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Projeto gráfico e edição de arte
Como as Organizaes da Sociedade Civil sustentam suas
atividades - e porque isso fundamental para o Brasil
O dinheirodas ONGs
Como as Organizaes da Sociedade Civil sustentam suas
atividades - e porque isso fundamental para o Brasil
O dinheirodas ONGs
2014
4Como as Organizaes da Sociedade Civil sustentamsuas atividades e porque isso fundamental para o Brasil
O DINHEIRODAS ONGS
SumrioApresentao
Quebrando mitos
Queda dos recursosinternacionais modifi ca organizaes
Prestao de serviosou promoo de direitos?
Descentralizao daspolticas pblicas mudarelaes com o Estado
Empresas brasileiraspreferem projetos prprios
Doao individualtraz recursos e apoio
Sociedade civil brasileiraem busca de novos caminhos
Novo marco regulatriopara as OSCs
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Promover um ambiente cada vez mais favorvel para a atuao das OSCs no Brasil, incidindo no debate social e miditico sobre as organizaes e esclarecendo a populao sobre o papel funda-mental das entidades para a organizao social, o controle das po-lticas pblicas e o fortalecimento da democracia brasileira: esta a misso do Observatrio da Sociedade Civil.
Projeto desenvolvido pela Abong, com apoio da Fundao Ford, o Observatrio nasceu nas discusses da Plataforma por um Novo Marco Regulatrio para as OSCs e pretende atrair novos parceiros na misso de conectar cada vez mais ONGs populao que elas procuram defender. Dar visibilidade aos direitos con-quistados, s tecnologias sociais desenvolvidas e debater os desa-fi os para manter essas atividades mostrar s pessoas as ligaes que j existem entre suas vidas e a ao das OSCs.
A presente reportagem sobre os diferentes modelos de fi nan-ciamento das entidades uma tentativa de colocar mais um tijolo nessa ponte. Esperamos que ela ajude a lanar luzes sobre um dos pontos mais polmicos e distorcidos no debate sobre as organizaes, qualifi cando o debate e aproximando a populao das organizaes.
Boa leitura!
Apresentao
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Quando as Organizaes No-Governamentais entram na pauta de qualquer conversa na socie-dade brasileira, seja no almoo de domingo ou num debate na televiso, uma pergunta sempre vem tona: de onde vem o dinheiro? A dvida ganha ares de acusao quando o tema chega aos
repasses de recursos pblicos, vistos pelo senso comum como a nica (e suspeita) forma de fi nanciamento das ONGs. Mas ser essa a realidade das organizaes da sociedade civil brasileiras?
Pesquisas acadmicas sobre o tema no indicam que essas afi r-maes tenham consistncia. Existem cerca de 300 mil entidades sem fi ns lucrativos segundo a pesquisa Fundaes Privadas e Asso-ciaes Sem Fins Lucrativos no Brasil (Fasfi l), realizada pelo IBGE. Destas, 10 mil receberam recursos por meio de convnios com o go-verno federal, uma fatia bem pequena. Por a se pode saber que no do poder pblico que vem a maior parte dos recursos das ONGs, explica Felix G. Lopes, pesquisador do IPEA e autor do estudo As entidades sem fi ns lucrativos e as polticas pblicas federais: tipo-logia e anlise de convnios e organizaes (2003-2011).
De acordo com a pesquisa, o governo federal dispendeu quase R$ 190 bilhes entre 2003 e 2011 em convnios com outros nveis de governo e com entidades sem fi ns lucrativos. Estas receberam perto de 15% do total de transferncias, num valor de R$ 29 bi-lhes em mais de 36 mil convnios. Em termos oramentrios, a fatia destinada pelo governo federal para entidades sem fi ns lu-crativos categoria que inclui, alm de ONGs, sindicatos, hos-pitais fi lantrpicos, fundaes e institutos de pesquisa, centros culturais etc. sempre foi muito pequena, no chega a 0,5% do oramento, completa. Se levarmos em conta apenas os conv-nios que a pesquisa do IPEA coloca na categoria de desenvolvi-mento e defesa de direitos a que mais se aproxima de descrever
Quebrando mitos
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a atuao das ONGs o volume fi ca ainda menor: foram 4,3 mil convnios celebrados, totalizando R$ 4 bilhes, ou 2,1% do volu-me total de convnios no perodo.
