119
9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE APARECIDA DE GOIÂNIA-GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seus representantes legais em exercício na 9ª e 14ª Promotorias de Justiça de Aparecida de Goiânia-GO e 57ª e 78ª Promotorias de Justiça da capital, por Portaria, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições legais e legitimado pelos Artigos 129, incisos II e III, da Constituição Federal; na Lei n° 7.347/85; e na Lei n° 8.429/92, em defesa do Patrimônio Público e da Moralidade e da Legalidade Administrativa, pelos motivos de fato e direito a seguir expostos e contidos na documentação em anexo, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, e pedido NULIDADE DE CONTRATOS e liminar de abertura de novo Processo Licitatório em desfavor de LUIS ALBERTO MAGUITO VILELA, brasileiro, portador do RG n° 150730 SSP/GO 2a via, Prefeito, filho de Joaquim de Moraes Vilela e Nazine Martins Vilela, natural de Jataí- GO, nascido em 24.01.1949, residente no município de Aparecida de Goiânia GO, podendo ser encontrado no Gabinete da Prefeitura; LUIZ AUGUSTO DE SOUSA, ex-Superintendente de Licitações da Prefeitura de Aparecida de Goiânia-GO e ex-Presidente da CPL-Comissão Permanente de Licitação, CPF nº 375.457.791-34, resid. RuaT62, Ed. Twenty Five, 3.188, apto 601, St. Bueno, capital.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE …static.congressoemfoco.uol.com.br/2012/06/AcaoCivel...e na Lei n 8.429/92, em defesa do Patrimônio Público e da Moralidade e da Legalidade Administrativa,

  • Upload
    lykhue

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA

MUNICIPAL DA COMARCA DE APARECIDA DE GOIÂNIA-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seus

representantes legais em exercício na 9ª e 14ª Promotorias de Justiça de Aparecida de

Goiânia-GO e 57ª e 78ª Promotorias de Justiça da capital, por Portaria, vem,

respeitosamente perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições legais e

legitimado pelos Artigos 129, incisos II e III, da Constituição Federal; na Lei n° 7.347/85;

e na Lei n° 8.429/92, em defesa do Patrimônio Público e da Moralidade e da Legalidade

Administrativa, pelos motivos de fato e direito a seguir expostos e contidos na

documentação em anexo, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, e pedido NULIDADE

DE CONTRATOS e liminar de abertura de novo Processo Licitatório

em desfavor de

LUIS ALBERTO MAGUITO VILELA, brasileiro, portador do RG n° 150730 SSP/GO 2a

via, Prefeito, filho de Joaquim de Moraes Vilela e Nazine Martins Vilela, natural de Jataí-

GO, nascido em 24.01.1949, residente no município de Aparecida de Goiânia – GO,

podendo ser encontrado no Gabinete da Prefeitura;

LUIZ AUGUSTO DE SOUSA, ex-Superintendente de Licitações da Prefeitura de

Aparecida de Goiânia-GO e ex-Presidente da CPL-Comissão Permanente de Licitação,

CPF nº 375.457.791-34, resid. RuaT62, Ed. Twenty Five, 3.188, apto 601, St. Bueno,

capital.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

2

DELTA CONSTRUÇÕES S/A, estabelecida à AV. RIO BRANCO N° 156, 4°. ANDAR, GR.

401, CEP 20.040-003, RIO DE JANEIRO - RJ, Tel.: (021) 3974-2600 Fax: (021) 2262-

2152, emall: [email protected]. e inscrita no CNPJ n° 10.788.628/0001-57.

CLAUDIO DIAS ABREU, ex-Diretor Regional Distrito Federal e Centro Oeste (partícipe -

que detinha voz final de comando na Delta, nesta região), CPF 907.124.041-04,

Engenheiro Agrônomo, filho de Waldir Dias de Abreu e de Albertina Salomão de Abreu,

natural de Catalão-GO, residente na Av. Rio Branco, n. 156, grupo 401, Centro, CEP

20.040.003

RAPHAEL NASCIMENTO DE MENDONÇA, brasileiro, casado, inscrito no CPF n.

791.781.111-53, e RG n. 3184172-2146134-SSP/GO (partícipe - assinou contratação

emergencial nº 679/10, bem como definitiva nº 685/2010) pela empresa DELTA;

SÉRGIO DE SOUZA LIMA, brasileiro, casado, CPF n. 831.603.531-68, portador RG

3.441.002 SSP/GO (representante da DELTA, que assinou contrato Aditivo 11/2012);

JULIANO TADEU MOREIRA CARDOSO, brasileiro, casado, Secretário Municipal do

Meio Ambiente, residente e domiciliado nesta cidade, portador da CI/RG nº 3137436 SSP-

GO e CPF nº 841.295.571-49, encontrado perante a SEMMA.

RODRIGO SILVEIRA COSTA, OAB-GO nº 24.601, ex-Assessor Jurídico da

Superintendência de Licitações e Pregões da cidade de Aparecida de Goiânia-GO (emitiu

pareceres jurídicos – partícipe - que redundaram nas contrações ilegais da DELTA nº

679/10 e 685/10).

MUNICÍPIO DE APARECIDA DE GOIÂNIA, representada pelo seu Procurador-Geral do

Município, Dr. TARCÍSIO FRANCISCO DOS SANTOS, situada na Rua São Domingos,

Centro, Aparecida de Goiânia-GO;

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

3

DOS CONTRATOS QUESTIONADOS – 679/10 e 685/2010 e Aditivo nº 11/2012:

Através de trabalho integrado, as 9ª, 14ª, 57ª e identificaram,

entre 2010/2012, que a empresa DELTA CONSTRUÇÕES S/A foi contratada, em valores

milionários, pela atual Administração do Prefeito MAGUITO VILELA, em 04 (quatro)

oportunidades, cujos objetos (propósitos) foram distintos:

a) o contrato administrativo nº 160/2010, assinado em 29.04.2010, refere-se a

locação de caminhões e de máquinas (com motoristas e operadores), para obras e

reformas na cidade, perante a Secretária de Infra-Estrutura Municipal (que

fora questionado recentemente através de Ação de Improbidade movida pela 9ª

PJ e julgado ilegal pelo TCM), no valor anual de R$ 14.377.950,00;

b) o contrato emergencial nº 679/2010 (sem licitação), pelo prazo de 30 dias,

assinado em 13.12.2010, junto a SEMMA1, refere-se a coleta regular de lixo, com

emprego de Caminhões Compactadores (LOCAÇÃO destes), no valor de R$

604.205.50;

c) o contrato original administrativo nº 685/2010, assinado em 30.12.2010, diante da

SEMMA2, decorrente da concorrência pública nº 010/2010 (Edital 10/10), refere-

se a locação de Caminhões Compactadores, para COLETA DE LIXO (resíduos)

nesta cidade, perante a Secretaria de Meio Ambiente Municipal, no valor de R$

51.476.090,40 (prazo de 05 anos) ou R$ 857.934,84 (mensais);

d) enfim, o contrato de ADITIVO (complementação do contrato original supra nº

685/2010), confeccionado perante a SEMMA3, em fevereiro de 2012, através do

Termo de Aditamento nº 11/2012, acrescentando, em prejuízo do município, o valor

1 SEMMA – SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE DE APARECIDA DE GOIÂNIA-GO

2 Idem

3 Idem (Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

4

de R$ 4.966.908.30, passando o contrato original (nº 685/2010) ao valor de R$

56.442.998,70.

A presente ação judicial questiona estes 03 últimos

contratos, constantes das letras “b”, “c” e “d” (nº 679; 685 e o Aditivo), formalizados

exclusivamente com a DELTA CONSTRUÇÕES S/A, objetivando limpeza e coleta de lixo

da cidade, junto a SEMMA, cuja contratação total, até o momento, foi de R$

57.047.204,20.

As ilicitudes são gravíssimas e algumas foram

reconhecidas inclusive pela Auditoria do TCM-GO 4 e pelo próprio MP/TCM.

Façamos, pois, análise sucinta e jurídica dos mesmos.

1º) O Contrato emergencial de 30 dias, nº 679/2010, assinado em

15.12.2010, foi estranhamente5 direcionado para DELTA, no valor de R$ 604.205,50,

para executar serviços de limpeza pública do Município de Aparecida de Goiânia-GO

(SEMMA), compreendendo coleta regular de resíduos sólidos domiciliar, comercial, de

varrição de feiras livres, com o emprego de caminhões compactadores dotados de

sistema de rastreamento por satélite; bem como regular coleta de resíduos de serviços de

saúde.

A gravidade da ilicitude deste contrato é gritante e cheira

“arranjo” entre Prefeito MAGUITO e representantes da DELTA.

4 Volume X da concorrência nº 10/2010, pág. 495ss – Auditoria e pág 500ss – MP/TCM. Face

complexidade e 10 volumes de licitação, o TCM ainda está analisando tal processo licitatório.

5 Não se trata de “fruto do acaso”. Em um universo de dezenas de empresas especializadas no

país, a DELTA preferencialmente foi escolhida pelo Prefeito MAGUITO VILELA. (indício grave)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

5

Explica-se: tal empresa efetiva e informalmente prestou o

serviço (em 30 dias), antes mesmo de assinar o contrato6 (15.12.2010), sendo emitidas

Notas de Empenho7 nos valores de R$ 302.102,75, em 15.12.2010 (nº 10298) e outra

mesma valor em 14.01.2011 (nº 2521), e outra R$ 60.000,00 (referente a 02 dias), em

30.12.2010 (nº 10.875), todas perante a SEMMA, conforme fls. em anexo.

Citadas notas de empenho foram emitidas, mas não foram

geradas obrigações financeiras para o Município, conforme ofício nº 391/2012-SCI, de

17.05.2012 – arquivando-se indevidamente tal contratação emergencial “como se nunca

tivesse havido qualquer prestação do serviço ali constante” (em 2010).

O mais incrível é que o Prefeito MAGUITO ordenou que tal

contrato (nº 679/2010) não passasse pelo crivo e fiscalização do TRIBUNAL DE

CONTAS DO MUNICÍPIO, afrontando dolosamente o artigo 11 caput e incisos da LIA

– Lei de Improbidade Administrativa 8.

6 Já que o Relatório de Vistoria nº 021/2011 narra que a DELTA trabalhou nos meses de novembro e

dezembro de 2010 (sem um contrato por escrito)

7 "O empenho da despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado

obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição" (Art. 58 da Lei 4.320/64). Apesar de o empenho não ser a fase inicial de uma despesa, pois outros atos vão antecedê-lo, não há dúvida de que se constitui em uma das fases mais importantes. Nos comentários à Lei 4.320/64, os autores J. Teixeira Machado Jr. e Heraldo da Costa Reis, afirmam: "Na verdade, o empenho é uma das fases mais importantes por que passa a despesa pública, obedecendo a um processo que vai até o pagamento. O empenho não cria obrigação e, sim, dá início à relação contratual entre o Estado e seus fornecedores e prestadores de serviços". (grifo nosso) Como se nota, o empenho é de suma importância na despesa pública. É uma garantia ao fornecedor e ao mesmo tempo um controle dos gastos. O empenho é o registro da despesa, o qual resulta na nota de empenho, sendo que a primeira via deve ser entregue ao fornecedor. "Para cada empenho será extraído um documento denominado Nota de Empenho, que indicará o nome do credor, a especificação e a importância da despesa, bem como a redução desta do saldo da dotação própria" (Art. 61 da Lei 4.320/64).” http://www.uel.br/proaf/informacoes/empenho.htm

8 “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da

administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; II - retardar ou deixar de praticar, individamente, ato de ofício; III – (....) IV - negar publicidade aos atos oficiais; V - (...) VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;”

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

6

Exatamente, uma verdadeira FRAUDE contra a fiscalização do

TCM !!! Apesar do Prefeito MAGUITO possuir o DEVER de colocar qualquer contrato

assinado/executado à apreciação do TCM e do povo, o mesmo ESCONDEU e

OCULTOU tal procedimento/contrato (679/2010), aniquilando a devida prestação de

contas (já que o contrato foi assinado e foram emitidas notas de empenho), conforme

provas robustas em anexo.

E mais, o Prefeito por vários meses conseguiu CAMUFLAR e

ESCAMOTEAR tal contratação emergencial com a DELTA (nº 679/2010) do TCM/GO e

de outros órgãos fiscalizatórios (MP); e ainda tentou IMPEDIR O ACESSO do

MINISTÉRIO PÚBLICO do Estado de Goiás (das 9ª e 14ª PJs), conforme certidões em

anexo – autos PA 895/2012 - (obstruindo e omitindo informações conforme várias

certidões em anexo – a Administração não respondia e protelava dolosamente as várias

requisições ministeriais – em afronta ao princípio da legalidade – Lei 7347/85 – artigo 10

9).

A motivação para tal atitude ilícita (de esconder o Contrato nº

679/2010 e de não prestar contas do mesmo ao TCM) pode ser “explicada” pelo próprio

PREFEITO, mas eis alguns dos vários10 e prováveis motivos indiciários:

(i) O Prefeito não queria receber punição administrativa do Tribunal de

Contas dos Municípios, o qual não autoriza contratações emergenciais, no

2º ano do mandato eletivo, pois a Administração teria tempo mais que

9 Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10

(dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o

retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil,

quando requisitados pelo Ministério Público.

10 Alcaide Maguito escondeu uma contratação emergencial da apreciação do TCM (o contrato foi

efetivamente executado pela DELTA por cerca de 02 meses), mas o Prefeito ficou com medo do TCM imputar-lhe multa e anulou os empenhos (como se o contrato nunca tivesse existido). Isto foi descoberto por diligência do Promotor da 9ªPJ, indo ao TCM e cruzando informações. É UM ABSURDO o que o Prefeito praticou, e por coincidência (como a DELTA trabalhou cerca de 02 meses de graça) foi a DELTA que ganhou a licitação no valor de 51 milhões ('pagando-se a

dívida' dos 02 meses).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

7

suficiente para realizar uma licitação, com ampla competividade (sem se valer

da contratação direta); inclusive o TCM tinha condenado administrativa e

anteriormente o Prefeito MAGUITO ao pagamento de multa no valor de R$

705.751,64 (em relação a outra empresa de coleta de lixo, conforme acórdãos

do TCM em anexo);

(ii) Maguito não queria chamar a atenção dos licitantes11, que impugnaram

o Edital e questionaram várias fases do processo licitatório (concorrência

pública nº 10/2010) para coleta de lixo na cidade (já que a DELTA já estava

contratada informalmente pela Prefeitura, executando serviços antecipados em

nov/dez/2010, e ainda estava participando da licitação e ganharia a

competição);

(iii) O alcaide não queria ainda chamar a atenção do MINISTÉRIO PÚBLICO

(vez que a 9ª PJ de Aparecida de Goiânia já tinha processado o Prefeito

MAGUITO por Atos de Improbidade, anteriormente, exatamente por outras

contratações “emergenciais”);

(iv) O Gestor queria esconder da população de Aparecida de Goiânia

uma contratação ilegal (direta) da DELTA CONSTRUÇÕES S/A: a) que

estava executando serviço de coleta de lixo, informal e pessimamente na

cidade, em meados nov/dez/10, conforme ofício do Secretário do Meio

Ambiente; b) que ainda seria ganhadora da Licitação que estava em trâmite;

Tudo isto era autorizado pelo MAGUITO e seu Secretário

JULIANO, com a ciência de LUIZ AUGUSTO (todos praticaram atos administrativos na

contratação emergencial que beneficiaram a DELTA, conforme será narrado adiante).

11

O processo licitatório, concorrência nº 010/2010, foi questionado várias vezes pelos LICITANTES,

e a Comissão de Licitação julgou os recursos e as impugnações de modo ao final sagrar-se

vencedora, exatamente, a empresa DELTA;

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

8

Outra gravidade de tudo isto é que a DELTA muito

provavelmente (indícios veementes) teria feito um acordo espúrio com o PREFEITO

MAGUITO VILELA (nº 679/2010), isto porque a citada empresa não recebeu por tais

serviços emergenciais de 30 dias (há somente notas de empenho anuladas, perante o

TCM), mas, em compensação, depois a DELTA ganhou a licitação e a contratação nº

685/10 (e um Aditivo/acréscimo no valor de 5 milhões).

Isto significa que há vários indícios convergentes de que o

Prefeito MAGUITO (com participação de JULIANO, LUIZ AUGUSTO, RODRIGO

SILVEIRA) tenha se “compromissado com a DELTA” para um pagamento futuro

(“compensação financeira” por não ter sido pago o contrato nº 679/10), implicando

em possível direcionamento de edital e de contratação futura, como de fato ocorreu,

através contrato nº 685/2010, com feitura ainda de um ADITIVO. Citamos apenas dois

sintomas característicos desta improbidade:

(i) a DELTA, empresa que visa lucro, não trabalharia “de graça” para Prefeitura

(sem receber R$ 604.205,50 do contrato emergencial nº 679/2010 de 30 dias),

mas ela sabia que teria um contrato milionário futuro (nº 685/2010, de R$

51.476.090,40 – cujo preço era inexequível), e que seria Aditivado/aumentado

em quase 5 milhões, passando para R$ 56.442.998,70);

(ii) MAGUITO VILELA foi informado, através do RELATÓRIO DE VISTORIA da

SEMMA nº021/2011, através do Secretário de Meio Ambiente, que não deveria

manter contrato definitivamente com a empresa DELTA, pois esta tinha

praticado um PÉSSIMO serviço (durante a contratação emergencial nº

679/2010) de coleta de lixo, com dezenas de reclamações. Porém, mesmo com

este aviso/advertência oficial, MAGUITO permitiu que ela continuasse

executando os serviços, bem como que participasse da concorrência pública nº

010/2010, e consentiu contratá-la (através contrato nº 685/2010) após todo

processo licitatório. POR QUE TANTO PRIVILÉGIOS???

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

9

A verdade é que MAGUITO deixou um rastro enorme de

indícios e de provas de ilicitudes contra si mesmo.

Cabe lembrar ainda que, em tese, o comportamento do

Prefeito MAGUITO pode configurar crime, no mínimo, de prevaricação – deixar de

praticar ato de ofício - desídia; ou de falsidade ideológica (atestar uma mentira) – ao

anular empenho, como se a prestação de serviço não tivesse existido; ou ainda, ilícito

previsto no Dec nº 201/67 (crimes de responsabilidade praticados por Prefeitos), por

haver deixado de prestar contas ao TCM relativas ao Contrato Emergencial nº

679/2010, firmado entre a DELTA e a PREFEITURA de Aparecida de Goiânia-GO, no

valor contratual de mais de R$ 600 mil (nº 679/2010), onde o Prefeito anulou as notas de

Empenho (com a “certa aquiescência da DELTA”, de LUIZ AUGUSTO, JULIANO,

RODRIGO SILVEIRA, como se o serviço não tivesse sido prestado).

Há indícios também de corrupção, já que o convite para DELTA

trabalhar no município e a compensação pelo não pagamento da contratação emergencial

679/10, tais fatos apontam para um acordo monetário “extra-autos” com a DELTA (que

seria ressarcida de outro modo (às surdinas, na escuridão, sem transparência, sem

ciência do TCM, que não examinou tal contrato); já que a citada empresa não ficaria no

prejuízo de mais de MEIO MILHÃO de reais, gratuitamente, sem uma “contrapartida”

ou “vantagem” em troca). Abaixo, dispositivo do Dec. 201/6712:

12

AÇAO PENAL. PREFEITO MUNICIPAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE. ART. 1º, VII, DO

DECRETO-LEI Nº 201/67. DEIXAR DE PRESTAR CONTAS.1º, VII, 2011. COMPROVAÇAO DO DOLO ESPECÍFICO. DESNECESSIDADE. 2. AUSÊNCIA DE INQUÉRITO POLICIAL. DISPENSABILIDADE.3. DEVER DE PRESTAR CONTAS. RESPONSABILIDADE DO PREFEITO MUNICIPAL.4. AÇAO PENAL JULGADA PROCEDENTE.1. O tipo penal do art. 1º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/67 contempla crime formal, que se consuma independentemente da produção de qualquer resultado naturalístico. Trata-se de crime omissivo próprio, cuja prática se aperfeiçoa com a abstenção do ato de prestar contas no devido tempo. Resta consumado o delito com o simples atraso no envio dos balancetes. Desnecessário o elemento subjetivo consistente na vontade (dolo) de não prestar contas no tempo devido ou de causar prejuízo ao erário.2. O inquérito policial não é peça indispensável ao oferecimento de denúncia.3. A Constituição Estadual impõe ao chefe do Executivo Municipal -e às pessoas jurídicas da administração indireta -o dever de prestar contas. A Secretaria de Saúde é mero órgão desprovido de personalidade jurídica própria, integrante e subordinado ao executivo municipal. Cabe ao Prefeito prestar contas pelos recursos percebidos pelo Executivo municipal, mesmo que destinados aos mais diversos órgãos que o compõe. 4. Ação

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

10

“Art 1º - São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal,

sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do

pronunciamento da Câmara dos Vereadores: (...)

VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão

competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou

auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer titulo;”

Feitas tais considerações, repletas de indícios e de provas de

improbidade administrativa (SONEGAÇÃO DE INFORMAÇÕES AO TCM – ausência de

prestação de contas – falta de publicidade), passaremos ao próximo contrato questionado.

2º) O contrato administrativo nº 685/2010, com prazo de

sessenta meses ou 05 anos, foi firmado em 30.12.2010, no valor total de R$

51.476.090,40 (60 meses ou cinco anos) ou valor mensal de R$ 857.934,84. (fls. 2526

da licitação).

Cabe lembrar que para chegar até esta contratação, existiu um

processo licitatório (Edital13 e Concorrência nº 010/2010) REPLETO DE IMPUGNAÇÕES,

que ao final consagrou exatamente a empresa DELTA (que estava prestando serviços

para Prefeitura, de forma emergencial, cujo contrato 679/2010 foi engavetado14 para não

se dar conhecimento ao órgão fiscalizatório, TCM ou MP).

Tais impugnações (inclusive judiciais), que

demonstraremos mais adiante, são CLARAS EVIDÊNCIAS e SINTOMAS de que

penal julgada procedente. (70000425 PI , Relator: Des. Erivan José da Silva Lopes, Data de Julgamento: 10/05/2011, 2a. Câmara Especializada Criminal)

13 Folhas 359ss, do volume 10 do procedimento licitatório, enviado ao TCM-GO.

14 Engavetado/arquivado como se não tivesse havido execução de serviços pela DELTA (a prestação

destes serviços foi feita e é provada pelo próprio Secretário da SEMMA; e foi um PÉSSIMO SERVIÇO, com sugestão de não contratação – vide relatório de vistoria nº 021, mais adiante);

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

11

houve “um direcionamento ou um favorecimento” para que a empresa DELTA fosse

vencedora.

Outro indício é que enquanto o contrato emergencial (679/2010

– de 30 dias) com a DELTA estava sendo executado, concomitantemente, a mesma

empresa participou e ganhou a licitação, na modalidade concorrência pública nº 010/10,

com assemelhado15 objeto contratual, que redundou na contratação nº 685/2010.

Ambos contratos (679 e 685/2010) possuem características de

favorecimento e indícios de que houve um “acordo extra-autos”. E, MAGUITO e DELTA

são beneficiados:

a) a DELTA não recebeu pelo contrato nº 679/2010 (“engavetado”

ilegalmente), mesmo tendo executado o serviço, porém, em contrapartida

recebeu pelo contrato nº 685/10 (51 milhões), e ainda foi contemplada

com ADITIVO de cerca de 5 MILHÕES;

b) o MAGUITO, por sua vez, não apresentou (não prestou contas) para o

TCM o contrato nº 679/2010, com a aquiescência da DELTA (que “não

cobrou” por este serviço prestado), mas por outro lado, o Prefeito se livrou

de uma sanção administrativa do TCM, que não tolera contratação

emergencial, nos moldes feitos;

– UMA VERDADEIRA TROCA DE FAVORES!!!

15

Nestes casos, a doutrina informa que é preciso ENORME CAUTELA contratar-se uma empresa emergencialmente e permitir que ela participe da licitação para contratação definitiva. Os indícios de direcionamento para a empresa DELTA, são grandes a começar pelo engavetado contrato emergencial nº 679/2010, bem como pelo fato que as necessidades e a demanda do órgão público não foram modificadas (beneficiando-se a empresa que prestava o serviço/contrato), onde a tendência seria que o edital fosse semelhante ao contrato executado pela empresa DELTA ou que repetissem as muitas exigências ou quase tudo que já estivesse no contrato que se executava. Não foi SEM RAZÃO a existência de várias impugnações contra o EDITAL e contra os atos da COMISSÃO DE LICITAÇÃO. No caso, o que foi acrescido ao edital e ao contrato foi a “operação de aterro sanitário; destinação final de resíduos sólidos do serviço de saúde (incineração e vala séptica)”.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

12

A prova disto é que a DELTA desempenhou suas atividades,

no final de 2010 (contrato 679/2010), conforme confissão do SECRETÁRIO DA SEMMA,

Juliano no RV 21/2011 nesta cidade, e estranhamente não recebeu pagamento por tais

serviços, mas ganhou posteriormente a licitação que tramitava, efetivando-se

contrato definitivo (685/2010), no valor de R$ 51 milhões, que foi

aditivado/aumentado em quase 5 MILHÕES.

A prova indiciária exibe um pacto entre DELTA e MAGUITO

extra-autos, que seria benéfico para ambos. MAGUITO “livrou-se” de uma sanção

administrativa perante o TCM; e a DELTA “tolerou” o prejuízo (30 dias de trabalho, ref.

contrato 679/2010), para ser muito beneficiada na contratação nº685/2010 e com um

aumento contratual de 5 milhões - ADITIVO.

Fazia parte do acordo, pelo que se extrai, ainda que a

DELTA jamais cobraria qualquer valor referente ao contrato emergencial nº

679/2010, como de fato não ocorreu. Este “perdão da DELTA” de uma dívida de

mais de R$ 600.000,00 só é justificável, como empresa que visa lucro, se ela tivesse

outros “benefícios”.

3º) Mais escandaloso ainda foi o ADITAMENTO (nº 11/2012) ao

contrato nº 685/2010, com acréscimo de quase CINCO MILHÕES DE REAIS.

É que o processo licitatório, em tese, deveria contemplar a

empresa que oferecesse a MELHOR PROPOSTA (preço mais baixo), de modo a trazer

benefícios econômicos para município.

Conforme se vê às fls. 2570 (da concorrência pública nº

010/2010), a comissão de licitação excluiu a participação de VÁRIAS grandes

empresas, e habilitou apenas 03 empresas, as quais apresentaram as seguintes

propostas:

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

13

EMPRESA VALOR

Delta Construções S/A 1ª colocada RS 51.476.090,40

Leão Ambiental S/A 2ª colocada R$ 52.599.400,00

Vital Eng Ambiental S.A. 3ª colocada R$ 81.803.316,00

Conforme se vê, a proposta da DELTA foi de um valor que

DEVERIA SER SUFICIENTE PARA CUMPRIR TODO CONTRATO, durante todo curso

dele.

Porém, em benefício da empresa DELTA, a Prefeitura

(MAGUITO, JULIANO) aditou o contrato no sentido de aumentar o valor que a DELTA

(representando pelo requerido SERGIO) receberia (em R$ 4.966.908.30) até o final do

contrato administrativo, passando o valor para R$ 56.442.998,70.

Ora, tal valor (56 milhões, com aditamento) é muito superior a

proposta apresentada pela 2ª colocada da licitação (LEÃO AMBIENTAL S/A), que

assumiu responsabilidade da execução integral no valor de R$ 52.599.400,00.

A Justificativa apresentada pela Prefeitura de Aparecida de

Goiânia, em todo contexto já demonstrado de indícios, desde a origem (ocultação de

contrato emergencial do TCM)16, não merece qualquer acolhida, já que apontam para

ilicitude em tais contratações (679, 685 e aditivo).

Nesta análise preliminar de tais contratos (679, 685 e o Aditivo

do 685) fica claro que existiu “carta marcada” em benefício da empresa DELTA, que

ainda deve ser aprofundada para averiguar outras participações.

16

A Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada tem origem norte-americana (país rigoroso no

combate a corrução). Foi criada pela Suprema Corte dos Estados Unidos, que entende que os vícios da �planta são transmitidos aos seus frutos. Em outras palavras, os vícios de uma determinado ato (contrato emergencial sonegado ou oculto) contaminam os demais que dela se originaram. A jurisprudência norte-americana utilizou a imagem dos frutos da árvore envenenada, que comunica o seu veneno a todos os frutos.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

14

Analisaremos, agora, os 03 contratos questionados

individualmente, através dos tópicos A, B e C, adiante.

A) CONTRATO Nº 679/2010: Das provas documentais DA EXECUÇÃO DO

CONTRATO EMERGENCIAL e de sua NÃO-apresentação perante o TCM/GO:

Vejamos o documento oficial da própria SEMMA que informa

que a DELTA trabalhou emergencialmente (e pessimamente) na cidade, em todo mês de

dezembro/2010, e apesar disto, o PREFEITO não enviou tal contrato para análise e

fiscalização do TCM/GO.

“Relatório de Vistoria da SEMMA Nº 021/11”

“No decorrer do presente ano, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SEMMA, recebeu mais de 300 (trezentas) reclamações de pessoas, residentes no Município de Aparecida de Goiânia, referente a falta do serviço público de limpeza urbana em seus bairros. Em vários bairros à reclamações de situações preocupantes, com algumas ruas ha mais de 20 dias sem coleta.

