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RELATO Report Volume 16 Suplemento 2 Páginas 109-114 2012 ISSN 1415-2177 Revista Brasileira de Ciências da Saúde Abordagem Fisioterapêutica ao Portador de Lúpus Eritematoso Sistêmico: Relato de Caso Physiotherapeutic Approach to Patients with Systemic Lupus Erythematosus: A Case Report THAMYLES CANDEIA ALVES 1 MARIA DE FÁTIMA ALCÂNTARA BARROS 2 ELIANE ARAÚJO DE OLIVEIRA 3 MARIA CLAUDIA GATTO CARDIA 4 NEIDE MARIA GOMES DE LUCENA 5 STENIO MELO LINS DA COSTA 6 ANTONIO GERALDO CIDRÃO DE CARVALHO 2 1 Aluna do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora do Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva – LabFISC do Núcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Fisioterapia e Saúde – NEPEFIS do Centro de Ciências da Saúde (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil. 2 Professora Ph.D. do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva (LabFISC)/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil. 3 Professora Doutora do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisadora do Laboratório de Estudos do Envelhecimento Humano (CCS/UFPB), João Pessoa/PB, Brasil. 4 Professora Mestre do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisadora do Laboratório de Ergonomia e Saúde (LABES)/NEPEFIS, doutoranda da Universidade de Granada (UGR) e membro do grupo CTS-545 (plano Andaluz de investigação – Espanha), João Pessoa/PB, Brasil. 5 Professora Pós-Doutora do Departamento de Fisioterapia da UFPB e pesquisadora LABES/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil. 6 Professor Doutor do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisador do Laboratório de Gestão e Serviços de Saúde (LAGESS)/NEPEFIS, (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil. 7 Professor Ph.D. do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisador Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva (LabFISC)/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil. 1 2 3 4 5 6 7 RESUMO Objetivo: Analisar o efeito do tratamento fisioterapêutico e os seus benefícios na evolução clínica do lúpus eritematoso sistêmico. Material e Métodos: Trata-se de um relato de caso de uma paciente com diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico. A paciente foi atendida nas dependências da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba, no período de agosto a dezembro de 2011, em sessões com duração de aproximadamente uma hora, duas vezes por semana. Resultados: A paciente acompanhada apresentou considerável melhora da amplitude de movimento articular, do edema, da sintomatologia dolorosa e, consequentemente, da qualidade de vida. Conclusão: Os recursos fisioterapêuticos empregados neste relato de caso, como a cinesioterapia geral e respiratória, a TENS, a hidroterapia, a drenagem linfática, os exercícios de coordenação da marcha e do equilíbrio, dentre outros, propiciaram uma evolução favorável do quadro clínico da paciente. DESCRITORES Lúpus. Lúpus eritematoso sistêmico. Fisioterapia. ABSTRACT Objective: To analyze the effect of physiotherapy and its benefits on the clinical outcome of lupus erythematosus. Material and Methods: This is a case report of a patient with systemic lupus erythematosus. The patient was followed at the premises of the Department of Clinical Physiotherapy, Federal University of Paraíba, from August to December 2011, in sessions lasting approximately one hour, twice a week. Results: The patient treated showed considerable improvement in the range of joint movement, edema, pain symptoms, and hence in quality of life. Conclusion: The physiotherapy resources used in this case report, such as general and respiratory kinesiotherapy, TENS, hydrotherapy, lymphatic drainage, gait coordination and balance exercises, among others, provided the patient with a favorable clinical evolution. DESCRIPTORS Lupus. Systemic Lupus Erythematosus. Physiotherapy. http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs DOI:10.4034/RBCS.2012.16.s2.15

Abordagem Fisioterapêutica no paciente com Lupus

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Abordagem Fisioterapêutica no paciente com Lupus Eritematoso sistemico

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RELATO

Report Volume 16 Suplemento 2 Páginas 109-114 2012ISSN 1415-2177

Revista Brasileira de Ciências da Saúde

Abordagem Fisioterapêutica ao Portador deLúpus Eritematoso Sistêmico: Relato de Caso