Mas se no vivem de recursos federais, de onde vem o dinheiro que fi nancia as atividades das ONGs? uma questo muito difcil de ser respondida no Brasil, no pela complexidade do dado, mas pela difi culdade de acesso a ele. Uma parte grande dos dados est resguardada por lei na Receita Federal, sob sigilo fi scal, explica Lopes. Essa barreira impede saber com certeza a importncia das demais fontes de recursos das ONGs, como fi nanciamentos inter-nacionais, apoio de empresas e fundaes privadas, doaes in-dividuais e mesmo recursos das esferas estadual e municipal de governo. Dessa forma, fi ca claro que qualquer declarao defi nitiva a respeito do tema preciptada.
Uma das pistas mais consistentes vem da pesquisa TIC - Orga-
De onde vem o
dinheiro?
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nizaes Sem Fins Lucrativos, realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e Comunicao (CETIC, liga-do ao Conselho Gestor da Internet). Divulgado pela primeira vez em 2013 com dados referentes ao ano anterior, o estudo ouviu 3.546 organizaes de todo o pas, incluindo ONGs, sindicatos, igrejas, universidades filantrpicas e outras, para estudar seus hbitos e estratgias de uso de tecnologias da informao. Mas, ainda que no fosse seu objetivo principal, o estudo reuniu dados interessantes sobre financiamento. Segundo ele, 26% das entida-des ouvidas declararam que sua principal fonte de recursos so mensalidades e anuidades pagas por associados; e outros 24% afirmam ser doaes voluntrias. As entidades que declararam ter nas trs esferas de governo seus principais apoiadores somam 24% do total. Considerada apenas a categoria Desenvolvimento e Defesa de Direitos, a mais prxima do campo, o peso do Estado aumenta, mas continua no sendo majoritrio: 26% afirmam ter as mensalidades como principal fonte, 15% doaes voluntrias, 13% citam governos municipais, 12% governos estaduais e 10% o governo federal. Outras fontes citadas foram venda de produtos e servios e doaes de instituies religiosas, empresas e outras organizaes sem fins lucrativos.
O estudo refora a viso de especialistas ao apontar a marca do financiamento das Organizaes da Sociedade Civil brasileiras: a diversidade, que tambm a principal caracterstica da atua-o do setor como ator poltico e sua maior fora como parte da construo da democracia do pas. A participao da socieda-de fundamental, representa uma democratizao das polticas pblicas. A prpria Constituio prev o fortalecimento das or-ganizaes da sociedade civil como um indicador do nvel de or-ganizao da sociedade e, portanto, da qualidade da democracia. fundamental que a sociedade se organize, crie instituies que defendam seus interesses e direitos, explica Anna Peliano, soci-loga e estudiosa das organizaes da sociedade civil.
Para garantir esse cenrio, fundamental pensar em forma-tos de financiamento transparentes para as organizaes, o que constitui um grande desafio. Quando se pensa em financiamen-to, preciso pensar em como diversificar, como fortalecer, como simplificar e como dar transparncia. um pacote, uma equao complicada, define Peliano.
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Historicamente, a sociedade civil brasileira estrutu-rou-se durante o processo de redemocratizao do pas, a partir da luta por direitos polticos e sociais e contra a ditadura militar, que durou de 1964 a 1985. Neste perodo, as OSCs eram fortemente fi -nanciadas pela cooperao internacional, em espe-
cial por organizaes de desenvolvimento e fundaes ligadas a par-tidos da Europa e fundaes independentes da Amrica do Norte. Entre as fontes de recursos nacionais, estavam setores progressistas da Igreja Catlica e alguns empresrios o governo militar, grande adversrio naquele momento, obviamente no repassava recursos.
Queda dos recursos internacionais modi ca organizaes
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Um exemplo de entidade nascida neste contexto a FASE Solidariedade e Educao, uma das maiores ONGs brasileiras de-dicadas promoo e defesa de direitos, com escritrios em seis estados e atuao em reas como direitos humanos, agroecologia, direito cidade e outros. Nascida nos anos 1960, a FASE era ini-cialmente vinculada Confederao Nacional dos Bispos do Bra-sil (CNBB), o que lhe garantiu o apoio de muitas agncias ligadas s igrejas crists ao longo de sua histria. Mais tarde, acessou um espectro bastante diversificado de agncias europeias e da Am-rica do Norte.
A situao, comum a diversas ONGs no perodo, alterou-se ra-pidamente nos ltimos anos, com a mudana no status do Brasil aos olhos da comunidade internacional. Depois dos avanos so-ciais e econmicos registrados a partir dos anos 2000, com queda nos ndices de pobreza e desigualdade por meio de programas governamentais, o pas passou a ser considerado internacional-mente uma nao de renda mdia. Com isso, as agncias inter-nacionais de financiamento passaram a redirecionar seus recur-sos para outros pases, abrindo um buraco no financiamento das ONGs brasileiras. A situao se agravou ainda mais em