“De acordo com vistorias realizadas desde o dia 17 de janeiro do referido ano pela Diretoria de Limpeza Urbana da SEMMA de responsabilidade do senhor Sebastião Ferreira, foi verificado que a coleta de lixo não esta sendo realizada de forma satisfatória, sendo encontrado um acumulo significativo de lixo em algumas ruas de setores com coletas diária e três vezes por semana. Ver em anexo algumas das reclamações e fotos da vistoria.

“De acordo com o contrato n° 685/2010 assinado em 30 de Dezembro de 2010, toda prestação de serviços de limpeza pública no município de Aparecida de Goiânia é de responsabilidade da empresa Delta Construções S/A, ficando a cargo da SEMMA toda responsabilidade pela fiscalização dos serviços prestados pela Delta.

“Mesmo ficando a cargo apenas da fiscalização dos serviços prestados pela Delta, a SEMMA preocupada em resolver o problema da coleta de lixo colocou um servidor municipal a disposição da empresa para acompanhar cada caminhão, auxiliando na organização das rotas de coleta, mas até o momento o problema ainda não foi sanado.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

15

“Em nova vistoria "in loco" realizada no dia 26 de janeiro em 17 bairros e três pontos de coleta diária listadas abaixo foi verificado que não foi realizado com eficiência a coleta de lixo infringindo o contrato de prestação de serviço devidamente acordado pelas duas partes. Ver tabela 01.

“Tabela 01: Bairros e pontos de coleta em que não foi realizada coleta de lixo. (Chácara São Pedro, Conjunto Santa Fé; Parque Real; São Joaquim; Jardim Tiradente; Santa Luzia; Vera Cruz; Mont Serrat; Bairro Cardoso I; Buriti Sereno 10 Etapa; Bairro Belo Horizonte; Residencial Village Garavelo I; Serra Dourada III; Cepaigo; Cidade Empresarial; Condomínio Vale do Sol; Madre Germana; Banco de Sangue - Nova Era; Avenida Liberdade – Garavelo; Avenida Brasil – Garavelo.

“Conforme a Cláusula Primeira em seu item 1.1 - "a" diz que, será realizada de forma regular os resíduos sólidos domiciliares, comerciais, de varrição e de feiras livres, e de acordo com as vistorias realizadas e constantes denuncia de moradores a coleta esta deficitária e em muitos casos alguns bairros ficam por mais de uma semana sem coleta regular, situação essa que esta causando muitos transtornos aos moradores além de grande desgaste político, afinal de contas a comunidade não enxerga a falta de eficiência da Delta para eles essa situação e reflexo do comodismo e da falta de atitude do poder público.

“Até o dia 25 de novembro de 2010 a Empresa Vital Engenharia Ambiental S/A era a responsável pela execução do serviço público de limpeza urbana, A MESMA REALIZAVA DE FORMA EFICIENTE E SATISFATÓRIA A COLETA DE LIXO COM UMA FROTA DE 15 (QUINZE) CAMINHÕES COMPACTADORES, SENDO 13 (TREZE) NA COLETA E 2 (DOIS) NA RESERVA TÉCNICA, SENDO UTILIZADOS APENAS NA SUBSTITUIÇÃO DE CAMINHÕES QUE APRESENTAVAM PROBLEMAS MECÂNICOS. Mesmo no início dos serviços, na fase de reconhecimento e adequação de rota, a Vital recebia cerca de 35 (trinta e cinco) reclamações por semana, reclamações estas que não se repetiam ao longo do tempo, essas denúncias eram em quantidade muito inferior as reclamações recebidas atualmente pela Delta, sendo na maioria das vezes as mesmas reclamações, indicando assim, que os serviços não estão regularizados ainda.

“A saúde pública dos moradores do município é a grande preocupação da SEMMA, afinal, o acumulo de lixo constituem um problema sanitário de grande importância, pois,

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

16

favorecem a proliferação de vetores e roedores podendo transmitir doenças, tais como: diarréias infecciosas, amebíase, salmoneloses entre outras, servindo ainda de criadouro e esconderijo de ratos, animais esses envolvidos na transmissâo da peste bubônica, leptospirose e tifo murino. É de se notar também a possibilidade de contaminação dos moradores pelo contato direto com o lixo, por ser fonte continua de microorganismos patogênicos, tornam-se uma ameaça real à comunidade.

“COMO A EMPRESA DELTA CONSTRUÇÕES S/A JÁ FOI NOTIFICADA E JÁ ESTÁ A FRENTE DOS SERVIÇOS DE COLETA DE LIXO HA MAIS DE DOIS MESES, CONSIDERANDO O CONTRATO EMERGENCIAL N° 679/2010, e ainda não normalizou a situação e em função das freqüentes reclamações e da ineficiência do serviço oferecido, A SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE SE COLOCA CONTRÁRIO À CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS DA EMPRESA. (grifo nosso)

Aparecida de Goiânia, 02 de fevereiro de 2011.”

(Assinam tal documento: Sebastião Ferreira, Diretor de Limpeza Urbana; e Juliano Tadeu Moreira Cardoso, Secretário de Meio Ambiente Municipal) – grifo nosso

O documento oficial da SEMMA-AP/GO, supra, é contundente

em afirmar que a empresa DELTA estava trabalhando há mais de 02 meses (retroagidos

de fevereiro de 2011, ou seja, DELTA já trabalhava, inclusive, em meados de

novembro/2010, de modo informal).

Como o relatório é datado de 02.02.2011, conclui-se que a

DELTA JÁ INFORMALMENTE REALIZAVA SERVIÇO NA PREFEITURA (679/2010)

ANTES DA DATA DE SUA CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL – 15 DE DEZEMBRO DE

2010 (o que é corroborado com as notas de empenho emitidas – em anexo, em

15.12.2010 e 30.12.2010, revogadas para não apresentação ao TCM).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

17

(Prova material de que a empresa DELTA exerceu suas atividades em novembro/dezembro de 2010)

A verdade é que a DELTA desempenhou suas atividades de 02

modos em 2010: de modo informal (parte de nov/10 e parte de dez/2010) e em

contratação emergencial (a partir 15.12.2010), conforme Relatório de Vistoria supra, e

nada foi apresentado ao TCM.

O expediente supra da SEMMA também é claro no sentido de

exibir a INIDONEIDADE da empresa DELTA, para execução de coleta de lixo na

cidade, com narração de comportamentos lesivos ao interesse público que impediriam a

contratação da DELTA. Qualquer administrador prudente, diante de tal histórico, jamais

permitiria que tal empresa participasse de licitação ou que fosse contratada com poder

público – mas o intuito foi e ainda é de beneficiar a DELTA.17

17

O Prefeito foi notificado para tomar providências contra a DELTA, mas até o momento não

apresentou qualquer resposta à 9ª PJ (quanto à Recomendação 001/2012)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

18

Apesar do relatório narrar 300 reclamações e revelar várias

irregularidades, o Prefeito MAGUITO não tomou medidas rígidas para impedir, na época,

a contratação da DELTA de forma definitiva, indicando uma preferência ilógica pela sua

contratação, mesmo com parecer contrário e pormenorizado do Secretário do Meio

Ambiente, Juliano Cardoso.

Diante destas descrições de má-execução de contrato

emergencial (nº 679/20100) da DELTA, no mínimo se esperaria do Sr. Prefeito

MAGUITO uma ação, seja preventiva ou repressivamente, e nisto também agiu com

improbidade de conduta (fechando os olhos para as irregularidades narradas pelo

Secretário da SEMMA). Ao contrário do que se esperava18, foi conduzida uma licitação

(concorrência nº 010/10) que ensejou na contratação definitiva da DELTA (contrato nº

685/10).

O mais inexplicável foi a FORMA da Contratação Emergencial

da DELTA (nº 679/2010)19, já que MAGUITO autorizou o procedimento em 13.12.2010 e

assinou o contrato em 15.12.2010, ou seja, numa duração de 02 dias iniciou e

terminou todo procedimento (assinando um contrato no valor de R$ 604.000,00, ferindo

vários dispositivos legais – da Lei Licitações nº 8666).

O Secretário do Meio Ambiente Municipal, JULIANO

CARDOSO, fls. 0002 (do procedimento de contratação emergencial 679/10 em apenso),

encaminhou ofício nº 914/2010, em 13.12.2010, ao Sr. PREFEITO MAGUITO,

confessando e reafirmando que a VITAL desde o dia 25 de novembro de 2010 teve seu

contrato cessado, tendo a Administração Direta (Prefeitura) assumido toda limpeza

18

No mínimo, por dever de ofício, exigia-se de MAGUITO uma abertura de Procedimento

Administrativo de Averiguação (por ato de controle interno) na Prefeitura contra a DELTA, por

execução inadequada do contrato emergencial citado. Calou-se e ficou inerte, entretanto.

19 Que foi apresentado para 9ª PJ apenas no dia 29.05.2012, após inúmeras diligências de

Servidor do MP para tirar fotocópia do procedimento, a ponto de ingresso de Ação de Busca

e Apreensão.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

19

urbana – a partir de 26.11.2010, porém não dando conta do serviço, repassando de

imediato o serviço de coleta de lixo para DELTA já no final de novembro de 2010.

O dolo do Prefeito MAGUITO é evidente quando estava ciente

de tudo, pois inclusive firmou, a mão, seu autorizo “nas formas da Lei”, no rosto do

ofício nº 914/10 e dois dias depois já estava assinando uma contratação

“emergencial” com a DELTA.

Na folha 0004 da contratação (emergencial) encontra-se o

Despacho nº 485/2010 do Superintendente LUIZ AUGUSTO, onde este também

confessa que a Prefeitura assumiu a coleta de lixo provisoriamente a partir de

25.11.2010 (novembro/2010).

Embora AUGUSTO não confesse que a DELTA tinha já

assumido a coleta (em novembro e todo dezembro de 2010), as demais provas dos autos

atestam isto, tanto que um dos motivos elencados em seu despacho, da contratação

emergencial, foi:

“...Considerando que a empresa Delta Construções S.A, vencedora da Concorrência Pública nº 10/2010 (Serviços ele limpeza pública urbana), que se encontra em fase recursal, apresentou proposta para os itens que serão contratados...o montante mensal de R$ 604.205,50...

Providencie: a) notificação da empresa DELTA CONSTRUÇÕES S/A para que manifeste quanto a possibilidade de contratação emergencial dos serviços ora descritos...

Aparecida de Goiânia-GO, 15 de dezembro de 2010

(Assina....) Luiz Augusto de Sousa – Presidente da Comissão de Licitação”

Ora, a afirmação supra do Superintendente é totalmente parcial

no sentido de apresentar a DELTA como vencedora da licitação nº10/10, sem que

sequer houvesse término do certame (nem ainda havia sido adjudicado, homologado

ou firmado contrato com tal empresa).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

20

O despacho do superintendente LUIZ foi bem fundamentado,

em duas folhas, levando a crer que tal ato (despacho) duraria algumas horas para ser

confeccionado. Mas, fica claro o “ajeitamento” ágil para que a DELTA fosse contratada,

quando também em tempo recorde, a mesma foi supostamente “notificada”

(15.12.2010), e fez juntada de vários documentos (inclusive identidade de vários

representantes, fls. 0006 até 0077), o que demandaria um enorme período de tempo,

demonstrando uma “agilidade fora do normal para ser contratada”.

E outra rapidez descomunal e impressionante foi o parecer

jurídico de fls. 77/81, em mesma data (15.12.2010), excessivamente fundamentado (que

duraria boas horas na sua confecção), assinado pelo Assessor do Superintendente

LUIZ AUGUSTO, Dr. Rodrigo (partícipe).

O mais aberrante é que também no mesmo dia (15.12.2010), o

PREFEITO MAGUITO VILELA assinou, com ligeireza e destreza, o Decreto de Dispensa

de Licitação nº 887/2010, favorecendo a DELTA.

E para completar, os atos fantásticos e fenomenais de

agilidade, em mesma data (15.12.2010), Prefeito MAGUITO e a DELTA assinaram o

contrato emergencial nº 679/2010.

E para arrematar, ainda deu tempo, no mesmo dia, de se

elaborar uma NOTA DE EMPENHO, perante a Secretaria de Fazenda Municipal (fls.

0092), no valor de R$ 302.102,75, em favor da DELTA CONSTRUÇÕES S/A.

Ou seja, em um único dia (15.12.2010), reprisemos todos

os atos do procedimento de contratação emergencial (nº 679/2010), isto é: o

procedimento estava na Sup. Licitações (fls. 04); lá, houve “convite” da DELTA (fls. 004 –

não se informa de qual forma), a qual apresentou documentação rapidamente (fls.

006/0076) e tudo foi enviado para o Assessor Jurídico Rodrigo (que elaborou peça de fls.

077/081); depois, o procedimento enviado para Palácio da Prefeitura, onde governante

MAGUITO leu e assinou “Decreto de dispensa” (fls. 082/083); indo, em seguida, para

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

21

assinatura contratual, presente todos (Sec. Meio Ambiente, Assessor, Maguito) com

representante da DELTA, coincidentemente, na cidade20, conforme fls. 0084/0091; e

enfim, perceber que todo procedimento ainda foi para a Sec. de Fazenda Municipal, para

elaboração de Nota de Empenho (fls. 092). Quanta agilidade no serviço público

municipal, em benefício da DELTA, que já prestava serviço informal!

Pergunta-se: quem realmente acreditaria nos requeridos, com

uma contratação tão agressivamente veloz como esta? Ao ponto de elaborar tantos

atos administrativos difíceis e concentrados em único dia de serviço – já que são 08 horas

de expediente municipal ? Nem se o dia tivesse 72 horas! Há, pois, indícios de crime

de falsidade ideológica (onde uma mentira é escrita no papel).

Tampouco um “papalégua”21 ou carro da “fórmula 1” andariam

tão extraordinariamente rápidos como os requeridos, na confecção de tantos atos

administrativos complexos, em apenas 08 horas de expediente municipal do dia

15.12.2010, lembrando-se que a Prefeitura fecha às 17:00 horas !!!

É evidente que tudo foi perfeitamente organizado e calculado

para benefício da DELTA, para compensar o trabalho que ela (sem contrato por escrito) já

estava desempenhando informalmente na cidade (na coleta de lixo), em parte de

novembro e todo mês de dezembro (conforme confessado pelo Secretário da SEMMA -

RV 21/2011)!

Esta execução de coleta de lixo informal (sem contrato) da

DELTA também é confessado pelo Ex-Diretor de Limpeza Urbana, em depoimento

prestado na 9ª PJ:

“SEBASTIÃO FERREIRA, ... ex-Diretor de Limpeza Urbana, saída em agosto de 2011 (...) Inquirido respondeu: Que comparece voluntaria e espontaneamente perante esta 9ª PJ, após convite via telefone, para fim de

20

Como se trata de uma empresa de Sociedade, é lógico que a DELTA não faria uma contratação tão

rápida com a Administração se não consultasse antes a Presidência ou associados.

21 (personagem de desenho animado)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

22

prestar esclarecimentos; Que trabalhou como Diretor de Limpeza Urbana na Gestão do Prefeito MAGUITO, de maio de 2009 até agosto de 2011, estando atualmente lotado na Secretaria de Administração; Que o declarante reconhece que é sua assinatura, constante no Relatório de Vistoria nº 21/2011, datado de 02.02.2011, em que também assinou o Secretário de Meio Ambiente Municipal, Sr. JULIANO CARDOSO; Que reconhece a assinatura aposta no RV – Relatório de Vistoria SEMMA nº 021/2011, e o objetivo foi constatar a má-prestação do serviço pela DELTA, através de notificações; Que quem elaborou o Relatório foi o Secretário SEMMA JULIANO CARDOSO e o declarante leu e concordou com tal relatório; Que a empresa VITAL estava tomando conta da limpeza urbana na cidade até o dia 25.11.2010 e a partir de então a Prefeitura tentou assumir a responsabilidade pela limpeza da cidade, e tomou caminhão emprestado de outra empresa (mas não sabe qual empresa) e como a Prefeitura não deu conta de assumir a limpeza, aí a responsabilidade foi repassada para a DELTA, em final de 2010 conforme na parte final do Relatório descritivo de Vistoria citado; Que existiram várias reclamações contra a DELTA em 2010, época em que ela trabalhou na limpeza urbana da cidade, mas não se recorda da época do início do trabalho da DELTA em 2010; Que recorda-se com certeza absoluta que a VITAL parou de prestar serviço para Prefeitura de Aparecida de Goiânia-GO em novembro de 2010, e aí a Prefeitura assumiu a coleta, não deu conta do serviço por falta de caminhões e a DELTA assumiu também a coleta, em final 2010; Que confirma o relatório de Vistoria RV 21/2011 SEMMA, pois fez a leitura do mesmo na presente audiência; ” (grifo nosso)

Fica evidente que houve uma escolha subjetiva de

MAGUITO na escolha da DELTA, autorizando esta a desempenhar seu serviço,

mesmo sem contrato.

Como ensina MARÇAL JUSTEN (pág. 228ss – em Comentário

à Lei de Licitações e Contratos Administrativos), o trabalho informal (sem contrato, em

parte de novembro e parte de dezembro 2010) da DELTA é uma afronta a legalidade e a

isonomia (impessoalidade):

“A contratação direta submete-se a um procedimento administrativo,

como regra. Ou seja, ausência de licitação não equivale a contratação

informal, realizada com quem a Administração bem entender, sem

cautelas nem documentação. Ao contrário, a contratação direta exige

um procedimento prévio, em que a observância de etapas e formalidades

é imprescindível.(...)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

23

A contratação direta não autoriza atuação arbitrária da

Administração. No que toca com o princípio da isonomia, isso significa

que todos os particulares deverão ser considerados em plano de

igualdade.

Ao escolher um sujeito específico e com ele contratar, a decisão

administrativa deverá ser razoável e fundar-se em critérios compatíveis

com a isonomia. Isso significa o preenchimento de alguns requisitos, tal

como abaixo exposto.

(...)Ausência de sigilo (...) Condições equivalentes de participação (...)

Oportunidades equivalentes de disputa(...) Seleção da melhor proposta e

indisponibilidade dos fins buscados pelo Estado (...) obtenção da melhor

contratação possível e registro de preços (...)motivação adequada do

ato(...)”

Portanto, estavam os requeridos MAGUITO, LUIZ AUGUSTO e

RODRIGO, no procedimento de contratação emergencial nº 679/10, obrigados a

verificar, no mínimo, os preços de mercado, convidando interessados, receber propostas,

adotando no mínimo um procedimento seletivo simplificado (que protegesse o

interesse público sobre o interesse particular – subjetivo – contra o benefício de qualquer

empresa).

Dois erros crassos e dolosos foram cometidos por tais (03)

requeridos. Deixaram a DELTA executar serviço sem procedimentalizar a

contratação direta, no final de novembro e meados de dezembro de 2010. E, por outro

lado, formalizaram uma contratação direta, a partir de 15.12.2010, sem cumprir os

requisitos legais (cotação de preço, em processo simplificado), e ainda

engavetaram tal procedimento, como se o serviço da DELTA não tivesse existido.

Mas outra prova do “ajeitamento” entre os requeridos LUIZ

AUGUSTO e MAGUITO, ocorrido antes da celebração contratual (anterior ao dia

15.12.2010), época em que a DELTA já estava trabalhando informalmente, é a (prova)

que esta empresa fez contra si mesma, já que as certidões cartorárias que juntou ao

procedimento de contratação emergencial 679/10, de fls. 0068/0078, são todas com

datas de 30.11.2010; 01.12.2010; 02.12.2010, demonstrando veementemente que ela

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

24

(DELTA) já tinha sido convidada, em novembro/10, pelos requeridos MAGUITO e LUIZ

AUGUSTO a providenciar, conforme providenciou, a documentação (para firmar e

formalizar a situação de fato que já existia informalmente, confeccionando-se o

contrato emergencial em 15.12.2010).

Aliás, aqui, não vale o argumento de que tais documentos

seriam para a licitação nº 10/10 (que corria em paralelo), pois conforme fls. 2671 (autos

licitação retro – 10/10) a DELTA, supostamente22, não sabia sequer se a Administração

iria julgar procedente em seu favor a licitação (nº10/10), para adjudicação (mas na

verdade, sabemos que tudo foi um esquema muito bem montado).

E mais, a própria DELTA afirmou categoricamente que a

documentação apresentada (fls. 007/076) era “documentação de habilitação PARA

OBRA DE EMERGÊNCIA DE LIMPEZA PÚBLICA”, em atendimento ao “convite

exclusivo” da Prefeitura de Aparecida para DELTA, visando contratação emergencial nº

679/10, conforme abaixo (fls. 007):

(Na imagem: ofício da DELTA onde apresenta documentação e certidões cartorárias à Prefeitura de Aparecida, datadas de 30.11.2010, comprovando-se que o “convite extra-autos” para executar obra emergencial foi em meados de novembro de 2010, e não como ficou formalizado em 15.12.2010.

22

Supostamente, porque, na verdade, a DELTA sabia sim que seria contratada pela

PREFEITURA.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

25

Por fim, o Secretário de Meio Ambiente JULIANO CARDOSO

(acompanhado de 02 subordinados) confessou perante a 9ª PJ claramente que a

DELTA prestou serviços ao Município, no final 2010, sem termo contratual formalizado

entre as partes (Prefeitura x Delta).

“JULIANO TADEU MOREIRA CARDOSO (...) Presente na audiência, acompanhando o Secretário, o Sr. REGIS INÁCIO BORGES, (..) Diretor do Aterro Sanitário (...) E presente também o Sr. ANTONIO CARLOS PEREIRA PEQUENINO (...) Chefe de gabinete da SEMMA (...)

“...tem a esclarecer os seguintes fatos quanto a contratação da empresa DELTA, em Aparecida no ano de 2010; Que a VITAL encerrou suas atividades no dia 22.11.2010, e foi de forma abrupta, e que não iria mais operar; e pegou de surpresa, por não ter maquinário e nem pessoal, para assumir de imediato; Que então Prefeitura assumiu estas atividades, mesmo que de maneira improvisada, e esta atribuição era muito nova na SEMMA; Que diante da situação emergencial, o declarante informou ao Prefeito que era impossível a Administração assumir sozinha a limpeza do município, com os equipamentos que tinham; Que existiam 06 caminhões compactadores de propriedade da Prefeitura;

Que a DELTA forneceu 06 caminhões para Prefeitura de Aparecida no mês de dezembro de 2010, e estes caminhões vieram do interior, mas quem tem que responder é o pessoal da DELTA; Que vieram 04 caminhões inicialmente, e depois mais 02, e eram caminhões bem velhos, com motoristas deles mesmos;

Que a DELTA começou a prestar serviços com tais caminhões do início a metade do mês, não sabendo ao certo a data precisa;

Que em cima deste serviço foi que o Prefeito autorizou a contratação emergencial nº 679/2010(...)”

É lógico, pelas provas (documentais e testemunhais), que a

escolha da DELTA para executar emergencialmente a coleta de lixo, na cidade, foi

feita em “conversas de bastidores” entre PREFEITO e “alguém” da DELTA (já que o

Secretário do Meio Ambiente JULIANO afirmou perante a 9ª PJ que jamais fez qualquer

contacto com a DELTA em 2010, e nem sabia como ela iniciou o serviço na cidade

naquele ano).

“...Que gostaria de esclarecer que não sabe dizer como a DELTA chegou aqui em APARECIDA e como iniciou seu trabalho em dezembro de 2010, pois o declarante não teve tratativa com pessoal da DELTA, mas execução do

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

26

serviço era do conhecimento do prefeito MAGUITO em dezembro de 2010...” (confissão de JULIANO)

Evidente também que, entre várias empresas espalhadas no

Estado e na região central do país, acreditar que por “mera coincidência” a DELTA foi

por MAGUITO escolhida é estória da “carochinha”. Houve um pessoalismo e

subjetivismo da parte do Gestor na contratação da DELTA e isto é inquestionável.

Relembrando-se do Relatório de Vistoria da SEMMA (assinado

por JULIANO TADEU CARDOSO), vejamos exemplificativamente algumas razões e

provas que o próprio Secretário do Meio Ambiente (do governo de MAGUITO) apontou

para ensejar não se manter a contratação nº 685/2010.

1º) porque observa-se uma nítida parcialidade do Prefeito MAGUITO em

ter uma preferência estranhíssima pela empresa DELTA (a ponto de contratá-la

em caráter informal e emergencial e aceitando que ela participasse da licitação).

Com um universo enorme de empresas, em todo país, MAGUITO escolheu

exatamente a DELTA para ser contratada pelo Município, emergencialmente, e

depois definitivamente (por licitação) a um preço enorme.

2º) porque mesmo com o Relatório (vistoria SEMMA nº 21/2011) acima,

onde informaram-se graves irregularidades, o Prefeito MAGUITO não cancelou a

contratação 685/10, mantendo-a em funcionamento na cidade.

3º) porque o próprio Secretário de Meio Ambiente Juliano Cardoso informa

categoricamente que a empresa anterior, VITAL, procedia a coleta de lixo com

menos caminhões e com MAIS EFICIÊNCIA.

4º) porque o Secretário de meio Ambiente foi contra a contratação da

empresa DELTA, que já estava há 02 meses à frente do serviço, SEM

NORMALIZAÇÃO DO SERVIÇO, e atuando de forma INEFICIENTE (com dezenas

de reclamações).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

27

5º) pois a complacência e a conivência do Prefeito, ao saber previamente

(pelo Relatório de Vistoria supra) que a DELTA não estava executando fielmente

suas obrigações contratuais, em prejuízo da população, são sinais de

favorecimento e de omissão, “tendo em vista que a Administração Pública só

pode contratar com empresas idôneas”, que honram a execução contratual

(FERNANDA MARINELA, em Direito Administrativo, 2011, Editora Impetus, pág

468);

Agora vejamos a prova de que MAGUITO, dolosamente, NÃO

encaminhou o processo administrativo de Contratação Emergencial (nº 679/2010)

para o TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS/GO. Isto foi atestado pelo MP-TCM,

na comunicação oficial (via email) abaixo, endereçado ao 9º Promotor de Justiça

(AP/GO):

“O questionado contrato nº 0679/2010, firmado entre o Município de Aparecida de Goiânia e a Empresa Delta Construções, no valor de R$302.102,75 (trezentos e dois mil cento e dois reais e setenta e cinco centavos), tendo como objeto a prestação de serviços de limpeza urbana, NÃO FOI AUTUADO JUNTO AO TCM, O QUE ENSEJARIA A IMPUTAÇÃO DE MULTA AO GESTOR MUNICIPAL NA FORMA DOS DISPOSITIVOS ABAIXO CITADOS. Ocorre, no entanto que, a despesa oriunda de referido contrato, conforme levantamento realizado no sistema informatizado aqui disponível, foi empenhada em 2010 e em 2011, e ESTES EMPENHOS FORAM ANULADOS TAMBÉM EM SUAS INTEGRALIDADES, O QUE, EM TESE, NÃO GEROU NENHUM DISPÊNDIO AOS COFRES DO MUNICÍPIO - CÓPIAS ANEXAS. O artigo 9º da Resolução Normativa nº 007/2008 determina que os procedimentos licitatórios, bem como os contratos deles decorrentes, realizados pelos Municípios, deverão ser autuados no TCM, em apartado do balancete respectivo, em até 30 dias após o encerramento do mês de sua celebração. A Lei Orgânica do TCM – Lei nº 15.958, de 18 de janeiro de 2007 – artigo 47-A, inciso XIV, prevê aplicação de multa aos responsáveis em caso de violação de qualquer dispositivo

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

28

normativo deste Tribunal. (...) Goiânia, 23 de maio de 2012. (...) José Rosa Dias” (GRIFO NOSSO)

O Servidor Público Estadual supra, do Ministério Público

perante o TCM, dotado de fé-pública, atestou categoricamente a inexistência de envio

(autuação) do contrato nº 679/2010 ao TRIBUNAL DE CONTAS por parte do

PREFEITO MAGUITO.

A remessa, não obstante, era obrigatória já que citado

contrato emergencial foi executado, informal e formalmente, pela DELTA (em novembro

e dezembro de 2010) sendo ainda um princípio constitucional notório (art. 75, CF/88 –

possibilitar controle externo, tanto pelo TCM quanto pelo MP ou Poder Judiciário).

Não fosse a minuciosa investigação e o cruzamento de

dados (cooperação) entre os Promotores de Justiça do MP e os Procuradores de

Contas do MP-TCM, tal contratação emergencial com a DELTA (nº 679/2010 -

escondida), seria como se ela não existisse no mundo jurídico (um ilícito muito bem

camuflado).

Com tal conduta (esconder contrato 679/10 da fiscalização

Externa do TCM), o gestor MAGUITO infringiu dolosamente o disposto no artigo 9º da

Resolução Normativa nº 007/2008 do TCM.

