59
Ensino de Astronomia no ABC Prof. Yago H. R. Ribeiro [email protected]

ABC Ensino de Astronomia no · No nosso breve estudo da Teoria da Relatividade Especial lidamos, mesmo que sem perceber, com uma solução para um espaço-tempo plano, que recebe

  • Upload
    docong

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Ensino de Astronomia no ABC

Prof. Yago H. R. Ribeiro [email protected]

Aula 14 - Objetos Compactos Ⅲ

Buracos Negros e Supernovas

Estrelas com massas altas (acima de 8 massas solares) formarão, ao final da

evolução estelar, supernovas (ou se forem muito energéticas podem ser

chamadas de hipernovas) e buracos negros.

Os buracos negros formados são tão compactos que nem mesmo a luz é

capaz de escapar deles. Para entendermos melhor esses objetos, precisamos de

algumas noções da Teoria da Relatividade.

Buracos Negros e Supernovas

Impressão artística do

colapso do núcleo de uma estrela

massiva para um buraco negro

que gera dois jatos opostos e de

longa duração de raios gama

movendo-se próximos à

velocidade da luz. Esse fenômeno

é denominado hipernova.

Fonte: http://ned.ipac.caltech.edu/level5/Sept06/Loeb/Loe

b5.html

Buracos Negros e Supernovas

Na literatura é comum encontrar que estrelas possuem massas menores que 150

massas solares, um limite teórico “razoável” (visto que se a pressão de radiação no

interior de uma protoestrela for muito mais intensa que a gravidade local, ela acabará

prevenindo a acreção de grandes quantidades de material no disco de acreção e

portanto, não conseguirá se formar) corroborado pelas observações de estrelas na

nossa galáxia.

Entretanto, em 2010 o ESO (European Southen Observatory) publicou uma notícia

comunicando que havia encontrado uma estrela que foi formada com mais que o dobro

dessa massa limite.

O texto é bem interessante e até explica o que aconteceria se o Sol fosse substituído

por essa estrela.

Buracos Negros e Supernovas

Vale a leitura em casa: http://www.eso.org/public/brazil/news/eso1030/

Teoria da Relatividade Especial

A Teoria da Relatividade Especial foi proposta por Albert Einstein em 1905 e baseava-se em dois princípios simples e unificadores que modificaram a nossa forma de entender o mundo.

Surgiu graças a uma crise na física. A mecânica clássica não era compatível com o eletromagnetismo clássico e as tentativas de modificar o eletromagnetismo para ser compatível com a mecânica falharam, então Einstein pensou em modificar a mecânica para ser compatível com o eletromagnetismo e obteve sucesso.

Einstein em 1904, aos 25 anos

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein

Teoria da Relatividade Especial Outros cientistas também tiveram participação importante no desenvolvimento da teoria:

Hendrik Lorentz. Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Hendrik_Lorentz

Hermann Minkowski. Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Hermann_Minkowsk

Henri Poincaré. Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Henri_Poincar%C3%A9

Teoria da Relatividade Especial

Princípio da relatividade especial

As leis da física são as mesmas para todos os observadores não-acelerados.

Princípio da invariância da velocidade da luz - A velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os observadores, independente do movimento da fonte e do observador.

Teoria da Relatividade Especial

Esses dois princípios dão origem a resultados surpreendentes e muito

divertidos.

Só para dar um exemplo, é da teoria da relatividade especial que derivamos a

equivalência entre massa-energia consagrada pela equação mais famosa da física:

E = mc²

Que se aplica ao mecanismo responsável pela a fusão nuclear que ocorre no

interior das estrelas!

Teoria da Relatividade EspecialPodemos citar ainda resultados

fantásticos como o efeito Doppler relativístico,

a dilatação do tempo, a contração do espaço,

o conceito de simultaneidade para diferentes

observadores, o paradoxo dos gêmeos, o

limite Newtoniano, etc.

Mas neste momento devemos nos

concentrar em compreender a estrutura mais

fundamental da teoria: o espaço-tempo e

também como a matéria e a luz se comportam

nele. E usar isso para entender os buracos

negros!

