os estudos em busca detrabalho para sobrevivência.

Em organizações públicas e privadas,a EAD amplia e democratiza o acesso depessoas ao estudo e cria condições propíciasà aprendizagem contínua. O uso de plata-formas eletrônicas de gerenciamento daaprendizagem tem possibilitado aarmazenagem e a organização de verda-deiras universidades virtuais com serviçosde orientação profissional, guias de estudoou trilhas de aprendizagem, cursosmediados pela intra ou Internet, bibliotecasvirtuais, textos e materiais de apoio aoestudo em diferentes áreas.

As comunidades virtuais de prática ede aprendizagem estão sendo adotadas na

educação corporativa em empresas e emescolas de governo. A ENAP, por exemplo,estimula a formação desse tipo de comuni-dade através da inclusão dessa ferramentacomo estratégia para unir pessoas em tornode temáticas de interesse recíproco e paraapoiar a realização de cursos à distânciamediados pela Internet.

A educação corporativa no Brasil,impulsionada pela EAD, tem aumentadoas oportunidades de aprendizagem

contínua de seus servidores, colabora-dores, parceiros e demais constituintes desua cadeia de valor.

Os dados do Anuário Brasileiro deEducação Aberta e a Distância (ABRAEAD),2007, mostram o panorama da EAD eminstituições de ensino e na educaçãocorporativa no Brasil:

• aproximadamente 2.279.070 brasi-leiros estudaram por EAD em 2006, por

“A educação abertabaseia-se nos princípiosda igualdade e do ensinopermanente, acessívela qualquer pessoa,independentemente doseu perfil, a qualquerhora e em qualquerlugar.”

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cursos oferecidos oficialmente creden-ciados e por grandes projetos nacionaispúblicos e privados;

• o número de instituições de ensinoautorizadas a oferecer cursos à distância cres-ceu em 36,0% no triênio em 2004-2006;

• o número de alunos que estudamnessas instituições cresceu cerca de 54%,passando de 309.957 (em 2004), 504.204(em 2005) para 778,458 (em 2006);

• o público-alvo dos cursos à distân-cia oferecidos pelas 100 unidades de edu-cação corporativa brasileiras é constituídopor funcionários diretos (59,30%), funcio-nários indiretos e prestadores de serviços(33,30%) e outros (25,90%);

• o nível hierárquico operacional é omais visado pelas empresas, pois 85%delas ofertam seus cursos à distância paraesse nível;

• o principal foco da EAD nasempresas é o treinamento (88,9%), seguidopela reciclagem (51,9%) e pelo aperfeiçoa-mento (37%);

• as empresas ofertam uma grande va-riedade de cursos à distância, entre os ti-pos mais freqüentes estão: informática(12,40%), educação e cidadania (12,10%)e gestão (10,10%);

• a duração média dos cursos àdistância oferecidos pelas empresas gira emtorno de 41 horas (mínimo de 8 horas emáximo de 255 horas).

• o grau de adesão dos funcionáriosaos cursos à distância é “excelente” (33,3%)ou “bom” (48,10%).

• o grau de satisfação dos funcionárioscom os cursos à distância é bastante favo-rável, pois na maior parte das empresas aavaliação atinge o conceito “bom”(59,30%) ou “excelente” (37%).

• o índice de evasão dos cursos évariável nas empresas. Os dados mostramque 59,30% das empresas registraram até

20% de evasão, enquanto que 18,50% re-gistraram evasão de 20% a 30%, e 22,20%das empresas registraram um índicepreocupante maior do que 30%.

O investimento na educaçãocorporativa tem crescido bastante nosúltimos anos, segundo informaçõescontidas no ABRAEAD 2007 e tem setornado um dos fatores de retenção detalentos nas empresas. Segundo pesquisarealizada pela Associação Brasileira deTreinamento e Desenvolvimento (2006-2007) para investigar a situação das açõesde T&D no Brasil, 70% das empresasparticipantes da pesquisa registraramplanejar investir mais recursos em treina-mento em 2007, além de terem aumentadoo número de horas destinadas a treinamento,que passou de 39 para 47 horas anuais. Essamédia anual de horas de treinamento ésuperior aos índices internacionaisregistrados pelos EUA (30 horas), Europa(36 horas), Austrália (34 horas) e AméricaLatina (31 horas).

Eboli (2004) descreveu 21 casos deuniversidades corporativas (UC) deempresas sediadas no Brasil1 e três casosde universidades setoriais2. Todas essas uni-versidades, no momento da pesquisa,estavam implantadas ou em fase final deimplantação. Além das universidadespesquisadas pela autora, há muitas outras,entre as quais as Universidades do BancoCentral (Unibacen), da Petrobrás e daEletronorte.

De acordo com informações contidasno ABRAEAD 2007, uma pesquisarealizada pelo CNPq sobre educaçãocorporativa no contexto da políticaindustrial, tecnológica e de comércioexterior mostrou que, no Brasil, háaproximadamente 100 unidades de edu-cação corporativa. Esse número coloca oPaís em posição de destaque no cenário

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internacional, pois, segundo o ABRAEAD2007, na Europa inteira, existem cerca de100 unidades de educação corporativa,sendo que a Grã Bretanha e a Alemanhapossuem 12 UCs, cada país; a França, cercade 30; e a Rússia, 2 universidades.

Em função da relevância que aeducação corporativa vem assumindo noBrasil, o Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior (MDIC), oMinistério da Educação (MEC) e oMinistério do Trabalho e Emprego (MTE)têm investido e apoiado programas de edu-cação do trabalhador pelas organizações.Além disso, a formação profissional dotrabalhador brasileiro tem sido impulsio-nada pela adoção da educação a distânciae pelo investimento na ampliação do aces-so a oportunidades de aprendizagemprofissional continuada.

O SESI, o SENAI, o SENAC e oSEBRAE, órgãos do chamado Sistema S,estão cada vez mais empenhados na criaçãode oportunidades de formação profis-sional a distância, mediadas por diversastecnologias da informação e comunicação(televisão, rádio, material impresso,computador, DVD, ambientes virtuais deaprendizagem) e por formas puras ehíbridas de situações de ensino-aprendizagem. As tecnologias educacionaisdesenvolvidas pelas unidades responsáveispela educação profissional nos órgãos doSistema S são avançadas, bem estruturadase sistematicamente planejadas de acordocom os padrões de qualidade.

Há poucas pesquisas sobre o avançoda EAD no Serviço Público Brasileiro. Apesquisa publicada no ABRAEAD – 2007abrangeu uma pequena amostra de insti-tuições públicas brasileiras que adotam aEAD em suas unidades educacionais. Entreelas estão: a Escola de Governo de MatoGrosso; o Instituto Legislativo Brasileiro,

do Senado Federal; a Marinha do Brasil; aEscola Fazendária da Secretaria da Fazendado Estado de Pernambuco; o ServiçoFederal de Processamento de Dados(Serpro); e o Instituto Serzedello Corrêa,do Tribunal de Contas da União.