E é sabido que todos Prefeitos Municipais, independente

de sigla partidária, estão sujeitos a esta regra geral, para se permitir uma

transparência e uma efetiva fiscalização externa do TCM, que assim dispõe:

“Art. 9º – Todos os contratos ou instrumentos substitutivos celebrados no decorrer do exercício financeiro, independentemente do valor e da modalidade, ainda que por dispensa ou inexigibilidade de licitação, DEVERÃO SER CADASTRADOS OBRIGATORIAMENTE no arquivo CON“MMAA”.txt (Arquivo de

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

29

Contratos), do Anexo II da presente Resolução, sob pena de multa. Parágrafo único - Além do cadastramento de que trata o caput neste artigo, DEVERÃO SER AUTUADOS NESTE TRIBUNAL, em apartado do balancete respectivo, em até 30 (trinta) dias após o encerramento do mês de sua celebração.” Resolução Normativa nº 007/2008 do TCM-GO (grifo nosso)

Além deste terrível desrespeito, afronta e ilegalidade

(improbidade) para com o TRIBUNAL DE CONTAS/GO (órgão fiscalizador) e a população

em geral, ao esconder intencionalmente o contrato emergencial nº 679/2010 de sua

apreciação, firmado e executado por empresa inidônea, conforme narrado pelo

Secretário da SEMMA), temos ainda que tal conduta enseja MULTA administrativa contra

MAGUITO:

“Art. 47-A. Sempre que nos processos em tramitação no Tribunal for constatada conduta sujeita a multa, tipificada nesta Lei, no ato que os julgar ou apreciar, será determinada a instauração do processo de imputação de multa, em que conste a qualificação do agente, o dispositivo legal violado, o resumo da conduta e o quantum da multa, no valor máximo de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), observando-se os percentuais seguintes, aos responsáveis por: (...) XIV descumprir ato normativo de caráter geral expedido pelo Tribunal, de um a cinquenta por cento;” (LEI ESTADUAL Nº 15.958, DE 18 DE JANEIRO DE 2007, que dispõe sobre a Lei Orgânica do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás). - grifo nosso

O Prefeito MAGUITO (com ciência de LUIZ AUGUSTO,

JULIANO), portanto, anulou as notas de empenho, como se nunca tal contrato

emergencial (nº 679/2010) tivesse existido ou sido executado, ficando este apenas no

arquivo da Secretaria de Controle Interno (e não enviado ao TCM – controle externo).

Esta informação também é confirmada por mais 02 SECRETÁRIOS do Prefeito

Municipal – Secretaria do Controle Interno e Secretaria da Fazenda - conforme abaixo:

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

30

“Ofício 391/2012, de 17.05.2012 (...)

Contrato nº 679/2010 (nosso processo 20100053907): anexo cópia do contrato solicitado, informando que o mesmo foi assinado em 15.12.2010, CONTUDO O MESMO NÃO GEROU OBRIGAÇÕES FINANCEIRAS AO MUNICÍPIO (...)

(assinam)

WELLINGTON CARLOS DA SILVA, Secretário Municipal de Controle Interno e

CARLOS EDUARDO DE PAULA RODRIGUES, Secretário Municipal de Fazenda e Planejamento”. (grifo nosso)

Um dos motivos de se abafar tal procedimento (nº 679/2010),

além dos possíveis outros já citados, conforme já dito, por dedução lógica, seria de uma

tentativa de fugir da aplicação de multa contra o mesmo pelo TRIBUNAL DE CONTAS, já

que este imputou-lhe anteriormente e naquele ano (2010) multa superior a R$ 700.000,00

por causa da prática ilegal de contratação emergencial (direta). Na ótica do Prefeito

MAGUITO, melhor seria esconder os fatos (679/10) do que levar uma NOVA multa

administrativa do TCM.

Enfim, a despeito de todas estas irregularidades acima

mencionadas, a contratação emergencial nº 679/2010 ainda tem um ponto que merece

destaque (para ser combatido). É que a Administração poderia adquirir tais Caminhões

Compactadores, ao invés de locá-los da DELTA ou de qualquer outra empresa. Vejamos a

própria opinião do Secretário JULIANO e seus assessores:

“que os 06 caminhões compactadores pertencentes à Prefeitura continuam em funcionamento, mas estão no pátio, e a Procuradoria do Município proibiu a utilização destes caminhões já que uma terceirizada estava trabalhando, porém se os caminhões municipais pudessem trabalhar seria muito benéfico para o município, gerando economia, na opinião do declarante e dos declarantes acompanhantes;” (grifo nosso)

Mas, o Prefeito MAGUITO VILELA assim que ingressou no

Governo Municipal, em início de 2009, optou pela terceirização (transferência do

serviço de limpeza para empresa particular), muito embora existissem Caminhões

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

31

Compactadores semi-novos, pertencentes ao Poder Público (outro indício de

favorecimento da DELTA), adquiridos, para tal finalidade, pela gestão passada (e, se

existem Caminhões Compactadores no município - objeto de tais contratos

questionados), o valor contratual deveria ser bem menor, primando pelo princípio da

economicidade23.

B) DO PROCESSO LICITATÓRIO - CONCORRÊNCIA Nº 010/10 (Edital 10/10) -

QUE REDUNDOU NA CONTRATAÇÃO Nº 685/2010, NO VALOR DE CERCA DE

51 MILHÕES:

Em 01 setembro de 2010, MAGUITO determinou o início do

procedimento licitatório (em tese, para oportunizar justa competição entre licitantes), na

modalidade de Concorrência nº 010/2010 (menor preço global – sem fracionamento por

itens), fls. 0003, autuado no TCM sob nº 01627/11 – ainda em fase de análise para

julgamento - para contratação de alguma empresa “especializada para prestação dos

serviços de limpeza pública no perímetro urbano do Município de Aparecida de Goiânia-

GO” - coleta de lixo24, conforme 10 volumes em apenso, sendo que o valor estimado

para contratação era de R$ 81.992.322,00.

23

A economicidade também se refere ao fato de que deixar CAMINHÕES COMPACTADORES SEMI-

NOVOS na garagem da Prefeitura significaria danos ao erário. Já o valor contratual de 5 anos (60 meses) foi no valor de R$ 51 milhões, preço suficiente para aquisição e renovação de várias frotas de veículos locados da DELTA, com um lucro exorbitante da empresa, o que fere os princípios da modicidade e da razoabilidade. (MALBARATEAAMENTO DO ERÁRIO). 24

Fls. 0008 - a) Coleta regular de resíduos sólidos domiciliares, comerciais, de varrição e de feiras livres, com o emprego de caminhões compactadores, dotados de sistema de rastreamento por satélite; b) Coleta de resíduos de serviços de saúde; c) Operação de aterro sanitário licenciado por órgão ambiental. d) Destinação final de Resíduos Sólidos dos Serviços de Saúde por meio de incineração: e) Destinação final de Resíduos Sólidos do Serviço de Saúde por meio de vala séptica.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

32

De plano, fato incomum foi o ato do Prefeito MAGUITO

demonstrar sua preferência subjetiva pela DELTA (já que trata-se da idêntica

empresa contratada pela Prefeitura de Goiânia, do PT que é aliado ao PMDB25), já

que no curso da licitação retro, contratou emergencialmente a mesma DELTA (a qual

prestou serviços emergenciais – 679/2010 - em novembro e dezembro de 2010, nesta

cidade de Aparecida, conforme atestado pelo RV – SEMMA nº 021/2011)26.

Pode-se concluir, pelos diversos fatos já narrados27, que o

Edital (concorrência nº 010/2010) fora direcionado para a empresa DELTA.

Nobre Magistrado(a)!

Para se ter uma noção da condução PARCIAL da licitação

supra, citamos abaixo as DEZENAS de pedidos de esclarecimentos, impugnações e

recursos apresentados, a saber: pedidos de esclarecimento e faxs, fls. 495/508;

Pedido de esclarecimento, processo 2010045713, com resposta, fls. 1875/1880;

Impugnação ao edital com julgamento improcedente, processo 2010045900, fls.

1886/1925. Impugnação ao edital com julgamento improcedente, processo 2010046070,

fls. 1926/1947. Impugnação ao edital com julgamento improcedente, processo

2010046695, fls. 1948/1965. Impugnação ao edital com julgamento improcedente,

25

Prefeito de Goiânia era IRIS REZENDE – DO PMDB, mas este licenciou-se para concorrer a Governador, assumindo VICE-Prefeito PAULO GARCIA (atual governante da capital), do PT (que é aliado do PMDB – fato público e notório)

26 O mais incrível é que, apesar da DELTA ter desempenhado seu trabalho neste município,

emergencialmente (nº 679/2010), não foi tal contratação encaminhada para análise e fiscalização do TCM, evitando-se a devida prestação de contas.

27 Suspeitando-se deste fato (“trabalho de graça” da DELTA para o Poder Público Municipal), após

confrontação de documentos, percebemos que MAGUITO, na verdade entabulou extra-autos uma negociação com pessoas ligadas a DELTA. A conclusão é fácil de ser tomada, pois: 1) antes da contratação (685/2010 – por licitação) a Prefeitura já tinha emitido 02 notas de empenho; 2) é gravíssimo o fato de MAGUITO não ter encaminhado, para o TCM, o processo de contratação emergencial nº 679/2010 (com a DELTA); 3) é espantoso MAGUITO esconder do TCM a contratação emergencial feita com a DELTA, mesmo esta tendo desempenhado suas funções nesta cidade (por qual motivo esconderia tal contratação, senão para burlar ou camuflar algo ilícito); 4) salta aos olhos vários indícios de que MAGUITO para sanar tal dívida (trabalho gratuito da DELTA no município – 679/10) facilitou sua contratação definitiva (685/10);

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

33

processo 2010045900, fls. 1886/1925. Impugnação ao edital com julgamento

improcedente, processo2010046504, fls. 1966/1984. Impugnação ao edital com

julgamento improcedente, processo 2010046593, fls. 1985/2014. Processo 2010050433

recurso administrativo, fls. 2069/2133. Processo 2010050718 recurso administrativo, fls.

2134/2145. Processo 2010050433 recurso administrativo, fls. 2069/2133. Processo

2010050786 recurso administrativo, fls. 2146/2160. Processo 2010050943 recurso

administrativo, fls. 2161/2175. Processo 2010050433 recurso administrativo, fls.

2176/2183. Processo 2010051125 recurso administrativo, fls. 2184/2290. Processo

2010051086 recurso administrativo, fls. 2291/2308. Processo 2010052236 recurso

administrativo, fls. 2309/2324. Processo 2010052304 recurso administrativo, fls.

2325/2402. Processo 2010052356 recurso administrativo, fls. 2403/2419.Processo

2010053188 recurso administrativo, fls. 2436/2448. Processo 2010052465 recurso

administrativo, fls. 2449/2459. Processo 2010053268 recurso administrativo, fls.

2577/2582. Solicitações de cópias, fls. 2583/2594. Processo 2010054490 recurso

administrativo, fls. 2595/2608. Processo 2010055399 recurso administrativo, fls.

2609/2635. Processo 2010054912 recurso administrativo, fls. 2636/2656. Processo

2010055568 recurso administrativo fls. 2657/2692, todos no curso da citada licitação, e

o Ministério Público ratifica todas, que apontaram as irregularidades, que serão

descritas adiante, contra as atitudes do Prefeito MAGUITO e do Superintendente

LUIZ AUGUSTO.

Este excessivo número de impugnações/questionamentos

feitos por tantas empresas licitantes apontam para favorecimento de MAGUITO e

LUIZ AUGUSTO na condução da licitação nº 10/10 que culminaram na contratação

da DELTA (existiram, inclusive, denúncias perante o TCM e ações judiciais pela

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais contra atos do Superintendente Licitação e do Prefeito).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

34

Vejamos os diversos elementos probatórios elencados pelos

demais licitantes prejudicados, de irregularidades nas fases da Concorrência nº 010/10,

revelando indícios de esquema para contratação definitiva da DELTA28.

A primeira impugnação (fls. 1888ss) foi relacionada ao

EDITAL, feita pela empresa GMB BRASIL, a qual apontou seguintes fatos relevantes:

As atividades compreendidas no edital não são privativas de empresas de engenharia, nem de qualquer outra regulamentada através de lei em sentido estrito, portanto, a restrição imposta em exigência indevida que restringe o caráter competitivo da licitação, desigualando iguais de forma absolutamente impertinente”

Da comprovação da aptidão da licitante para execução dos serviços mediante demonstração de experiência anterior pertinente e compatível com o objeto licitado, obtida em contrato, através de apresentação de atestados de capacidade técnica, averbado no CREA ou outro Conselho competente (seria ilegal) - Ou seja, o atestado técnico operacional, ao contrário do atestado técnico profissional, não é reconhecido pelo CONFEA/CREA; e porque tal exigência também não é previsto na Lei 8.666/93, além disto, o legislador ao vetar o inciso II do § lº do art. 30, descarta de vez esta exigência, quando a licitação for PERTINENTE A OBRAS E SERVIÇOS, literalmente dando um fim a este tema.

questiona-se licitação por lote único - Assim como a contratação de empresa de engenharia se mostra ilegal por ferir de morte o caráter competitivo do certame, da mesma forma é a licitação por lote único. É que o artigo 23, § I o da Lei 8.666/93 determina que, sempre que possível, deverá a Administração dividir o objeto do contrato em tantas parcelas quanto possíveis. O fracionamento do objeto, portanto, não é um direito que se faculta a Administração, antes pelo contrário é um dever que se impõe (pois possibilita propostas mais vantajosas). Cita Decisão 393/94 do PLENÁRIO DO TCU.29 – Súmula 247 – o

28

Graves fatos divulgados na imprensa demonstram uma LIGAÇÃO do Prefeito MAGUITO com

CARLINHOS CACHOEIRA (e este com a DELTA) – inclusive em reportagem registra que MAGUITO teria sido padrinho de CACHOEIRA, o que era totalmente desconhecido em 2010. Também é importante destacar que, muito embora MAGUITO negue qualquer privilégio para DELTA, no entanto, as evidencias dos autos são extraordinárias em sentido oposto. 29 "( ... ) firmar o entendimento, de que, em decorrência do disposto no art. 3°, §1°, inciso I; art. 8°, §1° e

artigo 15, inciso IV, todos da Lei 8.666/1993, é obrigatória a admissão, nas licitações para a contratação de obras, serviços e compras, e para alienações, onde o objeto for de natureza divisível, sem prejuízo do conjunto ou complexo, da adjudicação por itens e não por preço global, com

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

35

parcelamento do objeto pretende: “ampliar a competitividade no âmbito do mesmo procedimento licitatório, destinado à compra da integralidade do objeto. A ampliação adviria da possibilidade de cada licitante apresentar-se ao certame para cotar quantidades parciais do objeto, na expectativa de que tal participação formasse mosaico mais variado de cotações de preço, barateando a compra, de um lado, e proporcionando maior acesso ao certame a empresas de menor porte, de outro". (Jessé Torres Pereira Junior)

Da comprovação de que os responsáveis técnicos pertencem ao quadro permanente da empresa – mediante a apresentação de cópia autenticada da ficha de registro de empregado, com o respectivo carimbo do Ministério do Trabalho acompanhado da GFIP do último mês devidamente autenticada constando o nome does) responsável(is) técnico(s) da mesma, e no caso de Diretor, a comprovação se fará através de cópia da ata ou contrato social, conforme o caso de sua investidura no cargo devemos registrar que como já decidido em diversas oportunidades no TCU, não é necessária a presença de vínculo empregatício para comprovação de que o profissional integra o quadro permanente da sociedade. “A exigência de que as empresas concorrentes possuam vínculo empregatício, por meio de carteira de trabalho assinada, com o profissional técnico qualificado mostra-se, a meu ver, excessiva e limitadora à participação de eventuais interessados no certame, uma vez que o essencial para a Administração, é que o profissional esteja em condições de efetivamente desempenhar seus serviços no momento da execução de um possível contrato” - Acórdão no 2297/2005 – TCU

Da qualificação econômico financeira - O edital em seu item 7.1.3 disciplina que a comprovação da boa situação financeira da licitante se fará, ainda, pelo atendimento dos índices financeiros (constantes do edital). A exigência de índices financeiros maior ou igual a um mostra-se totalmente absurda, pois empresas que atuam nesta área realizam grandes investimentos anualmente, fato este que impossibilita a apresentação de quocientes maior ou igual a um, uma vez que os retornos a estes investimentos são sempre a longo prazo. Assim, para estas empresas não deverão ser exigidos índices de liquidez elevados ou excessivamente baixos. A exigência de tais índices é ilegal, por contrariar o at. 3º, § 10, inciso I, da Lei 8.666/93 (restrição a participação de licitantes - competição). Questionou-se ainda o índice de

vistas a propiciar a ampla participação dos licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam, contudo, fazê-lo com referência a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequarem-se a essa divisibilidade".

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

36

endividamento - Cinquenta por cento (500/0) de endividamento como está na proposta nos parece um índice muito elevado, pois, significa que metade dos ativos da empresa licitante pertencem a terceiros.

da proposta de preços - O que deve desclassificar uma proposta, não é, per si só, a oferta de preço simbólico, irrisório ou de valor zero; mas sim, sua inexequibilidade. A oferta tem que ser clara, objetiva, capaz de comprovar a Administração que o proponente tem capacidade técnica e econômica para a execução do serviço licitado. Lei 8.987/95, artigo 11.

Apesar destas considerações, a Superintendência de

Licitações de Aparecida de Goiânia-GO julgou administrativamente improcedentes todas

impugnações, conforme se vê às fls. 1921/1924.

Outra impugnação ao EDITAL foi da empresa PAVOTEC (de

MG), a qual narrou seguintes irregularidades – fls. 1927/1934:

é nulo o Edital que contenha disposições discricionárias ou

preferenciais, conduzindo a licitante certo, sob a falsa aparência de uma convocação igualitária - Os envelopes de habilitação e propostas deverão ser entregues e abertos até às 16:00 horas, do dia vinte e nove de outubro de 2010. No entanto, conhecido o instrumento convocatório, foram nele identificadas ilegalidades substanciais ensejadoras da presente impugnação, consoante o preceito do artigo 41, da Lei 8.666/93, mormente em seu parágrafo 1°.

limitou-se o número de participantes na concorrência, vindo causar, com isto, preços elevados, trazendo prejuízo para a Administração Pública e consequentemente ao povo desse município, ao incluir coleta de resíduos de serviços de saúde que não são da competência do poder público e tão somente de particulares, tais quais: clínicas médicas, odontológicas, veterinárias, laboratórios, drogarias, farmácias, etc. E, ainda, resíduos produzidos por casas de ração, como SNOOPY e TERERE AGROPECUÁRIA.

é certo que, tal medida é somente com a finalidade de aumentar o quantitativo muito além da realidade local, quando apresenta nos anexos I e II, paginas 23/24, item O, destino final de resíduos sólidos, com o intuito de reduzir o número de participantes, a fim de beneficiar alguma empresa, ferindo , desta forma, os princípios constitucionais da moralidade, isonomia, legalidade, impessoalidade, da igualdade, princípios estes ratificados no artigo 3°, da lei de licitações 8.666/93.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

37

aponta NULIDADE absoluta do EDITAL, em face do que estipula a Resolução número 358, de 29 de abril de 2005, do Ministério do Meio Ambiente, que prescreve no seu artigo 1°, a indicação dos geradores de resíduos de serviço de saúde, enquanto que no artigo 3°, indica a responsabilidade destes no gerenciamento de tais serviços até disposição final, não cabendo, desta forma, o município promover por s i, ou por meio de empreitada, a execução destes serviços, senão vejamos, in verbis: Artigo 3° Resolução 358/2005 - "Cabe aos geradores de resíduos de serviços de saúde e ao responsável legal, referidos no artigo 1º desta Resolução, o gerenciamento dos resíduos desde a geração até a disposição final, de forma atender aos requisitos ambientais e de saúde ocupacional, sem prejuízo de responsabilização solidária de todos aqueles, pessoas físicas e jurídicas que, direta 011 indiretamente, causem ou possam causar degradação ambiental, em especial os transportadores e operadores das instalações de tratamento e disposição final, nos lermos da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 ".

Tal empresa mineira, após análise do EDITAL, já antevendo e

visualizando um “benefício” para alguma empresa específica, arrematou sua

impugnação, nos seguintes termos: “o certo é que, neste momento triste em nossa

história, no tocante ao favorecimento pessoal no poder público do País, como está

sendo noticiado diariamente nos meios de comunicações, não pode essa Administração

macular a lisura como vem sendo tratada a coisa pública pelos atuais

administradores. Devendo, por isto, permitir que participe o maior número possível

de concorrentes, para o próprio bem da Administração Pública desse Município.”

Novamente a Superintendência de LICITAÇÕES de Aparecida

de Goiânia-GO desprezou todos argumentos jurídicos supramencionados, julgando

improcedente a impugnação – fls. 1946.

Uma terceira empresa, GAE CONSTRUÇÃO E COMERCIO

LTDA, também impugnou, fls. 1949/1956, o EDITAL, dizendo:

que houve contrariedade aos princípios da Legalidade,

Objetividade, Competividade e Isonomia, que norteiam todo e qualquer procedimento licitatório.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

38

estranha-se que o mencionado procedimento licitatório foi alterado inúmeras vezes desde a primeira publicação ocorrida em 20/07/2010, ou seja, embora o objeto licitado seja o mesmo (sendo que ocorreram modificações de ordem técnica substanciais, principalmente no que tange

a comprovação da capacitação técnica)

argumenta que “ora se consta no Projeto Básico do licitatório supra a prerrogativa de que os resíduos do serviço de saúde possam ser dispostos em séptica, até a implantação do incinerador, qual a razão para que a exigência de comprovação de capacitação técnica contida no item 7.1.4 acima transcrito. Até porque é mais coerente que o incinerador seja implantado a posteriori, pela licitante que ganhar o certame e por conseguinte for contratada, não havendo nenhuma justificativa plausível a exigência da comprovação em tela.”

as alterações ocorridas no presente processo estão a cercear a participação do maior número de licitantes, restringindo competitividade, o que por conseguinte só tem a prejudicar a administração municipal, considerando que quanto maior o número de licitantes no certame, maiores são as chances de se conseguir propostas mais vantajosas.

as exigências relativas a comprovação de capacitação técnica constantes nos itens ora mencionados, não merecem prosperar, por estarem em desconformidade com as normas preconizadas pela legislação pertinente, por serem restritivas e limitarem sobremaneira o número de empresas participantes aptas a comprovar o estabelecido, mesmo sendo empresas idôneas e com capacidade plena de executarem a totalidade do objeto da licitação. (...) as exigências de caráter técnico-profissional e técnico-operacional não podem subsistir sem a razoabilidade necessárias, levando a inviabilidade da competividade em certame licitatório, sendo que existem somente para constituir garantia mínima, e não máxima, para comprovação de capacidade para cumprir as obrigações contratuais. Enfim, questiona que a ADM. não justificou o móvito da fixação de tal exigência (à época – pois inválida é a motivação a posterior).

“Conclui-se, que o edital em tela deve sofrer modificações, a fim de ser ajustado aos princípios maiores que regem o processo licitatório, não se permitindo o ceifamento prematuro de empresas outras, com larga experiência técnica e qualificadas para a

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

39

execução das obras e dos serviços noticiados, além dos sensíveis prejuízos a serem causados à Administração”

Em similitude, a Superintendência rejeitou tal impugnação, fls.

1957/1964.

O que mais intriga, entretanto, é a Administração de MAGUITO

rejeitar todas estas considerações jurídicas e fundamentadas dos demais licitantes

(coando um mosquito – com rigorismo), e ao mesmo tempo permitir e tolerar que a

empresa DELTA (com dezenas de reclamações, por má-execução dos serviços,

contratada diretamente) continuasse à frente do serviço (engolindo um camelo), com dois

pesos e duas medidas.

Mas, não são somente estas impugnações ao EDITAL. Abaixo,

as ponderações e os vícios apontados pela empresa MOSCA GRUPO NACIONAL DE

SERVIÇOS LTDA – SP, às fls. 1967/1975:

As disposições do Edital que limitam a execução do tratamento dos RSS (resíduos sólidos do serviço de saúde) apenas ao método térmico contrariam a disposição do parágrafo 10 ao artigo 30 , da Lei 8.666/93 que veda aos agentes públicos admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo. Ao definir e exigir exclusivamente sistema de incineração. o Edital afasta da competição todas as empresas que detenham domínio de algum outro método de tratamento de RSS (microondas, autoclave, desativação eletrotérmica, etc.), comprometendo o potencial competitivo do certame e inviabilizando o atingimento de sua finalidade maior que é a de proporcionar a melhor proposta para a administração pública. Isso porque não há nenhum dispositivo legal ou regulamentar que proceda a tal exigência, da forma como posta no Edital. (Resolução CONAMA 358/2005 – ARTIGO 15ss e Resolução ANVISA 306/2004)

Com efeito, os subitens apontados consignam vícios que frustram totalmente o escopo da licitação, criando óbices indevidos aos licitantes, o que é claramente vedado em lei e desvirtua o escopo do procedimento licitatório (artigo 3º LL)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

40

As exigências editalícias devem ter como justificativa, sempre, e tão somente, a segurança à Administração Pública de que eventual vencedor do certame terá plenas condições técnicas de prestar o serviço em perfeito atendimento ao interesse público. Qualquer outra exigência não encontra amparo na lei que· rege as licitações e contratos administrativos, pois acarretará na impossibilidade de participação injustificada de diversos interessados que poderiam efetivamente possuir qualificação técnica necessária para executar o objeto da licitação. (...) Se a exigência é desnecessária - posto que não constituirá, de nenhuma forma, em prova de capacidade técnica - ela é, por outro lado, ilegal, já que restringe o universo de licitantes que, embora possuam qualificação técnica real, não estarão aptos a comprová-Ia, na restrita forma em que determinado no Edital.

A impugnação supra também foi julgada administrativamente

improcedente pelo governo de MAGUITO, fls. 1976/1983.

Como se vê, vários são os indícios de direcionamento do

EDITAL, apresentados pelos próprios licitantes.

O EDITAL também foi IMPUGNADO, fls. 1985/2006, pela

empresa VALOR AMBIENTAL LTDA. Observemos sua indignação abaixo:

“Impugnante, como empresa especializada no ramo de limpeza pública, detém total e irrestrita capacidade estrutural e tecnológica de executar o objeto licitado. Contudo, ao passo que no presente certame traz consigo cláusulas que comprometem a disputa, a Administração fica inviabilizada de analisar uma oferta extremamente vantajosa em sua técnica e preço, impossibilitando até mesmo que uma das empresas mais capacitadas para esta contratação - possa ser habilitada na disputa (...) limita o leque de competidores na licitação”.

Exigência de quantitativo mínimo em item de menor relevância da contratação – fls. 1990 - “Conforme dinamiza o subitem 7.1.4, alínea "d" do edital somente serão habilitadas na disputa as empresas que comprovarem aptidão para execução dos SERVIÇOS mediante demonstração e experiência anterior pertinente e compatível com o objeto licitado, obtida em contrato(s), através de apresentação de atestados de capacidade técnica, emitidos em seu nome, fornecidos por entidade de direito púbico ou privado”

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

41

“Vale dizer que o Edital em comento é réplica quase fiel do edital da Concorrência n° 07/7010, porém, com restrições maiores do que aquele instrumento anterior. Naquela oportunidade, o Município abriu concorrência com o mesmo objeto, porém, sem indicar a destinação dos resíduos de serviços hospitalares. No entanto, é válido dizer, que a aposição do destino não poderia restringir ainda mais o universo de licitante, como o fez, pois o interesse público reclama um número maior de competidores para que se encontra a proposta mais vantajosa a esse Município.”

“o objeto, aqui, limita-se praticamente à coleta regular de resíduos sólidos domiciliar comercial, e Operação e recuperação ambiental de aterro sanitário, sendo estas, portanto, as parcelas de relevância técnica e valor significativo previamente descritos no instrumento convocatório. Por conseqüência, por óbvio que a exigência de que a empresa tenha que comprovar ter realizado Coleta de resíduos de especificamente para o setor de saúde encontra-se incompatível com os propósitos da contratação. No caso ·em tela seria excessivamente rigoroso valorar uma característica sem qualquer relevância com a real capacidade operacional das empresas.”

Mesmo com tais argumentações, novamente a Administração

negou procedência da impugnação, conforme fls. 2008/2013.

Vencida esta fase de impugnação do EDITAL, passou a

Administração a proceder ao JULGAMENTO DAS HABILITAÇÕES (fls. 2043/2056), e

como não poderia ser diferente, restaram habilitadas apenas 04 empresas (entre elas a

DELTA), conforme ata de fls. 2055, comprovando-se a restrição à participação de

empresas no certame.

Em vista desta restrição e indeferimento de participação de

várias empresas, alguns licitantes valeram-se do direito aos recursos

administrativos contra os atos abusivos da Administração.

A falta de lisura na condução foi gritante. Dois dos recursos

às fls. 2074ss e 2099ss, interposto pela empresa LEÃO AMBIENTAL, narram até

mesmo ILICITUDES, EM TESE, CRIMINAIS EM RELAÇÃO A CONSTRUBAN e a

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

42

VITAL 30, fatos sujeitos a investigação policial (o que não ocorreu, sic), conforme abaixo

discriminado.