Uma fonte de luz movendo-se para a direita, relativa a um observador estacionário, com velocidade 0,7c (70% da velocidade da luz).

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Relativistic_ Doppler_effect

Teoria da Relatividade Especial

Um resultado experimental que será muito

útil na nossa discussão é: a velocidade da

luz é uma velocidade limite para toda

comunicação e para todo movimento de

corpos massivos.

Fonte: Ellis, 2000, pág. 13

Teoria da Relatividade Especial

Espaço e tempo são noções familiares a qualquer um. Na teoria da relatividade eles

formam uma única entidade chamada espaço-tempo.

Considerando que o espaço tem 3 dimensões (largura, comprimento e altura) e o

tempo uma, o espaço-tempo é uma estrutura quadridimensional, da qual cada ponto é

dito um evento e cada trajetória de uma partícula ou raio de luz é dita uma linha de

mundo.

Como não conseguimos esboçar gráficos em 4D, precisamos usar nossa criatividade

para encontrar alguma forma de representar graficamente o espaço-tempo para os

problemas...

Teoria da Relatividade EspecialImagine que você joga uma pedra na superfície de um

lago, que pode ser visto como um plano, ou seja, uma

superfície 2D, e com uma câmera, tira uma série de

fotografias em intervalos de tempos iguais para

identificar a posição da crista da primeira onda gerada

pela perturbação que a pedra causou na água.

Em seguida você revela essas imagens e as sobrepõe

em ordem cronológica.

O gráfico (3D) obtido (permita-me chamá-lo de

diagrama de espaço-tempo) é o gráfico de um cone.

Guardem essa informação

Fonte: Ellis, 2000, pág. 10.

Teoria da Relatividade Especial

Fazendo uma analogia com o caso de uma lâmpada que é acesa num determinado

evento (um determinado ponto no espaço num determinado instante de tempo) que

chamaremos de O e que é fotografada a intervalos de tempo constantes para

montarmos novamente um diagrama de espaço-tempo, teremos novamente um

diagrama de espaço-tempo em forma de cone, um cone de luz!

Parece que não ganhamos

nada com isso não é?

Mas chamemos esse

gráfico de cone de luz do futuro

de O.

Guardem essa informação.

Fon

te: Ellis, 2000, pá

g. 19.

Teoria da Relatividade Especial - ExemploVocê é um consultor de defesa da NASA. Agora é meia-noite. O diretor da seção acaba

de lhe comunicar que às 3h00 um míssil nuclear será lançado contra a Terra de uma base

secreta em Tritão, lua de Netuno.

A agência dispõe de uma arma laser, mísseis nucleares, entre outros equipamentos

disponíveis para abater o míssil inimigo. Oito pessoas estão de prontidão para acatar suas

ordens, você só precisa tomar a sua decisão

Qual a melhor estratégia para resolver essa crise?

Dados: 1. Netuno está a 30,1 UA do Sol; 2. 1 UA é aprox. 150.000.000 km; 3. A velocidade da

luz no vácuo é aproximadamente 300.000 km/s.

Teoria da Relatividade Especial - ExemploVocê sabe que “a velocidade da luz é uma velocidade limite para toda comunicação e

para todo movimento de corpos massivos”.

Se Netuno está a cerca de 30,1 UA do Sol, a distância mínima entre ele e a Terra pode

ser aproximada por 29,1 UA.

Convertendo esse valor para metros e

dividindo pela velocidade da luz você

conclui que Netuno está a pelo menos 4

horas-luz da Terra!

Teoria da Relatividade Especial - Exemplo

Como o míssil sairá de uma base nessa região daqui a 3 horas, não faz sentido

tentar destruir a base para evitar que ele seja lançado, pois mesmo usando a arma

laser (que viajará pelo espaço na velocidade da luz), ela só atingirá a base uma

hora depois do míssil já ter partido.

A única escolha sensata a tomar é calcular a rota do míssil quando for possível

e interceptá-lo quando ele já estiver a caminho. Parece um pouco complicado.

