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APELACAO CIVEL 201151010135165

IV - APELACAO CIVEL5563542011.51.01.013516-5

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N CNJ:0013516-35.2011.4.02.5101RELATOR:DESEMBARGADOR FEDERAL GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMAAPELANTE:MARCONE MANOEL DA SILVAADVOGADO:FABIOLA VIEIRAAPELADO:CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEFADVOGADO:GERSON DE CARVALHO FRAGOZO E OUTROSAPELADO:CONSTRUTORA PATRIMAR LTDA E OUTROSADVOGADO:FABIANO CAMPOS ZETTEL E OUTROSORIGEM:DCIMA VARA FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (201151010135165)RGO ATUAL:GABINETE DO DR. GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA

relatrio1. Trata-se de apelao cvel interposta por Marcone Manoel da Silva contra sentena originria do juzo da 10 vara federal da seo judiciria do Rio de Janeiro (fls. 514/526), proferida nos autos da AO DE OBRIGAO DE FAZER COM REPARAO DE DANOS MORAIS (sic), ajuizada pelo apelante em face da Caixa Econmica Federal (CEF), da Dallas, da Patrimar e da MRV Engenharia, por meio da qual aquele objetiva: 3. Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a declararem o valor do imvel em R$39.000,00, com a incidncia do subsdio oferecido a imveis construdos sob as benesses do PAR, sem mais nus para o Autor; 4. Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a realizar novo contrato de financiamento, considerando o valor j pago, utilizandoas benesses do PAR, para um saldo devedor de R$21.360,62; 5. Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a repararem o Autor no valor de R$62.000,00, a ttulos de danos morais sofridos. (Fl. 10)2. Para tanto, vale esclarecer que a causa de pedir, sobre a qual se fundam as pretenses processuais do autor-apelante, aloca-se sobre os seguintes tpicos: (i) Os Autores receberam uma carta oferecendo o apartamento onde moram, um empreendimento de 2 quartos, sala, cozinha e banheiro, com salo de festas e play.; (ii) Foram ao local onde a corretora Sra. Marta os atendeu. As primeiras tratativas foram em torno da localidade do imvel dentro do condomnio. Os Autores informaram que estavam interessados em um apartamento que no fosse prximo nem do salo de festas, nem doplay, de preferncia no 3 andar.; (iii) A vendedora ofereceu um apartamento no bloco 11, dizendo que no era perto das reas mencionadas. Na ocasio a corretora no mostrou nenhuma planta do empreendimento.; (iv) O valor acordado foi de R$62.000,00, com R$12.639,98com o FGTS, valor j recebidos pelas Rs, e o restante, R$44.360,62, financiado na forma do contrato em anexo.; (v) O Autor ainda pagou R$1.500,00, pela documentao do imvel e mais R$1.500,00 de entrada.; (vi) E mais, em 2008 quando, quando o Autor assinou contrato com a 1 R, foi obrigado a abrir uma conta corrente para o financiamento, deixando o valor da prestao na conta.; (vii) Porm, passando alguns meses observou que o valor no havia sido cobrado pelo fato do Habite-se no ter sido averbado. Pior, quando o Autor tirou um extrato verificou que o valor depositado estava defasado devido a descontos de tarifas de Cesta de Servios feitos sem autorizao.; (ix) Um ano depois da assinatura do contrato, com muita insistncia, O Autor fizer a primeira vistoria e constataram que o bloco 11ficava de frente do que seria o salo de festas e o play ground; (x) E mais, ao entrarem no apartamento, perceberam vrias irregularidades, quais sejam, a porta da sala de ferro tinha furos feitos de forma improvisadas, j que por erro de construo, nem a janela da sala, nem a janela da cozinha tinham basculante.; (xi) O piso, feito de ardsia, estava desnivelado e era de pssima qualidade. O teto no estava embolsado. A cozinha e o banheiro tinham apenas azulejos at a metade das paredes.; (xii) As paredes, que deveriam ser de bloco, na verdade eram de tijolo com gesso, sem isolamento acstico.; (xiii) Depois de algum tempo j morando no local, o Autorpercebeu que o empreendimento tambm tinha vrios problemas.; (xiv) A caixa dagua principal vaza constantemente, razo pela qual a 3 R j foi acionada pelo Condomnio.; (xv) No h play-ground. O que existe uma rea improvisada entre os blocos. O salo de festas, que est registrado como Centro Comunitrio, no passa de uma rea coberta, com pia, e s! Sem paredes laterais, completamente aberta.; (xvi) Agora, dois anos depois da entrega das chaves, E AINDA SEM O HABITE-SE, a 3 R enviou cobranas sem qualquer contato para esclarecimentos.; (xvii) O que se cobra o valor de R$3.000,00, referente Entrada, valor este j devidamente pago pelo Autor.; (xviii) A taxa de