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ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Ana Patrícia da Silva Fabiana Rodrigues de Sousa Júlio Maia Ferreira dos Santos Resumo: A escola com suas respectivas disciplinas evoluiu e evolui à medida que as mudanças tecnológicas e sociais assim exigem. A Educação Física como parte integrante e ativa do processo escolar também galgou degraus de transformação na tentativa de ser cada vez mais inclusiva. Agora tendo o respaldo da LDB (lei das diretrizes e bases) e PCN (parâmetros curriculares nacionais) a Educação Física escolar deverá ser oferecida de acordo com as necessidades do aluno seja ele deficiente ou não, o que vem alterar de forma sensível e significativa a sua prática. ________________________________________ Introdução A Educação Física escolar carrega consigo marcas de uma história excludente baseada na performance motora, onde os modelos militarista, esportivista e biologista reinaram soberanos até a década de 70. A partir de então a disciplina sofre uma crise de identidade, na busca de romper com o caráter alienante apregoado as aulas, originou-se mudanças profundas que refletiram nas suas abordagens pedagógicas que buscaram atender todas as dimensões do ser humano. Para compreendermos melhor o caminho trilhado pela Educação Física escolar, reconhecendo-a como disciplina capaz de influenciar direta e favoravelmente na formação integral de todos os indivíduos busca-se uma reavaliação das suas abordagens pedagógicas mais utilizadas pelos professores rumo a Educação Física Inclusiva, cidadã, ou seja, uma Educação Física escolar que seja direcionada para todos. A seguir uma breve reflexão a respeito das abordagens mais utilizadas a partir da década de 70. Principais abordagens pedagógicas da educação física escolar A abordagem psicomotora utiliza-se do movimento como um meio, valorizando o processo de aprendizagem e não mais a execução do gesto técnico isolado.Podendo ser considerado um dos primeiros passos do rompimento com o modelo excludente até então predominante. De acordo com Lê Boulch o objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar. ( p.15) A abordagem construtivista-interacionista busca a formação integral do aluno com a inclusão das dimensões afetivas e cognitivas ao movimento humano. Esta abordagem tem influências da psicologia, baseando-se nos trabalhos de Jean Piaget, Lê Boulch e Vygotsky. Sendo seu maior colaborador o professor João Batista Freire e a obra mais representativa desta proposta o livro Educação de corpo inteiro” (1989). A valorização das experiências dos alunos e da sua cultura são os principais aspectos positivos da proposta construtivista. Além de propor métodos alternativos e diretivos, permite assim ao aluno a construção do conhecimento, através da

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ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Ana Patrícia da Silva Fabiana Rodrigues de Sousa Júlio Maia Ferreira dos Santos

Resumo:A escola com suas respectivas disciplinas evoluiu e evolui à medida que as mudanças tecnológicas e sociais assim exigem. A Educação Física como parte integrante e ativa do processo escolar também galgou degraus de transformação na tentativa de ser cada vez mais inclusiva. Agora tendo o respaldo da LDB (lei das diretrizes e bases) e PCN (parâmetros curriculares nacionais) a Educação Física escolar deverá ser oferecida de acordo com as necessidades do aluno seja ele deficiente ou não, o que vem alterar de forma sensível e significativa a sua prática.

________________________________________

Introdução

A Educação Física escolar carrega consigo marcas de uma história excludente baseada na

performance motora, onde os modelos militarista, esportivista e biologista reinaram soberanos até

a década de 70. A partir de então a disciplina sofre uma crise de identidade, na busca de romper

com o caráter alienante apregoado as aulas, originou-se mudanças profundas que refletiram nas

suas abordagens pedagógicas que buscaram atender todas as dimensões do ser humano.

Para compreendermos melhor o caminho trilhado pela Educação Física escolar,

reconhecendo-a como disciplina capaz de influenciar direta e favoravelmente na formação integral

de todos os indivíduos busca-se uma reavaliação das suas abordagens pedagógicas mais

utilizadas pelos professores rumo a Educação Física Inclusiva, cidadã, ou seja, uma Educação

Física escolar que seja direcionada para todos.

A seguir uma breve reflexão a respeito das abordagens mais utilizadas a partir da década de

70.