Mas será que num diagrama de espaço-tempo fica mais fácil de visualizar?

Teoria da Relatividade Especial - Exemplo

Em termos técnicos, o evento ‘destruir a base inimiga antes do míssil ser lançado’ está

fora do cone de luz.

Esse problema nos mostra que os cones de luz determinam as regiões causais a partir de

um determinado evento.

Então eu posso determinar todas as regiões que eu posso atingir de um determinado

evento no espaço-tempo se eu souber como os cones de luz se comportam nesse

espaço-tempo.

É exatamente isso que precisamos para analisar o que impede as partículas massivas e

os raios de luz escaparem classicamente de um buraco negro.

Agora podemos partir para a Teoria da Relatividade Geral..

Teoria da Relatividade Especial exemplo

Teoria da Relatividade Geral

A Teoria da Relatividade Geral foi

proposta por Albert Einstein em 1915.

A grande ideia de Einstein foi modificar

o princípio da relatividade especial pela ideia

de que “As leis da física são as mesmas para

todos os observadores, não importa os seus

estados de movimento”.

Surgiu graças a um problema com a

teoria Newtoniana da gravitação. Nessa

teoria a força gravitacional age

instantaneamente, o que é incompatível com

a Teoria da Relatividade Especial.

Retrato oficial de Einstein em 1921 depois

de receber o prêmio Nobel de Física pela sua

descoberta da lei do efeito fotoelétrico.

Fon

te: http

://pt.w

ikiped

ia.o

rg/w

iki/Alb

ert_Einstein

Teoria da Relatividade GeralOutros cientistas também tiveram participação importante no desenvolvimento da

teoria:

David Hilbert.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ David_Hilbert

Bernhard Riemann.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Bernhard_Riemann

Marcel Grossmann.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/ Marcel_Grossmann

Teoria da Relatividade Geral

Einstein havia proposto que as leis da física são as mesmas para todos os observadores, independentemente dos seus estados de movimento.

Então ele realizou uma experiência de pensamento (e elas são muito importantes em relatividade!) muito interessante com um par de observadores dentro de elevadores aqui na Terra e um outro par de observadores no espaço, longe de qualquer objeto com grande massa.

Fonte: Ellis, 2000, pág. 193.

Teoria da Relatividade GeralEinstein pensou que se o observador A, no

elevador parado em relação à Terra, soltar um objeto

qualquer, esse objeto será acelerado com módulo g em

direção ao chão. Já um observador B, num foguete se

movendo com aceleração constante g longe de corpos

massivos, experimentará o mesmo resultado.

E a situação entre um observador C, num elevador

em queda livre sobre a atração gravitacional da Terra,

e um observador D, num foguete não-acelerado longe

de corpos massivos, também é análoga: qualquer um

deles que solte qualquer objeto ao seu lado, verá esse

objeto flutuar ao seu lado.

Fonte: Ellis, 2000, pág. 193.

Teoria da Relatividade GeralA conclusão obtida por Einstein pode ser resumida na formulação do …

Princípio da equivalência

Não há nenhum jeito de distinguir os efeitos em um observador sujeito a um

campo gravitacional e de um sujeito a uma aceleração constante.

Teoria da Relatividade Geral

Essa ideia é um tanto profunda, pois modificando a aceleração em um espaço plano é possível “mimetizar” qualquer campo gravitacional. Então qual é a necessidade de termos espaços curvos?

Fon

te: E

llis,

200

0, p

ág

. 194

.

Imaginem que o observador D veja um raio de luz seguindo uma linha reta atravessando o foguete. Já que ele é equivalente ao observador C (em queda livre aqui na Terra), então o observador C também verá o raio de luz atravessar o elevador em linha reta.

Teoria da Relatividade Geral

Já o observador B está acelerado em relação ao observador D e portanto verá o

raio atravessar o foguete em uma linha curva e como ele é equivalente ao observador

A, assim também constatará o observador A.considerar espaços-tempos curvos.