obra mensalmente descontada de uma conta do empreendimento sem que o Autor tivesse qualquer conhecimento do assunto.; (xix) Tentando buscar maiores esclarecimentos, o Autor entrou no site da 1 R e verifico que a solicitao do Habite-se havia sido feito para empreendimentos que estivessem de acordo com os ditames da Lei 40/99.; (xx) Ficou ento sabendo que no era o primeiro a reclamar da situao; Ou seja, a 1 R, j tinha conhecimento que o empreendimento, MESMO SENDO PAR, no havia sido vendido desta forma.; (xxi) Para poder ser beneficirios dos benefcios do Programa a famlias dever ter renda mensal de R$1.700,00, nos casos de empreendimentos com especificao tcnica mnima, ou renda mensal at R$2.200,00, para empreendimentos com especificao tcnica mnima, ou renda mensal at R$2.200,00, para empreendimentos com especificao padro.;(xxii) Mas o Autor no se enquadrava no perfil do beneficirio do Programa. Isso significa dizer que o Autor no teria direito adquirir o imvel oferecido. E COMPRADO!; (xxiii) Enquanto isso, o Autor reside em um imvel sem Habite-se, sendo cobrado por uma dvida que ainda no de sua responsabilidade, sem informao clara, abandonado!; (xxiv) O imvel de pssima qualidade. Ainda que no efetivamente imprprio o uso, se revelou em desacordo com as normas regulamentares de fabricao, distribuio, ou apresentao, aqui, na verdade, construo, e tambm inadequado ao fim a que se destina, ou seja, moradia de boa qualidade. E assim sendo devemos trazer a baila o que nos ensina o Pargrafo 6, do art. 18 do CDC.; (xxv) No obstante, o art. 20, caput e seu pargrafo 2, parte final, da Lei Consumerista preleciona que o fornecedor responde pelos vcios que tornem imprprios os servios, que so aqueles que se mostrem inadequados para o fim que dele se esperam ou no atendam s normas regulamentares de prestabilidade, visto que as Empresas Rs indevidamente venderam um produto, o imvel, para quem no o poderia comprar, cobrando um valor acima do permitido.; (xxvi) E esta venda causou um dano patrimonial de R$23.000,00; e (xxvii) por fim, cita a ocorrncia de danos morais, quando, ento, transcreve a obra de Sergio Cavalieri Filho, in Programa de Responsabilidade Civil, 3 Ed., pg. 85 (Fls. 02/09)3. A r. sentena julgou improcedentes os pedidos do autor-apelante, sob os seguintes fundamentos: (i) O autor no fez prova da existncia dos defeitos e vcios apontados na inicial, e o nus lhe cabia, ao menos quanto queles que j levaram o Condomnio a demandar judicialmente contra a r PATRIMAR, segundo dito s fls. 03; a prova de outros defeitos, como a de que a janela da sala e a janela da cozinha no tinham basculante, at por simples fotografias poderia ter sido feita.; (ii) No crvel que o autor no soubesse que estava a adquirir o imvel 303 do Bloco 11 do Condomnio Vivendas das Oliveiras, j que descrito no instrumento do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda (fls. 16, item 02).; (iii) possvel que no tenha sido devidamente informado pela corretora de imveis que o atendeu, mas isso no foi provado sequer mediante oitiva de testemunhas; o autor tambm no juntou qualquer prospecto de propaganda, embora tenha dito haver recebido carta divulgando o empreendimento.; (iv) O instrumento particular de contrato de promessa de compra e venda no assegura ao comprador o financiamento junto CEF, e tampouco o regime de financiamento que a CEF disponibilizaria ao interessado.; (v) O financiamento concedido pela CEF ao autor no foi segundo as normas do Programa de Arrendamento Residencial PAR institudo pela Lei no. 10.188/2001, mas pelo SAC Sistema de Amortizao Crescente.; (vi) O autor pretende que novo contrato de financiamento substitua o que assinou, com o objetivo de beneficiar-se de subsdio no valor de R$ 23.000,00 (vinte e trs mil reais).; (vii) Mas o autor no provou que, de todo modo, teria satisfeito os requisitos da Lei no. 10.188/2001 para que pudesse ingressar no Programa.; (ix) Tambm no foi provada pelo autor alguma deficincia de informao sobre se, em princpio, poderia vir a integrar o rol dos beneficirios do PAR.; (x) A CEF, outrossim, no pode ser obrigada judicialmente a contratar pelo regime tal ou qual; a tanto no pode chegar a substituio de sua vontade pelo Poder Judicirio, sob pena de quebra do princpio da autonomia da vontade e do livre exerccio de sua atividade econmica (art. 170, pargrafo nico da CF/88).; e (xi) Por ltimo, quanto taxa de evoluo da obra, encontra-se descrita no item 4.1.6 OUTRAS Diretamente pelo cliente, mediante depsito em conta destinada ao financiamento do imvel supra citado na Caixa Econmica Federal, importncia