Physiotherapeutic Approach to Patients with Systemic LupusErythematosus: A Case Report

THAMYLES CANDEIA ALVES1

MARIA DE FÁTIMA ALCÂNTARA BARROS2

ELIANE ARAÚJO DE OLIVEIRA3

MARIA CLAUDIA GATTO CARDIA4

NEIDE MARIA GOMES DE LUCENA5

STENIO MELO LINS DA COSTA6

ANTONIO GERALDO CIDRÃO DE CARVALHO2

1Aluna do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora do Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva –LabFISC do Núcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Fisioterapia e Saúde – NEPEFIS do Centro de Ciências da Saúde (UFPB), JoãoPessoa/PB, Brasil.2Professora Ph.D. do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora Laboratório de Fisioterapia em SaúdeColetiva (LabFISC)/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.3Professora Doutora do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisadora do Laboratório de Estudos do Envelhecimento Humano (CCS/UFPB),João Pessoa/PB, Brasil.4Professora Mestre do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisadora do Laboratório de Ergonomia e Saúde (LABES)/NEPEFIS, doutorandada Universidade de Granada (UGR) e membro do grupo CTS-545 (plano Andaluz de investigação – Espanha), João Pessoa/PB, Brasil.5Professora Pós-Doutora do Departamento de Fisioterapia da UFPB e pesquisadora LABES/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.6Professor Doutor do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisador do Laboratório de Gestão e Serviços de Saúde (LAGESS)/NEPEFIS,(UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.7Professor Ph.D. do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisador Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva (LabFISC)/NEPEFIS(UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.

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RESUMOObjetivo: Analisar o efeito do tratamento fisioterapêutico eos seus benefícios na evolução clínica do lúpus eritematososistêmico. Material e Métodos: Trata-se de um relato de casode uma paciente com diagnóstico de lúpus eritematososistêmico. A paciente foi atendida nas dependências da ClínicaEscola de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba,no período de agosto a dezembro de 2011, em sessões comduração de aproximadamente uma hora, duas vezes porsemana. Resultados: A paciente acompanhada apresentouconsiderável melhora da amplitude de movimento articular,do edema, da sintomatologia dolorosa e, consequentemente,da qualidade de vida. Conclusão: Os recursosfisioterapêuticos empregados neste relato de caso, como acinesioterapia geral e respiratória, a TENS, a hidroterapia, adrenagem linfática, os exercícios de coordenação da marchae do equilíbrio, dentre outros, propiciaram uma evoluçãofavorável do quadro clínico da paciente.

DESCRITORESLúpus. Lúpus eritematoso sistêmico. Fisioterapia.

ABSTRACTObjective: To analyze the effect of physiotherapy and itsbenefits on the clinical outcome of lupus erythematosus.Material and Methods: This is a case report of a patient withsystemic lupus erythematosus. The patient was followed atthe premises of the Department of Clinical Physiotherapy,Federal University of Paraíba, from August to December 2011,in sessions lasting approximately one hour, twice a week.Results: The patient treated showed considerableimprovement in the range of joint movement, edema, painsymptoms, and hence in quality of life. Conclusion: Thephysiotherapy resources used in this case report, such asgeneral and respiratory kinesiotherapy, TENS, hydrotherapy,lymphatic drainage, gait coordination and balance exercises,among others, provided the patient with a favorable clinicalevolution.

DESCRIPTORSLupus. Systemic Lupus Erythematosus. Physiotherapy.

http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs

DOI:10.4034/RBCS.2012.16.s2.15

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O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é umadoença autoimune, multissistêmica,caracterizada por hiperatividade do sistema

imunológico e pela produção de autoanticorpos(PÓVOA, 2010). Em estudos norte-americanos, aproporção de pessoas com LES é de 5,7 a 7,6 casos/100mil habitantes (SANTO ANTONIO, YAZIGI, SATO,2004). No Brasil, existem poucos estudos epidemio-lógicos realizados nesta área, no entanto, de acordocom VILAR, RODRIGUES, SATO (2003) a incidênciaencontrada na Cidade de Natal (RN) foi de 8,7 casos/100 mil habitantes. A doença incide diferentemente entreos sexos, sendo mais frequente nas mulheres jovens emfase reprodutiva, numa proporção de nove a dezmulheres para cada homem (BORBA et al., 2008).