Sabendo que a luz se propaga em

linha reta num espaço-tempo plano, o

observador A concluirá que o

espaço-tempo não pode ser plano.

Então para podermos descrever as

experiências de todos observadores, nós

precisamos considerar espaços-tempos

curvos.

No nosso breve estudo da Teoria da Relatividade Especial lidamos, mesmo que sem perceber, com uma solução para um espaço-tempo plano, que recebe o nome de espaço-tempo de Minkowski.

Teoria da Relatividade Geral

Um fato interessante sobre a natureza do espaço-tempo é que a sua geometria dependerá da forma como a matéria e a energia estarão distribuídas nele. Então se quisermos saber como se comportaria o espaço-tempo na presença de um buraco negro, devemos saber como será a geometria do espaço-tempo dada por um objeto massivo de simetria esférica.

Fon

te: http

s://en.w

ikiped

ia.o

rg/w

iki/Gen

eral_rela

tivity

Buraco Negro de Schwarzschild Ainda em 1915 (mesmo ano em que Einstein publicou a sua teoria da relatividade

geral) Karl Schwarzschild encontrou tal solução.

Apesar de Einstein ter ficado maravilhado ao

saber que Schwarzschild encontrou tal solução,

por muito tempo (se não por toda a vida)

acreditou que buracos negros não podiam existir

na natureza.

Pergunta: Pode uma solução matemática

não ter significado físico? Pode não vir a existir na

natureza?

Fonte:http://www.aip.org/commentary/ aip-launches-centennial-exhibit-theorygeneral-relativity

Buraco Negro de Schwarzschild

Um fato que muitas pessoas não comentam mas é muito importante é que a

solução de Schwarzschild é uma solução de vácuo da equação de Einstein. E descreve o

exterior de um buraco negro sem rotação e sem carga elétrica.

Vocês podem querer saber: Por que tanta preocupação com esses detalhes

técnicos?

Porque falar de buracos negros, muitas vezes, será falar das soluções matemáticas

de buracos negros, e a solução de Schwarzschild é a mais simples, porém há outras.

Buraco Negro de Schwarzschild

A solução obtida por Schwarzschild –

relembrando mais uma vez: das equações de

Einstein da Relatividade Geral – apresentava duas

regiões singulares.

Uma singularidade real no “centro” da estrela

massiva simetricamente esférica e uma outra região

singular que ficou conhecida como raio de

Schwarzschild (que depende exclusivamente da

massa do buraco negro) onde efeitos interessantes

ocorrem.

Fonte: Hartle, 2003, pág. 264.

Buraco Negro de Schwarzschild O raio de Schwarzschild é uma singularidade da solução de

Schwarzschild mas não é uma singularidade real.

O espaço-tempo se comporta bem nessa região, porém os

cones de luz nesses eventos estão completamente “tombados”

para dentro do buraco negro impedindo classicamente que

qualquer objeto que adentre o buraco negro, consiga sair.

Por nada conseguir escapar dessa região ela é também

dita delimitadora do horizonte de eventos, pois qualquer

partícula ou raio de luz que o adentra, não consegue sair.

Fonte: Hartle, 2003, pág. 263.

Buraco Negro de Schwarzschild

Os cones de luz na presença de um buraco negro não serão

idênticos aos cones de luz no espaço-tempo plano de Minkowski,

pois agora o espaço-tempo é curvo e a luz não se propagará em

linha reta.

Mas com um pouco de matemática, os formatos dos cones de

luz na presença de um buraco negro podem ser determinados –

vejam a figura ao lado.

E como são os cones de luz que determinam quais regiões do

espaço-tempo estão causalmente conectadas, temos uma

justificativa geométrica mais forte do porquê nada que entra num

buraco negro, pelo menos classicamente, consegue escapar dele.

Fonte: Hartle, 2003, pág. 260.

Buraco Negro de Schwarzschild

Por exemplo, dois deles são a dilatação

gravitacional do tempo e o redshift

gravitacional.

A dilatação gravitacional do tempo é um

fenômeno que ocorre nas proximidades de um

objeto massivo.