esta que dever ser liberada pelo Banco juntamente com a liberao do montante do financiamento obtido em favor da Construtora. (fls. 16).4. O autor-apelante interps o recurso de apelao de fls. 528/538, no qual pede para 1. Reformar integralmente a deciso guerreada, reconhecendo a procedncia do pleito autoral., aduzindo-se, em sntese, as seguintes razes recursais: (i) no item RAZES PARA A REFORMA, sustenta (a) que Inicialmente, cabe ressaltar que no escopo da sentena o douto magistrado dispe que no foi apresentado pelo apelante em inicial prova dos defeitos e vcios constantes no imvel, contudo no deve prosperar posto que o apelante a fim de trazer provas que fulcram suas alegaes juntou inmeras fotos conforme fls. 93/97.; (b) que Em nenhum momento o apelante requer a repetio do indbito na presente demanda, at porque no efetuou qualquer pagamento a Caixa Econmica Federal, uma vez que o Habite-se no foi concedido, sendo condio sine que non para o incio do pagamento do financiamento a expedio do competente Habite-se do empreendimento imobilirio, orientao esta dada pelos agentes da Caixa Econmica ao Apelante.; e (c) que A 1 apelada alega que o demandante no apresentou provas, o que no condiz com a verdade, pois, apesar de requerer a inverso do nus da prova na exordial, o apelante no se fez valer desta benesse assegurada ao consumidor, tendo em vista que apresentou toda a documentao que tinha em seu poder e que demonstra claramente os fatos e fundamentos expostos na exordial. No entanto, a inverso do nus da prova se faz necessria no que concerne a documentos que esto em poder nica e exclusivamente das empresas apeladas.; (ii) no item Dos Vcios de Construo Responsabilidade, sustenta (a) que As apeladas tentam se eximir da culpa, imputado esta a construtora, ocorre que a responsabilidade entre elas solidria, uma vez que a Caixa Econmica Federal, ora 1 apelada, conforme j explanado, gestora do empreendimento, levando a crer que foi quem habilitou as Rs para execuo da obra, no sendo apenas um mero intermedirio como faz crer.; e (b) que resta claro a responsabilidade solidria entre as apeladas que figuram no plo passivo da demanda.; (iii) no item Do Empreendimento PAR (Programa de Arrendamento Residencial), sustenta (a) que A primeira apelada ao tentar excluir sua responsabilidade, afirma que de fato o contrato estabelecido entre as partes referente ao Programa de Arrendamento Residencial, ratificando, dessa forma, as alegaes contidas na pea exordial, merecendo, portanto, que os valores sejam reajustados conforme o pleito autoral.; (b) que Alega que o apelante assinou termos que declaravam ter recebido o imvel em plenas condies. Ocorre Excelncia que o demandante foi jogado dentro do imvel, tendo em vista que forado a aceitar as chaves, apesar de sequer as apeladas terem conseguido a expedio do Habite-se.; (c) que Sabe-se que o sonho de muitos adquirir a casa prpria e o do apelante no diferente. Ficou muito feliz ao receber o seu imvel, no entanto apeladas no agiram de boa-f ao entregar-lhe um imvel totalmente distorcido do que fora anteriormente apresentado.; e (d) que Assim, no merece prosperar a alegao da 1 Apelada de que o imvel viciado fora entregue em plenas condies, at porque, conforme anexado na exordial, existem fotos que comprovam o estado ruim que fora entregue o imvel.; e (iv) no item Do Dano Moral, sustenta (a) que A ocorrncia do dano moral patente. Cabe lembrar que apelante no busca com a presente ao, qualquer forma de enriquecer-se de forma ilcita, muito pelo contrrio, postula, unicamente, as verbas reparatrias que lhe so de direito.; (b) que O imvel que fora entregue ao Apelante muito diferente do prometido no ato da contratao. O imvel apresentava diversas falhas estruturais.; e (c) que Verifica-se, com clareza, nobres Julgadores, que sofreu e vem sofrendo abalo de sua integridade psicolgica, tendo em vista os diversos problemas apresentados no seu imvel, que ao invs de lhe proporcionar alegrais, vem lhe causando uma sensao de vergonha e de desgosto, pois foi enganado no momento da aquisio do imvel.5. Foi recebido o recurso fl. 540.6. Foram apresentadas as contrarrazes, to-somente, pela CEF s fls. 542/545, no obstante as ora apeladas Dallas, Patrimar e MRV Engenharia tenham sido, regularmente, intimadas (fl. 541)7. Por fim, os autos subiram para este Tribunal, quando, ento, foram encaminhados ao Ministrio Pblico Federal (MPF), o qual, oficiando, exarou o parecer de fls. 549/553, no qual opinou pela desnecessidade de sua interveno no feito face inexistncia de interesse pblico a justific-la. o relatrio.

GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMARelator

voto1. Conheo das apelaes, porque presentes os seus requisitos de admissibilidade.2. A controvrsia do presente feito circunda as seguintes questes (i) em verificar se existe (ou no) o direito subjetivo do autor-apelante de, mediante novao objetiva, renegociar o presente contrato de compra e venda, para que o preo do imvel seja fixado no valor de R$39.000,00 (trinta e nove mil reais), bem como para que se admita que o Autor seja beneficiado com as regras do PAR; e (ii) em verificar se houve (ou no) a ocorrncia de dano moral por parte do autor-apelante, averiguando-se a legalidade (ou no) do comportamento das apeladas durante o contrato de compra e venda, desde as tratativas preliminares at a execuo, propriamente dita, da transao imobiliria.3. Inicialmente, cabe registrar que no h agravos retidos a serem analisados.4. No mais, o apelo do autor no merece provimento. Seno, vejamos.5. No caso dos autos, observa-se que o deslinde dos pontos controvertidos passa, to-somente, pela anlise das provas carreadas pelas partes, cabendo usar, como regra de julgamento, a distribuio do nus da prova, nos termos do art. 333 do CPC e, a partir dela, verificar se o autor-apelante cumpriu (ou no) o encargo probatrio de demonstrar, com satisfatoriedade, os fatos constitutivos do direito por ele afirmado em sua petio inicial.6. Inicialmente, quanto s pretenses do autor-apelante no sentido de que 3. Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a declararem o valor do imvel em R$39.000,00, com a incidncia do subsdio oferecido a imveis construdos sob as benesses do PAR, sem mais nus para o Autor; (fl. 10), bem como no sentido de que 4. Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a realizar novo contrato de financiamento, considerando o valor j pago, utilizandoas benesses do PAR, para um saldo devedor de R$21.360,62; (fl. 10), observa-se que no lhe assiste razo.7. Com efeito, no obstante o autor-apelante afirme a ocorrncia de diversos tipos vcios de construo, com a colao das fotos de fls. 93/97, bem como afirme uma suposta violao ao seu direito bsico de consumidor, no que pertine transparncia e veracidade das informaes transmitidas pelas apeladas, certo, por outro turno, que o prprio autor-apelante tambm colaciona provas que demonstram um comportamento imprudente e negligente de sua parte, em especial, considerando-se que se est diante de um contrato de compra e venda de um bem imvel, cujo valor , significativamente, elevado, o que, por bvio, exige maior cautela dos compradores (ainda que na qualidade de consumidores). Em outras palavras, depreende-se, por meio das provas carreadas pelo prprio autor-apelante, que, ainda que tenha ocorrida alguma falha na propaganda do produto (bem imvel) e na propaganda do servio de crdito imobilirio (financiamento para a aquisio do apartamento) por parte das apeladas, certo, por outro turno, que tais falhas poderiam sim ser detectadas pelo autor-apelante, como por qualquer outro consumidor mais atento, quando da realizao do negcio jurdico vertente. Seno, vejamos.Com efeito, tal fato pode ser atestado pelas prprias afirmaes do autor-apelante, quando assevera, em sua petio inicial, que A vendedora ofereceu um apartamento no bloco 11, dizendo que no era perto das reas mencionadas. Na ocasio a corretora no mostrou nenhuma planta do empreendimento. (fl. 02). Ora, o autor-apelante, ao se pautar apenas nas informaes verbais da corretora Sra. Marta, conformou-se com o risco de adquirir um imvel que, na realidade, seria diverso do imvel idealizado por ele, to-somente, com base nos dados que lhe foram repassados pela corretora de imveis Sra. Marta. Nota-se, na mesma direo do juzo a quo, que as informaes verbais, no foram transmitidas por quaisquer das apeladas, mas, apenas, pela corretora Sra. Marta, a qual, na qualidade de vendedora, utilizou-se do que se chama, tecnicamente, de dolus bonnus para conseguir a celebrao da transao imobiliria, com a conseqente comisso que lhe caberia. Por bvio, o consumidor, em um comportamento minimamente diligente, deveria, ao menos, ter procurado as apeladas em busca da planta do empreendimento, mas, assim, no o fez. A propsito, neste ponto, transcrevo as palavras da sentena apelada que, muito bem, analisou tal fato, in verbis:

possvel que no tenha sido devidamente informado pela corretora de imveis que o atendeu, mas isso no foi provado sequer mediante oitiva de testemunhas; o autor tambm no juntou qualquer prospecto de propaganda, embora tenha dito haver recebido carta divulgando o empreendimento.(Fl. 524) Grifos meus

Como se nota, no houve falha das apeladas na propaganda da venda do imvel, tendo existido, em realidade, o depsito de confiana exacerbado, e sem elementos concretamente slidos, por parte do autor-apelante nas informaes da corretora Sra. Marta, confiana esta que, por uma infelicidade e sem qualquer responsabilidade das apeladas que sequer participaram destas tratativas preliminares, acabou por gerar quele a frustrao de o imvel descrito, na planta mental da corretora Sra. Marta, no corresponder ao real imvel edificado, de acordo com a planta ftica deste empreendimento imobilirio. Alis, isso, inclusive, confessado pelo apelante, quando afirma, em sua petio inicial, que Como no tinham razo de dvidas das informaes, moravam de aluguel e a localidade era boa, o negcio foi fechado. (fl. 02)8. Ademais, tambm possvel notar a ausncia de cautela mnima, diante do porte econmico do presente negcio jurdico imobilirio, quando o autor-apelante parece no ter lido, com a devida ateno, nem o CONTRATO PARTICULAR DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA de fls. 16/26, e nem o CONTRATO POR INSTRUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA DE TERRENO E MTUO PARA CONSTRUO DE UNIDADE HABITACIONAL COM FIANA, ALIENAO FIDUCIRIA EM GARANTIA E OUTRAS OBRIGAES PESSOA FSICA RECURSO FGTS COM UTILIZAO DOS RECURSOS DA CONTA VINCULADA DO FGTS DO (S) DEVEDOR (ES) FIDUCIANTE (S) de fls. 27/52. A partir da leitura desses documentos, tal qual atestado pelo juzo a quo, o autor-apelante poderia ter tido cincia, antes da celebrao definitiva do contrato, no apenas do imvel que estava adquirindo, com a indicao de sua localidade e de suas caractersticas, como, em especial, de todas as condies do pagamento, com a indicao clara, dos encargos que teria de suportar (tais como a taxa de obra), e, em especial, da forma de financiamento imobilirio que por ora estaria adquirindo. Aqui, novamente, recorre-se transcrio dos termos da sentena pela correo com que analisou, detidamente, tais provas documentais, assinalando-se que os termos contratuais so sim bastante claros, pelo que, de novo, chega-se concluso de que no houve falha nas informaes do negcio jurdico pelas apeladas, mas, em realidade, houve uma verdadeira negligncia do autor-apelante, quando, indiciariamente, assinala no ter tido a ateno que o alto valor do negcio jurdico lhe exigia, quando da assinatura destes instrumentos particulares. Veja-se, in verbis:

No crvel que o autor no soubesse que estava a adquirir o imvel 303 do Bloco 11 do Condomnio Vivendas das Oliveiras, j que descrito no instrumento do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda (fls. 16, item 02). possvel que no tenha sido devidamente informado pela corretora de imveis que o atendeu, mas isso no foi provado sequer mediante oitiva de testemunhas; o autor tambm no juntou qualquer prospecto de propaganda, embora tenha dito haver recebido carta divulgando o empreendimento.O instrumento particular de contrato de promessa de compra e venda no assegura ao comprador o financiamento junto CEF, e tampouco o regime de financiamento que a CEF disponibilizaria ao interessado.Na verdade, e como se depreende do item 4.1.4 FINANCIAMENTO a responsabilidade pela obteno do financiamento habitacional toda do promitente comprador, em operao realizada junto ao Agente Financeiro, no valor de R$ 57.000,00 (cinqenta e sete mil reais). (fls. 16)A responsabilidade nica e exclusiva do promitente comprador, no sentido de obter o financiamento habitacional junto CEF, tambm demonstrada no subitem referente aos REAJUSTES, quando trata do reajustamento das parcelas at o ms da sua efetiva quitao, seja com recursos diretos do proponente comprador ou na assinatura do contrato de financiamento junto Caixa Econmica Federal. (fls. 17 grifei)Tambm demonstrada pela clusula 4.3 FINANCIAMENTO DO IMVEL (...) Na hiptese de financiamento junto instituio financeira, inclusive mas no se limitando Caixa Econmica Federal, e/ou utilizao de recursos do FGTS, o promitente comprador estar sujeito s condies estipuladas pela referida instituio... (fls. 20 grifei)Igualmente, com o terceiro pargrafo do item 4.3 ...Se o PROMITENTE COMPRADOR no conseguir a liberao dos recursos do FGTS ou da carta de crdito, ou se tiver feito uso dos mesmos para outra finalidade que no a mencionada nesta clusula, ficar obrigado ao pagamento integral da parcela prevista na pgina 1, com eventual reajuste, vista. (...). (grifei)