No contexto do serviço público, aENAP tem envidado esforços paraconscientizar os profissionais de educaçãoe gestão de pessoas sobre o importantepapel da EAD na promoção de oportu-nidades de aprendizagem contínua aosservidores públicos e na ampliação doacesso ao estudo a qualquer hora e emqualquer lugar. Além de oferecer cursos àdistância ao servidor público, a ENAP tempromovido relevantes debates sobre opapel da EAD no Brasil. Entre as iniciativasda ENAP, destaca-se a organização de umimportante ciclo de debates em 2006, queresultou na produção do livro denominadoEducação a distância em organizaçõespúblicas: mesa redonda de pesquisa–ação(2006), trabalho pioneiro e que servirá demarco inspirador para novas pesquisas e,quiçá, para mais investimentos em EAD.

O livro, redigido com base nos dadosobtidos a partir da mesa redonda, possi-bilitou a descrição de tendências e pers-pectivas da EAD em algumas organizaçõespúblicas e privadas, entre as quais estavam:Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal,Eletronorte, Empresa Brasileira deCorreios e Telégrafos, Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária, Escola Nacionalde Administração Pública, Escola Nacionalde Saúde Pública, Escola Superior deAdministração Fazendária, ExércitoBrasileiro, Fundação Getúlio Vargas, Insti-tuto Legislativo Brasileiro, InstitutoNacional de Seguro Social, InstitutoSerzedello Corrêa, Ministério da Educação,Petrobrás, Serviço Brasileiro de Apoio aMicro e Pequenas empresas, Serviço

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Federal e Processamento de Dados,Serviço Nacional de AprendizagemComercial, Universidade do Banco Centraldo Brasil, Universidade Federal do Pará.Quase todas as unidades educacionaispesquisadas atendiam um público-alvogeograficamente disperso no territórionacional, pertencente a uma ampla faixaetária (18 a 60 anos), com um predomíniode adultos mais idosos (de 30 a 60 anosde idade). Todas as unidades educacionaisatendiam alunos com nível superior de ins-trução, sendo que algumas também aten-diam alunos de nível médio e fundamentalde escolaridade.

Os dados da pesquisa da ENAPindicam que o SENAC foi um dos pio-neiros na adoção da EAD como modali-dade de ensino-aprendizagem. Em 1947,o SENAC já veiculava cursos por meiode materiais impressos e rádio. A EAD,ao que parece, encontra-se em fase deexpansão tanto no contexto da educaçãocorporativa como no contexto da educaçãoe treinamento no serviço público. A adoçãoda EAD como importante modalidade deensino-aprendizagem não é nova no serviçopúblico. Também merecem registro asexperiências pioneiras do Exército Brasileiroe da Escola Superior de AdministraçãoFazendária, que adotaram EAD em 1970 e1975, respectivamente.

A EAD, ao que parece, encontra-se emfase de expansão na área de educaçãocorporativa, de modo geral. As pesquisasda ABRAEAD – 2007, de Eboli (2004) eda ENAP mostraram que a educaçãocorporativa brasileira teve seu crescimentoacelerado na década de 1990. A adoçãoda EAD, entretanto, é ainda recente emmuitas organizações brasileiras. Omomento atual é o de consolidação dasnovas práticas educacionais à distância.

Na amostra pesquisada pela ENAPpor ocasião da Mesa-redonda, nota-se que

entre as organizações públicas pesquisadas,poucas possuem práticas institucionalizadasde EAD em suas organizações. Comexceção do Exército Brasileiro e da ESAF,as demais parecem estar em fase deconsolidação e implantação de novaspráticas educacionais. O Quadro 1 resumeos relatos dos profissionais que partici-param da Mesa-redonda na ENAP sobrea situação da EAD em suas respectivasorganizações.

A EAD em órgãos públicos ainda épouco difundida e institucionalizada, pelomenos no que tange a maior parte daamostra pesquisada pela ENAP porocasião da Mesa-redonda de pesquisa-ação, anteriormente mencionada.

Em todas as organizações participan-tes da Mesa-redonda organizada pelaENAP, a EAD foi adotada como ferra-menta de ampliação do acesso à educa-ção, ao treinamento e à formaçãoprofissional e de apoio à introdução demudanças tecnológicas nos processos detrabalho. Em todos esses casos, observa-se que a dispersão geográfica do público-alvo foi importante motivo para a adoçãoda educação a distância baseada emdiversas mídias (materiais impressos, rádio,televisão, vídeo, DVD, CD, ambientesvirtuais de aprendizagem, computador).

Observa-se uma tendência clara decrescimento da oferta de cursos à distânciaem instituições de ensino e em empresas,o que resultou em um aumento donúmero de alunos beneficiados por essamodalidade educacional. Programasbaseados em EAD para educação, forma-ção, qualificação e treinamento estãocrescendo no Brasil e no mundo. As opor-tunidades de educação ou treinamento emambientes abertos de aprendizagemtambém têm sido oportunizadas porórgãos como Sebrae, universidades

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corporativas e instituições de ensinosuperior no Brasil.

Universidades abertas e a distância têmmudado a fisionomia da educação superiorem diversos países, oferecendo oportuni-dades de estudo para pessoas que dificil-mente seriam alcançadas pelo ensinoconvencional em sala de aula.

Os dados apresentados anteriormentemostram que a EAD é uma modalidadeque facilita a inclusão e a democratizaçãodo acesso à educação e ao treinamento. Atendência de ampliação das clientelas detreinamento com o atendimento dediversos níveis hierárquicos pela educaçãocorporativa são uma prova disso. Outratendência parece ser a diversificação detemáticas abordadas nos cursos à distância.As organizações estão preocupadas emeducar e não apenas treinar seus funcio-nários, pois os programas educacionaisestão voltados para áreas de tecnologia,gestão, informática, educação, cidadania,entre outras relevantes.

Observa-se ainda que a EAD estásendo bem recebida pelos funcionários dasempresas abrangidas pela pesquisa daABRAEAD – 2007. Os níveis de adesãoe satisfação com os cursos à distância sãoelevados e animadores. Entretanto, aindapermanecem altos os índices de evasão emboa parte das empresas estudadas. Emsuma, a EAD é uma modalidade emexpansão no Brasil e no mundo, tanto emcontextos educacionais como na educaçãocorporativa e profissional.

Mas, por que esse movimento estáacontecendo e se ampliando na atualidade?

A rapidez das mudanças ocorridas nomundo do trabalho e as constantesinovações tecnológicas tornam necessária aaprendizagem rápida e eficaz, a constanteaquisição, retenção e transferência deaprendizagem. Para aumentar a competência

das pessoas e para que essas possam evitara obsolescência profissional, tem havidointenso esforço de instituições de ensino ede qualificação profissional para criaroportunidades de aprendizagem contínua.Isso também é uma realidade no serviçopúblico. Enquanto se enfrentam os desafiosda inclusão digital, mesmo dentro doserviço público, busca-se oferecer umserviço de qualidade, eficiente, mais baratoe mais rápido para o cidadão.

Os conhecimentos adquiridos pelaspessoas em quaisquer áreas de atuação econhecimento estão sujeitos à rápidaperda de validade. A abundância deinformações, a intensa produção científicae tecnológica em todas as áreas do conhe-cimento humano e a possibilidade de ampladisseminação desses conhecimentos pelasredes globais de comunicação agem comopressões imperativas à aprendizagem

“Aproximadamente2.279.070 brasileirosestudaram por EADem 2006, por cursosoferecidos oficialmentecredenciados e porgrandes projetosnacionais públicose privados.”

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Quadro 1Organização Desafios e práticas de EADENAP A Escola oferece mais de 20 cursos à distância, com e sem tutoria. Como estratégias de

ensino-aprendizagem, a ENAP adota vários recursos de interação com estudo e exer-cícios em salas de aula virtual, utilização de correio eletrônico e salas de bate-papo,comunidades de aprendizagem e exercícios. O público-alvo dos cursos é formado porservidores públicos. Desde a sua criação, em 2001, até 2006, a Escola Virtual da ENAPhavia oferecido cursos para milhares de servidores públicos brasileiros a custo zeropara suas instituições de origem. Em 2006, a ENAP atingiu a marca de 20 mil servi-dores públicos concluintes de cursos à distância. A ENAP firmou acordos e parceriascom escolas de governo de outros países (Espanha, França e Canadá) para promovero intercâmbio de experiências em EAD.

Exército A modalidade de EAD parece estar institucionalizada na organização e vem sendoBrasileiro empregada com sucesso como estratégia de ampliação do acesso ao treinamento e a

educação de estudantes lotados em todo o território nacional, desde a década de 1970. AEAD tem sido tratada como uma estratégia de inclusão de militares lotados em áreasdistantes dos grandes centros e que ficariam, sem a EAD, com dificuldades de acesso aoportunidades educacionais e de treinamento. A grande capilaridade do Exército, presenteem todas as unidades da federação, tem facilitado a distribuição de materiais instrucionaispara militares do Brasil inteiro. A EAD, desde a sua implantação, tem oportunizado oestudo a qualquer hora e em qualquer lugar, em função da adoção de atividades deensino-aprendizagem assíncronas e apoiadas em materiais didáticos de boa qualidade.Em termos de desafios e tendências, foi relatado o interesse do Exército em ampliar eaprofundar intercâmbios e parcerias com instituições de ensino na produção de açõeseducacionais. Em 2006, havia cerca de 2.500 militares realizando cursos de especializaçãoem instituições de ensino superior na modalidade a distância.

Senado A EAD no ILD surgiu impulsionada pelas mudanças tecnológicas que se iniciaram Federal na rádio e na TV Senado e na informatização de todas as atividades da organização.– ILB Havia demandas internas e externas de cursos que precisavam ser atendidas. Após um

levantamento de necessidades de treinamento, o instituto resolveu adotar a EADpara ampliar o público-alvo para envolver profissionais de outros órgãos e países(servidores, parlamentares do legislativo federal, estadual, distrital e municipal, dospaíses de língua portuguesa, dos países do Mercosul, de instituições conveniadas como instituto e cidadãos), além de diversificar as temáticas e meios de ensino-aprendizagem(Internet, vídeo e rádio). Ainda são incipientes as avaliações dos cursos e há muitosdesafios a enfrentar pela reduzida equipe que atua em educação nessa unidade educa-cional. Um deles é aprimorar e desenvolver novas estratégias e técnicas educacionais ede avaliação da efetividade das ações de EAD.

Serpro A necessidade de adotar a EAD no Serpro surgiu em 1999, para a capacitação deservidores de redes locais, alocados nas instalações da Secretaria da Receita Federal, emtodo o País, para trabalharem com uma nova versão de sistema operacional. Semcondições financeiras para deslocar mais de 1.000 servidores no prazo requerido paramigração de um sistema operacional para outro, a equipe de suporte decidiu criar umambiente virtual para publicação de conteúdos didáticos com exemplos de telas deutilização do novo sistema operacional com orientações de navegação. Para apoiar ainstrução foram criadas estratégias de interações entre alunos e tutores, através decorreio eletrônico e telefone. A experiência foi bem sucedida e, desde então, já foramoferecidos mais de 100 cursos e capacitados mais de 60.000 alunos.

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contínua. No Brasil, já é visível no serviçopúblico e nas empresas a adoção decomunidades virtuais de prática e de apren-dizagem para o compartilhamento deexperiências, a troca de informações e aconstrução coletiva de novas soluções paraproblemas e desafios apresentados pelotrabalho. Essas comunidades virtuais têmsido mais um instrumento de aprendi-zagem para os profissionais, pois, aopermitir a reunião de pessoas interessadasem determinados assuntos, colabora parao processo de educação continuada.

A tendência mundial de aumento decomplexidade dos trabalhos humanos emdiferentes contextos e setores da economia,ocorrida em função da automação deatividades mais simples, além de acarretara diminuição de postos de trabalho maisoperacionais, causando desempregodaqueles indivíduos que não acompanharamas mudanças, tem exigido das pessoas umgrande esforço de aquisição contínua decompetências; e das instituições educa-cionais e organizações de trabalho, maiscuidado e uma preocupação em oferecerprogramas de educação continuada paraadultos.

Grande parte das qualificaçõesexigidas do trabalhador na atualidade écomplexa e requer um conjunto de açõeseducacionais contínuas e variadas paradesenvolvê-las. A idéia tem sido produzircurrículos, trilhas de aprendizagem eestratégias de orientação de carreiraprofissional por meio das quais as pessoaspossam buscar, de modo sistemático eracional, a aprendizagem e o desenvol-vimento de amplos repertórios de qualifi-cações durante toda a sua vida.

Entre os grandes desafios contempo-râneos em EAD estão a inclusão digital ea familiarização das pessoas com as ferra-mentas da Internet, a melhoria dos cursos

à distância, em especial das interações e dainteratividade das estratégias de ensino-aprendizagem mediadas por novastecnologias da comunicação e informação,bem como a adoção de sistemas de avali-ação da efetividade das ações educacio-nais a distância. É preciso pesquisar ascausas da evasão em cursos à distância demodo a reduzi-la. Outro desafio édemonstrar que a modalidade a distânciaé tão ou mais eficaz do que a modalidadetradicional com presença.

Desafios para os profissionais deEAD

As novas tecnologias de informação ecomunicação impõem desafios para osprofissionais que atuam na produção decursos à distância. A articulação das mídiaspara a criação de ambientes propícios aaprendizagem é algo que requer muitoesforço e competência técnica das equipesresponsáveis pela educação na atualidade.Ao que tudo indica, há poucos profis-sionais preparados para enfrentar essesdesafios. Ainda é comum a veiculação delivros eletrônicos em lugar de cursosinterativos que requerem a participaçãoativa do aluno no processo de ensino-aprendizagem. No Brasil, é crescente atentativa de incluir diferentes mídias erecursos tecnológicos na educação. Hámuitos desafios no desenho de objetos eambientes virtuais de aprendizagem. Entreos quais, destacam-se:

• a escolha da combinação adequadade encontros síncronos face-a-face oumediados por tecnologias multiponto cominterações assíncronas entre pessoas e comsituações de auto-aprendizagem;

• a confecção de materiais de ensino-aprendizagem em diferentes meios, explo-rando com eficiência as potencialidades de

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cada um e as melhores combinaçõespossíveis entre eles;

• o desenho dos ambientes virtuais deaprendizagem que integrem múltiplasmídias ou meios de ensino (materiaisimpressos, cd-roms, vídeos, fitas cassete, rá-dio, vídeo-conferências, simuladores,televisão, intranet ou Internet, entre outros),

• a escolha, a criação, a adaptação e aavaliação de diferentes modelos, desenhose estratégias de ensino-aprendizagem emambientes virtuais de aprendizagem e quepossibilitem a simulação da realidade (ouo contato direto do aluno com ela), aexperimentação, bem como a soluçãocolaborativa de problemas relevantes;

• a necessidade muitas vezes conflitantede conferir, por um lado, flexibilidade aodesenho, favorecendo o estudo autônomodo aluno; e, por outro, a necessidade dedesenhar e estruturar cuidadosamente assituações de aprendizagem, os feedbackse a seqüência de apresentação de materiais,textos, exercícios e outros objetos deaprendizagem;

• a definição dos critérios válidos deavaliação da aprendizagem;

• a construção de medidas de avaliaçãode aprendizagem compatíveis com anatureza e o grau de complexidade dosobjetivos educacionais, capazes de avaliaro efeito das situações de ensino sobre orendimento do aluno;

• a avaliação da transferência de apren-dizagem para o trabalho, bem como dosuporte gerencial, psicossocial e material,ofertado ao egresso pelas organizações eambientes de aplicação de novas apren-dizagens, variáveis interferentes quedificultam a formulação de inferênciassobre a relação entre o curso e seus efeitosno desempenho do egresso.

Porém, para se planejar sistematicamenteas ações educacionais, respeitando a natureza

dos processos psicológicos de aprendi-zagem, a retenção e a transferência, é precisorespeitar as diferenças individuais. Issoimplica criar condições para que indivíduoscom motivações, repertórios de entrada,estilos pessoais e níveis distintos de inteli-gência adquiram, igualmente, competênciasdescritas nos objetivos educacionais.

Um dos grandes desafios da educa-ção é, por um lado, garantir um alto graude estruturação dos eventos instrucionaise, por outro, respeitar as diferenças indivi-duais dos aprendizes.

Uma implicação dessa situação é que,para maximizar os ganhos para todos osperfis de aprendizes, não se poderia ofe-recer a mesma atividade educacional paratodos. O ideal, em muitos casos, seria poderoferecer atividades personalizadas, demodo a otimizar os resultados de apren-dizagem. Sistemas tutoriais inteligentes(multimídia) poderão, em um futuropróximo, viabilizar a custos razoáveis apersonalização das experiências educacionais.

Outro desafio da educação de adultosé procurar desenvolver nas pessoas atitudesfavoráveis de aceitação à diversidadehumana. As mudanças demográficas, aentrada crescente de minorias no mercadode trabalho (por exemplo, idosos, mulheres,grupos étnicos, religiosos, e de orientaçãosexual minoritários, expatriados) e as açõesafirmativas a elas associadas pressionamos indivíduos a aprender a lidar com dife-renças em valores, crenças, manifestaçõesdas emoções, visões de mundo, costumes,hábitos de vida, vestuário, entre outras, eobriga a educação de adultos, além depropiciar o acesso ao estudo a essasminorias, a enfatizar a formação e odesenvolvimento dessas atitudes em seusprogramas e currículos.

Os fenômenos da globalização da eco-nomia e os que caracterizam a atualidade

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como a era do conhecimento viabilizarame obrigaram as instituições educacionais apensar em termos de educação global. Oprofissional do futuro deve, sob essa ótica,ser educado para compreender e agir nessemundo globalizado e interligado por redesmundiais de comunicação e informação.

Uma sala virtual de aula pode, na atua-lidade, contar com alunos de diversas partesdo globo terrestre. A interação entre pessoasde diferentes nacionalidades é uma realidadeque não pode mais ser ignorada. As pessoasprecisam aprender a trabalhar em equipesvirtuais e saber articular-se à distância comoutras pessoas para realizar tele-trabalhos eprocurar espontaneamente as informaçõesde que precisam para o trabalho.

O domínio de línguas estrangeiraspassa a ser extremamente importante paraa troca de experiências e a criação comu-nidades de aprendizagem com pessoas dediversas partes do mundo. A capacidadede comunicação e o uso adequado denovas tecnologias de informação e comu-nicação, nesse contexto, também sãoimprescindíveis para o sucesso profissionaldas pessoas.

A presença física de colegas e chefesnão ocorrerá, em grande parte dostrabalhos, em um futuro bem próximo.Essa situação se reflete na educaçãocontemporânea que precisa preparar aspessoas para essa realidade em que a auto-nomia e a iniciativa são requisitos neces-sários à sobrevivência no mercado detrabalho. A capacidade de pesquisar eselecionar informações relevantes tambémse configura em desafio para os profis-sionais e para a educação na atualidade.

Além dessas, será preciso desenvolver,articular e integrar competências ligadas ao“saber ser”, como: habilidade de adminis-trar o tempo e conciliar as atribuições e asresponsabilidades concernentes aos diversos

papéis sociais e esferas de vida (trabalho,família, relacionamento conjugal) que carac-terizam o cotidiano do homem moderno.

O perfil do profissional do futurocaracteriza-se por um conjunto de habili-dades estratégicas metacognitivas, bastantecomplexas, as quais capacitam a pessoa aoautomonitoramento, à auto-avaliação e àautogestão da aprendizagem e carreira. Oservidor público, como profissional inse-rido nesse contexto, precisa preparar-se

para incluir no seu cotidiano o auto-estudo,a administração do tempo para inserçãode rotinas de aprendizagem contínua, o pla-nejamento de carreira, a autogestão e aautonomia na busca ativa por novas apren-dizagens. Essas complexas competênciaspodem ser desenvolvidas por cursos àdistância que estimulem a participação ativado estudante nos processos de ensino-aprendizagem, tal como vem sendo feito

“(...) a EAD éuma modalidadeque facilita a inclusãoe a democratizaçãodo acesso à educaçãoe ao treinamento.

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em universidades abertas do mundointeiro.

O novo profissional deve ser compe-tente, isto é, saber agir com reflexividade eresponsabilidade, segundo Zarifian (2001).Precisa ser criativo e encontrar novas solu-ções para problemas atuais, além de sercapaz de descobrir novos caminhos e opor-tunidades de crescimento e aprendizagem.Necessita, também, de desenvolverestratégias de auto-estudo e de busca eexploração de novos conhecimentos, habi-lidades e atitudes. Esses são os desafios paraa educação.

Novas tecnologias de informação ecomunicação, se bem empregadas em EAD,poderão ampliar o acesso de minoriassociais excluídas dos sistemas educacionaise de qualificação profissionais, bem comofacilitar o desenvolvimento de muitascompetências ora exigidas pela sociedade,em especial, pelo mundo do trabalho.

O uso cada vez mais freqüente deplataformas eletrônicas de gerenciamentoda aprendizagem está viabilizando a entregade cursos e de materiais didáticos a grandesmassas de trabalhadores e estudantesadultos. Um mesmo curso pode ser atual-mente disponibilizado para milhares de pes-soas simultaneamente, que, nesses casos,precisam organizar-se para administrar osestudos e monitorar o próprio processode aprendizagem.

Esses são cursos auto-instrucionais querequerem dos profissionais da área de edu-cação um grande cuidado na elaboraçãode materiais didáticos, pois estes precisamestimular e induzir os processos de apren-dizagem sem a presença de outras pessoasligadas ao curso, como tutores, monitorese colegas.