O tempo medido por um relógio passará

mais devagar tanto mais próximo ele esteja

desse objeto.

A Teoria da Relatividade Geral também possui resultados tão surpreendentes quanto os

resultados da Teoria da Relatividade Especial.

Fonte: http://torahtimes.org/articles/ starlight/grav-time-dialation.gif

Buraco Negro de Schwarzschild

O redshift gravitacional é um fenômeno que muda

a frequência de um determinado sinal de luz quando ele

interage com um campo gravitacional intenso,

realizando um aumento da frequência caso a luz esteja

sendo atraída pelo campo gravitacional (desvio para o

azul) ou uma diminuição da frequência caso a luz esteja

tentando escapar do campo gravitacional (desvio para o

vermelho).

Fonte: https://www.ualberta.ca/~pogosyan/ teaching/ASTRO_122/lect20/figure24-07b.jpg

Buraco Negro de Schwarzschild

Esses efeitos são mais significativos

tanto mais próximo da região do horizonte

de eventos, pois tanto a dilatação

gravitacional do tempo quanto o redshift

gravitacional aumentam rapidamente.

Imaginem um observador caindo de pé

num buraco negro. Ele carrega consigo um

relógio.

Fonte: https://www.ualberta.ca/~pogosyan/ teaching/ASTRO_122/lect20/figure24-07b.jpg

Buraco Negro de Schwarzschild

A medida que o observador se aproxima do horizonte

de eventos, você o observa cada vez mais vermelho e o seu

relógio cada vez mais lento, até o momento em que ele

atinge a região de horizonte de eventos, onde a imagem

dele literalmente “congela”.

Para esse observador, nada de especial acontece

quando ele atravessa o horizonte de eventos, ele apenas

perceberá os efeitos de maré ficando cada vez mais fortes

conforme ele se aproxima da singularidade central, onde ele

encontrará o seu próprio fim.

Buraco Negro de Schwarzschild

Uma observação: durante a queda esse

observador será alongado verticalmente (na

direção da queda) e comprimido horizontalmente

(na direção ortogonal a queda) graças às forças de

maré como se fosse um espaguete, fenômeno

chamado de espaguetificação.

Efeito maré o força de maré ocorre quando a

aceleração gravitacional não é constante sobre todo o

diâmetro do corpo.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Espaguetifica%C3%A7%C3%A3o

Buraco Negro de Schwarzschild

Em relação à singularidade real no “centro” do buraco negro, não é possível

removê-la realizando uma transformação de coordenadas.

E não temos acesso a essa região pois ela está “escondida” atrás do horizonte de

eventos.

Todo objeto que atravessa o horizonte de eventos atinge a singularidade num

tempo finito.

Calcula-se que nessa região, a curvatura do espaço-tempo é infinita e os materiais

que a atingem são destruídos devido às extremas forças de maré, e por isso alguns

pesquisadores da área de relatividade a chamam de o fim do espaço-tempo.

Buraco Negro

É bom reforçar que falar de buracos negros, muitas vezes, é falar de

soluções matemáticas de buracos negros.

Até agora nos preocupamos em descrever a solução mais simples de

buracos negros.

Mas há como observá-los experimentalmente? Eles já foram observados?

Binárias com Buracos Negros

Como não conseguimos visualizá-los, podemos detectá-los por meio de sistemas

binários semelhantes aos com anãs brancas ou estrelas de nêutrons.

Podemos calcular a presença desses objetos por meio dos efeitos gravitacionais

causados no outro componente do sistema binário, como no caso do buraco negro

Cygnus X-1, um buraco negro com cerca de 14,8 massas solares, orbitado por uma

supergigante azul (denominada HDE 226868) com cerca de 19,2 massas solares.

A órbita tem cerca de 0,2 UA e período orbital de 5,599829 dias.

Binárias com Buracos Negros

Impressão artística do sistema

binário formado pela HDE 226868 e o

buraco negro chamado Cygnus X-1.

Fonte: http://www.constellation- guide.com/cygnusx-1/

Binárias com Buracos Negros

Buraco negro Cygnus X-1 localizado a cerca de 6.070 anos-luz da Terra (ainda na Via

Láctea!). Acredita-se que ele possui cerca de 14,8 massas solares, rotacione 800 vezes por

segundo e não possua carga elétrica.

Parte do gás que escapa da supergigante azul ao seu lado é atraído

gravitacionalmente e forma um disco de acreção ao redor do buraco negro. A liberação de

energia gravitacional por este gás absorvido potencializa a emissão de raios-X do buraco

negro.

Foi descoberto em 1964 e na década seguinte, graças a observações no visível e em

raios-X, foi o primeiro buraco negro identificado.

Binárias com Buracos Negros

Fonte: http://chandra.harvard.edu/photo/2011/cygx1/

Binárias com Buracos Negros

Impressão

artística da

formação de

dois jatos

relativísticos

opostos de raios

gama gerados

pelo

transbordament

o do Lóbulo de

Roche de uma

estrela ao redor

do buraco

negro.

Buracos Negros Supermassivos

Buracos Negros

supermassivos são

encontrados no centro de

galáxias, têm massas que

variam de milhões a bilhões de

massas solares.

Impressão artística de um

BN supermassivo

Buracos Negros Supermassivos Os BNs supermassivos podem ter sido

originados do colapso gravitacional de imensas

nuvens de gás ou de aglomerados de milhões de

estrelas no centro das galáxias, que se formaram

quando o universo era mais jovem e bem mais

denso.

Estimativas atuais, obtidas de observações de

Quasares, indicam que os primeiros BNs

supermassivos se formaram quando o Universo

tinha menos do que 1 bilhão de anos de idade (a

idade atual do Universo é de cerca de 13,7 bilhões

de anos). Órbita da estrela S0-2 próxima ao BN supermassivo S0-102

Buracos Negros Supermassivos

A acreção de matéria ao BN

supermassivo no centro das galáxias

produz fenômenos de "feedback",

como por exemplo emissão de

radiação e jatos relativísticos a

partir do disco de acreção, como

ilustrado na figura ao lado para a

galáxia ativa Centaurus A.

Imagem composta da galáxia ativa

Centaurus A, formada por imagens: em

raios-X, no óptico e em rádio.

Buracos Negros Primordiais

Preditos teoricamente, esses buracos negros podem ter se formado nos primórdios do

universo quando, devido a um ambiente favorável com pressões e temperaturas

extremamente altas, flutuações na densidade da matéria teriam dando origem a regiões de

densidades extremas, onde esses buracos negros poderiam ter se formado.

É possível que devido à expansão do universo essas regiões tenham se dispersado, mas

algumas podem ter se mantido estáveis dando origem a buracos negros que duram até hoje.

Esse tipo de buraco negro poderia ter qualquer massa. Assim, podem ter surgido o que

os pesquisadores chamam de mini buracos negros, que teriam tamanhos micrométricos.

Também se considera a possibilidade da formação de BNs primordiais maiores, que através

de sua evaporação poderiam também dar origem a mini buracos negros.

Buracos Negros - Quasares

Os Quasares ou Quasi-stellar radio sources são AGN (uma sigla em inglês para

Active Galatic Nuclei, ou núcleo galáctico ativo). Os núcleos destas galáxias emitem

uma energia que não pode ser explicada como sendo gerada unicamente por estrelas.

A energia emitida por um AGN é gerada a partir da transformação da energia

potencial gravitacional da matéria acretada a um BN, através do disco de acreção.

Buracos Negros - Quasares

Os Quasares são os AGNs mais luminosos do Universo. São objetos luminosos em

qualquer comprimento de onda, conferindo-lhes uma distribuição de energia bem

“larga”.

Os Quasares foram detectados primeiramente em ondas de rádios mas quando os

astrônomos procuraram as fontes ópticas correspondentes, viram que essas fontes

tinham aparência estelar

Um dos aspectos mais importantes dos Quasares são seus altos valores de redshift

(1<Z<7), e estão entre os maiores valores de redshift observados, indicando que são

objetos muito distantes.