[...]

Por ltimo, quanto taxa de evoluo da obra, encontra-se descrita no item 4.1.6 OUTRAS Diretamente pelo cliente, mediante depsito em conta destinada ao financiamento do imvel supra citado na Caixa Econmica Federal, importncia esta que dever ser liberada pelo Banco juntamente com a liberao do montante do financiamento obtido em favor da Construtora. (fls. 16).(Fls. 522/526) Grifos meus

9. Feitas estas consideraes, conclui-se que, com base na regra de julgamento da distribuio do nus probatrio (art. 333, inciso I, do CPC), o autor-apelante no se desicumbiu, suficientemente, deste encargo, eis que no conseguiu, a partir das provas documentais antes citadas (fotos de fls. 93/97 e contratos de fls 16/26 e de fls. 27/52), demonstrar a suposta falha das apeladas, quando da transmisso das informaes. Ao contrrio, com base nos instrumentos particulares de contratos de compra e venda (contratos de fls 16/26 e de fls. 27/52), resta provada a propagao inteligvel de todos os dados a respeito da transao imobiliria, seja com relao localizao e s caracterticas do imvel, seja com relao forma de financiamento utilizada para o pagamento do preo acordado entre as partes.10. Da que, diante deste cenrio ftico-prtobatrio, em que o autor no demonstrou o fato constitutivo do direito alegado (suposta leso ao seu direito consumerita por suposta falha nas informaes veiculadas pelas apeladas), ele deve, ento, arcar com as consequencias de no ter se desincubido de seu encargo probatrio (art. 333, inciso I, do CPC), qual seja, a improcedncia de seus pedidos, tendo, por conseguinte, de suportar todas as prestaes contratuais acordadas com as apeladas nos estreitos termos dos instrumentos negociais.11. Por outro giro, e ainda neste ponto, quanto pretenso do autor apelante de que 4. Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a realizar novo contrato de financiamento, considerando o valor j pago, utilizandoas benesses do PAR, para um saldo devedor de R$21.360,62; (fl. 10), observa-se que, uma vez mais, no lhe assiste razo.12. Como bem observado pelo juzo a quo, o autor-apelante busca que o Poder Judicirio substitua a vontade das apeladas para a renegociao do presente contrato de compra e venda, o que no tem o cabimento, seja diante do princpio da autonomia privada existente na seara contratual, seja diante da demonstrao probatria (acima, desenhada) de que o presente negcio jurdico foi avenado, com total legalidade e com total obedincia s regras civis e consumeristas, de forma a afastar qualquer ingerncia deste Poder estatal na presente conveno particular.No h respaldo jurdico para que se aplique as regras do PAR ao presente contrato de compra e venda, eis que, como bem atestado pela sentena, da simplria leitura dos contratos ora carreados a estes autos (contratos de fls 16/26 e de fls. 27/52), detecta-se que O financiamento concedido pela CEF ao autor no foi segundo as normas do Programa de Arrendamento Residencial PAR institudo pela Lei no. 10.188/2001, mas pelo SAC Sistema de Amortizao Crescente. (Fl. 525)13. Soma-se a isso, o fato de que, ainda que o contrato em anlise fosse abarcado pelo PAR (e no o ), o prprio autor-apelante, em sua petio inicial, confessa que no preencheria os requisitos legais necessrios para a sua incluso como beneficirio deste programa habitacional, eis que afirma que Para poder ser beneficirios dos benefcios do Programa a famlias dever ter renda mensal de R$1.700,00, nos casos de empreendimentos com especificao tcnica mnima, ou renda mensal at R$2.200,00, para empreendimentos com especificao tcnica mnima, ou renda mensal at R$2.200,00, para empreendimentos com especificao padro. (Fl. 04), sendo que o Autor no se enquadrava no perfil do beneficirio do Programa. Isso significa dizer que o Autor no teria direito adquirir o imvel oferecido. E COMPRADO! (Fl. 04)14. Desta forma, seja pelas provas documentais (fotos de fls. 93/97 e contratos de fls 16/26 e de fls. 27/52), seja pela prpria confisso do autor-apelante, conclui-se que, quanto a esta pretenso processual, ele, novamente, no cumpriu o nus probatrio de demonstrar o fato constitutivo de seu suposto direito de receber as benesses do PAR, pelo que, aqui, deve, uma vez mais, arcar com a consequencia da improcedncia do seu pedido e, por conseguinte, suportar todas as prestaes contratuais acordadas com as apeladas nos estreitos termos dos instrumentos negociais.Neste ponto, ento, nega-se provimento ao apelo do autor e, novamente, confirmam-se todos os termos da sentena impugnada no sentido de que, in verbis:

O financiamento concedido pela CEF ao autor no foi segundo as normas do Programa de Arrendamento Residencial PAR institudo pela Lei no. 10.188/2001, mas pelo SAC Sistema de Amortizao Crescente.O autor pretende que novo contrato de financiamento substitua o que assinou, com o objetivo de beneficiar-se de subsdio no valor de R$ 23.000,00 (vinte e trs mil reais).Mas o autor no provou que, de todo modo, teria satisfeito os requisitos da Lei no. 10.188/2001 para que pudesse ingressar no Programa.Alm disso, no restou provada a existncia de alguma ilegalidade em relao ao financiamento que lhe foi concedido segundo o regime do SAC Sistema de Amortizao Crescente.Tambm no foi provada pelo autor alguma deficincia de informao sobre se, em princpio, poderia vir a integrar o rol dos beneficirios do PAR.A CEF, outrossim, no pode ser obrigada judicialmente a contratar pelo regime tal ou qual; a tanto no pode chegar a substituio de sua vontade pelo Poder Judicirio, sob pena de quebra do princpio da autonomia da vontade e do livre exerccio de sua atividade econmica (art. 170, pargrafo nico da CF/88).Quanto ao Programa Minha Casa, Minha Vida, como dito pela CEF, foi institudo pela Lei no. 11.977, de 07.07.2009, logo, sequer existia poca da assinatura do contrato de promessa de compra e venda.(Fls. 525/526)

15. Por fim, quanto pretenso do autor-apelante de que Seja julgado procedente o pedido autoral para condenar as Empresas Rs a repararem o Autor no valor de R$62.000,00, a ttulos de danos morais sofridos.,(Fl. 10) verifica-se, novamente, que tambm no lhe assiste razo.16. Conforme todo o quadro argumentativo exposto no corpo deste voto, resta evidenciado que no h qualquer ilegalidade nas condutas das apeladas-rs. Logo, se no h que se falar em qualquer inadimplemento por parte das apeladas, ao longo de toda as fases do contrato ora em anlise, certo, por conseguinte, que no h que se falar em qualquer responsabilidade contratual por parte destas. Aqui, faz-se uma operao lgica: sem ato ilcito contratual por parte das apeladas, no h que se falar em dano em desfavor do apelante, seja dano material, seja dano moral.17. Da que, uma vez que no restaram comprovados, nem a ao comissiva ou omissiva ilcita de quaisquer das rs-apeladas, nem o efetivo dano, e nem o nexo de causalidade entre ambos, mostra-se improcedente a pretenso indenizatria do apelante, pelo que, tambm neste ponto, nego provimento ao recurso e confirmo os termos da sentena.18. Ante o exposto e com base em toda a fundamentao acima expendida, nego provimento apelao, mantendo a sentena na ntegra. como voto.

GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMARelator

ementa

APELAO. DIREITO CIVIL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMVEL. SUPOSTA ILEGALIDADE CONTRATUAL. DESCUMPRIMENTO DO DIREITO BSICO DO CONSUMIDOR QUANTO S INFORMAES DO NEGCIO JURDICO. VCIOS DE CONSTRUO. DANOS MORAIS. PRETENSO DE NOVAO OBJETIVA. PAR. AUTOR NO SE DESINCUMBIU DO SEU NUS PROBATRIO. IMPROCEDNCIA DOS PEDIDOS. IMPROVIMENTO DA APELAO.1. Na origem, cuida-se de ao de obrigao de fazer com reparao por danos morais (sic) ajuizada pelo apelante em face das apeladas, cujo objeto litgioso circunda o contrato de compra e venda, referente a um apartamento, firmado entre as partes. O autor-apelante, ao argumento de que no recebeu as informaes adequadas, nem sobre as caractersticas do apartamento comprado, nem sobre a forma de financiamento adquirida com a CEF para fins de quitar o preo acordado, pretende a condenao das rs-apeladas a renegociarem o contrato, de forma que se possibilite a utilizao dos subsdios do Programa de Arrendamento Residencial (PAR), bem como a condenao das rs indenizao pelos supostos danos morais sofridos. O juzo a quo proferiu sentena de improcedncia de todos os pedidos do autor-apelante. Contra tal sentena, o autor-apelante interps o presente recurso de apelao, delimitando a controvrsia sobre as seguintes questes: (i) em verificar se existe (ou no) o direito subjetivo do autor-apelante de, mediante novao objetiva, renegociar o presente contrato de compra e venda, para que o preo do imvel seja revisto, bem como para que se admita que se apliquem as regras do PAR; e (ii) em verificar se houve (ou no) a ocorrncia de dano moral por parte do autor-apelante, aferindo-se a legalidade (ou no) do comportamento das apeladas durante o contrato, desde as tratativas preliminares at a execuo, propriamente dita, da transao imobiliria.2. A partir do cenrio ftico-probatrio ora apresentado nestes autos, observa-se que, ainda que tenha ocorrido alguma falha na propaganda do produto (bem imvel) e na propaganda do servio de crdito imobilirio (financiamento para a aquisio do apartamento) por parte das rs-apeladas, certo, por outro turno, que tais falhas poderiam ter sido detectadas pelo autor-apelante, como por qualquer outro consumidor mais atento, quando da realizao do negcio jurdico. 3. Durante as tratativas preliminares, o prprio autor confessa, em sua petio inicial que, sem a mnima cautela, aperfeioou o contrato de compra e venda, to-somente, com as informaes verbais a respeito do imvel transmitidas pela corretora de imveis, no tendo tido, sequer, a prudncia de checar a planta do empreendimento. Ademais, da leitura dos instrumentos particulares dos contratos, observa-se que bastaria ao autor-apelante uma anlise mais atenta (tal qual se espera de qualquer consumidor, quando da celebrao de qualquer negcio jurdico, sobretudo diante de uma transao imobiliria, cujo valor do objeto contratual , significativamente, elevado) para que pudesse ter pleno conhecimento, tanto das caractersticas do imvel, como tambm dos encargos, das taxas e da forma de financiamento imobilirio por ora adquiridos. 4. Com base na regra de julgamento da distribuio do nus probatrio (art. 333, inciso I, do CPC), conclui-se que o autor-apelante no se desincumbiu, suficientemente, do encargo de provar o fato constitutivo do seu direito, pelo que deve arcar com a consequencia da improcedncia dos seus pedidos.5. descabida a pretenso do autor-apelante de renegociao da dvida para a reviso do preo e para a aplicao das regras do PAR. O autor-apelante busca, por ora, que o Poder Judicirio substitua a vontade das rs-apeladas para a renegociao do presente contrato de compra e venda, o que se mostra invivel, seja diante do princpio da autonomia privada existente na seara contratual, seja diante da demonstrao probatria de que o presente negcio jurdico foi avenado, com total legalidade e com total obedincia das regras civis e consumeristas, de forma a afastar qualquer ingerncia deste Poder estatal na presente conveno particular. Soma-se a isso, o fato de que o prprio autor-apelante, em sua petio inicial, confessa que no preencheria os requisitos legais necessrios para a sua incluso como beneficirio deste programa habitacional. 6. Por fim, uma vez evidenciado que no houve qualquer ilegalidade no comportamento das rs-apeladas, ao longo de todo o presente contrato, no h qualquer inadimplemento e, por conseguinte, no h qualquer responsabilidade contratual por parte destas. Sem ato ilcito contratual, no h que se falar em dano em desfavor do autor-apelante, seja dano material, seja dano moral, motivo pelo qual o pedido do autor-apelante, neste particular, tambm deve ser julgado improcedente.7. Apelao conhecida e improvida. Sentena mantida.

acrdo

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que so partes as acima indicadas, decide a Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Regio, por unanimidade, negar provimento apelao, na forma do relatrio e voto do Relator constantes dos autos, que passam a integrar o presente julgado.

Rio de Janeiro, 17 / 12 / 2012 (data do julgamento).

GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMARelator