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AVENIDA GUAXENDUBA, 1.490, BAIRRO DE FÁTIMA, SÃO LUÍS/MA – CEP 65.015-560
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“Que o mais simples fosse visto como o mais importante” (Renato Russo)
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO MARANHÃO
DISTRIBUIÇÃO POR PREVENÇÃO
(DEPENDÊNCIA) À 13ª VARA FEDERAL
DESTA SEÇÃO JUDICIÁRIA – Processo n.
Processo n. 20906-13.2014.4.01.3700 – (art.
253, I, CPC), S.M.J..
EMENTA: MORADORES DA ESTIVA,
SÃO LUÍS/MA. OCUPAÇÃO DE FAIXA
DE DOMÍNIO E DE FAIXA NÃO
EDIFICANTE. AÇÕES DEMOLITÓRIAS
PROPOSTAS PELO DNIT. RISCO DE
DESPEJOS FORÇADOS. NECESSIDADE
DE RESOLUÇÃO COLETIVA DA
DEMANDA, COM ATENÇÃO AO
DIREITO À MORADIA ADEQUADA E
AOS PRINCÍPIOS QUE REGEM AS
REMOÇÕES FORÇADAS. PEDIDOS
CAUTELARES E DE ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA.
REQUER-SE A REUNIÃO, NO JUÍZO
PREVENTO, DAS DEZENAS DE AÇÕES
INDIVIDUAIS PROPOSTAS PELO DNIT
SOBRE O MESMO OBJETO (arts. 104 e
105 do CPC), BEM COMO A SUSPENSÃO
DESSAS DEMANDAS.
A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do Defensor Público Federal
ao final signatário, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, atuando na defesa
dos interesses coletivos dos MORADORES DA ESTIVA RESIDENTES ÀS MARGENS DA
BR-135 (PAJ 2012/012-00887 e PAJ 2014/012-01350), vem perante Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 5º, II, da Lei nº. 7.347/85 (com redação dada pela Lei nº. 11.448/07) e no
artigo 4º, VII, da Lei Complementar nº. 80/1994 (com redação dada pela Lei Complementar nº.
132/2009), propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR
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em face da UNIÃO, com endereço na Rua Osvaldo Cruz, 1618, Centro, São Luís/MA; do
ESTADO DO MARANHÃO, com endereço na Avenida Professor Carlos Cunha, s/nº, edifício
Nagib Haickel, 3º andar, Calhau, São Luís/MA; do MUNICÍPIO DE SÃO LUIS, com endereço
na Praça João Lisboa, nº. 66, Centro, São Luís/MA; do DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA E TRANSPORTE – DNIT, com endereço na Rua Jansen Miller, nº. 37,
Centro, São Luís/MA; do INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA
AGRÁRIA – INCRA, com endereço na Av. Santos Dumont, nº 18, Anil, São Luís/MA; e da
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF, com endereço na Av. Guaxenduba, nº 280, Centro,
São Luís/MA, todos a serem citados na pessoa do seu representante legal, com base nos
argumentos fáticos e jurídicos adiante aduzidos.
1) INTRODUÇÃO
Constitui saber jurídico corrente que a ocupação das chamadas faixas de domínio e
faixas não edificantes, áreas marginais das rodovias que cortam o Brasil, sujeitam-se a severas
restrições (v. g., art. 4º, III, Lei 6.766/79; art. 50 da Lei 9.503/97; Decreto Federal 84.398/80).
São áreas que não podem receber moradias, pois, entre outras razões, o
posicionamento de habitações próximo ao espaço de circulação de veículos e caminhões
pesados compromete a segurança dos usuários da via e dos moradores.
As grandes zonas urbanas do Brasil, porém, recebem moradias da população de
baixa renda praticamente “dentro” das vias rodoviárias. São ocupações enormes, precárias e de
longa data, que se incorporaram à paisagem das cidades frente à inércia do Poder Público.
A origem dos assentamentos irregulares no Brasil decorre do contexto
socioeconômico e político do país e da deficiência histórica das políticas de habitação que não
garantem outra opção de moradia à população de baixa renda. Os assentamentos próximos às
rodovias saem da invisibilidade, no entanto, no momento em que se torna necessária a melhoria
das vias de trânsito para abrigar o crescente número de veículos do país. Tal situação tem
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provocado numerosos deslocamentos forçados, no Brasil e no mundo, o que tem atraído atenção
crescente dos órgãos nacionais e internacionais de proteção aos Direitos Humanos, tendo em
vista a sistemática violação de direitos das comunidades vulneráveis atingidas. As remoções, em
sua maioria, demonstram total desinteresse na garantia do direito constitucional à moradia
adequada da população de baixa renda e na solução efetiva de problema social, que após as
remoções é simplesmente transferida para outra localidade.
A presente ação tem como contexto as dezenas de ações demolitórias ajuizadas pelo
DNIT para imediata remoção da comunidade residente às margens BR-135, localidade Estiva.
Seu objetivo é garantir que a população de baixa renda que ali reside tenha seus direitos
respeitados no processo de remoção.
Como objeto secundário da ação, mas também importante, apresenta-se a
necessidade de reservar e regularizar áreas disponíveis no Município de São Luís, para onde as
famílias que hoje ocupam as margens rodoviárias possam ser reassentadas.
Como é sabido, o DNIT é a autarquia federal responsável diretamente pelas vias
rodoviárias, faixa de domínio e faixa não edificante. É parte do Poder Público e, como tal, tem
de participar da busca por soluções da questão de moradia.
A CEF, instituição financeira sob a forma de empresa pública federal, por sua vez, é
responsável pela operacionalização do “Programa Minha Casa, Minha Vida” (PMCMV), gerido
pelo Ministério das Cidades, que, dentre outras finalidades, se destina à construção de imóveis
para famílias que fazem jus a reassentamento, medida que se impõe no presente caso.
O INCRA, autarquia federal, é responsável por manter e gerir o cadastro nacional de
imóveis rurais, administrar as terras públicas e promover sua destinação a assentamentos rurais
ou comunidades tradicionais, podendo eventualmente a comunidade da Estiva ser destinatária
dessas ações, por estar circundada de áreas consideradas rurais.
União, Estado do Maranhão e o Município de São Luís têm obrigação comum em
relação ao Direito de Moradia Digna e Adequada, estando as famílias notificadas nas ações
demolitórias do DNIT, aqui referidas, dentro dos limites do Município de São Luís.
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Nesse caso, sobressai o papel da União (como substituta do extinto DNER e por
meio do Ministério das Cidades e de outros órgãos da administração direta que tenham
ingerência sobre o tema) em conjunto com o município responsável pela área, a quem compete
a implementação da política municipal habitacional.
Registre-se ainda o papel da Superintendência de Patrimônio da União na
administração dos imóveis que podem ser destinados a projetos de habitações de interesse
social, fundamentais para absorver toda a demanda de moradia objeto desta ação.
Ainda em sede de apresentação desta ação coletiva, esclareço que será
fundamentado a seguir o pleito de distribuição por dependência. Logo depois, será discriminado
um resumo geral da situação que referencia a presente ACP. Prossegue-se com a exposição do
direito que os requerentes entendem aplicável ao caso, bem como explanação dos casos
precedentes. Como conclusão, serão formulados, separadamente, os pedidos cautelares e os
pedidos propriamente ditos da ação.
2) SINOPSE FÁTICA PROCESSUAL E DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA
O DNIT ajuizou diversas ações no intuito de proceder com a demolição de
construções supostamente irregulares realizadas na Estiva às margens da BR-135,
individualizando-as em relação a cada morador da localidade, o que culminou em dezenas de
processos individuais relativos à desocupação do local e diversidade de juízos responsáveis pela
apreciação da questão, muito embora as condições pessoais de cada um dos réus guardem
semelhanças e apontem para a urgente necessidade de garantir, através de um estratégico
tratamento coletivo, o direito de moradia das famílias comprovadamente hipossuficientes
residentes às margens da rodovia.
Esclareça-se, desde já, que considerável parte das famílias hipossuficientes
acionadas pelo DNIT, buscou a assistência jurídica da Defensoria Pública da União (ANEXO I
– Documentos relativos a famílias acionadas pelo DNIT e assistidas pela DPU).
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Em reunião realizada no dia 21/7/2014 entre a DPU/MA, engenheiros e a
Procuradoria do DNIT, ante a proximidade do início das audiências designadas nos processos
individuais, decidiu-se por bem requerer, em cada audiência de conciliação, a suspensão dos
feitos individuais a fim de iniciar tratativas extrajudiciais efetivas entre as partes, tendo sido tal
pleito deferido pelas respectivas varas federais responsáveis e determinada a suspensão pelo
prazo de 120 (cento e vinte) dias de cada um dos processos (ANEXO II – Amostra de decisões
de suspensão das ações individuais para resolução da demanda no plano coletivo).
Desde então foi principiada uma aproximação entre o Ofício de Direitos Humanos e
Tutela Coletiva da DPU/MA, por meio do defensor público federal signatário, e o Procurador-
Chefe do DNIT no Maranhão, Dr. Ezequiel Xenofonte, sempre com vistas a, dada a natureza da
demanda e a multiplicidade de ações judicializadas, articular uma forma de resolução no plano
coletivo.
Após algumas reuniões, entendeu-se pela necessidade de remoção das famílias aqui
assistidas com estrita atenção ao direito à Moradia Adequada que possuem, até por ser esta sera
consolidada orientação da Procuradoria Especializada do DNIT em âmbito nacional (ANEXO
III – Pareceres do DNIT sobre a atenção ao direito de moradia na hipótese de remoções
forçadas).
Também foi consenso que uma rápida e eficaz remoção dos assistidos demanda a
aproximação entre diferentes atores estatais, a abarcar os planos federal, estadual e municipal,
no caso, os entes arrolados como réus na presente ação. Tal articulação, porém, dificilmente
poderá ser construída sem uma protagonista intervenção do Poder Judiciário, ou ainda que
possa ser feita à revelia de magistrados, certamente não terá a celeridade e efetividade que o
caso requer. Essa é, Excelência, a razão pela qual optou a DPU em ajuizar a presente ação
coletiva.
De extrema relevância o destaque de que a atuação coletiva principiada com a
presente ACP toma como parâmetro precedente similar ao presente, ocorrido no Estado de
Minas Gerais. No caso, a atuação conjunta da DPU com o MPF, mediante o ajuizamento de
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demanda coletiva harmônica com a presente, está a possibilitar a adequada remoção de centenas
de famílias impactadas com as obras em rodovias federais que cruzam Belo Horizonte/MG e
os municípios da região metropolitana, mais precisamente quanto à construção do Anel
Rodoviário e da reforma da BR-381 na região. Tal caso, porém, será melhor desenvolvido no
Item 5 desta peça vestibular, inclusive com apresentação de documentos.
Decidida a estratégia de atuação para resolução coletiva da lide, com vistas a
identificar o juízo prevento e proceder à distribuição por dependência desta ação (art. 253 do
Código de Processo Civil), procedeu a DPU ao levantamento da primeira ação demolitória
ajuizada pelo DNIT para a localidade Estiva na qual houve citação válida do réu. Chegou-se
então, s.m.j., ao Processo n. 20906-13.2014.4.01.3700, que tramita junto à 13ª Vara Federal
desta Seção Judiciária do Maranhão (ANEXO IV – Extrato processual eletrônico do Processo n.
Processo n. 20906-13.2014.4.01.3700, juízo prevento).
De acordo com o supracitado dispositivo, distribuir-se-ão por dependência as causas
que se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada. Resta configurada a
continência entre as ações demolitórias ajuizadas pelo DNIT e a presente ação civil pública,
uma vez que possuem a mesma causa de pedir, qual seja, a ocupação de faixas de domínio por
particulares, e partes idênticas, sendo o objeto desta ação coletiva, como não poderia deixar de
ser, mais amplo, posto que supera a solução limitada do DNIT de expulsar os moradores da
localidade, propondo a remoção e reassentamento humanizados, de modo a atender os
interesses de todos os envolvidos.
Ademais, como decorrência processual lógica da estratégia de atuação eleita pela
Defensoria, impõe-se “a reunião das ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas
simultaneamente” (art. 104 e 105 do CPC).
Dessa feita, deve-se operar a distribuição por dependência à 13ª Vara Federal desta
Seção Judiciária, na qual tramita o já referido Processo n. 20906-13.2014.4.01.3700, juízo que
primeiro tomou conhecimento das referidas ações demolitórias ajuizadas pelo DNIT.
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Ademais, a proposta de ação civil pública com vistas a garantir a moradia de todas
as famílias necessitadas residentes na Estiva às margens da rodovia se mostra a medida mais
adequada, uma vez que possibilita a reunião da diversidade de demandas dispersas em dezenas
de ações individuais, sendo a base processual coletiva fundamental para o alcance de solução
que atenda tanto aos interesses da Autarquia rodoviária, quanto aos anseios dos ocupantes por
moradias dignas.
3) RESUMO GERAL DA SITUAÇÃO
As margens da BR-135 há décadas vêm sendo intensamente ocupadas pela
população de baixa renda, marcada pelo êxodo rural, na perspectiva de encontrar alternativas
de sobrevivência na cidade e pelo anseio de possuir imóvel próprio. Isso ocorre há mais de
cinquenta anos, antes mesmo da fixação das faixas de domínio, que data de 1966 a 1969.
A princípio tais áreas não poderiam ter sido ocupadas, porém, o fato é que
pessoas as habitam há décadas, lá criaram os seus filhos, desenvolvem atividades lícitas e,
bem ou mal, ocupam um “lugar” na geografia e na rede de relacionamentos sociais da
cidade.
É importante reconhecer que os assentamentos precários no Brasil são fruto de
aspectos históricos, econômicos e políticos e de uma política habitacional ineficiente.
Como pontua Raquel Rolnik, Relatora Especial das Nações Unidas para o Direito à
Moradia Adequada,
A questão de fundo é que ninguém vai morar numa área de risco porque quer ou porque é burro. As pessoas vão morar numa área de risco porque não têm nenhuma opção para a renda que possuem. Estamos falando de trabalhadores cujo rendimento não possibilita a compra ou aluguel de uma moradia num local adequado. E isso se repete em todas as cidades e regiões metropolitanas.1
1 ROLNIK, Raquel. Ninguém vai morar em área de risco porque quer ou porque é burro. Blog da Raquel Rolnik. Disponível em: <http://raquelrolnik.wordpress.com/>, Acesso em out. 2013.
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O contato da DPU com a coletividade em questão se deu a partir de 2012 (PAJ
2012/012-00887), quando foi procurada para acompanhar notificações pelo DNIT de
aproximadamente setenta famílias residentes na localidade Estiva, às margens da BR-135, em
razão da construção de uma ciclovia na localidade.
Em Relatório Social elaborado pela DPU em 10/07/2012 (ANEXO V –
Documentos do PAJ n. 2012/012-00887, incluindo relatório técnico produzido pelo Serviço
Social da DPU/MA em 2012), constatou-se que o local é usado para moradia e trabalho,
incluindo plantação e comércio. Possui eletricidade e água encanada (recebe tratamento
regular da CAEMA e da CEMAR), sendo as casas de taipa, de alvenaria (boa parte antes
era de taipa, mas seus moradores conseguiram galgar um patamar socioeconômico um
pouco melhor depois de anos de trabalho, sendo possível reformá-las, contudo,
continuaram sem condições de morar em outro local da cidade que não ali) ou mesmo “de
tijolo, mas sem reboco”, servindo algumas destas simultaneamente à habitação e ao
comércio (que permite a subsistência), destacando-se nesse quadro o baixo rendimento
familiar que dificulta o acesso a meios dignos de moradia.
Verificou-se ainda que os moradores têm uma vinculação muito forte com o
bairro Estiva, onde é obtido trabalho/renda que possibilita o sustento e acesso aos serviços
públicos essenciais como a escola das crianças e atendimento médico. Restando claro que após
todos esses anos foi consolidado um sentimento de pertencimento, segurança, herança e
tradição da comunidade com a Estiva, sentimento este fortalecido pela falta de controle e
fiscalização da ocupação do solo pelo Poder Público.
Nesse sentido, esta Defensoria Pública oficiou o DNIT questionando as razões do
interesse na desocupação da área e qual a destinação específica da localidade, requerendo a
remessa dos cadastros realizados pelo DNIT em 1986 e 2005 na Estiva, com vistas a avaliar as
benfeitorias promovidas pelos moradores do local para eventual indenização, bem como
solicitando a comprovação das ações concretas tomadas pela autarquia para coibir a ocupação
indevida das faixas de domínio.
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Em resposta (Anexo V, já referido), o DNIT informou que o interesse na
desocupação se deve à necessidade de garantir a segurança dos usuários da rodovia e dos
moradores lindeiros, bem como à sua competência de fiscalização de ocupações irregulares, não
indicando qualquer uso específico da área. Quanto à remessa dos cadastros requeridos,
verificou-se que os documentos encaminhados eram insuficientes para a avaliação das
benfeitorias. Por fim, quanto à comprovação do uso de medidas para coibir as ocupações, o
DNIT se limitou a encaminhar os ofícios enviados para a Polícia Rodoviária Federal e para a
Prefeitura de São Luís nos quais requeria atuação conjunta na fiscalização das rodovias.
Na oportunidade, foi designada Audiência Interna entre a DPU-MA e o DNIT, que
foi realizada em 26/03/2013 e na qual foi firmado o compromisso de atuação conjunta para
melhor resolução do caso.
Na ocasião, a DPU oficiou ainda a Procuradoria Federal Especializada (PFE) do
DNIT, questionando acerca da possibilidade de indenização das benfeitorias realizadas pelos
moradores na Estiva.
Em resposta, foram encaminhados o Parecer nº 00420/2013/FM/PFE/DNIT e o
Memorando PFE/DNIT/Nº 00058/2013 (Anexo III, já referido). O supracitado parecer indica a
impossibilidade de indenização de benfeitorias, contudo, reconhece a exceção do art. 71,
parágrafo único, do Decreto-Lei 9.760/46, que garante indenização aos ocupantes de boa fé,
com cultura efetiva e moradia habitual. Destaca, ainda, o dever da Administração Pública de
coibir tempestivamente ocupações irregulares de faixas de domínio e áreas non aedificandi,
esclarecendo que a desocupação não pode ocorrer em detrimento dos direitos à moradia e ao
trabalho, de modo que os entes públicos responsáveis pelas políticas habitacionais e de
desenvolvimento devem prestar auxílio ao DNIT na proteção desses direitos. Além disso,
ressalta a responsabilidade do DNIT pela execução de programas de realocação e indenização
de benfeitorias quando se tratar de medida imposta pelo IBAMA, salientando no item 28 da
página 6 que:
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É corrente o Órgão Ambiental considerar o deslocamento compulsório da população ocupante de faixas de domínio e áreas non aedificandi um dano decorrente das obras viárias de responsabilidade do DNIT, razão pela qual a este é imputado o dever de mitigar os impactos ambientais, compensando de alguma forma as famílias que perderão sua residência e também seus meios de sobrevivência.
O mesmo Parecer indica, por fim, que só é razoável a realocação e indenização de
ocupantes hipossuficientes.
Uma vez que a manifestação da PFE sinalizava o direito à moradia da comunidade
lindeira e o dever do DNIT, em parceria com os entes públicos responsáveis, de promover a
relocação dos ocupantes hipossuficientes, esta Defensoria Pública continuou a insistir nas
tratativas extrajudiciais. Contudo, foi surpreendida em julho de 2014 com a judicialização de
dezenas de ações demolitórias pelo DNIT contra os ocupantes das margens da BR-135 na
Estiva, ações cujo objetivo é sumariamente expulsar as famílias das faixas de domínio e
áreas não edificantes, o que somente transfere o problema social de lugar.
Após as primeiras citações nas ações demolitórias individuais, o Presidente da União
de Moradores da Estiva, bem como os demais moradores intimados, compareceram à DPU para
pleitear assistência jurídica gratuita nas ações demolitórias já em curso (PAJ n. 2014/012-
01350). Ratificaram a informação de que residem há mais de cinquenta anos no local, que
quando alguns moradores fincaram moradia a rodovia não existia e que, em período anterior,
quando da duplicação da BR-135, o DNIT chegou a destruir plantações das quais os moradores
dependiam para alimentação.
Como aqui já registrado, considerando a similitude das diversas ações demolitórias
ajuizadas individualmente pelo DNIT, a DPU requereu, com a anuência da referida Autarquia, a
suspensão dos feitos individuais a fim de iniciar tratativas extrajudiciais efetivas em âmbito
coletivo, sendo tal pleito deferido pelas respectivas varas federais responsáveis e determinada a
suspensão pelo prazo de 120 dias de todos os processos individuais.
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Entre as tratativas extrajudiciais foi realizada reunião com o Procurador-Chefe do
DNIT no Maranhão, Dr. Ezequiel Xenofonte Junior, no dia 20/08/2014. O diálogo com o DNIT
mostra-se bastante produtivo, haja vista o reconhecimento da responsabilidade da Autarquia em
respeitar os direitos à moradia e ao trabalho dos habitantes das faixas de domínio em condições
de vulnerabilidade socioeconômica, à luz que entendimento já consolidado naquele
Departamento pelos Pareceres n. 00056/2013/FM/PFE/DNIT, n. 00143/2013/FM/PFE/DNIT e
n. 00420/2013/FM/PFE/DNIT (Anexo III, já referido).
Isso porque, Excelência, se por um lado a permanência das famílias nas faixas de
domínio e áreas não edificantes representa um risco à vida e à integridade física dos usuários da
rodovia e aos moradores, por outro, as famílias carentes que habitam as margens da rodovia há
décadas não podem ser sumariamente expulsas da localidade sem uma solução de moradia
digna em outro local que preserve os vínculos sociais construídos.
A solução que respeita o direito à moradia passa necessariamente pela definição de
locais disponíveis para receber tais famílias em São Luís, com uma infraestrutura adequada de
serviços públicos, para os quais as famílias possam ser deslocadas, de preferência em áreas
próximas às localidades onde hoje elas habitam, pois ali já existe um “tecido social” que não
deve ser esgarçado além do necessário.
Assim, considera-se necessária a intervenção do Poder Judiciário, a fim de que uma
futura remoção dos referidos moradores resguarde os valores inerentes ao princípio da
dignidade humana, bem como o direito social à moradia a partir da execução de programas de
reassentamento, entendendo-se, ainda, que a presente ação civil pública proporciona o locus
adequado para que tais soluções sejam possíveis.
4) DO DIREITO
O Direito à Moradia Digna e Adequada está consagrado na nossa Constituição e em
várias normas internacionais de direitos humanos incorporadas ao nosso direito interno.
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Em áreas públicas, concretiza-se principalmente através da concessão de uso
especial para fins de moradia e pela regularização fundiária, e é uma responsabilidade de
Estado; da República Federativa do Brasil; da União, dos Estados federados e dos Municípios
em conjunto.
No presente caso, o direito aqui ventilado não poderá ser concretizado no próprio
local onde as famílias vulneráveis encontram-se assentadas, sendo que, na remoção e
reassentamento dessas famílias, princípios legais e padrões internacionais deverão ser
observados.
4.1) Da Teoria da Aparência de Legalidade
O Poder Público durante décadas não cumpriu com o seu dever de fiscalizar e
empreender esforços na execução de serviços de segurança pública, de modo que foi conivente
com a ocupação das áreas marginais da rodovia e, inclusive, disponibilizou serviços públicos
nas localidades. Todas essas ações perpetuaram nos moradores das faixas de domínio e áreas
non aedificandi a certeza de que suas respectivas casas eram asilos invioláveis.
Emerge assim dos autos a necessidade de se proteger a confiança e boa fé destes
habitantes, eis que caracterizados os requisitos necessários da aplicação da Teoria da Aparência.
Carlos Nelson Konder define os contornos para a incidência de tal tese:
O primeiro requisito é a própria aparência: a existência de uma situação de fato cercada por circunstâncias em virtude das quais se apresente como seguramente de direito. Ou seja, circunstâncias aptas a suscitarem a confiança objetiva na legitimidade jurídica da situação aparente. (...) O segundo requisito refere-se àquele que confiou na aparência. Para a maior parte doutrina, ele deve, de boa-fé, incidir em um erro escusável, possuir uma razoável justificativa para acreditar. (...) O exame da doutrina que trata da teoria da aparência indica ainda um terceiro requisito que, embora não listado, costuma ser implicitamente pressuposto. Seria a existência de algum tipo de omissão por parte do titular efetivo do direito que justificasse a imputabilidade do ônus
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decorrente da conversão da situação aparente em legitimidade jurídica. Vicente Ráo, por exemplo, menciona o titular que, por qualquer circunstância, não utilizou os meios legais que dispunha para evitar a criação da aparência. 2
Tais requisitos restam caracterizados ante a posse mansa e tranquila da localidade
por largo período, sem qualquer manifestação do DNIT, e mesmo com o reconhecimento e até
aval do Poder Público que ali disponibilizou serviços públicos (médico e escolar, por exemplo),
quer dizer, as ocupações sempre foram de conhecimento público e sem oposição dos entes
estatais, mormente porque os equipamentos urbanos lá se faziam presentes. Assim, todas essas
condutas resultaram em um estado de fato de plena confiança acerca da detenção permanente
das moradias irregulares.
Afinal, nos dizeres de Arnaldo Rizzardo “quem dá lugar a uma situação jurídica
enganosa, ainda que sem o deliberado propósito de induzir a erro, não pode pretender que seu
direito prevaleça sobre o direito de quem depositou confiança na aparência” 3
Nesse sentido, alega o DNIT nas ações demolitórias então ajuizadas que a
permanência da comunidade na localidade se deve a mera tolerância e permissão da autarquia.
Ora, Excelência, é razoável esperar que uma “tolerância” de mais de cinquenta anos não gere
uma situação de segurança jurídica quanto à habitação da comunidade local?
Tal alegação, em verdade, importa que a própria Autarquia admite que há muito tem
ciência da situação dos referidos moradores e, no entanto, se manteve inerte, omissa. Contudo
os Pareceres nº 00056/2013/FM/PFE/DNIT, nº 00143/2013/FM/PFE/DNIT e nº
00420/2013/FM/PFE/DNIT da Procuradoria Federal Especializada do DNIT indicam que, ainda
que as faixas de domínio e as áreas não edificantes sejam definidas por lei como bem público, o
que significa, a princípio, que não cabe escusa por desconhecimento da lei, o DNIT tem o
poder-dever de garantir a legalidade na utilização coletiva do bem público de uso comum do 2 KONDER, Carlos Nelson. A proteção pela Aparência como Princípio. MORAES, Maria Celina Bodin de (coord.). Princípios do Direito Civil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 125-126. 3 KONDER, Carlos Nelson. A proteção pela Aparência como Princípio. MORAES, Maria Celina Bodin de (coord.) Princípios do Direito Civil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p.127.
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povo, de modo que sua omissão enseja posterior responsabilidade quanto ao direito à moradia
já consolidado pelo decurso do tempo.
4.2) Do Direito de Moradia como norma internacional incorporada ao direito interno
De acordo com a doutrina de Norberto Bobbio, hoje o grande desafio em matéria
de direitos humanos é sua efetiva defesa:
Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuadamente violados (grifou-se).4
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma dessas solenes declarações que
precisam ser efetivadas. Os valores nela expressos foram aceitos por toda a humanidade,
concretizando-se, portanto, como valores universais, tendo sido o direito de moradia inserido no
seu artigo 25:
Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.
Os importantes pactos internacionais de proteção aos direitos do homem que se
seguiram reafirmaram o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo de se destacar o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, ambos internalizados no ordenamento jurídico brasileiro.
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em inteira
consonância com os direitos já expressos na Declaração, tratou de incorporá-los desta feita sob
4 BOBBIO, Norberto Bobbio. A Era dos Direitos, Campus, 2004, p. 124.
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forma de preceitos obrigatórios e vinculantes (Flávia Piovesan. Direitos Humanos e o Direito
Constitucional Internacional, Saraiva, 2009). Na disposição do seu artigo décimo-primeiro,
assegura-se que:
Art. 11-1. Os estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e para sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados-partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre consentimento (grifou-se).
O Comitê das Nações Unidas para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que
tem o objetivo de monitorar o cumprimento do Pacto, esclarece, em seu Comentário Geral n° 4
de 12/12/1991, que o exercício do direito à moradia deve ser compreendido como o direito de
viver em um lugar com segurança, paz e dignidade, sendo observadas a segurança jurídica da
posse, a disponibilidade de serviços e infra-estrutura (acesso a educação, saúde, lazer,
transporte, energia elétrica, água potável e esgoto, coleta de lixo, sem riscos de
desmoronamento e outras ameaças à vida e à saúde), o custo e localização acessível da moradia,
a habitabilidade e a adequação cultural dos padrões habitacionais.
Logo, não se tem dúvida de que o Estado Brasileiro, frente à ordem jurídica, tanto
interna, quanto externa, está obrigado a assegurar esse mínimo essencial – moradia adequada,
aos seus cidadãos, como condição da efetividade do princípio da dignidade da pessoa humana,
valendo frisar que, conforme o entendimento do Supremo Tribunal Federal, as normas
internacionais de direitos humanos gozam de status superior à legislação infraconstitucional
autóctone.
4.3) Dos fundamentos da proteção do direito à moradia no Brasil
Além de o direito à moradia ser um direito humano protegido em inúmeros
instrumentos internacionais aos quais o Brasil voluntariamente aderiu e se obrigou – Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948 (artigo XXV, item 1); no Pacto Internacional de
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Direitos Sociais, Econômicos e Culturais de 1966, Artigo 11; na Convenção Internacional sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial de 1965, Artigo 5; na Declaração
sobre Raça e Preconceito Racial de 1978, Artigo 9; na Convenção sobre Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher de 1979, Artigo 14; Convenção sobre os Direitos da
Criança de 1989, Artigo 27; na Declaração sobre Assentamentos Humanos de Vancouver de
1976, Seção III e capítulo II(A.3); na Agenda 21 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de
1992, capítulo 7 e na Agenda Habitat de 1996 –, na Constituição Brasileira o direito à moradia
está previsto como um direito social a exigir a ação positiva do Estado por meio da execução de
políticas públicas habitacionais. É obrigação do Estado impedir a regressividade do direito à
moradia e também tomar medidas de promoção e proteção desse direito.
Como concretização dessa obrigação constitucional, uma nova ordem legal urbana
vem sendo construída a partir dos anos 1990, fruto do trabalho de movimentos sociais que
lutam por melhores condições de moradia, saneamento e transportes, de ONGs de direitos
humanos e entidades representativas de categorias profissionais e de trabalhadores.
Essa nova legislação tem por base a Constituição de 1988 que reconheceu o direito à
moradia como um direito fundamental, adotando diretrizes e instrumentos de combate à
exclusão social mediante a efetivação da reforma urbana.
Para fins de proteção do direito à moradia das pessoas que vivem nos assentamentos
precários, a Constituição Federal adotou o usucapião urbano e a concessão especial de uso para
fins de moradia (artigo 183), que foram regulamentados pela lei federal de desenvolvimento
urbano, denominada Estatuto da Cidade, e pela Medida Provisória nº 2.220 de 2001.
É de se lembrar ainda que, no exercício de suas competências constitucionais e
demais atribuições, a União deve observar os fundamentos e objetivos enunciados na
Constituição, dentre eles, um dos mais importantes, inscrito no art. 1º, III, a dignidade da pessoa
humana.
De outro lado, o art. 3º, III, da Constituição da República, estabelece como objetivo
fundamental de Estado a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais. A
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“Que o mais simples fosse visto como o mais importante” (Renato Russo)
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atuação estatal deve ser orientada pelos princípios constitucionais, que são obrigatórios e, ao
lado das normas, integram o sistema jurídico e orientam aplicação do Direito. Os princípios
representam objetivos específicos a serem alcançados e vinculam todos os órgãos do Estado.
Além disso, o Estado deve agir positivamente de forma a garantir o exercício dos direitos
sociais declarados no texto constitucional (art. 6º).
Assim, a atuação da União e também da autarquia DNIT na gestão de seu
patrimônio imobiliário deve se pautar pelos fundamentos e objetivos já mencionados.
Nesse âmbito, um dos princípios que deve orientar a atuação da União e também das
autarquias apresenta especial relevo, o princípio da função social da propriedade (art. 5º, XXIII
e art. 170, III).
Segundo entendimento de Nelson Saule Junior, “quando se fala em função social da
propriedade urbana, esse princípio é norteador, sendo condição de garantia tanto para o
exercício da propriedade urbana privada como pública” (SAULE JÚNIOR, 2004, p. 399).
Esclarece a administrativista Maria Sylvia Di Pietro que “enquanto o princípio da
função social da propriedade privada impõe um dever ao proprietário (e, de certo modo, exige
uma atuação do poder público para garantir o cumprimento do princípio), o princípio da função
social da cidade impõe um dever ao poder público e cria para os cidadãos direito de natureza
coletiva, no sentido de exigir a observância da norma constitucional”. E ressalta,
Não é demais repetir que a destinação pública é inerente à própria natureza jurídica dos bens de uso comum do povo e de uso especial, porque eles estão afetados a fins de interesse público, seja por sua própria natureza, seja por destinação legal. (...) Falar em função significa falar em dever para o poder público: dever de disciplinar a utilização dos bem públicos, de fiscalização dessa utilização, de reprimir as infrações, tudo de modo a garantir que a mesma se faça para fins de interesse geral, ou seja, para garantir uma cidade sustentável (DI PIETRO, 2006, p. 6).
Assim, o simples fato de ser um bem público, orientado obrigatoriamente por uma
finalidade pública, não significa que os imóveis da União cumprem automaticamente uma
função social. Esses bens não são um fim em si mesmo, mas devem servir de meio para a
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consecução de objetivos constitucionais, como instrumentos para a realização de direitos sociais
(art. 6º, CF).
O uso da propriedade de forma a garantir o exercício do direito constitucional à
moradia (art. 6º), assegurando a predominância da posse, é um indicativo de que o bem está
cumprindo sua função social. Nesse sentido, a Constituição estabelece como competência
executiva comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a promoção da
melhoria das condições habitacionais e de programas de construção de moradias (art. 23, IX,
CF).
Localizando-se o patrimônio público imobiliário em área urbana, a sua gestão deve
observar também os princípios constitucionais dirigentes da política urbana. No que tange a
competência legislativa concorrente, cabe à União fixar as normas gerais sobre direito
urbanístico.
No exercício dessa competência, foi promulgado o Estatuto da Cidade (Lei
10.257/01) que estabelece como diretriz geral da política urbana a regularização fundiária e
urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda (art. 2º, XIV).
Apesar de caber ao Poder Público Municipal a execução da política de
desenvolvimento urbano (art. 182, CF), as competências da União na gestão de seu patrimônio
não são afastadas.
A concessão de uso especial para fins de moradia é um instrumento importante na
realização da função social da propriedade pública, na medida em que viabiliza a regularização
fundiária, bem como o exercício do direito constitucional à moradia.
Também entende dessa forma a Profa. Maria Sylvia Zanella Di Pietro quando diz
que:
(...) o instituto da concessão especial de uso para fins de moradia atende a evidente interesse social, na medida em que se insere como instrumento de regularização da posse de milhares de pessoas das classes mais pobres, em regra faveladas, contribuindo para ampliar a função social inerente à propriedade pública. (DI PIETRO, 2002, p. 160).
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4.4) Do dever de defesa e promoção do direito à moradia adequada pelas três esferas de poder
Como já salientado acima, é da competência das três esferas de Poder a garantia
do direito fundamental à moradia ADEQUADA, nos termos do disposto no Artigo 23, IX, da
Constituição da República, verbis:
Art.23. É da competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: IX - promover programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico.
Igualmente, o Estatuto das Cidades, reforça o dever de promoção – pela União,
Estados e Municípios – de programas de construção de moradias e de saneamento básico. Neste
sentido, é a disposição do seu Artigo 3º:
Compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana: I – legislar sobre normas gerais de direito urbanístico; II – legislar sobre normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em relação à política urbana, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional; III – promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; IV – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; V – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social.
4.5) Dos princípios que devem reger as remoções forçadas
A atuação do Poder Público na remoção e reassentamento de famílias vulneráveis é
pautada não somente pela legislação nacional e internacional discutida acima, mas também por
padrões internacionais de respeito aos direitos humanos que devem necessariamente orientar a
relação entre a República Federativa do Brasil e a população que reside no seu território,
especialmente tendo-se em vista que a dignidade da pessoa humana é um princípio fundante do
Estado brasileiro (art. 1º, III, da Constituição).
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O Alto Comissariado para Direitos Humanos da ONU (The Right to adequated
housing (art. 11.1): forced evictions: 20/05/97. CESCR General comment 7,
www.unhrchr.ch/tbs/doc.nsf/(symbol)/CESCR+General+Comment+7, em 05.02.2009)
estabeleceu que "nos casos onde o despejo forçado é considerado justificável, ele deve ser
empreendido em estrita conformidade com as previsões relevantes do direito internacional dos
direitos humanos e de acordo com os princípios gerais de razoabilidade e proporcionalidade"
(item 14, tradução livre), "não devendo ocasionar indivíduos "sem-teto" ou vulneráveis à
violação de outros direitos humanos”, cabendo ao Estado, uma vez comprovada a necessidade
de remoção, “tomar todas as medidas apropriadas, de acordo com o máximo dos recursos
disponíveis, para garantir uma adequada alternativa habitacional, reassentamento ou acesso a
terra produtiva, conforme o caso”( item 16, tradução livre).
No final do século passado, a Comissão de Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas – hoje Conselho de Direitos Humanos – decidiu nomear um Relator Especial
para o Direito à Moradia Adequada que, desde então, vem desenvolvendo uma série de estudos
e recomendações práticas para os países no que diz respeito ao direito de moradia
(www.direitoamoradia.org).
Em 2007, o Relator Especial elaborou o documento intitulado “Princípios Básicos e
Orientações para Remoções e Despejos causados por Projetos de Desenvolvimento” que tem o
mérito de consolidar diversas diretrizes que, de outro modo, seriam de difícil apreensão,
dispersas em inúmeros diplomas normativos, como sói acontecer no ordenamento jurídico
brasileiro.
Resumidamente, esses princípios e orientações são:
1. A comunidade a ser atingida deve ter tempo e condições de participar efetivamente
de todo o processo que, em última análise, pode resultar na sua remoção;
2. Por meio de informações acessíveis, todos tem o direito de saber porque terão de
sair, para onde e quando vão e quando será a mudança;
3. A remoção não pode resultar em pessoas ou comunidades desabrigadas;
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4. Se não for possível retornar para o local de onde as pessoas foram removidas, depois
de concluído ou implementado o projeto, deve ser acordado o local e o modo pelo
qual se dará o reassentamento, incluindo os prazos e as condições que vão reger a
remoção até o definitivo reassentamento;
5. O reassentamento deve ocorrer antes de começar a obra, ser próximo e em condições
iguais ou melhores do que o lugar onde as famílias estavam, não podendo gerar
segregação ou discriminação contra os moradores e sendo acompanhado por
políticas públicas de compensação e reinserção;
6. O Estado deve garantir assistência social e jurídica a todos os afetados;
7. A remoção tem de ser precedida por aviso prévio, proporcionando-se apoio e tempo
suficiente para a mudança, garantindo-se o direito a guarda e transporte de todos os
objetos pessoais e o monitoramento da operação de despejo por representantes do
governo e observadores independentes;
8. Antes, durante e depois da remoção, todos devem ter garantidas boas condições de
acesso a saúde, educação, trabalho, renda e outros, com especial atenção às
necessidades das mulheres e pessoas ou grupos vulneráveis;
9. Antes, durante e depois da remoção, é proibida qualquer forma de violência ou
intimidação ou destruição de bens;
10. Uma indenização justa deve ser paga por todas as perdas (materiais ou não
materiais) sofridas, compensando-se por danos e perda de propriedade, terra ou
moradia, independentemente de as pessoas afetadas terem títulos ou documentação
legal de propriedade.
A Defensoria Pública da União entende que essas orientações constituem
balizamentos fundamentais, de facto et de jure, para o caso que ora é submetido à análise do
Poder Judiciário.
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4.6) Do Direito à Concessão de Uso Especial para fins de moradia, ainda que em outro local
(art. 4º da MP nº 2220/01)
O instituto da Concessão de Uso Especial para fins de moradia remonta sua origem à
Constituição de 1988, fruto da reivindicação histórica dos movimentos de moradia.
Posteriormente, em 2000, o direito à moradia foi incorporado ao texto constitucional através da
EC nº 26, consagrando-o como Direito Fundamental.
Em julho de 2001, com a publicação do Estatuto da Cidade, a concessão de uso
especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso passaram a integrar o rol dos
instrumentos da política urbana (art. 4º, V, letras g e h, da Lei 10.257/2001).
Em setembro de 2001, foi editada a MP 2.220, regulando expressamente a concessão
de uso especial para fins de moradia, um dos corolários naturais do direito à moradia e da
função social da propriedade aplicada aos imóveis públicos.
Mais adiante, a Lei 11.481/07, que alterou o Decreto-Lei nº 271/1967, autorizou a
aplicação do instituto da Concessão de Uso Especial para fins de Moradia, também em face de
imóveis de propriedade da União, dos estados, dos municípios. Trata-se, na verdade, de uma
concessão de direito real de uso.
Os institutos da concessão de uso especial para fins de moradia e da concessão de
direito real de uso inovaram no ordenamento jurídico brasileiro ao se apresentarem como direito
oponível à Administração Pública, por via administrativa ou, em caso de recusa desta, por via
judicial, assegurando à população de baixa renda que vive em áreas públicas ocupadas o
reconhecimento do tempo da posse, resultando necessariamente na obtenção do título do
domínio útil correspondente à área ocupada, tal qual aquela que mora em áreas particulares, que
por determinação constitucional possui o direito à usucapião.
É, portanto, direito do cidadão reivindicar a regularização, mesmo contra a vontade
da Administração, alçado que foi pelo nosso ordenamento como direito subjetivo do cidadão e,
portanto, obrigação do Poder Público.
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Neste passo, e por todos os elementos já expostos, observa-se que os moradores da
Estiva, residentes às margens da BR-135, atendem perfeitamente aos requisitos estabelecidos na
MP 2220/01, fazendo jus ao reconhecimento do direito à concessão de uso especial para fins de
moradia, quais sejam:
1) possuir como seu, por 5 anos anteriores a 30/06/2001 (reconhecimento da sucessão de
posses), ininterruptamente e sem oposição, imóvel público de até 250 metros quadrados,
situado em área urbana;
2) utilizar o imóvel público para sua moradia ou de sua família; e
3) não ser proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou
rural.
A situação de risco de vida ou à saúde dos ocupantes é resolvida através da previsão
do art. 4º da MP 2220/01, que impõe ao Poder Público o dever de garantir ao possuidor o
exercício deste direito em outro local.
Igualmente o art. 5º faculta ainda ao Poder Público assegurar o exercício do direito
em outro local quando se tratar de imóvel de uso comum do povo, situado em via de
comunicação.
Não cabe discussão quanto à existência do direito. O ordenamento jurídico brasileiro
apenas faculta ao Poder Público, na hipótese em que se enquadra o presente processo, de decidir
sobre o local de exercício do direito.
Sobre o tema, não custa transcrever elucidativo entendimento doutrinário:
A concessão de uso especial para fins de moradia está positivada no ordenamento jurídico brasileiro, sendo norma de conduta a todos imposta. É direito subjetivo, posto que o indivíduo pode provocar o estado para fazer valer sua pretensão. É ainda direito real oponível contra todos. Assim, trata-se de instituto inédito que impõe ao Estado dever de regularizar a posse informal da terra. Em determinados locais, como nas encostas e nas áreas de proteção aos ecossistemas, a ocupação pode acarretar riscos à vida e à saúde das pessoas. Nesses casos, o Poder Público deve garantir o exercício do direito em outro local.
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O título da concessão será concedido pela via administrativa ou judicial. Pela via administrativa, a administração pública não poderá ultrapassar o prazo máximo de doze meses. Em ambos o casos, deve ser registrado no Registro Imobiliário.5
A respeito da limitação temporal estabelecida no art. 1º da MP 2.220/01, assim
leciona mesmo o doutrinador:
Uma interpretação condizente com os princípios constitucionais é no sentido de exigir, a exemplo do que ocorre na usucapião especial urbana, apenas cinco anos de posse ininterrupta, sem a necessidade de completar esses cinco anos até 30.06.2001. O limite temporal estabelecido pelo art. 1º da MedProv 2.220/2001 é deveras desarrazoado e não encontra fundamento no ordenamento jurídico estabelecido pela Constituição Federal de 1988. 6
Ante as premissas esposadas, mormente pelo preenchimento dos requisitos
preceituados no art. 1º da MP 2.220/2001, pugna-se, portanto, pelo reconhecimento do direito
subjetivo dos moradores substituídos em usufruir de concessão especial de uso para fins de
moradia em localidade eleita pelo Poder Público, sendo, de preferência, em área contígua
àquela anteriormente objeto de posse dos moradores irregulares, a fim de assegurar-lhes o
direito constitucional à moradia adequada, preservando-se os vínculos sociais consolidados na
região.
Nessa ótica, e como arremate, já decidiu o Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. A autarquia não conseguiu demonstrar a posse anterior e o esbulho, sequer a alegação de domínio foi comprovada, ao contrário, a prova trazida aos autos demonstra a não-identidade da área titulada e da pretensamente esbulhada pelos apelados. Por outro lado, a ocupação reúne centenas de famílias e acha-se consolidada há várias décadas, mesmo que se admitisse a tese da apelante, os apelados fariam jus à concessão de uso especial para fins de moradia, prevista no artigo 183, § 1° da Constituição Federal e recentemente regulamentada pela Medida
5 ALVARENGA, Luiz Carlos. A Concessão de uso especial para fins de moradia como instrumento de regularização fundiária e acesso à moradia In. Revista de Direito Imobiliário. Ano 31, n.65, jul-dez/2008 6 Idem, Ibid.
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Provisória nº 2.220, de 4.9.2001. (TRF4ª; AC 200104010655303, 4ª T; Rel. Des. Federal MARGA INGE BARTH TESSLER, j. 08/09/2008) (grifou-se).
4.7) Do Programa Minha Casa Minha Vida e da Regularização Fundiária de Assentamentos
Precários
O Programa Minha Casa Minha Vida, criado pela Lei 11.977, de julho de 2009,
sem dúvida, representa mais um passo para concretização do direito fundamental à moradia
adequada, em especial em favor de grupos vulneráveis, como é o caso da comunidade formada
pelos autores.
Todavia, por si só, não altera a realidade social da comunidade, caso não haja, de
fato, “boa vontade” dos gestores públicos federais, estaduais e municipais, em dando a ele
efetividade, lançar mão dos instrumentos ali indicados.
Não se pode olvidar, ainda, que a Lei 11.977/2009 reconhece o direito à
regularização fundiária de interesse social, em favor daqueles ocupantes de áreas, há pelo
menos cinco anos, ou ocupantes de imóveis situados em ZEIS, ou de áreas da União, dos
Estados e dos Municípios.
De igual sorte, prevê que respeitadas as diretrizes da política urbana estabelecida na
Lei 10.257/2001, são também diretrizes para a regularização urbana:
I – a ampliação do acesso à terra urbanizada pela população de baixa renda, com prioridade para sua permanência na área ocupada, assegurados o nível adequado de habitabilidade e a melhoria das condições de sustentabilidade urbanística, social e ambiental; II – articulação com as políticas setoriais de habitação, de meio ambiente, de saneamento básico e de mobilidade urbana, nos diferentes níveis de governo e com as iniciativas públicas e privadas, voltadas à integração social e à geração de emprego e renda; III – participação dos interessados em todas as etapas do processo de regularização (grifou-se).
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Portanto, a garantia de moradia adequada em favor dos autores, dado o grau de
vulnerabilidade e periculosidade em que vivem, é MEDIDA PRIORITÁRIA a ser adotada pelo
Estado (União, Estado e Município), nos termos da lei.
Ressalte-se que a coletividade assistida reside em área do Município de São
Luís/MA que pode ser considerada rural, o que viabiliza, em tese, a aplicação do Programa
Nacional de Habitação Rural (PNHR), inserido no PMCMV justamente para assistência a
comunidades com características rurais. Ambos os Programas são executados pela Caixa
Econômica Federal.
4.8) Do Direito à Indenização por Benfeitorias. Art. 71, parágrafo único, do Decreto-Lei nº
9.760/65
Destaca-se que, além da concessão especial de uso para fins de moradia em outra
localidade, os moradores hipossuficientes da Estiva fazem jus ainda a justa indenização pelas
benfeitorias – não é devida indenização aos não hipossuficientes, uma vez que em relação a
estes não há impacto ou ameaça a direitos sociais, bem como os mesmos têm potencial
conhecimento da ilicitude da ocupação.
Não cabe invocar a vedação de indenização por se tratar de ocupação de bens
imóveis da União sem assentimento, topografada no art. 71, Decreto-Lei nº 9.760/1965 (cujo
caput não guarda compatibilidade com a CF/88), como fundamento jurídico para afastar o pleito
em questão, porquanto a hipótese fática em tela é subsumida na exceção do dispositivo
supramencionado, senão vejamos:
Art. 71. O ocupante de imóvel da União sem assentimento desta, poderá ser sumariamente despejado e perderá, sem direito a qualquer indenização, tudo quanto haja incorporado ao solo, ficando ainda sujeito ao disposto nos arts. 513, 515 e 517 do Código Civil. Parágrafo único. Excetuam-se dessa disposição os ocupantes de boa fé, com cultura efetiva e moradia habitual, e os direitos assegurados por este Decreto-lei. (grifou-se).
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Quer dizer, tem-se que quando o ocupante está imbuído de boa-fé, vive
habitualmente na localidade e com modos e comportamentos integrados à mesma, caberá
indenização por todas as benfeitorias.
Nesse sentido, cabe salientar que os já citados pareceres da Procuradoria Federal
Especializada, embora indiquem que a regra é a impossibilidade de indenização de benfeitorias,
reconhecem a referida exceção do art. 71, parágrafo único, do Decreto-Lei 9.760/46, a fim de
minorar os impactos negativos causados pela perda daquele que foi o abrigo dessas pessoas por
mais de décadas.
Conforme já demonstrado, as construções irregulares estão situadas em comunidade
com entornos já consolidados, localidade na qual, durante largo período, não houve qualquer
alerta da vedação de non aedificandi, sendo ofertados ainda vários serviços públicos, restando
caracterizada a boa fé dos ocupantes em questão pela aparente situação de legalidade.
Assim, todos os dados geraram expectativas de que a ocupação era legítima, de
modo que, durante todo esse tempo de moradia, os moradores realizaram investimentos
financeiros para a construção e mantença das residências, o que enseja compensação pelas
perdas decorrentes de um deslocamento forçado.
Ademais, constata-se que os moradores estavam habitualmente integrados na
localidade, tanto que muitos aproveitaram para lograr sua subsistência, cultivando frutas e
hortaliças e construindo pequenos comércios.
5) DOS CASOS PRECEDENTES
Cumpre destacar que o caso em tela representa não apenas uma realidade local, mas
um problema recorrente em âmbito nacional. A verdade é que a iminência constante de
ocupações em áreas públicas e de risco denuncia o déficit brasileiro no que tange à garantia do
direito à moradia, denuncia uma Administração omissa na promoção de políticas habitacionais e
na fiscalização da ocupação do solo.
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Nesse sentido merecem atenção decisões judiciais de outras localidades marcadas
por inusual sensibilidade social, que enfrentam de forma responsável a questão da moradia,
devendo servir como norte para o deslinde do presente caso.
5.1) Ação Civil Pública nº 2008.38.00.011763-9, da 16ª Vara Federal da Seção Judiciária de
Minas Gerais; e Processo nº 56588-88.2012.4.01.3800, da 7ª Vara Federal da Seção Judiciária
de Minas Gerais – Comunidade da Vila da Paz.
Ao longo de décadas, várias vilas populares foram se instalando e se
multiplicando nas margens das rodovias federais que cruzam Belo Horizonte/MG e os
municípios daquela Região Metropolitana, problema que se agravou com as obras do Anel
Rodoviário e da BR-381 na região.
Dentre as regiões impactadas, encontra-se a Vila da Paz, instalada embaixo de
um viaduto com total ausência de saneamento básico; com crianças circulando livremente
em meio a pesado tráfego de veículos; barracos precários e instáveis; muito lixo e entulho
espalhado, gerando condições totalmente insalubres de moradia.
Após décadas de inércia do Poder Público, que fingia ignorar a situação
calamitosa dos habitantes dessa área, o DNIT propôs a ACP nº 2008.38.00.011763-9, com
o propósito de simplesmente expulsar as famílias da Vila da Paz do local onde residiam,
deixando-as ainda mais desamparadas.
Desde então a DPU/MG assumiu a representação processual das famílias
afetadas e, embora não tenha conseguido afastar a procedência da ação, em 02/05/2012,
obteve provimento jurisdicional pelo qual a desocupação e demolição das moradias da
Vila da Paz só poderiam ser feitas após o pagamento de R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais) em indenização para cada uma das famílias presentes no processo (ANEXO VI –
Documentos referentes a ações coletivas da Seção Judiciária de Minas Gerais, relevantes
precedentes ao presente caso).
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O DNIT apresentou apelação que se encontra em análise no Tribunal Regional
Federal da 1ª Região.
Posteriormente, os representantes dos moradores da Vila da Paz apresentaram
“pedido de socorro” em relação a 9 (nove) famílias em situação ainda mais grave de
miserabilidade e vulnerabilidade, posto que o viaduto sob o qual estavam morando
apresentava rachaduras e indícios de um possível abalo na estrutura. Sendo que, além
disso, as encostas de terra sob a via rodoviária estavam pressionando os barracos dessas
famílias, ameaçando soterrá-las, principalmente em razão da proximidade da estação das
chuvas.
Em atendimento a esse pedido, o Serviço Social da DPU/MG deslocou-se até o
local e confirmou a situação de vulnerabilidade de 11 (onze) famílias e a necessidade de
remoção imediata de 8 (oito) delas, dando origem ao Proc. 56588-88.2012.4.01.3800
(atualmente suspenso), distribuído para a 7ª Vara Federal da Seção Judiciária de Minas
Gerais, no qual foi deferida liminar para determinar ao Município de Belo Horizonte a
inclusão das famílias afetadas no auxílio-aluguel e o reembolso por parte do DNIT em
relação às despesas municipais.
Não se mostrando suficiente o supracitado provimento jurisdicional, o juízo da
7ª Vara, movido por destacada sensibilidade social, reforçou a ordem anterior para
determinar que o valor da bolsa-moradia fosse depositado em juízo para ser transferido
diretamente às famílias, tendo designado também uma assistente social para, como perita,
agilizar os trâmites para se encontrar locais que pudessem abrigar as famílias removidas.
5.2) Processo nº 2010.38.00.006424-5, da 18ª Vara Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais
– Comunidade da Vila São José
A Comunidade da Vila São José, situada no cruzamento do Anel Rodoviário de Belo
Horizonte/MA com uma avenida, por sua vez, havia sido atingida por obras municipais que
contaram com a utilização de recursos federais.
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O processo judicial relacionado com a comunidade (2010.38.00.006424-5) foi
extinto sem resolução de mérito por se entender que não era razoável pretender a demolição de
casas e a retirada das pessoas do local sem que lhes fosse oferecida uma alternativa de vida
(Anexo VII, já referido).
Percebendo no DNIT o reconhecimento tácito, ao longo da demanda, de que “o
reassentamento das famílias é medida anterior à demolição das residências”, o Juízo da 18ª
Vara Federal determinou a extinção do processo sem resolução de mérito, por perda
superveniente de objeto.
5.3) Ação Civil Pública nº 57367-09.2013.4.01.3800, da 7ª Vara Federal da Seção Judiciária de
Minas Gerais – Comunidades dos Municípios de Belo Horizonte, Sabará e Santa Luzia
atingidas pelas obras do Anel Rodoviário e da BR-381
Como já referido, várias comunidades de Minas Gerais ocupam as margens das
rodovias federais que cruzam Belo Horizonte e tiverem sua situação agravada com o início das
obras do Anel Rodoviário e da BR-381.
Ocorre que processos individuais ou que envolviam restrito número de autores se
mostraram ineficazes no que tange ao tratamento adequado da situação – no caso da
Comunidade da Vila da Paz, por exemplo, por meio do Processo n. 56588-88.2012.4.01.3800
foi requerida a remoção imediata de oito famílias, contudo, posteriormente foram
identificadas mais dezesseis famílias em situação de vulnerabilidade não abarcadas pela
referida ação, ensejando um tratamento em âmbito coletivo.
Desta feita, a DPU/MG propôs a ACP nº 57367-09.2013.4.01.3800, distribuída por
dependência ao Proc. 56588-88.2012.4.01.3800, requerendo a garantia do direito à moradia
das comunidades dos municípios de Belo Horizonte, Sabará e Santa Luzia atingidas pelas obras
do Anel Rodoviário e da BR-381, solicitando elaboração de diagnóstico e apresentando entre os
pedidos cautelares remoções urgentes e emergenciais (Anexo VII, já referido).
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Foram demandados DNIT, Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais
(DER-MG), União, Estado de Minas Gerais, Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte
(URBEL), Caixa Econômica Federal (CEF) e os Municípios de Belo Horizonte, Sabará e Santa
Luzia.
A ação coletiva protegeu apenas os direitos de pessoas comprovadamente
hipossuficientes, sendo relevantes nesse sentido os critérios definidos pelo próprio DNIT na
“Pesquisa Básica de Vulnerabilidade Socioeconômica” (Anexo VII, já referido) para identificar
os grupos sociais, ocupantes de faixas de domínio e áreas não edificantes, aos quais se destinam
os programas de reassentamento e de indenização de benfeitorias.
A “Pesquisa Básica de Vulnerabilidade Socioeconômica” está prevista na Instrução
de Serviço/DG nº 18 de dezembro de 2013 do DNIT em Minas Gerais, devendo ser realizada,
sempre que possível, por equipe de assistência social devidamente credenciada pelo DNIT.
De acordo com a referida pesquisa, a elucidação da pobreza exige a utilização de
parâmetros que além da renda considerem as condições de acesso a serviços e direitos básicos
(moradia, saneamento básico, abastecimento de água, energia elétrica, saúde, educação,
segurança, transporte público etc.) e a capacidade de contornar riscos, destaca ainda que:
“(...) a vulnerabilidade estrutura-se em torno do entendimento de que os eventos que vulnerabilizam as pessoas não são determinados exclusivamente por aspectos de natureza econômica, mas também por fatores como a fragilização dos vínculos afetivo-relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiência...), ou vinculados à violência, ao território, à representação política etc”. (p. 16)
Em decisão proferida em 25/11/2013 verifica-se a inclusão da demanda em
“Programa de Conciliação para Remoção e Reassentamento humanizados das famílias do Anel
Rodoviário e da BR-381” já em curso na SJMG, com a suspensão do prazo para contestação
durante a tentativa de conciliação.
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Foram reunidos no Programa doze processos que tramitavam na SJMG, entre
reintegrações de posse e ações demolitórias ajuizadas pelo DNIT e ações ordinárias e ACP’s
requerendo o direito à moradia dos ocupantes, tendo sido designado grupo de peritos para
realizar os trabalhos de diagnóstico e planos de remoção nas localidades onde as remoções se
mostravam mais urgentes, enquanto não finalizado o Termo de Cooperação Técnica entre o
DNIT e o TRF-1ª Região para que tais atribuições fossem realizadas pelo Projeto Rondon
Minas.
Foi criado um grupo de trabalho, composto pelos representantes das instituições
envolvidas (DNIT, DPU, MPF, URBEL, AGU, SPU, Rondon Minas, etc), para discutir o
andamento do projeto e prevenir litígios e, em conjunto, propor e discutir soluções capazes de
harmonizar os diversos interesses envolvidos, tendo sido elaborado o “Plano de Trabalho nº
1/2013” para execução de Programa de Conciliação no âmbito da SJMG para Remoção e
Reassentamento humanizados das famílias socioeconomicamente vulneráveis pelas obras de
adequação do Anel Rodoviário de Belo Horizonte e de duplicação da BR-381/MG-Norte, cujas
ações e serviços ficaram sob a gerência do Núcleo de Conciliação da Seção Judiciária de Minas
Gerais (NUCON), sendo o período de execução de janeiro/2014 a janeiro/2019.
A iniciativa do Programa de Conciliação se deu em razão das inúmeras ações
relativas às obras supracitadas que tramitavam na SJMG, sendo que mesmo as que já tinham
sido julgadas (inclusive com trânsito em julgado e ordem de reintegração de posse do DNIT nas
áreas irregularmente ocupadas), não foram capazes de pacificar os diversos conflitos
provocados pelas ocupações irregulares, além das questões relacionadas à sua estrutura e
trânsito, dada a complexidade dos problemas e o grande número de entidades e pessoas
envolvidas.
Em outras palavras, tratou-se de enfrentar não só questões sociais e econômicas, mas
também a prestação jurisdicional efetiva pelo Poder Judiciário.
No Programa foram estabelecidas cinco metas voltadas à estruturação do NUCON,
de modo a conferir-lhe capacidade operacional para execução do programa; ao levantamento de
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informações e cadastramento dos habitantes capaz de identificar e quantificar os atingidos, bem
como obter uma melhor compreensão do perfil e realidade das famílias, que permitisse um
tratamento adequado na desocupação e reassentamento; à prestação de assistência pré, durante e
pós morar, por meio de trabalho comunitário, às famílias beneficiadas; à concessão de abrigo
provisório nos casos de remoções emergenciais; e à divulgação da experiência e capacitação de
multiplicadores.
A partir dos trabalhos do grupo de peritos constatou-se a situação de risco de
algumas famílias, razão pela qual foi deferido em 12/03/2014 o pedido cautelar relativo a
medidas emergenciais e provisórias de remoção e reassentamento de indivíduos e/ou famílias, a
ser realizado em Vila de Passagem, bem como o aluguel social para as situações mais
prementes e que não podiam aguardar a adequação do referido espaço, sendo designado grupo
de peritos para viabilizar a instalação adequada da Vila de Passagem.
A decisão fez menção ainda ao Termo de Cooperação n° 1113/2013 - DNIT/TRF-1
firmado em 27 de dezembro de 2013, no qual têm origem os recursos para execução das ações
do Programa de Conciliação a partir de então.
Em decisão de 10/07/2014 o juízo da 7ª Vara Federal indeferiu o pedido do
Município de Belo Horizonte e da URBEL de encerramento do Programa de Conciliação,
destacando que:
“Apesar da vasta legislação nacional e da ratificação de diversos tratados e acordos de Direitos Humanos por parte do Brasil, o sistema jurídico do nosso pais ainda não atingiu um nível de maturidade e complexidade suficientes. Algumas atividades exercidas por juízes brasileiros ainda são vistas com estranhamento e surpresa, algumas vezes com ressalvas e questionamentos, apesar de terem como objetivo apenas agir de acordo com tais Princípios Básicos de Independência do Judiciário e se esforçam apenas para transformar tais princípios em realidade” (p. 4)
Em razão das dificuldades de execução do Termo de Cooperação n° 1113/2013 -
DNIT/TRF-1, nos autos da ACP foi celebrado Acordo Judicial com os diferentes Entes
envolvidos (MPF, DPU, DNIT e União), no qual o DNIT se comprometeu a arcar com os custos
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“Que o mais simples fosse visto como o mais importante” (Renato Russo)
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relativos à assistência técnica designada pelo juízo para execução dos serviços de mobilização,
cadastro e diagnóstico das comunidades afetadas e elaboração dos respectivos planos de
reassentamento; trabalho comunitário pré, durante e pós-morar; coordenação e
operacionalização do programa de abrigamento provisório mediante o pagamento de aluguel
social ou por meio da estruturação e disponibilização de vilas de passagem; prospecção de áreas
para o reassentamento; e elaboração de projetos de engenharia/arquitetura dos conjuntos
habitacionais, bem como da infraestrutura incidente.
Importante salientar, por fim, que se utilizou como referência para a regularização
fundiária dos assentamentos precários o “Programa Minha Casa, Minha Vida” (PMCMV), com
imediata titulação dos beneficiários.
6) DOS PEDIDOS LIMINARES:
Pela narrativa fática e exposição do direito aplicável ao caso, de fácil percepção ser
cabível liminar que, deferindo medidas cautelares, possam assegurar provisoriamente a proteção
aos direitos assistidos nesta ação coletiva, bem como o levantamento de informações técnicas
necessárias a um futuro provimento jurisdicional eficaz e justo.
Os tópicos acima apresentados justificam, por si só, o cumprimento das exigências
legais para deferimentos das medidas cautelares em sede de decisão liminar, quais sejam
fumaça do bom direito e perigo da demora.
Passa-se, pois, a apresentar cada das medidas liminares aplicáveis ao caso.
6.1) Reunião e suspensão de todos os processos demolitórios na região da Estiva
Necessária também a reunião – em regime de mutirão - e/ou a suspensão de todos os
processos possessórios e demolitórios que ora se encontram distribuídos nesta Seção Judiciária,
evitando-se soluções contraditórias.
Sore o efeito processual, destaco relevantse precedentes:
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RECURSO REPETITIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SUSPENSÃO. AÇÃO INDIVIDUAL. A Seção, ao apreciar REsp submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Res. n. 8/2008-STJ, por maioria, firmou o entendimento de que, ajuizada a ação coletiva atinente à macro lide geradora de processos multitudinários, admite-se a sustação de ações individuais no aguardo do julgamento da ação coletiva. Quanto ao tema de fundo, o Min. Relator explica que se deve manter a suspensão dos processos individuais determinada pelo Tribunal a quo à luz da legislação processual mais recente, principalmente ante a Lei dos Recursos Repetitivos (Lei n. 11.672/2008), sem contradição com a orientação antes adotada por este Superior Tribunal nos termos da legislação anterior, ou seja, que só considerava os dispositivos da Lei da Ação Civil Pública. Observa, ainda, entre outros argumentos, que a faculdade de suspensão nos casos multitudinários abre-se ao juízo em atenção ao interesse público de preservação da efetividade da Justiça, que fica praticamente paralisada por processos individuais multitudinários, contendo a mesma lide. Dessa forma, torna-se válida a determinação de suspensão do processo individual no aguardo do julgamento da macro lide trazida no processo de ação coletiva embora seja assegurado o direito ao ajuizamento individual (REsp 1.110.549-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 28/10/2009. – Informativo nº 413, outubro/2009). DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SUSPENSÃO DE PROCESSOS INDIVIDUAIS EM FACE DO AJUIZAMENTO DE AÇÃO COLETIVA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). É possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito de ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida relativa à obrigação de estado federado de implementar, nos termos da Lei 11.738/2008, piso salarial nacional para os profissionais do magistério público da educação básica do respectivo ente. Deve ser aplicado, nessa situação, o mesmo entendimento adotado pela Segunda Seção do STJ no julgamento do REsp 1.110.549-RS, de acordo com o qual, "ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva" (DJe de 14/12/2009). Cabe ressaltar, a propósito, que esse entendimento não nega vigência aos arts. 103 e 104 do CDC – com os quais se harmoniza –, mas apenas atualiza a interpretação dos mencionados artigos ante a diretriz legal resultante do disposto no art. 543-C do CPC. Deve-se considerar, ademais, que as ações coletivas implicam redução de atos
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processuais, configurando-se, assim, um meio de concretização dos princípios da celeridade e economia processual. Reafirma-se, portanto, que a coletivização da demanda, seja no polo ativo seja no polo passivo, é um dos meios mais eficazes para o acesso à justiça, porquanto, além de reduzir os custos, consubstancia-se em instrumento para a concentração de litigantes em um polo, evitando-se, assim, os problemas decorrentes de inúmeras causas semelhantes (REsp 1.353.801-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/8/2013. STJ, Informativo nº 527, de 9/10/2013).
Destaque-se que a manutenção dos processos em juízos diversos coloca as famílias
em risco de sofrer dano irreparável ou de difícil reparação, além de flagrantemente inviabilizar
uma solução na seara coletiva.
6.2) Medidas urgentes ou emergenciais de remoção
Uma vez que as margens da BR-135 constituem área de risco e considerando a
peculiaridade de cada habitação (há residências e comércios que ocupam parcial ou totalmente
as faixas de domínio e áreas não edificantes), necessária se faz a realização de diagnóstico das
famílias atingidas de forma a identificar eventuais casos de comprometimento total da habitação
e/ou flagrante risco à vida e à integridade física do morador, promovendo nesses casos a
imediata remoção do morador por meio de aluguel social ou abrigo provisório.
6.3) Proteção de todas as áreas públicas com potencial de destinação para moradia
Faz-se urgente que sejam tomadas medidas de proteção imediata de todas as áreas
públicas conforme explicado acima, pois as áreas para recebimento de habitações de Interesse
Social no município de São Luís estão se esgotando e a pressão pela ocupação dessas áreas é
intensa.
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7) DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO:
1. Seja a presente ação coletiva distribuída por dependência ao juízo da 13ª Vara
Federal da Seção Judiciária do Maranhão, na qual tramita o Processo n. 20906-
13.2014.4.01.3700, s. m. j., primeira ação demolitória proposta pelo DNIT
com citação válida sobre o objeto do litígio (art. 253, I, CPC);
2. A imediata reunião no juízo prevento e a suspensão de todas as ações
demolitórias em trâmite na Seção Judiciária do Maranhão que tenham como
objeto a remoção compulsória de famílias residentes na Estiva às margens da
BR-135, até o julgamento final desta ação coletiva;
3. A observância das prerrogativas da Defensoria Pública da União,
especialmente a contagem em dobro de todos os prazos e a intimação pessoal;
4. A gratuidade no trâmite procedimental, conforme os arts. 5.º, II, e 18 da Lei
7.347/85;
5. A dispensa da autenticação das cópias reprográficas de quaisquer documentos
que apresente em juízo, nos termos do artigo 24 da Lei 10.522/02;
6. A intimação dos representantes judiciais das pessoas jurídicas de direito
público arroladas como Requeridas, para que se manifestem no prazo de 72
(setenta e duas) horas, nos termos do art. 2º da Lei 8.437/1992, decidindo o
juízo, logo em seguida, os pedidos liminares e designando audiência de
conciliação nos termos dos artigos 331 e 447 do CPC;
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7. Seja deferido, em sede de provimento liminar:
7.1. A medida provisória de preservação, remoção e reassentamento de
indivíduos e/ou famílias aqui assistidos, mediante provocação fundamentada
das partes, quando a vida, a integridade física e a dignidade de pessoas
estiverem ameaçadas, com a alocação prioritária em programas assistenciais
federais, estaduais e municipais, em moradias populares já construídas e vagas,
em bolsa-moradia ou auxílio-aluguel, ou em abrigos ou vilas de passagem com
condições dignas e que respeitem a configuração familiar, até a definitiva
resolução da questão;
7.2. A elaboração, pelos Requeridos, de diagnóstico das famílias atingidas, na
forma discriminada no item 9.3 seguinte;
7.3. O mapeamento e proteção de todas as áreas públicas no Município de São
Luís/MA e pertencentes aos diferentes entes requeridos nesta ação coletiva,
mesmo que ainda não regularizadas, que possam servir de destino das famílias
que serão deslocadas com a presente ação, de acordo com limites, propósitos e
condições definidos no decorrer da demanda;
7.4. Caso Vossa Excelência entenda não ser possível o deferimento dos
pedidos liminares da forma pretendida, tendo em conta a fungibilidade prevista
no artigo 273, §7º, do Código de Processo Civil, bem como o poder geral de
cautela positivado no artigo 798 do Código de Processo Civil, que determine
outras medidas provisórias que julgue adequadas, para assegurar que a
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demanda não cause ao direito da coletividade aqui representada lesão grave e
de difícil reparação;
8. A citação das entidades requeridas;
9. A ratificação ou a concessão em sentença de mérito de todos os pedidos
liminares, para ao fim julgar procedente a presente ação coletiva,
determinando:
9.1. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
Município de São Luís, da CEF e do INCRA a garantir o direito à moradia
adequada em projeto de moradia popular ou mediante o procedimento de
compra assistida, para todos aqueles que efetivamente moram (e não têm
moradia em outro lugar) nas faixas de domínio e não edificante da BR-135 na
localidade Estiva, em local próximo ou em local a ser indicado pelo
interessado, dotado de todos os equipamentos públicos e serviços essenciais,
como água, esgoto, energia elétrica, saúde, educação, lazer, transporte, de
forma a preservar minimamente os laços sociais da comunidade e o direito do
interessado de participação no processo de sua remoção e reassentamento;
9.2. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
Município de São Luís, da CEF e do INCRA a garantir que, excetuando-se os
casos de flagrante risco (pedido 7.1 acima referido), a remoção das famílias
somente será promovida após a aquisição da nova moradia (na modalidade de
compra assistida) e a conclusão total dos empreendimentos habitacionais
destinados a recebê-los, com todos os equipamentos urbanos necessários
(água, energia elétrica, educação, saúde, lazer, etc);
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9.3. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
Município de São Luís, da CEF e do INCRA, com vistas ao planejamento da
remoção demandada no item anterior, para que realizem, as suas expensas,
minucioso diagnóstico das famílias, atingidas de forma a garantir o sucesso do
processo de remoção e reassentamento, incluindo:
9.3.1. Mapeamento das histórias, anseios, necessidades e expectativas das
famílias;
9.3.2. Mapeamento dos equipamentos públicos utilizados pela comunidade
e sua relação com os mesmos;
9.3.3. Mapeamento das relações de trabalhos estabelecidas pela
comunidade;
9.3.4. Mapeamento dos principais conflitos existentes (internos à
comunidade e entre a comunidade e terceiros;
9.3.5. Mapeamento das organizações já existentes em cada comunidade,
bem como de suas principais demandas; e
9.3.6. Mapeamento dos riscos e impactos negativos da intervenção;
9.4. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
Município de São Luís, da CEF e do INCRA a garantir que o reassentamento
permita a sustentabilidade das atividades econômicas das famílias atingidas,
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bem como a sustentabilidade social, econômica e ambiental do novo modelo
de moradia;
9.5. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
Município de São Luís, da CEF e do INCRA a garantir a implementação de
Trabalho Social antes, durante e após as remoções e reassentamentos, inclusive
medidas relativas ao pós-morar, nos termos da Portaria n°168 do Ministério
das Cidades;
9.6. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
município de São Luís, da CEF e do INCRA na garantia da real e efetiva
participação da comunidade afetada nos processos decisórios que levam às
suas remoções e reassentamento, conforme diretrizes da ONU, através de
reuniões, audiências públicas, cartazes, folders, folhetos, cartilhas, divulgação
eletrônica, encontros com lideranças populares formalmente e informalmente
constituídas, e com movimentos sociais e entidades de classe,
acompanhamento psicossocial, convênios, acordos, parcerias, apoio de órgãos
públicos e entidades da sociedade civil, e qualquer outro meio legal e/ou
legítimo, obrigando-se os requeridos a cobrirem os custos que viabilizem essa
real e efetiva participação, incluindo aí a garantia da participação da população
na elaboração do projeto arquitetônico das moradias populares, de modo que o
reassentamento atenda às necessidades e reflita o resultado da consulta à
comunidade, bem como a disponibilização de formas e meios de comunicação
com a população atingida, tais como: Balcão de Informações, Sistema de
Ouvidoria ou outras modalidades de serviço que garantam o acesso das
pessoas envolvidas às informações, devendo ser disponibilizado, ainda, um
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serviço permanente de registro de reclamações e avaliação de queixas por parte
da comunidade;
9.7. A condenação solidária da União, do DNIT, do Estado do Maranhão, do
Município de São Luís, da CEF e do INCRA a informar mensalmente os
moradores atingidos sobre o andamento das obras;
9.8. A determinação para que os requeridos, União, DNIT, Estado do
Maranhão e Município de São Luís, dentro de suas respectivas esferas de
competências ou atribuições, concedam o título de concessão especial para fins
de moradia (Medida Provisória n° 2.220/01), ou a concessão de direito real de
uso (alíneas ‘g’ e ‘h’ do art. 4º, inciso V, do Estatuto da Cidade), ou, ainda, o
direito à regularização fundiária previsto na Lei 11.977/2009, para todos
aqueles que não sejam beneficiados concretamente com uma moradia no
âmbito desta ação civil pública, promovendo assim a regularização fundiária
de todas as áreas pertencentes aos Requeridos, destinando-as a habitações de
interesse social, e implantação de equipamentos públicos ou instituições
prestadoras de serviços públicos;
9.9. De forma subsidiária aos pedidos anteriores, a condenação solidária da
União, do DNIT, do Estado do Maranhão e do Município de São Luís ao
pagamento de indenização pelas benfeitorias, em relação às pessoas afetadas
nas suas respectivas esferas de competência ou atribuições, moradoras efetivas
do trecho da BR-135 na localidade Estiva (e que não tenham moradia em outro
lugar), acrescendo-se à indenização algum valor em função da peculiar
situação de cada família e de seu maior ou menor grau de vulnerabilidade e/ou
risco social, em montante suficiente para garantir a aquisição de outra moradia
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em condições iguais ou melhores, indenização esta que deve inclusive
considerar o “montante necessário à recomposição do valor real do imóvel
originário, seus bens materiais e imateriais, incluindo a posse do terreno, o uso
do solo, sua exploração econômica e as potencialidades sociais imanentes ao
direito de moradia digna”, em valor correspondente ao custo de produção de
uma unidade habitacional no Programa Minha Casa Minha Vida;
Atribui-se como valor da causa R$ 4.550.000,00 (quatro milhões, quinhentos e
cinquenta mil reais).7
Protesta-se por todos os meios de prova admitidos em nosso ordenamento jurídico, a
serem reiterados no momento procedimental pertinente.
Termos em que pede deferimento.
São Luís/MA, 16 de setembro de 2014.
YURI COSTA Defensor Público Federal
Caroline Rios Santos Estagiária de Direito – DPU/MA
7 Valor correspondente a moradias para 70 (setenta) famílias (estimativa de famílias carentes que, de acordo com o Relatório Social da DPU, podem ser objeto desta ação), considerando R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais) como o custo de um apartamento de dois quartos no Programa Minha Casa Minha Vida em São Luís.