Instituições de grande porte tambémestão investindo na criação de escolas paraeducação corporativa, e alguns setores da

economia começam a criar universidadessetoriais para garantir a educação perma-nente para a mão-de-obra e de toda a redede stakeholders. Grande parte dessasempresas e instituições adota a EAD comoa modalidade predominante. As escolas degoverno também adotam a modalidadepara oportunizar a aprendizagem contínuade seus públicos-alvo.

Em educação, como reflexo docontexto atual, fala-se muito em estudoautônomo e autonomia, definida como ascapacidades de aprender a aprender;automonitorar-se; autocontrolar-se; eadministrar próprio tempo de estudo.

Esse é o perfil de estudante almejadopelos educadores, empregadores e respon-sáveis pela oferta de cursos à distância.Porém, o adulto, que se beneficia dessescursos, é também um aluno de alto riscode desistência. Ele geralmente desempenhaoutros papéis na sociedade,que requerematenção e disponibilidade de tempo.

A aprendizagem contínua e ao longoda vida, tão necessária a todos, dependede muitas condições externas ou fatoresexógenos ao curso. Muitos deles não sãocontroláveis pela instituição de ensino,porém podem e devem ser conhecidospreviamente para que o planejamento e aoferta de cursos sejam compatíveis com arealidade e o cotidiano de seu público-alvo.

A falta de tempo para freqüentar classestradicionais de ensino presencial é uma rea-lidade para grande parte da clientela deEAD. A possibilidade de estudar em qual-quer lugar e a qualquer hora é o que viabilizaa participação desse nosso adulto em açõesde educação a distância. Esse é um desafiocuja solução seja, provavelmente, as formashíbridas (blended learning) de educação adistância, em que os encontros entre osatores – aluno-professor, aluno-aluno, aluno-material, professor-professor, entre outros

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– possam criar vínculos que facilitem aaprendizagem, mantenham a motivação eaumentem as chances de permanência doaluno até o final do curso. Entretanto, poucose sabe sobre qual seriam a freqüência e aintensidade ideais desses encontros presen-ciais, em diferentes tipos de curso (natureza,duração, número de alunos, perfil dopúblico-alvo, recursos disponíveis).

Se por um lado a EAD é uma saídapara os adultos que querem e necessitamestudar a vida inteira, por outro, ela impõegrandes desafios ao seu participante. Eleprecisa desenvolver habilidades especiaispara conciliar seus compromissos familiares,profissionais e acadêmicos com o estudo adistância. Ele precisa aprender a estudar malacomodado em locais de trabalho, cheio deruídos e interferências de outras pessoas,entre outras restrições. Esse público-alvopossui experiências e estilos de vida quedevem ser respeitados no planejamento desituações de aprendizagem em EAD.

Na atualidade há uma nova compre-ensão sobre o papel da aprendizagem nasociedade. Aprender é um processo valo-rizado que exerce um papel central na vidahumana. Aprender a estudar é imprescin-dível à aprendizagem contínua e perma-nente. Porém, isso é geralmente difícil deser concretizado pelo adulto.

Nesse ponto parece relevante ressaltaralguns aspectos do perfil do aluno de EAD,suas expectativas e demandas que sugeremalguns desafios aos profissionais interes-sados na efetividade de cursos à distância.O Quadro 1 mostra essa realidade.

O perfil do aluno de EAD impõe váriosdesafios aos responsáveis pela programaçãoe oferta de cursos à distância, em função desuas demandas, expectativas e dificuldadespara administrar o tempo para estudo.

Se essa realidade não for consideradaantes e durante o desenho de cursos à

distância os índices de abandono conti-nuarão altos. Em alguns casos, há relatos deíndices de em torno de 50% de alunosevadidos em cursos à distância. Não foramlocalizadas pesquisas sobre evasão emcursos à distância no serviço públicobrasileiro.

No Brasil, segundo o ABRAEAD2006, cerca de 23% das instituições deensino credenciadas pelo governo federalpara oferecer EAD apresentam índicessuperiores a 30% de evasão. Essa situaçãoprecisa ser revertida.

Apesar disso, há poucos estudos siste-máticos tratando da evasão em EAD, entreeles estão os de Shin e Kim (1999) e Xenos,Pierrakeas, e Pintelas (2002).

Para Xenos e seus colaboradores(2002), que realizaram uma pesquisa(dropout) na Universidade Aberta da Grécia,a evasão, uma das principais preocupaçõesde instituições de ensino a distância, écausada por múltiplos fatores endógenose exógenos ao curso. As pesquisas mostram,por exemplo, que, na maior parte doscasos, os estudantes que interromperam suaparticipação em um curso à distância ofizeram no início do curso, logo após oprimeiro ou segundo módulo.

Há fatores que historicamente vêmafetando os níveis de evasão em cursosuniversitários à distância e que podem serclassificados em três grandes categorias,conforme Xenos (2002, et al).:

• fatores internos relacionados àspercepções do aluno e ao seu locus decontrole - interno-externo;

• fatores relativos ao curso e aostutores; e

• fatores relacionados a característicasdemográficas dos estudantes, como:idade, sexo, estado civil, número defilhos, tipo de trabalho ou profissão, entreoutras.

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Resultados interessantes, porém nãoconclusivos, mostraram que mulherestendem a persistir mais do que os homensem cursos à distância. Em estudo recente,esse dado não foi confirmado em pesquisanacional, na qual as pesquisadoras nãoencontraram diferenças entre estudanteshomens e mulheres quanto aos níveis deabandono. (– ABBAD; CARVALHO; ZERBINI,2003). No Brasil, é preciso pesquisar essasquestões ligadas a gênero e evasão em cur-sos à distância.

Quanto às características do desenhoinstrucional, os autores observaram que osníveis de evasão em cursos à distância sãoinfluenciados por fatores ligados aodesempenho do tutor, em termos de quali-dade e quantidade de apoio que ofereceao estudante e por fatores ligados aos seusprocedimentos do curso, como carga detrabalho, quantidade e dificuldade dostrabalhos escritos exigidos pelo curso.

Shin e Kim (1999) classificam ascausas da evasão em cursos à distânciaem duas categorias distintas: fatoresexógenos e endógenos. Ao avaliarem umcurso de graduação na UniversidadeNacional Aberta da Coréia consideraramtrês tipos de variáveis exógenas relacio-nadas à evasão:

• carga de trabalho: definida como apercepção do participante sobre o grau deexigência do trabalho que executa em seuemprego, externo à universidade;

• integração social: compreendidacomo as percepções que o participantepossui sobre o apoio e encorajamento querecebe das pessoas que o rodeiam paraestudar e sentir-se parte da universidade;

• desejo do aluno de concluir o curso.Entre as variáveis endógenas, estavam:• tempo de estudo: a quantidade e o

padrão de administração do tempo de es-tudo que o aluno adotou durante o semestre;

• planejamento da aprendizagem:referente ao grau de organização dosprojetos individuais de aprendizagem,elaborados pelos estudantes; e

• atividades face-a-face: incluem aavaliação de quanto os alunos participaramde palestras complementares e o quantonecessitaram buscar apoio de outroscolegas e escolas residenciais.

Abbad, Carvalho e Zerbini (2003)realizaram pesquisa para identificar variáveisexplicativas da evasão em um curso gratui-to à distância, via Internet, oferecido emnível nacional. Evasão, nesse estudo, referia-se à desistência definitiva do aluno emqualquer etapa do curso. As variáveis ante-cedentes incluíram dados demográficos ede uso dos recursos eletrônicos. Os resul-tados indicaram que os participantes queacessaram poucas vezes os chats, o muralde notícias e o ambiente eletrônico do cursoforam aqueles que também mais tenderama abandonar o curso. Esses dados sugeremque os evadidos, no período de realizaçãodo curso, provavelmente ainda não domi-navam o uso dos recursos baseados nasNovas Tecnologias de Informação eComunicação (NTICs) ou não se sentiramestimulados a utilizá-los.

Esses dados, apesar de não conclu-sivos, mostram que os profissionais de EADprecisam identificar os fatores de risco deabandono típicos de cursos à distância.Alguns deles podem ser administrados maisfacilmente pela instituição de ensino,enquanto outros requerem estratégias maissofisticadas para superá-los.

O contexto de estudo do alunotambém interfere decisivamente naefetividade de cursos à distância. O Quadro2 resume os fatores comumente presentesno contexto do aluno de cursos a distânciae que obstaculizam ou dificultam a suaaprendizagem e estudo.

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Quadro 2: A Clientela de EADO aluno de EAD Expectativas e Desafios da EAD Potencialidades e

demandas limitações da EAD

É adulto com Espera que seus Escolher estratégias Uso de abordagens emúltiplas conhecimentos e participativas que metodologias que facilitem aexperiências experiências sejam favoreçam o criação de situações dede vida. levados em conta aproveitamento dessas aplicação prática e resolução

ao estudar. experiências de vida no de problemas.processo de ensino-aprendizagem.

Acumula Espera que as Oportunidades de Preparação de materiais auto-diversos dificuldades de estudar a qualquer hora instrucionais com escolha depapéis na conciliar e em qualquer lugar. mídias compatíveis comosociedade. responsabilidades contexto e perfil do

pessoais, profissionais e Horários e tempos de estudante.de estudo sejam estudo flexíveis,percebidas e compatíveis com as Uso de recursos baseados nasconsideradas pelos rotinas profissionais e novas tecnologias daprofissionais pessoais. informação pararesponsáveis pela armazenagem, acesso on-lineconcepção e entrega Interações assíncronas. a objetos de aprendizagem ede soluções educacionais comunicação assíncrona

entre os atores do processo deensino-aprendizagem.

Possui Necessita adquirir Necessita de situações de Desenho baseado na avaliaçãoexperiências competências aprendizagem que do perfil profissional doprofissionais e complementares e/ou elevem as suas público-alvo.busca melhoria mais complexas que competências em termosde status aquelas que já possui. de complexidade e Flexibilidade na seqüência desocioeconômico. relevância prática. apresentação de conteúdos.

Pré-teste para ingresso nocurso e em cada parte domesmo.

Possibilidade de orientaçãoEspera situações de e feedback individualizados.aprendizagem Situações decompatíveis com o seu aprendizagem derivadas Condições propícias pra aperfil profissional e que da experiência do aluno, criação de exercícios quetenham impacto que reforcem a sua requeiram respostas abertas efavorável sobre a vida identidade e carreira solução de problemas relacio-profissional. profissional. nados às atividades profissio-

nais do aluno.

Esse tipo de estratégia é dedifícil implementação paragrandes amostras deestudantes.

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O planejamento de cursos à distância,dado os índices de evasão de alunos quecaracterizam o campo, deveria, idealmente,pautar-se em pesquisa prévia sobre o perfildo público-alvo, em termos de característicasdemográficas e profissionais; conhecimentoprévio dos temas abordados no curso;

habilidade para a utilização da Internet;características cognitivas e atitudinais, comohábitos de estudo, estratégias e estilos deaprendizagem, locus de controle e auto-eficácia; e características motivacionais, comomotivação para aprender, valor instrumentaldo curso para o indivíduo.

Quadro 2: A Clientela de EAD (continuação)O aluno de EAD Expectativas e Desafios da EAD Potencialidades e

demandas limitações da EAD

É Espera que as mídias de Utilização de múltiplas Há mídias mais ou menosprofissionalmente entrega dos conteúdos e mídias e serviços de flexíveis e nem todas sãoativo. os recursos de apoio tutoria e monitoria adequadas ao tipo de

sejam compatíveis e compatíveis com objetivo educacional doadequados às rotinas de horários de estudo. curso.trabalho.

É mais Espera não ter que Criar ambientes É possível criar estratégias emqualificado que memorizar informações interativos de que a interação entre pessoasestudantes de pouco complexas e aprendizagem. (aluno-tutor, aluno-aluno)cursos disponíveis no contexto seja estimulada.presenciais. de estudo e de trabalho. Criar situações em

que a participação ativa Uso de simuladores e deNecessita solucionar o aluno é decisiva para metodologias baseadas emproblemas reais e a solução de problemas resolução colaborativa derelevantes. ligados ao contexto de problemas, webquests, entre

estudo. outros, são possíveis. Porém,os custos iniciais para odesenvolvimento desse tipode tecnologia são altos.

Valoriza o estudo Espera ter experiências Compatibilizar as Possibilidade de uso deem função de de estudo que facilitem características do curso inteligência artificial paraciclos e planos o alcance de objetivos ao perfil motivacional adequação do desenho dode vida. profissionais e pessoais. do aluno (produtos e curso ao aluno.É motivado para competências resultantesa aprendizagem. do curso valorizadas Limitação: essas tecnologias

pela clientela). ainda são pouco acessíveis.

Luta contra a Necessita atualizar-se e Armazenar, indexar e Uso de plataformasobsolescência re-qualificar-se de modo disponibilizar eletrônicas de gerenciamentoprofissional. contínuo, ao longo de informações relevantes, da aprendizagem.

toda a vida. mecanismos deorientação profissional e Acesso a bibliotecas virtuais.trilhas de aprendizagem.

Acesso e estímulo a formaçãode comunidades virtuais deaprendizagem.

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Essas variáveis têm sido pesquisadasem avaliação de ações organizacionais deTreinamento, Desenvolvimento e Educa-ção (TD&E). Resultados de pesquisassobre cursos presenciais revelaram corre-lações entre características pessoais doparticipante e aprendizagem, reações e aaplicação eficaz das novas aprendizagensno ambiente de trabalho.

A EAD possui algumas potencia-lidades ainda pouco exploradas. Há cursoscujo desenho é inadequado à realidade dopúblico-alvo. O Quadro 3 mostra algumasdessas potencialidades e falhas.

O uso de novas tecnologias de infor-mação e comunicação abre um universo depossibilidades ainda pouco exploradas emEAD. O material impresso ainda é o meiode transmissão de conteúdos mais utilizadono Brasil e, provavelmente, no mundointeiro. A ele agregam-se outras mídias paraapoiar o ensino com presença ou para cons-tituir-se em material auto-instrucional.

Plataformas eletrônicas de forneci-mento universal e instantâneo de infor-mações possibilitam um gerenciamentomais efetivo do conhecimento humano epossibilitam atualização, armazenamento,recuperação, distribuição e compartilha-mento instantâneos de grandesquantidades e variedades de informações.Essas informações são transmitidas emrede on-line.

A comunicação entre as pessoastambém pode ocorrer em tempo real nociberespaço. Existe a possibilidade deconectar pessoas de quaisquer partes domundo. A comunicação através daInternet rompe barreiras físicas etemporais entre as pessoas e viabilizatrocas e intercâmbios síncronos eassíncronos, nunca antes imaginados.

Essas tecnologias possibilitam aprodução de objetos eletrônicos de

aprendizagem, que podem serrecombinados para formar aulas,manuais, folhetos, cursos inteiros, textos,hipertextos, hipermídias e hiperbases dedados. Novas soluções educacionaispodem ser desenhadas, em diversosformatos, com suporte e tutoria eletrô-nica e com desenhos mais ou menospersonalizados. Porém, a aplicação dessastecnologias ainda não é muito comum emEAD. O Quadro 4 mostra algumaspotencialidades da aplicação de NTICsem EAD.

Muitos fatores mostram que háespecificidades ligadas à EAD e ao perfildo aluno que merecem atenção dos edu-cadores. Essas características do partici-pante devem ser consideradas peloresponsável pelo planejamento de cursosà distância, ao escolherem teorias de apren-dizagem, abordagens instrucionais e dedesenho instrucional compatíveis com asdemandas e contexto do estudante.

Essas características e potencialidadesda EAD precisam ser exploradas pela edu-cação corporativa, por escolas de governoe pelas demais unidades educacionais, demodo a ampliar o acesso à educação eaumentar a sua efetividade. A adoção deformas educacionais mistas, apoiadas emdiferentes mídias, tem o potencial de demo-cratização, ao atender profissionais, cujocontexto de trabalho e de vida são poucopropícios ao estudo ao longo da vida.

Em suma, o Estado da ArteHouve, nas últimas quatro décadas, um

aumento da oferta de cursos à distância,provavelmente no mundo inteiro, comuniversidades, escolas de governo, univer-sidades corporativas e outras instituiçõesligadas a qualificação profissional adotandoa modalidade de EAD para oferecer opor-tunidades de aprendizagem a um númerocada vez maior de pessoas.

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Quadro 3: O contexto da clientela de EADO aluno de EAD Expectativas e Desafios da EAD Potencialidades e

Demandas Limitações da EAD

Enfrenta Espera espaço para Propiciar serviços de O uso de NTICs podeproblemas e negociação de prazos tutoria ativa, que se facilitar o contato do tutorsituações da vida para cumprimento das preocupa em descobrir com o aluno.adulta que atividades previstas na meios de auxiliar oconcorrem com programação do curso. aluno a superar as Possibilidade de diferenciaros estudos e dificuldades pessoais os perfis de alunos quepodem causar Necessita de auxílio em abandonar o curso. abandonam e que concluemevasão (familiares, acadêmico e pessoal cursos à distância e criarconjugais, para enfrentar as guias de estudo e procedi-profissionais). dificuldades. mentos de administração

do tempo de estudo combase nesses dados.

Os horários de Espera que a progra- Criação de mecanismos Possibilidade de prevenir oestudo não são mação e cronograma de gestão do tempo de abandono a partir dafixos e, muitas do curso respeitem essa estudo e espaço para identificação pelo tutor devezes, ficam realidade e estimem negociação de prazos sinais de dificuldades erestritos ao de modo realista as para realização de intervenção imediata paraperíodo noturno, cargas horárias neces- atividades . resgatar o aluno.após longa sárias para conclusãojornada de de cada atividade dotrabalho. curso.

Dispõe de poucotempo diário paraestudo.

Quando consegue Preparar cursos compa- Fixar local para estudo podedispõe de pouco tíveis com o cotidiano, estimular um comporta-tempo de contexto de estudo e mento incompatível comcada vez. estilo de vida do aluno. um dos princípios da EAD

É interrompido Propiciar locais paracom freqüência estudo individual.em seus horáriosde estudo.

Os locais deestudo tambémvariam e muitasvezes sãoinadequados aoestudo e à reflexão.

referente ao estudo ema qualquer hora e emqualquer local.

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Entretanto, há índices altos de evasãoe abandono em cursos à distância e poucosestudos sistemáticos sobre as suas causas.

Além disso, a produção de pesquisasainda não tem sido suficiente para produzirconhecimentos sobre a efetividade decursos à distância; as tecnologias existentesainda não têm sido utilizadas em todas assuas potencialidades como recursos deapoio à aprendizagem; as ferramentas deinteração ainda limitam muito o contato ea solução colaborativa de problemas entrepessoas; ou seja, praticamente não háestudos sistemáticos sobre efeitos dasdiferenças individuais sobre os níveis deaprendizagem e transferência de aprendi-zagem em cursos à distância.

Ainda são raros os estudos de análisede necessidades educacionais que identifi-quem previamente as características doscontextos de estudo, aprendizagem e trans-ferência de aprendizagem do público-alvo

de EAD, tão necessários ao desenho e ava-liação da efetividade de cursos à distância.

Há outros problemas, cuja soluçãotambém é urgente e necessária, porém quenão têm têm sido pesquisados a contento,como as seguintes questões:

• Por que, em algumas situações, aindasão altos os índices de evasão em cursos àdistância?

• Em que devem diferir os materiaisinstrucionais em cada mídia?• Blended learning produz menor evasão

e maior aprendizagem do que a formapura totalmente à distância?

• Como o lidar com a diversidadehumana em cursos à distância, de modoque todos os perfis sejam beneficiadosigualmente pelo curso?

Quanto ao futuro necessário, sugere-se:• • construção e validação de mode-

los de avaliação da efetividade de cursos àdistância (auto-instrucionais, blended-learning),

Quadro 4: Potencialidades e falhas da EADPotencialidades da EAD FalhasAmpliação do acesso à educação . Materiais pouco acessíveis aos estudantes deformal baixa renda.Ampliação do acesso à formação e Uso de mídias e materiais incompatíveis com oqualificação profissionais. contexto e habilidades do aluno.Desenvolvimento de competências Apoio inadequado ao estudo (muitos alunos porcomplexas valiosas como: autonomia, tutor ou, falta de interação com outros, falta de guias,auto-estudo, auto-avaliação, orientações e mapas de estudo e de tutoria ativa).administração do tempo, autogestãode carreira.Utilização de múltiplas mídias de Falta de preparação prévia do aluno para manusear osentrega de materiais. recursos da informática para estudar.Oportunidade de estudo a qualquer Dificuldade de estudar em local apropriado.hora e em qualquer lugar. Horários variáveis e pouco tempo de estudo de

cada vez.Flexibilidade para escolher a melhor Materiais seqüenciados com rigidez.maneira e seqüência de estudar. Obrigatoriedade de cumprir todas as etapas do curso,

mesmo aquelas que tratam de assuntos econteúdosdominados pelo estudante.

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de curta e longa duração, em diferentestipos de instituições;

• construção de medidas de avaliaçãopara mensuração do efeito da aplicaçãoda EAD na aprendizagem e na transfe-rência de aprendizagem para o trabalho;

• identificação prévia de variáveisrelativas ao contexto de estudo do público-alvo e que interferem em sua aprendizagem,motivação para aprender, permanência nocurso e aplicação no trabalho de novasaprendizagens adquiridas em eventos deEAD;

• aprimoramento das estratégias e fer-ramentas de aprendizagem colaborativaem ambientes virtuais de aprendizagem;

• ampliação das práticas de inclusãodos interessados, inclusive alunos, no pla-nejamento de cursos a distância, desde aavaliação da necessidade educacional com

definição das competências a desenvolvere a descrição do perfil público-alvo, até odesenho e a avaliação da ação educacional;

• avaliação da efetividade de cursos adistância, comparando-os com cursostradicionais com presença;

• avaliação da efetividade de programasde EAD em seus impactos na organizaçãofornecedora, nas organizações parceiras,clientes e na sociedade, utilizando metodo-logias já existentes de avaliação educacional,corporativa e de programas sociais.

Porém, há condições necessárias a umfuturo melhor. Entre elas, estão a:

•cooperação e intercâmbio entre ins-tituições de ensino superior e pesquisa, uni-versidades, escolas de governo e outrasentidades responsáveis por programas dequalificação e formação profissional paraprodução conjunta de pesquisas que

Quadro 5: Potencialidades da EAD mediada por NTICsEAD mediada por NTICs1. Possibilidade de oferta de feedbacks individuais e contingentes ao desempenho acadêmico do

aluno.2. Uso de hipertexto, multimídia e hiperbases de dados (multimodalidade e experimentação).3. Acesso facilitado (on-line) a bibliotecas, informações, arquivos eletrônicos.4. Viabilização e estimulação a participação das pessoas no processo de ensino-aprendizagem.5. Auxílio aos educadores paraa mapear e monitorar os hábitos de estudo dos alunos.6. Aumento da interatividade com os materiais didáticos.7. Facilitação do acompanhamento dos processos de aprendizagem do aluno, bem como dos

resultados dessas aprendizagens.8. Agilização e aumento a efetividade de trabalhos que envolvem busca, localização, coleta e

armazenagem de informações.9. Facilitação a simulação de situações atividades de solução de problemas para repetição e

generalização de conhecimentos.10. Viabilização do trabalho em equipe de pessoas fisicamente distantes entre si.11. Facilitação para armazenar, recuperar e tratamento de informações coletadas por meio da rede.12. Destruição de barreiras físicas entre pessoas, possibilitando contatos assíncronos com regis-

tro simultâneo da contribuição e mensagens.13. Ampliação da interação entre os aprendizes.14. Aumento da aprendizagem, a retenção e generalização de conhecimentos.

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gerem conhecimentos e tecnologiascapazes de aumentar a efetividade daEAD.Página: 27

• formação de profissionais paraatuação e pesquisa em assuntos concer-nentes a EAD;

• formação de uma rede de aprendi-zagem para ampliação e otimização deesforços, visando a melhoria da qualidadeda EAD;

• programas de inclusão digital e defamiliarização da sociedade com as novastecnologias da informação e comunicação;

• programas que estimulem auniversalização do acesso à aprendizagemcontínua e ao longo de toda a vida;

• programas que apóiem pesquisas eformação de profissionais na área de EAD.

(Artigo recebido em 18de julho de 2007. Versãofinal em 14 de outubro de 2007)

Notas

1 São elas: Sabesp, Sadia, Carrefour, Lojas Renner, Rede Bahia, Alcatel, Siemens,Elektro, Banco do Brasil, BankBoston, BNDES, Caixa, Real-ABN, Amro, Visa do Brasil,Natura, CVRD, Amil, Correios, Microsiga, Embratel, Volkswagen.

2 Universidade Corporativa ABRAMGE, da Associação Brasileira de Medicina emGrupo; Universidade de Alimentos (UAL), da Kraft Foods Brasil e UniversidadeCorporativa SECOVI (UCS), do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Loca-ção e Administração de Imóveis residenciais e Comerciais de São Paulo.

Referências Bibliográficas

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Educação a distância: o estado da arte e o futuro necessário

Revista do Serviço Público Brasília 58 (3): 351-374 Jul/Set 2007

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Gardênia da Silva Abbad

Revista do Serviço Público Brasília 58 (3): 351-374 Jul/Set 2007

Resumo – Resumen – Abstract

Educação a distância: O estado da arte e o futuro necessárioGardênia da Silva AbbadEste artigo analisa alguns desafios que cercam a adoção da Educação a Distância por institui-

ções de ensino, unidades de formação e qualificação profissional e de educação corporativa. Alémdisto, é sugerida uma agenda de pesquisa sobre EAD. O artigo trata do papel da EAD na educaçãocontinuada de adultos e na ampliação do acesso à aprendizagem, em função da possibilidade deinterações assíncronas, mediadas por tecnologias da informação e comunicação. Uma análise dasituação EAD no Brasil mostra um grande crescimento da modalidade. Observa-se que ainda sãoraras as pesquisas sobre EAD no serviço público. Há informações sugerindo que, em órgãospúblicos com práticas institucionalizadas de EAD, a modalidade representa uma valiosa e eficazestratégia de inclusão de pessoas em atividades de ensino-aprendizagem. São analisados algunsimportantes desafios ligados à implementação e ao desenho de cursos a distância, e, além disto, éapresentada uma agenda de pesquisas para a área.

Palavras-chave: Educação a distância. Educação corporativa. Educação de adultos.

Educación a distancia: el estado del arte y el futuro necesarioGardênia da Silva AbbadEste artículo hace el análisis de algunos desafios para la adopción de la Educación a Distancia

(EAD) por parte de instituciones de enseñanza, unidades de formación y calificación profesionaly de educación corporativa. Además de esto, hace la sugerencia de una agenda de investigaciónsobre la EAD. El artículo incluso trata del papel de la EAD en la educación continuada de losadultos y en la ampliación del acceso al aprendizaje, en función de la posibilidad de interacionesasincrónicas, mediante tecnologías de la información y comunicación. Un análisis de la situación dela EAD en Brasil muestra un gran desarrollo de esta modalidad de educación. También ha obser-vado que aún son pocas las investigaciones sobre la EAD en el servicio público. Hay informacionessugiriendo que, en órganos públicos con prácticas intitucionalizadas, dicha modalidad representauna valiosa y eficaz estratégia de inclusión de personas en actividades de enseñanza y aprendizaje.Algunos desafios importantes que tienen a ver con la implementación y el diseño de cursos adistancia son analizados.

Palabras-clave: Educación a distancia. Educación corporativa. Educación de adultos.

Distance learning: the state of the art and the needed futureGardênia da Silva AbbadThe present article analyses some challenges around the adoption of e-learning in teaching

institutions, as well as units of professional induction and qualification courses and of corporateeducation. Furthermore, it suggests a research agenda on e-learning. The article is concerned withthe role e-learning plays in adults’ continued education and in the enlargement of access tolearning, according to the possibility of asynchronal interactions provided by technologies ofinformation and communication. Then, an analysis of the state-of-the-art of e-learning in Brazilshows a great development of the modality. It can be observed that researches about e-learning inthe public service area are still rare. There is some information suggesting that in public agencieswith institutionalized practices of e-learning, the modality represents valuable and effective strategiesfor including people in teaching-learning activities. It, then, analyses some important challenges