De etiologia não totalmente esclarecida, odesenvolvimento da doença está relacionado a fatoresgenéticos, hormonais, ambientais e estresse psicoló-gico, sendo que este último fator é considerado pelospesquisadores, como importante desencadeador dapatologia e de suas agudizações (BORBA et al., 2008).

O LES pode afetar vários órgãos, sendo que asarticulações, a pele e os rins são os mais comprometidos.Pode atingir ainda o sistema cardíaco, o pulmonar, oneuropsiquiátrico, o gastrointestinal e o hematológico(PÓVOA, 2010). O tratamento deve ser individualizadopara cada paciente, dependendo dos órgãos ou dossistemas comprometidos e da gravidade dos sintomas(BORBA et al., 2008).

Os pacientes que realizam tratamento fisiote-rapêutico associado ao farmacológico, além deorientações sobre medidas preventivas e reabilitadoras,apresentam quadro mais estável da doença, minimizandoos sintomas, diminuindo os riscos de crises e mantendoas funções corporais normais e uma boa qualidade devida.

Em face da pequena representatividade deestudos fisioterapêuticos em portadores de LES e dasdiversas complicações advindas da patologia e de suaevolução, o presente trabalho tem como objetivo relatar

o caso de uma paciente com LES e analisar o efeito dotratamento fisioterapêutico e os seus benefícios naevolução clínica e física da doença.

RELATO DE CASO

Paciente do gênero feminino, com 51 anos deidade, casada, natural do Rio de Janeiro-RJ, compareceuna Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federalda Paraíba (UFPB) com encaminhamento para tratamentofisioterapêutico, tendo como diagnóstico lúpus erite-matoso sistêmico associado com hipertensão arterial ecardiomegalia, queixando-se de dor no quadril, nosjoelhos e nos tornozelos, sendo de maior intensi-dadeno dimidio direito.

Sinais vitais: PA de 150x100 mmHg; FC de 90bpm; FR de 16 rpm, com temperatura corporal aumentada(37°C) e IMC de 32,4, classificado como obesidade grauI, fazendo uso de Reuquinol 400 mg e Losartanapotássica 50 mg.

Exame físico: Paciente com expansibilidadetorácica normal e com padrão respiratório misto, tendoapresentado na ausculta murmúrio vesicular em ambosos hemitórax, sem ruídos adventícios. Na inspeçãoestática, ausência de (Figura 1), pele ressecada epresença de alterações vasculares (Figura 2), pilificaçãodiminuída, cifose torácica, hiperlordose lombar,escápulas abduzidas, ombros em rotação interna, pésplanos e em pronação. À palpação, referiu dor na facemedial dos tornozelos (com maior intensidade notornozelo direito), presença de edema nos joelhos(Figura 3) e nos tornozelos, com o sinal de cacifo positivo(Figura 4). Foi constatada diminuição na amplitude demovimento dos membros inferiores, na força musculardos membros superiores e inferiores, além de alteraçõesna marcha e no equilíbrio corporal.

A avaliação da fadiga muscular e da dor foi reali-zada utilizando-se os instrumentos Fatigue Severity Scale(FSS) e a Escala visual analógica (EVA), respectivamente.

Figura 2. Alteraçõesvasculares

Figura 1. Lesãoeritematosa em asa deborboleta ou vespertílio

Figura 4. Sinal de cacifo positivo

Figura 3. Presençade edema

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Foram utilizados a Escala SLEDAI (Systemic LupusErythematosus Disease Activity Index) e o QuestionárioSF-36 para a avaliação da qualidade de vida.

Os atendimentos fisioterapêuticos foramrealizados na Clínica Escola de Fisioterapia da UFPB,duas vezes por semana, no período de 18/08 a 13/12/2011, totalizando 18 sessões. Utilizou-se a seguinteconduta: turbilhão para membros inferiores com duraçãode 15 minutos (temperatura de 32°C), drenagem linfática

para os membros inferiores – MMII, especialmente paraa articulação dos tornozelos (15 minutos), estimulaçãoelétrica nervosa transcutânea (TENS) (15 minutos),exercícios de alongamento (10 minutos), cinesioterapiarespiratória (10 minutos), cinesioterapia ativa livre eresistida para os segmentos apendiculares superiores einferiores (10 minutos), exercícios de coordenação damarcha e do equilíbrio corporal (10 minutos) e exercíciosgerais de relaxamento (10 minutos).

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DISCUSSÃO

Este relato de caso analisa o efeito do tratamentofisioterapêutico e os seus benefícios em uma portadorade LES, cuja doença é de origem inflamatória crônica dotecido conjuntivo, multissistêmica, de naturezaautoimune. Estudos com portadores de LES sãoescassos no Brasil, cuja população apresenta grandemiscigenação racial e cultural, além de regiões com

diferentes condições climáticas, o que pode influenciarno aparecimento da doença e de suas complicações(NAKASHIMA et al., 2011).

Quanto ao sexo da paciente do estudo, GOMESet al., (2007) relataram que a doença é mais prevalenteno gênero feminino em idade fértil, na proporção de10:1 em relação ao gênero masculino.

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No tocante à amplitude de movimento articular,a paciente apresentou os parâmetros dos membrossuperiores (MMSS) dentro da normalidade. Por outrolado, o comprometimento verificado inicialmente nasarticulações dos MMII foi amenizado ou restabelecidono decorrer da intervenção, como mostra a Tabela 1. Noestudo de VALIM (2006) foi demonstrado que osportadores de LES apresentam limitações para realizarexercícios físicos, em decorrência do acometimento dasarticulações, gerando dor, fadiga e diminuição daamplitude articular.

Pelos dados da perimetria (Tabela 2), constatou-se que o edema nos MMII apresentou uma reduçãoimportante com a terapêutica empregada. De acordo comestudo realizado por OLIVEIRA, CÉSAR (2008) ométodo de drenagem linfática manual diminuiu o volumedos MMII tratados, drenando os líquidos excedentesque banham as células e mantendo o equilíbrio hídricodos espaços intersticiais, a fim de conter o edema emum nível confortável, após a aferição da perimetria.

Os portadores de LES, geralmente, apresentamrigidez matinal, acompanhada de dor e de compro-metimento nos quadris e tornozelos, semelhantementea artrite reumatóide. A estimulação elétrica nervosatranscutânea (TENS) é um recurso fisioterapêuticoamplamente utilizada no controle da dor crônica paraestimular as fibras nervosas que transmitem sinais aoencéfalo. Os impulsos transmitidos de forma transcu-tânea estimulam as fibras A, mielinizadas, transmissorasde informações ascendentes proprioceptivas(TONELLA, ARAÚJO, SILVA, 2006). Os exercícios ativosproporcionam potência muscular, promovendo aumentodo fluxo sanguíneo (hiperemia), conferindo uma maioramplitude de movimento articular. Os nervos periféricosestimulam o funcionamento da transmissão de impulsosnervosos nas placas motoras, proporcionando melhorano equilíbrio, na coordenação dos movimentos e nadiminuição da dor (NOGUEIRA et al., 2009). No casoacompanhado, observou-se que a cinesioterapia e orecurso eletroterapêutico tiveram um impacto positivona evolução da paciente.

Em relação à sintomatologia dolorosa aferida pelaEscala EVA, verificou-se, inicialmente, que a dorreferente ao estado geral e da articulação do tornozelofoi classificada como intensa, enquanto a do quadril e ado joelho foi referida como moderada. Após aintervenção fisioterapêutica, a dor foi avaliada comomoderada para o estado geral e para todas as articulaçõesanalisadas, evidenciando que a sintomatologia dolorosafoi reduzida por meio dos recursos terapêuticosempregados.