Buracos Negros - Quasares

A luz vinda de alguns Quasares observada hoje

poderia ser emitida quando o Universo tinha

apenas 0,7 Bilhões de anos.

Imagens de Quasares obtidas pelo telescópio

Hubble.

Curiosidade - Buraco Negro de Kerr

A teoria foi desenvolvida pelo matemático Roy

Patrick Kerr, a partir de uma solução para a teoria da

Relatividade Geral.

A diferença em relação ao BN de Schwarschild é

o fato de apresentar rotação. Como a rotação deve

ser algo comum na matéria que colapsa para formar

um BN, pela conservação de momento angular, é

provável que a maioria dos BNs apresentem rotação.

Esse tipo de BN é caracterizado pela presença de

ergosfera, região que circunda o horizonte de

eventos, em que o espaço é arrastado pela rotação do

Buraco Negro.Fonte: https://i0.wp.com/www.if.ufrgs.br/~thaisa/wp-content/uploads/2016/10/kerrbn.jpg

Curiosidade - Radiação Hawking

Em 1974, Stephen Hawking apresentou uma hipótese que sugere que a radiação

pode escapar de um buraco negro.

Recentemente, e mais de quarenta anos mais tarde, a investigação

recém-publicada afirma ter observado ”radiação Hawking” em laboratório.

Como podemos observar um buraco negro em um laboratório? Ele não iria devorar

todo o laboratório?

Simples: com um buraco negro sônico, um análogo comumente usado.

Curiosidade - Radiação Hawking

Os experimentos foram conduzidos por Jeff Steinhauer do Instituto

Technion-Israel de Tecnologia.

Através de um buraco negro analógico em um “condensado atômico de

Bose-Einstein” – um estado onde os bósons de gás são resfriados perto do zero

absoluto.

Steinhauer foi então capaz de observar fônons (partículas de som) no

horizonte de eventos do buraco negro – e esses fótons se comportaram de acordo

com a teoria de Hawking sugere.

Curiosidade - Radiação Hawking

Radiação Hawking sugere que um par de fótons na borda de um buraco negro iria

se dividir, o fóton negativo seria engolido, e o fóton positivo seria emitido para fora

como radiação (quebrando a tese de que nada consegue escapar do buraco negro).

Isto significa que um buraco negro não ganha massa para sempre, e quando não

tiver mais nada que consumir ( devido a queda da matéria sob sua superfície) por

bilhões de anos ele vai simplesmente evaporar.

Os resultados dos experimentos de Steinhauer são a evidência mais forte de apoio

a radiação Hawking até agora, mas até os físicos poderem medir a radiação Hawking

em um buraco negro real (nada fácil), é como vamos ter que nos contentar.

Curiosidade - Ondas Gravitacionais

Simulação de ondas geradas pela união de Buracos Negros.

Curiosidade - Ondas Gravitacionais

Como mencionado na aula anterior, essa seria a representação da forma como as ondas foram detectadas.

Observe que, com a variação das ondas luminosas recebidas no detector, há variação da interferência entre elas. Este foi o indício das ondas gravitacionais.

Referências

OLIVEIRA, Kepler de; SARAIVA, Maria de Fátima. Astronomia e Astrofísica. 4. ed. São Paulo: Livraria da Física,

2017. 640p. ( livro - http://astro.if.ufrgs.br/ )

RIDPATH, Ian. Astronomia: Guia Ilustrado Zahar. 3. ed. São Paulo: Zahar, 2008. 300p.

Prof. Dr. Pieter Westera, Disciplina: Noções de Astronomia e Cosmologia;

Ensino de astronomia no ABC, aulas anos anteriores;

BERGMANN,Thaisa Storchi; Buraco Negro

Universe Roger A. Freedman and William J. Kaufmann III W. H. Freeman and Company, 2008, Eighth edition

Flat and curved space-times George F. R. Ellis and R. M. Williams Oxford University Press, 2001, Second edition

Gravity – An introduction to Einstein’s general relativity James B. Hartle Addison Wesley, 2003