Em relação a CONSTRUBAN, foi narrado seguinte ILÍCITO PENAL:

BURLA ao EDITAL: “conforme o documento de fls. 628 da pasta de documentação apresentada pela empresa CONSTRURBAN, consta que o responsável técnico da empresa compareceu na visita técnica, porém, como pode ser de fácil comparação com o documento de fls. 629 e outros, a assinatura que consta no Atestado de Visita Técnica é diversa da assinatura do responsável técnico, Sr. Ubiratan Sebastião de Carvalho. (cópias anexas)... todas, por intermédio de seus responsáveis técnicos, estavam presentes no dia 26/10/2010, no horário previamente agendado, exceto o responsável técnico da CONSTRURBAN... Portanto, frisa-se: No dia 26/10/2010, às 10:00 horas não estava presente a empresa CONSTRURBAN, porém, na sua pasta de documentos surge, não se sabe como, um ATESTADO DE VISITA como se estivesse participado da visita técnica, por intermédio de seu responsável técnico, Sr. Ubiratan Sebastião de Carvalho. E, para tomar ainda mais escandalosa a situação, conforme já dito acima, a assinatura que consta no referido documento não se assemelha com a assinatura do Sr. Ubiratan... Ademais, a conduta de quem participou desta inverdade mostra-se absolutamente irregular, desatendendo aos princípios da licitação, não podendo prevalecer de forma alguma, haja vista que acabou frustrando, senão restringindo a competitividade do certame.. .Todo o ocorrido foi presenciado pelo Sr. Felipe Wadhy Rebehy Bonini, responsável técnico da ora recorrente, que emite declaração anexada (fls. 2084) ao presente, testemunhando como se deram os fatos.” (fls 2078)

Em relação a VITAL, foi narrado seguinte ilícito:

BURLA AO EDITAL: “consta no item 3.5 do Edital - Das Condições de Participação: "É condição para a habilitação da licitante, a realização de visita técnica aos principais pontos de execução dos serviços. As visitas

30

Empresas foram processadas juntamente com o MAGUITO em outra ação de IMPROBIDADE

– em anexo – FORAM contratadas sem licitação pela Administração (de MAGUITO).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

43

serão realizadas obrigatoriamente pelo responsável técnico da licitante” Ocorre que na pasta de documentação apresentada pela empresa VITAL, consta o comparecimento na Vista Tecnica, o Sr. Luciano Machado Baptista, conforme faz prova a cópia do Atestado de Visita anexo. Ocorre que de acordo com os demais documentos da empresa, Certidão de Registro de Pessoa Jurídica expedida pelo CREA-RJ, cópia anexa, a pessoa do Sr. Luciano Machado Baptista não consta na referida certidão. O Sr. Luciano não parece em nenhum documento da empresa para comprovar que o mesmo é responsável técnico da VITAL. De acordo com a documentação apresentada pela empresa VITAL, o responsável técnico é o Sr. José Eduardo Sampaio e não o Sr. Luciano Machado Baptista. Assim, resta provado que a pessoa que realizou a visita tecnica não preencheu os requisitos exigidos no edital... a empresa VITAL não participou de forma correta na visita técnica.”.

Em relação ao ilícito da CONSTRUBAN, com a conivência de

algum servidor público, a própria Administração (fls. 2132) reconheceu o erro/vício,

inabilitando tal empresa (julgando procedente o recurso da empresa LEÃO AMBIENTAL

contra a CONSTRUBAN):

“ Fundamenta suas razões na ausência de atendimento ao item 3.5 do Edital, isto por que o seu responsável técnico não teria comparecido à visita técnica e outro teria assinado o documento em substituição ao mesmo, o que configuraria, em tese, além de crime licitatório, falsificação de documento público.”

“ De fato verifica-se que o vício existiu, conforme documentações comprobatórias apresentadas nos autos. “

“ Por todo o exposto, dou provimento ao recurso para, reconsiderando a decisão anterior, inabilitar a empresa CONSTRURBAN LOGISTICA AMBIENTAL LTDA.”

“ Em razão da decisão, remetam-se os autos à ao Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal para os devidos fins.” (FLS. 2132/2133)

Somente este VÍCIO mortal já mancharia toda competição

(concorrência nº 010/10), já que a própria Administração RECONHECEU a existência

de um ILÍCITO PENAL no transcurso do certame, com a ciência do Sr. Prefeito

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

44

MAGUITO, o qual não anulou o procedimento (permutando os servidores públicos que

desempenharam ali suas funções).

O mais incrível é que após a CONSTRUBAN ter sido

INABILITADA POR PRÁTICA DE ILÍCITO PENAL (conforme narração supra), a mesma

foi novamente habilitada pela Administração. (fls. 2160) UM ABSURDO!!!, com a

ciência do Sr. MAGUITO VILELA.

Somente às fls. 2404ss é que a CONSTRUBAN apresentou

uma “justificativa” esdrúxula, dizendo que seu responsável técnico estava presente,

mas “ao término da visita, depois de concluída todas as vistorias, o responsável técnico

da Impugnante tinha um compromisso em outra localidade com vôo marcado e

estava muito atrasado para chegar ao aeroporto... O responsável da Impugnante

pediu para se retirar, pois do contrário, perderia o vôo... O pedido foi autorizado

pelo representante da Prefeitura...”. (fls. 2409)

O mais incrível é que os requeridos MAGUITO e LUIZ

AUGUSTO, mesmo reconhecendo a mentira da CONSTRUBAN e a prática de ilícito

penal, não anularam a LICITAÇÃO (por ferimento lei do Edital e o princípio da isonomia

entre os licitantes) – fls. 2417/2418.

Vejamos tal ilicitude. A VITAL ENGENHARIA AMBIENTAL S/A

apresentou recurso (fls. 2152) para que a Administração julgasse inabilitadas as

empresas CONSTRUBAN LOGÍSTICA AMBIENTAL LTOA., GAE – CONSTRUÇÃO &

COMÉRCIO LTDA. e LEÃO AMBIENTAL S/A, por afrontarem ao EDITAL, na forma do

item 5.4 do Edital e do artigo 43, 11, da Lei n. 8.666/93. O estranho é que a

Administração, de seu lado, julgou tal recurso em seguintes moldes:

“Por todo o exposto, dou parcial provimento ao recurso para, reconsiderando a decisão anterior, inabilitar a empresa GAE - CONSTRUÇÃO E COMÉRCIO LTDA, mantendo a habilitação das

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

45

empresa LEÃO AIVIBIENTAL S/A. e CONSTRURBAN LOGISTICA AMBIENTAL LTDA.” (fls. 2160)

Ora, em um momento a Administração (Prefeito MAGUITO e

Superintendente LUIS AUGUSTO) atestou que havia um CRIME e inabilita a

CONSTRUBAN (por afronta ao EDITAL), e depois, estranhamente, reconsidera a

inabilitação, para habilitá-la (sem fazer qualquer referência ao ilícito penal

descoberto). Um absurdo. Tudo com a ciência do Sr. MAGUITO VILELA. (fls. 2160)

Mas os indícios de ilegalidades não param.

Às fls. 2135/2139, a EVOLU SERVIC AMBIENTAL LTDA

também apresentou recurso contra ato da Comissão de Licitação, argumentando em

síntese que “mesmo tendo a Recorrente apresentado documentos que preenchem aos

requisitos exigidos no Edital, a mesma foi considerada inabilitada”. A Prefeitura negou

recurso, com ciência do Sr. Prefeito Municipal (fls. 2144/2145)

Outro recurso foi da empresa CORAL ADMINISTRAÇÃO E

SERVIÇOS LTDA, às fls. 2162/2169, contra a sua inabilitação para participar da licitação

(exatamente por conta das cláusulas restritivas de competição criadas pelos

Agentes-requeridos). Em suma, citada empresa prejudicada aduziu e provou que :

“embora os índices contábeis previstos no edital devam consubstanciar exigência suficiente para atestar que a empresa possui capacidade financeira necessária ao cumprimento das obrigações decorrentes da licitação, não podem, de outro lado, infringir o art. 31, §§ 2º e 5 °, da Lei n° 8.666/93 e contribuir para inviabilizar a participação de muitas outras empresas no certame.

“existiram exigências afrontosas ao princípio da ampla competividade, com infração ao art. 37, XXI, da CF/88 e do artigo 31 da LL, nos seus parágrafos: “§ 2º - A Administração, nas compras para entrega futura e na execução de obras e serviços, poderá estabelecer, no instrumento convocatório da licitação, a exigência de capital mínimo OU de patrimônio líquido mínimo, OU ainda as garantias previstas no § 1º do art. 56 desta Lei, como dado objetivo de comprovação da qualificação

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

46

econômico-financeira dos licitantes e para efeito de garantia ao adimplemento do contrato a ser ulteriormente celebrado.” (...) “ § 5º - A comprovação da boa situação financeira da empresa será feita de forma objetiva, através de cálculo de índices contábeis previstos no edital e devidamente justificados no processo administrativo da licitação que tenha dado início ao certame licitatório, vedada a exigência de índices e valores não usualmente adotado para correta avaliação de situação financeira suficiente ao cumprimento das obrigações decorrentes da licitação.”

“Deflui do texto constitucional que as exigências, quer alusivas a capacidade técnica, quer quanto a econômico-financeira ou ainda, à jurídica devem se limitar àquelas necessárias e suficientes a garantir, com uma menor margem de risco possível, uma execução a contento do objeto que se deseja contratar.”

“A exigência de qualificação econômico financeira dos interessados, ou seja, comprovação da boa situação financeira da empresa, mediante demonstração de que seu índice de Liquidez Geral (LG), com valor igualou superior a 1,5, é muito elevada, porquanto uma empresa pode perfeitamente operar com índice corrente igual ou superior a 1,0. As prescrições editalícias devem limitar-se ao mínimo necessário para assegurar a idoneidade do futuro contratado, garantindo maior acesso ao certam e licitatório.”

A decisão da Administração (dos requeridos MAGUITO e LUIZ

AUGUSTO), às fls. 2174/2175, foi pela manutenção do afastamento de tal empresa da

licitação (restringindo a competição).

A DELTA CONSTRUÇÕES S/A ingressou com recurso (fls.

2177ss), mas foi para prejudicar a empresa GAE CONSTRUÇÃO, no sentido de

inabilitá-la da competição. E qual foi a decisão? Os requeridos – LUIZ AUGUSTO e

MAGUITO acolheram a tese da DELTA e desclassificaram outra concorrente (GAE

CONSTRUÇÃO) da licitação – fls. 2182/2183.

À fls. 2186ss, a empresa TERMAQ também ingressou com

recurso contra ato da Administração (de inabilitação), porém também houve julgamento

(fls. 2286/2290) mantendo-se o afastamento desta outra grande empresa (que presta

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

47

serviços em São Vicente-SP, com mais 300 mil habitantes e Uberaba-MG), tudo com

ciência de MAGUITO VILELA.

A PAVOTEC, outra grande empresa, também interpôs recurso

contra ato da Administração que a excluiu do certame (fls. 2292ss), argumentando em

síntese que exigências editalícias redigidas pelos requeridos (Maguito e Luiz Augusto)

deveriam ser afastadas a fim de dar ao certame sua finalidade (igualdade, ampla

competitividade, melhor proposta, etc.), citando inclusive entendimento do STJ (MS nª

5597), que assim se manifestou: “O ordenamento jurídico regular da licitação não

prestigia decisão assumida pela Comissão de Licitação que inabilita concorrente

com base em circunstâncias impertinentes ou irrelevante para o especifico objeto

do contrato, fazendo exigência sem conteúdo de repercussão para a configuração da

habilitação jurídica, qualificação técnica, de capacidade econômica financeira e da

regularidade fiscal”.

A irresignada empresa PAVOTEC também criticou e colocou

em dúvidas a atuação da Comissão de Licitação (dos requeridos), muito tendenciosa:

“Resta claro que no caso em comento, a Comissão de Licitação, pautando-se em

um julgamento extremamente rigoroso e sem fundamento legal, que apenas

interessa às empresas concorrentes, inabilitou uma empresa que comprovadamente

atestou sua qualificação técnica para executar os serviços licitados (e assim, eliminou

também uma proposta vantajosa ao certame e, por consequência, ao interesse público

envolvido na licitação).”

Finalizou sua revolta, citando Jurisprudência de nossos

Tribunais, quanto ao excesso de rigorismo com algumas empresas: “Visa a concorrência

pública fazer com que o maior número de licitantes se habilite para o objetivo de facilitar

aos órgãos públicos a obtenção de coisas e serviços mais convenientes a seus

interesses. Em razão desse escopo, exigências demasiadas e rigorismos inconsentâneos

com a boa exegese da lei devem ser arredados. Não se deve haver nos trabalhos

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

48

nenhum rigorismo e na primeira fase da habilitação deve ser de absoluta singeleza

o procedimento licitatório. (TJ/RS - AgP 11.363, publicado na RDP 14:240).”

A Administração (agentes públicos MAGUITO e LUIZ

AUGUSTO) às fls. 2305ss também desprezou toda argumentação supra da PAVOTEC,

negando provimento ao recurso.

Ainda existiram outros recursos/defesas: da VITAL fls. 2310ss;

da LEÃO fls. 2326ss; decisão administrativa fls. 2401.

Às fls. 2430, a Administração (requeridos) informaram que

foram desclassificadas 08 grandes empresas (em prejuízo do interesse público, de

proporcionar a escolha da melhor proposta), e habilitadas apenas 03 concorrentes para

fase final da licitação (de apresentação de propostas), dentre elas, coincidentemente, a

DELTA:

EMPRESAS HABILITADAS:

DELTA CONSTRUÇÕES S/A VITAL ENGENHARIA S/A LEÃO AMBIENTAL S/A

EMRPESAS INABILITADAS – DESCLASSIFICADAS

ARCOS CONSTRUÇÕES E COMERCIO LTDA CONSTRUBAN LOGÍSTICA AMBIENTAL LTDA CORAL ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA EVOLU SERVIC AMBIENTAL LTDA GAE CONSTRUÇÃO E COMERCIO LTDA PAVOTEC PAVIMENTAÇÃO E TERRAPLANAGEM LTDA TERMAQ TERRAPLANAGEM CONSTR. CIVIL E ESCAV. LTDA VALOR AMBIENTAL LTDA

Mesmo com tal decisão, algumas empresas indignadas e

prejudicadas apresentaram recursos para reconsideração.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

49

A empresa GAE às fls. 2437ss questiona a lisura da Comissão

de Licitação (MAGUITO e LUIZ AUGUSTO) ao acatar argumentação da DELTA31 (contra

a GAE), no seguinte comentário: “A argumentação apresentada pela comissão causa

no mínimo estranheza, considerando que inicialmente a comissão decide por pela

habilitação da Requerente e na sequência sem qualquer fundamentação plausível

opta pela inabilitação da mesma.”(2438)

A licitante GAE questiona veementemente a conduta

duvidosa da Comissão (MAGUITO e LUIZ AUGUSTO), que habilita e depois inabilita tal

empresa, pois “ a sua inabilitação fere o princípio da economia aos cofres públicos, livre

concorrência e competitividade por restringir o número de participantes no certame e a

possibilidade de aumentar as chances daquele em conseguir a proposta mais vantajosa”

(fls. 2445)

Mas toda insatisfação e indignação (argumentação jurídica)

da GAE não mudou o entendimento dos requeridos (MAGUITO e LUIZ AUGUSTO), que

mantiveram sua desclassificação (inabilitação), fls. 2446/2447. Por derradeiro, a

TERMAQ também apresentou novo recurso, que foi julgado improcedente, fls. 2455ss.

Mesmo com todos estes indícios e irregularidades apontadas

por várias empresas, os requeridos MAGUITO e LUIZ AUGUSTO deram continuidade na

licitação, convocando as 03 empresas habilitadas para apresentação de proposta de

preços, no seguintes moldes: fls. 2461 – LEÃO; fls. 2469, VITAL; e fls. 2526, DELTA.

Com toda condução parcial da Administração, ferindo-se vários

princípios da licitação, com fortes indícios, apontados pelas próprias empresas

concorrentes, de direcionamento e de favorecimento a DELTA, não poderia ter sido

outro resultado: DELTA apresentou supostamente a melhor proposta, no valor de

R$ 51.476.090,40 - e “ganhou” a licitação. (vide ata de julgamento – fls. 2571/2572)

31 A DELTA buscou inabilitar a GAE CONSTRUÇÃO & COMÉRCIO LTDA., na tentativa de invalidar as

Certidões de Acervo Técnico 326/2001 e 327/2010, porque a prestação de serviços idênticos aos licitados ao Município de Anápolis fora realizados em consórcio.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

50

Mas a presença de indícios de favorecimento para com a

DELTA continuou, conforme demonstrou a empresa VITAL às fls. 2596ss.

Em recurso contra o resultado da licitação, a VITAL elencou

os seguintes indícios de ilícitos no sentido de os requeridos beneficiarem a

empresa DELTA:

“A empresa DELTA CONSTRUÇÕES S/A apresentou o preço de aquisição para um conjunto de caminhão + implemento compactador no valor de R$231.000,00,,:valor este bem inferior aos equipamentos que são utilizados pelas empresas do setor”

COMENTÁRIO - a empresa vencedora DELTA apresentou um preço bem abaixo de mercado, apenas para ganhar a licitação – ao depois, poderia haver ADITAMENTO ao contrato (aumentando-se o valor do contrato, como aconteceu; ou prestaria um serviço de péssima qualidade).

“O Estudo realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pela ABELP (Associação Brasileira de Limpeza Pública), intitulado Elaboração de Planilhas de Custos dos Serviços de Limpeza Pública, considera que durante a vida útil do caminhão coletor compactador a manutenção representa, 85% do valor de aquisição. Estes números são reais e comumente praticado pelas empresas de mercado, tanto que no Estudo acima intitulado, os dados são práticos da cidade de São Paulo/SP. Estes dados combinados demonstram que ao longo do contrato, a manutenção dos caminhões compactadores não será realizada conforme os custos necessários, pois além de um valor de aquisição inferior, a empresa reduziu em mais de 50% os custos considerados em sua manutenção, o que certamente ocasionará um grande número de quebras e descontinuidade da prestação do serviço de coleta de resíduos no município.”

COMENTÁRIO – o preço praticado pela DELTA é incompatível com o lucro, e ensejaria, conforme advertido pela VITAL, em um futuro ADITAMENTO (o que realmente ocorreu, burlando a licitação).

A Licitante considera 26,08 dias por mês (dias úteis + feriados), mas não considera horas extras 100% no cálculo da mão de obra.

COMENTÁRIO – questiona-se o valor da proposta da DELTA (que seria prejudicial ao município)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

51

O dimensionamento da mão de obra está com reserva técnica de apenas 10% e não supre o alto índice de absenteísmo da região. Também não considera horas extras de 50%, que naturalmente são executadas após as horas normais de trabalho nos dias úteis, principalmente as segundas e terças feiras, quando o volume de resíduos é maior, desrespeitando a legislação trabalhista e convenção coletiva da categoria.

COMENTÁRIO – questiona-se a proposta da DELTA, “já que pelo que consta na proposta comercial deixará "lixo" nas ruas após o horário normal de trabalho, pois não considerou em seu custos, a hora extra após a jornada de trabalho e aos domingos e feriados.”

A VITAL também questionou a proposta vencedora da DELTA,

onde esta, para coleta de resíduos sólidos de saúde, considerou “ 02 utilitários tipo fiorino

com baú adaptado. Informa que cada fiorino tem capacidade de carga de 0.5 t, porém o

volume do baú não cabe 0.5 t, necessitando de um maior número de veículos e

consequentemente, de viagens, as quais não foram consideradas.”

Em argumentação jurídica, a VITAL prova que a proposta

retro da DELTA jamais seria exequível: “basta uma simples fiscalização na pesagem

destes veículos para comprovar que a capacidade média de carga é bem inferior ao

declarado pela empresa, partindo-se da análise do peso específico dos resíduos de

serviços de saúde (RSS).” Informa que percorrerá 1.825,60 km/mês equivalente a 70

km/dia, o que não é suficiente para coletar o volume licitado, incluindo a sua descarga no

aterro. Detalhe que nesta quilometragem, estão inclusas 3 viagens por dia, o que

certamente não representa a característica real do município.” (fls. 2598)

Quanto a proposta de coleta domiciliar, a VITAL apontou que

a proposta da DELTA também é impraticável, e somente com uma conivência do

Setor Público para aceitar uma contratação nos moldes propostos: “Da mesma

forma da coleta domiciliar, os custos de manutenção foram subdimensionados, pois

apresenta um custo de 50% sobre o valor de aquisição. Apenas para esclarecer, na coleta

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

52

de RSS, a manutenção tem um custo ainda maior sobre o valor de aquisição, em função

da alta agressividade dos resíduos sobre os equipamentos utilizados”. (fls. 2598)

Quanto a operação do aterro sanitário, a VITAL demonstrou

que a DELTA apresentou proposta irrealizável: “a Licitante DELTA considera apenas

02 ajudantes de serviços gerais no turno diurno e 01 ajudante no turno noturno, o que

não é suficiente para a manutenção da área do aterro, incluindo os serviços de

cercamento, capina e roçada da vegetação, correção das vias de acesso, construção de

dispositivos de drenagem de águas, drenos de percolados e biogás, limpeza de toda a

área do aterro e demais atividades de rotina de um aterro sanitário.” (fls. 2599)

Outras propostas da DELTA foram atacadas pela VITAL.

Esta demonstrou que haveria uma não execução dos serviços a contento: “ item de

ferramentas foi considerado o custo com tubo de concreto perfurado, pedra marroada e

tela, mas não foi considerado o custo da mão-de-obra necessária para a sua instalação,

constituída de no mínimo um pedreiro e um ajudante. No cálculo da mão-de-obra de

operador não foi considerado o adicional noturno para pelo menos 01 operador, o que

somente será viável se os resíduos forem manejados apenas no período diurno. E no

caso de domingos e feriados os resíduos ficarão expostos a céu aberto até o próximo dia

útil, visto que não foram consideradas horas extras para esta mão de obra.”

A VITAL, empresa que já prestou serviços em Aparecida de

Goiânia-GO, salientou outras propostas inexequíveis pela empresa DELTA:

da destinação dos resíduos sólidos de saúde por meio de vala séptica - foi considerada 01 retro escavadeira, mas não foi quantificado o custo para a sua operação.

da destinação dos resíduos sólidos de saúde por meio de incineração: preço apresentado de R$641,OO/tonelada para incineração dos RSS está bem abaixo do preço praticado pela terceirização deste tipo de serviço no mercado. A composição de preços apresentada pela empresa não demonstra este custo, apenas cita o valor, sem demonstrar a viabilidade técnica na prática deste valor.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

53

do custo indireto: a empresa DELTA demonstra uma equipe de apoio operacional e a aplica um rateio nos custos diretos dos serviços. Há despesas operacionais com valores irrisórios, por ex. energia a R$ 600,00 e telefonia fixa a R$800,OO. Este rateio, na verdade, tem o objetivo de reduzir o percentual de BOI (Bonificação e Despesa Indireta). Além disso, como nas demais composições, toda mão de obra foi calculada sem horas extras, impossível de ser condizente com a realidade, pois um serviço essencial como a limpeza pública de uma cidade como Aparecida de Goiânia não pode sofrer descontinuidade com a ausência de trabalho em feriados e domingos;

O que mais impressiona é que o Sec. da SEMMA, JULIANO

CARDOSO, perante a 9ª PJ, confessou que LUIZ AUGUSTO (Sup. Lic.), braço direito

do Prefeito MAGUITO, tinha plena ciência de que o preço apresentado pela DELTA

era INEXEQUÍVEL (conforme foi impugnado por outros licitantes). Vejamos:

“...Que o declarante nesta audiência em conversa informal com Sr.

ANTONIO CARLOS, ambos presenciaram o dia do julgamento da licitação

nº 10/10, em que a DELTA saiu vencedora, e então ambos (JULIANO e

ANTONIO) questionaram o Superintendente sobre o valor apresentado pela

DELTA, pois seria muito baixo, inexequível pelo que tinha conhecimento da

coleta, e o Superintendente disse que não tinham que questionar isto, e

que a participação da SEMMA era só fiscalizar ou monitorar...”

Mesmo com todos estes argumentos sólidos, a DELTA

apresentou impugnação (fls. 2610ss).

Não houve surpresa: a Administração (MAGUITO e LUIZ

AUGUSTO) desprezou “coincidentemente” toda manifestação jurídica e fática da

VITAL (fls. 2596/2601) e manteve a vitória da DELTA. (decisão administrativa de LUIZ

AUGUSTO e de MAGUITO VILELA – fls. 2626/2633).

Porém, temos ainda o recurso da LEÃO AMBIENTAL o qual, na

época, apresentou novos argumentos contra a contratação da DELTA, nos seguinte

moldes:

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

54

(MAGUITO e LUIZ AUGUSTO) deixaram de analisar cuidadosamente a proposta e não se atentaram para o fato de que a mesma não atendia e não cumpria os requisitos prescritos na Lei 8.666/93 e no Edital da Concorrência Pública - o que culminou com a validação e classificação de uma proposta que deveria ter sido sumariamente desclassificada do presente certame licitatório.

ofensa ao artigo 48, 11, § 1°. da Lei 8.666\93 - a proposta apresentada pela empresa Delta deve ser desclassificada, pois os valores das propostas das 03 (três) empresas que participaram do processo de abertura dos envelopes de preços relativos à DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS DO SERVIÇO DE SAÚDE POR MEIO DE INCINERAÇÃO foram: Proposta Delta: R$ 900,24 por tonelada; Proposta Vital: R$ 1.799,90 por tonelada; Proposta Leão: R$ 1.534,00 por tonelada; média aritmética das propostas é de R$ 1.411,38. Os valores inferiores a dessa média, ou seja, R$ 987,96, devem ser desclassificados. Assim, como o valor apresentado pela empresa Delta para este serviço foi de R$ 900,24 (novecentos reais e vinte e quatro centavos) por tonelada, ou seja, inferior ao permitido na Lei de licitações, conforme exposto acima.

descumprimento de regras do Edital, quanto ao tratamento de resíduos sólidos de saúde por incineração - o edital, no item J .1.1, nas fls. 55, determina que a empresa contratada deve instalar a unidade de incineração no aterro de Aparecida de Goiânia ou em um raio máximo de 50 km do aterro. Na composição de preços unitários da empresa Delta, às fls. 36 de sua proposta comercial, não está evidente se irá terceirizar o serviço ou não. Ressalta-se que a proposta quando apresentada, tem que ser clara e objetiva e sem omissões, requisito não observado pela Delta quanto a este item. (...) em relação ao preço proposto pela empresa Delta, nenhuma das empresas terceirizadas pratica este valor (R$900,24/ton). O preço praticado nesta região é superior a R$ 1.800,00/ton.

serviço coleta de resíduos de serviços de saúde, item "b" do objeto, não atende as exigências do edital, pelos seguintes motivos – Capacidade de carga do veículo escolhido é insuficiente conforme Ficha Técnica da Fiat, onde no campo Fiorino consta capacidade do veículo em 3.200 litros. (...) seria impossível em um veículo Fiorino transportar 0,5 tonelada (conforme estimativa apresentada pela Delta, fls. 16 da Proposta de Preço) de resíduo por viagem, sua capacidade seria de no máximo 300 kg.” (...) é evidente que será necessário mais um veículo tipo Fiorino; percebe-se que a composição de custos não está em harmonia com a realidade dos serviços a serem executados, (Conforme planilha Excel - Item 1), em total descumprimento as exigências do o edital na composição de custos.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

55

da ausência de engenheiro - Do Incinerador, nas fls. 56 do edital, segundo o item J.2.2.1: "a contratada deverá disponibilizar um profissional, devidamente habilitado pelo CREA para tal função, sendo esse o responsável técnico do processo de operação e tratamento de resíduos" 2. Este item foi muito claro e taxativo exigindo o profissional alocado no item Incineração, a Delta descumpriu este item do Edital, pois na composição de preços unitários do serviço "Destinação final de resíduos sólidos do serviço de saúde por meio de incineração" da empresa Delta Construção, não foi apresentado o custo deste responsável técnico e que possua acervo técnico compatível ao objeto deste item, no caso operação de incinerador.

quanto a utilização de caminhões compactadores, os valores praticados são inviáveis – No Projeto Básico do Edital, o sub-item "j " (fls. 36) do item 1.3 (Equipamentos), diz que Para o início da prestação dos serviços a frota de caminhões com os respectivos equipamentos coletores, destinados aos serviços de coleta de resíduos domiciliares deverão ser novos (O km). Entretanto na planilha de composição de custos da DEL TA (pg 10) a mesma apresenta um custo total do caminhão de R$231.000,00 (duzentos e trinta e um mil reais), sendo R$140 .000,00 (cento e quarenta mil reais) para o caminhão compactador caçamba de 15m3 e R$91.000,00 (noventa e um mil reais) para o compactador de 15m3 . Tais valores apresentados na planilha de custos da empresa DEL TA não condizem com os valores praticados de mercado. Para tanto, solicitamos que a prefeitura faça uma cotação junto ao mercado para comprovar que esses valores são impraticáveis. Diante de todos os pontos atacados na proposta apresentada pela empresa Delta, é claro a inobservância quanto as regras do Edital e, consequentemente, não poderá esta permanecer vencedora do certame em tela.

descumprimento do edital - A composição dos custos apresentada pela Delta não seguiu o determinado no Edital, conforme amplamente demonstrado nas linhas acima, não podendo permanecer como vencedora, devendo sua proposta ser desclassificada (2651), já que “A Administração, bem como os licitantes, estão vinculados aos termos do edital” (STF RMS 24555)

A DELTA apresentou sua defesa, que foi integralmente

acolhida (fls. 2679/2685) pela Administração (MAGUITO e LUIZ AUGUSTO), os quais

desprezaram todas argumentações jurídicas acima, tudo em benefício ilícito para

aquela (DELTA).

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

56

Enfim, citamos ainda como gritante irregularidade a

apresentação de uma PARECER JURÍDICO nº 1063/201032, redigido e assinado por

um Assessor Jurídico (indicado em cargo de confiança – Dr. Rodrigo Silveira Costa)

do Superintendente da Licitação (LUIZ AUGUSTO). Tal parecer jurídico é um acinte

e uma agressão para com a Legislação Municipal, que prevê que a responsabilidade

é de um PROCURADOR MUNICIPAL CONCURSADO, e jamais por um Assessor do

Superintendente, o que configura improbidade administrativa, por ferir princípio da

legalidade (lei orgânica do Município, bem como legislação da Procuradoria Geral do

Município, que defini atribuição de emissão de parecer apenas por Procuradores

Concursados).

Por qual motivo MAGUITO e LUIZ AUGUSTO não

encaminharam os autos de concorrência pública nº 010/10 para apreciação de um órgão

oficial da Administração, para a Procuradoria Geral do Município (onde os Procuradores

são concursados e independentes)? Por qual motivo uma licitação desta envergadura

(51 milhões) passou apenas pelo crivo jurídico de um Assessor-Cargo de

Confiança do MAGUITO e LUIZ AUGUSTO?

São, portanto, dezenas de indícios que convergem a uma

conclusão: MAGUITO e LUIZ AUGUSTO beneficiaram acintosa e dolosamente a

empresa DELTA, que redundou na Adjudicação e Homologação da concorrência nº

010/2010 (fls. 2700), em 30.12.2010, com a contratação (nº 685/10) em mesma data

(rapidez estranha).

32

A interferência de tal “Procurador Municipal AD HOC”, RODRIGO SILVEIRA, mesmo

existindo quadro permanente de Procuradores Concursados é uma ofensa a legislação e também é outro indício de manipulação da licitação – pois tal Advogado estava SUBORDINADO ao Superintendente de LICITAÇÕES (ou seja, na prática, não existiu um controle externo por parte da Procuradoria Geral do Município, onde Procuradores Concursados são independentes). Temos às fls. 426 (do apenso 10, do processo licitatório) outra manifestação de tal Advogado, desprezando a PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

57

DAS IRREGULARIDADES DESCOBERTAS PELA AUDITORIA DO

TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS – GO

Corroborando com tudo já narrado, o TCM passou a analisar

o Edital nº 010/2010 (processo licitatório), em virtude de denúncias e questionamentos

contra os 03 Editais anteriores33 (com mesmo objeto), verificando o ferimento de

princípios administrativos e presença de cláusulas que restringiam a

competitividade na licitação.

Tais Editais (04) deram origem a uma Auditoria perante o

TCM-GO (fls. 495, volume X), que ainda encontra-se aguardando julgamento por

aquela Corte de Contas.

Em tal fiscalização, a Auditoria de Engenharia verificou que

os processos acima citados (04 Editais) referem-se ao mesmo procedimento

licitatório para contratação de empresa especializada, para prestação de serviços

de limpeza pública, no perímetro urbano do município de Aparecida de Goiânia, os

quais foram objeto de denúncia com mesmas irregularidades constantes da presente

denúncia.

A Auditoria, quando da análise dos processos, concluiu:

“procedentes as denúncias nos dois últimos processos citados acima (Edital 007/2010 e 007/2010 republicado), sugerindo adoção de medida cautelar para suspender os certames em virtude das irregularidades apresentadas nos referidos editais.” (parêntesis – nosso inserção)

33 Processo 07466/10 Edital 003/2010 CA 183/10 Objeto de Denúncia; Processo 17130/10 Edital

007/2010 CA 476/10 Objeto de Denúncia; Processo 17264/10 Edital 007/2010 (republicação) CA 477/10 Objeto de Denúncia.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

58

Com a existência de cláusulas que beneficiariam alguma

empresa (ilicitamente) em detrimento de outras, a Auditoria passou a analisar o Edital

nº 010/2010, sendo constatado:

“irregularidades no que se refere ao requisito da habilitação e no tocante à qualificação técnica, conforme abaixo indicado:

“a) Exigência de visita técnica ter que ser realizada pelo responsável técnico da licitante sendo que a comprovação de vínculo empregatício será feita na forma da lei ou mediante a apresentação de cópia autenticada da ficha de registro de empregado ou CTPS, acompanhado da GFIP do último mês;

“b) Exigência de que a licitante possua caminhões dotados de sistema de descarga automática sem necessidade de mão de obra para seu esvaziamento;

“c) Exigência de que os caminhões destinados ao serviço de coleta de resíduos domiciliares e de resíduos de saúde devem ser novos (O km);

‘d) Permissão da redução da guarnição que inicialmente deverá ser de três coletores e um motorista.”

Em relação a letra “a”, a Auditoria concluiu que “essa

exigência contraria totalmente o que dispõe o Art. 30, § 1°, I, da Lei 8.666/93, já

que, de acordo com a mencionada lei, a comprovação de vinculo entre o profissional e

o licitante pode ser mediante contrato de trabalho ou um contrato particular de

prestação de serviço, ou seja, não somente por meio de contrato de trabalho (ficha de

registro de empregado/CTPS). E ainda, a exigência de apresentar cópia da GFIP,

implicitamente, exigiu que o profissional constasse do quadro permanente da empresa

no mês anterior à licitação. Exigência que restringe o caráter competitivo da

licitação.” (grifo nosso)

No que pertine a letra “b”, a Auditoria entendeu “que tal

exigência restringe o caráter competitivo da licitação ao prever que tais caminhões

necessitem de sistema de descarga automática sem necessidade de mão de obra para

seu esvaziamento já que a lei 8.666/93, em seu artigo 7, inciso IV, §5° afirma ser

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

59

vedada a inclusão de bens com características e especificações exclusivas.” (grifo

nosso)

Em se tratando da letra “c”, a Fiscalização atestou que “ tal

exigência restringe o caráter competitivo da licitação ao prever que tais caminhões

sejam novos, pois a lei 8.666/93, em seu artigo 7, inciso IV, §5° afirma ser vedada a

inclusão de bens com características e especificações exclusivas.” (grifo nosso)

Enfim, quanto a letra “d”, a Auditoria entendeu “que para a

licitante elaborar seu orçamento, os critérios não podem ser alterados a qualquer

tempo e a critério da empresa. Portanto, tal permissividade é ilegal.” (grifo nosso)

De todas estas falhas detectadas, no ato convocatório,

acima expostas e detalhadas, a AUDITORIA concluiu que elas “viciam o edital

n.010/10 e são as mesmas encontradas nos editais anteriores (003/10 e 007/10); e tais

irregularidades restringem o caráter competitivo do certame(vide art. 3° § 1° inciso

I da lei de licitações); (...) e, finalizando, a Administração Pública, deverá fazer um novo

exame do aludido edital para adequá-lo às disposições contidas da lei de licitações.”

(grifo nosso)

Todas estas cláusulas restritivas não foram sanadas pelo

Prefeito MAGUITO e nem pelo Superintendente de Licitações, LUIZ AUGUSTO. Ao

contrário, foram mantidas. O pior é que tais agentes públicos foram cientificados das

ilegalidades, mas nada fizeram para alterar o Edital nº 010/2010, incorrendo os

mesmos em atos de improbidade, por beneficiarem explicitamente a empresa DELTA,

tanto que assim atestou o MP/TCM:

“as falhas encontradas no presente Instrumento convocatório (nº 10/2010) são as mesmas que viciavam os Editais nºs 003/2010, 007/2010 e 007/2010 – Republicação, a restringirem o caráter competitivo do certame” (fls. 500)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

60

Prestemos bastante atenção agora ao pronunciamento

abaixo do MP/TCM nº 5177/2010 (fls. 500ss, do volume X), o qual solicitou ao

TRIBUNAL DE CONTAS uma medida cautelar de suspensão do Edital (que foi

negada às fls. 512, por despacho da Conselheira Maria Teresa F. Garrido, do TCM).

O Procurador de Contas do MP/TCM, Dr. Regis Gonçalves

Leite, verificou várias irregularidades no Edital nº 010/2010 (limpeza urbana da

cidade), conforme descreveremos a seguir (fls. 500ss), as quais o MP/Estadual

(Promotorias) endossam e ratificam na íntegra contra os atos dos agentes públicos:

“Como fartamente retratado nos autos e rememorado pela Especializada a tentativa de licitar tais serviços na Municipalidade em tela não é novidade para esta Corte.

Na última de suas manifestações quanto ao caso, esta Procuradoria de Contas, via Parecer nº 4011/10 (autos de nº 17130/10), após exame de Representação oferecida pela empresa VIASOLO Engenharia Ambiental S. A. em face do Edital da Concorrência Pública nº 007/2010 (republicação), pugnou pela adoção pela Conselheira Relatora de medida cautelar no sentido de determinar ao Prefeito Municipal a imediata suspensão de todos os atos concernentes ao procedimento licitatório.

Na ocasião, à Relatoria não aprouve expedir a cautelar; antes, decidiu pela abertura de vista ao Interessado.

Não causa espécie, pois, que os vícios já exaustivamente apontados pelas unidades desta Corte nos pretéritos editais ora se repitam, vez que atempadamente não agiu o órgão de controle para determinar as medidas de cautela.

Cotejando a documentação que instrui os presentes, mormente o Edital de fls. 430/490, com as observações deste Ministério Público nos já mencionados autos de nº 17130/10, constata-se que o Município veicula, mais uma vez, na lei interna do certame os mesmos e seguintes vícios:

a) vedação à participação de empresas consorciadas (item 3.3.1);

b) visita técnica a ser realizada obrigatoriamente pelo responsável técnico da licitante (itens 3.5);

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

61

c) estipulação de Índice de Liquidez Geral ≥ 1,5 e de Índice de Endividamento < 0,50 sem justificativa técnica (item 7.1.3, alínea “a”);

d) exigência de vínculo empregatício do responsável técnico de nível superior com a licitante (item 7.1.4, alíneas “b” e “c”);

e) previsão de prorrogação da vigência do contrato de acordo com o disposto no art. 57, inciso II da Lei nº 8.666/93 (item 15.9);

f) excessivo detalhamento das especificações dos caminhões a operarem na execução do contrato a restringir, assim, a competitividade (Anexo IV, item 1.3, alínea “b”);”

Conforme se vê, são várias cláusulas editalícias que

beneficiaram exclusivamente, ao final, a contratação da DELTA com a Prefeitura, pois

somente na fase de habilitação, os agentes públicos (MAGUITO e LUIZ

AUGUSTO) eliminaram 08 grandes empresas, potenciais concorrentes do

certame (frustrando a competição), conforme ata de julgamento de habilitação de

fls. 2055 (beneficiando-se a DELTA):

“EMPRESAS INABILITADAS: Evolu Servic Ambiental Ltda. pelo descumprimento do item 7.1.4, letra b) nº 3 e 4; letra d) nº 3 e 4.; PAVOTEC- Pavimentação e Terraplenagem Ltda pelo descumprimento do Item 7.1.4, letra b) nº 2, 3 e 4; letra d) n° 2, 3 e 4.; TERMAQ - Terraplanagem Const. Civil e Escav. Ltda. pelo descumprimento do item 7.1.4, letra b) nº 3; letra d) nº 3 e 4; Valor Ambiental Ltda. pelo descumprimento do item 7.1.4, letra b) nº 2, 3 e 4; letra d) n° 2, 3 e 4.; ARCOS - Construções e Comercio Ltda. pelo descumprimento do Item 7.1.3 (3.6) e Item 7.1.4, letra b) n° 3 e 4; letra d) n° 1, 2, 3 e 4.; Coral administração e Serviços Ltda pelo descumprimento do Item 7.1.3 (3.6) e Item 7.1.4 letra b) nº 2,3 e 3; letra d) nº 1, 2, 3 e 4, constantes do instrumento convocatório.”

Passemos, então, a analisar cada letra (de “a” até “f”) acima

(constantes do edital) para demonstrarmos a falta da imparcialidade dos requeridos.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

62

LETRA “a” – O Município não permitiu a participação de

empresas consorciadas, ferindo o princípio da isonomia (igualdade de tratamento entre

as empresas, consorciadas ou não) e da competitividade (ampliando ao máximo o

número de participantes). Mas os requeridos não justificaram e nem motivaram a

exclusão de empresas consorciadas (limitando-se indevidamente a participação de

outras empresas ao certame).

Colacionamos os seguintes Acórdãos do TCU citados

pelo MP/TCM (fls. 500ss): “Acórdão TCU 2813/2004-1ª Câmara, onde informa-se

que a formação de consórcio pode se prestar a fomentar a concorrência; e Acórdão

TCU 1.636/2007 – Plenário: "Embora discricionária, nos termos do caput do art. 33 da

Lei 8.666/1993, quando houver a opção da Administração pela restrição à participação

de consórcios na licitação, tal escolha deve ser precedida das devidas justificativas no

respectivo processo administrativo, especialmente quando a vedação representar risco

à competitividade do certame." (...) “Em regra, a formação de consórcios é admitida

quando o objeto a ser licitado envolve questões de alta complexidade ou de relevante

vulto, em que empresas, isoladamente, não teriam condições de suprir os requisitos de

habilitação do edital.” (...)Vez que o empreendimento é de porte substancial, "é

razoável inferir que a permissão para participação de consórcios ampliaria o número de

possíveis licitantes, aumentando o caráter competitivo do certame", conforme disposto

no Acórdão nº 1.028/2007-TCU-Plenário. (...) o considerável vulto da licitação já pode

configurar requisito apto a embasar a não vedação de participação de empresas em

consórcio. (Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1316/2010 – Plenário.)”

O MP/TCM arrematou: “tem-se nos presentes certame para

contratação orçada em quase R$ 82.000.000,00 (valor estimado, no projeto básico,

para início da proposta), ou seja, sob qualquer parâmetro, de grande vulto, donde,

na esteira do entendimento do Tribunal de Contas da União, “é razoável inferir que a

permissão para participação de consórcios ampliaria o número de possíveis licitantes".

Ademais, patente a ausência de qualquer justificativa para alijar a associação de

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

63

empresas, razão pela qual se impõe a correção do vício capaz de afrontar pedra

angular das licitações, qual seja: o caráter competitivo do certame.” (nosso parêntesis)

Neste tópico, conclui-se que os agentes agiram de modo

ímprobo (desonesto) no sentido de não permitirem participação de mais

empresas do certame, além de não declinarem qualquer motivo para tal exclusão.

(violando princípios administrativos – da isonomia, da motivação, da ampla

competitividade, da impessoalidade, etc. – art. 11 caput da LIA).

LETRA “b” - colacionamos a argumentação jurídica do

MP/TCM: “lesiva a exigência de que a visita técnica seja obrigatoriamente

acompanhada pelo responsável técnico da licitante. Diz a Lei de Licitações que a

Administração poderá exigir dos participantes do certame comprovação, fornecida por

ela própria, de que recebeu os documentos, e de que tomou conhecimento de todas as

informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da

licitação (art. 30, inciso III). Ir além do que pede o texto, sem qualquer justificativa

formal em uma questão relativa à habilitação, implica instituição de exigência

descabida e violadora do caráter competitivo. Não se afasta a possibilidade de que

certos objetos, por suas peculiaridades, exijam a presença do responsável técnico da

licitante para sua perfeita compreensão. O que não se admite – repise-se, tratando-se

de requisitos de habilitação que, sabidamente, devem ser os mínimos capazes de

assegurar o interesse público – é a exigência restritiva injustificada como acontece

no caso ora em exame.” Isto viola o entendimento do TCU - Acórdão nº 571/2006 –

Segunda Câmara.

Portanto, os agentes públicos beneficiaram a empresa

DELTA, com tais exigências restritivas, de forma injustificada.

LETRA “c” – colacionamos também a argumentação

jurídica do MP/TCM: “A estipulação de Índice de Liquidez Geral e de

Endividamento sem justificativa técnica (...) é outro expediente ilícito repetido

pelo Interessado no Edital em comento. A matéria refoge ao âmbito jurídico e aloja-

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

64

se na seara das ciências contábeis. Com efeito, a Lei nº 8.666/93, em seu art. 31, I,

alude à saúde financeira da licitante sem, contudo, tecer detalhes quanto à sua

comprovação (...). se nada se pode afirmar acerca da razoabilidade dos índices

exigidos, fato é que não poderiam ser veiculados no Edital sem qualquer justificativa. É

dizer: incorreu o Administrador na violação do princípio da motivação dos atos

administrativos, constitucionalmente previsto e textualmente repetido no art. 31, § 5º,

da Lei nº 8.666/93.”

Tal tópico foi combatido também por empresas que foram

desclassificadas (fase de habilitação) no decorrer da licitação. Não existem razões

justas para tal limitação referente à qualificação econômico-financeira. A única

explicação plausível que se vê é mesmo a vontade desmedida de beneficiar a empresa

DELTA, o que realmente ocorreu. Por que exigir um índice alto, quando a própria LL

trata da questão (art. 31, I, § 1º)?

Ora, a exigência injusta e contrariando o princípio da

universalidade da licitação colocou de fora empresas interessadas, configurador de ato

de improbidade da parte dos réus (agentes públicos). Em exame da documentação

apresentada pelas pessoas que socorreram ao certame, houve desclassificação de

interessados (empresa Coral – fls. 2044 e 2162, dos 10 volumes da licitação), já que

deixou de demonstrar tal qualificação econômica. (bem diferente da DELTA, que

apresentou o índice “coincidentemente” tolerado pelo Edital).

LETRA “d” – anexamos a argumentação do MP/TCM

quanto as atitudes dos requeridos: “causa espécie a exigência de vínculo empregatício

do responsável técnico de nível superior com a licitante, questão veiculada no item

“d”. De fato, cuida-se de expediente sem qualquer amparo legal e há muito vedado

pela jurisprudência do Tribunal de Contas da União” - TCU. Acórdão nº 170/2007 –

Plenário – “Exigência tal, cediço, restringe o caráter competitivo, atentando assim

contra o disposto no art. 3º, § 1º, inciso I da Lei de Licitações e Contratos”.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

65

Neste ponto a exigência injusta e contrariando o princípio da

universalidade da licitação colocou de fora outra empresa interessada (empresa

TERMAQ, conforme informa-se fls. 2069, 2071, 2187, do proc. licit.), configurador de

ato de improbidade por parte dos requeridos. Em exame da documentação

apresentada por tal empresa TERMAQ, houve sua desclassificação exatamente

neste ponto, já que deixou de demonstrar tal qualificação econômica. (bem diferente

da DELTA, que apresentou o índice “coincidentemente” tolerado pelo Edital).

Aqui cabe registrar que MAGUITO e LUIZ AUGUSTO não

foram tão exigentes com a empresa VITAL (fls. 2101), já que toleraram ilicitude já

narrada nesta peça (e denunciado pela empresa LEÃO Ambiental (fls. 2103),

habilitando ao final a VITAL.

LETRA “e” - o MP/TCM também faz impugnação de citada

cláusula: “a previsão de prorrogação da vigência do contrato de acordo com o disposto

no art. 57, inciso II da Lei nº 8.666/93 (item “e”) é expediente reprovável, nulo de

pleno direito, a ser prontamente excluído do Edital.

Uma prorrogação, sem nova licitação, é um indício também

de perpetuar o benefício para DELTA por 10 anos, na cidade (5 + 5 anos).

LETRA “f” – igualmente o MP/TCM observa a ilicitude

praticada pelos agentes públicos requeridos: “observa-se novamente (derradeiro item)

haver excessivo detalhamento das especificações dos caminhões a operarem na

execução do contrato a restringir, assim, a competitividade. A Especializada, por

seu turno, corroborando a tese, nega a possibilidade de o Instrumento Convocatório

exigir que os caminhões sejam dotados de sistema de descarga automática que

prescinda de mão-de-obra para seu esvaziamento, pena de violação ao disposto no art.

7º, § 5º da Lei nº 8.666/93. Referido dispositivo veda a especificação do objeto de

maneira que, por suas características e especificações exclusivas, reduza-o a um único

possível. A Lei, contudo, faz uma ressalva: admite-o quando tecnicamente justificável

ou quando o fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob o regime de

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

66

administração contratada, previsto e discriminado no ato convocatório. Desta feita,

antes na ausência de justificativa para as especificações do que propriamente

nessas o vício.”

Por fim, a “Auditoria enxerga, ainda, duas outras máculas:

exigência de que os veículos coletores sejam novos (Anexo IV, item 1.3, alínea “i”); e

permissão de redução da guarnição que, inicialmente, deverá ser de 3 coletores e 1

motorista (alíneas “e” e “e.1” do item 2.1.1 do Anexo IV).” Sobre tais fatos, a

argumentação do MP/TCM merece respaldo total. 34

Não foi surpresa o fato de que apenas DELTA apresentar-se

a licitação, e devidamente habilitada teve a si adjudicado o objeto do certame, pelo

valor de R$ 51 milhões. Contrato de 60 meses e ainda teve um Aditamento nº

11/2012 (cujo valor ultrapassa a proposta da 2º colocada da licitação, conforme

ata de julgamento das propostas). Houve portanto clara afronta a CF/88,

precisamente contra o art. 37. XXI.

Para se demonstrar também a imoralidade da atitude do

Prefeito MAGUITO e de LUIZ AUGUSTO, antes desta Concorrência nº 10/2010, os

mesmos reiteradamente lançaram Editais (003, 007, 007 republicado) com mesmas

falhas e vícios, dando ensejos a contratações emergenciais (questionadas e

combatidas pelo TCM). Abaixo as ponderações do MP/TCM:

“A questão se faz mais grave ainda quando se tem em mira que nas mencionadas tentativas anteriores de se promover a

34

De fato, expediente vedado (frise-se, como regra geral, eis que permitido sob certas justificativas) pela Lei é o da especificação a tal ponto que o objeto se reduza a uma única alternativa de marca ou fabricante. Tal, por óbvio, nada tem a ver com a escolha por ter uma frota que opere modelos novos, escolha que tem óbvias vantagens, a exemplo da presumível menor necessidade de paradas para manutenção e da menor emissão de poluentes. Esclareça-se: caminhões novos podem ser fabricados por A, B, C ou Z e adquiridos pelas inúmeras prestadoras. Alegar-se-ia: nem todos os fornecedores do serviço poderiam dispor de uma frota de veículos 0 km. Naturalmente, mas daí a vedar-se à Administração exigir que equipamentos novos (sejam veículos, computadores, ferramentas ou materiais de construção) sejam colocados em seu serviço vai larga distância. Ainda, note-se que a já debatida admissão no certame de empresas consorciadas alargaria a base de licitantes.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

67

licitação, ensejaram a suspensão do certame por este Tribunal falhas que agora se fazem novamente presentes!

Assim, a exigência de vínculo empregatício do responsável técnico de nível superior com a licitante (item 7.1.4, alínea “b” do presente Edital) já havia sido apontada como vício a ensejar a suspensão do certame até sua correção tanto no Pregão Presencial nº 002/2010 (item 2, fl. 145 dos autos de nº 00735/10) quanto na Concorrência Pública nº 007/2010 (item 7.1.4, “b” do Edital, fl. 147 dos autos de nº 14622/10), motivando as Decisões da Corte em ambos os casos pretéritos.

Por sua vez, a ausência de detalhamento dos setores a serem cobertos pelos serviços contratados (Anexo IV, item 2.1.1, alínea “a.1” deste Edital) já havia merecido a reprimenda desta Corte quando do exame do Edital do Pregão Presencial nº 002/2010 (item 3. “a”, fl. 145 dos autos de nº 00735/10).

Relembre-se: todas as irregularidades ora apontadas já haviam sido debatidas, ainda, nos autos de nº 17130/10.

Tem-se, pois, a prática recorrente do Município de Aparecida de Goiânia de lançar sucessivos Editais com um sem número de vícios (muitos deles, como demonstrado, inescusáveis, eis que repetidamente apontados nas Denúncias relativas aos mencionados certames), fazendo tábula rasa das Decisões desta Corte, como se desprovidas de qualquer autoridade, em atitude caracterizadora, no mínimo, de evidente e odiosa desídia.

O resultado de tais expedientes é tão mais grave quanto conhecido de todos. De fato, esta Procuradoria de Contas já Representou a esta Corte (processo autuado sob o nº 13268/10) pela apuração de fatos amplamente noticiados pela imprensa goiana. Sabe-se, há muito vem o Município se valendo de sucessivas contratações emergenciais para os serviços de limpeza pública. Pior ainda, conforme noticiado no periódico O Popular (01.06.2010), tais contratos foram pactuados em valores exorbitantemente superiores aos praticados em outras cidades.

Repise-se a situação em tela: um Município lança um edital de licitação. Viciado em seu nascedouro, esta Corte o suspende e determina sua correção. O Poder Público contrata por emergência ao passo em que publica novo edital com os mesmos erros e assim prossegue indefinidamente, perenizando as contratações diretas, fazendo delas a regra em lugar das licitações, demonstrando desprezo pela autoridade das

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

68

decisões da Corte e, finalmente, potencialmente lesando o erário com desembolso de valores obviamente superiores aos que despenderia caso licitasse. Que outra denominação senão imoral a da presente situação?” (fls. 510 – X volume)

Este último parágrafo merece total destaque.

É que o MP/TCM aponta a atitude de MAGUITO como

proposital e intencional exatamente para promover contratações emergenciais,

como foi feita com a DELTA (nº 679/2010)

Foi solicitada (fls. 510) a imediata suspensão de todos os

atos concernentes à Concorrência Pública nº 010/2010, para que o Prefeito

MAGUITO se abstivesse de promover a sessão OU, caso já realizada, celebrar o

contrato OU, caso já celebrado, a imediata suspensão de sua execução, privando-se,

inclusive, de expedir qualquer ordem de serviço ou efetuar qualquer pagamento à conta

deste até o julgamento final da avença por esta Corte.

O MP/GO ratifica posicionamento do MP/TCM, no

sentido de também apontar tais irregularidades contra o Gestor MAGUITO.

Destes argumentos e solicitação, foi o PREFEITO

MAGUITO e LUIZ AUGUSTO notificados em 24.11.2010 (fls. 516 e 517 do X

volume), época em que a DELTA JÁ ESTAVA PRESTANDO SERVIÇOS informais e

emergenciais na cidade de Aparecida de Goiânia-go.

Este detalhe é muito importante, porque com as SEVERAS

colocações do MP/TCM (fls. 510, X volume), dessume-se que o Prefeito MAGUITO

temeu ser punido administrativamente pelo TCM por mais uma contratação

emergencial ilegal em seu mandato, desta vez com a DELTA CONSTRUÇÕES S/A

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

69

(observação: o Alcaide já tinha sido condenado a pagar mais de R$ 700.000,00

pelo TCM, em relação a outra empresa) – vide nota de rodapé 35.

Pelo lastro probatório, conclui-se que MAGUITO preferiu

entabular um acordo com a DELTA – extra-autos - (empresa que tinha efetivamente

prestado serviço emergencial), no sentido de não prestar contas do contrato

emergencial nº 679/2010 para o TCM/GO, ainda mais que existiram dezenas de

reclamações acerca do péssimo serviço da DELTA na cidade (em

novembro/dezembro de 2010) e um histórico de condenação administrativa do

TCM contra tal gestor (exatamente por contratação emergencial).36

E em decorrência destas atitudes do Prefeito, o mesmo já foi

processado anteriormente, conforme se vê no próximo tópico.

DELTA CONSTRUÇÕES E MAGUITO VILELA – JÁ PROCESSADOS EM OUTRA AÇÃO

No aspecto de contratação “emergencial” (679) e definitiva (685

e Aditivo), somem-se ainda outros INDÍCIOS graves (de direcionamento), constantes da

OUTRA Ação Civil Pública de Improbidade contra o Prefeito e a DELTA (proposta pela

9ªPJ), onde alcaide desobedeceu propositadamente a orientação (decisão) do

Tribunal de Contas dos Municípios, privilegiando a empresa DELTA - contrato feito

perante a Secretaria de Infra-Estrutura.

35 ACÓRDÃO TCM /GO Nº Nº 09496/2011: “Diz-se isso porque, no caso em análise, o

que se combateu no recurso ordinário interposto pelo gestor municipal foram as falhas que ensejaram o julgamento pela denegação do registro pretendido, quais sejam, em suma, (i) a contratação direta fundada no art. 24, IV, da Lei nº 8.666/93, (ii) a divergência entre o valor gasto e o valor atestado pela unidade técnica desta Corte, assim como (iii) a multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e o débito no valor de R$ 705.751,64 (setecentos e cinco mil, setecentos e cinqüenta e cinqüenta e um reais e sessenta e quatro centavos).” 36 idem

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

70

Aliás, o benefício à tal empresa (nesta OUTRA contratação,

já questionada por ACP) redundou no citado Tribunal em JULGAMENTO PELA

ILEGALIDADE dos atos contratuais com a DELTA, por falta de ampla competição,

cujo objeto era locação de caminhões e máquinas, para Secretaria de Infra Estrutura da

cidade). Abaixo o resumo da decisão do TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS/GO

contra a DELTA e contra o MAGUITO, apontando a ilegalidade do contrato entre ambos

(perante a secretaria de infra-estrutura) onde ficou assentado definitivamente:

“ACORDA (decide) o Egrégio TRIBUNAL DE CONTAS DOS

MUNICÍPIOS, pelos membros integrantes de sua Segunda

Câmara, JULGAR ILEGAIS mencionados atos, determinando

seus registros...” (Acórdão TCM/GO nº 7296/11, de 01.09.11)

Como tal ilegalidade já está sendo apurada na outra ação de

improbidade contra os mesmos requeridos (MAGUITO e DELTA), citamos a Ação e o

Acórdão (decisão colegiada e os dois parágrafos anteriores) apenas para corroborar e

demonstrar-se a existência de vários indícios (anteriores e posteriores) de

favorecimento à DELTA CONSTRUÇÕES.

2ª PARTE DA AÇÃO

DA INVESTIGAÇÃO DE INICIATIVA DO MP - DOS PROCEDIMENTOS EXISTENTES

NAS PROMOTORIAS CONTRA DELTA:

Para facilitar a exposição do descaso e da omissão do

Prefeito MAGUITO em tomar atitudes enérgicas contra a requerida DELTA (ligada a

Cachoeira), faremos uma descrição de outros procedimentos abertos nas Promotorias

(reclamações):

Foram, ao todo, dez (10) investigações (procedimentos)

concomitantes, sendo duas (02) perante a 9ª PJ e oito (08) diante da 14ª PJ, os quais

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

71

apontaram, de forma contundente, as seguintes irregularidades, perpetradas pelo

alcaide MAGUITO e pela DELTA:

1) Má-execução do contrato, sem nenhuma atitude enérgica por parte do

Administrador MAGUITO, no sentido de sancionar a empresa DELTA;

2) Falta de cancelamento, suspensão ou revogação do contrato com a

DELTA, em virtude da péssima execução dos serviços, em prejuízo da

população e do interesse público;

3) Obstrução do trabalho do Ministério Público, já que o Prefeito foi

notificado para apresentar a cópia integral do procedimento de

contratação da DELTA em 26.04.2012 (data de recebimento pela Chefia

de Gabinete do Prefeito), através do ofício MP 261/12, de 18.04.2012,

mas até o momento (mais 01 mês de procrastinação), não apresentou a

documentação – mesmo advertido de que o prazo era de 10 dias,

sendo que a omissão de tais dados constitui, em tese, crime previsto no

art. 10 da Lei 7347/85; (PA n. 884/12) – e mesmo um Assessor de

Promotoria tendo ido pessoalmente perante a Secretaria de Controle

Interno para fotocopiar as peças necessárias, existiram obstáculos;

1º) Procedimento: concorrência nº 010/2010

Como já houve detalhamento sobre os fatos, citamos apenas o

relatório de Vistoria da SEMMA (no bojo desta ação). Houve comunicação à Prefeitura,

por escrito, das reclamações (populares), bem como nos vários procedimentos perante as

Promotorias, quanto aos serviços prestados pela DELTA.

De pronto, também houve comunicação dos fatos para a

Procuradoria Geral do Município, como co-legitimada, (órgão que representa o

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

72

Município), através de vários ofícios, mas o governante da cidade quedou-se inerte,

em benefício daquela empresa (vide o ofício/Recomendação nº 001/2012).

Destaque-se, ainda, que o requerido MAGUITO, mesmo

cientificado e advertido das irregularidades, através do seu Secretário de Meio

Ambiente (a respeito das reclamações contra a DELTA), nenhuma providência tomou

como legitimado direto contra a citada empresa (são condutas omissivas e comissivas

- dolosas).

As provas documentais, destes fatos, encontram-se

materializadas nos ofícios endereçados à Prefeitura para providências, a saber: ofício n ;

e Relatório de Vistoria – RV da SEMMA nº 021/2011, de 02.02.2011, às fls.

Este último documento (Rel. Vistoria) foi recebido pela 9ªPJ,

dia 07.02.2011, e redistribuído/enviado para Promotor Dr. Euzélio Tonhá, da 14ª PJ,

no dia 09.02.2011, que foi quem ficou incumbido do prosseguimento das investigações.

2º Procedimento: perante a 14ª PJ - Peça de Informação 095/11 - 14ª PJ

O cidadão WEVERTON JOSÉ DA SILVA reclama de depósitos

de lixo e entulhos em loteamento Águas Claras (com várias fotografias).

O fato foi encaminhado para Procuradoria Geral do Município

(gerando processo 2011035617), para providências, sendo reforçado pelo ofício nº

595/2011, de 11.08.2011, endereçado ao Prefeito MAGUITO.

O Advogado Geral do Município informou que encaminhou os

fatos para SEMMA, para providências urgentes (tais como fiscalizações, autuações,

notificações, etc.).

3ºProcedimento: Representação 003/11 - 14ª PJ (Atena - 201200219178)

Denúncia anônima, em 10.01.11, feita por uma moradora, que

informa entulhos depositados na praça na rua das Figueiras com a Rua dos Garirobas, no

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

73

Setor Cruzeiro do Sul. (com fotos comprobatórias). Narra que trata-se de uma questão de

saúde pública (e o local fica na rua da linha de ônibus do Cruzeiro do Sul).

O fato foi enviado pela Promotoria ao Secretário da SEMMA,

por ofício nº 046/11, determinando-se comunicação ao PGM e ao Prefeito.

4º Procedimento: representação 004/11 - 14ª PJ (Atena - 201200252174)

A reclamante é a Sra. Simone Carneiro Dallabrida, também

sobre resíduos de lixos domiciliares espalhados em logradouros públicos, em 10.01.11.

Foi juntado Relatório de Visita de Fiscal da Secretaria de Saúde

do Município.

A solicitação de providências é de 21.12.10, informando que

moradores estariam colocando lixo domiciliar em galões de 220 litros, apostos em frente

de cada uma das residências para coleta pela Prefeitura, com a lavagem dos latões,

fazendo escorrer pelas vias públicas (crianças brincam durante o dia nos resíduos dos

lixos armazenados e no ambiente cheio de larvas).

Foi oficiado a Vigilância Sanitária, que procedeu vistoria e

notificação.

5º Procedimento: Representação 005/11 - 14ª PJ (Atena - 201200252154)

Relata falta de coleta de lixo

Regina Lopes e Silva reclama falta de coleta de lixo no

município, em 10.01.11, e diz: “me sinto muito constrangida com a situação de descaso

pela qual estamos passando. Há praticamente 01 (um) mês não é recolhido o lixo dos

bairrs de Aparecida de Goiânia-GO. A situação está um caos, tem lixo espalhado por todo

lado.”

6º Procedimento: Representação 014/11 - 14ª PJ (Atena - 201200202158)

Moradores do Setor Jardim Cascata reclamam, em 24.03.11,

depósito de lixo em local específico.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

74

A Vigilância Sanitária foi até o local, por requisição do Ministério

Público e inspecionou, verificando em um lote, grande quantidade de lixo, material de

reciclagem, madeiras, cavalos, galinhas.

7º Procedimento: Representação 039-11 - 14ª PJ (Atena - sem cadastramento)

Trata-se de reclamação sobre entulhos nos lotes baldios no

Jardim Olimpico, em 17.04.2011, contra a omissão da Prefeitura. Cidadão Romulo informa

que já reclamou várias vezes para a Secretaria de Meio Ambiente e não recebeu apoio.

8º Procedimento: representação 048-11 - 14ª PJ (Atena - Sem cadastramento)

Mais uma reclamação sobre depósitos de entulhos de

construção civil, agora, feito pelo cidadão Engenheiro Nilson Soares Moreira, em

07.06.11.

Cidadão solicita orientar as Secretarias de aparecida de

Goiânia-GO para não liberarem áreas para aterros com entulho, sem as devidas

orientações de técnicos (para que não se transformem em lixões a céu aberto – só em

Aparecida existem 04 liberações dizendo ser área de recuperação, mas são LIXÕES,

explorados economicamente”. Requer o reclamante que seja exigido do Poder Público o

cumprimento da Resolução CONAMA n. 307. (evitando-se aterros clandestinos)

Pediu enfim que houvesse fiscalização quanto a caminhões

caçambas em lotes baldios.

9º Procedimento: Representação 076-11 - 14ª PJ (Atena - 201200252102)

Celso Luiz Bastos denuncia situação da coleta de lixo no setor

Cidade Satélite, em 03.02.11, onde a coleta é precária, sendo que permanece cerca de 20

dias sem ser efetuada qualquer recolhimento do lixo.

Indignado, diz que os lixos se acumulam nas lixeiras e nas

ruas, fazendo com que a situação fique calamitosa (os moradores do setor sofrem com o

mau cheiro e comos insetos que se proliferam – doenças) – fotografias.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

75

Foi oficiado ao Secretário de Desenvolvimento Urbano para

solucionar o problema, bem como ao Sec. Meio Ambiente.

Em tal procedimento, ficou consignado ainda outra reclamação,

do Sr. MARCELO JOSÉ DA SILVA, o qual verberou que o serviço de coleta, no final de

2010, não estava passando no setor (Bairro Hilda), causando mau-cheiro, dengue.

Da omissão do Prefeito em sancionar a DELTA

Através do Relatório de Vistoria da SEMMA (Nº 021/2011),

ficou claro que o próprio Secretário sugeriu ao Prefeito “a não contratação da

empresa DELTA”, exatamente porque por má-execução do contrato.

A doutrina é unânime no sentido de que qualquer

inexecução, total ou parcial do contrato, dá à Administração a prerrogativa (dever)

de aplicar sanções de natureza administrativa (art. 58, IV) contra a empresa DELTA (no

caso), dentre as indicadas no artigo 87, a saber: “advertência; multa, na forma prevista

no instrumento convoca tório ou no contrato; suspensão temporária de participação em

licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2

anos; declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública,

enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a

reabilitação, perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida

sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízo resultantes e após

decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso anterior."

Além das sanções administrativas-legais supramencionadas,

poderia ter aplicado outras penalidades específicas, estipuladas no contrato, chamadas

de sanções contratuais.

Mas, estranhamente, nenhuma sanção foi aplicada, seja

legal ou contratual, para preservar a supremacia do interesse público sobre o particular.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

76

Ora, a Administração Pública, estando sujeita ao princípio da

legalidade e a fiscalização do contrato (lei entre as partes), tem de ofício que exercer

constante controle sobre seus próprios atos, cabendo-lhe o poder-dever de anular

aqueles que contrariam a lei ou afrontam o contrato administrativo; é a prerrogativa

que alguns chamam de autotutela, que no caso inexistiu, por parte do Prefeito, que

deveria reagir contra a má-execução da DELTA, preventiva ou repressivamente

(mas ficou calado e omisso).

É o ensinamento da Professora Maria Sylvia Zanella Di

PIETRO (Direito Administrativo, 16ª Edição, Editora Atlas), que também comenta:

“Em se tratando de ilegalidade verificada nos contratos de que é parte, a Administração tem também o poder de declarar a sua nulidade, com efeito retroativo, impedindo os efeitos jurídicos que elas ordinariamente deveriam produzir, além de desconstituir os já produzidos. É o que consta do artigo 59 da Lei nº 8.666/93 (...)” “Há que se observar que a ilegalidade no procedimento da licitação vicia também o próprio contrato, já que aquele procedimento é condição de validade deste; de modo que, ainda que a ilegalidade da licitação seja apurada depois de celebrado o contrato, este terá que ser anulado” .” (pág 261 – grifo nosso))

Sobre a ilegalidade no procedimento de licitação, é cristalina

sua ocorrência (restrição de competição), por privilegiar apenas a DELTA, ou seja, muito

deveria ter feito MAGUITO, conforme previsão do artigo 58 da Lei nº 8666/9337, mas

37

“Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à

Administração, em relação a eles, a prerrogativa de: I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público,

respeitados os direitos do contratado; II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79 desta Lei; III - fiscalizar-lhes a execução; IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste; V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e

serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.”

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

77

NADA FEZ, beneficiando de forma unilateral e privilegiando acintosamente tal

empresa, ligada a CACHOEIRA.

Com tais regras (art. 58), o legislador procurou criar alguns

mecanismos tendentes a evitar abusos, desvios, favorecimentos arbitrários,

excesso de subjetividade e outros graves problemas que já poderiam ser antevistos

(conforme de fato foram observados pelo próprio Secretário de Meio Ambiente

Municipal, o qual opinou pela não contratação da DELTA).

Sobre tal favorecimento, prática corriqueira em nosso país, os

professores MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE PAULO (Direito Administrativo

Descomplicado) abordam o tema:

“A impessoalidade da atuação administrativa impede, portanto, que o ato administrativo seja praticado visando a interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à vontade da lei, comando geral e abstrato em essência. Dessa forma, ele impede perseguições ou favorecimentos, discriminações benéficas ou prejudiciais aos administrados. Qualquer ato praticado com objetivo diverso da satisfação do interesse público será nulo por desvio de finalidade.” (pág. 194)

E, por outro lado, em momento algum, MAGUITO colocou na

parede ou em cheque os atos administrativos de fiscalização do Secretário do Meio

Ambiente ou sequer questionou a licitação e a contratação da citada empresa diretamente

(quando da contratação emergencial). Tudo muito estranho, em prol da DELTA.

DA OBSTRUÇÃO DO TRABALHO INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO

PÚBLICO

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

78

Apesar de haver uma fiscalização externa pelo próprio TCM

(o qual encaminha cópia de documentos suspeitos ou contratações ilegais ao MP por

meio do convênio entre MP x TCM), já existiam investigações em curso nas Promotorias.

A 9ª e a 14ª PJs de Aparecida requisitaram várias vezes

informações para o Prefeito e seus subordinados a respeito de contratos com a DELTA,

mas sempre houve protelação e atraso nas respostas.

Há um ofício, com prazo de 10 dias, endereçado ao Prefeito

MAGUITO, para que apresenta a cópia de todos processos administrativos que

redundaram na contratação da DELTA CONSTRUÇÕES S/A no município.

Transcorreram mais de 30 dias, e o Prefeito sequer enviou ofício de justificativa.

A título de exemplo, uma ordem ministerial, com base no artigo

10 da Lei 7.347/85, foi recebida pela Chefia de Gabinete do Prefeito dia 26.04.2012. (fls.

08, dos autos nº 884/2012). Ou seja, passados os 10 dias, o Prefeito não enviou as

cópias e nem encaminhou qualquer justificativa, criando embaraços para

continuidade das investigações do Ministério Público.

Em face da gritante desobediência ao dispositivo supra por

parte do Prefeito MAGUITO, houve determinação para que Assessor de Promotoria se

deslocasse até a Secretaria de Controle Interno do Município (onde deveriam estar

acondicionados todos contratos da Prefeitura, à disposição dos cidadãos), no sentido de

notificar tal órgão para no prazo de 24 horas encaminhar toda documentação..

Para surpresa e espanto, o Assessor da Promotoria constatou

que os contratos também não estavam ali, e teriam sido encaminhados para a Secretaria

de Fazenda Municipal, a mando do Prefeito, e de lá teria sido repassado para um

Advogado. Vejamos a certidão destas ocorrências:

“Certifico e dou fé que aos 16 de maio de 2012, ás 11:15, procedi pessoalmente com a entrega de ofício n° 117/2012 de lavra da 14ª Promotoria de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-Go endereçado ao Secretário de Controle Interno de Aparecida de Goiânia- Go, Sr.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

79

Wellington Carlos da Silva, o qual foi entregue em mãos e colhido seu recebido.

“Em conversa durante a diligência, com o Secretário Sr. Wellington Carlos da Silva, o mesmo informou que ha aproximadamente 20 dias foi solicitado pelo EXECUTIVO MUNICIPAL QUE OS DOCUMENTOS ORIGINAIS de todos os contratos relacionados a empresa Delta Construção Ltda., fossem encaminhados para a Secretaria de Fazenda do Município (informação confirmada pelo Dr. André - servidor da Secretaria de Controle interno que procedeu pessoalmente com o envio de toda documentação para a Secretaria de Fazenda, conforme solicitado pelo Executivo Municipal).

“Fui informado ainda pelos interlocutores que OS CONTRATOS ORIGINAIS RELACIONADOS A EMPRESA DELTA CONSTRUÇÃO LTDA., NÃO ESTARIAM MAIS NA SECRETARIA DA FAZENDA, POIS FORAM ENVIADOS A ADVOGADO PARA ANÁLISE, PORÉM NÃO FOI INFORMADO O NOME DO ADVOGADO E NEM SEU ENDEREÇO PROFISSIONAL”.

Nítido, portanto, que o Prefeito MAGUITO, mesmo cientificado

de que deveria encaminhar cópia de todos contratos para ÓRGÃO ESTADUAL DE

FISCALIZAÇÃO (MP), escolheu determinar a retirada os processos de contratação

com a DELTA da Secretaria de Controle Interno (prejudicando o acesso a todos

cidadãos que quisessem fiscalizar), enviando-os para Secretaria de Fazenda. Feriu-se

princípio da publicidade e de petição.

Tudo indica, pela certidão narrativa acima, que os contratos

ORIGINAIS (e processos de contratação) estejam de posse de ADVOGADO do

PREFEITO ou da empresa DELTA, quando deveriam estar à disposição de qualquer

cidadão perante a Secretaria de Controle Interno.

Conforme certidões de Assessor do MP/GO, a Secretaria de

Controle Interno, por seus funcionários não quiseram dar acesso em várias ocasiões ao

Contrato Emergencial nº 679/2010 com a DELTA (mesmo com a requisição do MP).

Vejamos abaixo as várias vezes em que o Servidor do MP lá esteve (no Controle

Interno da Prefeitura), sendo-lhe negado acesso aos autos (nº 679/2010), por vários

dias.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

80

Estas atitudes reiteradas de tentar impedir ao MP do acesso ao

Contrato Emergencial nª 679/10 com a DELTA é outro indício de que o Prefeito pretendia

escamotear a ilicitude, o máximo possível.

Ora, foram várias requisições de prazo exíguo (de 24 hs e

pedido de busca e apreensão, em anexo), exatamente porque o prazo legal de 10 dias

já tinha extrapolado e sido desobedecido pelo Prefeito MAGUITO, e para se evitar

qualquer interferência nas provas. Ademais, é direito do cidadão o acesso a

documentos públicos, conforme inteligência de vários dispositivos legais.

Além da regra específica na Lei de Ação Civil Pública, temos

também a do parágrafo 3º do artigo 3º da Lei 8.666/93, diante do seu interesse

específico, o empresário ou cidadão também pode utilizar o direito de petição do artigo 5º,

inciso XXIV, alínea "a", da Carta Magna e o artigo 3º, inciso II, da Lei 9.784/99, que trata

do processo administrativo federal, e que reforça o argumento de acesso aos autos e

extração de cópias (agora, o que dizer, quando se nega acesso a um órgão oficial de

fiscalização, como é o caso do Ministério Público, em prejuízo da verdade que se busca

na investigação?).

Claro também que MAGUITO ao invés de atender requisição

de envio das cópias ao Ministério Público, permitiu que os autos originais estivessem em

poder de ADVOGADO, restringindo acesso do povo aos vários contratos com a DELTA

(não se sabendo o nome e nem endereço de suposto Causídico). Privilegiou-se o

interesse particular em detrimento do público.

Tudo isto é muito maléfico na busca da Verdade e ofensivo às

investigações (a demora do atendimento das requisições prejudica qualquer apuração),

pois a regra prevê que os contratos estejam a disposição do cidadão contribuinte na

Secretaria de Controle Interno (para fotocopiar, analisar, etc), bem como dos órgãos de

fiscalização. Mas este direito foi tolhido do Ministério Público e do cidadão.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

81

Com a incógnita ou o desconhecimento por completo onde

estejam os autos originais (de posse de Advogado desconhecido), as Promotorias

ficaram impossibilitadas darem prosseguimento às investigações, sendo necessário

ajuizamento de AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO de processos relacionados à DELTA.

Para não se atrasar ainda mais as apurações, foi expedido

ofício pela 9ª PJ endereçado ao Ministério Público perante o Tribunal de Contas dos

Municípios, na data de 17.05.2012, para se saber se ali havia porventura alguma cópia

de processos de contratação da DELTA com Município de Aparecida de Goiânia-GO,

sendo encontrado apenas um processo (contrato 685/10), onde tal órgão (TCM)

forneceu cópia em menos de 12 horas, demonstrando responsabilidade, colaboração e

zelo com a coisa pública. Ali não foi encontrado a cópia do processo de contratação

emergencial nº 679/2010, com a DELTA.

A diferença de tratamento dos 02 órgãos (Prefeito e TCM) é

escandalosa: a) para o Prefeito Maguito, foi expedida uma ORDEM, para envio dos

processos administrativos que redundaram na contratação com a DELTA, e não houve

resposta no prazo legal (ofensa ao princípio da legalidade), além de criar embaraço e

atraso prejudicial para investigação ministerial, 20 dias de atraso. b) para o MP-TCM, foi

expedido apenas uma solicitação de colaboração para envio de cópia, que foi atendida

em menos de 12 horas.

DOS DESVIOS DE FINALIDADE PRATICADOS PELOS REQUERIDOS

São muitas as irregularidades administrativas (improbidade)

praticadas pelos requeridos, mormente ofensa: ao artigo 37 CF/88; ao artigo 10 e 11

caput da Lei 8429/92; aos princípios da economicidade38, da probidade, da moralidade, da

38 A AQUISIÇÃO, ao invés da LOCAÇÃO, seria mais benéfica para a Administração.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

82

supremacia do interesse público, da ampla competitividade (com restrição a participação

de outros licitantes, impedindo propostas mais vantajosas à Administração); da isonomia;

bem como feriu a Lei Complementar 123/2006 (restringindo economicamente a

participação de micro e pequenas empresas); desrespeitou aos artigos 2º, VII e 53 da Lei

n. 9784/99 (e desconsiderou o princípio da autotutela, previsto nas Súmulas 356 e 473

STF); e atuou administrativamente em desvio de poder ou de finalidade (conforme artigos

2º, 3º e 4º da Lei nº 4.717/65) e, enfim, aceitou, tolerou, facilitou e permitiu, de maneira

omissiva e intencional (não tomando alguma medida jurídica impeditiva), o benefício da

DELTA, com a locação de caminhões compactadores.

Patente a responsabilidade de MAGUITO, por praticar desvio

de poder, haja vista que:

1) executou uma ilegalidade - disfarce (cancelou notas de empenho, como se a

DELTA não tivesse prestado serviço na cidade);

2) atuou com motivos ou com fins diversos dos objetivados pela lei (8666) ou exigidos

pelo interesse público (não revogando a licitação, que deveria alcançar maior número de

interessados ou nem providenciou suspensão dos contratos).

É o que nos ensina vários Doutrinadores Brasileiros e

estrangeiros:

“O desvio de poder é uma ilegalidade disfarçada; é uma ilicitude com aparência

de legalidade”. Adilson Abreu Dalari.

“O desvio de finalidade ou de poder verifica-se quando a autoridade, embora

atuando nos limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins

diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público. O desvio de

finalidade ou de poder é, assim, a violação ideológica da lei.” Hely Lopes

Meirelles.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

83

“O desvio de poder é o vício que afeta o ato mediante o qual a Administração

prosseguiu um fim diverso daquele que lhe foi assinalado pela norma jurídica,

desviando-se, assim o poder, de seu fim legal”. Jean Rivero.

“O desvio de poder não é outra coisa que a violação do espírito da lei”. Maurice

Hauriou

Tal desvio de poder, nas condutas do Prefeito MAGUITO,

amolda-se perfeitamente à descrição legal, prevista no artigo 2º da Lei 4.717/64 (Lei de

Ação Popular), já que longe de visar, como seria de se supor, ao exclusivo interesse

público, o que teve em mira foi cercear a competição e a participação de dezenas de

empresas na licitação, favorecendo as empresas requeridas:

“e) o desvio de finalidade se verifica quando O AGENTE PRATICA O ATO VISANDO A FIM

DIVERSO DAQUELE PREVISTO, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

(cf. tb. 3º e art. 4º. LAP – grifo nosso)

Conforme ensina FÁBIO MEDINA OSÓRIO (em Teoria da

Improbidade Administrativa, 2011, pág. 242), o primeiro sintoma ou INDÍCIO

VEEMENTE DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA é a presença de uma ação ou

omissão de um agente público. Isto porque o comportamento proibido macula a ética

pública e haja vista a exigência de lealdade com o público e com os licitantes em geral.

No caso, são veementes e contundentes os INDÍCIOS DE

DESVIO DE PODER (ou facilitação/direcionamento), nas atitudes seguintes do Prefeito:

(i) nenhuma atitude tomou (de ofício) para coibir o dano à competitividade na licitação,

mesmo cientificado pelo TCM/GO (em 24.11.2010 – fls. 516/517 do volume X), onde o

MP/TCM e a AUDITORIA DE ENGENHARIA/TCM já consideraram ilegal o Edital (e

demais atos) por impedir a ampla concorrência;

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

84

(ii) inexistência dos motivos apresentados pelo administrador para justificar a decisão

tomada (ausência de motivação contemporânea e à época do fato);

(iii) desigualdade de tratamento dos interessados (excluindo grandes empresas, com

cláusulas restritivas no Edital nº 010/2010);

(iv) desrespeito aos objetivos de várias legislações e princípios citados, nesta peça;

(v) injustiça manifesta (empecilho à participação de fornecedores/empresas do

certame);

(vi) não foi feito estudo/nem justificativa, nem se motivou para se escolher a locação

ao invés da aquisição de caminhões compactadores (esta última muito mais benéfica ao

erário, pois na compra seriam os veículos incorporadas ao município), etc.

De modo que são várias as indicações de ilícito e

circunstâncias que levam à necessidade de se acionar o Prefeito MAGUITO e a empresa

requerida/beneficiada.

Acrescente-se ainda que a Operação da Polícia Federal

“MONTE CARLO”, segundo dezenas de reportagens, revelou que o contraventor

CARLINHOS CACHOEIRA possuía ramificações em vários setores políticos e de

governo, na região centro-oeste, mantendo ligações com a empresa DELTA

CONSTRUÇÕES; inclusive contra o ex-diretor desta empresa, CLAÚDIO DE ABREU, foi

expedido mandado de prisão, encontrando-se atualmente foragido da Justiça. (objeto

ainda de apuração pela PF, TCU, STF e CPI).

Do prejuízo ao erário municipal

Acertadamente, agiram o MP/TCM e a AUDITORIA/TCM/GO

no sentido de detectar e combater as irregularidades verificadas.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

85

Conforme se nota dos autos, em apenso, a maneira procedida

pela Administração para realização da licitação limitou a participação de outros

licitantes, ao todo, 03, sendo excluídas 10 empresas.

Várias outras empresas poderiam ter participado de modo a

ensejar preço melhor para Administração, já que o valor estimado pela Administração foi

de R$ 81milhões e o Valor do Contratado foi de R$ 51 milhões, aditivado em cerca de 5

milhões, ao todo 57 milhões. A atitude, portanto, do Administrador MAGUITO

redundou em prejuízos ao erário, e em benefício da empresa contratada.

Realmente o MP/TCM e AUDITORIA TCM, como órgãos

fiscalizatórios, registraram problemas insanáveis (não há como voltar atrás, para abrir

nova competição) recorrentes quanto à restrição da competitividade na licitação. O que

resta é a aplicação de sanções administrativas, proporcionais ao dano ao erário.

O Prefeito ofendeu dolosamente ao princípio da legalidade

com sua conduta de ratificação da licitação, e da probidade administrativa. As restrições

ao caráter competitivo do certame e que limitaram a participação de dezenas de outras

empresas capazes de fornecer o mesmo objeto buscado pela Administração Pública,

afrontam o que reza o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei nº 8.666/93:

Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da

isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são

correlatos. (Redação dada pela Lei nº 12.349, de 2010)

§ 1o É vedado aos agentes públicos:

I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado o disposto

nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991;

(Redação dada pela Lei nº 12.349, de 2010)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

86

O Prefeito, além do dever de respeitar os requisitos legais e os

princípios das contratações públicas, não poderia estabelecer preferências ou

distinções que restrinjam a competitividade, a não ser por alguma circunstância

relevante devidamente justificada (que inexistiu). Sobre o dispositivo retro (art. 3º, § 1º), o

STJ já julgou:

“É certo que não pode a Administração, em nenhuma hipótese, fazer exigências que frustrem o caráter competitivo do certame, mas sim garantir ampla participação na disputa licitatória, possibilitando o maior número possível de concorrentes, desde que tenham qualificação técnica e econômica para garantir o cumprimento das obrigações.” (Superior Tribunal de Justiça, RESP 474781/DF, Relator Min. Franciulli Netto, DJ de 12/05/2003).

CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO (em sua obra Curso de

Direito Administrativo, pág. 54, 28ª Edição, 2010, Malheiros) condena de morte qualquer violação

aos princípios administrativos da legislação (intenção legislativa), pois:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.

“A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.

“É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.”

ALEXANDRE MAZZA (em Manual de Direito Administrativo, 1ª

Edição, Saraiva, 2011) , sobre isto, comenta:

“a busca pela melhor proposta é uma das finalidades da licitação. Por isso,

não podem ser adotadas medidas que comprometam decisivamente o

caráter competitivo do certame” (pág. 316)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

87

MAZZA (ob. citada) esclarece também que, através de medidas

restritivas, o agente público e os licitantes ganhadores (beneficiados) podem afrontar a

moralidade e a impessoalidade:

“impessoalidade: obriga a Administração licitante a conduzir com

objetividade e IMPARCIALIDADE o procedimento, a partir das normas

editalícias, IMPEDINDO PRIVILÉGIOS E DESFAVORECIMENTOS

INDEVIDOS EM RELAÇÃO AOS LICITANTES;

“moralidade: impõe à comissão de licitação e aos licitantes a obrigação

de obedecer aos padrões éticos, de probidade, lealdade, decoro e boa-fé”

(grifo nosso – pág. 318)

Com a participação de várias empresas, inclusive de empresas

em consórcio (conforme salientado pelo MP/TCM – fls. 510), certamente menos dinheiro

público seria dispendido ou gasto, já que as propostas seriam bem mais vantajosas para

Administração.

O Prefeito deveria sempre zelar pelo cumprimento, dentre

outros, dos princípios da economicidade e da isonomia. Isso não ocorreu no certame

objeto desta ação, pois, constata-se na referida Ata que foram somente 03 licitantes

(desqualificando 08 outras empresas).

Some-se a tudo isto, a existência de indícios de

privilegiamento em relação a empresa contratada DELTAA, posto que o modo que foi

procedida a licitação ensejou uma RESTRIÇÃO GRAVE à competição, ou seja, a

Administração impediu de participar da competição licitantes que, apesar de possuírem

em tese suficiente idoneidade financeira, não puderam, contudo, apresentar propostas

mais vantajosas (em qualidade e preço), condições exigidas no edital e na Lei. (foram

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

88

apenas 03 competidores habilitados em relação a um valor de cerca de R$ 81

milhões de reais, valor estimado – o que é totalmente desproporcional e

desarrazoado, a ferir o interesse público último, que é a seleção das melhores

propostas – leia-se com BOA QUALIDADE DE SERVIÇO, que a DELTA demonstrou

não ter desde início – conf. relatório Vistoria da SEMMA, durante a execução do

contrato emergencial nº 679/2010)

O TCU, por sua vez, informa:

“A indevida restrição da competitividade em razão de exigência editalícia que

desobedece ao disposto no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988 e

nos arts. 3º, caput e § 1º, inciso I, e 30, § 6º, da Lei de Licitações e Contratos,

conduz à anulação do processo licitatório.” AC-1495-27/09-P

A inconstitucionalidade da restrição a competição – no caso em comento

As cláusulas editalícias – do ato convocatório - exigiram mais

do que determina o princípio da razoabilidade. As exigências são restrições à

participação dos interessados e viciaram de nulidade todo o procedimento licitatório, o que

deve ser pronunciado em qualquer tempo. Ademais, tal restrição foi feita de forma

indireta, disfarçada e sub-reptícia, e reiteradamente (em vários Editais) de modo a

poucos vislumbrarem.

MARÇAL JUSTEM comenta ainda que qualquer restrição a

participação de várias empresas acaba por inviabilizar o acesso das mesmas. E o pior,

beneficia apenas algumas pouquíssimas empresas. Vejamos:

(...) é a restrição indevida da competitividade. Ao definir o padrão a ser adotado, a Administração predetermina os contornos das futuras contratações. Portanto, todos aqueles que não estejam em condições de executar o objeto padronizado serão automaticamente excluídos de todas as contratações (...) - pág 143

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

89

(...) Qualquer exigência desproporcional ao conteúdo da contratação caracterizará meio indireto de restrição à participação - vale dizer, indevida restrição ao direito de licitar (...) O direito de licitar é um direito público subjetivo .. assegura a qualquer pessoa a formulação de uma proposta de contratação dirigida à Administração Pública - pág. 298 (...)Trata-se de restrição ao universo de licitantes, o que somente se revela como constitucional quando for indispensável à segurança da Administração Pública (...) pág 330 (...) restrição é indevida e ofende os princípios da isonomia, da moralidade e da competitividade. Impede indevida e injustificadamente a participação de interessados no procedimento licitatório (...) pág. 460

Os doutrinadores MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE

PAULO (em Direito Administrativo Descomplicado, 2011, Editora Método, 19ª Edição)

concordam que deve haver efetiva competição (maior número de participantes) de modo a

evitar falcatruas:

(...) Somente o procedimento em que haja EFETIVA competição entre os

participantes, evitando manipulações de preços, será capaz de

assegurar à Administração a obtenção da proposta mais vantajosa para a

consecução de seus fins. (...) pág. 579

A verdade é que conforme o vulto da licitação (81 milhões de

reais, em valor estimado), o Prefeito deveria ter ampliado a competição, nos moldes

elencados pelo MP/TCM.

É o entendimento de CELSO BANDEIRA (em Curso de Direito

Administrativo, 28ª Edição, 2010, Malheiros), o qual preconiza ser imprescindível a

competitividade em qualquer licitação iniciada, já que sem ela, “haveria

comportamento agressivo ao interesse público (...) em prejuízo da Fazenda (...)

frustrando a finalidade jurídica”, e mais:

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

90

“os princípios cardeais da licitação poderiam ser resumidos nos seguintes:

a) competitividade, b) isonomia;... e) possibilidade de o disputante fiscalizar

o atendimento dos princípios anteriores.” pág 542

JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO (em Manual de Direito

Administrativo, 24ª Edição, Editora Lumen Juris), citando Carlos Ary Sundfeld (Licitação e

Contrato Administrativo – pág. 21) argumenta:

“(...) o princípio da competitividade é correlato ao princípio da igualdade.

Significa que a Administração não pode adotar medidas ou criar regras

que comprometam, restrinjam ou frustrem o caráter competitivo da

licitação. Em outras palavras, deve o procedimento possibilitar a disputa

e o confronto entre os licitantes, para que a seleção se faça da melhor

forma possível (...)” – pág. 227 – grifo nosso

A obrigação (dever sempre) é a de convidar todos interessados

(de maneira real – não fictícia), que tenham aptidão para executar o objeto (locação de

máquinas e caminhões). É incentivar a competição, com vistas a evitar a prestação de

atividades monopolísticas de grandes empresas (em detrimento das menores), de formas

abusivas do poder econômico.

O que a lei quer (finalidade última) é impedir “o perene

chamamento dos mesmos interessados, quando na praça existem outros em

condição de participar do certame. Cuida-se, como se vê, de corolário dos

princípios da moralidade e da competitividade”. (ob citada, de JOSÉ DOS SANTOS,

pág. 256). E conclui:

“(...) o outro fundamento da licitação foi a necessidade de proporcionar

igualdade de oportunidades a todos quantos se interessam em

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

91

contratar com a Administração, fornecendo seus serviços e bens (o que é

mais comum)...”

Neste prisma, afrontou-se também a finalidade pública, pois o

Edital e o certame, homologados pelo Prefeito MAGUITO, desviaram-se do objetivo maior:

alcançar melhor preço e outras propostas, etc.

Este desvio da finalidade ou de poder é comentado pelo

Professor HELY LOPES MEIRELLES (em Direito Administrativo Brasileiro):

“Igualdade entre os licitantes: a igualdade entre os licitantes é princípio

impeditivo da discriminação entre os participantes do certame, quer

através de cláusulas que, no edital ou convite, favoreçam uns em

detrimento de outros, quer mediante julgamento faccioso (...).

O desatendimento a esse princípio constitui a forma mais insidiosa de

DESVIO DE PODER, com que a Administração quebra a isonomia entre

os licitantes, razão pela qual o Judiciário tem anulado editais e julgamentos

em que se descobre a perseguição ou o favoritismo administrativo, sem

nenhum objetivo ou vantagem de interesse público.” – pág. 249

Os princípios da obrigatoriedade e da impessoalidade também

foram atingidos, conforme decisão do TRF 2ª Região, em caso semelhante:

“ADMINISTRATIVO - EDITAL DE LICITAÇÃO - DESMEMBRAMENTO - ADJUDICAÇÃO POR ITEM - OBRIGATORIEDADE - SÚMULA DO TCU.1. A Súmula nº 247 do E. Tribunal de Contas da União dispõe sobre a obrigatoriedade da admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais de licitação para contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, e, ainda, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou completo ou perda de economia de escala.2. A adjudicação por item e não por preço global tem o condão de propiciar maior competitividade, bem como garantir os princípios da impessoabilidade e igualdade no processo licitatório.3. Remessa necessária improvida.” (200651010016478 RJ 2006.51.01.001647-8, Relator: Desembargador Federal FREDERICO GUEIROS, Data de

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

92

Julgamento: 08/08/2007, SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data: 30/08/2007 - Página: 295)

Por outro lado, todas as justificativas apresentadas (quando

das decisões dos recursos e impugnações das empresas) foram a posteriori, não

merecendo qualquer respaldo. A motivação apresentada posteriormente (e não prévia

ou concomitantemente ao ato) é considerada inexistente. Vejamos o ensinamento de

DIÓGENES GASPARINI (em Direito Administrativo, 6ª Edição, Saraiva):

“A obrigatoriedade da existência, no mundo real, dos motivos alegados e que determinam a prática do ato administrativo, como requisito de sua validade, acabou por dar origem à teoria dos motivos determinantes. Por essa teoria só é válido o ato se os motivos enunciados efetivamente aconteceram. Desse modo, a menção de motivos falsos ou inexistentes vicia irremediavelmente o ato praticado, mesmo que não exigidos por lei.” (pág. 61)

Se o PREFEITO MAGUITO, à época do trâmite da licitação

não apresentou os motivos antecipadamente (legais, fáticos, objetivos, reais,

empíricos), no interior do procedimento licitatório, que o levaram à prática de tais atos,

conclui-se que agiu de forma não pública, não explícita, de modo a causar prejuízos a

todos demais interessados (que não puderam participar do certame ou tomar ciência

previamente dos reais motivos). Por isto, incabível motivação depois de iniciado o

ato.

A ausência de tal motivação agride a Lei de Processo

Administrativo (princípio da motivação, que deve ser feita à época, em período

contemporâneo, da feitura dos atos), por não oportunizar qualquer chance de

interpelação por parte dos interessados. Neste sentido, cita GASPARINI (Ob citada, pág.

62):

“A motivação é necessária para todo e qualquer ato administrativo, consoante já decidiu o STF (RDP, 34:141). Hoje, com mais razão, essa afirmação é de todo pertinente, pois a Constituição Federal exige que até as decisões administrativas dos Tribunais sejam motivadas (art. 93,

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

93

X). Daí a correta observação de Lúcia Valle Figueiredo (curso, p. 43): “Ora, se quando o Judiciário exerce função atípica – a administrativa – deve motivar, como conceber esteja o Administrador desobrigado da mesma conduta?” (...) a falta de motivação ou indicação de motivos falsos ou incoerentes torna o ato NULO. (RDA, 46:189 e 48:122)”

Nos termos do inc. V. do artigo 11, da lei 8.429/92, constitui ato

de improbidade que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação

ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às

instituições, notadamente a prática de ato que visa frustrar a licitude de LICITAÇÃO.

A contratação deveria ter sido precedida de ampla

competição, visando custos menores para Administração, como regra basilar de Direito

Administrativo, cujo desconhecimento nenhum o administrador MAGUITO pode alegar,

notadamente em face de seu status constitucional de PREFEITO e de Advogado.

Na prática, a licitação não foi aberta para empresas em

consórcio. Não permitiu uma disputa salutar. A oportunidade real de participação não

existiu!!!

É notório na Doutrina que o acesso a muitas empresas à

licitação tem que ser o mais amplo possível. Do contrário ficarão alijadas várias, com

grave agressão aos princípios administrativos (art. 3º da Lei 8666).

Bom lembrar que o STJ entende claramente ser ato de

improbidade qualquer frustração a competitividade:

"( ... ) I - A Lei de Improbidade Administrativa considera ato de improbidade aquele tendente a frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente. Foi exatamente o que ocorreu na hipótese dos autos quando restou comprovado, de acordo com o circunlóquio fático apresentado no acórdão recorrido, que houve burla ao procedimento licitatório, atingindo com isso os princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade. II - O art. 11 da Lei n 8.429/92 explicita que constitui ato de improbidade o que atenta contra os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. Na hipótese presente também se tratou de atentado, ao menos, contra os deveres de imparcialidade e legalidade, em face do afastamento da norma de regência, in casu, a Lei n 8.666/93. III - Recurso especial

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

94

improvido" (REsp 685325/PR, ST J - Primeira Turma, ReI. Min. Francisco Falcão, julgamento: 13.12.2005, DJ: 06.03.2006).

“Conforme o disposto no § 1º do art. 3° da Lei n 8.666/93, "é vedado aos agentes públicos admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo e estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato". (...) restringe o caráter competitivo do certame e estabelece preferências ou distinções... 4. Recurso especial provido (REsp 1155781/ES, STJ - Segunda Turma, ReI." Min. Eliana Calmon, julgamento: 01.06.2010, Dl: 17.06.2010) (grifos).

Para EMERSON GARCIA, é inescusável o fato do Prefeito não

ter tomado providência para sanar as irregularidades, antes ou depois da licitação

findada.

A omissão do Prefeito é caracterizadora de improbidade,

ainda mais que tomou conhecimento dos fatos, através de interpelação por parte do

TCM-GO, e mesmo assim NADA FEZ!

“Descumpridos os princípios e regras específicas de modo a comprometer a finalidade do procedimento licitatório, ter-se-á a frustração deste, com a consequente configuração da improbidade. A lesividade está ínsita na conduta do agente, sendo despicienda a ocorrência de prejuízo patrimonial imediato. Consoante o art. 49 da Lei n 8.666/93, identificada a ilegalidade, bem como a violação aos princípios estatuídos no art. 3º, a autoridade administrativa competente tem o dever de anular a licitação, de oficio ou por provocação de terceiros, mediante pronunciamento escrito e devidamente fundamentado.” (pág. 362)

De outra feita, o fato de o PREFEITO ter tido oportunidade de

consertar os erros e falhas até o momento e nada ter providenciado (inclusive, quando

convocado pelo TCM, administrativamente), implica em tolerância, conveniência, que

são atitudes que contrariam vários princípios Administrativos, os quais o mesmo

deveria prestar estrita obediência.

A este respeito EMERSON GARCIA ainda esclarece:

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

95

“é VEDADO ao poder público (AGENTE PÚBLICO) inserir cláusulas que, afora inúteis ao fim visado, inviabilizem a disputa e comprometam o princípio da igualdade entre os concorrentes. Do mesmo modo, não podem ser exigidas características específicas do licitante que sejam dissonantes da natureza do objeto licitado. Esta forma de frustração da licitação será normalmente verificada quando o edital for dirigido a um dos participantes, o que ocorrerá sempre que o objeto licitado for individualizado de forma a excluir os similares, estabelecendo-se especificações que são exclusivas de determinado fornecedor. Identificada a existência de cláusula dessa natureza, deve ser declarada a nulidade do procedimento licitatório, acaso esteja em curso ou, em tendo sido ultimado, ainda não tenha sido firmado o contrato; ou a nulidade do contrato administrativo ulteriormente celebrado.” (pág. 363)

O simples fato de haver NULIDADE DE TODO CERTAME

(embora não possa retornar ao status a quo, em relação ao serviço prestado), demonstra

que o PREFEITO deveria arcar com todo o custo de sua realização (não das obras; mas

dos custos da licitação empreendida de forma errônea). É o prejuízo citado por

EMERSON GARCIA (em sua obra Improbidade Administrativa):

“O agente público que idealize e promova (competição) com inobservância das normas legais, frustrando a sua licitude e, consequentemente, dando causa à sua nulidade, terá o dever de ressarcir a administração pública pelos gastos com a realização do certame.” (pág. 444)

Tal prejuízo (custos com uma licitação NULA, por falta de

competitividade REAL) deverá ser desembolsado (artigo 12 da LIA) pelo PREFEITO e de

forma integral, o que torna cogente o dever de ressarcir todos os prejuízos sofridos

pela pessoa jurídica lesada, qualquer que seja a natureza destas (inclusive dos

custos de uma licitação que impediu e frustrou a competitividade), que são

aplicáveis ao terceiro que concorra com o agente público (beneficiário, no caso as

empresas vencedoras), o que poderá ser fixado na fase de liquidação do julgado (já

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

96

que comprovadíssima a diminuição do patrimônio municipal, que perdeu

oportunidade de preços mais vantajosos por parte de vários outros licitantes

excluídos).

Imagine-se a hipótese prevista no art. 11 da LIA, onde bem

pode ocorrer que, anulada a LICITAÇÃO, se verifique que a administração efetuou

despesas com a sua realização, cabendo a condenação do ímprobo ao seu

ressarcimento. Em situação tal, é evidente que o dolo do agente pode ser de causar

dano ao erário (diretamente, com a exclusão ou restrição a vários competidores), o

qual (dano), no entanto, poderá estar presente de forma marginal ou indireta (custos do

certame anulado).

Das improbidades praticadas pelo requerido MAGUITO VILELA

e do benefício das empresas requeridas:

No presente caso, foram várias as omissões (ou seja, vários

são os indícios e provas de irregularidades), principalmente quanto ao artigo 11 caput

e incisos da LIA.

JOSÉ ARMANDO DA COSTA (em sua obra Contorno Jurídico

da Improbidade Administrativa, 2000, Brasília Jurídica), esclarece que o tipo genérico de

improbidade administrativa da modalidade descrito no caput do art. 11 da Lei nº 8.429/92

trata de ofensa a vários princípios (honestidade, imparcialidade, legalidade, lealdade e

qualquer ato que atente contra princípio da Administração Pública – que são ofensas

exemplificativas e não exaustivas), que já foram expostos, detalhadamente, nesta

inicial (devidamente descritos, para proporcionar ampla defesa).

Um outro tipo de improbidade atentatória aos princípios da

Administração Pública, está previsto no inciso I: "praticar ato visando fim proibido em

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

97

lei, no regulamento ou diverso daquele previsto na regra de competência" também

foi afrontado.

O Prefeito MAGUITO praticou ato visando fim proibido em Lei.

A legislação licitatória é clara em seu artigo 3º que a competitividade é a marca de

qualquer concorrência, e ao frustrar tal princípio, visou objetivo não descrito na Lei (que

seria alcançar a proposta mais vantajosa).

Outro ilícito encontra-se no inciso II: "retardar ou deixar de

praticar, indevidamente, ato de oficio", o qual constitui o segundo tipo delitual

disciplinar da classe de improbidade em comento.

É que o Prefeito MAGUITO, tendo conhecimento pelo TCM

de que era obrigado a anular a licitação preferiu ficar inerte, não acionando sequer a

Procuradoria Geral do Município para intervenção na licitação viciada de

irregularidade insanável. (tolerou apenas que LUIZ AUGUSTO controlasse toda

licitação através de um Assessor Jurídico comissionado – Dr. Rodrigo Silveira –

qual Assessor daria um parecer diferente do seu Chefe?)

Indesculpável ainda a situação do Prefeito de ser

Advogado, com maior obrigação de conhecimento das regras e princípios de direito

administrativo. Não se pode alegar amadorismo nem ignorar os interesses em jogo, já que

a LICITAÇÃO foi estimada em 81 MILHÕES.

O Prefeito desrespeitou também o artigo 53 da Lei nº 9784/99 e

vários Acórdãos do TCM, bem como as súmulas do STF 356 e 473, conforme nos ensina

o doutrinador ALEXANDRE MAZZA (em Manual de Direito Administrativo, 1ª Edição,

2011, Editora Saraiva, pág 98):

“Está consagrado no artigo 53 da Lei n. 9784/99: “A Administração DEVE anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade”...O princípio da autotutela é decorrência da supremacia do interesse público e encontra-se consagrado em duas súmulas do STF: 356 e 473 (...) A Administração deve anular seus atos ilegais (pág 98)...

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

98

“cuja competência de revogar é da mesma autoridade que praticou o ato...” (pág. 218 - grifo nosso)

Quando o agente público, de modo irregular, inverte a ordem

legal (restringindo participação ao invés de ampliá-la), com efeito, acaba dando um

benefício ao licitante particular (3º beneficiário), em detrimento dos alijados (que não

puderam participar da concorrência), alcançando objetivo diverso do fim público

(buscar melhor proposta), prestigiando poucos, e estará cometendo ato ILÍCITO,

reconhecido pelo próprio MP/TCM/GO.

Segundo FABIO MEDINA (obra citada), as empresas

beneficiadas são solidárias na responsabilidade, no caso, a licitante ganhadora:

“Responsabilidade de pessoas jurídicas, portanto, pode dar-se na medida em que puderem elas ser enquadradas na categoria de SUJEITOS ATIVOS INDIRETOS, inclusive por meio das figuras dos terceiros ou beneficiários, mas também dos coautores ou partícipes. NÃO SE PODE, NESSE PASSO, DESCARTAR SUA EVENTUAL RESPONSABILIDADE perante o direito administrativo sancionador, inclusive na perspectiva de uma responsabilidade concorrente com outros sujeitos ativos.” (pág. 241) “Ação civil pública. Improbidade administrativa. Praticam improbidade administrativa os agentes públicos e terceiros que, por ação ou omissão, descumprem os comportamentos pretendidos pelos diversos princípios constitucionais da Administração Pública. Evidencia improbidade administrativa (...) em detrimento do patrimônio deste e dos deveres de observância da legalidade, moralidade, honestidade, impessoalidade e lealdade.” TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS BRASIL (TJMG,11.01.2007). ApCív 1.0382.03.033266- /001,4ª Câm.Cív., ReI.Des.Almeida Melo.

O conjunto probatório, conforme explicado nesta inicial pelo

MP/TCM, não deixa a menor dúvida quanto à participação direta ou indireta dos

requeridos na irregularidade e na ilegalidade, seja por ação ou por omissão, culpa

ou dolo, o que redundou em prejuízo para o erário público, já que o valor do contrato

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

99

poderia ter sido bem menor do que o estipulado, OU melhor executado (que

redunda em prejuízo social).

A LIA é clara em seu artigo 3º:

“Art. 3º. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.”

A Lei de Ação Popular também prevê a responsabilidade

da empresa DELTA (beneficiária):

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, E CONTRA OS BENEFICIÁRIOS DIRETOS DO MESMO. (...)

Outro doutrinador, Professor SILVIO MARQUES (em sua obra

Improbidade Administrativa, 2010, Saraiva) é categórico no sentido de se

responsabilizar as empresas beneficiadas, como solidárias ou corresponsáveis:

“Embora o ato seja praticado ou dependa de uma omissão do agente público, QUEM SE ENRIQUECE É O TERCEIRO que se relaciona ou que se vincula ao Poder Público, tratando-se de modalidade pluripessoal. Em alguns casos concretos, o agente público, por preguiça ou indolência, deixa de perseguir o procedimento administrativo, provocando prejuízo ao erário culposamente. A RESPONSABILIDADE DO TERCEIRO DECORRE DO ENRIQUECIMENTO INDEVIDO EXPERIMENTADO E DO DEVER QUE TODOS TÊM DE CONHECER A LEI, APESAR DE SER MAIOR A CULPA DO AGENTE PÚBLICO.” (pág. 86 – grifo nosso)

Com apenas 03 licitantes habilitados, fica claro que a empresa

beneficiada teria enorme chance de obter êxito na concorrência.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

100

Na realidade, conforme ensina MARÇAL JUSTEN (em

Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 11ª Edição, Dialética),

acaba sendo uma licitação ineficiente (com poucos participantes), tolerada pelo

PREFEITO MAGUITO, e com enorme desvantagem para Administração:

“Considera-se, porém, que a ausência de interessados decorra precisamente da fixação de condições esdrúxulas. Ou seja, se a Administração modificasse as condições anteriores, haveria interessados em competir pelo contrato. (...) – pág. 243 “Uma licitação pode conduzir a resultado radicalmente oposto àquele que lhe dá razão de ser. Sempre que a licitação desembocar em proposta que não seja a mais vantajosa (dentro das circunstâncias apuráveis), a contratação não pode ser efetivada.” (pág. 244)

A questão é que como as condições estabelecidas no Edital

restringiam inadequadamente o universo dos licitantes, a ponto de apenas 03 empresas

serem habilitadas (Ata Julgamento), torna-se forçoso que deveria o Prefeito MAGUITO

revoga-la assim que fosse cientificado pelo TCM-GO (para apresentar sua defesa),

como ocorreu.

E a causa da inexpressiva presença de interessados (apenas

03 habilitados) na licitação (para VALORES astronômicos, acima de 80 MILHÕES, por

lote) só se explica pela atitude restritiva, tolerada pelo Prefeito e benéfica para a

ganhadora, porém, inadequadas à satisfação do interesse público (de alcançar

menor preço). De sorte que, para a empresa ganhadora, a situação foi por demais

cômoda e vantajosa, no nível particular, mas um desastre para proteção do erário.

A licitação resultou, na prática, frustrada porque, embora

existindo interessados (apenas 03), a Administração não buscou facilitar a participação de

dezenas de outras empresas, que certamente se interessariam (pelo valor do contrato).

Pelo contrário, prejudicou a participação até mesmo de grandes empresas!

DO ELEMENTO SUBJETIVO CONFIGURADO – DOLO NA PRÁTICA DOS ATOS –

SUBSUNÇÃO AOS REQUISITOS DOS ARTIGOS 9º, 10 E 11 DA LEI nº 8.429/92.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

101

Além de todas circunstâncias já narradas, temos ainda que os

caminhões compactadores (carregadores de lixo) não seriam incorporadas ao

patrimônio público ao final do contrato de 05 anos (ou 60 meses), e o desembolso

anual (de mais de 10 milhões/ano ou 57 milhões em 05 anos) seria suficiente para

adquirir uma boa e útil quantidade de caminhões/máquinas. (princípio da

EFICIÊNCIA, atrelado ao da moralidade)

Note-se que ao final de um ano o Município de Aparecida de

Goiânia-GO NÃO TERÁ NENHUM CAMINHÃO e será obrigado a locar novamente (ano

após ano, ou seja, gastos em progressão aritmética e prejuízos acumulativos: MAIS

DE 10 MILHÕES ANO e assim por diante), quantias suficientes para aquisição de

centenas de veículos ou caminhões, conforme se verá abaixo.

Veja-se que a diferença do valor da locação é quase

compatível com o valor da AQUISIÇÃO de todos caminhões (e se houvesse uma

licitação para compra destes, o preço seria bem menor).

A questão é que ao final do contrato com a empresa DELTA

(que locou os caminhões DE LIXO para Prefeitura) poderia ter comprado quase toda

FROTA ZERO KM, com o valor das prestações do contrato, enquanto o Município teria

que proceder nova licitação de locação (ano após ano) e não teria nenhuma FROTA

de veículos incorporado ao patrimônio. Isto beneficia apenas a empresa DELTA em

detrimento da Prefeitura! Um negócio da China para DELTA.

A própria SEMMA reconhece que o serviço é de continuidade.

Portanto, se houvesse uma licitação para aquisição de

veículos, com certeza este valor ainda seria mais benéfico do que a locação.

A conduta de locação resulta em perda patrimonial,

malbaratamento e dilapidação dos bens e haveres do erário, conforme amplamente

demonstrado anteriormente.

Até mesmo o depoimento de JULIANO (Sec. do Meio

Ambiente, em companhia de outros 02 servidores municipais) perante a 9ª PJ, ratificam

tal entendimento:

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

102

“que os 06 caminhões compactadores pertencentes à Prefeitura continuam em funcionamento, mas estão no pátio, e a Procuradoria do Município proibiu a utilização destes caminhões já que uma terceirizada estava trabalhando, porém se os caminhões municipais pudessem trabalhar seria muito benéfico para o município, gerando economia, na opinião do declarante e dos declarantes acompanhantes; Que, portanto, retifica o depoimento anterior, no aspecto deste depoimento; Que o trabalho da DELTA não tem a qualidade de serviço que a VITAL teve;”

Por outro lado, o Prefeito, ratificando toda licitação e mantendo

a contratação (mesmo com julgado contrário do TCM), contribuiu para a frustração do

processo licitatório e a empresa requerida DELTA, como beneficiária dos atos de

improbidade, deve sofrer as consequências legais decorrentes.

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...) VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;”

A situação configurada nos autos encontra fácil subsunção ao

dispositivo legal acima invocado, pois a modalidade contratual requerida, tipo locação

(mesmo que considerada “legal”), tornou-se mais onerosa aos cofres públicos e

constitui portanto malbaratamento do erário, pois em 05 anos a administração

teria gasto R$ 56.000.000,00 aproximadamente com a locação e não teria

incorporado ao seu patrimônio um caminhão/ou máquina sequer.

Além disso, a modalidade contratual locação (ao invés da

aquisição por licitação) foi prejudicial ao município, e, em sede pericial, será possível

demonstrar com precisão técnico-científica a significativa perda que o erário sofreu por

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

103

ter escolhido a locação em detrimento de comprar as viaturas, procedendo à sua

manutenção, e alienando as viaturas ao final desse período (caso quisesse).

O dolo genérico, necessário à condenação dos requeridos

nos termos da Lei nº 8.429/92, é aferível a partir de toda a documentação constante dos

autos.

Restou claro que os requeridos tiveram a intenção de praticar a

conduta em desacordo com os mandamentos administrativos basilares (mandamentos

constitucionais e legais), cientes de que produziriam os resultados: desrespeitos aos

mandamentos legais, princípios administrativos, enriquecimento ilícito e lesão ao erário.

Afinal, conforme já se disse e se depreende de todo o conjunto

probatório, as irregularidades cometidas pelos requeridos demonstram, de maneira

inequívoca, que os princípios da Administração Pública foram “pisoteados”, em prol

de seus interesses evidentemente particulares.

MAGUITO permitiu que a empresa requerida, de forma

consciente e voluntária, fosse beneficiada. Sabia que a licitação fora feita com poucos

licitantes (apenas 03) e sabia que a requerida se beneficiaria com a pouca

competividade.

Já a empresa DELTA tinha plena consciência de tais fatos e

ficou silente (já que concorreu contra apenas duas adversárias, não havendo que se

cogitar ausência de deliberada intenção em agir nesse ou naquele sentido.

Com a imposição de critérios e ponderações, que muita coisa

têm de subjetivo (sem devida motivação da restrição), revela-se que a atitude do PREFEITO

foi para beneficiar a empresa requerida (que aceitou uma pseudo e fictícia competição),

ou seja, concordaram com uma licitação não-limpa (que impediu competição de várias

empresas) e por certo, a DELTA nada questionou em virtude dos fins lucrativos que aferira,

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

104

em prejuízo ao erário/governo municipal. (o que contraria qualquer ética entre as

empresas). Sobre deontologia empresarial, vejamos:

“a respeito dos jeitinhos brasileiros, cabe aos gestores a missão de tornar suas empresas éticas, e que ganhar sempre não é o melhor caminho para o crescimento.

No entendimento de Moreira (1999, p.28, apud, Ouvires, 2006, p3), que conceitua ÉTICA EMPRESARIAL como "o comportamento da empresa entendida lucrativa quando age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas)".

Na definição de Denny (2001, p.134), não há distinção entre moral e ética, A ÉTICA EMPRESARIAL, PARA ELE CONSISTE NA BUSCA DO INTERESSE COMUM (público) (...) E DO GOVERNO.

Os dois autores corroboram que as empresas devem seguir os princípios morais.” (http://www.artigonal.com/administracao-artigos/etica-nas-empresas-596745.html)

Em suma, a ética empresarial exigia da empresa requerida, em

todos os momentos, atitudes e atividades em benefício do erário, do governo e da

coletividade (e não apenas lucro). Quando percebeu que não haveria qualquer

competição verdadeira com outras empresas (impedidas por cláusulas restritivas) e

quedou-se inerte, tal como o Prefeito, Luiz Augusto e Secretário, todos foram coniventes

com aquela.

O dolo está configurado pela manifesta vontade dos requeridos

de realizarem ou aceitarem condutas contrárias aos deveres de honestidade e

legalidade, e aos princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade, da salutar

competição, da economicidade, etc.

Além do que, demonstrado está o VÍNCULO CAUSAL entre

as condutas dos requeridos, que limitaram e toleraram a falta de competição, e o

resultado lesivo, isto é, as atitudes do Prefeito (e subordinados) e a omissão da

empresa, todos causaram prejuízos à moralidade, ao erário e aos princípios

basilares de direito administrativo.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

105

É esse o dolo genérico, necessário à caracterização dos atos

de improbidade, e que se consubstancia, em síntese, na deliberada intenção em se

omitir ou praticar uma conduta que beneficia o agente ou terceiro, e

concomitantemente prejudica o interesse público.

A respeito da configuração do dolo genérico, observa-se os

seguintes julgados:

REsp 826.678/GO - STJ

"ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. LESÃO A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. ELEMENTO

SUBJETIVO. COMPROVAÇÃO. DESNECESSIDADE.

1. A lesão a princípios administrativos contida no art. 11 da Lei nº

8.429/92 não exige dolo ou culpa na conduta do agente, nem prova da

lesão ao erário público. Basta a simples ilicitude ou imoralidade

administrativa para restar configurado o ato de improbidade. 2. Recurso

especial improvido." (, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,

julgado em 05.10.2006, DJ 23.10.2006 p. 290).

REsp 765212 / AC - STJ

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROMOÇÃO

PESSOAL EM PROPAGANDA DO GOVERNO. ATO ÍMPROBO (...). DOLO

OU CULPA. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES COMINADAS ÀS HIPÓTESES DO

ART. 11 DA LEI 8.429/1992.

(...) Filio-me, portanto, aos precedentes da Primeira Turma que afirmam a

necessidade de caracterização do dolo para configurar ofensa ao art. 11. 5.

Ainda que se admita a necessidade de comprovação desse elemento

subjetivo, forçoso reconhecer que o art. 11 não exige dolo específico,

mas genérico: "vontade de realizar fato descrito na norma

incriminadora". Nessa linha, é desnecessário perquirir a existência de

enriquecimento ilícito do administrador público ou o prejuízo ao Erário.

O dolo está configurado pela manifesta vontade de realizar conduta

contrária aos deveres de honestidade e legalidade, e aos princípios da

moralidade administrativa e da impessoalidade. Recurso Especial

parcialmente provido.

Rel. Min. HERMAN BENJAMIN , j. 02/03/2010, DJe 23/06/2010

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

106

REsp 650.674/MG - STJ

"ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LESÃO A PRINCÍPIOS

ADMINISTRATIVOS. AUSÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO.

1.A lesão a princípios administrativos contida no art. 11 da Lei nº

8.429/92 não exige dolo ou culpa na conduta do agente, nem prova da

lesão ao erário público. Basta a simples ilicitude ou imoralidade

administrativa para restar configurado o ato de improbidade. Caso reste

demonstrada a lesão, e somente neste caso, o inciso III, do art. 12 da Lei n.º

8.429/92 autoriza seja o agente público condenado a ressarcir o erário. 2. Se

não houver lesão, ou se esta não restar demonstrada, o agente poderá

ser condenado às demais sanções previstas no dispositivo como a perda

da função pública, a suspensão dos direitos políticos, a impossibilidade de

contratar com a administração pública por determinado período de tempo,

dentre outras..." (Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado

em 06.06.2006, DJ 01.08.2006 p. 404).

REsp 1100213/PR - STJ

“a lesão a princípios administrativos contida no art. 11 da Lei n. 8.429/92 não

exige dolo específico na conduta do agente nem prova da lesão ao erário.

Basta a vontade de praticar o ato descrito na norma para ficar configurado o

ato de improbidade.” (AgRg no REsp 1100213/PR, Rel. Ministro HUMBERTO

MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 14/12/2010).

Bom relembrar que toda ilicitude (ilegalidade) foi

confirmada pelo MP/Tribunal de Contas dos Municípios-GO e Auditoria de

Engenharia/TCM-GO (funcionando tais pareceres como prova material do ilícito -

materialidade).

Ao prever os atos de improbidade que causam lesão ao erário,

o art. 11 da LIA exige, para a respectiva caracterização, que a conduta seja dolosa ou

culposa.

Há de se ter em conta que a lei (nos Artigos 9º, 10 e 11) se

referiu apenas ao dolo genérico, latu sensu, ou seja, no presente caso, a ação livre e

consciente do agente de desrespeitar os mandamentos legais, as demais regras e

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

107

princípios administrativos constitucionais sem a necessidade de comprovação de

um fim específico (dolo específico). Nesse sentido, é a orientação do STJ:

AgRg no REsp 1214254/MG - STJ

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICABILIDADE A

VEREADORES. DOLO GENÉRICO. SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS.

3. O dolo que se exige para a configuração de improbidade administrativa reflete-se

na simples vontade consciente de aderir à conduta descrita no tipo, produzindo os

resultados vedados pela norma jurídica - ou, ainda, a simples anuência aos

resultados contrários ao Direito quando o agente público ou privado deveria saber

que a conduta praticada a eles levaria -, sendo despiciendo perquirir acerca de

finalidades específicas. Precedentes.

4. Tem-se claro, diante da análise do acórdão recorrido, que houve bem descrita a conduta

típica, cuja realização do tipo exige ex professo a culpabilidade. Dito de outro modo, violar

princípios é agir ilicitamente. Como bem expresso pela Corte estadual, a culpabilidade é

ínsita à própria conduta ímproba. (...). Agravo regimental parcialmente provido.

(Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe

22/02/2011)

AgRg no REsp 1214254 / MG - STJ

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICABILIDADE A

VEREADORES. DOLO GENÉRICO. SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS.

ABRANDAMENTO. (..) 3. O dolo que se exige para a configuração de improbidade

administrativa reflete-se na simples vontade consciente de aderir à conduta descrita

no tipo, produzindo os resultados vedados pela norma jurídica - ou, ainda, a simples

anuência aos resultados contrários ao Direito quando o agente público ou privado

deveria saber que a conduta praticada a eles levaria -, sendo despiciendo perquirir

acerca de finalidades específicas. Agravo regimental parcialmente provido.

Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, j. 15/02/2011, DJe 22/02/2011

Portanto, uma vez demonstrado o total desrespeito dos

requeridos com a Constituição e com as leis infraconstitucionais, por conduta dolosa e

consciente de todos os requeridos, que não visaram interesse público, mas somente

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

108

privado, conclui-se que as condutas se encaixam, perfeitamente, nos tipos descritos na

Lei nº 8.429/92.

O desvio de poder ficou cristalino, quando constatamos que o

Prefeito MAGUITO restringiu e frustrou a competitividade na licitação; impediu

participação real das outras empresas; e aniquilou o objetivo da Lei nº 8666/92. Tais

extravios de conduta devem ser combatidos, conforme jurisprudências do STJ.

Podemos concluir, pois, que as condutas dos réus, tal como

narrado até agora, encontram subsunção no art. 10, caput, incisos (ex. VIII) e art 11 caput

(incisos), conforme narração desta peça.

Responsabilidade individual dos requeridos

Todos os réus abaixo afrontaram os princípios da licitação, da

moralidade, da legalidade, conforme exaustivamente narrado, pois: a) tinham prévia

ciência das irregularidades do serviço informal e da contratação emergencial nº 679/10

(em nov/dez/10), e nada fizeram para reverter os fatos, havendo um acordo

tácito/implícito entre os envolvidos (inclusive da DELTA), de não enviar tal contrato

executado ao TCM-GO; b) tiveram conhecimento das ilicitudes durante a licitação nº

010/10, que redundou na irregular execução contratual nº 685/10; c) e, apesar de tudo

isto, ainda anuíram e consentiram com o ADITIVO nº 11/2012 deste último contrato, no

valor aproximado de 5 milhões de reais.

Cada requerido deve ser responsabilizado na medida dos

atos que praticou, cabendo destacar e individualizar as suas condutas. Isto já foi feito,

mas é importante repetir estas responsabilidades, agora de maneira sucinta, visando

melhor entendê-las:

LUIS ALBERTO MAGUITO VILELA, como Prefeito (tendo total domínio do fato), afrontou

vários princípios administrativos, e foi responsável final por todas contrações irregulares

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

109

(679, 685/10) e aditivo (11/12) celebrados, desde a fase procedimental até fase

executória, em benefício da DELTA. Consentiu no trabalho da DELTA de maneira informal

no município (em nov/dez/2010), anuiu com o ilícito contrato emergencial nº 679/10 (com

vários atos feitos mentirosamente em único dia – indícios de falsidade ideológica), bem

como no seu não envio para o TCM (não prestação de contas ao órgão fiscalizador). Teve

ciência prévia da péssima atuação da DELTA na cidade e de que seria inexequível o

preço estipulado no contrato 685/10, e mesmo assim ainda aceitou aditivo (11/12) em 5

milhões em benefício da DELTA; nada fez para mudar toda situação de ilicitude; ainda, na

concorrência nº 10/10, em conjunto com o Superintendente de Licitações LUIZ

AUGUSTO, julgou improcedentes as dezenas de impugnações e recursos dos outros

licitantes, ferindo lisura do processo licitatório, beneficiando a empresa DELTA, que já

prestava serviços de modo informal na cidade, com indícios graves de troca de favores, o

que ensejará solicitação de sua quebra de sigilo de dados bancários, em procedimento

próprio. Deixou 06 caminhões compactadores da Prefeitura, inutilizados, na garagem

municipal, quando poderia utilizá-los na coleta de lixo, barateando o serviço prestado pela

DELTA. Direcionamento e favorecimento a DELTA nas 02 contratações (679 e 685/10);

não respondeu a ofício requisitório do Ministério Público, obstacularizando o trabalho

investigatório.

LUIZ AUGUSTO DE SOUSA, como Superintendente de Licitações da Prefeitura de

Aparecida de Goiânia-GO e Presidente da CPL-Comissão Permanente de Licitação,

afrontou vários princípios administrativos e licitatórios, e também foi responsável por

todas contrações irregulares (679, 685/10) e aditivo (11/12) celebrados, desde a fase

procedimental; ainda, na concorrência nº 10/10, em conjunto com o Prefeito MAGUITO,

julgou improcedentes as dezenas de impugnações e recursos dos outros licitantes,

beneficiando a empresa DELTA, que já prestava serviços de modo informal na cidade),

com indícios graves de troca de favores, o que ensejará solicitação de sua quebra de

sigilo de dados bancários, em procedimento próprio.

DELTA CONSTRUÇÕES S/A, como beneficiária direta de todas irregularidades já

narradas.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

110

CLAUDIO DIAS ABREU, Diretor Regional Distrito Federal e Centro Oeste, na época,

(partícipe - que detinha voz de comando na Delta, nesta região), co-responsável pelas

contratações, pois tudo passava pelo seu crivo, figurando no contrato ou por meio de

procuração - preposto), compactuando com todas irregularidades.

RAPHAEL NASCIMENTO DE MENDONÇA, como representante da DELTA, assinando

todos contratos que beneficiaram tal empresa; agilizou a documentação para formalização

de contrato emergencial (em único dia – participando de uma farsa – indícios de falsidade

ideológica) com a Prefeitura. Também era co-responsável pelas contratações, pois tudo

passava pelo seu crivo, figurando no contrato, e assinando-o, compactuando com todas

irregularidades.

SÉRGIO DE SOUZA LIMA, como representante da DELTA, assinou contrato ADITIVO

11/2012, que beneficiou tal empresa; sendo co-responsável pela contratação, pois tudo

passava pelo seu crivo, em relação ao ADITIVO, figurando no contrato, e assinando-o,

compactuando com toda irregularidade, que aumentou despesas para o Município.

JULIANO TADEU MOREIRA CARDOSO, como Secretário do Meio Ambiente, aceitou

que a DELTA executasse serviços no Município sem contrato, e depois solicitou e

consentiu no seu contrato emergencial nº 679/10, bem como no seu não envio para o

TCM (às fls. 100 do proced. adm. 679/10, o mesmo foi cientificado que “o processo seria

arquivado” no Controle Interno, cientificada sua Chefia de Gabinete). Teve ciência prévia

da péssima atuação da DELTA na cidade e de que seria inexequível o preço estipulado

no contrato 685/10. Deixou 06 caminhões compactadores da Prefeitura, inutilizados, na

garagem municipal, quando poderia utilizá-los na coleta de lixo, barateando o serviço

prestado pela DELTA.

RODRIGO SILVEIRA COSTA, como assessor jurídico, deu ares de legalidade a todos

procedimentos questionados, compactuando com todas irregularidades, onde emitiu seus

pareceres jurídicos (685/10/ 679/10) e ainda assinando tais contratos, tornando-se co-

responsável, por este auxílio prestado na contratação da DELTA, que até hoje perdura.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

111

Do ressarcimento do dano ao erário – Indisponibilidade de bens - Do dever de

ressarcir:

Os fundamentos jurídicos do pedido de ressarcir estão especialmente

nos arts. 5º e 6º da Lei de Improbidade:

"Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano."

"Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente público ou terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio. "

Reconhecida a nulidade dos contratos e mais do que

demonstrada a má-fé dos requeridos, a restituição do valor integral desembolsado pela

Administração Pública (valor principal mais a taxa de administração), acrescido de

correção monetária e juros legais, é medida de rigor.39 Veja, a respeito do tema, o

seguinte julgado do Egrégio Tribunal de Justiça - SP:

Apelação Com Revisão 9020675000 Relator(a): Coimbra Schmidt Comarca: Rio Claro Órgão julgador: 7g Câmara de Direito Público Data do julgamento: 05/10/2009 Data de registro: 26/10/2009 Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA I.) Os agentes políticos sujeitam-se às sanções civis por improbidade administrativa, que não se confundem com as de ordem administrativa, política ou criminal porventura incidentes sobre o mesmo fato. 2.) Sujeita-se a OSCIP aos mesmos princípios impostos à atuação da Administração quando ajusta parceria com o Poder Público. Em conseqüência, é obrigada a repor o gue foi despendido em seu favor a propósito de parceria ajustada de forma ilegal, sem respeito a formalidades estabelecidas nas leis 8.666/93 e 9.790/99. Nulo o negócio, não incide o art. 79, § 2", da Lei 8.666/93, uma vez positivado dolo.”

39 Extraído da ação de improbidade de Dra. SANDRA REIMBERG, Promotora de Justiça de

Rio Grande da Serra-SP; e dos Promotores de Justiça Dr. Arthur P. de Lemos Junior; Dr. Silvio Antonio Marques; e Dr. Roberto Teixeira P. Porto.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

112

Vale reforçar que a tese, que costuma ser levantada pelas

Defesas, de que a devolução aos cofres públicos do dinheiro gasto constituiria

enriquecimento sem causa do Município não convence. De nada adiantaria declarar a

nulidade do contrato se, sob este falacioso argumento não se pudesse determinar a

recomposição dos valores perdidos40. Ademais, nos dizeres de Sérgio Ferraz e de Lúcia

Valle Figueiredo:

"Quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e perigos. Pois, impugnada a despesa, A QUANTIA GASTA IRREGULARMENTE TERÁ QUE RETORNAR AO ERÁRIO PÚBLICO. Não caberá a inovação, assaz deveras realizada, de enriquecimento da Administração. Ter-se-ia, consoante essa linha de argumentação, beneficiado com a obra, serviço e fornecimento e, ainda mais, com o recolhimento do responsável ou responsáveis pela despesa considerada ilegal. A presunção da lesividade desses atos ilegais é fácil de intuir. Se o ordenamento jurídico obriga o procedimento licita tório, para o cumprimento da isonomia e da moralidade da administração, o esquivar-se a esse procedimento constitui inequívoca lesão à coletividade. Será esta ressarcida pela devolução do dispêndio à revelia do procedimento legal. Aquele que praticou os atos terá agido por sua conta, riscos e perigos. AINDA QUE PRONTA A OBRA, ENTREGUE O FORNECIMENTO OU PRESTADO O SERVIÇO, SE IMPOSSÍVEL DE CONVALIDAÇÃO O ATO PRATICADO, IMPÕE-SE DEVOLUÇÃO. Não estaremos, consoante se nos afigura, diante do chamado enriquecimento sem causa. Isso porque o prestador de serviço, o fornecedor ou executor da obra serão indenizados, na medida em que tiveram agido de boa-fé. Entretanto, a autoridade superior que determinou a execução sem as cautela legais, provada sua culpa (erro inescusável ou desconhecimento da lei) deverá, caso se negue a pagar espontaneamente, em ação regressiva indenizar o erário por sua conduta ilícita"

"Dispensa e Inexigibilidade de Licitação", Malheiros Editores, 1994, p. 93, 107 e 108)

40

idem, rodapé antecedente

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

113

O Eminente Ministro Milton Pereira41, do Superior Tribunal de

Justiça, assim abordou o tema:

“escusar-se a responsabilidade do administrador público, pela salvaguarda de que o empregado, em contraprestação, prestou serviços, será construir um estranho indene de impunidade em favor do agente político que praticou o ato manifestamente contra a lei - nexo causal das obrigações da relação de trabalho nascida de ato ilegal - criando-se inusitada convalidação dos efeitos de ato nulo; será estimular o ímprobo a agir porque, a final, aquela contraprestação o resguardará contra ação de responsabilidade civil". Resp. nº 34.272-0- RJ, julgado em 12.05.93 - STJ.

Há ainda que se considerar a questão do dano moral sofrido,

resultado principalmente da má prestação do serviço público essencial de saúde pela

empresa DELTA (meio ambiente), que não prestou serviço adequado, necessitando o

aditamento contratual (imoral, nº 11/2012). Em poucas palavras, não se trata de "serviço

prestado, serviço pago". O caso é "serviço que não deveria ter sido prestado (e não o

foi completamente a contento), não deveria ter sido pago". O entendimento de que

“trabalho prestado, trabalho pago” ignora a correta interpretação das normas referentes às

nulidades previstas na Lei n° 8.666/93: 42

Art. 49 A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado. §1º A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera obrigação de indenizar, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei. § 2º A nulidade do procedimento licitatório induz à do contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei. § 3º No caso de desfazimento do processo licitatório, fica assegurado o contraditório e a ampla defesa.

41

idem, rodapé anterior.

42 idem, rodapé anterior.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

114

§ 4º O disposto neste artigo e seus parágrafos aplicam-se aos atos do procedimento de dispensa e de inexigibilidade de licitação. (...) Art. 59 A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos. Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

Logo, em tais hipóteses o Poder Judiciário jamais poderá negar

a devolução dos valores pagos aos cofres públicos, sob pena de admitir que o criminoso

possa licitamente permanecer com o proveito do crime em seu poder.43

O valor exato que se busca restituir será devidamente apurado

ao longo da demanda e, na impossibilidade, durante liquidação da sentença. Este

montante corresponde à totalidade dos valores repassados pelo Município à empresa

DELTA, acrescidos de correção monetária e juros de mora a partir da data do

desembolso, nos termos dos arts. 398 e 406 ambos do Código Civil. Entretanto,

desde já é possível apresentar um valor aproximado (referente ao total de ordens de

pagamento efetuados para DELTA, até o momento de R$ 11.411.708,32 (em 2011) e

referente aos de 2012 (não apurados ainda) – fls. 78 – PA 895-12)

No que se refere a indisponibilidade de bens dos

requeridos, Fábio Medina Osório, de forma exemplar, ao tratar da questão envolvendo o

bloqueio de bens, explica:

"Primeiro, não se mostra crível aguardar que o agente público comece a dilapidar seu patrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida cautelar autônoma de seqüestro dos bens.

Tal exigência traduziria concreta perspectiva de impunidade e de esvaziamento do sentido rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos

43

idem, anterior

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

115

fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário. A indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte no art.37, parágrafo 4º, da Constituição Federal. Esperar a dilapidação patrimonial, quando se trata de improbidade administrativa, com todo respeito às posições contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o ajuizamento de ação de seqüestro assumiria dimensão de 'justiça tardia', o que poderia se equiparar a denegação de justiça. ... Prepondera, aqui, a análise do requisito da fumaça do bom direito. Se a pretensão do autor da actio se mostra plausível, calcada em elementos sólidos, com perspectiva concreta de procedência e imposição das sanções do art.37, parágrafo 4º, da Carta Constitucional, a conseqüência jurídica adequada, desde logo, é a indisponibilidade patrimonial e posterior seqüestro dos bens." (grifo nosso)

Além disso, pelos atos praticados ainda poderá ser aplicada

aos réus a pena de pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano

(inciso II do art. 12 da Lei n. 8.429/92). Reitere-se, por necessário, que o valor do dano

pode ser ainda maior, após concluída a instrução processual ante a possibilidade de

quebra de sigilo bancário.

Observe-se, mais uma vez, que, nesse momento, a

indisponibilidade dos bens do réu deve incidir sobre uma estimativa razoável do dano por

ele provocado, pois o valor total da lesão contra o patrimônio público municipal em

apuração certamente é muito maior, ao longo do mandato do atual Prefeito.

Nas palavras de Rogério Pacheco Alves:

O desiderato de “integral reparação do dano” será alcançado, assim, por intermédio da decretação de indisponibilidade de tantos bens de expressão econômica (dinheiro, móveis e imóveis, veículos, ações, créditos de um modo geral, etc.) quantos bastem ao restabelecimento do status quo ante.44

44

Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, Improbidade Administrativa, 3. ed.

rev. e ampl., Editora Lumen Juris, 2006, p. 762

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

116

Portanto, a decretação da indisponibilidade dos bens pessoais

dos requeridos até o montante de R$500.000,00, oficiando-se para tanto os seguintes

órgãos (JUCEG, BANCO CENTRAL, CARTÓRIOS DE REGISTRO DE IMÓVEIS das

Comarcas de Goiânia e Aparecida de Goiânia e DETRAN, determinando o bloqueio de

todas as contas bancárias, depósitos, aplicações e investimentos, bem como impedindo a

transferência de bens e valores para terceiros, salvo autorização judicial.

Da necessidade de NULIDADE dos contratos e de nova abertura de

Processo Licitatório para coleta de lixo na cidade:

Conforme narrado em toda peça, a presente também se presta

a solicitar a este Juízo a decretação da NULIDADE dos 03 contratos questionados

nesta vestibular (por clara má-fé), bem como determinar que o Município proceda

imediata e urgente abertura novo Processo Licitatório, em virtude das dezenas de

irregularidades já exaustivamente descritas (atendendo-se as recomendações do

MP/TCM e TCM - volume X do processo nº 685/10) no sentido inclusive de se ampliar a

competição para um maior número de empresas interessadas (que redundará em

aquisição de melhor e mais barato serviço para população e para Administração). As

condutas descritas nesta petição foram altamente lesivas ao erário, e muito antes de visar

o melhor atendimento da população, visou beneficiar DELTA.

Há, enfim, indícios de ilícitos penais, previstos na Lei 8666:

Artigo 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele gue, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou da inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o poder público.

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

117

Artigo 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Dos pedidos e requerimentos finais.

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

GOIÁS requer à Vossa Excelência:

1. A autuação da presente juntamente com os procedimentos

administrativos que lhe servem de base;

2. liminarmente, nos moldes citados, seja decretada a

indisponibilidade de bens de todos os requeridos (pessoas

físicas – na quantia de 500 mil reais, para cada), nos termos da

LIA; e da DELTA no montante 20 milhões (referente aos

recebimentos de valores e por receber, enquanto não realizada

nova licitação, ref. contratações ilegais), face comprovada má-

fé;

3. No que pertine apenas ao Município de Aparecida (ação civil

com obrigação de fazer), a concessão de liminar, no sentido de

obriga-lo a imediatamente, no prazo de 24 horas, abrir novo

procedimento licitatório para coleta de lixo na cidade, em virtude

das inúmeras irregularidades narradas nesta peça; e por fim, no

mérito, que seja decretada a NULIDADE dos 03 contratos

questionados, eivados de vícios;

4. A comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do

art. 236, §2°, do Código de Processo Civil, e do art. 41, IV, da Lei n.

8.625/93, a este membro do Ministério público, subscritor da inicial,

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

118

no endereço: Rua São Domingos, n. 100, Centro, Aparecida de

Goiânia – Goiás;

5. a NOTIFICAÇÃO dos requeridos para oferecerem

manifestação por escrito, caso queiram, no prazo de quinze dias,

nos termos do artigo 17, § 7º, da Lei 8.429/92; após a manifestação

dos requeridos, seja a petição inicial recebida e os réus CITADOS

para apresentarem resposta, nos termos do Artigo 17, § 8º, da Lei nº

8.429/92, sob pena de revelia, com as faculdades previstas no Artigo

172, § 2º, do Código de Processo Civil;

6. no MÉRITO, se digne Vossa Excelência a reconhecer a

prática do atos de improbidade administrativa pelos requeridos

(exceto o Município) nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA, bem como o

benefício auferido pela empresa (responsável solidária em caso

ressarcimento; ou pagamento de multa) Delta Construções SA

(artigo 3º da LIA e artigo 6º da LAP – Lei n 4.717/6445), e declare

todos os requeridos (exceto o Município) como incursos nas

sanções insculpidas no Artigo 12, do mesmo diploma legal,

naquilo que for cabível;

a perda da função pública;

a suspensão dos direitos políticos (de 05 até 08 anos)

pagamento de multa civil até 100 vezes o valor da remuneração percebida pelos

agentes públicos;

proibição da EMPRESA REQUERIDA de contratar com o Poder Público ou

receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

45

� Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades

referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à

lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. (...)

9ª e 14ª Promotorias de Justiça da Comarca de Aparecida de Goiânia-GO

119

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, PELO PRAZO

DE 05 ANOS;

7. provar o alegado por todos os meios em Direito admitido, em

especial prova documental, consistente no procedimento

administrativo em anexo;

8. Sejam os réus condenados, também, ao pagamento das custas

e emolumentos processuais, arcando com o ônus da sucumbência;

Em anexo os procedimentos administrativos (PA 895/2012,

contendo 134 pgs. – 9ª PJ; PA 884/2012, contendo 132 pgs. – 9ª PJ; ). Também em

apenso o procedimento licitatório nº 010/2010 (Edital nº 10/10) com 10 volumes, autuados

e em análise perante o TCM; e o procedimento de contratação emergencial nº 679/2010

(com 105 págs.).

Dá-se à presente causa o valor de R$ 57.047.204,20,

correspondente ao montante dos contratos celebrados e questionados (nº 679/10; 685/10;

Aditivo nº 11/12) com a empresa requerida.

Aparecida de Goiânia, 01.06.2012.

ÉLVIO VICENTE DA SILVA

Promotor de Justiça Defesa de Patrimônio Público em Aparecida de Goiânia – 9ª PJ

ANA PAULA ANTUNES VIEIRA NERY

Promotora de Justiça Defesa de Patrimônio relacionado ao Meio Ambiente – AP/GO – 14ª PJ

FERNANDO AURVALLE DA SILVA KREBS

Promotor de Justiça Defesa de Patrimônio – Goiânia-GO – auxílio - 57ª PJ

VILLIS MARRA GOMES

Promotora de Justiça Defesa de Patrimônio – Goiânia-GO – auxílio – 78ª PJ