No que concerne à fadiga muscular, aferida pelaFatigue Severity Scale, na avaliação inicial, a paciente

atingiu o escore 56, correspondendo a um quadro defadiga grave. No entanto, ao final da intervençãoverificou-se uma melhora considerável do quadro, tendoa fadiga alcançada o escore 44, equivalendo a umafadiga moderada. PERES, TEDDE, LAMARI (2006)realizaram um estudo de revisão bibliográfica sobre afadiga nos portadores de LES. Os autores concluíramque o tratamento fisioterapêutico, por meio dacinesioterapia aeróbica e de técnicas de relaxamento,foi um recurso relevante para os portadores de LES. Poroutro lado, a artrite que acomete os membros inferioresdos pacientes com LES é um fator impeditivo para atolerância ao exercício, ocasionando hipotrofia efraqueza muscular (DALTROY et al., 1995). GOMES(2007) relata que nos usuários com LES existe umatendência à diminuição da atividade física em respostaa dor, acarretando perda de força e de resistênciamuscular, debilitando as articulações e potencializandoa doença.

No que diz respeito à qualidade de vida, osdomínios que expressaram maior diferença na pontuação,entre o início e o final da intervenção fisioterapêutica,foram os aspectos físicos, a sintomatologia dolorosa ea capacidade funcional com diferença de 50, 47 e 30pontos respectivamente. Dentre outras manifestaçõesclínicas, as lesões hiperemiadas e dolorosas na regiãoplantar, a mialgia, o acometimento articular (CARVALHOet al., 2005) podem interferir na qualidade de vida nosperíodos de atividade do LES, como foi observado nesteestudo. NOGUEIRA et al., (2009) verificaram que nocontexto geral, os domínios mensurados pelo SF-36,tiveram um impacto positivo na qualidade de vida desuas pacientes, com a utilização da cinesioterapia.CARVALHO et al., (2005) avaliaram o efeito dosexercícios físicos na qualidade de vida de pacientes comLES e constataram mudanças benéficas na capacidadefuncional, no estado geral de saúde, na vitalidade e nosaspectos social e mental.

A Escala SLEDAI (Systemic LupusErythematosus Disease Activity Index) tem sidoamplamente utilizada em pesquisas científicas e descritacomo instrumento útil e apropriado para avaliação ecomplementação da coleta de dados em pacientes comLES. Em relação à Escala SLEDAI, resultados não expres-sados, a paciente do estudo apresentou pontuação emrelação à cefaleia lúpica, a artrite, a miosite, a alopecia ea síndrome orgânica cerebral, pontuada no subiteminsônia e diminuição da capacidade psicomotora,indicando atividade severa da doença, de acordo com oque recomenda COOK et al., (2000). No decorrer dotratamento verificou-se uma melhora nos escores dapaciente, especialmente para a cefaleia lúpica, os sinaisde inflamação e dor na articulação, a dor e fraqueza

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muscular e o aumento da capacidade psicomotora,indicando uma atividade moderada da doença.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelos resultados deste relato de caso, os recur-sos fisioterapêuticos utilizados, como a cinesioterapiageral e respiratória, a hidroterapia, a TENS, a drenagem

linfática, os exercícios de coordenação e do equilíbrio ereeducação da marcha, dentre outros meios, foram defundamental importância para a manutenção ou aumentoda força muscular e da amplitude de movimento articular,da redução de edemas, do desenvolvimento da marchae da manutenção do equilíbrio, da redução da dor e,consequentemente, da qualidade de vida da pacientedo caso analisado.

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CorrespondênciaProf. Antonio Geraldo Cidrão de CarvalhoAv. Oceano Índico, 26 aptº. 401 – IntermaresCabedelo - Paraíba - Brasil58 310-000E-mail: [email protected]