Principais abordagens pedagógicas da educação física escolar

A abordagem psicomotora utiliza-se do movimento como um meio, valorizando o processo de

aprendizagem e não mais a execução do gesto técnico isolado.Podendo ser considerado um dos

primeiros passos do rompimento com o modelo excludente até então predominante. De acordo

com Lê Boulch o objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar.( p.15)

A abordagem construtivista-interacionista busca a formação integral do aluno com a inclusão

das dimensões afetivas e cognitivas ao movimento humano. Esta abordagem tem influências da

psicologia, baseando-se nos trabalhos de Jean Piaget, Lê Boulch e Vygotsky. Sendo seu maior

colaborador o professor João Batista Freire e a obra mais representativa desta proposta o livro

“Educação de corpo inteiro” (1989). A valorização das experiências dos alunos e da sua cultura são os principais aspectos positivos da proposta construtivista. Além de propor métodos

alternativos e diretivos, permite assim ao aluno a construção do conhecimento, através da

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interação com o meio, dando a eles oportunidades para a resolução de problemas na construção

do seu próprio modelo de movimento.

A abordagem desenvolvimentista é lembrada pela sua fundamentação teórica e

caracterizada pela utilização do movimento como meio e fim da Educação Física escolar. A teoria

desenvolvimentista baseia-se em abordagens associativas da psicologia do desenvolvimento e da

aprendizagem, propondo uma taxionomia para o desenvolvimento motor, ou seja, uma

classificação hierárquica dos movimentos dos seres humanos. Nesta abordagem é defendida a idéia de que o movimento é o principal meio e fim da educação física, não sendo sua função o desenvolvimento das capacidades que auxiliem na alfabetização e o pensamento lógico-matemático, embora isto possa ocorrer como uma conseqüência da prática motora. (DARIDO, 1998).

A abordagem crítico-superadora a educação física escolar é entendida como uma disciplina

que trata pedagogicamente, de um tipo de conhecimento denominado cultura corporal, visando a

aprendizagem da expressão corporal como linguagem. O trabalho mais representativo desta

abordagem é o livro “Metodologia do ensino da Educação Física”, publicado em 1992, escrito por

uma coletânea de autores,

Na abordagem sistêmica a educação física é entendida como um sistema hierárquico aberto, pois sofre influências da sociedade ao mesmo tempo em que a influencia. Tenta garantir a especificidade - considerando o binômio corpo e movimento como meio e fim da educação física escolar - através da delimitação da finalidade da educação física na escola que segundo Betti (1992), citado por Darido é “integrar e introduzir o aluno de 1o e 2o graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (jogo, esporte, dança, ginástica...)” (p.63). Tal abordagem é

influenciada por estudos nas áreas sociologia, filosofia e um pouco, da psicologia. Existem dois

princípios fundamentais advindos desta abordagem, o princípio da não exclusão, onde as atividades propostas não podem excluir ninguém. É uma tentativa de reverter “o quadro histórico da área de seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais, resultantes da valorização exacerbada do desempenho e da eficiência”. (PCN, p.19) e o da diversidade buscando-se validar as diversas possibilidades de aprendizagem, estabelecendo-as com a

consideração das diferentes dimensões: afetivas, cognitivas, motoras e socioculturais dos alunos.

Felizmente, vivemos uma crise de paradigmas. De acordo com Silviano Santin alguns

estudos a respeito de que teorias pedagógicas se dão o ensino da Educação Físico escolar,

direciona-se no seguinte sentido: Alguns professores julgavam que as teorias pedagógicas eram as mesmas que se aplicavam a qualquer ensino escolar; Houve os que julgaram que as teorias pedagógicas eram apenas para o ensino de conteúdos teóricos. (1992)

Hoje também existem professores que repudiam o uso de uma teoria pedagógica que dê

ênfase a Educação Inclusiva. Pois as consideram definitivamente desnecessárias, devido a

conceitos historicamente formados.

Em suma a inserção das abordagens psicomotora, construtivista-interacionista,

desenvolvimentista, crítico superadora e sistêmica na Educação Física escolar, proporciou uma

ampliação da visão da área, tanto no que diz respeito à natureza de seus conteúdos quanto no

que se refere aos pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagem, todas estas abordagens

contribuem para a evolução da Educação Física escolar rumo a educação inclusiva.

Para que isso venha há ocorrer devemos reavaliar e enfatizar outras dimensões do aluno

além da motora, sendo elas psicológicas, sociais, cognitivas, afetivas e políticas deve-se

considerar o aluno como ser humano integral. Nessa perspectiva são englobados objetivos

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educacionais mais amplos, não apenas voltados para a formação do físico, mas com conteúdos

mais diversificados, utilizando-se o principio da inclusão.

A Educação Física escolar galgou degraus de transformação, no entanto, mudanças não são

necessárias se estamos satisfeitos com as abordagens pedagógicas que usamos em nossas

aulas. Mas, se temos outras opções que envolvem escolhas e direcionamento de caminhos, temos

que estar conscientes que não basta apenas a vontade. Serão necessários coragem, ousadia,

criatividade e muito poder de articulação para transformar radicalmente a nossa Educação Física

escolar e conseqüentemente contribuir com as transformações que no mundo se fazem

necessárias e urgentes. Assim estaremos ajudando a formar o cidadão.

Considerações finais

Observa-se que o qualquer que seja o processo de mudança, ele é complicado, pois mudar

exige muito mais que trocar as atividades lecionadas, mudar antes de qualquer coisa exige

atitude. Além disso, mudar não deve ser a prioridade de todos, mas os tempos e os alunos

mudaram e a escola também. Conseqüentemente a Educação Física ganhou muitas pesquisas e

grandes considerações foram feitas para o desenvolver de sua prática. Nota-se também que

existem colegas trabalhando bem com todas as abordagens supracitadas e ainda aqueles que

buscam a cada dia a melhor forma de trabalhar, fazendo “recortes” em várias abordagens e

trabalhando de acordo com o seu grupo de alunos.

A Educação Física Inclusiva é realidade, a LDB em seu artigo 26 no parágrafo 3º diz que a

Educação Física está integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às condições da população escolar. Então como pode a Educação

física partir de um modelo seletivo? A Educação Física escolar hoje busca, em conjunto com todo

sistema escolar, colaborar com a formação do cidadão e não continuar moldando corpos ou

formando atletas. Espero que não tenhamos mais que repetir os conteúdos tradicionais

determinados para o ensino da Educação Física escolar, que até então se preocupa apenas em

“aplicar” sem uma preocupação se estas atividades possam levar a uma reflexão, diálogo e ainda

à contextualização da realidade de cada aluno.

Os autores, Ana Patrícia da Silva, é licenciada em educação física, e mestranda em

Educação/UFRJ, UNIABEU, Ms Fabiana Rodrigues de Sousa, é professora da UNIABEU,

FAMERC, Júlio Maia Ferreira dos Santos é bacharel em educação física e especialista em

Educação Inclusiva, é professor da UCAM e da UNIABEU e membro do Grupo de Pesquisa Lazer

e Minorias Sociais -EEFD/UFRJ.

Bibliografia

ARRIBAS, Teresa Leixá. A educação física de 3 a 8 anos. 7. ed. Porto Alegre: Artemed, 2002.

BRASIL. Lei n. 9.394, 20 dez. 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Ministério da Educação, 1996. 24 p.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física. Brasília: MEC/SEF, 1998.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

DARIDO, Suraya Cristina. Apresentação e análises das principais abordagens da Educação Física Escolar. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, p.58 – 65, 1998.

FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro, Teoria e prática da Educação Física. 4a edição.

Campinas: Scipione, 1994.

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LE BOULCH, educação psicomotora, a psicocinética na idade escolar, 2ª ed. Porto Alegre: Artemed, 1988.

MUNIZ, Neyse Luz, Influências do Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física: Sonho ou realidade? (dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho/

PPGEF, 1996.

SASSAKI, Romeu K. Inclusão - construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA,

1997.

RADESPIEL, Maria. Alfabetização sem segredos: novos tempos: educação física. Contagem:

Iemar, 2000.

TANI, Go et alli, Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: E PU: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

SANTIN, Silvino, Educação Física – Temas Pedagógicos. Porto Alegre: Editora EST/ESEF, 1992.